MonografiaEdnaDias

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................14 CAPÍTULO I ..........................................................................................................16 TERAPIA COMUNITÁRIA.....................................................................................16 1.1 Conceituando Terapia Comunitária .............................................................17 1.2 Como e quando surgiu ................................................................................17 1.3 Objetivos da Terapia Comunitária ...............................................................18 1.4 Quem pode ser terapeuta comunitário? ......................................................19 1.5 Público Alvo.................................................................................................19 1.6 Espaço adequado para uma Terapia Comunitária ......................................19 1.7 OS ALICERCES TEÓRICOS ......................................................................20 1.7.1 O Pensamento Sistêmico .........................................................................20 1.7.2 Teoria da Comunicação............................................................................20 1.7.4 Pedagogia de Paulo Freire .......................................................................21 1.7.5 Resiliência ................................................................................................22 1.8 As etapas da Terapia Comunitária ..............................................................23 1.8.1 Acolhimento..............................................................................................23 1.8.2 Escolha do Tema......................................................................................24 1.8.3 Contextualização ......................................................................................24 1.8.4 Problematização.......................................................................................24 1.8.5 Rituais de Agregação e Conotação positiva .............................................25 1.8.6 Tipos de avaliação....................................................................................25 1.9 Instrumentos para avaliar o impacto da Terapia Comunitária .....................25 1.10 Instrumentais .............................................................................................27 1.10.1 Música ....................................................................................................27 1.10.2 Danças circulares ...................................................................................28 CAPÍTULO II .........................................................................................................30 TERAPIA COMUNITÁRIA E SERVIÇO SOCIAL ..................................................30 2.1 Conceito de Serviço Social..........................................................................30 2.2 Semelhanças...............................................................................................31


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2.3 Objetivos da Terapia Comunitária: semelhanças com o Serviço Social......33 2.4 Cultura .........................................................................................................35 2.5 Questão Social ............................................................................................37 2.6 Cidadania e Democracia .............................................................................39 2.7 Comunicação...............................................................................................39 2.9 Totalidade....................................................................................................41 2.10 Rede Social ...............................................................................................41 2.11 Paulo Freire ...............................................................................................43 CAPÍTULO III ........................................................................................................45 TERAPIA COMUNITÁRIA NA PRÁTICA ..............................................................45 3.1 Procedimentos metodológicos.....................................................................45 3.2 Instrumentais e técnicas ..............................................................................46 3.3 Análise de Dados ........................................................................................52 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................57 APÊNDICES .........................................................................................................59 ANEXO .................................................................................................................61


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INTRODUÇÃO

Atualmente as pessoas vivenciam um cotidiano tão hierárquico e rotineiro que o stress do dia-a-dia e a luta pela sobrevivência faz com que as pessoas não tenham tempo de falar e muito menos de ouvir, possuindo direitos apenas no papel, fazendo com que sua cidadania se resuma apenas no ato de votar. Nesse contexto surge a Terapia Comunitária, buscando resgatar o coletivo em uma sociedade totalmente individualista. Realiza-se em um espaço público em que as pessoas compartilham suas angústias e problemas, procurando juntas uma solução. Tem como mediador o terapeuta e é diferente de outros tipos de terapia porque faz com que o indivíduo perceba sua singularidade, mas sem se esquecer que vive em uma sociedade na qual muitas pessoas possuem os mesmos problemas, por causa da estrutura capitalista e desigual em que vivem. Ou seja, faz com que ele perceba que o problema está na sociedade e não nele. Para melhor conceituá-la, o primeiro capítulo explicará o que é Terapia Comunitária - que foi criada em 1987, no Ceará, pelo Dr Adalberto de Paula Barreto - que terá seu histórico relatado também neste capítulo -; seus objetivos; público alvo; onde ocorre; alicerces teóricos; e suas etapas. Já o segundo capítulo tratará das semelhanças entre a Terapia Comunitária e o Serviço Social: a herança cultural; o saber ouvir; se comunicar; análise da experiência de vida de cada pessoa integrante do grupo; busca do rompimento com o clientelismo e fazer com que se tornem co-autores das decisões, cabendo ao profissional, mostrar caminhos sem tentar impor qual devem seguir; promover cidadania e autonomia, mostrando aos cidadãos que possuem direitos que devem ser garantidos. Para a construção do terceiro capítulo, Terapia Comunitária na Prática, escolhemos um Centro Médico do Grande ABC onde há terapia Comunitária, utilizando como procedimento metodológico a pesquisa qualitativa, realizada em dois momentos: 1º) participamos da Terapia Comunitária como participantes total,


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observando os outros participantes da sessão e sentindo os efeitos causados pela terapia; 2º) Entrevista semi estruturada com uma participante do grupo e com a terapeuta (que também é Assistente Social). Portanto, o que objetivamos com esse trabalho científico é esclarecer algumas dúvidas em relação à Terapia Comunitária, que ainda é uma área de prática profissional nova para o Serviço Social, mas que possui muitos conceitos aprendidos em sala de aula. Por esse motivo queremos mostrar para os Assistentes Sociais que este tipo de terapia não é algo que deve ser realizado somente por psicólogos. Para tanto analisaremos a relação do Serviço Social com a Terapia Comunitária na teoria e na prática.


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CAPÍTULO I

TERAPIA COMUNITÁRIA

“Seja bem vindo olê rê ê, Seja bem vindo olá rá á, Paz e bem pra você, Que veio participar” Adalberto Barreto

Neste capítulo, iniciaremos com um breve relato sobre a concepção de Terapia e seus diversos tipos, mas com ênfase na Terapia Comunitária. Julgamos importante analisar a palavra Terapia que tem sua origem no grego Therapeia e segundo o dicionário Aurélio significa “a parte da medicina que estuda e põe em prática os meios adequados para aliviar ou curar os doentes” (1993, p. 531). Destacaremos a seguir dois tipos de terapias:

Terapia Ocupacional (TO) – Segundo COFFITO (Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional), a TO é voltada à prevenção e ao tratamento de indivíduos de alterações cognitivas, afetivas, perceptivas e psico-motoras, tendo como princípio que a vida é atividade.


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Terapia Familiar - Para Antonio Mourão Cavalcante, Professor Titular de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará e Diretor do Centro de Estudos da Família: “[...] no Brasil, a Terapia Familiar Sistêmica tem sido difundida, como instrumento de abordagem terapêutica nos conflitos conjugais e familiares. Ainda, na questão que envolve o processo de autonomia da adolescência”. (2000)

Realizada esta breve conceituação, poderemos iniciar o histórico sobre a Terapia Comunitária.

1.1 Conceituando Terapia Comunitária

A TERAPIA COMUNITÁRIA tem como princípio trabalhar com a dor da comunidade, resgatando os indivíduos pertinentes a ela, no que diz respeito à auto-estima, tomada de decisões ao compartilhar emoções. É um espaço comunitário que procura partilhar as experiências de vida de forma Horizontal e Circular. Assim, cada um torna-se terapeuta de si mesmo, a partir da escuta das histórias de vida que são relatadas.

Segundo Dr. Adalberto de Paula Barreto (2005), criador da Terapia Comunitária, os indivíduos tornam-se co-responsáveis na busca de soluções e superações dos desafios do cotidiano, em um ambiente acolhedor e caloroso.

1.2 Como e quando surgiu

A Terapia Comunitária ou TC foi criada em 1987 pelo Dr. Adalberto Barreto, nascido na cidade de Canindé, interior do Estado do Ceará (BR). Formou-se em medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC), continuando


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seus estudos em psiquiatria e antropologia na Europa. Como professor da Universidade de Medicina, Dr. Barreto acreditava que era necessário sensibilizar os futuros médicos quanto aos aspectos culturais da medicina e por outro lado, os aspectos culturais das pessoas que mais tarde seriam recebidas em seus consultórios e nos hospitais. Criaram a disciplina de Antropologia da Saúde, ministrada na favela, fazendo com que os futuros médicos vivenciassem ao mesmo tempo os diversos aspectos da doença e seu processo de cura. A partir dessa experiência, desenvolveram um trabalho denominado O Projeto Quatro Varas na Favela de Pirambu, em Fortaleza, com o objetivo de prevenção e de cuidados psicológicos para os excluídos de nossa sociedade. Durante o desenvolvimento do Projeto, detectaram que os indivíduos estavam perdendo sua auto-estima, sua particularidade, tinham um cotidiano sofrido. Então, criou a Terapia Comunitária, ou seja, TERAPIA porque significa acolher, ser caloroso, servir, atender e COMUNIDADE porque são as pessoas ou grupos de pessoas com condições de vida econômica, cultural, social, espiritual e religiosa semelhantes em diferentes formas e níveis de viver essas condições. A comunidade é heterogênea, pois existe muita diversidade dentro dela, porém, é de fundamental importância que pessoas e grupos estejam sempre em interação para que a comunidade possa se constituir. Faz com que quem freqüenta o grupo tenha sentimento de pertença e identificação.

1.3 Objetivos da Terapia Comunitária

Tem como objetivos reforçar a dinâmica interna dos indivíduos fazendo com que descubram seus valores e tornem-se menos dependentes; reforçar a auto-estima tanto do individual como do coletivo; redescobrir suas capacidades e se desenvolver como pessoa; valorizar o papel da família, assim como a relação que ela desenvolve com o seu meio; suscitar em cada pessoa e grupo social seus valores culturais; favorecer o desenvolvimento comunitário, restaurando o fortalecimento dos laços sociais; promover e valorizar as instituições e práticas culturais tradicionais; tornar possível a comunicação entre as diferentes formas do “saber popular” e “saber científico”; estimular a participação como requisito


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fundamental para dinamizar as relações sociais, através do diálogo e da reflexão. Nos permite ir além do unitário para atingir o comunitário, pois, com a globalização aumentaram os desafios da nossa sociedade, como as drogas, o estresse, a violência, e a superação desses desafios não podem ser responsabilidades exclusivas de um único indivíduo e sim de uma coletividade.

1.4 Quem pode ser terapeuta comunitário?

O terapeuta deve ser alguém já engajado em trabalho comunitário, estar consciente de que seu trabalho não traz remuneração financeira, tem que ser uma pessoa que possa orientar os participantes para que aliviem suas ansiedades, as suas angústias, estresses e sofrimentos, também partilhem seus recursos e suas descobertas através da troca de experiências na Terapia Comunitária. Seu papel, não deve ser de especialista (psiquiatra, psicólogo), e sim de quem trabalha com os sofrimentos das pessoas, possibilitando a construção de uma rede de apoio e estimulando a partilha, o crescimento humano e coletivo. Para que se escolha um terapeuta, é necessário fazer uma palestra de sensibilização aberta ao público da TC, em que esclareçam às dúvidas, apresentem qual o papel do terapeuta e o referencial teórico.

1.5 Público Alvo

A todas as pessoas que vivenciam algum tipo de crise, sofrimento ou angústias, ou então, para as pessoas que estão sentindo–se estáveis e querem ser colaboradores dos companheiros.

1.6 Espaço adequado para uma Terapia Comunitária


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A Terapia Comunitária ocorre sempre num espaço público numa abordagem grupal, mas que valoriza o indivíduo na sua singularidade e inserção familiar, procurando fazer com que ele aprenda a dominar esse espaço público. Esse espaço público seria, segundo Alba Tereza Barroso Castro (1999) professora assistente da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) - em seu artigo “espaço público e cidadania: uma introdução ao pensamento de Hannah Arendt”, um espaço político em que os indivíduos teriam liberdade de expor-se, procurando chegar a um senso comum para a construção de um mundo comum através da discussão de assuntos considerados importantes para o coletivo, podendo manifestar a sua singularidade e pluralidade de idéias que são de fundamental importância para as decisões que serão tomadas em conjunto.

1.7 OS ALICERCES TEÓRICOS

Para que possa ser aplicada, é preciso que cada terapeuta entenda quais são os cinco eixos teóricos que compõem a Terapia Comunitária, a saber:

1.7.1 O Pensamento Sistêmico

Barreto (2005) afirma que as crises e os problemas só podem ser resolvidos e entendidos, quando os percebemos como partes integradas de uma rede complexa, cheia de ramificações, que envolve tanto os aspectos biológicos (corpo) como o psicológico (mente) e a sociedade. Devemos entender que tudo está ligado, somos um todo, em que cada parte influencia e interfere na outra parte. Só assim, passaremos a vivenciar a noção de co-responsabilidade.

1.7.2 Teoria da Comunicação


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A Teoria da Comunicação, para o autor, é o elemento que une os indivíduos, a família e a sociedade, nos fazendo entender que todo comportamento e ato humano seja ele verbal ou não, individual ou grupal, tem valor de comunicação, ou seja, todo tipo de comunicação entre as pessoas deve ser levado em consideração por indicar a busca do ser humano em ser reconhecido como sujeito e cidadão que está inserido na sociedade. 1.7.3 Antropologia Cultural Uma ciência que nos chama a atenção para a importância cultural, um conjunto de realizações de um povo ou de grupos sociais, o referencial de como cada um do grupo se baseia para pensar, avaliar e discernir valores e fazer suas opções no cotidiano. Para Barreto (2005, pág XXII) “a cultura é um elemento de referência fundamental na construção de nossa identidade pessoal e grupal, interferindo de forma direta, na definição do quem sou eu, quem somos nós”.

1.7.4 Pedagogia de Paulo Freire

Paulo Freire, educador brasileiro que se destacou mundialmente por seu trabalho em relação à educação popular - com finalidade de politizar o povo brasileiro e ensinar os excluídos a ler e escrever, sempre procurando não deixar que os mesmos repetissem frases, palavras e sílabas que eram alienantes e alienavam - tem muita importância e ganha destaque na Terapia Comunitária. Criou um estudo conhecido como “Método Paulo Freire”, que visa fazer com que o homem ou mulher perceba-se como fazedores de cultura, seres políticos que tenham uma visão de totalidade não só da linguagem, como também do mundo. A Pedagogia idealizada por Paulo Freire, definida como Pedagogia Libertadora, chama a atenção para a análise crítica da realidade em que “a palavra ajuda o homem a tornar-se sujeito/ ator de sua própria história” (FREIRE apud GUIMARÃES, 2006, p. 36).


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Para o autor, caso a prática educativa não possibilite ao educador e ao educando assumirem-se como seres que pensam, criam, têm emoções, ou seja, seres sociais, acabam-se gerando um ato de controle e de dominação. Segundo Barreto (2005), outro aspecto importante na teoria de Paulo Freire é associação entre teoria e realidade porque os educandos precisam de um espaço para expressar os problemas vivenciados em diferentes contextos (família, escola, comunidade) que devem ser analisados porque são histórias de vida e a história de vida também deve ser percebida como fonte de saber ajudando e estimulando que tanto professores como alunos “assumam-se como sujeitos sócios – histórico - culturais” (BARRETO, 2005, p. XXIV) , ou seja, entendam que sua história, cultura e vivência social estão interligadas.

1.7.5 Resiliência

Resiliência é quando o indivíduo é capaz de vencer as dificuldades com seu esforço, construindo-se de maneira positiva frente a obstáculos. Barreto (2005) aponta a resiliência como a própria história pessoal e familiar de cada participante, sendo uma fonte importante do conhecimento, uma vez que: “[...] as crises, sofrimentos e vitórias de cada um, expostas no grupo, são utilizados como matéria-prima em um trabalho de criação gradual de consciência social para que os indivíduos descubram as implicações sociais da gênese da miséria e do sofrimento humano”. (BARRETO, 2005, p. 25).

As experiências vivenciadas pelos participantes da TC podem ter soluções diferentes, uma vez que os problemas enfrentados são semelhantes, mas as estratégias que cada um dos participantes encontra para enfrentá-los são diferentes e, muitas vezes, ainda são insuficientes na resolução desses problemas.


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Portanto, o terapeuta comunitário pratica intervenções do tipo saúde mental comunitária, intervindo nas diferentes relações humanas, incluindo o coletivo, como vizinhos, famílias, amigos, apoiando as famílias mais vulneráveis da comunidade a solucionar suas crises.

1.8 As etapas da Terapia Comunitária

A Terapia Comunitária pode ser aplicada em qualquer espaço, por exemplo, filas de esperas de postos de saúde, igreja, escola, favela, hospital. Após escolher o lugar, junto à liderança, deve-se divulgar o dia e hora utilizando os meios de comunicação daquela comunidade. A partir disso, desenvolvem-se seis etapas, vejamos:

1.8.1 Acolhimento

Dirigido pelo co-terapeuta que deve deixar os participantes à vontade, iniciando com uma música conhecida, de preferência infantil e alegre, assim contribui para que as pessoas “quebrem o gelo” e criem um clima de grupo. O coterapeuta é responsável por acolher, dar as boas vindas, perguntar quem é aniversariante do mês e canta os parabéns (gesto de valorização e celebração pela vida). Depois dá as seguintes informações para o sucesso da terapia: “Estamos reunidos aqui para participarmos da nossa terapia comunitária. A terapia comunitária é um espaço onde a comunidade se reúne para falar de seus problemas, de suas dificuldades e de suas realizações. A comunidade tem problemas, mas também tem suas soluções, desde que nós nos reunamos para escutar uns aos outros. Cada um tem um saber, seja construído pela experiência de vida ou vindo dos antepassados. É disto que a terapia comunitária se constitui. A qualidade da


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sessão da terapia comunitária será proporcional à qualidade da escuta. Mas, para que a terapia possa acontecer, é necessário seguirmos algumas regras”. (BARRETO, 2005, p. 63)

O silêncio é a regra principal. Enquanto uma pessoa fala os outros devem ouvi-lo; devem falar somente de sua própria experiência; quem está no grupo não está lá para dar conselhos ou ainda julgar o outro; entre uma fala e outra, quando um participante se emociona, o outro pode interromper a reunião e começar a cantar uma música como forma de acolhê-lo; e por último respeitar a história de cada um.

1.8.2 Escolha do Tema

Começa a partir do momento em que os participantes estão à vontade. O terapeuta pode iniciar com um provérbio. Neste momento, os participantes começam a falar sobre suas preocupações, sofrimentos, após as apresentações, o terapeuta faz uma pequena síntese da fala de cada um, perguntando se concordam com o que ele escreveu. Frente a isso, é o momento de votar sobre o tema que será discutido naquela sessão.

1.8.3 Contextualização

Escolhido o tema, o terapeuta e a comunidade começam a fazer perguntas para o protagonista da história, permitindo entender melhor o problema em seu contexto global. Ao responder a essas perguntas, o protagonista apresenta elementos que permitem conhecer melhor a sua história.

1.8.4 Problematização

Agora é a hora da pessoa que apresentou o problema ficar em silêncio, e o terapeuta faz uma pergunta para estimular a reflexão do grupo. Esta pergunta é


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chamada de MOTE, ou seja, é o tema escolhido que permite a cada um rever seus preconceitos, seus esquemas mentais e reconstruir a realidade. Enquanto as pessoas vão respondendo os motes, o terapeuta vai anotando as colocações mais importantes para poder finalizar a terapia.

1.8.5 Rituais de Agregação e Conotação positiva

O término da terapia trata-se de reconhecer, valorizar e agradecer o esforço e a coragem de cada um. O co-terapeuta pede para que as pessoas se levantem, façam um círculo com as mãos no ombro do outro e se balancem, isso faz com o que o grupo se sinta coeso e unido. Sugere uma música e ao final pede para que cada participante diga ao protagonista da história, o que mais lhes tocou ou algo que tenham admirado nela.

1.8.6 Tipos de avaliação

Este é o momento de avaliar o desenvolvimento da terapia considerando as diferentes etapas, chamada de avaliação externa.

1.9 Instrumentos para avaliar o impacto da Terapia Comunitária

Desenvolvida em 27 Estados do Brasil, e com cerca de 7.500 terapeutas formados, fica claro como a terapia tem tido resultado nas famílias, pessoas e comunidades. Porém, é necessário fazer uma avaliação consistente para verificarmos de fato o impacto produzido nas comunidades onde é aplicada, com intuito de possibilitar aos terapeutas comunitários uma reflexão sobre seu trabalho. Avalia-se o impacto individual e coletivo e para tal, são usados quatros indicadores de Saúde Comunitária a saber: 1. Vínculos (Quantidade e Qualidade)


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Vínculo é tudo aquilo que liga os homens entre si, com as suas crenças, aos seus valores, ou seja, a sua cultura. Com este questionário podemos perceber como são os vínculos das pessoas que nos trazem suas tristezas, alegrias e angústias. Encontramos três tipos de vínculos: a) vínculos saudáveis - são aqueles que nos trazem felicidade e confiança, reforçando a identidade pessoal e cultural; b) vínculos frágeis - são aqueles que nos deixam desconfortáveis, fazendo com que a confiança fique abalada e aos poucos nos fazem perder a autoestima; c) vínculos de risco - são aqueles que infernizam nossa vida, abalando nosso relacionamento com os outros, prejudicando nossa saúde. 2. Auto-estima A auto-estima é a chave de tudo para que possamos sair de certas situações que às vezes parecem não ter solução.

Ela nos conduz a

felicidade quando acreditamos em nós, ficando mais confiantes, seguros e persistentes na busca do nosso sucesso. O sofrimento é visto como uma sina, tudo se torna ameaçador quando não acreditamos em nosso potencial. A base da auto-estima está nas relações familiares, adubadas de amor, respeito, valorização do ser, consolidando-se mediante relações sociais saudáveis. Porém, quando o indivíduo convive em um clima de humilhações, exposição do ridículo, perde-se a auto-estima. 3. Avaliação da rede apoio social É importante que os participantes da Terapia se beneficiem da rede de

apoio

médico-psico-social

formal

e

informal,

e

que

todo

encaminhamento dado depois de cada terapia seja acompanhado para que a TC promova inclusão social.


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4. Avaliação do impacto no plano coletivo Para que seja feita uma avaliação no plano macro, é importante que se faça um diagnóstico comunitário da comunidade antes de iniciar a terapia, sendo assim, após algum tempo teremos dados para uma análise comparativa.

1.10 Instrumentais

A Terapia Comunitária possui instrumentais tais como: a música, que pode ser utilizada em todas as etapas da reunião; e as danças circulares que podem ser utilizadas na abertura ou no final de cada reunião. Para melhor esclarecimento segue abaixo a explicação de cada um deles.

1.10.1 Música

A música é um instrumental muito importante para a Terapia Comunitária e pode ser utilizada para: “[...] acolher no grupo, aquecimento (colocar em situação de fala) acolher a dor, celebrar a alegria, catalisar as falas do grupo, função de continência, função de espelho, estimular a capacidade de

resiliência,

resignificação

e

propiciará

sensação

de

pertencimento e inclusão no grupo e na comunidade” (FIX,

LEITE & GALVANI, 2005). A cultura popular brasileira tem muitas expressões folclóricas e dentre elas a música, provérbios, e ditados populares e representam o povo e sua história. Essas músicas, se utilizadas durante a realização da terapia, devem estar de acordo com a história contada no momento com intuito de trazer uma conotação positiva porque a música pode fazer com que haja uma “mudança no ângulo de visão, e elementos novos poderão ser utilizados” (FIX, LEITE & GALVANI, 2005) pela pessoa que estava contado sua história.


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Em seu artigo “Algumas reflexões sobre a inserção da música nos encontros de Terapia Comunitária no CEAF -Centro de Estudos e Assistência à Família”, retratam a importância em ressaltar a música como função de espelhamento porque faz com que o indivíduo reconheça–se e possa ajudar na organização do mundo da fala e da auto-imagem de quem está relatando seu sofrimento.

1.10.2 Danças circulares

Como no final de cada reunião as pessoas do grupo ficam abraçadas formando um círculo, acreditamos que seria interessante a utilização de danças circulares nesses momentos porque faz com que as pessoas sintam–se interligadas e unidas. Mas o que são danças circulares? Danças circulares são danças de roda que estão presentes em antigas tradições de vários povos do mundo, se destinando a pessoas de todas as idades de maneira lúdica e instrutiva; curativa e divertida; procuram promover a paz; e não são utilizadas em competições. As danças circulares abrangem danças de várias origens, dentre quais podemos destacar: a dança da paz universal, danças circulares sagradas, brincadeiras cantadas, danças indígenas ou étnicas e cirandas.

Dança da Paz Universal – criadas pelo mestre sufi Samuel Lewis, fundador da Ordem Sufi Islâmica Ruhaniat Society, celebram o sagrado do Hinduísmo, Zoroastrismo, Budismo, Judaísmo, Cristianismo, Sikhismo, Islamismo, danças em Aramaico, Nativas Americanas, Nativa do Oriente Médio, Celtas, Nativas Africanas e da Tradição da Grande Mãe, tendo o intuito de unir essa diversidade procurando criar paz interior e afirmação da Unidade.


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Danças Circulares Sagradas – nasceu por volta da década de 70 através da coleta de danças folclóricas feita pelo alemão Bernhard Wosie. São danças folclóricas de todos os povos, tradicionais ou contemporâneas, tendo como característica a Universalidade abrangendo danças de todos lugares e todas as épocas.

Brincadeiras Cantadas – são brincadeiras que fundem musicalidade, dramatização, mímica, jogos e dança, integrando cantigas próprias das crianças e por elas cantadas, visando contribuir para melhorar aspectos importantes para o crescimento das crianças, entre elas o desenvolvimento da coordenação sensório – motora, favorecer a socialização e incentivar tradições folclóricas.

Danças Indígenas – é uma das maiores expressões espiritualidade para os índios.

Ciranda – dança típica das praias que surgiu no litoral norte de Pernambuco. Muitos acreditam que a ciranda é brincadeira de roda para crianças, porém, no Nordeste é conhecida como uma dança de roda de adultos. É uma dança comunitária que não tem um número limite de participantes, portanto, todos podem participar independente de idade, sexo, cor, condição social ou econômica dos participantes. Se o tamanho do grupo começar a dificultar os movimentos da roda, forma – se uma roda menor no interior da maior. Diante das informações expostas acima, faz-se necessário abordar as semelhanças entre Serviço Social e Terapia Comunitária no próximo capítulo.


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CAPÍTULO II

TERAPIA COMUNITÁRIA E SERVIÇO SOCIAL

“(...) não há ignorantes absolutos, nem sábios absolutos: há homens que em comunhão buscam saber mais”. Paulo Freire

Este capítulo trará a concepção do Serviço Social e tentará uma aproximação com a Terapia Comunitária, porém, para tanto, é necessário, primeiramente uma breve conceituação do que é Serviço Social.

2.1 Conceito de Serviço Social

Serviço Social é a profissão de caráter interventivo nas diversas relações sociais que tem como objeto a questão social, que está presente na contradição capital X trabalho e é representada em suas diversas expressões. Segundo Marilda Vilela Iamamoto, Assistente Social formada na Universidade Federal de Juiz de Fora em 1971 e atualmente professora titular da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, e Raul de Carvalho: “[...] a questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a


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manifestação no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão” (CARVALHO & IAMAMOTO apud MACHADO, 1999 p. 42).

Ao Assistente Social, segundo Iamamoto (1988), cabe a defesa dos direitos sociais, da cidadania, democracia e emancipação dos sujeitos sociais, comprometimento que deve ser assumido por ser o projeto político profissional materializado no Código de Ética.

2.2 Semelhanças

O Serviço Social e a Terapia Comunitária têm muito mais em comum do que imaginamos. Nos grupos de terapia são utilizados, na prática, conceitos que aprendemos no curso de Serviço Social, profissão que exige escuta técnica para entender o que o usuário está dizendo, e muita observação porque, muitas vezes, por gestos e expressão corporal, percebemos o que o usuário está tentando dizer. Saber perguntar e mostrar caminhos sem interferir ou aconselhar, também é necessário nessa profissão, cabendo ao Assistente Social utilizar corretamente essas técnicas no atendimento individual ou coletivo, o que na Terapia Comunitária, também é necessário porque enquanto o indivíduo apresenta sua história de vida, o terapeuta deve manter a escuta técnica e observação apurada, permitindo que o outro relate suas dúvidas, suas verdades e motivações; sempre procurando entender à problemática apresentada e depois discutir com o grupo para que juntos mostrem caminhos e possíveis soluções para que quem apresentou a situação – problema possa escolher qual melhor caminho a seguir. A Terapia Comunitária procura fazer com que o grupo perceba que seus problemas não são somente seus, mas sim de várias pessoas e que o motivo deste fato acontecer é a estruturação da sociedade em que vivem, onde tudo gira em torno do capital e do poder. Procura também fazê-los “romper com o clientelismo para chegarem à cidadania” (BARRETO, 2005, p. 60), e, ter um “projeto

profissional

comprometido

com

a

defesa

dos

direitos

sociais”


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(IAMAMOTO,1988, p.113), promover cidadania e democracia é um dos preceitos do Serviço Social. Todos têm os mesmos direitos perante a Lei e devem ser tratados com eqüidade, não com atitudes paternalistas ou assistencialistas. As pessoas devem ter seus direitos garantidos e colocados em prática, porém, isso não acontece, porque alguns dos direitos escritos na Constituição de 1988 não saíram do papel, cabendo ao povo lutar para que se concretizem. Ao Serviço Social fazer com que as pessoas comecem a perceber esses fatos. E a Terapia Comunitária vem para ajudar nessa luta, mediante reflexão das situações vividas pelo grupo que são causadas, em algumas vezes, pela não concretização dos direitos da população. Muitas pessoas que freqüentam a Terapia Comunitária necessitam compartilhar as angústias de seu cotidiano para que uma seja eleita para todos ouvirem juntos e buscarem uma solução, o que faz, muitas vezes, com que percebam que seu problema é semelhante ao de outras pessoas, e que, apesar de cada um possuir sua singularidade e história de vida, também fazem parte do coletivo que os levam a ter problemas comuns por causa da estrutura de sociedade em que vivem. E no Serviço Social a abordagem desempenhada pelo Assistente Social é exatamente como na Terapia Comunitária: fazer o usuário refletir que o problema que vive não é por sua culpa, ou somente seu, mas sim de várias pessoas e que a causa está na sociedade em que está inserido. Podemos apontar outro fato em comum entre Terapia Comunitária e Serviço Social: os dois devem respeitar os valores e autonomia dos seres humanos como princípio. Afinal é necessário que as pessoas percebam que sua cultura, seu saber tem valor e sintam que são capazes de conduzir sua vida e seus problemas por si próprias, sem que sejam vistos como coitados ou que o profissional coloque-se na postura de salvador, que quer resolver tudo pelo semelhante. Essa atitude de salvador é parecida com que, no Serviço Social, é denominado atitude paternalista, realizada por alguns profissionais que na sua visão entendem que o usuário não é capaz de refletir nem tão pouco de buscar a sua emancipação, portanto, os Assistentes Sociais têm que fazê-lo por ele.


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2.3 Objetivos da Terapia Comunitária: semelhanças com o Serviço Social

Os objetivos da Terapia Comunitária que, segundo Barreto (2005) procuram ampliar seu ângulo de ação para que haja uma mudança de olhar, também têm alguns pontos em comum com o Serviço Social e serão destacados a seguir: 1. Ir além do unitário para atingir o comunitário porque, com a globalização, a sociedade em que vivemos atualmente passa a ter um aumento de problemas que devem ser superados pela coletividade e não somente por um indivíduo, um líder ou um especialista. Pelo fato dos problemas serem da comunidade e não apenas de uma única pessoa, é que a própria comunidade dispõe também de soluções. Neste objetivo, percebe-se que o olhar da totalidade é fato importante porque, além do problema individual é necessário analisar o contexto em que se insere esse indivíduo que deve superar seus problemas no coletivo, pois, muitas vezes, o problema de um é o problema de vários. 2. Sair da dependência para a autonomia e a co-responsabilidade procurando estimular o crescimento pessoal e desenvolvimento familiar e comunitário, porque a dependência atrapalha esse crescimento e desenvolvimento. E se a comunidade solucionar seus problemas, há o reforço da autoconfiança. Defender a autonomia é um dos objetivos do Serviço Social porque o usuário deve ser interrogado sobre o que pensa de seu problema, afinal, o Assistente Social apenas aponta caminhos. 3. Ver além da carência para ressaltar a competência em que a comunidade deve valorizar o sofrimento vivenciado como grande fonte geradora de competência, utilizado como uma forma de reconhecimento do saber adquirido com a vida. Ressaltar a competência e potencial é necessário para a não utilização de atitudes paternalistas de quem acredita na falta de capacidade do usuário, pois, como está descrito na alínea a) do artigo 6º do Código de Ética Profissional dos


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Assistentes Sociais “é vedado ao Assistente Social: exercer sua autoridade de maneira a limitar ou cercear o direito do usuário de participar e decidir livremente sobre seus interesses”. 4. Sair da verticalidade para a horizontalidade para que se acolha, reconheça e dê o apoio necessário a quem vive situações de sofrimento, proporcionando maior humanização nas relações. O que se entende por horizontalidade é que não há relações de subordinação onde alguns mandam enquanto outros obedecem, ou seja, há uma descentralização do poder, diferindo, portanto da verticalidade em que há concentração de poder. Portanto, ao ler este objetivo, observa-se que na Terapia não deve haver os que mandam e os que obedecem, assim como o Assistente Social não deve se considerar acima dos usuários por ter um grau de instrução e de conhecimento científico, porque todas as pessoas possuem conhecimentos originados da herança cultural. 5. Da descrença da capacidade do outro, passar a acreditar no potencial de cada um deixando de querer que o outro aceite nossas decisões para percebermos e estarmos a serviço das competências dos outros. Nesta mudança percebe-se algo em comum com o que se discute no Serviço Social: o entendimento de que o homem tem potencial e autonomia, que devem ser reconhecidos, defendidos e garantidos pelo Assistente Social. 6. Ir além do privado para o público, pois a reflexão dos problemas sociais que atingem os indivíduos sai do campo particular para a partilha pública, coletiva e comunitária, encontrando juntos a solução dos problemas de maneira interativa, identificando-se com os outros no compartilhamento dos sofrimentos, respeitando às diferenças.


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Portanto, as pessoas devem unir-se enquanto classe e refletir que o problema de um, pode ser o problema de vários como conseqüência do tipo de sociedade em que vivem. 7. Romper com o clientelismo para chegarmos à cidadania através do indivíduo que deixa de ser objeto passivo para se tornar um parceiro ativo e sujeito de sua história que não deve pedir nada como favor ou caridade e sim porque lhe é de direito. O clientelismo gera troca de favores, e a cidadania, que também é defendida pelo Serviço Social, são os direitos que os cidadãos têm em participar das decisões do que é público e que deve, se necessário, ser instituída pelo Assistente Social. 8. Romper com o modelo que concentra informação para fazê-la circular resgatando o capital sócio-cultural do grupo para que este seja colocado como co-autor das decisões e das políticas públicas. O Serviço Social também valoriza o resgate do capital sócio-cultural que é: “[...] um meio solidário e cooperativo que reúne forças e capacidades coletivas na busca contínua por melhorias locais, bem como acionando os demais capitais (econômico, humano, natural,

psicossocial,

congruentes

que

etc.)

podem

como

elementos

impulsionar

e

fundamentais direcionar

o

desenvolvimento endógeno de uma comunidade” (MARIANI & OLIVEIRA, 2004, p. 7).

2.4 Cultura

Nos grupos de Terapia Comunitária é importante que a diversidade cultural seja valorizada porque a cultura é “a expressão de valores” e “de um modo particular de vida, de um povo, numa determinada época” (FALEROS, 1996, p. 34), fazendo com que pensamentos e “comportamentos dos homens uns em


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relação aos outros” sejam compreendidos (FALEIROS, 1996, p. 34). Além de respeitar a diversidade cultural, o homem deve, lembra Barreto (2005), identificarse com os valores culturais de seu grupo para poder construir sua identidade. É essa identidade e diversidade cultural que o Assistente Social deve saber respeitar, sempre buscando analisar o quanto são importantes e influenciam a vida de uma pessoa, pois a cultura tem métodos que geram habilidades e competências. Todas as pessoas têm sua cultura, denominado de herança cultural porque foi ensinada pelos antepassados e repassada por várias gerações. Respeitar a diversidade cultural é o primeiro passo para o entendimento das diferenças, principalmente quando há o entendimento de que existem várias culturas em um único país, e que essa diversidade cultural, “faz a grandeza deste país” (BARRETO, 2005, p. 59). Ter consciência de sua cultura faz com que o homem perceba que tem uma história de vida que é importante, devendo ser analisada e valorizada pelos outros e por si mesmo porque tudo em que acredita, por mais que não admita, advém de sua herança cultural. Portanto, por mais que uma pessoa não saiba ler e utilizar a linguagem escrita, ela sempre terá algo a ensinar, e deve valorizar esse fato porque há várias formas de se expressar sabedoria e cultura: fala, gestos, teatro, música, dança e expressão corporal. Por isso todos devem respeitar as diferentes formas do saber, afinal, quem ensina pode ter muito a aprender assim como quem aprende, também pode ter muito a ensinar, ou, como afirma Paulo Freire: “A auto-suficiência é incompatível com o diálogo. Os homens que não têm humildade, ou a perdem, não podem se aproximar do povo. Não podem ser seus companheiros de pronúncia do mundo. Se alguém não é capaz de sentir-se tão homem quanto aos outros, é que lhe falta ainda muito que caminhar, para chegar ao lugar de encontro com eles. Nesse lugar de encontro, não há ignorantes absolutos, nem sábios absolutos: há homens que em comunhão buscam saber mais”. (FREIRE apud BARRETO,

2005, p. XXIII):


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Barreto (2005), na sua obra, faz um resgate histórico das raízes culturais dos brasileiros; relata a cultura indígena mostrando o quanto alguns aspectos desta cultura ainda influencia nosso cotidiano nos dias de hoje e que palavras como: mandioca, tapera, maloca, tatu, jacaré, guaraná, entre outras expressões da língua Tupi, fazem parte do nosso vocabulário atualmente. O saber indígena da época do descobrimento era um saber aprendido no coletivo, sem o uso de escrita ou leitura, mas eram saberes tão importantes quanto o saber ler e escrever. O coletivo é muito valorizado entre os indígenas e o problema de um componente da tribo, é o problema de todos, que deve ser resolvido por todos. Esse interesse coletivo é como na Terapia Comunitária em que o problema de um é compartilhado com todos para que juntos achem uma solução. Outro fato importante na cultura indígena é a maneira que os índios Kaiapó têm para demonstrar quanto o diálogo e o saber ouvir são importantes na vida de um homem e de seu grupo social: utilizam uma rodela de madeira fixada no lábio inferior e nas orelhas para poderem falar e ouvir melhor. Com isso, pretendem ressaltar as partes do corpo mais importantes na resolução de conflitos. Como dito anteriormente, a escuta apurada e o saber dialogar também é muito importante no Serviço Social, porém são utilizados para mediar conflitos, sejam eles entre familiares, indivíduo ou grupo e Estado, operário e patrão. Diversas culturas são lembradas no livro, tais como: a do negro, do europeu e do oriental, afinal o brasileiro é a mistura de várias raças e culturas e por isso mesmo é que deve respeitar a cultura dos outros, porque nossa cultura é a mistura de várias culturas. Refletir e analisar o assunto cultura nos faz entender o pensamento do autor ilustrado muito bem na frase: “cada um é rico naquilo que o outro é pobre” (2005, p. 52).

2.5 Questão Social


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As pessoas que freqüentam a Terapia Comunitária, em sua grande maioria, apresentam problemas que são decorrentes da manifestação da questão social e são representadas nas suas diversas expressões, tais como: miséria, desemprego, exclusão, precarização do trabalho, da saúde, da habitação, no saneamento básico, da educação, a alimentação insuficiente, violência, conflitos familiares,

situação

do

idoso,

da

criança

e

adolescente,

preconceito,

discriminação e dependência química. Os participantes do grupo que vive uma ou várias dessas expressões sociais, procuram a Terapia Comunitária para expor o seu problema e ver se consegue uma solução. É como se o grupo fosse um lugar de “grito de quem quer ser ouvido” em que todos são acolhidos e identificam outras pessoas com problemas semelhantes e juntos procuram encontrar uma solução. Muitas vezes os participantes do grupo, conforme a terapia avança, percebem que o problema não é isolado e o enxergam como fazendo parte de um todo. Isso faz com que reflitam que devem organizar-se para reivindicar melhorias para os governantes, como por exemplo: problema com o esgoto ou

mais

segurança em determinado bairro. Essa reflexão dar-se-á pelo fato de que, como dito anteriormente, os participantes percebem que o problema não está neles, mas na estrutura de sociedade em que vivem que é totalmente injusta e desigual, com uma lógica de mercado em que tudo gira em torno do capital e do poder, fazendo com que o homem seja reconhecido e admirado pelo que tem e não pelo que é. Então, quem não tem nem capital e nem poder tornar-se excluído e marginalizado perante a sociedade. O terapeuta comunitário também deve apontar caso uma situação relatada não seja a única na comunidade, mostrando que o descaso das autoridades é preocupante em relação à situação, para que lutem para as autoridades passarem a se preocupar com a situação apresentada, com intuito de que os integrantes do grupo se percebam como cidadãos.


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2.6 Cidadania e Democracia

Cidadania origina-se do latim civitas que quer dizer cidade. Segundo Dalmo Dallari, professor titular e orientador de pós-graduação da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo: “A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social” (1998, p. 14).

Democracia, palavra originada do grego demos que quer dizer povo, é o governo em que a responsabilidade cívica é exercida por todos cidadãos seja de maneira direta ou indireta. Porém, cidadania e democracia não devem se resumir apenas no ato de eleger um representante de quatro em quatro anos, mas também que os cidadãos tenham liberdade de expressão, direitos garantidos em lei e na prática, e não troca de favor ou caridade. Essa busca pela cidadania é defendida tanto pelo Serviço Social – que a defende por ser um comprometimento do projeto profissional - quanto pela Terapia Comunitária e, no caso desta última, este fato fica claro quando Barreto (2005, p. 53) diz que: “[...] é importante que o que nos une na terapia é o forte desejo de, juntos, buscarmos

soluções para nossos

problemas,

vínculos

consolidarmos

os

interpessoais,

resgatarmos a capacidade terapêutica do grupo e mobilizálo na construção da cidadania”.

2.7 Comunicação


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Saber comunicar-se e entender o que alguém quer comunicar é muito importante, tanto na Terapia Comunitária, quanto no Serviço Social. É necessário que entendam que todo comportamento - fala, escrita, gestos e atitudes - é comunicação que podem se manifestar de forma inconsciente e não intencional. Por isso é tão necessário que, em uma entrevista ou terapia em grupo, técnicas como a escuta apurada e observação de gestos seja utilizada para melhor compreensão do que as pessoas querem dizer, porque muitas vezes alguém diz algo e seus gestos contradizem o que foi dito, cabendo ao entrevistador/terapeuta tentar entender a situação, sabendo formular perguntas para entender o que de fato a pessoa quer expressar. A estrutura de sociedade em que vivemos atualmente é totalmente conflituosa e individualista voltada para obtenção de lucros, acumulação de capital, esquecendo-se o valor do coletivo. As pessoas não têm tempo de ouvir ou serem ouvidas por causa da constante e sacrificante luta pela sobrevivência. A Terapia Comunitária, através dos grupos, resgata o sentido do coletivo e entende a necessidade que as pessoas têm de falar sobre seus problemas, porque a comunicação é importante para o ser humano e como diz o provérbio “quando a boca cala, os órgãos falam, quando a boca fala, os órgãos saram” (BARRETO, 2005, p. 65). Expor o seu problema, suas preocupações do cotidiano sabendo que não será julgado principalmente porque pode não ser o único que possui esse problema e por alguém já haver passado por uma situação semelhante, mas conseguiu resolvê-la, traz esperanças para este indivíduo que se sente acolhido pelo grupo, afinal, a Terapia Comunitária acontece em um espaço público onde um grupo se reúne, procurando resgatar o coletivo, a cidadania das pessoas do grupo por meio de técnicas de comunicação, socialização da informação e não da fofoca, que pode dificultar o crescimento coletivo. 2.8 Cotidiano


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O cotidiano - que é a categoria do Serviço Social que procura entender como analisar a importância do dia-a-dia do usuário - também pode ser utilizado pelo terapeuta comunitário como instrumental de análise e observação das pessoas que freqüentam o grupo de terapia comunitária, pois, é na análise desse cotidiano que descobre alguns fatos da vida dos participantes do grupo, principalmente da pessoa que teve seu problema escolhido para análise.

2.9 Totalidade

Tanto o terapeuta comunitário quanto o Assistente Social devem observar o indivíduo em sua totalidade e não como um ser fragmentado que é analisado somente em suas necessidades. Observar e analisar os indivíduos em sua totalidade é respeitar sua história de vida. Porém, a análise dessa totalidade não deve ser focada apenas em um indivíduo; deve também ser disseminada para o grupo procurando perceber como está essa comunidade que faz a terapia, quais os problemas que enfrenta e incentivar o grupo de que são capazes de mudar essa história.

2.10 Rede Social

A rede social pode ser definida como “um conjunto de relações interpessoais a partir das quais uma pessoa mantém a própria identidade social” (SOARES, 2004, p.31) e é importante para o Serviço Social porque pode ser utilizada como instrumento no cotidiano do Assistente Social, e para Terapia Comunitária a rede social também tem sua importância porque: “[...] a Terapia Comunitária se propõe ser um instrumento de aquecimento e de fortalecimento das relações humanas, na construção de redes de apoio social, em um mundo cada vez mais individualista, privatizado e conflitivo”. (BARRETO,2005,

p.36)


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Segundo Maria Luisa Pereira Ventura Soares (2004) - Assistente Social e Diretora Executiva do Centro de Recuperação e Educação Nutricional - a rede social pode ser: primária ou secundária formal, informal, do terceiro setor, de mercado e mista, se originando dos bens que nela circulam, sejam eles dinheiro, reciprocidade ou direito. Abaixo explicaremos sucintamente cada uma delas para melhor entendimento, a saber:

Rede primária – são formadas por relacionamentos entre parentes, vizinhos, colegas de trabalho e tem origem na reciprocidade.

Rede secundária formal – é caracterizada pela troca fundada no direito, principalmente o direito à cidadania. Quem presta serviço a essas redes são as instituições públicas.

Rede secundária informal – constituída a partir da rede primária porque um grupo organiza um auxílio ou um serviço se houver alguma necessidade ou dificuldade em comum nos membros da rede. Não há circulação de dinheiro, pois o vínculo é fundado na troca de serviços e solidariedade. Esse tipo de rede existe enquanto durar o problema enfrentado.

Redes secundárias do terceiro setor – são constituídas por organizações da sociedade civil e apesar de prestarem serviços, não visam lucro. As cooperativas sociais, fundações, associações e organizações são redes do terceiro setor que têm como características o direito e a solidariedade.

Redes secundárias de mercado – tem sua existência estritamente ligada ao dinheiro e ao lucro.

Rede secundária mista – é aquela que presta serviço garantindo o direito, mas o faz em troca de pagamento. A rede social é muito importante porque toda a pessoa a possui, apesar de

“muitas vezes se sentir isolada por ser excluída socialmente e não consegue


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perceber os vínculos que possui e que pode dar suporte e ajudá-la a superar suas dificuldades” (SOARES, 2004, p.33) e por ter uma abordagem em “que atua-se com a pessoa que traz a demanda e com as pessoas que são significativas para a solução do problema” (Idem, p.35)

2.11 Paulo Freire

Os ensinamentos, ou melhor, o Método de Paulo Freire são muito importantes para o Serviço Social e auxilia no entendimento sobre alguns aspectos da realidade social. Diante de um Brasil que ainda reproduzia a submissão das classes dominadas que eram impedidos de ser, saber, ter e poder, Freire defendia a educação como um ato político e o saber popular, propondo a superação dessa submissão e apontando para um mundo de possibilidades, sempre pregando a necessidade do povo ser estimulado a participar da vida pública e do todo social. Em Pedagogia da Autonomia, sua última obra publicada em vida, discute sobre ética universal do ser humano e neste contexto cita a ética que condena a exploração do trabalho; fala sobre a necessidade de se respeitar à identidade cultural dos educandos, e nisto se assemelha com o Serviço Social que também deve respeitar a identidade cultural de seus usuários que por vezes também são educandos. Diz também que os professores devem respeitar os saberes dos educandos, aconselhando que discutam os problemas sociais com os quais sofrem as comunidades carentes e a desigualdade em que vivem, e reflete sobre a questão da mudança, dizendo que são difíceis, porém possíveis, contudo: “Não se trata obviamente de impor à população expoliada e sofrida que se rebele, que se mobilize, que se organize para defender-se, vale dizer, para mudar o mundo. Trata-se, na verdade, não importa se trabalhamos com alfabetização, com saúde,

com

evangelização

ou

com

todas

elas,

de

simultaneamente com trabalho específico de cada um desses campos desafiar os grupos populares para que percebam, em termos críticos, a violência e a profunda injustiça que caracterizam


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sua situação concreta. Mais ainda, que a situação concreta não é destino certo ou vontade de Deus, algo que não pode ser mudado” (FREIRE, 1996, p.31).

Percebe-se,

na

fala

supra

citada

que

o

autor

procura

ensinar

conscientizando as pessoas de que a mudança é possível, desafiando aos grupos populares a perceberem criticamente o quanto sofrem com a profunda injustiça e que isso não deve ser visto como vontade de Deus ou como algo que não pode ser mudado, ou seja, assim como é pregado pelo Serviço Social, Freire rompe com a visão messiânica e fatalista sobre a realidade dos oprimidos.


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CAPÍTULO III

TERAPIA COMUNITÁRIA NA PRÁTICA

“Quando a boca cala, O corpo fala, Quando a boca fala, O corpo sara.” Adalberto Barreto

Para realizarmos a pesquisa a campo escolhemos um Centro Médico do Grande ABC em que são realizadas sessões de Terapia Comunitária todas as quintas-feiras a partir das duas horas da tarde, porque a Assistente Social que é a terapeuta deste grupo foi supervisora de estágio de uma das componentes do grupo, motivo que facilitou nossa aproximação com os participantes da terapia e a coleta de dados para podermos alcançar o objetivo deste trabalho: analisar a relação do Serviço Social com a Terapia Comunitária na teoria e na prática.

3.1 Procedimentos metodológicos

Para iniciarmos a pesquisa a campo optamos fazer uma abordagem qualitativa pela complexidade do tema analisado, por tratar-se de algo que mexe com a emoção das pessoas. Para tanto, é preciso esclarecer que:


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“a

pesquisa

qualitativa

responde

a

questões

muito

particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com o nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo de relações, dos processos e dos fenômenos

que

não

podem

ser

reduzidos

à

operacionalização de variações” (MINAYO, DESLANDES, NETO e GOMES, 2001, p. 21 e 22).

Esta pesquisa foi realizada em 26 de Julho de 2007 para que o grupo pudesse participar, observar e analisar como funciona a Terapia Comunitária na prática. Neste dia, a terapia contou com a presença de uma terapeuta corporal que fez a abertura e o encerramento da sessão.

3.2 Instrumentais e técnicas

A pesquisa foi dividida em dois momentos: 1º) o grupo participou da Terapia Comunitária para observar como esta é realizada na prática e qual a reação e sentimentos dos participantes; 2º) realização de entrevista com uma participante da terapia e com a terapeuta. No primeiro momento da pesquisa, o grupo decidiu fazer a pesquisa como participante total “em que o observador não revela ao grupo sua verdadeira identidade de pesquisador nem o propósito do estudo” (LUDEKC e ANDRÉ, 1986, p.28), buscando tornar-se um membro do grupo para que consiga se aproximar o máximo possível da “perspectiva dos participantes” (idem). E no papel participante total, pudemos observar a importância do falar e de sentir-se


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pertencente a um grupo; o companheirismo e solidariedade que os participantes têm uns com os outros. Percebemos também como é importante seguir corretamente as fases da Terapia Comunitária porque é realmente necessário um acolhimento que deixe as pessoas à vontade: uma música ou até mesmo uma dinâmica de grupo, como pudemos observar e participar durante a pesquisa. A escolha do tema surge das colocações feitas pelos participantes, portanto, é preciso que o grupo preste atenção no que cada um fala e tenha a sensibilidade de perceber quem necessita ser o protagonista da sessão; a contextualização do problema; o mote, que fará o grupo refletir sobre o tema escolhido e sobre si próprio; e o encerramento, em que todos se abraçam, formando uma teia e falam algo positivo para o protagonista da sessão. Após participarmos da terapia, realizamos as entrevistas com a participante da terapia e com a terapeuta. A entrevista com Sra Amélia Lopes Ferraz Sudré, participante da terapia, foi realizada em dia 26 de Julho de 2007 e fizemos as seguintes questões: 1) Como o senhor (a) ficou sabendo da Terapia Comunitária o que o (a) levou a procurá-la? “Fui passar em uma consulta, cheguei dez minutos atrasada e o médico não quis me atender. Achei um desaforo, pois às vezes os médicos também atrasam e os pacientes precisam esperar. Por causa desse nervoso passei mal, a pressão ficou alta e o médico acabou me atendendo e pedindo para me medicarem. Porém, continuei passando mal e precisei ir para um pronto socorro, onde tive um começo de infarto e fui transferida para o Hospital do convênio onde fiquei por cinco dias e fui encaminhada para um programa do convênio. Lá, passei em entrevista com a Assistente Social Danile - com quem conversei muito sobre meus problemas - e esta me


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convidou a participar da Terapia Comunitária e na outra semana participei do grupo de terapia”.

2) Após participar da terapia, mudou alguma coisa em sua vida? “Depois de ter participado do grupo e conversado com a Assistente Social, até sonhei, algo que não conseguia fazer a algum tempo por causa de alguns problemas. No grupo de terapia, aprendi a me valorizar e percebi que há pessoas com problemas piores que os meus”. A entrevista com Sra. Danile Azevedo Amorese Costa, Assistente Social e terapeuta em formação, foi realizada em 07 de Agosto de 2007 e fizemos as seguintes questões: 1) Diante da sua experiência e seus conhecimentos, no que a Terapia Comunitária contribui para o Serviço Social? E para você? “Bom, a Terapia Comunitária, contribui muito para o Serviço Social, para minha atuação profissional e, na verdade eu vejo a Terapia Comunitária como uma continuação do Serviço Social. Acredito que todos os conceitos da Terapia que são trabalhados no paciente, no usuário, enfim, a teoria do Serviço Social que, ‘tá’ sendo, de alguma forma praticada. E, sendo profissional de Serviço Social, ajuda muito mais a questão da Terapia Comunitária porque a gente já tem essa base de conhecer o todo, da escuta, de ver o outro realmente como um todo, então uma coisa agregou a outra, mas a minha prática profissional realmente... enriqueceu muito por saber e por conseguir trabalhar na prática tudo aquilo que eu penso que é realmente o Serviço Social, com a questão da ajuda. Pra mim é maravilhoso, a cada sessão de terapia eu me transformo um pouco. É uma experiência muito rica estar junto


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com as pessoas e poder realmente trocar, compartilhar, então, não é só para elas o efeito terapêutico, pra mim também e... pra mim como pessoa, eu... me conheço muito mais hoje. Então, por trabalhar com outras pessoas a gente precisa ter esse reconhecimento de si. Sempre fui uma pessoa assim, de buscar um auto - conhecimento, mas isso agora fica muito mais forte por tentar fazer isso pelo outro. Então hoje eu sou uma pessoa, que me conheço muito mais hoje do que quando eu não fazia Terapia Comunitária”.

2) Comente sobre as transformações mais marcantes que percebeu com o decorrer das sessões de Terapia Comunitária. “Todas as sessões, elas são muito... eu saio surpresa de todas elas, têm algumas que óbvio que são pesadas pelos problemas que são trazidos pelos participantes, mas a gente vê na ‘carinha’, né?, porque o corpo fala também, vem no corpo, as pessoas entram tensas, quando o tema daquela pessoa em especial é escolhido e a gente trabalha com aquele tema a pessoa sai muito mais leve, pertencendo de um grupo, pertencendo de algo como se fosse uma família e ela se sente realmente acolhida. E o processo terapêutico, nem eu tinha dimensão de quanto é importante a Terapia Comunitária no decorrer, por exemplo, aquela pessoa que vem toda semana, e as pessoas têm melhorado muito da questão da ansiedade, é... buscado realmente soluções estruturais, então eu tenho conseguido com as terapias evidenciar o salto qualitativo. ‘Tá’ ajudando também muito no tratamento, os pacientes que fazem parte da Terapia Comunitária, que são pacientes, familiares, cuidadores. Alguns apresentam doenças crônicas ou outros são cuidadores, e isso tem ajudado muito no tratamento em geral. Então eu ‘tô’ vendo realmente muita conseqüência positiva, como eu falei, um salto realmente qualitativo no decorrer das terapias e todo participante da terapia sempre volta na outra. E eles se sentem realmente como se fosse uma família, é muito gostoso. E a cada grupo, a cada terapia, há algo novo que acontece que a gente não sabe o


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que vai acontecer no decorrer da terapia, mas que tem tido um efeito terapêutico fantástico que nem eu tinha dimensão. O fato das pessoas se sentirem assim, acolhidas e ‘nossa, quando eu precisar chorar vai ter alguém que vai me apoiar’, porque até com as dinâmicas que a gente faz no final de as pessoas mexerem e sentirem o balanço da roda, é justamente para sentir ‘na hora que eu tiver caindo, vai ter alguém para poder me apoiar’, e é exatamente isso que elas sentem, se sentem acolhidas. É maravilhoso. E depois quando as pessoas voltam, por exemplo, aquelas pessoas que tiveram o tema escolhido, elas... elas voltam diferentes, elas voltam muito... eu não sei explicar, mas a aparência modifica, aquele olhar... aquela coisa tensa, fica algo mais solto. É, a dimensão da Terapia Comunitária é muito grande, muito grande”.

3) Durante a Terapia, são contadas diversas experiências, mas apenas uma é escolhida pelo grupo. Se você percebe que um relato que não foi escolhido pelo grupo é mais urgente, porém, você não pode interferir na escolha do grupo, o que faz para ajudar essa pessoa? “Geralmente, é... o que acontece, a sintonia do grupo é tanta, que as pessoas, no momento da roda, quando elas expõem o problema, elas sentem que o problema do outro é mais urgente. Então têm muitas pessoas que colocam algumas coisas que quando ouvem uma outra pessoa falar uma coisa que é um pouco mais urgente, que precisa ser trabalhada, elas se comovem totalmente, elas se doam para aquele problema e elas mesmas dizem que ‘olha, o meu problema tá ruim, mas o dela tá muito pior que o meu’. Então o sentimento de sinergia, comunhão, solidariedade também é despertado no grupo, elas se percebem. A sintonia é muito grande. E tudo isso por conta do início, da sensibilização, as pessoas se sentem realmente acolhidas. Agora, quando existe algum outro problema, algum outro tema, urgente também, que tem essa necessidade de escolha, de ser trabalhado, no final da terapia eu chamo a pessoa, então a pessoa vem e discute um pouquinho, mas na verdade isso nunca


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aconteceu, isso pode acontecer, de chamar a pessoa e falar um pouco mais a respeito do problema, mas... todas as pessoas que estão na terapia, todos os problemas que são trazidos, elas são beneficiadas também com a reflexão do grupo, porque... a gente tenta lançar um mote que contemple tudo. Às vezes, isso vai do terapeuta, às vezes têm problemas que são trazidos, que a gente identifica o que é aquele problema, com a restituição, quando a pessoa traz a escolha do tema, e a gente tenta fazer do mote, que é a alma da terapia, um mote específico, geral, que contemple aquele problema daquela pessoa também, ou seja, o problema dela não está sendo ali falado, discutido um pouco mais, mas ‘tá’ sendo trabalhado também porque ao mesmo tempo ela traz alguma reflexão, alguma... alguma coisa que ela tenha passado, que ela superou aquele problema, que aí depois ela entende, ‘olha se você pode resolver assim o seu problema, eu também resolvi um problema meu assim, então vou resolver meu problema dessa forma’. Tudo depende muito do mote que você lança e toda a reflexão do grupo contempla a todo mundo. Então talvez eu não falei um tema mais voltado pro meu, mas eu fui contemplada com aquela reflexão porque eu me senti útil de também poder ajudar outra pessoa e só o fato de a gente refletir em uma coisa, já traz uma reflexão pra mim daquilo que eu ‘tô’ vivendo, daquilo que eu tô precisando trabalhar, então... às vezes o mote, quando eu lanço, geralmente eu tenho feito dessa forma, quando tenho problema que são urgentes. Tudo depende do terapeuta perceber o outro. A gente tenta contemplar com o mote... todos. A pessoa, sem perceber, foi trabalhada também. Às vezes tem aquele caso que a gente vê que precisava falar, independente disso, aí eu procuro às vezes ou marcar tratamento individual, mas às vezes eu prefiro até acompanhar com a Terapia Comunitária mesmo, porque tem pessoas que chegam aqui de forma muito fechada, que não conseguem falar sobre o problema, conseguem falar, porque todos eles se colocam, mas ele não consegue falar do problema mesmo, porque não está entendendo o que está acontecendo; então entra de forma muito tímida, então, por exemplo, começa a falar, ‘porque eu fiquei preocupado com o avião da TAM que caiu’, na outra terapia: ‘ah! Eu tô chateado


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porque minha família está desestruturada’, na outra terapia: ‘eu tô muito preocupado com a minha questão emocional porque eu percebi que meu problema é realmente emocional, não tenho problema nenhum de doença’. Então, a pessoa vai crescendo, ela vai conseguindo trazer coisas pra gente. Então, voltando pra pergunta... nunca aconteceu isso porque todas pessoas são contempladas, mas caso não for e eu achar que tem mais necessidade de ser trabalhado, dependendo do caso, ou eu vou pedir pra vir conversar, no atendimento individual mesmo, ou então vou trabalhando na terapia”.

3.3 Análise de Dados

Ao analisarmos as respostas das entrevistadas percebemos que o participante da Terapia Comunitária, ao ouvir os depoimentos e contribuir com a sua história de vida, resgata sentimentos que estavam adormecidos, aumenta sua auto-estima, a empatia, doação e solidariedade com o outro ao refletirem que outras pessoas estão com problemas iguais ou maiores que o dele - neste momento começa a perceber a importância do coletivo - e encontra melhor solução para seus desafios comprovando o que diz Barreto “quando a boca cala, o corpo fala, quando a boca fala, o corpo sara” (2005, p.65), principalmente quando Sra Amélia diz que até sonhou, algo que não fazia há algum tempo. Analisando a fala da terapeuta observamos que durante cada sessão ela faz uma auto-avaliação, pois há troca de conhecimentos porque “o terapeuta comunitário deve sempre ter uma visão e compreender que não está lá somente para realizar uma tarefa para os outros, mas, sobretudo para si mesmo” (BARRETO, 2005, p. XXV). Destaca a importância dos conhecimentos adquiridos com o Serviço Social que podem ser utilizados durante a terapia: o saber ouvir, saber perguntar, analisar profundamente a linguagem falada e a linguagem corporal do usuário, sua história individual e coletiva, procurando mostrar caminhos para que ele decida o melhor a seguir; portanto “o terapeuta precisa estar comprometido com o


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processo de crescimento das pessoas e da comunidade e, por isso, deve fazer alianças com as pessoas envolvidas com as diversas atividades” (BARRETO, 2005, P.65) sempre procurando “ver além do dedo que aponta a estrela” (idem, p. 65). Essas ações destacadas pela terapeuta são mediações, que, para o Serviço Social “[...] são categorias instrumentais através das quais se processa a operacionalização da ação profissional” (MARTINELLI apud FAUSTINI, VILLAR & WEIZENMANN, 2007, p. 3) e esta operacionalização se dá “[...] através do conjunto de instrumentos, recursos, técnicas e estratégias” (idem) utilizadas pelo profissional; o que se assemelha com que Barreto fala sobre a mediação do terapeuta que “(...) é aquele que respeita os valores e a autonomia do outro e tem consciência do valor de escutar mais do que falar (...) acompanha de perto as mudanças mentais que ocorrem impulsionadas pela própria dinâmica da vida e ajuda as pessoas atualizarem suas fichas mentais” (2005, p. 126).

As transformações que ocorrem com os participantes da terapia que se expressam, acontece gradativamente e pode ser percebida a cada sessão até mesmo através da fisionomia: “Ninguém nasce feito. “Vamos nos fazendo aos poucos, na prática social de que tomamos parte” (FREIRE apud BARRETO, 2005 p. XXIV). Na última fala da terapeuta fica claro que é importante contemplar a todos os participantes da terapia através do mote, ou seja, a pergunta chave que irá fazer com que reflitam sobre o problema do protagonista da sessão e sobre seus próprios problemas porque o mote “promove a reflexão coletiva capaz de trazer à tona os elementos fundamentais que permitam a cada um rever os seus esquemas mentais, seus preconceitos e reconstruir a realidade”. (BARRETO, 2005, p. 78). Esses dados mostram que a Terapia Comunitária realmente é um importante meio de comunicação e de obtenção de informações que procura, como idealizado por Freire, criar possibilidades e fortalecer o coletivo na


54

construção de caminhos para a resolução de um determinado problema, e, portanto, pode ser utilizada como um instrumento para o Assistente Social no atendimento de grupo, assim como alguns instrumentais do Assistente Social podem ser utilizados durante a terapia, porque é necessário que “o terapeuta apóie o dinamismo interno do grupo, para que este descubra seus valores, suas potencialidades, e torne-se mais autônomo e menos dependente” (BARRETO, 2005, p. 49), fazendo com que os participantes da terapia se percebam como cidadãos de direito.


55

CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao finalizarmos este trabalho acadêmico constatamos que a Terapia Comunitária funciona e é muito importante para quem dela participa, pois, como pudemos verificar em nossa pesquisa de campo, quando um participante está angustiado com algum problema de seu cotidiano e compartilha com o grupo, percebe-se o alívio em seu semblante, afinal falar sobre o que o que angustia e ouvir a reflexão do outro sobre seu problema, o ajuda na escolha do melhor caminho a seguir. A Terapia Comunitária não é espaço para conselhos, nem para fofocas, é um espaço em que podemos encontrar diversas expressões da questão social, valorizando a importância da comunidade na busca de melhorias para um todo, analisando o cotidiano de cada um e suas relações sociais. Esses fatores supracitados nos levam a acreditar que a Terapia Comunitária é um instrumental importante para o Serviço Social, assim como o profissional Assistente Social pode contribuir muito com a Terapia Comunitária. Contudo, no decorrer do trabalho, observamos que o que diferencia a Terapia Comunitária de outras terapias, como por exemplo, a terapia individual espaço onde o paciente relata seus anseios e recebe orientações de como agir frente aos problemas apresentados - é o fato dela não ser aplicada com um olhar clínico, pois o terapeuta comunitário deve ter clareza de seu papel de mediador da terapia, não utilizando–se de sua formação profissional, por isso que pode ser realizada por profissionais de diversas áreas. Percebemos, mediante comentários de colegas de sala e outros profissionais Assistentes Sociais, que a Terapia Comunitária não é benquista pela categoria, por ser denominada Terapia e entenderem que estamos invadindo a prática profissional dos psicólogos. Porém com este trabalho queremos romper com esse estigma, mostrando que a Terapia Comunitária é uma área de atuação nova para o Serviço Social, podendo ser realizada na Instituição em que trabalha, ou outros locais públicos.


56

Concluindo, esta pesquisa nos fez perceber que devemos ampliar nossa visão sobre as relações sociais do cotidiano, permitir mudanças, evitar pré-conceitos, e entender que quando as pessoas trabalham em comunidade, e adquirem consciência crítica, resulta na melhoria da qualidade de vida individual e coletiva.


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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em:

<http://www.mapadoterceirosetor.org.br/adm/download/redes.pdf> Acesso em: 09 maio 2007. ARAÚJO, Rachel C. NASCIMENTO, Célia R. SOARES, Maria L. P. Ventura Abordagem Social. 2ª edição, São Paulo, 2004. BARRETO, Adalberto de Paula Terapia Comunitária passo a passo, São Paulo. gráfica LCR (2005) CALADO,

Alder

Júlio

Ferreira.

Fafica.

Disponível

em:

<http://www.paulofreire.ufpb.br/paulofreire/Files/livros/Calado-Paulo_Freiresua_visao_de_mundo_de_homem_e_de_sociedade.pdf> Acesso em: 16 agosto 2007. CASTRO, Alba Tereza Barroso de. Espaço público e cidadania: uma introdução pensamento de Hannah Arendt In Serviço Social e Sociedade nº 59. São Paulo. Cortez Editora (1999) p. 11 DALLARI,

Dalmo.

Disponível

em:

<http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/textos/deveres.htm> Acesso em: 09 maio 2007. FALEIROS, Vicente de Paula Serviço Social: questões presentes para o futuro In Serviço Social e Sociedade nº 50, São Paulo. Cortez Editora (1996) pp 147. 157 FAUSTINI,Márcia S. Arruda, VILLAR,Véra Lúcia C. , WEIZENMANN,Martha Helena. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/view/1054/831> Acesso em: 15 setembro 2007.


58

FIX, Sílvia A. Barretto. GALVANI, Cecília. LEITE, Maria de Salete Vianna. Terapia Comunitária no CEAF (Centro de Estudos e Assistência à Família). Disponível

em:

http://www.abratecom.org.br/artigo_detalhe.asp?art_ID=13"

Acesso em: 16 maio 2007. IAMAMOTO, Marilda Vilela Trabalho e Serviço Social. O redimensionamento da profissão ante as transformações societárias recentes In Serviço Social na Contemporaneidade: Trabalho e formação profissional (1988), pp; 83. 148 LARA, Larissa Michele. PIMENTEL, Giuliano G. de Assis. RIBEIRO, Deiva M. D. Ribeiro. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd81/brincad.htm> Acesso em:17 maio 2007. MACHADO,

Ednéia

Maria.

Disponível

em:

<http://www.ssrevista.uel.br/c_v2n1_quest.htm> Acesso em 09 maio 2007. MARIANI, Milton Augusto Pasquatto. OLIVEIRA, Anelize Oliveira. Universidade Católica

Dom

Bosco.

Disponível

em:

<http://www.ucdb.br/coloquio/arquivos/anelize.pdf > Acesso em :14 junho 2007.


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APÊNDICES


60

ROTEIRO PARA ENTREVISTA Perguntas para o usuário da Terapia Comunitária 1) Como o senhor (a) ficou sabendo da Terapia Comunitária o que o (a) levou a procurá-la? 2) Após participar da terapia, mudou alguma coisa em sua vida? Perguntas para o Terapeuta: 1) Diante da sua experiência e seus conhecimentos, no que a Terapia Comunitária contribui para o Serviço Social? E para você? 2) Comente sobre as transformações mais marcantes que percebeu com o decorrer das sessões de Terapia Comunitária. 3) Durante a Terapia, são contados diversas experiências, mas apenas uma é escolhida pelo grupo. Se você percebe que um relato que não foi escolhido pelo grupo é mais urgente, porém, você não pode interferir na escolha do grupo, o que faz para ajudar essa pessoa?


61

ANEXO


62

Locais de Terapia Comunitária em São Paulo e Santo André*

Santo André

SANTO ANDRÉ (SP) US cidade São Jorge Av. São Paulo, 800

Santo André

SANTO ANDRÉ- (SP) _CREM Rua Bethânia, s/nº Parque Novo Oratório

Santo André

Santo André (SP) _Unidade de Saúde Dr. Moyses Fucs Rua Alexandreta, 180 Jd. Santo Antonio

Santo André

SANTO ANDRÉ (SP) US Parque Miami -PSF Estrada do Pedroso, 5151. Parque Miami

Santo André

SANTO ANDRÉ (SP) _ Núcleo Habitacional Capuava Capela São Thiago- Parque Capuava

Santo André

SANTO ANDRÉ- (SP) _ Unidade Utinga PACS Alameda México, S/Nº

Santo André

SANTO ANDRÉ- (SP) __Centro de Especialidades II Praça Waldemar Soares, s/nº Parque das Nações.

Santo André

SANTO ANDRÉ- (SP)_US Recreio da Borda do Campo Rua Caturrita, 576

Santo André

Unidade Básica de Saúde Estrada do Pedroso, 5151 - Pq Miami - Sto André/SP

Santo André-SP

Santo André-(SP) US Vila Linda-PSF Rua Ingá, (Esquina c/ a Rua Embaré) Vila Linda

São Paulo

CEAF - Centro de Estudos e Assistência às Famílias R. Japuanga, 235, sub-solo do mirante da Pça Waldir Azevedo, altura do número 1.800 da R.Cerro Corá Alto da Lapa

São Paulo

AE Dr. Geraldo da Silva Associação Educaional, Cultural e Esportivo Americanópolis - Av. Muzambinho, 221 - Jabaquara / Albergue Abeal - Av. Armando Arruda Pereira, 1392 - Jabaquara

São Paulo

AE Jardim São Carlos Rua Maculu, 35 - Guaianases

São Paulo

Associação Amigos da Vila Gumercindo Bairro Vila Gumercindo

São Paulo

CAPS AD Casa Azul e AMORA


63

R. Lino Pinto dos Santos, 230 - Pirituba São Paulo

CAPS Sapopemba Rua João Lopes de Lima

São Paulo

CAPS Sapopemba PSF Juta I

São Paulo

Casa da Mulher Lilith -V. Alpina Rua Savigni, 230 Vila Alpina Cep 03203-030

São Paulo

CECCO Raul Seixas / UBS Jardim São Pedro Casa de Cultura - R. Murmúrios da tarde, 211 - conj. José Bonifácio Itaquera

São Paulo

CTA Henfil R. Líbero Badaró, XX (confirmar número) - Sé

São Paulo

ECCO – Espaço Comunitário COMENIUS R. Otávio de Morais Lopes, 370 – Jd. Sarah – Rio Pequeno

São Paulo

Horizonte Azul – Clube da Terceira Idade Av. Presidente Altino, 1.313 - Jaquaré

São Paulo

Hospital Soares Hungria- PS de Pirituba Pirituba

São Paulo

Igreja Nsra de Fátima Salão Paroquial Sumaré - SP Av. Dr Arnaldo, 1831

São Paulo

Igreja S.Francisco de Salles Bairro Vila Gumercindo

São Paulo

Iguaçu PSF Av. Oratório, não dá pra ler o número

São Paulo

Ipiranga - Paróquia Santa Cândida Av. Dr. Ricardo Jafet, 769 - Ipiranga

São Paulo

Jd. Iva Sociedade Amigos da Vila Rica - R. João Batista Lima, 47 - Sapopemba

São Paulo

Jd. Souza - Igreja de São Francisco Rua Marinho Jacob Kramer nº379 Salão Paroquial Bairro Jardim Souza Sub Pefeitura M'Boi Mirim

São Paulo

Projeto Esperança – Pensionato masculino de portadores de HIV R. Álvaro Osório de Almeida, 315 - Vila Universitária – Butantã

São Paulo

PSF Elba R. Andréia Martini, 25 - Vila Prudente

São Paulo

PSF JD. Eucaliptos – Unidade de Saúde


64

Rua Poema das Américas, 12 São Paulo

PSF Jd. Sapopemba comunidade Bom Pastor

São Paulo

PSF Profeta Jeremias Igreja Santa Rita R. Profeta Jeremias, s/n - Cidade Tiradentes

São Paulo

PSF Reunidas II Av. Estrada da Casa Grande 1558

São Paulo

Qualis Madalena Comunidade de Reconciliação - R. Vatapá, 41 - Sapopemba

São Paulo

Serviço Social Batuíra Liberdade - SP Rua Espírita, 222 Liberdade

São Paulo

SP -PSF Jd Elba Rua Gregório Feber, 66 segundas 14 h Rua Andréa Martinez, 64 quintas 14 h

São Paulo

SP-PSF Mascarenhas de Morais UBS Mascarenhas Rua Sargento Rodrigues Lourenço Pinto, 116

São Paulo

UBS A E Carvalho R. Japani, 07 - Penha

São Paulo

UBS Adão Manoel da Silva Associação de Bairro. R. Adão Manoel da Silva (ao lado da UBS)- São Miguel Paulista

São Paulo

UBS Alm. Delamare UBS Alm. Delamare - Ipiranga / Escola Péricles Eugênio da Silva Ramos / Centro Esportivo Filipo Nunes / Salão de Festas Cond. Monte Verde BI 01 - R. Freire Brayner, 120 - Ipiranga

São Paulo

UBS Arthur Alvim R.Henrique Jacobs, 269 - Penha

São Paulo

UBS Belém R. José Alves de Oliveira, 256 - Mooca

São Paulo

UBS Chácara Inglesa R. da Ligação, 95 - Pirituba

São Paulo

UBS Cidade Tiradentes R. dos Texteis, 512 - Cidade Tiradentes

São Paulo

UBS Conquista I Escola Roque Spencer - Trav. Chalona s/n - São Mateus

São Paulo

UBS Conquista II Comunidade Imaculada Conceição R. Vereda Tropical s/n São Mateus


65

São Paulo

UBS Costa Melo R.Luis Asson, 165 Ermelino Matarazzo

São Paulo

UBS Dr Thérsio Ventura Igreja São José do Limoeiro. R. Hamilton Regis s/n - São Miguel Paulista

São Paulo

UBS Elísio Teixeira Leite Telecentro Taipas - Pirituba

São Paulo

UBS Jardim Aurora R. Cláudio da Costa, s/n - Guaianases

São Paulo

UBS Jardim Boa Vista Rua Cândido Fontoura, 620 - Jardim Boa Vista

São Paulo

UBS Jd Keralux - R.Lucas Gonçalves, 13 - Ermelino Matarazzo - Igreja Brasil para Cristo - R. Arlindo Betio, s/n - Ermelino Matarazzo

São Paulo

UBS Jd Seckler Igreja São Bernardo - R. Carlos Liviero - Ipiranga / Igreja Sagrado Coração / UBS Eduardo - R. Reschilian

São Paulo

UBS Jd Sinhá Sociedade Amigos de Bairro - R. Jim Clarck, 10C - Sapopemba

São Paulo

UBS Jd. Campinas R. das Olêiades, s/n - Parelheiros

São Paulo

UBS Jd. Cidade Pirituba R. Hermina Fidelis, 269 - Pirituba

São Paulo

UBS Jd. Mirmo R. Juvenal Hudson Ferreira, 13 - Capela do Socorro

São Paulo

UBS Jd. República Av. Gonçalo de Paiva Gomes, 285 - Capela do Socorro

São Paulo

UBS Jd. Três Corações CÉU Três Lagos

São Paulo

UBS Jordanópolis R. Manoel Leitoso, XX (confirmar número) - Capela do Socorro

São Paulo

UBS Madalena Av, Paulo Colombo Pereira de Queiroz, 470 - Vl Prudente

São Paulo

UBS Mascarenhas de Moraes R. Sargento Edgard Pinto, 116 - Vl Prudente

São Paulo

UBS Nitro Operária


66

Igreja Imaculada Conceição. Pça Alberto Moreira s/n - São Miguel Paulista São Paulo

UBS Nossa Sra. do Brasil R. Rocha, 209 - Sé

São Paulo

UBS Padre Manoel da Nóbrega R. Pde Fsco Toledo, 545 - Penha

São Paulo

UBS Paranaguá CATEM - Sociedade Amigos de Bairro R. Viteria Simiato, 120 - Ermelino Matarazzo

São Paulo

UBS Pari R. das Olarias, 503 - Mooca

São Paulo

UBS Santa Luzia OFIDES - R.José de Luís de Lima, 136 - Guaianases Associação Santa Luiza - R. da Boa Visão, 31 - Guaianases

São Paulo

UBS Santa Maria R. Embirataí, 201 - Itaquera / Comunidade Nossa Senhora de Fátima R.Henrique Schering, 638 - Itaquera /Favela do Jd formiga - R.Eurides Formiga, 259 - Itaquera

São Paulo

UBS Santo Estevão Igreja Santo Estevão - R. Charlim, XX Itaquera

São Paulo

UBS Sta Catarina Sociedade Amigos Vl Sta Catarina - R. Belfort Duarte, 237 - Jabaquara / R. Belmiro Zanetti Esteves, 181 - Jabaquara

São Paulo

UBS Teotônio Vilela Comunidade Católica Cristo Salvador - Av. Arquiteto Vila Novas Artigas, 1007 - Sapopemba

São Paulo

UBS União de Vila Nova R. Grazieli Baldanik Gomes, 36 - São Miguel Paulista

São Paulo

UBS Varginha R. Henrique Muzzio, XX - Capela do Socorro

São Paulo

UBS Vila Cisper Igreja (confirmar endereço) Bairro Ermelino Matarazzo

São Paulo

UBS Vila formosa / UBS Vila Antonieta Pça Marques de Nazaré, 111 - Aricanduva

São Paulo

UBS Vila Maggi


67

R. Conde Monfevone, 40 - Pirituba São Paulo

UBS Villa Lobo R.Coelho de Castro, 95 - Penha

São Paulo

UBS Vl. Mangalot R. Joaquim de Oliveira Freitas, 1397 - Pirituba

São Paulo

UBSF 9 de Julho R. Frutuoso Nunes, 27 - São Mateus

São Paulo

UBSF Dom Angélico R.Manoel de Oliveira Ramos, 01 Salão Comunitário - Cidade Tiradentes

São Paulo

UBSF Parque Novo MundoI Rua Benedita Dornelas Claro, 451 - Vl Maria

São Paulo

UBSF/CDHU Palanque Av. Racheb Choffi, 7.800 - São Mateus

São Paulo

Unidade Básica de Saúde Av. Edú Chaves, 1197 - Parque Edú Chaves - região do Jaçanâ

São Paulo

USF Brás União Espirita - R. Brigadeiro Machado, 269 - Mooca

São Paulo

Vila Nova Jaguaré - Grupo I Rua Bartolomeu da Ribeira,33 Vila Nova Jaguaré Núcleo Sócio Educativo Santa Cruz da Igreja de São José

São Paulo

Vila Nova Jaguaré - Grupo II

São Paulo - Capital PROJEPSI - Projeto de Epilepsia e Psiquiatria do IPq HC FMUSP Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clinicas da FMUSP Rua Dr Enéias de Carvalho s/ nº Pinheiros SP

SP-PSF Sinhá Sede do Santa Cruz FC Rua João Cresini, 246

Disponível em:<http://www.abratecom.org.br/tcnobrasil.asp?UF=SP#tabela> Acesso em: 19 novembro 2007. *Única cidade do Grande ABC encontrada no site supracitado.


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