ArtigoNarcizoSouza

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Aprendizados da Formação em Terapia Comunitária Narcizo de Souza Chagas O Centro Dialogu é uma organização voltada para a formação humana, com a missão de contribuir para a justiça social e a democracia. A experiência formativa vivida ao longo de cinco anos com educadores, lideranças sociais, jovens e profissionais da saúde nos têm colocado questões ético-políticas profundas, principalmente no que concerne ao comportamento social. A sociedade mundial vive uma crise profunda de valores. Nossas ações institucionais e nossas articulações em redes e fóruns de ONG´s e nas políticas públicas têm pautado a necessidade de criar as condições de diálogo em torno de princípios norteadores de um agir qualificado tanto na esfera pessoal quanto na coletiva, para a construção de um outro mundo possível. Em todo o mundo experiências sólidas de vida comunitária têm se constituído laboratórios humanos coletivos de valores, em nossa prática temos encontrado na Terapia Comunitária a fonte para a propagação da solidariedade, do amor, da justiça como elementos bases para a autodeterminação. Em cinco anos de trabalho formamos 120 Terapeutas Comunitários que mudaram a sua própria leitura do mundo e estão sem dúvida mudando o mundo. Em 2004, apresentamos ao Programa Nacional de DST/AIDS do Ministério da Saúde, o Projeto TIC – Terapias Integradas na Comunidade – Prevenção e Acompanhamento em DST/HIV/AIDS, objetivando a formação de 80 Terapeutas Comunitários para atuarem em organizações da sociedade civil que trabalham com populações em situações de vulnerabilidade psicossocial, além de proporcionar o cuidando do cuidador para os profissionais e voluntários dessas organizações. Com a aprovação do projeto pudemos mobilizar uma rede de organizações da sociedade civil que atuam em frentes diversas: prevenção e acompanhamento às pessoas vivendo e convivendo com DST/HIV/Aids, meninos e meninas em situação de rua, dependentes químicos, taxistas, gays, lésbicas, travestis, católicos, espíritas, evangélicos dentre outros. Uma rica diversidade de organizações e de sujeitos sociais na luta pelo reconhecimento e pela efetivação da diversidade e dos direitos humanos. Uma diversidade rica em sua complexidade e difícil na sua operacionalidade, tendo como pontos críticos à relação com os espaços de atuação pela situação de rotatividade de agentes, pela dinâmica de sustentabilidade das pessoas e a própria realidade social de lidar com os conflitos inerentes a vida individual e coletiva. Nos deparamos com a necessidade de pactuar e fazer acordos nem sempre compreensíveis para todos, mas ao mesmo tempo possibilitadores da construção de processos individuais e coletivos de aprendizagens. Vivenciar a Terapia Comunitária nesse grupo diverso, sem dúvida tem sido um desafio imensurável, que proporciona oportunidades de estabelecer conexões com as representações sociais construídas pelos excluídos. Percebemos no processo formativo as contradições dos que dialogam com a exclusão e lutam pela sua


superação, em muitas situações e circunstancias são reprodutores desse modelo, conseqüência de suas experiências histórico-sociais. Compreendemos no decorrer do projeto TIC, que somente com a mudança de atitude das pessoas, é possível mudar o mundo. A mudança não pode ser meramente estrutural, antes de tudo deve ser fundamentalmente humana. A Terapia Comunitária com a sua pedagogia da escuta possibilita ao sujeito da TC uma oportunidade de mergulhar em si, de compreender e ter uma atitude solidária com o seu sofrimento e o do outro, de forma sinergética e altruísta. A dinâmica do projeto nos possibilitou o aprendizado de que a TC é uma ferramenta privilegiada para a promoção da diversidade e da solidariedade. Na TC estamos todos numa relação de eqüidade, nos colocamos como sujeitos coletivos na dinâmica da reciprocidade, valores inerentes às comunidades humanas. A constituição de uma comunidade de valores humanos somente é possível quando de fato mergulharmos no universo de vida das pessoas; compreendemos o seu lugar na história, e a sua capacidade de promover transformações possíveis individuais e coletivas. A riqueza da diversidade das organizações integrantes do projeto e particularmente das pessoas em formação nos fez perceber que nossas ações precisam focar os resultados nas pessoas, nas suas transformações, nas suas competências, e que a promoção da vida pressupõe uma resignificação permanente da identidade e dos valores humanos. A ação preventiva e de acompanhamento em DST/HIV/AIDS tem uma lacuna que precisa ser equacionada, e a vivência do projeto apontou significativamente para isso; precisamos cuidar das pessoas, ajudá-las no encontro com o seu Ser profundo. Não basta campanhas publicitárias, que parecem marketing de camisinhas, nem mesmo palestras que parecem comícios políticos, mas antes um encontro consigo mesmo e com outro, proporcionado através de iniciativas educativas, que sejam afirmativas e corroborem com a dimensão sensível do humano. O projeto possibilitou o acesso há descoberta de caminhos para esse mergulho profundo e o empoderamento por meio do conhecimento popular e cientifico, aprimorando o diálogo, o cuidado e a atitude frente à vida com as suas adversidades. A Terapia Comunitária é o recurso político-pedagógico estratégico para a formação de pessoas solidárias e comprometidas com as transformações necessárias para um mundo melhor. O Ministério da Saúde tem possibilitado esse aprendizado institucional com o apoio ao projeto TIC, ao passo que colaborou para as condições de replicação dessa metodologia com populações em situação de vulnerabilidade social, através dos Terapeutas Comunitários formados pelo projeto.


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