Gulbenkian anos 13 14

Page 1

Gulbenkian anos 13•14 ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO N.º 8556 DE 13 DE SETEMBRO DE 2013 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE

Maestros • Paul McCreesh • Susanna Mälkki • Michel Corboz • Jorge Matta • Joana Carneiro • Pedro Neves

PATROCIONADO POR:

DANIEL ROCHA


Ir à luta! O que têm em comum Paul McCreesh, Susanna Mälkki e Pedro Neves, três maestros de gerações diferentes que passam a partir desta temporada a trabalhar de forma mais regular com a Orquestra Gulbenkian, para além de uma incondicional paixão pela música que fazem? Os três foram violoncelistas numa orquestra antes de se dedicarem à direcção musical. Esta experiência de estar do lado dos que têm o privilégio de estar sentados em palco, formou-os e determinou o percurso das suas carreiras. E isso faz toda a diferença na forma como maestros e músicos podem e devem trabalhar em comunhão. Nesta temporada Gulbenkian de música desaguam novidades anunciadas: um novo e ambicioso, no bom sentido da palavra, maestro titular, o britânico Paul McCreesh, um novo projecto artístico dirigido por Joana Carneiro, o estágio Gulbenkian para orquestra destinado a jovens músicos. São aspectos práticos de uma nova etapa que se quer de aproximação à comunidade onde os corpos artísticos da Fundação Gulbenkian se inserem. Numa época em que tantos paradigmas de pilares culturais que tínhamos como incontornáveis vacilam — há jornais que sobrevivem com dificuldades, discos que não se gravam, livros que não se publicam, companhias de teatro que definham — ninguém pode recusar sair da sua zona de conforto. Enquanto o Grande Auditório da Fundação Gulbenkian se “renova tecnologicamente para o século XXI” metade da temporada é feita em digressão pela cidade. Alguns melómanos lembram-se dos tempos em que estas digressões eram regra, nas Jornadas de Música Antiga. Mas avivar essas memórias não é o mais importante deste périplo acidental: o mais importante é o facto de se conhecer melhor a cidade onde se trabalha em permanência. Suscitar maior curiosidade nos ainda indiferentes. Para além do retrato que tiramos através das entrevistas, aos maestros da casa, este suplemento que tem em mãos e que pretende ser uma porta informal de entrada, naquela que é uma das maiores e mais diversificadas temporadas de música da Europa, traça ainda um perfil do Coro Gulbenkian, um agrupamento que completa em 2014 cinquenta anos de excelência artística. A renovação de gerações que aqui se fez de forma gradual mas segura, o entusiasmo que sentimos no ensaio a que assistimos demonstram que às vezes as melhores revoluções são aquelas que se fazem discretamente.

Rui Lagartinho

Ficha Técnica Produção: Jornal PÚBLICO Design: Ivone Ralha Autor: Rui Lagartinho, com textos adicionais de João Chambers e Tiago Bartolomeu Costa Patrocínio: Fundação Calouste Gulbenkian Este suplemento foi feito segundo os critérios editoriais do PÚBLICO. O seu conteúdo é da inteira responsabilidade do jornal

“Que a melhor or As ideias, o método de trabalho, as ambições do novo maestro titular da Orquestra Gulbenkian. Rui Lagartinho (texto) e Nuno Ferreira Santos (fotos)

A chegada de um novo maestro titular é sempre um marco a assinalar na história de vida de qualquer orquestra. E o britânico Paul McCreesh (1960) tem todas as condições para fazer história na Orquestra Gulbenkian. O seu percurso artístico é de grande prestígio na comunidade musical internacional muito por causa do percurso que desenvolveu nas últimas três décadas como fundador e director artístico do Gabrieli Consort & Players é exemplar. O seu trabalho em Lisboa vai ser atentamente seguido. E só este facto já é galvanizante. Depois de um namoro de dois anos, em que músicos e maestro se foram mutuamente conhecendo, arranca oficialmente esta temporada na Orquestra Gulbenkian a era McCreesh. Ambição, minúcia, atenção aos detalhes, à alma musical de cada obra a ser tocada e um olhar sempre atento à comunidade que o rodeia são para já as linhas mestras do programa de trabalho de Paul McCreesh em Lisboa. Durante o Verão, ele e a orquestra Gulbenkian passaram várias semanas a trabalhar com jovens cantores e músicos nas escolas superiores de música de Lisboa e de Aveiro. Uma disponibilidade e generosidade auspiciosas para o que aí vem, que começa com um programa em que largas dezenas de coralistas oriundos dos melhores coros portugueses se reunirá num concerto na basílica de Mafra. O tópico da urgência deste trabalho de mobilização de muita gente em torno de uma orquestra e de

um coro que são dois pilares importantes da vida musical portuguesa foi um dos temas de conversa com Paul McCreesh. Que simbologia atribui a este primeiro concerto em Mafra que transformou num grande festa vocal? Se quisermos deixar uma marca neste início do século XXI em termos musicais temos de perder algum tempo a esbater barreiras: entre o velho e o novo, o profissional e o amador. A ideia de conexão permanente com a comunidade deve ser estimulada. O que se pode — e não é seguro que se perca — em qualidade musical ganha-se na energia da performance. Os dois projectos iniciais que marcam esta nova filosofia, o trabalho com os coros juvenis e o estágio Gulbenkian para jovens músicos são exemplos deste compromisso. Qual o papel e que expectativas devemos esperar de uma orquestra nestas primeiras décadas do século XXI? Há duas coisas muito importantes: Temos de lutar por ter uma qualidade de excelência, e eu pessoalmente gostaria de dirigir a partir de Lisboa a melhor a orquestra do mundo. Mas ao mesmo tempo os músicos têm de se envolver com a comunidade. Devemos continuar a

Paul McCreesh durante um ensaio na Gulbenkian

2


Entrevista com Paul McCreesh

ro dirigir em Lisboa questra do mundo�

3


Paul McCreesh na Gulbenkian

tradição dos concertos dados numa sala confortável, mas também estarmos prontos para tocar num jardim, numa praça pública. Os músicos profissionais das orquestras têm também de estar preparados para acolher novos músicos, tocar com músicos amadores. A Orquestra Gulbenkian tem todas as condições para ser um exemplo do que deve ser uma orquestra do século XXI. Conectada com os jovens. Para mim pessoalmente vai ser muito interessante e formador o facto de nestes primeiros meses da temporada, devido às obras no Grande Auditório, podermos andar com a casa às costas por auditórios e igrejas que não são a nossa sede. Isso vai-me permitir perceber o potencial de espaços alternativos, perceber a dinâmica do público ou públicos que podemos mobilizar consoante o sítio onde nos apresentarmos. Uma orquestra deve ter por base uma forte empatia e ser um espelho da comunidade onde está inserida. Mas esta é também uma temporada de transição.Algum trabalho decidido para a Orquestra Gulbenkian já estava planeado antes da sua entrada em funções. Claro. É o normal quando há mudança de titular isso acontecer, algumas decisões foram tonadas antes de eu chegar.Vai ser também um arranque diferente, por causa das obras só tomamos posse do novo auditório em Fevereiro e até lá como já disse, vamos andar pela cidade. É um grande desafio para a Orquestra Gulbenkian, mas estamos a falar de um agrupamento habituado a grandes desafios, por isso não vejo aqui qualquer problema.

O que podem os músicos da Orquestra Gulbenkian esperar de si? Creio que me posso definir como uma “colorful musical personality”. Embora tenha já ideias muito definidas e concretas sobre os caminhos que esta orquestra deve trilhar nos próximos anos, há tradições na orquestra que eu vou respeitar. É normal que um novo maestro titular chegue com novas ideias e apresente novos desafios, mas neste caso tenho a sorte de iniciar o meu trabalho com uma orquestra de um nível bastante elevado. Sou peremptório: vai ser uma evolução e não uma revolução. O maestro Lawrence Foster (anterior titular da Orquestra Gulbenkian) deixa um excelente e enorme legado após dez anos de trabalho intensivo, mas somos músicos muito distintos e o trabalho vai evoluir numa direcção diferente. Vou trabalhar de forma muito intensa de forma a aumentar a sensibilidade da Orquestra Gulbenkian para diferentes estilos musicais. Isso traduz-se em dois aspectos: significa falarmos de estilos diferentes durante a história da música, seja música barroca ou contemporânea, mas também estarmos mais cientes das cores musicais específicas de cada obra. É este o grande desafio dos maestros no século XXI: ser capaz de demonstrar, de que forma Ravel é diferente de Chostakovich ou Haydn é diferente de Mozart. Vou trabalhar de forma a destacar estes detalhes, de forma a encontrar em cada obra, autor, a especificidade sonora que contagie e defina a forma como a orquestra deve soar. Da minha experiência recente com a Orquestra Gulbenkian já percebi a facilidade com que estes músicos se adaptam a uma nova forma de frasear. Algumas pessoas vão achar es-

te trabalho mais fácil, outras terão mais dificuldades. Haverá, como é normal quem esteja mais e menos entusiasmado com este tipo de abordagem, quem anseie por ela e quem tenha mais reservas. Mas é uma orquestra de músicos inteligentes e estou convencido que juntos faremos desta orquestra um agrupamento ainda melhor. Como estrutura as relações interpessoais com os músicos? Eu sou sobretudo, na essência um músico que por acaso também dirige. Nunca me senti confortável na pele formal daquilo que se convencionou reconhecer como maestro. Na minha relação com os músicos, quero que fique bem claro que somos colegas. Sem o entusiasmo e a cumplicidade dos membros da orquestra um maestro não é ninguém. Na minha forma de trabalhar a comunicação é fundamental: os problemas identificam-se nas conversas partilhadas e são definidas soluções que evitem que se chegue a um nível de despique entre o maestro e os músicos. Depressa se vai perceber a forma como eu trabalho: não promovo nem sou conhecido por promover a facilidade, nem sou de meios-termos. Respeito imenso o trabalho das pessoas com quem trabalho. Tenho ideias muito fortes sobre música e são elas que me guiam. É uma honra estar à frente de uma orquestra e devemos sempre trabalhar sempre de forma a ganhar o respeito dos músicos. E aqui com esta orquestra esta orquestra estou seguro que isso vai acontecer porque há uma atmosfera calorosa no ar. A Orquestra Gulbenkian é feita de músicos determinados, que realmente soube colocar a música no centro das suas prioridades. Parece uma evidência dizer isto mas

não o é: algumas formações deixamse de tal forma envolver em pequenas questões políticas e burocráticas, ou trabalham de uma forma tão industrializada que perderam a alma. Esta forma de abordagem é o melhor presente de boas vindas que pode ser oferecido a um novo maestro e eu farei tudo para estar à altura do desafio e ganhar o respeito dos músicos. O que quis dizer quando afirmou numa entrevista anterior que

“Nunca me senti confortável na pele formal daquilo que se convencionou reconhecer como maestro”

existiam várias Orquestras Gulbenkian? Acho que fui mal-entendido. Não quis dizer que havia uma orquestra barroca, uma orquestra clássica, uma romântica e uma contemporânea. O que a orquestra deve ter é uma enorme flexibilidade de forma a termos a mais admirável orquestra moderna a fazer barroco, a mais fantástica das orquestras clássicas, uma orquestra romântica e uma orquestra contemporânea de grande qualidade. Foi o que quis dizer quando afirmei que a Orquestra Gulbenkian deve ter rostos variados: uma orquestra que deve abordar cada reportório com o mesma paixão, a mesma sensibilidade, com a mesmo saber fazer face a qualquer que se-

4


lente trabalho de que os portugueses se podem orgulhar. O maestro Michel Corboz é um grande músico e a solidez do trabalho do maestro Jorge Matta dá os seus frutos. Mas para lá do excelente trabalho que tem sido feito eu acho que ter como maestro titular alguém que goste de música vocal é um privilégio. Eu fiquei impressionado como podem cantar em dias sucessivos, Fauré, Strauss, Beethoven e Gershwin de uma forma tão assertiva e apaixonada.

ja a obra e o maestro que esteja à sua frente. As várias faces da orquestra significa isso. Está preparado para gorar as expectativas daqueles que gostariam que privilegiasse o reportório que o tornou conhecido, as grandes obras do barroco europeu? Tive a mais bizarra das carreiras musicais: formei-me a ser violoncelista e maestro. Passei 25 anos a trabalhar com cantores, com coros, estudei música contemporânea, música antiga. Todo este percurso desconcertante deu-me uma enorme flexibilidade como músico, como maestro. Sinto-me confortável a dirigir Händel mas também Elgar.

5

Dirigirei anualmente um projecto dentro do reportório barroco. Mas este não será o centro do meu trabalho em Lisboa. Conduzirei regularmente um vasto reportório que inclui música antiga, música contemporânea, música barroca, coral, ópera, romântica, reportório sinfónico. Vou dar-me o supremo luxo de evitar obras em que me tenha que me preocupar com os aspectos técnicos em vez de estar concentrado na essência musical do que lá está escrito.

Para mim uma das coisas que torna o fazer música tão interessante é a capacidade de adaptação a cada estilo de música. E isso creio que os músicos da Orquestra Gulbenkian com quem agora tenho o privilégio de trabalhar a partir de agora saberão reconhecer e apreciar. Durante a temporada concebeu um mini ciclo de dois concertos a que chamou Reforma. O que vão ser estes dois concertos?

O título genérico roubei-o ao nome pelo qual é conhecida a sinfonia nº 5 de Felix MendelssohnBartholdy. No fundo o conjunto de obras de Bach e de Mendelssohn a serem apresentadas espelham a forma como a mentalidade e a revolução das ideias luteranas se traduziu em valores musicais sólidos e constantes na história destes povos. E trabalhar com o Coro Gulbenkian? Galvaniza-o? Claro.Tem sido feito um exce-

O que acha que pode ser feito para divulgar o trabalho da Orquestra Gulbenkian no estrangeiro? Já admitiu que a Orquestra é bastante pouco conhecida no mundo anglo-saxão. A Orquestra Gulbenkian é reconhecida no meio artístico, mas falta ser mais conhecida. Falta também arranjar uma forma de associar o nome da Orquestra a um reconhecimento imediato da cidade de onde provém. Isso facilitaria uma aproximação do público estrangeiro de uma forma mais imediata. O facto de o orçamento da Orquestra não prever grandes tournées não me preocupa. Estou habituado a trabalhar e a dar a volta a orçamentos apertados. Vejo com grande entusiasmo, as melhorias técnicas no Grande Auditório que permitirão melhorar as condições de gravação e a transmissão na Internet de alguns concertos. Acho que isso vai aumentar a visibilidade do nosso trabalho fora de portas. Agrada-lhe a ideia de trabalhar em Lisboa? Sinto-o como um privilégio. Vou poder trabalhar com uma grande orquestra, numa cidade e num país com sol quase todos os dias do ano. Quero ser um embaixador musical desta felicidade.

“A Orquestra Gulbenkian tem todas as condições para ser um exemplo do que deve ser uma orquestra do século XXI”


Entrevista com Michel Corboz

Uma aliança duradoura Grandes momentos da história do Coro Gulbenkian, recordados pelo homem que fez dele uma referência. Rui Lagartinho Para os melómanos de Lisboa a imagem deste homem à frente de uma mancha humana que pode chegar quase às duzentas pessoas, composta de músicos de orquestra e coralistas, é já um clássico nas suas vidas. A audição em Lisboa — pelo menos no Natal e na Páscoa — das grandes oratórias e missas coral do reportório sinfónico confundem-se com o trabalho do maestro suíço Michel Corboz como maestro titular do Coro Gulbenkian. No próximo ano passam quarenta e cinco anos desde que é maestro titular do Coro Gulbenkian. Uma longa associação. Uma relação mais íntima e duradoura que alguns casamentos. Qual é o segredo? Desde o início que o Coro Gulbenkian e eu procurámos servir da melhor forma possível a música que amamos. Com a entrega, o trabalho e o rigor que isso implica. E os momentos de felicidade de satisfação pessoal e musical foram uma constante. Que memórias guarda do final dos anos sessenta, quando esta asso-

ciação começou. Foi difícil a afirmação do Coro Gulbenkian? Escolher caminhos, reportório, construir um nível de excelência? Tenho memória de um Coro Gulbenkian muito unido dentro e fora das fronteiras musicais. Envolvime a fundo numa aventura musical mas também humana. Desde o início que se destacaram elementos de grande qualidade. Alguns já nos deixaram rumo a outros destinos. Mas estou certo de que o Coro Gulbenkian foi responsável pela afirmação da vocação de muitos cantores e maestros em Portugal. Alguns deles, fazem-me muita falta. Como é que na sua opinião se conseguiu a consolidação crescente do Coro Gulbenkian, ano após ano. Qual é em sua opinião a alma desta formação? Tivemos a sorte de ser apoiados quase desde o inicio por Michel Garcin, à altura director de uma grande empresa discográfica,a Erato. Ele acreditou em nós e proporcionou os meios para que gravássemos todos os anos pelo menos um disco escolhido entre o reportório que melhor se adequava ao nosso traba-

lho.Também a Fundação Gulbenkian o apoiou nas suas escolhas. Cada uma destas gravações, representava para nós um élan renovado. Ao longo da sua carreira o maestro trabalhou com muitos outros coros. Há uma forma portuguesa de cantar? De saber fazer? Há uma generosidade na atitude vocal dos coralistas portugueses que sempre me tocou. Uma juventude e uma vivacidade que eu sempre tentei potenciar no meu trabalho. Os discos, os concertos, uma qualidade artística de alto nível, mas o Coro Gulbenkian ainda é para o público estrangeiro, uma descoberta, boa mas tardia. Porquê? Recentemente graças aos esforços renovados da direcção do serviço de música, o Coro Gulbenkian retomou uma actividade regular fora de portas. Este Verão actuámos no festival de Aix-en-Provence com enorme suceso. E isto num momento em que a concorrência é cada vez mais forte. Que memórias fortes guarda desta longa associação? Sente

orgulho no trabalho que desenvolveu com o Coro Gulbenkian? As actuações no Teatro Colon de Buenos Aires, no Teatro du Chatelet em Paris, as gravações do Requiem de Mozart, da oratória Paulus de Mendelssohn, “A dança dos mortos” de Honegger e muitas outras deixaramme recordações comoventes. Ao escutar estas gravações quase peco por excesso de orgulho.

to nos últimos anos. A existência do Coro Gulbenkian foi um factor decisivo nessa melhoria.

Que diferenças encontra entre o Coro Gulbenkian que dirige hoje e o Coro Gulbenkian com o qual começou a trabalhar? No reportório que escolho e de que gosto, procuro que o Coro Gulbenkian soe de forma a respeitar a sua identidade sinfónica. O maestro Fernando Eldoro, grande especialista da voz, contribuiu de forma indelével para conseguir essa sonoridade. Hoje o coro soa jovem e cheio de vitalidade embora haja menos constância dos seus elementos devido às saídas dos coralistas.Vejo nisto uma virtude: a de constantemente estarmos a renovar a sonoridade do coro. E é preciso que se diga, a qualidade vocal em Lisboa melhorou mui-

Reparei que nas últimas temporadas, faz mais concertos do que o habitual a Lisboa. Este ano estão previstos três programas diferentes. De onde lhe vem esta inesgotável energia? O trabalho desenvolvido pelo Coro Gulbenkian é imenso. Eu sou apenas o maestro titular, tarefa em que sou enormemente ajudado pelo maestro adjunto Jorge Matta, bem como pelo Paulo Lourenço e pelo Pedro Teixeira, além de outros maestros assistentes de grande qualidade. Com a direcção do serviço de Música por seu lado as relações são quase familiares. Com esta entourage, sinto-me com vontade de prosseguir um trabalho que me enriquece, me galvaniza, me dá saúde e fé.

Como vê a chegada de alguém com o perfil do maestro Paul McCreesh para titular da Orquestra Gulbenkian? Com muita alegria porque é um homem apaixonado pela causa vocal, e desde já se revelou um grande amigo.

“O Coro Gulbenkian foi responsável pela afirmação da vocação de muitos cantores e maestros em Portugal” 6


Michel Corboz DR

7


Entrevista com Susanna Mälkki

As paixões de Susanna Com a nova maestrina convidada principal da Orquestra Gulbenkian vamos ouvir mais as grandes obras clássicas da modernidade e muita música contemporânea. Rui Lagartinho

DR

As maestrinas com impacto na vida musical a nível internacional ainda se contam pelos dedos. No auge da sua carreira, a finlandesa Susanna Mälkki é uma delas. É ela a nova maestrina convidada principal da Orquestra Gulbenkian. Dirigiu pela primeira vez a Orquestra Gulbenkian em 2011 num programa composto por

obras de Sibelius,Tchaikovsky e Rachmaninov. Com que impressão ficou? Guardo memórias muito positivas de uma orquestra com um excelente ambiente de trabalho. Um colectivo de muito talento, ambição, alegria e sinceridade na entrega à música que fazem. Porque decidiu a partir desta temporada trabalhar numa ba-

se mais regular com a Orquestra Gulbenkian? O que espera desta colaboração como maestrina convidada principal? Espero ser capaz de apresentar programas interessantes que dêem novas perspectivas ao público. Acredito que ao trabalhamos regularmente com os mesmos parceiros conseguimos aprofundar a qualidade da música que fazemos. A Fundação Gulbenkian é uma instituição fantástica, sólida, com grandes tradições e vejo e ouço muito potencial nesta orquestra. O facto de ter tocado como violoncelista em várias orquestras, ajudou-a perceber o que é que uma orquestra espera de um maestro? Sim. Metade da minha formação a dirigir orquestras veio dessa experiência prévia. Percebi as expectativas que os músicos depositam nos maestros. A experiência de tocar como músico numa orquestra é também um estágio muito enriquecedor em relações interpessoais. Por isso é natural que também com os músicos da Orquestra Gulbenkian aprenda coisas novas. Mas o mestre, a grande referência de todos nós, a razão de ser do nosso trabalho, é a música ela própria. Explique-nos um pouco o programa que dirigirá em Lisboa no mês de Janeiro: porquê uma peça de Unsunk Chin, um concerto para cheng (uma espécie de acordeão chinês) e orquestra no meio de duas obras de Gustav Mahler? Gosto muito de enquadrar peças contemporâneas num contexto tradicional. Refresca e renova a aproximação aos dois tipos de música. Escolhi este concerto por considerar que Unsunk Chin é um dos maiores compositores da actualidade. Quanto às obras de Mahler escolhidas, elas são parte do melhor património sinfónico, o qual quero muito trabalhar com regularidade de forma a poder sempre descobrir novas coisas. Em Abril dirigirá Quartett, a ópera de Luigi Francesconi que es-

“O mestre, a grande referência de todos nós, a razão de ser do nosso trabalho, é a música ela própria”

treou no Teatro Alla Scala em Milão. Pessoalmente o que representou para si ser a primeira mulher a subir ao podium daquele teatro? Senti uma grande honra quando o Luca Francesconi sugeriu o meu nome para dirigir esta obra. A estreia de uma ópera é sempre uma grande responsabilidade para os intérpretes envolvidos. Só mais tarde percebemos que esta estreia seria um momento histórico para aquele teatro. Dirigir no Alla Scala é um marco na carreira de qualquer músico. O que mais me agrada nesta obra é a riqueza da sua densidade psicológica. Ela está presente tanto no texto de Heiner Müller como na música de Francesconi. O compositor soube ir ao âmago do texto e escreveu uma partitura inesquecível misturando beleza lírica e drama, demonstrando o quão complexas são as relações humanas. No futuro, que se estende para lá da próxima temporada que reportório vai fazer? Há muitas grandes obras do reportório sinfónico do século XX que iremos certamente fazer. A música francesa em particular estará em destaque. Estou também muito entusiasmada com a ideia de trabalhar com o excelente Coro Gulbenkian. Terminou esta temporada a sua associação permanente ao Emsemble Intercontemporain. Que balanço faz deste últimos sete anos? Foram anos intensos de aventura e descoberta musical. Aprendi imenso na abordagem que fiz ao reportório dos grandes clássicos modernistas. Tive a sorte de colaborar com os melhores compositores da actualidade. E claro estou muito agradecida pela confiança que o maestro Pierre Boulez depositou no meu trabalho. No mundo musical não concebo honra maior. Quem escreve sobre si, fala sempre num compromisso entre a modernidade e tradição. Para si, em que é que isso se traduz? Se é isso que escrevem sobre mim, vejo-o como um grande elogio. Acredito que a melhor forma de mantermos a tradição é sermos inovadores. Tento abordar cada obra, recente ou não, com curiosidade, com o espirito aberto a novas descobertas.

8


Joana Carneiro e Pedro Neves

“Infância, adolescência e juventude” A aposta numa equipa de jovens maestros para dirigir regularmente a Orquestra Gulbenkian vai preenchendo a solidez do futuro, ao ritmo das provas de crescimento e maturidade que Joana Carneiro e Pedro Neves forem dando. Rui Lagartinho Joana Carneiro e Pedro Neves são os benjamins entre os maestros que a partir de agora trabalharão numa base regular com a Orquestra Gulbenkian. Joana Carneiro, que já era maestrina convidada, acumula com o a direcção do novo projecto da Fundação, o estágio para Orquestra. Pedro Neves é o mais recente maestro convidado. Os dois nasceram em meados da década de setenta do século passado e lembram-se de assistir muito jovens a concertos da Orquestra Gulbenkian. Alguns dos músicos foram mesmo seus professores. É fácil de imaginar o nó no estômago que ambos sentiram quando subiram ao pódio da orquestra para os dirigir. “São músicos que fazem parte da minha carreira musical. Estiveram sempre muito próximos em cada novo passo que dei. Subir ao podium foi complicado, mas a rede de afectos que sempre me amparou, ajudou-me a superar eventuais dificuldades.Toda a gente foi de uma enorme generosidade” recorda Joana Carneiro. Pedro Neves estreou-se à frente da Orquestra Gulbenkian em Leiria, num programa com três sinfonias de Haydn que percorrem o ciclo completo de um dia: “Senti-me imediatamente em casa. E muito acarinhado.” A carreira como violoncelista noutras orquestras — chegou a ser chefe de naipe na Orquestra Metropolitana de Lisboa — foi interrompida para se dedicar à direcção, mas a experiência foi um estágio muito enriquecedor para as funções que agora desempenha: “Qualquer músico que toque numa orquestra, tem um curso intensivo de direcção musical quase todas as semanas, e que é ditado pelam forma de trabalhar de cada maestro que chega para ensaiar um novo programa.” São rostos jovens com que a Fundação conta para novos projectos, para trazer famílias inteiras e escolas à Gulbenkian, trabalhar com novos compositores, com jovens músicos

9

que pela primeira vez estagiam numa orquestra. O fruto do trabalho do próximo estágio para Orquestra, abrirá em Fevereiro o renovado Grande Auditório. Joana Carneiro dirigirá a Sinfonia Fantástica de Hector Berlioz e Assim falou Zaratustra de Richard Strauss “Sinto-me muito honrada com a confiança e o investimento que a fundação e a orquestra deposita no meu trabalho. A minha carreira que já tem uma dúzia de anos, leva-me a dirigir orquestras nos pontos mais variados do mundo e é com uma pontinha de orgulho que, distanciando-me, consigo reconhecer o nível de excelência deste agrupamento que é bastante flexível e abrangente na escolha de reportórios. Fico muito satisfeita, por exemplo com o projecto educativo que conseguimos pôr de pé, mesmo no estrangeiro com a ópera de John Adams, A Flowering Tree. Mais recentemente, em Aveiro, percebemos o que este novo projecto do estágio na Orquestra pode representar na carreira dos jovens músicos. Aquilo que se conseguiu do primeiro ao último dia foi um grande testemunho do que o projecto pode dar. A saudade anunciada, e a pena com que pusemos fim a uma semana de intenso trabalho, foi comovente”. Com a Orquestra Gulbenkian, Joana Carneiro tem sobretudo dirigido música romântica e contemporânea. Muitos jovens compositores. “Existe uma grande flexibilidade, o que contribui também muito para o excelente nível musical. Esta temporada vou fazer um reportório que classificaria de muito programático, e nacionalista.” Nesta partilha de reportório os dois maestros complementam-se. Pedro Neves é um grande divulgador dos compositores portugueses do século XX: “Tocar música portuguesa é para mim uma prioridade. A nossa música é esquecida ou pouco tocada. No nosso percurso académi-

co tocávamos pouca música portuguesa. É uma pena. Se não formos nós a fazer ouvir a nossa própria música mais ninguém o fará. Luís de Freitas Branco e Joly Braga Santos deviam ser os nossos embaixadores, como Grieg ou Sibelius o são nos países nórdicos. Quando mais se divulgar a sua música, melhor, até porque só assim se descobrem o quão foram inovadores e até certo ponto visionários.” Pedro encara o facto de trabalhar bastante para novos públicos, quer em Lisboa, quer nas deslocações com a Orquestra pelo país, uma grande responsabilidade: “Os concertos para jovens e famílias cumprem uma missão pedagógica importante. É um desafio, um processo que deve ser alimentado. A exigência musical dos próprios músicos também cresce. A nova hierarquia, a distribuição articulada de funções na Orquestra Gulbenkian pela equipa que agora inicia um trabalho regular tem aspectos muito positivos. Potencia energias muito positivas”. Os caminhos da Orquestra Gulbenkian passam pelo crescimento, amadurecimento musical e escolhas destes dois jovens músicos. Tolstoi, que arrumou as memórias dos seus primeiros anos com um livro que intitulou Infância, adolescência e juventude, deixou à sua frente muito futuro que aproveitou para escrever grandes obras-primas.

Pedro Neves DR

Joana Carneiro DANIEL ROCHA

sfsadfsdf dwdffsdsf

DR


Coro Gulbenkian

Uma família com O Coro Gulbenkian acolhe jovens de outros coros e com eles abre este ano, na basílica de Mafra, a temporada de música da Gulbenkian. Num só programa, Scarlatti, Bach e Bruckner. É um retrato fiel do espírito e da forma como o Coro Gulbenkian trabalha. Rui Lagartinho (texto) e Bruno Simões Castanheira (fotos)

À exigência responde-se com trabalho árduo e intenso. Quinze programas diferentes só esta temporada obrigam o Coro Gulbenkian a diversificar afeições. Em meses sucessivos farão oratórias barrocas e clássicas, estrearão uma obra de António Pinho Vargas, a 31 de Dezembro honrarão a tradição do Te Deum em São Roque farão o Orfeu de Gluck, estrearão em audição moderna os vilancicos que se compunham no Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra durante o século XVII. É uma corrida contra o tempo mas é uma maratona que não cansa os atletas coralistas, porque a paixão com que se entregam áquilo que fazem é visível num qualquer ensaio a que se assista. No fim de tarde em que estivemos num largo hall do piso -2 — uma sala de ensaio improvisada enquanto decorrem as obras na sala onde habitualmente o coro ensaia — o maestro Jorge Matta preparava o programa que Ton Koopman dirigirá no

final de Outubro na Igreja de São Roque em Lisboa. “Senhor Jesus que sofreste o martírio, o escárnio e angústia”, lê-se numa das cantatas de Bach agora em ensaios. O coro entoa cada sílaba, procura o alemão correcto. Estamos numa primeira leitura, as férias terminaram há três dias, mas já se assentam bases de trabalho. “Tal como eu esperava, foi uma primeira leitura entusiasmante”, confessar-nos-á mais tarde o maestro numa pausa entre dias de ensaio. “Tudo tem de estar preparado de uma forma viva e inteligente. Tentamos sempre vir para cada ensaio como se fosse o primeiro.” E o maestro brinca com os coralistas: “Vá lá, temos de deixar algumas imperfeições para o maestro Ton Koopman poder brilhar.” “Em qualquer obra que trabalhemos até à estreia, o dia em que o maestro que vem dirigir a obra a Lisboa ensaia finalmente o Coro Gulbenkian, é dia de exame. E tive muitas

poucas vezes, raríssimas mesmo, a sensação de insatisfação com o trabalho feito”. Qualquer um dos coralistas com quem conversámos pode não conseguir dizer todas as obras que vai cantar esta temporada, mas todos fixaram que em Abril regressam à Paixão segundo São Mateus. Há uma religião Bach? Para o maestro Jorge Matta quando chegamos a uma oratória estamos a transcender-nos. E depois, que eu conheça, é o único músico onde é impossível encontrar um defeito.” “Quando fazemos a música de Bach há uma espiritualidade que toca mesmo os coralistas que não são católicos. A própria música celebra algo de muito especial”, garante-nos Joana Nascimento que canta no Coro Gulbenkian desde 1993. Vinte anos que foram de “um contínuo aperfeiçoamento e crescimento musical.” Nos últimos anos, à medida que o Coro Gulbenkian se foi tor-

“Em Bach há uma espiritualidade que toca mesmo os coralistas que não são católicos” 10


115 membros

11

O coro Gulbenkian durante os ensaios


Fernando Gomes Barítono (no CG desde 1992)

Inês Martins Contralto (no CG desde 1982)

“Numa actuação em Lyon senti que entrámos no coração das pessoas que nos escutaram”

nando mais permeável à entrada de novos elementos, e também devido ao facto de quem entra poder ambicionar sair para outros projectos e não ficar toda vida musical activa no Coro Gulbenkian, a média etária dos elementos que compõem este agrupamento baixou muito, situando-se agora ligeiramente acima dos trinta anos. Jorge Matta, que começou a sua longa relação com o coro como cantor em 1971, conhece melhor do que ninguém esta instituição e pode olhar para o Coro Gulbenkian retrospectivamente, encarando o período actual: “Hoje o desafio é constante. Chegámos ao topo, mas temos de estar completamente preparados. Temos de ter uma resposta muito mais eficaz. Neste momento, temos uma concorrência feroz. Temos de ser excelentes. Antes uma obra requeria às vezes o dobro dos ensaios daqueles que hoje são precisos. A melhoria do ensino nas escolas portuguesas elevou o nível musical dos novos coralistas que aqui chegam.” O primeiro concerto de Bruno Almeida, engenheiro físico de for-

“Ter feito as Bodas de Stravinsky com o Coro, a Orquestra e o Ballet foi um momento alto na minha carreira”

mação, membro do Coro Gulbenkian desde 2011, foi com As Vésperas do compositor russo Sergei Rachmaninov. Desde esse dia não perdeu pingo de entusiasmo por pertencer ao coro. Olha guloso para as obras que vai abordar, sejam elas os vilancicos ou as grandes oratórias. Deseja “conseguir estar à altura dos desafios, que espera, sejam muitos”. A forma como este entusiasmo trazido por quem quer fazer pela primeira vez é acolhido por quem já está no Coro Gulbenkian há mais anos, é um dos aspectos que faz com que todos se sintam em família. Aníbal Coutinho, enólogo, no coro desde 1998, não tem dúvidas: “O Coro Gulbenkian tem imenso orgulho no seu património. Qualquer coralista que vem integra-se na perfeição no trabalho da equipa. Gera-se um nível de excelência.” E é em família que se trabalha o tão falado timbre das vozes do Coro Gulbenkian que os maestros, sobretudo os que vêm da fria Europa, gostam de elogiar. Michel Corboz primeiro, Frans Bruggen, nas últimas duas décadas do século pas-

Rui Borras Baixo (no CG desde 2005)

Bruno Almeida Tenor (no CG desde 2011)

“Quando entramos numa sala de ensaio, ou no palco para actuarmos, o resto da vida fica para trás”

sado, René Jacobs, Esa-Pekka Salonen mais recentemente levaram o Coro Gulbenkian às melhores salas do mundo, escolheram-no para longas tournées. Recorda o maestro Matta: “As vozes latinas, são ricas e sempre trabalhámos a riqueza do timbre. E essa qualidade tem de se manter pois é uma mais-valia deste agrupamento.” “Podem-se contar pelos dedos das mãos os coros com a qualidade do nosso. A cor das vozes é única no Coro Gulbenkian.”Garante Inês Martins, que entrou para o coro em 1982. “O coro de câmara holandês, ou qualquer dos melhores coros britânicos podem ser superiores a nós do ponto de vista da técnica mas por vezes soam frios e incaracterísticos sobre o ponto de vista musical.” Afirma Jorge Matta. “A alma latina faz sempre transparecer mais qualquer coisa para além da música.” Nota Rui Borras, no Coro Gulbenkian há oito anos. Para ele o grande desafio “é um dia conseguirmos identificar através da

“Quando entrei no CG senti que estava a ser honrada a tradição de receber bem os novos elementos”

audição dum disco a sonoridade única do coro, como um colectivo.” Algo não tão distante assim. A escolha de quem entra para o Coro Gulbenkian é cada vez mais exigente, no que à adequação e harmonização de vozes diz respeito: “Já temos recusado candidatos com uma carreira solista precisamente porque não antevemos uma capacidade de fusão na unidade que deve ser o coro.” Se a atitude principal de quem trabalha no Coro Gulbenkian é a permanente sensação de descoberta mesmo em reportório a que já se está habituado, imagine-se quando se tem o privilégio de dar a ouvir, em estreias modernas alguns tesouros do nosso património musical. E aí ajuda o facto de o director adjunto do Coro Gulbenkian ser um musicólogo curioso e incansável: “Sou um privilegiado. Posso pegar num manuscrito, estudá-lo, preparar uma edição crítica, ensaiar essa obra, dála a conhecer ao público actual, e editá-la em disco.” Esta temporada há um programa que é uma descoberta: Coimbra

“A melhoria do ensino nas escolas portuguesas elevou o nível musical dos novos coralistas que aqui chegam” 12


Clara Coelho Soprano (no CG desde 1997) “Cresci como pessoa e como músico no Coro Gulbenkian”

Susana Duarte Contralto (no CG desde 2001) “Cantar o Requiem de Brahms e os madrigais de Luís de Freitas Branco são momentos que não vou esquecer”

Aníbal Coutinho Tenor (no CG desde 1998) “Estamos no Top 5 das temporadas corais sinfónicas que se fazem no mundo”

Joana Nascimento Contralto (no CG desde 1993) “Quando fazemos Bach, há uma espiritualidade que marca todo os coralistas”

il seicento em Santa Cruz é uma viagem aos Vilancicos religiosos escritos no mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, uma comunidade musical auto-suficiente com características únicas na Península Ibérica durante os séculos XVI e XVII. “Este país tem muito património musical por descobrir”, assegura Jorge Matta. Esta embaixada da música feita em Coimbra marca uma das passagens pela lisboeta igreja de S. Roque. A outra, e um das mais espectaculares, será mais um Te Deum em S. Roque. Uma tradição do século XVIII que foi retomada em 2011 e que rapidamente se converteu num sucesso. Este ano, com a Orquestra Divino Sospiro será executado o Te Deum que António Teixeira escreveu em 1734 para cinco coros. Se houvesse um só momento para descobrir a excelência do Coro Gulbenkian este seria um deles. Mas, felizmente, há muitos mais, na vida de um agrupamento central no panorama musical português e que em Novembro de 2014 assinala cinquenta anos de existência.

Jorge Matta, o maestro, nos ensaios

13


MET Opera Live em HD

Ópera em Lisboa? Quase só via satélite A partir de Nova Iorque, dez óperas em Alta Definição de som e imagem do melhor que se faz actualmente no MET. Rui Lagartinho

Evgeni Onegin, de Tchaikovsky DR

O Príncipe Igor, de Borodin DR

Com a crescente definhamento e demissão do papel formador e de fruição do Teatro Nacional de S. Carlos a que assistimos na última meia dúzia de anos, e a tendência não parece ir ser invertida nos próximos tempos — o teatro está por exemplo, independentemente dos excelentes corpos artísticos e técnicos de que dispõe, em auto-gestão e sem direcção artística —, a formação do gosto pela ópera passa pelas transmissões em directo daquilo que se produz na maior e melhor casa de ópera do

mundo, a Metropolitan Opera House de Nova Iorque. A temporada do MET chega a todo o mundo em transmissões directas em alta definição de som e imagem mas enquanto na maioria dos países é exibida em salas de cinema, muitas delas integradas em complexos multi-salas, em Portugal graças à aposta da Fundação Gulbenkian, cada transmissão tem o peso e quase a solenidade de uma ida à ópera. Da próxima temporada do MET

serão transmitidas em Lisboa, dez óperas. Na abertura da temporada saímos este ano do repertório do bel canto de Donizetti, tão do agrado do director geral do teatro Peter Gelb para assistirmos à estreia de uma nova produção da quinta-essência do romantismo russo, Evgeni Onegin de Tchaikovsky adaptação do romance, longo poema, de Pushkin. Deborah Warner, a encenadora desta nova produção promete uma linha de verdade na leitura que pro-

Graças à aposta da Gulbenkian, cada transmissão do MET tem o peso e quase a solenidade de uma ida à ópera

põe aproximando-a do universo de outro russo que vem logo a seguir na história, Anton Tchekhov. Na actualidade, uma das maiores e maiores cantoras regulares do MET é russa, e por isso será ela, falamos, claro, de Anna Netrebeko, a Tatiana das próximas temporadas. Valerie Gergiev, o czar dos maestros russos, dirige. A estreia de gala, vai certamente encher os cofres do MET. A onda russa estende-se ainda ao regresso de O nariz, a surreal obra de Dimitri Chostakovitch. Uma produção de 2010 em que o teatro apostou num artista plástico de grande renome, o sul-africano William Kentridge para encenar a obra. Na estreia, e disso deu testemunha o crítico do New York Times,

14


CALENDÁRIO Met Opera Live

10 Nov 11h00 10 Nov 16h00 Grande Auditório da Culturgest Evgeni Onegin - Tchaikovsky

24 Nov 11h00 24 Nov 16h00 Grande Auditório da Culturgest O Nariz - Chostakovitch

Thomas Hampson

01 Dez 11h00 01 Dez 16h00 os tradicionais assobios de desagrado que se ouvem regularmente no MET em relação a obras do século XX não se escutaram. Outra ópera russa, uma nova produção de grande folego épico, O Príncipe Igor de Alexei Borodin, estreia em Março. E esta temporada marca também o regresso ao pódio do director musical da casa afastado do seu habitat natural uma mão cheia de anos por razões de saúde que se prolongaram mais do que o previsto. James Levine dirigirá algumas das récitas de Così Fan Tutte lá mais para o final da temporada.Ainda em 2013 estreará a nova produção da casa de “Falstaff” com encenação de Robert Carsen. O encenador canadiano vai manter a acção em Windsor, mas transporta a “comédia social” da última ópera de Verdi para os anos cinquenta do século XX. Muita comida e bebida em todas as cenas e os fantasmas psicológicos da condição de caçador prometem perpassar pela obra. O italiano Ambrogio Maestri que cantou recentemente Falstaff no Alla Scala e no Covent Garden, estará em Nova Iorque. Para quem nunca viu, ao vivo ou em DVD, este ano será possível também assistir a uma das produções clássicas de Franco Zeffirelli. A sua La Bohème de Puccini estreada em 1982 representa um paradigma do seu trabalho. Que marca, queiramos ou não, uma época. O MET mantém carinhosamente esta produção, muito popular entre o público no seu reportório. Uma boa prática das instituições em paz com a sua história. Pela temporada transmitida pelo mundo em Alta Definição, passam também outros dois clássicos da casa, com duas protagonistas, duas americanas, quase artistas residentes do MET. Antes de Renée Fleming tomar conta de Rusalka, poucos conheciam a obra-prima de Antonin Dvorák. E Joyce DiDonato, que tão boas memórias deixou o ano passado em Lisboa, encarna La Cenerentola, à frente de um grande elenco de peixes na água, no que à obra de Rossini diz respeito e que inclui os cantores Juan Diego Flórez e Alessandro Corbelli.

15

DR

Grande Auditório da Culturgest Tosca - Puccini

Grandes intérpretes

15 Dez 11h00 15 Dez 16h00

Estrelas de hoje e de amanhã

Grande Auditório da Culturgest Falstaff - Verdi

09 Fev 11h00 09 Fev 16h00 Grande Auditório da Culturgest Rusalka - Dvorák

01 Mar 17h00 Grande Auditório O Príncipe Igor - Borodin

15 Mar 17h00 Grande Auditório Werther - Massenet

10 Abr 19h00 Grande Auditório La Bohème - Puccini

03 Mai 18h00 Grande Auditório Così fan tutte - Mozart

10 Mai 18h00 Grande Auditório La Cenerentola - Rossini Todas as transmissões são feitas a partir da Metropolitan Opera de Nova Iorque, em alta definição (HD) visual e sonora

A temporada de música Gulbenkian deste ano está, como sempre, pejada de intérpretes que são referências internacionais. Rui Lagartinho Por uma questão de arrumação quem desenhou a temporada de música da Gulbenkian deste ano criou um ciclo autónomo que denominou “Grandes Intérpretes”. É aqui que se agrupam presenças já regulares na Gulbenkian: o barítono americano Thomas Hampson, o maestro Gustavo Dudamel ou a Gustav Mahler Jugendorchester. Hampson, senhor de uma vastíssima carreira que nesta temporada anda ocupado a ser pela primeira Simon Boccanegra e Wozzeck em Viena e em Nova Iorque, traz a Lisboa um programa que é bem exemplo de um dos aspectos em que a sua carreira se distinguiu: a diversidade que vai de mão dada com a grande paixão que para ele representa o “diálogo entre o poeta e o compositor”. O programa em que se apresenta com a Amsterdam Sinfonietta é quase uma enciclopédia do lied alemão através das obras de Wolf, Brahms, Schubert que irá cantar. No mesmo recital ouvir-se-á ainda Dover Beach, um dos principais ciclos de canções de Samuel Barber, um compositor em que Hampson

definiu um cânone interpretativo para muitos e muitos anos. Gustavo Dudamel estreia-se em Lisboa com mais uma grande orquestra em digressão mundial. Stravinsky com a Sagração da Primavera e Beethoven com a sinfonia nº 4 fazem parte do programa à frente de uma daquelas orquestras que tem lugar cativo em qualquer lista que elenque as melhores do mundo: a Orquestra Sinfónica e de Radiodifusão da Baviera. E em Abril, a tournée da orquestra juvenil Gustavo Mahler passa mais uma vez pela Gulbenkian com dois programas diferentes que incluem entre outras obras, dois monumentos sinfónicos: a sinfonia nº 4 de Gustav Mahler e a sinfonia nº 7 de Bruckner. Duas embaixadas nacionalistas preenchem também o ciclo grandes intérpretes: a orquestra Teresa Carreño da Venezuela, mais um exemplo das orquestras do El Sistema que redefiniu a imagem das orquestras juvenis no mundo inteiro e o Orfeó Català, a mais importante embaixada cultural da nação catalã. Fora deste ciclo é fácil encon-

tramos outros grandes intérpretes, daqueles que são referências incontornáveis, qualquer que seja o ângulo segundo o qual analisemos a sua trajectória. É o caso do quarteto Borodin. Os quatro magníficos russos regressam a Lisboa para propor, integrado no ciclo dos quartetos de cordas, um olhar sobre as integrais dos quartetos para cordas de Tchaikovsky e Brahms. Entre os pianos, Sokolov marcará de novo presença no Grande Auditório. Os seus recitais em anos sucessivos já se tornaram um clássico nas temporadas de música da Gulbenkian. Regressam também a Lisboa as pianistas Katia e Marielle Labèque e ainda, para tocar com a Orquestra Gulbenkian o concerto nº2 para piano e orquestra de Chopin, o pianista brasileiro Nelson Freire. E ao lado das estrelas consagradas a temporada Gulbenkian acolhe pela primeira vez o ciclo “Rising Stars”. Durante três dias em Maio, alguns dos principais auditórios de concertos da Europa apresentam em três dias uma série de jovens músicos que, apostam, vão marcar o futuro.

O programa em que Hampson se apresenta é quase uma enciclopédia do lied alemão


A integral da música escrita para piano de Sergei Rachmaninov pelo mais internacional dos pianistas portugueses. Rui Lagartinho

Artur Pizzarro

Tão largo como a vida

Nas próximas duas temporadas de música na Gulbenkian, o ciclo de piano, por onde passam sempre os melhores pianistas da actualidade será dominado pela tarefa a que Artur Pizarro se propôs: abordar a obra integral para piano de Sergei Rachmaninov. São seis recitais. A obra para piano de Rachmaninov, intensa, diversa, gigantesca, atravessa seis décadas de criação artística. A seis meses do primeiro recital (agendado para Março de 2014) Artur Pizarro já se projecta com emoção a entrar no renovado Grande Auditório. Está habituado a grandes desafios, não é a primeira vez que aborda a integral de um compositor. Rachmanivov é especial? Muito. É desde logo um compositor que me acompanhou ao longo dos meus mais de vinte e cinco anos de carreira e é um dos compositores de que mais gosto, ao qual dediquei imensas horas de estudo, sobre o qual reflecti muito. Depois é um ciclo especial porque vai ser no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian — o meu primeiro concerto com orquestra foi aí — e sinto a responsabilidade de honrar a aposta que a direcção do Serviço de Música fez em mim. E apesar da minha carreira se espalhar pelo mundo inteiro, ter a oportunidade de ir tocar tantas vezes a Lisboa no espaço de um ano, à cidade onde nasci, é muito reconfortante. Que fio condutor, que script traçou para este ciclo tão vasto? A primeira armadilha que se deve evitar numa integral é apresentar as obras numa sucessão cronológica. A abordagem torna-se muita didáctica. No caso de Rachmaninov estamos a falar de dezenas de obras compostas entre a juventude do compositor vivida na década de oitenta do século XIX e o final da vida, já na década de quarenta do século XX. São sessenta anos. Procurei por isso encontrar pontos comuns entre peças de tempos distintos, comparar por exemplo ideias e vislumbres em obras de juventude que depois se confirmam nas obras de maturidade. Por outro lado dada a reflexão e aperfeiçoamento constante que o próprio compositor fazia sobre a obra que

Existe sempre um elemento emocional genuíno nas suas obras, nos momentos mais felizes e nos mais obscuros

ia produzindo procurei sempre que possivel escolher para interpretar a versão definitiva. Intimida-se quando vê e ouve os próprios registos do compositor a abordar a sua obra? Não. E até me dá uma certa liberdade. Há graças a Deus muitos registos do próprio compositor a tocar a sua obra. Mas quando traduzimos as suas intenções, as suas ideias, num corpo diferente, de mãos diferentes, tudo muda. Dito isto, tento ao máximo debruçar-me sobre o valor estético que estas obras traduzem e tentar compreender e respeitar certas decisões. Descobriu, está a descobrir obras que desconhecia? Como é um compositor que trabalhei muito, praticamente com uma ou outra excepção já conhecia toda a obra que vou tocar. Ainda subsistem muitos preconceitos acerca da música de Rachmaninov? Tendem a dissipar-se mas ainda existe uma certa rotulagem de compositor menor. Não por parte do público, graças a Deus mas da comunidade musical. Ora é uma ideia falsa. Existe sempre um elemento emocional genuíno nas suas obras, quer nos momentos mais felizes da sua biografia, quer nos momentos de mais obscuros de dúvida, de insegurança. Rachmaninov começa a escrever no auge da escola romântica russa, escreve obras de uma genuína curiosidade influenciadas por Borodin, Glinka,Tchaikovsky, e continua a compor quando Debussy, Ravel e Prokofiev estão no activo. E há nas últimas obras que escreve, as danças sinfónicas, a Terceira Sinfonia, um apontar de futuro que só não houve quem não quer ou insistir em ter um ouvido selectivo. Por exemplo um compositor como Samuel Barber, já nos anos cinquenta percebeu isso e a sua obra aceita e integra o legado de Rachmaninov. Não é um artista fácil de encaixar e por isso nunca se sentiu amparado a não ser pelo público. Em que ponto está a sua carreira? Estou como quase sempre desde que comecei, entre o que já consegui e o que ainda vou conseguir. Estou sempre de malas feitas, com regras de disciplina e de preparação que imponho a mim mesmo, pronto para a partir para a próxima etapa. A minha lista de sonhos e desejos nunca está terminada.

16


Ciclo Teatro/Música

CALENDÁRIO Teatro/Música

O medo que a arte pode causar

13 Set 21h30 14 Set 21h30 Teatro Maria Matos Marco Martins direcção artística e criação Sofia Dias e Vítor Roriz cocriação e interpretação Coro Gulbenkian Two maybe more

04 Out 21h30

O ciclo Teatro/Música traz-nos de volta Anne Teresa de Keersmaeker, apresenta-nos Katie Mitchell e pergunta-nos se ainda queremos ser surpreendidos. Tiago Bartolomeu Costa

Teatro Maria Matos Joana Sá Elogio da Desordem

21 Fev 21h30 22 Fev 21h30 Teatro Maria Matos Asko Schönberg Ensemble Etienne Siebens maestro Katie Mitchell encenação Kitty Whately meio-soprano Oliver Dunn barítono The House Taken Over - Vasco Mendonça

Há um momento em Partita 2 (sei solo) em que quase parece que perdemos os sentidos. Os movimentos de Anne Teresa de Keersmaeker e Boris Charmatz não têm nem céu nem terra, não pertencem a nenhuma ordem nem obedecem a qualquer categoria. De Keersmaeker, que com esta peça regressa ao Grande Auditório da Gulbenkian após ter apresentado 3Abschied em 2012, gostaria que pensássemos que dança como anda. Ou seja, que na intensidade da construção há uma margem de erro, no que este tem de perfeição, de ascetismo, de liberdade que não lhe admitíamos até percebermos que o ritmo, a ordem, a lógica, a crueza de alguns dos seus movimentos, tem origem nas aulas de dança jazz e sapateado que teve na MUDRA, a escola de Maurice Béjart . E é por isso, nesta confluência de inusitados encontros, que Partita 2 (sei solo), um dos espectáculos que integra o terceiro ano de programação conjunta do serviço de música da Fundação Calouste Gulbenkian e

01 Abr 19h00 01 Abr 21h00 Grande Auditório Orquestra Gulbenkian La Fura dels Baus Susanna Mälkki maestrina Allison Cook meio-soprano Robin Adams barítono Àlex Ollé (La Fura dels Baus) encenador Patrizia Frini directora da reposição da encenação Alfons Flores cenógrafo Quartett - Francesconi

13 Mai 21h00 14 Mai 21h00 Grande Auditório Anne Teresa De Keersmaeker coreografia e dança Boris Charmatz dança Amandine Beyer violino Michel François cenografia Anne-Catherine Kunz figurinos Partita 2 (Sei Solo)

The House Taken Over DR

17

do Maria Matos – Teatro Municipal, é, na sua estranheza, a mais radical hipótese de configuração do palco como laboratório de experimentação que podíamos perceber, nos palcos que, por razões várias, se enchem de matérias na sua maioria descartáveis. Os corpos de De Keersmaeker e de Charmatz não são descartáveis. Nem o de Amandine Beyer, a violinista que desaparece através do movimento da partitura de Bach, esse terceiro corpo, ausente mas impossível de não sentir a comandar a nossa respiração. Sâo corpos que, se desaparecem por entre movimentos circulares, parecem esboços de outros movimentos. Dos que intuímos e dos que recordamos. Estreado em Maio, este encontro entre o ascetismo de De Keersmaeker e a carnalidade de Charmatz, é também uma lição sobre o modo de construção de diálogos a partir de palavras que se interrompem. Não é que os bailarinos e coreógrafos falem, mas murmuram, e contam os passos. Mas quando Charmatz esten-

de o braço para segurar o pescoço de De Keersmaeker ou quando Anne Teresa se apoia em Boris para o ultrapassar, nesses segundos entre a terra e o céu, voltamos a acreditar na dança como o que de mais próximo existe do imaterial. Íamos dizer da fé, se, num repente, tão repente que parece que não existiu, não nos lembrássemos que não há esperança sem memória. Depois de em 2012 De Keersmaeker ter sido Artista na Cidade, em Lisboa, lembremo-nos de Fase, a peça inaugural do seu percurso, em 1982, quando a voltarmos, agora, a conceber arcos, assumamos, narrativos, dentro de movimentos que parecem criar uma paisagem no interior da tela que é o palco. Quase que podíamos dizer que é da mesma ordem de ideias, ou do mesmo princípio intencional, que parte a britânica Katie Mitchell para The House Taken Over, ópera onírica a partir de um curto romance de Julio Cortázar que o jornal Libération, na altura da estreia, em Julho, no festival de Aix-en-Provence, apelidou de “huis

clos misterioso e angustiante”. Não é para menos já que Katie Mitchell, em tudo secundada por uma partitura assinada pelo português Vasco Mendonça, é mestre na criação de pontos de encontro entre as arestas afiadas das disciplinas artísticas.A sua estreia em Portugal é um acontecimento a todos os níveis entusiasmante já que nos permite acertar o passo com o entusiasmo crescente por um universo que se alimenta dos espaços vazios que ficam das relações forçadas entre o teatro e o cinema, a literatura e a música, a palavra e o corpo. Mitchell, cujo universo referencial junta W. G. Sebald, Virginia Wolff e Ibsen, criou, escreveu o Le Soir, “uma pequena jóia de concentração e precisão” ao extrair da vida dos dois irmãos, Hector e Rosa, na Argentina dos anos 1940, a matéria inflamável através da qual se pode perceber o mal-estar social contemporâneo. A possessão da casa é metáfora para a possessão das almas, naturalmente. Do mesmo modo que a partitura de Mendonça permite que Mitchell explore, no palco, zonas de sombra como se expusesse as zonas de sombra da alma humana. Há uma sensação de vertigem, tal como em Partita 2 (sei solo), mas aqui, por força da máquina bem oleada que é o discurso de Katie Mitchell, somos tocados pela graça que pode ter perdermo-nos no medo que (alguma)a arte (ainda) pode causar. O ciclo Teatro/Música, que começou a 6 de Setembro com Two Maybe More, o encontro entre o cineasta e encenador Marco Martins e os bailarinos e coreógrafos Sofia Dias e Vitor Roriz a partir de textos de Gonçalo M. Tavares, inclui ainda um concerto de Joana Sá (4 Outubro) e Quartett, ópera de Luca Francesconi a partir de Choderlos de Laclos, que marca o regresso dos catalães La Fura dels Baus à Gulbenkian, depois de em 1987 se terem apresentado, pela primeira vez em Portugal com Accions, nos Encontros ACARTE, momento de descoberta e, para alguns, profunda revolta, com um discurso, ainda hoje (mesmo se domesticado) de revolta, de raiva e de provocação.


Ciclo de Música Antiga

Descobertas e certezas do universo pré-romântico João Chambers, autor do programa Musica Aeterna da Antena 2 traça aqui um roteiro dos concertos que integram aquilo que apelida de “Património musical antigo”. Foi em meados da década de cinquenta do século XX que se começou a verificar um notável aumento do interesse pela produção musical europeia anterior ao Romantismo, da qual não existia uma tradição interpretativa chegada até nós de forma continuada. O empenho manifestou-se, sobretudo, no cada vez maior cuidado com que os intérpretes passaram a abordar esse tipo de repertório ao analisar as criações do passado sob uma perspectiva musicológica e de acordo com um consistente estudo científico das fontes históricas.A partir de então, a investigação aprofundada de manuscritos originais, tratados, correspondência, restauro de instrumentos antigos e técnicas específicas de execução segundo as condições acústicas dos locais, além do constante incremento na realização de concertos, passaram a ser prática comum por esse mundo fora com a nada honrosa excepção deste pobre país à beira-mar plantado. No entanto, não foram apenas os modelos desse tempo, a sua recuperação ou a construção actual de cópias fiéis que têm vindo a fazer a diferença: é toda a exigência de novas leituras, alicerçadas em vastos saberes, que começou a legitimar a denominada “nova música antiga”, na certeza de que uma obra de arte apenas adquire o seu significado próprio se forem respeitados o pensamento e a contextualização que lhe deram origem. Caso contrário, ficar-se-á numa periferia claramente redutora daquilo que constituiu o verdadeiro trabalho de grandes mestres a viverem em épocas bem distintas como o são a Idade Média, o Renascimento, o Barroco e o período clássico, todas elas bastante afastadas das principais correntes estéticas que vingaram em oitocentos. É esta filosofia que, desde o abrupto e inesperado fim das Jornadas Gulbenkian de Música Antiga de saudosíssima memória, tem vindo, pouco

a pouco, a ser retomada por Risto Nieminen.Analisando a programação para a temporada 2013/2014 sob uma vertente histórica e musicológica, onde as ainda insuficientes abordagens dos estilos medieval, renascentista e barroco são tristes evidências, sobressaem os seguintes concertos: • a 31 de Dezembro, o Te Deum de António Teixeira, um dos compositores enviados a Roma como bolseiros de D. João V, universalmente popularizado através da gravação histórica de Harry Christophers (Coro/ Gaudisc), na Igreja de São Roque, com o Coro Gulbenkian e o agrupamento Divino Sospiro, de Massimo Mazzeo, dirigidos por Jorge Matta. • a 24 de Fevereiro, o salmo Dixit Dominus, HWV 232, em versão reduzida, de George Frideric Händel e a ópera Dido e Eneias de Henry Purcell, uma das mais pungentes e dramáticas de toda a História da Música Ocidental, pela MusicAeterna Orchestra and Chamber Choir, o mais importante colectivo russo especializado em interpretações fidedignas, sob a direcção de Teodor Currentzis. Ao contrário de Bach, que jamais abandonou o país de origem, Händel optou por uma existência cosmopolita, viajando e trabalhando em várias cidades da Alemanha, de Inglaterra e de Itália. Se a estada em terras transalpinas, ocorrida durante os últimos quatro anos da primeira década de setecentos, foi relativamente curta quando comparada com a de alguns dos seus pares, conquanto de grande importância para a formação de um idioma autónomo, já as viagens a Inglaterra revelar-se-iam decisivas na orientação da própria vida profissional. Na realidade, acabaria mesmo por obter a cidadania

britânica em 1727, permitindo assim ao seu país de adopção legar o mais famoso dos nomes que, exceptuando Purcell, o outro lado da Mancha conseguiu outorgar à História da Música Ocidental. Mais conhecido através das oratórias e da música instrumental que nos deixou, foi, porém, à ópera que dedicou a maior parte de uma admirável actividade criadora quer na qualidade de autor e intérprete, quer na de director artístico de diversos teatros. De facto, por omissão ou juízo precário foram consideradas menores não só as peças dramáticas como também a própria concepção estilística a que elas obedeciam, ou seja, o teatro lírico sério. Contudo, e numa omissão que todo o século XIX e a primeira metade do XX negligenciaram, nenhuma das cerca de seis dezenas de criações do género que legou para as gerações posteriores seria alguma vez apresentada. Assim, foi apenas a partir de cerca de 1950 que historiadores e musicólogos, no movimento artístico mais fecundo das últimas décadas, proporcionador, ano após ano, da redescoberta de um património até então deturpado ou, simplesmente, negligenciado, apreenderam aquela especificidade setecentista.A subida e descida do pano, uma única vez, no início e no fim das apresentações, as rápidas mudanças cénicas efectuadas à vista dos espectadores e o papel assumido pela harmonia na amplitude da acção dramática foram, apenas, alguns dos factores determinantes para a apreensão dos seus universos lírico e litúrgico. A relação de Händel com a ópera remonta a 1703, ano em que ingressou na orquestra do Teatro de Hamburgo, tendo, numa primeira fase, integrado o tutti dos segundos violinos e, após alguma experiência entretanto adquirida, ocupado o posto de cravista. Porém, dois anos mais tarde, estreou-se na abordagem do

estilo com Almira e Nero e se a primeira assinalou um enorme êxito, já a apresentação da segunda saldar-seia por um enorme fracasso artístico e financeiro. Efectivamente, este insucesso colocou em perigo toda a carreira naquele estilo, embora chegasse ainda a conceber uma outra tragédia destinada à instituição alemã antes de rumar, em 1706, à Península Itálica. As razões que o levaram a abandonar a cidade hanseática de Hamburgo poderão ser encontradas num convite do ainda príncipe Fernando de Médicis, o qual, impressionado com um talento precoce, lhe propôs visitar Florença, isto é, a maior escola operática de então. A permanência de Händel na Península Itálica prolongar-se-ia até 1710, no decorrer da qual estudou e trabalhou em Florença, Nápoles,Veneza e Roma, onde conheceu e se relacionou com os mais eminentes mestres da época. A sua influência tornar-se-ia decisiva no trabalho posterior que fez pressentir desde as criações puramente instrumentais até às realizações sacras.Assim acontece, por exemplo, na oratória La Resurrezione, concebida na Cidade Eterna e cuja estreia, dedicada ao Cardeal Gualterio, ocorreu, a 8 de Abril de 1708, no Palácio Bonelli do mecenas e influente Francesco Maria de Ruspoli. No decurso da estada em Itália, o saxão regressaria todos os Outonos à corte dos Médicis, tendo sido, porém, em Roma onde laborou mais tempo. Segundo um documento, escrito pelo próprio punho, que sobreviveu até aos nossos dias, chegou ali, pela primeira vez, nos finais de 1706 e no ano seguinte seria contratado por aquele aristocrata.Apesar de não ter funções específicas, tão-pouco um salário fixo, era obrigado a conceber cantatas para serem ouvidas todas as semanas, à semelhança do que Bach viria a fazer anos mais tarde em Leipzig. Em homenagem ao novo patrono, compôs, em 1708, La Resurrezione, cuja estreia, segundo testemunhos da época, se revelou um êxito assinalável. Para essa ocasião específica foi propositadamente construído um palco em pleno palácio, tendo sido Corelli a dirigir o conjunto, com quase meia centena de instrumentistas, numa apresentação caracterizada por

A exigência de novas leituras, alicerçadas em vastos saberes, começou a legitimar a “nova música antiga”

um grande escândalo. Com efeito, foi Margarita Durastante quem, nesse Domingo de Páscoa, desempenhou o papel de Madalena, ou seja, uma verdadeira afronta, tendo em conta o Papa Clemente XI haver interditado as intérpretes femininas de se apresentarem em público. No entanto, o Marquês de Ruspoli terá pensado que o privilégio de poder escutar a arte daquela já então famosa cantora compensava, sobremaneira, qualquer eventual censura proveniente da Santa Sé, o que acabaria por acontecer. Numa cidade onde, durante as representações operáticas, todos os papéis que cabiam às mulheres deviam ser obrigatoriamente desempenhados por castrados, o erotismo perturbador de um soprano “autêntico” terá, por certo, causado grande sensação e espanto. É este espírito que a russa Julia Lezhneva e a Orquestra Barroca de Helsínquia dirigida por Aapo Häkkinen se propõem apresentar, a 22 de Abril, ao público da Gulbenkian. Uma semana mais tarde, a 29, a ópera Elena de Francesco Cavalli, drama por música em um prólogo e três actos, com libreto de Giovanni Faustini e Niccolo Minato, recuperada, após três séculos e meio de obscuridade, pelo já nosso conhecido Leonardo Garcia Alarcón que se apresentará de novo à frente do grupo Cappella Mediterranea. A 30 de Abril, a Missa de Notre Dame de Guillaume de Machaut pelos Graindelavoix do antropólogo e estudioso da etnomusicologia Björn Schmelzer, o qual foi buscar o nome à citação de Roland Barthes “O grão é o corpo na voz que canta, na mão que escreve e no membro que executa”. Esta sublime obra do medievo tardio, já gravada e a aguardar a edição em CD (Glossa), foi de crucial importância para as criações vanguardistas do século passado, o que se poderá tornar num motivo acrescido para incentivar à quebra das rígidas e estereotipadas categorias do património musical antigo, clássico ou contemporâneo. Duas razões fizeram dela uma peça unitária deveras importante: por um lado, considerada como o primeiro ofício religioso polifónico a integrar as habituais cinco secções do Ordinário, trata-se de uma sinfonia vocal totalmente anacrónica; por outro, dotada de textura imponente, singular e arcaica, encontra-se plena de cromatismos e surpreendentes mutações vocais. Machaut, mencionado como Guilherme de Machado por D. João I no Livro da

18


CALENDÁRIO Ciclo de Música Antiga

Joana Seara

Grande Auditório

24 Fev 19h00

19

22 Abr 21h00 Julia Lezhneva soprano Orquestra Barroca de Helsínquia Aapo Häkkinen maestro Händel

Julia Lezhneva

29 Abr 19h00

DR

Jean-Yves Ruf DR

Montaria, escreveu-a para o altar mariânico da Rouelle, na Catedral de Reims, e dedicou-a à Virgem, tendo sido interpretada, julga-se, como homenagem ao irmão e a si próprio após as respectivas mortes. Conquanto a tenha ornamentado com exuberantes improvisações, Schmelzer associá-la-á aos próprios cânticos de um missal descoberto naquele imponente templo gótico francês. Os sete cantores, oriundos de países tão díspares quanto a Bélgica, a França, a Estónia, a Roménia ou os Estados Unidos da América, têm em comum vozes não uniformizadas por um ensino do canto académico, um som original e uma vasta experiência heterogénea. Neste sentido, os Graindelavoix são, também, o ponto de encontro de intérpretes que juntam força e erudição ao fito de criar algo de inédito, transpondo, sem esforço, esse repertório e uma genuína experiência emocional e inédita para quem os escuta. Ecoando as vozes qual palimpsesto várias vezes grafado e criando sonoridades que vão além da historicidade de diversos estilos, irá, por certo, presentear o público português, em espaço adequado, isto é, num templo católico, com uma experiência artística imediata, emocional e única. “A mais sedutora e voluptuosa música que se possa imaginar e, inclusive, a mais apropriada para enganar a vigilância dos santos e inspirar os delírios profanos.” Foi deste modo que, numa das três estadas em Portugal, o romancista e erudito inglês William Beckford se referiu às modinhas, ou cantigas de amor, as quais, na segunda metade do século XVIII, encantaram a corte e a aristocracia portuguesas.As suas origens são ainda dúbias e, tal como ocorre em casos similares, foram surgindo várias alegorias a perdurar através dos tempos. Embora não subsista alguma documentação que o possa certificar, a primeira menção surgiu no decurso do reinado de D. Maria I por ocasião da chegada do género proveniente de terras de Vera Cruz. É este repertório, apresentado, com enorme sucesso, no último mês de Julho, por ocasião do XXXV Festival de Música da Póvoa de Varzim e já editado em CD (Hyperion/Andante), que, a 5 de Maio, chega ao auditório da Gulbenkian através dos sopranos Sandra Medeiros e Joana Seara e do agrupamento L’Avventura London sob a direcção do maestro e alaudista bósnio Žak Ozmo. Concertos absolutamente a não perder!

MusicAeterna Orchestra and Chamber Choir Teodor Currentzis direcção Simone Kermes soprano Tobias Berndt barítono Maria Forsström meiosoprano Nadia Kucher soprano Natalia Kirillova soprano Valeria Safonova soprano Händel, Purcell

DR

DR

Anna Prohaska

Cappella Mediterranea Leonardo Garcia Alarcón maestro Jean-Yves Ruf encenação Solistas da Academia Europeia de Música do Festival d’Aix en Provence Elena - Cavalli

05 Mai 19h00 L’Avventura London Žak Ozmo viola barroca e direcção Sandra Medeiros soprano Joana Seara soprano Marta Gonçalves flauta Joanna Lawrence violino Natasha Kraemer violoncelo Taro Takeuchi viola de seis ordens e guitarra inglesa David Gordon cravo Canções de Amor Portuguesas do século XVIII

Girl listening to a guitar, de Francisco Goya (1799) DR


Que concertos não A primeira coisa que preenchem na agenda são as datas dos concertos que não querem Ana Anjos Mântua Coordenadora da Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves

As obras de beneficiação que decorrem no Grande Auditório até Fevereiro de 2014, trazem-nos, de volta, a saudosa e mágica errância das Jornadas Gulbenkian de Música Antiga. A pulverização da temporada por locais simbólicos da capital, muitos deles construídos, entre outras funções, para a fruição musical, desencadeia experiências sensoriais mais intensas do que aquelas que se pode ter num mero auditório. Embora prefira ouvir este tipo de repertório em instrumentos da época ou suas cópias fiéis, a excelência da direcção e a grande qualidade desta nova geração de cantores portugueses, faz com que a minha primeira escolha incida sobre o concerto que integra as obras: Suite Orquestral nº 3 BWV 1068, Lobet den Herrn alle Heiden, BWV 230; cantatas BWV 127 e 140, interpretadas pelos Coro e Orquestra Gulbenkian, com Joana Seara (soprano), Fernando Guimarães (tenor), Hugo Oliveira (barítono), dirigidos por Ton Koopman, nos dias 31 de Outubro e 1 de Novembro, na magnífica Igreja de São Roque. Ainda na Igreja de São Roque, mas no dia 8 de Novembro, não vou querer perder os “Vilancicos sacros inéditos” de D. Pedro de Cristo e de D. Pedro da Esperança, pelo Coro Gulbenkian, dirigido por Jorge Matta. Quero louvar a iniciativa da FCG em retomar a tradição de uma das cerimónias litúrgicas mais importantes do Portugal de Setecentos, o Te Deum do dia de São Silvestre, ou 31 de Dezembro e, este ano, vamos poder ouvir os magníficos solistas Deborah York, Joana Seara, Terry Wey, Fátima Nunes, João Rodrigues, Pedro Cachado, Hugo Oliveira e André Baleiro acompanhados pela orquestra Divino Sospiro e pelo Coro Gulbenkian. Já em Fevereiro, no dia 24, não vou mesmo querer perder os MusicAeterna Orchestra and Chamber Choir, dirigidos por Teodor Currentzis, que nos trazem as obras Dixit Dominus, HWV 232 de Georg Friedrich Händel e Dido e Eneias de Henry Purcell. Em Abril, no dia 22, teremos de novo Georg Friedrich Händel, mas num concerto intitulado Resurrezione e dedicado às obras produzidas em Roma. O soprano Júlia Lezhneva e a Orquestra Barroca de Helsínquia, dirigida por Aapo Häkkinen conduzir-nos-ão numa viagem musical até à Cidade Eterna de Händel. Em Outubro de 2000, numa das saudosas Jornadas Gulbenkian de Música Antiga, tive o privilégio de ouvir pela primeira vez, na Sala do Refeitório do Mosteiro dos Jerónimos, a Cappella Mediterranea, dirigida por Leonardo Garcia Alarcón. Será, com enorme expectativa que os irei ouvir, uma vez mais, no dia 29 de Abril, no Grande Auditório, numa interpretação do “drama per musica” Elena, da autoria de Francesco Cavalli, com libreto de Giovanni Faustini e Niccolo Minato, sem dúvida um dos momentos altos desta temporada 2013|2014. No dia seguinte, 30 de Abril, num espaço tão marcadamente simbólico como a Igreja de São Roque, vai ter lugar o meu concerto de eleição! Os Graindelavoix, dirigidos por Björn Schmelzer, vão interpretar a Messe de Notre Dame, a primeira missa completa a sobreviver até aos nossos dias, de Guillaume de Machaut. As abordagens etnomusicológica e

performativa tão características deste grupo vocal, vão certamente fazer deste concerto uma sublime experiência para todos os sentidos. Por último e, já em Maio, mais precisamente no dia 5, o grupo L’Avventura London, dirigido por Zak Ozmo a partir da viola barroca, trar-nos-á um repertório animado composto pelas “modinhas”, canções de amor portuguesas tão características da segunda metade de Setecentos. São estas as minhas escolhas, são estes os concertos que não vou querer perder!

Carlos Correia Martins Economista

Com o Grande Auditório (GA) encerrado para obras tornase difícil a “circulação” dos espetáculos por outras salas de Lisboa, que poderão tornar diferentes as sensações que se vivem no GA, no entanto, há concertos que são de grande importância e que devem ser (re) vistos, começaria pela Criação de J. Haydn, obra do repertório coral-sinfónico, é já no dia 3 e 4 de Outubro no Mosteiro dos Jerónimos, local mais que apropriado para ouvir e sentir tão bela obra, que levou dois anos a ser composta e celebra a criação do Mundo a partir do Génesis. Também não quero perder, agora na Culturgest, que celebra os seus 20 anos, a estreia mundial do Magnificat para coro e orquestra, obra de um dos nossos melhores compositores portugueses, António Pinho Vargas, no dia 12 de Outubro. Toda a programação tem um caracter homogéneo e uma linha central que aposta vivamente na qualidade dos concertos e seus intérpretes, falo do ciclo de piano, em vários concertos como a Integral das Obras para Piano de Rachmaninov (I, II e III), com a particularidade de serem interpretadas por um dos mais conceituados pianistas portugueses,Artur Pizarro. Outros grandes pianistas vão estar presentes, como as irmãs Labèque, o pianista de sempre, o G. Sokolov. Convém estar muito atento às intervenções da Orquestra e Coro Gulbenkian na Igreja de São Roque com repertório na sua maioria de J.S. Bach. Que melhor se podia querer num tão nobre espaço! Por este conjunto de propostas torna-se difícil uma escolha mais específica de determinado espetáculo pelo que o melhor é optar pelo maior número possível seguindo estas sugestões não ficarão desapontados.

Jerónimo Martins Advogado

A Fundação Gulbenkian continua a ser uma referência na música que se faz e ouve em Portugal, neste ano 2013/2014.

Com o Grande Auditório a sofrer várias transformações até Fevereiro de 2014, outros locais acolherão vários espectáculos da temporada, como o Centro Cultural de Belém, a Igreja de São Roque, a Academia das Ciências de Lisboa, a Basílica de Mafra ou a Culturgest (entre outros). Outros espaços, com outras acústicas e ambiente propiciarão, certamente experiências diferentes, quer aos executantes, quer aos ouvintes. São muitas as possibilidades de escolha e, obviamente, as minhas sugestões não são mais do que isso mesmo. Assim, entendo que os espectáculos que irão ter lugar entre 13 e 21 de Setembro, no âmbito do Festival Cantabile, na Basílica de Mafra e na Academia das Ciências de Lisboa, serão uma boa opção, podendo-se ouvir entre outros Bach, Scarlatti, Telemann e Mozart. Em 31 de Outubro e 1 de Novembro, na Igreja de São Roque, não deverei perder a Orquestra e Coro Gulbenkian com Ton Koopman, como maestro e cravista notável que é, a dirigir obras de Bach. Procurarei também não perder o concerto da Orquestra Gulbenkian com Susanna Mälkki como maestrina, a 30 e 31 de Janeiro de 2014. As pianistas e irmã Katia e Marielle Labèque são outra escolha, do ciclo de piano, interpretando Stravinsky e Bernstein, aliando a exímia execução a duas obras marcantes. Finalmente, outro pianista, o russo Sokolov, com programa a anunciar, mas cuja presença é, só por si, garantia de um concerto excelente.

Jorge Galvão Videira Engenheiro

A época 2013/4 tem várias novidades: a dispersão dos concertos por várias salas, com as contrariedades inerentes, o novo Maestro Titular, Paul McCreesh e a nova Maestrina, Susanna Mälkki, concertos ao domingo e criação de uma orquestra juvenil portuguesa (que se saudam) e alguns aprofundamentos: maior ligação dos Coros, Gulbenkian e juvenis, bem como dos solistas do Festival Cantabile à Orquestra Gulbenkian, da parceria da Orq. Juvenil G. Mahler e da ligação do Teatro à Música. Penso que o actual Director do Serviço de Música, Risto Nieminen, trouxe alguma mudança à programação, que me parece salutar. Infelizmente, continuamos com saudades do antigo ballet e dos programas com as Grandes Orquestras Mundiais. Esperemos que as obras do Auditório melhorem o ambiente, eliminando as deficiências do ar condicionado e que as expectativas criadas com as restantes nomeações, inovações ou alterações sejam correspondidas. Na minha perspectiva não se poderão perder: nos Grandes Intérpretes, a Orquestra Sinfónica da Rádio Bávara, com o magnífico Gustavo Dudamel, a Orquestra Juvenil G. Mahler e a novidade expectante da venezuelana Teresa Carreño Orquestra; no Ciclo de Piano, Artur Pizarro com a Integral de Rachmaninov, o excepcional Sokolov de quem se esperam sempre vários encores, Korioliov, que tenho curiosidade de ouvir pela primeira vez, com as Variações Goldberg e as irmãs Labèque com a Sagração da Primavera para 2 pianos; nos quar-

20


vai querer perder? perder. Eis as escolhas pessoais de alguns melómanos para a Temporada 2013/2014

Orquestra Gulbenkian ENRIC VIVES-RUBIO

tetos de cordas com o Quarteto Borodin para os quartetos de Brahms e Tchaikovsky; na música antiga, a expectativa de apreciar a Orquestra Barroca de Helsinkia e a soprano Julia Lezhneva com obras de Händel. Nas Músicas do Mundo será interessante assistir ao concerto da Mísia com um conjunto barroco dirigido por Christina Pluhar. Para compensar a paragem (por quanto tempo?) do Teatro S. Carlos, teremos de nos contentar com as transmissões das óperas do Met , que são sempre excelentes. De forma avulsa sublinho, entre muitos outros interessantes concertos, o da reabertura do grande auditório com a Orquestra Gulbenkian a tocar a Sinfonia Fantástica de Berlioz, o do pianista Nelson Freire no Concerto nº2 de Chopin com a Orquestra Gulbenkian, o tríptico de Mozart — Sinfonias nºs 39,40 e 41— também com a Orquestra Gulbenkian e a, para mim, desconhecida ópera Quartett de Luca Francesconi com La Furia dels Baus e a Orquestra Gulbenkian.

Maria João Pinto Ribeiro Assessora na Univerdade Católica Sou uma apaixonada pela música antiga e mantenho a nostalgia daqueles quinze dias intensos que marcavam o início da temporada, em Outubro. Agora já não é assim, os concertos de música antiga foram-se dispersando ao longo da temporada, a ideia de festa perdeu-se e algumas coisas não voltam mais, como a felicidade de ver e ouvir Montserrat Figueras. Mas há que encontrar os tesouros lá onde eles se escondem e, se é preciso escolher um concerto que não

21

posso mesmo perder este ano, a minha escolha é L’Arpeggiata de Christina Pluhar, em Fevereiro. Curiosamente, tanto ela como Jordi Savall têm andado ultimamente pelas margens do Mediterrâneo num percurso original e ao mesmo tempo semelhante. Um dos concertos mais fascinantes a que tive o privilégio de assistir nos últimos tempos foi precisamente de L’Arpeggiata, com as tarantellas napolitanas e as vozes de Lucilla Galeazzi e Marco Beasley. Uma festa! Christina Pluhar tem aquela capacidade de pegar em músicas com 300 anos, dar-lhe os mais genuinos intérpretes e devolvê-las tão vivas como se fossem acabadas de criar. Há nisso um caminho de pesquisa e uma visão pessoal que me interessa muito e há sobretudo o grande prazer da música. Este concerto de Lisboa continua no Mediterrâneo, inclui agora o fado e tem Mísia como convidada. Não sendo o fado o tipo de música que mais me agrada, tenho no entanto muita curiosidade de ver como será a abordagem feita por alguém que vem de um mundo tão diferente. Tenho a certeza que vai ser surpreendente e muito bom.

Paulo Alves Guerra Jornalista, autor do programa Império dos Sentidos, na Antena 2 “Ouver” todos. Quero todos os concertos. Não falhar um. E repetir. Duas vezes A Criação. Melómanos aos Jerónimos (03 e 04.10)! Paul McCreesh já deu cartas nesta obra nomeadamente em disco. Preparemo-nos para ser espectadores comprometidos. Prontos a acolher “o elogio da desordem” prometido por Joa-

na de Sá (Maria Matos, 04.10), arrombadora de fronteiras pianísticas galgadas há muito por um “Dostoievski transposto para o piano”, Sokolov de seu nome. A reabertura do Grande Auditório merece jornada festiva que vai ser liderada por Joana Carneiro.A festa vai merecer amplo acompanhamento da Antena 2 . Depois, deixemos crescer um rumor barthesiano até 30.04, dia aprazado para ouvir Graindelavoix em São Roque, igreja talhada para levitar sob as ordens de Bjorn Schmelzer, mago iluminador de Machaut na Missa de Notre Dame. “Ouver” hoje o século XIV. E não falhar 29.04, dia do encontro com a sensual Elena de Cavalli , obra bela adormecida há 350 anos e agora resgatada pela Capella Mediterranea de Garcia Alarcón, o maestro comprometido com outras duas noites em São Roque (21 e 22.11) para dirigir o Coro e a Orquestra Gulbenkian na Missa em Sol de Bach e com o bónus de uma outra missa de G.Giorgi, compositor italiano cuja existência desconhecia e que andarilhou por cá até se finar em 1762 . E libertar os ouvidos com “ músicas do mundo” .Waldemar Bastos a 16 de Novembro embala Classics of My Soul com a Orquestra Gulbenkian depois da experiência pioneira com a Sinfonica de Londres (há CD de 2012 com esta orquestra). Mais do que “guitarrista”,Waldemar Bastos é A VOZ de África, voz do mundo passado a música. Expecatativa alta também para a Primavera que nos trará a integral das obras para piano de Rachmaninov a cargo do magnífico Artur Pizarro e também dos quartetos para cordas de Brahms e Tchaikovsky pelo excelso Quarteto Borodin E vamos celebrar os 40 anos de Abril no exacto 25 com as Quatro últimas canções de R. Strauss, testamento lírico confiado a Emily Magee, soprano que estará neste concerto com o Gustav Mahler Jugendorchester que ainda tem no cartaz três delicadas obras orquestrais de Alban Berg e a monumental sétima sinfonia de Bruckner . Vale ainda uma regra a aplicar a todos os outros dias desta temporada: Melómanos, Uni-vos!


CALENDÁRIO Festival Cantabile Entrada Livre

13 Set 21h00 Basílica de Mafra Festival Cantabile Orquestra Gulbenkian Coro Gulbenkian e Coros Juvenis Elementos de: Coro da Escola Superior de Música de Lisboa, Coro Peregrinação, Coro Musaico, Coro do Instituto Gregoriano de Lisboa, Coro Viana Vocale, Coro Spatium Vocale Paul McCreesh maestro Solistas do Festival Cantabile Ruth Ziesak soprano Reinhold Friedrich trompete Scarlatti,Telemann, Bach, Bruckner

19 Set 19h30 Academia das Ciências de Lisboa Orquestra Gulbenkian Solistas do Festival Cantabile Diemut Poppen viola e direcção Alexander Lonquich piano e direcção Lena Neudauer violino Mozart, César Viana

20 Set 19h30 Academia das Ciências de Lisboa Orquestra Gulbenkian Solistas do Festival Cantabile Diemut Poppen viola e direcção Lena Neudauer violino Bach, Brahms

21 Set 19h30 Basílica de Mafra Orquestra Gulbenkian Solistas do Festival Cantabile Diemut Poppen viola e direcção Lena Neudauer violino Bach, Mozart

Orquestra Gulbenkian

03 Out 21h00 04 Out 21h00 Mosteiro dos Jerónimos Coro Gulbenkian Orquestra Gulbenkian Paul McCreesh maestro Sophie Bevan soprano Jeremy Ovenden tenor Neal Davies baixo A Criação - Haydn

31 Out 21h00 01 Nov 21h00 Igreja de São Roque Coro Gulbenkian Orquestra Gulbenkian Ton Koopman maestro Joana Seara soprano Fernando Guimarães tenor Hugo Oliveira barítono J. S. Bach

10 Nov 17h00 11 Nov 21h00 Centro Cultural de Belém Orquestra Gulbenkian Paul McCreesh maestro Trio Arriaga Beethoven,Tchaikovsky

21 Nov 21h00 22 Nov 21h00 Igreja de São Roque Coro Gulbenkian Orquestra Gulbenkian Leonardo Garcia Alarcón maestro Robin Blaze contratenor Fernando Guimarães tenor Alejandro Meerapfel baixo Quito Gato tiorba J. S. Bach, Giorgi

28 Nov 21h00 29 Nov 19h00 Centro Cultural de Belém Orquestra Gulbenkian Paul McCreesh maestro Benjamin Schmid violino Henning Kraggerud violino e viola Mozart

05 Dez 21h00 06 Dez 19h00 Centro Cultural de Belém Orquestra Gulbenkian Paul McCreesh maestro Mozart

16 Dez 21h30 17 Dez 21h30 Igreja de São Roque Coro Gulbenkian Orquestra Gulbenkian Michel Corboz maestro Nathalie Gaudefroy soprano Bernarda Fink meio-soprano Tilman Lichdi tenor Sebastian Noack barítono Marcelo Giannini órgão Oratória de Natal I - J. S. Bach

20 Dez 21h30 21 Dez 21h30 Igreja de São Roque Coro Gulbenkian Orquestra Gulbenkian Michel Corboz maestro Nathalie Gaudefroy soprano Bernarda Fink meio-soprano Tilman Lichdi tenor Sebastian Noack barítono Marcelo Giannini órgão Oratória de Natal II - J. S. Bach

16 Jan 21h00 17 Jan 19h00 Centro Cultural de Belém Orquestra Gulbenkian Paul McCreesh maestro Miah Persson soprano Mahler, Schubert

23 Jan 21h00 24 Jan 19h00 Centro Cultural de Belém Coro Gulbenkian Orquestra Gulbenkian Paul McCreesh maestro

Ann Hallenberg meio-soprano Carolyn Sampson meio-soprano Eduarda Melo soprano Orfeu - Gluck/Berlioz

30 Jan 21h00 31 Jan 19h00 Centro Cultural de Belém Orquestra Gulbenkian Susanna Mälkki maestrina Wu Wei cheng Mahler, Chin

06 Fev 21h00 07 Fev 19h00 Centro Cultural de Belém Orquestra Gulbenkian Josep Pons maestro Javier Perianes piano Ravel, Falla

15 Fev 21h00 Grande Auditório Entrada Livre Orquestra Gulbenkian com o Estágio Gulbenkian para orquestra Joana Carneiro maestrina R. Strauss, Berlioz

20 Fev 21h00 21 Fev 19h00 Grande Auditório Orquestra Gulbenkian Jukka-Pekka Saraste maestro Jorge Luis Prats piano Rachmaninov, Sibelius

27 Fev 21h00 28 Fev 19h00 Grande Auditório Orquestra Gulbenkian Pedro Neves maestro Esther Georgie clarinete Freitas Branco, Sérgio Azevedo

06 Mar 21h00 07 Mar 19h00 Grande Auditório Coro Gulbenkian Orquestra Gulbenkian Paul McCreesh maestro Susan Gritton soprano Ben Johnson tenor J. S. Bach,Ana Seara, Mendelssohn-Bartholdy

13 Mar 21h00 14 Mar 19h00 Grande Auditório Orquestra Gulbenkian Paul McCreesh maestro Christopher Maltman barítono Wagner, Brahms/Glanert, MendelssohnBartholdy

20 Mar 19h00 21 Mar 19h00 Grande Auditório Coro Gulbenkian Orquestra Gulbenkian Paul McCreesh maestro Iestyn Davies contratenor Inês Simões soprano Gillian Webster soprano Mhairi Lawson soprano Catia Moreso meio-soprano Thomas Walker tenor Hugo Oliveira barítono Salomão - Händel

01 Abr 21h00 02 Abr 19h00 Grande Auditório Orquestra Gulbenkian La Fura dels Baus Susanna Mälkki maestrina Allison Cook meio-soprano Robin Adams barítono Àlex Ollé (La Fura dels Baus) encenador Patrizia Frini directora da reposição da encenação Alfons Flores cenógrafo Quartett - Francesconi

15 Abr 19h00 16 Abr 19h00 Grande Auditório Coro Gulbenkian, Orquestra Gulbenkian, Coro Infantil da Universidade de Lisboa Michel Corboz maestro Sandrine Piau soprano Marie-Claude Chappuis meiosoprano Vincent Lièvre-Picard tenor Christoph Genz tenor André Baleiro baixo Peter Harvey baixo Matthias Spaeter alaúde Marcelo Giannini órgão Paixão Segundo São Mateus - J. S. Bach

01 Mai 21h00 02 Mai 19h00 Grande Auditório Orquestra Gulbenkian Lionel Bringuier maestro Nelson Freire piano Brahms, Chopin, Schumann

08 Mai 21h00 09 Mai 19h00 Grande Auditório Orquestra Gulbenkian Jean-Claude Casadesus maestro David Lefèvre violino Chostakovitch, Prokofiev, Ravel, Mussorgsky, Stravinsky

Amsterdam Sinfonietta Candida Thompson violino e direcção Schönberg, Brahms, Barber,Wolf, Schubert

16 Fev 19h00 Grande Auditório Orfeó Català & Cor de Cambra Josep Vila i Casañas maestro Mercè Sanchis órgão Música sacra e tradicional de autores catalães. Requiem - Fauré

04 Abr 19h00 Grande Auditório Symphonieorchester des Bayerischen Rundfunks Coro Gulbenkian Gustavo Dudamel maestro Stravinsky, Beethoven

24 Abr 19h00 Grande Auditório Gustav Mahler Jugendorchester David Afkham maestro Christiane Karg soprano Wagner, Berg, Mahler

25 Abr 19h00 Grande Auditório Gustav Mahler Jugendorchester David Afkham maestro Emily Magee soprano Berg, Strauss, Bruckner

31 Mai 19h00 Grande Auditório Teresa Carreño Orchestra Christian Vásquez maestro Berlioz, Stravinsky, Rimsky-Korsakov

01 Jun 19h00 Grande Auditório Teresa Carreño Orchestra Christian Vásquez maestro Strauss, Falla,Tchaikovsky

Ciclo de Piano

22 Mai 21h00 23 Mai 19h00

Grande Auditório

Grande Auditório Orquestra Gulbenkian George Benjamin maestro Elin Rombo soprano Tim Mead contratenor Victoria Simmonds meio-soprano Rupert Charlesworth tenor Christopher Purves baixo Written on Skin - George Benjamin

Artur Pizarro piano Integral - Rachmaninov I

29 Mai 21h00 30 Mai 19h00 Grande Auditório Coro Gulbenkian Orquestra Gulbenkian Paul McCreesh maestro Annette Dasch soprano Virpi Räisänen meio-soprano Noah Stewart tenor Florian Boesch baixo Daan Janssens, Beethoven

Grandes Intérpretes

09 Fev 19h00

Centro Cultural de Belém Thomas Hampson barítono

03 Mar 21h00 16 Mar 19h00 Grigory Sokolov piano Programa a anunciar

22 Mar 19h00 Katia e Marielle Labèque piano Gonzalo Grau percussão Raphaël Seguinier percussão Kalakan grupo basco de percussão Stravinsky, Bernstein

08 Abr 19h00 Artur Pizarro piano Integral - Rachmaninov II

25 Mai 19h00 Artur Pizarro piano Integral - Rachmaninov III

05 Jun 19h00 Evgeni Koroliov piano Variações Goldberg - J. S. Bach

22


Le Trio Joubran

Christina Pluhar tiorba e direcção artística Mediterraneo

Letícia Moreno

09 Abr 21h00 Le Trio Joubran AsFar

23 Abr 21h0

0 The Gurdjieff Folk Instruments Ensemble Música de Georges I. Gurdjieff

Teatro/Música Teatro Maria Matos e Grande Auditório (ver pág. 17)

DR

DR

Rising Stars Grande Auditório

09 Mai 21h30 Quarteto Voce Sarah Dayan violino Cécile Roubin violino Guillaume Becker viola Florian Frère violoncelo Mantovani, Brahms

Quarteto Diotima

Ana Beatriz Manzanilla violino Jorge Teixeira violino Christopher Hooley viola Jeremy Lake violoncelo Esther Georgie clarinete Schubert, Brahms

DR

DR

Ciclo Quartetos de Cordas Grande Auditório

17 Fev 19h00 Quarteto Takács Edward Dusinberre violino Károly Schranz violino Geraldine Walther viola András Fejér violoncelo Marc Ramirez contrabaixo Mozart, Janá ek, Dvorák

08 Mar 16h00 Quarteto Diotima Yun-Peng Zhao violino Guillaume Latour violino Franck Chevalier viola

23

08 Mar 21h00 Quarteto Diotima Ana Paula Russo soprano Beethoven, Boulez, Schönberg

09 Mar 16h00 09 Mar 21h00 Quarteto Diotima Beethoven, Boulez, Schönberg

04 Mai 19h00 Quarteto Borodin Ruben Aharonian violino Andrei Abramenkov violino Igor Naidin viola Igor Balshin violoncelo Integral dos Quartetos para Cordas de Tchaikovsky e Brahms I

DR

DR

Grande Auditório (ver págs. 18/19)

11 Mai 21h00

Quarteto Borodin Integral dos Quartetos para Cordas de Tchaikovsky e Brahms II

Pablo Held Trio Pablo Held piano Robert Landfermann contrabaixo Jonas Burgwinkel bateria Schubert, Chopin, Dubrovay, Ravel, Liszt

07 Mai 19h00

Remix Ensemble

06 Mai 19h00

Grande Auditório Quarteto Borodin Integral dos Quartetos para Cordas de Tchaikovsky e Brahms III

Met Opera Live Grandes Auditórios da Culturgest e da Gulbenkian (ver págs. 14/15)

14 Mar 21h30

02 Mai 21h30

Dionysis Grammenos clarinete Karina Sposobina piano Bassi, Rachmaninov, Fauré, Giacomma, Schumann, Chopin, Sarasate

Pierre Morlet violoncelo Beethoven, Boulez, Schönberg

Cristina Ánchel flauta Elena Riabova violino Pedro Pacheco violino Lu Zheng viola Varoujan Bartikian violoncelo J. C. Bach, Mozart, Statham, Foote

Trio Van Baerle Gideon den Herder violoncelo Hannes Minnaar piano Maria Milstein viola Beethoven, Dvorák

11 Mai 19h00

Ciclo de Música Antiga

28 Fev 21h30

10 Mai 14h30

János Balázs Jr. piano Beethoven, Schubert, Chopin, Dubrovay, Ravel, Liszt

Dionysis Grammenos

Grande Auditório Entrada Livre

Leticia Muñoz Moreno violino Ana-Maria Vera piano Beethoven, Granados, Ravel

11 Mai 16h00

Orfeó Català

Solistas da Orquestra Gulbenkian

Bin Chao violino Pedro Pacheco violino Lu Zheng viola Varoujan Bartikian violoncelo Marc Ramirez contrabaixo Esther Georgie clarinete Vera Dias fagote Jonathan Luxton trompa Schubert

10 Mai 12h30

Mísia

Deborah York soprano Joana Seara soprano Terry Wey contratenor Fátima Nunes contralto João Rodrigues tenor Pedro Cachado tenor Hugo Oliveira barítono André Baleiro baixo Te Deum - António Teixeira

10 Mar 21h00 Grande Auditório Remix Ensemble Casa da Música Peter Rundel maestro Zender

Músicas do Mundo

Te Deum em São Roque

Grande Auditório

Igreja de São Roque

23 Fev 19h00

31 Dez 17h00

L’Arpeggiata Mísia voz Vincenzo Capezzuto voz

Coro Gulbenkian Divino Sospiro Jorge Matta maestro

23 Mai 21h30 Alexandra Mendes violino Pedro Pacheco violino Samuel Barsegian viola Lu Zheng viola Maria José Falcão violoncelo Raquel Reis violoncelo António Esteireiro harmónio Dvorák, Rimsky-Korsakov

Prémio Jovens Músicos Centro Cultural de Belém Entrada Livre

26 Set 19h00 Orquestra Gulbenkian Rui Pinheiro maestro Grande Final do Prémio Jovens Músicos 2013 Solistas e programa a anunciar em função dos resultados do concurso

28 Set 19h00 Orquestra Gulbenkian Rui Pinheiro maestro Solista vencedor do Prémio Silva Pereira do Prémio Jovens Músicos 2013 – Jovem Músico do Ano Concerto do Jovem Músico do Ano.Vencedor do Prémio de Composição SPA Nova obra Concerto a anunciar Sinfonia nº 1 - Luís de Freitas Branco


Festival Cantabile (sujeito à lotação disponível)

13 Setembro sexta, 21:00h — Basílica de Mafra

Orquestra Gulbenkian Coro Gulbenkian e Coros Juvenis Paul McCreesh maestro Solistas do Festival Cantabile Ruth Ziesak soprano Reinhold Friedrich

trompete

j. s. bach, telemann, scarlatti, bruckner

19 Setembro quinta, 19:30h — Academia das Ciências de Lisboa

Orquestra Gulbenkian Solistas do Festival Cantabile Diemut Poppen viola e direção Alexander Lonquich piano e direção Lena Neudauer violino mozart, c. viana, mozart

20 + 21 Setembro

Orquestra Gulbenkian Solistas do Festival Cantabile Diemut Poppen viola e direção Lena Neudauer violino Sebastien Klinger violoncelo sexta, 20 set 19:30h — Academia das Ciências de Lisboa

bach, brahms sábado, 21 set 19:30h — Basílica de Mafra

bach, mozart

lena neudauer © dr

concertos de entrada livre


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.