Livro mundo assim 11

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Pr’além da Catarse



Pr’além da Catarse Marcondes Sampaio

Brasília-DF, 2014


© Marcondes Sampaio Revisão: Tereza Vitale Capa: Concepção do autor Arte final: Plinio Quartim Ilustrações: Audifax Rios Finalização: Arte&Design Tiragem: 500 exemplares Distribuição: anasneire@yahoo.com.br

Ficha Catalográfica S192m

Pr’além da catarse / Marcondes Sampaio. Brasília: Editorial Abaré, 2014. 86p. 21 cm. ISBN 1. Poética. Arte poética. Versificação. I. Título. II. Autor. CDU 808.1


Pra Ana, uma leoa* na garra e na fé Ressalvada a acintosa teimosia E ressaltadas a determinação e a fé Dedico este livro à Ana, minha mulher Que venceu cruel doença com garra e ousadia Um exemplo de resistência, de não rendição – De que lutar pela vida é a melhor opção. *Nascida em 26 de julho, sob o signo de leão o ano (por contrato) não posso revelar, não

AGRADECIMENTOS Ao Edmilson Caminha, que conheci menino-jornalista-prodígio Depois, professor universitário, homem de letras, crítico literário Imortal, cidadão do mundo, intelectual de grande prestígio Ao Audifax Rios, plural, de muitos afluentes Formadores de caudaloso talento, multifacetado Telúrico na poesia, crônica, ilustrações e belos quadros Aos editores Tereza Vitale e Inácio de Almeida Donos de patrimônio invejável, que todo ser de bem almeja: A legião de amigos e ricas biografias alicerçadas Na cultura humanística, no desprendimento, generosidade No compromisso com nobres e universais causas Enfim, na história das muitas lutas por eles lutadas



POESIA COMO TESTEMUNHO DE VIDA Edmílson Caminha

São poucos, entre nós, os jornalistas poetas: a maioria prefere o caminho, mais familiar e menos traiçoeiro, da prosa, como Eduardo Bueno e Laurentino Gomes (no ensaio), Mino Carta (no romance), Juarez Barroso (no conto) e Joel Silveira (na crônica). Marcondes Sampaio dispôs-se a enfrentar o desafio maior, e lança Pr’além da catarse, coletânea de poemas com que dá voz ao escritor até então à sombra do repórter. Multifacetada, nela se identificam ressonâncias que vão de Augusto dos Anjos aos repentistas e cantadores nordestinos, como Zé Limeira e Patativa do Assaré, a par da influência de Oswald de Andrade (em epigramas como “Hora da verdade”) e até dos irmãos Campos concretistas (“Em grau vário” e “Musicoterapia”). Nessas tantas expressões de estilos e de formas, destaca-se o tempo (“o tempo presente, os homens presentes, a vida presente”, no dizer de Drummond) como o assunto maior do poeta, com especulações filosóficas que transcendem as fronteiras do verso: E se o que chamamos de presente For um passado que ainda não passou? Um tempo cósmico indiferente à divisão que o homem inventou ... Passado, futuro e o dito presente Simultâneos, como Deus criou? A atenção dispensada à rima não é a mesma que se dá à métrica, o que não chega, felizmente, a prejudicar o ritmo, essencial à boa poesia. Tem-se a impressão de que os versos de 7


Marcondes ficam em estado bruto, na forma espontânea com que lhe ocorrem. Não há, parece, a intenção deliberada de escrever poesia, sequer de fazer literatura, mas de apenas dar um testemunho de vida, sobre os homens, as coisas e os fatos com que se tece o dia a dia. Marcondes Sampaio, cidadão brasileiro, jornalista e poeta, contempla silencioso a comédia humana, na insignificante pequenez a que todos nos reduzimos. Experiência que dá força e beleza a Pr’além da catarse, pela boa realização de versos como estes: O mundo é mesmo assim ... Vezes bom, vezes ruim E, na mistura, assim assim ... Um dia não, outro sim Anjo mau e um querubim Entram em duelo por mim.

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Já entramos no futuro – transumano, assustador Os leitores que me perdoem certa tendência que tenho a proclamar o óbvio, como se lerá nas primeiras linhas dessa apresentação. É claro que muitos dos poemas constantes dos vários blocos do livro refletem, em diferentes proporções, a minha própria realidade, estados de espírito passageiros ou mesmo idiossincrasias. Assim, não posso esconder, que ao lado de alusões a ensaios de depressão, ansiedade e angústia, mas também a coisas gratificantes, parte dos versos são reveladores do meu inconformismo e ceticismo diante da espetacularização da vida – inclusive das tragédias – do fascínio pela tecnologia, que vejo como tendência suicida da humanidade, da tara consumista, do individualismo, do narcisismo doentio, entre tantos desvios da dita civilização capitalista. Mais presente no primeiro e no segundo blocos – As minhas razões e Mundo bom, mundo ruim – recorro ao eu lírico, por facilitador da expressão de sentimentos gerais, numa sociedade de extrema complexidade, atormentada pelos males da vida em turbilhão que se tem vivido nas últimas décadas. Com essa visão, ficam em segundo plano as razões que pareçam estritamente pessoais, incluídas mais como acessórias de páginas temáticas. Mais do que razões pessoais, meu interesse maior é levar à reflexão sobre o mal-estar da parcela de indivíduos marginalizados ou que se colocam à margem do sistema, por resistirem aos valores e padrões dominantes: entre as gerações mais velhas, os antigos militantes das grandes causas – aqueles que, com armas distintas, combatem ou combateram ditaduras políticas e econômicas e outras manifestações autoritárias (socialistas, nacionalistas, movimentos populares, pela justiça social, os intelectuais, os que recusam a dependência ao vertiginoso mundo virtual criado pela cibernética, seja por motivos filosóficos ou de proteção ao trabalhador e mesmo à sanidade mental dos viciados, dependentes dessa tecnologia). Quanto aos mais jovens, sobretudo os pobres e as classes subalternizadas – preocupa-me a violência endêmica, próxima à babarie, causada pela crise de valores, pela desagregação familiar, pelo desemprego, falta de perspectiva, enfim pelo apartheid social cujos responsáveis – o mercado e segmentos do próprio Estado, que, entre outros itens, 9


fornece o aparato repressor – contraditoriamente procuram atraí-los para o consumo e ao mesmo tempo os expulsam para condições de vida cada vez mais periféricas. Vale esclarecer que o livro começou a ser esboçado em 2008 – com a catarse de um idealista deprimido, misteriosamente desaparecido – e retomado nos dois últimos anos com desdobramentos em diferentes abordagens do mundo contemporâneo. Cabe igualmente assinalar que, somando mais de cinquenta anos como profissional de imprensa, ainda não consigo dominar as marcas dessa formação, daí – em se tratando de um livro de poemas – os possíveis excessos desse texto. Em especial, peço a compreensão dos que têm formação filosófica, sociológica e psicanalítica para eventuais impropriedades, pois estas não são searas do meu domínio, mas que julgo essenciais em qualquer abordagem mais profunda sobre o conturbado – algo apocalíptico – mundo em que vivemos. Sei dos reparos – quando não resistência – de poetas mais conservadores à poesia datada e mais ainda à engajada, mas isso é o que sei produzir, talvez pela limitada cultura poética, e quem sabe, também, por limitações da minha índole fechada ao lirismo e ao romantismo. Quiçá, um romântico sem romantismo. Pela importância que atribuo à contemporaneidade, reescrevi esta apresentação, bem mais extensa do que a primeira versão, diante dos explosivos acontecimentos que se desdobram na Europa e no Mundo Árabe desde o final da década passada e mais recentemente no Brasil, a partir de junho de 2013. Se tais eventos podem ser vistos como sério abalo à imagem da humanidade como um grande rebanho - segundo Nietzsche habituada a mentir e a aceitar como verdadeiras as construções falsas, improváveis, numa distorção de valores ocasionada pela necessidade de aceitação social – de outro lado não se deve perder de vista a terrível capacidade do capitalismo de incorporar energias utópicas, e de, como regra, sair fortalecido nas suas crises. Começo por observar que, ao lado das fissuras no “grande rebanho”, o núcleo sustentador da ordem vigente ainda persiste rígido, agressivo – reação natural entre feras acuadas. Composto pelos donos do grande capital e seus títeres no setor público, por agentes da especulação financeira, empreiteiros, lobistas e a máquina de propaganda, que vai além dos conglomerados de comunicação, esse núcleo é reforçado por profissionais em busca de ascensão na carreira e até mesmo pelo mundo acadêmico, em que parte dos quadros é mais voltada para o acúmulo de títulos, indiferente à realidade da massa e, muitas vezes, comprometida com os interesses e dogmas criados pelo mercado. 10


Em alguns versos abordo o paradoxo de, em contraste com o aumento da perspectiva de vida entre os países desenvolvidos ou em desenvolvimento, o tempo efetivamente vivido tornar-se cada vez mais confiscado pelos artifícios do capitalismo, em especial pela máquina – os computadores, celulares, os smart-fones, tanto diretamente, em jornadas de trabalho extenuantes, na conexão 24 horas, sob câmeras de vigilância, mas também pelo entretenimento escravizante, o autismo cibernético que vende bilhões anualmente em equipamentos de duração efêmera, senão descartáveis. Nas palavras do sociólogo Giovani Alves: A lógica do capital tomou para si as vantagens dos avanços tecnológicos e os transformou em lucro. Ao invés de reduzir as jornadas de trabalho, reduziu as equipes, usando os meios de comunicação em tempo real como forma de controle e de extensão do trabalho” ... (Caros Amigos, 07/2013) Nessa questão da tecnologia são ainda mais assustadoras as abordagens feitas por Adauto Novaes no livro A condição humana, que reúne ensaios de pensadores nacionais e estrangeiros, por ele coordenados . O autor trata da possibilidade, que cientistas consideram prestes a se concretizar – do surgimento de seres produzidos em laboratório, os cyborgs, os híbridos, biotrônicos, a inteligência artificial equiparada à inteligência humana – os transumanos. O ensaísta destaca a “impressionante precisão com que, em meados do século passado, Hannah Arendt examina possíveis caminhos do humano na direção do que hoje se denomina realidade pós-humana. É possível – previu Arendt na obra Condição do Homem Moderno – que nós (...) não sejamos mais capazes de compreender, ou seja, de pensar e exprimir as coisas que, no entanto, somos capazes de fazer. Neste caso, tudo se passaria como se nosso cérebro, que constitui a condição material, física, de nosso pensamento, não pudesse mais acompanhar o que fazemos, de modo que doravante teríamos realmente necessidade de máquinas para pensar e para falar em nosso lugar. Sob o título Oscilações paranóides de uma época o filósofo Pascal Dibie escreve: Todos constatam que o mundo de hoje age mais sobre nós do que nós sobre ele, que não temos mais tempo para fazer o que queremos (...). Como poderíamos ter a exata consciência dessa ruptura, dessa passagem para outro tipo de cultura, se não nos deixam mais tempo para refletir, para respirar antes de sermos levados para outras máquinas, sempre mais rápidas, mais eficazes?. 11


Dibie sugere que vive vivemos sob o reinado da dromocracia, junto a uma dromomania generalizada, resultantes do fascínio e do poder da velocidade, da dependência das relações inter-humanas às TIC, técnicas da informação e da comunicação, das quais passsamos a ser consumidores dependentes e impenitentes. Numa visão mais específica da psicanálise, destaco uma das sínteses de Maria Rita Kehl no seu livro O Tempo e o Cão. Nele, a autora sustenta que, tal como a melancolia - desde a idade média até o início da modernidade – as depressões constituem, hoje, sinalizadores de mal estar na civilização. A depressão é a expressão de mal-estar que faz água e ameaça afundar a nau dos bem-adaptados ao século da velocidade, da euforia prêt-à-porter, da saúde, do exibicionismo e (...) do consumo generalizado. Além de se sentirem na contramão de seu tempo – acrescenta – os depressivos vêem sua solidão agravar-se em função do desprestígio social de sua tristeza – correm o risco de ser discriminados como doentes contagiosos, portadores da má notícia da qual ninguém quer saber... Na orelha do livro de Kehl, Novaes fala de um depressivo de voz velada, silenciosa, dirigindo-se a si mesmo – aparentemente sem interlocutor – que age como se estivesse fora da vida e do mundo porque seu mundo está além do possível. Essa aparente resignação – observa – é na realidade, a expressão de revolta contra o mundo, contra impossibilidade de viver de forma autêntica. Silenciosamente, o depressivo prepara intervenções no mundo, interrompendo, assim, o ‘curso natural de nossa funcional ignorância de nós mesmos’ como escreveu o poeta Paul Valéry. Diante desse dramático quadro, o filósofo francês Lucien Seve, propõe que, para a salvaguarda do gênero humano, a causa antropológica seja colocada ao menos no patamar conferido à causa ecológica pela mídia, lideranças políticas, cientistas e instituições. Em artigo publicado na edição de novembro de 2011 do Le Monde Diplomatique, Sève considera devastador que nada de humano escape à ditadura das finanças e que tudo seja feito em função do lucro – do que seria exemplo a proliferação dos “sem” – sem documentos, sem emprego,sem moradia, sem futuro. Ao lado deles, estão os que valem ouro – com salários estratosféricos, empregos dourados, caviar para cachorros. Para o autor, os dois grupos – dos marginalizados e os que “valem ouro” – contribuem para o mesmo fim: a abolição de qualquer escala de valores”, que leva a instituição de um único valor, 12


capaz de subjugar todos os outros, tornando-se autorreferencial e, paradoxalmente, sem valor. Numa clara associação à prioridade que se dá à questão ecológica, questiona: essa liquidação de valores é menos grave que o derretimento das calotas polares? Lembrando Kant, assinala o filósofo francês que sem valores legítimos que atuem por si mesmos e sem restrição não há mais humanidade civilizada. E mais: Escapando de qualquer domínio coletivo, e, resultado da substituição da democracia pela ordem do privado, nossas criações materiais e espirituais tornam-se forças cegas, que subjugam e oprimem (...) Daí esse sentimento compartilhado de uma humanidade sem piloto que se aproxima inexoravelmente do muro – muro ecológico tanto quanto antropológico. Tudo isso agravado pela proscrição sistêmica de alternativas, apregoada e sustentada pela classe dominante, que já sentiu o sopro do vento revolucionário e faz de tudo para que essa ameaça não retorne ... É preciso, pois, reescrever, adaptar velhos – ainda que belos – slogans da luta política do século passado. Já não cabe apenas proclamar que O povo unido jamais será vencido. Proclamemos agora que O povo esclarecido jamais será vencido. E não basta insistir em que A luta continua. É preciso definir qual luta – ou quais lutas – substituir a dispersão pela definição de prioridades e depois optar pelos meios de leva-las adiante. Conter os excessos da máquina antes que ela nos escravize em termos absolutos, bem que poderia ser um dos caminhos encarados como vitais para o nosso futuro enquanto humanos. E que à frente desse embate, ao lado de lideranças e dos movimentos sociais ainda comprometidos com as grandes causas nacionais e da humanidade, se engajem e cumpram papel de relevo, como em tempos historicamente ainda recentes, os intelectuais, a universidade, os poetas, os profissionais de comunicação não cooptados, desde que, se não substituam, ao menos conciliem as aspirações pessoais ou de classe, por formulações de maior conteúdo político, social e até filosófico, que restabeleçam a consciência da importância do pensamento, do questionamento que distingue a natureza humana do rebanho animal, irracional. Quanto a mim, confesso sentir que tenho algo a ver com o ser depressivo descrito por Novaes, mas acredito que ainda em estado não patológico, benigno, portanto. Afinal, quem, entre os pensantes, inadaptados, não se sente de fato um estranho no ninho, com tendência ao recolhimento, ao distanciamento em relação à (des)ordem vigente? Os psicanalistas hão de entender, mas – indisciplinado, resistente a tratamentos – o divã não faz parte dos meus 13


planos. Em substituição, continuo e continuarei recorrendo aos meus glóbulos homeopáticos, às meizinhas, às ervas (lícitas) e sobretudo ao humor, às provocações rimadas que funcionam, a um só tempo, como minha catarse diária, meu exorcismo, continuada declaração de guerra ao mundo “transumano que tanto me assusta. Brasília, janeiro de 2014

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O auto da rendição (ou fuga para resistência?)

CATARSE Lembro apenas onde – Belo Horizonte – Mas não sei quando Menos ainda quanto Bebi em quase pranto Refletindo o porquê Da razão de ser



As minhas razões Nego-me a viver por viver

Apropriar-me de Morfeu

Preso aos instintos, ao trivial

É pretensiosa explicação

Num mundo frívolo do só ter

Para sonho não só meu

Vazio, sem utopia, sem ideal

Mas de toda uma geração

Inquieta-me não antever

Lição maior dos avatares

Uma consciência universal

Causa milenar dos libertários

Que venha logo a arrefecer

Dos que tombaram mártires

O viver egoista, irracional

No sonho do mundo igualitário

Neste confuso momento

Mundo hoje pesadelo e porfia

Nesta dramática hora

Dantesco império do sofrer

Na busca de unguento

Mundo sem causa, só vilania

Não escondo agora

Que mina a gana de viver

Concessões fiz no agir

Por isso, sob jugo da depressão

Máscaras também usei

Pulso fraco, abatido, assim sendo

Para no essencial resistir

Aos amigos, à família, peço perdão

Mas, confesso, cansei

Na sina-cena final eu me rendo

Cansei dessa vida artificial Do turbilhão em que afoguei

Bsb, 31 de dezembro de 2010

A frustração de não ver real O sonho a que me dediquei

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O enigma A carta no anverso transcrita Em tom de enigmática rendição Abalou os amigos do missivista que ainda o procuram, em vão

Versos que li ainda em tinta fresca Evidenciam o desafio existencial De preservar a vida romanesca Num mundo adverso ao seu ideal.

Cético, mas notório amante da vida Esse perfil atenua a preocupação Mas não arrefece a busca intensiva De muitos que o têm como irmão

Esse impasse é muito evidente Em poemas seus que encontrei Reveladores por autorreferentes:

Seu imprevisível modo de ser Me leva esperançoso a considerar Episódios que passo a descrever, Um deles com testemunha ocular Seis dias após a carta datada, Festa de reis, seis de janeiro Relatou um amigo de noitada Tê-lo visto ébrio num pardieiro

Alma em fuga Minh’alma anda inquieta Do corpo mais afastada Sem esperança, sem meta Como a caminho do nada

Entre a máscara e a clandestinidade

O problema é que alguns sósias Dificultaram a real identificação. De tão parecido um desses sósias Isso não raro gerou acareação

Vivo hoje na grande coxia Dum palco de egos inflados Por povo-gado sem rebeldia Alienado, quedo, bestificado

Também pode ser um bom sinal Um rabisco que exclui cena final – expressão forte e sintomática – Mas mantendo me rendo afinal, Alusão que soa menos dramática

Para fugir a essa trágica realidade E da angústia profunda,dolorida Busco alguma combativa saída Sob máscara ou na clandestinidade

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Libertação Não demora e eu deserto Em alguma aventura me lanço Sem CEP, sem rumo certo Nem auto-amarras, nem ranços Assim decerto de mim me liberto.

Ocaso ou laço? Esse viver raso Será o ocaso Ou raio escasso Que me traço, Um rijo laço Que me faço?

Sangria d’alma Seja noite, seja dia No claro ou no escuro Realista, sem fantasia Ainda assim eu procuro Estancar súbita sangria, Grande ralo de muito furo Onde minh’alma se esvazia

Disritmia Pouco vivo meus momentos Menos ocupo meus espaços Ansioso, precipito o tempo Precipitado, apresso os passos

Ponto de partida No silêncio da madrugada insone, O pulso entre a fronte e o travesseiro Ouço com nitidez correr meu sangue Ruído forte, como a lembrar altaneiro Que o pulsar é vital, o sinal primeiro Ponto de partida prá se viver por inteiro

O besta do apocalipse Seduzido pela grande quimera Ansioso aguardei o que seria Um novo tempo, nova era De paz, justiça e harmonia Diante do que hoje vigora Com os sinais da besta fera Tardiamente constato agora Grande besta era o que eu era

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Provocação à vida

Declaração de cor

Acorda vida! Tá na hora vida De sair prá vida De ser mais vívida Plenamente vivida Não essa contida Enclausurada vida Vida parca, retraída Simulacro de vida

Vermelha é do sangue a cor Vermelhos a carne e o coração Vermelha a chama que dá calor Vermelhas, rubras, a luta, a paixão Vermelha é, pois, a cor da Revolução

Exorcismo

Oração antidepressão

Findo o sofrer, a esperança renascida Exorciza a dor e a tristeza espanca, Inverso de Florbela, de poesia tanta Que por fanático amor encurtou a vida

Pai-nosso, que estás no céu Perdoai minha pretensão e não me tenha infiel Mas sugiro que na bela oração Substitua-se não cair em tentação Por nos livrai da depressão Que, como metástase cruel É terrível mal, insidioso fel Da nossa decadente civilização

Recibo-aviso Certa psicanálise prèt-a-porter Vê em versos de pura ficção Artifício poético para esconder Tendência à auto-destruição Aos que endossam tal avaliação Com doutos ares de psicanalista (...peço ao lá de cima autorização) Aviso que antes de sair meu caixão Ainda enterro muito mau agourista 20

Escura, desoladora, é a servidão Sombrio, estéril, o conformismo Turva, vergonhosa, é a rendição

Matriz energética Longe de ser atômica Talvez um tanto eólica Minha energia, platônica Vem de matrizes históricas


Renascer Profundo e vasto é o oceano Misterioso é o mais salgado mar Profundo como o meu desengano Salgado como lágrimas do penar As ondas que tanto fascinam Me atraem a nelas mergulhar Num banho do sal que reanima E faz renascer a vontade de lutar

Alforria Meu viver é como o de um rio Já raso, assoreado, sinuoso Sobrevivente de muito desafio Em leito agreste e pedregoso Nessa imagem de rio contendor Meu destino, a alforria, já diviso, – suprema criação do Criador – o vasto e belo mar, meu paraíso

Em resumo Fui só Só, fui Fui. Só

Hipóteses Pelo mar, como se vê, era fascinado E esse fascínio me leva a especular. Teria ele em algum navio embarcado Clandestino, com destino ultramar? Ou, ato derradeiro, se atirado ao mar? Na linha e fé de que esteja vivo, Lembro-o teatral a repudiar A realidade que o atormentava e a encenar como dela se retirar Nas imaginárias fugas delirantes, místicas, ou criativas no humor, deixaria a vida que tinha antes, a pé, em navio ou disco voador Também dizia que um dia ainda seria Um renomado doutor da alegria Palhaço em circo manbembe ou rapper em alguma periferia Em Alto Paraíso se tornaria eremita Na Índia ou Bahia filho de Gandhi No Líbano se faria monge maronita Em Hanói guia no museu vietcong Delírio aventureiro, à falta de revolução, Teria ele buscado qualquer outra ebulição? No mundo árabe, na Europa em convulsão Ou em Wall Street sob ocupação? Se foi essa sua opção, que Deus o socorra, Na luta, mas lúcido, imune às garras de tiranos livre de prisão, de infernais masmorras Como as do Brasil, Cabul ou Guantânamo 21



mundo bom, mundo ruim

O mundo ĂŠ mesmo assim... Vezes bom, vezes ruim E, na mistura, assim assim Um dia nĂŁo, outro sim Anjo mau e um querubim Entram em duelo por mim



Trilhas e atalhos vitais Para uma boa e longa vida desfrutar Sê justo, reflete se a consciência pesar Mas não caminhes só em linha reta. Crie atalhos, trilhas, ainda que incertas Sai do trilho, a tempo, fica em alerta Pro trem das incertezas não te pegar

Destemporâneo ser Nasci fora do tempo Meu tempo é o do atraso Na fluidez do vento Não na propulsão do jato Aspeio atraso se comparado A essa vida em turbilhão Atraso de viver equilibrado Entre os instintos e a razão Não o viver brusco, estressado Escravo da máquina e da maquinação De um sistema voraz, alucinado Agressor do corpo, alma e civilização

Encruzilhadas As encruzilhadas das nossas vidas Assim como as esquinas das cidades Tanto podem ser pontos de partida, De encontros, encontrões, surpresas Quando não de fugas e perplexidades.

A tirania do tempo No palco do tempo vê-se muita farsa Mas não há farsa no passar do tempo. Se nada detém ou engana o tempo Caia na realidade, não seja insano No grande tempo, não só no cotidiano – desde o início ao final dos tempos – O tempo é-será mortal-imortal tirano.

Tempo uno E se o que chamamos de presente For um passado que ainda não passou? Um tempo cósmico indiferente À divisão que o homem inventou... Passado, futuro e o dito presente Simultâneos, como Deus criou? 25


Pasárgada, a alternativa Sem maior apego ao passado Estrangeiro no insosso presente Assustado com o prenunciado Temo cair na prostração demente

Se perder forças nesse intento Não haverá trágica rendição Num submarino do tempo Buscarei outra motivação Procurarei aportar numa ilha de atraso Floresta africana ou isolado em Páscoa Viverei passado primitivo, mas humano Lá, eu rei, será minha Pasárgada

Há mais de um século pensadores já anteviam Certos males da dependência tecnológica No geral eles acertaram suas profecia Não o avassalador da máquina diabólica

Migalhas do tempo

Em 20 anos poderá surgir engenho Tão desgraçadamente inteligente Que em poucas semanas ou dias Tudo será terrivelmente diferente

No dia a dia do tempo me cabem migalhas consumidas às pressas, mal digeridas causa, nas entranhas, de fendas e falhas que ora minam, ora roubam o melhor da vida

Homem escravo da máquina Já não seria mera metáfora Ela dominaria tudo e todos Cruel, tentacular e tenebrosa

Divórcio e sedução

Terror além do que já se antecipou Chips no cérebro, gênios artificiais Exército, burocracia, capatazes-robôs Povoariam o mundo de coisas infernais Apesar do desastre que se evidencia Sigo minha vocação de vida centenária Lutando pela atenuação da profecia Que se vier, que venha retardatária

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No baú do meu passado em meio aos antigos fatos também guardo a memória divorciada de velhas histórias seduzido por novos fatos

O tempo é pouco, mouco, louco, insensível ao meu sufoco


Meninos e meninas eu (infelizmente) vi Não nasci há dez mil anos atrás Nem vi Cristo ser crucificado Nasci na guerra de Hitler Satanás Que fez da Europa solo calcinado No cinema ainda criança eu vi A explosão da bomba assassina Que na fúria genocida destruiu Pelo fogo Nagasaki e Hiroshima Vi a barbárie nas guerras doVietnã, Laos, Camboja, e massacres tribais Ainda recorrentes em vinditas vãs Nas áfricas do Norte e Meridional Vi nas Américas cruéis ditaduras De militares ou civis coniventes, Responsáveis por brutais torturas, Títeres do império hoje decadente Vi Bush invadir a Mesopotâmia Na TV assisti Bagdá em chamas E a implacável ira maometana Destruir torres da nova Babilônia Vi, vejo, e infelizmente ainda verei Judeus e árabes em bíblico conflito Vi, vejo, e infelizmente ainda verei Atentados entre irmãos inimigos

Pesadelo atômico Diante desse mundo insensato Confesso que, em voo bem alto Encarei, entre assustado e atônito Como fosse cogumelo atômico Densa nuvem de igual formato

A paz terrena Paz tão desejada Será paz morena Paz miscigenada

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Versos viscerais

Feitio de oração

Modéstia

Meus versos mais ritmados Não são os versos cerebrais. São os que saem do coração, Não do coração sentimental Mas do que gera a pulsação. Seriam, pois, versos viscerais, Ecos primevos, sons ancestrais De tribos ou negreiros porões, Do maracatu, jongo, congada De batida forte e cadenciada Como cadenciado é o coração

Rendido aos encantos Da pura contemplação Já não produzo tanto Produzo no entanto Poemas nada santos Outros, feitio de oração

Meus versos finos Já nascem finos Não os burilo Não pós-refino Não pós-cintilo

O outro Quintana Em pequena mas sortida quitanda Mário oferta diferentes produtos. De doces, licores, cana caiana Até literários e variados frutos: Frutos da imaginação Frutos da alegria Frutos da contemplação Frutos da nostalgia Frutos da solidão Frutos da rebeldia Por essa cesta da mais pura poesia Mário ganhou projeção e fama E hoje exibe como grande honraria O apelido de Poeta Mário Quintana

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Eu confesso Em diversos Dos tantos versos Que agora verso Há muito inverso Do meu universo E disfarce não meço Prá não deixar impresso O em mim mais imerso Tergiverso Confundo o nexo Faço-me complexo Desconverso Qual réu inconfesso

Dúvida O grande Manoel de Barros Que fala com planta e passarim Seria parente do João de Barro Carnavalesco, um arlequim?

Os nascidos opacos Mantenho intactos Para conter o impacto Dos que têm brilho

Três Marias Eram três irmãs, três Marias Pia, a mais prosa Rosa, a mais formosa Das Dores, a que mais sorria

A brava doceira O semblante da doce doceira Frágil, de estatura pequenina Mascarava a vida altaneira Da guerreira Cora Coralina


Dispersamente Com dificuldades prá controlar Meu pensamento fragmentado Adquiri manias como calcular Estrelas por metro quadrado A velocidade das ondas do mar O que há de certo ou de errado De humano ou mistério sagrado Em certas voltas que o mundo dá

Vaziamente Preocupa-me a vazia mente Mais do que a congestionada A vazia é como noite silente Insone, angustiada, escura Perfeita expressão do nada Sombrio ensaio da loucura

Das entranhas Mestre, será perda ou vantagem Fraqueza ou sabedoria Trocar um naco da só coragem da impulsiva ousadia por um tanto de covardia?

Velhos e novos medos Quando pequeno, até pré-adolescente Eu tinha medo de alma e água quente. De alma, pela história recorrente De morto que puxava o pé da gente. Aos seis anos, queimado n’água fervente, No chuveiro a encaro ameaça permanente Na maturidade tornei-me mais temente Das almas frias e águas em corrente, Turvas e traiçoeiras como a serpente. Também temo torquemadas de toda patente E os tipos chatos, sempre inconvenientes, Entrões, sem desconfiômetro, onipresentes.

O Arlequim/Pierrot Suspeito atuarem em mim Um Pierrot e um Arlequim Por natureza o mais fingidor Sorri mais prá dissimular a dor Indisfarçável na porção Pierrot 29


Eu comigo e eu sem mim

Eu fera

Em grau vário

(o pesadelo) Afinal, tive um encontro comigo Mas não cheguei a conversar Silente, fui só ouvidos À consciência a martelar Coisas que fazen certo sentido mas que agora não vou revelar revelarei no tempo devido PS: Do fato apenas antecipo que ontem rompi comigo mas tentarei – não sei se consigo não me tornar meu maior inimigo

Eu, sem outrossim Se pudesse ser apenas eu Não seria tão flexível assim Seria inflexivelmente eu Sem porém nem outrossim

Eu, caçador de mim? Não lembro todos os versos da canção Mas pelo título ela parece falar de mim Será mera coincidência, tola pretensão Ou serei também um caçador de mim?

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No coliseu A fera e eu Eu e a fera Tudo um breu Eu em pelo No pesadelo Eu era a fera A fera era eu

Solidário Solitário Só otário

Sinto-me absinto Na depressão que sinto Amargo me ressinto Do bom e velho absinto

Eu e o anjo

Musicoterapia

Na solidão dos Andes Sob sol abrasador Junto a mim há um anjo Translúcido, em resplendor

Ao sol ré mi lá dó De mi

A fera era bela E a bela Mais que fera

Sutura Prá manter a sanidade O que resta é a loucura Da estéril passividade Que não sara. Só sutura

Meu reino por um grilo Hoje, até o grilo que azucrina seria uma providencial vacina Contra esse silêncio que alucina


Usina A insônia, eu diria Apesar de perversa Abriga na face inversa Uma usina de poesia

Pernoite/açoite Para uns, uma longa noite É terno e suave pernoite Para outros, eterno açoite

Prazer e nada Na alta e fria madrugada Na penumbra dos desvãos Pro prazer ou pro nada Uns vêm outros vão

Afastem de mim essa taça Se In Vino Véritas é verdadeiro Vou deixar a bebida aos pouquinhos Pois verdades minhas por inteiro Não entrego à indiscrição do vinho

(Des)encontro No encontro Só esquivas... Desencontro

Le petit Napoleon Soldado-cabeça-de-papel Montava branco cavalo de pau Em disparada, a esmo, ao léu No campo de guerra, o quintal Brandia a espada, se fingia cruel Frente a inimigo fictício, irreal

Passsou... o tempo passou E só agora percebo Já não saber quem eu sou Longevo espírito mancebo Ou pré-senil senhor

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Inventário

Hora da verdade

Fechado no seu particular mundo Acumulou conquistas materiais Por décadas, até cair moribundo.

Cidadão que muito foi Acumulou muito ex Quase só, ontem se foi No enterro, ele mais três

Teve 3 filhos, uma mulher, 30 automóvei$ Aplicaçõe$, joia$, dez mil vacas, 20 imóvei$. Numa larga estante de madeira nobre Colecionou livros de conteúdo pobre: Autoajuda, bestes seles, celebridades E falsas lombadas de pseudo-raridades Avesso ao social, a questões existenciais Carente espiritual, intelecto infecundo – sem qualquer pensamento profundo – Assim, mais 1, passou pelo mundo

A esclerose do eu O mundo dele era só ele Centrado no solitário eu E de tão concentrado nele Ele esclerosou no apogeu.

Pequenez d’alma Desde o antanho Seu tamanho É tacanho

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Sobrevida Na precariedade dos corpos condenados ao efêmero Duradouros só os ossos – crânio, bacia e fêmures

Ao Deus-dará (súplica de um ex-prepotente) Antes rico, poderoso, sem clemência Agora, imploro à providência divina Que abrande a pesada penitência desse réu de passado que incrimina Pecador, não preciso a Deus confessar Meus pecados e as razões desse padecer Ele tudo sabe para o julgamento atenuar Pesando virtudes que hoje eu possa ter Nas mãos d’Ele entrego minha pobre vida Sobre a qual, generoso e onisciente decidirá Apressando ou retendo a inevitável partida Dessa alma perdida, sem rumo, ao Deus-dará


Sinto-me

Santo porre

Fetal, curvado Assustado Acuado

Mundo, mundo, pequeno mundo Hoje vi furibundo, irascível, iracundo Num bar imundo, em porre rotundo O pio frei Sigmundo, amado em profundo Pelo amor fecundo, dedicado a todo mundo

Sinto-me Alma penada Bode expiatório Saco de pancadas

Sinto-me Resistindo Religado Reagindo

Sinto-me Revigorado Renascido Abençoado

Andarilhos Andarilho da fé, peregrino Teu sofrimento é quase nada Visto o andarilho do destino Que vaga como alma penada Sem abrigo, amigos, arrimo Nas veredas de vida aviltada

O sonho Primeiro desceu um anjo Um querubim, um serafim e, por fim, um arcanjo. Já bem próximos de mim Entoaram celestial cântico Encerrado em tom mântrico Depois o arcanjo falou-me assim: Fica em paz, mantenha a fé Pois Dele dileto filho és E minha proteção terás até o fim Assim ordenou-me o Senhor Javeh

A questão fé O que é afinal a fé A questão espiritual Que até O de Nazaré Viveu na hora final?

À tua mercê Está meu ser Fortalecido No teu abrigo

O milagre No futuro, um andino livro sagrado Lembrará como grande milagre da fé O caso dos trinta e três arrebatados Do fundo sepulcro da mina San José 33


Sentidos

Faz sentido?

Corpo e alma

Um miado Um latido

Um vaiado Outro aplaudido

Um trinado Um grunhido

Um eleito Outro banido

O corpo percebe, reage Em geral ele sente A dor, o frio e o quente – Não só fisicamente Mas também o que padece A intangível alma da gente

Um grasnado Um balido

Um endinheirado Outro empobrecido

Um pigarro Um espirro

Um já finado Outro bem vivido

Um rosnado Um zumbido

Um consagrado Outro repelido

Um fungado Um gemido

Um crucificado Outro remido

Todo sonado Faz sentido

Pouco disso faz sentido

Inverno

D’alma

No inverno frio Silêncio, nem pio. Sob fog sombrio Até o bravo rio Menos vadio Perde o poderio Encolhe de frio

No inverno frio Fico algo pio E meu viver vadio Repentinamente vazio

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Pouco falo, pouco sorrio Fico lento, me esvazio Sem ímpeto, sem desvarios Quedo, como plácido rio

Dores indolores Minhas tantas dores São no âmago diluídas Exangues, incolores Reprimidas, contidas Assim, dores indolores No corpo e alma enrustidas

Esperas Minha vida é esperar Esperas longas ou curtas. Espero a noite chegar Que o dia tenso encurta Nascer o dia que vem A paz afinal raiar A tormenta logo cessar A ansiedade também A esperança florescer Novo milagre acontecer Amém


O voo do ermitão Admiro mas não invejo o voo do condor Ermitão nas alturas gélidas e remotas. Prefiro o planar gracioso da gaivota Ave universal abaixo e acima do equador A explorar marinhas e mundanas rotas

Terrais e sonhos Minhas asas alquebradas Depenadas, ao relento Ainda assim são alçadas Nos terrais de vento grosso Ou nos sonhos em alvoroço

Sem plano de voo Agora que sou livre prá voar – esse é o lamento que entoo – Do que me adianta decolar Se já não tenho plano de voo?

Já não me sonho ser alado alçando voo, leve, a pairar. Em ermo onírico tornei-me lagarto rastejante, sedento, buscando ar

A tragédia de Ícaro – outra hipótese Não bastasse ter construído asas E com elas de Creta se libertado, Ícaro ambicionava nuvens altas No vigoroso Pégaso montado Ir além do por Zeus determinado Mais que sonho, fez-se obsessão, Sonho em tragédia transformado Pois em voo cego pelo clarão Ícaro foi por um raio fulminado, E assim lançado na imensidão Tendo Pégaso ileso escapado E mitologicamente se consagrado Como o mais belo animal alado

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O novo e o velho homem O velho novo homem

A nova e a velha mulher A velha nova mulher

Tão tecnológico Tão primitivo Tão cérebro Tão descerebrado Tão versátil Tão adestrado sexo assexuado viril castrado neurotizado bem resolvido rico paparicado pobre rejeitado excluído cotado franciscano metrossexual agressivo sereno imerso perplexo poderoso decadente corrupto corrompido íntegro caro canalha produto do meio Tão lúcido Tão excluído Tão subserviente Tão promovido Tão mais egocêntrico Tão só

Tão guerreira Tão passiva Tão companheira Tão adversária Tão qualificada Tão alijada mãe desnaturada do lar frívola empoderada amargurada culta vazia engajada alienada desprendida ensimesmada agressiva serena neurotizada bem resolvida Maria chuteira engravidada ardilosa pensionada poderosa vulgar original plastificada beleza pura malhada Tão sedutora Tão assediada Tão desejada Tão violentada Tão mais egocêntrica Tão só

Só homem Homem só No pós só pó

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Só mulher Mulher só No pós só pó


As forças da natureza E idEias associadas

Até o mar, se mar é tem ressaca e faz catarse Na fúria das suas marés



Banzo – mareado no cerrado Se eu retornasse ao litoral Iria me revitalizar Na areia e no sal natural Das saudáveis águas do mar Grandes ondas iria surfar No mar calmo remar, velejar Na praia futebolar, bicicletar Com paradas em algum bar Tudo isso sonhos, fantasia De quem está prestes a completar Cinquenta anos de nostalgia Desde que me separei do mar Exilado nesse insosso cerrado Ex-terra prometida, Eldorado Que eu nunca soube explorar

Aqui há certa vida cultural A arquitetura monumental Parques, jardins, a Água Mineral Esportes náuticos no Paranoá Mas nada que se possa comparar Às belas ondas, velas e cardumes de sereias Tudo o que o corpo sente e a alma devaneia Na sedutora rotina da praia e do mar

Eu, surfista Imerso no tubo da grande onda no automático de longa prancha Passo em revista a recente vida Em altas e agitadas marés vivida Apesar dos tombos ela deslancha Resiste, algo sofrida, algo atrevida

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Iguaçu

Os sinais

A natureza aqui se esmera Em deslumbrante gravura De harmoniosa aquarela Que exibe sem pudor Toneladas de água pura E a leveza do beija-flor

De tanta terra se perder Em tanto avanço do mar Os ilhéus vão se espremer No rochedo que sobrar

O outro rio-mar A majestosa bacia do prata Desde a Bolívia junta águas Que copiosamente encharcam Terras do Brasil e Paraguai E, qual um rio-mar deságuam, Caudalosamente argentinas Entre a própria Argentina E o cisplatino Uruguai

A chuva e a tempestade Chuva fina na madrugada É acalanto, suave toada Que deixa a alma lavada. Tempestade noturna Com apagão e trovoada Ópera tensa, soturna Alma aparvalhada

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De tanto furacão e tornado De tanto terremoto e vulcão O mundo acabará dominado Pelo caos e pela escuridão De tanto a natureza afrontar Com ganância e devassidão O homem parece apressar Amarga e dolorosa purgação

Manteiga incendiária Bem no alto da Mantiqueira coloquei uma gigante mantegueira Cheia de boa manteiga mineira Mas, já no início da madrugada Ela estava como pedra, congelada E a solução, para derretê-la Foi providenciar uma fogueira que, por imperícia desastrada Logo em incêndio transformada Com chamas pela serra inteira Amanteigando sua cumeeira e clareando toda a Mantiqueira


Sol, ar e mar No alto da serra, sob puro ar Sinto o pulsar dos elementos E o sol nascer qual rebento Do grande ventre do mar

Olhar boêmio

À deriva

Na janela de um vigésimo andar Teotônio, boêmio e bravo guerreiro Convocou o amigo Paes a contemplar Esse sol que parece olho vermelho de um bêbado, tresnoitado ao luar

Minha nau está avariada Em alto mar, à deriva Tripulação amotinada Sou capitão sem saída

Encalhado Diante desse mar Só me resta lamuriar: Tanta água prá navegar E eu encalhado nesse lugar..

Emoção apátrida Gente simples de Roraima Em emoção apátrida Enche o mar de lágrimas Após a aventura vencida – Conhecê-lo em Margarita

Previsão pro verão

O chamã chama chamou E a chama se fez clarão Que a mata iluminou

Nesse verão Raios virão Também trovão E insolação Um calorão Todos sentirão Nesse verão ... Vocês verão 41


A volatilidade das ondas Rejeitado pela argentária Bruna Na quebra da onda especulativa, Sem mulher e sem a ex-fortuna, Num velho bar, em vida esquiva À beira mar, junto a branca duna Ele fez da bebida sua nova diva Na loira com espuma Em vão procura afogar Desenganos em ruma Como ondas que em suma Expulsas do lar, o mar Findam frágeis espumas Meras brumas, mero ar * A Bruna nesse poema citada é ficção, uma questão de rima Pois muitas assim batizadas Têm minha admiração e estima Por isso são aqui ressalvadas

Na areia seria sereia? Singular e sedutora essa sereia Não entra n’água, só na areia E não é branca como iemanjá. É mulata alta, esbelta – saravá! Beleza esplendorosa que estonteia Talvez miragem na quente areia Ser-ninfa inatingível – sereia 42

Mulher-tsunami Como maré mansa, chegou manhosa Tranquila, serena e muito cordata Veio com dois filhos num fusca rosa, Com mala, tralhas, e um cão vira-lata Com o passar do tempo de calmaria A alta da maré mostrou face inversa Autoritária, com ataques de histeria Áspera, imprevisível e até perversa A arrebentação foi após um terremoto Em que essa mulher-tsunami ambiciosa Levou tudo – casa, carro, lancha e moto Ficando só a paz prá vítima da rebordosa

À falta de mar Veraneio no bar Onde fico a remar Corrijo: a rimar


Mar ou lar?

O marzão de Portugal

Mar, agitado lar Mais que assustado Vejo a onda arrebentar E assim tonto, mareado Me ponho a indagar Afinal, o tema aqui tratado É mesmo o lar ou o mar?

O camoniano mar de Portugal É o maior de todos os mares Além de maior, transcontinental, Palco de conquistas seculares, De marujos audazes, sem igual: Vasco, Magalhães e Pedro Álvares (Nosso oficial descobridor – Cabral)

Sístole e diástole

... Ir só para voltar

Vaga pós vaga A forte ressaca Da grande água Ora assoreia Ora draga A alva areia

Gostava de viajar Mas sempre que ia Passados uns dias Já queria retornar

Nado ao nada Em largas braçadas Nadou, muito nadou Por fim chegou a nada

Mais que xenofobia

Em meio a essa agonia Ficava a especular Se a viagem seria Mero prazer de voltar ... Se a psiquiatria Melhor explicaria Esta estranha mania De ir só pra voltar

Numa perdida e inóspita ilhota Albatroz pardo, de origem remota É vítima do escárnio e da chacota De brancas e nativas gaivotas

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Moto contínuo

Clarão x trevas

No distante atol Em grande solidão O guardião do farol Vê o manto da escuridão Embalsamar o rei-sol Que renasce em clarão Como cósmico farol Da aurora em explosão

A humanidade é como um titanic Perdida em mar revolto, às cegas Ameaçada de soçobrar, ir à pique Ofuscada pelo clarão e pelas trevas

Nado sincronizado Na plácida enseada A trupe performática Mergulha sincronizada E faz dança acrobática

Omar e o mar O mar, Omar É prá nadar, Surfar, navegar... Mas também o Mar – aprende Omar – O mar é pra se respeitar

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Lembrete A terra é viva esfera Inconstante, arrítmica Com entranhas d’uma fera Explosiva, ciclotímica

Paranoia cósmica O céu já não é tão estrelado Nem a lua cheia tão radiante Será que mudei meu olhado Ou até o cosmo não é o de antes?

Longe das baias Alforriado, longe das baias da branca, escravizante tela sem amarras, links ou tutela Minha vida hoje se espraia Pelos encantos do mundo real – o singelo, o belo, o colossal Da nossa fascinante gaia


.................................................. As forças da natureza .................................................. A brisa A lufada A tempestade O vendaval A tormenta O furacão O tufão Destruição

A faísca O vento O incêndio a água (Ou fogo) A brasa A cinza Desolação

A semente O embrião A planta A floração O fruto A maturação A colheita Alimentação

O óvulo O feto A dor O parto A luz A alegria A vida Uma indagação

Viagem fantástica

Os Cinzas

Ontem vi um rebanho de ovelhas Gigantesco como nunca vi antes. Vi dragões sem fogo nem centelha Vi manada de albinos elefantes

Cor sui generis é o cinza Nas diferentes tonalidades O claro acalma, tranquiliza O gris é sinal de maturidade E no tom chumbo se divisa Claro aviso de tempestade

Vi estrelas cintilarem no mar Vi nítidos Portugal e Espanha Vi mais próximo o sol despertar Vi a terra apequenada, tacanha Não era sonho, delírio ou loucura O que vi em pinturas celestiais, Na beleza do azul e da brancura, Também vi vermelhos infernais

Matizado e bonito definitivo é o azul, a cor do infinito

Extasiei-me horas a contemplar Esse grande espetáculo da Criação Visto sobre nuvens e sobre o mar Num plácido voo, férias de verão 45



TEMPOS PÓS-MODERNOS

1999/2000 No rèveillon de Aquárius Numa cela infecta À luz de tênue réstia Por estreita fresta Viu o mundo em festa



Especulação sobre os restos do nosso mundo Assim pode-se imaginar uma nova civilização Num futuro – quem sabe nem tão distante Voltada prá descoberta e especulação Sobre restos do mundo hoje agonizante... Teria sido a terra em parte povoada Por seres inteligentes, extraterrestres Como sugerem certas pegadas E nítidas pinturas rupestres? Seriam seres inteligentes, pacifistas Como em outra passada civilização Ou estúpidos, contumazes belicistas Insanos, adeptos da autodestruição? Qual o significado de obras piramidais Torres, muralhas, templos colossais? Quem as construiu em condições tais Que parecem inumanas – fenomenais? E aquelas grandes, enormes criaturas Em aço, bronze ou alguma fibra dura? Seriam anjos, arcanjos, índoles puras Ou tiranos, símbolos da impostura? De quem seria a imagem onipresente Encontradiça em todos os continentes – A do crucificado, sob uma inscrição Com semblante sereno, desarmado Qual divindade a cumprir uma missão?

De aparência firme, revolucionária – barba e estrela vermelha na testa – Quem seria figura inda hoje lendária Cuja bravura e vigor a face atesta? Com o tempo, seriam encontradas Pistas dispersas da velha humanidade E se concluiria que ela foi eliminada Pela água, pelo fogo e pela insanidade. Do eixo desviado seria a água represada Com reais vestígios de oceaneidade Em grandes alturas, ermas e salgadas. A hipótese fogo ficaria evidenciada Nas terras cinzas ou amorenadas E nos sítios de lavas petrificadas. Em fotos e gravuras estariam retratadas As grandes expressões de insanidade – florestas devastadas, terra arrasada, guerras, genocídios e outras iniquidades Como perversas tecnologias ultra-avançadas Que regrediram os seres a eunucos cerebrais, De mentes manipuladas, senão robotizadas Talvez meio humanos, quiçá meio máquinas 49


Apocalipsi indagora Cum o qui tá acontecendo Já dá prá nois acreditá Qui o mundo tá morrendo E farta pôco pra acabá O dragão capitalista, istribuchano Ouve as trombeta do juízo final Os guverno cum grana soltando Atrasa o disfecho, o gope mortal O impero agora in decadença Na velíce coi o qui prantou: Misera qui sustentô a opulença E a violença, alimento do terrô Nas cidade já se vê multidão Sem rumo, agitada, inquieta Cuma furmiga in procissão Quando adivinha a tragédia É um tá de macho cum macho Feme agarrada cum ôtra feme O mar tumando da terra ispaço E terra rachada nos treme-treme Os tremor qui tem no Ciará É desgraça qui foi prevista Pelo maior profeta de lá, Padim Ciço Rumão Batista

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Proficia meio boa meio ruim É qui um tizunami de arrombá Vai fazê deserto tê pranta e capim E onde é sertão vai virá mar No Amazonas, Rondônia e Pará A floresta vai sê carvão e pó, Derribada pelo tal agronegóço Sem controle, piedade ou dó Um franceis de nome inquisito Anunciô em secreta sirimônia Qui um fôgo nunca antes visto Distruia as torres da babilônia Nostradamus foi autor da proficia Do terror qui a babilônia Iorqui Quinhentos anos dispois sofriria, Apavorada, em estado de choque Ele só num viu qui ôtro disastrado Ia se vingar do fuminante ataque, Derrubando Sadam, um eis aliado, E bombardiando o povo do Iraque Bem antes, o evangelista João Têve um pesadelo e iscreveu Qui irmão ia brigar cum irmão Até qui o mundo virasse breu Não sei se ele era judeu ou palestino Mais cum certeza ele tava prevendo Qui onde Cristo viveu desde minino Paz só tinha cum o mundo morrendo


O governo do polvo A dita democracia neoliberal É comparável a um insaciável polvo De estômago e cérebro no mega capital Com muitos e alucinógenos tentáculos Que seduzem e aprisionam o povo Alienando-o com seus simulacros De cidadania, liberdade e mundo novo

A nova prepotência Já não me assusta a velha onipotência De poderosos agora desarvorados Mais temo o deslumbramento, a prepotência E o hedonismo voraz, esfomeado De emergentes hoje empoderados (Muitos ex-oprimidos, ex-explorados)

Bara, a cara do “cara” Malandro por malandro elejo o Bara Apelido adequado ao Barak Obama, Cara com cara que não me engana, Nem quando elege Lula “o Cara” Tendo ele mesmo a maior cara De grande e enrustido sacana

E os enganadores? Se estão caindo os ditadores Do velho continente africano Quando caem os enganadores Os títeres e outros insanos?

Especialização Poderosos já não têm um só chalaça Mas doutorados em diferentes praças Prá alcovitar, pra fazer graça Prá paparicagem e pra trapaça

Globalização Aviso a quem interessar Que a puta que pariu Casou religioso e civil Com gigolô d’além mar

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Eis a questão...

Nós, robôs dos robôs...

Na filosofia de viver O dilema SER ou não SER Há muito deixou de ser A dominante questão

Até recentemente Gente só gerava gente; Hoje gente cria robôs Dizem prá ajudar a gente Mas, de tão inteligentes Temo que inversamente Logo seremos deles robôs

Já no meu avô bebê Passou a prevalecer Como lema de viver O TER ou não TER Agora, o TER-não-TER Ganha outra dimensão Com a tola ostentação Em salões, saites e tv.

Indigência Por tudo TER Faltou-lhe SER

Busca Por nada TER Busco SER

Soberba Sou Só Ser

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Gente humilde Nessa descartável era Comove a vida singela Dos amoladores de faca Consertadores de panela E de tristes homens-placa

Quimera Quisera eu, quisera Ver real a quimera De voltar a antiga era Em que a vida era o que era Sem a virtualidade da tela Que ficção à realidade nivela Quisera eu, quisera Quem dera essa quimera...


A babel-Dubai Para onde tu vais Babilônica Dubai? Com torres a furar o céu Idiomas tão desiguais Ilhas-praias artificiais Findarás como findou Babel?

www.medáumdinheiroaí (tire um mendigo da rua) Cansado de esmolar em praças e ruas O sarado mendigo teve um insaite Contratou uéb desaine e fez um saite Sucesso de acessos que se amontoam Postados por dadivosas socialaites E solidá/tários internautas da naite

Sorria – a Profecia Realizada Sorria, devassado, sorria Você está sendo filmado!

O oráculo

Na tristeza ou na euforia Em venial ou médio pecado Nesse Estado terceirizado Com monitorada “cidadania” Você será sempre filmado

Debilitada, cheia de amargor Uma puta com puta dor Consultou seu computador Que, doutoral, diagnosticou: Estás mesmo com puta dor

Assim ameaçado, não aja como abestado Pois há risco até de ser delatado Por ter nádega ou genital coçado Jus-alívio natural que vezes vicia Animal indolente – feroz ou domesticado Não sorria, então, como um adestrado. Reaja. Mas, se animal alienado, só ria.

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O glamour do nada

O príncipe das celebridades

A jovem e desinibida perua Viveu moderno conto de fada Quando por milhão posou nua E para glamourizar o nada Usou chapéu de sol e bolsa Prada

Corpo liso, bem depilado Moldado na musculação De gel o cabelo melecado Creme no rosto e na mão

* de nádegas mesmo nada, de seios quase nada

Príncipe das celebridades Até que bonitinho ele é Mas, por competir na vaidade, Não faz sucesso com mulher

Abundância Com a carne sempre em alta Rostos e cérebros em baixa O mercado mais ressalta As bundas mais rotundas E aquelas que mais agacham

Releitura politicamente correta de velho chiste

Exibe-se como metro assumido E se jacta de macho militante Mas no armário colorido, embutido, Há sinais de um gênero mutante

História incompleta

Conheço algumas Raimundas E tenho admiração profunda Por seus rostos de Gioconda

Ao deixar sua querência Alta, espichada, magricela Ela tinha grande carência De proteínas e dos pais dela

Quanto ao quesito bundas – iguais às não raimundas Divididas em duas bandas: Umas parcas, outras rotundas

Na viagem pra metrópole levou Maleta, o book e a inocência Estampada no rosto de bibelot, Perdida no apê de uma “agência”

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A retirada do macho na guerra dos sexos Onde o novo macho se esconde? Onde sua presença é mais forte A atuação é hegemônica? Onde? Se até os bares já são das mulheres Que predominam na escola, no trabalho E nos quartéis são bem mais que alferes? Estará o novo homem acuado, doentio Nas práticas solitárias, colo da mãe Ou em tocas, assustado, arredio? Nesse deserto, atrás de algum gato pingado Irônicas caçadoras, na escassez da caça Ainda debocham – dizem que é tudo veado Culpa do empoderamento predatório, da vindita Que busca mais do que depor armas do inimigo Sua cativa domesticação, a vingança supradita Semicastrados, alguns agem como eunucos Outros, animais esquivos, tornam-se selvagens Feras que liberam baixos instintos em tudo Cumprem purgatório dos excessos cometidos Nos velhos tempos de vilania agora dividida Com gêneros emergentes no mercado competitivo Inseguros, frágeis, impotentes ou perversos Todos vítimas da nova babel de intolerância E da competição de seres no só Eu imersos

Metamorfose Casanova hoje é novo homem Diferente daquele cachorrão. Só em casa ele bebe e come E futebol só joga o de botão Manso, plenamente domesticado Nem de longe lembra o antigo machão. Ex-farrista, arruaceiro, estourado Tornou-se um exemplar camisolão Na cama é sempre sua a iniciativa De discutir problemas da relação Se Rocineia de noite muito ativa Chega às três sem boa explicação Nele só a saúde está inalterada Exceto a enxaqueca que açoita Por coincidência na hora exata Em que ela está querendo a coisa 55


Pai d’égua em extinção

O contrato

Em algumas áreas do Nordeste, pai d’égua Já foi por décadas grande elogio, exaltação Desde quando as onças não davam trégua E as éguas eram protegidas pelo garanhão

Positiva e operante Em tom contratante A jovem e bela amante Falou pro velho amante Quero presente de amante Esmeralda e diamante Um apê deslumbrante Um cruzeiro fascinante O Jaguar mais possante Tu passivo, eu dominante

Em tempos de confusa e profusa sexualidade Égua e cavalo também entraram na confusão Com a égua assumindo dotes da masculinidade Que perde cromossomos no universo garanhão. Quem sabe por isso na onda da pós-modernidade Pai d’égua e garanhão mais se tornem exceção.

Tempo sensual No Nordeste, calamidade, enchente No Sul, ciclone, tornado, vendaval Na TV a moça do tempo, sensual Anuncia indiferente, sorridente No Rio, tempo bom no carnaval

Poeminha caboclo Minha ôiuda e beiçuda Edite Se tu me quer mais bunitin Retocado, serei o Bredi Priti De tu, minha Angelina Joli

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Eva robótica Sensualidade exótica Até diria estrambótica Surreal, fantasmagórica Quem sabe pré-simbiótica De placenta tecnológica Fria, sílica, gótico-erótica Corpo sapiens, alma robótica

Gabi e a gramática Ainda que não entre em querela De teor semântico, gramatical Parece que ontem afinal vi ela De corpo inteiro, escultural. Parece... por tão estreita janela De onde emanam cravo e canela Já não sei mesmo, se a vi, se vi ela


A nova feiúra Já foi pobre, deprimida, enrustida, monástica Agora é outra mulher, mudança fantástica. Anos a fio de análise, lipos, várias plásticas Personais, muita academia, muita ginástica Virou rica, egocêntrica e frívola, entusiasta Da vida fútil, midiática, escancarada, nefasta

O preço da coerência Minha mulher sempre me censurou – censura casada com algum receio – Por minha “incontinência” no criticar. E, como ela – sempre ela – profetizou Certo preço estou agora a pagar Por debochar do narcicismo alheio Acontece que hoje enrugado e feio Me sinto sem autoridade prá retocar A decadência que precoce (?) veio Desde o cabelo até o calcanhar Assim, daqui a algumas décadas pros sete palmos deverei levar bolsa escura sob as pálpebras queixo caído, vazio no maxilar e os lábios parecendo desabar

Musa-pós Ela é atraente mas produzida Como efêmera celebridade Musa descartável que suscita A miragem da pós-modernidade Ela é inegavelmente bonita Mas de pouca personalidade Marca negativa que a limita A só bonita, pós-modernidade Produzida, fútil mas bonita No tal padrão celebridade Essa tola marca que ela imita No vazio da pós-modernidade

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Guenta mãe

Educação, a saída?

Querida mãe Mundoca Tô ligando dum orelhão Que fica aqui na Moóca Onde arranjei colocação

A inveja é uma merda Mas não tem cabimento Eu, culto e estudado com doutorado em Berna Montado nesse jumento E tu, burro juramentado Com essa cara de palerma Nesse Porsche-monumento

É no tal telemarquetingue E o salário, se eu tiver sorte, Setecentos reais, mais vales Pra refeição e pro transporte O expediente até que é bom Só sete horas de falação Prá responder em bom tom A desaforo e reclamação O palavreado é um minifúndio Que de novo não comporta nada: Dois ou três verbos no tal gerúndio Repetidos em ritmo de embolada Só quero que me perdoe, me releve Porque nessa minha nova função Tenho de aguentar calado, inerte A senhora vítima de feia xingação.

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Centauros a moto Motos leves mas eficazes Cortam rápidas a caatinga Com vaqueiros audazes Só não como os da antiga O gibão já não é de couro É jaqueta-imitação de grife Usada sem maior desdouro Na vaquejada ou em desfile Menos rudes, já urbanizados Eles formam a nova geração Dos que já foram exaltados Como os centauros do sertão


MUNDO ANIMAL

Fauna humana É diversa a fauna humana Rica em serpentes, piranhas, Hienas, falcões e ratazanas Bonita e poética torna-se ela Quando povoada de garças, Patativas, lebres e gazelas



Bolsa canário – meu drama de consciência Canário, afinal o que tanto dizes Com esse canto de variada inflexão? Será desabafo ou também me maldizes Por mantê-lo nessa prateada prisão? Ou será canto de amargura, de saudade Da floresta e da velha companheirada? Ou ainda um grito pela liberdade, Prece, uma ladainha desesperada? Espero que me perdoe a especulação, Mas seria canto de agradecimento Pela farta comida e parca habitação? Ainda que pareça atitude de salafrário Confesso meu real conflito, contradição Entre a busca de ser coerente, libertário E o egoísmo de ouvir teu canto na prisão Pra mim seria mais fácil a decisão – Abriria a gaiola em gesto retardatário – Se o teu canto fosse só de gratidão. Mesmo contagiado pela incorência Não tenho meio termo nesta questão: Não aceito conviver com a dependência De talentosos entregues à submissão – Que trocam a liberdade e independência, Por teto ou benesses sob servidão

Os abutres Em cima, no alto, no cume Vorazes abutres se fartam Embaixo, rés, fétido estrume Famintos rebotalhos catam

O gato humano Ágil descuidista, o gato-bichano É pé-de-chinelo, até puritano Se comparado a outros gatunos Como o esperto gato humano

Amigos e inimigos do animal homem A exemplo de cachorros e cadelas Cavalos e éguas são amigos do homem Não são como certos eles e elas que não valem o que bebem e comem 61


Inglês Tu iú Prá você se pronuncia Tú iú Explica o tuiuiú prá tuiuiú Na aula de inglês pra animal Receber turista no pantanal

O papagaio e a cacatua Eu fico na minha e tu na tua – Seco, o louro falou pra cacatua. Ele, um bugre do Pantanal Ela, de origem australiana Ele, exibicionista, até imoral Ela, refinada, quase puritana Foi essa mistura paradoxal de certo parentesco genético com notório choque cultural – e não alegado deslize ético – que desfez aquele belo casal

O “outro” sabiá

Sujeito oculto na Côrte do urubu-rei Um urubu-rei adolescente Apaixonado por uma garça Deu em cima, insistente Até cair na sua graça. No território das pernaltas Houve rumor maledicente Porque o namoro ressalta Uma inviabilidade evidente A gracinha da jovem garça É insultada por fofoqueiras Que atiram na sua vidraça A pecha de só interesseira Impassível, alegre e acesa Ela o chama de “meu-rei” Ele a trata como princesa Como se fosse da sua grei

No outono, o velho sabiá Em crise de melancolia Incluiu notas de nostalgia Ao seu triste cantar

Na plebe há grande reação Pois, em meio à mundiça, Ela só come caviar e salmão Em peças de prata maciça

É que no espaço já se ouviam Aves indiscretas a fofocar Que sua sabiá já preferia O canto meloso doutro sabiá

Espanta e gera especulação Que a garça, antes magriça, Com a nova alimentação, Parece grávida de tão roliça

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A vingança das formigas Sob ameaça de morrerem abduzidas Pela grande língua de uma tamanduá Bravas e disciplinadas formigas Decidiram em formação contra-atacar Doída, muito picada, toda ardida A ex-algoz, agora vítima, a esgoelar Pediu socorro ao macho tamanduá Que, acovardado, em marcha batida Escafedeu-se daquele lugar Afinal vitoriosas, enlouquecidas Puseram-se em ordem unida a gritar Formiga unida jamais será vencida Abaixo, fora, forca pros tamanduás

Mania de grandeza A montanha pariu um rato Rato irreal, rato metafórico Mas, megalomaníaco, eufórico Um rato real, rato de fato Desnaturado, sem vergonha, Espalha sem a menor cerimônia Que sua mãe é uma montanha.

Toda baleia – Mente sereia A jovem e notívaga baleia Graciosamente se esbalda Na maré alta, sob lua cheia. Na faceirice que ressalta Ao desfraldar sua cauda Parece imaginar-se sereia.

O meau-meau do bechano Miau-miau é a fala básica do gato Em qualquer origem do bichano Exceção o meau-meau suingado Miado com forte sotaque baiano

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O perigo da rima

A preguiça do “rei!”

Rimar cobra com sogra é uma tentação Perigosa e injusta pela generalização Pois se você procurar nesse mundão Achará uma ou outra de bom coração

Diz-se na terra de Malraux e Renoir Que le lion c’est le roi des animaux. Aqui, livre versão da verve popular Diz que o leão ia urrar e desanimou

Bicho de pé

Esse símbolo de poder e majestade Vigoroso e sem piedade no caçar, Em regra é tão indolente e covarde Que até com rato pode se assustar

Pobre Zé prequeté Rico em joanetes Frieira e bicho de pé Doídos pra cacete... (bicho de pé nesse bloco entrou de tão entrão que o referido é E uma dúvida em mim pairou: Afinal, bicho de pé que bicho é?

Nova amante ...Aí a sedutora zebrinha Extenuada e saltitante Falou pro galante elefante: Não aguento essa picuinha, Da outra espalhar,intrigante Que espero uma elefantinha E sou tua mais nova amante

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Tais contradições talvez possam explicar Porque, para a republicana irreverência, O rei-leão tem preguiça até prá urrar

Elvis vive... num coelho Tal como o de Memphis Ele se chama Elvis Gosta de usar topete E de agitar a pélvis Inverso do finado Jackson Mantém sua cor original E procura lebre marron Pra enlace matrimonial


O recato da girafa Com seu periscópico pescoço A girafa é digna de louvação Por usar a privilegiada visão Com dignidade, sem alvoroço Não é como certas vivandeiras Que se esgueiram em muro baixo Pra disseminar intrigas rasteiras Armar barraco, zoeira, cambalacho...

O urro do burro

Metáfora de uma vida vira-lata

Rosto taciturno Já quase surdo O velho burro Cor cinza turvo Soltou um urro Quando outro burro O xingou de burro

Solitário, o velho e rabugento vira-lata Vive a correr e a latir para o nada, Sombra da antiga liderança passada Na matilha de outros e outras vira-latas

Cachorrada Ela o xinga de cachorro E ele rebate – sua cadela. Parado, junto a um morro O irado casal se esguela Para espanto do entorno Mesmo sendo ele um cachorro E sendo ela uma cadela

Sem peçonha, nem arranha Inerte, coberta de vergonha A venenosa viúva aranha Já não teia nem abocanha, Não se assanha nem arranha. Despojada da antiga peçonha Tornou-se inválida, sem sanha

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Colibri, vulgo beija-flor

O ornitorrinco

Com o coração a mim por hora O colibri colhe o doce néctar Na rosa que, desabrochada, cora E eu, de mente lenta, lerda Somente descubro agora Porque a pequena ave multicor É mais conhecida como beija-flor

Entre os chamados irracionais O ornitorrinco é singular, diferente E, comparado aos ditos racionais, É indefinido como certo tipo de gente

O pardal e o cardeal

Ainda que nem a todos ele assuste Com sua aparência mais que exótica Empalhado, foi visto como embuste Fotografado, como ilusão de ótica

O irrequieto pardal Agora mora num pardal E, o que é mais anormal É ele formar casal Com discreto cardeal

Acontece que, apesar de mamífero O bicho põe ovo, tem bico de pato Expele veneno às vezes mortífero E ainda tem genes compartilhado Com o homem, o cachorro e o rato

Mais que macacos

Remanescente da fauna pré-histórica Vive na Austrália e Nova Zelândia, Países na área animal, zoológica Mais originais do que a Disneylândia

Gorilas e chimpanzés são mais que macacos São singulares antropóides, os ditos primatas Com seres humanos parecidos, assemelhados Principalmente quando estão com a macaca

Novas e velhas galinhas Antes das refinadas galinhas de granja Prevaleciam as caipiras e as de Angola Ágeis, valentes, ariscas, boas pra canja Mais difíceis de pegar do que as de agora

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No rala-rala No roça-roça Assim acasala A gorda morsa


Morcego-desasossego Por mais que o bicho morcego Sirva ao equilíbrio da natureza Ele desequilibra meu sossego No escuro ou com luz acesa

Vaca avacalhada Se na Índia a vaca é sagrada No Brasil ela é avacalhada. Quando não é esquartejada É por comparação xingada. (Acho que a quadra tá errada Pois não deixei clarificada Que pretendia metaforizada A associação do bicho vaca A mulher assim classificada – Não sei por que carga d’água: Se por estar pouco malhada Ou se por tetas exageradas)

Preocupação ou vacilo??? Não entendo a psicologia do grilo Mas sei que de alguém preocupado Hesitante, com tendência ao vacilo Popularmente se diz que “tá grilado”

VideANDO O réptil cinza calango Nunca é visto em bANDO Mas vive a vida em ANDO: Algum inseto tocaiANDO A cabeça balançANDO (Como que telegrafANDO) Vez ou outra namorANDO, Arvore ou parede escalANDO Ou, parado, contemplANDO Só vendo a vida passANDO

Tartarugar, o meu sonho A calma e longeva tartaruga Tem casco duro e grossa ruga. Ainda assim ficaria satisfeito Se mesmo com esses “defeitos” Alcançasse o invejável feito De manter o cérebro perfeito E, em quelônia longevidade, Aguardasse com serenidade A passagem prá eternidade 67



Saideira de brincadeiras E algumas besteiras

Não sei se procede, se mereço, tal loa mas alguns dizem que tenho algo de Pessoa Augusto, Gregório, Oswald e Bandeira. Como sou chegado a uma rima pândega, à toa já me acharia vate de grande eira e beira se comparado ao incomparável Zé Limeira Rei do non sense, extraordinária figura poeta do absurdo, da contracultura.



Qualquer semelhança... Com pretensão de esteta Semblante enigmático Introspecção de asceta Às vezes até lunático Sinto-me afinal poeta

Disfarce Tenho me achado patético Talvez por questão de hormônio Quiçá por perda de neurônios Mas, como não sou de ir a médico Prefiro adotar algum pseudônimo Prá não assumir os versos bisonhos Fora do meu padrão – herméticos Que ultimamente componho

Assim prometo... Já confiante no meu taco (Mais três livros gestados, com leitorado consolidado) Meu desiderato imediato É tornar-me menos chato Recolhendo-me ao recato Sem o exibir despudorado Que caracterizou de fato Meu início nesse riscado

Completude (um pouco de cada) Agora já me vejo completo, Ser completamente normal. Ainda que não seja correto Sou um “médico” ocasional, Ao aviar receitas pro neto, Louco, mas apenas o trivial E, como poeta de baixo teto, Modesto, sei, mas original

Porteiro de brechó Em crise existencial Acho que mereço dó Deixei a vida intelectual Virei porteiro de brechó

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Luta de Classes

Eu-Ciará muleque

Arrogante, a rima rica Provocou a rima pobre Tu só serve prá futrica Eu prá poesia nobre

Não sou um Peri, bravo guerreiro Um Padre Mororó, um Alencar Nem Jerônimo, bravo jangadeiro Menos ainda um Dragão do Mar

Altiva, reagiu a dita pobre: A pobreza é minha riqueza Que até grande poeta acode Ao preferir o certo à incerteza

Se de Aderaldo tento o verso ligeiro E de Quintino o dom de provocar Se deles não sou mais um herdeiro Sou só um muleque véi do Ceará

A rica esnobe ainda treplicou Chamando de tipo fácil a outra Oferecida a qualquer trovador, Ou humorista de rima marôta

Musa em pranto

Eu de fato me entrego sem recato nem seleção a visionário ou vate cego, A quem apele na precisão estou disponível – não nego. A pobre encerrou a discussão. PS: Se caí nas teias da rica Me perdoem essa heresia É que pobre também futrica Nos encantos da burguesia

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Aviltada por tanto Porém e entretanto A musa fez-se pranto, Renegou o feio canto Sem viço nem encanto Estéril e chato, portanto

Data Vênia Teatral a qualquer hora Como rábula de outrora Faz-se emotivo e até chora No juri quando perora Ora reza, ora ora E, insistente, aflora um ora veja, ora ora


Pru mode nóis intendê (!?) o mineirês Ocêis têm má vontade Prá entendê nóis minêro Mais na roça ou na cidade Nosso falar é facim e artêro Quando ô trem bão nóis diz É quando o trem é danado de bão Trem sobre quaqué coisa se diz E bão é quando o trem é mêmo bão Marvada possa sê muié ruim Mai também a braba pinga Água qui num bebe passarim A da bôa num dêxa catinga

O mineirim perdeu o trem e os trem também

Aio nóis chama ai. Ói, uai, é mêmo ói Pro mode galinha caipira nóis fazê E se num tem sutaque nem carece rima Pão de queijo, sô, é face todo muno cumê

Por carregar muito trem no corre-corre, no vai-e-vem o mineirim perdeu o trem, E assim, a reputação também Até porque – lembrar convém Trem pra viajar – o próprio trem é um trem que lá não mais tem

Cê intendeu?

Ô trem difici...

Só ispero qui ocê me oiça e num venha de coisa e loiza Num tenho nada com a tal Soiza Inté porque loiza é loiza I ôtra coisa ôtra coisa. Intendeu?

Cuma num tinha o qui fazê maginei dedicá uns versim procê mais, cuma num sabia o qui dizê só tentei e disisti de iscrevê daí axo mió nois tê um teretetê Preu falá na cara o queu axo dôcê

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Para uma certa senhora Vítima de equívoco meu Minha caríssima senhora Acrescento à desculpa oral O que escrevo em verso agora Sobre meu equívoco ocasional Foi por ter a vista avariada Que confundi vossa senhoria Com uma criatura safada Viciada em fofoca e baixaria Acontece que já sinto Os sintomas da idade: Troco pinga por absinto E recato por temeridade Também troco de fuso Troco lôra por morena E nesse cérebro confuso Perdi o prumo e a antena Queira pois me perdoar Pela lamentável confusão De encarar mulher exemplar Como certa dama da lotação

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Réquiem pro trema Com emoção extrema Meu coração abalado Chora o fim do trema Conforme anunciado Ìcone da acentuação, Consanguineidade De Cosme e Damião, Marca da equidade Esse singular perfil Define tal acento Que só dez em mil Aplicam a contento Temo que o triste fim Do pingo emparelhado Seja praga ou algo assim De alguém reprovado Em concurso prá cri-cri


A istora de Crisbela e o causo d’eu mais ela Pra quem acha qui sô só grosso I qui num tenho centimento Digo qui quando eu era môsso Coinci a fia dum sargento Num causo triste, rumuroso I assim narro o aconticimento: Ela paricia Sinderela I logo que eu vi ela De saia e bruza amarela Quais cai minha ispinhela I dicidi: ainda amo ela I na bucha diche pra ela: Meu coração pur ti gela, O vrêmei fica branquela Os miolo tudo sisfarela Pra ti dô inté uma custela. Qué casá cumigo, Vitela?

O pobrema foi o pai dela Um véi brabo cuma fera I qui logo prendeu ela Numa moiada e fria cela Pió, iscura e sem janela Daí eu nunca mais vi ela Nem ôtra bela cuma ela.

Munto calada era ela Qui nunca foi tagarela. Ela só piscou uzoi dela. I acim foi o cim dela

Só me restô o vazii da custela, – Aquela qui eu dei pra ela – Mais os retrato e uma fita amarela I nela o nomi propri dela – Crisbela

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A ingênua Rosinha e o cínico Edudela O namorado da ingênua Rosinha É baixinho, malandro, magricela E, por ser trambiqueiro, fominha, Não lhe importam as virtudes dela

Passeterapia Decola, reclusa Dora! Sai da casca, cai fora Manda o banzo s’imbora Avante Dora! Dora, avante! (Pós-alta)

Seu nome certo não é sabido Só o apelido – Edu Siriguela, Talvez pelo tórax chupado e fino Como o caroço da fruta amarela Entre os amigos da fiel Rosinha É mais conhecido como Edudela Não sabem que também da vizinha Mas, falso, jura, “só amo ela” Tratada como gatinha manhosa Apaixonada, ela ignora a esparrela De namorar figura tão misteriosa Interessado só no negócio dela

Biografia Filha de Cléber e Susete Ex-babá e ex-garçonete – hoje dona de lanchonete – A eclética Mary Babete foi disputada periguete Até encontrar Rossetti Pai dos seus filhos – sete 76

Doravante, já mutante Dora será bem outra Menos ofegante Deixará o calmante Tomará fortificante Ficará mais solta Quiçá, até marota Atrevida, petulante Descolada, como antes

Horas depois... Já sob a pena eterna Cabelos em desalinho No meio do caminho Havia a bela Eva Deitada na relva Sorriso que enleva Em voz suave, terna Provocava o baixinho: Vem de novo Adãozinho Aproveita a primavera Que o paraíso aqui já era


Barischiniquim (cartão de visita) Se é pra dançar, eu danço Se é pra reggar eu reggo Se é prum lero, bolero Se pra sambar eu sambo No rock e break eu quebro Desmantelo na salsa e mambo

Na real Ando preocupado, cabreiro Com meu ritmo descompassado Que mais parece xaxado Na cabeça de metaleiro Corpo lerdo, arrastado A afrontar cérebro roqueiro

Vozes d’África Meu cromossomo negro é só emoção Se ouço Armstrong, Marley, Jamelão Tim Maia, Brown, Clementina de Jesus e outros afros, marrons ou azuis

Como nasce uma malediscência Se ando desequilibrado Sem rumo nem prumo até Asseguro não ser por juíz avariado É só por um calo no dedim do pé

Narciso em baianês Êta Poeta Porreta!

Pequenas mágoas de um Grande megalomaníaco Eu, que já dei nó em pingo dágua Escalei o tenebroso Himalaia Cruzei o cosmo em disco-voador E desvendei segredos incas e maias Ainda assim guardo pequenas mágoas Como não ter encarado o Aconcágua – Em asa-delta ou dorso de um condor – Não ter explorado o planeta Zaia E, na intensa militância revolucionária Rompido com Fidel e La Pasionária. Na música, sem o aval baiano e boicotado Pela crítica agregada – mais amargor Deixei, injustamente, de ser consagrado O que sempre fui – genial compositor 77


Obra completa do bebê sem babá

Acho que vi um pintinho...

Mai-ê... jatabei. Vem limpá... Meda, bota, totô, cici. Enojado, o bebê sem babá Pôs-se aflito a anunciar A obra acabada de produzir No novo e decorativo sofá

Piu piu é o apelido do pintinho Em alusão à sua primeira fala Também é nome do pedacinho Por onde xixi do bebê resvala

Baseado em fato real Precoce na distinção de classe, aos três anos O petiz, na piscina pública de Lulópolis Eufórico gritava pro seu mais velho mano Aqui é bom demais pra nós qui semos probis... Constrangida pelo súbito rebaixamento A genitora, silente na cena digna de comédia Viu-se desagravada na reação do primogênito Pobre não, seo besta, nóis somos é crasse média...

Três verdades e uma mentira Sem vocação pra atleta Nem pedalar eu pedalo No futebol sou um pateta Só no skate é que embalo

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Ele muda de nome quando cresce, Com batismo e serventia variados: Até certa idade fica no sobe e desce Quando aquieta é galo aposentado Na recepção auricular Como se deve encarar A sentença ovo e uva boa Se é questão de paladar Ou galanteio vulga, à toa Pra viúva ainda a ovular

No consultório Ora o que mais sinto é frio Ora mais parece calor Algo como calafrio Com lufadas de calor O que me causa arrepios E picos de mau humor. Seria a tal andropausa Ou teria outra causa Me responda “sêo” doutô Pois qui to mei isquisito Confesso que isso eu tô.


Fofoca no brunch das dondocas Entre as mais plastificadas Mimi ficou até mimosa ... Ceci muito cicatrizada... ... Sássá sairá na verde-e-rosa... ... A Bibi está muito arribitada... ... A popô ficou mais poderosa... ... A bobó só botoquizada... ... A Gluglu tá horrorosa...

O casamento Como espalhafatoso sonho O ridículo e a vulgaridade Contraíram matrimônio No templo da mediocridade

Do boom ao bum! Enquanto viveu o boom Indiferente ao zumzum Ele se achava O Bom Portador de muito dom De fairplay, de bom tom Aspirante ao grand-monde Um casanova, dom Juan. Sempre alvo de um zoom Até que BUuuuMM

Tango portunhol Mi coraçõn partido, em pedaços Pulza na cadência de viejo tango Mientras insensible, em otros braços Bailas tu caliente y sensual samba-mambo

Dança de salão No salão, ao som de antigo bolero Dançavam dois pra lá, dois pra cá Silentes, sérios, só rolava um lero Quando ela encenava um chega pra lá Nela, colar-ouro de tolo, falsos brilhantes Nele, cavalheirismo afetado de falso marajá Ela, lembrança do charme que tinha antes Ele, velho boêmio, mais pra lá do que pra cá 79



Octogenário descanso

Poda

Só uma vez tive dinheiro achado Depois, isso não aconteceu mais. Como também nunca fui premiado, No bolso só entra dinheiro suado Mas já decidi não trabalhar mais (...Depois dos oitenta. Nunca mais...)

Da infância até os sessenta acrescentei muitos mins em mim Agora, já à beira dos setenta Procuro o eu comigo mais afim Tirando máscaras postas em mim

Outra hipótese Já fiz planejamento estratégico Pra me libertar da burocrática teia Primeiro, as licenças acumuladas Depois, de férias, vou pra Correas E assim revigorado, energético Caio fora – me livro dessa cadeia

Assim falou Millôr Já no século passado o sábio Millôr Questionava o que hoje mais vigora No princípio era o caos ou é agora? Enunciada a questão, logo arrematava Com seu idôneo e profético testemunho Isso que aí está é apenas o rascunho.

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Aceito propostas* Pluto da bancarrota

A exemplo do irmão desaparecido – o da carta de pretensa rendição Também ando um tanto esmorecido E carente do existencial tesão A diferença – anuncio de antemão, É que não sou tão incomprável não Mas aberto a boa boca, a bom quinhão Concessão de tele ou canal de televisão Também topo fazer reclame da Petrobrás Contrato prá obras da Copa e outras minas tais E assim comprar uma illha de beleza rara Só não aquele habitat de emergentes caras * Enviar propostas para www.plutodabancarrota.com.br

Nota de esclarecimento Por se tratar de um irmão (bastardo) do desaparecido, esta página foi franqueada ao tal Pluto, que fez o pedido já no fechamento da edição. Perplexo e constrangido pelo conteúdo do texto, penintencio-me por não ter repudiado com energia a iniciativa do famigerado, tibieza que talvez se explique por se tratar de figura de proa da indústria cultural, com grande acesso às fontes de financiamento de obras literárias.

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SUMÁRIO

Prefácio – Poesia como testemunho de vida

Versos viscerais / O outro Quintana / Feitio de oração / Outros, feitio de oração / Eu confesso / Modéstia / Três Marias / A brava doceira 28

7

Introdução – Já entramos no futuro – transumano, assustador 9

Dispersamente / Vaziamente / Das entranhas / Velhos e

O auto da rendição (ou fuga para resistência)

novos medos

Catarse

As minhas razões

Eu comigo e eu sem mim / Eu, caçador de mim? / Eu fera / Eu e o anjo / Em grau vário / Sinto-me absinto / Musicoterapia / Sutura / Meu reino por um grilo

17

O enigma / Alma em fuga / Entre a máscara e a clandestinidade

30

18

Usina / Pernoite/açoite / Prazer e nada / Afastem de mim essa taça / (Des) encontro / Le petit Napoleon 31

Libertação / Ocaso ou laço? / Sangria d’alma / Disritmia / Ponto de partida / O besta do apocalipse 19 Provocação à vida / Exorcismo / Recibo-aviso / Declaração de cor / Oração antidepressão / Matriz energética / Longe de ser atômica 20 Alforria / Em resumo / Hipóteses

21

Pasárgada, a alternativa

Inventário / A esclerose do eu / Pequenez d’alma / Hora da verdade / Sobrevida / Ao Deus-dará 32 Sinto-me / Santo porre / Andarilhos / O Milagre

33

Sentidos / Inverno / Faz sentido? / D’alma / Corpo e alma / Esperas 34 O voo do ermitão / Terrais e sonhos / Sem plano de voo / A tragédia de Ícaro – outra hipótese 35

Mundo Bom, Mundo Ruim Trilhas e atalhos vitais / Destemporâneo ser / Encruzilhadas / A tirania do tempo / Tempo uno

29

25

26

Meninos e meninas / eu (infelizmente) vi / Pesadelo atômico 27

As forças da natureza e ideias associadas Iguaçu / O outro rio-mar / A chuva e a tempestade / Os sinais / Manteiga incendiária 40 Sol, ar e mar / Olhar boêmio / Encalhado / Eu, surfista / Emoção apátrida / Calçadas ao mar 41 83


A volatilidade das ondas / Na areia seria sereia? / À deriva / Mulher-tsunami 42

A retirada do macho na guerra dos sexos / Metamorfose 55

Mar ou lar? / Sístole e diástole / Nado ou nada / Mais que xenofobia / O marzão de Portugal / ... Ir só para voltar 43

Pai d’égua em extinção / Tempo sensual / Poeminha caboclo / O contrato / Eva robótica / Gabi e a gramática 56

Moto contínuo / Nado sincronizado / E faz dança acrobática / Omar e o mar / Clarão x trevas / Lembrete / Paranoia cósmica 44

A nova feiúra / Musa-pós

57

Mundo Animal Fauna humana

As forças da natureza Viagem fantástica / Num plácido voo, férias de verão / Os Cinzas / Longe das baias 45 Tempos pós-modernos Pro caos

Especulação sobre os restos do nosso mundo 49 Apocalipsi indagora

50

O governo do polvo / A nova prepotência / Bara, a cara do “cara” / E os enganadores? / Especialização / Globalização 51 Eis a questão... / Indigência / Busca / Soberba / Nós, robôs dos robôs... / Logo seremos deles robôs / Gente humilde / Quimera 52 A babel-Dubai / www.medáumdinheiroaí (tire um mendigo da rua) / O oráculo / Sorria – a Profecia Realizada 53 O glamour do nada / Abundância / Releitura politicamente / correta de velho chiste / História incompleta 54

84

Guenta mãe / Educação, a saída? / Centauros a moto 58 Fauna humana

59

Bolsa canário – meu drama de consciência / Os abutres / O gato humano / Amigos e inimigos do animal homem 61 Inglês Tu iú / O papagaio e a cacatua / O “outro” sabiá / Sujeito oculto na Côrte do urubu-rei 62 A vingança das formigas / Mania de grandeza / Toda baleia – Mente sereia / O meau-meau do bechano

63

O perigo da rima / Bicho de pé / Nova amante / A preguiça do “rei!” / Elvis vive... num coelho 64 O recato da girafa / O urro do burro / Cachorrada / Metáfora de uma vida vira-lata / Sem peçonha, nem arranha / Tornou-se inválida, sem sanha 65


Colibri, vulgo beija-flor / O pardal e o cardeal Mais que macacos / Novas e velhas galinhas / O Ornitorrinco 66 Morcego-desasossego / Vaca avacalhada / Preocupação ou vacilo??? / VideANDO / Tartarugar, o meu sonho 67 Saideira de brincadeiras e algumas besteiras Pro Zé Limeira

Qualquer semelhança... / Disfarce / Assim prometo... / Completude (um pouco de cada) / Porteiro de brechó 71 Luta de Classes / Nos encantos da burguesia / EuCiará muleque / Musa em pranto / Data Vênia

72

Pru mode nóis intendê (!?) / o mineirês / Cê intendeu? / O mineirim perdeu o trem e os trem também / Ô trem difici... 73

A istora de Crisbela e o causo d’eu mais ela / I nela o nomi propri dela – Crisbela 75 A ingênua Rosinha e o cínico Edudela / Biografia / Passeterapia (Pós-alta) / Horas depois... 76 Barischiniquim (cartão de visita) / Na real / Vozes d’África / Como nasce uma malediscência / Narciso em baianês / Pequenas mágoas de um Grande megalomaníaco 77 Obra completa do bebê sem babá / Baseado em fato real / Três verdades e uma mentira Acho que vi um pintinho... / No consultório 78 Fofoca do brunch das dondocas / O casamento / Do boom ao bum! / Tango portunhol / Dança de salão

79

Octogenário descanso / Outra hipótese / Rascunho / Poda 81 Aceito propostas

82

Para uma certa senhora Vítima de equívoco meu / Réquiem pro trema 74

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Produção e edição: Tereza Vitale Diagramação e arte: Adriana Costa abare.editorial@gmail.com F. (61) 3879-6881 (61) 9986-3632


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