Agave americana L.: Tecnologias de plantio e produção de pulque

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Agave americana L. TECNOLOGIAS DE PLANTIO E PRODUÇÃO DE PULQUE

Vicente de Paula Queiroga Tarcísio Marcos de Souza Gondim José da Cunha Medeiros Acácio Figueiredo Neto Editores Técnicos

REVISTA CIENTÍFICA


Agave americana L. TECNOLOGIAS DE PLANTIO E PRODUÇÃO DE PULQUE

1ª edición


CENTRO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO E DIREITO LARYSSA MAYARA ALVES DE ALMEIDA Diretor Presidente da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito VINÍCIUS LEÃO DE CASTRO Diretor - Adjunto da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Editor-chefe da Associação da Revista Eletrônica a Barriguda - AREPB

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA – AREPB CNPJ 12.955.187/0001-66 Acesse: www.abarriguda.org.br

CONSELHO EDITORIAL Adilson Rodrigues Pires André Karam Trindade Alessandra Correia Lima Macedo Franca Alexandre Coutinho Pagliarini Arali da Silva Oliveira Bartira Macedo de Miranda Santos Belinda Pereira da Cunha Carina Barbosa Gouvêa Carlos Aranguéz Sanchéz Dyego da Costa Santos Elionora Nazaré Cardoso Fabiana Faxina Gisela Bester Glauber Salomão Leite Gustavo Rabay Guerra Ignacio Berdugo Gómes de la Torre Jaime José da Silveira Barros Neto Javier Valls Prieto, Universidad de Granada José Ernesto Pimentel Filho Juliana Gomes de Brito Ludmila Albuquerque Douettes Araújo Lusia Pereira Ribeiro Marcelo Alves Pereira Eufrasio Marcelo Weick Pogliese Marcílio Toscano Franca Filho Olard Hasani Paulo Jorge Fonseca Ferreira da Cunha Raymundo Juliano Rego Feitosa Ricardo Maurício Freire Soares Talden Queiroz Farias Valfredo de Andrade Aguiar Vincenzo Carbone



VICENTE DE PAULA QUEIROGA TARCÍSIO MARCOS DE SOUZA GONDIM JOSÉ DA CUNHA MEDEIROS ACÁCIO FIGUEIRÊDO NETO EDITORES TÉCNICOS

Agave americana L. TECNOLOGIAS DE PLANTIO E PRODUÇÃO DE PULQUE

1ª EDIÇÃO

ASSOCIAÇÃO DA REVISTA ELETRÔNICA A BARRIGUDA - AREPB

2020


©Copyright 2020 by

Organização do Livro VICENTE DE PAULA QUEIROGA, TARCÍSIO MARCOS DE SOUZA GONDIM, JOSÉ DA CUNHA MEDEIROS, ACÁCIO FIGUEIRÊDO NETO

Capa FLÁVIO TORRÊS DE MOURA Editoração ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE Diagramação ESTHER MARIA BARROS DE ALBUQUERQUE

O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos autores. Data de fechamento da edição: 18-01-2020

Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP)

Q3c

Queiroga, Vicente de Paula. Agave americana L. Tecnologias de plantio e produção de pulque. 1ed. / Organizadores, Vicente de Paula Queiroga, Tarcísio Marcos de Souza Gondim, José da Cunha Medeiros, Acácio Figueirêdo Neto. – Campina Grande: AREPB, 2020. 189 f. : il. color. ISBN 978-85-67494-36-4 1. Agave americana. 2. Sistema de produção. 3. Pulque. 4. Rebentos. 5. Hidromel. 6. Bebida I. Queiroga, Vicente de Paula. II. Gondim, Tarcísio Marcos de Souza. III. Medeiros, José da Cunha. IV. Figueirêdo Neto, Acácio. V. Título. CDU 633.7

Ficha Catalográfica Elaborada pela Direção Geral da Revista Eletrônica A Barriguda - AREPB

Todos os direitos desta edição reservados à Associação da Revista Eletrônica A Barriguda – AREPB. Foi feito o depósito legal.


O Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito – CIPED, responsável pela Revista Jurídica e Cultural “A Barriguda”, foi criado na cidade de Campina Grande-PB, com o objetivo de ser um locus de propagação de uma nova maneira de se enxergar a Pesquisa, o Ensino e a Extensão na área do Direito.

A ideia de criar uma revista eletrônica surgiu a partir de intensos debates em torno da Ciência Jurídica, com o objetivo de resgatar o estudo do Direito enquanto Ciência, de maneira inter e transdisciplinar unido sempre à cultura. Resgatando, dessa maneira, posturas metodológicas que se voltem a postura ética dos futuros profissionais.

Os idealizadores deste projeto, revestidos de ousadia, espírito acadêmico e nutridos do objetivo de criar um novo paradigma de estudo do Direito se motivaram para construir um projeto que ultrapassou as fronteiras de um informativo e se estabeleceu como uma revista eletrônica, para incentivar o resgate do ensino jurídico como interdisciplinar e transversal, sem esquecer a nossa riqueza cultural.

Nosso sincero reconhecimento e agradecimento a todos que contribuíram para a consolidação da Revista A Barriguda no meio acadêmico de forma tão significativa.

Acesse a Biblioteca do site www.abarriguda.org.br


EDITORES TÉCNICOS

Vicente de Paula Queiroga (Dr) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)

Tarcísio Marcos de Souza Gondim (Dr) Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)

José da Cunha Medeiros Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa do Algodão-CNPA Campina Grande, PB (Brasil)

Acácio Figueirêdo Neto (Dr) Professor Adjunto do Colegiado de Engenharia Agrícola Universidade Federal do Vale do São Francisco- UNIVASF Juazeiro – BA (Brasil)


APRESENTAÇÃO O pulque é uma tradicional bebida alcoólica fermentada do México, cuja origem é préhispânica e é elaborada a partir da fermentação da mucilagem - popularmente conhecida no México como hidromel -, do agave ou maguey, especialmente das seguintes espéces pulqueras: Agave salmiana, Agave atrovirens, Agave americana e Agave mapisaga. Na língua otomí, é conhecido como ñogi, na língua purépecha como urapi e na náuatle como meoctli. Tradicionalmente as plantações de agave são realizadas antes das chuvas, mas pode realmente ser implantados os campos durante todo o ano, e essas plantações são em média de mil plantas por hectare, e em cada planta pode ser obtida mil litros de hidromel (ou no mínimo 500 L por planta), ou seja, que por hectare são obtidos um milhão de litros de hidromel. Um investimento de 50 mil pesos é requerido por hectare para começar a trabalhar, mas esses recursos são recuperados no primeiro ano, segundo Humberto Lopez Ordoñez, presidente do Sistema Produto do Agave Pulquero de Puebla, porque é uma planta que se recupera terreno, corrige a erosão, não requer água e não requer fertilização. A primeira coisa que o Agave americana (pulqueiro) produz é um perfilho a partir do primeiro ano de vida e depois pode gerar 20 rebentos ou perfilhos, os quais são comercializados para implantação de novas plantações de agave pulquero. De todos os produtos oferecidos pelo agave pulquero, o mais reconhecido pela maioria dos mexicanos é o pulque, uma bebida com um grau mínimo de álcool que pode ser apreciado naturalmente ou preparada à base de frutas, açúcar, leite evaporado e leite condensado. É uma bebida que, gradualmente, retorna ao posicionar-se no mercado, porque as novas gerações estão consumindo, independentemente de estratos sociais, desde décadas atrás era considerado como uma bebida exclusiva para os agricultores, a população pobre ou rural. Um cultivo sustentável e altamente lucrativo para as regiões serranas do semiárido brasileiro poderá ser o agave pulguero. Trata-se de uma planta originada do México, da qual o homem pode obter grandes benefícios, tais como: uma bebida espirituosa com altos valores para a saúde, como o pulque e o biocombustível, através da obtenção de etanol. Mas é necessário adotar um novo sistema de produção para o Agave americana, o qual irá resultar em maior ganho de produtividade com redução de custo de produção, desde que se utilize das tecnologias mais apropriadas em lugar de tecnologias mais tradicionais adotadas na zona de denominação de origem. Algumas tecnologias compreendem os estudos das condições de solos, seleção e produção de mudas sadias, adubação química, herbicidas, controle de pragas e doenças, ponto de capação de escapo floral, além das etapas de extração do hidromel com qualidade. Portanto, a finalidade deste livro é servir como parâmetro, para as regiões serranas brasileiras e de acordo com a realidade local, adequadas para o melhor estabelecimento do Agave americana, de modo a obter maiores ganhos de extração de hidromel para a produção de pulque com alta qualidade. Vicente de Paula Queiroga


SUMÁRIO

CAPÍTULO I. SISTEMA DE PRODUÇÃO DO AGAVE AMERICANA – Vicente de Paula Queiroga, Tarcísio Marcos de Souza Gondim, José da Cunha Medeiros, Acácio Figueirêdo Neto .............................................................................................................. 10 CAPÍTULO II. PRODUÇÃO DE PULQUE OBTIDA DE AGAVES PULQUEROS – Vicente de Paula Queiroga, Tarcísio Marcos de Souza Gondim, José da Cunha Medeiros, Acácio Figueirêdo Neto, Esther Maria Barros de Albuquerque ................. 154 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 174


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CAPÍTULO I

SISTEMA DE PRODUÇÃO DO AGAVE AMERICANA

(Autores) Vicente de Paula Queiroga Tarcísio Marcos de Souza Bonfim José da Cunha Medeiros Acácio Figuerêdo Neto


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INTRODUCÃO A família Agavaceae é endémica da América (ARIZAGA; EZCURRA, 1995), distribuída desde o sul dos Estados Unidos da América à Colômbia e Venezuela, e é composta por nove gêneros e 340 espécies (GARCÍA-MENDOZA, 2011). O centro de maior diversidade biológica e riqueza está localizado no México, onde são encontradas 261 espécies (75% do total) com 177 espécies endêmicas (70%) (EGUIARTE et al., 2000, GARCÍA-MENDOZA, 2004). Os estados mexicanos com maior diversidade são Oaxaca, Chihuahua, Sonora, Coahuila, Durango e Jalisco (RAMÍREZ, 1995). Entre as aplicações mais importantes dos agaves ou magueyes por grupos humanos estão seus usos como: fonte de fibras duras, alimentação e elaboração de bebidas alcoólicas fermentadas e destiladas (GARCÍA-MENDOZA, 1995, COLUNGA et al., 2007). Um número restrito de espécies é dedicado ao pulque, incluindo Agave atrovirens, Agave americana, Agave salmiana e Agave mapisaga, as quais são popularmente conhecidas como os agaves pulqueros (ALFARO ROJAS et al., 2007; MORA-LÓPEZ et al., 2011). É importante destacar que a espécie Agave americana tem característica xerófita adaptada para viver em condições climáticas desfavoráveis, tanto em ecossistemas serranos de 800 metros (ou até 660 m ainda é plantada) a 3.700 metros, com longos períodos de seca e a temperaturas variadas de 12 °C a 30 °C; a sua estrutura morfológica está adaptada para essas condições como resposta a pressões ambientais, tais como: ambientes secos ou períodos secos, especialmente no solo; acumular água em tecidos especializados e não deixa perder pela transpiração, o desenvolvimento de suculência nas folhas é uma de suas adaptações mais destacadas, uma vez que a água armazenada durante a temporada de chuvas permite que as plantas sobrevivam durante a escassez de água do exterior (DÁVILA, 2002, GARCÍA-MENDOZA, 2007). Portanto, o Agave americana tem alta resiliência frente a fatores físicos extremos. Além disso, é uma espécie dominante em ecossistemas que se adaptam e se tornam espécies-chave por causa da quantidade de recursos que produz, particularmente em flores, pólen e néctar (EGUIARTE; SOUZA, 2007). Essa plantação deve permanecer livre de ervas daninhas, uma vez que estas competem com o agave impedindo o desenvolvimento da planta, consequentemente, essa prática ajuda a controlar melhor as pragas, desde que a remoção de ervas daninhas seja efetivada ao longo o seu ciclo. Também é aconselhável realizar a poda no segundo ano de estabelecimento para que a planta possa adquirir maior vigor e rápido crescimento. Essa atividade deve ser realizada na estação de inverno, onde as folhas mais antigas


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localizadas no nível do solo são cortadas. Também é conveniente incorporar adubo orgânico (esterco de cabra) a uma taxa de 4 kg por planta e para a incorporação de esterco é recomendado fazer uma trincheira em forma de meia lua ao redor da planta a uma profundidade de 15 cm, dentro dela é distribuída o estrume ao longo da trincheira e subsequentemente coberto com o mesmo solo removido. Outra das práticas de gestão é eliminar os rebentos, quando eles têm uma altura entre 40 a 50 cm, de modo que os mesmos possam ser utilizados em novas plantações (RAMOS et al., 2017). Por outro lado, há certa semelhança no aspecto económico entre os municípios de Concepción de Buenos Aires (Estado de Jalisco ) e de Apan (Estado de Hidalgo), no que se refere aos produtores que vivem apenas da renda gerada pela venda de pulque, devido a alguns fatores favoráveis que reduzem seus gastos, apesar de que a maioria ainda consegue vender pulque em menor escala, alguns por tradição, outros por autoconsumo para quitar os seus gastos mínimos que aparecem dia após dia. Para qualquer um, é difícil conviver exclusivamente com a venda dessa bebida devido ao seu baixo custo, a pouca popularidade que tem atualmente (ausência de marketing) e a competição com outras bebidas alcoólicas que, embora mais caras, são as preferidas pela população mexicana. Este fato infelizmente a mantém em um estado de vulnerabilidade em relação à sua produção no futuro. Em Apan ainda existe uma tradição de produzir pulque, bem como de consumi-lo, embora que o consumo atual não seja tão expressivo, enquanto em Concepción de Buenos Aires já se admite essa perda de consumo, apenas porque o seu consumo é em menor escala do que em Apan (ERLWEIN et al., 2013). O pulque é uma bebida fermentada que se obtém a partir do hidromel extraído do agave pulquero. É na região do Altiplano mexicano, principalmente nos estados de Hidalgo, Tlaxcala, Puebla e Estado de México, onde o agave pulquero tem mais presença e prosperidade, graças ao clima seco e semi-seco da zona, assim como do solo rochoso vulcânico. Seu cultivo tarda 10 anos para amadurecer. E para obter o hidromel, é realizado a operação de capação da planta para que não saia o escapo floral e se faz uma cavidade tipo tigela, no lugar do escapo (no meio da roseta), que é onde irá acumular o hidromel. Uma vez efetuado a operação de capação, espera-se durante cinco meses e, depois de este período, somente são mais cinco meses de produção e de extração de hidromel. Logo, a cavidade é raspada com uma lâmina curvada para abrir os poros nas paredes da cavidade (provoca uma irritação nos vasos das folhas que influência o translocamento da seiva até a cavidade) e permitir a produção de hidromel, um processo que é feito ao coletar duas vezes ao dia durante cinco meses com ajuda de uma cabaça oca e comprida. Cada vez que


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o hidromel é extraído pelo tlachiquero (coletor), é levado para o tanque ou tina, onde o mestre se encarrega do processo de fermentação e obtenção de pulque (RAMOS et al., 2017). Ao entrar a indústria de cervejaria no México, as campanhas de descriminação contra o pulque passaram a ser aceleradas, as quais alegavam, por exemplo, que o seu processo de fermentação era anti-higiênico, consequentemente sua produção e as receitas econômicas diminuíram e sua percepção comercial mudou radicalmente. Em Apan, que antes era a "capital do pulque", tanto a indústria de pulque quanto o consumo da bebida declinaram, mas, atualmente, agave e pulque ainda são considerados parte de uma das tradições mais representativas do lugar (ERLWEIN et al., 2013). Em pesquisa realiza em Aspan entre pessoas de 16 e 64 anos de idade, resultou que os homens entrevistados, em geral, admitem gostar de pulque, embora que alguns tenham parados há muito tempo e outros afirmaram gostar muito pouco. Enquanto os jovens adeptos dessa bebida apenas consumem esporadicamente, principalmente em festas familiares. Porém, é mais seguro encontrar pessoas consumidoras entre 30 a 50 anos. As razões para tomá-lo variam: o seu sabor, a curiosidade de experimentá-lo e porque o consideram uma bebida natural que não causa tanto danos à saúde em comparação a outras bebidas alcoólicas, além de poder ser ingerido na comida e por ser um produto econômico. Os produtores da cadeia de produção de pulque são elementos-chave para manter a própria tradição da cultura mexicana. Também é verdade que a sua persistência reside na conservação das populações de agave ou maguey, o gosto por essa bebida, a melhoria do sistema de cultivo, processos de extração e a busca de opções com maior valor agregado. Além da produção de hidromel para a produção de pulque e na busca de alternativas de produção inovadoras com o apoio de tecnologias para gerar produtos que preservem a tradição, a qualidade e valor agregado dos agaves pulqueros são os seguintes: o xarope é fonte de produção de frutose e inulina, comercialização de pulque enlatado e a produção potencial do bioetanol (MADRIGAL-LUGO et al., 2013), os dois primeiros são considerados como grande adoçante potencial e o último como uma alternativa de energia renovável. Segundo García-Valenzuela (2011), a gestão dos recursos vegetais são as atividades desenvolvidas pelo ser humano que modificam, até certo ponto, os processos evolutivos e recursos biológicos de um determinado recurso natural, a fim de se ter uma eficiente exploração. A gestão das espécies puqueras por moradores de comunidades rurais permite conhecer o uso que é dado a essas plantas, mudanças nos processos e


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ferramentas utilizadas e, ligadas a isso, a conservação desses recursos. No entanto, esses processos produtivos não devem ser aleatórios e ocasionais, já que para oferecer produtos e subprodutos de qualidade competitivas para os mercados, eles requerem ser regularizados e contar com bases sólidas sobre o conhecimento da biologia das espécies pulqueras utilizadas na produção do pulque, de tal forma que isso permite o estabelecimento, reconhecimento e registro de tais processos e facilite a geração de riqueza econômica para os grupos sociais que são possuidores do recurso.

IMPORTÂNCIA DO AGAVE AMERICANA A variedade Americana da subespécie Oaxacensis, conhecida como arroqueño, é uma grande planta com pequenos espinhos e uma grande inflorescência (Figura 1). Quando floresce, após 10 a 12 anos de crescimento, produz muitas sementes, embora as plantas possam gerar descendentes ao longo da vida (rebentos). Essa espécie também é usada para obter fibra, e pelo tempo que leva para amadurecer, ela é cultivada apenas localmente (doméstica), o que leva a uma produção limitada no México.

Figura 1. Planta de grande porte de Agave americana.

Além disso, o agave pulquero é uma planta muito útil, devido a uma série de adaptações morfológicas e fisiológicas. As espécies da família Agavaceae caracterizamse pelo desenvolvimento em ambientes áridos e semiáridos em solos pobres (Figura 2). Essas plantas ajudam na retenção de água e conservação de solo por evitar a erosão (controle de escoamento), os quais são os problemas muito frequentes no México,


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principalmente nos Estados do Norte. Portanto, eles desempenham um papel importante nesses habitats. Também é usado como forragem para o gado em tempos críticos e na delimitação de propriedades agrícolas.

Figura 2. Barreira de contenção com fileira de agave pulquero visando a conservação de solo no município de Zempoala, Hidalgo. Foto: Alberto Ulises Narváez Suárez, Tomás Martínez Saldaña, Mercedes A. Jiménez Velázquez. O mais importante uso do agave pulquero ou maguey no México é a extração de hidromel (Figura 3), o qual se obtém o pulque e constitui uma bebida tradicional mexicana, da qual o homem pode obter grandes benefícios, tais como: uma bebida espirituosa com altos valores para a saúde, como o pulque e o biocombustível, através da obtenção de etanol. Recentemente, o hidromel obtido está sendo empregado para extração de mel de agave ou maguey, o qual é usado como adoçantes na indústria alimentícia, principalmente para pessoas com problemas de diabetes. Portanto, esse produto é altamente apreciado no mercado externo por ser um produto de origem natural e constitui uma boa alternativa de exportação e comercialização para o pequeno produtor familiar organizado do semiárrido brasileiro.


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Figura 3. Pulque de Oaxaca (México) do Agave americana subsp. Oaxacensis. Foto: Hanoi Mark (Flickr). Originalmente produzido pelos Primeiros Povos do México, tem sido usado como um intoxicante desde antes da Conquista Hispânica. A pinha ou o coração do agave, no fundo da planta ou na base das grossas folhas espinhosas, é cortado (o pendão floral do agave maduro), deixando uma abertura semelhante a uma tigela ou cavidade. A seiva das folhas grandes penetra na cavidade, é coberta com uma rocha e deixada para fermentar. Após um período de tempo apropriado, é sugado a seiva (hidromel) usando uma cabaça longa e vazia. A seiva fermentada (pulque) é então colocada em grandes potes de vidro e vendida para a Pulquería local (Figuras 4 e 5). Não destilando. Ele faz um líquido branco grosso e acinzentado que proporciona uma intoxicação (bebida alcoólica) perfeitamente útil e uma grande ressaca.

Figura 4. A) Garrafa de pulque sem sabor com tampa de bambu e B) Pulque envasado e destilados de pulque produzidos por empresa poblana. Tipo de bebida alcoólica.


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Figura 5. Pulquería local onde se bebe pulque no México. Além da elaboração de pulque, a obtenção do hidromel da espécie Agave americana é usada em Chiapas, México, primordialmente para a produção de licores de Comiteco (Figura 6). Em Oaxaca, o Agave americana var. Oaxacensis, conhecido como "maguey arroqueño", é usada para a produção de mezcal (ESPINOSA et al. al., 2002; Figura 7)).


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Figura 6. Elaboração da bebida “Comiteco” é proveniente apenas do hidromel dos agaves pulqueros: Agave americana L., Agave atrovirens Haw e Agave salmiana Otto ex SalmDyck em Chiapas, México.

Figura 7. Agave americana var. oaxacensis (subsp. Arroqueño), é usada para a produção de mezcal em Oaxaca, México.


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Uma grande variedade de sabores de frutas de temporadas, ou sementes (noz, aveia, morango, abacaxi, limão, amora com queijo, manga, goiaba etc; Figura 8), mesclado com pulque fresco e mais alguns ingredientes (receita virtual se obtém no Google). Esse tradicional pulque curado é preparado pelos mexicanos, similar à nossa bebida caipirinha.

Figura 8. Pulque curado a base de frutas de manga e de morango, adicionando mais alguns ingredientes. INDUSTRIALIZAÇÃO

DE

PULQUE

E

PRINCIPAIS

DESAFIOS

TECNOLÓGICOS

1. Ciência e Tecnologia de Pulque Um simples olhar para os números da pesquisa no México ilustra a falta de interesse em pulque pela comunidade científica: uma pesquisa no PubMed sob “beer” resulta hoje em 17.929 hits, enquanto apenas 30 referências aparecem com “pulque”, a maioria delas publicadas no vigésimo primeiro século. No entanto, oito deles foram liberados nos últimos 2 anos (2014 e 2015) como prova de um interesse renovado. É importante observar em mais detalhes esse número extremamente baixo de referências bibliográficas, como a publicação científica mais antiga que lida com o processo, a qual remonta a 1957, quando Alfredo Sanchez Marroquin (SÁNCHEZMARROQUÍN et al., 1957), primeiro tentou industrializar pulque a partir dos requisitos microbiológicos básicos/mínimos para transformar o hidromel em pulque. Também consta na história os esforços iniciais do Dr. Leopoldo Rio de la Loza para elucidar a microbiologia do pulque em 1864. O mesmo relatou no Boletim da Sociedade de Geografia e Estadística, o isolamento da Termobacterium mobile por Paul Lindner em


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1924 (WEIR, 2016), entre outros. Os temas sobre a microbiologia de pulque, o isolamento de cepas e, mais recentemente, sua caracterização probiótica individual, são provavelmente as principais tendências de pesquisa (TORRES-RODRÍGUEZ et al., 2014; CASTRO-RODRÍGUEZ et al.,

2015; GONZÁLEZ-VÁZQUEZ et al., 2015; GILES-GÓMEZ et al., 2016; TORRESMARAVILLA et al., 2016). Um assunto de pesquisa adicional lida com o efeito de pulque na dieta mexicana. A primeira referência divulgada pelo PubMed é um documento de 1897 no qual Francisco Martínez Baca, famoso médico do estado de Puebla, descreveu o sucesso do tratamento com pulque de reclusos penitenciários que sofrem escorbuto (publicado no Journal of American Public Health Association) (RAMÍREZ RANCAÑO, 2000). Vale destacar que a vitamina C só foi descoberta em 1933 (CARPENTER, 2012). No entanto, nenhuma referência trata da tecnologia de produção de pulque, ampliação do processo, nem a definição da principal microbiota necessária para reproduzir a bebida, como os consumidores a conhecem. Essas preocupações permanecem como desafios tecnológicos desde o século passado, quando Sanchez Marroquin definiu os quatro processos fisiológicos envolvidos na produção de pulque (SÁNCHEZ-MARROQUÍN et al., 1957). No entanto, reduzir a microbiota a três ou quatro microrganismos eliminaria cegamente possíveis bactérias que possam contribuir, como probióticos, aos efeitos benéficos para a saúde, especialmente indicados no tratamento de problemas gastrointestinais e diarreia. A decisão simples entre S. cerevisiae ou Z. mobilis como produtor de álcool não é tão evidente. S. cerevisiae alcança maiores concentrações de etanol sem inibição, enquanto Z. mobilis, um produtor mais rápido de etanol, também contém duas levansucrases, responsáveis pela síntese de levana, parte da fibra solúvel em que o pulque é particularmente rico (LAU et al., 2010; XIONG HE et al., 2014; WEIR, 2016). Até agora, o pulque permanece como uma bebida muito heterogênea em relação às suas propriedades organolépticas finais e comuns (álcoolácido, sabor e viscosidade), enquanto muitos consumidores preferem o produto fresco, outros preferem o pulque após mais de 24 h de fermentação combinada com suco de frutas). No entanto, o pulque não suporta grandes tempos de armazenamento sem desenvolver sabores, e a pasteurização não afeta apenas o sabor, mas também destrói uma de suas principais propriedades: a microbiota. É provavelmente a este aspecto que a maioria dos esforços de pesquisa tem sido dedicada. A presença de frutooligossacarídeos prebióticos da inulina presente no


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hidromel do agave, bem como os polissacarídeos solúveis de agavina, levana e dextrana, semelhantes à inulina, têm sido descritos e caracterizados (CHELLAPANDIAN et al., 1998; ORTIZ-BASURTO et al., 2008; RODRÍGUEZ et al., 2004). Alguns desses prebióticos foram avaliados tanto in vitro quanto in vivo, tendo constatado que os efeitos benéficos observados entre mães lactantes e seus bebês (ARGOTE-ESPINOSA et al., 1992; BACKSTRAND et al., 2001, 2004) se devem principalmente ao seu conteúdo pré e probiótico. Infelizmente, a maioria das pesquisas agora é dedicada ao isolamento e produção de bactérias probióticas como bebidas alternativas, isoladas do pulque, mas fora do escopo da bebida. Esses esforços são semelhantes aos realizados no século passado pelo próprio Paul Lindner. Ele estava convencido de que Pseudomonas lindneri (que ele havia definido anteriormente como Thermobacterium mobile) era responsável pelos efeitos benéficos do pulque no tratamento de desordens intestinais e era produzida em Berlim a partir dessa única bactéria, uma bebida fermentada “funcional” (GONÇALVES DE LIMA, 1956).

2. Desafios associados à produção de pulque Provavelmente, o principal desafio associado à industrialização do pulque está relacionado à disponibilidade natural do substrato e à necessidade da introdução de processos de estabilização ao produto fermentado. O hidromel difere de quase todas as outras bebidas fermentadas, como vinho, cerveja ou tepache (vinho de abacaxi). No agave pulquero, a matéria-prima, leva mais de 8 anos para atingir a maturidade. Além disso, quando está pronta para produção, o hidromel deve ser coletado diariamente da planta, e não produzido por uma única extração, como é geralmente o caso de bebidas fermentadas. Cada planta de agave é visitada diariamente durante vários meses e o hidromel acumulado é extraído, sendo, portanto, uma atividade de trabalho intensivo, que também induz a fermentação na própria planta onde o hidromel se acumula durante o dia. Ou seja, a fermentação já está ocorrendo quando o substrato é coletado. Em contraste, a fermentação que leva à tequila, também produzida a partir de açúcares de agave, não requer esse processo demorado, pois os açúcares são extraídos diretamente da planta madura (Agave tequilana) em uma única operação depois que a pinha do agave é cozida, triturada e prensada. Vários esforços bem-sucedidos de industrialização para a produção de pulque fermentado engarrafado/enlatado foram realizados principalmente por produtores nos Estados de Puebla, Tlaxcala e Hidalgo (RAMÍREZ et al., 2004; JAUREZ ROSAS, 2015;


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Figura 9). Os produtores incluem empresas como Tecnología e Innovación en Pulque Industrial S.A. de C.V., compreendendo mais de 300 produtores de pulque no estado de Puebla, Torre Grande em Hidalgo, e a Procesadora de Pulque S.A. de C.V e Pulque Hacienda 1881 em Tlaxcala. Ambas as empresas exportam pulque em lata para a Europa, América Central e Estados Unidos, sendo este último o maior mercado de pulque em lata (principalmente as cidades de Los Angeles e Chicago, onde estão os maiores assentamentos de imigrantes mexicanos) (JAUREZ ROSAS, 2015). No entanto, a industrialização do pulque introduziu mudanças fundamentais na percepção pública de produtores e consumidores tradicionais, resultando em um produto que a maioria dos consumidores tradicionais nunca provou antes. Os esforços para estabilizar a bebida fermentada por pasteurização e /ou filtração do pulque ou pela adição de conservantes, antioxidantes, corantes ou agentes texturizantes certamente podem melhorar a estabilidade e o prazo de validade, mas também podem reduzir o conteúdo pré e probiótico da bebida fermentada (RAMÍREZ et al., 2004; ESCALANTE et al., 2012).

Figura 9. Comercialização do produto pulque enlatado no México.


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No entanto, há uma crescente preferência por produtos locais e mercados locais (JAUREZ ROSAS, 2015). Acredita-se que o principal investimento científico e tecnológico deve vir da demonstração dos principais atributos nutricionais, promotores da saúde e organolépticos do pulque e sua microbiota, introduzindo modificações específicas nas tradicionais tinacais (setor de fermentação) de produção que garantem ao consumidor que o pulque é produzido de forma higiênica, conservando suas características locais e suas cepas regulares, de modo que seja seguro para o consumidor (Figura 10).

Figura 10. Conjunto de tina (tinacal) de fermentação em aço inoxidável com capacidade de 1000 L é considerado seguro, do ponto de vista de higienização, para o processo de fermentação do pulque.

HISTÓRIA DO PULQUE A família Agavaceae é muito mais velha do que a mitologia pré-hispânica, pois sua origem remonta a cerca de 10 milhões de anos atrás (GOOD-AVILA et al., 2006). O Agave é uma família prolifera com nove gêneros conhecidos, compreendendo 300 espécies, a maioria delas ainda presentes no México. Os agaves pertencem à ordem Amarilidacea e são endêmicas do México. Um número restrito de espécies é dedicado ao pulque, incluindo Agave atrovirens, Agave americana, Agave salmiana e Agave mapisaga (Tabela 1; ALFARO ROJAS et al., 2007; MORA-LÓPEZ et al., 2011).


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Tabela 1. Espécies de agave pulquero cultivadas principalmente nos Estados do México. Espécies

Nome aceito de acordo com a lista de plantas do site na web

Comentários

Referências

Agave atrovirens Kraw ex Salm-Dyck

Aceito

Cultivada principalmente nos estados do México de Tlaxcala, Hidalgo e Puebla

Alforo Rojas et al., 2007.

Agave atrovirens var. Salmiana (Otto ex SalmDyck) Maire and Weiller

Sinônimo A. salmiana Otto ex Salm-Dyck

Cultivada principalmente nos estados do México de Tlaxcala, Hidalgo e Puebla

Alforo Rojas et al., 2007.

Agave americana L.

Aceito

Cultivada principalmente nos estados do México de Tlaxcala, Hidalgo e Puebla

Alforo Rojas et al., 2007; Mora-López et al., 2011.

Agave mapisaga Trel

Aceito

Inclui 13 variantes. Cultivada principalmente nos estados do México de Tlaxcala, Hidalgo e Puebla

Alforo Rojas et al., 2007.

Agave Salmiana var. Angustifólia A. Berger

Aceito

Cultivada principalmente nos estados do México de Tlaxcala, Hidalgo e Puebla

Alforo Rojas et al., 2007; Mora-López et al., 2011.

Agave salmiana var. Ferox (k. Koch) Gentryl

Aceito

Inclui três variantes

Mora-López 2011.

et

al.,

Agave salmiana Salmiana

Nome resolvido

O grupo mais diversificado, incluindo 31 variantes

Mora-López 2011.

et

al.,

var.

não

Fonte: The Plant List (2010).

Os antigos astecas conheciam o pulque como metoctli (da língua nahuatl metl = agave ou maguey, e octli = vinho), vinho agave, ou iztacoctlli (de izac = branco e octli = vinho) vinho branco, ou poliuhquioctli (de poliuhqui = estragada ou podre e octli = vinho) a bebida estragada com odor e sabor desagradáveis. Provavelmente é do poliuhquioctli, que os conquistadores espanhóis designaram como pulque, a bebida agave recémfermentada (GONÇALVES DE LIMA, 1956; SAHAGÚN, 1999). O pulque é uma bebida


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branca leitosa, viscosa e levemente ácida, com um teor alcoólico que depende de vários fatores, mas geralmente entre 4 e 7 °GL, produzida pela fermentação espontânea de hidromel, a seiva açucarada extraída das espécies de Agave mencionadas anteriormente (SECRETARÍA DE ECONOMÍA, 1972b). De acordo com Fray Bernardino de Sahagún, em sua “História Geral das Mulheres de Nova Espanha”, numerosos deuses estavam envolvidos no presente do Mayahuel para a humanidade. Entre outros, ele menciona Ometochtli, que para os astecas era também o deus da embriaguez, também associado à fertilidade das plantas e ao vento. Ele governou os 400 Centzontochtli, ou Deus coelhos de embriaguez, como Patecatl, que sabia misturar hidromel com raízes de plantas, Cuatlapanqui (o “abridor de cabeças”) ou Papaztac (o “nervoso”), entre muitos outros para a quem o bêbado e intoxicado foram sacrificados (GONÇALVES DE LIMA, 1956; ANAWALT, 1998; SAHAGÚN, 1999; RAMÍREZ, 2002). Enquanto a maioria dos documentos coloca a origem mais provável do pulque na antiga civilização Otomi em 2.000 a.C., evidências arqueológicas indicam que caçadores e coletores usaram agave há milhares de anos (JENNINGS et al., 2005; VALADEZBLANCO et al., 2012). Evidências orgânicas recentes lançaram nova luz sobre a história do pulque. Com efeito, embora os componentes químicos dessa bebida alcoólica sejam solúveis em água, limitando a sua conservação, já os lipídeos hidrofóbicos dos resíduos alimentares são mais estáveis. Portanto, Correa-Ascencio et al. (2014), aplicaram uma nova abordagem de biomarcadores lipídicos para detectar hopanóides bacterianos derivados da bactéria Zymomonas mobilis, amplamente reconhecida como fermentadora do pulque, os quais detectaram como marcador de pulque em mais de 300 fragmentos de cerâmica. Os autores que utilizaram essa metodologia puderam demonstrar pela primeira vez o uso de vasos cerâmicos para conter pulque na localidade de La Ventilla por volta de 200 a 550 dC, no auge da cultura de Teotihuacan. A presença de hopanóides como marcadores bacterianos de pulque, demonstra que essa bebida foi produzida na antiga cidade de Teotihuacan e abre uma nova via de pesquisa para uma análise sistemática para estabelecer o nível e a intensidade da produção e consumo de pulque nessa cultura (CORREA- ASCENCIO et al., 2014). Durante o auge da cultura asteca, o pulque era produzido e consumido preponderantemente em rituais religiosos e sagrados. Era restrito aos cidadãos comuns, com regras rígidas limitando seu consumo. Seu consumo excessivo era severamente punido, em alguns casos, incluindo a pena capital, mesmo para os sacerdotes. Com a


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queda do império asteca, o pulque perdeu seu significado religioso gradualmente e tornou-se uma bebida de comida e um popular intoxicante (GONÇALVES DE LIMA, 1956; RAMÍREZ et al., 2004; RODRÍGUEZ, 2004). Durante a Colônia Espanhola (1521–1821), a produção de pulque foi uma das principais atividades econômicas e a bebida alcoólica mais popular, resultando no surgimento das Fazendas Pulqueras (grandes fazendas dedicadas ao cultivo de agave, produção de pulque e comercialização), principalmente no planalto central mexicano, incluindo os estados atuais de Hidalgo, Tlaxcala, Puebla, Morelos, Michoacán e Querétaro. Curiosamente, o processo de produção permaneceu praticamente inalterado desde a conquista espanhola e durante a colônia (CRIST, 1939; WILSON; PINEDA, 1963; RAMÍREZ RANCAÑO, 2000). Por volta de 1629-1786, antes da Guerra da Independência do México, a produção e o consumo de pulque foram proibidos, uma vez que se tornaram um grande problema de saúde e social entre os índios. No entanto, a relevância econômica do agave durante a Colônia Espanhola forçou as autoridades em 1786 a encerrar o período de proibição, pois, apesar da proibição, a produção de pulque competia com vinhos europeus e licor de cana de açúcar controlados pelos espanhóis (LORENZO MONTERRUBIO, 2007). No final da Guerra da Independência (1810-1821), a produção de pulque pelas fazendas pulqueras recuperou sua relevância econômica, particularmente pela introdução da ferrovia para o transporte de milhares de litros da bebida fermentada diretamente das fazendas pulqueras para as principais cidades, incluindo a Cidade do México. No início do século XX, a produção de pulque alcançou cerca de 500 milhões de L/ano. Em 1905, estima-se que 350.000 L de pulque foram consumidos apenas na Cidade do México. Após a Revolução da Guerra Civil (1910-1920), a estrutura de produção das fazendas pulqueras foi destruída como pulque e sua atividade econômica associada era de propriedade dos latifundiários, uma parte importante da classe alta. No período entre 1920 e meados da década de 1930, a nova produção de pulque e transporte para a Cidade do México progrediram novamente. Entretanto, entre 1935 e 1940, a produção e o consumo de pulque foram seriamente afetados novamente por uma política oficial antialcoólica, uma severa devastação das plantações de agave e houve naquela época a consolidação da cerveja como bebida alcoólica popular (GONÇALVES DE LIMA, 1956; RAMÍREZ RANCAÑO, 2000; JÁCOME, 2003; RAMÍREZ et al., 2004; RODRÍGUEZ, 2004; LAPPE-OLIVERAS et al., 2008; ESCALANTE et al., 2012).


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O pulque teve seu grande sucesso nas últimas décadas do século XIX, quando as ricas fortunas eram derivadas de sua produção bem-sucedida em fazendas e transporte de trem para os centros urbanos centrais do México. Entretanto, os esforços significativos para preservar o pulque e enfrentar a crescente demanda por cerveja foram fracassados. Esses esforços, assim como a diversificação da indústria de agave, foram conduzidos em particular por Ignacio Torres Adalid, conhecido como “O Rei do Pulque” (RAMÍREZ RANCAÑO, 2000). A Revolução Mexicana durante o governo de Venustiano Carranza, desde 1914 até 1920, forçou os fazendeiros a deixarem o país. Pois, o consumo de pulque estava associado à “criminalidade e degradação da raça mexicana”. Esse foi o começo do fracasso do pulque agroindustrial do século XX. No entanto, em 1882, o pulque foi a principal bebida alcoólica consumida no país e uma das mais importantes agroindústrias mexicanas do final do século XIX. Um trem transportava diariamente centenas de barris de madeira contendo pulque de mais de 300 fazendas e de tinas de fermentação principalmente dos estados do Leste Hidalgo e Tlaxcala, sendo rica a região graças às “culturas do século” (agave) e “ouro branco” (pulque) (PARSONS; DARLING, 2000; RAMÍREZ RANCAÑO, 2000; JENNINGS et al., 2005). Vários fatores foram mencionados para explicar o declínio do pulque, entre outros, o fato de que o pulque não poderia lidar com a introdução de uma bebida alcoólica concorrente: a cerveja. Apesar das diferenças substanciais na composição e propriedades organolépticas, provavelmente o fato de o consumo de pulque ter caído drasticamente durante as primeiras décadas do século XX, além da já mencionada campanha contra o consumo, foi à falta de investimento em ciência e tecnologia. Curiosamente, enquanto os consumidores de cervejas tradicionais estão se favorecendo de um produto industrializado, os consumidores de pulque não têm outra escolha senão de um produto tradicional (artesanal) que, no contexto das tendências atuais de consumo, é paradoxalmente uma vantagem. O número de pulquerias que oferece pulque na Cidade do México aumentou consideravelmente com mais de 100 lugares para atender o consumidor em páginas da internet, a maioria deles de alta qualidade (RAMÍREZ RANCAÑO, 2000). A principal produção no México ainda é o estado central de Hidalgo, onde mais de 260 milhões de litros de pulque foram produzidos em 2010, equivalente a 82% da produção nacional, seguido por Tlaxcala com 13,3% e o Estado do México com 2,68%, de acordo para fontes não oficiais. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INEGI), a cerveja é descrita como responsável em 2014 por 1,2% do total da produção a granel, enquanto a


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do pulque foi de 0,0022% (INEGI, 2016). Outras fontes, como a “Encuesta Nacional de Adicções 2011”, estima que a cerveja é consumida por 50 e 30% da população masculina e feminina, respectivamente, enquanto outras bebidas fermentadas, como o pulque, são consumidas por apenas 4,4% da população.

HIDROMEL/ PULQUE, MEZCAL E TEQUILA As bebidas produzidas com agave podem ser divididas em dois grupos: As que se derivam do escorrimento de açucares logo após a raspagem do talo – hidromel e pulque – e aquelas que provêm do cozimento da pinha, talos e folhas para produzir destilados como o mezcal e a tequila. O hidromel e pulque são bastante apreciados pelo povo mexicano. Em determinadas ocasiões, a história do descobrimento do hidromel e dos agaves pulqueros se integra à história dos agaves mezcaleros, que são espécies totalmente diferentes. Os agaves pulqueros são de maiores dimensões, muito suculento, de folhas grandes, grossas e carnosas ou sucosas e correspondem as seguintes espécies: Agave salmiana Otto ex Salm., Agave mapisaga Trel.; Agave atrovirens Karw. Ex Salm.; Agave ferox Koch; Agave hookeri Jacobi e Agave americana L. (GENTRY, 1982). Os excedentes do pulque que não chegavam a ser comercializados eram destilados. O auge da bebida tipo mezcal ocorreu na segunda metade do século XX, quando quase todas as explorações (pulqueras) tinham alambique de destilação (RENDÓN, 1990). Os mesoamericanos mastigavam agave cozido (mexcalli) ao menos nove mil anos atrás, coprólitos foram encontrados em covas (GENTRY, 1982). Essa forma de alimento ainda se encontra em mercados regionais do México. Os açucares que se extraem do agave cozido são preparados com água fresca e fermentos por algumas culturas indígenas. As características evidentes que selecionavam os agaves mezcaleros foram os talos curtos, bases de folhas grossas (bainha) e sua palatabilidade. As espécies com altos teores de sapogeninas e outros compostos tóxicos eram descartados para tal fim. Assim, os agaves para mezcal ou mezcaleros foram selecionados entre outras espécies não aguameileras, como: Agave angustifolia Haw.; Agave rhodacantha Trel.; Agave tequilana W.; Agave shrevei Gentry; Agave wocomahi G.; Agave durangesis G.; Agave palmeri Engelm; Agave zebra G.; Agave asperrima Jacobi; Agave potatorum Zicc.; e Agave weberi Cels. (GENTRY, 1982).


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A destilação, desconhecida pelos antigos mexicanos, foi utilizada para obter uma bebida com alto grau alcoólico depois da fermentação dos açucares do agave cozido. O modelo tecnológico para a fabricação de álcool de cana-de-açúcar foi provavelmente o que se seguiu para produzir os primeiros “vinhos de mezcal” em México. O conceito de “mezcal-alimento”, de origem indígena, mudou então pelo de mezcal-destilado, um produto mestiço. O primeiro mezcal identificado como produto de qualidade foi à tequila. O agave azul foi cultivado extensivamente e cozido em fornos, o qual originou uma revolução industrial e gerou um produto diferenciado dos outros mezcaleros. A diferença entre os diversos mezcaleros e a tequila também foi o local de sua origem, a espécie de agave utilizada e o melhoramento do processo industrial. Os mezcaleros abundaram e ainda abundam em diferentes regiões do México. Atualmente, os mezcaleros constituem uma indústria com uma normativa e apoio governamental com reconhecimento de Denominação de Origem (VALENZUELA, 2003).

GÊNERO AGAVE L. Em grego, agave, agavus, significa “admirável”, e foi a partir da espécie Agave americana que Carlos descreveu o gênero em 1753. Seu centro de origem se localiza em México, pois é nesse país que se encontra a maior variabilidade e número de espécies (CASTORENA, 1985). Atualmente, foram reconhecidas 136 espécies, 26 subespécies, 29 variedades e sete formas para a parte continental de Norteamericanas (GENTRY, 1982). O gênero Agave se divide nos subgêneros: Agave, com inflorescência em panícula ou umbela, e Littaea, a inflorescência é em forma de espiga ou racemosa. A distribuição em grupos para ambos os subgêneros proposta por Gentry (1982) está inscrita na Tabela 2.

Tabela 2. Relação de gênero Agave, subgêneros, espécies e exemplos. Subgêneros

Grupo ou seção

Nº de

Exemplos

espécies Littaea

Amolae

8

Agave vilmoriniana Berger (presente em Jalisco)

Choritepalae

3

Agave guiengola (enémica Oax.)

Filiferae

8

Agave schidigera (presente em Jalisco)

Marginatae

21

Agave victoriae-reginae T. Moore

Parviflorae

4

Agave schotii Engelm (N. de México)

Polycephalae

5

Agave celsii Hook (Hidalgo)

Striatae

3

Agave stricta Zucc (Puebla)

Urceolatae

2

Agave utahensis Engelm (E. U. A.)


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Agave

Americanae

6

Agave americana (amplamente distribuído)

Campaniflorae

3

Agave promontorio Trel. (Baixo California)

Crenatea

6

Agave inaequidens (Jal. Mezcal “raicilla”)

Deserticolae

10

Agave avellanidens (E.U.A.) e N. de México)

Ditepalae

10

Agave durangensis (Dgo. Mescal)

Hiemiflorae

12

Agave potatorum (Oax. para mescal)

Marmoratae

4

Agave marmorata (Oax. algumas vezes para mescal)

Parrynae

6

Agave guadalajara (Jal.)

Rigidae

12

Agave tequilana; Agave fourcroydes, Agave angustifolia

Salminae

5

Agave salmiana, Agave mapisaga (aguamieleros, pulqueros)

Sisalanae

6

Agave sisalana (Henequén verde)

Umbelliflorae

2

Agave sebastiana (Somente em baixo Califórnia)

Fonte: Ana G. Valenzuela (2003).

BOTÂNICA, MORFOLOGIA E FISIOLOGIA

-Aspecto Botânico O Agave americana é considerado uma espécie de sucesso, devido às suas adaptações morfológicas, reprodutivas e ecológicas, sua plasticidade genética, tolerância ecológica, capacidade de dispersão e germinação de suas sementes e sua interação biótica com outros organismos, como são os polinizadores (LEÓN et al., 2013).

O gênero Agave faz parte da família de plantas agaváceas o agavaceae (por seu nome científico) e pertence à classe das monocotiledóneas. Ainda não há um consenso sobre a sua delimitação taxonômica, no entanto, os especialistas listram em mais de 200 espécies que fazem parte desse gênero, entre as quais se encontra o Agave americana. Por sua ampla diversidade, a família Agavaceae está integrada por oito gêneros, entre os quais se encontra o gênero Agave (GARCÍA, 2007).

Foi Carlos Linneo quem estabeleceu, no ano de 1748, em Hortus Upsalensis o gênero Agave. Linnaeus tomou a palavra grega Agavos, que significa algo grande, ilustre, nobre ou admirável para a designação deste gênero, talvez baseado na morfologia desta planta quando ocorre sua reprodução sexuada (JACQUES-HERNÁNDEZ; SALAZAR, 2009).


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A família Agavaceae é endêmica da América por se encontrar distribuídas em diversos habitats desde o sul do Canadá até a Bolívia, incluindo as ilhas do Caribe (MENDOZA, 2004). Esta família é definida citologicamente com 5 cromossomos compridos e vinte e quatro curtos e sua classificação taxonômica é a seguinte:

Reino: Plantae Divisão: Antophyta Classe: Liliopsida Subclasse: Liliidae Ordem: Liliales Família: Agavaceae Subfamília: Agavoideae Gênero: Agave Subgênero: Agave Espécie: Agave americana

O gênero Agave, segundo o seu tipo de inflorescência, se divide em dois subgêneros. Existe um subgênero Agave que tem uma inflorescência em panícula, no qual se encontram as espécies de importância econômica, tais como: Agave americana, Agave tequilana, Agave fourcroydes e Agave angustifolia, e o outro subgênero Littaea que apresenta uma inflorescência em forma de espiga (IRISH; IRISH, 2000; Figura 11).


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Figura 11. Destaque dos dois tipos de inflorescência: A) Panícula (gênero Agave) e B) forma espigada (gênero Littaea).

-Aspecto Morfológico

Planta: Possui de 1,70-2,0 m de altura, acaule com 7-10 dm de largura, cespitosa, suculenta com poucos rebentos, roseta grande e aberta, estendida radialmente, multifoliada com 80-100 folhas na fase madura (Figura 12).


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Figura 12. Planta da espécie Agave americana com suas folhas lanceoladas e acuminadas.

Os agaves são perenes que geralmente assumem a forma de rosetas pela disposição circular de suas folhas que crescem em forma de espiral. As folhas são regularmente suculentas e se caracterizam por serem grossas, achatadas, fibrosas, de consistência dura e com terminação afilada no ápice, quase sempre de margens espinhosos (Figura 13). Por se tratar de uma planta monocárpica, ela floresce uma só vez durante o ciclo vegetativo, morrendo posteriormente. Por outro lado, o Agave americana é uma das quase 300 espécies conhecidas de agave no mundo, das quais 75% destas plantas desenvolvem no México, que se reproduz principalmente por rebentos (em espanhol denomina-se de hijuelos) e são tirados da planta, quando alcançam uma altura de 50 cm.


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Figura 13. O agave e suas partes. Fonte: Aqueología Mexicana, Edição Especial nº57, Agosto de 2014. Ilustração de Carlos Alfonso León/Raíces.

Raiz e Talo: A planta apresenta uma raiz primária e perene, formada pelo desenvolvimento de uma radícula de bulbos ou rebentos; e uma raiz secundária, cuja forma fasciculada atinge uma profundidade de três metros e invade a terra lateralmente, o que dificulta a erosão quando cultivada em terreno declivoso (Figura 14). O talo é rizomatoso, curto, pouco desenvolvido e de forma cilíndrica, na qual as folhas se desenvolvem. Ampla propagação por brotos rizomatosos (rebentos).


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Figura 14. Detalhe das folhas do Agave americana com sua raiz descoberta. Fotos: Juan Carlos Duque Sánchez (2013).

Folhas: Com folhas rígidas e grandes que estão dispostas em roseta com 2,5-3,0 m de diâmetro ou em espiral a partir do escapo floral e com formas linear-espatuladas com 150200 cm de comprimento. São grossas, carnudas, lanceoladas, acuminadas, largas na base (bainha) e sésseis (sem pecíolo), ligeiramente côncavas para cima e para dentro com 1525 cm de largura e estão acomodadas de forma ascendente a horizontal. Essa forma de disposição permite-lhe captar a luz solar em ambas as faces da folha, assim como capturar a água da chuva ou de orvalho e levar a água para o centro da planta e, em seguida, ser acumulada na zona radicular. Em cada folha apresenta espinho terminal medindo entre 3,5-4,0 cm de comprimento.

De bordas firmes que têm de 20 a 30 espinhos com 10-15 mm de comprimento e com 0,5-0,3 cm de espaçamento ente si, os quais são dirigidos para fora ou para cima do eixo radial (Figura 15). As folhas podem variar entre as cores cinza-verde a azuladas, existindo variedades com faixas brancas ou amareladas, muito procuradas como motivo ornamental. Na espessura das folhas há um esqueleto profuso de fibras longitudinais, muito resistentes e maleáveis. Sua superfície é coberta por uma membrana resistente e esbranquiçada. As folhas estão dispostas em roseta em torno de uma única haste nunca ramificada, geralmente escondida pela profusão de folhas e que é exposta quando as folhas são cortadas para diversos usos.


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Figura 15. Espinhos nas bordas laterais da folha do Agave americana. Foto: Daniel Guillot Ortiz.

Rizomas (Rebentos): Os rizomas são talos subterrâneos que crescem geralmente em um plano horizontal, paralelo à superfície do terreno. Com a diferença das raízes, os rizomas possuem gemas na face superior de onde se originam folhas e partes aéreas que formam uma nova planta e pela face inferior geram raízes adventícias (Figura 16). A cada ano os rizomas emitem gemas que originam novos órgãos aéreos. Por outro lado, a propagação por rizomas é a mais utilizada em agaves, não só porque conserva as características genéticas da planta madre, mas é devido ao desenvolvimento das plantas ser mais rápido e vigoroso que os bulbilhos. Quando se trata de planta mãe jovem, os rizomas se estendem radialmente e têm diferentes comprimentos, o que ajuda à dispersão dos rebentos, enquanto que em plantas adultas de cinco anos, os rizomas são curtos e os rebentos nascem sombreados pela própria planta mãe. Os rebentos de plantas velhas são geralmente deformados (deforme), devido à pouca luz que recebem ao crescer na base da planta mãe (VALENZUELA, 2003).


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Figura 16. Rebentos de A. mapisaga (pulquero). Foto: Juárez et al., (2014)

Inflorescência: Possui inflorescência paniculada com 6-10 m de altura (se ramifica em um candelabro e dá origem a panículas de várias centenas de flores), contorno geral ovalado, fértil do terço médio ou o terço superior, números de ramos primários entre 2035 com 1-1,2 m de comprimento; pedúnculo verde-glauco, brácteas do pedúnculo com 30-60 cm de comprimento, base de 10 cm de largura, triangulares, 10-20 cm de umbelas pequenas compactas, densas, pedúnculos com brácteas eretas cartáceas; pedicelos com 810 mm de comprimento; margem inteira do espinho com 1-1,5 mm de comprimento.

Na fase de floração, após cerca de oito a doze anos do plantio, a planta emite uma inflorescência denominada tecnicamente de escapo floral ou, popularmente, “poste” ou “pendão de agave” (Figura 17). Nesse estádio, são produzidos flores, frutos e sementes, ou apenas bulbilhos, enquanto vai ocorrendo a morte do agave (LOCK, 1962).


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Figura 17. Agave americana com sua inflorescência paniculada com 6-10 m de altura.

Durante o processo de floração, as folhas vão secando à medida que as sementes amadurecem, devido que estas últimas aproveitam os nutrientes acumulados. A polinização de plantas de agave é realizada com a intervenção de várias espécies de aves, roedores e insetos que, em busca de alimento, são atraídos pelo néctar e pela cor das flores. Entre eles estão os morcegos considerados importantes polinizadores de agaves, pois são de hábitos migratórios e se alimentam em pequenos rebanhos. Outros possíveis


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polinizadores são beija-flores, abelhas, vespas, periquitos, esquilos e outros roedores com hábitos de escalada.

Flores e Frutos: A flor é hermafrodita, sendo encontrada agrupada em cachos situados no final de cada ramo da panícula (Figura 18). Cada flor possui seis estames que estão inseridos na base da corola, sendo os estames constituídos por anteras trilobadas. O gineceu é constituído por um estilo que sustenta um estigma trilobado, com ovário ínfero triloculado. As flores com 6-7,5 cm de comprimento, hipocrateriformes, amareloesverdeado; pétalas com 2,5-3,5 cm de comprimento, oblongas, grossas, tubo do perigonio com 1-1,5 cm de comprimento, ovário com 2,5-3 cm de comprimento, estames com filamentos com 5,5 a 8,0 cm de comprimento, inserido na parte central do tubo.

Figura 18. Estádio de floração do Agave americana.


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A partir da flor se origina o fruto sob a forma de uma cápsula lenhosa, trilocular, alongada e ovóide, ocasionalmente com terminação pontiaguda (Figura 19). As cápsulas variam em tamanho, espessura das paredes e pericarpo, bem como em seu grau de suculência. As dimensões de cada cápsula são: 4.0-5.5 cm de comprimento por 2,0-2,5 cm de largura; sementes com 9-10 mm de comprimento e 7-8 mm de largura, de cor preta. Em cada cápsula pode se desenvolver dezenas de sementes, que têm uma forma papirácea ou de disco ligeiramente triangular, de cor preta quando alcança a sua maturação fisiológica ou branca quando em estado imaturo (Figura 20). As sementes são liberadas e dispersadas gradualmente pelas rachaduras das cápsulas já secas, quando são sacudidas por animais ou pelo ar.

Figura 19. Detalhe das sementes no fruto do Agave. Fotos: CONABIO. Oswaldo Téllez Valdés e Reynoso-Santos, R.


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Figura 20. Frutos triloculares do Agave americana com as sementes viáveis (pretas) e as sementes não viáveis (brancas). Fotos: Tarcísio Marcos de Souza Gondim e Dávila Veliz, C.V. (2003). Bulbilho: Após a queda das flores, desenvolvem-se novas plantas chamadas "bulbilhos" sobre a panícula, originadas de gemas que se encontram logo abaixo da linha de inserção das flores. Os bulbilhos são formados por tecido meristemático. Cada bulbilho alcança um tamanho máximo de 6 a 7 cm e 6 a 8 folhas e pequenas raízes adventícias que caem da planta, após três meses, e servem como órgão de propagação de novas plantas. No campo, têm-se observado plantas que não chegam a produzir frutos, isto é, que todas suas flores caem sem fertilizar. Contudo, se existe maior quantidade de plantas florescendo e pólen estranho, um maior número de flores consegue se converter em frutos. Por outro lado, sob condições de baixa fertilização floral, os bulbilhos emergem apenas nas partes baixas do eixo floral, porque foram as primeiras flores que lograram a antese. A diferenciação dos botões florais demora em torno de um mês, que corresponde o tempo que dura a abertura de suas flores (antese; VALENZUELA, 2003).

Aspecto Ecológico Outra contribuição da pesquisa do Agave americana e sua estreita relação com os serviços ecossistêmicos é o uso dessa espécie vegetal para resolver problemas ambientais, tendo sido reconhecido que o mesmo se adapta a condições climáticas desfavoráveis, suporta períodos de estresse hídrico e se adapta a estas condições. Além disso, esse agave pode ser usado para neutralizar a desertificação e a erosão do solo. Também essa espécie é usada para fixar nutrientes, regular o clima, obter comida, etc. gerar bem-estar na


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população rural e urbana, sustentabilidade nos ecossistemas e adaptação às mudanças climáticas da área rural e serrana.

VARIABILIDADE DA ESPÉCIE AGAVE AMERICANA

O Agave americana é uma espécie polimórfica com numerosas formas cultivadas em várias regiões do mundo (PRITCHARD et al., 1995), pois elas têm sido selecionadas e manipuladas pelo homem por milhares de anos. O variação intraespecífica observada inclui variação no tamanho da planta, número e forma das folhas, disposição das mesmas no espaço, forma da margem, tamanho de dentes e tamanho do espinho terminal; no entanto, observa-se a seguinte combinação de caracteres: folhas lanceoladas para algo espatuladas, eretas, recurvadas, glaucas, às vezes com bandas transversais verdosas, superfície ligeiramente áspera ao toque, margem ondulado a crenado, dentes não maiores de um centímetro de comprimento e espinho terminal curto, até 4 cm de comprimento; flores com 6-7,5 cm de comprimento; o ovário mais curto que o tubo e as pétalas. A este respeito, Gentry (1982) reconhece uma subespécie e oito variedades. A seguir, algumas descrições de outras variedades pertencentes a espécie Agave americana:

Agave americana var. Oaxacensis: Dentro da espécie Agave americana, a variedade Oaxacensis é conhecida unicamente por ser domesticada (Figura 21) na área onde se encontram o vale de Tehuacán e a extremidade oriental da bacia de Balsas. Distingue-se pelas suas folhas esbranquiçadas e pelo grande tamanho da inflorescência, flores e frutos. É cultivado em quintal aproveitando seus rebentos para formar cercas vivas e extrair fibras de suas longas folhas. A produção de mezcal (bebida alcoólica destilada; Figura 22) dessa variedade é limitada, já que leva 20 anos para amadurecer.


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Figura 21. Plantas de Agave americana, variedade Oaxacensis.

Figura 22. Bebida alcoĂłlica destilada denominada de mezcal, produzida a partir do sumo fermentado do Agave americana, variedade Oaxacensis, (marca Lajita) que contĂŠm larva de lagarta.


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Agave americana ssp. Protamericana: Um grande Agave com impressionantes folhas azuis ou verdes pálidas do Texas e do norte do México, que se acredita ser a forma ancestral da onipresente Century Plant, Agave americana. Suas sementes foram coletadas, mas são pequenas, muito pálidas, com folhas em faixas e espinhos vermelhos marcantes (Figura 23). É uma planta resistente ao frio, tolerante à seca e fácil de cultivar.

Figura 23. Destaque da subespécie do Agave americana ssp. Protamericana. Foto: davesgarden.com. Agave americana var. Expansa: O Agave americana var. Expansa é o maior agave encontrado no deserto de Sonora, às vezes atingindo 8 pés de largura e altura (2,4 m). Sendo nativa dos desertos do centro-norte do México, essa espécie foi originalmente plantada no deserto de Sonora como ornamental e desde então se naturalizou no deserto. As folhas variam de verde pálido a glauco (verde azulado), de acordo com a estação e seu grau de estresse de calor e água. As folhas são semirrígidas e têm dentes marginais tipicamente de 1,2 cm de comprimento (Figura 24). O exterior de cada folha tem uma forte impressão de gemas, uma impressão do interior da próxima folha exterior criada enquanto a folha se forma no centro da roseta. A variedade Expansa geralmente produz compensações depois de atingir uma altura de 2 a 3 pés (61-91 cm). Como todos os agaves, floresce uma vez no final da sua vida, fazendo erupção de um enorme pedúnculo que atinge uma altura de 15 pés (4,572 m). Encontrado em fazendas, nas cidades e no deserto aberto abaixo de 4000 pés (122 m).


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Figura 24. Detalhe do Agave americana var. Expansa. Fotos: Tocc Plant Atlas e WetlandInfo.


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Entre as plantas de Agave americana existem variedades ornamentais (não pulqueros) que têm estriadas em suas folhas em tons de amarelo e branco, algumas delas são: o Agave americana variedade Striata (Figura 25), caracterizada por folhas verdes com estriadas em amarelo e branco no centro da folha; A. americana var. marginata, com folhas verdes intensas com estrias amarelas nas margens (Figura 26); outros exemplos são A. americana var. Picta, com folhas de cor verde-acinzentada com estria branca prateada ao centro da folha, e A. americana var. Picta que é semelhante a variedade marginata, mas com folhas torcidas e recurvadas (Figura 27). Na Figura 28, observa-se alguns detalhes da planta do Agave americana var. Latifolia Torr.

Figura 25. Agave americana variedade Striata. Foto: Vitaflor-vivero


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Figura 26. Agave americana var. Marginata, com folhas verdes intensas e com estrias amarelas nas margens, porém de uso ornamental. Foto: Michael Durán.

Figura 27. Agave americana var. Picta, com folhas verdes intensas e com estrias amarelas, mas são torcidas e recurvadas (ornamental). Foto: Flavio Agrosi.


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Figura 28. Agave americana var. Latifolia Torr.

OUTRAS ESPÉCIES DE AGAVE PULQUERO Os agaves pulgueros são de tamanho médio a grande, com caules curtos, com talos marcadamente suculentos, formando rosetas de 1,5 a 2,0 m de altura. Folhas 100-200 cm de comprimento e 20-35 cm de largura, lanceoladas e lineares, acuminadas, grossacarnosas; de cor verde a acinzentado claro, profundamente convexo em direção à base, côncavo ou mesmo sulcado em direção à ponta, o ápice curvado sigmóide, margem sinuada, às vezes inchada; dentes maiores ao longo da parte média da folha, 13 mm de comprimento, castanho escuro ou acinzentado com a idade, com uma separação de 1-3 cm; coluna terminal fortemente estreitada, 5-9 cm de comprimento, sulcada por acima de ¾ do seu comprimento, decorrente, de cor marrom escuro. Inflorescência grande quando carnosa, brácteas fechadas e ajustadas; flores de 7-9 cm de comprimento, suculentas, geralmente de cor amarela; ovário com 3,8-5 cm de comprimento e cilíndrico; tubo de 1,1-1,4 cm de comprimento e 1,7-2 cm de largura com paredes espessas e finamente sulcadas; pétalas desiguais de 2,1-3,0 cm de comprimento; filamentos de 5,2 a 7,0 cm de comprimento, inseridos sobre o nível ligeiramente acima da parte média do tubo; anteras de 3,0-3,5 cm de comprimento, de cor amarela. No Vale do México, o cultivo de agave ou maguey é dedicado principalmente à produção de pulque, que é obtido de diferentes espécies: Agave americana L., A. mapisaga Trel., A. salmiana Otto ex Sal-Dyck ssp crassispina, A. salmiana Otto ex SalmDyck var salmiana e Agave atrovirens (CISNEROS , 1980; GENTRY, 1982).


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O Agave americano L. é usado para a extração de hidromel (aguamiel) e a elaboração de pulque (Figura 29). Para Chiapas, essa espécie é usada principalmente para a elaboração do licor comiteco. Em Oaxaca, a variedade Agave americana, conhecido como "Maguey arroqueño", é usado para a produção de mezcal (ESPINOSA et al., 2002).

Figura 29. Planta da espécie Agave americana L. As plantas do Agave salmiana Otto ex Salm-Dyck são originárias do Altiplano Mexicano e seu cultivo se desenvolve entre 1.200 a 2.500m de altitude com chuvas de 350 a 1.000 anuais. Suas principais características são: raízes rizomatosas subterrâneas, troncos curtos, grandes folhas grossas e carnosas que nascem do tronco dispostas em rosetas. Inflorescências em forma de panículas, com flores hermafroditas. Frutos em


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formato de cápsulas com numerosas sementes comprimidas (RAMÍREZ, 1995). É uma espécie com rosetas de 1,5 a 2,0 m de altura com raízes "fibrosas", de cor verde-escuro a verde-claro, emitindo um escapo floral de até 4 m entre 8 e 10 anos de idade, com flores hermafroditas amarelo-esverdeadas de 10-12 cm de comprimento; o fruto é uma cápsula oblonga com pequenas sementes negras (GENTRY, 1982, Figura 30). Esta espécie inclui populações silvestres e cultivada com cerca de 10 formas ("chalqueño, manso, xaminí, verde, ayoteco e colorado", entre outras).

Figura 30. Porte gigantesco do Agave Salmiana (Pulquero). Foto: pinterest.com.

Por sua vez, a planta do Agave mapisaga Trel. apresenta com rosetas de 2 a 2,5 m de altura, com raízes "fibrosas", folhas lineares de 2,5 m de cor verde a verde pálido com margem reta e apresenta pequenos espinhos escuras, emitindo um escapo floral de 7 a 8 m, entre os 10- 12 anos de idade, com flores amarelas a avermelhadas na base e de 78 cm de comprimento; o fruto é uma cápsula com sementes pretas muito pequenas (GENTRY, 1982; Figura 31). Apresenta formas como: "penca larga y carricillo".


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Figura 31. Planta da espécie Agave mapisaga.

Agave atrovirens: O agave pulquero conhecido como agave manso, e cujo nome científico é Agave atrovirens, é o maior produtor de hidromel e se cultiva quase exclusivamente para a produção de pulque. Portanto, o pulque dessa espécie é preferido por seu sabor e boa qualidade. Sua verdadeira zona de produção é bastante fria que temperada e se desenvolve perfeitamente entre 2.200 e 2.700 metros acima do nível do mar. É uma planta que resiste às prolongadas secas e as inclemências das zonas semiáridas dos Estados de Hidalgo, Tlaxcala, México e Puebla; onde muitas vezes só chove uma vez por ano, mas, por outro lado, as geadas são muito fortes e muito frequentes nas estações


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de outono e inverno. Nos terrenos úmidos produz muito hidromel, mas de má qualidade. Adapta-se muito bem ao solo e ao meio ambiente dessas regiões, onde, anos atrás, havia grandes extensões cobertas de agaves pulqueros que proporcionavam bem-estar e felicidade a uma multidão de indivíduos de todas as classes sociais (MACEDO, 1950). Mesmo assim, esta espécie é originaria da “Sierra Madre del Sur” em Oaxaca, México, a qual consta de uma raiz fibrosa, de um caule espesso e curto, do qual surgem folhas, conhecidas como pencas, que são grossas, verdes, sésseis, côncavas e todas as folhas estão dispostas em torno do caule formando uma roseta (PINKAVA, 1985; Figura 32). Além disso, o Agave atrovirens se distingue por ter uma espinha terminal e um sulco liso na ponta, enquanto as rosetas atingem até 2 m de altura e 4 m de largura, com 80 a 100 folhas maiores que 2 metros (GOOD-AVILA et al., 2006).


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Figura 32. Plantas do Agave atrovirens, Karw. Ex Salm-Dyck. Fotos: Aguilera R. Manuel. 2001; Nareni Pliego Osorio e Abisaí Josué García Mendoza.

O Agave atrovirens é uma planta monocotiledônea, perene e com flor monocárpica. Essa planta floresce apenas uma vez em sua vida e morre logo após isso. Quando está prestes a florescer, um caule floral deixa o centro da planta, que é denominado de pedúnculo floral, e atinge cerca de cinco ou seis metros de altura,


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brotando em sua parte superior, em forma de cachos, vários grupos de flores (PINKAVA, 1985). As formas de propagação deste agave são comumente usadas, por meio de sementes, brotos ou talos e através de rebentos das plantas (RUVALCABA, 1983, GUERRERO et al., 2006).

FENOLOGIA O agave é propagado vegetativamente por bulbilhos e por rebentos. Os bulbilhos são produzidos no escapo floral, após a queda das flores, enquanto os rebentos se originam de rizomas subterrâneos emitidos pela planta-mãe (SILVA et al., 1999). Os agaves pulqueros são plantas perenes que alcançam seu ciclo produtivo entre 10 a 12 anos, e apresentam características das plantas xerófitas; sua anatomia e metabolismo estão adaptados para utilizar eficientemente a água e, portanto, estão capacitadas para viver em condições áridas e semiáridas. Além disso, suportam as condições de estresse impostas pelo ambiente, como déficit hídrico, alta temperatura, salinidade e deficiências nutricionais.

A presença de uma cutícula grossa na epiderme da folha, a acumulação de cera na superfície e, conta com estomas de natureza complexa, que são características distintas dessas plantas, que as protegem da transpiração excessiva nos períodos de sequia. Por seu tipo de fotossíntese, os agaves pertencem às plantas MAC (metabolismo do ácido crassuláceo), as quais apresentam transpiração noturna, já que abrem seus estomas na parte da noite e fixam o carbono em ácidos orgânicos, principalmente o málico.

A floração do agave ocorre com a emissão do escapo floral, o qual indica o final do seu ciclo de crescimento por se tratar de uma espécie de crescimento determinado e um só ponto de emissão de folhas. Quando se cultiva o agave para produção de pulque, praticamente se elimina o escapo floral, quando seu crescimento é iniciado, para evitar que a planta consuma os açúcares acumulados no talo ou pinha. O ciclo fenológico do Agave americana pode ser dividido em 5 fases principais, tais como: 1) Plantio no seco e estabelecimento da muda no início das chuvas (Um mês transcorre para emissão das raízes adventícias apenas utilizando a umidade do rebento); 2) Dependendo do ambiente, o ciclo de desenvolvimento vegetativo sucede até o oitavo ou décimo ano; 3) Emissão do escapo floral geralmente ocorre no oitavo ao décimo ano. 4) capação do escapo floral no


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nono ou décimo ano; e 5) quando a planta alcança a maturação (extração do hidromel) no décimo ou décimo segundo ano, que coincide com a floração do escapo floral caso não fosse cortado.

METABOLISMO DO AGAVE A maioria das plantas fixa o bióxido de carbono durante a fotossíntese na presença de luz solar. Sob estas condições, os estômatos se encontram abertos e apresentam uma grande perda de umidade. Algumas plantas, que evoluíram em condições de pouca umidade, modificaram seu metabolismo com a finalidade de economizar água. Este tipo de metabolismo se encontrou pela primeira vez em plantas da família Crassuláceas e, portanto, se chamou metabolismo ácido crassuláceo, e as plantas que o apresentam se denomina CAM (VALENZUELA, 2003). O metabolismo ácido das crassuláceas (CAM, do inglês Crassuláceo Ácido Metabolismo) é um dos três tipos (outras vias estão às plantas C3 e C4) possíveis de assimilação do carbono atmosférico (CO2) via fotossíntese, o qual está presente em certas espécies de plantas, especialmente em plantas suculentas como o agave. As plantas CAM têm sua eficiência no uso da água aumentada, especialmente as suculentas, constituindo uma importante adaptação fisiológica a condições áridas. Em síntese, as plantas CAM abrem os seus estomas durante a noite, absorvendo dióxido de carbono durante este período, e armazenando-o nos vacúolos das células sob a forma de ácido málico. Ou seja, elas fixam o carbono em ácidos orgânicos, principalmente o málico. Durante o dia, com a incidência de luz solar, o ácido málico sofre reações no ciclo de Calvin e é transformado em moléculas de glicose (Figura 33).

Figura 33. Ciclo das plantas CAM, no caso do Agave americana que abre seus estomas durante a noite e fecham durante o dia. Fotos: Djalma Santos e Adriana Tourinho Salamoni.


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A vantagem do mecanismo de CAM é que a planta, durante as horas quentes, mantém os seus estomas fechados, portanto, reduz significativamente a perda de água pela transpiração e ainda permite que uma quantidade suficiente de dióxido de carbono seja utilizada no ciclo de Calvin. Este tipo de metabolismo é verificado unicamente em tecidos que contêm clorofila. PROPAGAÇÃO DO AGAVE PULQUERO A reprodução é uma característica notória no agave, porque essa planta apresenta três formas de propagação: por via sexual em forma de sementes, por rebentos de rizoma e por bulbilhos da inflorescência, sendo as duas últimas consideras vias assexuadas. É importante destacar que o método mais utilizado comercialmente é por meio de rizomas subterrâneos modificados, que quando se emergem a superfície se diferenciam em novos rebentos. A coleta dos rebentos é feita em plantações estabelecidas de três a cinco anos de rebentos selecionados com altos padrões sanitários e vigorosos, mas, antes de plantálos, são classificados por tamanho. Apesar de não ser comercial, o método de propagação por meio de bulbilhos se desenvolve na inflorescência da planta (MEDINA, 1963; RENDÓN et al., 2009).

A reprodução sexual é a obtida por meio de sementes, as quais foram polinizadas e desenvolveram a partir de flores, mas tudo se sucede no escapo floral da planta do agave, mas na prática são poucos viáveis. Enquanto a reprodução in vitro ou agave micropropagado é considerado um método moderno capaz de produzir rebentos com altos padrões sanitários e bem desenvolvidos. Atualmente, seu elevado custo é considerado o fator limitante, pois o mesmo pode exceder de oito a dez vezes sobre o valor de um rebento de agave normal de boas características.

Reprodução sexual Na via sexual, a propagação do agave é realizada por semente. Nesse caso, seus gametas masculinos e femininos se unem, somando assim suas características, dando assim origem a um novo indivíduo. Portanto, na reprodução por sementes pode surgir variação genética para produzir uma nova cultivar estável ou segregação entre as plantas descendentes, ou seja, as plântulas resultantes são muitas heterogêneas para o cultivo em campo.


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Para o agave pulquero não é costume o produtor utilizar a reprodução via sexual como método de propagação para a instalação de sua área de cultivo. As verdadeiras sementes têm uma baixa percentagem de germinação e também requer um longo período, quase três anos, para se transformar em plântulas de tamanho adequado para o plantio definitivo em campo. Os estudos sobre propagação por sementes do agave foram pouco pesquisados e implica em problemas por variação genética a que está sujeito a polinização cruzada e por dificuldades de manter um abastecimento regular de mudas, devido ao longo ciclo de crescimento da planta, a qual leva de 10 a 12 anos para alcançar a etapa de maturação para produção de sementes.

Reprodução assexual A produção assexual é aquela que não envolve o processo sexual, sendo que a reprodução vegetativa de vários tipos de plantas ocorre por meio de folhas, caules e raízes. Com maior frequência, os resultados positivos são obtidos com os caules. De modo que os indivíduos gerados mediante este tipo de reprodução constituem os clones, exceção de mutações, geneticamente idênticos à planta-madre. Entre as diferentes formas de reprodução assexuada vegetal existente, no caso do agave pulquero, os métodos de propagação são os seguintes: bulbilhos, rebentos (rizomas) e os de propagação massiva de plantas realizada em laboratório de cultura de tecidos.

1.Bulbilhos: São plântulas produzidas a partir de meristemas da planta-mãe, as quais são clones da mesma, que ao completar seu desenvolvimento caem al solo, onde as raízes desenvolvem e crescem como plantas independentes. Esse fenômeno é apresentado em alguns agaves, inclusive o agave pulquero, que desenvolvem bulbilhos a partir dos meristemas axilares da inflorescência, na base das flores (Figura 34). Algumas vezes caem ao solo e terminam apodrecendo. Esse método de propagação tem desvantagens por ocorrer depois da floração, após o ciclo completo de produção do agave de 10 a 12 anos. Esse tipo de propagação por bulbilhos faz aumentar o risco da disseminação de doenças quando já existe na planta-mãe. Em razão disso, não é um método utilizado com frequência pelo produtor.


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Figura 34. Bulbilhos do agave com 50 unidades por cacho. Fotos: Raul B. Fernandes (2010).

2. Rebentos (Rizomas): Os rebentos são talos subterrâneos que crescem geralmente no plano horizontal, paralelo à superfície do terreno. A característica marcante que diferencia o rizoma da raiz é a presença de gemas (botões vegetativos), na face superior de onde se originam folhas e partes aéreas que compõem uma nova planta e na parte inferior, vão gerar raízes adventícias. A cada ano, os rizomas emitem brotos e vão originar novos órgãos aéreos ou rebentos.

3. Cultivo in vitro ou micropropagação: A propagação convencional do agave pulquero ocorre principalmente por bulbilhos produzidos na inflorescência, o que se converte em um problema devido a lentidão do processo de floração que ocorrem depois de 10 a 12 anos de cultivos em solo e raramente produz sementes férteis. Em vista da importância econômica dessa planta e da lenta propagação convencional da mesma, torna-se necessário o desenvolvimento de pesquisas que estabeleçam protocolos para realizar propagação rápida e maciça, ampliando a técnica de cultura de tecidos in vitro. Para propagação in vitro de agaváceas, tem-se aplicado diferentes técnicas; utilizando segmentos caulinares e foliares, bulbilhos, sementes, calos, meristemas, gemas e embriões zigóticos. A maioria destas técnicas enfoca a multiplicação massiva através de


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brotos adventícios e axilares (segmentos nodais) e a produção de embriões somáticos (CARVALHO et al., 2006).

Por outro lado, a organogênese é o processo pelo qual há a formação ou multiplicação de brotos ou órgãos vegetais onde antes não existiam, através da indução de gemas já existentes ou recém-formadas, também chamadas de gemas adventícias. Esse processo pode ser classificado em direto ou indireto, quando analisada a origem da mesma. Quando ocorre o aparecimento direto de gemas mediante tecidos que expressem algum valor morfogenético, como gemas apicais, laterais ou mesmo axilares, está se referido a organogênese direta. Já na indireta ocorre a formação de calos no processo de regeneração de gemas (GRATTAPAGLIA; MACHADO, 1998).

Na metodologia do processo de micropropagação executada por Espino et al. (2012), utilizaram-se os rebentos de agave azul como material biológico, cujo tamanho oscilou entre os 4 e 8 cm, vigorosos e sem danos por fitopatógenos, procedentes de plantas de dois a três anos de idade. O experimento foi realizado no Laboratório de Cultivos de Tecidos Vegetais da Universidade de Guadalajara. Os rebentos, provenientes de propriedades comerciais das zonas produtoras de agave do município de Tequila, estado de Jalisco, foram lavados em água corrente para eliminar as folhas exteriores, deixando somente as que rodeavam a gema. Em seguida, os meristemas foram colocados numa solução de álcool etílico a 70% por um minuto e posteriormente numa solução de hipoclorito de sódio a 3% por 20 minutos e deu-se a correta lavagem, desinfecção e enxágüe na câmara de fluxo laminar. Os explantes foram cultivados em meio Murashige e Skoog (1962), suplementado com 24,6 μM de auxina AIB (ácido indolil-3-butírico) combinada com 46,46 μM de cinetina, 30 g.L-1 de sacarosa e 8 g.L-1 de agar para sua solidificação. Foram utilizados frascos com capacidade para 100 mL com 25 mL de meio de cultura e um explante por frasco, os quais haviam sido esterilizados por 15 minutos a 121ºC. Todos os frascos foram colocados na câmara de crescimento a 27 ºC com 16 horas de luz. A indução dos brotos ocorreu a partir da quarta semana após seu cultivo. Para facilitar a multiplicação dos brotos obtidos, os mesmos foram transferidos para o meio Murashige e Skoog (MS) suplementado com 0,1 mg L-1de AIB e 46,46 μM cinetina. O desenvolvimento das plântulas foi obtido na quarta semana após o início da indução dos brotos. A micropropagação de plântulas de agave, a partir de gemas axilares ou apicais


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(Figuras 35, 36 e 37), foi concluída no período de 10 semanas a partir do cultivo dos meristemas.

Figura 35. Processos morfogênicos utilizados no cultivo in vitro de Agave tequilana Weber cultivar Azul. A) Proliferação de gemas laterais. B) Organogênese. C) Embriogênese somática. D) Plântula gerada a partir de um embião somático. Fotos: Fernando Santacruz Ruvalcaba.

Figura 36. Processo de micropropagacão em Agave tequilana Weber cultivar Azul. A). Seleção de rebentos em campo. B) Obtenção da gema apical. C) Corte do explante para seu estabelecimento. D) Multiplicação de brotos in vitro. E) Etapa de adaptação em casa de vegetação. F) Plantas de oito semanas de adaptação em casa de vegetação.


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Figura 37. Manejo intensivo de plantas micropropagadas de Agave tequilana Weber cultivar Azul. A) Adaptação em casa de vegetação. B) Estabelecimento em viveiro. C) Plantação definitiva com dois anos de idade. Foto: Fernando Santacruz Ruvalcaba. Para o trabalho de regeneração de plantas do agave híbrido 11648 cultivadas nos campos experimentais da Embrapa Algodão, Silva (2012) utilizou as combinações de reguladores de crescimento BAP (6-benzilaminopurine) e 2,4D (ácido 2,4diclorofenoxiacético) na micropropagação de rebentos e a auxina AIB (ácido indolil-3butírico) para indução a rizogênese. A pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Cultura de Tecidos, da Embrapa Algodão, em 2011. Para o estudo das combinações dos reguladores de crescimento foi feita a inoculação dos explantes em meio MS, suplementado com 3% de glicose, 0,62% de Gelrite e pH ajustado para 5,7, com diferentes concentrações de hormônios. Os frascos foram armazenados em câmara de crescimento a 25±2ºC sob o fotoperíodo de 16 h de luz e intensidade luminosa de 30 μmol m-2s-1. Os explantes foram diferenciados em tipo 1 e tipo 2 (gemas apicais e gemas laterais, respectivamente; Figuras 38 e 39) e avaliados após 45 dias, considerando-se a presença de broto, o número de brotos, o tamanho do broto e se houve um superbrotamento. Na rizogênese foram testadas três concentrações diferentes da auxina 4-indol-3-butírico (AIB) visando observar a resposta que estas apresentavam na formação de raízes. Depois de transferidos para o meio de enraizamento os brotos foram avaliados após 15 e 30 dias, observando duas variáveis: número de raízes e tamanho do broto. Com base nos resultados estatísticos, concluiu-se que todas as concentrações da auxina utilizada responderam igualmente a contento no desenvolvimento do sistema radicular.


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Figura 38. Estágios de desenvolvimento de explantes tipo 1 (gemas apicais) de rebento de agave em meio MS, suplementado com diferentes concentrações de BAP, combinado com 2,4D e visualizados sob 3 períodos diferentes. Foto: Julita Maria Frota Chagas Carvalho.

Figura 39. Estágios de desenvolvimento de explantes tipo 2 (gemas laterais) de rebento de agave em meio MS suplementado com diferentes concentrações de BAP combinado com 2,4D e visualizados sob 3 períodos diferentes. Foto: Julita Maria Frota Chagas Carvalho.

SISTEMA DE PROPAGAÇÃO DO AGAVE PULQUERO POR REBENTOS A propagação por rebentos é mais utilizada para os agaves em geral, não só porque mantém as características genéticas da planta-mãe, mas porque o desenvolvimento da planta é mais rápido e vigoroso do que por bulbilhos. Além disso, a tecnificação do cultivo de agave segue um padrão rígido que visa à homogeneidade das plantações, que atualmente pode ser controlada apenas com a seleção do tamanho da cabeça ou bulbo do rebento. Por outro lado, o manejo comum da propagação do agave, baseado no conhecimento empírico aplicado para otimizar a produção de rebentos e consiste nas seguintes práticas:


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1- Preparação e produção de rebentos; 2- Eleição de plantas-mãe; 3- Seleção de rebentos; 4- Transporte de rebentos. 1. Preparação e produção de rebentos. Os trabalhos intensos de preparação dos solos para o plantio do agave são realizados com máquinas agrícolas em fazendas ou em áreas não muito acidentadas, visando melhorar a estrutura do solo de forma que aumente sua captação e armazenamento de umidade, facilitando assim o crescimento de rizomas e a brotação de rebentos para a superfície do solo. Alguns produtores têm por tradição efetuar a prática de subsolagem antes da época de chuvas com a finalidade de produzir mais rebentos. Se o objetivo é desenvolver mudas de boa qualidade (peso e volume), recomenda-se suspender os trabalhos de solo quando os rebentos emergem. Por outro lado, havendo uma tendência declinante de demanda por rebentos, os produtores destroem mecanicamente as plântulas ou mudas em qualquer idade da plantação, pois não convém deixá-las competir com a planta-mãe. Vale salientar que a melhor idade das plantas para gerar rebentos é entre 3 a 5 anos, quando se obtêm rebentos mais viáveis para as novas plantações (VALENZUELA, 2003; RAMÍREZ; LABORDE, 2007).

2. Eleição das plantas-mães A eleição das plantas-mães tem-se que considerar:

a-Idade da planta-mãe: É necessário que a planta tenha sido estabelecida no campo entre 3 a 5 anos, etapa na qual a planta-mãe está em plena atividade vegetativa e em melhores condições de poder nutrir os rebentos que emergem. Uma plantação velha e não zelada produzirá rebentos deformes no seu bulbo e folhas, com pouco vigor e com alta probabilidade de serem atacados por fusarium. Recomenda-se iniciar a primeira seleção do material vegetativo ou rebento na propriedade plantada com agave pulquero para verificar a idade da planta-mãe e avaliar se ela é planta vigorosa de primeiro arranque.

b-O estado sanitário da planta-mãe: a planta eleita deve mostrar aparência visual saudável, vigorosa e sem a presença de insetos nocivos tanto na folhagem, como na raiz e na pinha.


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c-Quantidade e qualidade dos rebentos: Em razão dos rebentos se formarem dos rizomas emergidos em distintas épocas, consequentemente o tamanho dos rebentos ao redor da planta-mãe é variável. Este aspecto é determinante ao decidir qual é o destino dos rebentos, se são para plantações comerciais ou para viveiro ou replantes. Também é importante conhecer a quantidade disponível de cada tipo, assim como a qualidade dos mesmos, resultante das condições ambientais, como geada ou sequias. Outros aspectos que devem ser avaliados são: os danos físicos como queimas; danos por insetos e doenças; danos mecânicos e as condições de manejo do terreno sob as quais os rebentos têm crescidos.

Destacando novamente que o método usado para reproduzir o agave é assexual, tecnicamente chamado apomixia, que consistem na selecção de rizomas ou estolões. O agave pode produzir rizomas a partir do terceiro ano de vida, no entanto, é no quarto ano, quando os mesmos têm qualidade satisfatória para serem transplantados. Essa qualidade se avalia medindo seu peso que deve ser, em média, de 2 a 2,5 kg. Não é recomendável usar os rizomas de plantas que já estão próximo da etapa de colheita, isto é, oito anos em diante, porque tem pouca qualidade para sua reprodução, igualmente aos rebentos colhidos de plantas jovens (2 anos). Os materiais sem qualidade são mais susceptíveis de ser afectados por pragas e doenças ou por fenômenos climatológicos.

3. Seleção de rebentos A seleção de rebentos é uma das etapas mais importantes para o estabelecimento da plantação, porque irá depender em grande parte da qualidade da mesma. Na seleção dos rebentos são várias etapas que devem ser cumpridas:

a-Arranque e preparação do rebento: Antes de iniciar o arranque dos rebentos, é importante conhecer as condições em que se encontra o terreno onde será realizado tal operação, porque é importante avaliar previamente as dificuldades da prática e tempo de arranque para definir a quantidade de trabalhadores que deverão ser contratados. Além disso, devem-se considerar os seguintes aspectos: topografia planta ou de ladeira, solos soltos ou compactos, com pedras na superfície do terreno ou na sua parte interna, presença de plantas daninhas ou sem sua infestação, alta ou baixa densidade de plantio da planta


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adulta. A alta densidade de plantação tem como efeito diminuir a quantidade de rebentos produzidos e dificulta a operação de arranque (VALENZUELA, 2003).

O arranque dos rebentos deve ser realizado com um instrumento manual conhecido como cavador (Figura 40), que é uma chapa de metal que serve para cortar o rizoma, o qual se une ao rebento com a planta-mãe (Figura 41). Esse corte deve ser efetuado de um só golpe, de maneira precisa e transversal ao rizoma, evitando danos aos rebentos por cortes acentuados. Caso contrário, poderá provocar problemas na sobrevivência e falhas na plantação.

Figura 40. O arranque manual de rebentos feito com ajuda do instrumento cavador.

Figura 41. Emissão de rebentos junto à planta-mãe do Agave americana.


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Uma vez liberado o rebento, recomenda-se deixar os rebentos sob meia sombra (sombrite com 50% de cobertura ou debaixo de uma árvore) durante 10 dias com o propósito de dar tempo para que cicatrizem das lesões e evitar problemas de podridão e perda de planta.

b-Seleção dos rebentos: A não seleção de rebentos poderá comprometer a qualidade da plantação e, por conseguinte, a produção da matéria-prima destinada para industrialização do pulque, em razão da falta do benefício econômico obtido a partir da colheita uniforme. Essa seleção deve ser realizada por um técnico ou agricultor já que tal atividade depende o êxito ou o fracasso das plantações. Os rebentos devem ser selecionados quanto à idade, tamanho e diâmetro do bulbo.

Os rebentos podem ser provenientes de uma plantação comercial ou de viveiros. As características desejadas para a seleção de rebentos são: plântulas que procedam de uma planta-mãe jovem de 2 a 4 anos, preferencialmente de primeiro arranque. Devido a melhor atividade reprodutiva da planta-mãe ser entre 3 a 4 anos, mas no caso de ocorrer uma grande demanda por rebentos se utilizam as plantações de 5 anos de idade. Devem ser rebentos provenientes de uma plantação mãe livre de pragas e enfermidades. Os rebentos têm que apresentar as seguintes características: uma boa estrutura de cabeça (bulbo) e foliar, tamanho de cabeça entre 14 a 15 cm de diâmetro, elevado peso, vigoroso, de cor intenso e aqueles rebentos desenvolvidos mais isolados da planta-mãe. Vale destacar que um operário treinado é capaz de arrancar em média 300 rebentos por dia numa jornada de trabalho de 8 horas.

c-Classificação dos rebentos: A classificação dos rebentos no México é feita com base nos seguintes pontos: - Verificar que a planta-mãe é da espécie Agave americana; - Verificar que os rebentos provenham de plantas-mães da mesma idade. - Conhecer o histórico de manejo e da origem do material da plantação original. - Determinar o tamanho dos rebentos e que sejam uniformes. Para medir esta característica, o agricultor se baseia no tamanho das folhas, que pode variar de 0,60 a 0,85 cm. Para classificar o tamanho do bulbo ou cabeça, uma bancada é levada ao campo e na sua parte superior estão fixados vários blocos de metal, espaçados entre


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si, nas seguintes distancias: 9, 10, 12, 14 e 15 cm (Figura 42). Ou seja, todos os rebentos passam pela bancada de classificação, de modo que mudas são jogadas separadamente em lotes, dependendo da avaliação de cada tamanho e depois são plantadas em campo (Figura 43).

Figura 42. Na bancada de classificação, todos os rebentos são selecionados nos intervalos espaçados de 9, 10, 12, 14 e 15 cm (separados por blocos de metal fixos) por quatro técnicos habilitados e posicionados em volta da mesa (Agave tequilana).


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Figura 43. Plantio de rebentos de tamanho uniforme por parcela (cultivo do agave pulquero: Agave salmiana). Foto: Julio Cesar Nieto Aquino. É recomendável utilizar rebentos de plantas saudável, que não apresentam problemas de enfermidades como a podridão-do-tronco, murchamento do agave, murcha de fusarium (clavo del agave em espanhol) e outras doenças. Os rebentos de plantações jovens (3 a 5 anos) e com cerca de 3,0 kg de peso são as melhores mudas, sendo que os rebentos maiores se desenvolvem mais rápido, consequentemente sua maturação é alcançada em menos tempo. As plantações de cada parcela devem ser estabelecidas com rebentos de tamanhos uniformes (padronizado), visando obter uma maturação das pinhas a mais uniforme possível, o que facilita a colheita no mesmo ano ou quando muito em dois anos.

4.Transporte de rebentos

É necessário evitar danos nos rebentos durante o seu transporte entre o campo de arranque das mudas, a instalação temporária de armazenamento e a nova área de plantação do agave (Figura 61). Algumas medidas preventivas de controle devem ser seguidas: a) O veículo que irá transportar as plântulas ao local de plantação definitiva deverá ser pulverizado com uma solução semelhante à que foram utilizadas nas plântulas, mas deverá evitar usar o Sulfato de Cobre, por ser um produto corrosivo e pode


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deteriorar o metal do caminhão. Desinfetar a corroceria do caminhão e pneus antes e depois de cada carga de rebentos, aplicando uma pulverização a base de solução de 10% de hipoclorito de sódio (ou antes, e depois de entrar na plantação de agave). b) Evitar pisotear os rebentos já carregados no caminhão, porque rompe com facilidade o meristema apical ou folear. c) Não provocar lesões nos rebentos.

PRODUÇÃO DE REBENTOS EM VIVEIRO E TRANSPLANTE Desde o início do seu cultivo, os produtores têm preferido a reprodução do agave através da extração de rebentos gerados de rizomas modificados das plantas adultas. De acordo com seu desenvolvimento (bulbo do tamanho de 15 cm para o Agave americana) podem ser transplantados a um viveiro, os quais irão receber um manejo técnico adequado. Para facilitar o manejo no viveiro de agave, é necessário organizar o seu plantio obedecendo às seguintes distâncias: a) plantio em faixa com 1,20 m de largura, contendo 4 fileiras de rebentos; b) Espaçamento entre faixas ou parcelas de 100 cm; e c) Espaçamento entre fileiras de rebentos com 50 cm e entre rebentos com 30 cm. Quando se tem a oportunidade de utilizar plantas produzidas em viveiro, para o estabelecimento em campo, o produtor terá inúmeros benefícios como redução de custos e tempo para produzir maior quantidade de rebentos. Além disso, permitirá ampliar a área plantada de agave, apesar de que tal operação demande mais mão-de-obra para o transplante das mudas na época de chuvas. Outro benefício proporcionado pela utilização do viveiro é a seleção de rebentos mais vigorosos e isentos de pragas e doenças. Por último, a muda de Agave americana produzida em viveiro, uma vez atingindo a altura de 50 cm e o tamanho do bulbo de 15 cm, está em condições de ser transplantada para o terreno definitivo (SÁNCHEZ, 2013).

PRODUÇÃO DE BULBILHOS EM VIVEIRO Os bulbilhos são rebentos pequenos que emergem do escapo floral da planta adulta com idade ente 10 a 12 anos (agaves pulqueros), junto com as flores não fecundadas que caem posteriormente sem formar frutos. Esses bulbilhos não se utilizam mais na propagação de material vegetativo para plantação do agave, porque a planta velha está


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mais exposta as enfermidades. Quando o agricultor optar pelo plantio por bulbilhos, deverá levar em consideração os seguintes aspectos: • Será preciso fazer uma sementeira em terreno fértil, de boa drenagem e em condições de irrigação, devendo-se situar o mais próximo possível da área do plantio definitivo; os bulbilhos selecionados deverão ter tamanho superior a 10 cm e, de preferência, serem tratados com produtos químicos. • Deve-se proceder à escolha dos bulbilhos, levando-se em consideração a produtividade, o porte, o vigor e o desenvolvimento do pendão floral da planta-mãe. • O plantio em sementeira deverá ser feito no espaçamento de 30 cm entre plantas e de 50 cm entre linhas, devendo a planta permanecer nesse local até atingir a altura de 50 cm, quando então será transportada para o local definitivo.

SISTEMA DE PRODUÇÃO

Um cultivo sustentável e altamente lucrativo para as regiões serranas do semiárido brasileiro poderá ser o agave pulguero. Trata-se de uma planta originada do México, da qual o homem pode obter grandes benefícios, tais como: uma bebida espirituosa com altos valores para a saúde, como o pulque e o biocombustível, através da obtenção de etanol. Mas é necessário adotar um novo sistema de produção para o Agave americana, o qual irá resultar em maior ganho de produtividade com redução de custo de produção, desde que se utilize das tecnologias mais apropriadas em lugar de tecnologias mais tradicionais adotadas na zona de denominação de origem. Algumas tecnologias compreendem os estudos das condições de solos, seleção e produção de mudas sadias, adubação química, herbicidas, controle de pragas e doenças, ponto de capação de escapo floral, além das etapas de extração do hidromel com qualidade.

SOLOS E CLIMA Os agaves são adaptados a diferentes tipos de solo, desde que sejam áreas bem iluminadas. No entanto, sob o manejo em escala comercial, as plantas crescem melhor em solos de textura média, conhecidos como solos francos, franco-arenosos, francoargilosos ou argilosos com profundidades maiores que 50 cm (NIETO ANGEL et al., 2013; RUÍZ, 2007). Embora em áreas com baixa pluviosidade, os agaves preferem solos


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com maior retenção de umidade, ou seja, solos com textura pesada, como os argilosos ou limo-argilosos, mas que podem se desenvolver adequadamente em solos rasos ou profundos. Além disso, o gênero Agave apresenta tolerância salina de leve a intermediária e prospera melhor em uma faixa de pH de 6,0 a 8,0; solos com problemas de acidez ou alcalinidade não são recomendados para o seu cultivo (SANTOS et al., 2012).

Os agaves, em geral, se encontram distribuídos naturalmente entre os 5 e 25 ° de latitude N e com regime térmico temperado, semi-quente ou quente, e com temperatura média de 20 a 22º C (RUIZ et al., 1999). Mas, quando se trata do agave pulquero, o mesmo poderá ser estabelecido desde os 800 m a 2.460 ms.n.m., requerendo temperatura média anual de 13 a 18 °C, máxima de 42 °C e mínima de 9 °C, com precipitação variando de 200 a 400 mm, sendo as condições favoráveis com 600 a 800 mm de chuva total anual. Mesmo assim, considera-se que o seu melhor desenvolvimento está localizado em altitude de 1.000 a 2.200 ms.n.m., com um rápido crescimento em altitudes inferiores a 1.000 m, mas com baixas concentrações de açúcares. Por outro lado, em altitudes superiores a 2.200 metros acima do nível do mar, o crescimento da planta é significativamente reduzido e o risco de danos por baixas temperaturas aumenta (SANTOS et al., 2012).

ESCOLHA DA ÁREA Na seleção do terreno, deve-se verificar a presença ou não de camadas compactas. Com base nos dados obtidos da análise de laboratório, é possível determinar as características do solo junto com seus fatores limitantes ou não, físicas e químicas. As principais características que devem apresentar o terreno são: - O solo deverá ter pelo menos 50 cm de profundidade, ante de encontrar a camada impermeável; - Que o solo seco não vá rachar, já que pode romper as raízes. Portanto, recomenda-se evitar os solos argilosos expandidos que podem apresentar essa característica; - Escolher terreno bem drenado, que não seja alagado ou encharcado, pois evita que a planta tenha problemas de fungos;


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- Que a pendente do terreno não seja muita inclinada. No caso de inclinação elevada, estabelecer o cultivo em terraços ou curvas de nível, para evitar as perdas de solo e nutrientes por erosão. Em resumo, é importante alertar que o agave não tolera áreas compactadas nem encharcadas, pois dificultam o seu pleno desenvolvimento; portanto, deve-se optar por áreas de elevações suaves com exposição Leste-Oeste, de forma a proporcionar maior luminosidade (fator preponderante para o seu desenvolvimento) (SILVA; BELTRÃO, 1999; SILVA et. al., 2008).

ANÁLISE DE SOLO E CALAGEM A amostragem é considerada a fase mais crítica de um programa de recomendação de correção e adubação, quando baseado em análise química de terra. O objetivo da amostragem é caracterizar a fertilidade de uma área ou gleba de grande dimensão, por meio da determinação das quantidades de nutrientes e outros elementos presentes, através de uma pequena fração de terra. Com relação à habilidade do operador que vai retirar a amostra, o ideal é que ele seja capaz de tomar pequenos, suficientes e iguais volumes de solo em cada ponto de amostragem. A pá de corte ou trado deve ser de aço inoxidável, para evitar contaminações principalmente de micronutrientes. Cada amostra composta representará as características químicas de cada talhão, portanto deve-se ter o cuidado de coletar as amostras simples, procurando cobrir a totalidade do talhão. Recomenda-se fazer a coleta caminhando em ziguezague. Para a amostragem de solo são necessários os seguintes materiais: trado ou pá reta ou enxadão, balde plástico e saco plástico (Figura 44). Dos trados utilizados, os tipos mais comuns são o holandês, de rosca e tubo.


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Figura 44. Materiais utilizados para coleta de amostras de solo: a) trado holandês, b) trado de rosca, c) trado de meia-lua, d) marreta, e) trado tubular, f) pá reta, g) enxadão, h) balde, i) saco plástico virgem. A pesquisa já demonstrou que quanto maior o número de amostras simples tomadas para compor uma amostra composta, maior é a possibilidade de se ter uma amostra representativa (Figura 45). O número no qual o erro amostral é bastante reduzido é de 20 amostras simples compondo uma amostra composta. Essas subamostras devem ser armazenadas em balde plástico e, ao final da coleta, serem homogeneizadas, gerando uma única amostra de um quilo. Em seguida, deve-se secar o solo, armazená-lo em saco plástico ou caixa de papelão, identificar corretamente a embalagem e enviá-la para laboratório de confiança.

Figura 45. a) Abertura da cova em forma de V; b) Corte de uma lâmina de solos de 2 a 3 cm; e c) Disposição dos pontos de amostragem de solos em forma de ziguezague. No caso de área homogênea, tomam-se amostras em 10 a 12 pontos bem distribuídos, limpando-se em cada local a superfície do terreno, retirando-se as folhagens, resíduos orgânicos, etc, sem, contudo, raspar a terra. As amostras simples deverão ser reunidas em um balde limpo e bem misturadas, formando uma amostra composta. Retirar aproximadamente 500 g de terra, transferir para saco plástico sem uso, identificar pelo número correspondente da área (talhão) e especificar informações complementares (profundidade, entrelinha, etc). Devem-se separar as amostras coletadas das partes altas,


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médias e baixas do terreno. O tamanho da gleba homogênea não deve ser muito grande em geral de 3 a 5 hectares.

Objetivando averiguar o ambiente radicular no subsolo, recomenda-se detectar a existência ou não de um gradiente de fertilidade, tornando-se assim necessário executar uma amostragem mais estratificada: 0-20, 20-40 e 40-60 cm. Ou seja, é denominada de amostra estratificada porque serve para determinar variáveis que podem existir em cada perfil do solo. As amostras das três profundidades devem ser colocadas em recipientes (baldes) diferentes. Portanto a cada 10 a 12 pontos, toma-se uma amostra composta (mistura dos pontos) de cada profundidade. O mesmo ponto utilizado para a amostragem mais superficial será usado para as amostragens mais profundas.

A análise de solo é uma ferramenta básica para recomendações de calagem. Sua aplicação tem sido reconhecida como uma das principais técnicas na agricultura para controlar a acidez dos solos, reduzir os níveis de Al+3 e atuar como fonte de Ca+2 e Mg+2 para as culturas agrícolas. É importante ressaltar que a pesquisa orienta que a aplicação do calcário, se for necessária, deverá ser feita dois meses antes do plantio, para que o calcário tenha produzido a correção pretendida ou a disponibilização de Ca e Mg na quantidade esperada. Contudo, mesmo que não dê para aplicar calcário com a antecedência recomendada, apurando-se a necessidade de calagem através da análise de solo, deve-se fazer a calagem a qualquer tempo, pois os efeitos benéficos da calagem serão alcançados no decorrer do desenvolvimento da cultura.

Quando a dosagem de corretivo recomendada for superior a 2 t/ha, a calagem deve ser dividida em duas aplicações, sendo a primeira antes da aração, e a segunda, após a primeira gradagem. Quando o solo apresentar pH acima de 5,0, a correção é complementar e o corretivo pode ser aplicado de uma só vez e incorporado. A calagem incorporada tem sido utilizada principalmente na conversão de áreas agrícolas com o objetivo de potencializar a reação do produto no solo, uma vez que o mesmo possui baixa solubilidade. Recomenda-se que para o agave pulquero, deve-se dar preferência para a incorporação profunda, com arado de aiveca, para garantir o máximo aprofundamento do sistema radicular (Figura 46).


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Figura 46. A calagem deve ser feita no preparo do solo para garantir uma boa incorporação e homogeneização com o solo. Na implantação da lavoura do agave, a calagem pode ser realizada em área total, aplicando-se 50% antes da aração e os outros 50% após a aração e antes da gradagem. Este procedimento tem a finalidade de uniformizar a distribuição do calcário (pontos brancos na figura) na camada arada do terreno para um crescimento mais abundante das raízes das plantas cultivadas (Figura 47).

Calcário total + aração

½ Calcário + aração

½ Calcário + gradeação

Figura 47. Distribuição do calcário no perfil do solo conforme o tipo de incorporação.

O produtor pode também realizar uma calagem na cova de plantio. O calcário na cova de plantio tem efeito localizado e contribui de forma mais significativa para o crescimento radicular em profundidade. É uma aplicação opcional e não deve ser entendida como substituta da calagem em área total. Sua utilização baseia-se em critérios agronômicos bem consolidados e não deve ser feita sem prévia análise de solo.

É importante frisar que as doses de calagem poucas vezes são determinadas pelos produtores de agave, embora que não é costume aplicar doses maiores do que uma tonelada por hectare de cal viva. Estudando os efeitos da calagem, aplicado no primeiro ano de crescimento de plantações iniciais e de dois anos de cultivo do agave, Valenzuela (2003) observou que em ambos os tratamentos houve incremento na produção de folhas


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e na altura da planta. Além disso, constatou que o solo de 5,3 de pH teve melhor resposta em crescimento com a aplicação de duas toneladas por hectares antes da plantação. Aos dois anos de cultivo e solo de pH de 4,79, a melhor resposta foi 01 kg por planta, equivalente a quase 2,5 toneladas por hectare de material de calcário. Vale lembrar que a falta ou excesso de calcário podem prejudicar a nutrição das plantas.

PREPARO DO SOLO O preparo convencional do solo tem por objetivo intervir e revolver uma camada profunda do solo, destruir e incorporar restos vegetais, expor pragas de solo à insolação (para seu controle), destorroar e nivelar o terreno. Com relação aos aspectos ambientais, um preparo do solo inadequado, isto é, realizado sem a consideração das características pedológicas, físicas e topográficas, pode levar a problemas como a compactação, que é o adensamento de uma camada subsuperficial do solo devido ao trânsito de tratores e outros veículos na superfície, assim como a erosão, que é a perda das camadas superficiais do solo pela ação do vento ou das chuvas. Pelo fato do cultivo do agave pulquero apresentar um ciclo prolongado de 10 a 12 anos, é necessário realizar melhorias ao solo com práticas mecânicas que permitam obter um maior volume de solo para a planta desenvolver suas raízes, consequentemente elas irão captar mais água e ar, ou seja, o manejo do solo visa melhorar a estrutura do solo e eliminar as ervas daninhas, cuja atividade é efetuada com maquinaria ou animais. Portanto, o preparo do solo refere-se ao conjunto de operações realizadas com a finalidade de dar ao terreno condições de receber os rebentos de agave. As práticas mais comuns utilizadas no México são:

Desbravamento: O sistema de plantio do agave envolve a limpeza do terreno para, posteriormente, proceder-se ao preparo do solo propriamente dito. Caso o terreno contenha vegetação arbustiva, recomenda-se a destoca ou roço, que poderá ser manual ou tratorizada. Porém, quando o solo apresenta vegetação natural (matas, capoeiras, campos nativos), torna-se necessária a remoção desses obstáculos para a instalação do agave consorciado com outras culturas, dependendo da inclinação do terreno. Às operações então requeridas são chamadas operações de preparo inicial do solo, as quais são: corte de plantas nativas, retirada da madeira, destocamento, encoivaramento e queimada. Recomenda-se deixar algumas árvores dentro da plantação para servir de abrigo aos trabalhadores, além de ajudar a preservar o meio ambiente.


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Subsolagem: Antes de se iniciar a operação de preparo do solo, deve-se verificar a presença ou não de camadas compactadas. A presença e a profundidade dessas camadas compactadas são detectadas por sondagens com penetrômetros ou pela abertura de trincheiras. Deve-se também coletar amostras de solo para análise química. Algumas plantações de agave têm sido frustradas pela falta da subsolagem. Além de facilitar o crescimento radicular em profundidade, a subsolagem serve para tornar soltas as camadas compactadas, sem, entretanto, causar inversão das camadas de solo, devendo ser efetuada a uma profundidade mínima de 50 cm em forma cruzada, sendo considerado o intervalo de 0,60 m a 1,00 m a profundidade ideal. Não se recomenda usar o subsolador em solo com bastante umidade, em razão de que cada haste do equipamento subsolador irá limitar sua área de rompimento de solo. É importante frisar que na extremidade inferior da haste existe uma ponteira que pode ter diversos formatos, de acordo com o projeto do fabricante e o grau de compactação do solo (GADANHA JÚNIOR et al., 1991; ALOISI et al., 1992; Figura 70).

Figura 48. Formato de hastes do subsolador: a) reta, b) curva, c) parabólica, d) ação da subsolagem no solo.

A subsolagem deve ser feita com baixa umidade do solo, para ter a ação lateral de quebra da camada adensada. No entanto, no solo muito seco pode ocorrer a formação de grandes torrões, dificultando as demais operações de preparo de solo e o plantio. Para a implantação do cultivo agave pulquero, a subsolagem em solo seco tem sido mais usual, em virtude da falta de uma irrigação da camada superficial antes de tal operação. Após a subsolagem, apenas deve completar o destorroamento com a gradagem niveladora, porém não é recomendável a prática de aração.

Quando se trata de terreno compactado, a operação deverá ser executada com trator de esteira ou trator de rodas (Figura 71). O solo deverá está seco, mas em alguns


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casos, as hastes do subsolador não chegam a penetrar devido à dureza do solo, exigindo assim que o mesmo seja um pouco umedecido por irrigação até permitir a entrada das hastes. Outra situação que poderia suceder é que a dureza do solo não permitiu a subsolagem por falta de irrigação, entretanto, com a chegada das chuvas e mesmo depois da plantação dos rebentos se poderiam passar duas hastes do subsolador no solo úmido (em volta da linha de plantio dos rebentos) para romper sua estrutura, propiciando assim um melhor desenvolvimento radicular.

Figura 48. a) Preparo de subsolagem, em forma cruzada e com 60 cm de profundidade, para a descompatação do terreno destinado ao plantio do agave pulquero. Foto: José Hernandez, J.

Os trabalhos intensos de preparação dos solos para o plantio do Agave americana são realizados com máquinas agrícolas em pequenas propriedades ou em áreas não muito acidentadas, visando melhorar a estrutura do solo de forma que aumente sua captação e armazenamento de umidade, facilitando assim o crescimento de rizomas e a brotação de rebentos para a superfície do solo. Alguns produtores têm por tradição efetuar a prática de subsolagem antes da época de chuvas, principalmente com a intenção de produzir bastantes rebentos. Quando o objetivo é gerar rebentos de boa qualidade (peso e volume), as atividades complementares no solo são suspensas até que esses rebentos sejam


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emersos. Por outro lado, se há na região baixa demanda por rebentos para ser plantado, então os produtores destroem mecanicamente as plântulas ou rebentos em qualquer idade da plantação.

Arado: A aração deve ser realizada na maior profundidade possível, obedecendo sempre o sentido do nível do terreno. Não deve ser feita com o solo muito úmido nem muito seco. Há um ponto de umidade em que o solo não adere ao implemento e nem faz nuvem de poeira. É o ponto em que o solo se desmancha com alguma facilidade à pressão dos dedos. Quando a camada compactada estiver a menos de 30 cm de profundidade, ela pode ser rompida com arado de aivecas ou arado escarificador (Figura 49), atuando nessa profundidade (CASTRO; LOMBARDI NETO, 1992). O arado de aiveca corta, eleva, inverte e esboroa parcial ou totalmente as leivas, que ficam dispostas lado a lado. Quando o serviço de aração com aivecas é bem feito, há enterrio total dos restos de cultura. O arado de aiveca produz uma inversão do solo melhor que a do arado de discos, mas apresenta restrições ao uso em solos com obstáculos, tais como pedras e tocos, caso não haja mecanismos de segurança, com desarme automático. O arado de discos é menos vulnerável a estas obstruções, pois, o movimento giratório dos discos faz com que eles girem sobre o solo e a vegetação, cortando-os (GADANHA JÚNIOR et al., 1991). Em geral, o preparo do solo é feito, geralmente, com uma aração, utilizando-se o arado de discos, nos dois sentidos, complementado com uma gradagem com grade leve (Figura 50). Além disso, a exposição de larvas do solo por ação do arado não chega a ser significativa.

Figura 49. Preparo do terreno com arado de aiveca (a) ou arado escarificador (b), em forma cruzada e com 30 cm de profundidade, para a descompatação do terreno destinado ao plantio do agave pulquero.


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Figura 50. Preparo do terreno com arado de disco, em forma cruzada e com 30 cm de profundidade, para a descompactação do terreno destinado ao plantio do agave pulquero. Gradagem: É uma técnica secundária, cuja função principal é romper torrões de terra ocasionada por uma operação prévia de aração ou subsolagem, e nivelar o terreno, facilitando assim a semeadura e a implantação do cultivo do agave (Figura 51). É importante ter o solo destorroado, principalmente quando se planeja aplicar herbicidas pré-emergentes.

Figura 51. Operação de gradagem do solo para nivelar o terreno e facilitar o plantio do agave pulquero. Foto: Vicente de Paula Queiroga. Sulcador: Quando se trata de terreno plano com risco de encharcamento, adota-se a tecnologia de sulco e camalhão com superfície retangular ou abaulada, à qual é preparada através do implemento sulcador adaptado (lâmina sobre os discos sulcadores), o que tem permitido alcançar o estabelecimento de populações adequadas de plantas em pouco espaço de tempo (Figuras 52). Os lerões devem ser elevados a uma altura entre 50 a 60 cm. Para a construção dos lerões, vários passos de arado são realizados até formar o leirão de tamanho


C a p í t u l o I |81 apropriado. Vale destacar também que, após as precipitações, parte da umidade é retida

pelo solo e o excesso de água é drenado pelos sulcos (FONAIAP, 1988; Figura 53).

Figura 75. Em terreno plano, adota-se a formação de sulco e camalhões retangulares preparados com o sulcador adaptado para o plantio do agave, após as operações de aração a 30 cm de profundidade e de gradagem superficial do solo.

Figura 76. A) Em terreno plano, a formação de camalhões abaulados preparados com o sulcador adaptado, destinados ao plantio de rebentos de agave pulquero; B) Operação com implemento sulcador, para fazer o sulco de drenagem e limpeza entre fileiras de plantas de agave com quase 2 anos de idade, efetuado em terreno plano sujeito ao encharcamento, evitando assim a proliferação de fungos na planta.

PREPARO DO SOLO EM TERRENO ACIDENTADO A conservação do solo é a utilização de métodos adequados de manejo e uso do solo, que permitem mantê-lo produtivo de geração a geração, por evitar o seu esgotamento ou deterioração, provocado por fatores naturais, principalmente no primeiro ano de instalação da cultura. Também as condições topográficas e texturais do solo são fatores imprescindíveis na escolha dos equipamentos e no manejo do solo.

Dentre as práticas simples de conservação do solo que apresentam fácil execução e baixo custo, existe o traçado das curvas em nível por se trata de uma técnica para plantio


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em terrenos acidentados. Ou seja, é uma linha traçada na superfície do solo, unindo os pontos de mesma altura, seguindo-se o nível do terreno em sentido contrário ao caminho das águas da chuva. Os principais instrumentos utilizados para traçar as curvas de nível são: teodolito, nível de luneta, nível de mangueira ou de pedreiro e pé-de-galinha; os de manuseio mais simples são o nível de mangueira e o pé-de-galinha (Figura 54).

Figura 54. Instrumento pé-de-galinha usado para determinar as traçadas em curvas de nível para terreno inclinado, dispondo as covas ou sulcos em curva de nível e campo de agave pulquero plantado em curva de nível com dois anos de idade. É importante frisar que a preparação do solo em terreno inclinado depende de um conjunto de operações que se fazem antes da semeadura, com o objetivo de deixar o solo nas melhores condições para o plantio, favorecendo a criação de uma estrutura que aumente a captação e o armazenamento de umidade. Porém, é bom lembrar que a legislação ambiental brasileira proíbe o desmate e plantio em terrenos com declividade maior que 45° por se tratar de Áreas de Preservação Permanente (APP) devido à alta tendência a erosão. Em terreno pouco acidentado, recomenda-se efetuar o preparo mínimo do solo para o plantio de rebentos de agave pulquero, o qual pode ser realizado passando o arado de tração animal ou trator, apenas nas linhas de cultivo (Figuras 55 e 56), demarcadas com piquetes posicionados em vários pontos dessas linhas. Uma vez determinada à primeira linha de plantio (linha mestre) em curva de nível, a operação de aração poderá ser repetida na mesma linha por mais duas vezes para ampliar a largura da faixa de plantio em mais de 01 metro. Certamente, um eficiente preparo do solo, mesmo que seja num terreno inclinado, poderá contribuir no aumento do tamanho do talo da planta do agave pulquero, consequentemente irá influi diretamente na sua acumulação de açúcares.


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Figura 55. No terreno em declive, o preparo mínimo contínuo feito em curva de nível pelo arado de aiveca de tração animal (usar apenas um animal). Fontes: Arquivo FOMENTA

Figura 56. Em terrenos com declive, o preparo de solo a tração mecânica segue os traçados das curvas de nível.


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Quando o terreno é bastante acidentado, recomenda-se realizar o plantio direto, apenas abrindo as covas com auxílio de enxada (dimensão ideal de cada buraco: 1 m x 1m x 1m) ou perfurador de solo (Figura 57), sem a necessidade de preparo do solo com implementos agrícolas que é considerado uma prática sustentável por conservar o meio ambiente e possibilitar o crescimento econômico da cultura. O plantio direto tem como princípio promover a cobertura do solo durante todo ano com plantas em desenvolvimento e raízes vivas, responsáveis pelos efeitos benéficos e manutenção da qualidade física, química e biológica do solo, inclusive reduz a necessidade de mecanização e favorece a redução de custos de produção.

Figura 57. Moto-cova a gasolina para abertura de covas em terreno acidentado e no sistema de plantio direto. Fotos: Arquivo da Alibaba.

MARCAÇÃO DE PLANTAÇÃO Para conseguir uma boa plantação, deve-se iniciar a preparação do terreno no mês anterior ao período das chuvas. Os trabalhos de preparação mais comuns são de aração cruzada, a uma profundidade de 30-50 cm, e a gradagem superficial para provocar a pulverização dos torrões grandes e finalmente realiza a marcação do plantio. Essas atividades se realizam para o estabelecimento da plantação do agave pulquero e depende das condições do terreno, o grau de mecanização e o sistema de produção adotado, entre outros.

A topografia do terreno pode variar, de plana a ondulada, contanto que, em áreas planas não haja problema de encharcamento, o qual é prejudicial para o cultivo (enfermidades), e nas onduladas ou acidentadas, práticas de conservação sejam observadas e adotadas para evitar erosão do solo, efetuando assim o plantio das fileiras


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no sentido contrário ao do escorrimento superficial da água das chuvas (Figura 58). O agave pulquero pode se desenvolver em terrenos altamente acidentados, com drenagens superficiais eficientes e considerados não aptos para a agricultura tradicional. Pelo fato de ser frequente no México cultivar o Agave americana em terrenos de ladeira (Figura 59), é conveniente não plantar em terreno de ladeira norte, sobretudo em regiões onde as geadas de tipo massa fria são comuns.

Figura 58. Distribuição de rebentos do Agave americana em terreno inclinado, efetuando assim o plantio das fileiras no sentido contrário ao do escorrimento superficial da água das chuvas.

Figura 59. Plantio do Agave americana em terreno de ladeira no México. Foto: Marissa Revilla.


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Quando o terreno apresenta com declive uniforme pode-se utilizar linhas retas paralelas às linhas de nível (cortando as águas) (Figura 60). No caso anterior, a demarcação das covas é utilizada com o auxílio de linhas intermediárias, distanciadas 40 metros umas das outras.

Figura 60. Alinhamento em retas paralelas à linha de nível. (Adaptado de De NEGRI; STUCHI; BLASCO, 2005). Em terrenos com declive acentuado, recomenda-se a utilização de uma nivelada básica fazendo o primeiro sulco com trator e sulcador de solo. Os outros sulcos poderão ser feitos a partir do primeiro sulco com o uso de uma vara, ou bambu, com o espaçamento determinado nas entrelinhas, com dois bambus, de maneira que o primeiro homem caminhe sobre o sulco já aberto e o segundo paralelamente. O trator seguirá as pegadas do segundo homem abrindo os sulcos (Figura 61).

Figura 61. Demarcação de sulcos paralelos à nivelada básica. (Adaptado de De NEGRI; STUCHI; BLASCO, 2005).


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Por outro lado, a plantação no sentido norte-sul permitirá uma maior incidência de sol à planta em desenvolvimento, mas resulta ser mais importante cuidar do solo do que a disposição das folhas da planta, porque o agave é capaz de captar a luz solar mesmo que esteja plantado em condições desfavoráveis. Portanto, é fundamental que seja realizado um adequado planejamento da marcação de terreno que será destinado ao seu plantio.

Em geral, a planta de agave prospera favoravelmente em solos com boa a excelente drenagem e com uma inclinação de mais de 2%, devido a que um período com excesso de umidade na estação chuvosa pode causar danos às raízes e com efeitos negativos no crescimento e até perda total da planta por doenças. Em termos gerais, o cultivo comercial do Agave americana prospera favoravelmente em solos com inclinação de 2 a 45% e com o nível ótimo para o manejo da lavoura com a inclinação de 2 a 15%. Em terrenos com 50% de inclinação, recomenda-se o sistema de plantio em triângulo equilátero ou quincôncio (Figura 62), para evitar a erosão do solo. A base do traçado da plantação é através de um triângulo marcado com cal de 3,4 m e 5 m por lado. Em plantações com alta densidade populacional e em áreas com baixa declividade (0,5%), recomenda-se a formação de leirões ou camalhões abaulados preparados com o sulcador adaptado, utilizando os espaçamentos de 4 m x 4 m e/ou 4 m x 3 m, cujos arranjos permitem realizar os tratos culturais.


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Figura 62. Em terreno com inclinação acentuada, recomenda-se o sistema de plantio em triângulo equilátero ou quincôncio em curva de nível. Foto: RAMOS et al. (2017).

ÉPOCA DE PLANTIO A observância da época de plantio adequada oferece maior possibilidade de êxito para o produtor dentro das variações de clima a que está sujeita os cultivos em várias microrregiões serranas do Nordeste do Brasil, tendo em vista a grande influência do tempo sobre o estabelecimento das plantas do agave. Recomenda-se iniciar o plantio um mês antes do período das chuvas, pois as raízes dos rebentos já estão desenvolvidas o suficiente para aproveitar a umidade do solo. Após o desprendimento da planta-mãe, o rebento imitirá uma boa quantidade de raízes no transcurso de um mês e estará preparado


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para receber água e nutrientes no início das chuvas. Em muitos casos, o fator limitante pode ser a dureza do solo seco em não permitir o preparo pelo trator. Entretanto, se o cultivo for estabelecido quando a chuva tenha começado o rebento não irá aproveitar a umidade do solo por falta de raízes, além de aumentar o risco de apodrecer. É importante mencionar que ao se realizar o plantio tardio (uma vez iniciadas as precipitações), a disponibilidade de água que terá os rebentos será menor, porém aumentará o período de estiagem e, consequentemente, haverá um retraso no desenvolvimento da lavoura.

ESTABELECIMENTO DO CAMPO: PLANTIO Após o preparo do terreno, procede-se à marcação da área para o plantio das mudas, que deve sempre acompanhar as curvas de nível do terreno. Em terrenos planos, recomenda-se que as linhas de plantio sejam orientadas no sentido norte-sul, para se evitar o sombreamento entre as plantas. Quando se trata de plantio adensado, é aconselhável dividir a área em talhões de aproximadamente 2 ha, com o objetivo de facilitar a operação de colheita e o transporte da produção.

Uma vez separados os rebentos da planta-mãe (ideal: 4 anos de idade), procedese o seu estabelecimento, precisamente antes do período de chuva. No plantio, a muda deve ser colocada em perfeito alinhamento com a fileira, na posição vertical, e mantida em profundidade adequada, de forma a enterrar parcialmente o bulbo (enterrando-se ¾ ou 75% do bulbo), deixando a parte de inserção das folhas do colo fora da terra. Com o fim de oferecer maior sustentação, deve-se comprimir, com os pés, a terra à sua volta e, neste período, deve-se fazer vigilância permanente da lavoura, que por efeito do vento ou da chuva pode provocar o tombamento ou mesmo o arranquio das mudas (NIETO AQUINO et al., 2016; Figura 63).


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Figura 64. Plantio superficial do rebento ao solo, o que ocasiona seu tombamento em poucos dias (enterrar na profundidade de 10 cm). Para o plantio definitivo, o produtor deverá proceder à abertura de sulcos, com sulcador tratorizado, em solos que permitam o tráfico de máquinas, ou em covas, com a enxada ou enxadão, em terrenos com topografia acidentada. O plantio do agave no México é praticamente realizado manualmente, abrindo-se as covas de um só golpe com a enxada. É importante destacar que seu plantio deve ser realizado por quadras, separando-se os rebentos quanto à idade, tamanho e diâmetro do bulbo. A não observação das recomendações dos rebentos padronizados poderá implicar na formação de agavais desuniformes quanto ao tamanho das plantas, à época de corte, à produção e à maturidade das pinhas produzidas (Figura 65). A distribuição dos rebentos em cada linha de plantio é feita por meio de um reboque ou por operários. Nessa ocasião, recomenda-se efetuar uma adubação, aplicando-se uma dose de 200 gramas por rebento.


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Figura 65. Não se recomenda instalar plantações com mudas desuniformes de agave de distintos tamanhos, porque dificulta identificar a maturação exata das plantas. Foto: Marissa Revilla. CONFIGURAÇÃO E DENSIDADE DE PLANTIO Um dos aspectos mais discutidos do cultivo do agave pulquero é o espaçamento, em razão da falta de resultados experimentais convincentes. Portanto, a determinação da população de plantas por hectare pode divergir bastante entre lavouras de agave, dependendo principalmente do sistema de cultivo. Os sistemas podem ser de monocultivo com altas (4 m x 4 m ou 4 m x 3 m) e baixas densidades (12 m entre fileiras x 3 m ou 4 m entre plantas) ou complementando-se com cultivos consorciados e pastoreios controlados (Figura 66). Além disso, essa espécie pode ser plantada em terrenos planos com reduzida inclinação (2%) ou declivosos com inclinação acentuada (45%).


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Figura 66. Lavoura de agave pulquero com população muita adensada (4 m x 3 m) e pouca adensada (20 m x 3 m). Foto: David Castillo Quiroz; Antonio Cano Pineda. As plantações em leirões largos são utilizados para delimitar as parcelas, principalmente em terrenos de encostas de 0 a 50% e deve-se começar com a formação de camaleões com dimensões na base de 1,5 m por 60 cm de altura. A plantação é feita na parte mais baixa do leirão abaulado a uma distância entre plantas de 3 metros, depois o rebento é enterrado para reforçar o leirão. Em sistemas de plantio em leirões em grande escala, deve-se enfileirar o agave a 12, 15, 18 e 20 m.

Outra maneira de configuração de plantio do agave seria a cada ano o pequeno produtor instalar apenas uma fileira com 50 m do Agave americana e no ano seguinte


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mais outra fileira com 50 plantas (plantio escalonado) e assim nos demais anos subsequentes. Em 12 anos, estaria iniciando a coleta de hidromel da primeira fileira plantada e em cada ano subsequente, seria mais outra fileira de agave com 50 plantas (Figura 67). Dependendo do tipo de solo e das condições climáticas (principalmente a altitude do terreno acima de 800 m), estima-se que cada planta é capaz de produzir no mínimo 500 litros ou no máximo 1.000 litros de hidromel e sendo 50 plantas por fileira, então o produtor obteria por cada fileira/ano de agave a produção total de 25.000 litros a 50.000 litros de hidromel. Esse sistema de exploração de agave por fileira/anual, seria suficiente para um só produtor atender os seguintes processos: capação, perfuração de cavidade, raspagem, duas coletas de hidromel por dia e transporte do produto para as tinas de fermentação particular ou de cooperativa. No caso de haver disponibilidade de mãode-obra em apoio a família do tlachiquero (coletor de hidromel), cada fileira de agave poderá ser ampliada para 100 plantas.

Figura 67. Plantio de plantas do Agave americana de distinta idade por cada fileira/ano. Fotos: RAMOS et al. (2017) e Begoña Iñárritu.


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IRRIGAÇÃO Os agaves são plantas que devem ser irrigadas no período de escassez, mas de forma controlada. Porém, durante os meses de inverno devem ser irrigadas, se necessário, para que o solo seja mantido úmido. Com a sua retomada vegetativa, no período de primavera, a irrigação é restaurada gradualmente, evitando a irrigação excessiva, apenas o suficiente, para manter o solo úmido (não encharcado) até o final do verão. Recomendase reduzir essa irrigação gradativamente já que os agaves não toleram de nenhum modo o encharcamento (RAMOS et al., 2017). CULTURAS INTERCALADAS Existem diversas formas de cultivo do agave pulquero, entretanto a mais utilizada é o monocultivo, mesmo assim alguns produtores intercalam outros cultivos durante os primeiros 4 anos de idade da planta. Após tal período, fica impraticável realizar alguma atividade entre as fileiras. Além de propiciar a manutenção do agave no limpo, a cultura intercalar não deve exercer competição drástica com a cultura perene, a ponto de prejudicar seu desenvolvimento e sua produção. Em algumas configurações mais adensadas, tem-se observado concorrência entre as culturas; portanto, é necessário verificar o espaçamento adequado para evitar a competição por luz, água e nutrientes. O consórcio do agave pulquero com culturas de ciclo temporário pode ser usado com sucesso, mas a maioria dos agaveicultores opina que a introdução de cultivos na plantação como o milho significa uma maior competição entre plantas por água e nutrientes. Enquanto o consórcio envolvendo as culturas de feijão (Figura 68) e amendoim, é considerada vantajosa por não causar prejuízo de competição a cultura principal (agave). O plantio intercalar de forrageiras entre as fileiras é outra possibilidade de exploração do agave, visando o fornecimento de alimento aos animais nas épocas de maior escassez.


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Figura 68. Consórcio do agave pulquero (Agave americana) com culturas de ciclo temporário.

Também as espécies pulqueras de Agave americana L. e Agave salmiana Otto ex Salm-Dyck podem ser encontradas no México convivendo dentro de uma mesma população de área plantada ou de forma isolada uma da outra.

FERTILIDADE A nutrição vegetal do agave deve ter a finalidade de melhorar seu rendimento e qualidade, buscando incluir o enfoque da sustentabilidade econômica e a harmonia com o meio ambiente. A melhora em rendimento e qualidade requer um processo de incrementos sistemáticos através de um manejo integrado do cultivo, específico para cada condição de solo e clima, pois as diferencias em desenvolvimento das plantações de agave se manifestam essencialmente como resultado dessa interação. Assim, na nutrição da planta de agave, o objetivo é compreender que fatores estão associados com ela, os quais limitam o desenvolvimento do cultivo, mas é necessário tentar corrigi-los e estabilizar os rendimentos no tempo e no espaço, isto é, para que a produção de uma safra a outra, em todas e cada uma das zonas, não vá variar drasticamente.

A fertilidade natural do solo permite produzir altos rendimentos dos cultivos agrícolas. Praticamente não existem tais condições de solo, o que se torna indispensável


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recorrer à adubação, visando obter um maior benefício econômico. Quando se trata de reduzir custos, em algum caso o produtor decide amostrar somente à camada superficial do solo de 0-30 cm, não percebendo que o conhecimento das condições do subsolo é útil para determinar se é conveniente realizar uma subsolagem mais intensa e profunda (RULFO et al., 2007). Também existem situações de que a subsolagem e aração não sejam necessárias para um determinado terreno, podendo ser o mesmo preparado apenas com gradagem. Tradicionalmente no México, a cada ano, exemplo do agave azul (Agave tequilana), é adubado em três ocasiões, sendo duas aplicações de adubos orgânicos (cada adubação é de até 1 quilo de esterco de gado ou galinha por planta) realizados no período seco, e a terceira com adubos químicos, no período das chuvas. Por outro lado, muitos produtores mexicanos utilizam a adubação sem nenhum tipo de conhecimento técnico, pois acreditam que tal prática agrícola poderá acelerar a maturação da planta. A adubação química é feita manualmente, e recomendam-se espalhar a dose correspondente à base da planta. Essa dose de adubação é bastante variável. Geralmente, a fórmula de fertilização recomendada para o Agave americana ou pulquero é 70-46-30 por hectare, ureia (46% N) 150 kg, fósforo: superfosfato triplo de cálcio (46%) 100 kg e cloreto de potássio (60% KCl) 50 kg (peso da mistura 300 kg), devendo-se assim adicionar 150 gramas da mistura por planta (NIETO-AQUINO et al., 2016). É importante destacar que a maioria dos produtores de agave no México utiliza a adubação nitrogenada em todo o ciclo de cultivo. Porém, em alguma região mexicana, a aplicação dos adubos fósforo e potássio são iniciados a partir do terceiro ano de estabelecimento da referida lavoura, enquanto em outra região aplicam-se a adubação apenas entre os períodos de 02 anos de vida da planta. Além disso, a melhor vantagem econômica se obtém quando as necessidades nutricionais das plantas cultivadas do agave são conhecidas em suas diferentes etapas de desenvolvimento, incluído a capacidade do solo que irá nutri-las. Com base na análise do solo é que se determinam racionalmente as fontes de adubos, as fórmulas, as doses, à época e a técnica de aplicação (BUENO; GUTIÉRREZ, 2007). Geralmente, são determinadas as seguintes características físicas do solo como: a densidade aparente, porosidade, matéria orgânica, condutividade hidráulica ou permeabilidade e outras características. Enquanto as análises de fertilidade compreendem as seguintes determinações: pH, nitrogênio (nítrico), fósforo disponível, potássio, cálcio, magnésio e


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sódio intercambiáveis, assim como a disponibilidade de micronutrientes (B, Cu, Fe, Mn e Zn). Uma vez com os resultados da análise de solo, os dados são avaliados e interpretados por técnicos, a fim de ordenar as alternativas mais apropriadas para se obter os melhores rendimentos de produtos de boa qualidade na elaboração do pulque. Dependendo das condições financeiras do produtor de agave, as principais maneiras de adubação da plantação do agave são: química, orgânica e adubo verde.

Adubo químico: A planta do agave tem como característica grande exportação de nutrientes do solo, necessitando de adequada aplicação de corretivos e fertilizantes para alcançar altas produtividades. O elevado preço dos adubos exige que esses insumos sejam usados de forma mais econômica e eficiente. Assim, para uma adequada recomendação de adubação química, é necessário identificar quais são os nutrientes limitantes para a obtenção de altas produtividades do agave; além de obter outros benefícios proporcionados pela adequada nutrição das plantas, como a melhoria da qualidade química do solo e a resistência da planta ao ataque de pragas e doenças. Essa identificação, normalmente é feita por meio da análise do solo.

Adubo orgânico: A matéria orgânica na cova/sulco de plantio tem duas finalidades principais. A primeira é a de servir como fonte de nutrientes de disponibilidade lenta às plantas. Devido a este fato, a maior parte dos nutrientes liberados durante sua decomposição, é assimilada pelas raízes das plantas, havendo pouca perda por lixiviação e por processos erosivos. A segunda é a de constituir-se em condicionador do solo, sendo responsável por melhor agregação das suas partículas, facilitando a infiltração de água; aumentar a CTC, ou seja, aumento das cargas negativas do solo, contribuindo para maior retenção dos elementos nutrientes aplicados através dos fertilizantes; complexar o alumínio com redução das formas tóxicas no solo; aumentar a retenção de umidade, etc. que provocam melhorias generalizadas no solo, levando a uma condição muito mais favorável ao crescimento e produção das plantas cultivadas.

Adubo verde: A adubação verde consiste em prática de se incorporar ao solo a massa vegetal não decomposta, de plantas cultivadas no próprio local ou importadas, com a finalidade de preservar e/ou restaurar a produtividade das terras. As leguminosas são as plantas preferentemente utilizadas, pelas suas características de grandes produtoras de


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massa verde, sistema radicular bem ramificado e profundo, ricas em compostos orgânicos nitrogenados e capazes de fixar o nitrogênio atmosférico através da simbiose com as bactérias do gênero Rhizobium. Essas plantas em geral apresentam satisfatório crescimento e produção de biomassa em solos de baixa fertilidade. A adubação verde tem pelo menos duas importantes finalidades. A primeira é a de cobrir o solo e protegê-lo contra os efeitos danosos da erosão. Neste particular, a cobertura do solo com plantas, é o fator isolado de maior importância no controle da erosão hídrica das terras agrícolas, principalmente em terreno declivoso. A segunda é a de melhorar algumas características químicas, físicas e biológicas do solo, a fim de melhorar sua capacidade produtiva e garantir maior aproveitamento dos fertilizantes aplicados. O adubo mineral aplicado juntamente com a adubação verde, pode potencializar a capacidade produtiva tanto do solo como da planta com possibilidades de reduzir a utilização dos fertilizantes minerais, diminuindo o custo da prática da adubação (CHAVES, 1994). A massa vegetal, ao se decompor na superfície do terreno, libera gradativamente os nutrientes que ficam prontamente disponíveis para as plantas de agave. Além disso, os compostos orgânicos ajudam na agregação do solo, tornando-o mais poroso com melhor capacidade de infiltração e retenção de água (CHAVES et al., 1997); aumenta a atividade e diversidade dos microrganismos do solo, responsáveis pela decomposição da matéria orgânica, fixação biológica, de nitrogênio, etc.

A utilização de adubo verde anualmente nos sistemas tradicionais de plantio, com espaçamento de 3,9 a 4,5 m na entre linha do agave pulquero, é muito importante com o objetivo de manter o solo coberto e, portanto, protegido, no período de maior ocorrência de chuvas. Com isto consegue-se reduzir drasticamente os danos provocados pela erosão. Por outro lado, o manejo (corte) dos adubos verdes deve ser realizado por ocasião do florescimento pleno, com exceção da leucena que é um adubo verde perene, devendo ser manejado sempre que a altura atingir entre 1,8 a 2,0 m. Por ser perene, a leucena exige de 3 a 4 podas por ano, de modo que toda massa vegetal seja deixada na superfície do solo, onde sofrerá decomposição.

CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS O controle preventivo de plantas daninhas consiste do uso de práticas que visem prevenir à introdução, o estabelecimento, a reinfestação e a disseminação de determinadas espécies para novas áreas de plantio do agave, sendo o elemento humano a chave do


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controle preventivo. As principais medidas preventivas são a aquisição de mudas em substratos livres da contaminação com plantas daninhas; a escolha de local para a área de plantio, evitando áreas infestadas com plantas daninhas, principalmente aquelas perenes e/ou que se propagam vegetativamente.

A competição por plantas daninhas é grande na plantação do agave pulquero, porque as raízes absorventes do agave crescem superficialmente no solo, onde a maioria das raízes das plantas daninhas ocorre. A presença de plantas daninhas durante as fases iniciais de crescimento atrasa o estabelecimento e o tempo para que a cultura atinja o estádio reprodutivo, além de reduzir a sua capacidade produtiva. A competição, principalmente por luz, é grande em lavouras em formação, pois as plantas de agave ainda jovens deixam grande área de solo livre, favorecendo, dessa forma, a infestação e o crescimento das espécies infestantes. Durante a fase de enraizamento do agave, o controle de plantas daninhas pode ser realizado de forma mecânica ou com herbicida. Este último é mais utilizado por sua rentabilidade. A dificuldade do controle mecânico nas plantas daninhas se deve a abundante umidade do solo (VALENZUELA, 1994).

Atualmente, são utilizados dois procedimentos de controle de plantas daninhas no México, o primeiro mediante aplicação de herbicidas e o segundo por capina manual com as seguintes ferramentas: coa e enxada (VALENZUELA, 1994). Os principais métodos de controle das plantas daninhas são:

Consórcio: De uma maneira indireta, o uso tradicional do cultivo intercalado ou consorciado de gramíneas e leguminosas elimina a primeira geração de plantas daninhas, o que favorece o estabelecimento do agave. Uma vez realizado a preparação do terreno para plantio e depois o uso de herbicida pré-emergente para gramíneas e leguminosas, se mantém um controle inicial das plantas daninhas para ambos os cultivos. Por esse motivo muitos produtores acreditam ser benéfico o consórcio agave-gramínea-leguminosa no primeiro ano. Em razão disso, recomenda-se plantá-lo com feijão ou amendoim no período das chuvas.

Herbicidas: Nas situações em que o período crítico de prevenção da interferência de plantas daninhas é muito longo, a principal medida de controle para minimizar as perdas de produtividade é o uso de herbicidas aplicados em área total, uma vez que o controle


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mecânico exigiria elevada frequência de operações, o que aumentaria o custo de produção, além de aumentar os riscos da infecção por doenças (HERNÁNDEZ et al., 2007). Como a utilização dos métodos mecânicos de controle de plantas daninhas, seja por meio de capina manual ou pelo uso de cultivador, pode prejudicar as raízes superficiais e o caule do agave, e considerando-se os custos elevados da mão de obra para as capinas e a necessidade de melhor controlar as plantas daninhas na linha de plantio, os herbicidas são uma importante ferramenta nas lavouras de agave mais tecnificadas.

Por outro lado, com a rotação de culturas, a dinâmica das plantas daninhas se altera, e com ela se alteram também os métodos de controle e, sobretudo, os herbicidas com diferentes espectros de ação. Para que se obtenha sucesso com o sistema de rotação de culturas, é necessário conhecer detalhadamente o histórico da área cultivada, qual a espécie de planta daninha dominante e principalmente sobre os herbicidas utilizados na cultura anterior, suas doses e efeitos residuais no solo, a fim de que a lavoura em sucessão não seja intoxicada por herbicidas ainda presentes no solo.

O conhecimento do tipo de solo e dos teores de matéria orgânica e de argila é, portanto, imprescindível para se definir a dose do herbicida a ser aplicada, (KLINGMAN; ASHTON, 1975; OLIVEIRA JR., 1998). Além disso, as aplicações não devem ser feitas em condições de umidade relativa inferior a 60% (SOUZA et al., 1976), uma vez que a baixa umidade relativa do ar durante e logo após a aplicação dos produtos causa a desidratação da cutícula, que pode afetar a penetração de herbicidas hidrofílicos, além de aumentar a evaporação da gotícula de água e deixar o herbicida cristalizado na superfície foliar, sem condições de ser absorvido. A temperatura influencia a maior atividade metabólica das plantas, a evaporação de gotículas da calda pulverizada e, também, a volatilização de alguns herbicidas, em detrimento da absorção destes. Dessa forma, a pulverização deve ser feita nas horas mais frescas do dia, ou seja, pela manhã, sem risco iminente de ocorrência de chuvas.

Atualmente, nas plantações de agave estão utilizando tanto herbicidas préemergentes como pós-emergentes, apesar do uso do primeiro em terreno muito inclinada pode provocar problemas de escorrimentos ao deixar desnudo o solo e exposto à erosão. Na aplicação em pré-emergência, o teor de umidade no solo relaciona-se com a eficiência


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de praticamente todos os herbicidas, e isso significa que a maioria deles não será eficiente se aplicados em solo seco, permanecendo nessa condição por vários dias.

Os herbicidas aplicados em pós-emergência das plantas daninhas têm sido largamente usados no controle não-seletivo de mono e dicotiledôneas que infestam as entrelinhas da lavoura de agave nessa fase (Figura 69). São herbicidas de ação sistêmica ou de contato, cuja eficiência de controle depende da espécie daninha e do seu estádio de desenvolvimento e da sua condição metabólica, da dose e das condições climáticas antes, durante e depois da aplicação. Se usados em plantas daninhas que estão sob déficit hídrico prolongado, tornam-se pouco eficientes (baixa absorção e/ ou translocação). Também a ocorrência de chuva em intervalo de tempo menor que seis horas após a aplicação pode reduzir substancialmente a absorção e a eficiência do herbicida sistêmico mais empregado na cultura do agave (glifosato).

Figura 69. Aplicação dirigida de herbicida em pós-emergência entre as fileiras do agave e barra de pulverização com protetor de deriva que pode ser adaptado para o espaçamento do agave. Foto: Rui Manuel Pereira Nobre O uso de herbicidas aplicados em pós-emergência proporciona fatores positivos à cultura, principalmente naquelas plantadas em solos de topografia acidentada, sujeitos à erosão. Após as aplicações, as plantas daninhas permanecem mortas na superfície, formando uma cobertura que contribui para o aumento do teor de matéria orgânica do solo e evita o aquecimento excessivo deste, diminuindo o impacto das gotas de chuva, o escorrimento superficial e, consequentemente, os danos causados pela erosão. Ainda, com a morte e decomposição do sistema radicular das plantas daninhas, são formados pequenos canais no perfil do solo, que aumentam a infiltração de água e a aeração e melhoram a estrutura edáfica.


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Deve-se ter o cuidado de fazer a rotação de herbicidas que apresentem mecanismos de ação diferentes, usados em pós ou em pré-emergência, e também a rotação de métodos de controle, a fim de evitar o aparecimento de plantas daninhas resistentes ou tolerantes (VARGAS et al., 1999). Também, e indispensável que se façam a regulagem e a calibração do pulverizador para que se aplique a dose correta, pois doses abaixo e acima da recomendada podem proporcionar controle insuficiente ou intoxicação da lavoura, respectivamente.

Para aplicações em pré-emergência, e preciso conhecer algumas características físico-químicas do solo (pH, teor de matéria orgânica, capacidade de troca de cátions (CTC) e textura) que serão necessárias à definição das doses. Esses herbicidas são geralmente muito usados antes ou após o transplantio das mudas, aplicados no solo limpo, úmido, apenas na linha de plantio (evitando-se que a calda atinja o ápice das plantas) ou também entre as linhas (RONCHI et al., 1999a, 1999b). Um dos grandes problemas da aplicação dirigida de herbicidas não seletivos, como o glifosato, próximo ao caule na linha de plantio do agave jovem é a intoxicação das plantas provocada pela deriva das gotas pulverizadas.

Logo após a gradagem do solo, estando o solo úmido, podem-se fazer aplicações de herbicidas de longo efeito residual no solo, em pré-emergência das plantas daninhas, visando garantir com isso a baixa infestação na lavoura, pelo menos nos primeiros meses da estação "das aguas". Geralmente são usadas associações de herbicidas, com o objetivo de se obter maior espectro de ação sobre as plantas daninhas, dando preferência àqueles eficientes no controle de gramíneas, pois essas são as espécies mais comuns e competitivas nessa época. A relação dos herbicidas mais usados nessas fases e em outras fases de desenvolvimento da planta do agave encontra-se na Tabela 3.


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Tabela 3. Principais herbicidas para o controle das ervas daninhas em plantações de agave. Igrediente ativo Glifosato

Formulação

Doses

AS 41% e CS

2 a 8 L/ha

54%

Uso Herbicida sistêmico, para o controle de anuais e perenes de folha larga e estreita. Pós-emergência. Aplicar quando a erva daninha tenha 15 a 20 cm de altura.

Glufosinato de

AS 14%

1,5 a 2,5 L/ha

amônia

Herbicida de contato, para o controle de folha larga e estreita. Pós-emergência. A dose alta é para parcela muito infestada. A partir de o terceiro ano reduzir a dose e não aplicar em plantação com mais de 3 anos.

Fluazifop p-butil

CE 13%

0,75 a 2,5

Herbicida sistêmico, para o controle de

L/ha

gramíneas anuais e perenes. Pósemergência.

Bromacil

GD 80%

2 a 3 kg/ha

+Diuron

Herbicida sistêmico por raiz e de contato por folhagem. Controla gramínea anual e folha larga. De ação pré-emergente e pósemergente na fase inicial da plantação. Não pulverizar a parte média superior da planta.

Tebuthiuron

SC 44%

1,5 a 2,5 L/ha

Herbicida sistémico por raiz. Para o controle de gramíneas anuais e folha larga. Aplicação em seco e em pré-emergência. A dose alta é para parcelas muito infestadas. A partir de o terceiro ano reduzir a dose. Não pulverizar a folhagem do agave porque pode retrasar o seu crescimento. Não o aplicar em plantações com mais de três anos.

Amicarbazone

GD 70%

2 a 3 kg/ha

Para o controle de gramíneas anuais e folha larga. Aplicação em seco e úmido. De ação pré e pós-emergentes na fase inicial da plantação.

Fonte: COFEPRIS, 2008. Onde: G, granulado. CE, Concentração emulsionável. AS, Solução aquosa. CS, Concentração solúvel. SC, Suspensão concentrada. GD, Granulos dispersivel. PM, Pó molhável. LS, líquido solúvel.


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Mesmo que se trate da realidade da região mexicana, no cultivo do agave geralmente os produtores utilizam herbicidas em pré-emergência, ou seja, os produtos que se aplicam antes que a erva daninha emerge a superfície. O produtor planta os rebentos de agave em terreno seco (um mês antes do início das chuvas) e em seguida pode ser aplicado o herbicida Combine (i.a. Tebuthiuron) o Krovar (i.a. Bromacil+Diuron) que funciona, enquanto chegam às chuvas. Mas, qualquer outro herbicida só deve ser aplicado em solo úmido. Para obter melhor resultado, recomenda-se que, ao plantar em seco os rebentos, deve aplicar o herbicida depois da primeira chuva para que essa pulverização seja mais eficiente. Além disso, deve-se combinar o controle mecânico com a aplicação dirigida à planta daninha na dose de 3 litros por hectare, usando o herbicida Glifosato ou Glufosinato de amônia. No controle residual das ervas daninhas de folha estreita e gramíneas, aplica-se o herbicida Tebuthiuron com a dose de 3 litros por hectare ou o Amicarbazone na mesma dosagem (3 L/ha). No caso da planta daninha se encontrar estabelecida, recomenda-se realizar a mistura de glufosinato de amônia e amicarbazone para obter um eficiente efeito residual e assim alcançar um resultado satisfatório no controle das ervas daninhas. Vale lembrar que o uso de herbicida deve seguir as instruções técnicas, baseadas em resultados de pesquisa, buscando também atender nos seguintes requisitos: seguridade ao operador de campo e ao cultivo, efetividade no controle de plantas daninhas, baixo impacto ao ambiente e na econômia do produto.

O controle químico de plantas daninhas apresenta ainda baixo custo/área, rapidez na operação e eficiência, sendo essas as razões principais de seu uso generalizado. O herbicida também reduz ou elimina os riscos de danos ao sistema radicular e as plantas novas, além de assegurar maior facilidade na colheita e pode ainda ser utilizado como meio de controle da erosão em áreas-problema. Contudo, apresenta a desvantagem de necessitar de mão-de-obra especializada, pois, se mal-usado, pode prejudicar o agave e o meio ambiente. Logo, para seu uso correto, são necessários conhecimentos sobre plantas invasoras, sobre manejo de herbicidas e equipamentos e sobre as características do solo e do ambiente. A eficiência de controle das plantas daninhas pelos herbicidas usados em pré-emergência depende das características físico-químicas do solo.

Alguns produtores fazem uso de aplicações dirigidas à linha de plantio; de herbicidas não-seletivos. Contudo essa prática não tem muita aceitabilidade, pois, quando a empregam, os produtores o fazem com precária tecnologia de aplicação, intoxicam a


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lavoura e abandonam essa técnica, retomando as dispendiosas capina manual. Usando-se tecnologia de aplicação adequada, é possível obter alto rendimento operacional nas capinas, com custo baixo, preservando a seletividade da cultura. Tratando-se de lavouras jovens, o objetivo principal é manter a linha de plantio livre de plantas daninhas, numa faixa de 50 a 80 cm de cada lado da fileira, o que pode ser conseguido empregando-se herbicidas seletivos aplicados em pré ou pós-emergência das plantas daninhas ou por meio de herbicidas não-seletivos aplicados em jato dirigido na linha de plantio, sob a folhagem das plantas de agave, evitando-se sua deriva. O produtor deve estar consciente de que não existem herbicidas completamente seletivos para o agave, porém é importante que selecione uma estratégia e produtos para o agave que estejam em sintonia a sua escala de produção, o seu solo e seguridade da plantação (VALENZUELA, 2003).

No entanto, para obter sucesso na aplicação desses herbicidas em pós-emergência das plantas daninhas, na linha de plantio do agave, ou mesmo em área total, as aplicações deverão ser feitas com as plantas daninhas no estádio inicial de desenvolvimento, ou seja, gramíneas até o segundo perfilho e as de folha larga (dicotiledôneas) até a terceira folha verdadeira, estando o solo úmido, a temperatura amena e a umidade relativa do ar maior que 60%.

Controle mecânico: A escarificação mecânica é muito importante para a oxigenação do solo, em razão de as plantas de agave são sensíveis as altas concentrações de dióxido de carbono. A função do escarificador é melhorar a permeabilidade do solo, provocando uma aeração das camadas e mantendo, assim, os canais abertos de oxigenação das raízes. A passagem em demasia de implementos mecanizados, como o arado escarificador, nas entrelinhas pode causar compactação na zona próxima à planta, correndo assim o risco de prejudicar seu desenvolvimento (Figura 70).


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Figura 70. Cultivador escarificador hidráulico usado na aeração do solo para facilitar a respiração das raízes das plantas do agave no primeiro ano de plantio.

O controle mecânico de plantas daninhas ainda jovens, na entrelinha de plantio, pode ser feito com cultivadores acoplados a microtratores, visto que estes se adequam ao espaçamento da cultura, ou utilizando-se de capinadeiras ou carpideiras de tração animal. Esse equipamento é mais eficiente no controle de espécies daninhas anuais e em condições de calor e solo seco, porém apresenta como desvantagem principal a incapacidade de controlar plantas daninhas na linha de plantio. Além disso, as limpas podem ser feitas com o cultivador a tração animal ou, então, tratorizadas com uma grade leve, quando o espaçamento entre fileiras o permitir. Em ambos os casos, recomenda-se a limpa manual com enxada ou enxadão, entre as plantas de agave, como complemento das operações anteriores.

O agave adulto tem sistema radicular em forma de cabeleira, que se expande horizontalmente e cuja maior densidade está nos primeiros 20 a 40 cm da camada superficial do solo, razão pela qual, a partir do terceiro ano, recomenda-se o roço manual ou tratorizado, uma ou duas vezes ao ano. Caso se proceda ao roço uma vez por ano, esse deverá ser ao final da estação chuvosa e, se for duas vezes ao ano, deverão ser realizados uma vez em meados da estação chuvosa e o outro ao final. Quando as operações de limpeza forem realizadas com o trator (Figura 71), deve-se guardar uma distância de aproximadamente 80 cm da planta, para evitar danos às raízes e folhas.


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Figura 71. Roço com roçadeira tratorizada entre as fileiras do sisal e para o agave pulquero, recomenda-se deixar uma distância de 80 cm da linha de plantio. Foto: Odilon Reny Ribeiro Ferreira da Silva. Controle manual: Um método antigo, porém eficaz para o controle de plantas daninhas tem sido a capina manual e/ou o uso de cultivador. No entanto, essas atividades manuais deixaram de ser executadas, por causa do seu alto custo no México. Por outro lado, os cultivadores atualmente têm sido considerados uma ajuda favorável para o controle de plantas daninhas. Em muitos dos campos de agave, as máquinas agrícolas para tal finalidade deixaram de ser uma prática usual, uma vez que o solo úmido da chuva impede a entrada do trator dentro da área cultivada. Entretanto, em ocasiões que existam períodos de ausência de chuvas, o produtor pode capinar sem problema o terreno, apesar de que essa condição favorável estará condicionada pelo estado do clima (MARCICO, 1980; URZÚA, 2000).

Cobertura morta: O revestimento de todo o terreno com uma camada de palha triturada (exemplo: bagana de carnaúba ou outros restos vegetais; Figuras 72 e 73), após o plantio dos rebentos de agave pulquero, desde que esse material seja abundante na região de plantio. Para torná-la eficiente como cobertura morta, tal revestimento do solo terá que ser repetido por mais de duas vezes apenas no período de inverno dos dois primeiros anos, em razão da palha triturada com 3 cm de comprimento apresentar maior facilidade ao processo de decomposição do que as palhas adultas inteiras (GOMES, 1945). Outra situação seria usar o espalhamento das folhas trituradas num raio de 0,5 m ao redor da muda de agave, de modo a manter essa área do coroamento sempre revestida com bagana,


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principalmente nos meses de chuva. Esse manejo simples com a cobertura morta dispensa a capina manual (enxada) no controle das plantas daninhas, o que implica menos custos de mão-de-obra em tratos culturais no agaval.

Figura 72. A cobertura morta do terreno com bagana de carnaúba para controlar a incidência de ervas daninhas na área cultivada com rebentos de agave.

Figura 73. Espalhamento da bagana triturada de carnaúba apenas na linha de plantio das mudas de agave com auxílio da carroça.


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Integração lavoura-pecuária: Outra forma de redução dos custos de produção do agave e que é usado pelos agaveicultores mexicanos, é a integração entre agave e bovinos, através do pastoreio direto do animal no campo de agave, como aproveitamento do pasto natural e das folhas dos rebentos menores de agave, como alimento. Ou seja, trata-se de um sistema de plantação agrícola que utiliza a estratégica de controle de plantas daninhas, sem nenhum tipo de custos para o produtor de agave. Também é denominado de sistema de produção agropastoril devido à combinação da agricultura com a criação de animais domésticos numa mesma unidade de produção. Esse tipo de integração é realizado a partir do terceiro ano, época em que o agave está completamente formado, mas é necessário proporcionar um espaçamento mais largo para circulação dos animais. Outra modalidade de integração lavoura-animais de pequeno porte é aquela feita com caprinos e ovinos. Na prática, observou-se que o caprino danifica as folhas do agave, principalmente as mais tenras, enquanto o ovino, por ser um animal mais seletivo, permite interagir a partir do primeiro ano, sem danos à cultura.

OPERAÇÃO DE PODA DE FOLHAS Geralmente as plantas de agave não são podadas, mas o que se realiza é a remoção apenas das folhas basais que lentamente estão secando (Figura 74). Essa poda parcial é feita para evitar que essas folhas secas se tornem um veículo para doenças parasitárias, fazendo com que a planta fique doente e chegue a morrer. Tal operação pode ser feita após o segundo ou terceiro ano de estabelecimento, tentando ter a ferramenta de trabalho limpo para fazer o corte limpo e desinfetado (de preferência flambada) da bainha da folha, evitando assim infectar os tecidos e causar danos na pinha. Após a retirada das folhas, se traz terra com a enxada para a base da planta para dar maior firmeza (RAMOS et al., 2017).


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Figura 74. Poda de folha na planta de agave. Foto: Analy Pérez Ramos et al. (2017).

PRAGAS DO AGAVE O cultivo do agave é afetado por diferentes pragas que ocasionam danos consideráveis. Sabe-se que quando estabelece repetidamente uma única cultura no mesmo lugar, as pragas têm a oportunidade de estabelecer, colonizar regularmente no cultivo e adquirir resistência aos pesticidas. Portanto, é indispensável equilíbrio entre a diversidade de culturas e vegetação no ambiente do agavero, pois essa é a fórmula ideal para a agricultura sustentável. Os limites para a produção agrícola e pecuária, conservação do bioma florestal, bem como o uso racional de agrotóxicos e de avaliação da qualidade de lençóis freáticos, são parte das políticas que deverão ser bem planejadas no manejo do ambiente do agavero (VALENZUELA, 2003; DOMÍNGUEZ; CORTÉS, 2007; CESAVEG, 2008).

PRAGAS DA RAIZ Bicho-bolo ou Corós: As espécies do gênero Phyllophaga são do tipo escarabiforme com tendência a se enrolar e medem de 8 até 28 mm de comprimento e são de coloração marrom-avermelhada brilhante, com mandíbulas fortes e patas torácicas bem desenvolvidas (RÍOS, 1986). Os besouros de Cyclocephala são menores, medindo cerca


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de 15 milímetros, e são de coloração marrom-amarelada. Os besouros de todas as espécies, normalmente em grande número, são facilmente percebidos à noite, próximos a fontes de luz. As fêmeas fazem postura no solo. Depois de uma semana eclodem as larvas que se alimentam do sistema radicular das plantas. As larvas, conhecidas como bichobolo ou corós, são muito semelhantes quanto ao aspecto geral, com o corpo de coloração branco-amarelada, em forma de C e com cabeça marrom (Figura 75). A ponta do abdômen é brilhante e transparente. Dentro de um mesmo estádio de desenvolvimento, as larvas de cada espécie podem ser separadas pelo tamanho e pela disposição dos pêlos e espinhos na região ventral do último segmento abdominal. Suas larvas passam por três instares, mas a duração dos dois primeiros estádios é de aproximadamente 40 a 45 dias. O terceiro instar pode durar de 45 a 90 dias, pois é nesse período que as larvas causam maiores danos à planta ao se alimentar ativamente de raízes tenras, podendo ser porta de entrada do fungo fitopatógeno Fusarium oxysporum. Essa praga afeta plantações de agave entre 1 a 3 anos de idade.

(DOMÍNGUEZ; CORTÉS, 2007; CESAVEG, 2008).

Estratégias de manejo: O controle da praga bicho bolo é difícil devido à falta de identificação precisa da espécie causante do dano. Em razão dos seus hábitos subterrâneos, sazonalidade e padrão de ataque, que regularmente apresenta em reboleiras, os danos causados ao cultivo são detectados, na maioria dos casos, quando o ataque já sucedeu. Recomenda-se a aplicação de inseticida ao solo (DOMÍNGUEZ; CORTÉS, 2007; GONZALEZ et al., 2007).

Figura 75. A larva e o adulto do bicho bolo (Phyllophaga sp). Fotos: Ortega et al. (2016).


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PRAGAS DA PINHA Broca-da-pinha ou Besouro rinocerante: O adulto de Strategus aloeus (Coleoptera: Scarabaeidae) é um besouro castanho-escuro, de hábito noturno, medindo em torno de 3,1 x 6,1 cm de comprimento (Figura 76). O macho difere da fêmea por possuir três chifres protorácicos recurvados. Não foi avaliado o seu impacto sobre plantações de agave tequilero, no entanto, foram detectadas infestações moderadas, principalmente nas margens das plantações. É capaz de causar uma grande perda às plantas. O adulto cava uma galeria no solo, próximo aos agaves novos, onde permanece durante o dia e perfura uma galeria a nível médio da pinha da planta jovem, para se alimentar durante a noite, o que pode afetar seu crescimento ou morte. Geralmente é atraído por fontes luminosas. As larvas completam o seu desenvolvimento em dois anos. A mesma mede aproximadamente 5,0 a 6,0 cm de comprimento, tem cabeça marrom e corpo esbranquiçado com três pares de pernas no tórax e parte posterior do abdômen abaulada e transparente, e desenvolvese normalmente em madeiras em processo de decomposição (GONZALEZ et al., 2007).

Estratégias de manejo. É conveniente realizar seu monitoramento com armadilhas luminosas desde o final de abril a junho que coincide no México com a chegada dos adultos no campo de agave. Uma vez detectado o ataque nas plantas das margens do campo, recomenda-se a aplicação de inseticida granulado no meristema foliar se a planta é ainda pequena ou na raiz, se é grande. Quando ocorre a presença de adultos, significa que, na maioria dos casos, houve uma infestação de um campo para o outro. Alternativas são: a) limpeza do campo, b) coveando em volta da planta (tipo bacia) e sua inundação com água e c) pulverização com cal hidratada (20 L + 5 kg) nas plantas infestadas. Aplicação de cepas de Metarhizium anisopliae contra as larvas nos primeiros estádios (instares) e no primeiro ano de cultivo (CESAVEG, 2008).

Figura 76. A larva e o adulto da broca da pinha (Strategus aloeus). Fotos: Ortega et al. (2016).


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Bicudo do agave: Suas larvas são de cor branca cremosa, em forma de um "C" sem patas, com corpo segmentado e estriado; medem de 1 a 2 cm de comprimento, com cabeça grande e dura; apresentam na sua cauda duas prolongações pequenas. O adulto é preto brilhante, mede 1,5 a 2,5 cm de comprimento, com bico bem desenvolvido e encurvado. Leva 125 dias para completar seu ciclo, passando por 11 estádios larvais. Os adultos são encontrados na base das folhas, assim como dentro das pinhas, geralmente nesse local em processo de decomposição, devido ao ataque de larvas (Figura 77). As larvas do bicudo podem perfurar as pinhas de agaves maduras com mais de 4 anos de idade, mas também podem atacar plantas jovens de 1 a 3 anos. O dano inicial é observado por perfurações e secreções gamosas entre o meristema primário (foliar) e a folha, formando galerias e causando podridão mole. Ou seja, o bicudo provoca danos em todas as etapas fenológicas do agave, causando de maneira direta ou indireta a morte das plantas e, ao mesmo tempo, detrimento na qualidade da pinha, cujas perdas poderão ser superiores a 80%. Estratégias de manejo: Limpeza da área plantada e eliminação de plantas infestadas para que não se desenvolva um foco de infecção especialmente sobre as plantas maduras. Realizar amostragem para a detecção oportuna dos bicudos adultos. Para o controle de adultos, algumas cepas do fungo Beauveria bassiana têm boa efetividade, assim como o inseticida Zeta-Cipermetrina. Uma vez que a larva perfura a pinha ou o adulto passa a colonizar o meristema foliar, então seu controle fica difícil (CESAVEG, 2008).

Figura 77. Bicudo do agave (Scyphophorus acupunctatus) e seu dano na pinha. Fotos: Ortega et al. (2016).


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Besouro funerário do agave (Acanthoderes funerarius): O adulto é de cor preto com manchas brancas na região dorsal, medido, em média, 2 cm de comprimento. O ovo é de cor branca cremosa e mede 2,5 mm de comprimento. A larva é de cor branca cremosa e passa por vários estádios (Figura 78). Pode perfurar a pinha e permanecer se alimentando no seu interior, por até 10 meses, sem conseguir matar a planta, mas o crescimento da mesma é retido (GONZALEZ et al., 2007). Também pode se alimentar da base do talo, consequentemente as raízes são eliminadas e provoca o sintoma de murchamento da planta. Altas populações de adultos aparecem no início da estação chuvosa, embora que os insetos são encontrados em épocas diferentes. Tais insetos raspam a base das folhas para se alimentar e depositam os ovos na face inferior das folhas. A eclosão das larvas pode ocorrer a partir dos quinze dias posteriores à oviposição, mas têm sido encontrados ovos viáveis após 6 meses o período de oviposição (GONZALEZ et al., 2007). Estratégias de manejo: O adulto é muito sensível a qualquer inseticida, portanto a pulverização deve ser direcionada diretamente para a praga. Além disso, é importante monitorar o aparecimento de adultos e aplicar inseticidas ligeiramente tóxicos, de modo a evitar que a fêmea chegue a ovipositar na planta do agave (GONZALEZ et al., 2007). O dano ocasionado pela larva é mais prejudicial do que o adulto. O controle oportuno de plantas daninhas é muito importante para evitar que o inseto praga fique escondido.

Figura 78. A larva e o adulto do besouro funerário do agave (Acanthoderes funerarius) e danos na folha do agave. Fotos: Juan Francisco Pérez Domínguez; Ramón Rubio Cortés, 2007; CESAVEG, 2008.

A lagarta vermelha do agave é denominada cientificamente de Comadia redtenbacheri. É conhecida como verme vermelho da família Cossidae e tem uma grande demanda temporária por alimento do agave devido a seu sabor e por ser rico em proteínas, aminoácidos e gorduras insaturadas, inclusive na indústria agave é imprescindível para o produto de exportação. As larvas alimentam-se da base das folhas ligadas ao tronco


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(caule) de agaves com menos de um metro de altura e os seus tecidos subterrâneos (Figura 79). Elas vivem em grupos dentro do tecido vegetal e, à medida que crescem, migram em direção ao centro do caule, formando galerias em que são desenvolvidos por cerca de meio ano, esses danos afetam o crescimento dos agaves, mas o maior dano é causado por pessoas que se dedicam à coleta clandestina dessas larvas para venda, quebrando pequenas plantas (NIETO et al., 2013).

Figura 79. Danos no agave causado pela lagarta vermelha. Foto: Ortega et al. (2016).

PRAGAS DA FOLHAGEM Piolho farinhoso (Pseudococcus sp): São insetos sugadores, seus indivíduos formam colônias numerosas, cobertas por um“algodãozinho”, alimentam-se da seiva das plantas e as deixam debilitadas (GUTIÉRREZ; ARAIZA, 2001; Figura 80). A praga se distribui no campo de maneira uniforme. Seu ciclo biológico é ovo, ninfa e o adulto. O corpo das fêmeas é alargado, ovalado e segmentado, com antenas e patas bem desenvolvidas. Os ovos são colocados nas folhas sobre uma substância cerosa e algodãonosa que é secretada pela fêmea (DALY et al. 1978; BORROR et al.,1989). Em plantação nova é considerada uma praga importante, já que pode afetar o crescimento e a capacidade fotossintética da planta. O piolho farinhoso pode atacar a zona radicular, a base das folhas e até as folhas do meristema apical (GONZALÉZ et al., 2007). No período de estiagem, tem-se detectado, na base de união entre as folhas e a pinha, a secreção de sucos e a descoloração da pinha, causando a “falsa maturação” da planta (CESAVEG, 2008). Estratégias de manejo: Em população não elevada, recomenda-se aplicação de óleo mineral ou detergente em pó para reduzir suas densidades, o que poderá diminuir seu estabelecimento nos rebentos. É importante não tirar rebentos de áreas infestadas para futuras plantações.


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Do contrário, sugere-se efetuar um tratamento preventivo, a fim de evitar sua disseminação para outro campo (GONZÁLEZ et al., 2007).

Figura 80. Adulto do piolho farinhoso (Pseudococcus sp). Fotos: Juan Francisco Pérez Domínguez; Ramón Rubio Cortés, 2007; CESAVEG, 2008 e 2010.

Escama armada (Acutaspis agavis): Sua infestação pode ser parcial o totalmente nas folhas e no meristema apical (Figura 81). Em geral, as folhas atacadas provocam a debilidade da planta e chegam a ocasionar a sua morte, devido ao seu processo de murchamento e secamento prematuro (ARAIZA et al., 2004). As fêmeas são pequenas, de corpo mole e se ocultam sob escamas que usualmente estão separadas do corpo das fêmeas, as quais são usadas apenas como cobertura. A escama protetora é formada por ceras secretadas pelo inseto, junto com as mudas dos primeiros instares. As escamas danificam ambas as faces da folha, sugam a seiva das plantas e excretam sobre as folhas uma grande quantidade de líquidos açucarados, sobre os quais desenvolve o fungo fumagina (Capnodium spp), que também pode afetar a capacidade fotossintética da planta. A escama armada é uma praga que tem maior intensidade populacional nos meses mais secos, podendo assim causar danos ao agave pulquero. Estratégia de controle: A utilização de óleos à base de petróleo parafinicos pode ser eficaz no controle de insetos. Além da grande atividade inimiga natural como predadores (Chilocorus cacti) e parasitoides (Aphytis spp.), que respondem aos incrementos de pragas. No caso de infestações severas, recomenda-se aplicar inseticidas de contato (GONZÁLEZ et al., 2007).


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Figura 81. Infestações de escamas armadas em estádio de larva (A), jovens e maduras (B) e escamas eclodidas e parasitadas (C). Fotos: Juan Francisco Pérez Domínguez e CESAVEG, 2007 e 2010. Percevejo do agave (Caulatops agavis): O adulto mede cerca de 4,5 m de comprimento (Figura 82). O corpo é de cor amarelo pálido, com as asas de cor marrom claro. As ninfas e adultos sugadores se alimentam de folhas tenras do meristema foliar. Tem sido observado que suas populações aumentam principalmente nos meses mais frio do ano, mesmo assim considera prudente estudar e avaliar melhor os danos na planta (GONZÁLEZ et al., 2007). Estratégias de manejo: Por ser pouco conhecido o tipo de dano provocado na folhagem do agave, portanto, ainda não é recomendável efetuar nenhuma ação de controle (GONZÁLEZ et al., 2007).

Figura 82. Adulto e dano mecânico provocado pelo percevejo na folha do agave (Caulatops agavis). Fotos: Juan Francisco Pérez Domínguez; Ramón Rubio Cortés, 2007; CESAVEG, 2008.


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Lagarta branca do agave (Aegiale hesperiaris = Acentrocneme hesperiaris): O adulto é uma mariposa de cor entre acinzentado a marrom escuro (Figura 83). Os ovos são de forma cônica e medem 3 mm de diâmetro por 2 mm de altura. Possui a cor branco marfim quando são recém ovipositados. As larvas recém-emergidas são de 3 a 6 mm, enquanto sua cabeça é negra e o resto do corpo de tonalidades claras. As larvas no quarto estádio de desenvolvimento (ínstar) chegam a medir até 70 mm de comprimento por 15 mm de largura. As pupas medem 50 mm de comprimento por 15 mm de largura (GONZÁLEZ et al., 2007). As oviposições são realizadas na face inferior da folha. As larvas começam a fazer galerias do terço superior da folha ao sair para o lado externo e segue fazendo outro número variável de galerias à base da folha. Uma vez bem desenvolvida, a larva se dirige à base das folhas para pulpar, antes é construído um opérculo sedoso (janela) por onde emergirá o adulto. O dano no agave se manifesta pela redução no crescimento da planta, um murchamento precoce, áreas necrosadas nas folhas e sua morte (GONZÁLEZ et al., 2007). Estratégias de manejo: Devido aos hábitos dessas espécies de Lepidópteros de realizar galerias, o manejo deverá ser direcionado para controlar as larvas do primeiro estádio, as quais exigem algum tempo para caminhar sobre a folhagem e introduzir no seu interior (GONZÁLEZ et al., 2007).

Figura 83. A larva e danos na folha da lagarta branca do agave (Aegiale hesperiaris). Fotos: Ortega et al. (2016).


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Gafanhoto (Orthoptera: famílias Acrididae, Tettigoniidae): São caracterizados por apresentar um aparelho bucal mastigador, dois pares de asas, das quais o primeiro par tem consistência apergaminhada e o metatorácico ou o segundo tipo é membranoso. Suas pernas são do tipo andador ou saltador. A maioria deles é capaz de emitir um som estridente ou fazer sons com asas ou pernas. Sua coloração é variável e o seu tamanho varia de 3 a 120 milímetros (Figura 84). Estratégia de controle: Controlar as plantas daninhas dos campos de agave e, em caso de ataque intenso do meristema foliar, aplica-se inseticidas de contato.

Figura 84. Gafanhoto (Orthoptera: famílias Acrididae, Tettigoniidae). Foto: CESAVEG, 2008.

Roedores: É uma praga que geralmente ocorre nos campos montanhosos e próximo a época de maturação da planta, em razão dos açúcares estarem formados e pela ausência de alimento aos ratos, aumentam os danos ao agave (Figura 85). Estratégias de manejo: recomenda utilizar armadilha industrial para captura dos roedores e não o uso dos cebos envenenados que podem afetar a fauna benéfica. Na Tabela 4, encontram-se alguns inseticidas recomendados para o controle de pragas.


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Figura 85. Dano severo no meristema foliar do agave provocado pelos roedores. Foto: CESAVEG, 2010.

Tabela 4. Alguns inseticidas químicos usados no controle de pragas do agave. Pragas

Inseticida

Ingrediente ativo

Doses por ha

Momento de aplicação

Bicho-bolo

Brigadier 0,3%

Bifentrina

12 kg

Crusier 5 TS

Thiamethoxam

250 mL

Besouro rinocerante

Semevin 350 S Furadán 350

Thiodicarb Carbofurán

2L 2L

Ao plantar, uma segunda pulverização nos rebentos com mais de duas larvas. Impregnar os rebentos antes do plantio Pulverizar com 200 L a raiz e a parte inferior da pinha ao iniciar o plantio

Piolho farinhoso

Arrivo 200 EM Mustang max 4S Disparo

Cipermetrina Z cypermetrina

200 mL 250 mL

Escama armada

Chlorpyrifos 750 mL etyl Marshall 300 L Carbosulfan 250 mL Fonte: Juan Francisco Pérez Domínguez; Ramón Rubio Cortés, 2007.

Observar a intensidade de infestação na metade superior da folha com 40%. Pulverizar quando as folhas da metade superior da planta com 40% de infestação

DOENÇAS DO AGAVE As doenças causadas por fungos se manifestam como podridões semi-secos, inodoras que se encontram geralmente em folhas, pinha e raiz. Enquanto que as causadas por bactérias são podridões úmidas com odor, que geralmente ocorrem no meristema foliar (broto) e folhas. Os fungos têm a capacidade de penetrar na planta por seus próprios meios e as bactérias aproveitam as feridas. Como qualquer organismo vivo, as doenças apresentam um ciclo biológico, que compreende seis etapas: a inoculação, penetração, infecção,


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invasão, crescimento, reprodução e disseminação. O dano é mais evidente em etapas avançadas de cultivo, daí a importância da prevenção (HERNÁNDEZ, 2003). As principais doenças do agave pulquero são: Podridão do meristema foliar ou broto (Erwinia sp.): O dano é causado por bactérias. Os sintomas iniciam no espinho apical da folha ou espinhos laterais e avançam até o seu centro, causando uma podridão descendente até a pinha com a perda do meristema foliar, contaminando e retrasando a planta (Figura 86). A doença é favorecida pela umidade das folhas internas do meristema foliar e pela falta de oxigênio. Pode ser transmitida por insetos que causam feridas (por exemplo: bicudo). Na murcha-bacteriana, a podridão afeta as folhas. Estratégias de manejo: Abrir o meristema foliar e poda sanitária (Figura 87). Pulverizar com bactericidas as folhas. Eliminar as plantas afetadas. Replantar (CORTÉS, 2007; CESAVEG, 2008).

Figura 86. Danos no meristema foliar ou broto e danos na folhagem. Fotos: CESAVEG, 2008 e José Luis Martínez Ramírez.

Figura 87 . Poda sanitária e abertura do meristema foliar da planta do agave. Fotos: José Luis Martínez Ramírez.


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Varíola ou negrinha (Asterina mexicana): O dano é causado por um fungo. A infestação inicial pode ser vista pela presença de pequenas áreas escuras parecidas à mancha de um marcador (Figura 88). Geralmente afeta as folhas baixas, mas quando o dano é severo chega a necrosar a folha. Quando o fungo está presente no rebento recém-plantado, o dano é severo. Estratégias de manejo: Tratamento do rebento com fungicida de contato. Aplicação foliar de fungicidas preventivos.

Figura 88. Infestação (A) e invasão (B) do fungo Asterina mexicana (varíola). Fotos: CESAVEG, 2008.

Anel vermelho: Nas lesões da planta têm sido encontrados os fungos Fusarium sp. e Phytophthora sp. As folhas apresentam uma faixa de cor vermelha bem definida que pode penetrar e afetar o meristema foliar (Figura 89). A crosta provoca obstrução dos tecidos e perda da atividade fotossintética da área foliar, dando como resultado plantas pequenas com fraco crescimento e desenvolvimento. Estratégias de manejo: As recomendações são: abrir o meristema foliar ou broto, efetuar pulverização foliar com fungicida sistêmico, não rebaixar o rebento em excesso, eliminação de plantas infectadas e não abastecer as plantações com rebento contaminado (CESAVEG, 2008).


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Figura 89. Infecção (A) e invasão (B) dos fungos Fusarium sp. e Phytophthora sp. (anel vermelho). Fotos: CESAVEG, 2008.

Tição (Cercospora agavicola): A doença é provocada pelos fungos Cercospora, Fusarium oxysporum, Chalara sp e outros. O sintoma inicial começa por clorose e logo o meristema foliar tende a se inclinar e, posteriormente, aparece ligeira podridão na parte média das folhas e do meristema foliar, finalmente a infecção avança formando grandes áreas de coloração cinza azulado (Figura 90). Sua infestação é mais nas plantas-mães com 3 a 4 anos de idade, inclusive os seus rebentos. Na lesão formada, as bactérias podem proliferar, causando um falso diagnóstico da doença. Estratégias de manejo: Nas etapas iniciais: poda e aplicação foliar de fungicidas sistêmicos, enquanto nas etapas finais: queima e eliminação da planta-mãe e rebentos, com a desinfestação do solo com cal comum (CESAVEG, 2008).

Figura 90. Sintomas inicial e final na planta (A,B), danos na pinha e poda de sanidade para controle da doença tição. Fotos: CESAVEG, 2007, 2008, 2010 e Alberto J. Valencia Botín.


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Ponta seca (Fusarium sp e Alternaria sp.): Na lesão tem sido encontrado Fusarium sp e Alternaria sp. O dano inicial se observa pelo amarelecimento no ápice (ponta) das folhas novas, posteriormente ocorre a senescência e finalmente se formam anéis irregulares na folha (Figura 91). O uso contínuo de herbicidas e a presença de geadas propiciam o surgimento da ponta seca. Estratégias de manejo: Poda e aplicação de fungicidas de contato (CESAVEG, 2007).

Figura 91. Planta de agave atacada pela ponta seca. Fotos: Gil Virgen Calleros e CESAVEG, 2007. Sarna (Elsinoe sp.): Na lesão tem sido encontrado o fungo Elsinoe sp. Os sintomas iniciais são perdas de turgência e descolorização das folhas. Posteriormente aparecem estrias ou enrugamentos que podem chegar a formar rachaduras (Figura 92). Em geral, a planta fica debilitada e reduz sua atividade fotossintética. É comum encontrar sua infestação em tempo seco. Estratégia de manejo: Restabelecer a umidade do solo e aplicação de fungicidas de contato (CESAVEG, 2007).

Figura 92. Folha de agave com a doença de sarna. Fotos: CESAVEG, 2007.


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Mancha marginal ou mucha foliar (Phoma sp, Alternaria (Elsinoe sp.) sp e Erwinia sp): Nas lesões têm sido encontrados fungos Phoma sp, Alternaria sp e Erwinia sp. Nas áreas danificadas podem ver pequenas áreas enegrecidas de ambas as faces das folhas rodeadas por uma borda amarelenta. Quando a infecção progride se formam manchas muito regulares nas bordas ou na parte média das folhas, que chegam a dobrar e partir a folha (Figura 93). A área infectada é uma fonte de podridão semi-seca, com a perda da capacidade fotossintética e área foliar. Seu surgimento é mais evidente na época de chuvas onde a lesão se torna aquosa com secreções avermelhadas. Geralmente as folhas velhas são as mais afetadas. Estratégias de manejo: Poda e aplicação de fungicidas de contato (CESAVEG, 2007).

Figura 93. Sintomas de marcha marginal ou murcha foliar do agave. Fotos: CESAVEG, 2007.

Cravo do rebento (Fusarium sp. e F. oxysporum): Na lesão tem sido encontrado o fungo Fusarium oxysporum. Ao separar os rebentos da planta-mãe e aparar o rizoma (corte da raiz), nota-se uma crosta de cor avermelhada (Figura 94). Estratégias de manejo: Quando o dano é leve, recomenda-se cortar a parte afetada e tratar o rebento com fungicidas sistémicos, mesmo assim é necessário identificá-lo e marcá-lo em campo. No caso de dano severo é melhor queimar e eliminar o rebento para evitar que a doença seja disseminada. Quando o rebento é barato é mais simples replantar do que tratá-lo (CESAVEG, 2007).


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Figura 94. Sintomas de cravo no bulbo do rebento. Fotos: CESAVEG, 2007.

Antracnose (Colletotrichum sp, Botryodiplodia sp, Diplodia sp e Diplodinia sp.): Na lesão tem sido encontrado os fungos Colletotrichum sp, Botryodiplodia sp, Diplodia sp e Diplodinia sp. Sua manifestação ocorre na forma de manchas afundadas, círculos concêntricos e regulares (Figura 95). Produz cancros e morte descendentes. Quando o ataque é severo, a folha pode secar por completo, dando como resultado um tecido desgastado. Geralmente sua incidência ocorre nas folhas externas da planta. Para infestar exige condições de umidade no ambiente e dano mecânico. Estratégias de manejo: Evitar os danos mecânicos. Poda e aplicação de fungicidas de contato.

Figura 95. Danos da antracnose no rebento do agave (A) e esporulação do fungo (B). Fotos: CESAVEG, 2008.

Mancha anular (Didymosphaeria sp e Nectria sp): Nas lesões têm sido encontrados fungos Didymosphaeria sp e Nectria sp. Esses fungos formam uma série de anéis concêntricos de cor avermelhado muito regulares. À medida que vão amadurecendo se tornam marrons (Figura 96). A doença afeta as folhas baixas e velhas e depois invade a folha saudável e a planta por completo. Para sua infestação requer condições de umidade.


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Estratégias de manejo: Poda e aplicação foliar de fungicidas de contato (CESAVEG, 2008).

Figura 96. Danos na folha do agave causado pela doença mancha anular. Fotos: CESAVEG, 2008. Sintomas fisiológicos (Fatores abióticos e bióticos): Existem lesões causadas por estresse devido ao calor, umidade e nutrição etc., onde podem aparecer faixas de cores diferentes ou podridões secas com possível presença de microrganismos saprófitos, causando assim um falso diagnóstico (Figura 97). Estratégias de manejo: Tentar eliminar o estresse da planta. Nutrição do solo e foliar. Adicionar o cálcio à planta na forma de mistura bordalesa ou hidróxido de cálcio micronizado (CESAVEG, 2008). Na Tabela 5, encontram-se alguns fungicidas e bactericidas recomendados para o controle de doenças.

Figura 97. Danos na folha do agave causados pela doença mancha anular (A) e danos causados por geada (B). Fotos: CESAVEG, 2008 e Ramón Rubio Cortés (2007).


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Tabela 5. Alguns fungicidas e bactericidas usados no controle das principais doenças do agave. Ingrediente Ativo TCMTB +MTC

Formulação CE 20%

Iodo

PH 2%

0,8 a 1,2 kg/ha

Uso Contra a podridão do meristema foliar e podridão radical causada por Erwinia sp. Contra a podridão radical por F. sp. e podridão causada por Erwinia sp. Contra a podridão suave causada por Erwinia sp. Contra a podridão suave causada por Erwinia sp.

LS 2%

0,5 a 1,5 L/ha

Contra a podridão suave causada por Erwinia sp.

L 2%

Sulfato de cobre Sulfato gentamicina cloridrato oxitetraciclina Kasugamicina

SA 47% de + de

Doses 1,5 a 2 L/ha 1,5 L/200 L água 3 L/ha

Fonte: CESAVEG, 2008.

DETALHAMENTO DAS ETAPAS ANTERIORES AO PROCESSO DE PRODUÇÃO DE PULQUE

1.Poda de acesso ao interior da planta Essa operação consiste em cortar a folhas exteriores, de um determinado lado do agave com menor concentração de folhas, no sentido do seu comprimento para remover os espinhos com ajuda de uma faca bem afiada, visando facilitar o acesso do operário (tlachiquero em espanhol) a parte central da roseta para efetuar as seguintes atividades: capação do pendão floral, perfuração e limpeza da cavidade, raspagem da cavidade e extração do hidromel.

Também nessas folhas exteriores do agave pulquero, os espinhos de suas extremidades são cortados com o instrumento tipo foice (barreto; Figura 98) para evitar acidentes ao coletor de hidromel. Posteriormente, algumas folhas, que dificultam o acesso à roseta, são cortadas e o pendão flora é capado, junto com as folhas rudimentares que o revestem, através de um facão de 8 polegada bem amolado (Figura 99).


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Figura 98. Instrumento tipo foice usado pelo tlachiquero para eliminar os espinhos das folhas exteriores do agave pulquero.

Figura 99. Para a realização da operação de capação do pendão floral do agave, corta-se algumas folhas que dificultam o acesso à roseta ou seu interior (apenas de um lado da planta). 2. Capação do escapo floral Considerado o coração do agave ou maguey, o escapo floral é como um talo que sai e cresce muito alto e floresce. Entretanto, é necessário saber o momento preciso para capar o agave e como fazer tal operação para que o escapo floral não siga crescendo. Uma vez efetuado a capação, deixa a planta descansar para que comece a produzir hidromel. Caso seja feito com antecedência a decepação, o rendimento do hidromel será menor.


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O corte do escapo floral (ou a inflorescência que brota da planta mãe tem no agave pulquero um aspecto parecido a uma folha delgada) é realizado com a ajuda de uma faca amolada desde sua base. Esse escapo floral cresce rapidamente e consome grande parte dos assimilados da fotossíntese e, consequentemente, diminui o volume das folhas. Portanto, recomenda-se que o mesmo seja cortado, chamando tal operação de decepamento do escapo floral. Quando o escapo florar assume a mesma altura das demais folhas da planta e antes que venha a brotar do interior de um conjunto de folhas (escapo revestido por folhas novas), seria o momento ideal para efetuar o decepamento na base do escapo floral, evitando assim a perda de nutrientes (Figuras 100, 101 e 102).

Figura 100. Penetração no interior do agave maduro (pulquero) para proceder a poda do seu escapo floral.

Figura 101. Detalhes de folhas cortadas para ter acesso ao interior do agave e do escapo floral de cor amarela revestido por folhas novas de cor verde claro.


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Figura 102. Poda de folhas para acessar o seu interior e proceder a capação do escapo floral da planta do agave pulquero. Para iniciar a capação do agave, o agricultor verifica suas características antes que ocorra a emissão do pendão floral (o pendão fica revestido por folhas novas, ficando tal conjunto com aspecto ligeiramente parecido ao de uma folha delgada), alguns deles são: estreitamento do escapo floral, perda dos espinhos das folhas e a coloração escura de folhas. Assim constatado esses indícios, tem início a poda de algumas folhas para chegar ao escapo floral, entretanto, deve-se escolher o lado da planta onde haja menos folhas para que o acesso ao centro do agave se torne mais fácil. Uma vez definindo o melhor acesso ao interior da planta, o tlachiquero deve remover os espinhos das folhas no sentido do seu comprimento, inclusive o grande espinho da sua extremidade, com ajuda de uma faca de aço bem afiada, com o qual se chega sem dificuldades ao pendão foral (Figura 103). Além disso, são retiradas as folhas que dificultam o acesso e as que estão próximas ao pendão floral, como também algumas folhas que envolvem o pendão floral ou coração. Em seguida, o agave é capado com uma faca bem afiada, junto com as folhas novas que não foram arrancadas, as quais ainda estão envolvendo o próprio escapo floral.


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Figura 103. Corte dos espinhos nas bordas laterais de algumas folhas para facilitar a operação de capação do agave (eliminação na base do pendão floral). Essa operação é também chamada de capação, a qual irá provocar maior concentração de hidromel na pinha do agave. A planta sem escapo floral permanece em repouso durante vários meses, entre 6 a 8 meses, antes de iniciar a perfuração da cavidade sobre a base do pendão floral decepado (centro da roseta) para extração do hidromel. No caso de não efetuar a capação, a planta utiliza suas reservas na formação da inflorescência, pois jamais irá produzir pulque porque o talo floral absorveu todos os sucos destinados ao hidromel. E quando ocorre sua floração e deixa de produzir seiva na cavidade (não há mais fluxo de hidromel), o agave morre (HERNÁNDEZ, 1997).

Para os mexicanos, a faca especial de decepamento do escapo floral é chamada de cortar ou capar e mede cerca de 40 cm de comprimento, semicurvada com uma borda afiada em ambos os lados e também com uma ponta semiredonda afiada. Uma vez capado o agave (Figura 104), deve-se anotar a data dessa operação sobre uma folha visível e a planta é deixada para descansar por 6 meses, não antes para evitar extrair um hidromel menos doce. Em seguida, perfura-se a cavidade e a mesma é raspada durante 5 meses e se passar de 6 meses, o hidromel irá diminuir de volume. O encarregado de campo que cuida do agave pulquero, assim como da extração do hidromel é chamado em espanhol de "tlachiquero".


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Figura 104. O agave capado (sem pendão floral).

3. Perfuração da cavidade Após um período de seis a oito meses, o agave capado passa a concentrar uma maior quantidade de açúcares, então é realizada a perfuração da cavidade e esse aumento de hidromel deverá ser convenientemente manipulado. O tlachiquero (coletor de hidromel) perfura o agave de acordo com as fases da lua, sendo adequado efetuar em lua cheia ou alguns dias depois da lua cheia. Para realizar essa perfuração, o tlachiquero irá se posicionar na parte interna do agave, o qual já foi capado anteriormente (entre os 6 a 8 meses), e imediatamente risca uma cruz na folha com uma faca (essa folha interna fica situada junto ao escapo floral). Posteriormente, com uma alavanca começa a perfurar o pendão floral decepado, buscando cavar nas suas bordas e movendo-o até despedaçar as folhas e desprender a parte inferior deste (Figura 105). Ao mesmo tempo, se tritura os pedaços desprendidos e as folhas que revestem o escapo floral para utilizar na alimentação animal. O resto é removido para expor a pinha. Depois que todo pendão capado é removido, efetua-se uma limpeza da cavidade da qual brotará o hidromel. Em seguida, recomenda-se encher novamente o interior da cavidade (evitando assim sua secagem) com os fragmentos do miolo do escapo eliminados na operação de limpeza. Com isso se espera que na pinha do agave ocorra um fluxo de hidromel, ou seja, que a produção de


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seiva comece a se acumular na cavidade da pinha e este líquido vai se fermentar com outros sucos botânicos produzidos pela perfuração do agave e pelos pedaços do miolo que repousam sobre a cavidade. Durante essa etapa, o agave é deixado em repouso de três a 8 dias, algumas vezes, o repouso pode ser por mais tempo (15 dias), dependendo, como já mencionado, de cada agricultor, o desenvolvimento do agave e clima.

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Figura 105. O Tlachiquero utiliza o instrumento alavanca para perfurar a base do pendão floral decepado, formando no final uma cavidade para acumulação de hidromel.


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A cavidade resultante deve ser coberta com as mesmas folhas do agave e uma pedra (Figura 106). As épocas em que essa operação é realizada no México são no início da primavera ou no final do outono.

Figura 106. Método de “cortar” o coração (pendão floral) do agave (Agave americana) por uma incisão lateral e uma pedra usada para fechar a cavidade no coração do agave. Foto: Lucía de la Torre, Ian Cummins; Eliot Logan-Hines.


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A incipiente industrialização que a partir de meados do século XX experimentou a extração do pulque viu-se sensibilizada com a situação da tampa rustica usada na cavidade e procurou desenvolver um artefato de barro cozido com o qual a cavidade em questão poderia ser coberta de forma mais adequada (Figura 107).

Figura 107. Prato de barro cozido que poderá ser usado para tampar a cavidade e evitar a infiltração de água das chuvas. Em seguida, vem à operação "raspagem", cujo objetivo é limpar a cavidade, talhando suas paredes para que os vasos ou poros se abram e por onde o hidromel fluirá (Figura 108). Essa atividade é delicada porque, se a raspagem for executada de forma excessiva poderá entupir os poros pelos quais a seiva flui.


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Figura 108. Operação de raspagem no interior da cavidadedo agave com ajuda do raspador para fluir mais hidromel das folhas. 4. Raspagem da cavidade A operação de raspagem mantém o fluxo de hidromel, removendo a película gelatinosa que se forma nos orifícios dos vasos condutores de seivas para a cavidade e que é uma espécie de cicatrização formada depois do corte ou raspagem. Esta operação é feita com o raspador e requer alguma experiência para não raspar demasiadamente além do limite. O raspador é um instrumento de forma elíptica com uma dobra em toda a sua borda como de 12 mm. Forma, com o corpo para dentro, um ângulo agudo. É muito cortante e está provido de um cabo de madeira curta (Figuras 109 e 110).


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Figura 109. A) Detalhe do raspador na mão do Tlachiquero; e B) após processo de raspagem das paredes da cavidade, o raspador fica cheio de película gelatinosa.


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Figura 110. Os instrumentos utilizados pelo coletor (ou Tlachiquero) de hidromel são: raspador, amolador, cabaça longa, peneira fina e faca de capação. Foto: Roberto Mira Tapia, 2009.


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É importante raspar cuidadosamente, com movimentos de cima para baixo, de uma ponta à outra da cavidade e vice-versa, mas sem machucá-la e evitando deixar feridas, já que os poros quando são danificados não produzem suficiente hidromel. Depois de extrair o hidromel e raspar todas as cavidades dos agaves que estão em produção, à bebida coletada é despejada nos recipientes que contêm o pé de pulque ou o pulque que já está fermentando (misturar o hidromel com pulque fermentado). Após a extração do hidromel por meio de uma cabaça, começa de imediato a estimular a planta mediante uma raspagem na cavidade previamente aberta, cuja atividade se repetirá diariamente até a extinção total da seiva do agave, sendo o trabalho executado por um operário chamado tlachiquero (ERLWEIN et al., 2013).

Devido à raspagem diária para obter o hidromel, a cavidade é gradualmente aumentada (JUÁREZ et al., 2014). O primeiro hidromel que emana é escasso e de má qualidade, mas nos dias posteriores vai aumentando de volume e melhorando sua quantidade de açúcares, sabor e classe. O hidromel é a seiva do agave pulquero, a qual é um líquido açucarado, incolor, transparente, com certo cheiro herbáceo e sabor adocicado agradável e a sua composição nutricional é apresentada na Tabela 6.

Tabela 6. Análise nutricional do hidromel do agave pulquero (Agave salmiana). Parâmetro pH Densidade a 20 ºC Graus Brix Índice de refração a 20 ºC Açúcar Total (glu) Açúcar redutores diretos (glu) Gomas Proteínas Sólidos totais Cinzas Cálcio Fósforo Ferro Tiamina Niacina Ácido ascórbico Fonte: Hernández, 2012.

Unidades g cm3

g/100 mL g/100 mL g/100 mL g/100 mL g/100 mL g/100 mL mg/100 mL mg/100 mL mg/100 mL mg/100 mL mg/100 mL mg/100 mL

Quantidade 6,3 1,023 8,0 1,355 7,370 2,400 0,580 1,08 7,210 0,280 10 20 0,40 0,10 0,50 11,3


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5. Extração do hidromel Para obter o hidromel, a parede da cavidade é raspada para eliminar uma película gelatinosa que reveste sua superfície, a qual impede que os poros deixem de fluir a substância líquida ou hidromel para a cavidade. O instrumento usado pelo tlachiquero para efetuar tal operação é denominado de raspador, que corresponde a uma simples limpeza ou raspagem da cavidade, sendo as sujeiras recolhidas em um pequeno balde para uso na alimentação animal. Depois dessa operação, deve-se deixar passar entre 3 a 4 horas, o que irá resultar na produção da maior quantidade de hidromel. Passado esse tempo, procede-se a extração da bebida já acumulada na cavidade do agave, utilizando uma cabaça comprida (Figura 111).

Figura 111. Produtor de agave e coletor de hidromel segurando uma cabaça e um raspador. Foto: Roberto Mira Tapia, 2009.

O pulque e hidromel são bebidas muito delicadas, os quais devem ser cuidadosamente manipulados para que o segundo (hidromel) não seja estragado e para que o primeiro (pulque) não fique azedado, ou seja, fique ácido ou se torne ácido (os três estados em que pulque pode ser alterado, mas que é possível evitá-los). Uma maneira de tratar o hidromel é não permitir que o mesmo se descanse em exposição ao sol, por muito


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tempo, pois isso causa seu azedamento. Outra forma é em tempos de chuvas, pois em tal situação o hidromel deve ser extraído o mais cedo possível, principalmente para o líquido que fluiu e se acumulou durante toda a noite, desde que não tenha entrado muita água nas cavidades. Quando ocorrer essa infiltração, recomenda-se remover a água da bebida, assim evita uma diluição de suas propriedades químicas e, consequentemente, irá impedir que o hidromel fosse bem fermentado.

Pelo fato do pulque ser uma bebida muito delicada e imprevisível, é necessário observar o pé de pulque (inoculação da própria cepa) que é usado para fermentá-lo, pois se o mesmo não for de boa qualidade pode estragar a bebida. Ao mesmo tempo, devem ser retirados os recipientes, contendo o pulque em estado de fermentação, para que recebam uma aeração. Apesar de tudo, ainda com estes e outros tratamentos, o pulque corre o risco de se tornar ácido, azedo ou amargo.

Um aspecto mágico que se acredita até hoje em Concepción de Buenos Aires (Jalisco), assim como em Apan (Hidalgo), é a importância das fases da lua na capação do agave e na produção de hidromel. Quando a lua está na fase cheia e durante o seu crescente, o agave produz mais hidromel; ao contrário das fases da lua nova e lua minguante, que é quando produz menos. É importante capar o agave em lua cheia, pois, de acordo com as crenças, a planta fornecerá mais líquido.

A extração do hidromel é feita com uma ferramenta chamada de cabaça alongada produzida em zona tropical, a qual se faz uma pequena perfuração em cada extremidade, uma das quais entra em contato com o hidromel e, pela outra, faz a sucção com a boca fazendo vácuo dentro da cabaça (Figuras 112 e 113). Esse hidromel é o néctar do agave pulquero que produz a sua pinha quando a cavidade é feita raspando, após 6 meses, sobre a base do pendão floral capado. Também os tlachiquero usam garrafas de plástico ou Pet adaptadas com uma mangueira comprida na extremidade, visando substituir a utilização da cabaça (Figura 114).


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Figura 112. Utilização de cabaça longa (Lagenaria siceraria) para extrair o hidromel acumulado na cavidade feita sobre a base do pendão floral capado do agave pulquero.


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Figura 113. Hidromel acumulado no interior da cavidade feita sobre a base do pendão floral do agave pulquero, aguardando ser extraído pelo coletor ou tlachiquero por meio de uma cabaça comprida.


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Figura 114. O tlachiquero usa garrafa de plástico ou Pet adaptada com uma mangueira comprida na extremidade mais estreita ou suga o hidromel para o depósito de plástico por meio de uma mangeira conectada diretamente com a cavidade do agave.


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Esta atividade é realizada pelo coletor de hidromel (tlachiquero) duas vezes ao dia, durante o tempo em que o agave esteja produzindo hidromel (de três a quatro meses, segundo a espécie de agave pulquero e o clima). É importante que essa operação seja cumprida diariamente, uma vez que o hidromel pode se estragar caso não seja extraído. Além disso, é necessário raspar diariamente a cavidade da pinha. Deve-se tomar o cuidado para que os insetos não sejam introduzidos no hidromel, assim como que em tempos de chuva a água não venha cai na cavidade da pinha, então são colocados nessa cavidade algumas folhas partidas e uma pedra acima delas. Para raspar a pinha tem que utilizar um instrumento chamado "raspador" e fazer movimentos oscilatórios em torno da bacia e com muito cuidado, uma vez que podem danificar as paredes da cavidade, consequentemente irá afetar a produção de hidromel. Após um repouso se extrai todo conteúdo de hidromel na cavidade da pinha através do utensílio chamado cabaça alongada, sendo que a sua parte mais estreita é afundada na seiva ou hidromel e se aspira ao hidromel pela sua parte mais larga sem que o líquido chegue à boca (Figuras 115 e 116). Uma vez cheia de hidromel, põe um dedo no furo da extremidade estreita da cabaça. Em seguida, despeja o líquido, sugado e acumulado no interior da cabaça, nos recipientes usados no transporte por camioneta ou por jumento (Figura 117). Por outro lado, não se recomenda deixar na pinha nenhum resíduo de hidromel e quando obtiver total extração, novamente pode continuar a raspar a cavidade.


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Figura 115 A extremidade mais estreita da cabaça alongada é afundada na seiva ou hidromel do agave pulquero.


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Figura 116. O tlachiquero introduz a babaça longa no interior da cavidade para iniciar a sucção do hidromel pela sua parte mais larga sem que o líquido chegue a sua boca.


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Figura 117. Uma vez cheia de hidromel, sucado através da cabaça, despeja o líquido obtido nos recipientes usados no transporte por camioneta ou por jumento.


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6. Elaboração do pulque A vida de um agave depende muito das condições do solo onde a planta nasce, mas há agavais que podem durar até mais de 100 anos, mas no caso de espécies de agave ou maguey utilizadas para a produção de pulque normalmente têm uma duração de não mais que 12 anos. O pulque é uma bebida resultante do produto de um processo complexo de fermentação do hidromel e pé de pulque (semente ou inoculo é a fórmula utilizada para fermentar o hidromel obtido, durante o ciclo de produção do pulque). O produto é branco e sua consistência é de uma baba pegajosa e viscosa. Existem diferentes maneiras de fazer o pé de pulque; as pessoas que se dedicam à produção da bebida fermentada em Concepción de Buenos Aires, a maioria só o fazem com as cepas que sobraram do próprio pulque, embora também ponham um pouco de noz-moscada. Outras receitas de pé de pulque são as seguintes: - Cerveja Carta Branca, conhaque Parres Madero e noz-moscada - Piloncillo, um cravo, brandy Don Pedro, bicarbonato e planta do índio. O processo de fabricação do pulque é realizado de forma artesanal, e de maneira muito particular, em que todos os fatores, tanto humanos como naturais, têm um papel específico e indispensável. Para a produção de pulque é importante ressaltar que, se não fosse pela espécie de agave ou maguey, a obtenção da referida bebida não seria possível, uma vez que essa planta é a base para sua elaboração. O processo de fermentação do pulque é feito em tinas em um quarto de 3 m x 3 m ou em um ambiente fechado mais amplo. Essa fermentação do pulque é realizada em diferentes tinas, com capacidade de 800 a 1.500 litros, feitas com os seguintes materiais: recipiente em fibra de vidro, madeira de carvalho e recipiente de plástico, entre outros. O hidromel sugado é despejado nos recipientes destinados a fermentá-lo e já contendo a semente ou pé pulque (inoculo de pulque fermentado), a qual é uma substância feita à base da preparação de nova fórmula de inoculação ou sobras de pulque (Figura 118). A partir deste momento, começa a fermentação do hidromel para se transformar em pulque (já fermentado), o que tarda aproximadamente 24 horas. Mesmo assim, diariamente tem que estar "alimentando-o", isto é, derramando mais hidromel. A graduação do pulque varia de três a seis graus (LOYOLA MONTEMAYOR, 1956) e depende do hidromel, do desenvolvimento que teve o agave pulquero ou maguey, os


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fatores climáticos durante a capação e a perfuração da cavidade, bem como o tempo que o maguey levou para o seu amadurecido. O teor de álcool do hidromel é medido com um utensílio chamado etilômetro ou alcoolímetro.

Figura 118. O hidromel sugado é despejado e coado nos recipientes destinados a fermentá-lo e já contendo a semente ou pé pulque (inoculo de pulque fermentado).

ESTIMATIVA DE PRODUÇÃO DE HIDROMEL Tradicionalmente as plantações de agave são realizadas antes das chuvas, mas pode realmente ser implantados os campos durante todo o ano, e essas plantações são em média de mil plantas por hectare (Figura 119), e em cada planta pode ser obtida mil litros de hidromel (ou no mínimo 500 L por planta), ou seja, por hectare são obtidos um milhão de litros de hidromel. Um investimento de 50 mil pesos é requerido por hectare para começar a trabalhar, mas esses recursos são recuperados no primeiro ano, segundo Humberto Lopez Ordoñez, presidente do Sistema Produto do Agave Pulquero de Puebla, porque é uma planta que se recupera terreno, corrige a erosão, não requer água e não requer fertilização. A primeira coisa que o Agave americana (pulqueiro) produz é um perfilho a partir do primeiro ano de vida e depois pode gerar 20 rebentos ou perfilhos, os quais são comercializados para implantação de novas plantações de agave pulquero.


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Figura 119. Campos pulqueros da espĂŠcie Agave salmiana Otto.


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Resumidamente, destaca-se o manejo agrícola do agave que está dividido em três grandes etapas: a primeira, que consiste em preparar e desenvolver a plantação; a segunda, que corresponde os tratos culturais (a manutenção anual até o início da maturação), e a terceira, que compreende simultaneamente a manutenção da plantação e a colheita e póscolheita. As diferentes práticas agrícolas realizadas pelos agricultores no campo de agave pulquero ao longo do seu ciclo (8 a 12 anos) estão detalhadas na Figura 120.

Figura 120. Processo de cultivo do agave pulquero em uma plantação comercial. Fonte. Adaptado de Nieto, A. R. (2013); Reynoso-Santos, R. (2012) e Macedo, E. M. (1950).


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CAPÍTULO II

PRODUÇÃO DE PULQUE OBTIDA DE AGAVES PULQUEROS

(Autores) Vicente de Paula Queiroga Tarcísio Marcos de Souza Bonfim José da Cunha Medeiros Acácio Figuerêdo Neto Esther Maria Barros de Albuquerque


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INTRODUÇÃO Nos tempos pré-colombianos, os usos de agave ou maguey eram numerosos entre os astecas. O auto-sacrifício era praticado correndo o próprio sangue pelas agulhas da planta. O manto usado pelas pessoas comuns era feito de fibras de maguey. As folhas foram usadas para fazer papel e seu suco fermentado já foi retirado de uma bebida alcoólica, o pulque. A deusa Mayahuel, que era a personificação de maguey, era a padroeira da embriaguez. O principal processo de extração do hidromel e de fermentação do pulque permanece praticamente inalterado desde os tempos pré-hispânicos (PARSONS; DARLING, 2000; JENNINGS et al., 2005). As plantas de agave são relativamente fáceis de cultivar, uma vez que sua propagação é principalmente realizada através do transplantio de rebentos (chamados hijuelos em espanhol) de plantas adultas após um ciclo de maturação de 7 a 25 anos. No entanto, o cultivo de sementes de agave tem sido uma alternativa para a propagação de agave desde a era pré-hispânica (PARSONS; DARLING, 2000). Por outro lado, esses rebentos de agave são plantados em fileiras paralelas (PARSONS; DARLING, 2000; RAMÍREZ RANCAÑO, 2000; JÁCOME, 2003), de forma que as plantas fiquem longe de árvores altas para evitar a competição das plantas por luz, água e nutrientes do solo. A fertilização natural das plantações de agave é auto-fornecida pela reciclagem de plantas de agave naturalmente degradadas ou pela adição de cinzas de agave dispersas ao redor das plantas em crescimento. O processo mais comum para obter esta bebida consiste na seleção do agave maduro, depois as folhas externas da planta são cortadas para deixar o centro livre, o que é conhecido como capação do pendão floral, imediatamente depois é permitido ventilar para prepará-lo para a perfuração que consiste em furar a pinha central com um instrumento tipo alavanca (ou foice) para remover a parte mais dura e grossa (MACEDO ENCISO, 1950). Uma vez que essa ação é concluída, a parte exposta da cavidade é raspada com um instrumento metálico chamado raspador, o qual permite remover uma película gelatinosa que reveste sua superfície, a qual impede que os poros deixem de fluir a substância líquida ou hidromel para a cavidade. Uma vez terminada a raspagem, deixe repousar o agave para que o hidromel fique concentrado na cavidade, à qual será extraída mediante o uso de uma cabaça longa e depois colocado o hidromel sujado dentro dos


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recipientes para transportá-lo até as tinas, onde começa o processo de fermentação para a produção do pulque (MACEDO ENCISO, 1950). A Figura 121 mostra as principais áreas de produção e consumo de pulque dentro do México, procurando destacar mais os estados de Hidalgo, Tlaxcala, Puebla e México.

Figura 121. Mapas de distribuição de zonas http:hablemosdepulque.zxq.net e http://cuentameinegi.gob.mx

pulqueras.

Fontes:


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O pulque é uma bebida alcoólica tradicional mexicana, à qual é o resultado da fermentação alcoólatra de hidromel. Seu teor alcoólico é de 4,26%, cor branca, cheiro forte e viscoso (BREÑA et al., 2010). A elaboração do pulque é realizada no tinacal (conjunto de tinas), que é uma construção com paredes de madeira e um teto laminado. Nesse local o hidromel fermenta em tambores de plásticos de 200 L e preserva a semente (inoculo para fermentação) em recipiente de cristal de 20 L. O processo de fermentação começa no campo de agave, onde microrganismos nativos, como leveduras, bactérias lácticas, bactérias produtoras de etanol são encontradas. Esses microrganismos naturalmente transformam parte dos açúcares presentes no hidromel, porém o processo é acelerado pela adição de um inoculo chamado semente (uma porção do pulque de melhor qualidade anteriormente produzido). O tempo de fermentação pode durar de 12 a 48 horas a 25º C, tomando cuidado para que os recipientes não tenham qualquer substância (Detergentes, perfumes, desinfetantes, entre outros) que iniba os microrganismos mesofílicos (HERNÁNDEZ, 2012). Como mecanismo para evitar o mau gosto do pulque, recomenda-se utilizar no mínimo três espécies de agave (pequeno, médio e grande), de modo que possa ir passo a passo complementando o hidromel vindo das diferentes plantas. É importante mencionar que o hidromel deve ser adicionado duas vezes por dia para aumentar o volume e controlar a maturidade do pulque (MACEDO ENCISO, 1950). Os pequenos produtores compram a sua semente (pulque já fermentado) e usamna como acelerador da fermentação, sendo que essa semente é conservada em vidro de cristal (20 L) e 50% do hidromel é adicionado para ser fermentado. Por exemplo, se 10 L de sementes são adicionadas, 5 L de hidromel são adicionados, embora existam produtores que adicionam apenas 20% de hidromel. Essa semente é alterada a cada mês. A determinação do ponto em que o pulque está pronto para ser vendido se baseia em características organolépticas, tais como: cor, consistência, sabor e cheiro, as quais são determinadas pela experiência de cada produtor. As medidas de teor alcoólico, sólidos solúveis e pH não são realizadas (JUÁREZ et al., 2014). Para acelerar a fermentação do hidromel ao pulque, são utilizadas culturas puras das seguintes estirpes de Saccharomyces cerevisiae, Zymomonas mobilis, Lactobacillus e estirpes de Leuconosto mesenteroides (responsáveis pela fermentação viscosa), e o processo é descrito por um diagrama de fluxo (Figuras 122 e 123).


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Figura 122. Diagrama de fluxo do processo industrial do pulque. Fonte: JuĂĄrez et al. (2014).

Figura 123. Pulque evasado em garrafas de vidro.


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PRODUÇÃO TRADICIONAL OU ARTESANAL DE PULQUE A extração de hidromel e a elaboração de pulque são realizadas tradicionalmente pelo tlachiquero ou coletor de hidromel, que possui um profundo conhecimento da biologia e do cuidado das espécies de agave usadas na produção. O processo começa com a seleção de plantas maduras de 8 a 15 anos e compreende quatro etapas comuns com pequenas variações nas zonas de produção (CRIST, 1939; WILSON; PINEDA, 1963; GARCÍA-GARIBAY; LÓPEZ-MUNGUÍA, 1993; PARSONS; DARLING, 2000; JENNINGS et al., 2005): (1) castração, (2) raspagem e extração de hidromel, (3) preparação de sementes ou inoculo e (4) fermentação (Figura 124).


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Figura 124. Processo tradicional de elaboração de pulque. O processo tradicional envolve quatro etapas comuns: (A) Castração da planta madura cortando o pendão floral e fazendo a cavidade (cajete em espanhol); (B) Raspagem da cavidade para remover película gelatinosa de hidromel acumuladas em suas paredes e extração de seiva ou hidromel; (C) preparação de sementes ou inoculo; e (D) Fermentação do pulque. Foto: Agustin Lopez Munguia.


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1. Castração do agave Para essa operação, plantas maduras selecionadas são castradas destruindo o pedúnculo floral embrionário que envolve o pendão floral (quiote em espanhol). Durante esta operação, as folhas centrais da planta (coração), de onde o escapo floral se eleva, são eliminadas usando um instrumento pontiagudo e afiado, deixando uma cavidade (conhecida em espanhol como cajete) no centro da planta (JENNINGS et al., 2005). A cavidade é coberta com uma pedra grande ou com folhas de agave para protegê-la dos animais e das condições ambientais. Um período de maturação segue a castração e varia de 3 meses a 1 ano (CRIST, 1939; WILSON; PINEDA, 1963; GARCÍA-GARIBAY; LÓPEZ-MUNGUÍA, 1993; PARSONS; DARLING, 2000; JENNINGS et al., 2005). O processo de castração varia entre as regiões produtoras: na região de produção de Huitzilac (estado de Morelos), a cavidade é escavada sem eliminar as folhas centrais e o pendão floral é cortado após o processo de maturação. O momento preciso para a castração é da responsabilidade do thachiquero em evitar a emissão do escapo floral. Se a inflorescência crescer, a planta nunca produzirá hidromel. Além disso, a castração precoce resultará em um volume reduzido na produção de hidromel de baixa qualidade. Tradicionalmente, algumas dicas usadas pelo tlachiquero para selecionar as plantas maduras são a abundância de folhas, a finura do botão floral e as folhas circundantes, que também são sem espigas e adotam um tom verde mais claro (CRIST, 1939; WILSON; PINEDA, 1963; GARCÍA-GARIBAY; LÓPEZ-MUNGUÍA, 1993; PARSONS; DARLING, 2000; JENNINGS et al., 2005).

2. Raspagem e extração de hidromel O hidromel fresco é um líquido levemente turvo, grosso, muito doce, com sabor de planta fresca e seiva neutra a ligeiramente ácida. Ao raspar a parede do cajete ou cavidade, o fluxo de saída é induzido, de modo que o hidromel flui e se acumula na cavidade. Essa operação é realizada pelo tlachiquero usando uma ferramenta de raspagem (CRIST, 1939; WILSON; PINEDA, 1963; GARCÍA-GARIBAY; LÓPEZ-MUNGUÍA, 1993; PARSONS; DARLING, 2000; JENNINGS et al., 2005). A seiva acumulada é extraída duas vezes ao dia (geralmente ao amanhecer e anoitecer) por sucção oral usando uma cabaça seca (Lagenaria siceraria; Figura) conhecida como acocote em espanhol. Após cada coleta de hidromel, as paredes da cavidade são novamente raspadas para manter a indução do fluxo de seiva. O hidromel recém coletado é armazenado em recipientes de plástico e transportado para cubas específicas ou tinas, onde ocorre a


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fermentação principal (Figura 125). Uma planta madura de agave pode produzir hidromel de 3 a 6 meses até a planta morrer, dependendo da frequência do processo de raspagem. Diariamente, a planta produz 4-6 L de hidromel com uma produção média máxima de cerca de 1.000 L em seu ciclo de vida de produção (CRIST, 1939; WILSON; PINEDA, 1963; GARCÍA-GARIBAY; LÓPEZ-MUNGUÍA, 1993; PARSONS; DARLING, 2000; RAMÍREZ RANCAÑO, 2000; JENNINGS et al., 2005).

Figura 125. A espécie Lagenaria siceraria (Mol.) Standley é popularmente conhecida como porongo, purunga, purungo, porongueiro, porangueiro, cabaça, calabaça, cabaçade-trombeta etc, da família Cucurbitaceae. 3. Preparação da semente ou inoculo Essa operação refere-se à produção de material de partida (inóculo) para a fermentação de seiva recém-coletada em um novo recipiente. Para este propósito, cerca de 2 L de pulque fermentado são colocados em um barril de 20 L, (feito de argila, vidro, madeira, plástico ou fibra de vidro) e, em seguida, o hidromel fresco de alta qualidade é derramado. Uma fermentação espontânea começa à temperatura ambiente até que um sabor alcoólico e acético característico se desenvolva ou até que uma camada branca chamada zurrón - seja formada na superfície, sendo que todo o processo pode levar normalmente de 1 a 4 semanas, dependendo da estação do ano. Finalmente, o tlachiquero transfere o produto fermentado (semente ou inoculo) para uma ou mais cubas limpas,


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onde a fermentação pulqueante ocorrerá quando se adicionar um hidromel recém-colhido (CRIST,

1939;

GARCÍA-GARIBAY;

LÓPEZ-MUNGUÍA,

1993;

PARSONS;

DARLING, 2000; JENNINGS et al., 2005; ESCALANTE et al., 2012).

4. Fermentação do pulque A fermentação é feita em cubas ou tinas feitas geralmente de barris de couro de vaca, fibra de vidro, plástico ou madeira de carvalho, localizados em salas fechadas, conhecidas como tinacal ou em espaços abertos específicos (Figura 126). O hidromel recém-coletado é filtrado para separar insetos ou qualquer objeto grande e depois despejado no tanque ou tina, onde a semente foi previamente transferida. O tempo de fermentação varia fortemente dependendo da qualidade do hidromel, maturidade da semente ou inoculo, estação e região produtora, entre outros fatores. Geralmente dura de 3 a 6 horas, mas períodos noturnos ou mesmo extensos (por exemplo, 3 a 12 dias) não são incomuns (CRIST, 1939; PARSONS; DARLING, 2000; RAMÍREZ RANCAÑO, 2000; JENNINGS et al., 2005).

Figura 126. Extração do hidromel da produção de agave pulquero, transporte para o processo de fermentação no tinacal. (A) Tlachiquero que extrai recentemente hidromel com uma cabaça (Estado de Hidalgo). (B) Hidromel é transferido para um recipiente de


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plástico e transportado para o tinacal (Estado de Morelos). (C) Aspecto do hidromel recentemente coletado (Estado de Morelos). (D) Hidromel acumulado na cavidade anterior à extração é realizada por duas vezes ao dia (Estado de Hidalgo). (E) Hidromel despejando em um tanque de plástico para preparação da semente ou inoculo (Estado Hidalgo). (F) Pulque fermentado em cuba de plástico (Estado Hidalgo). (G) Pulque fermentado em cuba de couro tradicional (Estado Hidalgo). (H) Servindo pulque para consumo direto da cuba de fermentação (Estado de Tlaxcala). Observe o filamento característico associado à viscosidade do produto final. Foto: Agustin Lopez Munguia.

NORMATIVA MEXICANA DO HIDROMEL: FERMENTAÇÃO DO PULQUE A norma mexicana NMX-V-022.1972 define as propriedades sensoriais requeridas para a seiva fresca colhida ou hidromel usada para fermentação do pulque como um líquido translúcido, de cor âmbar clara, doce, sabor fresco e ligeiramente ácido, com sabor e odor característicos. Com base em suas propriedades físico-químicas, esta norma define dois tipos de hidromel. Tipo I ou hidromel de alta qualidade e tipo II, de má qualidade ou hidromel ligeiramente ácido. Quanto ao teor alcoólico, a norma mexicana NMX-V-037-1972 define o teor alcoólico do pulque. De acordo com esta norma, o pulque é uma bebida com baixo teor alcoólico, não clarificada, de cor branca, ácido e textura viscosa. A norma define dois tipos de pulque, tipo I ou pulque para semente ou inoculo (Seção Bioquímica da Fermentação) e tipo II ou pulque comercial. Os requisitos especificados para hidromel e pulque nas normas NMX-V-022.1972 e NMX-V-037-1972 são apresentados na Tabela 7 (SECRETARÍA DE ECONOMÍA, 1972a,b).


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Tabela 7. Características físico-químicas do hidromel e pulque, segundo as normas do México. CARACTERÍSTICAS

pH Densidade (ºBé) Índice de refração (imersão, 20ºC) Sólidos totais a Açúcar redutor total a (como glicose) Açúcar redutor diretoa (como glicose) Gomasa (como glicose) Proteínasa Cinzasa2 Acidez total2 (como ácido lático)

HIDROMEL Tipo I Tipo II Mínimo Máximo Abaixo de 6,6 7,6 4,5 5 7 4,5 59 100 27 13 8

17 12

7 6

2

3

3

2 300 300 0,9

6 600 430 1,03 PULQUE Tipo I

Índice

de

refração

(imersão,

REFERÊNCIAS Secretaría de Economía 1972a

0,2 100 100 4 Tipo II

Mínimo

Máximo

Mínimo

Máximo

32

35

25

ND

20ºC)

Secretaría

de

Economía 1972b

Índice de refração (Abbé, 20ºC)

1,3390

1,3406

1,3365

1,3380

pH

˃3,7

4,2

3,5

4,0

Acidez total (como ácido lático)

0,4

0,75

0,4

0,7

Açúcar redutor total

0,1

0,8

0,2

0,5

6

9

4

6

Grau alcoólico

Fonte: Agustin Lopez Munguia. mg/100 ml; ND – não definido; *Bé, Graus Baumé. a

Apesar da norma mexicana NMX-V-037-1972 ter definido as desejáveis propriedades físico-químicas do pulque a granel para consumo direto, particularmente para densidade, pH (3,5-4,2) e grau alcoólico (4-9%) (Tabela 2; SECRETARÍA DE ECONOMÍA, 1972b), durante a produção tradicional de pulque, o grau de fermentação varia de acordo com o produtor e é considerado adequado quando um álcool característico, notas acéticas e textura (viscosidade) é atingido. O pulque fermentado é retirado do tanque (tina) e consumido natural ou curado, como é conhecido quando misturado com frutas maceradas, legumes, nozes ou especiarias (PARSONS; DARLING, 2000; RAMÍREZ RANCAÑO, 2000; JENNINGS et al., 2005; LAPPE-OLIVERAS et al., 2008; ESCALANTE et al., 2012). Às vezes, particularmente quando a fermentação produz um pulque de baixa qualidade (por exemplo, com baixa viscosidade ou sabores estranhos), o tlachiquero adiciona raízes vegetais, ervas ou pedaços de agave, o qual é


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considerado uma prática conhecida como “cardón”, para melhorar o processo de fermentação (PARSONS; DARLING, 2000; JENNINGS et al., 2005).

MICROBIOLOGIA E BIOQUÍMICA DA FERMENTAÇÃO A fermentação do pulque é um processo descontínuo e sem agitação, realizado sob condições não assépticas. Os microrganismos envolvidos na fermentação são aqueles que ocorrem naturalmente durante o acúmulo de seiva na cavidade (cajete) do agave pulqueiro e aqueles incorporados durante a coleta, transporte, preparação e manipulação da semente ou inoculo (LAPPE-OLIVERAS et al., 2008; ESCALANTE et al., 2012). Estudos anteriores sobre a microbiologia do pulque realizados por Sanchéz-Marroquíne Hope em 1950 relataram a presença de LAB homo e heterofermentativo identificados como Lactobacillus sp., Leuconostoc mesenteroides e L. dextranicum, a levedura Saccharomyces cerevisiae (identificada como S. carbajali) e a α-Proteobactéria Zymomonas

mobilis

(identificada

como

Pseudomonas

lindneri)

(SÁNCHEZ-

MARROQUÍN; HOPE, 1953). Esses microorganismos desenvolvem três produtos metabólicos distintos durante a fermentação do pulque: ácido lático produzido por Lactobacillus sp. e Leuconostoc sp. que conduzem a fermentação ácida, o etanol resultante da fermentação alcoólica e sintetizado principalmente por S. cerevisiae e Z. mobilis, e os polissacáridos extracelulares (EPS), que incluem dextranos e frutanos produzidos a partir de sacarose por glicosiltransferases de Leuconostoc sp. e Z. mobilis (SÁNCHEZ-MARROQUÍN; HOPE, 1953; LAPPE-OLIVERAS et al., 2008; ESCALANTE et al., 2012). Devido a este complexo processo de fermentação, o pulque é considerado uma bebida alcoólica ácida e viscosa. Sánchez-Marroquín et al. (1957), utilizaram cepas isoladas das espécies mencionadas acima em um inóculo misto, como iniciador para uma fermentação controlada de hidromel. O grupo Sánchez-Marroquín foi capaz de obter uma bebida fermentada com características organolépticas e físico-químicas semelhantes ao produto fermentado quanto ao sabor, aroma, teor alcoólico, acidez e viscosidade, sugerindo o papel essencial desses microrganismos nas propriedades tradicionais do pulque (SÁNCHEZ-MARROQUÍN et al., 1957). Outros estudos sobre a microbiologia do pulque permitiram a identificação de uma maior diversidade bacteriana e de levedura. Essa diversidade foi classificada de acordo com as principais características metabólicas dos microrganismos como (i) bactérias


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produtoras de ácido, incluindo bactérias LAB e ácido acético (AAB); (ii) microrganismos produtores de álcool, incluindo S. cerevisiae e Z. mobilis, (iii) bactérias produtoras de dextrana (L. mesenteroides), e (iv) microrganismos putrefativos (Tabela 2). Curiosamente, os microorganismos envolvidos nos quatro processos fermentativos, relativo a fermentação do pulque, têm sido sistematicamente isolados em amostras de pulques de diferentes regiões ao redor do planalto central mexicano (ESCALANTE et al., 2004; LAPPE-OLIVERAS et al., 2008). Com relação à diversidade de leveduras encontradas no pulque, espécies Saccharomyces e não Saccharomyces foram identificadas e propostas como fermento fermentativo essencial responsável pela produção de etanol, aminoácidos, vitaminas e compostos voláteis de sabor participando das propriedades sensoriais da bebida (LAPPE-OLIVERAS et al., 2008). Além disso, diferentes leveduras e leveduras resistentes à morte foram isoladas do hidromiel e do pulque, algumas delas com uma notável tolerância ao álcool (ESTRADA-GODINA et al., 2001). A análise da diversidade bacteriana de amostras de pulque de diferentes origens geográficas (Estado de México, Hidalgo e Morelos) determinadas por bibliotecas de clones 16S rDNA foi relatada por Escalante et al. (2004). Esses autores relataram a identificação de uma diversidade ainda maior, incluindo bactérias não comentadas anteriormente. Curiosamente, este estudo permitiu concluir que a diversidade bacteriana presente entre as amostras de pulque foi dominada pela LAB, particularmente Lactobacillus acidophilus (LAB homofermentativa), correspondendo a ~ 60-85% do total de clones 16S rDNA analisados para cada amostra de pulque. Outros clones identificados como L. mesenteroides variaram de ~ 0,5 a 25% do total de clones analisados para cada amostra. A espécie Z. mobilis foi detectada em quantidades baixas apenas em duas amostras, e os clones de 16S rADN identificados como AAB Acetobacter pomorium e Gluconobacter oxydans (~ 33% dos clones detectados) foram detectados apenas numa amostra. Estes resultados permitiram definir a diversidade bacteriana comum em amostras de pulque de diferentes origens geográficas, bem como uma diversidade bacteriana específica de uma dada região (ESCALANTE et al., 2004).


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AVALIAÇÃO DAS ALTERAÇÕES NA COLONIA BACTERIANA DURANTE A FERMENTAÇÃO DO PULQUE A dinâmica da diversidade bacteriana foi estudada em laboratório com hidromiel e pulque frescos coletados de Huitzilac, Morelos por Escalante et al. (2008), usando uma abordagem polifásica, incluindo o isolamento de LAB, mesófilos aeróbicos e bibliotecas de clones de 16S rDNA a partir de DNA total extraído de hidromiel recém-coletado usado como substrato, após inoculação com pulque previamente produzido e seguido por fermentação de 6 h. O hidromiel recém-coletado continha uma contagem de 1,3 × 107 UFC/mL de bactérias aeróbias mesófilas totais (AMB), 3,2 × 109 UFC/mL de LAB total e 3,1 × 104 UFC/mL de leveduras totais. Esses resultados revelaram a presença de um importante conteúdo microbiano associado à seiva acumulada na cavidade do maguey (ESCALANTE et al., 2008). Esses autores também relataram que as contagens microbianas totais determinadas após a mistura de pulque fermentado com hidromiel recém-coletado (tempo de fermentação inicial = 0 h) resultaram em um aumento de leveduras para 8,8 × 106 UFC/ml. Após três horas de fermentação, as leveduras totais subiram para 1,4 × 107 UFC/mL e permaneceram constantes até o final da fermentação (1,9 × 107 UFC/mL). As contagens totais de ambos os grupos bacterianos no início da fermentação foram de 1,2 × 107 UFC/mL para AMB total (bactérias aeróbias mesófilas) e 1,5 × 108 UFC/mL para LAB. Ao final da fermentação, as contagens totais de ambos os grupos bacterianos permaneceram relativamente constantes, atingindo 3,5 × 107 UFC/mL e 1,5 × 108 UFC/mL, respectivamente (ESCALANTE et al., 2008). A diversidade microbiana identificada no hidromiel foi composta principalmente por LAB, incluindo L. mesenteroides, L. kimchi, L. citreum e em menor proporção Lactococcus lactis. As γ-Proteobactérias Erwinia rapontici, Enterobacter sp e Acinetobacter radioresistens foram o segundo grupo bacteriano mais abundante detectado na seiva do agave. Como as γ-Proteobactérias identificadas são microrganismos naturalmente distribuídos em diversos ambientes, como água doce, solo e superfícies vegetais, pode ser possível supor que essas bactérias sejam um contaminante incorporado à seiva durante sua acumulação na cavidade (cajete), ou durante a extração e procedimentos de manuseio (ESCALANTE et al., 2008). Embora Escalante et al. (2008) não tenha relatado a detecção de lactobacilos em hidromiel, o isolamento de Lactobacillus brevis e L. collinoides de amostras de seiva de agave coletadas de Huitzilac, estado de Morelos, foi descrito em uma publicação recente (REYES-NAYA et al., 2016).


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A adição de hidromel recém-colhido ao pulque previamente fermentado resulta em um aumento considerável na contagem de leveduras (~ 155% no total de hidromel com CFU/mL). Os microorganismos L. kimchi e A. radioresistens diminuíram, e L. mesenteroides manteve-se relativamente constante em relação a hidromel (ESCALANTE et al., 2008). Curiosamente, após a mistura do hidromel com o pulque (T0), o microorganismo mais abundante detectado foi o LAB identificado como Lactobacillus acidophilus. As γ-Proteobacteria Enterobacter agglomerans e α-Proteobacteria Z. mobilis e Acetobacter malorum também foram detectadas, mas em baixas proporções em T0. Alterações físico-químicas importantes foram observadas em T0. Após mistura de hidromel fresco e pulque fermentado, o pH diminuiu de 6,0 para 4,5 na mistura. Os açúcares totais em hidromel diminuíram 53,9% e o carbono total em produtos fermentados detectados em T0 (principalmente como etanol) aumentou 942,5% quando comparado a hidromel (ESCALANTE et al., 2008; Figura 127).

Figura 127. Alterações microbianas, metabólicas e físico-químicas durante a fermentação pulque. Propostas de alterações microbianas, físico-químicas e metabólicas durante a fermentação pulque conforme descrito por Escalante et al. (2008). (A) contagem total de UFC/mL para leveduras; (B) Aeróbios totais mesofílicos (TMA); (C) LAB


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determinado durante 6 h de fermentação em laboratório; (D) Consumo de açúcar expresso em equivalente mM hexose; (E) produtos de fermentação (etanol, ácido láctico e ácido acético) expressos em mM C; (F) Diversidade cultivável (% de quatro isolados mais abundantes); (G) Diversidade independente da cultura (% de quatro clones 16S rDNA mais abundantes); (H) Micrografia eletrônica de varredura correspondente à fermentação de pulque após 6 h mostrando algumas cadeias curtas de levedura e de cocci (T6) (fotografia não publicada anteriormente); (I) Hidromel acumulado na cavidade do agave; (J) pulque fermentado. AM, Hidromel, T0, T3 e T6, correspondente ao início da fermentação, 3 e 6 h de cultivo, respectivamente. Ama, Acetobacter malorum; Ara, Acinetobacter radioresistens; Eag, Enterobacter aglomerans; Erh, Erwinia rhapontici; Ent, Enterobacter sp.; Kas, Kluyvera ascorbata; Lbh, Lactobacillus sp. Homofermentativo; Lbs Lactobacillus sp.; Lac, L. acidophilus; Lla, Lactococcus lactis; Lme, Leuconostoc mesenteroides; Lci, L. citreum; Lki, L. kimchi; Sce, Saccharomyces cerevisiae; Zmo, Zymomonas mobilis; Uba, clone bacteriano não cultivado (ESCALANTE et al., 2008).

A diversidade microbiana presente em T0 inclui microorganismos em hidromel e aqueles provenientes de pulque fermentado, resultando em uma diversidade microbiana composta por LAB homo e heterofermentativo, LAB produção de EPS, AAB, AMB, Z. mobilis e leveduras. Após 3 h de fermentação, diversas mudanças na diversidade microbiana ocorreram apesar do relativamente constante UFC/ml total observado para LAB e AMB total. As baterias L. acidophilus, L. mesenteroides e E. agglomerans foram as mais abundantes; algumas outras (LAB e Proteobacteria) diminuíram ou desapareceram, enquanto a levedura aumentou 102,9%. Também após 3 h, os açúcares totais medidos em T0 diminuíram 56% e o total de carbono em produtos fermentados (principalmente etanol) aumentou 120,7%. Finalmente, após 6 h de fermentação, a diversidade microbiana final foi composta principalmente pelo L. acidophilus homofermentativo, L. Mesenteroides, L. lactis subspécie lactis e a-Proteobacteria A. malorum. Como consequência da atividade microbiana, após 6 h de fermentação, o pH final diminuiu ainda mais para 4,3, enquanto foram consumidos 63,3% do total de açúcares presentes após a inoculação. Os produtos fermentativos finais corresponderam a 939,5 mM C como etanol, 106,2 mM C como ácido acético e 108 mM como ácido láctico (Figura 127; ESCALANTE et al., 2008).


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BIOQUÍMICA DA FERMENTAÇÃO Conforme já descrito anteriormente, os estudos microbiológicos de hidromel e pulque revelaram a presença de uma complexa diversidade bacteriana e de levedura. As propriedades sensoriais finais do pulque são definidas pelo desenvolvimento simultâneo dos quatro tipos de fermentação do pulque, os quais dependem dos microrganismos mais abundantes que estão presentes no próprio pulque e, também, dependem de sua origem geográfica: I. Uma fermentação ácida realizada principalmente por LAB homo e heterofermentativo, como Lactobacillus e Leuconostoc (SÁNCHEZ-MARROQUÍN; HOPE, 1953; SÁNCHEZ-MARROQUÍN et al., 1957; ESCALANTE et al., 2004, 2008; LAPPE-OLIVERAS et al., 2008), espécies envolvendo o catabolismo da glicose disponível para piruvato pela via Embden-Meyerhoff e sua posterior conversão em ácido lático e outros produtos metabólicos tais como: ácido acético, CO2 e etanol (CARR et al., 2002). II. Fermentação alcoólica realizada principalmente pela levedura S. cerevisiae e em menor grau pela α-Proteobacteria Z. mobilis a partir de sacarose, glicose e frutose em: A Z. mobilis converte eficientemente açúcares fermentáveis em etanol e CO2 pela via Entner-Doudoroff (LAU et al., 2010; XIONG HE et al., 2014). III. A síntese de EPS realizada por espécies de Leuconostoc, incluindo L. mesenteroides e L. kimchi, resultando na produção de exopolissacarídeos de dextrana e frutanos a partir da sacarose por enzimas como a glucosil- e frutosil-transferases, respectivamente (CHELLAPANDIAN et al., 1998; TORRES-RODRÍGUEZ et al., 2014). A Z. mobilis também é produtora de levanas (XIONG HE et al., 2014). IV. Uma fermentação de ácido acético realizada provavelmente por AAB, tais como as espécies de Acetobacter e Gluconobacter (ESCALANTE et al., 2004, 2008). AAB produz ácido acético como o principal produto através da oxidação de açúcares, álcoois de açúcar e etanol pela atividade sequencial de álcool desidrogenase e aldeído desidrogenase localizada na membrana externa. Gluconobacter oxydans cataboliza preferencialmente açúcares e Acetobacter sp. em menor proporção. Além disso, essas bactérias produzem ácido glucônico e oxidam vários ácidos orgânicos, incluindo ácido lático a CO2 e água (RASPOR; GORANOVIČ, 2008). Por outro lado, o papel específico de diversos microrganismos, particularmente aqueles identificados como dominantes na fermentação de hidromel e pulque na produção


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de aminoácidos essenciais, vitaminas e uma variedade de compostos voláteis aromatizados, continua sendo um assunto de pesquisa.

CONTEÚDO NUTRICIONAL DO HIDROMEL E POSSÍVEIS PROPRIEDADES FUNCIONAIS No tocante ao hidromel, a seiva coletada de A. salmiana 'Gentry' contém baixas quantidades de fibra bruta (0,57%), proteína bruta (0,69%) e alto teor de extrato livre de nitrogênio (98,1%, que corresponde a carboidratos de alta digestibilidade). A análise do conteúdo mineral mostrou (em mg/L de hidromel) 100 de N, 200 de Ca, 200 de P, 200 de Mg, 21,5 de Fe, 14,1 de Zn, 7,4 de Cu e 19,9 de B. O consumo de 850 mL de hidromel satisfazem as necessidades humanas diárias de Fe e Zn, de acordo com as Dietas Recomendadas ou Ingestão Adequada (SILOS-ESPINO et al., 2007). A seiva coletada de Agave mapisaga 'Blanco' contém (% em peso de matéria seca) 11,5% composta principalmente de 75% de açúcares (sacarose, frutose, glicose e frutooligossacarídeos), 0,3% de aminoácidos livres (aminoácidos essenciais, exceto metionina), 3% de proteínas e 3% de cinzas. Além do aminoácido essencial, foram identificados 26 mg/L de hidromel do ácido γ-aminobutírico (GABA) (ORTIZBASURTO et al., 2008). Estes autores determinaram que a composição de hidromel poderia permanecer relativamente estável durante todo o período de produção (5 meses), sugerindo que a seiva produzida por A. mapisaga poderia ser um substrato estável para processos padronizados de produção de pulque. As plantas de agave possuem frutanos ramificados (graminan) e neoseries graminan com dois ramos. Um ramo é ligado ao resíduo frutosilo, enquanto o outro está ligado à unidade glicosil da molécula de sacarose. Esses frutanos foram designados como agavinas, que são inulinas com uma mistura complexa de estruturas e diferentes graus de polimerização (DP) (VELÁZQUEZ-MARTÍNEZ et al., 2014). Devido ao alto teor de frutanos e frutooligossacarídeos (FOS), os extratos de agave, assim como a seiva (consumida diretamente ou concentrada) de diferentes espécies, têm sido considerados como uma fonte alternativa para os xaropes prebióticos FOS. Esse tipo de aditivo alimentar recebeu maior atenção devido ao seu baixo índice glicêmico e seus efeitos benéficos à saúde, como melhorar a absorção de cálcio em mulheres na pós-menopausa, absorção de ferro e prevenção do câncer de cólon (GARCÍA-AGUIRRE et al., 2009; SANTOS -ZEA et al., 2016). O hidromel da A. mapisaga “Blanco” contém frutanos do tipo inulina (10,2% em peso na matéria seca) e glucoligossacarídeos. Os


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frutooligossacarídeos identificados até o momento são altamente ramificados, contendo unidades β-fructosil ligadas principalmente por ligações β1 → 2, mas também β2 → 6 (ORTIZ-BASURTO et al., 2008). Os diferentes extratos de agave “Haw” de A. angustifolia têm frutanos de alto peso molecular e ramificados com a mesma estrutura em relação a ligações de frutanos, mas DP diferentes: alta (unidades de frutose 3-60), média (2–40) e baixa (2–22) (VELÁZQUEZ-MARTÍNEZ et al., 2014). Os frutooligossacarídeos do agave têm uma função prebiótica demonstrada. Com efeito, vários relatórios demonstraram os efeitos promotores de crescimento in vitro de diversos lactobacilos e bifidobactérias e cepas probióticas bem conhecidas, incluindo L. acidophilus, B. lactis, B. infantis, B. animals e B. adolescentis, alguns deles considerados como predominante na microbiota intestinal humana (TRIPATHI; GIRI, 2014; VELÁZQUEZ-MARTÍNEZ et al., 2014; CASTRO-ZAVALA et al., 2015). Como discutido acima, hidromel e pulque possuem diversas características nutricionais bem documentadas; a principal desvantagem do pulque continua sendo seu conteúdo alcoólico, que limita e restringe sua promoção e consumo (NARRO-ROBLES; GUTIÉRREZ-AVILA, 1997; BACKSTRAND et al., 2001, 2004).


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