GRÃO DE BICO (Cicer arietinum L.) TECNOLOGIAS DE PLANTIO E UTILIZAÇÃO

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GRÃO DE BICO (Cicer arietinum L.) TECNOLOGIAS DE PLANTIO E UTILIZAÇÃO

Vicente de Paula Queiroga Ênio Giulinano Girão Esther Maria Barros de Albuquerque Editores Técnicos

REVISTA CIENTÍFICA


GRÃO DE BICO (Cicer arietinum L.) TECNOLOGIAS DE PLANTIO E UTILIZAÇÃO

1ª Edição


CENTRO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO E DIREITO LARYSSA MAYARA ALVES DE ALMEIDA Diretor Presidente da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito VINÍCIUS LEÃO DE CASTRO Diretor - Adjunto da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Editor-chefe da Associação da Revista Eletrônica a Barriguda - AREPB

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA – AREPB CNPJ 12.955.187/0001-66 Acesse: www.abarriguda.org.br

CONSELHO EDITORIAL Adilson Rodrigues Pires André Karam Trindade Alessandra Correia Lima Macedo Franca Alexandre Coutinho Pagliarini Arali da Silva Oliveira Bartira Macedo de Miranda Santos Belinda Pereira da Cunha Carina Barbosa Gouvêa Carlos Aranguéz Sanchéz Dyego da Costa Santos Elionora Nazaré Cardoso Fabiana Faxina Gisela Bester Glauber Salomão Leite Gustavo Rabay Guerra Ignacio Berdugo Gómes de la Torre Jaime José da Silveira Barros Neto Javier Valls Prieto, Universidad de Granada José Ernesto Pimentel Filho Juliana Gomes de Brito Ludmila Albuquerque Douettes Araújo Lusia Pereira Ribeiro Marcelo Alves Pereira Eufrasio Marcelo Weick Pogliese Marcílio Toscano Franca Filho Olard Hasani Paulo Jorge Fonseca Ferreira da Cunha Raymundo Juliano Rego Feitosa Ricardo Maurício Freire Soares Talden Queiroz Farias Valfredo de Andrade Aguiar Vincenzo Carbone



VICENTE DE PAULA QUEIROGA ÊNIO GIULIANO GIRÃO ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE (Editores Técnicos)

GRÃO DE BICO (Cicer arietinum L.) TECNOLOGIAS DE PLANTIO E UTILIZAÇÃO

1ª EDIÇÃO

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA - AREPB

2021


©Copyright 2021 by

Organização do Livro VICENTE DE PAULA QUEIROGA, ÊNIO GIULIANO GIRÃO, ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Capa FLÁVIO TORRES DE MOURA Editoração ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Diagramação ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos autores. Data de fechamento da edição: 30-01-2021 Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP)

Q3g

Queiroga, Vicente de Paula. Grão de bico (Cicer arietinum L.): Tecnologias de plantio e utilização. 1ed. / Organizadores, Vicente de Paula Queiroga, Ênio Giuliano Girão, Esther Maria Barros de Albuquerque. – Campina Grande: AREPB, 2021. 199 f. : il. color. ISBN 978-65-87070-03-2 1. Grão de bico. 2. Cicer atietinum. 3. Sistema de produção. 4. Colheita. 5. Sementes. 6. Alimento. I. Queiroga, Vicente de Paula. II. Girão, Ênio Giuliano. III. Albuquerque, Esther Maria Barros de Albuquerque. IV. Título. CDU 631.5

Ficha Catalográfica Elaborada pela Direção Geral da Revista Eletrônica A Barriguda - AREPB Todos os direitos desta edição reservados à Associação da Revista Eletrônica A Barriguda – AREPB. Foi feito o depósito legal.


O Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito – CIPED, responsável pela Revista Jurídica e Cultural “A Barriguda”, foi criado na cidade de Campina Grande-PB, com o objetivo de ser um locus de propagação de uma nova maneira de se enxergar a Pesquisa, o Ensino e a Extensão na área do Direito.

A ideia de criar uma revista eletrônica surgiu a partir de intensos debates em torno da Ciência Jurídica, com o objetivo de resgatar o estudo do Direito enquanto Ciência, de maneira inter e transdisciplinar unido sempre à cultura. Resgatando, dessa maneira, posturas metodológicas que se voltem a postura ética dos futuros profissionais.

Os idealizadores deste projeto, revestidos de ousadia, espírito acadêmico e nutridos do objetivo de criar um novo paradigma de estudo do Direito se motivaram para construir um projeto que ultrapassou as fronteiras de um informativo e se estabeleceu como uma revista eletrônica, para incentivar o resgate do ensino jurídico como interdisciplinar e transversal, sem esquecer a nossa riqueza cultural.

Nosso sincero reconhecimento e agradecimento a todos que contribuíram para a consolidação da Revista A Barriguda no meio acadêmico de forma tão significativa.

Acesse a Biblioteca do site www.abarriguda.org.br


EDITORES TÉCNICOS

Vicente de Paula Queiroga (Dr) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)

Ênio Giuliano Girão (M.Sc) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa Agroindústria Tropical– CNPAT Fortaleza, CE (Brasil)

Esther Maria Barros de Albuquerque (Drª) Doutora em Engenharia de Processos Universidade Federal de Campina Grande Campina Grande, PB (Brasil)


APRESENTAÇÃO Os pulses, como o grão de bico (Cicer arietinum, L.), como sementes secas de leguminosas, são fontes de alimento importante voltado para o regime humano em todo o mundo. Originário de regiões da Síria e da Turquia é considerado uma planta de clima seco e frio, porém, se adapta muito bem em regiões de clima tropical, como é o caso do Brasil. Trata-se de uma espécie pouco conhecida no Cerrado do Planalto Central, ainda que, mundialmente, seja considerada a terceira leguminosa mais importante com uma área de cerca de 12 milhões de hectares com a maior parte de sua produção concentrada na Ásia. A crescente demanda por pulses (leguminosas como lentilhas, grão-de-bico, ervilhas, feijões, etc) tem feito com que o continente asiático busque novos países produtores para suprir a sua demanda pelo alimento. No Brasil, esta cultura pode apresentar grande potencial de crescimento por ser uma planta herbácea e anual, cujo fruto é uma vagem com uma ou duas sementes em seu interior e, também, por constitui um recurso alimentício de elevada importância devido à sua grande riqueza em proteínas, fibras e minerais. A espécie é dividida em duas populações, com base no tipo de semente. O grão-de-bico Desi, que domina a produção indiana (e mundial), normalmente possui uma semente colorida (principalmente marrom), de forma um tanto angular, com um proeminente e característico 'bico' que abriga o eixo embrionário. As sementes do grão de bico tipo Kabuli têm características contrastantes; são de cor branca ou creme, têm uma forma mais arredondada com uma ponta (bico) menos pronunciada e, geralmente são maiores e mais pesadas (0,2-0,6 g). Portanto, este livro foi preparado com esse propósito, que é fornecer uma base inicial de conhecimento para produzir o grão de bico no Brasil Central, visando fortalecer o seu sistema produtivo que poderá abrir um mercado bilionário às exportações brasileiras, além de suprir a demanda interna. Fornece em uma única fonte, o conhecimento necessário para cultivar, colher, beneficiar e armazenar os grãos inteiros. Em razão disso, este livro escrito em português pode ser um dos primeiros manuais dedicados ao cultivo do grão de bico para o Brasil. Ou seja, aquele que decidir cultivar essa leguminosa e conhecê-la em maior profundidade, o livro "Grão de bico (Cicer arietinum L): Tecnologias de plantio e utilização" será de grande interesse e ajuda para o produtor que necessita pôr em prática as várias tecnologias abordadas no mesmo. Os autores


SUMÁRIO

CAPÍTULO I – SISTEMA PRODUTIVO DO GRÃO DE BICO (Cicer arietinum L.) – Vicente de Paula Queiroga, Ênio Giuliano Girão, Esther Maria Barros de Albuquerque .........10 Capítulo II – COLHEITA, BENEFICIAMENTO E COMERCIALIZAÇÃO DO GRÃO DE BICO – Vicente de Paula Queiroga, Ênio Giuliano Girão, Esther Maria Barros de Albuquerque .................................................................................................................................................141 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................180


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CAPÍTULO I

SISTEMA PRODUTIVO DO GRÃO DE BICO (CICER ARIETINUM L.)

Vicente de Paula Queiroga Ênio Giuliano Girão Esther Maria Barros de Albuquerque (Editores)


C a p í t u l o I | 11 INTRODUÇÃO O crescimento populacional e o consequente aumento na demanda por alimentos têm provocado forte pressão sobre a agropecuária mundial. A solução deste problema depende do aumento da produtividade e da área cultivada bem como da introdução de novas espécies nos sistemas de cultivo. Esta demanda elevada causa impactos sobre o solo e os demais componentes ambientais (SPEHAR, 2011). O grão de bico (Cicer arietinum L.) é uma das mais importantes leguminosas cultivares no mundo e tem papel importante na alimentação de milhões de pessoas ao redor do mundo. É uma planta herbácea, de ciclo anual, com folhas verde-amareladas, flores de cor branca e que alcança até 70 cm de altura. Trata-se de uma espécie de alto valor nutritivo, sendo constituída de 18% a 25% proteínas (SINGH et al., 2016), 41% a 51% carboidratos, ácidos graxos insaturados (ARTIAGA et al., 2015), minerais, fibras e vitaminas (FERREIRA et al., 2006). Apresenta composição balanceada de aminoácidos (NASCIMENTO et al., 2016) e diversas propriedades medicinais (AL-SNAFI, 2016). Os ácidos graxos insaturados, oleico e linoleico, auxiliam no controle do colesterol (NASCIMENTO et al., 1998). Já o alto teor de proteína torna-o ótima opção em dietas vegetarianas (ROORKIWAL et al., 2016). A produção e o consumo se encontram em grande parte nos países em desenvolvimento localizados no subcontinente Indiano, Oeste da Ásia, Norte e Leste da África, Sudoeste Europeu e América Central (NASCIMENTO et al., 2016). A Índia é o maior produtor e consumidor de grão-de-bico. Todavia, apesar de ser o maior produtor necessita importálo não sendo considerado, portanto, autossuficiente (ICRISAT, 2019). As suas baixas produtividades estão associadas às deficiências tecnológicas, como reduzido uso de fertilizantes para atender a demanda da planta e de déficit hídrico em plantios de sequeiro. Originário da região sudeste da Turquia, nas proximidades com a Síria, pode ser cultivado sob uma grande diversidade de climas (NASCIMENTO et al., 2016) estando presente em mais de 56 países (FAOSTAT, 2018). Atualmente, são cultivados 12 milhões de hectares. Na América Latina, a maior parte do cultivo é produzida no México, que, juntamente com o Chile e os Estados Unidos, atua no mercado internacional como vendedores. Por outro lado, na Europa os principais produtores são Espanha, Itália e Portugal; A Espanha também é um grande importador dessa leguminosa, assim como a Turquia (ASERCA, 1996; GARCÍA-MEDINA, 2002; INFOAGRO, 2010).


C a p í t u l o I | 12 O grão-de-bico é uma cultura tolerante à seca, de estação fria, e é uma leguminosa utilizada para o consumo humano. A planta cresce em posição vertical de 46 cm (18 polegadas) a 60 cm (24 polegadas) e produz numerosas vagens que contêm uma ou duas sementes em cada vargem. Como a planta é tolerante a baixas temperaturas, com frequência é cultivada em áreas subtropicais semiáridas com inverno anual, depois de uma colheita de cereais no verão, como trigo ou cevada. O grão de bico pode ser cultivado em uma ampla variedade de solos, em terreno profundo com boa drenagem. A semente contém de 13 a 33% de proteína, 40 a 55% de carboidratos e 4 a 10% de óleo, e também é uma fonte valiosa de carboidratos complexos e fibra na dieta humana (BRICK et al., 1998). A pequena produção brasileira, quase que inexistente, é insuficiente para atender a demanda do mercado interno necessitando também importar de outros países como Argentina e México (ARTIAGA et al., 2015; NASCIMENTO et al., 2016; AVELAR et al., 2018). Além disso, é uma leguminosa produzida principalmente na região Sul do Brasil, por suas temperaturas mais baixas. Apesar disso, existem variedades que podem se adaptar às condições do cerrado e, além disso, com uma produtividade muito boa, acima das médias mundiais. Mesmo assim, os maiores desafios da pesquisa brasileira para indicação de uma nova opção para cultivo em escala são: 1) Capacidade de adaptação da espécie aos sistemas de cultivos já existentes; 2) Produção equilibrada com sustentabilidade econômica e ambiental; e 3) Cultivares com alto valor nutritivo para consumo humano e a produção de ração animal. A cultura do grão de bico preenche estes requisitos e pode, em curto espaço de tempo, ser considerada uma nova opção de cultivo para as condições edáficas e climáticas do cerrado brasileiro. Isso com a intensificação do melhoramento genético, desenvolvimento de cultivares com maior aplicabilidade tanto no comercio de grãos “in natura” como no industrial, mais produtivas e responsivas à alta tecnologia aplicada na região. Como ocorre com a cultura do feijão, o grão de bico pode ser plantado em dois sistemas distintos na região do cerrado, tais como: durante o final de janeiro até meados de fevereiro aproveitando a umidade final das chuvas (cultivo de sequeiro), e o outro, com irrigação suplementar, no mês de março em sucessão com milho (cultivo de inverno). Por se tratar de uma cultura em expansão em novas áreas do Brasil, há aspectos relacionados à sua produção que ainda exigem maior conhecimento e desenvolvimento


C a p í t u l o I | 13 tecnológico local. Os aspectos sanitários do cultivo não escapam a essas considerações. As doenças do grão de bico, devido às perdas que podem causar nas lavouras, devem ser levadas em consideração nos esquemas de manejo desta leguminosa. É importante ter sempre em mente a forte influência que as condições ambientais exercem sobre a ocorrência e o desenvolvimento das patologias vegetais e o fato de que essas condições podem variar os níveis de incidência de doenças de ano para ano. A diversidade genética dos genótipos os torna uma fonte importante de genes para os programas de melhoramento, o qual irá desenvolver novos sistemas agrícolas, diversificação da produção e novos produtos de qualidade (JING et al., 2010). Para o Cerrado, o genótipo ideal de grão de bico deve apresentar os seguintes caracteres: alta responsiva à tecnologia, como fertilizantes e umidade, ser resistente a lagarta das vargens e ao murchamento causado por Fusarium oxysporum, e aos principais fungos de solo, apresentar arquitetura de planta que permite a colheita mecânica, eficiência na fixação simbiótica do nitrogênio, produzir um tipo de grão que atenda as necessidades da indústria e também o consumo “in natura”. E por último, apresentar atributos qualitativos máximos de proteínas, gorduras e minerais, impactando positivamente questões relativas à segurança alimentar. Em geral, o grão de bico é comercializado como semente seca de distintas variedades e sua qualidade está relacionada ao tamanho e cor. A produção de grão de bico das cultivares Blanco Sinaloa (cultivado no México) e Blanco Lechoso (Espanha) ocupa um lugar importante no mercado de exportação, devido ao seu tamanho, cor esbranquiçada e facilidade de cocção. No entanto, essa produção é afetada pela concorrência do mercado internacional, o que leva à busca por alternativas de vendas (ASERCA, 1997).

IMPORTÂNCIA ECONÔMICA Leguminosa de alto valor nutricional, o grão-de-bico está presente na alimentação de milhares de pessoas (ROORKIWAL et al., 2016), sendo a segunda mais consumida no mundo, ficando atrás somente da soja. A espécie é rica em proteína de alta qualidade, sais minerais (Figura 1) e vitaminas do complexo B, além de vasta gama de aminoácidos essenciais (NASCIMENTO et al., 2016). O ácido fólico pode-se encontrar em doses generosas no grão. Segundo Avelar (2016), a composição nutricional do grão-de-bico é semelhante à de outras leguminosas como feijão caupi, soja e lentilha. Nascimento et al.


C a p í t u l o I | 14 (2016) comparando-a com o feijão, leguminosa mais consumida no Brasil, relata que o grão-de-bico é superior nutricionalmente.

Figura 1. Vitamina K2 extraído do grão de bico (Chickpea). Foto: Empresa de NutriRich.

Além disso, devido à grande quantidade de celulose contida na casca, o grão-de-bico estimula o bom funcionamento dos intestinos. Devido à sua grande quantidade de amido, é usado pelo nosso organismo como fonte de energia. É pobre em água e gorduras, e está isento de colesterol. Cada 100 gramas de grão contém 6 gramas de fibras, sendo na sua maioria de fibras solúveis, ajudando de uma forma bastante eficaz o nosso organismo a eliminar açúcares, gorduras e o colesterol. Vários estudos referem à importância desta leguminosa na prevenção de doenças cardiovasculares, assim como no tratamento de vários tipos de anemia. Contém uma generosa quantidade de cálcio, ferro e magnésio, minerais que desempenham funções importantes no nosso organismo. É indispensável numa dieta alimentar equilibrada. O grão-de-bico também possui uma grande quantidade de triptofano, utilizado pra produzir serotonina, responsável pela ativação dos centros cerebrais que dão a sensação de bem-estar, satisfação e confiança. Seus grãos podem ser consumidos de diferentes maneiras: verdes, secos e fritos, reidratados (enlatados), torrados e cozidos na forma de lanches, doces e condimentos. Quando moídos na forma de farinha podem ser utilizados em pastas, sopas e na fabricação de pães (NASCIMENTO et al., 2014; NASCIMENTO et al., 2016; NASCIMENTO et al., 2017). O grão-de-bico é usado para o preparo de uma pasta árabe chamada Homus.


C a p í t u l o I | 15 Sendo um alimento relativamente barato que oferece uma grande versatilidade na culinária. Alguns estudos também têm procurado incluir o grão-de-bico na alimentação de animais como: em dietas de aves (MAHJOUB; AHMED, 2017), suínos (WANG et al., 2017), coelhos (HEUZÉ et al., 2015), dentre outros. Além de ser utilizado na alimentação animal, o consumo humano é seu principal uso, entre outras razões pela qualidade de sua proteína, considerada a de maior valor biológico entre as leguminosas destinadas ao consumo humano (Figura 2). Contém entre 17 e 24% de proteína bruta (entre as leguminosas são as de melhor qualidade devido à sua composição de aminoácidos).

Figura 2. Composição centesimal do grão de bico tipo Kabuli. Foto: M. Martínez y M. J. Allende.


C a p í t u l o I | 16 As plantas jovens e as vagens verdes são utilizadas como verduras. Dhal é o grão-de-bico sem casca, seco e partido, que é consumido como sopa espessa ou moído em farinha para lanches e doces. O grão-de-bico do tipo Desi na Índia (total de 70%) é usado para produzir dhal e uma porção é posteriormente transformada em farinha (besan). Para além de proteína, o grão-de-bico produz 21% de amido que pode ser utilizado no processamento de têxteis, dando um acabamento leve na seda, lã e algodão. Os caules e as folhas verdes ou secas são usados na alimentação animal; as sementes moídas podem ser utilizadas para ração de cavalos e gado. As folhas também produzem um corante índigo, usado em têxteis e o exsudado ácido das folhas pode ser aplicado medicinalmente ou usado como vinagre (DUKE, 1981). É uma cultura que se enquadra muito bem no sistema de agricultura sustentável devido seu baixo custo de produção, ampla adaptação climática, uso em rotação de cultura e capacidade de fixar nitrogênio no solo (ARTIAGA et al., 2015). Além disso, é considerada uma planta rústica tolerante ao estresse hídrico (ARAÚJO et al., 2010). Com relação ao seu uso em uma rotação de cultivos com cereais, o grão de bico demonstrou reduzir a incidência de doenças dos cereais, o custo dos fertilizantes e os problemas de plantas daninhas associadas à monocultura de cereais. Os cultivos alternativos, tais como os de grão de bico, também podem diversificar a base econômica de um sistema à base de cereais (BRICK et al., 1998).

DOMESTICAÇÃO, ORIGEM E HISTÓRIA Domesticação. Em termos gerais, a domesticação é um processo evolutivo que envolve alterações genéticas associadas a características morfológicas, fisiológicas e de comportamento em populações de plantas selecionadas pelo homem, em relação às populações silvestres das quais se originam (HARLAN, 1992; HELBAEK, 1959). Nesse processo, a seleção artificial intervém como a principal força evolutiva, favorecendo a sobrevivência e a reprodução de plantas com características vantajosas para o ser humano; ou seja, indivíduos com melhores características para serem utilizados como alimento, medicinal ou outros usos (HARLAN, 1992). Embora a domesticação seja "dirigida" principalmente pela seleção artificial, a seleção natural pode seguir influenciando a evolução das plantas durante esse processo.


C a p í t u l o I | 17 Por outro lado, vale destacar que o grão de bico Cicer arietinum L. é uma espécie anual, autógama e diploide 2n=2x= 16; pertence ao gênero Cicer, tribo Cicereae, subfamília Papilionoideae, família Fabaceae (LADIZINSKY; ADLER, 1976ab; VAN DER MAESEN, 1972; 1984). O gênero Cicer inclui 44 espécies, incluindo as únicas cultivadas (C. arietinum), 9 anuais e 35 perenes, que têm seu centro de diversidade no sudoeste da Ásia, com algumas espécies endêmicas em Marrocos e nas Ilhas Canárias (VAN DER MAESEN, 1972 e 1987). A estrita autogamia de C. arietinum (BIDERBOST et al., 1974; PURSEGLOVE, 1968) leva a mutações espontâneas, sendo a principal via capaz de gerar variabilidade genética naturalmente. Com a finalidade de contribuir para o melhoramento genético das espécies cultivadas por meio de cruzamentos interespecíficos do gênero Cicer, as espécies silvestres anuais são agrupadas por afinidade genética com as espécies cultivadas, nos complexos gênicos: GP1 a e b, GP2 e GP3 (VAN DER MAESEN et al., 2006), com base nos critérios de complexos gênicos primários, secundários e terciários (HARLAN; WET, 1971) e outras contribuições complementares (LADIZINSKY, 1975; LADIZINSKY; ADLER, 1976ab). O complexo gênico GP1a inclui apenas C. arietinum L. (variedades locais e cultivares), GP1b compreende a espécie C. reticulatum Ladiz. e C. echinospermum P.H. Davis, a partir do qual podem obter híbridos férteis com a espécie cultivada (LADIZINSKY; ADLER, 1976ab). O complexo GP2 agrupa as espécies C. judaicum Boiss., C. pinnatifidum Jaub. et Spach. e C. bijugum Rech. f., com problemas de esterilidade para obter híbridos férteis com C. arietinum (SINGH et al, 1999). O complexo GP3 inclui as espécies C. chorassanicum (Bge.) M. Pop.; C. yamashitae Kitamura e C. cuneatum Hochst. ex A. Rich., com forte incompatibilidade para obter híbridos com C. arietinum, e muito mais "remotas" as 34 espécies perenes (4), que não são consideradas no dendrograma da Figura 3.


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Figura 3. Coeficientes de dissimilaridade entre espécies anuais conhecidas do gênero Cicer. Fonte: Choumane (2001).

Origem. Em 1975, foi relatado o descobrimento da espécie selvagem Cicer reticulatum Ladiz. no sudeste da Turquia (LADIZINSKY, 1975) e sua grande similaridade genética com as espécies cultivadas (LADIZINSKY; ADLER, 1976ab). Essas contribuições foram de fundamental importância para avançar no conhecimento da origem genética, centro de origem e processo de domesticação do grão de bico. Em sítios arqueológicos no noroeste da Síria e no sudeste da Turquia (IX -VIII milênios aC), foram encontrados os mais antigos exemplares de sementes bem conservadas de C. arietinum (PASTERNAK, 1998; TANNO; WILLCOX, 2006). No caso do sítio arqueológico de Tell el-Kerkh, na Síria, foi observada uma grande diversidade morfológica nas sementes, desde formas semelhantes às de C. reticulatum, a outras mais arredondadas conforme a espécie cultivada (TANNO; WILLCOX, 2006). Nesse sentido, e pela grande afinidade genética entre ambas as espécies, foi proposto que


C a p í t u l o I | 19 as espécies de C. arietinum teriam originado, através de um processo evolutivo, de C. reticulatum, espécie considerada como o ancestral selvagem (LADIZINSKY; ADLER, 1976a) e que apresenta, atualmente, uma área limitada de dispersão no sudeste da Turquia (BERGER et al. 2003; LADIZINSKY; ADLER, 1976b). Levando em consideração esses resultados, considera-se que o centro de origem do grão de bico está localizado na região do Crescente Fértil, mais precisamente no sudeste da Turquia, onde o seu processo de domesticação poderia ter começado (LADIZINSKY, 1998; TANNO; WILLCOX, 2006; VAN DER MAESEN, 1984). Portanto, a região do Crescente Fértil abrange parte ou todos os territórios atuais da Jordânia, Israel, Líbano, Síria, Turquia, Irã, Iraque, Egito, Faixa de Gaza e Cisjordânia. A dispersão de seu centro de origem, considerando os achados arqueológicos de sementes bem preservadas, localiza cronologicamente as espécies antes da era cristã, nas seguintes regiões: Síria e Turquia 7.260-7.250 aC; Jordânia e Palestina 6.600-6.500 aC; Grécia 5500 aC; Israel 2.800 aC; Iraque 2.500 aC; Paquistão e Índia 2.000 aC; Creta e Egito 1.600-1.400 aC; Chipre 550 aC; e Etiópia 290 aC. (REDDEN; BERGER, 2007). A partir do seu centro de origem (sudoeste da Turquia), o grão de bico se espalhou para a Europa (especialmente na região do Mediterrâneo) e mais tarde para a África (principalmente Etiópia), América (especialmente México, Argentina e Chile) e Austrália. Foi comprovada a existência de 44 espécies do gênero Cicer se se estendendo desde o Oriente Médio, Turquia, Israel e Ásia Central.

Historia. Na Espanha, como diz Tito Livio, os soldados de Asdrúbal (século 3 aC) cultivavam o grão de bico enquanto construíam a cidade de Cartagena. Não sabe corretamente se foram os cartagineses que introduziram o cultivo do grão de bico, mas, segundo o agrônomo Columela, sabe-se que no primeiro século aC., esta leguminosa já estava totalmente integrada à agricultura espanhol-romana. Em seus doze livros de agricultura, diz o engenheiro agrônomo mencionado acima: "O grão de bico que chamam de arietino e também outro de gênero diferente, chamado de púnico, podia ser semeado durante o mês de março e em terras de maior fertilidade e em tempo chuvoso". Desde a data anterior até o século XII, houve um vazio referente ao cultivo do grão de bico. Exatamente nesta época do califado de Córdoba, aparece o que provavelmente


C a p í t u l o I | 20 deveria ser o maior engenheiro agrônomo da antiguidade andaluza: Abu Zacaría Iahia "o sevilhano". Abu Zacaría escreve um extenso tratado intitulado "Livro da Agricultura", e referindo-se ao grão de bico, diz: "(...) o tempo de semear a terra seca é no início de março, imediatamente após as chuvas, e em um bom preparo de solo e regular a umidade que lhes dá crescimento (...). Se quer uma colheita precoce do grão-de-bico para come-o fresco, plante-o no princípio de outubro e até o final de agosto (...) " Em uma publicação recente e interessante, o professor Rowley Conwy nos conta às descobertas feitas em sítios arqueológicos localizados ao lado do Eufrates. Restos humanos localizados em um perfil correspondente a 9.500 a. C. tinha certas patologias. Os métodos de flutuação permitiram encontrar sementes em grandes quantidades pertencentes a nada menos que 157 espécies selvagens. No mesmo local, em um estrato correspondente a 19.000 aC, a situação mudou e o mesmo autor diz: "As patologias dos ossos humanos continuam indicando que a população passou muito tempo moendo sementes para fazer farinha, mas agora as sementes vieram de plantas cultivadas ... Um número muito menor de espécies é encontrado e entre elas estão as seguintes: todas cultivadas agora: cevada, cenzeno, lentilhas, grão de bico, dois tipos de trigo e várias outras plantas ". Exatamente entre o período de 9.500 e 9.000 a. de C. aparece a primeira manifestação da agricultura do planeta, estando o grão de bico dentro do grupo de vegetais que os primeiros agricultores começaram a cultivar. Até o século XVII, o grão-de-bico era uma refeição frequente dos espanhóis, mas a partir desse momento, seja pelo aumento demográfico que sucedeu, seja pela falta de carne ou pela comprovada excelência dessa leguminosa, a verdade é que a mesma adquiriu maior destaque e quando os românticos europeus descobrem a Espanha no século XIX, um de seus espantos é verificar que em todas as casas espanholas e durante todos os dias do ano, a refeição do meio-dia é um cozido de grão de bico (Figura 4).


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Figura 4. Prato de cozido com grão de bico e frango.

De acordo com os fatos expostos, o grão de bico é um símbolo muito bem enraizado na cultura espanhola, mas uma cultura, por mais magnífica que seja, nem sempre é estável. No início dos anos 90, se percebe novamente uma tendência de aumento do seu consumo. Esse fenômeno coincide com a disseminação da dieta mediterrânea e o conhecimento de que os beta glucanos do grão de bico dificultam a absorção do colesterol, ajudam os diabéticos a regular seus níveis de glicose, impedem a formação de divertículos ... -E como é uma situação de saúde, o homem leva muito a sério.

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA MUNDIAL Entre as pulses de clima temperado, o grão-de-bico é a cultura mais tolerante ao calor e ao stress hídrico e é adequado para o cultivo em solos de baixa fertilidade. O grão-debico também ajuda a manter a fertilidade do solo por meio da fixação biológica de azoto e contribui para a sustentabilidade dos sistemas de cultivo nas rotações das culturas de cereais (MoEF&CC, 2016). A produção mundial de grão-de-bico é superior na Ásia e na Oceania (Figura 5), sendo cerca de 12.092.950 Mt em 2016 (FAOSTAT, 2016). Durante o triênio 2004-2007, a área global de grão de bico foi de cerca de 11,0 milhões\ ha, com uma produção de 8,8 milhões de toneladas e rendimento médio de quase 800 kg ha -1. Os países com os melhores rendimentos (independentemente da Grécia, onde apenas 3.000 ha são cultivados e obtêm


C a p í t u l o I | 22 1.176 kg/ha) são Austrália e México, ambos com mais de 1.000 kg/ha (o México obteve em 1992 um rendimento de 1.600 kg/ha), embora em condições distintas, a primeira com altas chuvas e a segunda, o México com maior tecnologia usada nessa espécie vegetal.

Figura 5. Produção de grão-de-bico no mundo em 2016 (FAOSTAT, 2016).

Os principais países produtores são a Índia, com uma produção de 7.818.984 Mt, responsável por 64% da produção global de grão de bico, seguida da Austrália, com uma produção de 874.593 Mt para o ano de 2016 (Figura 6). Os outros principais países produtores de grão de bico incluem Mianmar, Paquistão, Turquia, Etiópia, Rússia, Irã, México e Estados Unidos (FAOSTAT, 2016). Nos países americanos, a maior parte da colheita é produzida no México. Na Europa, os principais produtores são Espanha, Itália e Portugal, sendo a Espanha o principal produtor contribuindo com 70% da produção.

Figura 6. Os dez maiores países produtores de grão-de-bico (produção de grãos em tonnes -10 M), no ano de 2016 (FAOSTAT, 2016).


C a p í t u l o I | 23 O grão-de-bico (Cicer arietinum L.) é a maior legume de alimentos produzidos no sul da Ásia e o terceiro maior legume de alimentos produzido globalmente, depois do feijão comum (Phaseolus vulgaris L.) e da ervilha de campo (Pisum sativum L.). O grão-debico é cultivado em mais de 50 países (89,7% da área na Ásia, 4,3% na África, 2,6% na Oceania, 2,9% nas Américas e 0,4% na Europa). O termo pulses (FAO, 1994) é limitado a leguminosas colhidas exclusivamente para grãos secos destinados à alimentação humana, excluindo, assim, leguminosas colhidas em verde (forrageiras, ervilhas, vagens, etc.), assim como as oleoproteaginosas usadas para extração de óleo (por exemplo, soja e amendoim). O grão-de-bico foi introduzido no Brasil por imigrantes espanhóis e do Oriente Médio. Os primeiros relatos de cultivo do grão-de-bico no Brasil ocorreram em período coincidente com a primeira Guerra Mundial. Os plantios foram feitos nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul utilizando variedades de origem europeia (CORRÊA, 1984). Em 1989, foi lançada a primeira cultivar de grão-de-bico no estado de São Paulo oriunda de acessos introduzidos de Marrocos. A ‘IAC Marrocos’ foi uma tentativa realizada pelo Instituto Agronômico de Campinas de recomendar essa cultivar para o referido estado (BRAGA et al., 1992; VIEIRA et al., 1999; ARTIAGA, 2012). No ano de 1994, foi realizado outro lançamento com uma cultivar de procedência do México denominada de Cícero. Sua recomendação foi feita para o cultivo de inverno nas condições edafoclimáticas do Brasil Central (GIORDANO; NASCIMENTO, 2005; VIEIRA et al., 1999). Já em 1999, a EPAMIG recomendou a cultivar ‘Leopoldina’ de origem Indiana para o sul de Minas Gerais (VIEIRA et al., 1999; ARTIAGA, 2012). Atualmente, a Embrapa Hortaliças está recomendando a cultivar BRS Aleppo e BRS Cristalino para áreas irrigadas do Brasil Central (NASCIMENTO et al., 2014; NASCIMENTO et al., 2017). O grão-de-bico é uma importante fonte de proteína para milhões de pessoas nos países em desenvolvimento, principalmente no sul da Ásia, que são em grande parte vegetarianos por opção ou por razões econômicas. Além de possuir alto teor de proteínas (20-22%), o grão de bico é rico em fibras, minerais (fósforo, cálcio, magnésio, ferro e zinco) e β-caroteno. Sua fração lipídica é rica em ácidos graxos insaturados. O grão-de-bico tem um papel significativo na melhoria da fertilidade do solo, fixando o nitrogênio atmosférico. O grão-de-bico atende a 80% de sua exigência de nitrogênio (N)


C a p í t u l o I | 24 da fixação simbiótica de nitrogênio e pode fixar até 140 kg N ha -1 do ar. Deixa uma quantidade substancial de nitrogênio residual para as culturas subsequentes e adiciona bastante matéria orgânica para manter e melhorar a saúde e a fertilidade do solo. Devido ao seu sistema radicular profundo, o grão de bico pode suportar as condições de seca, extraindo água de camadas mais profundas no perfil do solo.

TIPOS: EVOLUÇÃO DA ESPÉCIE Não há pretensão de atribuir ao grão de bico com a sua aparência de um seixo, rústico e antigo, possa adquirir uma reputação desproporcional de superalimento. Mesmo assim, durante o longo período de domesticação, seleção e dispersão da cultura, foram diferenciados dois tipos fenotipicamente diferentes de grão de bico: Desi e Kabuli, que se assimilam à divisão das espécies cultivadas nas raças: microsperma (Desi) e macrosperma (Kabuli) (MORENO; CUBERO,1978; Figura 7).

Figura 7. Dois tipos fenotipicamente diferentes de grão de bico: Desi e Kabuli. Fotos: Carreras, J. (2010).


C a p í t u l o I | 25 Os materiais do tipo Desi (microsperma) (semelhantes aos progenitores silvestres) geralmente apresentam flores de cor rosa à rosada violeta com nervuras roxas ou negro (Figura 8), embora alguns tipos Desi possuam flores brancas e nenhuma pigmentação antocianina no caule. São sementes pequenas (10-25 g/100 sementes), de forma angular e protegidas por um espesso tegumento, superfície rugosa e as cores com várias tonalidades e combinações de marrom, creme alaranjado ou amarelo, verde e preto; (Figura 9), vagens com 1 a 3 sementes, folhas de menor tamanho que os tipos Kabuli e folíolos menores e presença de antocianinas nas folhas e caules, entre outras características. As formas Desi (que se traduz como "local" ou "do país") predominam no subcontinente no Oriente médio, Paquistão, Índia, Etiópia, México e Irã (BRICK et al., 1998). O tipo Desi corresponde a 80-85% da área cultivada no mundo e o seu consumo é na forma de farinhas e grãos quebrados (GAUR et al., 2010).

Figura 8. Grão de bico tipo Desi com flor violeta. Foto: ICRISAT/L.vidyasagar.


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Figura 9. Sementes do grão de bico do tipo Desi. Foto: GAUR, P. M.; SAMINENI, S.; SAJJA, S.; CHIBBAR, R. N. (2015).

Os materiais do tipo Kabuli (macrosperma) têm flores brancas (Figura 10), sementes de tamanho médio (25-35 g por 100 sementes) a grandes (40-60 g por 100 sementes; Figura 11), de formas rechonchudas, tegumento fino e liso ou lobulado, de cores claras (creme, castanha, marrom claro, branco), vagens com 1 a 2 sementes, folhas e folíolos grandes, e ausência de antocianinas (VAN DER MAESEN, 1972; MORENO; CUBERO, 1978). Também diferencia esses dois tipos de grão de bico, sua distinta tolerância / sensibilidade a estresses bióticos e abióticos. Comparado com o tipo Desi, o Kabuli tem níveis mais elevados de sacarose e níveis mais baixos de fibra. Geralmente apresenta maior valor de mercado, pois o seu preço aumenta proporcionalmente com o tamanho do grão (GAUR et al., 2010). As formas de kabuli predominam no Afeganistão, no oeste da Ásia, no norte da África e no Sul da Europa e América (incluindo o México).


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Figura 10. Grão de bico tipo Kabuli com flor branca. Foto: Farías et al. (2016).

Figura 11. Sementes do grão de bico do tipo Kabuli. Foto: GAUR, P. M.; SAMINENI, S.; SAJJA, S.; CHIBBAR, R. N. (2015).


C a p í t u l o I | 28 Quanto à origem desses materiais, menciona-se que o tipo Kabuli teria evoluído através de mutação natural do tipo Desi e este do ancestral silvestre, iniciando o caminho evolutivo na seguinte ordem: C. reticulatum → Desi → Kabuli (MORENO; CUBERO, 1978). Na literatura cita um terceiro tipo “Gulabi” de grão de bico, que é um grupo que contém variedades cujo tamanho se encontra enquadrado entre Kalubi e Desi. As suas sementes têm uma superfície lisa, uma forma mais arredondada e semelhante à ervilha (Figura 12). O material Gulabi é originado da Ásia.

Figura 12. Grãos do grão de bico do tipo Gulabi. Foto: Empresa Bansi.


C a p í t u l o I | 29 BOTÂNICA, MORFOLOGIA E FISIOLÓGICA DO GRÃO DE BICO

-Aspecto Botânico O grão de bico (Cicer arietinum) pertence à família Fabaceae, sendo uma planta anual, diploide, com um número cromossômico de 2n=16. O sistema de reprodução é fundamentalmente por autogamia, situando-se o nível de alogamia em torno de 1%. A planta pode alcançar uma altura de 70 cm.

É um membro da família das ervilhas e feijões (Leguminosae/Fabaceae), enquanto o nome científico Cicer arietinum é uma das 43 espécies do gênero Cicer. Cicer é uma palavra em latim que representa o gênero do grão de bico e, acredita-se que o nome Cicer em latim vem da origem do sobrenome Cícero (extraído do nome do filósofo romano Marcus Tullius Cicero, 106-43 aC). Portanto, sua classificação taxonômica é a seguinte: Reino - Plantae (Plantas); Divisão - Magnoliophyta (Plantas com flores); Classe - Magnoliopsida (Dicotiledôneas); Ordem – Fabales Família – Fabaceae (Papilionáceas) Gênero - Cicer Espécie – C. arietinum Nome científico - Cicer arietinum

Os distintos nomes de grãos de bico em vários países: chickpea (em inglês), kicher (alemão), pois chiche (francês), garbanzo (espanhol) e cece (italiano). O grão de bico tem os seguintes nomes comuns: gravanço, ervanço, ervilha-de-galinha ou ervilha-debengala ou grão-de-pato, o qual é bastante distribuído na Índia e no Mediterrâneo.


C a p í t u l o I | 30 -Aspecto Morfológico

Planta. O grão de bico é uma planta herbácea anual, ereta ou rasteira, geralmente pode alcançar de 30 cm a 70 cm de altura e apresenta ramos que nascem próximos ao solo (Figura 13; GAUR et al., 2010 ). A superfície externa da planta é coberta densamente por pelos glandulares e não glandulares (SINGH et al., 1999). Dependendo da presença ou não de pigmentos de antocianinas nas hastes, elas são classificadas em três classes denominadas alta, baixa e sem antocianinas, como o tipo Kabuli, os quais sob condições de estresse podem desenvolver tais pigmentos.

Figura 13. Típica estrutura de uma planta do grão de bico. Fotos: Singh, F.; Diwakar, B. (1995); Dreamstima.com. As flores auxiliares são ligadas aos ramos por pedúnculos de 2,4 a 4 cm de comprimento. São normalmente solitárias e pequenas, com botões pendentes que se expandem ao abrir. O cálice é unido com cinco dentes. O estandarte é largo, com unhas, asas livres e quilha encurvada (Figura 14). O androceu é composto por 10 estames, sendo um livre e os demais unidos. As anteras são uniformes. O gineceu é composto por um ovário séssil, estilete curvado, filiforme e não peludo com estigma terminal. Na polinização as flores mais baixas abrem primeiro, em uma única aberta em cada ramo. A floração prolonga-se por mais de um mês. Como as anteras são agrupadas acima do estigma, antes de abrirem as flores, ocorre à polinização. As flores são visitadas pelas abelhas e, ocasionalmente,


C a p í t u l o I | 31 ocorre à polinização cruzada natural. Em dias nublados e úmidos, ocorre pouca polinização, o que resulta em vargens vazias (SHARMA, 1984).

Figura 14. Detalhe das características morfológicas da planta do grão de bico (Cicer arietinum l.): ramos, folha imparipenada (folíolos), pedúnculo, botão floral (a-b), flor (estandarte, asas e quilha; c,d,e), ovário (i), pistilo (i), estame (g-h), fruto (vagem; k) e semente (l). Foto: Magic Garden Seed (Quelle).

Raiz. No que diz respeito ao sistema radicular, é do tipo pivotante, com uma raiz principal que adquire grande desenvolvimento e que se aprofunda até 2 m. Apresenta inúmeras raízes laterais de origem endógena, onde a maior proporção é de até 60 cm. Quanto mais volumosa a massa radicular, melhor será a tolerância da cultivar à seca (Figura 15). O espessamento acentuado da raiz principal funciona como um órgão de reserva para o armazenamento de água e nutrientes das plantas em desenvolvimento. Da mesma forma, o grão de bico desenvolve próximo ao nível do solo, raízes adventícias originárias do hipocótilo hipógeo. Se a raiz principal foi danificada no processo de germinação, todas as raízes são adventícias devido à sua origem hipocotiledonar. Normalmente, observa-se na planta adulta a permanência dos cotilédones. Outra coisa importante, a raiz tem uma


C a p í t u l o I | 32 forte associação com as bactérias fixadoras de nitrogênio, sendo que as raízes primárias e secundárias são as responsáveis pela fixação do nitrogênio atmosférico em simbiose com as bactérias Rhizobium ciceri (SINGH; SAXENA, 1999; ATECA; BELTRAMINI, 2016). As raízes laterais desenvolvem nódulos com a bactéria simbiótica Rhizobium, capaz de fixar o nitrogênio atmosférico na forma utilizável pelas plantas. Os nódulos são visíveis cerca de um mês após o surgimento da planta e geralmente confinados aos 15 cm superiores da superfície (GAUR et al., 2010).

Figura 15. Raízes de grão de bico (Cicer arietinum L.) das variedades locais Sauco e Criollo com nódulos originários por infestação natural por cepas nativas de Rhizobium sp. Foto: Biderbost, E.

Talo. O broto consta de um talo principal (TP), que se origina pelo desenvolvimento da gema terminal do epicótilo, do qual surgem duas ramificações laterais alternas que se diferenciam a partir das gemas laterais localizadas nos catafilos (folhas rudimentares). No caso descrito, a planta adulta possui três eixos: um principal e duas ramificações primárias. Cada uma dessas ramificações primárias origina os ramos laterais secundários cujo número varia de 4-6. No entanto, quando a gema terminal do epicótilo é danificada, as ramificações primárias podem ser 4: duas originadas por atividade das gemas axilares dos cotilédones de posição oposta e duas originadas de gemas axilares dos catafilos de posição alternar.


C a p í t u l o I | 33 As hastes do grão de bico podem apresentar duas cores: verde e com manchas de cor púrpura, as quais são utilizadas para diferenciar os dois tipos do grão de bico, Kabuli de cor verde e Desi de cor verde com manchas púrpuras (SINGH; SAXENA, 1999).

Ramificação. A ramificação é do tipo monopodial, pois está relacionada com as gemas axilares. Seu número varia entre 3-5 eixos principais alternos muito ramificados que lhe conferem o aspecto umbeliforme. A espécie tem crescimento indeterminado, não requer de tutoria, pois os entrenós em seção transversal têm duas colunas cobertas internamente por tecidos de suporte, dando às hastes principais e suas ramificações uma forma levemente quadrangular ou arredondada (ATECA; BELTRAMINI, 2016). As plantas têm ramos primários (geralmente 1-8), secundários e terciários. Os padrões de ramificação do grão de bico estão estreitamente relacionados com o surgimento dos nós no caule principal, dependendo da temperatura e da umidade ambiente. Estes aumentam à medida que as ramificações se desenvolvem hierarquicamente e, portanto, os últimos ramos não produzem legumes e, se o fazem, os frutos têm menos número de sementes (GAN et al., 2006). Outro aspecto que deve ser considerado do sistema caulinar são os diferentes tipos de hábitos de crescimento que apresentam as plantas e para o qual se medem os ângulos que formam as ramificações em relação ao eixo principal (TP). Para estabelecer o tipo de hábito, a planta deve ser examinada no estado de plena frutificação. Aqueles que apresentam ramos com ângulos entre 0-15 ° são denominados de eretos; se os ângulos que exibem estão entre 15-25 °, correspondem a plantas semieretas; ângulos entre 25-60 ° determinam as plantas semi-prostradas; e ângulos entre 60-80 ° correspondem as plantas de hábito prostradas ou rasteiras (Figura 16). Os portes mais frequentes são semieretos (64%) e semi-prostrados (35%) (ATECA; BELTRAMINI, 2016). As variedades eretas e semi-eretas permitem a colheita mecânica.


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Figura 16. Tipos de crescimento: a) Ereto, B) semiereto e c) prostrado. Foto: Departamento de Agricultura e Cooperação, Ministério de Agricultura da Índia (2004). Folhas. A disposição das folhas é alterna. Com base na divisão ou não da folha, três tipos principais de folhas podem ser reconhecidos: pinadas (com folíolos), bipinadas (com folíolos) e de folha inteira lobulada. Dentro das pinadas, podem-se diferenciar as paripinadas e ímparipinadas (mais frequente; Figuras 17 e 18). Os folíolos (10 a 13, dependendo da cultivar) estão dispostos em um eixo (ráquis acanalado) com 2,5 a 8 cm de comprimento. São predominantemente sésseis, ovais a elípticos, 5-20 mm de largura × 2-15 mm de comprimento apresentam bordas serrilhadas ou dentadas em graus variados, desde a porção média ou terço inferior ao ápice (CORRÊA, 1984). Independentemente do tipo de lâmina da folha, elas sempre exibem estípulas de tamanho variado na base foliar.

Figura 17. Formato das folhas compostas paripenadas (par) e imparipenadas (impar).


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Figura 18. Folhas compostas por folíolos de bordas dentadas e as vagens do grão de bico.

Toda a superfície da parte aérea da planta, exceto a corola, é densamente coberta com pelos finos (pubescentes), conhecidos como tricomas. Muitos são glandulares e secretam uma substância altamente ácida contendo ácidos málico, oxálico e cítrico. Esses ácidos desempenham um papel importante na proteção da planta contra pragas de insetos. Destaca-se a presença de abundantes tricomas glandulares e simples em ambos as faces das folhas. A presença de tricomas e cristais de oxalato de cálcio no caule e no mesófilo da folha estão associados como adaptações da espécie a ambientes áridos (ATECA; BELTRAMINI, 2016). Também os pelos secretam uma solução aquosa o que favorece a manutenção do conteúdo de água.

Flores. Apresenta inflorescências racimosas em uni ou bifloras ligadas à parte vegetativa por meio de pedúnculos e pedicelos florais que podem ser pigmentados em algumas linhas, e mostram na parte basal cinco brácteas ou lipofílicas de diferentes tamanhos (Figura 19)

Figura 19. Flor de grão de bico. Foto: Norma S. Ateca (2016).


C a p í t u l o I | 36 As flores são pediculadas, perfeitas, diclamídeas, heteroclamídeas, o cálice é composto por 5 sépalas soldadas e lanceoladas com prefloração valvar; A corola tem 5 pétalas. A cor das pétalas é branca nos tipos Kabuli e violeta rosa ou azul nos tipos Desi. A prefloração é vexilar (estandarte, asas e quilha); o androceu é diadelfo com nove estames soldados pelo filamento e um livre ((5 + 4), 1) e anteras com apêndice dorsal de deiscência longitudinal. O gineceu apresenta ovário súpero, séssil, ovado, unicarpelar e a placentação marginal, com 1-3 óvulos campilotrópicos. O estilo é curvado. Todos os antófilos estão densamente cobertos de pelos glandulares (ATECA; BELTRAMINI, 2016). Os estames são alongados antes das flores abrirem, liberando o pólen no pistilo. O sistema de reprodução é fundamentalmente autógamo, com nível de alogamia em torno de 1%.

Floração/ maturação. No grão de bico, a floração e o desenvolvimento dos legumes se produzem na forma acropética, ou seja, desde a base até a região apical. O florescimento continua por até 50 dias em condições favoráveis, porém pode parar após 20 dias em condições adversas. Somente 20-50% das flores produzem vagens em condições de temperaturas amenas, a cultura leva mais tempo para a maturação e em temperaturas elevadas a maturação ocorre de forma precoce. A produtividade do grão de bico é maior quando o desenvolvimento da cultura é mais longo (SINGH: SAXENA, 1999). No que diz respeito à cor que apresentam as flores, as pétalas devem ser observadas em horas da manhã, já que elas mudam no transcurso do dia, principalmente o estandarte (bandeira) das plantas do tipo Desi (Figura 20). Nos ramos de nível superior, há uma diminuição no peso dos legumes e no número de sementes. Isso pode indicar uma redução na distribuição de nutrientes nos ramos superiores. Da mesma forma, observa-se que os frutos próximos aos nós apresentam maior tamanho que os localizados nas extremidades distais dos ramos.


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Figura 20. Floração de plantas do grão de bico de plantas dos tipos Desi (parte superior, com flor de cor violeta) e Kabuli (parte inferior, com flor de cor branca). Foto: GAUR, P. M.; SAMINENI, S.; SAJJA, S.; CHIBBAR, R. N. (2015).

Vagens. O grão-de-bico tem um fruto seco deiscente denominado botanicamente de legume e geralmente de vagem. As vagens são infladas e o número pode variar de algumas até centenas por planta (Figura 21). Desenvolve-se a partir do gineceu unicarpelar, que se abre pela sutura ventral e dorsal com vagem bivalve, com 1 a 3 sementes presas no apêndice ventral (Figura 22). Sua forma é ovoide a oblonga, turgente, relativamente grande. O epicarpo é densamente piloso e sua parte interna corresponde ao mesocarpo e endocarpo que não se diferenciam e são pouco desenvolvidos quando maduros. A permanência dos filamentos soldados do androceu em frutos maduros é característica das cultivares Norteño e Chañaritos S-156 (CARRERAS et al., 2016).


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Figura 21. Presença de vários frutos ao longo de cada ramo da planta do grão de bico.

Figura

22. Frutos do grão de bico. Foto: Norma S. Ateca

(2016)

e

https://pt.wikipedia.org/wiki/Cicer.

Na análise histológica de legumes verdes, observa-se o epicarpo constituído por uma única camada de células e abundantes tricomas glandulares. O mesocarpo possui vários estratos de células do parênquima de forma variável, as subepidérmicas com a presença de cloroplastos, seguidas de células que contêm amiloplastos ou grãos de amido. As continuas camadas de tecido esclerenquimático, principalmente fibras, que aumentam


C a p í t u l o I | 39 com a senescência do fruto. Diferentes técnicas foram testadas para prolongar o estádio de fruto verde para consumo fresco. Outro aspecto observado nessas vagens verdes e sementes imaturas é a capacidade de fotossintetizar, facilitando o acúmulo de reservas nas sementes (ATECA; BELTRAMINI, 2016).

Sementes. O tamanho das sementes varia de ± 8-11 mm (comprimento) x ± 6-8 mm (largura) x ± 7-9 mm (espessura); São assimétricas, redondas, quadrangulares, triangulares ou ovais, com o lóbulo radicular proeminente (LR) (Figura 23). A destacada exposição do lóbulo radicular dá-lhes a aparência de "bicos" (daí vem o nome de grão de bico), que determina ser a região mais sensível da semente, intimamente relacionada com danos mecânicos na colheita, pós-colheita e diretamente associada ao êxito dos processos de germinação. Três formatos da semente podem ser observados: angular (formato bicado ou cabeça de carneiro), arredondado (formato de cabeça de coruja), e arredondado (formato da semente de ervilha). A superfície da semente pode ser: enrugada ou áspera que é característico para o do tipo Desi e a superfície lisa ou ligeiramente enrugada, característica do tipo Kabuli (SINGH et al., 1999). Relacionadas com o tipo de óvulo campilótropo (óvulo curvado) de onde provêm, as sementes apresentam superficialmente fendidas longitudinais que delimitam dois lóbulos na face anterior e três na face posterior (Lp). Esses sulcos na face anterior são denominados rafe (Ra) e na posterior anti-rafe (aRa) (Figura 24). As sementes muito pigmentadas normalmente não apresentam lóbulos e predominam as formas triangulares (ATECA; BELTRAMINI, 2016).

Figura 23. Sementes de grão de bico do tipo Kabuli. Foto: Shutterstock


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Figura 24. Cicatrizes do tegumento seminal de Cicer arietinum L. A) Cultivar Chañaritos S-156. B) Cultivar Norteño. Referências: Lr: lóbulo radicular, Mi: micropila, H: hilo, aH: aréola hilar, sH: sulco, Ra: rafe, Le: lente, aRa: anti-rafe. Foto: Norma S. Ateca (2016).

O tegumento seminal possui três padrões de revestimento em sua superfície: reticulados (com uma rede elevada de linhas estreitas e angulares que frequentemente exibem um aspecto geométrico), tuberculados (com pequenas projeções arredondadas lisas ou pelosas) e granulados (com elevações na superfície de aparência granular). A confirmação da cor da semente madura, que é determinada após 3 meses de armazenamento, varia dentro da espécie cultivada de acordo com o genótipo entre o preto (10%), passando por diferentes tonalidades de marrom (45%), bege (19%), até amarelo-alaranjado ou o branco (26%). Predominam na espécie o monocromatismo e a opacidade (GUNN, 1981). Na Figura 24, observam-se as cicatrizes presentes na superfície externa das sementes das cultivares Chañaritos S-156 e Norteño, as quais se encontram relacionadas ao tipo de seus óvulos e a arranjo dentro do fruto. A micrópila (Mi), geralmente é pontual e está localizado no ápice e na margem superior da aréola do hilar. A micropila se origina pela descontinuidade dos dois tegumentos do óvulo que deixam uma abertura que facilita a entrada do tubo polínico na fecundação e, posteriormente, para a emergência da radícula do embrião quando se inicia o processo de germinação. O hilo (H) se apresenta deprimido de 0,9-1,5 mm de comprimento com aréola texturada (aH) que forma uma reborda sobressaliente elipticamente espessado de forma desigual e recorrido pelo sulco hilar (sH). O hilo resulta da união do óvulo à parede do fruto e a presença de uma fenda longitudinal que nele proporciona, através da sua abertura e / ou fechamento, o equilíbrio


C a p í t u l o I | 41 interno da água na semente. A lente (Le), de 0,75-1,2 mm de comprimento e 1-1,5 mm de largura, está constituída de tecido esponjoso que regula a velocidade da água que entra no interior da semente, evitando danificar as membranas das células internas. Está parcialmente incluída na fenda do rafe (Ra) e apresenta margens cordiformes, circulares, subcirculares ou subovóides, com halo de cor normalmente mais escura que o tegumento segundo as cultivares (ATECA; BELTRAMINI, 2016). A Figura 25 ilustra detalhadamente as estruturas de uma semente de grão de bico. A maior fração é o embrião, que compreende dois cotilédones unidos em suas superfícies adaxiais, um pequeno hipocótilo (eixo embrionário) e uma radícula (raiz embrionária) localizada na ponta do bico do grão-de-bico (testa) que atua como um revestimento protetor. As estruturas externas mais proeminentes no lado ventral são o hilo, uma cicatriz funicular que marca o ponto em que a semente foi presa à parede da vagem durante o desenvolvimento, e a micrópila, que é um diminuto orifício que controla a entrada de umidade na semente. Ambos são cercados por uma coroa (margem do hilo). A rafe se estende em uma linha do fundo da coroa ao spermotylium (arillate), o qual contém a chalaza (base do óvulo). Essas estruturas estão presentes nas sementes desi e kabuli, mas podem diferir um pouco na aparência (cor, tamanho e protuberância) (WOOD et al., 2011).

Figura 25. Sementes de grão de bico (Cicer arietinum L.). Vista ventral mostrando as partes externas e internas: A, Vista ventral mostrando as características externas. B, Vista ventral sem a casca de sementes, mostrando as principais características internas. C, Vista lateral sem a casca da semente, mostrando as principais características internas. Outros dados: Cotyledon (cotilédones); pair (par); Chalaza (calaza) e spermotylium. Foto: WOOD et al., 2011.


C a p í t u l o I | 42 Tegumento. A casca das sementes também é muito mais fina nos tipos de Kabuli, compreendendo 5% do peso total das sementes em comparação com 14% nas sementes Desi. As sementes de Kabuli são normalmente cozidas e consumidas inteiras, e no Oriente Médio, as sementes cozidas são frequentemente moídas em uma pasta (homos).

As sementes de pulse (leguminosa de grãos secos) contêm dois cotilédones cobertos por um tegumento e são geralmente não endospérmicos (ANDERSON, 1949). O tegumento da semente apresenta uma camada externa (cutícula, camada de paliçada, camada de parênquima, epiderme interna) com ou sem os remanescentes de um tegumento interno (camada de aleurona e endosperma) na interface abaxial (entre o revestimento de semente e cotilédones), como observado em algumas leguminosas (BAILEY, 1971; WOLF; BAKER, 1972; YEUNG; CAVEY, 1988; KOCH et al. 1999). Yeung (1990) também sugeriu que os cotilédones de alguns pulses podem ser cobertos por uma cutícula fina. Singh et al. (1984) e Hassan (2000) examinaram o revestimento de sementes de grão de bico usando microscopia eletrônica de varredura (MEV); no entanto, não há relatórios publicados sobre a estrutura do cotilédone ou junções internas de tecido. Além disso, microscopia de luz com coloração diferencial não foi usada para examinar a estrutura interna de sementes de grão de bico, embora tenha sido usada para grãos de cereais (ANDERSSON et al. 1999; AUTIO; SALMENKALLIO-MARTTILA, 2001; CHOCT et al. 2001).

As Figuras 26 e 27 foram constituídas para mostrar um modelo mais preciso e informativo das estruturas de revestimento de sementes desi e kabuli, respectivamente. As diferentes técnicas de coloração utilizadas demonstram claramente a estrutura celular fraca do revestimento de sementes de kabuli em comparação com a estrutura celular mais espessa do revestimento de sementes Desi. Além disso, essas construções retratam visualmente e destacam as diferenças estruturais e de composição entre os tipos de grão de bico e entre os tecidos dentro de cada revestimento de sementes (WOOD et al., 2011). Tais informações microestruturais sobre células e tecidos são importantes na identificação de interações fisiológicas e estruturais que influenciam a qualidade dos grãos e o procedimento do processamento em aplicações industriais e fabricação de alimentos (SAIO; MONMA, 1993).


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Figura 26. Corte longitudinal de Cicer arietinum L. (cv. Ametista), mostrando a anatomia estrutural do tegumento da semente desi (x20). Foto: WOOD et al., 2011.


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Figura 27. Corte longitudinal de Cicer arietinum L. (cv. Bumper), mostrando a anatomia estrutural do tegumento de sementes de kabuli (x20). Foto: WOOD et al., 2011.

-Aspecto Fisiológico

Germinação. A germinação do grão de bico é hipogeal (cotilédones ficam abaixo da superfície do solo). Na cultivar Chañaritos S-156, a germinação ocorre aos 3-5 dias após o plantio, quando a raiz principal emerge e atinge um grande desenvolvimento. Aos 6-7 dias, observa-se o epicótilo que se curva entre os pecíolos dos cotilédones. Os tegumentos seminais cobrem as lâminas cotiledonares, expondo os pecíolos e aurículas dos cotilédones do tipo catafilar. Essas características colocam a espécie como criptocatafilar.

Entre 8 e 10 dias, as raízes laterais aparecem. No nó cotiledonar, os pecíolos são observados notavelmente desenvolvidos, em cujas axilas se distinguem as gemas laterais


C a p í t u l o I | 45 com diferentes graus de desenvolvimento (Figura 28). Essas gemas podem desenvolver em brotos laterais quando a gema terminal é atrofiada ou danificada no processo de germinação. A segmentação caulinar da plântula inclui três entrenós, denominando-se o primeiro epicótilo ou primeiro entrenó aéreo e quatro nós. O primeiro nó se corresponde com a união ao eixo das duas folhas cotiledonares opostas e suas gemas axilares, os dois seguintes estão providos de catáfilas tridentadas, alternadas dísticas com gemas em suas axilas e o quarto nó com a primeira folha fotossintetizadora e estipulada. Se a gema terminal do epicótilo é atrofiada, as hastes aéreas podem se desenvolver a partir das gemas catafilares que originam as hastes alternas e das gemas cotiledonares que originam as hastes opostas (ATECA; BELTRAMINI, 2016).

Figura 28. Aparecimento dos nós cotiledonares abaixo do solo: primeiro nó (nó 1) e segundo nó (nó 2) após a germinação da semente do grão de bico. Foto: Rubén E. Toledo.

O terceiro nó apresenta o protófilo estipulado de 3-3,5 cm e é composta imparipinada com 7 folíolos alternos. Os internódios são recorridos por duas espaduas, com exceção do epicótilo (ATECA; BELTRAMINI, 2016). Os tricomas glandulares pluricelulares são encontrados revestindo toda a superfície da plântula (Figura 29).


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Figura 29. Plântula de Cicer arietinum com referências e detalhe dos três nós basais. Foto: Norma S. Ateca (2016).

O desenvolvimento acelerado da plântula tem sido associado a um rápido estabelecimento no campo e ao progresso dos estádios fenológicos da planta do grão de bico. Por outro lado, Ateca e Beltramini (2016) admitem que aproximadamente 95% das plântulas anormais de ensaios em condições controladas de câmara de germinação ou em condições ambientais de laboratório estão associadas com sistemas radiculares anormais. Geralmente, essas plântulas anormais resultam de sementes sujeitas a impactos mecânicos durante a colheita ou durante o processamento.

FENOLOGIA Os estudos fenológicos do grão de bico são limitados, e revelam que a duração do cultivo, e principalmente o tempo de floração está fortemente condicionado pelo genótipo, pela temperatura, pelo fotoperíodo e pela disponibilidade de água durante o ciclo, influenciando significativamente no crescimento e no rendimento do cultivo (GORDILLO, 1991). Como todo cultivo anual, o ciclo é dividido em cinco estádios de desenvolvimento. O tempo transcorrido entre cada estádio é chamado de fase e, em cada um deles, são desenvolvidos processos mencionados na Figura 30 e na Tabela 1.


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Figura 30. Fases e estádios de desenvolvimento do cultivo do grão de bico. Figura: Modificada de Kantolic et al. (2006).


C a p í t u l o I | 48 Tabela 1. Escala fenológica do grão de bico. Fases Germinação

Descrição -Semeadura -Início da embebição - Fim da embebição - Emergência da radícula -Hipocótilo traspassa o tegumento

Vegetativa

1 nó- visível debaixo do solo- onde se inserem as folhas cotiledonares 2 nó- visível debaixo do solo- onde se inserem as folhas modificadas (catáfilas) Emergência de plântulas sobre o solo Desenvolvimento da 1º folha estipulada Desenvolvimento das folhas multifoliadas

Floração

Início da floração Presença de flor aberta em qualquer parte da planta Maioria das flores abertas

Enchimento

Início da formação das vagens As vagens alcançam seu tamanho máximo Início da formação de vagens

Detalhe de campo

Início da formação de sementes

Maturação

Todas as sementes ocupam a cavidade da vagem As folhas e 50% das vagens mudam de cor amarelada 90% das vagens da planta são de cor amarelo-marrom.

Fontes: José A. Saluzzo (2016); Fotos: Vector Stock; Shutterstock; Dreamstima.com.


C a p í t u l o I | 49 A data da semeadura é determinante na expressão do rendimento e da qualidade do grão. O cultivo deve ser plantado em uma época em que a ocorrência do período crítico momento onde começa a ser definido o número de grãos - coincide com condições ambientais favoráveis. Para ajustar esse momento, o produtor conta com dois elementoschave: o ciclo do genótipo e a época de plantio (ANDRADE; CIRILO, 2000). Nesse caso, o cultivo deverá alcançar o índice de área foliar crítico, que é quando a estrutura da planta permite a captação de 95% da radiação incidente. Quando o plantio é tardio ou antecipado, a cultura fica exposta a diferentes temperaturas, fotoperíodo, disponibilidade de água, entre outros fatores, determinantes para a maior ou menor eficiência da interceptação de radiação solar. Ou seja, a disponibilidade de umidade no solo é um dos principais fatores limitantes de crescimento, desenvolvimento e produtividade. Também as extremas temperaturas (altas) ou calor durante a estação de crescimento, reduzem severamente a produtividade e podem acentuar o efeito do estresse hídrico nos estádios fenológicos mais sensíveis da cultura (BARRIOS GOMEZ et al., 2011). A partir desse entendimento, faz-se necessário conhecer o efeito da temperatura e do fotoperíodo no desenvolvimento, principalmente ao investigar a viabilidade do cultivo do grão de bico em um determinado local, e levando em consideração as restrições ambientais locais que podem influenciar negativamente a produção de matéria seca (biomassa) e de grãos (rendimento). Todo o crescimento começa na germinação. Esse é um processo que depende não apenas da água disponível, mas também do oxigênio, da temperatura do solo, da qualidade das sementes e da profundidade da semeadura, entre outros fatores. Quando a água se difunde através da semente e atinge o embrião, este se "incha". A continuação, o hipocótilo começa a se alongar e a estimular a plúmula que produzirá um brote que determina o surgimento da plântula (Figura 31). A germinação é do tipo hipogeal, onde os cotilédones não alcançam a superfície do solo e a fotossíntese só começa quando se desenvolvem as folhas verdadeiras.


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Figura 31. Sequencia do processo de germinação da semente do grão de bico que tem início com a hidratação do embrião e, a continuação, o hipocótilo começa a se alongar e a estimular a plúmula que produzirá um brote que determina o surgimento da plântula. Foto: Universidad Católica de Chile (2014). A planta do grão de bico tem o hábito de crescimento indeterminado, com um caule principal do qual se originam os ramos primários, que por sua vez produzem ramos secundários. Se as condições ambientais o favorecem, os ramos terciários e até quaternários podem se originar, mas os dois últimos não têm importância produtiva (CUBERO, 1987). Esse crescimento vegetativo excessivo é um problema dos ambientes de estação de crescimento longo, como no norte e leste da Índia, quando as condições de umidade e temperatura do solo permanecem favoráveis durante os estágios iniciais do crescimento reprodutivo (GAUR et al, 2010). A duração do crescimento vegetativo antes da floração geralmente varia de 40 a 80 dias, dependendo da variedade, localização, disponibilidade de umidade do solo e condições climáticas. Geralmente há uma sequência de desenvolvimento de folhas, brotos de flores, flores e vagens ao longo de cada ramo. Um número de pseudo-flores ou brotos de flores falsas se desenvolvem durante a troca de brotos de folhas para brotos de flores no caule (GAUR et al, 2010). As primeiras flores produzidas pela planta do grão de bico são chamadas de "pseudoflores" por sua imperfeição. São pequenos botões florais que se murcham ainda fechados e geralmente não produzem uma flor verdadeira ou fruto. A abertura da primeira flor verdadeira (estado R1) começa no caule principal e continua em direção aos ramos. Dado o tipo de crescimento indeterminado, as flores aparecem se sobrepondo ao crescimento


C a p í t u l o I | 51 vegetativo. A presença de cada nova flor gera o alongamento de uma porção do caule e o desenvolvimento de uma nova folha (CUBERO, 1987). O grão-de-bico possui flores papilionáceas típicas. A maioria das cultivares produz uma única flor em cada nó da floração. Em algumas cultivares são encontradas com duas flores por nó (gêmeas ou duplas flores). As flores são de cor rosa, branca ou azul (GAUR et al, 2010). Para os materiais precoces são o grão de bico de ciclo mais curto com 110 a 120 dias desde a semeadura até a maturidade fisiológica, onde seus estádios fenológicos ocorrem mais rapidamente (Figura 32). Os intermediários são o grão de bico com ciclo médio em torno de 125 a 140 dias. Finalmente, os tardios são o grão-de-bico de ciclo mais longo, acima de 140 dias, nestes, todos os estádios fenológicos ocorrem em períodos mais prolongados (MORALES, et. al., 2004).

Figura 32. Da esquerda para a direita. Genótipos precoce e tardio. Foto: Josefina Rubio.


C a p í t u l o I | 52 No grão de bico a antese ocorre ao longo do dia. Outra deiscência ocorre dentro do botão 24 horas antes da abertura da flor. Assim, as flores de grão de bico são verdadeiramente cleistogâmicas e autopolinizáveis (quase 100% de autofertilização). Após a deiscência, as anteras ficam enrugadas e, normalmente, as pétalas e as asas ficarem totalmente expandidas. Sob condições favoráveis, o tempo decorrido desde a fertilização até a primeira aparição da vagem (conjunto de vagens) é de aproximadamente 6 dias (CUBERO, 1987; GAUR et al, 2010). A flor é a estrutura mais sensível a qualquer situação de estresse, sejam por falta de água, temperaturas extremas, ocorrência de geada, etc. A maioria das leguminosas produz um grande número de flores, mas é baixa a porcentagem de vagens formadas. Singh (1984) obteve 27,6% das vagens para os do tipo Kabuli em toda a planta, concentrando 32,9% no caule principal. De qualquer forma, a porcentagem de abscisão no grão de bico é muito alta, com valores médios entre 65 e 75%, e mais alta nas cultivares “rasteiras” (MARTÍNEZ DIAZ et al., 2004). Existem autores que estabelecem uma faixa de 20 a 50% de flores que formam vagens (SINGH; SAXENA, 1999). Ao iniciar o estádio de produção, a parede da vagem cresce rapidamente nos primeiros 10 a 15 dias, enquanto o crescimento das sementes ocorre mais tarde (Figura 33). Logo após o desenvolvimento das vagens e no enchimento das sementes, começa a senescência das folhas que desprendem da planta. Se houver muita umidade no solo, a floração e a produção de vagens continuarão nos nós superiores. O grão de bico pode tolerar altas temperaturas se houver umidade adequada no solo. O grão-de-bico está pronto para a colheita quando 90% das hastes e vagens perdem a cor verde e ficam amarelas douradas (GAUR et al, 2010).


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Figura 33. Início da formação de sementes, onde a semente enche a sua cavidade correspondente, e assim sucede o desenvolvimento de frutos do grão de bico. Fotos: Norma S. Ateca (2016) e Rubén E. Toledo. COMPOSIÇÃO QUÍMICA O grão de bico é uma excelente fonte de proteínas, carboidratos, fibras alimentares, minerais e vitaminas (Tabela 2). Existe um interesse crescente no consumo de grão de bico para promover dieta saudável e reduzir o risco de algumas doenças e outros problemas de saúde. É um grão rico em proteínas (20% a 22%) e a digestibilidade da sua proteína é alta em comparação com várias outras leguminosas. O grão de bico quando consumido com cereais fornece aminoácidos balanceados na dieta porque, como outros pulses (leguminosas de sementes secas), é rico em lisina, mas limitado em aminoácidos contendo enxofre (metionina e cisteína), enquanto os cereais são limitados em lisina e ricos em aminoácidos que contêm enxofre.


C a p í t u l o I | 54 Tabela 2. Composição química e valores nutritivos em grãos maduros de grão de bico de acessos dos tipos Kabuli e Desi. Tipo de grãos Proteína Amido Amilose (% do amido total) Gordura (óleo) Fibra detergente ácido Fibra detergente neutro Cálcio (Ca) Cobre (Cu) Ferro (Fe) Potássio (K) Magnésio (Mg) Manganês (Mn) Fósforo (P) Zinco (Zn) Ácido ascórbico (C) Tiamina (B1) Riboflavina (B2) Niacina (B3) Ácido fólico (µg / 100g) Palmítico (C16: 0) Esteárico (C18: 0) Oleico (C18: 1) Linoleico (C18: 2) Linolênico (C18: 3) Sacarose Rafinose Estaquiose Verbascose Ácido fítico (g 100g-1) Oligossacarídeos (Rafinose + estaquiose + verbascose)

Kabuli Proximidade (g. 100g-1) 17,9-30,8 38,2-43,9 24,4-29,2 5,5-6,9 3,0-5,7 4,2-7,7 Minerais (mg 100g-1) 80,5-144,3 0,7-1,4 4,3-7,6 816,1-1580,1 152,9-212,8 2,3-4,8 294,1-828,8 3,6-5,6 Vitaminas (mg 100g-1) 0,28-2,40 0,39-0,78 0,10-0,34 0,48-1,49 153,8-486,5 Ácido graxo (% em óleo) 8,52-10,30 1,21-1,68 27,70-42,46 42,25-56,59 2,23-3,91 Açúcares (g 100g-1) 3,10-4,41 0,48-0,73 1,76-2,72 Não detectado 0,78-1,25 2,32-3,44

Desi 20,3-27,5 33,1-40,4 20,5-25,9 4,4-5,9 12,7-13,5 10,1-13,6 115,0-226,5 0,5-1,4 4,6-7,0 1027,6-1479,1 143,7-188,6 2,8-4,1 276,2-518,6 2,8-5,1 0,67-3,01 0,22-0,34 0,16-0,24 1,43-2,28 109,0-294,4 8,56-11,05 1,04-1,60 18,44-28,51 53,13-65,25 2,54-3,65 1,56-2,85 0,46-0,77 1,25-1,98 Não detectado 0,63-1,24 1,72-2,75

Fonte: Wang, N.; Daun, J. K. (2004).

O grão-de-bico tem alto teor de fibra e baixo índice glicêmico (IG). Sabe-se que as dietas ricas em fibras e com baixo índice glicêmico ajudam na perda de peso, no controle do diabetes tipo 2, na redução do colesterol e na redução do risco de câncer de cólon. Essa espécie é pobre em sódio e gordura e ajuda a reduzir o risco de doenças coronárias e cardiovasculares. O grão de bico também é conhecido por reduzir os lipídios no sangue, o que pode ajudar a algumas complicações graves dos diabetes. Sua farinha é livre de glúten e pode beneficiar pessoas com doença celíaca (GAUR et al., 2015). As deficiências de ferro e zinco são comuns entre as pessoas, especialmente no sul da Ásia e na África subsaariana. O grão-de-bico tem o potencial de contribuir para a ingestão diária de ferro e zinco e pode ajudar a aliviar esses problemas de desnutrição por micronutrientes. Um número limitado de acessos avaliados para o conteúdo de ferro e


C a p í t u l o I | 55 zinco sugere que, como outros pulses (leguminosas com sementes secas), o grão de bico tenha maior teor de ferro e zinco em comparação aos cereais básicos (trigo e arroz) (JUKANTI et al., 2012).

MELHORAMENTO A cultura do grão de bico possui diferentes caracteres qualitativos (cor de flores e de sementes, porte, formato de folha, etc.) e quantitativos (produção, tamanho de sementes, número de vagens por planta, entre outros). Portanto, a tarefa do melhorista consiste na seleção dos caracteres de interesse presentes no genótipo de uma população. Também o conceito de estrutura genética da população é significativo, pois permite detectar diferentes associações entre os caracteres e encontrar as combinações mais relevantes para continuar com a seleção. O processo de melhoramento procura um máximo ganho genético por unidade de tempo, esforço e custo. O critério de seleção implica em eleger um caractere em particular ou vários caracteres de forma conjunta. Quando se realiza a seleção para um único caráter, o rendimento é o mais relevante. Esse caráter é extremamente complexo quando se trabalha em populações segregantes, razão pela qual se avalia em linhas homozigotas e mediante ensaios comparativos de rendimento (ECR). Com esse mesmo critério, outros caracteres podem ser selecionados, tais como: teor de proteínas, resistência a uma doença, a insetos, entre outros. Se a herdabilidade de cada caráter é conhecida ou estimada, a seleção se torna menos difícil, pois a seleção é aplicada por fenótipo ou genótipo. Ao trabalhar com vários caracteres conjuntos, Índice de Seleção, Método Tandem ou em Etapas e por Níveis Independentes são usadas. No critério de índice por seleção se quantifica ou mede cada carácter e se pondera pelo valor econômico (por exemplo, herdabilidade ou outro valor atribuído pelo melhorista). Para cada indivíduo se determina um índice, posteriormente se obtém o índice médio, e se selecionam aqueles indivíduos superiores à média. As plantas ou famílias que atingem o valor do índice acima da média são mantidas para a próxima geração. Na seleção Tandem, cada caráter é trabalhado um a um e em mais de uma campanha agrícola, enquanto que para níveis independentes vários caracteres são selecionados de uma única vez e são executados durante uma campanha agrícola.


C a p í t u l o I | 56 A seleção direta para rendimento em populações segregantes resulta geralmente pouco eficiente, porque cada indivíduo possui uma pequena quantidade de sementes e esse caráter é influenciado pelo ambiente. Portanto, são utilizados caracteres que apresentam alta correlação com o rendimento e são mais eficientes para o desenvolvimento de linhas superiores, como o número de vagens (por contagem) e o tamanho da semente (por peso). Da mesma forma, foi comprovado que o uso do número de ramificações, vagens, duração do ciclo, tamanho da semente e produtividade para obter o índice foi mais eficaz do que usar apenas a produtividade (KUMAR; BAHL, 1992). Para relacionar aos conceitos anteriores, é necessário delinear como se obteve o material segregante e sua aplicação. O cruzamento Kabuli x Kabuli entre uma população Mexicano e a linha pura S-159 (diferentes para vários caracteres) é apresentado na Tabela 3.

Tabela 3. Características das linhas parentais empregadas no desenvolvimento da população segregante. Parâmetros Início da floração Porte Produção em grãos (kg) Tamanho de semente (peso de 100 sementes) (g) Tolerância ao frio Tolerância a Fusarium sp. Fonte: Carreras; Rodríguez (1990).

Mexicano Precoce (70 dias) Ereto 587,4 53

Linha S-159 Tardio (80 dias) Semirasteiro- semiereto 1.664,3 49

Não Não

Sim Sim

Como resultado desse cruzamento, foi obtido o material segregante que se conduziu por seleção massal de F2 até F4. Foi observada alta correlação significativa entre produção, número de vagens e de sementes, ramificações secundárias, largura de vagem e altura da planta. O tamanho de sementes foi associado com a largura de vagens e a data de início da floração com o tamanho de vagens. A partir desses resultados, sugeriu-se que para selecionar o caráter de produtividade, devem ser consideradas as seguintes variáveis: número de vagens, número de sementes e ramificações secundárias. Para o tamanho da semente, foi proposta uma seleção em forma direta na população F4 (CARRERAS; RODRÍGUEZ, 1990).


C a p í t u l o I | 57 Nesta população, foi utilizado o critério de índice por seleção, construído com o número de ramificações secundárias, número de sementes, tamanho de sementes e altura de planta; para ser comparado com a seleção direta para rendimento. A seleção por índice foi concluída, sendo mais efetiva que a seleção direta para rendimento nessa população e para o ambiente de Cruz del Eje-Córdoba, Argentina (RODRÍGUEZ; CARRERAS, 1993). Isso mostra as dificuldades que apresentam o carácter rendimento nas populações segregantes. A recombinação genética Kabuli x Kabuli forneceu a variabilidade observada na população segregante para os diferentes caracteres e permitiu abordar outras questões de melhoramento. Utilizando outros materiais provenientes de cruzamentos (Kabuli x Desi e Desi x Kabuli), verificou-se que o caráter número de vagens correlacionou significativamente com a produção por planta e o número de sementes por planta. Por outro lado, o tamanho de sementes apresentou correlação significativa e negativa com o número de sementes e de vagens, em ambas as populações (CARRERAS, 2013). De acordo com as características específicas dos progenitores envolvidos nos cruzamentos, as associações entre os caracteres são diferentes. Isso pode ser observado na conformação de linhagens endogâmicas recombinantes que se utilizam nos trabalhos de melhoramento para resistência a biótipos de um patógeno em particular.

Métodos de melhoramento: Os métodos clássicos ou gerais são: 1) introdução de germoplasma, 2) seleção e 3) hibridação com modificações, dependendo da espécie vegetal em questão e os recursos disponíveis. No caso particular do grão-de-bico, todos eles foram realizados, de acordo com a base genética disponível, para atender os objetivos do melhoramento. Introdução de germoplasma. A introdução de genótipos é um recurso disponível pelos melhoristas, recorrendo aos Bancos Internacionais de Germoplasma, tais como: ICARDA (International Center for Agricultural Research in the Dry Areas, na Síria), ICRISAT (International Crops Research Institute for the Semi-Arid Tropics, na Índia) ou nas coleções locais dos diferentes países.


C a p í t u l o I | 58 Seleção individual. O grão de bico tipo Mexicano, produzido no Norte da Argentina, principalmente Salta, é uma população heterogênea. O objetivo foi realizar a seleção individual em material tipo Mexicano, para o qual a equipe de Melhoramento Genético da Faculdade de Ciências Agropecuárias (FCA-UNC) e a de Leguminosas do INTA (Salta) efetuou a semeadura no lote de produção da Estação Experimental INTACerrillos, Salta, Argentina. A partir do monitoramento do ciclo da cultura, 200 plantas foram colhidas e individualizadas, priorizando a sanidade, porte ereto, vagem de fácil debulha e na etapa de trilha, selecionaram as sementes lobuladas, brancas e de tamanho grande. Das 200 plantas, 53 plantas individuais foram selecionadas em casa de vegetação, com a condição de ter 20 sementes cada, dando origem a 53 linhagens. Na seguinte campanha agrícola, 10 sementes de cada linhagem foram semeadas em Salta e outras 10 em Córdoba. Na prole de cada linhagem obtida em ambos os ambientes, observaram-se os seguintes caracteres: arquitetura da planta, sanidade, competição interna e resposta a fatores adversos, principalmente o frio. Como resultado da seleção individual dentro (sanidade, porte, sobrevivência das plantas desde o plantio até a colheita) e entre linhagens, selecionaram 23 linhagens e uma amostra da população original (Pob.Ori.) como testemunha. Como produto da seleção individual para o tipo Mexicano, destacamse as linhagens Mex.38, Mex.58, Mex.60, Mex.97, que superaram em produção por planta e o peso de 100 sementes a população original (ALLENDER et al., 2011; GARCÍAMEDINA et al., 2014; Figura 34).


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Figura 34. As linhagens selecionadas que mais se destacaram no trabalho de melhoramento foram: Mex. Pob., Mex. 38, Mex. 58, Mex. 97, Mex. 60. Foto: J. Carreras.

Hibridação. O objetivo da hibridação é combinar caracteres desejáveis de dois ou mais progenitores. A seleção de progenitores deve ser considerada antes de realizar a hibridação, já que determina o sucesso do programa de melhoramento. Um progenitor deve apresentar adaptação local, atributo que resulta complexo e possibilita ao genótipo superar as adversidades do ambiente e fornecer rendimento e qualidade aceitáveis. O outro deve possuir o caráter que pretende incorporar e é complementário do primeiro. A técnica de cruzamento do grão de bico é uma tarefa delicada e sua eficiência varia de 10% a 50% e se acha influenciada pelas condições ambientais, principalmente umidade e temperatura (BIDERBOST et al., 1974; SALIMATH et al. 2007). Os tipos de cruzamentos podem ser simples, triplos e múltiplos. No simples, dois progenitores intervêm e é o mais comumente utilizado nos programas de melhoramento. Este método foi usado para a obtenção das cultivares Norteño, Kiara UNC INTA e Felipe UNC INTA (CARRERAS et al., 1997; CARRERAS et al., 2010; CARRERAS et al., 2014). Os cruzamentos triplos são utilizados três progenitores, com caracteres específicos. Depois de executar o cruzamento simples, o F1 é cruzado pelo outro progenitor. A cultivar JKG-1, proveniente de ([ICCV2 x Suratato] x ICC7344) foi obtida


C a p í t u l o I | 60 por esse tipo de cruzamento, onde cada progenitor contribuiu com uma resistência diferente (SALIMATH et al. 2007). Nos cruzamentos múltiplos envolvem vários progenitores (SINGH et al., 1999). Isso amplia a base genética e se busca adaptação a uma ampla gama de ambientes e resistência genética a cada doença.

BANCO DE GERMOPLASMA O Banco de Germoplasma de grão de bico é mantido em dois centros internacionais (ICRISAT na Índia e ICARDA na Síria) e em centros nacionais como o Instituto Vavilov da Rússia, o USDA-ARS Regional da Estação de Introdução de Plantas em Pullman, nos EUA e outros bancos de genes. Foi documentada a ampla variação nas características do germoplasma e que é de grande importância econômica para o melhoramento das cultivares que se tem desenvolvido e liberado. Também foram registrados a variação nas flores, na cor e o tamanho dos grãos, a duração no crescimento, o rendimento e a biomassa, a resistência a doenças, as características de qualidade (tempo de cocção, conteúdo de aminoácidos, a flatulência e a digestibilidade). Os grãos-de-bico tipo 'kabuli' (origem do Mediterrâneo e do Oriente Médio) geralmente têm as maiores sementes e crescem satisfatoriamente sob condições de irrigação. Os grãos-de-bico Desi (distribuídos na Índia) têm sementes menores, e melhores rendimentos são registrados no subcontinente indiano, na Etiópia e em outros países. Os híbridos entre Kabuli e Desi produziram linhagens com grãos de tamanho médio e um bom rendimento. A maioria dos grãos de bico cultivada nos países em desenvolvimento é de variedades locais selecionadas. O germoplasma com resistência às principais doenças tem sido identificado e os genes das doenças importantes têm sido encontrados (MUEHLBAUER; TULL, 1997).


C a p í t u l o I | 61 VARIEDADES DO GRÃO DE BICO

Variedades da Espanha Por meio da seleção natural e da hibridação permitiram a obtenção de inúmeras variedades, especialmente em países onde há um alto consumo de grão de bico. Assim, somente na Espanha existem algumas variedades, tais como: Fardón, Puchero, Alcazaba, Bujeo, Pedrosillano, Blanco Lechoso, Andaluz Branco, ou a variedade Fuentesaúco mencionada na obra de Miguel de Cervantes (autor de Dom Quixote) ou o cada vez mais popular grão denominado de Bico de Pardal (VEGA et al., 1994).

As cultivares tradicionalmente plantadas na Espanha são: Blanco Lechoso, Venoso Andaluz, Castellano e Pedrosillano; os quatro primeiros são de grão enorme, destacando o Blanco Lechoso e o Venoso Andaluz por sua brancura; os seguintes são bege e o último é de menor tamanho e de pele lisa. Após o melhoramento genético empreendido na Espanha no final dos anos 80, atualmente existe uma coleção de variedades com resistência a parasitas, boa produção de palha, facilidade de colheita. A maioria das variedades obtidas corresponde do grão de bico é de grão pequeno, do tipo Pedrosillano, também denominado "Desi" e com maior propriedade "Microsperma"; os grandes, de cor clara, tipo Blanco Lechoso é chamado de Macrosperma. As variedades obtidas e atualmente registradas na Espanha são as seguintes: Alcazaba, Amelia, Amparo, Anguiano, Athenas, Bagdad, Bonal, Candil, Castellano, Castúo, Chamad, Elvira, Eulalia, Fardón, Inmaculada, Kairo, Lechoso, Pedrosillano, Pilar, Puchero, Tizón (para consumo animal) e Zegrí (VEGA et al., 1994).

Das cultivares tradicionais, a Blanco Lechoso, de grande tamanho e de cor branca, é muito sensível à doença de queima-de-ascochyta (Ascochyta rabiei), embora a grande demanda do consumidor faça com que o agricultor se arrisque a cultivá-la. A variedade Castelhano, de cor bege e de tamanho um pouco menor, é menos sensível à queima-de-ascochyta do que a cv. Blanco Lechoso. Enquanto a variedade Pedrosillano, de tamanho menor do que as anteriores e de pele lisa, é tolerante à queima (Figura 35). As novas variedades de microspermas (tipo Desi) obtidas mostram, entre outras características melhoradas, um bom comportamento contra a queima-de-ascochyta (VEGA et al., 1994).


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Figura 35. Atualmente, os três tipos de grão de bico de maior interesse na Espanha são: as cultivares Blanco Lechoso e Castellano, de boa qualidade, recomendados para semeaduras tardias e médias, e a variedade Fardón, de alta produtividade e qualidade inferior, recomendada por seu cultivo precoce.

É importante frisar que o tipo Kalubi é o grupo conhecido como "cabeça de carneiro". São os grãos-de-bico mais comuns e correspondem a variedades cultivadas principalmente na Europa, América Central e América do Sul. É o primeiro tipo que começou a ser cultivado em todo o Mediterrâneo. Sua cor é cremosa, de tamanho médio ou grande, arredondada e com rugas bem marcadas. Dentro deste grupo, encontram-se algumas características das seguintes variedades: Variedade Castellano: é caracterizado por seu proeminente bico curvado. É um grão de bico considerado pouco nutritivo e pouco saboroso, motivo pelo qual o seu preço é mais baixo no mercado. Sua forma é muito variada, pois é abundantemente colhido sem ter atingido uma padronização. É cultivado principalmente no centro da Espanha, Extremadura e Andaluzia. Tem sido a variedade a partir da qual se tem desenvolvido o grão de bico mexicano.


C a p í t u l o I | 63 Variedade Pedrosillano: de pequeno tamanho e, consequentemente, de preço muito baixo. Embora seja mais rico em proteínas e mais saboroso que a variedade Castellano. É cultivada principalmente em Castilha de La Mancha e Castilha de León (Figura 36).

Figura 36. Sementes de grão de bico da variedade Predosillano.

Variedade Blanco Lechoso: Ao contrário da variedade Castellano, é considerado muito nutritivo e de boa palatibilidade. Caracteriza-se por ser uma semente alargada e aplanada nas laterais e com uma superfície cheia de rugosidade. É um dos mais caros do mercado. Destaca-se por sua riqueza em proteínas, magnésio e ferro.

Variedade Venoso Andaluz: Com um alto valor proteico. Destaca-se pelo grande tamanho e por sua superfície lisa, onde é marcada por uma série de linhas em forma de veias, que são o que lhe confere seu nome específico. Seu cultivo é especialmente abundante na província de Granada

Variedade Chamad: Se distingue pela curvatura de seu bico. Bom tamanho da semente e muito nutritivo. Rico em proteínas, seu cultivo está limitado à província de Granada.

Variedades do México No México, o grão-de-bico branco de grão grande e rugoso do tipo 'kabuli' é produzido principalmente em condições irrigadas, para exportação para o Oriente Médio. Esta cultura foi adaptada às condições climáticas do Noroeste do México e, devido à sua eficiência no uso da água, é uma cultura adequada para as regiões onde a água é escassa e de alto custo.


C a p í t u l o I | 64 O INIFAP (Instituto Nacional de Investigaciones Forestales, Agrícolas y Pecuaria), através do Programa de Melhoramento Genético com o grão de bico em Sinaloa, conseguiu o lançamento de duas novas variedades: Sinalomex-2018 e Combo-743, com características adequadas ao mercado de exportação e com maior produtividade que a testemunha Blanco Sinaloa 92, além de possuir maior tolerância a doenças da raiz. As principais características destas duas variedades são que elas têm ampla adaptação nos ambientes de Sonora, Sinaloa, Baja California Sur e na área de baixios, principalmente em Guanajuato. Nas Tabelas 4 e 5, tem-se registrado o rendimento médio de três ciclos de plantio e nas localidades registradas. Ambas as variedades têm características de grãos adequadas para a exportação e tolerância à murcha do grão de bico (ORTEGA MURRIETA et al., 2018).

Tabela 4. Rendimento, calibre de grão e porcentagem de exportação das variedades Combo-743 e Blanco Sinaloa 92 em parcelas de validação com os agricultores. Ciclos OI; 2011-2012 a 2015-2016. Variedade

Rendimento de grãos (kg\ha) Sinaloa. Baja Média California Sur 2.237 3.583 2.910 2.207 3.148 2.677

Calibre de grão

Percentagem de exportação

41 42

96 95

Combo-743 Blanco Sinaloa-92 Fonte: ORTEGA MURRIETA et al., 2018).

Tabela 5. Rendimento, calibre de grão e porcentagem de exportação das variedades Sinalomex-2018 e Blanco Sinaloa 92 em parcelas de validação com os agricultores. Ciclos O-I; 2011-2012 a 2015-2016. Variedade

Rendimento de grãos (kg\ha) Sinalomex-2018 2.540 Blanco Sinaloa-92 2.206 Fonte: ORTEGA MURRIETA et al., 2018).

Calibre de grão 42 42

Percentagem de exportação 97 95

Essas duas variedades possuem as características de grão grande com calibre de 41, de cor creme claro, rugoso e com rendimento superior ao Blanco Sinaloa 92. Ambas as variedades possuem tolerância à "murcha" e produzem em média cerca de 95 a 97% de


C a p í t u l o I | 65 grão exportável (quando o grão é selecionado através de uma malha de 9 mm de diâmetro) (ORTEGA MURRIETA et al., 2018). Também o INIFAP liberou mais duas novas variedades: BlancoSon e Mazocahui.

Variedade BlancoSon. É uma variedade de grão-de-bico branco com elevada produtividade e tolerância à murcha (Fusarium oxysporum f. Sp. Ciceris e F. solani) que a testemunha regional Blanco Sinaloa 92. A planta apresenta uma média de 59 cm de altura, com porte de planta semiereta e semifechada, possui em média 3 ramos primários e 6 ramos secundários, com folhas compostas de tamanho médio, de cor verde média, flores brancas, vagem de tamanho grande com média de 1 grão por vagem. É tolerante à murcha causada por Fusarium solani e F. oxysporum f.sp. ciceris. O calibre de grão é de 47 (número de sementes em 30 g) e produz cerca de 90% de grão com qualidade de exportação. A floração ocorre aos 49 dias depois da semeadura (dds) e a maturidade fisiológica aos 128 dds. O âmbito de adaptação da variedade BlancoSon está nos estados de Sonora, Sinaloa, Baja California Sur e em área de baixios (ORTEGA MURRIETA et al., 2018).

Variedade Mazocahui. É uma variedade de grão de bico branco com elevada produtividade e com alta tolerância a murcha (Fusarium oxysporum f. sp. ciceris e F. solani) do que a testemunha regional Blanco Sinaloa 92. A planta apresenta uma média de 63 cm de altura, com porte de planta semiereto e semiaberto, possui em média 2 ramos primários e 6 ramos secundários, com folhas compostas de tamanho médio, cor verde média, flores de cor branca, vagem de tamanho grande com média de 1 grão por vagem. O calibre de grão é de 48 (número de sementes em 30 g) e produz cerca de 87% do grão de qualidade para exportação. A floração ocorre aos 47 dias depois da semeadura (dds) e a maturidade fisiológica sucede aos 125 dds. O âmbito de adaptação da variedade Mazocahui está nos estados de Sonora, Sinaloa, Baja California Sur e em áreas de baixios (ORTEGA MURRIETA et al., 2018).

Variedade Blanoro. É uma planta com um hábito de crescimento semiereto. Possui folhagem verde de intensidade média muito semelhante à das cultivares Blanco Sinaloa92 e Costa 2004 (MORALES et al., 2005). A folha é do tipo composto, com folíolos medianos, ovalados, de cor verde semi-opaco. A flor é de cor branca, as vagens são grandes, medindo em média 30,5 mm de comprimento por 15,6 mm de diâmetro, quando


C a p í t u l o I | 66 está em processo de enchimento de grãos, são de cor verde de intensidade clara semelhante a da cultivar Costa 2004. O peso médio das sementes da cultivar Blanoro é 66-72 gramas por 100 sementes, equivalente a um calibre de 42-44 sementes em 30 g de peso (ou calibre 3 x ou 4 x). Seu grão é branco-cremoso e de rugosidade acentuada, semelhante à da cultivar Blanco Sinaloa-92. A forma da semente é redonda angular, semelhante à semente Blanco Sinaloa-92, embora maior. A variedade Blanoro é resistente a Fusarium oxysporum f. sp. ciceris, que é um dos principais agentes causadores de murchamento e secagem do grão de bico. O período de cocção é muito semelhante ao do Blanco Sinaloa-92, com aproximadamente 10% a mais de tempo do que a Blanco Sinaloa-92, após 12 horas de embebição da semente. A variedade Blanoro apresenta um ciclo intermediário de maturidade, semelhante à variedade Blanco Sinaloa-92, produz as primeiras flores entre 37 e 50 dias após a semeadura, sua floração termina aos 90 dias e sua maturidade ao corte flutua entre 110 a 125 dias após a semeadura e atinge a sua maturidade para a colheita entre 125 e 135 dias. O hábito de crescimento da planta é determinado. A planta produz ramos de 64 cm de comprimento, com uma média de 3 ramos primários e de 4 a 6 ramos secundários (MORALES et al., 2005).

Variedades da Argentina Variedade Chañaritos S-156. Características destacáveis: grão de bico do tipo Kabuli, porte semi-rasteiro no estádio vegetativo e semiereto no estádio reprodutivo, adequado para colheita mecânica (Figura 37). Características morfológicas: apresenta uma folha normal, de folíolos grandes e cor verde escura. Cor da semente cremosa e lóbulos ligeiramente estriados. Características fenológicas: 65 dias para a floração, ciclo total de 140-150 dias, tolerante ao frio em estádio vegetativo. Características sanitárias: tolerantes a Fusarium sp. Características tecnológicas: peso de 100 sementes 49 g. Teor de proteínas 23%. Excelente palatabilidade. Tempo de cocção inferior a 56 minutos (CARRERAS et al., 2018).


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Figura 37. Planta e sementes da cultivar Chañaritos S-156. Foto: J. Carreras.

Variedade Norteño. Características destacáveis: grão de bico do tipo Kabuli, semiereto nos estádios vegetativo e reprodutivo, adequado para colheita mecânica (Figura 38). Calibre da semente 9 mm. Características morfológicas: apresenta folha normal, com folíolos grandes e uma cor verde clara. Cor da semente branco-amarelada e lóbulos ligeiramente estriados. Características fenológicas: 90 dias até a floração, ciclo 150-170 dias, tolerante ao frio em estádio vegetativo. Características sanitárias: tolerantes a Fusarium sp. Características tecnológicas: peso de 100 sementes com 59 g. Teor de proteínas 23%. Excelente palatabilidade. Tempo de cocção inferior a 56 minutos (CARRERAS et al., 2018).

Figura 38. Planta e sementes da cultivar Norteño. Fotos: J. Carreiras (2016).


C a p í t u l o I | 68 Variedade Kiara UNC-INTA. Características marcantes: grão de bico do tipo Kabuli, porte ereto, ramos com ziguezague marcado. Altura de inserção da primeira vagem 33 cm, adequado para a colheita direta (Figura 39). Características morfológicas: apresenta folhas normais e cor de folíolos semelhante ao Norteño, semente de cor creme claro com poucos lóbulos sulcados. Características fenológicas: 85 dias até a floração, ciclo 165 dias. Características sanitárias: tolerantes a Fusarium sp. Características tecnológicas: peso de 100 sementes 56 g. Calibre: 10% maior que 10 mm e alta porcentagem de 9 mm. Teor de proteínas 23%. Tempo de cocção inferior a 56 minutos. Excelente palatabilidade (CARRERAS et al., 2018).

Figura 39. Planta e sementes da cultivar Kiara UNC-INTA. Fotos: J. Carreiras (2016).

Variedade Felipe UNC-INTA. Características destacáveis: porte ereto nos estádios vegetativo e reprodutivo, adequado para colheita mecânica, tolerante ao frio no estádio vegetativo (Figura 40). Excelente taxa de multiplicação. Características morfológicas: possui folhas normais e cor de folíolos semelhante ao Norteño, cor da semente brancoamarelada com poucos lóbulos estriados. Características fenológicas: dias até a floração 75, ciclo 150 dias. Características sanitárias: tolerantes a Fusarium sp. Características tecnológicas: peso de 100 sementes 51 g. Teor de proteínas 23%. Tempo de cozimento inferior a 56 minutos. Excelente palatabilidade (CARRERAS et al., 2018).


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Figura 40. Planta e sementes da cultivar Felipe UNC-INTA. Fotos: J. Carreiras (2016).

Variedade TUC 464. Características destacáveis: porte ereto no momento da colheita, adaptado a trilha direta, altura da planta 50,7 cm (Figura 41). É resistente ao frio. Características morfológicas: semente de cor creme, ziguezague leve entre os internódios. Características fenológicas: 105 dias até a floração, ciclo 155 dias. Características sanitárias: moderadamente suscetível a Fusarium sp. Características tecnológicas: peso de 100 sementes de 34 g em condições de sequeiro e 39,7 g com irrigação (CARRERAS et al., 2018).

Figura 41. Planta e sementes das cultivares TUC 464 e TUC 403. Fotos: O. Vizgarra y C. Espeche.


C a p í t u l o I | 70 Variedade TUC 403. Características marcantes: possui porte semi-rasteiro no estádio vegetativo e semiereto na colheita. Altura da planta de 47,55 cm. Características morfológicas: o ziguezague dos internódios é marcado. Características fenológicas: destaca-se por ter um ciclo curto, 70 dias para a floração e 125 dias para a colheita (CARRERAS et al., 2018).

Variedades do Brasil A primeira cultivar lançada no Brasil ocorreu em São Paulo, em 1989. A 'IAC Marrocos', introduzida em 1964 do Marrocos, tem grãos de tamanho médio (26 g/100 unidades) e ciclo de vida de 125 a 140 dias (BRAGA et al., 1992). Em 1994, a cultivar BRS Cícero (grãos grandes), selecionada de introduções procedentes do México, foi recomendada para cultivo no inverno nas condições edafoclimáticas do Brasil Central, onde o seu ciclo de vida é de, aproximadamente, 110 dias (GIORDANO; NASCIMENTO, 1994). Através do Programa de Melhoramento Genético com o grão de bico, a Epamig lançou a primeira cultivar denominada de Leopoldina para o estado de Minas Gerais, em razão do seu grande potencial para o cultivo do grão-de-bico, como também por causa da vasta área irrigada por aspersão e do clima ameno no outono-inverno na maior parte do estado (PARAÍSO, 2019). Por outro lado, a Embrapa desenvolveu a cultivar BRS Cristalino que é voltada ao cultivo em áreas irrigadas do Planalto Central e tem boa produtividade, com média de 3 mil kg/ha. Com colheita mecanizada pode ser usada na indústria de conservas e consumo seco. Em 2007, esta empresa lançou a cultivar BRS Toro que é rústica e também se adapta ao cultivo mecanizado. Esses grãos são ideais para consumo seco ou enlatado. Os principais destaques das variedades indicadas para o Brasil são:

Variedade Leopoldina. A cultivar de grão-de-bico Leopoldina foi introduzida do “International Center for Agricultural Research in the Dry Areas” (ICRISAT), localizado na Índia, com a denominação ICCV-3. Suas sementes têm coloração creme (tipo kabuli) e o peso de 100 unidades varia de 28 a 36 g. Apresenta plantas com tipo de crescimentos ereto e inserção da primeira vagem alta. As plantas podem atingir 60 cm de altura. Seu ciclo de vida varia de 125 a 135 dias. É resistente à raça do Fusarium oxysporum f. sp. cicero e tolerante aos nematóides causadores de galhas nas raízes. Nos ensaios conduzidos no outono-inverno com irrigação na Zona da Mata e no Norte de Minas Gerais, os


C a p í t u l o I | 71 rendimentos alcançados pela ‘Leopoldina’ variaram de 2.037 a 2.950 kg/ha (VIEIRA et al., 1999).

Variedade BRS Aleppo. O grão-de-bico da cultivar BRS Aleppo é uma cultivar com aptidão industrial para uso em conservas e consumo seco de ótima qualidade, indicado para cultivo em áreas irrigadas da região do Brasil Central, com ótima adaptação e apresentando elevados níveis de tolerância a um complexo de fungos de solo. A variedade BRS Aleppo é indicada para cultivo na estação seca, com semeio no período de fevereiro a abril na região do cerrado do Distrito Federal e Goiás onde foi amplamente testada em áreas de cultivo irrigado com altitudes superiores a 800 metros. A produtividade variou de 2.506 a 3.515 kg/ha durante os quatro anos de teste. A época preferencial de plantio da cultivar BRS Aleppo deve se situar entre 15 de março e 15 de abril com colheita ocorrendo entre 15 de julho e 15 de agosto. Neste período, a possibilidade de chuva na colheita é pequena, um fator que ajuda a reduzir perdas e aumentar a qualidade dos grãos. O espaçamento ideal entre linhas deve ser entre 40 a 50 cm com uma população de 150 a 200 mil plantas por hectare. As plantas da cultivar BRS Aleppo podem ser colhidas de forma mecanizada, recomendando-se assim a sistematização da área de plantio, a fim de evitar a presença de torrões no momento da colheita dos grãos (EMBRAPA HORTALIÇAS, 2014).

Variedade Cícero. O grão-de-bico da cultivar Cícero se adapta bem às condições edafoclimáticas do Brasil Central. Nesta região, a cultura se desenvolve bem no período seco de inverno, em locais de maiores altitudes, necessitando de irrigação suplementar (não sendo, entretanto, muito exigente em água). É uma cultura totalmente mecanizada. A cultivar BRS Cícero pertence ao grupo Kabuli, apresentando plantas de tamanho médio (cerca de 45 cm de altura), porte semiereto, folíolos grandes (10 a 20 mm), flores brancas, tendo em cada vagem uma a duas sementes grandes (320g/1000 sementes), com formato meio arredondado e coloração creme. Essa cultivar é indicada a regiões de clima ameno e solos de textura leve. Em ensaios de competição de cultivares conduzidos em Santo Antônio de Goiás, GO e Brasília, DF, a BRS Cícero apresentou rendimentos de 1.600 e 2.700 kg/ha, respectivamente, com ciclo médio de 110 dias (EMBRAPA HORTALIÇAS, 2005).


C a p í t u l o I | 72 Variedade BRS Cristalino. A principal característica da cultivar BRS Cristalino é sua adaptação ao cultivo em áreas irrigadas do Planalto Central e seus elevados níveis de produtividade (média de 3.000 Kg/ha). O excelente porte e arquitetura das plantas da cultivar BRS Cristalino permitem a colheita mecanizada. BRS Cristalino é uma cultivar do grupo kabuli que se caracteriza por apresentar sementes maiores, arredondadas e de coloração creme. As plantas são relativamente altas, com flores de cor branca (sem pigmentação de antocianina). A cultivar BRS Cristalino apresenta dupla aptidão podendo ser utilizada tanto na indústria de conservas (grãos reidratados) como também para consumo seco de ótima qualidade (EMBRAPA HORTALIÇAS, 2017).

Variedade BRS Toro. A cultivar BRS Toro é uma planta de polinização aberta, rústica, indicada para cultivo na estação seca, com semeio a partir do mês de abril até o mês de maio em áreas de cultivo irrigado com altitudes superiores a 600 metros. Essa cultivar foi avaliada também no Mato Grosso, em semeaduras de março (segunda safra) com bom desempenho. As mais altas produtividades da cultivar BRS Toro têm sido obtidas em áreas irrigadas, sendo a época preferencial de plantio, no Planalto Central, entre 15/04 a 3D/OS, com colheita ocorrendo entre agosto a setembro. As possibilidades de chuvas durante esse período nessa região são mínimas, permitindo a colheita de grãos e sementes de elevada qualidade. O espaçamento ideal entre linhas é de 50 em, com cerca de 10 plantas por metro linear, totalizando uma população de 200 mil plantas\ha (EMBRAPA HORTALIÇAS, 2017).

CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS

Clima: O grão-de-bico (Cicer arietinum) é uma leguminosa anual alimentar para a estação fria, podendo ser cultivado no inverno em regiões tropicais ou no verão e primavera nos ambientes temperados. Esta espécie gosta de clima frio, seco e de tempo claro. A temperatura, a duração do dia e a disponibilidade de umidade são os três principais fatores abióticos que afetam a floração. Em geral, a floração é atrasada sob baixas temperaturas e também em dias curtos. Existe variabilidade genética no germoplasma do grão de bico para resposta à variação no comprimento do dia (sensibilidade ao fotoperíodo) e também para resposta à variação na temperatura (sensibilidade térmica), o qual tem sido explorada no desenvolvimento de cultivares precoces. O grão-de-bico é sensível às temperaturas alta (temperatura máxima diária> 35


C a p í t u l o I | 73 °C) e baixa (temperatura média máxima e mínima diária <15 °C) no estádio reprodutivo. Ambos os extremos de temperatura levam à queda de flores e a redução do número de vagens (GAUR et al., 2010). Em relação às precipitações, os bons anos para o grão de bico têm coincidido com os anos poucos chuvosos, principalmente na primavera, uma vez que é uma cultura que não se adapta ao acúmulo de umidade. É uma planta que cresce com baixo teor de umidade do solo (300 mm), durante o ciclo, mas para obter bons rendimentos, o déficit hídrico deve ser evitado durante os períodos de germinação, floração e enchimento de vagens. Portanto, as temperaturas elevadas ou ocorrência de déficit hídrico reduzem o período de crescimento vegetativo, provocando maturação precoce, com prejuízos na produção (NASCIMENTO et al, 1998).

Também o grão de bico é resistente a geadas, mas não é a flor e nem o grão tenro. A partir de 10 ºC, o grão-de-bico é capaz de germinar, embora a temperatura ideal de germinação oscile de 20 a 30 ºC. Se as temperaturas forem mais baixas, aumenta o tempo de germinação. Além disso, períodos de tempo nublado e alta umidade relativa reduzem a floração (NASCIMENTO et al, 1998; SALINAS et. al., 2008).

Solos. O cultivo do grão-de-bico pode ser estabelecido em solos de textura mediana e argilosa, que sejam profundos, pois suas raízes penetram no subsolo, extraindo água e nutrientes. Requer solos com boa drenagem, não tolera crostas e sem problemas de sais solúveis. Para um bom desenvolvimento e adequada fixação de nitrogênio no ar, é necessário que o pH não seja ácido e que haja boa aeração no solo, portanto, é aconselhável evitar excesso de umidade. Portanto, preferem os solos preparados em profundidade, porque seu sistema radicular é muito bem desenvolvido e é muito resistente à estiagem.

O pH ideal do solo é de 6,2 a 7,5. O grão de bico é sensível à salinidade, tanto do solo quanto da água de irrigação. Essa espécie é capaz de crescer em uma ampla variedade de textura franco argilosa, de solos leves a pesados, embora os melhores sejam os francoargilosos (sílico-argilosos ou silte-argilosos), levemente inclinados e com boa capacidade de retenção de umidade. Desenvolve-se em pH de seis a nove, sendo o ideal entre sete e oito, pois em solos ácidos podem aumentar a murcha e a podridão na planta devido ao


C a p í t u l o I | 74 ataque de Fusarium spp, enquanto que em solos com excesso de gesso podem produzir grãos de baixa qualidade e de difícil cocção (SALINAS et al., 2008). Recomenda-se não repetir seu cultivo no mesmo terreno pelo menos até quatro anos. Se o terreno tem matéria orgânica começando a se decompor, também o prejudicará.

ESCOLHA DA ÁREA É importante escolher os lotes para plantio com boa drenagem, profundos, livres de plantas daninhas e com uma excelente distribuição de restolho. Esta cultura não tolera solos encharcados e com salinidade. Em relação às rotações, a presença de gramíneas é muito importante devido à contribuição abundante de restolho e controle de doenças radiculares, o que não significa que seja o melhor antecessor.

SISTEMA DE PRODUÇÃO Para o cultivo do Cicer arietinum deve aplicar as melhores condições agronômicas ao longo do seu ciclo vegetativo e reprodutivo, visando obter um elevado desenvolvimento foliar e a maior produtividade de uma planta.

PREPARO DO SOLO É importante destacar que o cultivo do grão de bico requer solos profundos para uma boa expressão de seu potencial produtivo, isto significa dizer que solos compactados com baixos níveis de porosidade diminuem o seu crescimento. Potencialmente, as raízes da planta podem atingir até 2 m de profundidade, o que implica que ela explora um bom volume de solo.

Por outro lado, o preparo do solo depende da sua classe textural em francoargilosa, franco-arenosa, argiloarenosa, muito argilosa. Em solos pesados geralmente exigem mais trabalho, máquinas e equipamentos mais potentes. Antes de se iniciar a operação de preparo do solo, deve-se verificar a presença ou não de camadas compactadas. A presença e a profundidade dessas camadas compactadas são detectadas por sondagens com penetrômetros ou pela abertura de trincheiras. Deve-se também coletar amostras de solo para a análise química. Além de facilitar o crescimento


C a p í t u l o I | 75 radicular em profundidade, a subsolagem serve para tornar soltas as camadas compactadas, sem, entretanto, causar inversão das camadas de solo. Realizar uma subsolação com arado subsolador de 03 ou 05 hastes (a depender da potência do trator), a 0,50 m – 0,60 m de profundidade em forma cruzada, complementado com uma gradagem com grade leve. Não se recomenda usar o subsolador em solo com bastante umidade, em razão de que cada haste do equipamento subsolador irá limitar sua área de rompimento de solo. É importante frisar que na extremidade inferior da haste existe uma ponteira que pode ter diversos formatos, de acordo com o projeto do fabricante e o grau de compactação do solo (GADANHA JÚNIOR et al., 1991; ALOISI et al., 1992; Figura 42).

Figura 42. Subsolagem do terreno para a instalação de uma plantação. Foto: Oliveira F. T., 2008. Essa subsolagem pode ser repetida a cada dois ou três anos e é recomendado principalmente para solos pesados e tem por objetivo facilitar a penetração da água e o crescimento das radículas (CAMARILLO et al., 2002).

Aração: Quando a camada compactada estiver a menos de 30 cm de profundidade, ela

pode ser rompida com arado de aivecas ou arado escarificador (Figura 43), atuando nessa profundidade (CASTRO; LOMBARDI NETO, 1992). O arado de aiveca corta, eleva, inverte e esboroa parcial ou totalmente as leivas, que ficam dispostas lado a lado. Quando o serviço de aração com aivecas é bem feito, há enterrio total dos restos de cultura. O


C a p í t u l o I | 76 arado de aiveca produz uma inversão do solo melhor que a do arado de discos, mas apresenta restrições ao uso em solos com obstáculos, tais como pedras e tocos, caso não haja mecanismos de segurança, com desarme automático. O arado de discos é menos vulnerável a estas obstruções, pois, o movimento giratório dos discos faz com que eles girem sobre o solo e a vegetação, cortando-os (GADANHA JÚNIOR et al., 1991). Em geral, o preparo do solo é feito, geralmente, com uma aração, utilizando-se o arado de discos, nos dois sentidos, complementado com uma gradagem com grade leve. A aração não deve ser feita com o solo muito úmido nem muito seco. Há um ponto de umidade em que o solo não adere ao implemento e nem faz nuvem de poeira. É o ponto em que o solo se desmancha com alguma facilidade à pressão dos dedos. Vale lembrar que a aração com subsequente gradagem do solo permite melhor desenvolvimento radicular.

Figura 43. Preparo do terreno com arado de disco, em forma cruzada e com 30 cm de profundidade, para a descompactação do terreno destinado ao plantio do grão de bico. Recomenda-se fazer a primeira aração no outono, visando remover a camada arável do solo. Ao mesmo tempo, são incorporados resíduos da colheita anterior e são eliminadas algumas sementes de ervas daninhas e larvas de insetos, propiciando assim a aeração do terreno, além de favorecer o movimento e armazenamento de água. Deve ser feito a uma profundidade de 25 a 35 cm quando o solo possui umidade adequada (preferencialmente


C a p í t u l o I | 77 após a colheita da safra anterior) para evitar a formação de torrões, sendo este último mais importante em solos argilosos (CAMARILLO et al., 2002). Gradagem - é a etapa de preparação do solo para cultivo agrícola posterior à aração. Após a aração, o solo ainda poderá conter muitos torrões, o que dificultaria a emergência das sementes e o estabelecimento das culturas (CAMARILLO et al., 2002; INIA, 1963). Ou seja, essa operação de gradagem é uma técnica secundária, cuja função principal é romper torrões de terra ocasionada por uma operação prévia de aração ou subsolagem, e nivelar o terreno, facilitando assim a semeadura e a implantação do cultivo do grão de bico (Figura 44). É importante ter o solo destorroado, principalmente quando se planeja aplicar herbicidas pré-emergentes. Porém, se os solos apresentarem tendência arenosa duas gradagens são suficientes no preparo do solo.

Figura 44. Operação de gradagem do solo para nivelar o terreno e facilitar o plantio do grão de bico. Foto: Oliveira F. T., 2008.


C a p í t u l o I | 78 Nivelamento - Essa prática é necessária para ter uma superfície uniforme que facilite a distribuição e o manejo da água de irrigação, evitando assim o alagamento do campo. A distribuição de sementes e a emergência de plântulas são favorecidas (CAMARILLO et al., 2002).

Sulcador - Em solos argilosos e arenosos, o sulco deve ser aberto em função do espaçamento escolhido entre fileiras de plantio de 70 cm (BIDERBOST, 2016), e em solos pesados, recomenda-se preparar os leirões de 1,0 a 1,2 m de largura (Figura 45).

Figura 45. Suqueando para plantio do grão de bico. Foto: Oliveira F. T., 2008.


C a p í t u l o I | 79 TRATAMENTO DE SEMENTES É frequente efetuar o tratamento de sementes do grão de bico tanto para o plantio no inverno quanto na primavera. As sementes podem ser tratadas com produtos à base de iprodione, thiram, captan, carboxim ou tiabendazol, por via seca ou líquida, na proporção de 3 g ou 3 ml do produto comercial por quilo de sementes. O emprego de misturas comerciais à base de iprodione + thiram ou carboxim + thiram, aplicadas na mesma dose, geralmente permitem o controle de um espectro mais amplo de patógenos do solo durante a emergência da cultura (NASCIMENTO et al., 1998).

ÉPOCA DE SEMEADURA O grão-de-bico é uma leguminosa anual bem adaptada a clima seco e ameno, podendo ser cultivado no inverno em regiões tropicais ou na primavera e verão em regiões temperadas. Ou seja, trata-se de uma leguminosa que necessita de temperaturas amenas para seu desenvolvimento (os intervalos de temperatura máxima e mínima mais favoráveis à maior parte das cultivares são de 25 a 30°C e de 10 a 15°C, respectivamente), pois as temperaturas elevadas ou ocorrência de déficit hídrico reduzem o período de crescimento vegetativo, provocando maturação precoce, com prejuízos na produção. Por esse motivo, no período seco de inverno evidencia a necessidade de irrigação suplementar (NASCIMENTO et al., 1998). A data de semeadura é igualmente um fator determinante, porque pode determinar o tipo de condições com que a cultura irá se confrontar ao longo dos diferentes estádios fenológicos. Na região Centro-Oeste, maiores produções são obtidas com as semeaduras feitas no mês de abril. Contudo, pode-se estender o período de plantio até a segunda quinzena de maio. Plantios mais tardios resultam em menor produtividade e maior risco de perdas na produção, devido à possibilidade de ocorrência de chuvas durante a colheita (NASCIMENTO et al., 1998). Na realidade, a semeadura efetuada na primavera, não permite maximizar nem a produção, nem o benefício em termos de fixação de azoto pela cultura, isso porque nas primaveras pouco úmidas, as plantas vão nodular mal, crescem pouco, produzem quase nada e esgotam o solo em vez de deixarem algum benefício em termos de fertilidade. O período de plantio do grão de bico entre a segunda quinzena de maio e a primeira semana de junho tem se obtido os melhores resultados produtivos na Argentina. Adiantar este período somente é válido para aquelas zonas mais secas em que as chuvas são


C a p í t u l o I | 80 escassas no outono. Naquelas zonas em que os invernos são mais favoráveis, o plantio mais cedo provoca um desenvolvimento vegetativo excessivo, que pode resultar no acamamento de plantas e problemas sanitários. Por outro lado, o plantio tardio em anos secos da primavera limita seu desenvolvimento, portanto o potencial de rendimento e o controle de plantas daninhas entre as fileiras são seriamente afetados. Na Figura 46, encontra-se o ciclo de cultivo do grão de bico adotado pelos produtores da região de Córdoba, Argentina.

Figura 46. Ciclo de cultivo do grão de bico com semeadura no outono e colheita em outubro-novembro em Córdoba, Argentina.

O ciclo de cultivo do grão de bico tem uma relação direta com o adequado desenvolvimento vegetativo para superar as altas temperaturas do outono e o frio da primavera, que ocorrem no final do seu ciclo. Em seguida, a planta se prepara para iniciar o estádio reprodutivo fundamental para a produção ideal. As chuvas que ocorrem no final do ciclo de cultivo, principalmente nos meses de verão (outubro-novembro), têm um impacto negativo na qualidade das sementes, diminuindo principalmente o poder de germinação e a sanidade.


C a p í t u l o I | 81 ESTABELECIMENTO DO CAMPO: PLANTIO

É fundamentar considerar que as plântulas de grão-de-bico têm emergência hipogeal, ou seja, seus cotilédones permanecem abaixo do solo, os quais vão fornecer energia para o crescimento rápido das raízes e brotações. Portanto, a emergência de tais plântulas ocorre em 5 a 8 dias após a semeadura, dependendo da temperatura do solo e da profundidade em que as sementes são semeadas, variando entre 4 a 6 cm, ou algo mais se há que buscar a umidade do solo. Recomenda-se a semeadura no espaçamento de 50 a 60 cm entre fileiras e efetuando a distribuição de 15 a 17 sementes por metro linear, deixando de 8 a 12 plantas após a operação de desbaste. Mesmo assim, a quantidade de semente usada no plantio varia amplamente em função do potencial produtivo do solo. No caso do grão de bico de inverno pode ser semeado com quantidade de sementes que vão desde 90 a 120 kg por ha. Para a variedade Pedrosillano a quantidade pode estar em torno aos 100-120 kg\ha. Enquanto as quantidades para as variedades Blanco Lechoso e Castellano são vaiáveis, segundo as regiões da Espanha. Os plantios tradicionais vêm fazendo com 70 -90 kg\ha, de modo que os mais adequados devem se aproximar de 200 kg\ha. Sob condições de irrigação, sugere-se uma distância entre sulcos de 80 a 90 cm. Nas semeaduras sazonais e nos cultivos desenvolvidos apenas com a irrigação de présemeadura ou com a umidade das últimas chuvas de verão, a distância entre sulcos deve ser de cerca de 70 a 80 cm, porque a planta apresenta menor crescimento e ramificação secundária, favorecendo assim uma maior densidade de plantio e aproveitamento do solo (BRICK et al., 1998; Figura 6).


C a p í t u l o I | 82 Tabela 6. Sementes por hectare de acordo com a distância entre sulcos, porcentagem de germinação e tamanho de grão. Campo Experimental do Vale do Culiacán-INIFAP. Distância entre sulcos

Plantas\ha

KG DE SEMENTES\HA, segundo a densidade

(cm)

de semeadura e a % de germinação 80% de germinação

90% de germinação

70

140.000

109

97

80

125.000

100

87

90

110.000

86

77

110

90.000

70

63

100 (F.D.)

200.000

145

135

120 (F.D)

180.000

135

120

F.D. – Fileiras duplas; Fonte: Fundación Produce Sinaloa Obs: Os quilogramas de sementes na Tabela foram calculados com base em um calibre de grão de 48 a 50 e 10 plantas por metro linear. Para cada grau em que o calibre aumenta ou diminui, a quantidade de sementes aumenta ou diminui em 5 kg. Se você deseja aumentar para 12 plantas por metro linear em vez das 10 plantas consideradas na tabela, o kg de semente indicado deve ser aumentado em 20%.

Para as variedades cultivadas no Brasil, Braga (1990) recomenda a quantidade de sementes de 70 a 90 kg ha-1, sendo aconselhável o tratamento com fungicida quando for constatado problema de sanidade das sementes ou do terreno, principalmente para prevenir do resto cultural infectado de outra espécie cultivada anteriormente. Entretanto, para se maximizar a produtividade, deve-se procurar manter uma população de 200.000 a 240.000 plantas/ha. Segundo Nascimento et al. (1998), o gasto de sementes com as cultivares de maior peso médio de grão pode variar de 100 a 150 kg/ha, conforme cálculo e exemplo mostrados a seguir.


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Fonte: Homero B. S. Veiga Pessoa (1998).

De qualquer forma, e como a semente varia consideravelmente em peso de uma colheita para outra, o correto é usar como parâmetro de semeadura o número de sementes (planta\m2). No caso de escolher alguma cultivar ou variedade de calibre pequeno (Micropermas) e de porte ereto, as melhores produções em terras ferteis podem se obtidas com 45 plantas\m2 (equivale a 10 a 12 plantas por metro linear). Para as cultivares de calibre grande o número ideal de plantas está em 25 ou um pouco mais de sementes (plantas\m2; equivale a 6 a 7 plantas por metro linear). Essa semeadura poderá ser efetuada por meio de uma semeadora pneumática, com a distância entre as linhas de 30 a 50 cm e à profundidade de 4 a 6 cm. Aconselha-se a densidade de semeadura de 40 a 60 sementes/m 2 (180-220 kg//ha para as variedades de semente de maior calibre e 120-160 kg/ha para as variedades de pequeno calibre), para conseguir uma boa cobertura do solo, alta incidência de radiação solar e maior controle das doenças. Mesmo assim, a densidade mais adequada é de 12 plantas por metro linear, alcançada com o espaçamento de 52,5 cm entre fileiras. O kg/ha dependerá do poder germinativo da semente no momento do plantio, sendo este altamente variável e fundamental. O cultivo do grão-de-bico compensa bastante os problemas de baixa densidade, desde que bem distribuídos.


C a p í t u l o I | 84 MÁQUINAS PARA SEMEADURA As semeaduras tradicionais do grão-de-bico podem ser por lanço, de forma manual ou à máquina, empregando uma adubadora centrífuga (Figuras 47 48). Para o caso de semear em linhas, é necessária que as distâncias entre as fileiras sejam com dimensões suficientes para permitir a passagem das rodas do trator sem provocar danos importantes (50-60 cm), quando se pretende conseguir um enterramento correto da semente, mas tal problema é aumentado em solo argiloso. Para essa semeadura, é frequente o uso de semeadora pneumática (Figuras 49 e 50) e, preferencialmente, a semeadora de rotor vertical (Figura 51), as quais distribuem as sementes de modo uniforme, sem causar danos (CARRERAS et al., 2016). Em caso de sementes grandes, como o grão-de-bico, de maior massa e frágil, recomenda-se não usar as semeadoras com distribuição em fluxo de ar “air drill”, devido a que a alta velocidade que elas imprimem às sementes dentro dos condutores faz com que colidam nos divisores de linha e se rompem. Também é possível utilizar uma semeadora de girassol adaptada, acoplando-a uns platôs de maior espessura e com abundantes furos, os quais são necessários para atender a quantidade de sementes recomendada por hectare. Além disso, o plantio em linha é essencial para o grão de bico das variedades demandas pelos importadores (exemplo de Blanco Lechoso e Castellano), pois são variedades que podem requerer algum tratamento químico (Queima ascochyta, Heliothis, aplicação de dessecantes) ou com a passagem de um cultivador para o controle de plantas daninhas, ambos os tratamentos vão requer o uso de um trator.

Figura 47. Semeadora\ adubadora a lanço centrífuga pode ser usada no plantio do grão de bico.


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Figura 48. Cultivo do grão de bico semeado a lanço com alta densidade de plantio, em Michoacán, México.

Figura 49. Semeadora com sistema de dosagem e distribuição pneumática efetuando o plantio do grão de bico. Vikas Rawal; Vaishali Bansal (2016).


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Figura 50. Semeadora com a condução de sementes por tubos e divisores por meio de fluxo de ar. Foto: http://www.exportadoresdecordoba.com/.

Figura 51. Semeadora de precisão com o mecanismo de distribuição de platô vertical usado para o plantio do grão de bico. Fotos: MURRAY et al., 2006; COSIANSI et al., 2016.

A profundidade de plantio a que fica a semente varia entre 4 a 6 cm, ou algo mais se há que buscar a umidade do solo. Uma vez realizada a semeadura, recomenda-se realizar uma passagem com o cilindro de rolo dentado com o objetivo de favorecer a germinação e, ao mesmo tempo, deixar o terreno aplanado para facilitar a colheita mecanizada, em


C a p í t u l o I | 87 razão das plantas eretas ou semieretas do grão de bico serem de pequeno porte (maioria fica entre 50 a 60 cm de altura; Figura 52).

Figura 52. Rolo dentado é um implemento usado para melhorar a germinação de sementes de grão de bico e nivelar o terreno. Foto: Veja et al. (1994).

ROTAÇÃO Por seu ciclo invernal, está posicionada como o cultivo encabeçador de rotação para logo incorporar um cereal. Recomenda-se não repetir a cultura por mais de três anos consecutivos, devido o aumento das patologias radiculares. Na semeadura direta, a cultura mais apropriada para usar como restolho é o milho ou o sorgo, ou semear sobre pastagens de capim. A presença de gramíneas é muito importante devido à contribuição abundante de restolho e controle de doenças radiculares, o que não significa que seja o melhor antecessor.

Segundo Sharma (1984), o grão de bico é cultivado na Índia tanto como cultura solteira, com em rotação com sorgo granífero ou sacarino, milheto, trigo, e, ocasionalmente, com arroz. Pode ser cultivado em consórcio com trigo, cevada, linho e mostarda. O cultivo misto proporciona a vantagem de um controle satisfatório do murchamento das plantas.


C a p í t u l o I | 88 IRRIGAÇÃO É uma planta resistente à estiagem. Embora a semente do grão de bico cresça com a umidade acumulada no solo da chuva que caía anteriormente, mesmo assim o grão de bico responde positivamente à irrigação suplementar. A irrigação geralmente melhora a nodulação e aumenta o rendimento e o número de vagens.

Com base em experimento realizado na Embrapa Hortaliças, recomenda-se aplicar uma lâmina líquida de água de 15-20 mm após a semeadura em solo seco e daí até a completa emergência 4-6 mm a cada dois dias. A partir desse ponto, deve-se irrigar apenas uma vez por semana. A quantidade de água a ser aplicada por irrigação depende da evapotranspiração da cultura, que cresce com o desenvolvimento da mesma. Na falta de meios e dados para uma estimativa mais criteriosa da evapotranspiração pode-se utilizar os dados da Tabela 7 (NASCIMENTO et al., 1998). O total de água aplicado à cultura deve ser no máximo, igual a 400 mm e as irrigações devem ser suspensas quando os grãos estiverem completamente formados e as vagens dando sinais de maturação. Um ponto importante que deve ser observado diz respeito à eficiência do sistema de irrigação utilizado.

Tabela 7. Quantidade líquida semanal de água a ser aplicada à cultura do grão-de-bico em condições semelhantes às do Distrito Federal.

Período* (Dias após a emergência)

Lâmina Líquida por Semana (mm)

0-15

15

16-42

25

43-84

35

85-98

Paralisar a irrigação

*Para cultivares com ciclo médio de 110 dias. Fonte: Washington L. C. Silva, 1998.

O cultivo do grão-de-bico, por exigir pouca água em seu ciclo (400 mm), pode ser realizado em áreas de sequeiro onde a água acumulada no perfil no solo e as chuvas ocasionais de inverno atendem aos seus requisitos. Em áreas semiáridas, a irrigação na pré-semeadura e durante o cultivo são realizadas para garantir bons rendimentos. Por outro lado, as irrigações pesadas ou as chuvas abundantes danificam o grão de bico, principalmente nos estádios de floração e enchimento de vagens, uma vez que a planta


C a p í t u l o I | 89 desprendem flores e vagens que iniciaram seu desenvolvimento, o que reduz a produtividade. Essas irrigações podem ser por inundação, por sulco, por irrigação localizada (microaspersão e gotejamento) e por aspersão (LEITON SOUBANNIER, 1985).

Irrigação por inundação. A irrigação por inundação é aplicada principalmente quando há falta de umidade no solo para o plantio. Para aplicar esse sistema, o terreno deve ser sistematizado de forma que as áreas a serem irrigadas, ou parte delas, sejam praticamente horizontais e cercadas por bordas de contenção de água (Figura ). Nesse modo, uma vez que a parcela é preenchida com água, a entrada é fechada, a água não circula sobre o solo, se infiltra ou evapora. Esse tipo de irrigação, além de consumir muita água, também tem um efeito indesejável na compactação do solo (DÍAZ ORTIZ, 2006).

Sulcos ou leirões (Camalhões). Em solos de aluvião, são sugeridas 1 ou 2 irrigações suplementares, a segunda irrigação dependendo da umidade disponível no enchimento da cápsula ou da presença de chuvas extemporâneas. O comprimento dos sulcos não deve exceder 120 metros. Também podem ser construídos no momento de requerimento da irrigação, quando as plantas já emergiram, seguindo aproximadamente as curvas de nível. Deve-se tomar cuidado para que a inclinação seja uniforme (Figura 53).

Figura 53. Irrigação por inundação na etapa de pré-semeadura. B) Irrigação por sulco na floração. Fotos: R. Coirini.


C a p í t u l o I | 90 Esses dois sistemas não são muito eficientes, pois é usada muito mais água do que o necessário.

Sistemas de irrigação localizada. A água é aplicada em pequenas vazões diretamente nas raízes das plantas. Os sistemas de irrigação por microaspersão e gotejamento são os mais utilizados. A microaspersão espalha a água em uma área maior na superfície do solo e é mais adequada para solos arenosos. No gotejamento, a água é aplicada na forma de gotas em pequenos pontos no solo e é mais adequado para solos com presença de argila. O uso da irrigação localizada permite obtenção de maior eficiência no uso da água e a utilização de água salina, pois aplica menos água e consequentemente menos sal no solo. O uso da fileira dupla com o sistema de irrigação por gotejamento permite que duas fileiras de plantas do grão de bico sejam abastecidas por uma mangueira de gotejadores (Figura 54).


C a p í t u l o I | 91

Figura 54. Cultivo do grão de bico por gotejamento. Fotos: A. Oliva.

Irrigação por aspersão. Consiste em um mecanismo que espalha a água por toda a superfície como se fossem gotas de chuva, permitindo um controle mais eficiente da quantidade de água aplicada. O mais amplamente usado para as grandes superfícies é o pivô central (Figura 55). Os sistemas de pivô central irrigam grandes superfícies de maneira circular. Eles são usados em locais onde a água é um fator fortemente limitante. A eficiência da irrigação por pivô é de 85% a 90% (SPLINTOR, 1979).


C a p í t u l o I | 92

Figura

55.

Irrigação

por

aspersão

com

pivô

central.

Fonte:

www.Spanich.alibaba.comspanish.alibaba.com.

Também tem o método de aspersão composto, normalmente, por um conjunto motorbomba, tubulações, aspersores e acessórios. Este sistema de irrigação pode se adaptar às ondulações do terreno (não precisa ser plano), podendo ser usado em terreno com inclinação de até 30%. Sua eficiência da irrigação é de 60% a 75%.

ADUBAÇÃO DO GRÃO DE BICO Para que ocorra uma adequada mineralização do restolho é necessário que o mesmo seja incorporado à massa do solo, e que a temperatura e a umidade possam favorecer esse processo. No verão, as condições ambientais tendem a acelerar as taxas de mineralização, favorecendo a liberação dos nutrientes disponíveis para o ciclo de cultivo do grão-debico. Quando o problema que surge no plantio é a falta de água, especialmente em sistemas de sequeiro, a incorporação e a maior mineralização dos resíduos das plantas elimina os restolhos da superfície, consequentemente irá aumentar as taxas de evaporação e a erosão incidente.


C a p í t u l o I | 93 Nitrogênio. Durante a germinação, o nitrogênio é fornecido pelas proteínas e aminoácidos dos cotilédones. Posteriormente, o nitrogênio é retirado do solo nos primeiros estágios até a formação de nódulos nas raízes. Uma vez formados os nódulos, o suprimento de nitrogênio para a planta é feito fundamentalmente por fixação biológica. A proporção de nitrogênio total obtido pela planta por essa via varia entre 60 e 80%. Este nutriente é o principal componente da estrutura da planta, através da transformação que realiza a proteínas. Para a formação de grãos, a planta utiliza muita energia para transformar nitrogênio em proteínas de alto valor biológico (KARLIN et al., 2003). O alto teor de nitrogênio no solo no momento da nodulação pode ser prejudicial, uma vez que o gasto energético para obter nitrogênio por fixação biológica é maior do que o obtido pela absorção direta do solo (ABRIL et al, 1997). No entanto, López-Bellido el al. (2004) indicam que o nitrogênio residual aplicado ao cultivo antecessor na cadeia de rotação, o qual fica como remanescente para o grão de bico, não afetaria a subsequente nodulação. Por esse motivo, é conveniente deixar um remanescente de nitrogênio, procedente da fertilização da cultura predecessora. Antes de realizar a inoculação de sementes, recomenda-se realizar uma análise do teor de nitratos no solo. A inoculação é extremamente importante, especialmente em zonas áridas, onde os níveis totais de nitrogênio são muito baixos como para permitir um aproveitamento regular durante o ciclo ontogenético da planta. Os requerimentos de nitrogênio no ciclo da cultura são entre 120 kg/ha (SAXENA, 1987) e 150 kg/ha (ALBRECHT et al., 2010), dependendo da cultivar, produtividade, temperaturas durante o desenvolvimento, umidade, fertilidade geral do solo. A contribuição da mineralização de restolho nos estágios finais da planta (enchimento de grãos) deve ser levada em consideração, pois a fixação biológica vai perdendo sua funcionalidade.

Fósforo: O fósforo é fundamental já que a planta o utiliza como fonte de energia para os processos metabólicos em forma de ATP. Esse nutriente é pouco móvel, pois são as raízes encarregadas de buscá-lo no solo, absorvendo-o por difusão. Sua fonte é fundamentalmente inorgânica, sendo reduzido o fornecimento orgânico, embora não seja menos importante. Ao ser cultivado o grão-de-bico, principalmente em zonas áridas e semiáridas, é possível apresentar problema em solos com pH em torno de 8, pois os fosfatos se ligam ao cálcio


C a p í t u l o I | 94 proveniente dos carbonatos, gerando fosfatos de cálcio mais insolúveis. O mesmo ocorre em solos com pH mais ácido (5,5), onde os fosfatos se ligam ao alumínio, fenômeno que ocorre no nordeste da Argentina. Apesar de a planta possuir mecanismos que facilitam a disponibilidade de fósforo pela liberação de ácidos orgânicos, é conveniente que o pH do solo seja mantido entre 6 e 7, onde a solubilidade dos fosfatos é maior. Para isso, faz-se necessário a aplicação de gesso (em solos alcalinos) ou de calagem (em solos ácidos), mas são técnicas de alto custo. Para que a operação não seja tão onerosa, é aconselhável realizar a adubação orgânica do solo quando a exploração é intensiva, com o propósito de que os ácidos na matéria orgânica diminuam naturalmente o pH, melhorando assim a fertilidade do solo. Se um solo alcalino (rico em carbonato de cálcio) é fertilizado com fósforo, existe o risco de o fósforo ser imobilizado. As práticas de correção da pH devem ser avaliadas com base nos custos-benefícios. Os requerimentos médios de fósforo para o cultivo do grão de bico são de 15 kg/ha (SAXENA, 1987) a 18 kg/ha (FONTANETTO, 2011), ou seja, entre 6 e 7,2 ppm a serem extraídos em 20 cm de solo com uma densidade de 1,2 Tn/m3. Esses valores constituem dados de referência para decidir sobre a fertilização fosfatada, recomenda-se realizar a análise do solo a fim de determinar a dose a ser aplicada: Dose a aplicar = (Pmeta - Pdisp) . De Sendo Pmeta a quantidade de fósforo (ppm) requeridos para a cultura, Pdisp o fósforo disponível no solo (ppm) e De a dose equivalente, ou seja, o kg/ha requeridos para aumentar o fósforo Bray em 1 pp (fósforo extraído por solução ácida de fluoreto de amônio) (QUINTERO, 2002) Observou-se que a cepa de Mesorhizobium mediterraneum Jarvis promove o crescimento do grão de bico com e sem a adição de fosfatos no solo. Os resultados obtidos por Peix et al. (2001) mostram que a eficiência da mobilização de fósforo, graças a essa cepa, é maior, obtendo-se incrementos de 100% de fósforo na planta. Da mesma forma, detectou-se também incremento de matéria seca, nitrogênio, potássio, cálcio e magnésio, concluindo que a contribuição dessa cepa não se baseia unicamente na adição de nitrogênio, mas que aumentam outros nutrientes. É possível que, ao haver um melhor aproveitamento do fósforo pela planta, esta tenha um maior desenvolvimento radicular que permita uma melhor exploração, consequentemente irá explorar melhor os nutrientes do solo.


C a p í t u l o I | 95 Potássio. O potássio é o componente necessário para a manutenção hídrica da planta, uma vez que regula os potenciais osmóticos, permitindo que se comporte melhor em situações de estresse hídrico. É também um co-fator de inúmeras enzimas usadas no metabolismo. Sua absorção é realizada principalmente por meio de difusão, embora parte o faça por fluxo massal. Os solos da Argentina são particularmente ricos nesse nutriente, mas o conteúdo diminui à medida que se afasta da região dos Pampas, em direção a zonas de solos arenosos ou pequeno bosque. É necessário realizar análises do solo em áreas onde se suspeite da presença tanto de baixas como de altas quantidades desse nutriente. Os requerimentos médios de potássio no grão de bico são de 60 kg/ha, ou seja, 25 ppm. A presença de NaCl no solo poderá afetar a absorção de potássio pela competição com o sódio. Em cultivares resistentes à salinidade, um aumento de NaCl resulta em aumentos na relação K/Na nas folhas e um aumento de sódio nas raízes (SAINIA et al., 2004).

Enxofre. O grão-de-bico é uma planta com altas necessidades de enxofre, embora ainda não tenham sido realizados estudos exaustivos. Os requerimentos de enxofre para grão de bico, utilizados pelos produtores de Santa Fé, Argentina, são de 8 kg/tn de grãos colhidos sob condições de semeadura direta (ALBRECHT et a., 2010). Por outro, algumas deficiências graves de ferro, zinco e molibdênio foram observadas no cultivo do grão de bico, o que pode ser facilmente corrigido com adubação foliar.

Nas condições do Cerrado brasileiro. Cinco ou seis meses antes do plantio, o solo deve ser analisado para verificação do nível de fertilidade. A presença de alumínio nocivo, o baixo pH e os baixos teores de cálcio e magnésio determinam a necessidade de calagem. A quantidade de calcário a ser aplicada é baseada nos resultados da análise da amostra de solo. A análise de solo é uma ferramenta básica para recomendações de calagem. Sua aplicação tem sido reconhecida como uma das principais técnicas na agricultura para controlar a acidez dos solos, reduzir os níveis de Al+3 e atuar como fonte de Ca+2 e Mg+2 para as culturas agrícolas. É importante ressaltar que a pesquisa orienta que a aplicação do calcário, se for necessária, deverá ser feita dois meses antes do plantio, para que o calcário tenha produzido a correção pretendida ou a disponibilização de Ca e Mg na quantidade esperada.


C a p í t u l o I | 96 Contudo, mesmo que não dê para aplicar calcário com a antecedência recomendada, apurando-se a necessidade de calagem através da análise de solo, deve-se fazer a calagem a qualquer tempo (Figura 56), pois os efeitos benéficos da calagem serão alcançados no decorrer do desenvolvimento da cultura. Na implantação da lavoura do grão de bico, a calagem pode ser realizada em área total, aplicando-se 50% antes da aração e os outros 50% após a aração e antes da gradagem. Este procedimento tem a finalidade de uniformizar a distribuição do calcário na camada arada do terreno para um crescimento mais abundante das raízes das plantas cultivadas.

Figura 56. Aplicação de calcário dolomítico no solo, aproximadamente um mês antes do plantio do grão de bico.

Estando o solo corrigido, com pH acima de 5,8, e sendo rico em matéria orgânica, (acima de 2,5%), uma adubação básica de 250 a 300 kg de superfosfato simples por ha, 160 kg de cloreto de potássio, 60 kg de nitrogênio e 45 kg de FBE BR-12 (coquetel de micronutrientes em pó: Cálcio (Ca): 7,1% Enxofre (S): 5,7% Boro (B): 1,8% Cobre (Cu): 0,8% Manganês (Mn): 2,0% Molibdênio (Mo): 0,1% Zinco (Zn): 9,0%...), proporcionará os nutrientes para uma boa produção. Essa adubação deve ser feita no sulco de plantio, evitando-se o contato dos adubos com as sementes, ou a lanço em toda área. Em terras ricas em matéria orgânica, dispensa-se esta adubação química, porém, em solos pobres em matéria orgânica, a adubação básica anteriormente citada poderá ser completada mediante cobertura com ureia na dosagem de 10 a 25 kg/ha, 20 a 25 dias após germinação e, em seguida, aplicada uma irrigação (SHARMA, 1984).


C a p í t u l o I | 97 BACTÉRIAS FIXADORAS DE NITROGÊNIO A espécie Cicer arietinum (grão de bico) pertence à família das leguminosas e, como tal, é capaz de viver em uma relação simbiótica com as bactérias do gênero Rhizobium sp, as quais são microrganismos fixadores de nitrogênio atmosférico que o incorporam na planta e no solo. Daí o qualitativo de "melhorantes" que têm as leguminosas. Ou seja, é a capacidade do grão de bico de formar nódulos radiculares com Rhizobium sp., produzidos naturalmente no solo (Figura 57).

Figura 57. Grupo de plantas das leguminosas, o qual pertence o grão de bico, é capaz de fixar uma grande quantidade de nitrogênio atmosférico. Raiz de grão de bico com numerosos nódulos de Rhizobium sp. Atualmente empresas privadas têm desenvolvido e oferecem inoculantes específicos para o cultivo do grão de bico, incluindo aditivos que estimulam o processo, que estão sendo utilizada no estado de Córdoba, Argentina. Essa produção do grão-de-bico desde seu início foi acompanhada por inoculação, dada a inexistência em seus solos de bactérias específicas capazes de estabelecer simbiose funcional com o grão-de-bico, como por exemplo, o Mesorhizobium cicerii ou M. mediterraneum.


C a p í t u l o I | 98 A inoculação é uma prática agronômica que incorpora artificialmente microrganismos selecionados às sementes ou ao solo, para que eles cumpram uma função benéfica no crescimento e/ou no desenvolvimento da cultura. Em solos sem rotação prévia com grão de bico, é frequente observar um forte impacto negativo sobre a produção devido a falhas na nodulação (Figura 58). As plantas se apresentam verde amareladas e sem nódulos, portanto não fixam N2. Por outro lado, em solos com histórico de cultivo de grão de bico, estabelecem-se as populações de rizóbios introduzidas pela prática repetida de inoculação. Por ser o rizóbio pouco móvel no solo, sua distribuição espacial é aleatória, consequentemente, é possível que nem todas as sementes estejam em contato com essas populações bacterianas presentes no solo.

Figura 58. A) Presença de nódulos nas diferentes partes da raiz principal e lateral, B) Campo do grão de bico com inoculação correta e C) Campo com falha na inoculação. Foto: © M. Toscano.


C a p í t u l o I | 99 A semente não é pré-inoculada com Rhizobium porque os tratamentos bactericidas nas sementes podem prejudicar o Rhizobium. Alguns inoculantes comerciais são vendidos na forma de grânulos que podem ser administrados através de um aplicador com um tubo de descarga no sulco ou próximo a ele. Ao armazenar o inoculante no solo, a exposição à luz solar direta ou a altas temperaturas que podem destruir bactérias deve ser minimizada (BRICK et al., 1998). Esse fenômeno era conhecido empiricamente pelos agricultores desde os tempos antigos, pois se pode ler nas obras de Columela e Abu Zacaría; mas então eles já sabiam que de todas as espécies de leguminosas cultivadas, o grão de bico era o cultivo menos melhorante. De fato, atualmente se pode medir a quantidade de nitrogênio fixada por várias espécies, e isso permitiu comprovar que, enquanto a fava (Vicia faba) é capaz de incorporar 200 kg/ha/nitrogênio por safra, as ervilhas, lentilhas e soja são um pouco menos eficazes. Já o cultivo do feijão chega a fornecer aproximadamente 100 kg/ha/safra e o grão-de-bico com 50 kg/ha/safra. Apesar de ser considerado de baixa eficácia na fixação de nitrogênio, o grão de bico ainda é muito sensível a um doente que se manifesta no inverno, denominada de queima ascochyta (Ascochyta rabiei). Mas para se livra de tal doença, o produtor tenta antecipar, o máximo possível, a época de semeadura, com o qual as bactérias simbólicas das raízes apenas teriam tempo para desenvolver sua função. Este fenómeno biológico-agronômico do grão de bico é responsável diretamente por seu desempenho pouco melhorante. Ao contrário, a qualidade melhorante do grão de bico aumenta adiantando a data de plantio e diminui ao retrasá-la, cujo manejo terá que ser utilizado sabiamente para alcançar uma boa colheita, assim como fixar uma considerável quantidade de nitrogênio, além de evitar o aparecimento de doenças na lavoura. Nos casos em que o enterramento do restolho da safra anterior estiver muito próximo da época do plantio subsequente, pode acontecer que os microrganismos do solo, estimulados pela incorporação de matéria orgânica abundante, se multipliquem ativamente e vão competir pelo nitrogênio existente no solo com as plantas recémgerminadas, gastando assim grande quantidade do mesmo. Esse fenômeno se explica ao fato de que as bactérias Rhizobium sp se comportam como parasitas durante a primeira fase de sua incorporação à planta, pois em ambos os casos se podem sugerir a distribuição


C a p í t u l o I | 100 no campo de uma pequena quantidade de nitrogênio (20-30 kg / ha), fato que os produtores conhecem empiricamente. A maior contribuição de nitrogênio fixado aos ecossistemas terrestres provém da associação Rhizobium-leguminosa, a qual se estima em torno de 50%. Por tanto, qualquer prática de manejo do solo que contribuía a proteger o ecossistema que formam os microrganismos próximos à raiz, é de vital importância para a agricultura em termos de aumento da fertilidade do solo e resíduos de colheita, reduzindo o impacto negativo dos fertilizantes químicos para o ambiente (SAXENA et. al., 2014; Figura 59).

Figura 59. Campo de grão de bico com excelente desenvolvimento das plantas que não recebeu nenhuma adubação química.


C a p í t u l o I | 101 CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS Para produzir bem, a cultura do grão de bico deve ser mantida no limpo principalmente durante os primeiros 40 dias após a emergência das plântulas no campo. É uma planta competidora fraca com as ervas daninhas em todas as fases do crescimento (NASCIMENTO et al., 1998). A remoção de plantas daninhas pelo sistema mecânico e /ou manual pode ser realizada quando o espaçamento entre linhas é usado na lavoura. Um método antigo, porém eficaz para o controle de plantas daninhas tem sido a capina manual e/ou o uso de cultivador. No entanto, essas atividades manuais deixaram de ser executadas, por causa do seu alto custo. Por outro lado, os cultivadores atualmente têm sido considerados uma ajuda favorável para o controle de plantas daninhas. Entretanto, em ocasiões que existam períodos de ausência de chuvas, o produtor pode capinar sem problema o terreno, apesar de que essa condição favorável estará condicionada pelo estado do clima. Mesmo assim, a manutenção de extensas áreas livres de plantas daninhas através de cultivo mecânico é difícil, principalmente devido ao pequeno espaçamento, variando de 45 a 60 cm, entre as fileiras de plantas. Os herbicidas de pré-emergência, como o Fluchloralin na dosagem de 1 kg a.i. ha-1 ou o Pendimetalina na dosagem de 1,0 a 1,5 kg a.i. ha-1, são considerados eficazes no controle de plantas daninhas em seu estádio precoce (GAUR et al., 2010). Por esse motivo, pode utilizar-se o método químico, que permite o controle do mato sem causar prejuízos à produção. Outros herbicidas utilizados nessa cultura na Argentina são: -Fomesafen 22,5%: aplicado tanto em pós-emergência quanto na pré-emergência. Atua contra gramíneas anuais na dose de 1-1,5 litro/ha. Apresentado como produto concentrado emulsionável. -Prometrina 20%: é aplicada na pré-emergência da cultura como suspensão concentrada, usando contra gramíneas anuais e dicotiledôneas nas doses de 1,25-1,75 litros/ha. -Quizalofop etil 10%: é um herbicida sistêmico, apresentado como concentrado emulsionável, utilizado contra gramíneas anuais na dose de 1,25-1,75 litros/ha. -Terbutilazina 15% + Terbutrina 35%: é usado contra gramíneas e dicotiledôneas anuais em suspensão concentrada com doses de 2-4 litros/ha.


C a p í t u l o I | 102 O grão de bico, como toda leguminosa, é muito propenso ao aparecimento de plantas daninhas, principalmente no inverno, porque tem mais tempo no solo, por ser cultivado em tempo chuvoso e pela dificuldade do espaçamento reduzido para conseguir aplicar o herbicida entre as linhas de plantio. Na pré-semeadura, a Trifluralina é usada a uma dose de 1,5 litros por hectare, incorporada ao solo com um cultivador dentro de seis horas após sua aplicação. Uma vez incorporado, o plantio é realizado tentando mover o solo o menos possível, pois esse herbicida atua em forma de gás, que permanece na camada superficial do solo; portanto, qualquer trabalho que seja realizado será em detrimento da efetividade do herbicida. Em pré-emergência, a Terbutilazina é geralmente usada com Terbutrina a uma dosagem de 2,5 a 3 litros por hectare. Tem a desvantagem de que, para um bom resultado, é necessário chover antes de 12 a 14 dias após a sua aplicação. Também é utilizado qualquer um dos avenicidas existentes no mercado, mas só é recomendável quando se detecta a presença de aveia silvestre (Avena fatua). O herbicida Terbutrina proporciona adequado controle contra as plantas daninhas monoe dicotiledôneas (Figura 60), mas sendo o referido herbicida seletivo para o trigo e a cevada, portanto se o grão-de-bico for o próximo cultivo a um destes, haverá uma grande emergência de trigo e cevada no campo do grão-de-bico.

Figura 60. Aplicação do herbicida de forma eficiente permite manter a lavoura do grão de bico livre de plantas daninhas. Foto: Jose Del Moral De La Vega; Angel Mejias Guisado; Manuel Lopez Morillo.


C a p í t u l o I | 103 DOENÇAS, PRAGAS E NEMATÓIDES Os agentes causadores de doenças podem ser classificados em parasitas biotróficos ou necrotróficos. Os primeiros são aqueles que extraem nutrientes única e exclusivamente dos tecidos vivos, estes causam doenças do tipo míldio, oídio e ferrugem, e seu controle é realizado, preferencialmente, com o uso de cultivares e fungicidas resistentes. Os necrotróficos mostram parasitismo na planta viva e saprofitismo na planta morta (restolho). Eles são, portanto, potencialmente controláveis com a rotação de culturas, complementadas pelo tratamento de sementes e pela aplicação de fungicidas nos órgãos aéreos (SILLÓN; VIOTTI, 2016). As principais fontes de inoculo são o solo, os restolhos, as plantas voluntárias de grãode-bico, as plantas daninhas suscetíveis e as sementes. Por isso, é necessário evitar pelo menos três anos outras culturas suscetíveis, ou até a decomposição completa dos restolhos infectados. Também os lotes deverão ser mantidos livres de ervas daninhas. A profundidade de semeadura não deverá ser superior a 5-8 cm em cultivos de outono, porque a temperatura do solo é baixa, trata-se o grão de bico de uma espécie hipógea e, se prolonga o tempo de emergência, as sementes são propensas ao ataque dos fungos do solo por um longo período. As variações das datas e da profundidade de plantio introduzem mudanças no ambiente de crescimento, podendo se tornar um fator de estresse para a planta, aumentando a suscetibilidade do cultivo. Em condições de campo, destacam-se, como causadores de sérios danos ao cultivo do grão de bico, a murcha fusariose, entre as doenças, a lagarta do grão, entre as pragas e o Meloidogyne spp., entre os nematoides.

Doenças Podridão de sementes ou "falhas" de emergência. Quando as sementes são parasitadas em uma das fases de pré-germinação, elas surgem debilitadas, sem radícula. Em outros casos, pode ocorrer que as sementes germinem, mesmo quando as plântulas não chegam a emergir e também vão aparecer, como sintoma frequente, que as plantas recém-nascidas manifestem primeiramente uma podridão branda no nível do colo e, alguns dias depois, são constatados a sua morte, fenômeno cuja distribuição no campo é geralmente sob a forma de reboleiras (SILLÓN; VIOTTI, 2016).


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As causas desses sintomas são geralmente diversas, embora a mais frequente seja o gênero Pvthium spp. Esses parasitas pertencem ao grupo dos fungos menos evoluídos e, portanto, seu desenvolvimento está ligado à presença de água em estado líquido e em dias frios, condições que geralmente ocorrem em plantios precoces e em terrenos pouco drenados (Figura 61; SILLÓN; VIOTTI, 2016).

Figura 61. Problemas relacionados ao ataque de Pyhtium spp durante a semeadura. Foto: Margarita Sillón (2011).

Seu controle deve ser feito através do uso de tratamento específico de sementes para esse patógeno. Quando os gêneros predominantes são Pythium e Phytophthora, Moore et al. (2011) consideram que, uma vez declarada a doença, não há possibilidades de controle; portanto, as medidas de manejo são exclusivamente preventivas. Devem-se evitar as áreas com problemas de inundações, favorecendo a drenagem rápida dos lotes; aumentar o espaçamento entre fileiras para evitar a disseminação do patógeno na mesma linha; usar tratamentos de sementes com fungicidas que incluam metiltiofanato e metalaxil mais captan na mistura.

Podridão de raízes e colo nas plantas. Dentre os patógenos mais importantes que atacam a cultura do grão-de-bico destacam-se os fungos de solo, que causam podridão de raízes e de colo nas plantas. Os principais fungos associados a esse tipo de sintoma são


C a p í t u l o I | 105 Rhizoctonia solani, Fusarium soteni e Sclerotium rolfsii, muito comuns nos solos brasileiros, com amplo ciclo de hospedeiros e com altas capacidades de sobrevivência no solo. O fungo Cylindrocladium c1avatum também já foi registrado na região dos cerrados causando esse tipo de sintoma em grão-de-bico (SANTOS, 1998). Um dos principais problemas sanitários do cultivo do grão de bico é a fusariose, causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. sp. ciceris. Em muitos casos, essa doença parece estar relacionada à Rhizoctonia spp., que é um dos principais problemas do grão de bico detectados na região Tucumán, estado de Catamarca (Argentina) (AGUAYSOL et al., 2012). A fusariose afeta na forma de reboleiras, que são detectadas aproximadamente aos 25 dias após o plantio. Os sintomas são amarelecimento foliar, podridão de raízes e necrose das plantas. Além disso, observa-se o estrangulamento no colo das plantas (Figura 62). Ou seja, as manchas nas hastes são as mais graves, porque elas impedem a circulação da seiva e a planta termina com aspecto seco e de cor de palha (DE LISI et al., 2013; Figura 63). Controle: 1-Não repetir o cultivo do grão de bico na mesma parcela pelo menos três ou quatro anos; 2-Aplicar o fungicida Folpet 50% em suspensão concentrada na dose de 0,25-0,30%.

Figura 62. Estrangulamento no colo de plantas de grão de bico afetadas por fusariose. Foto: Foto: Sebastian Reznikov; L. Daniel Ploper; M. Eugenia Acosta (2013).


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Figura 63. Sintomas da murcha de Fusarium. Foto: Gaur et al., 2010.

Os sintomas gerais são uma debilitação generalizada das plantas, que precede ao murchamento e a morte ou "queima". Nas raízes e na base das hastes, podem ser observadas lesões de tecido morto, acompanhadas de estrangulamento do colo e zonas necróticas na base das hastes (Figura 64). Os responsáveis por essa doença são os fungos Fusarium spp. e Rhizoctonia spp.

Figura 64. Detalhe de necrose ocasionada na base de talos, por ataque de Fusarium spp. e Rhizoctonia spp. Foto: Margarita Sillón, Maciel, 2011.


C a p í t u l o I | 107 Por outro lado, a doença causada pelo complexo Fusarium spp.- Macrophomina phaseolina, conhecido como seca do grão de bico, produz a desidratação repentina das plantas nos estados reprodutivas da cultura, quando estão presentes condições de alta temperatura e baixa umidade relativa (Figura 65). Os sintomas se manifestam como um murchamento geral da planta, que adquire uma cor cinza-esverdeada; em alguns casos, apenas parte da planta é afetada dessa maneira. No caule, podem aparecer manchas pretas externas, no nível do colo e no tecido interno da medula (DE LISI et al., 2013).

Figura

65.

Plantas

marchadas

de

coloração

cinza-esverdeada,

devido

à

desidratação produzida pela seca do grão de bico. Foto: Sebastian Reznikov; L. Daniel Ploper; M. Eugenia Acosta (2013).

O fungo Sclerotium rolfsii geralmente apresenta um crescimento micelial branco (semelhante a fios de algodão) sobre a superfície do colo e da raiz necrosada (Figura 66). Algumas vezes podem-se verificar pequenas bolinhas marrom-claras (escleródios) junto ao crescimento do fungo no colo da planta doente (SANTOS, 1998).


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Figura 66. Raiz de planta de grão-de-bico com podridão causada por Sclerotium rolfsii. Foto: Santos (1998).

Vários fungos podem afetar a parte aérea do grão de bico causando lesões nas folhas, nas hastes e nas vagens, tais como Ascochyta rabiei, Botrytis cinerea, Alternaria alternata, Colletotrichum dematium, Phoma medicaginis, Stemphylium sarciniforme, Uromyces ciceris-erietini, Oidiopsis taurica e Sclerotinia sclerotiorum. Este último é muito comum no Brasil, principalmente em áreas irrigadas de cultivo intensivo de hortaliças como tomate e ervilha, além de soja e feijão.

Queima ascochyta (Ascochyta rabiei). A doença da queima ascochyta do grão de bico é considerada uma das patologias mais devastadoras do mundo, especialmente em países onde existem condições de alta pluviosidade e temperaturas moderadas durante o período de desenvolvimento da cultura. O fungo causador da doença possui uma fase perfeita [(Didymella rabiei) (Kovacheuski) V. Arx] e uma fase imperfeita (Ascochyta rabiei) (Pass.). É um fungo necrotrófico que sobrevive em restos de colheitas doentes, a fase perfeita é constituída por uns corpos globosos (diâmetro de 75-150 x 120-250 μm) dentro dos quais se encontram as ascas com os ascósporos (12,5‐19 x 6,7-7,6 μm). A fase imperfeita é formada por corpúsculos pretos mais ou menos esféricos (65-245 μm) que aparecem nas manchas dos órgãos afetados pela doença e que tem no seu interior uns esporos de 6‐16 x 3,4-5,6 μm (SILLÓN, 2014).


C a p í t u l o I | 109 A doença produz manchas arredondadas com bordas escuras nas folhas e vagens As manchas nos talos os afetam seriamente, impedindo a circulação da seiva e provocando sua morte (Figura 67). No interior dessas manchas, são observadas as estruturas de frutificação do patógeno, que correspondem a picnídios (corpos frutíferos assexuados do fungo) de cor escura. Em estados mais avançados, várias manchas nas folhas e frutos juntam-se, levando à queima das plantas. Os danos são maiores na época da floração e formação de vagens (SHARMA, 1984; DE LISI et al., 2013; SILLÓN, 2014).

Figura 67. Sintomas da queima da ascochyta nas folhas, frutos, caule e ataca toda a parte aérea da planta do grão de bico. Foto: Gaur et al. (2010).

Os primeiros focos da doença se manifestam como plantas isoladas, que se espalham após algumas semanas, constituindo reboleiras bem definidas de plantas mortas (Figura 68). O inoculo primário pode ser semente infectada ou restos de cultivo. Este último pode manter vivo o patógeno vivo mais de dois anos, nos lotes em que a doença foi detectada. As condições ideais para a infecção são faixas de temperatura de 15 ºC a 25 ºC e com 6 a 12 horas de alta umidade relativa. A dispersão secundária do inoculo é atribuída ao vento (SHARMA, 1984; DE LISI et al., 2013; SILLÓN, 2014).


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Figura 68. Cultivo de grão de bico com presencia de reboleira de plantas afetadas por queima ascochyta. Foto: Sebastian Reznikov; L. Daniel Ploper; M. Eugenia Acosta (2013).

Os sintomas de Ascochyta rabiei começam a se tornar visíveis após quatro ou cinco dias e a formação de picnídios em 7 a 10 dias. Trata-se de um patógeno policíclico, portanto, vários ciclos de infecção podem ocorrer durante uma estação agrícola, se as condições forem favoráveis ao desenvolvimento da doença. Para seu manejo, recomenda-se evitar a monocultura durante vários ciclos agrícolas, realizar uma análise da patologia na semente antes da semeadura e utilizar fungicidas específicos no tratamento de sementes para controlá-la. Na Tabela 8, encontram-se alguns fungicidas recomendados contra a queima ascochyta.


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Tabela 8. Fungicidas específicos recomendados contra a queima ascochyta. DOSES

APRESENTAÇÃO DO PRODUTO

Captan 10%

20-30 kg/ha

Pó para polvilhar

Clortalonil 15% + Macozeb 64%

0,25-0,30%

Pó molhável

Clortalonil 15% + Maneb 64%

0,25-0,30%

Pó molhável

20 kg/ha

Pó para polvilhar

0,40-0,60%

Pó molhável

0,25%

Pó molhável

Folpet 30% + Oxicloruro de cobre 16%

0,17-0,25%

Pó molhável

Hidróxido cúprico 50%

0,15-0,25%

Pó molhável

Mancozeb 12% + Oxicloruro de cobre 8.6% + Sulfato de cobre 2.5% + Carbonato básico de cobre 2.8%

0,40-0,60%

Pó molhável

Mancozeb 40% + Sulfato de cobre 11%

0,30%

Pó molhável

Maneb 8% + Sulfato cuprocálcico 20%

0,40-0,60%

Pó molhável

0,40%

Pó molhável

0,50-0,75%

Pó molhável

MATERIA ACTIVA

Clortalonil 5% Folpet 10% + Sulfato cuprocálcico 20% Folpet 30% + Mancozeb 40%

Oxicloruro de cobre 37.5% + Zineb 15% Sulfato cuprocálcico 25% Fonte: InfoAgro

O controle contra o aparecimento da doença deve usar-se medidas de controle integrado, tais como: - Realização de rotações de culturas suficientemente espaçadas no tempo (mínimo de 4 anos); - Destruição dos restolhos das colheitas anteriores (queima) que possam ser fonte de inoculo; - Semear campos afastados daqueles que tenham estado infetados; - Eleger variedades resistentes ou tolerantes; - Tratar as sementes com fungicida e empregar as sementes certificadas. Como as sementes podem ser portadoras da doença, recomenda-se o tratamento com: Benomil, Tiram ou Tiabenzadol; - Destruição de focos iniciais da doença para evitar a sua propagação; - Aplicação preventiva de clorotalonil (1,25 g/l i.a.). Este tratamento deverá iniciar-se antes da floração, continuando sempre que as condições climáticas sejam favoráveis ao


C a p í t u l o I | 112 desenvolvimento da doença. Em relação aos tratamentos foliares, o produto que apresentou melhor resultado foi o clorthalonil.

Ferrugem do grão de bico. O agente causador é o fungo biótrofo, Uromyces cicerisarietini (Grogon) Jacz e Boyer (Classe Basidiomucetes, Ordem Uredinales, Família Pucciniaceae). Esta praga surge quando existe um ambiente favorável e pode causar perdas consideráveis. As pústulas nas hastes e folhas são de tamanho variável e podem cobrir completamente as hastes. As primeiras pústulas são encontradas nas partes inferiores das plantas quando o florescimento começa. Tanto na parte superior quanto na parte inferior das folhas, as pústulas são de cor avermelhada, posteriormente se cobrem de uma auréola roxa que às vezes cobre a folha inteira, dando às plantas uma aparência avermelhada, facilmente distinguível a certa distância (Figura 69). Quando o ataque é muito grave, não há produção de grãos e, se houver, é pequena e os grãos são enrugados e manchados. Para prevenir a doença, ajuste a data de plantio e use as variedades sugeridas.

Figura 69. Folhas com sinais de ferrugem. Foto: Pedro Manjarrez Sandoval.


C a p í t u l o I | 113 Stemphyllum no grão de bico. É uma doença foliar causada por Stemphylium sarciniforme (Cav.) Wilts., que é um fungo necrotrófico que pode persistir nos restos vegetais. O desenvolvimento vegetativo excessivo, a alta umidade e o clima frio (15-20 ºC) favorecem o desenvolvimento da doença. Geralmente afeta as culturas no estádio de floração. Aparecem lesões irregulares, de cor marrom clara, nas folhas, caules e vagens. As sementes das vagens infectadas são descoloridas e enrugadas (SILLÓN, 2014). É uma doença que geralmente não requer controle, exceto quando é sinergizada com outras doenças foliares. Nestes casos, são aplicados fungicidas à base de misturas de triazóis e estrobilurinas.

Míldio do grão de bico. Esta doença é causada pelo fungo Peronospora ciceris. Nas áreas afetadas da planta se observam áreas fundidas e de aspecto algodonoso. Esse crescimento é aparente na face superior, posteriormente a face inferior fica amarela e muda para marrom, com a morte prematura das folhas. Nas vagens, as lesões são de cor verde pálido no início e depois mudam para marrom escuro com áreas manchadas em verde claro. As vagens infectadas ficam mal formadas e na semente, observa-se um crescimento algodonoso de cor branca, semelhante a uma massa delgada de filamentos (Figura 70). Nessa fase, pode ocorrer desfolhamento prematuro da planta, causando um impacto direto no cultivo e na qualidade do grão, diminuindo o rendimento em cerca de 60% (SILLÓN, 2014). Os esporos do fungo são espalhados pelo vento e reinfectam outras plantas quando o tempo está úmido e frio. Sob condições secas e quentes, a doença não progride.


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Figura 70. Folhas com sinais de míldio lanoso: Foto: Pedro Manjarrez Sandoval.

Pragas As principais espécies de insetos que atacam o cultivo do grão de bico nas regiões dos Cerrados e dos Pampas Argentinos são: Heliothis (Heliothis armigera): A lagarta Helicoverpa armigera é amplamente distribuída no Velho Mundo. Foi recentemente detectado na América, primeiro sobre a soja no Brasil e Paraguai, e apenas em 2013 na Argentina (Tucumán), alimentando-se de grão de bico desde agosto e soja durante o verão (FRASCAROLA, 2014). Trata-se da praga mais importante e difundida no campo, embora seus danos variem de ano para ano e de estação para estação (Figura 71). Apesar de ser um produto proibido no Brasil, o Endosulfan é o inseticida mais recomendado em outros países da América do Sul e o seu combate é realizado pulverizado conforme a dose de 3-4 litros/ha.


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Figura 71. Perfurador de vagens (Helicoverpa armigera): larva e vagens danificadas por larva (canto superior esquerdo), ovos (canto inferior esquerdo), pupas (canto superior direito) e mariposa (canto inferior direito). Fotos: Pooran M. Gaur et al. (2010).

Lagarta do grão de bico (Heliothis virescens (Fab. 1775). Ordem Lepidoptera, Família Noctuidae). A lagarta Heliothis virescens é a praga mais importante do cultivo do grão de bico. O adulto é uma mariposa com 30 a 40 mm de envergadura e asas anteriores cinza esverdeadas ou escuras. O acasalamento ocorre logo após a saída do adulto da crisálida e a postura é feita ao anoitecer. Os ovos são depositados de forma isolada, geralmente sobre a gema terminal, os quais podem ser vistos a olho nu. Decorridos 3 a 5 dias da postura ocorre à eclosão dos ovos de cor esbranquiçada, depois se tornam amarelados e finalmente, marrons escuros. No início atacam as flores tenras e após, quando estas começam a murchar ou secar, penetram nas vagens e passam a se alimentar dos grãos novos, causando grandes danos (Figura 72). Ao final do período larval, que pode durar de 13 a 25 dias, as lagartas apresentam-se com 40 a 50 mm. A fase de crisálida dura aproximadamente 14 dias e ocorre dentro do solo, quando o inseto apresenta tamanho de 20 mm e coloração marrom. Inseticidas comerciais aplicados a partir do florescimento da cultura têm sido eficientes para o controle da praga.


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Figura 72. Lagarta de Heliothis virescens. Fotos: Ávalos, D.; Fichetti, P.; Moscardó, L.; Mazzuferi, V. (2016).

Essa lagarta é a principal praga da colheita. As lagartas perfuram a cápsula e se alimentam dos grãos em formação. Nas semeaduras do mês de novembro, a incidência da praga é menor. No caso de requerer o controle químico, é recomendável fazer amostragens periódicas e, ao detectar mais de duas lagartas por cada 10 plantas, fazer a aplicação. Os primeiros ínstares larvais são os mais suscetíveis, por isso é sugerido direcionar as aplicações para larvas pequenas. Dentre os produtos químicos usados para seu controle, recomenda-se azodrin na dosagem de 150 mL\ha (BRANCO, 1998).

Maruca testulalis (Geyer, 1983). Ordem Lepdoptera, Família Pyralidae. É amplamente distribuída nas regiões de trópicos e subtrópicos, onde causa sérios danos. Constitui uma das maiores pragas do caupi na África e Sul da Ásia. O adulto é uma mariposa de cor café-claro, com manchas cinza nas asas anteriores. A larva é de cor café-claro com manchas dorsais, laterais e centrais irregulares de cor café-escuro e com cabeça preta (Figura 73). As larvas geralmente se alimentam de ramos com folhas e flores, destruindo as membranas das flores. Cada fêmea deposita 150 0vos. Os controles químicos são bastante eficientes (SHARMA, 1984).


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Figura 73. Lagarta denominada de broca-das-vagens - Maruca testulalis. Foto: manejebem.com.br.

Mosca-minadora

do

grão

de

bico

(Liriomyza

cicerina):

Minador

da

folha. Liriomyza spp. Os adultos são mosquitos de 1,5- 2,5 mm, de cor amarela com dorso escuro (Figuras 74 e 75). Eles depositam seus ovos nos cotilédones, fazendo com que a planta se desenvolva anormalmente ou se seque pelo ataque de patógenos. A moscaminadora também ataca a folhagem, cavando uma galeria ou minando as folhas, mas esse dano não se reflete nos rendimentos, pois normalmente só prospera até o estádio de floração.

Figura 74. Adulto e pupas de Lyriomiza spp. Foto: Central Science Laboratory, Harpenden Archive, British Crown, Bugwood.org.


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Figura 75. Dano na folha causado pela mosca-minadora.

O inseto faz galerias nas folhas, causando grave desfolhamento quando as populações são muito altas; se isso ocorre quando o grão está em formação, a produção e a qualidade diminuem, porque os grãos não se desenvolvem normalmente e são "sugados". As semeaduras do mês de novembro na Argentina são menos afetadas. Além disso, este inseto é parasitado por várias espécies de vespas que geralmente mantêm a praga sob controle. A amostragem periódica é sugerida para detectar larvas parasitadas; Estes são facilmente reconhecidos por sua coloração negra, quando as larvas não são parasitadas, elas são amarelas. Quando o parasitismo é baixo e o dano é superior a 20%, recomendase o controle químico os ingredientes ativos nas seguintes doses: 0,1-0,15% de Dimetoato 40% (concentrado emulsionável); 0,25-0,40 de Triclorfon 50% (concentrado emulsionável) e 0,25-0,30% de Triclorfon 80% (pó solúvel em água).

Lagarta rosca: Agrotis ipsilon (Hufnagel, 1768). Ordem Lepidoptera, Família Noctuidae. A mariposa desse inseto se esconde debaixo das galhas secas e folhas e oviposita em massa nas partes inferiores das folhas. As lagartas atacam e cortam as plantas no nível do solo e o processo de empupação ocorre no solo (Figura 76). A mariposa tem as asas anteriores de cor suja ou marrom e as asas posteriores de cor creme. O controle químico é muito eficiente (SHARMA, 1984).


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Figura 76. Lagarta rosca (Agrotis ipsilon). Foto: Agrolink.

Com relação à lagarta rosca da espécie Peridroma saucia (Hubner, 1808), os adultos são mariposas de tamanho médio e cores escuras. As lagartas são de cor marrom-acinzentada e podem ter até 3 centímetros de comprimento (Figura 77); à noite elas cortam as plantas novas rente ao solo (na base do caule) causando sua morte e reduzindo a população de plantas. Portanto, o dano é mais importante durante os primeiros 30 dias de cultivo. Recomenda fazer as amostragens periódicas e, quando se encontra mais de uma planta cortada em 10 metros, faça uma aplicação dirigida aos focos de infestação. Essas pulverizações devem ser feitas pelas tardes, preferencialmente.

Figura 77. Lagarta rosca. ( Peridroma saucia, Hubner, 1808). Foto: Frank Peairs, Colorado State University, Bugwood.org


C a p í t u l o I | 120 Lagarta elasmo: Elasmopalpus lignosellus (Zeller, 1848). Ordem Lepidoptera, Família Pyralidae. Causa sérios danos nas diversas culturas, particularmente gramíneas, nas condições de Cerrados. As larvas penetram no caule ao nível do solo. Uma única larva pode destruir mais de uma planta. As plantas afetadas murcham rapidamente e morrem. As larvas foram encontradas dentro de vagens do grão de bico em contato com solo (Figura 78). As sementes das vagens atacadas por elasmo devem ser completamente destruídas. Esse inseto destrói também as vagens do amendoim nas regiões tropicais e subtropicais das Américas. O controle da lagarta elasmo com adubação verde nas condições dos Cerrados mostrou excelentes resultados. Frequente irrigação também reduz os danos por esse inseto (SHARMA, 1984).

Figura 78. Lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus). Foto: roundupreadyplus.com.br

Lagarta-militar. Spodoptera exigua. Esta praga ocorre simultaneamente com os ataques da lagarta da cápsula, sendo menos importante que esta. Deve-se tomar muito cuidado para não confundir as larvas de uma e outra praga. Ao contrário das larvas da lagarta da cápsula, as da lagarta-militar são menores e de cor verde (Figura 79). O controle químico é sugerido quando a amostragem periódica indica mais de duas lagartas por metro linear.


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Figura 79. Lagarta-militar.

Outras espécies de presença esporádica registradas pela primeira vez no grão-de-bico na região dos pampas argentinos são Spodoptera frugiperda (Smith), atacando o grão de bico (LIZER-TRELLES, 1941) e Rachiplusia nu (Gueneé) "lagarta medidora", atuando como desfolhadora (FICHETTI et al., 2009). Também o grão de bico pode ser atacado pela lagarta Heliothis zea (Boddie), que tem cerca de 2,5 centímetros de comprimento, sua cor é amarelo ocre, com uma pequena mancha no centro das asas superiores.

Os pulgões (Hemiptera: Aphididae): São insetos pequenos e frágeis com o aparelho bucal do tipo picador-sugador, com o qual não apenas injetam saliva e sugam seiva de folhas tenras, pedúnculos de flores e frutos, mas também transmitem doenças. Sua grande capacidade de multiplicação permite atingir altas densidades populacionais (ARTIGAS COCH, 1994; Figura 80), e ao se somar a condições ambientais favoráveis, torná-los entre as pragas mais importantes das regiões temperadas (DAVIS, 1991).


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Figura 80. Pulgão alado. Foto: Ávalos, D.; Fichetti, P.; Moscardó, L.; Mazzuferi, V. (2016).

Pragas durante o armazenamento: Os insetos que atacam os grãos ou as sementes armazenadas são os carunchos (Coleoptera) e as traças (Lepidoptera). Os danos causados são perfurações que diminuem o valor comercial dos grãos e afetam a qualidade das sementes, servindo também como porta de entrada de microrganismos. Inspeções frequentes devem ser realizadas a fim de descobrir as infestações em seu estádio inicial. O gorgulho deve ser combatido no campo com um par de pulverizações com Malathion (com 10 a 12 dias de intervalo), a primeira no momento da queda de flores. Deve-se garantir que as vagens recém-formadas sejam bem molhadas pela pulverização para evitar a postura pela fêmea. Caso seja constatada a presença desses insetos após colheita, devese fazer o expurgo dos grãos sob lona plástica vedada, utilizando-se 1 pastilha de 3 g de fosfina por 15 sacos de 60 kg por 48 a 72 horas. Outra recomendação é o tratamento dos grãos, antes do ensaque, com inseticidas em pó à base de 4% de malathion na proporção de 0,05%, ou seja: 500 g do produto comercial para cada 1.000 kg de grãos ou 30 g por saco de 60 kg. No segundo caso, deve ser observado um prazo de carência mínimo de 60 dias antes do consumo do produto (SHARMA, 1984; BRANCO, 1998). É importante proteger os grãos já ensacados e ainda não atacados, bem como evitar a reinfestação daqueles já expurgados, pois o gorgulho deprecia consideravelmente o produto (Figura 81). Na confecção das pilhas, deve-se polvilhar cada camada de sacos e, ao final, fazer um polvilhamento geral pelos lados e por cima dos sacos, utilizando-se 1


C a p í t u l o I | 123 kg de produto comercial para cada 1.000 sacos de grãos. O polvilhamento externo das pilhas de sacos deve ser repetido a cada três meses (BRANCO, 1998).

Figura

81.

Sementes

de

grão-de-bico

danificadas

por

gorgulho

(Coleoptera: Bruchidae). Foto: Pooran M. Gaur et al. (2010).

Nematoides (Meloidogyne spp) As principais espécies do gênero Meloidogyne que têm causado sérios danos à cultura do grão de bico na região dos Cerados são Meloidogyne javanica (Treub, 1887) Chitwood, 1949, e Meloidogyne incognita (Kofoid; White, 1919) Chitwood, 1949. Os sintomas da doença são nanismo das plantas com amarelecimento das folhas e a sua queda prematura. O sistema radicular apresenta-se com galhas pequenas e arredondadas. Geralmente, as plantas atacadas apresentam sintomas de murchamento. Essas espécies atacam plantas de todas as idades e as predispõem ao ataque do fungo Fusarium oxysporum. Isso aumenta o dano, quando se compara a ação de cada organismo separadamente, principalmente o Meloidogyne javanica que é considerado altamente patogênico à cultura do grão de bico. Os nematoides e fungos (o nematoides pode interagir com o Fusarium oxysporum) podem ser controlados satisfatoriamente com matéria orgânica (esterco de gado, adubo verde e composto). O controle químico é um dos métodos mais rápidos, eficientes e econômicos. O Furadan 5 G, nas dosagens de 1 a 2 kg de princípio ativo por hectare, mostrou bons resultados (SHARMA, 1984).


C a p í t u l o I | 124 PRODUÇÃO DE SEMENTES A obtenção de uma cultivar é um dos objetivos de um programa de melhoramento, cujo material dele resultante se caracteriza por um desempenho alto e estável, com tolerância a fatores adversos bióticos ou abióticos, e difere por alguns atributos, em particular dos outros existentes no momento da inscrição. Essa nova cultivar fornecerá uma solução para uma demanda específica do setor produtivo. A produção de sementes inicia-se a partir de um pequeno volume de sementes genéticas até obter um volume maior, que é a semente comercial no Brasil com suas diferentes categorias: - A produção de sementes do grão de bico consiste na multiplicação sucessiva de materiais de qualidade superior geradas pelas instituições de pesquisa, classificadas pelos técnicos como segue: Sementes genéticas: resultante da seleção ou cruzamentos feitos pelo melhoristas das instituições de pesquisa; Sementes Básicas: resultantes da multiplicação de sementes genéticas realizadas por empresas de pesquisa que criaram a cultivar; Sementes Certificadas-C1: Resulta da multiplicação das sementes básicas pelo produtor de sementes; Sementes Certificadas-C2: Resulta da multiplicação das sementes certificadas (C1) pelo produtor de sementes; Sementes S1: Resulta da multiplicação das sementes certificadas (C2) pelo produtor de sementes e não é certificada; e Sementes S2: Resulta da multiplicação das sementes S1 pelo produtor de sementes e não é certificada.

Embora a tarefa do obtentor termine com a produção das sementes genéticas da cultivar alcançada, é de interesse que o produtor agrícola (sementeiro) possua sementes comerciais disponíveis das cultivares desenvolvidas; a mesma situação ocorre no caso do grão de bico. Padrões mínimos para produção de sementes básicas e certificadas do grão de bico. Cada cultura tem diferentes padrões de campo e de produção de semente para as categorias de sementes básicas e certificadas. Essas variações são principalmente devido à variação na extensão e no modo de polinização cruzada. Os padrões de campo e de sementes para o grão de bico são apresentados na Tabela 9.


C a p í t u l o I | 125 Tabela 9. Padrões mínimos de campo e de sementes para a produção de sementes de grão de bico. Parâmetros Distância de isolamento (m) Número de inspeções de campo Germinação (incluindo sementes duras) (%) Semente pura (%) Material inerte Plantas afetadas por doenças transmitidas por sementes (%) Fora de tipos (%) Outras sementes (número kg-1) Outras sementes de variedade distinguível (número kg-1)

Categorias de sementes Básicas Certificadas 10 5 2 2 85 85 98 98 2 2 0,1 0,2 0,1 0,2 Nenhum 5 5 10

A taxa de sementes difere de variedade para variedade, dependendo do tamanho da semente (Tabela 10). Para a multiplicação de sementes novas de uma nova variedade, a taxa de multiplicação (rendimento por planta) é mais importante que o rendimento por unidade de área. As seguintes diretrizes podem ser usadas para a taxa de sementes:

Tabela 10. Relação entre a taxa de sementes e o tamanho de sementes do grão de bico. Tamanho das sementes (peso de 100 sementes)

Taxa de sementes

Pequeno (menos de 20 g), por exemplo, JG 315 50 - 60 kg ha-1

50 - 60 kg ha-1

Médio (20 - 30 g), por exemplo, JG 11, JG 130, JAKI 9218

60 - 90 kg ha-1

Grande (30 - 40 g), por exemplo, KAK 2, Vihar, LBeG 7 Extra-grande (mais de 40 g), por exemplo, JGK 3 Obs: Exemplo de cultivares Indianas; Fonte: Gaur et al. (2010).

90 - 120 kg ha-1 120-150 kg ha-1

Quando o grão de bico é usado para esse fim, surgem problemas de ordem produtiva, tais como: baixo stand das plantas, distribuição desuniforme pela semeadora, transmissão de doenças, mescla de variedades com distinto ciclo, produzindo complicações no momento da colheita. No material comercial utilizado pelos produtores argentino, há uma falta de uniformidade na cor, forma e cocção irregular, entre outros inconvenientes, o que se traduz em uma desvalorização do preço de venda.

Independentemente dos casos, as sementes comercializáveis devem ser produzidas a partir de materiais previamente avaliados e sem prejuízo do cumprimento das normas técnicas e dos padrões de produção e de comercialização vigentes. Inclui-se neste modelo a multiplicação de cultivares do grão de bico mais adaptadas ou produzidas pelos


C a p í t u l o I | 126 produtores locais ou as variedades promissoras elegidas nos ensaios de competição de cultivares realizados pelas empresas de pesquisa, cujas áreas experimentais são instaladas nas diferentes regiões de produção da leguminosa.

O fator de qualidade das sementes para semeadura inclui as seguintes considerações:

Pureza genética. Refere-se à presença de características botânicas e agronômicas definidas no momento da inscrição de cada cultivar nos Registros Nacionais e da Propriedade de Cultivares do MARA entre vários descritores, tais como: seu ciclo, hábito de crescimento, arquitetura da planta, tolerância às principais doenças, cor, tamanho e forma das sementes, teor de proteína, tempo de cocção. Pureza física. Refere-se à semente inteira, limpa, sem sinais de doença ou praga e apresenta um embrião vivo. Também deve ser livre de terra, pedra, partes da planta, gorgulhos ou outros insetos prejudiciais à vida do embrião.

Qualidade fisiológica. Caracterizada pelo alto percentual de germinação e alto vigor. A qualidade fisiológica é determinada a partir do poder germinativo e do vigor, sendo que esse percentual de sementes germinadas em condições ideias de laboratório é determinado sobre o total de sementes de uma amostra ou de um lote. Enquanto isso, o vigor é visualizado como a força ou a capacidade de crescer rapidamente e resistir aos ataques de pragas ou outra condição adversa para a germinação. Qualidade sanitária. É necessário realizar as análises da presença ou ausência de patógenos, tais como: Ascochyta rabiei (Queima de ascochyta) e Fusarium sp. Embora esse não seja um requisito oficial na Argentina, pois ao identificar a presença desses patógenos no campo, seria prudente não usá-las como sementes, assim como ocorre em outros países. Na Figura 82, encontram, de forma resumida, os atributos de qualidade da semente.


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Figura 82. Atributos de qualidade da semente em geral (desenho da semente do grão de bico). Fonte: Adaptado de: Von Muller, A.; Carreras, J. (2010).

A semente tem como função realizar um ciclo de produção. Com identidade genética, pureza física, poder de germinação de 88 a 80%, sanidade (livre dos principais patógenos), à qual são adicionadas densidade, espaçamento, data de semeadura, ciclo de aproximadamente 6 meses. Requerimento de 300 milímetros de água durante o ciclo, tolerância ao frio, controle de ervas daninhas e controle de umidade na colheita. Tais considerações permitirão obter um grão, cujo principal destino é o consumo humano, em diferentes países compradores de leguminosas. O grão, para sua comercialização, requer uniformidade que se expressa pelo tamanho da semente (peso de 100 grãos em gramas) ou pelo calibre de tamanho (> 10, 9, 8, 7 mm) (Tabela 11); com cores tais como: branco, creme, (com mais ou menos tonalidade dependendo da cultivar), castanha clara, etc. A forma do grão é de desde lobulado muito ondulado, a esféricos. O tegumento do grão deve ser firme, livre de danos mecânicos e de insetos. Os tempos de embebição ou imersão e de cocção são atributos do grão para o comércio, levados em consideração no consumo energético.


C a p í t u l o I | 128 Tabela 11. Caracterização do tamanho (calibre) alcançado na produção de sementes de diferentes variedades em Córdoba. Variedade Calibre\ano

KIARA UNC - INTA 2014

2015

2016

10 mm

3%

11%

36%

9 mm

69%

72%

58%

8 mm

25%

14%

5%

7 mm

3%

3%

1%

Cai de peneira

0%

1%

2,7

3,53

NORTEÑO 2014

FELIPE UNC-INTA

2015

2016

2014

2015

2016

0%

0%

16%

0%

0%

0%

53%

67%

68%

6%

4%

7%

43%

30%

13%

75%

65%

76%

4%

2%

3%

19%

29%

18%

0%

0%

1%

0%

0%

2%

0%

2,9

2,8

4,41

2,7

3

4,1

3,45

(<7mm) Rendimento (tons\ha)

Fonte: Julieta Reginatto, Granaria de Vitulo Agro SA. Produção de sequeiro.

O produtor de sementes que se dispuser a produzir sementes do grão de bico deve seguir os processos e procedimentos técnicos recomendados pela pesquisa, condição essencial para que ele consiga obter sementes com qualidade. Essas condições significam garantir as características de germinação, vigor, pureza física e varietal, e sanidade, semelhantes àquelas na semente mãe, como segue: Para a produção de sementes, os seguintes aspectos são levados em consideração:

Escolha da área: O local de produção de sementes onde a multiplicação ocorrerá é um aspecto que afeta diretamente a qualidade do produto final. O mais adequado para a produção de sementes é caracterizado por um clima árido ou semiárido (Nordeste do Brasil), com baixas precipitações anuais e a possibilidade de utilizar irrigação complementar ou suplementar quando a plantação exigir.

Época de plantio: Possui uma relação direta com o desenvolvimento vegetativo adequado para superar o frio do inverno e as altas temperaturas da primavera, que ocorrem no final do ciclo. Em seguida, a planta se prepara para iniciar o estádio reprodutivo fundamental para a produção ideal. As chuvas que ocorrem no final do ciclo de cultivo, principalmente nos meses de primavera (novembro), impactam negativamente a qualidade das sementes, diminuindo principalmente o poder germinativo e a sanidade.


C a p í t u l o I | 129 Purificação: É um trabalho muito apropriado para o melhorista obtentor da cultivar. Por meio do processo de purificação, todas as plantas que não correspondem a cultivar são eliminadas dos lotes de produção de sementes de cada categoria. Para esta tarefa, é necessário conhecer os descritores que constam no arquivo que é apresentado no MARA para o registro da cultivar, tanto nos registros da cultivar como da propriedade da cultivar (proteção de cultivar). Nas categorias de sementes genéticas, básicas e certificadas, a pureza genética deve ser da ordem de 99%, com uma pureza física de 98%. Essa eliminação de fora do tipo comercial começa no lote, continua nas diferentes etapas do processo de produção e pode chegar até antes do envasamento da semente.

Secagem e colheita: O momento de colheita é decisivo para alcançar uma semente com os atributos de qualidade, tais como: pureza genética, pureza física, sanitária e poder de germinação. A incidência de chuvas durante a colheita diminui a qualidade das sementes, pois afeta principalmente seu poder de germinação, devido a que o tegumento da semente do grão de bico possui uma espessura muito delgada e se hidrata rapidamente. A limpeza da colhedora é um pré-requisito antes de entrar no terreno cultivado. O ar pressurizado (compressor) pode remover os resíduos da debulha anterior retidos na máquina. Além disso, pode descartar os primeiros volumes colhidos para evitar a mistura com outras variedades. As sementes de leguminosas são sensíveis a danos mecânicos. No caso do grão-de-bico, à medida que o embrião é exposto, sua suscetibilidade é maior, razão pela qual a regulação da máquina colhedora merece atenção especial. A colheitadeira de trilha axial é muito adequada para o grão de bico por sua forma de trabalho. Com as máquinas convencionais bem reguladas, podem-se conseguir bons resultados. Com a finalidade de minimizar os danos mecânicos às sementes, o sistema de trilha deve ser regulado, tentando diminuir sua agressividade ao máximo. Para rotores axiais, é usada uma velocidade entre 200 e 350 rpm; em uma cultura mesmo desidratada uniformemente, recomendam-se diminuir as rotações durante a trilha. Nas colheitadeiras convencionais são utilizadas 50-100 rpm a mais que as axiais. Em relação à abertura do cilindro-côncavo, deverá ser de 30 mm para lotes de maturidade uniforme e 15 mm para os lotes desuniformes (GIORDANO et al., 2012).


C a p í t u l o I | 130 A umidade da semente próxima a 12% é ideal para iniciar a colheita, pois se ficar abaixo há um incremento nos danos mecânicos e bem acima existe o risco de problemas no armazenamento de sementes devido à proliferação de fungos e bactérias. Por ser o grão de bico é um cultivo de ciclo indeterminado, é necessário aplicar um dessecante, geralmente glifosato ou gramoxone, na maioria das áreas em que essa leguminosa é produzida para reduzir seu ciclo. Essa prática tem três objetivos: eliminar as plantas daninhas que possam ter escapado do herbicida de pré-emergência, evitar manchas nas sementes durante a colheita e homogeneizar a maturidade do cultivo (Figura 83).

Figura 83. Produção de sementes no momento ideal de trilha (esquerda). Secagem com gramoxone, alcançando 95% de vagens em maturidade fisiológica (direita). Foto: J. Reginatto.

O momento adequado para secar um lote é quando 90-95% das sementes chegam a atingir o estádio de maturidade fisiológica. Este estádio é quando a semente começa a se torna de cor verde-clara e a vagem fica de cor amarela. Um indicador mais simples é deixar secar, ficando os 85% das vagens apresentando a cor amarelo-marrom. A secagem precoce pode aumentar a presença de grãos de cor verde, de menor tamanho e reduzir a viabilidade da semente.

Armazenamento, processo e condicionamento. Para manter a qualidade da semente após a colheita, a umidade relativa e a temperatura ambiental devem ser levadas em consideração, pois são as variáveis que mais influenciam o armazenamento.


C a p í t u l o I | 131 Van Gastel et al. (2007) relacionam a duração do período de armazenamento à temperatura e umidade relativa para manter a qualidade da semente. Para um período de armazenamento de 9 meses e temperaturas abaixo de 30 °C, a umidade relativa do ar não deve exceder 60%. Para 18 meses, as condições são 50% de umidade e 20 °C de temperatura. Quanto menor a temperatura ambiente e a umidade do local de beneficiamento, a qualidade será perdida mais lentamente. A umidade ideal da semente é de 10 a 12% para curtos períodos de armazenamento (8 meses) (VAN GASTEL et al., 2007).

MATURAÇÃO, DESSECANTE E COLHEITA Os grãos do grão-de-bico atingem a sua maturidade fisiológica entre 107 e 110 dias após a semeadura, momento em que as folhas começam a cair e se produz a máxima acumulação de matéria seca e não há incrementos subsequentes, mas os valores começam a diminuir porque a semente começa a perder água e vai encolhendo até atingir o seu tamanho e forma definitiva, neste momento da maturação, as sementes atingem uma porcentagem de umidade de 50%. A determinação do momento em que os grãos atingiram sua maturidade fisiológica é de fundamental importância, pois certifica que se tem completado o período de enchimento do grão e isso significa que estão garantidos os rendimentos produtivos e a qualidade do grão (CABRERA-LEJARDI et al., 2006). A colheita deve ser realizada quando as plantas estiverem secas e os grãos completamente maduros, com umidade adequada. Para algumas cultivares, a maturação dos grãos ocorre entre 60 e 70 dias após a floração, quando a sua umidade é ainda muito alta (23-37%). Para evitar danos aos grãos, a colheita mecânica deve ser feita somente quando o grau de umidade atingir 13-15 % (NASCIMENTO et al. 1998). Para realizar a colheita mecânica das cultivares de grão de bico, são requeridas certas condições técnicas, as quais vão permitir a utilização da colheitadeira combinada (ceifa e trilha) com maior eficiência. Entre elas podem-se citar as seguintes: 1). Aplicação de Dessecante; 2). Uso de cultivares eretas ou semieretas e 3). Inicia-se quando os grãos atingem os teores de umidade entre 12 a 15%. Segundo Giordano et al (1998), o grão de bico apresenta uma determinada particularidade, de que o final do seu ciclo não ocorre naturalmente, porque a maturidade


C a p í t u l o I | 132 dos diferentes grãos da planta é muito heterogênea em termos de desenvolvimento (Figura 84). Por esse motivo, para reduzir o ciclo e obter uma boa desidratação da massa vegetal, é realizada uma aplicação de um dessecante artificial, de modo a alcançar que 90 a 95% da planta possam apresentar uma cor marrom clara (cor de café com leite) e que 70% de suas cápsulas tenham uma cor amarela a bege. Um dos agroquímicos mais comumente usados é o Paraquat, que atinge o murchamento necessário em 3 ou 4 dias, mas deixa os grãos sem maturidade completa com tonalidade verde e, além disso, o produto apresenta efeito residual. Portanto, deve-se ter o cuidado nas aplicações sobre o grão de bico, porque se trata de um alimento ‘in natura’, o qual é adquirido para consumo direto sem que venha sofrer qualquer alteração após deixar a planta. É importante ter em mente que o Paraquat é um herbicida de contato e, portanto, é muito exigente na eficiente aplicação. Outra opção é usar o glifosato (em doses não inferiores a 4-5 litros/ ha de produto comercial com uma concentração de 48%). Uma vez realizada essa aplicação, os grãos podem ser colhidos aos 8 a 12 dias depois, pois aqueles sem maturidade já perderam a tonalidade esverdeada e também o herbicida controla as ervas daninhas presentes, dentro de seu espectro de ação.

Figura 84. Grão de bico na época da colheita com grãos verdes imaturos. Foto: GIORDANO et al., 2012.

Além da colheita manual, a colheita mecânica pode ser realizada por processo semimecanizado (corte manual e trilha mecânica das plantas) ou por processo mecânico, já que algumas cultivares possuem porte ereto e permitem o uso de colhedeiras combinadas. O fato das plantas se desenvolverem próximas ao nível do solo pode exigir algumas


C a p í t u l o I | 133 adaptações na plataforma frontal da máquina, como o uso de garfos levantadores (Figuras 85 e 86) e barra retentora de solo (NASCIMENTO et al. 1998).

Figura 85. Plataforma frontal adaptada para a colheita de grão-de-bico. Foto: Warley Marcos Nascimento; Homero B. S. Veiga Pessoa; Leonardo de B. Giordano (1998).

Figura 86. Garfo levantador em detalhe. Foto: Warley Marcos Nascimento; Homero B. S. Veiga Pessoa; Leonardo de B. Giordano (1998).


C a p í t u l o I | 134 No sistema de colheita direta das cultivares de grão de bico, é utilizada a colheitadeira combinada, que ceifa e trilha ao mesmo tempo, sendo necessária uma prévia pulverização com dessecante químico (Glifosato ou Paraquat) na época de maturação dos frutos. Ou seja, a melhor época de aplicação do dessecante deve estar relacionada com a maturação fisiológica dos grãos, quando eles atingem percentual máximo de matéria seca, pois aplicações precoces causam redução na produtividade da lavoura. Dependendo do tamanho da área cultivada de grão de bico, o dessecante poderá ser aplicado por meio de trâmpulo (Figura 87). Após seis ou oito dias de secagem, a colheitadeira combinada é utilizada sobre as plantas secas (Figura 88). A finalidade da utilização dos dessecantes é acelerar e uniformizar a secagem das plantas de grão de bico, eliminar os inconvenientes causados à colheita por reinfestação tardia de plantas daninhas e liberar mais cedo as áreas menos infestadas para a sucessão cultural, além de facilitar a colheita mecanizada.

Figura 87. Aplicação de dessecantes na época de maturação dos grãos por meio do trâmpulo ou avião, dependendo do tamanho da área plantada do grão de bico. Foto: Diego Antonio Nóbrega.


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Figura 88. Colheitadeira com cabeçal “draper” colhendo o grão de bico (Cicer arietinum), de forma direta. Foto: Sanchez et al., (2012).

É importante destacar que a velocidade do cilindro debulhador deve ser baixa, não ultrapassando 400 a 500 rotações por minuto, para se reduzir o quebramento dos grãos. A proteção das barras do cilindro debulhador com ligas de borracha poderá diminuir também o nível de danificação mecânica do produto (NASCIMENTO et al., 1998).

PRODUTIVIDADE DO GRÃO-DE-BICO A produtividade média mundial do grão-de-bico é de aproximadamente 1 t ha-1, distante do potencial produtivo de 6 t ha-1 encontrado em Israel. A Índia, maior produtor e consumidor de grão-de-bico, possui produtividade média de apenas 0,9 t ha -1 (FAOSTAT, 2018). De acordo com Avelar et al. (2018), a maioria dos países que cultivam grão-debico apresenta baixa produtividade e isso se deve em grande parte ao baixo nível tecnológico adotado.

No Brasil, trabalhos realizados com a cultura do grão-de-bico têm exibido bons resultados. Avelar et al. (2018) avaliando a cultivar BRS Aleppo em diferentes épocas de semeadura nos municípios de Montes Claros-MG e Januária-MG, no Norte de Minas


C a p í t u l o I | 136 Gerais, encontraram produtividade média de 4,3 t ha -1 e 2,4 t ha-1, respectivamente. Em Montes Claros-MG, o mês de maio se destacou com uma produção superior a 5 t ha-1 se aproximando da produtividade média observada em Israel.

Hoskem et al. (2017), estudando a cultivar Cícero em condições parecidas a da presente pesquisa de Avelar et al. (2018), observaram produtividade média de 2,72 t ha-1 de grãos. A maior produtividade foi obtida na semeadura realizada no mês de junho no valor de 3,21 t ha-1. No entanto, é importante destacar que o experimento foi realizado em dois locais distintos no município de Montes Claros-MG. O segundo local, com características um pouco mais diferentes do atual estudo, se refere à comunidade de São Roberto que produziu em média 2,87 t ha-1. Considerando os dois locais do experimento a produtividade média da cultivar Cícero foi de 2,79 t ha -1.

Na avaliação de quinze genótipos de grão-de-bico em cultivo de sequeiro nas condições de Cerrado, Artiaga et al. (2015), verificaram produtividades médias de 0,21 t ha -1 a 0,85 t ha-1 de grãos. A produtividade máxima encontrada foi de 1,34 t ha -1 para o acesso FLIP03-109C e a mínima 0,08 t ha-1 para a cultivar IAC-Marrocos nos meses de janeiro e março, respectivamente. A cultivar Cícero produziu em média 0,21 t ha -1 sendo a menor média observada dentre os genótipos avaliados. O melhor resultado alcançado pela cultivar Cícero foi de 0,34 t ha-1 resultante do plantio feito no início de março. Todavia, as baixas produtividades encontradas nesse estudo foram decorrentes do cultivo de sequeiro.

De forma similar ao estudo de Artiaga et al. (2015) em regiões de cerrado do Distrito Federal e Goiás, Nascimento et al. (2014) avaliaram durante quatro anos consecutivos o desempenho das cultivares BRS Aleppo e Cícero, porém, sob sistema irrigado. Para cultivar BRS Aleppo foram observadas produtividades de 2,51 t ha -1 a 3,05 t ha-1 e Cícero de 0,44 t ha-1 a 1,27 t ha-1. A cultivar BRS Aleppo produziu em média 2,99 t ha-1 e a Cícero e 0,94 t ha-1 levando em conta todos os anos de avaliação.

Outros trabalhos, não tão recentes e de igual relevância, foram desenvolvidos na década de 90 e no início do século XXI. Braga et al. (1997), em estudo feito na microrregião de Viçosa-MG, nos anos de 1993 e 1994, verificaram produtividades de 2,04 t ha -1 a 2,35 t ha-1 para cultivar Leopoldina (ICCV-3), 1,42 t ha-1 a 1,62 t ha-1 IAC Marrocos e 1,03 t ha-


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a 1,33 t ha-1 Cícero. Já Vieira et al. (1999), em ensaios realizados, 1991 e 1994, na Zona

da Mata e no Norte de Minas Gerais encontraram para a cultivar IAC Marrocos produtividades de 1,79 t ha-1 a 2,25 t ha-1 nos municípios de Coimbra-MG, LeopoldinaMG e Janaúba-MG. Em Leopoldina-MG e Janaúba-MG, a cultivar Leopoldina produziu em média 2,80 t ha-1 e a Cícero 1,55 t ha-1. Por fim, Giordano e Nascimento (2005), em Santo Antônio de Goiás-GO e Brasília-DF, trabalhando com a cultivar Cícero obtiveram produtividades de 1,6 t ha-1 e 2,7 t ha-1 de grãos, respectivamente.

PRODUÇÃO DE GRÃO DE BICO FORRAGEIRO Apesar da reduzida área plantada (225 ha) com grão de bico forrageiro no ano agrícola 1990-1991, os rendimentos médios no México foram 1.239 ton\ha no ciclo primaveraverão e de 1.618 no ciclo outono-inverno. Os estados que cultivaram essa leguminosa foram: Jalisco com 85 ha, Nayarit com 30 ha, São Luiz Potosi com 17 ha, Guanajuato com 10 ha e finalmente Michoacán com 3 ha. De acordo com a sua utilização, as variedades podem ser classificadas como comestíveis (Cicer arietinum var. Macrocarpum), com flores brancas e sementes de cor castanhoclaro e nas variedades forrageiras (Cicer arietinum var. fuscum ou var. Vulgare), cujas flores são violetas ou rosadas e suas sementes são de cor castanho avermelhada ou preta. O grão-de-bico para consumo humano se diferencia do consumo de animais por seu tamanho, cor, textura e dureza (ASERCA, 1996). Os resíduos agrícolas das plantas de grão de bico que permanecem no campo após a colheita do grão podem ser utilizáveis para uso forragem, embora o valor nutricional não seja suficiente para as funções normais produtivas, reprodutivas e de trabalho do gado. Também não é possível que os animais possam manter seu peso corporal, quando esses resíduos forem usados como a única fonte de alimento, pois normalmente haverá perdas consideráveis em peso e na condição corporal do animal. Por esse motivo, na maioria dos casos, a planta é geralmente triturada juntamente com o restolho de milho ou outras forragens que permitem aumentar o valor nutricional da ração antes de ser embalada, armazenada e usada como alimento para o gado nos meses de inverno e de pouca umidade. A maquinaria agrícola usada para essa prática geralmente é alugada e consiste em um trator e um picador de forragem, como mostra a Figura 89.


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Figura 89. Máquina forrageira utilizada para triturar o restolho de grão de bico misturado com o restolho de milho e envasar para seu uso como forragem.

Em razão do valor energético da palha seca do grão de bico ser muito baixo, alguns produtores mexicanos preferem utilizar a planta em seu estado verde, colhendo-a após a floração, durante o período entre o enchimento do grão e a sua maturidade fisiológica. A planta colhida é imediatamente disponibilizada aos animais para consumo (Figura 90) e, dessa forma, é capaz de obter melhor eficiência na conversão de carne e maior produção de leite, pois dessa forma eles aproveitam todas as partes da planta: folhas, caule, raiz, vagens e grãos. Uma das estratégias que seguem os produtores para atingir esse objetivo é planejar o plantio escalonado para dispor de planta verde por um período maior de tempo, especialmente no inverno e na seca.


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Figura 90. Uso de planta de grão de bico verde como forragem para o gado ou ovino.

COEFICIENTES TÉCNICOS Na Tabela 12 são apresentadas as quantidades de mão-de-obra, hora-máquina, insumos e outros fatores necessários para calcular o custo de produção de um hectare de grão-debico. A unidade de mão-de-obra é dia/homem (d/h), isto é, quantos dias um homem leva para realizar o trabalho. A unidade de trabalho de máquina é hora/máquina (h/m), isto é, quantas horas a máquina leva para realizar o trabalho.


C a p í t u l o I | 140 Tabela 12. Coeficientes técnicos para cálculo do custo de produção de 1 hectare de grãode-bico (Cicer arietinum L.). Grupo Operações

Unidade d\h

Quantidade 3,0

Aração

h\m

3,0

Gradagem Nivelamento Conservação do solo Distribuição de calcário

h\m h\m h\m h\m

2,0 1,5 2,0 1,0

Semeadura

Aplicação herbicida Adubação

h\m h\m

1,0 2,0

Tratos culturais

Irrigação

mm

400

Aplicação de defensivos

h\m

1,0

Preparo de solo

(mão-de-obra e máquinas)

Especificação Limpeza

Insumos

Calcário Sementes Adubo (4-30-16) Inoculante Herbicidas Inseticidas Fungicidas

Ton. Kg Kg Kg L ou kg L L

4,0 140 400 2,0 3,0 0,5 1,0

Outros

Sacarias Frete interno (colheita mecanizada)

Unidade h\m

20 1,0

Fonte: Homero B. S. V. Pessoa (1998).


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Capítulo II

COLHEITA, BENEFICIAMENTO E COMERCIALIZAÇÃO DO GRÃO DE BICO

Vicente de Paula Queiroga Ênio Giuliano Girão Esther Maria Barros de Albuquerque (Editores Técnicos)


C a p í t u l o I I | 142 COLHEITA DO GRÃO DE BICO

Introdução A colheita do grão de bico depende tanto do condicionamento das plantas, como da eficácia do processo de trilha ou debulha e limpeza da vagem. Esses processos, por sua vez, dependem do estado do cultivo no momento da colheita em termos de tamanho e sanidade das plantas, densidade populacional, presença de ervas daninhas e porcentagem de umidade, tanto das plantas, suas vagens e as sementes e o ambiente que as rodeas (COSIANSI et al., 2016). O momento da colheita é quando as folhas ficam amarelas. Em alguns países, essa colheita é manual, cortando as plantas acima do nível do solo ou das raízes, são empilhadas em montes e deixadas para secar no campo por uma semana, antes de serem trilhadas. Em outros países, a colheita é mecanizada por meio de colheitadeiras, que são adaptadas para que a quantidade de grãos partidos seja a menor possível. Antes do armazenamento, o grão de bico deve ter uma umidade de 8 a 15% e deve ser mantido em local seco e ventilado. No Brasil, a colheita totalmente mecanizada é utilizada apenas nas lavouras do Sudeste e Centro-Oeste, onde os produtores são mais tecnificados, enquanto a maior parte da produção do grão de bico produzido com pouco uso da mecanização é proveniente de pequenos produtores, principalmente na colheita. Tal operação no cultivo do grão do bico pode ser realizada nas seguintes modalidades: a) Colheita totalmente manual, b) Colheita semimecanizada e c) Colheita totalmente mecanizada, sendo está última utilizada em áreas maiores. Na escolha de um deles, devem ser considerados o tamanho da lavoura, o sistema de cultivo (monocultivo ou consorciação com outras culturas), o hábito de crescimento das plantas e a disponibilidade de mão de obra e de equipamentos na propriedade. Geralmente, nas pequenas lavouras (menores que 5 ha) cultivadas em monocultivo ou em consorciação, a colheita é processada manualmente; nas grandes, cultivadas em monocultivo, a colheita é feita por processos mecanizados, com equipamentos existentes no mercado brasileiro.


C a p í t u l o I I | 143 Em cada modalidade de colheita, as operações envolvidas se dividem em três fases: arrancamento manual das plantas, secagem e separação dos frutos das plantas (batedura manual ou trilha mecanizada). Por meio de uma moderna colheitadeira adaptada para a colheita direta do grão de bico, a ordem das operações pode ser alterada para arrancamento mecânico das plantas, separação dos frutos (trilhagem) e secagem de grãos. Recomendam-se as máquinas axiais, ou seja, de sistemas híbridos com trilha radial, sistema de separação e limpeza axial, equipadas com cabeçais tipo draper (plataforma frontal) e a sua colheita deverá ser programada para ser realizada nos meses de poucas chuvas (ideal seria na ausência de chuvas). A continuação destacam-se as operações envolvidas nas distintas modalidades de colheita do grão de bico:

a) Colheita Manual Arranquio. Neste método, todas as operações da colheita, como o arranquio, o recolhimento e a trilha das plantas, são feitas manualmente. Devido ao tipo de crescimento e porte das plantas (de 35 a 60 cm) do grão de bico, o processo de colheita manual consiste em segurar manualmente os ramos da planta a partir da maturação fisiológica das sementes para cortá-la na parte que corresponde o caule com o auxilio de uma foice de mão (Figuras 91 e 92) ou tentar arrancar toda planta com raiz usando apenas as mãos. Também se recomenda realizar tal operação quando as folhas tomam a tonalidade marrom-avermelhada, secam e começam a cair. As plantas arrancadas podem permanecer na lavoura, em molhos com as vagens para cima, para secarem até os grãos atingirem cerca de 14% de umidade. Em seguida, são postas em terreiros, em camadas de 30 cm a 50 cm por 10 a 15 dias para completar a secagem, onde se processa a batedura para separação das palhas dos grãos. Este último processo poderá ser efetuado manualmente por meio de varas, pisoteios ou por meio de despencamento manual de vagens das hastes. Por último, realiza-se a separação e a limpeza dos grãos por processo de ventilação (Figuras 93 e 94). É importante destacar que a colheita manual, como as operações de arranquio, recolhimento e batedura, é utilizada a mão-de-obra familiar, principalmente nas pequenas propriedades.


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Figura 91. Altura do corte manual da planta do grão de bico (região do caule ou talo, em vermelho), efetuado durante a etapa de colheita. Foto: Rubén Toledo (2016).

Figura 92. Operação de corte manual das plantas do grão de bico no ponto de colheita. Foto: Mehr News Agency do Iran.


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Figura 93. Instrumento tipo foice de mão usada no corte de plantas do grão de bico e transporte de feixes de plantas amarrados com barbante para a operação de batedura. Fotos: Vazlon Brasil e Vikas Rawal; Prachi Bansal (2019).

Figura 94. Separação e a limpeza dos grãos por processo de ventilação sobre uma lona, usando uma arupemba. Foto: Vikas Rawal (2019).


C a p í t u l o I I | 146 Também as plantas arrancadas a mãos poderão ser levadas diretamente para terreiros de terra batida ou de cimento, onde elas serão espalhadas para a secagem dos grãos até 12% a 14% de umidade, o que facilitará a operação de trilha. Contudo, poderão ser deixadas também no campo, formando molhos com as vargens para cima até os grãos atingirem o teor de umidade adequado, e, em seguida, ser levadas para terreiros onde se processa a trilha.

Secagem. A operação de secagem dos frutos é de máxima importância para preservar o valor e a qualidade do grão de bico. As vagens que, por ocasião do arrancamento apresentam teor de água em torno de 18%, ou mais, devem ter o seu teor reduzido para 10 a 12%, para possibilitar o armazenamento posterior, sem problemas. Portanto, as plantas arrancadas permanecem na lavoura, em molhos com as vagens para cima, por 12 a 15 dias (após corte), caso não chova, para completar o processo de secagem natural até os grãos atingirem cerca de 12% de umidade (secagem preliminar). Apesar de ser o método mais utilizado, o processo tem o inconveniente de deixar as plantas expostas as condições ambientais durante o ciclo, sujeitas às chuvas, e, devido ao excesso de umidade do produto colhido, há possibilidade de desenvolvimento de doenças.

Despencamento manual. Após a secagem, as vagens presas às plantas necessitam ser separadas das hastes. Esta operação recebe o nome de despencamento, sendo feita manualmente (batedura) ou mecanicamente (trilha). A operação de despencamento é feita no próprio campo, a qual consiste em bater um feixe de plantas de grão de bico seco contra a borda de uma madeira presa ao tambor ou um cavalete de madeira revestido com sacos plásticos, sendo os frutos amparados em sua queda no próprio tambor ou lona plástica, caixote, etc. Outro método manual para desprender os frutos secos do grão de bico é passando o feixe de plantas entre os dentes de um pente (feito de madeira com vários pregos) preso à borda de uma lata. Desta forma, as vagens ainda úmidas, por não terem atingido o teor ideal na secagem preliminar realizada antes da batedura, necessitam receber imediatamente uma secagem complementar, seja em terreiros, quadras cimentadas, lonas plásticas, etc, deixando-as expostas ao sol por mais dois dias.


C a p í t u l o I I | 147 Batedeira mecânica de pequeno porte. É descrito um equipamento para debulha de leguminosas que compreende uma estrutura de suporte (100) provida de um tambor giratório (10) com superfície telada (11) rotacionado por um primeiro motor (20) através de um conjunto de polia e correia, com velocidade de rotação entre 40 a 50 rpm, dito tambor giratório (10) que apresenta uma abertura (12) para acesso à região interna do tambor (10) onde é disposto um eixo provido de batedores que se projetam radiais da superfície do eixo (30) que rotaciona através de um conjunto de polia e correia atuados por um segundo motor (21) com velocidade de 12 rotações entre 500 a 600 rpm, seguido de calhas (40) e uma peneira vibratória em posição imediatamente inferior (Figura 95).

Figura 95. Batedeira de pequeno porte para feixes secos de plantas dos grãos para separação e limpeza.


C a p í t u l o I I | 148 Batedeira mecânica de grande porte. Recomenda-se utilizar debulhadora de maior porte para o beneficiamento dos feixes secos de plantas do grão de bico provenientes da colheita manual (plantas cortadas), principalmente quando se semeia uma área superior a 5 ha (Figura 96).

Figura 96. Operação de separação dos grãos das vagens nas hastes das plantas cortadas (feixes) alimentadas manualmente na máquina batedeira ou trilhadora de grão de bico acionada

por

tomada

de

força

do

trator

ou

com

motor

diesel.

Foto:

www.shutterstock.com.

b) Colheita Semimecanizada No método semimecanizado, o arranquio e o enleiramento das plantas são normalmente manuais, e a trilha é mecanizada, empregando-se as máquinas recolhedoras-trilhadoras. Enquanto a operação de arranquio é complementada manualmente, arrancando e sacudindo as plantas para a eliminação de terra ainda aderente às vagens e às raízes, procedimento denominado de “chacoalhação”. Em seguida é feito o enleiramento manual, amontoando as plantas em fileiras com as vagens para cima, de maneira a favorecer o processo de cura ou secagem por 12 a 15 dias em condições de campo (após o corte). Uma vez completado o processo de secagem natural até os grãos atingirem entre 14 a 16% de umidade, as plantas devem ser recolhidas e trilhadas pelas recolhedoras-


C a p í t u l o I I | 149 trilhadoras. No caso de armazenar o grão de bico em campo, sem a prévia secagem artificial, a umidade das vagens no momento do início operacional da recolhedoratrilhadora não deve ser inferior a 12%, porque aumenta o risco de produzir dano mecânico. O método semimecanizado é caracterizado pela utilização de procedimentos de arraquioenleirador das plantas arrancadas do grão de bico e a recolhedora-trilhadora em operações distintas, após sua secagem em campo (Figura 97). Para obter maior rendimento, são enleiradas seis a dez linhas de grão de bico em uma só linha e com isto possibilita-se uma maior eficiência no recolhimento dos molhos secos para alimentar a máquina recolhedora-trilhadora. Na parte dianteira existe uma plataforma recolhedora que recolhe as plantas enleiradas do solo por meio de dedos com molas e as conduz a uma esteira elevadora, a qual por sua vez, conduz as plantas para o mecanismo de batimento ou despencamento constituído pelo cilindro batedor e pelo côncavo (SILVA et al., 2009). Além de separar os grãos da parte vegetal, o produto limpo e seco é ensacado na outra extremidade do equipamento.


C a p í t u l o I I | 150

Figura 97. Operação da colheitadeira recolhedora-trilhadora, após as plantas enleiradas ou invertidas atingirem a sua secagem em campo.

Quando uma colhedora automotriz é usada para o grão de bico, a barra de corte e o molinete são retirados e, em seu lugar, é acoplado um recolhedor, constituído basicamente por um cilindro, dotado de dentes geralmente flexíveis, retráteis ou não, que recolhem as plantas enleiradas e as depositam no alimentador da máquina, onde seguem o processo normal de trilha, retrilha, limpeza e acondicionamento dos grãos. Na unidade de trilha, deve-se deixar uma folga maior entre o cilindro trilhador e o côncavo e operar o cilindro com velocidade angular menor que a usada para sementes pequenas.


C a p í t u l o I I | 151 Protótipo de colhedora de pequeno porte para o grão de bico. As variedades de plantas de grão-de-bico semeadas no Oriente Médio são curtas e cultivadas principalmente em terrenos acidentados, o que determinou o desenvolvimento de um protótipo com o mecanismo alimentador e cortador de uma linha para efetuar a colheita do grão de bico. Esse equipamento atenderia satisfatoriamente as pequenas áreas de grão de bico dos produtores e o mesmo se aparece com um pequeno Tobatta adaptado com seu cabeçal de corte tipo stripper (Figura 98). É importante informar que as variedades eretas ou semieretas existentes no Brasil são adequadas para a colheita mecanizada devido à altura adequada das plantas e também devido ao crescimento dos galhos não muito próximos ao solo.

Figura 98. Operação de colheita do grão de bico por protótipo de colheitadeira de uma linha.

Pelo fato de demandar bastante mão de obra e tempo de execução o sistema tradicional de colheita realizado nos países em desenvolvimento, o qual envolve o arranchamento manual das plantas do grão de bico, os técnicos do Iran desenvolveram uma ceifadoradebulhadora puxada por trator com a plataforma frontal tipo stripper modificada. O protótipo da colhedora com uma largura de trabalho de 1 m apresentou uma capacidade operacional de 0,18 ha h–

1

e exibiu um desempenho de trabalho aceitável. Outra

vantagem apresentada pela ceifadora-debulhadora modificada é que pode trabalhar em terreno irregular, onde outras máquinas de maior porte não podem operar (Figura 99).


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Figura 99. Protótipo ceifadora-debulhadora puxada por trator com a plataforma frontal tipo stripper modificada, desenvolvido pelos técnicos do Iran. Foto: Pooran M. Guar

c) Processo direto de colheita Colheita totalmente mecanizada. O processo direto consiste no emprego da colhedora automotriz para realizar, simultaneamente, as operações de corte, recolhimento e trilha das plantas e a abanação e o acondicionamento dos grãos, o que tem ocasionado redução da necessidade de mão de obra, diminuindo significativamente o custo de produção, além de aumentar significativamente o rendimento operacional e proporcionar melhora na qualidade do produto, uma vez que a operação é mais rápida, reduzindo o tempo que o produto fica exposto às intempéries do clima no campo (Figura 100). Nas plantas de porte ereta, a colheita direta é efetuada quando a folhagem estiver completamente seca; isto é, ao atingir 80% de desfolhamento, com os caules e os pecíolos secos e o grão contendo entre 14 e 16% de umidade, para evitar perdas por quebra. Além disso, recomenda-se aplicar um dessecante ante da colheita totalmente mecanizada (tema abordado detalhadamente no final do primeiro capítulo).


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Figura 100. Colheitadeira realizando a colheita direta do grão de bico da variedade Blanco Lechoso. Andalucia, Espanha. Fotos: FAO STAT (2012) e AgroLavoz (2013).

A preparação da colheitadeira automotriz consiste em equipar a máquina com barra de corte flexível, para ceifar as plantas rente ao solo, e com um conjunto de acessórios (kit) composto basicamente de: a) garfos levantadores acoplados à barra de corte, que levantam as plantas acamadas antes da ceifa; b) sapatas de plástico, que facilitam o deslizamento da plataforma de corte no solo; c) chapa perfurada na plataforma de corte, que elimina a terra antes de as plantas entrem na máquina; d) chapa perfurada no alimentador do cilindro trilhador, que elimina a terra antes de as plantas entrarem no sistema de trilha e) redutor de velocidade, que reduz a velocidade do cilindro trilhador das colhedoras de


C a p í t u l o I I | 154 fluxo radial para cerca de 200 rpm a fim de diminuir a danificação de grãos (as máquinas de fluxo axial já possuem, incorporado ao seu projeto, um regulador de velocidade do rotor adequado ao grão de bico); f) elevador de canecas, que substitui o elevador do tipo raspador a fim de reduzir os danos mecânicos nos grãos; g) bandejão perfurado, que elimina a terra dos grãos após a trilha; h) extensão das hélices no centro do caracol, que substitui parte dos dedos retráteis que devem ser retirados do caracol, pois estes provocam embuchamento de plantas e abertura de vagens do grão de bico na plataforma de corte. Por outro lado, as colhedoras com mecanismo de trilha axial danificam menos os grãos do que as radiais ou tangenciais. O mecanismo axial é composto de um rotor helicoidal, disposto longitudinalmente na máquina, com comprimento que alcança cerca de 3.500 mm para alguns modelos de máquinas.

PRINCIPAIS INCONVENIENTES QUE SE OBSERVAM NO MOMENTO DA COLHEITA DO GRÃO DE BICO E AS POSSÍVEIS SOLUÇÕES:

-Recomendações de regulagem Baixa altura e volume do cultivo. Para corrigir esse problema, recomenda-se usar nos cabeçais estander (com eixo sem-fim) as mesmas sapatas de borracha recomendadas para culturas de soja de baixo porte que são colocadas alternadamente no molinete (Figura 101). Dessa maneira, evita-se o acúmulo de material de corte próximo à barra de corte, por uma varredura eficiente que também pode ser entregue mais próxima das helicoidais do eixo sem-fim concentrador, favorecendo assim um fluxo de deslocamento do material de corte em direção à entrada do alimentador do cilindro trilhador (GIORDANO et al., 2012)

Figura 101. Detalhe de sapatas de plástico (borracha) utilizadas e colocadas em forma alterna no molinete. Foto: GIORDANO et al., 2012.


C a p í t u l o I I | 155 Para a colheita do grão-de-bico, recomenda-se a utilização de plataforma draper que melhora a forma como se produz a alimentação dos grãos no cilindro trilhador, consequentemente não irá permitir que sejam geradas porções (montões) na moega alimentadora, pois é com a entrega homogênea que facilita a ação de trilha. Diversas trilhadoras possuem cilindro com garfos retráteis junto à moega para uniformizar a alimentação de plantas no cilindro trilhador. São acionadas por motor próprio ou pelo trator. Altura de corte. É aconselhável trabalhar com uma altura de corte nunca inferior a 3 cm e não superior a 5 cm em condições normais de colheita. É comum nessa colheita que seja feito um corte muito baixo porque existem ramos de baixa inserção que, quando carregados com vagens ficam pendentes até o chão, mas se deve ter a precaução, para que esse material que tenha entrado em contato com o solo, venha se encontrar em estado de decomposição (GIORDANO et al., 2012). Recomenda-se ajustar a inclinação da barra de corte por meio de regulagens que são alcançados a partir da estrutura do transportador, com o qual se pode dar maior atenção aos pontos de ajuste. Além disso, a colocação de garfos levantadores pode ser considerada a cada 35 a 40 cm, como as utilizadas na colheita de ervilhas (Figura 102).


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Figura 102. Distintos modelos de garfos levantadores desenvolvido pela empresa Flexxi Finger de Canadá. Foto: GIORDANO et al., 2012.

Sentido da colheita. Para o trabalho adequado da plataforma frontal da máquina, recomenda-se no cultivo do grão de bico trabalhar com um ângulo de inclinação de 30° (obrigatório) em relação à linha de semeadura, o que facilita o desempenho da barra de corte ao trabalhar de maneira mais homogênea, permitindo por sua vez um instante de trabalho em vazio para autolimpeza (GIORDANO et al., 2012).

Colheita em solos irregulares. É muito comum plantar o grão de bico em áreas recentemente desmatadas, com poucos anos de agricultura e em terrenos predominantemente desuniformes. A habilidade do operador da máquina permitirá o aproveitamento do potencial rendimento da plataforma frontal (cabeçal), dada por um correto funcionamento do sistema eletrônico/hidráulico de autorregulação de altura e autonivelamento lateral do cabeçal da máquina (GIORDANO et al., 2012).


C a p í t u l o I I | 157 Alta desuniformidade de volume de material. Recomenda-se trabalhar com uma baixa velocidade de avanço (4-5 km / h), para equilibrar as perdas geradas em setores de alta desuniformidade, onde as barras flexíveis/flutuantes estão no limite de sua capacidade. Nesses casos, deve-se tomar cuidado para colocar as sapatas de borracha mencionadas acima e ajustar firmemente a barra flexível que é planchada contra o solo. Em certas circunstâncias, quando se tenta cortar abaixo dos galhos decumbentes com o molinete totalmente ajustado, pode acontecer que em algum setor do lote se produz uma elevação brusca da barra flexível e, como consequência, a barra de corte entra em contato com as sapatas de plástico do molinete causando o truncamento de suas pontas. Isso produzirá um desempenho ineficiente do molinete em termos de seu trabalho de transferir o material cortado na barra de corte com muita entrega de montões (porções) para o eixo sem-fim do concentrador (GIORDANO et al., 2012).

Molinete. Recomenda-se que a ponta do dente do molinete entre no cultivo aproximadamente até a metade da altura da planta e que o eixo do molinete fique deslocado cerca de 10 a 20 cm adiante da barra de corte com os dentes inclinados para trás para introduzir o material de baixo porte dentro da plataforma frontal da máquina (GIORDANO et al., 2012).

Regulação do rotor de trilha. Como o grão do grão de bico é um alimento para consumo humano direto, deve-se ter o cuidado no momento da trilha. É aconselhável ajustar os rotores axiais entre 200 e 350 rpm. Segundo as condições do cultivo, quando o material se encontra mais uniforme em sua desidratação, pode-se reduzido o número de rotações durante a trilha, enquanto se apresentar condições alternadas ou desuniformidade de secagem de vagens será necessário aumentar a rotação do rotor. Recomenda-se não exceder em nenhuma circunstância as 400 rpm, porque, embora seja um grão difícil de quebrar, há lesões no grão que prejudicam a qualidade. No caso de colheitadeiras convencionais, são utilizadas para as mesmas condições de cultivo, entre 50 e 100 rpm a mais que as axiais (GIORDANO et al., 2012). Sob condições de maior uniformidade de maturação do grão de bico, recomenda-se que a abertura do cilindro-côncavos seja de até 30 mm, enquanto que ao se constatar o aumento da desuniformidade da secagem deve ajustar essa abertura para aproximadamente 15 mm.


C a p í t u l o I I | 158 O tipo de côncavo utilizado para ambos os sistemas de trilha (convencional ou axial) nessas áreas tradicionais de cultivo, é o construído por barras redondas de cerca de 19 mm de diâmetro, com espaços de fundição da mesma medida, o qual resulta em uma capacidade de fundição de 50%. Isso ocorre porque não requer maior agressividade para produzir a abertura das vargens e liberar os grãos. Nas áreas localizadas na direção do centro do país (Argentina), esse tipo de côncavo é usado apenas quando se trabalha em condições de cultivo semelhantes às descritas para as áreas tradicionais. Caso contrário, recomenda-se o uso de côncavos grossos de colheita que causem a menor agressão possível à debulha (GIORDANO et al., 2012). Os inconvenientes mais comuns durante a trilha ocorrem quando a alimentação é desigual desde o transportador, devido aos problemas mencionados acima. Isso causa sobrecargas pontuais de materiais que também chegam mais compactas, formando uma estrutura difícil de abrir durante a trilha, o que dificulta a abertura das vargens menos expostas ao acionar as barras batedoras ou misturadores no caso de axiais. De certa maneira aumentam as chances de ser eliminadas por descarte, aderidas ao restante da planta ou presas a vagem inteira durante a separação. Após passar pelo sistema de limpeza, as vagens irão retornar, aumentando assim a possibilidade de gerar lesão de grãos ao entrar novamente no circuito de trilha (GIORDANO et al., 2012).

Retorno. Regular a limpeza, evitando enviar grãos limpos ao retorno e fazendo-o apenas com vagens fechadas, observando não exceder a metade do indicador de barras em até 3/4. No caso de vagens fechadas, se estas superam as marcas previstas, seriam um indicador de falta de pressão de trilha, devendo-se aumentar primeiro uns 50 rpm do cilindro e, em seguida, se for necessário diminuir a abertura do cilindro-côncavo em alguns milímetros, até que possa permanecer dentro desse limite (GIORDANO et al., 2012). A porcentagem de tolerância de grãos partidos aceitados pelos estabelecimentos dedicados à exportação é de apenas 1%; ainda menor em alguns casos. Como mencionado anteriormente, o grão de bico não quebra com facilidade, mas é necessário evitar que o grão não seja marcado por um dano mecânico.


C a p í t u l o I I | 159 Tolerância às perdas de colheita: Em relação aos níveis de tolerância das perdas totais, dadas as melhores condições gerais de colheita, é possível trabalhar com valores de perda total abaixo de 60 kg/ha. Ao mesmo tempo, deve-se levar em consideração que 100% dessas perdas, 60% são causadas pela plataforma frontal da máquina (cabeçal) e os 40% restantes se manifestam no descarte (descarga final) da colheitadeira devido aos sistemas de trilhas, separação e limpeza (GIORDANO et al., 2012). As colheitadeiras recomendadas para a colheita do grão de bico são máquinas axiais ou sistemas híbridos com trilha radial e sistemas de separação e limpeza axial, equipadas com cabeçais drape (tipo esteira) que permitem um fluxo homogêneo de material. Mas é claro que, quando se trabalha com máquinas com um sistema de trilha convencional bem regulado, também é possível obter resultados de boa qualidade (GIORDANO et al., 2012). As trilhadoras têm a função de retirar as sementes das vagens e separá-las das outras partes da planta. Os componentes são moega alimentadora, cilindro trilhador, saca-palha, ventilador, peneira e ensacador. As trilhadoras de fluxo axial, dotadas de trilhador com pinos dispostos em forma helicoidal na sua periferia e um côncavo circular perfurado. O seu cilindro trilha as plantas contra o côncavo para retirar as sementes das vagens e conduz axialmente, os restos vegetais para serem descarregados pelo saca-palha da máquina. No sistema de axial, as plantas são trilhadas em vários giros, o que provoca menos danos aos grãos.

Metodologia de avaliação de perdas. A determinação de perdas é feita em duas etapas do trabalho. Primeiro, as perdas naturais (pré-colheita) são quantificadas, e a amostragem aleatória é realizada com quatro aros de 0,25 m 2, onde são coletados todos os grãos soltos e os provenientes das vagens caídas (GIORDANO et al., 2012). Então, durante o avanço da colheitadeira, são lançados aleatoriamente quatro "anéis” da mesma medida (0,25 m2) que é feito de arame. É importante ter em mente que os aros devem ser lançados após a passagem do cabeçal, mas devem estar no chão antes que o material liberado pela descarga final da máquina (espalhadores) caia, colocando um aro abaixo da gaveta da colheitadeira (área central da máquina) e os três anéis restantes distribuídos na área coberta pelo cabeçal ou pela plataforma frontal (GIORDANO et al., 2012) .


C a p í t u l o I I | 160 Os grãos e as vagens com grãos coletados na parte superior dos quatro anéis correspondem a perdas por descarga final (sistema de trilha, separação e limpeza) e aqueles coletados sob os anéis aleatórios, os quais são atribuídos a perdas pelo cabeçal ou plataforma frontal (sistema de corte e captação). O método deve ser repetido por três vezes em cada lote avaliado e em cada colheitadeira para se obter uma perda média. Em geral, considera-se que aproximadamente 22 grãos do grão de bico pesam 10 g. Portanto, se 22 grãos são encontrados em 1 m2 (4 anéis de 0,25 m2), eles equivalem a uma perda de 100 kg/ha. A tolerância proposta pelo INTA PRECOP da argentina é de 60 kg / ha. Um aspecto de seguridade que se faz na hora de medir as perdas é ter a consciência de que o trabalho está sendo realizado próximo a uma máquina colheitadeira em movimento, com o qual é importante que tanto o condutor da colhedora como o operário da monomoega devem estar informados de que outras pessoas estão trabalhando em torno das máquinas, de modo que sejam evitados movimentos ou manobras bruscas. Por sua vez, e em particular para os grãos do grão de bico, recomenda-se o uso de elementos de segurança pessoal, como óculos e capacetes de proteção, uma vez que, pelo peso e tamanho desses grãos, esses podem atingir e ferir as pessoas que realizam a avaliação em campo (GIORDANO et al., 2012).

Horário da colheita. Na zona de cultivo tradicional, os horários de colheita geralmente começam às 9 h e terminam às 22 h, buscando fazê-lo depois que o orvalho é levantado, o que geralmente é escasso na região norte da Argentina. Na zona central, essa janela é reduzida aos horários em que o orvalho é levantado e a umidade do ambiente permite a colheita, que normalmente é alcançada após às 10 da manhã e geralmente dura até às 19 horas (GIORDANO et al., 2012). Esse fator também irá depender do dessecante (agroquímico) que foi usado na cultura, pois, como mencionado acima, quando se seca com Paraquat, geralmente pode ainda manter um caule verde que torna o material mais úmido, ao contrário do Glifosato que seca a planta mais integralmente (GIORDANO et al., 2012). Na medida em que a infraestrutura do estabelecimento o permita, a colheita começa com a recepção direta na unidade de armazenamento e classificação. Em seguida, os grãos


C a p í t u l o I I | 161 colhidos são descarregados em uma moega que realiza o transporte ao ensacador de grãos. Essa forma de armazenamento é temporária por dois ou três dias para logo ser extraídos e efetuados uma pré-limpeza de terra e peneirado, selecionando dois ou mais tamanhos de grãos, os quais são depositados em sacos bags de aproximadamente um metro cúbico de capacidade. Os sacos bags são carregadas em caminhões e transportadas para a unidade de processamento, classificação e polimento definitivo, onde todos os movimentos são realizados através de correias transportadoras, para evitar que os grãos sejam partidos por danos mecânicos (GIORDANO et al., 2012). É claro que tudo de bom, a colheitadeira pode fazer em termos de redução de danos mecânicos, mesmo assim pode haver danificação nos movimentos subsequentes do grão. Se possível, eliminar ao mínimo pelas passagens sucessivas por eixos sem-fim, pois não há roscas sem-fim com zero quebra de grãos. Os movimentos em massa do grão de bico devem ser realizados em 100% usando esteiras transportadoras. A melhor ferramenta para reduzir a perda média atual deste cultivo é controlar as perdas de colheita e trabalhar ao lado do terceirizado, acompanhando-o durante a sua jornada de trabalho.

DEFEITOS COMUNS NA COLHEITA MECANIZADA E AS POSSÍVEIS CAUSAS: - A barra não corta bem as plantas pode ser consequência da falta de afiar as lâminas. - Caem os grãos do grão-de-bico ao serem tocados pela máquina. Geralmente é por estarem às vagens excessivamente secas. - Expelem os grãos do grão de bico junto com a palha. Geralmente é porque as plantas são muito verdes. - O grão de bico (variedade Blanco Lechoso) está danificado, com pequenas incisões. É devido ao excesso de rotações do cilindro na trilhagem. Algumas marcas de colheitadeira precisam, para diminuir as rotações, introduzir um redutor. - Causando o surgimento de grãos partidos. Isso pode ser devido ao excesso de rotações do cilindro, embora o mais frequente é que seja produzido pelo tubo de descarga (parafuso sem-fim que comprime e parte, em duas bandas, a semente do grão de bico). Tal problema pode ser suavizado reduzindo o comprimento desse tubo ou removendo-o se houver uma carregadeira disponível no trator. O grão-de-bico cai na descarga que vai para o reboque (VEGA et al., 2016).


C a p í t u l o I I | 162 COMO RECOMENDAÇÕES GERAIS, TEM-SE EM CONTA O SEGUINTE:

- Certifique-se de que o grão-de-bico seja colhido seco, sem plantas verdes, porque o grão-de-bico imaturo pode reduzir o valor do produto, pois, mesmo depois de secos, eles continuarão a ter uma cor mais escura do que o restante (VEGA et al., 2016).

- Outra recomendação importante para o grão-de-bico da variedade Blanco Lechoso (grãos graúdos) é cuidar para que o cilindro de trilhagem não danifique os grãos, pois essas incisões podem ser facilmente confundidas com ataques de insetos e que vão dificultar a sua venda. O grão-de-bico afetado só pode ser removido manualmente, o que encarece e chega a ser antieconômico a operação (VEGA et al., 2016).

- Colheitadeira com uma pequena barra de corte consegue obter maior eficiência na operação de colheita do grão de bico.

- Não se preocupe excessivamente para que o grão de bico saia perfeitamente limpo da colheitadeira. Isso geralmente é difícil de conseguir, por isso se recomenda sacá-los um pouco mais sujos, mas menos danificados e sem quebrar. Posteriormente, os grãos se submeteriam à máquina de pré-limpeza ou de classificação, operação que resulta pouco custosa (VEGA et al., 2016).

- Em pequenas áreas da agricultura familiar, o grão de bico da variedade Blanco Lechoso pode ser mais interessante para cortar ou arrancar manualmente (Figura 103). A diferença entre este custo (manual) e a colheita mecânica, levando em consideração o valor da palha na alimentação animal, é pequena. O grão de bico colhido à mão sempre apresenta melhor qualidade, pelo fato de não aparecer no lote sementes quebradas ou danificadas (Figura 104; VEGA et al., 2016).


C a p í t u l o I I | 163

Figura 103. Arranquio manual das plantas do grão de bico.

Figura 104. O arranquio manual e a posterior trilha manual com ventilação na eira podem ser uma técnica ainda recomendada ao grão de bico "artesanal", principalmente com a variedade Blanco Lechoso, para atender a demanda de consumidores muito exigentes, capaz de pagar altos preços por uma semente colhida à mão. Foto: Vega et al. (1994).


C a p í t u l o I I | 164 PLATAFORMA DRAPER É importante ter em conta que a cabeçal draper não é uma inovação da última década, é uma tecnologia que voltou ao mercado de máquinas agrícolas modernas após vários anos de desuso. O referido equipamento teve seu auge na década de 1940, quando foram utilizados em colheitadeiras de arraste e de autopropulsados com cabeçais que transporta o material cortado mediante lonas, os quais foram adaptados recentemente para recolher o material enleirado de grão de bico que requer a secagem natural antes da trilha (Figura 105; PEIRETTI et al, 2014).

Figura 105. Colheitadeira com a plataforma frontal ou cabeçal “Draper”. Foto: José Peiretti, J.; Sanchez2, F.; Zavallia, G. U.

O retorno do cabeçal de alimentação por lona se deve ao fato de o cabeçal tradicional, com o transporte por rosca sem fim, o deslocamento de material cortado das extremidades do mesmo para o centro onde está localizado o alimentador da colheitadeira, principalmente nos modelos de alta capacidade de trabalho, não é uniforme e o material chega extremamente enroscado em si mesmo, o que gera ineficiências na alimentação da máquina, com picos na demanda de potência solicitada pelo motor por parte do sistema de trilha (PEIRETTI et al, 2014). O contrário sucede com o cabeçal de alimentação por encerado (lona, Figura 106) por diluir as demandas extremas de energia, fazendo uma


C a p í t u l o I I | 165 alimentação mais uniforme e ordenada do material de trilha. Deve-se considerar que há um ganho de uma hora a mais de trabalho por dia em relação ao cabeçal tradicional, principalmente em colheitadeira com grande capacidade de trabalho, o que representará uma quantidade considerável de hectares realizados ao final da safra (SIMONE et al, 2011; PEIRETTI et al, 2014).

Figura 106. Plataforma frontal draper, incorporado à alimentação do material com esteiras transportadoras de lonas com barra de corte. Foto: John Deere.

Portanto, a plataforma frontal draper é recomendada na colheita direta da cultura do grão de bico (Cicer arietinum), uma vez que é um cultivo de volume muito variável no terreno e deve ser trilhado com poucos danos.

BENEFICIAMENTO DO GRÃO DE BICO A umidade de recebimento pela unidade de beneficiamento desse grão é de 13%, mas, para realizar um armazenamento em silo-bags, é necessário colher com 11% de umidade. As unidades beneficiadoras com aeração podem receber o grão em até 15%. Também permite aceitar a produção no México com um máximo 1,5% de grãos verdes e marrons, livres de praga viva ou morta, isentas de grãos furados por gorgulho e com um máximo de 2,5% de grãos danificados por lagartas. O processo de limpeza e preparação para o posterior armazenamento se compõe das seguintes etapas:


C a p í t u l o I I | 166 Pré-limpeza. As Unidades de Beneficiamento de Sementes iniciam sua atividade na máquina de pré-limpeza para separar torrões, ramos e outras impurezas. Essa máquina de pré-limpeza de grãos do grão de bico está projetada para remover eficientemente os materiais estranhos contidos dentro do lote (Figura 107). A eficiência dessa máquina para produzir sementes mais limpas ou padronizadas, dependerá do tipo de colheita (manual ou mecânica) e do tamanho da semente de cada cultivar. Suas peneiras de pré-limpeza possuem bandejas de largura e tem uma capacidade nominal de 75-100 toneladas por dia.

Figura 107. Esquema de funcionamento da máquina de ar e peneiras: A- Moega; BVentilador aspirador; C- Primeira peneira; D- Segunda peneira; E- Terceira peneira; FVentilador de impulsão; G- Depósito de impurezas leves; H- Saída de vagens limpas; e I) Saída de impurezas grossas. Sementes de grãos de bico classificadas em tamanhos diferentes através da máquina de ar e peneiras. Foto: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva.

Máquina de limpeza e classificação por tamanho. Em seguida, procede à peneiração e classificação do grão de bico. Por esse processo, são eliminados os grãos quebrados ou danificados por animais que, juntamente com outros materiais vegetais, são triturados na máquina forrageira para destiná-los às forragens. O restante do grão de bico é classificado em diferentes calibres ou tamanhos, de acordo com o número de grãos por 30 gramas (uma onça), conforme apresentado na Tabela 13.


C a p í t u l o I I | 167 Tabela 13. Classificação do grão de bico por calibre e número de grãos por 30 gramas. Calibre xxx xx x 0 2 4 6 8 12 14 16 18 20 Fuente: ASERCA (1996), Infoagro (2010).

Número de grãos 42-44 44-46 46-48 48-50 50-52 52-54 54-56 56-58 58-60 60-62 62-64 64-66 66-68

O grão-de-bico grande, que inclui até o calibre 2, assim como o mediano, formado pelos calibres 4 a 8, são destinados principalmente à exportação, enquanto os calibres, de 12 a 20, são destinados aos mercados domésticos (interno). Em alguns países como México, Marrocos e Espanha, as sementes do grão de bico são classificadas por tamanho em apenas três categorias (Tabela 14). Por exemplo, no México, as seguintes categorias de exportação são usadas para cada 28 g de peso. A medida de separação é expressa em peneiras de furos redondos de diversos tamanhos, onde os grãos maiores são retidos nas peneiras de nº 23, 25 ou maiores, enquanto os menores são retidos nas peneiras de nº 17, 19 e 21. Os grãos mais valorizados no comércio são os de tamanho 36/38, 38/40 e 40/44.

Tabela 14. Distintas categorias de tamanho de grãos do grão-de-bico em relação ao número de sementes em 28 g de peso. Categoria

Número de sementes

Extra

36-38

Fino

38-40

Supremo

40-44


C a p í t u l o I I | 168 Mesa de gravidade. As pesquisas têm evidenciado que a inclusão da mesa gravitacional na linha de beneficiamento é vantajosa para o aprimoramento da qualidade das sementes do grão de bico (Figura 108). Todos os grãos de alta qualidade são procedentes do processo de classificação de impurezas através de mesas de gravimétricas que separam os corpos estranhos leves e grãos danificados.

Figura 108. A operação na mesa de gravidade seleciona e melhora a qualidade das sementes do grão de bico ou classificação por peso específico. Foto: Vicente de Paula Queiroga.

Os equipamentos que separam pela densidade, como a mesa de gravidade, tem sido amplamente usada na indústria de sementes já que melhora a qualidade ao eliminar do lote os seguintes tipos de grãos: danificados, chocos, perfurados por pragas, partidos ou trincados, doentes, ou outros materiais indesejáveis mais leves do que os grãos ou sementes boas. Isso permite a comercialização de uma porção do lote de sementes que de outra forma seria descartada como sementes por não preencher os requisitos mínimos de qualidade dos padrões recomendados pelo MAPA.

Classificador óptico / eletrônico. A última máquina da linha de beneficiamento antes do ensacamento. A mesma separa por características cromáticas (cores de sementes) e outras propriedades ópticas. Eliminam-se as sementes manchadas e /ou sementes de outras espécies ou variedades que diferem em cor e que por características físicas semelhantes


C a p í t u l o I I | 169 às sementes de grão de bico, não foram eliminadas em etapas anteriores do processo (Figuras 109 e 110).

Figura 109. Colorimétrico de uma unidade especializada no processamento de sementes do grão de bico.


C a p í t u l o I I | 170

Figura 110.

Unidade de Beneficiamento de Sementes em Córdoba (Argentina)

destacando as seguintes máquinas: classificadora por peneiras, mesa de gravidade, classificadora eletrônica e etapa de ensacamento. Foto: © J. Reginatto

Linha de envasamento. A última etapa da linha de beneficiamento, o produto é envasado em sacaria de papel multifoliada, sendo cada saco de sementes de grão de bico com a capacidade para 35 kg. Antes do armazenamento, o grão de bico deve ter uma umidade de 10% e deve ser mantido em local seco e ventilado (Figura 111).

Figura 111. Linha de ensacamento (esquerda) e sacos de papel multifoliados de sementes de grão de bico empilhados sobre estrados de madeira (direita). Fotos: © J. Reginatto.


C a p í t u l o I I | 171 DESCASCAMENTO DE SEMENTE DE GRÃO DE BICO O processo de descascamento mecanizado do grão de bico consiste em submeter às sementes inteiras na máquina descascadora para separar as sementes desnudas das cascas (Figuras 112 e 113). A partir da moagem do grão inteiro descascado, é obtida uma farinha de origem vegetal, que, do ponto de vista nutricional, é um alimento rico em proteínas, carboidratos, fibras, minerais e vitaminas (Figura 114). A farinha de grão de bico é geralmente misturada com farinha branca para produzir pão sem fermento (ázimo), ou é usada como ingrediente em produtos de confeitaria (Tabela 15).

Figura 112. Máquina descascadora de grão de bico em aço inoxidável. Foto: Alibaba.


C a p í t u l o I I | 172

Figura 113. Sementes normais com casca e sementes descascadas mecanicamente.

Figura 114. Detalhe do grão de bico descascado e as cascas (tegumentos) eliminadas por processo manual das sementes do grão de bico.


C a p í t u l o I I | 173 Tabela 15. Composição da farinha de grão de bico. Composição da farinha de grão de bico em 100 g de substância Proteína (%)

13,0

Gorduras (%)

4,7

Carboidratos (%)

67,2

Fibra bruta (%)

3,3

Cálcio (%)

56,3

Sódio (mg)

12,4

Ferro (mg)

7,2

Valor energético (kcal)

359,5

ÓLEO DO GRÃO DE BICO O óleo de grão de bico é obtido por prensagem a frio de sementes descascadas mecanicamente ou não (sementes inteiras), pois, dependendo da cultivar, o seu teor de óleo oscila entre 4 a 10% em sementes normais com casca. É difícil realizar o processo por prensagem mecânica de extração em sementes, como o grão de bico, que apresentam baixo teor de óleo. Na semente de milho, cujo teor de óleo oscila entre 3,5 a 5%, praticamente até 85% desse óleo se concentra no seu embrião (gérmen), sendo que o gérmen representa uma fração entre 10 e 12% do peso seco do grão (TOLEDO; MARCOS FILHO, 1977; WATSON, 1991). O gérmen de milho apresenta o mais alto teor de lipídios comparado com o endosperma o que faz com que este seja utilizado como principal matéria-prima na produção comercial do óleo (WATSON, 1991). Johnston et al. (2005) determinaram que no gérmen os teores estão na faixa de 18–41% de lipídios, 13–21% de proteínas e 6–21% de amido, sendo que variações na composição podem ocorrer devido a influência de fatores genéticos, condições climáticas e fertilização (WATSON, 1991). Neste processamento, o gérmen é separado, seco e seu óleo é removido por prensas mecânicas e/ou solventes. Então é refinado até chegar ao grau de pureza em que é consumido. No caso do grão de bico, deve-se utilizar uma semente de determinada variedade que possui uma protrusão radicular acentuada (eixo embrionário). Provavelmente, os grão do grão de bico sejam submetidos a um processo mecânico (parecido ao usado para o milhou ou por impacto romper o bico da semente e separá-lo), capaz de retirar essa diminuta fração de protrusão radícula (embrião) e que possa separá-lo das demais partes da semente


C a p í t u l o I I | 174 (casca, pericarpo e endosperma). Em seguida, realiza-se a extração do óleo das frações embrionárias do grão de bico por prensagem a frio do tipo extrusora de aço inoxidável do fabricante Scott Tech (Figura 115).

Figura 115. Óleo de grão de bico em frasco de 30 ml (Chickpea) e óleo de grão de bico em garrafa de vidro. Fotos: Hemani (Alwosta.tn). e natalystep.

Segunda a Empresa Hemani (avaliada pela Food and Drup Administration), esse óleo é rico em nutrientes como vitamina A, vitaminas do complexo B, ácido fólico, manganês, magnésio, molibdênio, zinco e gorduras poli-insaturadas, que o tornam um óleo útil para o uso interno como suplemento e topicamente para a saúde da pele e cabelo. Pode ser usado para hidratar a pele, tratar rugas e manchas da idade e reparar danos causados pelo sol, além de tratar do couro cabeludo seco e a caspa. Os nutrientes e o teor de ácidos graxos do óleo de grão de bico podem ajudar a melhorar os níveis de colesterol e a saúde do coração, aumentar a imunidade e incentivar um sistema digestivo saudável.

COMERCIALIZAÇÃO O grão-de-bico (Cicer arietinum L.) é uma leguminosa alimentar importante em muitas regiões do mundo, particularmente no subcontinente indiano, oeste da Ásia e norte da África, onde é parte integrante da dieta humana. A espécie é dividida em duas populações, com base no tipo de semente. O grão-de-bico Desi, que domina a produção indiana (e mundial), normalmente possui uma semente colorida (principalmente marrom), de forma um tanto angular, com um proeminente e característico 'bico' que abriga o eixo


C a p í t u l o I I | 175 embrionário. Dependendo do genótipo, as sementes normalmente caem na faixa de 0,1 a 0,3 g. Algumas sementes Desi são consumidas inteiras, mas a maioria é decorticada e os cotilédones são fendidos para produzir semente partida (dhal). Um processamento posterior produz farinha (besan). As sementes do grão de bico tipo Kabuli têm características contrastantes; são de cor branca ou creme, têm uma forma mais arredondada com uma ponta (bico) menos pronunciada e, apesar de alguma sobreposição de tamanho com a classe desi, geralmente são maiores e mais pesadas (0,2-0,6 g).

Por outro lado, é importante avaliar em campo às perdas de grãos durante a colheita, pois o INTA PRECOP constatou, em média, perdas de 170 kg/ha de grão-de-bico na colheita de duas safras; portanto, produtores, terceirizados e técnicos devem trabalhar para não exceder 60 kg/ha de perdas. Com um preço FOB de grão de bico de US $ 3.000 por tonelada (em anos anteriores atingiu um pico de US $ 5.000 por tonelada, calibre 9 mm ou superior), pode-se considerar que o valor de uma perda total de 50 kg/ha seria equivalente ao gerado por uma perda de 80 kg/ha de soja, com um preço de comercialização de US $ 1.800 a tonelada. Vale destacar também que o comércio mundial de grão de bico gira em torno de 500.000 toneladas, mas se registra grandes flutuações de ano para ano, dependendo da produção da Índia e do Paquistão. Durante 2001, as péssimas colheitas nos países mencionados aumentaram o volume comercializado para mais de um milhão de toneladas. Os principais países exportadores podem ser grandes produtores cujo consumo interno é muito baixo. O maior vendedor mundial é a Austrália, com volumes que oscilam entre 130.000 a 380.000 toneladas. O mesmo caso em importância comercial sucede com Canadá, México e Turquia. Vale ressaltar que o Canadá ingressou no comércio mundial apenas em 1990 e em dez anos se tornou o segundo exportador mundial. Com um volume médio de 55.000 toneladas, a Espanha é o principal importador do planeta, assim como a Jordânia e o BanglaDesh (MARGINET, 2002).

O mercado internacional de grão de bico é considerado um mercado de autoconsumo. Os principais países consumidores também são os principais produtores: Índia e Paquistão. O consumo indiano varia em torno de 7 milhões de toneladas por ano. Durante os anos em que a cultura é comprometida pelas más condições climáticas, a Índia se transforma no principal importador. Um exemplo evidente ocorreu em 2001, quando teve que


C a p í t u l o I I | 176 satisfazer a sua demanda interna importando 516.000 toneladas, o que representou 50% do total negociado (MARGINET, 2002). O consumo mundial de grão-de-bico se realiza de duas formas bem definidas e diferentes: como feijão, em nações com tradição cristã, e como farinha naqueles com tradição muçulmana, judaica e hindu. Nos países de origem cristã, a demanda é francamente sazonal: geralmente é consumida no inverno e durante as celebrações religiosas da Páscoa. A Espanha é um dos principais consumidores de grão de bico inteiro. O consumo na Itália e na Grécia também é importante. Com clima favorável, períodos secos e médias altitudes, várias regiões brasileiras são aptas a produzir grão-de-bico, por ser uma leguminosa muito valorizada em mercados asiáticos e no Oriente Médio. O desenvolvimento dessa lavoura poderá abrir um mercado bilionário às exportações brasileiras, além de suprir a demanda interna. Resultados já obtidos em plantações no Brasil Central mostram que a cultura vem apresentando ótimo desempenho no período do inverno em áreas irrigadas e mecanizadas. Os pesquisadores acreditam que essa é uma grande oportunidade para os produtores brasileiros, já que o País ainda depende de importações para suprir o consumo anual do produto, de oito mil toneladas, e o mercado asiático é um grande importador. Estima-se que somente a Índia comprou de outros países 873 mil toneladas de grão-de-bico em 2016, o equivalente a US$ 688 milhões, mais de R$ 2 bilhões. Por outro lado, algumas indústrias no estado de Córdoba (Argentina) têm agregado valor ao grão de bico, mediante a produção de farinha destinada aos mercados internos e externos. O preço do grão de bico é determinado com base na composição de calibres (tamanhos; Tabela 16) usados pelas indústrias de processamento de alimentos. Os calibres de sementes obtidos das variedades plantadas em Córdoba são 10 milímetros (raros), 9, 8 e 7 milímetros (Figura 116). Abaixo de 7 milímetros, também chamado de "quebra" ou "baixo da peneira", é considerado descartado para usos que não são para consumo humano direto ou para sementes. Os critérios físicos e visuais levados em consideração são: forma e rugosidade do grão, uniformidade, cor e tonalidade da casca (tegumento). Um grão uniforme é considerado conveniente por apresentar uma forma redondeada, de cor creme ou levemente acastanhada e tonalidades claras (FARÍAS et al., 2018).


C a p í t u l o I I | 177 Tabela 16. Preço de mercado do grão de bico em função do calibre da semente. Preço em US$\Ton.

Observação

180,00

Calibre 7 (com contrato)

Preço de mercado

130,00

Calibre 7 (sem contrato)

10-09-2018

280,00

Calibre 8 (com contrato)

230,00

Calibre 8 (sem contrato)

400,00

Calibre 9 (com contrato)

250,00

Calibre 9 (sem contrato)

Figura 116. Calibres de grão de bico do tipo Kabuli comercializados na Argentina. Foto: Farías et al. (2018).

De forma não oficial, foi estabelecido que o tamanho ou o calibre de sementes deve ser expresso como o peso de 100 sementes (g) (Figura 117) ou como o número de sementes em 28,75 gramas (1 onça). Também pode levar em conta o aspecto visual do grão, sobretudo no que se refere à cor do tegumento e a ausência de manchas e deformações. Enquanto a umidade de recebimento do grão é de 13%, entretanto, para realizar um armazenamento em sacos a granel (big-bags), deve-se colher o grão de bico com 11 % de umidade.


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Figura 117. As principais variedades de grão de bico da Argentina classificadas por peso de 100 sementes (g).

Além do seu maior tamanho, os grãos de grão de bico comercializados com o melhor preço têm que apresentar forma e cor uniforme, características estas que dependem da variedade, sanidade, época da colheita e grau de seleção que se realiza ao grão colhido (REGINATTO et al., 2016). Com relação à categoria do grão-de-bico partido (Split), cujo valor é inferior ao calibre 7, o mesmo em anos de preços baixos é equiparado com o valor de outros grãos danificados, utilizados pela indústria de moagem e alimento balanceado. Atualmente, a cadeia de valor faz uma distinção entre danos “comestíveis” e “não comestíveis”, mostrado na Figura 118.


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Figura 118. Tipos de danos nos grãos do grão de bico. Foto: Farías et al. (2018).

Como o grão-de-bico não é tradicionalmente cultivado em nosso país, a comercialização do produto sem processar pode ser difícil. A estratégia para o êxito da comercialização é a produção de sementes de alta qualidade. A semente que cumpre com os padrões de qualidade para ser enlatada é caracterizada por seu grande tamanho, geralmente 54 a 60 sementes/kg, livre de rachaduras e a casca da semente sem fissuras, de cor creme clara. As sementes de grão de bico que não cumpram com as normas para conservas (enlatado) podem ser difíceis de comercializar. Os lotes de sementes de grão-de-bico colhidos no campo devem ter danos mecânicos mínimos e devem ser de cor creme clara. A erosão no campo e a colheita de pequenos grãos reduzem drasticamente seu valor comercial. A qualidade da semente depende das condições ambientais que, se forem benéficas, produzirão à formação de sementes grandes, a uniformidade na maturação da colheita e as condições da colheita que favorecerão o mínimo de dano às sementes e a erosão (CRUZ MEDINA et al.,2014).


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