Sindi a Pecuária de Corte no Brasil Central

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RAÇA SINDI Há muita divergência quanto à grafia do nome desta importante raça zebuína. Wallace, em seu clássico trabalho de 1888, usa o termo Sindi para designar a raça, Vermelho do gado Lover Sindi, ao passo que o capitão R. W. Little-Wood escreveu em seu livro de uma forma um pouco mais complicada: Scindh. Os autores modernos de língua inglesa chamam a raça de Red Sindhi, expressão que veio a ser adotada pelos zootecnistas da F.A.O., Ralph Phillips e N. R. Joshi. No Brasil procuramos vulgarizar a denominação SINDI, do mesmo modo do que ocorreu com outras raças de origem indiana. Cujas denominações diferem das adotadas no País de origem. Por sugestão do Autor, a Sociedade Rural do Triangulo Mineiro, em reunião realizada em 1960, em Uberaba, decidiu propor ao Ministério da Agricultura a abertura do livro de registro genealógico e a adoção da denominação Sindi, abandonando o adjetivo “vermelho”, totalmente dispensável. Alias, participamos na qualidade de Relator, da comissão que elaborou o padrão racial brasileiro, tendo sido aprovado o projeto de nossa autoria, pelo Departamento Nacional de Produção Animal e oficializado pelo Ministério da Agricultura por portaria de 13 de outubro de 1960. Classificação Todos os estudiosos das raças indianas concordam em classificar a raça Sindi do Grupo III ou terceiro tipo básico, cuja raça-tronco é a Gir, pela antiguidade, pureza e volume de rebanho. O gado do Sind, região do atual Paquistão, distingue-se também pela sua antiguidade e pureza racial, constituindo para muitos zootecnistas outra raça-tronco, ao lado do Gir, no qual poderia ter sofrido alguma influencia, devido ao deslocamento de tribus nômades de criadores, dando margem a eventuais cruzamentos. Origem A raça é originaria da região chamada Kohistan, na parte norte da província de Sindi, no atual Paquistão. A variedade Las Belas, talvez a mais pura linhagem da raça, é encontrada no estado do mesmo nome, no Beluchistão, e assemelha-se ao gado vermelho do Afeganistão. Como nas demais raças zebuínas, pode-se observar uma certa variedade de tipos, fora de sua zona de origem e apresenta muitos pontos de semelhança com o gado Sahiwal, cujas raízes estão igualmente no gado vermelho da fronteira noroeste da Índia. A área geográfica onde predomina, no Sind, é plana e baixa ao sul e montanhosa ao norte e a oeste, com altitudes de 900 a 1300 metros, e grandes vales situados entre cordilheiras que se prolongam em direção norte-sul no noroeste da península. Os solos variam, predominando os pedregosos e os arenosos. As culturas dependem dos mananciais das montanhas, que são geralmente desprovidas de vegetação ou cobertas de plantas herbáceas e arbustivas. O clima apresenta-se semi-árido, com precipitações anuais variáveis de 250 a 400 milímetros, e a temperatura apresenta grande amplitude, sendo quente no verão e muito frio no inverno.


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A maior parte dos criadores são nômades, que conduzem o gado de um lugar para outro, em busca de pasto, vivendo exclusivamente em regime de pastoreio, em campos naturais, ou de restos de culturas. Raramente o gado dispõe de espécies forrageiras cultivadas para o pastejo. Em suma, as condições de criação no país de origem são severas, como se verifica para quase todo o rebanho bovino e de outras espécies. Nos arredores dos grandes centros, devido a grande demanda de leite para o abastecimento das populações, parte do gado recebem concentrados, especialmente as vacas em lactação. Os criadores são muito cuidadosos na escolha de seus touros e raramente se desfazem dos realmente bons; os novilhos aos dois anos são vendidos como animais de trabalho e eventualmente para abate, nos centros de populações muçulmanas. Centros de seleções O gado Sindi vem sendo selecionado em estabelecimentos oficiais do Governo do Paquistão e da União Indiana, face as suas qualidades comprovadas e possibilidades na economia pecuária. Reprodutores selecionados, com genealogia conhecida e controle da produção são encontrados nas seguintes estações experimentais: Fazenda Experimental de Criação de gado Sindi Localizada em Malir, perto de Karachi, pertence ao Governo Federal do Paquistão. Tem como objetivos principais: a) Preservar a pureza racial b) Desenvolver a produção leiteira, eliminando a presença da cria durante a ordenha c) Melhorar a conformação geral do úbere, membros e aprumos d) Reduzir a idade da primeira cria e diminuir o período do seco e) Fornecer touros de boa origem para o melhoramento dos rebanhos particulares f) O rebanho atual consta de 360 animais, dos quais 120 são vacas em idade de reprodução. A media de produção de leite é de 2.039 quilos em 274 dias de lactação, em condições regulares de manejo. Fazenda Experimental de Criação Situada em Mirpurkas, anexa ao estabelecimento dedicado à fruticultura. Pertence ao Governo do Estado do Sindi, principal unidade da Republica do Paquistão. O rebanho provem em parte do plantel de Malir, e a seleção obedece a critérios semelhantes, mas os níveis de produção são mais baixos. Instituto Nacional de Pesquisas Leiteiras de Karnal Situada no Estado do Pundjab, na Índia, é um centro de ensino e pesquisa agropecuária, mantendo planteis das raças Sindi, Sahiwal e Tharparkar. O rebanho da raça vermelha esta com a produção atual média de 1776 quilos, em 290 dias de lactação, sendo considerado inferior ao de Malir, e a produção independe do concurso de bezerros, o que constitui exceção para quase totalidade das raças zebuínas.


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Fazenda Experimental de Hosur Situada no distrito de Salem, no Estado de Andra, Índia, seleciona gado Sindi, ao lado do Plantel Gir. As produções médias, como outras fazendas indianas, são inferiores as obtidas nos centros de seleção do Brasil, de propriedade oficial ou mesmo de algumas particulares.

CARACTERISTICAS DA RAÇA Os animais da raça Sindi são em geral pequenos, de bela aparência, adequados as regiões de poucos recursos alimentares, onde seria difícil a manutenção de animais de grande porte. A cabeça é pequena e bem proporcionada, de perfil convexo, às vezes com protuberância que parece resultante de infusão de sangue Gir. Os chifres são grossos na base, crescem para os lados, encurvando-se para cima. As orelhas têm tamanho médios e são caídas, com 25 a 30 centímetros de comprimento e 15 de largura; os olhos pouco proeminentes, escuros, dando a impressão de mansidão. Adaptam-se facilmente a diferentes condições de clima e solo. São compactos, tendo os quartos traseiros arredondados e caídos. O pescoço é curto e forte, mas delicado nas fêmeas; barbela de tamanho médio, mas desenvolvida, no macho que tem a bainha pendulosa. O cupim é médio e pequeno nas fêmeas e relativamente grande nos machos, apresentando-se firme e bem colocado sobre a cernelha. A pelagem é vermelha variando do mais escuro ao amarelo-alaranjado; observam-se, às vezes, pintas brancas na barbela, na testa e no ventre, mas não tem manchas grandes. Os touros têm as espáduas e coxas em tonalidades mais escuras. Ao redor do focinho, no úbere, no períneo, e ao redor das quartelas a pelagem apresenta tonalidades mais claras. Nesta raça o branco é recessivo, aparecendo ocasionalmente, mesmo nos rebanhos puros, mas não é apreciado. A pele, levemente solta, é recoberta de pelos finos, macios e luzidios, a pigmentação da pele e das mucosas é escura. As unhas são fortes, compactas e de cor escura. A cauda é fina, longa, terminada por vassoura abundante, de cor escura ou negra. O tronco é profundo, compacto, porem longo e tendendo para o cilíndrico; linha dorso-lombar reta e quase horizontal; dorso e lombo bem musculados, garupa arredondada, mas inclinada. O úbere é volumoso, com tendência a se tornar pendente; tetos muitas vezes grossos. Os membros são curtos, finos de ossatura delicada, bem feitos e corretamente aprumados; as articulações são poucos volumosas. O período de gestação nas vacas Sindi é de 285 dias, em média, sendo um dia mais longo quando o produto é do sexo masculino, e de um dia mais curto, quando dá origem à bezerra. Verificando o período de gestação no rebanho que esteve localizado em Nova Odessa, encontramos resultados diferentes dos citados por autores indianos: a duração média para machos foi de 292,9 dias, e no caso de parições de fêmeas, 289,1 dias; em nosso meio, a gestação seria cindo dias mais longos. Como o gado Sindhi é de pequeno porte, os bezerros nascem com peso inferior ao de outras raças; na Índia, os machos pesam ao nascer de 19 a 22 quilos, e as fêmeas


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de 17 a 20 quilos, conforme os registros da Fazenda de Hosur, onde as terras são consideradas pobres. Em Ribeirão Preto, zonas de terras ricas, os bezerros pesam ao nascer dois a três quilos a mais, do que na Índia. Observações sobre o desenvolvimento ponderal revelam que no país de origem os Sindhi pesam aos 12 meses, de 160 a 180 quilos; aos 24 meses, de 260 a 280 quilos; aos 36 meses, os pesos médios vão de 350 a 400 quilos, enquanto os animais adultos pesam: fêmeas, de 300 a 380 quilos e os machos de 430 a 500 quilos. Os Sindi puros são de pequeno porte, com altura média de 1.25 a 1.35m, tomada atrás do cupim, para os machos, e 1.15 e 1.20 para as fêmeas. Trata-se, portanto de animais fáceis de serem criados e mantidos, propôs para régios de poucos recursos alimentares, suportando bem as variações de clima e solo. Em meio melhor, obviamente, apresentam desenvolvimento mais rápido e atingem pesos mais elevados, conforme se depreende dos registros e fichas zootécnicas de animais dos plantéis de Piracicaba e de Ribeirão Preto. Os garrotes Sindi estão aptos a padrear aos 3 anos embora quando bem alimentados comecem a faze-lo mais cedo ao redor dos 2 anos. Parece que os touros são um pouco lentos nas padreações, conforme temos observado. Em trabalho anterior demos os pesos em varias idades, de animais criados em Piracicaba e em Nova Odessa, bem superiores aos citados por zootecnistas indianos e da FAO, o que reflete a influencia do meio favorável. PRODUÇÃO DE CARNE A raça Sindi não tem sido utilizada para a produção de carne, em sua origem, quer por ser tida e explorada como leiteira, quer por motivo de ordem religiosa, por parte considerável da população. Sendo de pequeno porte, não poderia concorrer com outras raças como a Nelore, a Guzerá, e a Indubrasil, cujos representantes alcançam pesos elevados, ainda novos. Seu desenvolvimento se equipara ao do gado Gir, excluídas algumas de suas linhagens de grande porte, como é evidente. No Brasil, em face de melhores condições de alimentação e trato, o gado tende a apresentar pesos maiores do que o da Índia, da mesma forma, como vem acontecendo com as outras raças importadas. Há, ainda, a considerar que apreciável parcela do rebanho é pura por cruza, sobre base de gado com sangue Sindi de importações remotas, ou com gado mestiço azebuado, motivo pelo qual é mais pesada do que os exemplares integrantes de plantéis puros de origem, descendentes dos reprodutores em 1952. De inicio, enquanto os rebanhos forem reduzidos, todos os garrotes, com exclusão dos refugos, serão utilizados nos trabalhos de cruzamento, especialmente com as raças leiteiras européias, a fim de imprimir na descendência os predicados de rusticidade e resistência de que carecem bovinos aperfeiçoados de origem européia. A demanda de reprodutores é intensa e tende a se manter constante, a medida que aumenta o interesse pela pecuária. Na Índia, os bois Sindi são bastante empregados como animais de trabalho, desempenhando bem suas tarefas na agricultura, como arações, extrações de água de poços, transporte nas estradas, etc. Os machos destinados ao trabalho são castrados entre os três ou quatro anos de idade; prestam-se, também para tração de carros e como animais de sela, transportando peso de 150 a 200 quilos.


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PRODUÇÃO DE LEITE A aptidão econômica predominante é a leiteira, no que a Sindi rivaliza coma Sahiwal, a Tharparkar e a Hariana, tidas como as melhores da Índia. Naturalmente, as produções médias para cada uma dessas raças variam bastante, de acordo com a região e, principalmente, com a maior ou menor intensidade dos trabalhos seletivos a que foram submetidas e do regime alimentar adotado. Conhecem-se os registros de produções de estações experimentais indianas, pelos quais se observa que as medias de produção estão se elevando, em função dos esforços dos selecionadores e a aplicação de métodos modernos de seleção genética. No Brasil, o Sindi está sendo considerado gado misto, uma vez que a produção leiteira é razoável, e os novilhos podem ser aproveitados para corte. O rebanho de Piracicaba é por demais reduzido, e seus integrantes não se distinguem como animais leiteiros. Na Amazônia, tem faltado continuidade na seleção, com prejuízos evidentes para o rebanho, entregue há funcionários que se sucedem na função, não tendo havido progresso apreciável na produtividade. O maior rebanho pertencente a organismo oficial, é o da Estação Experimental de Zootecnia de Ribeirão Preto, subordinada ao Instituto de Zootecnia, um dos órgãos da nova Coordenadoria da Pesquisa Agropecuária, que compreende também o Instituto Agronômico de Campinas, o Instituto Biológico de São Paulo e o Instituto de Tecnologia de Alimentos, em Campinas. A fazenda de Ribeirão Preto foi fundada em 1960, iniciando-se a criação com exemplares Sindi, cedidos pelo criador José Cezário de Castilho, e alguns produtos cedidos pela Escola Superior de Agricultura de Piracicaba, puros de origem, descendentes de animais importados pelo Instituto Agronômico do Norte, em 1952, por iniciativa do agrônomo Felisberto de Camargo. Decorridos 10 anos, o plantel tornou-se o maior agrupamento da raça, quanto à produção leiteira. Reprodutores saídos de Ribeirão Preto, sob a forma de empréstimos a particulares, ou vendidos em seus leilões anuais, estão dando origem a novos núcleos de gado Sindi, através do cruzamento continuo. A produção leiteira vem se elevando continuamente, havendo melhoria resultante das condições de manejo e devido à seleção genética e ao emprego de touros de boa origem. CENTROS DE SELEÇÃO A raça Sindi é de introdução relativamente recente no Brasil. Coube ao Dr. Felisberto de Camargo, então Diretor do Instituto Agronômico do Norte, com sede em Belém, no Estado do Pará, trazer do Paquistão um lote constituído de 31 exemplares, entre machos e fêmeas, tendo em vista a formação de rebanho Zebu leiteiro para a Amazônia. Essa importação, realizada em 1952, constitui uma verdadeira epopéia e já foi relatada em livro e em revista. Anteriormente, haviam entrado no Brasil alguns representantes da raça nacional do Paquistão, principalmente em 1930, quando os “zebuzeiros” Francisco Ravisio Lemos e Manoel de Oliveira Prata efetuaram a famosa importação. Mantidos agregados por muitos anos, em Jardinópolis, e depois levado para uma fazenda da Araraquarense, os Sindhi multiplicaram-se em estado de relativa pureza. Desses dois núcleos iniciais, localizados em Belterra, no Pará, e em Novo Horizonte, em São Paulo, descendo todo o


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rebanho Sindi brasileiro, que estimamos atualmente em duas mil cabeças, entre animais adultos e produtos novos. Escola de Piracicaba Um pequeno lote constituído de 1 touro, 3 vacas, 1 garrote e 1 bezerro deu origem ao rebanho da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Esses animais haviam sido adquiridos particularmente por Felisberto de Camargo, que os doou a nossa Faculdade de Agronomia. O rebanho de Piracicaba tornou-se a fonte de reprodutores puros de origem, para outros núcleos que vieram a se formar em São Paulo e Estados vizinhos. Nos leilões anuais tem sido vendidos garrotes e mesmo reprodutores, que deram origem a novos centros de criação e seleção do gado Sindi. Permitiu também algumas observações zootécnicas que figuram em vários trabalhos técnicos. Fazenda Tabaju O maior rebanho de gado Sindhi, fora da Índia, encontra-se na Fazenda Tabaju, no município de Novo Horizonte, de região denominada Araraquarense, no Estado de São Paulo. Tem sua origem em alguns exemplares importados em 1930 e mantidos agregados por muitos decênios. Sua identificação como representantes da raça Sindi verificou-se em 1955, pelo criador José Cezário de Castilho, e foi confirmado por uma comissão de técnicos do Departamento da Produção Animal de São Paulo, que ainda puderam examinar o velho touro, então com mais de 26 anos de idade e já inútil para a reprodução. Essa longa existência garantiu certa uniformidade do rebanho e razoável caracterização dentro do padrão racial, pois dele descendia todo o gado, possuidor de acentuado índice de consangüinidade. Compreendendo o valor desse patrimônio, Castilho se dispôs organizar um plano de trabalho, visando o melhoramento da raça através da seleção. Adaptou convenientemente a fazenda, construiu currais e instalou balança. Para o controle do rebanho, marcou e identificou reprodutores e matrizes, e foi o primeiro criador a solicitar a presença da comissão de Registro Genealógico, para julgamento e inscrição dos exemplares considerados puros. O criador de Novo Horizonte, compenetrado da importância da raça Sindi em nosso panorama Pecuário, muito contribuiu para o conhecimento e expansão dessa variedade indiana. Vendendo alguns lotes de novilhas, possibilitou a formação de novos núcleos do gado vermelho, principalmente na zona Araraquarense. Participando das exposições de São José do Rio Preto e da Água Branca, em São Paulo, vem tornando a raça mais conhecida por criadores e técnicos que se dedicam aos Bos indicus. Localizado em região de gado de corte, não dispondo de mercado para a produção leiteira, Castilho não se preocupa com a aptidão lactífera, limitando-se a mandar ordenhar pequeno numero de vacas, para efeito de controle particular. Prefere deixar aos bezerros toda a produção de leite, pois seu objetivo imediato é o mercado de reprodutores, do qual depende a expansão da raça. Atualmente, os reprodutores machos são escolhidos entre os produtos que lhe cabem na criação em regime de parceria, estabelecido com o Departamento de Produção Animal e descendentes de animais importados, portanto de evidente pureza racial. Nos leilões da Escola de Piracicaba têm sido adquiridos tourinhos puros, para o plantel.


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A criação de Novo Horizonte conta presentemente cerca de 400 cabeças, puras, e apreciável contingente com vários graus de sangue Sindi. Na sede da Fazenda Tabaju começa a se acumular os troféus e prêmios obtidos em exposições de Novo Horizonte, Rio Preto e São Paulo, motivo de legitimo orgulho de um selecionador de Zebu. Fazenda Fortaleza No município mineiro de Arceburgo, na divisa com o Estado Bandeirante, o criador João Carlos Pedreira de Freitas iniciou a criação do gado Sindi com dois lotes de novilhas adquiridas do criador José Cezário de Castilho. Em Piracicaba, em leilão da Escola Agrícola “Luiz de Queiroz”, adquiriu o touro Símbolo puro de origem e filho de produtos importados, Salar II, com a reprodutora RS28. Criador caprichoso, submeteu o rebanho a excelente manejo, dando-lhe as melhores condições de ambiente, para que pudesse, assim, exteriorizar sua real capacidade de produção leiteira. Todo o rebanho é mantido em regime de campo, em pastagens muito bem cuidadas, e tendo sempre a sua disposição sal mineralizado e farinha de ossos. As vacas em produção são trazidas duas vezes por dia ao estábulo, quando são ordenhadas e recebem ração suplementar de concentrados, na base de meio quilo de farelo de algodão e meio quilo de farelo de trigo, para cada 3 quilos de leite produzido. Nos intervalos das ordenhas são soltas em pastos de Pangola ou Napier. A produção diária é controlada, pesando-se e registrando-se o resultado. Mensalmente é realizado o controle oficial, de leite e butirométrico, pelo Serviço de Controle Leiteiro da Associação Paulista de Criadores de Bovinos. Todo o rebanho Sindi é registrado no Serviço Genealógico, pela sociedade Rural do Triangulo Mineiro. Impressiona pela beleza, uniformidade de pelagem, tipo de produção leiteira. Até o presente já foram controladas 11 lactações, que apresentaram média de 2.274,011 quilos de leite, em 256 dias. A produção média diária, de 8.866 quilos, pode ser considerada ótima, equivalente a das raças Guzerá e Gir, selecionadas há mais anos. Destacou-se no rebanho a vaca Formosa, que aos 3 anos e 4 meses de idade, produziu 2.932 kg de leite, com 152,9 kg de gordura, ou 5,21%, em 364 dias de lactação, logrando inscrição no Livro de Mérito da A.P.C.B., Brauna, parida aos 2 anos e 9 meses, produziu em 273 dias, 2.640 kg de leite e 146 kg de gordura, alcançando inscrição nos Livros de Mérito e da Escol. O criador de Arceburgo acredita no Sindi e afirma que faltam em nosso país, unicamente, bons criadores. Relegada a plano secundário, a raça indiana encontrou em Novo Horizonte, Ribeirão Preto e Arceburgo, verdadeiros selecionadores. Essa raça, na opinião de João Carlos Pedreira de Freitas, esta fadada a ser fonte de reprodutores, para cruzamento com raças européias, na produção de rústicas e belas mestiças, base da produção leiteira na faixa intertropical. O SINDI DE RIBEIRÃO PRETO Interessado no Zebu leiteiro, a fim de atender as solicitações dos criadores, o antigo Departamento da Produção Animal estabeleceu um plano de formação e seleção de gado Sindi, partindo de um lote de vacas cedidas em 1958 pelo criador JOSÉ


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CEZÁRIO DE CASTILHO, para criação em regime de parceria. O Governo do Estado dispunha de touro puro, nascido em Fernando de Noronha e doado pelo Ministério da Agricultura para fins de cruzamento, que passou a servir as matrizes vindas de Novo Horizonte. O rebanho foi inicialmente localizado na Fazenda de Seleção de Nova Odessa, onde se dispunha de área e instalações suficientes para um trabalho intensivo com mais uma raça bovina. O programa prosseguiu com regularidade até 1963, quando a tradicional fazenda de Nova Odessa veio a ser transformada em Centro de Nutrição Animal. A secção de Genética Animal e Reprodução, a qual estão afetados os trabalhos de seleção leiteira das raça zebuínas, decidiu transferir o gado Sindi para nova Estação Experimental de Criação, onde já vinha se processado, com excelentes resultados, o melhoramento de um plantel Gir leiteiro. O estabelecimento integrante de rede de fazendas experimentais do Instituto de Zootecnia, esta situado a 2 quilômetros da saída da cidade de Ribeirão Preto, a margem da rodovia para Sertãozinho e Barrinha. De um lado é limitado pelo Ribeirão Vista Alegre, e de outro pela estrada para Dumont e Guatapará; nos fundos faz divisa com a Estação Experimental do Instituto Agronômico. Localizada em plena região de terra roxa (latossolo roxo), argila, com pH próximo a 6. O relevo é suavemente ondulado, com declive pouco acentuado. A estação dispõe de uma área de 1100 alqueires paulistas, equivalentes a 240 hectares e sua sede tem como coordenadas geográficas 21° 10’ e 42’’ de latitude sul e 47° 48’ e 24’’ de longitude oeste. A altitude média varia de 540 a 570 metros, no ponto mais alto. A precipitação média anual no ultimo qüinqüênio foi de 1323 mm, e a temperatura média anual é de 21,6°. Esta ligada a Capital por rodovia asfaltada, distando 314 km e é servida pela Estrada de Ferro Mogiana. A sede da Estação Experimental de Zootecnia de Ribeirão Preto é constituída do antigo recinto de exposições, construído pelo D.P.A. durante o Governo Fernando Costa, há quase 25 anos. Os pastos foram subdivididos, para melhor aproveitamento e para possibilitar a separação do rebanho em vários lotes. Mais próximos à sede estão o pasto-maternidade e os piquetes de bezerros novos. Nas pastagens predominam os capins Jaraguá, Pangola e Gordura, e outros em menor escala, havendo parcelas de leguminosas em consorciação com gramíneas. Dado o regime intensivo de criação, foram preparadas campineiras, especialmente de Napier, Guatemala, Colonião e área de cana forrageira. Planta-se , também, mandioca e batata doce para arraçoamento do gado e cuida-se de iniciar a cultura do milho. Manejo do gado A Secção de Genética Animal e Reprodução, a qual esta subordinada técnica e administrativamente a Estação Experimental, estabeleceu normas para o manejo do rebanho, de acordo com os princípios estabelecidos pela Zootecnia moderna. Decidiu-se que o rebanho deve ser criado e mantido em regime de campo, o mais condizente às nossas condições econômicas, pois não se pode perder de vista o fato de que uma das vantagens do gado de origem indiana é, justamente, viver e produzir nas condições impostas pela natureza nas regiões tropicais e subtropicais.


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Deve-se, por isso, evitar a adoção de um regime artificial, geralmente exigido pelas raças européias especializadas, não adaptadas em nosso meio, tornando antieconômico a exploração do leite. Na última quinzena do período de gestação, as vacas são levadas para o piquetematernidade e diariamente recolhidas ao estábulo, para observação, amansamento e trato, recebendo pequena ração. Este piquete situa-se próximo à sede, evitando movimentação das gestantes e permitindo maior fiscalização das reprodutoras e crias novas. Logo após a parição, o bezerro tem o umbigo curado, é pesado e procede-se ao seu registro. Nos cinco primeiros dias ele mama naturalmente, a fim de aproveitar o colostro; daí para diante tenta-se o aleitamento natural, em baldes-mamadeira, recebendo o equivalente a 1/10 de seu peso, metade pela manhã e metade a tarde, até o limite sem o bezerro são ordenhadas diariamente, deixando-se um ou dois tetos para a cria, e rodízio diário, conforme sua capacidade de produção. A medida que o bezerro vai atingindo dois meses, o leite integral vai sendo substituído pelo desnatado, recebendo ainda pequena ração de concentrados; passa a maior parte do tempo nos piquetes e pastos, onde vai se habituando com a alimentação natural. As vacas em lactação são recolhidas duas vezes por dia ao estábulo, para a ordenha; as 6 e as 16 horas. Recebem então pequena ração de concentrados, calcula pela produção de leite; são escovadas e ordenhadas, voltando ao pasto. Durante o dia, os touros permanecem soltos em piquetes onde recebem as vacas em cio, sendo à noite recolhidos ao “box” individual. Outros touros permanecem no campo com as vacas secas, vindo todos ao curral uma vez por semana para observação. No período de seca recebem cana e capins picados. O sistema de cobertura é o natural. Os bezerros são desmamados aos 8 meses, mas continuam a vir ao estábulo até os 305 dias, para efeito de controle de produção de leite das reprodutoras. As novilhas entram para a reprodução após os 30 meses, desde que tenham atingido 300 quilos de peso vivo. A pesagem, que se inicia logo após o nascimento, é efetuada mensalmente, até os 24 meses; depois, aos 36, 42 e 48 meses. As vacas são pesadas após o parto e quando terminam a lactação. Os garrotes reservados para a reprodução recebem o mesmo trato dos touros. Diariamente são escovados e uma vez por semana lavados com água e sabão. A direção do estabelecimento se empenha em manter o gado sempre bem cuidado, livre de parasitos e principalmente, em boas condições de alimentação, a fim de que as reprodutoras possam manifestar toda sua capacidade de produção, facilitando a identificação das linhagens e famílias de elevada aptidão. Todas as ocorrências, padreações, nascimentos, pesagens, estado de saúde, comportamento na reprodução e outros fatos relativos ao rebanho são registrados diariamente em agendas, que constituem o histórico do gado, indispensável ao trabalho de seleção. Fomento


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O gado Sindi vem respondendo perfeitamente aos estímulos de seleção, tanto no que se refere ao desenvolvimento ponderal, fertilidade, rusticidade e outros característicos de ordem econômica, como na produção leiteira. Os mestiços engordam bem, nas condições normais de pastagens, e o rendimento no corte é idêntico ao de outras raças zebuínos, o mesmo acontecendo em relação a qualidade de carne. Há vários anos o Departamento da Produção Animal vinha vendendo em seus leilões anuais os excedentes às suas necessidades. O destino normal de seus garrotes é servirem em cruzamento com as raças aperfeiçoadas de origem européia, ou mesmo a formação de novos núcleos de gado Sindi, que começam a surgir no Estado. O Instituto de Zootecnia vai intensificar os trabalhos coma a raça do Paquistão, tendo em vista suas possibilidades como raça de aptidão mista, adequada as nossas condições regionais. SELEÇÃO DO SINDI Estamos iniciando a criação de uma nova raça Zebuína introduzida no Brasil. Não podemos repetir com ela os erros que foram cometidos e ainda se cometem com o Zebu, retardando o seu melhoramento em conseqüência do excesso de atenção dada a ponto de nenhuma expressão econômica, com prejuízos da característica de produção. A seleção, a nosso ver, devera ser funcional. A produtividade será de importância fundamental nos trabalhos seletivos; pela capacidade de produzir leite serão escolhidas as reprodutoras, e os filhos das melhores leiteiras serão os futuros chefes de rebanho. As linhagens que não revelaram aptidão leiteira deverão ser aproveitadas na produção de gado de corte. Com trabalho e bom senso, podemos fazer do Sindi um grande rebanho. Indiscutivelmente, a entrada da raça Sindi acentua a importância do Brasil como grande centro de criação e seleção das raças Zebuínas. E o fornecimento de reprodutores selecionados para os países situados na faixa intertropical pode vir a constituir uma valiosa fonte de renda e divisas para a nação.


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