O que não sabemos sobre nós
O estado da nação e o seu avesso 05.03.2012 - 07:13 Por Joana Gorjão Henriques, Andreia Sanches
O que é que os dados oficiais nos dizem sobre Portugal? E o que é que não dizem? Hoje, na edição de aniversário do PÚBLICO, apresenta-se uma "sondagem imaginária" desenhada pelo filósofo José Gil, director do PÚBLICO por um dia.
O filósofo definiu nove áreas: Educação, Saúde, Saúde Mental, Política, Justiça, Pobreza, Medo, Identidade e Ego. E decidiu que a "sondagem" estaria dividida em dois blocos: o primeiro, com apenas uma pergunta por área, é sobre aquilo que se sabe e "serve apenas para mostrar que temos consciência do que está feito"; o segundo, a que chamou o "bloco do vazio", com número variável de questões, agrega alguma das muitas que, acredita, não têm resposta ou cuja resposta não considera satisfatória. "Não é nada sistemático, não obedece a nenhum método sociológico ou psico-social, mas também não é isso que se quer", explicou depois de seleccionar cerca de 50 questões que comenta no final de cada bloco. Definidas as perguntas, o PÚBLICO contactou ministérios, universidades e observatórios para procurar dados oficiais e garantir, pelo menos no que eventualmente podia ser mensurável, que o que aparentemente não tinha resposta não tinha mesmo. Houve casos em que, apesar de não se encontrar resposta directa às perguntas, se acrescentou informação, como na questão sobre o número de documentos em segredo de Estado que, apesar de se desconhecer o número total, revelase que o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, classificou apenas um documento até agora. Algumas vezes as perguntas foram recebidas com perplexidade: "Isso é impossível responder", disseram os interlocutores do PÚBLICO. José Gil diz que para algumas, por muitos estudos que existam (e muitos destes temas foram certamente alvo de teses de mestrado e doutoramento, por exemplo), nunca será possível encontrar uma resposta definitiva. Muitas vezes pela própria essência do que está em causa. "Por exemplo, há violência sexual no casal? Não se sabe. Ainda agora vimos o caso daquela mulher que ia à esquadra toda esquartejada e dizia: "Não, não, ele não me bateu, fui eu que caí"", continua. "Há certas matérias que são tão delicadas que é impossível calcular margens de erro e assegurar fiabilidade. Mas faz-se a pergunta "impossível" porque tem que se ter consciência dessa impossibilidade" - seja para tomar melhores decisões, seja para nos conhecermos melhor.