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Mercados: a visão dos representantes
A revista abolsamia pediu a quatro representantes de marcas uma leitura ao mercado nesta fase do ano.
1 - Que leitura faz aos atuais números revelados após o fim do mês de outubro?
2 - Qual a sua expectativa em relação ao impacto no sector dos futuros apoios do Governo?
3 - Nos últimos anos, o mercado português tem estabilizado nas 5.000 unidades vendidas. Que previsão faz para 2023?
4 - No último Relatório do CEMA, é dito que os principais fabricantes de maquinaria agrícola europeia têm os livros de encomendas em “níveis recorde”. Em Portugal, por outro lado, o mercado comporta-se da mesma forma ou sente uma quebra na procura?
1 – Os números, que mostram uma quebra de mercado se excluirmos os tratores abaixo de 25 CV, vêm confirmar o cenário que traçámos anteriormente e só não é pior porque até meados do ano ainda temos o efeito positivo do programa de abates de 2021.
2 – Nesta fase, o mercado só pode evitar uma quebra significativa em 2023 se surgirem incentivos do Governo para o setor que permitam ultrapassar os fatores que constrangem o mercado. Mas ainda não surgiu qualquer sinal de que tal possa suceder.
3 – Este ano o mercado vai estar mais próximo das 6.000 unidades, embora mais de 1.000 unidades sejam abaixo dos 25 CV. Para o ano espera-se uma quebra significativa deste número pelas razões expostas acima.
4 – Infelizmente, a situação reportada pelo CEMA refere-se a uma agricultura profissionalizada que se pratica na maior parte da Europa. Portugal depende muito dos “agricultores amadores” e estes estão a ser fortemente impactados pela inflação e pela crise em geral, pelo que a disponibilidade para realizar investimentos na área agrícola diminui muito comparado com anos anteriores.
1 – Nos últimos meses o nosso mercado de tratores agrícolas registou uma queda em redor dos 15% face aos meses homólogos de 2021 (excluindo UTVs e ATVs). O que é consequência direta do arrefecimento da economia europeia e retração do investimento.
2 – Sem os incentivos governamentais, a queda vai continuar. O programa de apoios do Governo sempre contribuiu para a modernização e maior eficiência da agricultura e também se reflete nos números finais do nosso mercado pois fomenta o investimento.
3 – Nos últimos (bons) anos, os registos têm ficado acima dessas 5.000 unidades, com ‘picos’ recorde a rondar as 6.000 em 2017 e 2021. Este ano, as vendas tiveram um início forte mas a segunda metade trouxe um forte abrandamento, pelo que os números no final de dezembro serão semelhantes aos de 2021. Para 2023, a manter-se a tendência recente, haverá uma queda de mercado que deverá cifrar-se em menos 15% de registos.
4 – Apesar do CEMA ser uma entidade europeia, julgo que esse recorde de encomendas traduz a visão mundial pois, se nos focarmos só a nível europeu, a tendência dos mercados é de queda, tal como em Portugal. Ainda assim, deixo uma nota final otimista porque falamos, provavelmente, de uma situação conjuntural, devido à guerra na Ucrânia. Esperamos que passe depressa e que o sector da agricultura retome o caminho da modernização à procura da eficiência dos últimos anos, em que registámos volumes de atividade e índices de inovação muito interessantes.
1 – A queda do mercado no final de Outubro era esperada. Justifica-se, por um lado, pelo ambiente de incerteza económica com um nível muito elevado de inflação ao nível global, e por outro lado, pelo finalizar das entregas de tratores vendidos ao abrigo da medida de renovação do parque de tratores.
2 – Para o próximo ano, se não existirem medidas de apoio ao investimento nas explorações agrícolas nem apoios para renovação do parque de tratores, prevêse uma queda acentuada do mercado.
3 – Para 2023 a nossa previsão é de um mercado total pouco acima das 5.000 unidades, o que significará um decréscimo relativamente a 2022.
4 – O mercado português registou nos primeiros 3 trimestres uma tendência de subida, enquanto que a maioria dos outros mercados europeus estava em queda. A partir de Outubro, o mercado português acompanhou, em termos de tendência, os restantes mercados europeus. No que se refere à carteira de encomendas, esta tem sido afetada negativamente por uma diminuição da procura nos últimos meses.
1 – Os números de Outubro revelam uma esperada quebra no mercado, sendo mais acentuada no segmento entre 26 e 53cv, sendo que: acima dos 100cv, todos os segmentos descem cerca de 10%, fruto da conjuntura económica causada pela Guerra na Ucrânia e das dificuldades na entrega de máquinas; entre 54 e 100cv, o mercado registou um aumento de 20%, que muito deve ao incentivo à renovação da frota que o governo concedeu; estima-se que o mercado estabilize nas 6000 unidades ou apresente uma ligeira queda (1%..2% comparado com 2021).
2 – Se não houver apoios do Governo, dificilmente o mercado se manterá a níveis de 2022 e se os apoios forem direcionados à renovação de frota de tratores médios, tal como nos 2 últimos anos, creio que o seu impacto será inferior ao ocorrido. Para o segmento dos tratores acima dos 100cv, os fatores mais importantes seriam a continuação dos incentivos fiscais para as empresas agrícolas e linhas de crédito com juros bonificados, dada a natureza mais profissional destes segmentos e o crescente aumento das taxas de juro praticadas pelos bancos.
3 – Depende pois o mercado total tem-se mantido mais perto das 7000 unidades do que das 5000. Se excluirmos ATV´s e UTV´s falamos, sim, de 5300 a 5900 unidades. Para 2023, a previsibilidade é diminuta pois desconhecemos medidas de apoio ao sector, previsão de rendibilidade dos agricultores, procura de produtos agrícolas, disponibilidade componentes nas fábricas e incentivos ao investimento para os empresários agrícolas. Todavia, uma queda, a ocorrer, deverá situar-se entre 2% a 5%.
4 – Posso falar apenas pela Valtra e dizer que a nossa carteira de encomendas está em linha com o ano passado e que a fábrica regista números recorde e que praticamente poucos slots restam para 2023. Contudo, se o mercado sofrer um forte abanão, pode ocorrer uma inversão da situação e “sobrarem” tratores e faltarem clientes. É preciso ter algum cuidado e equilíbrio entre o stock disponível dos Concessionários e a procura de mercado para esses tratores.