7 minute read

As aplicações Com Alto Volume de Água São Necessárias?

por Alan McCracken

Há muita confusão entre os consultores técnicos quanto à necessidade de grandes volumes de água para obter uma boa cobertura, com vários ainda acreditando que esse é o único caminho. Na minha opinião, muitas bulas tendem a ser enganosas ao especificar altos volumes que podem resultar em “escorrimento” e contaminação do solo. Gostaria de propor que tenhamos a mente aberta que possa levar a novas ideias para o futuro. Este artigo foi escrito para esclarecer que volumes baixos funcionam, embora possam não ser a resposta para todas as situações.

Concordo plenamente que gotas pequenas estão mais sujeitas à perda por evaporação ou podem ser jogadas para cima pelas térmicas, causando deriva. Por esse motivo específico, todas as aplicações de baixo volume devem conter óleos e adjuvantes para obter resultados consistentes. Para que a pulverização de baixo volume seja bem-sucedida, os envolvidos precisam ter um nível mais alto de conhecimento técnico para ajuste e calibração precisos do equipamento.

Anos de testes e experiência em muitos milhões de hectares provaram que é necessário sempre adicionar óleo e/ou adjuvantes ao produto para obter bons resultados consistentes, especialmente em condições de alta temperatura e baixa umidade relativa. Existem inúmeros adjuvantes oleosos no mercado com bulas que prometem melhorar o desempenho e controlar a evaporação usando baixos volumes de dosagem. Infelizmente, nenhum desses produtos de baixa dosagem controla a evaporação nos volumes recomendados nas bulas. A melhor opção é a combinação de um óleo vegetal com adjuvantes para fornecer uma dupla função, com o óleo fornecendo proteção contra a evaporação e o adjuvante reduzindo a tensão superficial para produzir gotas mais uniformes e melhorar a cobertura.

Em muitas áreas, os produtores que utilizam aplicações de alto volume geralmente entregam trigo com um nível significativo de giberela. Os produtores que usam pulverização de baixo volume na Dakota do Norte e no Canadá estão entregando trigo com um nível praticamente zero de giberela e, assim, obtendo um preço maior na venda. Muitas vezes é necessário voar a uma altura de 12 a 15 metros, aplicando fungicidas, sendo às vezes difícil voar mais baixo devido a árvores e outros obstáculos. No entanto, não há problemas nessas altitudes com volumes baixos usando óleo para controlar a evaporação. Se volumes altos de água forem usados, uma quantidade significativa do produto não chega à cultura devido à evaporação.

Muitos produtores no Brasil controlam há vários anos o psilídeo que transmite o greening (HLB/Huanglongbing) usando a aplicação em ultra baixo volume. Foi uma salvação para sua indústria cítrica quando os volumes de pulverização foram reduzidos para 5l/ha (½ gal/ac) e subsequentemente reduzidos para 3l/ha (0,3 gal/ac) para o controle. Mas, no entanto, os produtores dos EUA têm de seguir bulas que especificam 38 a 60l/acre que provaram ser ineficazes.

Aspargos no México, com excelente controle, reduzindo aplicações de 100l/ha (10 gal/ac) para 2 l/ha (0,2 gal/ac), mesmo com temperaturas de35 a 45°C (95-133°F) e umidade relativa do ar de 15 a 25%.

Portanto, a pergunta que precisa ser respondida: por que o governo dos EUA no passado financiou uma grande campanha de aplicação aérea para eliminar o gorgulho usando aplicações de ultra baixo volume, se volumes altos de água eram melhores? Atualmente, há um grande surto de gafanhotos na África, Argentina e Paquistão. Sugiro que especialistas em grandes volumes devam ir até lá e tentar afogar os gafanhotos com água.

Existem mais de 300 aviões e helicópteros operando a cada ano nos EUA, fazendo aplicações para controle de mosquitos em ultra baixos volumes. Os volumes de aplicação típicos utilizados são 150 a 200ml/ hectare (0,02-0,05l/ac/2-3oz/ac). Os métodos com ultra baixos volumes têm sido utilizados com sucesso no controle das pragas mencionadas acima há mais de 50 anos.

Um produtor localizado em uma região quente do deserto do México tinha um controle de cigarra muito baixo, usando volumes altos de água a 100 l/ha (10 gal/ac), tratando aspargos. Ele solicitou meu apoio para obter melhor controle. Ao chegar na área, notei imediatamente as altas temperaturas de 35 a 45℃ (95-113F) combinadas com baixa umidade de 15 a 25%. Aconselhei meu cliente que a única maneira de controlar a praga era usando a técnica de ultra baixo volume com óleo. Após modificações na aeronave e calibração cuidadosa, foi aplicado um volume total de pulverização de dois litros/ha (0,2 gal/ac) com um litro de inseticida mais um litro de óleo por hectare, com excelentes resultados e morte imediata da praga. Ele já usa essa técnica há vários anos e continua tendo um controle excelente.

As aplicações florestais do Bt DiPel são feitas usando ultra baixo volume desde o início dos anos 90. Normalmente, doses de 40 a 90 BIU/ ha ou 16 a 36 BIU/acre (unidades de bilhões internacionais) são aplicadas não diluídas em volumes de 1,8 a 4,7l/ha (24 a 64 onças/ acre). O uso de Bt não diluído fornece cobertura foliar adequada e aumenta a produtividade das aeronaves. Nenhum veículo aquoso é necessário para provar outro uso espetacular de aplicações de baixo volume para melhor cobertura. (fonte:https:// www.fs.fed.us/foresthealth/ technology/pdfs/btmanage.pdf).

É óbvio para mim que o controle da deriva passou a ser a primeira preocupação de alguns técnicos que obviamente perderam o foco do objetivo principal: controlar as pragas e doenças. Praticamente todos os problemas de deriva ocorrem não devido às altas velocidades do vento, mas aos problemas de inversão e evaporação com as térmicas. Certamente, é hora de questionar seriamente por que as bulas não estão sendo atualizados para refletir as vantagens do baixo volume e do ultra baixo volume. Uma bula de herbicida de uma empresa multinacional ainda especifica uma limitação de velocidade máxima do vento de 3 MPH, o que, a meu ver, é uma receita para desastre que está incentivando aplicações quando há um risco maior de inversão.

Outro exemplo muito claro de sucesso em aplicação em baixo volume está na soja no Brasil. No início dos anos 70, havia apenas alguns milhares de hectares plantados. Na safra 2018/19, o Brasil alcançou o primeiro lugar como produtor de soja com 92 milhões de hectares plantados, ultrapassando os EUA. E com rendimentos maiores do que nos EUA. As exportações brasileiras de soja devem exceder 75 milhões de toneladas em 2019/20. Esse crescimento é ainda mais dramático, já que a pressão de doenças e pragas no Brasil é muito mais intensa do que nos EUA, onde a maioria das aplicações de defensivos é feita com baixos volumes de 5 a 15l/ ha (0,5-1,5 gal/ac). Felizmente para os agricultores no Brasil, eles podem usar os melhores métodos disponíveis e adicionar óleos e adjuvantes para controlar a evaporação. A maioria dos produtores utiliza atomizadores rotativos, dos quais existem pelo menos seis tipos diferentes no mercado brasileiro.

Durante janeiro e fevereiro deste ano, trabalhei com vários agricultores no Brasil que raramente, se alguma vez, usam de aplicação terrestre. Eles aplicam de 90 a 100% dos fungicidas e inseticidas pelo ar, usando volumes de aplicação de 2 a10l/ha (0,2-1 gal/ac). Muitos “especialistas” insistem que o operador deve seguir a bula com a premissa de que, se o produto não funcionar e a bula não for seguida, a empresa química não se responsabilizará. Além disso, é ilegal aplicar em desacordo com as bulas. Tudo isso é verdade. No entanto, o problema do controle da ferrugem asiática é um exemplo disso. No início desta doença, os especialistas insistiram em seguir as bulas assim como o uso de grandes volumes de água 30 a 50l/ha (3-5 gal/ ac) para uma boa cobertura. Isso é falso, pois o único método que controla efetivamente a doença é usar gotas menores e volumes baixos de 5 a 10l/ha (0,5-1 gal/ac) com a adição de óleo para controlar a evaporação.

Outro exemplo dos benefícios do uso de volume baixo e volume ultra baixo é o controle de ácaros. Muitas bulas especificam volumes altos de 50 a 80l/ ha (5-8 gal/ac) e, no entanto, o método mais eficaz comprovado é com volumes baixos de 3 a 8l/ha (0,3-0,8 gal/ac) com óleos vegetais. Tenho trabalhado com baixos volumes em todo o mundo e continuo absolutamente convencido de que é o único método para o controle confiável de pragas e doenças em condições adversas.

Não estou defendendo que as aplicações sejam feitas sem seguir a bula. Em vez disso, estou apontando que as aplicações com volumes baixos e ultra baixos funcionam sem risco maior de deriva do que as aplicações com altos volumes, se feitas corretamente. Dito isto, seria prudente para as empresas químicas fornecer ao mercado de aplicação aéreas bula de aplicação com volumes baixo e ultra baixo.

Em uma nota mais bem-humorada, um número significativo de aplicadores e clientes que trabalham comigo na Argentina, promovendo baixos volumes, são frequentemente chamados de “marcianos”, com ideias comprovadas que são opostas àquelas ideias dos chamados “dinossauros”. Todos sabemos o que aconteceu com eles.

This article is from: