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A RAÇA SINDI Há muita divergência quando à grafia do nome desta importante raça zebuína. Wallace, em seu clássico trabalho de 1888, usa o termo Sindi para designar a raça Vermelho do gado Lover Sindi, ao passo que o capitão R. W. Little-Wood escreveu em seu livro de uma forma um pouco mais complicada: Scindh. Os autores modernos de língua inglesa chamam a raça de Red Sindhi, expressão que veio a ser adotada pelos zootecnistas da F.A.O., Ralph Phillips e N. R. Joshi. No Brasil está se vulgarizando a denominação Red Sindhi, o que não nos parece muito acertado. A raça vem-se adaptando perfeitamente em nosso país, como aconteceu com as demais variedades indianas; podemos mesmo falar em naturalização desse gado, motivo pelo qual deve-se igualmente nacionalizar o seu nome, adotando a forma mais simples Sindi, e abandonando o adjetivo “vermelho”, perfeitamente dispensável.
CLASSIFICAÇÃO De acordo com os estudos de Olver, Ware, e Phillips, revistos e completados por Joshi, e Phillips, a raça Sindi está enquadrada no Grupo III ou terceiro tipo básico de gado indiano. Dentro desse tipo a raça Gir constitui grupamento importante pela sua pureza e antiguidade, tendo exercido considerável influência sobre as demais. O gado do Grupo III é de constituição pesada, retaco, com barbela ampla e umbigo pendente, fronte acentuadamente convexa, chifres e inserção lateral ou saindo para trás, e encurvados. A pelagem predominante é a vermelha e suas variantes, amarela ou parda, sendo freqüentemente os animais malhados ou pintados. O gado Sindi, embora represente um tronco puro, assemelha-se ao Gir do oeste da Índia, ao Sahiwal do Pundjab e ao gado vermelho do Afeganistão. Devido aos deslocamentos das tribus nômades de criadores, sofreram em algumas regiões cruzamentos com o Gir. ORIGEM A raça Sindi é originaria da região chamada de Kohistan, na parte norte da província de Sind, no atual Paquistão. A maioria dos autores incide em um erro quando diz ter a raça sua origem da zona de Karachi e Hyderabad. Nessas áreas e na margem esquerda do rio Hindus é encontrado grande número de animais em alta produção de leite, o que tornou a raça conhecida e apreciada, mas esses exemplares são importados dos distritos do Kohistan. A variedade Las Belas, talvez a mais pura linhagem da raça, é encontrada no estado do mesmo nome, no Beluchistão, sendo muito semelhante ao gado vermelho do Afeganistão do qual, na opinião de Olver, deriva o Sindi. Devido, porem, a extensão territorial do rebanho Sindi, pode-se observar uma certa variedade de tipos, fora da sua zona de origem, e, por essa razão,quando se trata da escolha de reprodutores puros, há tendência de ir busca-los em Las Belas. Notam-se, também, muitos pontos de semelhança com o gado Sahiwal, cujas raízes estão igualmente no gado vermelho do tipo de montanha, da fronteira norte da Índia.
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ÁREA GEOGRAFICA A região do Sind começa sob o tropico de Câncer e está compreendida entre 24° e 30° de latitude norte e 65° a 70º de longitude este de Greenwich. É plana e baixa no sul, mas montanhosa no norte e a oeste, com altitudes de 900 a 1.300 metros. A zona de Kohistan se estende por grandes vales situados entre cordilheiras que se prolongam em direção norte-sul. O solo varia, predominando os pedregosos e os arenosos. As culturas dependem dos mananciais das montanhas. Estas estão geralmente desprovidas de vegetação e sua composição é em grande parte de pedra calcárea. As partes dos vales não cultivadas estão cobertas de plantas herbáceas e arbustivas. CLIMA O clima da região do Sindi apresenta-se semi-árido, pois as precipitações anuais variam de 250 a 300 milímetros, sendo as chuvas mais freqüentes entre julho e outubro e raras no inverno. A temperatura diurna não varia muito na maior parte do território, e no inverno apresenta a média de 17° a 20º C; de maio a julho varia de 31° a 33° C; máxima absoluta, 46-48°C e mínima absoluta, 1,6° e 4,5°C. Os ventos sopram geralmente do sudoeste durante os meses de abril e setembro, com uma velocidade de 43 a 54 quilômetros por hora. Nos demais meses, predominam os ventos do norte, os quais sopram com uma velocidade de 8 a 16 km/h. VEGETAÇÃO As culturas estão na dependência do solo e das facilidades de irrigação, sendo as principais o arroz, sorgo, leguminosas, trevos, trigo, linho e algodão. A palha e os talos destas plantas constituem a maior parte da alimentação do gado. Não há prados ou pastagens artificiais, mas se acham cobertas de pastos às terras não adequadas ao cultivo ou em que abundam árvores. Nas margens dos cursos d’água há bosques formados por algumas espécies de árvores utilizadas para lenha. Devido à escassez de chuvas e ao fato destas se concentrarem em três meses, é curto o período de crescimento das forrageiras, encontradas em pequena quantidade e unicamente de agosto a outubro. As espécies de gramíneas mais comuns são Eleusine flagellifera, Cynodon dactylon e Paspalum sanguinale. Há outras variedades de gramíneas que se tornam rapidamente duras, ásperas e lenhosas; costuma-se segar o excedente de forragens, mas elas não resultam apetecíveis nem nutritivas. PRATICAS CRIATÓRIAS A maior parte dos criadores são nômades pertencentes à tribo dos Malders, que conduzem o gado de um lugar para outro em busca de pasto. Na zona do Kohistan o gado é mantido exclusivamente em regime de pastoreio, em campos naturais ou capoeiras. Permanece, pois, a campo, sem qualquer abrigo contra as intempéries e inclemência do clima. Nas aldeias os lavradores mantêm o gado em pastos e com subprodutos e restos de colheitas. Recentemente, os grandes proprietários de terra, interessados na criação de gado, começam a cultivar espécies forrageiras, como trevo egípcio, aveia, milho, sorgo, alfafa e feijões. São muitos os criadores que se tem estabelecido em Karachi, Hyderabad e arredores de outros grandes centros, devido à grande demanda de leite e vacas para o
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abastecimento das populações urbanas. Como as forragens são escassas, os criadores recorrem, em grande parte, aos concentrados, especialmente para as vacas em lactação. Figuram entre esses alimentos as tortas oleaginosas, cereais ou leguminosas triturados, vagens de leguminosas, farelo de trigo e favas trituradas, que são postas em maceração varias horas antes de serem administradas ao gado. A ordenha é feita duas vezes ao dia, ocasião em que são distribuídos os alimentos. Embora as vacas sejam muito dóceis e fáceis de serem ordenhadas sem a cria, não se faz a desmama precoce. Os proprietários do gado são muito cuidadosos na escolha de seus touros e raramente se desfazem dos realmente bons. Os bezerros machos das vacas de baixa produção são castrados quando atingem dois anos e remetidos para pastos afastados; muitas vezes são vendidos como bois de trabalho ou até para açougueiros. EXPANSÃO Atualmente a raça Sindi esta bastante disseminada no Paquistão e em algumas regiões da Índia; vacas leiteiras têm sido levadas para as cidades da costa ocidental ou de Malabar, especialmente Bombaim, e até para outros Estados, como é o caso de Misore, cujo gado não satisfez, quanto à produção de leite. O rebanho da Fazenda Experimental de Hosur, na região de Madras é antigo e sua seleção vem se desenvolvendo satisfatoriamente. Outro plantel conhecido é o do Instituto de Agricultura de Allahabad, nas margens do Ganges. Ao norte do Pundjab, na Fazenda Experimental de Karnal, na planície do Jumna, encontra-se um bom rebanho leiteiro, alem de zebuínos das raças Tharparkar e Hariana. Reprodutores da raça vermelha têm sido exportados para Ceilão, Filipinas, Formosa, Indochina, Malaca, Birmânia, colônias inglesas da África e até para os Estados Unidos e Jamaica, onde se processam trabalhos de cruzamento desta raça com o gado Jersey. Calcula-se a existência de cerca de 250 mil cabeças, rebanho relativamente grande, se considerarmos que o número de reprodutores zebuínos registrados no Brasil, computadas todas as raças, é de umas 100 mil cabeças. Gado Sindi, mas sem dados quanto à origem, é comum nos mercados de Thano Bulakar, Mirpursakro, Tatta, Kotri, Karachi e Hyderabad e nos arredores dessas cidades paquistanesas. Reprodutores selecionados, com genealogia conhecida e controle da produção, encontram-se nas seguintes estações experimentais: Fazenda de Seleção de Gado Sindi, em Malir, pertencente ao Governo Federal do Paquistão; Fazenda de Seleção de Gado Sindi, em Mirpurkas, dependência do Governo do Estado do Sind, Paquistão; Fazenda Experimental de Criação de Hosur, distrito de Salem, no Estado de Andra, índia. Fazenda Experimental de Hissar, distrito de Delhi, no Pundjab, Índia. Dentre as criações particulares, destacam-se a Fazenda Patal e a Fazenda Sitari, ambas em Karachi, com rebanhos objeto de trabalhos seletivos. O SINDI NO BRASIL
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Nas regiões Norte e Oeste da Índia, de onde nos veio a maioria do gado importado e principalmente o Gir, existe também algum gado Sindi, do qual nos chegaram em diferentes ocasiões alguns exemplares, fato devidamente registrado em nossas crônicas. Acredita-se ter sido provavelmente Sindi o reprodutor recebido na Bahia, em 1850, pelo Visconde de Paraguaçu; Na falta de fêmeas do mesmo tipo, que garantissem a perpetuação da raça, é evidente que seu sangue tenha se diluído na vacada crioula. Pouco depois, provavelmente entre 1854 e 1856, de conformidade com a carta que JOAQUIM CARLOS TRAVASSOS dirigiu em 1906 ao Jornal dos Agricultores, entraram na Serra - Abaixo, expressão então usada para designar a Baixada fluminense, casais da variedade Sindi. O ilustre zootecnista descreve como sendo animais de pequeno porte, não excedendo 1 metro e 30 no cupim, porém reforçados, especialmente as vacas, “produtoras de excelente e abundante leite”. TEÓFILO DE GODOY em 1903 ficou conhecendo e soube apreciar esta raça, tanto que 3 anos mais tarde estava disposto a importá-la, juntamente com a Nelore, a Guzerá e a Hissar, conforme anúncios de sua viagem. Dentre os animais importados, por Francisco Ravísio Lemos e Manoel de Oliveira Prata, em 1930, foram identificados mais de um reprodutor Sindi e várias fêmeas. O gado Sindi, da mesma forma que os Dangi e Deoni, todos pertencentes ao mesmo tipo básico indiano, deve ter sido no passado confundido com os representantes da raça Gir, motivo pelo qual não tardou a desaparecer, absorvido pela população mais numerosa. Vinte e dois anos depois dos Sindi de Lemos e Prata, chegaram os animais para o Instituto Agronômico do Norte. Os que tiveram oportunidade de vê-los, em Belterra ou na Água Branca, compreendem perfeitamente a razão pela quais os primeiros Sindi desapareceram, confundidos e misturados com os mestiços da raça Kathiawar. O PLANTEL DE BELTERRA Em meados de 1952, a opinião pública e principalmente os círculos pecuaristas, foram surpreendidos pela notícia de que era iminente uma nova importação de gado Zebu, diretamente da Índia. Eram decorridos mais de 22 anos sem que o Brasil recebesse daquele país asiático um único reprodutor, encerrado que estava o ciclo das importações, como conseqüência da peste bovina em São Paulo, no ano de 1921. Já relatamos que, proibidas as importações, somente em 1930 Manoel Prata e Ravísio Lemos conseguiram licença, em caráter excepcional, para a introdução de quase duas centenas de Zebuínos. Diversas circunstâncias concorreram para que cessassem, definitivamente, as compras no Oriente e para que nossos criadores e negociantes não mais se sentissem animados a ir buscar o boi de cupim. O adiantamento da criação de Zebu, resultado de muitos decênios de trabalhos de melhoramento, que deram ao nosso gado características próprias, além de outras imprimidas pelas condições do meio, desaconselhavam novas introduções de reprodutores indianos das raças que vínhamos criando. Ainda mais, medidas de ordem sanitária, entre elas a lei N°. 4.398, impediam qualquer iniciativa nesse sentido.
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Periodicamente, em reuniões de criadores e nos meios técnicos aventa-se a questão da importação, principalmente das variedades tidas como leiteiras. Essa medida, entretanto, encontrava a mais viva oposição dos zebuístas, atitude ditada mais pelo receio de concorrência do que pela possibilidade de introdução de moléstias endêmicas nas Índias e desconhecidas em nosso meio. Esqueciam-se, ou não queriam reconhecer que este risco poderia ser anulado com os recursos que a medicina veterinária põe à disposição dos serviços técnicos de defesa sanitária animal. As exposições de gado da Índia, a criação dos herd-books e a organização dos serviços de registro de controle leiteiro para diversas raças, além do trabalho das estações experimentais indianas, começavam a revelar as possibilidades do Bos Indicus na produção de leite, despertando a atenção dos estudiosos, principalmente os das regiões em que o clima impõe limitações à exploração de bovinos das raças européias aperfeiçoadas. Há alguns anos atrás, o Departamento da Produção Animal de São Paulo, efetuou demarches junto ao Ministério da Agricultura, visando obter licença para importar Zebu leiteiro, não sendo bem sucedido, porquanto encontrou oposição ao projeto. PLANOS PARA A AMAZÔNIA O Agrônomo Felisberto de Camargo, quando diretor do Instituto Agronômico do Norte, situado no Pará, vinha procurando solucionar a questão da produção de carne e leite para as populações da Amazônia; o clima da região, excessivamente quente e úmido, impossibilitava a expansão dos bovinos europeus das raças aperfeiçoadas. Técnico capaz verificou que somente poderia resolver o problema da carne com base nos tipos bovinos que a natureza proporciona às regiões tropicais. Deu início então à formação de grandes rebanhos de gado indiano, especialmente da raça Nelore, e de búfalos oriundos da ilha de Marajó. Se com essas medidas tornava-se possível resolver o problema da carne, persistiam as dificuldades para a obtenção de leite abundante e a baixo custo. Em 18 de maio de 1948 o Diretor do Instituto Agronômico apresentou à comissão executiva do Instituto Internacional da Hiléia Amazônica um trabalho intitulado “Sugestões para o Soerguimento Econômico do Vale Amazônico”, O plano, na parte referente à pecuária poderia ser resumido em dois itens. 1 — Importação e introdução na Amazônia de raças Zebuínas leiteiras, cuidando-se de sua seleção e melhoramento, mediante a organização de serviço de controle leiteiro. Projetou-se também a formação de novas raças para a região equatorial, cruzando-Se reprodutores das raças Zebuínas com vacas Jersey puras. 2 — Importação de búfalos leiteiros das raças Murrah, Ravi ou Nii, para cruzamento com o búfalo amazônico. Esta medida não chegou a ser efetivada. A IMPORTAÇÃO DE 1952
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O programa de trabalho teve a aprovação do Ministro Daniel de Carvalho e as medidas preliminares se processaram pelo espaço de quase quatro anos. Inicialmente cuidou-se de obter a aprovação das autoridades sanitárias, que estabeleceram recomendações rigorosas, visando evitar a introdução de moléstias inexistentes na América, principalmente a rinder-pest. O Diretor da Defesa Sanitária Animal, consultado, estabeleceu normas para a quarentena que deveria ser feita em Belterra, na Fordlândia tendo o Instituto Agronômico se apressado a cumprir as determinações, no tocante à construção do lazareto quarentenário que ficou pronto a tempo de receber o lote importado. Cumpridas as formalidades, satisfeitas todas as exigências da burocracia, tomadas as providências que se impunham para a compra do gado, Dr. Felisberto de Camargo seguiu para o Paquistão. Durante meses percorreram as zonas de criação, especialmente aquelas em que predominam o gado Sindi, o Sahiwal e o Tharparkar, estudando esses tipos Zebuínos, comparando os rebanhos e analisando os registros de produção. É interessante conhecer as razões pelas qual o diretor do I.A.N. deu preferência à Sindi, em vez da Sahiwal ou da Tharparkar, raças que gozam de fama como produtoras de leite. Para isso, julgamos conveniente transcrever sua própria informação: “Entre as raças bovinas asiáticas, a Sindi foi escolhida por ser a mais pura de todas as raças existentes no Oriente. Representa a última palavra, a raça mais fina, a casta mais nobre de todas as castas de gado introduzidas e disseminadas através do Paquistão e da Índia, pelos primeiros criadores de gado que a história revela. A raça Sindi e a Guzerá são, aliás, as duas raças introduzidas pelos arianos no vale do rio Híndus, três mil anos antes de Cristo, conforme se pode verificar examinando os selos encontrados nas ruínas da cidade de Mohenjo-Daro, três vezes soterrada. O Guzerá de chifres alirados foi o tipo que se tornou sagrado em toda a Índia. O Sindi é um gado de chifres pequenos. Fruto de milhares de anos, fruto do trabalho de uma das mais velhas civilizações do mundo. a raça Zebu leiteira mais nobre entre todas as raças bovinas leiteiras que se criaram nas terras da Ásia, através de cinco mil anos. O Sindi, ou gado vermelho do Sind, é o gado nacional do Paquistão, conservado em estado de relativa pureza, graças à situação de isolamento criada pelos desertos que rodeiam o centro de criação desse rebanho. Com referência às raças Sahiwal e Tharparkar, tenho a dizer que a primeira não é raça pura e que a segunda é ótima. Tharparkar é sinônimo de “gado branco do Sindi”, região que percorri durante 90 dias. É um excelente gado extraordinariamente rústico, criado em condições de uma pobreza incrível de pastagens. Tharparkar é um Guzerá de chifres pequenos”. Enquanto o Dr. Camargo mantinha contatos com as autoridades federais do Paquistão e do Estado do Sind, buscando de todas as formas facilidades para o melhor desempenho de sua missão, ocorreram modificações nos altos postos do Ministério da Agricultura, o que se refletiu na sua atitude quanto à importação. Decidiu-se sustar a aquisição de gado indiano e o diretor do Departamento Nacional da Produção Animal expediu, em data de 12 de setembro de 1952, um telegrama ao técnico do I.A.N. nos seguintes termos:
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“Autorizado pelo Ministério comunico-vos que opinei contrariamente à importação de reprodutores asiáticos”. Outro, de 1 de Outubro, enviado pelo chefe do gabinete do Ministério da Agricultura, dizia: “De ordem do Ministério comunico não deveis adquirir e embarcar qualquer gado”. E, finalmente, o terceiro telegrama, agora assinado pelo próprio ministro João Cleofas, enviado dia 18, esclarecia: “Tendo em vista parecer do Departamento Nacional de Produção Animal, contrário à aquisição de reprodutores asiáticos, determino suspensão da compra de animais dessa origem. O crédito disponível será transferido para a importação de reprodutores europeus, de acordo com plano que foi traçado para a Amazônia”. Como disse Felisberto de Camargo, “em conseqüência do receio de uns, da falta de compreensão de outros e da fraqueza de terceiros, nem mesmo o transporte de animais já adquiridos e pagos me era permitido realizar”. Era o resultado de uma intensa luta de bastidores, estimulada pelos interessados na não importação de gado Zebu e apoiada pelos inimigos do boi de cupim. Todo o esforço, todo o trabalho para importação do plantel Sindi destinado à Amazônia devia ser sacrificado. Mas, naquela ocasião não havia mais possibilidade de se suspender a importação sem a perda total da verba destinada a esse fim, uma vez que todas as despesas estavam pagas adiantadamente, sem prejuízo para o conceito que as autoridades do Paquistão faziam com relação ao nosso governo. No auge da campanha contra a importação, foi sustada a terceira remessa de numerário para atender às despesas de compra e transporte de animais. Felizmente, esses incidentes haviam sido previstos; ao passar por Londres, a caminho do Oriente, Camargo contratou o avião para duas viagens, em vez de três, e computou em moeda brasileira o pagamento da gasolina em Natal, nas viagens de regresso, determinando a ida de um emissário de Belém para aquela cidade, a fim de proceder a esse pagamento. Como vemos somente a extraordinária pertinácia do técnico federal evitou o malogro da importação da notável raça indiana, pois, a despeito das ordens em contrário, cuidou de completar as negociações, efetivou as compras e providenciou o transporte para o Brasil. O Ministério da Agricultura teve que aceitar o fato consumado e tratou de encontrar uma fórmula conciliatória. Assim, os animais seriam desembarcados não em Belterra, como estava previsto, mas na ilha de Fernando de Noronha, preparada às pressas, onde ficariam de quarentena por quinze meses, sob a responsabilidade do Departamento Nacional da Produção Animal. Três anos mais tarde, em 1955, o ministro Costa Porto baixou portaria fazendo citação especial ao autor do empreendiment destacando na pessoa do antigo diretor do Instituto Agronômico do Norte “O elevado sentimento patriótico a grande dedicação e o alto amor à causa pública demonstrado no desempenho da missão que lhe foi confiada pelo governo brasileiro”. Assinalou o “Sadio desprendimento e a elevação de espírito com que arrostou sacrifícios materiais e pessoais e com que suportou até mesmo injúrias morais para que não fracassasse sua missão e seu ideal”. OS ANIMAIS ADQUIRIDOS
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O plantel de gado Sindi adquirido no Paquistão compunha-se de 31 cabeças, entre machos e fêmeas. Um lote de seis animais — três casais — foi obtido em dois estabelecimentos oficiais, a saber: Fazenda de Seleção de Gado Sindi (Central Governmeflt Red Sindhi Cattle Breeding Farm), em Malir, pertencente ao Governo Federal e na Fazenda de Seleção de Gado Sindi (Governmeflt of Sind Red Sindhi Farm), repartição do Estado do Sindi, localizada em Mirpurkas. Os restantes, em número de 25 exemplares, são produtos de criações particulares da Patel Farm e da Sitari Farm. São todos animais de perfeita caracterização os touros pertencem às melhores linhagens leiteiras daquele país. A eles foram dados em Fernando de Noronha, para efeito de identificação, os prefixos RS.1, RS.2 e RS.3 e os nomes Abu-Khafl, Gengis-KhaIl e Nur-Khan, respectivamente. As fêmeas receberam igualmente os prefixos RS e o número de ordem correspondente eram 10 vacas e 15 novilhas. Felisberto de Camargo resolveu adquirir às suas expensas e com parte dos dólares que recebeu como bolsa concedida pela Fundação Rockefeller para realização dessa viagem, três novilhas recém da Paak Livestock Agency, para oferecê-las à Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiróz”, de Piracicaba, onde se formou, ficando desse modo completada a carga do avião na segunda viagem. Informou-nos o importador que a aquisição desse gado que, se for convenientemente aproveitado, poderá ter marcado influencia em nossa pecuária zebuína, custou soma relativamente modesta: Cr$ 1.641.336,00 que devem ser acrescidos de mais Cr$ 120.000,00 de seus recursos pessoais. Nessas condições, verifica-se que o preço médio dos Sindi foi de menos de 60 mil cruzeiros, por cabeça, valor bastante modesto se comparado dos negócios correntes de reprodutores Zebus puros. A VIAGEM Antigamente era no bojo das caravelas que nos vinham alguns reprodutores Zebus; mais tarde, após muitas semanas de viagem, dando voltas pelo Mediterrâneo ou singrando a imensidão do Pacífico, chegavam lerdos cargueiros com levas e mais levas do boi sagrado dos indianos. Mas desta vez, acompanhando a tendência da época, os Sindi vieram por via aérea. O transporte foi feito pela Eagle Aviation Lted, companhia inglesa com sede em Londres; o avião escalou em Aden, no golfo pérsico, em Khartoum, no Sudão, em Kano, na Nigéria, em Dakar, no Senegal, descendo finalmente na ilha Fernando de Noronha; para reabastecimento, voou até Natal. Efetuou duas viagens; a primeira leva constituída de 16 cabeças, desembarcou no dia 14 e a segunda, em que vieram 12 fêmeas e os 3 machos, em 28 de outubro de 1952, datas que passaram a fazer parte da história do Zebu no Brasil. Camargo viajou com seus animais na qualidade de cattle atendant, o que em bom português quer dizer “tratador”. Na primeira viagem, ao aterrar, o importador foi avisado de que “por ordem superior estava impedido de desembarcar, pois poderia ser portador do vírus da peste bovina”. Duas noites e um dia permaneceu nesta situação, até que foi recebida ordem do Ministério da Aeronáutica para abastecer o avião em Natal, de onde voltou à Ásia, a fim de trazer o segundo lote.
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A QUARENTENA Apesar dos cuidados de que gado importado foi alvo em seu país de origem, tendo o veterinário inglês Daubney confirmado o perfeito estado sanitário do rebanho, o Ministério da Agricultura julgou conveniente mantê-lo em regime de quarentena pelo espaço de 15 meses. Um atestado fornecido pela embaixada americana em Karachi informava terem sidos os animais adquiridos nas fazendas de Malir, Mirpurkas, Sitari e Patel, onde nos dez últimos anos não se verificaram casos de peste bovina, e que 08 mesmos haviam sido imunizados contra essa terrível zoonose pelo Dr. Mohey Deen, chefe do Serviço de Veterinária do Estado do Sind. Uma antiga cocheira existente em Fernando de Noronha foi preparada às pressas para o período de quarentena, decorridos ano e meio de isolamento na ilha, onde o gado foi submetido periodicamente a provas sorológicas que demonstraram a sua perfeita sanidade e como medidas complementares, tendo sido procedida a imunização contra a tristeza bovina e vacinações contra a aftosa e brucelose nada havendo a temer quanto ocorrência de moléstias desconhecidas em nosso país, e em face das informações prestadas ao Ministério, o Presidente da República determinou a restituição do rebanho ao Instituto Agronômico do Norte. Eram quase 50 cabeças, com as nascidas no quarentenário, que foram embarcadas em navio que as conduziu a Belterra, nas margens do Tapajós, no Estado do Pará. Era o epílogo de mais uma luta travada para a introdução do Zebu no Brasil. E o paulista Felisberto de Camargo, conseguindo trazer os bois do Sind, reeditou as proezas dos uberabenses do passado. O PLANTEL DE PIRACICABA O gesto edificante de Felisberto de Camargo, comprando às suas expensas um terno de novilhas Sindi, permitiu a formação de um núcleo de gado puro na Escola de Piracicaba, pois não foi difícil a obtenção de um touro do Ministério, pedido por intermédio do governo do Estado. Pouco depois da liberação do gado, o Instituto Agronômico do Norte despachou para o Rio de Janeiro, a bordo do vapor Parnaíba, o lote constituído do touro Salar II e três fêmeas: RS.12; RS.22 e RS.28. A primeira vinha com um bezerro já desmamado, registrado sob o nome de Colorado. Desembarcados no Rio de Janeiro, vieram para São Paulo pela Central do Brasil, aqui chegando no dia 10 de janeiro de 1955. Cinco dias mais tarde, a reprodutora RS.12 deu o seu segundo bezerro, que foi por nos inscrito sob n.° 692, a folhas 292 do livro de registro provisório de animais importados. Entretanto essa fêmea, talvez a melhor do lote, morreu 16 dias mais tarde, já em Piracicaba. Reduzido a um touro, duas vacas, um garrote e um bezerro órfão, o plantel cresceu lentamente, e os primeiros produtos nascidos em Piracicaba foram do sexo masculino. A reprodutora RS.22 revelou-se boa leiteira, ao contrario da RS.28, que em suas três lactações produziu pouco leite, em desacordo coma fama da raça. A medida que novas fêmeas forem atingindo idade para a reprodução e dando crias, a Escola terá mais material para estudo e para a seleção, tendo em vista a aptidão lactífera. Algumas
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observações quanto ao comportamento dos fundadores do plantel figuram em outra parte deste capítulo. É evidente que, por enquanto, ainda é cedo para se tirar conclusões sobre o valor dos animais importados e suas possibilidades em nossa pecuária. O REBANHO DE NOVO HORIZONTE A importação efetuada em 1952 para o Instituto Agronômico do Norte, despertou interesse pela raça tida por muitos autores como uma das melhores variedades leiteiras da região da Índia, que constitui hoje a República do Paquistão. Assistindo na Água Branca a exibição de um filme sobre viagem de estudos e observações a terra de Gandi, um dos criadores presentes, o Sr. José Cezário de Castilho, verificou a semelhança entre os animais apresentados como pertencentes a raça peculiar ao Estado do Sind e outros que possui em sua fazenda no município paulista de Novo Horizonte. Pouco depois solicitou o exame de seu rebanho, tendo em vista a identidade dos tipos e características existente. Uma comissão de zootecnistas do Departamento de Produção Animal dirigiu-se a Fazenda Tabaju e dessa inspeção resultou a confirmação da existência, no Estado, de um plantel de sangue predominantemente Sindi, fato até então completamente ignorado. Os animais descendiam de um garrote e algumas fêmeas trazidas na famosa importação de 1930, realizada por Francisco Ravisio Lemos e Manoel de Oliveira Prata, e adquiridos pelo Sr. João Pereira Lima, criador no município de Jardinópolis, próximo a Ribeirão Preto. Acreditando que se tratasse de indivíduos sem raça definida, vendeuos alguns anos mais tarde. Levados para a fazenda da araraquarense, multiplicaram-se naturalmente e permaneceram por longo tempo completamente isolados, fato que em janeiro de 1959 havia na fazenda de Nova Odessa 74 anirecente descoberta. Os técnicos paulistas chegaram a ver o velho touro, então com cerca de 25 anos de idade e já inútil para a reprodução, mas cuja longa existência garantiu uma certa uniformidade do rebanho e razoável caracterização dentro do padrão racial. Acreditamos que fosse ele, provavelmente, do ponto de vista étnico, o melhor do grupo, ou seja, superior às fêmeas que o acompanharam. Transferência para Nova Odessa O Departamento de Produção Animal e o criador José Cezário de Castilho entraram em acordo, a fim de organizarem uma criação em regime de parceria. Na fazenda de Novo Horizonte, o rebanho de cerca de uma centena de cabeças, foram escolhidos 30 reprodutoras que pelo seu tipo e caracterização melhor se enquadravam no padrão da raça Sindi. Após os exames de soro-aglutinação para diagnostico da brucelose e da prova de tuberculina, as fêmeas foram transferidas em 19 de outubro de 1956 para a Fazenda de Seleção de Gado Nacional, em Nova Odessa, onde passaram a ser padreados pelo touro Colorado, trazido de Sertãozinho onde estava servindo para cruzamentos. Pelo convenio firmado entre as partes, ficou estabelecido que dos animais nascidos nos primeiros 9 meses, 25% caberiam ao Estado, e que os nascidos depois desse prazo, portanto filhos do reprodutor puro do Governo, tanto machos como fêmeas,
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fossem repartidos na base de 50% para o criador e outro tanto para o D.P.A.. Decorridos alguns anos, o rebanho voltara para a fazenda particular. Em janeiro de 1959 havia na fazenda de Nova Odessa 74 animais de sangue Sindi, assim distribuídos: 1 touro, 28 vacas, 12 garrotes, 17 novilhas e 6 bezerros. Grandes partes das fêmeas encontrava-se em gestação, fazendo prever elevado índice de nascimentos. É curioso observar que a vitória do gado Zebu é tão completa que as circunstancias levaram-no a penetrar até no velho e famoso “santuário” do gado nacional, a tradicional fazenda de Nova Odessa, onde desde 1908 se trabalha no melhoramento das raças crioulas. Regime de criação A Seção de Zootecnia de Bovinos das Raças Leiteiras do D.P.A. estabeleceu normas para o manejo do rebanho Sindi, tendo em vista a seleção leiteira. O rebanho é mantido em regime de pasto, com ração suplementar em piquetes, sendo manuseado e diariamente recolhido ao curral, para conservar a mansidão. Reprodutoras – Dois meses antes do parto as fêmeas são recolhidas, passando ao regime de meia estabulação e a serem submetidas ao trato de raspadeira, escova e massagem do úbere, visando com isso amansa-las e prepara-las para a ordenha futura. Adotando-se o sistema de duas ordenhas diárias, durante as quais se faz a distribuição da ração. O leite é pesado e os resultados são registrados em agenda; o esgotamento total dos quatro tetos só se faz completamente nos dias de controle, uma vez ao mês, ocasião em que se determina a porcentagem de matéria gorda. Bezerros – Os produtos novos são mantidos apartados das mães, sendo levados a elas no momento das mamadas e ordenha. São deixados um ou dois tetos para o bezerro, alternados diariamente; os outros são ordenhados a fundo. Mensalmente procede-se a pesagem dos bezerros, que é anotada nas respectivas fichas zootécnicas. Reprodução – As novilhas são cobertas a partir dos 30 meses, ou antes, se seu desenvolvimento for considerado satisfatório. As vacas somente são padreadas após o segundo mês do parto, mas a ocorrência do cio antes desse prazo é anotado. Esse programa de trabalho revela a confiança nas possibilidades da participação dos Bos Indicus na produção de leite em regiões em que as raças européias especializadas não encontram ambiente favorável a sua adaptação e onde sua exploração não pode ser feita em base econômica. É um trabalho paralelo ao que se desenvolve em Piracicaba, na Escola Superior de Agricultura, com o gado Sindi da importação do Instituto Agronômico do Norte. Graças ao espírito de colaboração do criador e ao empenho dos técnicos paulistas, encontrou-se uma fórmula de que resultou a recuperação de um rebanho predominantemente Sindi, pela utilização de um touro puro de alta classe, filho de importados e de origem leiteira, beneficiando assim o lote necessitado de refrescamento de sangue. Por outro lado, está permitindo ao Departamento da Produção Animal formar o seu próprio plantel, sem os grandes dispêndios que representaria uma importação. É curioso observar que São Paulo, outrora tão contrario ao gado originário da Índia, caminha rapidamente para conquistar a hegemonia nesse setor da pecuária brasileira, graças a atividade de seus órgãos técnicos, aos esforços de seus zootecnistas e a cooperação de criadores particulares.
– A EPOPÉIA DO ZEBU – Alberto Alves Santiago
CARACTERISTICAS DA RAÇA SINDI Os animais da raça Sindi são em geral pequenos, de bela aparência, adequados para regiões de poucos recursos alimentares, onde seria difícil a manutenção de animais de grande porte. A cabeça é pequena e bem proporcionada, de perfil convexo, as vezes com protuberância que parece resultante de infusão de sangue Gir. Os chifres são grossos na base crescem para os lados, encurvando-se para cima. As orelhas tem tamanho médio e são caídas, com 25 a 30 centímetros de comprimento e 15 de largura; Adaptam-se facilmente a diferentes condições de clima e solo. São compactos, tendo os quartos traseiros arredondados e caídos. O pescoço é curto e forte, mas delicado nas fêmeas; barbela de tamanho médio, mas desenvolvida, no macho, que tem a bainha pendulosa. O cupim é médio e pequeno nas fêmeas e relativamente grande nos machos, apresentando-se firme e bem colocado sobre a cernelha. A pelagem é vermelha, variando do mais escuro ao amarelo-alaranjado; observam-se, às vezes, pintas brancas na barbela, na testa e no ventre, mas não tem manchas grandes. Os touros têm as espáduas e coxas em tonalidades mais escuras. Ao redor do focinho, no úbere, no períneo, e ao redor das quartelas a pelagem apresenta tonalidades mais claras. Nesta raça o branco é recessivo, aparecendo ocasionalmente, mesmo nos rebanhos puros, mas não é apreciado. A pele, levemente solta, é recoberta de pelos finos, macios e luzidios, a pigmentação da pele e das mucosas é escura. As unhas são fortes, compactas e de cor escura. A cauda é fina, longa, terminada por vassoura abundante, de cor escura ou negra. O tronco é profundo, compacto, porem longo e tendendo para o cilíndrico; linha dorso-lombar reta e quase horizontal; dorso e lombo bem musculados, garupa arredondada, mas inclinada. O úbere é volumoso, com tendência e se tornar pendente; tetos muitas vezes grossos. Os membros são curtos, finos, de ossatura delicada, bem feitos e corretamente aprumados; as articulações são pouco volumosas. Período de gestação Littlewood, zootecnista inglês, conhecido pelos seus estudos sobre o gado da Índia Meridional, analisou em 1936 o peso ao nascer e o período de gestação em rebanhos das raças Ongole, Kangayam e Sindi. Diz ele que os criadores indianos calculam o período de gestação da vaca em 285 dias; caso se estenda por mais alguns dias, é sinal de que o bezerro será provavelmente macho. Procurando interpretar os dados disponíveis da Fazenda Experimental de Criação de Hosur, encontrou os seguintes resultados: Raça Sindi
N° de registro
Machos dias
Fêmeas dias
Diferença dias
277
286,3
284,5
1,8
– A EPOPÉIA DO ZEBU – Alberto Alves Santiago
Ongole
477
289,8
288,5
1,3
Kangayam
531
286,6
284,1
2,5
Conclui-se ser o período de prenhes realmente mais longos para as parições de que resultaram machos. A média da duração do período de gestação varia conforme a raça e outros fatores. Técnicos indianos estudando milhares de gestações nos rebanhos zebuínos encontraram as seguintes durações: Sindi, 283,9 dias; Gir 285,4; Sahiwal, 285,9; Tharparkar, 287,9 dias. As diferenças são pequenas dentro desse grupo de raças. A analise de 858 parições registradas na Fazenda Experimental de Malir, no Paquistão, revelou que 53,4 por cento dos bezerros eram machos e 46,6 por cento eram do sexo feminino. O estudo revelou uma tendência para os partos se verificarem no período compreendido entre agosto e dezembro (No Brasil seria então de janeiro a julho). Peso ao nascer Segundo os autores indianos, os bezerros machos Sindi nascem pesando de 19 a 22 quilos e as fêmeas de 17 a 20 Kg. Littlewood analisando os pesos ao nascer de bezerros dos rebanhos das Fazendas Experimentais de Chintaladevi e Hosur, num período de 11 anos, encontrou os seguintes resultados: PESOS AO NASCER (KG)
Machos
Fêmeas
N° de registros
N°.
Peso
Nº.
Peso
Diferenças entre M. e F.
Sindi
277
137
20,3
140
19,6
1,3
Ongole
248
120
28,1
128
25,2
2,9
Kangayam
531
257
20,2
274
18,7
1,5
Raça
Os bezerros Sindi eram nascidos na Fazenda de Hosur, região de Madras, em zona de terras vermelhas, consideradas pobres; esse estabelecimento pertence ao Governo da Índia. Em visita a Seção de Zootecnia da Escola de Piracicaba, tivemos o cuidado de anotar os pesos dos 5 primeiros bezerros Sindi puros alí nascidos: 24,5 quilos, 20,0; 20,0; 22,0 e 18 kg, dando a média de 20,9 Kg. As quatro fêmeas do estabelecimento nasceram pesando 22,0 quilos; 20,0; 26,0 e 20,0, dando a média de 22 kg. Esses valores estão bem próximos dos encontrados pelo pesquisador inglês e do padrão da raça. Desenvolvimento ponderal Não dispomos de dados sobre o desenvolvimento ponderal de animais da raça Sindi, em seu país de origem. Os padrões indianos se limitam a indicar os pesos por
– A EPOPÉIA DO ZEBU – Alberto Alves Santiago
ocasião do nascimento e aos 12, 24 e 30 meses para as fêmeas, omitindo os valores nas idades intermediarias; os pesos dos adultos, machos e fêmeas, são mencionados. PESOS EM VARIAS IDADES (KG)
Idades
Machos
Fêmeas
19 a 22
17 a 20
Aos 12 meses
-
150 a 160
Aos 24 meses
-
230 a 250
Aos 36 meses
-
290 a 300
430 a 460
300 a 350
Ao nascer
Animais adultos
São os Sindi animais de pequeno porte, com altura média de 1,25 a 1,35 m tomada atrás do cupim, para os machos e de 1,15 a 1,20 m para as fêmeas. Trata-se, portanto, de animais fáceis de serem criados e mantidos, próprios para regiões de poucos recursos alimentares, suportando bem as variações de clima e solo. Em meio melhor apresentam desenvolvimento mais rápido e atingem pesos mais elevados, conforme se depreende do exame dos registros de animais do plantel de Piracicaba. Os garrotes Sindi estão aptos a padrear entre os 3 anos e 3 anos e meio, embora quando bem alimentados e desenvolvidos comecem a faze-lo mais cedo, ao redor dos 2 anos ou pouco mais. Os touros tendem a ser empregados na reprodução de 6 a 10 anos. Observa-se que costuma ser um pouco lentos na cobertura, fato que vimos confirmados em nosso meio; Salar II, importado e Colorado, nascido em Fernando de Noronha, revelaram essa característica, chegando o primeiro a ser mesmo considerado um pouco “frio”. Observações no plantel de Piracicaba Na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” anotamos alguns dados referentes ao exemplares da raça Sindi, que devemos à gentileza dos professores Walter Ramos Jardim, catedrático de Zootecnia e Aristeu Mendes Peixoto, livre docente da 5ª cadeira. Seu maior valor reside no fato de terem sido os primeiros elementos informativos obtidos no Brasil e são aqui incluídos a titulo de curiosidade, pois o reduzido número de animais controlados não permite serem os resultados considerados representativos na raça. DESENVOLVIMENTO PONDERAL (KG) MACHOS
Nomes
Centenario RS.100
Símbolo RS.103
Sol RS. 104
Tolu RS. 105
Urano RS.106
Nascimento
15-1-55
5-5-56
30-6-56
31-3-57
13-2-57
Ao nascer
24,5
20,0
20,0
22,0
18,0
Médias 20,9
– A EPOPÉIA DO ZEBU – Alberto Alves Santiago
Aos 6 meses
72
98
122
85
95
94,4
9 meses
124
130
180
140
-
143,5
12 meses
200
175
216
220
222
206,6
18 meses
270
240
290
300
285
271,6
24 meses
368
300
380
360
-
352,0
30 meses
420
320
-
-
-
-
36 meses
490
-
-
-
-
-
42 meses
520
-
-
-
-
-
48 meses
570
-
-
-
-
-
Médias
FÊMEAS
Nomes
Rúpia RS.101
Rubiácea RS.102
Uiara RS. 107
Ultramar RS.107
Nascimento
17-5-55
21-5-55
2-5-58
28-10-58
Ao nascer
22
20
26
20
22,0
6 meses
120
96
119
120
113,8
9 meses
126
150
-
136
137,3
12 meses
200
190
200
-
-
18 meses
260
240
-
-
-
24 meses
320
326
-
-
-
30 meses
360
340
-
-
-
36 meses
346
334
-
-
-
O peso de Centenário mantinha-se ao redor de 550 e 600 quilos, ao passo que as vacas importadas pesavam em média 320 a 365 kg, com pequenas variações de acordo com a época do ano e o estado, paridas ou em gestação adiantada. Esses pesos, embora reduzidos, se comparados com os de nossos zebus, estão dentro do padrão dessa raça, reconhecidamente de pequeno porte, na informação de todos os técnicos indianos. Todavia, suas filhas, nascidas em nosso País, apresentam-se mais pesadas, o mesmo se verificando com o touro Centenário, nascido e criado em São Paulo, cujo peso superou a média da raça. Também Colorado, reprodutor do D.P.A. pesava, em média, 600 quilos, enquanto os touros da Índia alcançam de 350 a 450 quilos, o que revela a influência do meio do desenvolvimento ponderal. PRODUÇÃO DE CARNE
– A EPOPÉIA DO ZEBU – Alberto Alves Santiago
Como a raça Sindi não tem sido utilizada para a produção de carne, em seu país de origem, não existem estudos referentes à essa função econômica. Nota-se, porem que é um gado de pequeno porte, não podendo, por isso, concorrer com as outras raças como a Nelore, a Guzerá e a Indubrasil que alcançam pesos elevados. Seu desenvolvimento está mesmo aquém do apresentado pelo Gir. Todavia o destino dos machos excedentes nas explorações leiteiras será, necessariamente, o corte. De inicio, enquanto o nosso rebanho for reduzido, os garrotes serão encaminhados para os trabalhos de cruzamento, especialmente com as raças leiteiras européias, a fim de imprimir na descendência os predicados de rusticidade e resistência de que carecem os bovinos aperfeiçoados de origem européia. A demanda de reprodutores já é intensa e tão cedo não será satisfeita, uma vez que os plantéis são poucos e de proporções reduzidas. Na Índia os bois Sindi são bastante empregados como animais de trabalho, desempenhando bem suas tarefas na agricultura, como arações, escarificação do solo, extrato de água de poços, transporte nas estradas, etc... Os machos destinados ao trabalho são castrados entre os três e quatro anos de idade. Geralmente uma junta de bois pesa 670 a 820 quilos e, embora pequenos, são muito úteis na tração em estradas e no campo. Podem arrastar cargas de 600 a 900 quilos em carros de aro de ferro e eixo metálico, tanto em caminhos bons como nos acidentados. Costumam trabalhar durante 7 a 8 horas por dia, desenvolvendo velocidade média de 3 a 5 km/h. Os bois Sindi podem ser também empregados como animais de carga e sela, transportando pesos de 150 a 230 quilos. Observa-se que estes animais apresentam um certo grau de resistência à febre recorrente e à aftosa, resistência essa peculiar ao gado indiano. PRODUÇÃO DE LEITE A aptidão econômica predominante é a leiteira, no que a Sindi rivaliza com a Sahiwal, a Tharparkar e a Hariana, tidas como as melhores raças da Índia; recorde-se que na Ásia a Kankrej ou Guzerá e a Gir gozam também de boa fama pela capacidade galactófora. As produções médias para cada uma dessas raças variam bastante, de acordo com a região e, principalmente com a maior ou menor intensidade dos trabalhos seletivos a que foram submetidas. Na Fazenda de Seleção de Malir, em Karachi, a produção média de todas as vacas, computadas 305 lactações, foi aproximadamente de 1500 quilos, em 274 dias. Essa produção não inclui o leite mamado pelo bezerro, porquanto a desmama precoce não é prática. Um grupo de 41 vacas deu 1800 a 2500 kg, com a média individual de 2070 kg. A média das 35 melhores lactações foi de 3077 kg. MÉDIAS GERAIS DE PRODUÇÃO DE LEITE, EM MALIR
Lactações
1ª
2ª
3ª
4ª
5ª
6ª
Rendimentos (kg)
1774 1951 1884 1755 1874 1774
Dias de lactação
308
284
265
258
253
268
– A EPOPÉIA DO ZEBU – Alberto Alves Santiago
O exame de 222 lactações controladas nessa granja revelou que o período seco médio foi de 160 dias e o intervalo entre os partos, de 14,7 meses. Calcula-se em uns 41 meses a idade da vaca ao partir pela primeira vez, e que o número médio de lactações na vida de uma reprodutora seja de cinco. No quadro abaixo figuram dados relativos à produção média de leite do gado Sindi, baseados no registro de fazendas controladas na Índia durante os anos de 1936/1937 a 1939/1940. Estabeleceram-se condições favoráveis de alimentação e cuidado e os animais adquiridos no mercado, embora recebendo o mesmo trato e idêntica alimentação. Houve rendimentos bastante elevados, inclusive um de 5.448 quilos de leite, dando uma média diária de 18 kg. MÉDIA DE PRODUÇÃO DO GADO SINDI
Vacas de granjas N° de lact açã o
Pro duç ão mé dia
1936/37
85
1937/38
Vacas adquiridas no mercado
Du raç ão
Dia s 1se cos
N° de lact açã o
Pro duç ão mé dia
Du raç ão
Dias 1secos
1632
296
139
15
1599
314
140
62
1782
325
123
77
1746
279
250
1938/39
89
1799
325
139
79
1562
283
135
1939/40
106
1658
312
137
80
1562
279
192
Ano
O leite, para um grande número de amostras examinadas, teve a seguinte composição: porcentagem total de sólidos, 13,44; porcentagem de gordura, 4,92 e porcentagem de sólidos não graxos, 8,49. A Estação Experimental de Criação de Hosur publicou os dados de produção de 70 vacas fundadoras do rebanho, mas vamos nos limitar a apresentar os resultados das lactações das 10 melhores reprodutoras. Reprodutora N°
Parições
Média Média Melhor Média total Kg diária Kg lactação kg diária Kg
25
5
2508
7670
3104
7940
228
2
2242
6990
2990
7990
230
3
2120
6690
2306
6890
232
3
3185
6760
3014
6890
236
2
2284
6530
2390
5760
238
3
2188
2360
6170
244
4
2304
2820
7170
5700
– A EPOPÉIA DO ZEBU – Alberto Alves Santiago
38
4
1973
5900
2290
5580
144
6
1949
5900
2280
5570
160
5
1828
5880
2280
6400
Em um concurso leiteiro, realizado em Karachi, em 1973, com duração de 60 dias, as cinco vacas melhores colocadas, deram as seguintes médias diárias: 12,852 kg; 9,639 kg; 9,180 kg; 7,803 kg e 7,344 kg. Esses resultados comprovam a capacidade galatófora da raça nacional do Paquistão. O Central Herd-Book, o registro genealógico indiano, que abrange as raças Sahiwal, Hariana e Sindi, exige para a inscrição que a vaca tenha uma produção mínima de 2.500 libras, o que corresponde a 1.130 quilos, em lactação. No Ceilão, na região de topografia ondulada, solo silicoso, fértil com precipitação anual média de 1.500 milímetros e temperatura média de 25° C, o gado vive no pasto e recebe limitada ração de concentrados. Sua produção média diária é de 3,2 kg de leite, em uma ordenha e com bezerro mamando. Em Tanganica, em más condições de criação, em zona seca e com curto período de bom pasto, as mestiças de Sindi com o gado nativo produziram, com o bezerro mamando, 1. 470 kg de leite, com 4,8% de gordura, em um período médio de 293 dias. A produção do gado nativo é muito baixa, e o Sindi agiu eficientemente como elemento melhorador da produção leiteira. Nas Filipinas, na Escola de Agricultura de sua Universidade, a produção média diária de leite de todas as vacas foi de 4,6 litros, vista da introdução relativamente recente da raça Sindi. A titulo de ilustração daremos os resultados de algumas observações. Os primeiros elementos obtidos do gado Sindi importado, quando ainda no período de quarentena, na Ilha de Fernando de Noronha, ainda não foram publicados e, talvez, não o sejam, porquanto a principal preocupação dos responsáveis era o estado de saúde do rebanho, não se cuidando de controle leiteiro em 1952. Algumas informações nos foram prestadas pelo Sr. André Weiss, emissário da Revista “Zebu”, que ali esteve em 1953. Naquele ano a melhor produção foi a da reprodutora RS.6, que após a parição deu durante vários dias 16 quilos de leite, quantidade que foi gradativamente baixando, tanto que, seis meses depois, alcançava 11 kg; em agosto deu 9,1 e no fim da lactação, em outubro, a média diária era de 6,3 kg. Como alimentação recebia “verde” e alguma ração balanceada. Produção foi, portanto, excelente, mas a de outras era apenas boa ou regular. Em agosto, por ocasião da citada visita, as médias diárias eram de 9,17 kg; 6,50; 5,27; 5,00; 2,89 e 2,00. Observa-se grande variação entre as reprodutoras que estavam em diferentes fases da lactação; ela foi bastante baixa para alguns indivíduos, mas, deve-se recordar que se tratava de animais em regime de adaptação, submetidos à xames e provas freqüentes e ao processo de imunização. Até então havia nascido 11 bezerros, dos quais morreram 5, sinal que o rebanho passava por dificuldades. PADRÃO DA RAÇA SINDI
– A EPOPÉIA DO ZEBU – Alberto Alves Santiago
Com base nas descrições de autores da Índia e partindo do exame e observações dos reprodutores Sindi dos plantéis da Amazônia e de Piracicaba, propomos, à semelhança do que foi feito pelo Serviço Genealógico das Raças de Origem Indiana, o estabelecimento do padrão abaixo apresentado. Acreditamos que o padrão racial deve conter o essencial para a identificação da raça, sem se prender muito a detalhes. O bom senso deve presidir à interpretação e à aplicação do “standard” da raça, não se perdendo de vista o fato de que a produtividade é fator de capital importância para o futuro do gado, merecendo por isso o máximo de atenção do técnico ou criador, no desenvolvimento dos trabalhos seletivos. Cabeça – pequena, curta, bem proporcionada. Perfil – Subconvexo. Testa – Pouco proeminente, moderadamente larga. Chifres – Curtos e grossos, principalmente nos touros; nas vacas são mais finos e delicados. Saem para os lados e para cima, encurvando-se para dentro. Orelhas – De tamanho médio, largas e um pouco pendentes. Olhos – Grandes, bem afastados, escuros, revelando mansidão. Chanfro – Reto, sendo curto e largo no macho e mais comprido e fino nas fêmeas. Focinho – Preto, largo, com narinas amplas, denotando grande capacidade respiratória. Pelagem – Vermelha, vermelha escura, retinta ou castanha sendo mais escura nos machos, principalmente nas extremidades; tonalidade mais clara ao redor do focinho, na barbela, nas axilas, ventre e pequenas manchas brancas no ventre ou no flanco. Couro – Solto, maleável, fino e macio. Pele – Sempre escura ou preta, revestida de pelos finos e curtos. Mucosas – Ordinariamente pretas ou escuras. Cascos – Pretos, duros e resistentes. Cauda – Bem implantada, de inserção baixa; fina e longa. Vassoura – Curto e grosso no macho, fino e delicado na fêmea. Barbela – Bem desenvolvida, fina e pregueada, prolongando-se até debaixo do maxilar. Peito – Largo e profundo, indicando grande capacidade respiratória. Cupim – Bem desenvolvido, principalmente no macho, colocado um pouco adiante da cernelha. Membros – Curtos, bem afastados, com ossatura fina e forte; bons aprumos. Tórax – Largo, alto e profundo. Costelas – Compridas, afastadas e bem arqueadas. Dorso – Reto, largo e bem musculado. Garupa – Um pouco alta, ligeiramente inclinada. Saco – Pouco saliente. Umbigo – Não deve ser muito desenvolvido nem a bainha ser muito pendente. Úbere – Deve ser bem desenvolvido, com tetos de tamanho médio, bem colocados, finos e macios. Índole – Dócil, sobretudo na fêmea Aparência Geral – Sadia, vagarosa, denotando vivacidade; conformação própria de animal de tipo leiteiro.
– A EPOPÉIA DO ZEBU – Alberto Alves Santiago
Critério para Seleção Estudamos a raça Sindi detalhadamente, analisando suas principais características morfológicas e funcionais, bem como a origem do rebanho brasileiro. Surge agora uma questão: qual o critério que devera presidir sua seleção? Considerando que tanto o rebanho de Belterra, como o de piracicaba sejam puros de origem, possuidores de acentuada uniformidade e perfeita caracterização, seus selecionadores não deverão se preocupar com minúcias do padrão, e importância muito secundaria no caso. A seleção, evidentemente, devera ser funcional. A produtividade devera ser a base dos trabalhos seletivos; pela capacidade de produzir leite serão escolhidas as reprodutoras, e os filhos das melhores serão os futuros chefes do rebanho. Estamos iniciando a criação e, portanto, a seleção do gado Sindi. Não podemos com ele repetir os erros que foram cometidos e ainda se cometem com o nosso Zebu, retardando seu melhoramento em conseqüência do excesso de atenção dada a pontos de nenhuma expressão econômica. Com trabalho e bom senso, poderemos fazer do Sindi um grande rebanho. Mais uma raça zebuína no Brasil Nesta obra sobre as raças indianas, não poderíamos omitir a Sindi. Ao agrônomo Felisberto de Camargo fica devendo a pecuária um grande serviço: acrescentar ao rebanho brasileiro, constituído das raças Gir, Guzerá, Nelore e Indubrasil, mais uma variedade apontada por todos os zootecnistas como um dos mais importantes agrupamentos étnicos zebuínos, especialmente do ponto de vista da aptidão leiteira. Tendo origem diversa, tendo evoluído sob diferentes condições, tendo sofrido variados estímulos por parte do homem, durante séculos, compreende-se que as atuais raças zebuínas não são iguais, nem tão pouco equivalentes. As diferenças podem ser até maiores que as variações entre raças de origem européia. E a desigualdade da raça do Bos indicus tem grande importância para o seu melhoramento, pois poder-se-á encontrar uma raça zebuína apropriada para cada diferente condição dos trópicos ou para cada especialização. A entrada do Sindi acentua a importância do Brasil como grande centro de criação e seleção do Zebu. Contudo, é preciso que nossos criadores, através de suas entidades de classe, organizem a propaganda desse gado, divulgando os resultados de experiências e demonstrando suas reais qualidades. O fornecimento de reprodutores selecionados aos países situados na faixa intertropical pode vir a constituir nova fronte de renda para o Brasil, agora mais do que nunca na necessidade de obter divisas e equilibrar seu comércio exterior.