Revista ABD Conceitual #15 | Dividir para Multiplicar

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DEZEMBRO/2015

#15

CONCEITUAL

DIVIDIR PARA MULTIPLICAR


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Acquablock é perfeito para renovar a decoração e adicionar mais estilo ao seu dia a dia. Um tecido com a exclusividade de ser impermeável, que protege contra a ação do sol, repele a água e traz mais cor e vida para os ambientes internos ou externos. Renove-se com tecidos e estampas incríveis. Um toque de felicidade na sua casa.




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EDITORIAL

EXPEDIENTE Publishers André Poli e Roberta Queiroz Conselho Editorial Fabio Galeazzo e Renata Amaral Edição e Arte Marcos Guinoza Colaboradores Alvaro Tedesco, João Lourenço Revisão Luciana Sanches Jornalista Responsável Marcos Guinoza MTB 31683 Publicidade Comercial Rosane Gulhak | rosane@abd.org.br VELVET EDITORA LTDA. Tel.: 11 3082-4275 | www.velveteditora.com.br ABD Associação Brasileira de Designers de Interiores Tel.: (11) 3064-6990 | www.abd.org.br

BOAS NOVAS Amigos, É com alegria que comemoro o fim deste ano velho e a chegada do próximo. Que 2016 nos traga boas novas. Como bem disse Drummond no poema “Tempo”, “quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial”. “Doze meses”, diz o poeta, “dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos”. Mas, aí, entra em cena “o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar”. Nós, da ABD, acreditamos. E, com a esperança sempre renovada, seguiremos firmes e fortes em nossa missão de fazer do design de interiores uma profissão cada vez mais respeitada e requisitada. Esta edição de ABD Conceitual, a última de 2015, chamamos de “Dividir Para Multiplicar” e nela falamos sobre a origem do biombo e as várias formas de dividir os ambientes sem erguer paredes. Na seção “Vitrine”, temos a designer Bianca Barbato. Em “Entrevista”, conversamos com Waldick Jatobá, curador da feira Made. Temos, ainda, as dez coisas que você precisa saber sobre o designer de interiores Piet Boon e uma matéria sobre cortinas. Para finalizar, volto a Drummond: “Gostaria de lhe desejar tantas coisas. Mas nada seria suficiente... Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos. Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto ao rumo da sua felicidade”. Feliz ano novo e até 2016!

CORPO DIRETIVO ABD Presidência: Renata Amaral Vice-presidência: Marcia Kalil, Ricardo Caminada, Bianka Mugnatto, Jéthero Miranda Conselho Deliberativo | Membros Efetivos: Carolina Szabó (presidente), Francesca Alzati (SP), Silvana Carminati (SP), Maurício Peres Queiroz dos Santos (SP), Alexander Jonathan Lipszyc (SP), Renata Maria Florenzano (SP), Rosangela Larcipretti (SP), Joia Bérgamo (SP), Lucy Amicón (SP), Carlos Alexandre Dumont (MG), Jaqueline Miranda Frauches (MG), Paula Neder de Lima (RJ), Luiz Saldanha Marinho Filho (RJ), Flávia Nogueira da Gama Chueire (RJ) Conselho Deliberativo | Suplentes: Nicolau da Silva Nasser (SP), Paula Almeida (SP) Conselho Fiscal | Membros Efetivos: Maria Fernanda Pitti (SP), Fabianne Nodari Brandalise (PR), Catia Maria Bacellar (BA), Delma Morais Macedo (BA) Conselho Fiscal | Suplente: Daniela Marim (SP) Diretora Executiva: Alessandra Decourt Sugestões falecom@abd.org.br

Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da revista.

CAPA: ANDRÉ POLI

RENATA AMARAL, presidente da ABD

10 ABD CONCEITUAL DEZEMBRO/2015


2015 foi um ano de grandes resultados para a ABD e seus associados

162 eventos realizados em todo o Brasil

2 novas regionais, totalizando 10 regionais ABD

Lançamento do livro

Brasil Porta Adentro Sucesso em 3 comissões

a favor da regulamentação profissional

Associe-se a ABD e faça parte dessas conquistas!

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Acreditamos que possuir coisas belas também nos torna belos” Deyan Sudjic, no livro Design, A Linguagem das Coisas

SUMÁRIO

BIANCA BARBATO/14

O QUE OS OLHOS NÃO VEEM /24

A BELEZA DA MADEIRA/36

DIVIDIR PARA MULTIPLICAR/18

A ORIGEM DO BIOMBO /20

ANGELO DERENZE/34 WALDICK JATOBÁ/28

PEQUENAS GRANDES CASAS/35

ERIN M. RILEY/40

PIET BOON/48

POR TRÁS DA CORTINA/44

SANTIAGO SALVADOR/50

ABD CONCEITUAL | #15 | EDIÇÃO DIVIDIR PARA MULTIPLICAR

12 ABD CONCEITUAL DEZEMBRO/2015


LANÇAMENTO


yVITRINE

BIANCABARBATO TEXTO MARCOS GUINOZA

14 ABD CONCEITUAL DEZEMBRO/2015


MINUCIOSA E PERFECCIONISTA DESIGNER AUTODIDATA, a paulistana Bianca Barbato iniciou carreira no Rio de Janeiro, onde morou durante sete anos. Foi lá que abriu seu estúdio de design, em 2006. De volta a São Paulo, Bianca segue criando mobiliário e luminárias inspirados na cultura brasileira. Os títulos das séries de peças assinadas pela designer entregam essa brasilidade à flor da pele: Sagu, Cabaça, Renda. Esta, composta por cadeiras, poltronas e mesas de aço carbono, tem como referência as rendas de bilro feitas pelas mulheres do Ceará. Cabaça, série de luminárias pendentes de resina moldada, é inspirada nas cabaças indígenas. Minuciosa e perfeccionista, admiradora da geometria modernista e da face orgânica das construções, Bianca é uma estudiosa de matérias-primas. “Meu trabalho é experimentar materiais, no estúdio o clima é de laboratório.” Atualmente, ela tem se dedicado aos metais: aço, latão, cobre, inox. Mas já produziu peças de acrílico, madeira, resina e azulejo. Brincando com a oposição entre o artesanal e o industrial, experimentando tecnologias e buscando criar peças que deixem o espaço mais confortável e pessoal, a designer desenvolveu uma linguagem única, de formas nostálgicas, lúdicas e acolhedoras. Bianca falou com ABD Conceitual.

CABAÇA Série de luminárias pendentes feitas de resina moldada e inspiradas nas cabaças indígenas, 2015


RENDA Série de poltronas, cadeiras e mesas com desenho inspirado nas rendas brasileiras, 2015. Abaixo, TRAMAS Série de mesas feitas de marchetaria geométrica de metal, 2015

ca, e colocando a mão na massa. Eu me envolvo em cada etapa do processo de produção. Estudo bem como cada material vai se comportar naquele objeto. Ao criar, interajo com as padronagens e geometrias possíveis, como um quebra-cabeça, por isso, elas têm um quê de lúdico. Não me imagino fazendo um objeto sem identidade, crio o que tem a ver com a minha personalidade e com o meu estilo. DE ONDE VEM SUA INSPIRAÇÃO?

QUAL OBJETO QUE JÁ EXISTE VOCÊ GOSTARIA DE TER CRIADO?

Não consigo pensar em um objeto que eu gostaria de ter criado, mas tem coisas de que gosto muito e que me surpreendem pela originalidade. Cada objeto tem sua própria história para ser contada.

Meu processo criativo varia de acordo com cada peça. Geralmente, escolho o material com que quero trabalhar e, durante a pesquisa dos métodos de fabricação, que podem ir do artesanal ao industrial, a inspiração vem. A ideia sempre começa de uma teimosia, e a peça se desdobra nesse percurso. DE TODAS AS PEÇAS QUE JÁ CRIOU, QUAL ESCOLHERIA PARA DEFINIR SEU TRABALHO?

VOCÊ TEM UM OBJETO DE ESTIMAÇÃO?

Tenho várias coisas que garimpei pela vida, algumas obras, badulaques. Esses objetos têm valor sentimental, e eu não venderia por valor nenhum. VOCÊ SEGUE REGRAS NA HORA DE CRIAR?

16 ABD CONCEITUAL DEZEMBRO/2015

FOTOS DIVULGAÇÃO

Não sigo exatamente uma regra, mas a disciplina e o comprometimento com o objeto e a criação não deixam de ser uma regra. Geralmente, os materiais são os protagonistas nas experimentações. A descoberta acontece durante o processo construtivo, com a práti-

É difícil definir meu trabalho por uma peça, penso que elas dialogam entre si e que consegui desenvolver uma linguagem única. No caso das mesas da série Tramas, há certa associação com o universo da joalheria e suas preciosidades. Feitas de metais nobres (latão, cobre ou inox), têm o tampo marchetado com as peças cortadas a laser. Uso dois tipos de acabamento na marchetaria, polido e escovado, para que ressaltem o efeito tridimensional do tampo. Essa característica também está presente em outras peças da minha coleção.


“Não me imagino fazendo um objeto sem identidade, crio o que tem a ver com a minha personalidade e com o meu estilo” SAGU Série de mesas de canto, apoio e centro com tampo que possibilita a transformação da peça depois de pronta, 2007 TEM SONHOS DE CONSUMO DE PEÇAS DE OUTROS DESIGNERS?

Tenho vários. Não só peças de design, mas de arte como um todo e outras coisas. Gosto de colecionar. COM QUAL MATÉRIA-PRIMA VOCÊ MAIS GOSTA DE TRABALHAR?

Meu trabalho é experimentar materiais, no estúdio o clima é de laboratório. Atualmente, estou trabalhando bastante com metais (aço, latão, cobre, inox). Gosto de brincar com a oposição entre artesanal e industrial. Hoje, a máquina corta e dobra o metal como se fosse papel, e as possibilidades que surgem são superinstigantes. COMO DEFINE CRIATIVIDADE?

A criatividade é uma habilidade natural, divergente e construtiva. É uma característica da personalidade de quem tem percepção e capacidade intuitiva ou curiosidade intelectual. A originalidade, no design, não pode abrir mão da função técnica a que se propõe. Ela não caminha se não tiver uma boa equipe para executar e persistir em alcançar o objetivo. COM QUAIS AMBIENTES SUAS PEÇAS COMBINAM MELHOR?

Isso não sou eu quem pode dizer, mas minhas peças são funcionais e podem se adequar a vários ambientes. BIANCABARBATO.COM


yINSIDE

dividir para multiplicar TEXTO MARCOS GUINOZA

18 ABD CONCEITUAL DEZEMBRO/2015


Um pode virar dois. Dois podem virar quatro. Quatro podem virar oito. E assim por diante. Multiplicando, somos mais fortes. DIVIDIR é partir ou separar o todo em partes. DIVIDIR é demarcar, estabelecer a limitação entre. DIVIDIR também é compartilhar. E não há palavra mais necessária, hoje, no mundo que compartilhar. Compartilhar a água do planeta. Compartilhar conhecimento. Compartilhar gentileza. Compartilhar o espaço público. Compartilhar “o amor para multiplicar solidariedade”. DIVIDIR, no design de interiores, é separar os ambientes, não necessariamente levantando paredes – de preferência, sem levantar paredes. Paredes comprometem o convívio, impedem a passagem do vento, bloqueiam a luz. Nos últimos anos, seja para driblar a falta de espaço nos congestionados centros urbanos, seja para propiciar melhor interação entre os moradores, as paredes vêm sendo derrubadas, resultando em ambientes abertos, integrados e multifuncionais. Mas o que é sala, o que é cozinha e o que é quarto em lugares onde tudo está junto e misturado? Para delimitar as funções de cada ambiente, existem vários elementos que, usando um pouco de imaginação, podem ocultar sutilmente os espaços ou apenas sinalizar a mudança de usos. Biombos, divisórias, cortinas, tapetes e móveis, mas também o piso, o teto e a iluminação podem marcar visualmente os ambientes, “separando” as áreas, indicando onde começa uma e termina a outra. Em um momento histórico, em que a palavra do futuro é escassez, talvez seja a hora de nos perguntar: de quanto espaço e coisas realmente precisamos para viver bem?


yBIOMBO

a origem

do biombo 20 ABD CONCEITUAL DEZEMBRO/2015


Biombo japonês

MÓVEL MULTIUSO, O BIOMBO FOI INVENTADO PELOS CHINESES, APROPRIADO PELOS JAPONESES E CHEGOU À EUROPA NO SÉCULO 17 TEXTO ALVARO TEDESCO


Biombo COROMANDEL

F

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e conhecidas como kuancai, apareceram no fim da dinastia Ming (1368-1644). Por volta do século 8, o biombo atravessou o mar e foi parar no Japão, onde recebeu o nome de byobu – expressão que significa, literalmente, “proteção contra o vento”, e deu origem à palavra biombo. Com o tempo, a estrutura e o design do byobu evoluíram, novas técnicas e materiais começaram a ser utilizados na manufatura e a peça foi ganhando características japonesas, afastando-se dos padrões chineses. O biombo tradicional japonês é feito com papel washi, madeira fina ou bambu e folhas de ouro. Pintada à mão, a peça tem produção 100% artesanal. No Japão, é usada para diversos fins. Além de divisor de ambientes e barreira contra o vento, serve como tela de fundo para arranjos florais (ikebana) e costuma acompanhar a cerimônia do chá. Existem até classificações que separam o biombo de acordo com o número de painéis e com a utilização ou tema. O biombo com um único painel é chamado

FOTOS REPRODUÇÃO

alam que Coco Chanel possuía cerca de 32 biombos chineses. Alguns decoravam o famoso apartamento da estilista, na Rue Cambon, em Paris. Eram biombos dos séculos 18 e 19, conhecidos como Coromandel e feitos de madeira coberta de laca preta e adornados com desenhos gravados à mão. O nome é uma referência à Costa de Coromandel, faixa marítima no sudeste da Índia de onde as mercadorias chinesas saíam para seguir em direção à Europa. Sobre esses biombos, Coco disse: “Eu quase desmaiei de alegria quando, ao entrar em uma loja, vi um Coromandel pela primeira vez”. Assim como o macarrão, o papel e a pólvora, o biombo é uma invenção chinesa. Surgiu na China durante a dinastia Han (206 a.C.-220 d.C.) e se tornou popular séculos depois, já na dinastia Tang (618-907). Era feito de papel, seda ou madeira e servia de tela para pintura e caligrafia. Havia dois tipos de biombo: um conhecido como huaping (“pintura em tela dobrável”) e outro chamado shuping (“biombo caligrafado”). As técnicas de laca, aplicadas no Coromandel


ARTE NAMBAN

Biombo estilo LUIS XV

tsuitate byobu. Há os de dois painéis (nikyoku byobu), quatro (yonkyoku byobu), seis (rokkyoku byobu) e dez. Este, o jukyoku byobu, é colocado em ambientes grandes, como lobbies de hotel e salas de convenções. Segundo a utilização ou tema, o biombo também recebe nomes diferentes: furosaki byobu (usado em cerimônias do chá), ga no byobu (para celebrar a longevidade), shiro-e byobu (cerimônias de casamento e quartos de bebê) e makura byobu (para preservar a privacidade). Fora o uso decorativo e funcional, o biombo, no Japão, serviu de tela para importantes artistas, como Ogata Korin (1658-1716) e Ito Jakuchu (1716-1800). O Biombo das Ameixeiras, de Ogata, considerado tesouro nacional do Japão, integra o acervo do Museu MOA de Belas Artes, em Atami. Saindo da China e do Japão, o biombo chegou à Europa no século 17 e, dali, ganhou o mundo. Se, no passado, era usado principalmente para conferir privacidade à troca de roupa e para proteger contra o vento, hoje, polivalente e versátil, com uma grande variedade de estilos – do clássico ao moderno – o biombo desempenha diferentes funções no design de interiores. É espécie de peça curinga, podendo ser usado para separar ou integrar ambientes, para esconder parte de uma sala, na cabeceira de camas ou, como fazia Coco Chanel, apenas como item decorativo.

Os portugueses desembarcaram pela primeira vez no Japão em 1543, na ilha de Tanegashima, no sul do país. Desse encontro com os “bárbaros do sul” (namban-jin, como eram chamados os portugueses), os japoneses criaram a Arte Namban, produzida entre a última metade do século 16 e a primeira metade do século 17. Além de escultura, cerâmica, mobiliário, porcelana e objetos lacados, fazem parte dessa manifestação artística muitas obras de pintura em biombos, o núcleo central da Arte Namban. Essas pinturas, ligadas principalmente à arte sacra e à evangelização (influência dos jesuítas) são como “fotografias daquele período”, retratando cenas da chegada dos portugueses ao Japão (naus, costumes, vestuário etc.), e fazem parte do acervo de importantes museus de ambos os países.

No alto, detalhe de biombo da ARTE NAMBAN


yDIVISÓRIAS

o que os OLHOS não veem TEXTO FABIO GALEAZZO

ALÉM DE SOLUÇÃO PRÁTICA utilizada para demarcar ou separar os ambientes de maneira leve e despojada, as divisórias são estruturas mágicas que despertam suspiros em qualquer decoração. Quem nunca exclamou um “a-ha!” ao dar de cara com um balcão separando a cozinha da sala? Biombos e aparadores aguçam a nossa curiosidade e nos fazem querer saber o que tem do outro lado. Um simples degrau que separa os ambientes chama a atenção dos nossos olhos, interrompendo a caminhada, forçando os pés e a mente a refletir. Para que lado vou? O que tem atrás disso? Como chego àquele lugar? Que ideia genial! Nossa, que legal! Eu já vim várias vezes neste lugar, mas nunca tinha reparado neste detalhe! Divisórias são mágicas porque tencionam a relação entre pés e olhos, um passa a depender do outro, equilibrando os sentidos da visão e do tato, pois os pés deixam de ser escravos dos olhos e simples condutores, já que não podem seguir em direção ao que o olho vê. Ao caminhar em direção ao ambiente oposto, as divisórias travam a passagem, o olho perde o ambiente de vista, deixamos de andar em linha reta e os pés passam a levar os olhos por rotas mais circulares e indiretas, onde alternadamente o pé leva o olho e o olho instrui o pé. Quanto mais dissociarmos os pés dos olhos, maior será o número de experiências, fortalecendo o vínculo afetivo com o lugar. Não é à toa que, recentemente, espaços comerciais, como lojas, hotéis e supermercados, abandonaram o layout tradicional de criar passagens em linha reta, como se fosse uma avenida, forçando o pé a caminhar sobre aquilo que o olho já percorreu. É cada vez mais comum visitar uma livraria e “tropeçar” em poltronas ou móveis arrumados propositadamente no meio do caminho, obrigando-nos a escolher: sentamos para ler ou nos desviamos em busca do novo? Quando pés e olhos agem separadamente, deixamos de fazer as coisas automaticamente e nos lembramos de como é bom ter surpresas.

24 ABD CONCEITUAL DEZEMBRO/2015


ftapetes Fazem um recorte no piso, delimitando o espaço, sem fechá-lo, dando uma sensação de conforto ao marcar onde começa e termina o ambiente.

fbiombos Por serem móveis, podem ser mudados facilmente de lugar. Setorizam o espaço ao manter determinado local parcialmente fechado ou promover mais privacidade quando necessário. Há ainda biombos vazados, que permitem maior integração dos ambientes.


hbalcões/ bancadas São usados, geralmente, para separar a cozinha ou bar da sala de estar. E ainda podem servir como mesa para refeições ou drinques.

#estantes São ótimas opções de divisórias. Além de separar os ambientes, são funcionais, podendo acomodar itens como livros e objetos decorativos. Vazadas, aumentam a sensação de amplitude, sem bloquear totalmente a visão.

#cortinas Em janelas, protegem contra a incidência excessiva de luz solar. Mas também são usadas para demarcar ambientes internos.

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#teto Usando detalhes diferentes em cada espaço, marca visualmente os ambientes.

faparadores Assim como as cômodas e os bufês, são muito usados atrás do sofá para delimitar os espaços da sala de estar e das salas de TV ou de jantar, mantendo a visibilidade entre os ambientes.

#piso A mudança de piso de um espaço para o outro pode se dar utilizando revestimentos diferentes ou alterando a altura do piso.

fpainéis vazados Proporcionam transparência e ventilação e separam os espaços sem isolá-los.


yENTREVISTA

FOTO DIEGO GUERRA TEXTO JOÃO LOURENÇO

MADE

IN BRAZIL 28 ABD CONCEITUAL DEZEMBRO/2015


Quando trabalhava no Banco Privado Português, WALDICK JATOBÁ contribuiu para a formação de um fundo de investimento em arte contemporânea no qual as obras eram compradas com o apoio de um curador. A instituição fechou as portas e ele resolveu se dedicar a uma paixão antiga: o mercado de arte e design. “Desde a adolescência, tinha o hábito de ir a museus, frequentava galerias de arte. Era uma coisa muito natural. Coleciono arte desde os 17 anos.” Nascido em Salvador, formado em economia, Jatobá transformou o hobby em projetos e iniciativas que visam alavancar o cenário do design nacional. Em 2011, ele lançou o Salão Design São Paulo, que, em dois anos, desdobrou-se na primeira edição do Made (Mercado Arte Design), a primeira feira de design e arte internacional do Brasil. “Criei o Made para ser uma plataforma não só para trazer designers e galerias para vender produtos de edição limitada, mas também para ser um local onde haja o lançamento de ideias.” Realizada anualmente no Jockey Club de São Paulo, a feira apresenta ao longo de cinco dias uma seleção do design nacional e internacional, além de promover palestras, seminários e exposições. Jatobá já começa a planejar a próxima edição do evento. “Acredito que 2016 vai ser um ano difícil para todo mundo e penso que, cada vez mais, temos que utilizar nossa criatividade para criar e fazer as coisas com muito menos. Por isso, o minimalismo é o tema principal que estou trabalhando no momento.” Waldick Jatobá conversou com ABD Conceitual.


“VEJA OS IRMÃOS CAMPANA. ELES UTILIZARAM BICHOS DE PELÚCIA EM UMA POLTRONA. A DIVERSIDADE CRIATIVA E A DIVERSIDADE DE UTILIZAR MATERIAIS BANAIS PARA NOVOS USOS TALVEZ SEJAM AS CARACTERÍSTICAS MAIS FORTES NO DESIGN BRASILEIRO”

VOCÊ VIAJA O MUNDO EM BUSCA DO NOVO DE-

O INTERESSE POR DESIGN CRESCE NO BRASIL. POR

SIGN. QUAL A SUA MAIOR FONTE DE INSPIRAÇÃO?

QUE O JOVEM PROFISSIONAL AINDA ENFRENTA

Apesar de o mundo estar mais conectado, mais cibernético e automático, eu ainda sou da velha guarda. Nada melhor do que o relacionamento humano, de você interagir com as pessoas. Vamos lá: nove entre dez coisas bacanas estão na internet, mas uma está na boca dos amigos. Acho que a minha maior fonte de inspiração vem das minhas amizades. Conhecer pessoas, opiniões diferentes, cultivar amigos e relacionamentos é algo de grande valia. Até as revistas que assino, por exemplo, só assino porque um amigo ou outro indicou.

TANTAS DIFICULDADES?

Trata-se de uma indústria jovem. Está crescendo, as pessoas estão prestando mais atenção, mas o conceito de design colecionável no Brasil ainda é muito novo. O jovem, pelo próprio caráter de ser jovem, vai encontrar todas as dificuldades imagináveis. Essa dificuldade é por conta da falta de oportunidade que você tem dentro do país. Além do Made, não vejo nenhuma plataforma que fomente e abrigue esses jovens para lançar seus produtos anualmente. SOBRE O DESIGN COLECIONÁVEL, O QUE FAZ UMA

EM RELAÇÃO AO CONSUMO DE DESIGN E ARTE NO

PEÇA DE DESIGN SER CONSIDERADA ARTE?

BRASIL, QUAIS AS MAIORES MUDANÇAS QUE PER-

Ela tem que ter conceito e apelo estético muito fortes. Não que seja belo, mas no sentido estético de que venha a incomodar os olhos da pessoa que está vendo. Ela precisa ter o conceito de criação. Ou seja, é você criar uma peça de arte que tenha uma função, que não seja apenas para enfeite. O material também é muito importante para que essa peça seja considerada arte. A peça tem que ter um destaque para o material, o conceito e o processo criativo. E,

CEBEU NOS ÚLTIMOS ANOS?

Sem nenhuma pretensão, acredito que o Made tem contribuído muito para essas mudanças. É importante ter um espaço para que esses jovens designers possam mostrar suas criações. Se você pegar as listas dos 200 designers mais importantes do mundo, encontra vários brasileiros em posições de destaque. Pessoas que estão no Brasil e que criam aqui. Isso dá um gás para o mercado. 30 ABD CONCEITUAL DEZEMBRO/2015

sobretudo, tem que ter tido a participação das mãos do designer. Ela pode até ter um processo semi-industrial, mas a finalização tem que ser artesanal. Assim, você consegue valorizar a produção de uma pequena quantidade de peças. QUAL A ESSÊNCIA DO DESIGN BRASILEIRO? COMO ELE É RECONHECIDO PELO MUNDO?

Isso é bastante relativo. Se você pensar nos anos 1940 e 1950, por exemplo, eu diria que a grande característica do design brasileiro estava no uso das madeiras nobres, como o jacarandá. Isso distinguiu muito o design brasileiro. Era a combinação do desenho modernista com o uso de madeiras nobres. Hoje, não acho que existe uma característica que entrega “esse é o modelo brasileiro”. Vejo isso mais como um conjunto de fatores. O design brasileiro é muito espontâneo, as criações, na maioria, têm uma pegada de humor, têm uma alegria que enriquece o ambiente. O Brasil tem essa característica de buscar novos usos para materiais que já existem. Veja os irmãos Campana. Eles utilizaram bichos de pelúcia, que, geralmente, são comprados para bebês ou para enfeitar o quarto, e transformaram esses bichos


Imagens da feira Made

em uma poltrona. A diversidade criativa e a diversidade de utilizar materiais banais para novos usos talvez sejam as características mais fortes no design brasileiro. VOCÊ JÁ AFIRMOU QUE ARTE TAMBÉM É UM INVESTIMENTO E QUE NINGUÉM INVESTE SEM ESTAR SEGURO DO QUE ESTÁ COMPRANDO. VOCÊ PODERIA FALAR UM POUCO SOBRE ISSO?

Quando você tem vontade de fazer alguma coisa no mercado de arte, não pode pensar em arte como um investimento. Quem pensa em investir em arte para ganhar dinheiro não é um colecionador, mas um investidor ou um especulador que está testando o mercado. Acredito que a paixão pela arte é a primeira motivação para que você possa começar a colecionar. Agora, óbvio que ninguém tem dinheiro para jogar pela janela. Por isso, sempre digo que a arte é um bom investimento. Você tem que estar atento a boas oportunidades, a bons artistas e, principalmente, a bons galeristas, pois são eles que lançam e acompanham os artistas no mercado. VOCÊ FICOU CONHECIDO POR ACOMPANHAR O PROCESSO CRIATIVO DOS ARTISTAS QUE VOCÊ

COLECIONA E APOIA. QUAL A IMPORTÂNCIA DESSA PROXIMIDADE?

É importante entender como o artista participa da linha de criação. Gosto de trocar ideias e saber detalhes, entender todas as etapas do processo. Também é importante entender o artista como um ser humano, para que, então, eu possa ter obras que venham a constatar aquela amizade ou interação que tive com o artista. Cerca de 90% da minha coleção é formada por artistas que conheço. Isso complementa a obra. Não gosto de comprar por comprar. EM 2013, VOCÊ LANÇOU O MADE. FALE SOBRE A IDEIA INICIAL DO PROJETO.

Criei o Made para ser uma plataforma em que você possa não só trazer designers e galerias para vender produtos de edição limitada, mas também para ser um local onde haja o lançamento dessas ideias anualmente. Óbvio que isso sozinho não se sustenta. Então, o Made tem também a prerrogativa de ser um espaço em que você possa discutir o design, ver o design por meio de exposições e instalações. A minha preocupação é sempre com o compartilhamento de informação. Dou acesso para todo mundo que

entra na feira, não apenas para comprar as peças de design, mas também para quem está lá para ver a exposição. A proposta do Made é ter uma plataforma para criar e falar sobre design na mais ampla possibilidade. QUAIS AS MAIORES DIFICULDADES QUE VOCÊ ENFRENTOU PARA LANÇAR UMA FEIRA DESSE PORTE NO BRASIL?

No Brasil, quando você fala em fazer cultura, você tem dificuldades que vão ao infinito. Uma delas é que não tenho o apoio do governo, nenhum tipo de incentivo. Todo ano, procuro trazer entre seis e dez designers internacionais para o Made. Fora isso, a feira também tem três exposições de design internacional. É um orçamento grande para compartilhar cultura. Ou seja, ir atrás de patrocínio é uma dificuldade constante, pois não consigo fazer uma feira apenas com recursos de venda de espaço. Graças ao apoio de parceiros fiéis como Bradesco, Mitsubishi, Tok&Stok e Electrolux, consigo fazer essas loucuras todas. QUAL O MAIOR APRENDIZADO QUE O MADE TE PROPORCIONOU?

Ver que que estou no caminho certo. À me-


dida que dou oportunidade a esses jovens e os vejo felizes, podendo participar de uma coisa em que acreditam, algo que é sério, que tem um pensamento de continuidade. Isso é um grande aprendizado para mim, pois me motiva a continuar no caminho. O Made está dando efeito pelo menos para essa juventude que precisa se colocar e se afirmar no mercado. E O QUE ESPERAR NAS PRÓXIMAS EDIÇÕES?

32 ABD CONCEITUAL DEZEMBRO/2015

cidade que me inspirou bastante. Desde adolescente, tinha o hábito de ir a museus, frequentava galerias de arte. Era uma coisa muito natural. O QUE PODEMOS ENCONTRAR NA SUA COLEÇÃO?

COMO SUA VISÃO FINANCEIRA INFLUENCIOU A FORMA COMO VOCÊ TRABALHA E CONSOME ARTE E DESIGN?

Sou economista. Essa formação me ajudou a ser mais pragmático, direto e verdadeiro. Como já disse, ninguém gosta de jogar dinheiro fora. Então, você tem que comprar dentro de uma condição que você possa bancar, dentro de uma relação de entender o mercado para ver se aquilo é justo ou não. E esse conhecimento eu levo para a minha vida pessoal e para o meu projeto de feira de design. VOCÊ COLECIONA ARTE DESDE OS 17 ANOS. QUANDO O LADO CRIATIVO DESPERTOU EM VOCÊ?

Não consigo identificar o momento exato. Nasci e fui criado em Salvador, uma cidade que foi berço de todas as manifestações criativas do Brasil. Salvador foi a primeira cidade a ter uma influência de origem africana, porque a grande imigração de escravos chegou a Salvador e, logo, eles foram distribuídos pelo Nordeste. Eles trouxeram cultos, arte, música. Então, acho que Salvador é uma

Houve uma transição na minha coleção. Quando comecei, estava mais focado nos modernistas. Então, tinha um olhar voltado para as referências regionais. Tinha Carybé, Di Cavalcanti, artistas modernistas. Em um determinado momento, senti a necessidade de entender melhor o processo dos artistas, mas aquelas pessoas não existiam mais ou já estavam morrendo. Na virada de 2000, vendi toda a minha coleção, com exceção de um dos primeiros quadros que comprei. Troquei por arte contemporânea. Isso foi um marco muito forte na minha coleção. De 2000 para cá, tentei concentrar primeiro em fotografia e, depois, fui pontuando com desenhos, pinturas e vídeos. Sempre mantive um alinhamento entre a minha coleção. Hoje, ela é constituída de obras de pequeno formato. Não tenho nada contra trabalhos grandes, mas o lugar deles é em galerias, em espaços amplos e não na minha casa. Brinco que tenho pequenos formatos de grandes nomes, como Adriana Varejão, Miguel Rio Branco e Rosângela Rennó. MERCADODEARTEDESIGN.COM

FOTOS JUAN GUERRA

Sempre gosto de pensar a feira por meio de um tema. No ano que vem, o tema vai ser sobre a necessidade de encarar este país de outra forma. Acho que 2016 vai ser um ano muito difícil para todo mundo e acredito que, cada vez mais, temos que utilizar nossa criatividade para criar e fazer as coisas com muito menos. Por isso, o minimalismo é o tema principal que estou trabalhando no momento, acredito que vamos precisar aprender que o menos é mais. Isso é uma coisa que vou explorar, seja na cenografia, no uso das cores ou na distribuição tipográfica. E também penso na coletividade. A partir de 2016, vai ser necessário ver mais união entre as pessoas, e acredito que essa união vai gerar uma força para ajudar a vencer os desafios. Assim, estou dando muita ênfase a processos colaborativos, a processos em que

há várias mentes criando. Por meio do coletivo, você consegue chegar a um resultado diferente. Então, para o próximo ano pode esperar a união do minimalismo com o trabalho colaborativo.


“O DESIGN BRASILEIRO É MUITO ESPONTÂNEO, AS CRIAÇÕES, NA MAIORIA, TÊM UMA PEGADA DE HUMOR, TÊM UMA ALEGRIA QUE ENRIQUECE O AMBIENTE”


yPONTO DE VISTA

5 perguntas para

ANGELO DERENZE COMO VOCÊ VÊ A EVOLUÇÃO DO DESIGN DE INTERIORES NO BRASIL NOS ÚLTIMOS ANOS?

O maior crescimento do Brasil foi no setor de design de interiores. Graças aos nossos profissionais, que foram evoluindo. A gente percebe claramente que nas feiras de hoje nossos profissionais são os que mais recebem atenção. Então, foi uma evolução fantástica, muito maior até que em outros países.

percebo é muita mistura de cultura brasileira com design italiano, design francês, design dinamarquês. Acho que é mais nessa linha. PARA SER UM BOM DESIGNER DE INTERIORES, QUAIS HABILIDADES O PROFISSIONAL PRECISA TER?

Precisa estudar muita história e viajar muito. Viajar eu acho que é o maior investimento do profissional. E também se preocupar com sua origem.

O QUE FALTA PARA A PROFISSÃO AVANÇAR AINDA MAIS?

Acho que ainda falta ao brasileiro se conscientizar um pouquinho mais de que é importante pagar por um projeto de criação. Nisso, ainda estamos muito atrasados em relação aos europeus, por exemplo. Acho que ainda tem um delay aí. Tanto em um projeto de decoração quanto em um de arquitetura, as pessoas ainda não aceitam pagar pela criação. EXISTE UM DESIGN DE INTERIORES COM IDENTIDADE BRASILEIRA?

COMO VOCÊ VÊ O MERCADO DE TRABALHO PARA O DESIGNER DE INTERIORES?

Eu vejo um mercado muito promissor, porque o brasileiro cada vez mais não tem dúvida de contratar um profissional para mexer na casa dele. Ao mesmo tempo, é uma profissão muito solitária. O próximo passo acho que é o trabalho que a ABD está fazendo muito bem, que é o trabalho do reconhecimento da profissão de designer de interiores.

É uma pergunta muito difícil. Eu diria que nós estamos antenados com o mundo. Acho que o nosso profissional se abastece de diversas fontes. Eu diria que, hoje, nosso design é um design mundial aplicado aqui no Brasil. O que eu ANGELO DERENZE é diretor-geral do shopping D&D

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CASA STELLA, em Madri, na Espanha

yAMBIENTE

PEQUENAS

GRANDES CASAS

GRANDES CIDADES pelo mundo enfrentam um mesmo problema: a falta de espaço para tanta gente. Para resolver essa questão, o mercado imobiliário tem construído apartamentos cada vez mais compactos. Ou, em bom português, apertados mesmo – tão pequenos que precisam ser milimetricamente planejados para que se obtenha o máximo de conforto possível. Pensando nisso, o estúdio espanhol PKMN, sob o slogan “cada metro quadrado da sua casa é ouro”, criou o selo Pequeñas Grandes Casas, desenvolvendo sistemas móveis de design aplicados à habitação. Por enquanto, o estúdio tem três projetos realizados: Casa Stella, Casa MJE e All I Own House, onde as paredes foram substituídas por armários deslizantes, que permitem modificar facilmente a configuração

das residências. Na Casa MJE, localizada em Astúrias, na Espanha, o apartamento de 70 m² pode se transformar em uma casa de um, dois ou nenhum dormitório. Para otimizar ainda mais os espaços, camas e mesas de cozinha são retráteis, “surgindo” e “desaparecendo” de acordo com a necessidade de uso. “Obtemos a máxima rentabilidade de cada centímetro do projeto para aumentar seu valor e multiplicar as possibilidades de utilização dos espaços.” Acessando o link abaixo dá para ver um vídeo dos projetos e ter uma ideia melhor de como funciona o sistema móvel criado pela PKMN. Vai lá! WWW.XN--PEQUEASGRANDESCASAS-Z3B.COM


yARTE + DESIGN

JAE-HYO LEE cria esculturas e peças de design usando restos de madeira, folhas, pedras, aço inoxidável e grampos de metal. Nascido em Hapchen, na Coreia do Sul, formado em belas-artes na Universidade de Hongik, Lee diz que sua intenção é expressar A BELEZA DA MADEIRA e suas características naturais. Para criar as obras, ele utiliza diferentes técnicas, como queimar a madeira para, em seguida, polir determinados pontos até que fiquem lisos e brilhantes.

“GOSTO DA ESFERA PORQUE É UM FORMATO CIRCULAR SEM ÂNGULOS EXATOS. É UM FORMATO COMPLEXO. TODOS OS MEUS TRABALHOS COMEÇAM COM A ESFERA EM MENTE”

36 ABD CONCEITUAL DEZEMBRO/2015


a beleza da

madeira


“COMEÇO UMA PEÇA QUANDO ENCONTRO UM MATERIAL INTERESSANTE, O DESIGN VEM DEPOIS. FAÇO ISSO, POIS COSTUMO TRABALHAR MELHOR COM MATERIAIS NATURAIS. ASSIM, NÃO TEM COMO VOCÊ RESPEITAR AS CARACTERÍSTICAS DO MATERIAL SE O DESIGN JÁ ESTÁ PRONTO. GERALMENTE, TUDO QUE DESENHO É PENSANDO NO MATERIAL QUE TENHO EM MÃOS, NÃO O CONTRÁRIO”

“MINHAS INSPIRAÇÕES VÊM DA LAND ART. TAMBÉM GOSTO MUITO DO TRABALHO DO ESCULTOR ANDY GOLDSWORTHY” 38 ABD CONCEITUAL DEZEMBRO/2015


“A MADEIRA É UM DOS MEUS MATERIAIS PREFERIDOS. É NECESSÁRIO RESPEITAR AS PARTICULARIDADES, OS DEFEITOS DA MADEIRA ENTÃO, ADICIONO PEQUENOS ELEMENTOS QUE ACRESCENTAM UMA ENERGIA FORTE PARA ALGO QUE JÁ EXISTE. E, NO FINAL, ACABO COM ESSAS PEÇAS ENORMES” LEEART.NAME


yARTE

selfies, sexo e INTIMIDADE no TEAR da artista americana ERIN M. RILEY TEXTO JOÃO LOURENÇO

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Acima, NUDES 6 (2011). Na pรกgina ao lado, NUDES 9 (2013)


NUDES 15 (2014) 42 ABD CONCEITUAL DEZEMBRO/2015


MY BOYFRIEND’S BAND IS ON TOUR (2013)

ERIN M. RILEY entrou no mundo da arte por necessidade. “Era uma daquelas crianças sozinhas, meus cadernos e desenhos eram os meus amigos.” Interessada em desenho, pintura e modelagem, ela foi parar em um curso de produção têxtil. Lá, aprendeu tecelagem, matéria obrigatória para todos os alunos. “Nunca tinha visto um tear antes. Sempre enxerguei a tapeçaria como aquele tipo de arte de tom pastoral. Acreditava que era uma técnica consumida e apreciada apenas por certa elite. Mas nasci e fui criada em um universo punk, naquela cultura do ‘faça você mesmo’. Então, pensei: posso tecer o que bem entender.” Riley aprendeu a técnica em 2004 e, desde 2007, não passa um dia sem trabalhar em uma nova tela. Uma imagem de porte médio pode ser tecida em até 90 horas. A última grande peça de Riley, uma tela de mais de 8 metros de altura, demorou um mês para ser finalizada. “Os desenhos podem ser considerados modernos, mas trata-se de um processo artesanal quase milenar. Paciência é a palavra de ordem. Às vezes, passo 12 horas por dia em cima de uma peça.” O resultado é a série Selfie, uma coleção de tapetes compostos por imagens de mulheres em momentos de intimidade. Riley está interessada na cultura de superexposição e em como a internet torna tudo descartável. Programas de reality show e aplicativos de namoro como o Tinder também fazem parte do

universo criativo da americana. “Quero fazer parte desse diálogo. Mandamos fotos de nosso corpo para estranhos que conhecemos na internet, para amigos e namorados. Não tem como fugir, isso já faz parte de nossa vida.” No começo da carreira, Riley encontrava inspiração nas próprias fotos que guardava no celular, imagens que ela não tinha coragem de postar nas redes sociais. “O bom da arte é que você pode falar de assuntos tabus, como pornografia e masturbação, sem vergonha de ser julgado. Meus desenhos me ajudaram a lidar com problemas que eu nem sabia que tinha.” O trabalho de Riley ganhou reconhecimento tanto nas galerias como nas redes sociais. O resultado é uma caixa de entrada recheada de imagens íntimas de fãs e admiradores. “Essas imagens são mais fortes do que aquelas que encontro de forma aleatória na internet. A minha conexão com a peça é maior quando utilizo imagens de pessoas que me procuram. É uma experiência de troca que eu não esperava encontrar.” No momento, Erin M. Riley está trabalhando em uma nova série, ainda sem título, para apresentar no ano que vem em São Francisco, Califórnia. “É baseada em screenshots que tenho no meu celular, imagens de pessoas na hora do orgasmo.” ERINMRILEY.COM


yCORTINA

PEÇA DE PANO OU DE OUTRO MATERIAL QUE SE PENDURA PARA COBRIR ALGO OU UM RECINTO (PROTEGENDO DA LUZ OU DO OLHAR, OU COMO SEPARAÇÃO, DIVISÓRIA) TEXTO MARCOS GUINOZA

44 ABD CONCEITUAL DEZEMBRO/2015


POR TRÁS DA CORTINA



P

ensando em cortinas, lembrei de Psicose, de Alfred Hitchcock. Marion está no banheiro, fecha a porta e tira a roupa para tomar banho. Através da cortina é possível ver a porta se abrindo e um vulto se aproximando, sem ela perceber. Ao som aterrorizante da trilha sonora composta por Bernard Herrmann, Marion é esfaqueada por Norman Bates. Lembrei também de Janela Indiscreta, do mesmo Hitchcock. Jeff quebrou a perna e está confinado no apartamento. Sem ter o que fazer, passa a espiar as janelas do prédio em frente com um binóculo e logo desconfia que um vizinho matou a mulher e escondeu o corpo. E o que esses dois filmes têm a ver com cortinas? Em Psicose, a peça é item fundamental para criar o clima de suspense. Já Janela Indiscreta lembra que cortina aberta pode ser uma oportunidade para olhares intrometidos. Existe, sim, um elemento de suspense e sedução por trás das cortinas, em seu delicioso jogo de esconde-mostra. Abertas, as cortinas revelam, expõem, deixam à mostra. Fechadas, isolam, separam, preservam a intimidade. No dicionário dos sonhos, cortinas fechadas significam que é bom se prevenir contra inimigos ocultos, e cortinas abertas é certeza de vitória contra os adversários. Peça clássica na decoração de interiores, a cortina cumpre o papel de equilibrar ou vedar a iluminação natural. Serve também para dar privacidade, destacar ou esconder a vista da janela e até diminuir ruídos externos. Mas a cortina não é uma unanimidade. Tem gente que não gosta. Em um blog, a moça escreve: “As cortinas tornam o ambiente um bocadinho menos à vista de quem passa. Os ladrões adoram ver o que acontece na casa das pessoas. Só por isso é que uso cortinas. Mas sou a favor de um mundo sem cortinas. Sem

medos”. Em outro blog, outra moça desabafa: “Odeio cortinas! Pronto, falei, ufa, que peso saiu de cima de mim. Guardava este segredo há anos, era uma cruz que carregava”. E outra concorda: “Eu também não tenho cortinas na sala e sou muito feliz assim. Tenho uma janela gigante com uma vista fabulosa. Por que eu taparia com uma cortina?”. Seja como for, goste-se ou não delas, as cortinas estão por aí há séculos. Falam que surgiram no Oriente, nas antigas civilizações da Pérsia, China e Índia. Chegaram à Europa e adornaram castelos. À plebe, que morava em casas de um só cômodo, serviam para separar ambientes. Ainda servem, na verdade. Há quem prefira cortinas a biombos ou divisórias para delimitar espaços internos. No banheiro, muitos ainda usam cortinas no lugar do box. Como tudo, a cortina, com o passar do tempo, também evoluiu, ganhando novas formas, materiais, texturas e padronagens. Hoje, escolher uma cortina não é uma tarefa muito fácil. Além do tecido e da cor, deve-se definir o tipo de costura, se há necessidade de usar forro ou blackout, a altura certa da barra etc. Coisa para designer de interior. Ou, para simplificar, optar por persianas, que dão um efeito mais clean e são bem mais práticas que as cortinas. O uso desses painéis exteriores de lâminas horizontais como proteção para janelas e batizados de persiennes surgiu na França, no século 18, e têm inspiração oriental, mais precisamente da Pérsia (vem daí o nome: persiana). Para finalizar, lembro de outro filme, Cortinas Fechadas, do iraniano Jafar Panahi. Em uma das cenas, a câmera está na sala, virada para o mar. O escritor, em vez de abrir a grade que protege a janela para ter acesso à bela vista da praia, fecha as tais cortinas do título. Abrir ou fechar a cortina depende do que você quer ou não ver.


10 yDECORAÇÃO

coisas que você precisa sobre

saber

TEXTO JOÃO LOURENÇO

FOTOS DIVULGAÇÃO

1_ 2_ 3_

Holandês, Piet Boon começou a carreira como empreiteiro da construção civil. Frustrado com a falta de funcionalidade e conforto nas edificações em que trabalhava, decidiu mudar de carreira. Assim, em 1983, abriu um escritório de consultoria de design e arquitetura. “Comecei desenhando pequenos projetos, como cozinhas, banheiros e móveis sob medida. A construção civil me ajudou a falar a mesma língua das pessoas que executam o design.” Hoje, o escritório de Piet Boon tem um imenso portfólio de clientes privados, corporativos e comerciais espalhados por mais de 50 países, como redes de hotéis, restaurantes, resorts de luxo na Coreia do Sul, clube de golfe na África e fazendas na Europa. Boon já criou até modelos exclusivos de caminhonetes para a Land Rover. A equipe de Boon atua nos segmentos de design de interiores, design de produtos, estilo e arquitetura. “Muitas vezes me perguntam sobre o segredo do sucesso, quais características tornam o profissional um bom designer.

48 ABD CONCEITUAL DEZEMBRO/2015

Não há resposta simples. No meu caso, tive a sorte de me rodear de pessoas altamente expressivas. Antes de qualquer técnica, o designer precisa ser um bom ouvinte e um ótimo comunicador de ideias.”

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Ele define o estilo do seu design como uma “sofisticação silenciosa”. Boon é reconhecido por uma estética clean, formada por cores suaves e pelo uso de matérias-primas naturais. Outro fator que o diferencia é a grande equipe responsável pelo styling. “Isso desempenha um papel importante no nosso sucesso, pois adiciona um toque final muito pessoal. São esses pequenos detalhes que tornam uma casa um lar.” A equipe de styling é dirigida por Karin Meyn, mulher e parceira de Boon.

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Recentemente, ele terminou um dos projetos mais ambiciosos da carreira: a renovação do prédio histórico Huys. Localizado na Park Avenue, em Manhattan, Nova York, o condomínio tem 58 apartamentos de luxo. “Em cidades como NY, as pessoas não costumam passar muito tempo nas residências. Não queria que esse prédio se parecesse


PIET BOON

com um lugar sem vida. Por isso, o principal desafio foi criar um ambiente humano, daqueles em que você se sente acolhido e confortável.” O diferencial está nos pequenos detalhes. Das janelas às maçanetas, tudo foi projetado por um time de artistas e designers holandeses. “Gosto de incentivar o trabalho de novos artistas. Sempre procuro chamar alguém jovem para os meus projetos.”

6_

Após assinar produtos para marcas como Miele, Bang & Olufsen e Moooi, Boon decidiu abrir a própria linha de móveis e objetos. Lançada em 2003, a Piet Boon Zone oferece um segmento completo de luminárias e mobiliário para casa.

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O equilíbrio entre estética e funcionalidade é uma das características mais marcantes no trabalho de Boon. Ele defende que o interior de um ambiente vá além de objetos e espaços bonitos. “Fujo do design de interior politicamente correto que vemos em revistas. No fim do dia, durabilidade e funcionalidade falam mais alto, afinal, no mundo real as pessoas têm crianças e animais de estimação.”

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As inspirações do holandês vêm do que ele vê em viagens: paisagens, arte, vida urbana, moda, música. “Já me compararam com designers e arquitetos japoneses. Vejo isso como um grande elogio. Temos tanto para aprender com o Japão... Muito se fala do minimalismo europeu, mas, para mim, o poder da simplicidade veio dos japoneses.”

9_

Boon acredita que a qualidade é uma das coisas mais importantes no design. “Percebi que os meus clientes, independentemente da condição financeira, preferem pagar mais por um material duradouro. E isso não tem a ver com o luxo! Nem eu nem meus clientes estamos interessados em um luxo vulgar. O bom design de luxo não tem a ver com maçanetas de ouro, mas com um acabamento de qualidade, com produtos que vão durar a vida inteira.”

10_

Nesses mais de 30 anos de estrada, Piet Boon acredita que atingiu aquilo que Frank Lloyd-Wright defendeu: “Eu não vou criar a casa com que você sempre sonhou, eu vou criar uma casa com que você nunca sonhou.” PIETBOON.NL


yGALERIA

SANTIAGO SALVADOR ASCUI v Nascido em Santiago, no Chile. v Formado em belas-artes na Universidade

Finis Terrae, em Santiago. v Integra um grupo de dez artistas plรกsticos, chamado Colectivo de Arte Gang Bang, e o projeto musical e visual chileno Onda Hal Foster. SANTIAGOSALVADOR.CL

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