Edição nº 255

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18 de dezembro de 2012 • ANo XXii • N.º 255 • QUiNzeNAL GrATUiTo direTorA ANA dUArTe • ediTorA-eXeCUTiVA ANA morAis

acabra JorNAL UNiVersiTÁrio de CoimbrA

daniel alves da silva

EntREVIStA: JuAn luIS CEbRIán Aquando da sua vinda a Coimbra, para o Seminário “Jornalismo e Comunicação”, o administrador do grupo PRISA e fundador do ‘El País’ falou sobre o futuro dos jornalistas e as suas problemáticas hoje – inclusive o despedimento de 129 trabalhadores do seu próprio jornal Pág. 10 E 11 rafaela Carvalho

Łukasz Bartkowiak

Eslovénia Vontade de mudar Governo e elites políticas dominantes A Eslovénia parece estar a tornar-se um epicentro europeu de protestos. A grande força que move os manifestantes prendese com a forte corrupção existente um pouco por todo o país. O contágio grego parece ganhar forma na linha de ação seguida pelos manifestantes. Pág.13

Fuga dE cérEbros

alTEraçõEs climáTicas Eduardo TolEnTino

Entrevista: CO2: vítima ou Reverter políticas para manter cérebros verdadeiro culpado? o papel do Teatro

Secção de Basebol e Softbol da AAC: uma casa em crescimento

Geração mais qualificada de sempre: são assim que são vistos os jovens formados portugueses. Mas tanta formação parece afastar os empregadores, que parecem assim tentam pagar o menos possível. A geração vê-se obrigada a sair do país, em busca de condições dignas de trabalho e que recompensem o investimento feito em anos de formação. Pedem-se mais apoios e a alteração de diretrizes de austeridade. Para fixar e atrair os “cérebros” é preciso abanar mentalidades.

Faça a seguinte questão e reflita sobre a mesma: o que são alterações climáticas? Sempre que se fala em alterações climáticas, o dióxido de carbono (CO2) e a subida dos níveis do mar são os assuntos favoritos. Não foi exceção na última conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, realizada no Qatar. Porém, será que a população se encontra bem informada acerca dos motivos (reais) que geram o aumento dos níveis oceânicos ou, de um modo geral, as alterações climáticas?

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Contando com mais de trinta anos de carreira, o encenador brasileiro trouxe ao palco do Teatro da Cerca de São Bernardo, as peças “12 Homens e uma Sentença” e “Retratos Falantes”, com a ajuda do “seu” TAPA. Um grupo que começou sem pretensões maiores, mas que foi crescendo, procurando sempre uma “qualidade absoluta”. Pág. 6

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Mais informação em

acabra.net


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DestAqUe

Mudem-se as cabeças para manter os cérebros O fenómeno comummente chamado de ‘brain drain’ – “fuga de cérebros”, em português – tem-se agravado cada vez mais ao longo dos tempos. Hoje, a aposta na qualificação académica já não serve aos empregadores. Há que sair do país para trabalhar, para ver o esforço de anos ser recompensado. Urge reverter as políticas. Por Ana Duarte e Ana Morais

“O

s investigadores não estão a abandonar o país, mas sim a ser abandonados pelas atuais políticas”. É do Reino Unido que Pedro Gonçalves, a frequentar o doutoramento em Arqueologia na Universidade de Cambridge, constata a situação atual do país onde nasceu. Com licenciatura em Arquitetura pela Universidade Lusíada de Lisboa (1997) e um mestrado em Geociências, na área de especialização em Ambiente e Ordenamento do Território pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (UC), em 2008, Pedro Gonçalves representa parte da geração que, sem apoio estatal, se viu obrigada a sair de Portugal para garantir uma formação de qualidade e, consequentemente, um emprego na área. Façamos uma retrospetiva: 40 anos volvidos, depois de uma vaga de

Hoje, e cada vez mais, existem pessoas a sair em busca de condições dignificante emigração que se queria libertar da opressão do regime e da pobreza (rumo aos maiores países da Europa), este paradigma repete-se. Mas há uma diferença notória: a excelência da formação de quem abandona o país. Nos anos 60 e 70, foram os portugueses de classe média e sem formação académica a sair. A partir de 2000 são os mais e melhor formados de sempre. Estes não o fazem de ânimo leve – veem-se obrigados a se instalar no estrangeiro e a adiar, para já, o regresso. Em pleno século XXI, a emigração “por necessidade” ainda se verifica. Hoje, e cada vez mais, existem pessoas a sair em busca de condições dignificantes – tanto na área da investigação como simplesmente na área do trabalho “puro e duro”. E o convite à emigração é, por vezes, feito pelos próprios governantes. Como se viu há um ano atrás, pelas declarações do primeiro-ministro,

Pedro Passos Coelho e do ministroadjunto dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas. As palavras proferidas por Passos Coelho são criticadas por três jovens que se encontram no estrangeiro a trabalhar: Ana Relvas França (Londres), Andreia Silva (Macau) e Pedro Gonçalves (Cambridge) são perentórios quando afirmam que “é dos comentários mais infelizes” e que “foi duríssimo de ouvir e muito injusto porque não se resolvem os problemas de um pais tirando daqui gente para ver se sobra trabalho para os que restam”. Já Sandro Alves (Paris) mostra um discurso mais comedido, não deixando, no entanto, de ser algo crítico: “para quê investir na educação e na formação para depois ser passada aos jovens a mensagem de emigração?”.

Viver lá fora com Portugal na memória Com licenciatura em Jornalismo pela Faculdade de Letras da UC, tirada em 2009, Ana Relvas França fez as malas e rumou a Londres, para continuar a estudar. “Vim para Londres onde completei uma pós-graduação em Jornalismo, na vertente Imprensa (London School of Jornalism)”. Ainda regressou a Portugal para mais duas formações no Cenjor, mas Londres continuava na mira, porque sempre foi um dos seus destinos de eleição. “Cá nunca me sinto estranha e fora de órbita”, assegura. A trabalhar em regime ‘freelancer’ na sua área, tem ainda de recorrer ao exercício de supervisão de um “restaurante chique”, como a própria ironiza, para pagar as suas contas. Estagiou na conceituada revista ‘Monocle’ e acabou por continuar a colaborar, a par de outros trabalhos em publicações mais pequenas. Ana Relvas França tem ainda tempo para um ‘part-time’ na cadeia televisiva BBC, como tradutora no Departamento de Línguas Latinas. Quando confrontada com um possível regresso ao país de origem, Ana encara essa hipótese como distante, preferindo antes viajar pelo mundo. Deixa o conselho: “para os portugueses seria bom pensar em deixar as saudades na gaveta e tentar Macau, Brasil ou Angola”. Do mesmo ano e do mesmo curso

é Andreia Silva, hoje jornalista em Macau. “A minha vinda para Macau prendeu-se unicamente pela aventura pura e dura, pelo desafio de vir trabalhar para um diário, objetivo que sempre quis atingir”. Apesar da crise ser um fator crucial que motiva muitas saídas, Andreia brinca com a situação: «saí de Portugal pouco tempo depois de Passos Coelho vencer as legislativas, e dizia “só regresso a Portugal quando o PSD sair do poder”». Ao contrário dos restantes, Andreia não seguiu para a Europa. Sendo este um continente que também se encontra em crise, a jornalista afirma: “neste momento a Ásia está, de facto, a tornar-se no centro das atenções de todo o mundo”, não descredibilizando totalmente o continente europeu. “Há países na Europa de Leste, como a Polónia, que ainda conhecem crescimento económico, o Reino Unido, ou até a Alemanha”, acrescenta.

Elísio Estanque encontra na política de austeridade a verdadeira causa da emigração jovem Para além de Ana Relvas França, Pedro Gonçalves também está no Reino Unido. Reconhece que a emigração jovem pode traduzir-se num abandono do país mas, ainda assim, diz que “é, sobretudo, uma reação ao facto de o país estar a abandonar as pessoas”. Neste sentido, Sandro Alves vai mais longe e, num tom indignado, apresenta uma série de questões retóricas: “onde está o retorno financeiro do investimento avultado feito pelo país, desde a primária até à universidade? Será que se perdeu uma geração inteira? Como será na próxima geração? Caminhará Portugal para um país de velhos?”. Em Paris desde finais de 2008, a desenvolver trabalhos de pós-doutoramento no Institut du Cerveau et de la Moelle épinière (Instituto do Cérebro e da Espinal Medula), Sandro explica a decisão da sua saída: “o objetivo era adquirir novas tecnologias de ponta e impor-


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DestAqUe tar as mesmas, de forma a implementá-las no laboratório aquando do regresso a Portugal”.

As valências da emigração O investigador do Centro de Estudos Sociais (CES) da UC, Elísio Estanque, encontra na política de austeridade a verdadeira causa da emigração jovem – “é resultado da pressão da nossa economia e da falta de oportunidades, associadas a esta tendência de crise e austeridade em que estamos”. Mas o sociólogo vê também este fenómeno por outro prisma: “esse fluxo migratório pode ser interessante do ponto de vista das experiências pessoais de cada um”. Excetuando Ana Relvas França, todos mostram vontade de voltar ao seu país. “Nada me faria mais feliz”,

confidencia Pedro Gonçalves, apesar de reconhecer que “será difícil regressar” tendo em conta a atual conjuntura. Também Andreia Silva conta que “não há um dia em que não tenha saudades de Lisboa e dos seus pormenores maravilhosos”. Porém, tem um discurso mais positivo quando mostra a facilidade de viajar pelos países asiáticos: “quero viajar muito; e com duas horas de avião, estou na Tailândia”. Apesar de adiar esse regresso aquando de “uma realidade mais próspera”, Sandro Alves diz que o seu “grande objetivo” é retornar. Na opinião do investigador do CES, a solução para inverter este ciclo de saída dos mais qualificados do país passa por: “uma reorientação das políticas a nível europeu e ao

nível do país”. Elísio Estanque amplifica este possível caminho ao nível europeu: “é necessário que a própria Europa direcione as suas estratégias numa outra direção”, assegura.

Atraso científico? Esta “fuga de cérebros” pode trazer algumas consequências nefastas para o país, no que toca a atrasos científico-culturais. “Portugal vai ficar com os talentos de 40 ou 50 anos, que de facto têm o ‘know-how’, mas não há rejuvenescimento”, explica Andreia. E não há porque deixa de ocorrer renovação no que toca a recursos humanos. Para o doutorando de Arqueologia em Cambridge, os resultados dos investimentos feitos há cerca de 10, 15 anos qualificação científica e intelectual do país, vão

cair por terra. “Agora que os frutos desse investimento começavam a dar resultado, parece que se quer destruir todo o investimento feito”, lamenta. Para o investigador em Paris, “urge mudar a forma de gerir a vertente educativo-científica” para se chegar a bom porto. Como consequência, Sandro Alves não hesita: “Portugal está a pagar caro e infelizmente pagará com juros acrescidos a médio longo prazo”.

O (possível) regresso “Não existe país com mais potencial neste mundo, com gente mais genuinamente boa e com uma ética e uma paixão pela profissão como um português”, desabafa Ana Relvas França, para evidenciar que apesar de não

pensar regressar a Portugal, este ainda é o seu país. Sem pudor, conclui: “só é pena que tenhamos sido, até agora, liderados precisamente por aqueles que constituem a exceção a essa regra”. Está tudo nas mãos das novas gerações. É a geração mais qualificada de sempre. Mas é preciso saber investir, saber escoar produção científica. Porque Portugal precisa de ganhar identidade no estrangeiro e renovar-se. Até ao fecho da edição, o Jornal A CABRA tentou contactar a Secretaria de Estado do Ensino Superior e da Ciência, mas não obteve resposta de João Queiró e de Leonor Parreira, respetivamente. Também a Fundação para a Ciência e Tecnologia foi solicitada, não tendo, igualmente, respondido.

ilustração por carolina campos


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EnsIno sUPErIor Falta de locais de estudo noturnos

As luzes que se desligam para estudar à noite Procurar locais à noite para estudar no perímetro da Universidade de Coimbra (UC) pode suscitar dois exemplos: um de perda e outro de inovação. Em dois dos três polos não há uma alternativa a quem queira estudar por este horário. A Biblioteca Geral, no Polo I, encerrará o serviço noturno esta semana. Do outro lado, o DEI não tem horas para fechar. Por Liliana Cunha

“E

stou aqui há tanto ano e isto está-se a degradar. Não sabemos quando reabre o serviço”, afirma o funcionário da Biblioteca Geral, Acácio Xavier. É de noite, por volta das 21h30, no Polo I e esta é a última semana para os estudantes beneficiarem do serviço noturno da Biblioteca até às 22h. Desde há 36 anos neste expediente, Acácio sente que muita coisa mudou na universidade. E no seu posto em particular. Estudar à noite na UC pode ser um exercício quase ilusório. Antigamente havia requisições de livros ainda batiam as 23h. Hoje, isso não acontece. A sala de leitura tem um número considerável de estudantes. No entanto, acontece que dali a meia hora fecharão portas. “A maior força da universidade é o estudante. Não se consegue estudar sem lugares para tal”, prossegue o funcionário. É visível nas suas palavras o cansaço das consequências que os novos tempos trouxeram, mas continua a acreditar nos estudantes para forçarem a continuidade destas suas horas extraordinárias. “O serviço noturno só acaba se os estudantes quiserem. Eles têm poder para isso, são

eles que pagam as propinas”, assegura. “É uma dúvida pessoal, mas não sei se se justifica ter bibliotecas abertas à noite para salas de estudo. É uma solução cara”, assevera o vicereitor para as Instalações, Vítor Murtinho. A reitoria afirma que o seu papel é apenas a qualificação dos espaços e não a providência de novos locais de estudo: “não é vocação da

“Não se consegue estudar sem lugares para tal”, afirma o funcionário da BGUC Acácio Xavier universidade ter esse tipo de oferta em termos genéricos”, afirma Vítor Murtinho.

Quem tem o papel ativo? Acácio afirma que os estudantes têm força, mas quem de lá sai não parece ter a mesma certeza. Ao ir embora uma aluna, que preferiu não se identificar, deixa escapar “que o problema é que nesta altura os

estudantes têm mais com que se preocupar. Têm os exames. Preocupar-se com o que estudar e onde estudar, fica muito pesado”. Será mesmo assim? Por toda a universidade, à noite, contam-se estudantes que procuram lugares para examinar as matérias. Uns com alternativas próprias, outros vão-se acomodando com o que há para oferecer. O Polo I e o Polo III parecem ser os mais parcos em locais durante a ronda noturna de estudo. Ana Seiça, aluna de Química, está sentada numa mesa do piso três da Faculdade de Letras da UC quando faltam cinco minutos para esta fechar. Arrumam-se os carregadores, mas ainda há quem aproveite o tempo que resta - “sei que a faculdade fecha entretanto e por isso tenho de me ir embora a seguir”. Ana sente-se “condicionada”, diz. Procurará um café a seguir porque gosta de estudar à noite. O seu departamento (de Química), logo ao lado, está fechado desde as 20h, assim como a Faculdade de Medicina da UC. A vice-presidente do núcleo de Medicina, Maria Lúcia Moleiro, afirma que não há nenhuma biblioteca noturna tanto no Polo I como no Polo III a funcionar de noite.

Mais uma alternativa gorada. Todavia, ao lado do Largo D.Dinis surgirá uma opção inesperada. O Departamento de Arquitetura tem luz. As salas estão abertas, mas a porta de acesso tem apenas uma pedra a trancá-la. Vítor Murtinho é também lá professor e alerta para a falta de controlo no departamento. “Não é uma boa solução porque fragiliza a segurança interna”, atesta.

“Porque há quem faça de estudar à noite um hábito. Isso não se pode contrariar”, diz Jorge Graça Ademais, o vice-reitor afirma que a reitoria está a tentar desenvolver um sistema que faça com que a entrada nos departamentos fora de horas seja ativada com cartões de acesso de modo a controlar quem lá se encontra. Todavia, já alguém se antecipou.

Um caso “exclusivo” O ideal para a administração da UC Arquivo - luís Gomes

A Biblioteca Geral encerrará o serviço nocturno (até às 22h00) a partir do dia 20 de Dezembro, sem data para reabrir

era a existência de “espaços de relação com o exterior direta e que fossem quase os alunos a gerir os espaços”, explica Vítor Murtinho. Nesse sentido, no Polo II há cerca de cinco anos que o Departamento de Engenharia Informática (DEI) está aberto toda a noite para os estudantes fazerem os seus trabalhos sem término diurno. “Acaba por ser a nossa segunda casa, passamos cá o tempo todo”, sustenta entusiasmado o presidente de núcleo do DEI, João Marques. Os estudantes estão a conviver em todas as salas num espaço amplo. “Somos um caso exclusivo na UC. Temos acesso a todas as instalações, não nos é feito qualquer tipo de restrição e por isso temos de aproveitar”, apresenta João Marques. Na próxima época de exames tentarão disponibilizar de novo o Centro Cultural da Casa da Pedra - a cantina do Polo - para estar aberto até tarde, tal como no ano passado. Por enquanto, o cartão de acesso destes estudantes faz com que sejam os únicos a ter um espaço sempre seu 24 horas, sete dias por semana. Ainda é o único. Porque uma rua abaixo, no Departamento de Engenharia Civil (DEC) há uma sala que pretende também estar aberta 24 horas em toda a semana. “Prefiro vir para cá à noite porque às vezes o meu quarto é mais frio”, ressalva o estudante Vital Araújo. A comodidade da sala 24, inaugurada no início do ano, é notória. E ainda pode trazer mais uma facilidade – “até estamos mais perto dos professores, aqui, nos dias úteis e quando temos dúvidas vamos lá tirá-las e voltamos”, explica Vital. “Porque há quem faça de estudar à noite um hábito. Isso não se pode contrariar”, assenta o presidente de núcleo do DEC, Jorge Graça. “Se alguém quer os espaços, há muitos estudantes que podem dar essa proposta e essa prova de confiança de que realmente conseguem gerir as suas próprias salas de estudo sem necessidade de vigilância”, lança André Carvalho a estudar no departamento de civil mas sendo aluno de Informática. Está numa mesa com mais três colegas a estudar. Porém, muitos há que não têm mesa disponível. Têm de ficar por casa. E já é de noite.


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EnsIno sUPErIor

Apenas com poder consultivo, o Senado ainda “tem peso”

Último ENDA do ano sem propostas concretas

Arquivo - inês BAlreirA

Liliana Cunha

As eleições para o senado realizaram-se na quinta-feira, 13. em quase todas as faculdades houve lista única, com exceção de letras e Direito

Depois das eleições para os corpos gerentes da AAC e para o Conselho Geral, a comunidade voltou às urnas desta vez para votar na composição do senado João Martins Ana Morais O Senado, a par do Conselho Geral, é um órgão de gestão da Universidade de Coimbra (UC). Apenas com poder consultivo, o Senado tem como grande competência auxiliar o reitor no que concerne à coordenação de atividades de oferta formativa, de desenvolvimento e inovação e também à mobilidade de professores e estudantes no seio da UC. No que toca à sua composição, fazem parte deste órgão, para além do reitor, os diretores das oito unidades orgânicas, um estudante a representar cada facul-

dade e ainda dois não docentes. Dois anos depois do último ato eleitoral, realizaram-se na passada quinta-feira, 13, as eleições para o novo mandato, com a duração de dois anos. Exceto a Faculdade de Letras da UC (FLUC) e a Faculdade de Direito da UC (FDUC), as listas de estudantes senadores nas outras faculdades foram listas únicas. Na Faculdade de Economia da UC (FEUC) e na Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da UC (FCDEFUC) apresentaram-se listas recandidatas. Até ao fecho desta edição os resultados finais dos estudantes não tinham sido publicados na página online do Senado. Também quem consultasse esta página com vista a saber as listas dos estudantes candidatos não encontrava a informação. Apesar dos resultados dos funcionários já constarem. Assim foram eleitos dois representantes de duas das três listas candidatas (lista I e P), registando cerca de 58 por cento de abstenção.

Senado desconhecido Depois de em 2007, o novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) ter vindo a alterar o funcionalmente dos órgãos de gestão das universidades, o Senado passou a ter um poder meramente consultivo ao invés de deliberativo. Para a senadora eleita pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da UC, Rita Mendes, isso não é impedimento para a participação dos estudantes no órgão: “é o único órgão que o estudante se faz ouvir efetivamente e de igual forma quando compararmos outros órgãos da UC”. Opinião partilhada pela senadora reeleita pela FEUC, Lídia Pereira: “o senado ainda tem peso”. Ainda a também reeleita senadora pela FCDEFUC, Eva Oliveira, segue esta linha de pensamento: “conseguimos levar todos os problemas ao Senado, somos sempre ouvidos e nunca tivemos entraves nesse aspeto”. “Os estudantes das várias faculdades conhecem muito pouco o órgão”,

assevera o senador eleito pela FDUC, Bruno Matias. Esta ideia é partilhada pelos restantes senadores, que vão apresentando algumas alternativas como a criação de uma página no Facebook para facilitar a comunicação com todos os estudantes da UC. A senadora pela Faculdade de Medicina da UC, Inês Madaleno, vai mais longe e aposta na concertação de posições por parte de todos os estudantes senadores: “se delinearmos as estratégias em conjunto serão bem ouvidas. Temos de trabalhar em rede.” Uma vez eleitos os estudantes senadores passam a manter um diálogo constante com o reitor. Assim, os oito senadores estudantes classificam de forma positiva o trabalho desenvolvido por João Gabriel Silva. O eleito pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, Jonathan Torres, considera mesmo que o reitor é “um parceiro na luta estudantil”. O senador pela FLUC, Ruben Ferreira, também é desta opinião: “o trabalho do reitor não tem sido mau”.

A decorrer neste último fim-desemana 14,15 e 16 de dezembro na Universidade do Minho, o Encontro Nacional das Direções Associativas (ENDA) terminou já perto das quatro da madrugada de domingo. O jornal A CABRA tentou contactar até ao fecho desta edição os dirigentes das maiores associações do país, incluindo o presidente da Direçãogeral da Associação Académica de Coimbra, Ricardo Morgado. No entanto, apenas o novo presidente da Federação Académica do Porto (FAP), Rúben Alves respondeu. “Aprovamos uma proposta de calendarização do regulamento de bolsas junto da secretaria de estado”, afirma Rúben Alves. O presidente da FAP revela que a revisão dos outros documentos tem sido realizada “em cima do joelho. Só somos chamados a intervir quando já está quase tudo decidido”. A publicação do novo regulamento para o próximo ano letivo “tem de estar na opinião dos dirigentes decidida até abril de 2013”, assegura Rúben Alves. O estudante assenta que a FAP esteve envolvida no debate sobre a execução fiscal recentemente ativada para os estudantes em incumprimento de pagamento e pensam que as Instituições do Ensino Superior “têm de resolver o problema muito antes: a partir do incumprimento os serviços de ação social tentarem perceber o porquê”. Foi também aprovada uma declaração de princípios que demonstra “a visão do movimento associativo nacional sobre o desemprego - não tem nenhuma proposta em concreto”, explica o presidente da FAP. O ENDA pretende atestar que os estudantes não querem olhar para o desemprego como um grupo homogéneo, mas com perfis diferentes.

Época especial em julho quer antecipar final do ano letivo A época especial de setembro passa neste ano letivo para julho. Assim, a UC dá lugar a três épocas de exame seguidas para quem tem estatuto ou é finalista Liliana Cunha Neste ano letivo está introduzida uma nova alteração à época extraordinária de exames para alunos finalistas: passa do mês de setembro para o mês de julho em todas as faculdades da Universidade de Coimbra (UC). No entanto, a opção transfor-

mada agora em norma já tinha sido adotada pela Faculdade de Farmácia da UC (FFUC). “Uma coisa é estudar agora e passar seis semanas e voltar a estudar a mesma matéria, outra coisa é estudar hoje e passado uma semana ter o exame”, explica o diretor da FFUC, Francisco Veiga. O professor acrescenta que pode haver então um “ganho contrariamente àquilo que possa parecer”. A posição contrária prende-se com a sobreposição de exames e o facto de assim o estudante com regalia ou finalista passar a ter três épocas seguidas – época normal, de recurso e especial. Pela Faculdade de Economia da UC (FEUC), o seu diretor, José Reis, ainda tinha setembro no calendário letivo como tempo de época extraordinária antes da decisão da reitoria.

No entanto, o também diretor do Conselho Pedagógico constata que, pela parte dos seus alunos, nenhuma reivindicação foi levantada – “até foi posição dos próprios alunos que se via vantagem nisso”. José Reis observa que há “uma compressão dos calendários de exames, mas isso também facilita porque estão mais cedo livres para concorrerem ao ciclo seguinte ou concluir o curso para que possam procurar emprego”. O diretor da Faculdade de Letras da UC, Carlos André, é da mesma opinião e reconhece “que a concentração excessiva pode criar problemas do ponto de vista da avaliação”. O tempo de interregno está assim mais reduzido para os alunos que usem esta época de exames que, como o nome indica, é “especial”. Quanto ao facto

do rendimento aumentar ou diminuir face à compressão, a diretora da Faculdade de Direito da UC (FDUC), Anabela Rodrigues, aponta que, em primeiro grau, esta questão tenta “fomentar junto dos estudantes um método de estudo programado”. A certeza em atestar que “a consagração de épocas extraordinárias constitui uma mais-valia face às épocas normal e de recurso” é o outro ponto segundo a também diretora do Conselho Pedagógico da FDUC. O processo de Bolonha, que prevê uma indicação relativa ao número de semanas das aulas a dar, está envolvido assim no aperto que possa haver para com as avaliações que se pretendem contínuas. Anabela Rodrigues considera que o momento da realização “contínua de exames deve

corresponder a uma situação pontualizada e não sistematicamente recorrente”. A diretora considera que tal prejudica o aprofundamento na investigação e “incentivo do saber”. “Devemos, como objetivo, valorizar sobretudo o momento da aprendizagem em vez da época de exames”, defende José Reis. O diretor da FEUC tem no seu parecer que, “de certa maneira, as várias oportunidades que existem são para os estudantes de certa maneira otimizarem o seu calendário individual”. “Independentemente do momento em que ocorra, a época extraordinária terá sempre uma função pedagógica relevante”, conclui Anabela Rodrigues. Agora, e em todas as faculdades, o mês de julho significa fim do ano letivo para todos.


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culTura

Eduardo Tolentino “Tínhamos uma classe média pensante, hoje temos uma ignorante” AnA MorAis

encenador e fundador do tapa Carlos Nicola Daniel Alves da Silva A peça “12 Homens e Uma Sentença”, do Teatro Amador Produções Artísticas (TAPA), foi escolhida pelo Ministério da Cultura brasileiro para integrar a programação do “Ano do Brasil em Portugal”. Depois de uma passagem por Lisboa, a peça foi levada ao palco do Teatro da Cerca de São Bernardo em Coimbra, nos dias 7 e 8 de dezembro. Houve tempo também para o TAPA apresentar “Retratos Falantes”, no dia 9. Eduardo Tolentino, encenador e fundador do TAPA, falou sobre a sua visão do teatro e da relação deste com a sociedade. O que o levou a fundar o TAPA? O TAPA foi um grupo que começou na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Começou como um grupo amador em 1974. Sem nenhuma pretensão de ser um grupo de teatro profissional. Só que aí fomos sendo mordidos pela abelha do teatro. Eu sou formado em Jornalismo, comecei como economista, passei para jornalismo, trabalhei num jornal, mas em 1979 a vida já nos levou ao teatro e fizemos essa a nossa profissão. Na época da ditadura e repressão existia uma maior efervescência cultural. Quando o Brasil regressou à democracia essa efervescência diminuiu? Isto é, como as pessoas tinham mais acesso à cultura e mais liberdade, isso de alguma maneira pode ter tido um efeito perverso na criação artística? Isso é uma maneira simplista de ver a questão. Essa eclosão cultural que o Brasil tinha no período da ditadura, vinha de antes, do único período democrático do país. O que aconteceu quando acabou a ditadura é que tudo havia sido minado, desfertilizado: a escola foi desmontada no Brasil. A televisão entrou com uma força avassaladora, como

O “Ano de Portugal no Brasil” pode ajudar a esse unificar de relações entre os dois países ou a crise pode... Não sei. Não vi muita coisa de Portugal no Brasil. Não vi aquilo que estou vendo a acontecer em Portugal, a receção de uma série de coisas aqui em Portugal, brasileiras. Eu não vejo o correspondente no Brasil, ainda. Pode ser que isso se altere mas seria fundamental ver os espetáculos portugueses no Brasil, ganhar novamente o hábito disso. Parece que o mundo, no Brasil, se resume àquela forma de pensar que nos é ditada pela televisão. É muito difícil assimilarmos alguma coisa que não seja aquilo que a televisão vende como verdade absoluta.

em nenhum lugar do mundo. Tivemos uma televisão que foi propagandista de um sistema inteiro. O meio cultural foi completamente demolido. Quando o terreno deixou de ser fértil, veio a abertura brasileira. Quando o pensamento já estava definitivamente sepultado. Toda essa efervescência que nós estamos a ter, em Portugal, é consequência de estruturas que foram criadas anteriormente. Mas daqui a dois, três anos podem mudar completamente. A crise acaba por destruir isso? O que sinto em relação à questão da crise financeira é que ela é uma parte do problema. Existe dinheiro para produzir. E a qualidade é abaixo da crítica. Então, como numa escola e universidade precária, você pode ter um bom público? Nós criamos, atualmente, no Brasil. Há dinheiro para cultura, mas esse dinheiro é diluído para uma plateia que não sabe nem o que vai assistir. Quer dizer, é o que havia de diferente em relação aos anos 60, no Brasil. Existia uma plateia urbana muito preparada. Hoje em dia não… Existia uma plateia urbana que frequentava o teatro, o cinema, a música brasileira porque era preparada para isso. Estou falando do público de teatro estudantil, o público de uma classe média formada. A classe média foi desmontada no Brasil, através exatamente da escola. E isso é uma coisa mais séria do que a questão financeira. É o desmonte do sistema cultural. Tínhamos uma classe média pensante, hoje temos uma classe média ignorante. Temos uma elite estúpida, que herdamos de vocês, uma elite predadora, burra, ignorante, que vai para fora para consumir, para comprar. Temos uma massa que não tem acesso à menor forma de ensino. Não temos só uma desigualdade social e económica no Brasil, temos uma desigualdade cultural e ninguém se preocupa com isso. Temos uma classe média que foi sendo alienada. Que tem aspirações de consumo. Só.

Ou mesmo a linguagem televisiva… É mesmo por isso que é muito difícil aceitarmos a questão [da língua] portuguesa. Uma vez assisti a um filme excelente, português, e tinha legenda. Foi ótimo porque temos realmente dificuldade em ouvir, pela falta de prática, pelo tipo de acento, é engraçado isso. É impressionante como a cultura negra abriu as nossas vogais, diferentes das vogais portuguesas que são muito fechadas. Esse fechamento das vogais é muito difícil para entendermos, atualmente. Sobretudo uma plateia que não é uma plateia que trabalha a escuta.

“Parece que o mundo, no Brasil, se resume àquela forma de pensar que nos é ditada pela televisão”

Qual acha ser a razão de termos poucas companhias portuguesas a encenar no Brasil, quando agora temos aqui a sua, quando tivemos a Companhia do Latão no semestre passado, e o enriquecimento da participação brasileira aqui no teatro... Essa ponte... Precisaria de um trabalho governamental pesado em relação a isso. Temos muita dificuldade de entender o português de Portugal. Ouve uma invasão em Portugal da televisão [brasileira]. E vocês se habituaram a ouvir [o português do Brasil].

Como o teatro pode sobreviver à cultura de massas? Ou coexistir, pelo menos? Só acredito numa coisa: com uma qualidade absoluta. Temos que nos superar na qualidade. A briga que tenho há 32 anos é pela qualidade do que se faz. Em algum momento vamos tocar alguém. Podemos fazer três fracassos, mas em algum momento vamos tocar alguém, quando você consegue cooptar esse espetador, que descobre uma outra coisa a assistir uma obra de qualidade. Ele pode ser tocado não pela razão, mas pela sensibilidade dele. E abrir algumas portas nesse sentido. É uma guerra.

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Entrevistas na íntegra em

cabra net


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deSPorTo

Basebol e softbol: uma secção renovada de volta à primeira base a Secção de Basebol e Softbol, que se encontra numa fase de crescimento depois de ter sido reativada, procura um novo rumo para o seu projeto. Patrick Gomes, o atual presidente, acredita que vai haver mais divulgação das modalidades, mas está descontente com a direção da Federação. Por Tiago rodrigues

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basebol e o softbol são modalidades pouco conhecidas em Portugal. Jogam nove contra nove, alternando posições de ataque e defesa, e o objetivo passa por marcar o maior número possível de pontos (“corridas”). As principais diferenças, entre uma e outra, são as dimensões da bola (maiores no softbol), o tamanho do campo e o tempo de jogo. As regras são simples: para pontuar tem que se acertar com o taco na bola atirada pelo ‘pitcher’ (o lançador) e depois correr pelas quatro bases do campo. No final, a equipa com mais corridas vence. O softbol é uma variação “mais leve” do basebol, pelo que se tornou uma modalidade mais direcionada para as mulheres. As regras são praticamente as mesmas, mas o lançamento é muito diferente, pois é feito por baixo, junto à anca. Em Coimbra, ambas as modalidades têm sido divulgadas pela Secção de Basebol e Softbol da Associação Académica de Coimbra (AAC), que está, neste momento, em fase de captação de jogadores, uma tarefa complicada, segundo o presidente Patrick Gomes. “O campo [de Santa Cruz] já está reservado para as secções de futebol e de râguebi e tivemos que ficar com os horários que faltavam, das 17h30 às 18h30, e para o pessoal universitário torna-se complicado vir treinar”, lamenta. Os treinos têm sido realizados dois dias por semana (terças e quintas) e, apesar de serem poucos os praticantes deste desporto, o objetivo é muito claro: “queremos criar uma equipa masculina, para o basebol, e uma feminina, para o softbol”, afirma Patrick. No entanto, para conseguir juntar uma equipa, é necessário haver mais gente a querer participar. É por esse motivo que se procuram novos jogadores e, além disso, qualquer pessoa se pode candidatar. “Temos uma página no Facebook e podem ver lá os nossos contactos. Também na AAC, no quarto piso, podem entrar em contacto connosco, costumamos estar lá muitas vezes”, revela o presidente da secção.

“Uniformes não temos, ficou tudo na antiga direção” Como são pouco mais de uma dezena de jogadores nos treinos, tanto rapazes como raparigas, a secção convida “outras equipas para vir participar nos treinos”. Porém, como essas equipas só

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para que fosse exigida a devolução de tudo aquilo que foi levado, mas tal não veio a acontecer. A secção só voltou ao ativo em novembro do ano passado, por iniciativa do atual presidente. “Vim para me integrar na equipa de basebol, mas a secção estava fechada e então resolvi juntar um grupo de amigos e reativá-la”, justifica Patrick, eleito no início deste ano como principal dirigente do novo projeto. Olhando para aquilo que já foi feito, considera que “não está nada mau” e tem tudo para melhorar: “já somos cerca de 13 jogadores e temos um treinador cubano, com licenciatura em basebol”, explica. O único problema é que, para já, só há uma equipa mista, o que não vai ao encontro daquilo que se pretende. “O objetivo seria mesmo uma equipa masculina e outra feminina, separadas”, esclarece.

Equipas sem apoio da Federação

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Após um período de interrupção a secção de Basebol e softbol volta a iniciar a sua atividade podem ao fim-de-semana, organiza-se um treino ao sábado, de forma a simular um jogo. Patrick Gomes considera que o campo onde treinam tem “muito boas condições”, mas não lhe agrada a falta de equipamento e pouca qualidade daquele que ainda dispõem: “esta-

mos a ficar sem bolas, porque se vão perdendo. Os tacos e os capacetes também já estão um bocado danificados e uniformes não temos, ficou tudo com a antiga direção. Precisamos de material novo”, conclui. A relação que existe com a ante-

rior direção não é a melhor, visto que houve uma pausa na secção e os equipamentos não foram devolvidos: “contactei-os e eles disseram que não devolviam nada”, acusa Patrick. A única solução era falar com alguém da Direção-geral da AAC ou com o Conselho Desportivo

Para além da situação complicada com a antiga direção, a relação do presidente com a Federação Portuguesa de Basebol e Softbol (FPBS) também não é a melhor. Patrick afirma que não concorda com aquilo que está a ser feito: “temos de fazer pressão à Federação para que nos dê apoio e às outras equipas que estão de fora. Caso não o faça, que seja substituída por uma direção que ajude mais o basebol em Portugal”. O desporto já foi mais praticado mas, segundo o dirigente, “ultimamente estão duas equipas a participar tanto na Liga como na Taça”. Para a equipa da secção poder competir, tudo vai depender da atitude da FPBS, que deve “mostrar dedicação e empenho ao cargo”. Ainda assim, Patrick mostra-se solidário para com as outras equipas: “se forem deixadas de fora, em sinal de protesto, iremo-nos manter fora das competições”, indignase. A situação das modalidades continua complicada, pois “com a situação da Federação, muitas equipas deixaram de jogar e desistiram, mas ainda se pratica. Temos os Vikings ou os Whitesharks”, explica um dos jogadores, Rui Duarte. Em relação ao futuro da secção, este parece confiante, talvez por “haver muita gente interessada” em participar num jogo que “não é assim tão complicado” e que cativa. “Há pessoas novas a querer experimentar. Toda a gente gosta de lançar e bater uma bola”, revela.


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CIDADe

Revisão de PDM (re)centraliza Coimbra Rafaela CaRvalho

Aplicado em 1994, há quase 19 anos em vigor, o Plano Diretor Municipal (PDM) de Coimbra foi proposto a revisão e apresentado em reunião extraordinária António Cardoso João Valadão O PDM é o plano que controla a ocupação do solo e é um documento que regulamenta o planeamento e o ordenamento do município. O primeiro documento desta natureza em Coimbra foi aprovado em 1994. “Se houvesse um PDM há mais de 19 anos em Coimbra, algumas das desgraças urbanísticas não existiriam”, esclarece o presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), João Paulo Barbosa de Melo. A atual proposta de revisão do documento segue uma proposta efectuada há quatro anos, que na altura não foi aprovada pelas entidades da administração central. Barbosa de Melo sustenta que o primeiro documento “teve muitos erros e que é fazendo um histórico que se vão percebendo os pequenos erros”. No entanto, este é um processo que não têm aplicabilidade no imediato, e que terá que passar pela aprovação de diversas entidades da administração central. A alteração proposta em 2009 contemplava um aumento dos perímetros em cerca de 9 por cento do índice de urbanização. Porém, obteve um parecer desfavorável da comissão de acompanhamento, “porque se procurou ‘recentrar’ as atividades económicas e a construção na recuperação do edificado”, afirma o vereador das Obras e Infraestruturas, Paulo Leitão. Como

tal, o documento estabelece um aumento de apenas 3 por cento dos solos que podem ser urbanizáveis, por outro lado existem outras zonas que o vão deixar de ser.

Especificidades técnicas Elaborado pela equipa técnica da “casa” que foi responsável quase na íntegra por todas as tecnicidades do projeto, e que mereceu considerações meritórias por parte de toda a vereação camarária. O autarca da CMC refere que “hoje temos técnicos muito mais habilitados do que há 20 anos, o que nos garante que possamos aplicar instrumentos muito mais sofisticados”. O PDM verte as orientações do Plano Estratégico posteriormente a um conjunto de planos (como o plano de pormenor e de urbanização) e unidades de execução. O presidente da CMC admite que é desejo da autarquia que o PDM não impeça de fazer aquilo que se considera “ser importante na estratégia para o município”. No que toca aos pormenores técnicos, o PDM contempla a reabilitação do centro histórico, Barbosa de Melo refere que “estão a ser construídos alguns mecanismos para tornar mais fácil o investimento privado” nesta zona. Para além disso, o plano prevê que as áreas disponíveis para a instalação de empresas no território do município “sejam muito maiores”, acrescenta ainda o presidente da CMC.

Possíveis falhas e omissões do PDM “Lamentamos que se tenham percorrido estes anos todos e a maioria socialista não tenha conseguido rever o PDM”, comenta o vereador do Partido Socialista, Carlos Cidade - em referência ao ano 2000 –, altura em que se iniciou o projeto de revisão. O vereador lamenta tam-

a revisão do PDM foi aprovada por maioria em reunião extraordinária na CMC bém a falta de perspetiva política e admite que esta proposta de revisão poderá não ser a mais desejável. O mesmo aponta como principais falhas na proposta do PDM, a valorização de um conjunto de oportunidades que se foram perderam ao longo desses dez anos. Como exemplo refere o caso do Metro Mondego, que agora considera uma ameaça, a questão das linhas de alta-velocidade, e assim

como a reabilitação da Baixa. O PDM aprovado por maioria na reunião da Câmara, há cerca de uma semana, contou com abstenção de três vereadores e duas ausências. Carlos Cidade observa que o projeto cria expetativa aos cidadãos e o seu partido não quer que essas sejam goradas. Contudo, este afirma que o PDM “não pode ser um instrumento político pois existe uma matriz muito técnica que está

integrada nela”. O modelo de revisão do PDM proposto por este executivo apresenta-se de um modo genérico favorável a um sustentado crescimento estratégico da cidade. Onde não se procura a sempre expansão urbanística, mas antes a ‘recentralização’ e a visão estratégica da promoção das atividades económicas. com Pedro Martins

Serviço de apoio alimentar abrange jovens universitários Rafaela CaRvalho

Inaugurado no final de novembro, o Serviço de Alimentação Solidária é uma nova valência da Associação Integrar que fornece apoio a pessoas carenciadas João Valadão As origens do projeto remontam ao mês de novembro de 2011, em que a Associação Integrar obteve o espaço atualmente ocupado através de uma candidatura direcionada para outro tipo de finalidade. Uma das responsáveis pelo projeto, Inês Simões, refere que o espaço não estava pensado para servir refeições para o exterior, mas sim para “o treino de compe-

tências de gestão doméstica, no âmbito da gestão alimentar”. Contudo, o crescente número de pedidos de ajuda à instituição e a quantidade de carências detetadas na população acompanhada fez surgir “a ideia de lançar um serviço de alimentação solidária”. Inês Simões refere que o projeto é “inédito”, por apoiar a comunidade universitária e sobretudo “por funcionar aos fins de semana”. O novo serviço apresenta como mais-valia a funcionalidade de um serviço de ‘take-away’ e a utilização de produtos agrícolas. Segundo a responsável, para além do indivíduo poder “levar a comida para casa”, pode também ter um apoio ao nível da “assistência de produtos agrícolas”. Para poderem usufruir do Serviço de Alimentação Solidária, os utentes devem comprovar a sua carência

económica, algo que é feito através da “articulação entre várias entidades sociais”. Inês Simões diz que, após a triagem da situação, é marcado um atendimento com a pessoa para que se possa obter o máximo de informação possível e se possa dar prioridade às “situações mais urgentes”. Para a realização deste serviço, a Associação Integrar conta com um conjunto de parcerias – “este serviço não pretende duplicar respostas”, ressalva a responsável. O conjunto de parcerias, para além de servir de articulação com os diversos apoios sociais da cidade, pretende a dinamização do serviço. As parcerias contam com a participação da Direção-geral da Associação Académica de Coimbra (através de um protocolo estabelecido em 2009), do Núcleo de Estudantes de Faculdade de Letras, do Colégio Apostólico da

Imaculada Conceição ou do Instituto Politécnico de Coimbra. Inês Simões acrescenta que o grosso dos voluntários envolvidos “provém da Paróquia de Santo António dos Olivais” e que o projeto conta com “mais de cinquenta pessoas”. A Associação Integrar pretende agora a inscrição de novos voluntários, de modo a criar uma escala fixa e a “não sobrecarregar as pessoas”. A iniciativa, ainda muito recente, abrange uma comunidade de perto de noventa cidadãos, ainda que estejam a ser identificadas mais situações no seio da comunidade estudantil. Quanto ao financiamento, Inês Simões frisa que o serviço “não tem qualquer tipo de financiamento” e que tudo é assegurado através da recolha de géneros alimentares, através da realização de diversas campanhas.


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CIÊnCIA & TeCnOlOgIA

Aumento de CO2 = alterações climáticas? Pense de novo Dê-se o mote. Conferência no Qatar, alarmismo pela subida do nível do mar e ninguém assume a culpa a não ser o incógnito dióxido de carbono. Mas estarão realmente os mares a subir e será o gás o verdadeiro responsável? O certo é que poucos sabem o que são, realmente, alterações climáticas. Por Paulo Sérgio Santos e Joel Saraiva

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pós a 18ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, desta vez no Qatar, os alarmes voltam a soar. Se for realmente verdade que o nível do mar está a subir à velocidade apontada pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (do inglês Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC), há pelo menos 44 países em risco de desaparecer, ilhas com menos de 30 quilómetros quadrados. O professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Filipe Duarte Santos, explica que “o nível do mar sobe devido a três razões: por aquecimento da atmosfera - a camada superficial do oceano aquece e um corpo quando aquece dilata, o que significa que o nível do oceano vai aumentar; segunda razão: os glaciares estão a ficar mais pequenos, há uma fusão do gelo” em água, que es-

corre para os oceanos; “e a última razão, há um degelo nos campos da Gronelândia e na Antártida, o que representa um aumento do nível do mar”. Importa, contudo, esclarecer uma ideia errada que está enraizada na sociedade. A liquefação dos glaciares oceânicos não contribui para a subida dos oceanos, conforme esclarece o professor catedrático do Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas da Universidade de Évora (UE), João Corte-Real: “há zonas do mar que estão geladas e que, se se fundirem, não vão fazer subir o nível do mar, porque como se sabe o gelo ocupa um volume maior do que a água líquida”.

Clima versus tempo São estas as ideias erradas que alimentam a principal confusão concetual: clima e tempo. O professor catedrático do Instituto Su-

perior Técnico (IST), José Delgado Domingos, começa por citar Mark Twain: “o clima é aquilo que esperamos e o tempo é aquilo que temos”. Dito por outras palavras, o tempo é o momento e o clima é a estatística. A mudança do clima é comummente designada pelas conhecidas alterações climáticas, que são “variações de estatísticas obtidas em períodos de, pelo menos, 30 anos, para um determinado local ou para uma determinada zona”, define João Corte-Real. Imagine-se um conjunto de dados diários recolhidos em Coimbra durante um período de 30 anos e comparados com dados de outro período de 30 anos na cidade. Essa comparação, a ser significativamente distinta, permite afirmar que existe uma diferença real e uma consequente alteração climática. “Uma alteração climática é uma alteração estatística, não é por se observar determinaRafaela CaRvalho

Reprodução de quadro de Mehdi Saeedi integrado na exposição GloB-all MIX, no Museu da Ciência

dos fenómenos meteorológicos, fenómenos de tempo, que se pode rapidamente concluir que o clima está a mudar”, acrescenta João Corte-Real.

O problema da politização Para quem esteja atento, percebese a motivação por detrás da questão das alterações climáticas, que se “tornaram uma questão política, muito mais política do que científica. E, sendo política, aparecem duas implicações. Uma, é que envolve somas de dinheiro consideráveis. A outra é que são chamados à liça políticos”, explicita o docente da UE. “Se já estamos condicionados por decisões, de grupos ou de pessoas que não são desta área, isso aprisiona a ciência e esta deixa de ser livre”, acrescenta João Corte-Real. Um exemplo muito simples é a fixação científica de que apenas os gases com efeito de estufa, nomeadamente o dióxido de carbono (CO2), têm implicações dominantes no aquecimento global. José Delgado Domingos é perentório ao afirmar que “atribuir tudo ao CO2 é um erro que considero gravíssimo porque é necessário o CO2 para se dar a fotossíntese”. Além disso, analisando o portal português Pordata, é possível concluir que as emissões de dióxido de carbono na Europa diminuíram praticamente um milhão de toneladas nos últimos 20 anos. E Portugal, comparativamente à Europa? “O que é caricato é que emitimos CO2 abaixo da média europeia”, demonstra José Delgado Domingos, devido ao atual cenário económico. Há muitos outros fatores para além do CO2. Há uma perturbação, pela mão do ser humano, do sistema, nomeadamente através da “desflorestação, incêndios massivos, sobreexploração dos solos e as mega cidades que impermeabilizam o solo, alterando o ciclo hidrológico e quociente de reflexão da radiação solar”, enumera João Corte-Real. Importa, acima de tudo, esclarecer. Clarificar. “Os fenómenos meteorológicos não são diferentes porque o clima está a mudar, é precisamente o contrário. É porque os fenómenos meteorológicos se estão a modificar que depois as estatísticas vão ser diferentes”, finaliza João Corte-Real. com Rita Abreu

OPINIÃO UMA OUTrA VErDADE iNCONVENiENTE Quando surgiu a ideia de escrever este artigo, o objetivo era compilar as principais conclusões da 18ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que terminou no passado dia 8, na luxuosa capital do Qatar, Doha. Depois, como em qualquer artigo, comecei a conversar com interessados e pessoas da área, que me foram abrindo a porta ao reavivar de velhos conhecimentos e a descobrir novos. Há uma ideia que deve ficar clara desde início, tão entendida como a diferença entre tempo e clima: o aquecimento global existe. Encontrou-se foi um culpado conveniente. Tempo e clima não são sinónimos. E isso são constructos que devem ficar bem definidos para se perceber toda a questão das alterações climáticas. Tempo referese aos valores de um determinado conjunto de elementos atmosféricos (como a temperatura do ar ou a pressão atmosférica) para um dado local e instante. Clima, por sua vez, é estatística, números. É a síntese desse conjunto de valores para um período de tempo, definido pelos especialistas, de 30 anos. Portanto, as alterações climáticas são variações significativamente distintas entre valores calculados para intervalos de três décadas. E as alterações climáticas devem-se, na sua génese, a inúmeros fatores, não apenas poluição através da emissão de gases com efeito de estufa, como o CO2. A primeira vez que vi o documentário de Al Gore foi há alguns anos. Voltei a revê-lo porque sabia que rodava apenas à volta desse gás que, por acaso, é necessário à vida na Terra (através da fotossíntese). Mas não falha apenas aí. Falha também nas projeções, que não passam muitas vezes de hipóteses, palpites. E a ciência pode e deve ser melhor do que isso ou corre o risco de perder a credibilidade de outrora. E tudo porque se aliou à política. As alterações climáticas politizaram-se. E ver políticos a falar sobre elas é constrangedor, como por exemplo a deputada do Partido Ecologista Os Verdes, Heloísa Apolónia, no passado dia 5: zero de ideias, zero de conteúdo. Percebe-se, então, que Barack Obama, na sua primeira conferência pós reeleição, tenha relegado as alterações climáticas para segundo plano, em detrimento do difícil momento social e económico americano. Não é que o clima seja pouco importante. O que se passa é que necessita de ser encarado de forma séria e firme. Algo que tem faltado desde que as alterações climáticas começaram a ser discutidas, na década de 70 do século passado. Paulo Sérgio Santos


10 | a cabra | 18 de dezembro de 2012 | Terça-feira

ENTREVISTA - JUAN LUIS CEBRIÁN

E às vezes é demasiado. E creio que vai haver menos ego nos jornalistas. O ego é uma laca para os jornalistas e a humildade uma condição necessária. Não acho que vá haver menos quantidade, mas a profissão vai mudar.

daniel alves da silva

Ainda há futuro para os jornalistas

A “revolução” pode estar do lado deles

Cebrián não é uma contradição, mas sem dúvida vive num paradoxo. Entre o papel de administrador do grupo PRISA e a nostalgia de jornalista, o fundador do ‘El País’ passou a notícia com o despedimento de 129 trabalhadores do jornal que é seu. Em Coimbra, no Seminário “Jornalismo e Comunicação”, perdeu-se entre a crise da imprensa e um futuro que já se começou a construir. Por João Gaspar e João Miranda

No livro ‘Cartas a um Jovem Jornalista’, convence os jovens aprendizes do jornalismo a não desistir da profissão. Os últimos números apontado pela Fedaración de Asociaciones de Periodistas de España indicam que 7900 jornalistas perderam o emprego, em Espanha, desde 2008. Escreveria hoje o livro da mesma forma? Eu creio que sim. Em primeiro lugar é muito grave o que se está a passar em Espanha. Mas o que se está a passar é uma crise global. Independentemente da crise financeira e económica, há uma crise da nossa

profissão induzida pela introdução das novas tecnologias, que estão a alterar por completo os modelos de negócio, os modelos da empresa e o comportamento dos clientes. Os jovens compram cada vez menos jornais, mas não quer dizer que não estejam menos informados, informam-se pela rede. A publicidade também está a castigar a imprensa escrita não só pela crise económica, mas também por encontrarem outras plataformas para anunciar. Os jornais, tal como os conhecemos, vão desaparecer, há quem pensa que vão desaparecer de todo, eu não gostaria. Acredito que a imprensa conti-

nua a ter um papel a desempenhar, e que acima de tudo o jornalismo na internet é muito diferente. Então não mudaria nada no livro? Já não me lembro dele… [risos] Mas suponho que não. Continuo a acreditar em jornalistas e continuo a acreditar que haverá sempre jornalistas… Mas em menos quantidade? Não necessariamente em menos quantidade… Há um tema que me afeta como jornalista, que é o ego. Nós, os jornalistas, temos muito ego.

É inevitável levantar esta questão. O último caso mediático relativo a reestruturações de pessoal surge no próprio ‘El País’, pertencente ao Grupo PRISA, do qual é administrador. Como fundador, e pela relação contínua que sempre teve com o jornal, como vê o despedimento de 129 trabalhadores, na sua maioria jornalistas, 21 pré-reformas e cortes salariais de 15 por cento? Como presidente do grupo, tenho que me preocupar com todo o grupo, e não só com uma empresa mais ligada a mim e que me é mais querida. Mas a minha preocupação em relação ao ‘El País’ é garantir a sua sobrevivência. Não é apenas um jornal, é uma instituição. É um jornal importante para Espanha e para a América do Sul. Os intelectuais, as elites, os políticos, os empresários, insistem no papel que o El País tem na conceção ibero-americana, e a minha preocupação é que o jornal tenha a sua independência. Não há jornal independente que perca dinheiro. Se não te autofinancias, quem manda é quem te financia. Uma das razões normalmente apontadas para o sucesso do ‘El País’ depende de uma grande redação, capaz de dar resposta aos vários factos e acontecimentos. Com estes despedimentos, a qualidade do jornal não sairá afetada? Não sai afetada se o diretor tiver acertado com a seleção da equipa que fez. O problema é que necessitamos de jornalistas com perfis novos. O mundo das plataformas digitais exige-nos fazer um jornal global, dirigido a toda a comunidade hispânica. E também pensamos em fazer uma edição em português no Brasil. Portanto, a partir daí, muda o sistema de trabalho e a sua organização, mas não deve afetar a qualidade, pelo contrário, deveria melhorar… Na carta aberta dirigida aos leitores do ‘El País’, os jornalistas da publicação questionavam “que diário chegará aos quiosques depois de despedidos mais de cem jornalistas, entre ele, alguns dos melhores de Es-

panha?” Se o diretor decidiu prescindir dos jornalistas, certamente não pensou que eram alguns dos melhores jornalistas de Espanha. O diretor decidiu escolher com que jornalistas fazer o seu jornal, se a qualidade sairá afetada, isso vão decidir os leitores. E isso iremos ver nos próximos meses. Mas, perante a greve de três dias, com mais de 80% de adesão o jornal saiu na mesma… Mas nesse caso a qualidade obviamente saiu afetada. Eu sou jornalista de imprensa e a base dos jornais são os jornalistas. Um jornal pode ter os melhores gerentes, os melhores administradores, os melhores comerciais e publicitários, mas se não tem uma boa equipa de jornalistas, não tem qualidade. Não teme uma bola de neve em que estes despedimentos possam conduzir a uma diminuição de leitores e consequentemente de publicidade? Não. Há uma diminuição de leitores no papel, porque há cada vez menos leitores a comprar o jornal. Os diretores e os redatores devem ter uma visão mais global do que é um jornal e da própria função do jornalista. Há que mudar a forma de comunicar com os leitores na internet, e para isto são necessários perfis profissionais e organizações diferentes. Por outro lado, diminui a tiragem, porque desce a publicidade, e isso afeta a profissão. É inevitável. O grupo PRISA anunciou uma quebra de 88 por cento dos lucros. A aplicação de um ‘expediente de regulación de empleo’ foi a primeira opção que surgiu? Outras empresas do nosso grupo já tinham levado com reduções de pessoal. O ‘El País’ foi dos últimos. Por razões óbvias, porque para mim o El País não é apenas uma empresa. O jornal vivia acima das suas possibilidades? Não. Pagávamos bons salários, e tínhamos uma melhor estrutura que concorrentes nossos porque podíamos pagar. O jornal não viveu acima das suas possibilidades, viveria no futuro se não fizéssemos o que estamos a fazer. Uma questão levantada pelos trabalhadores, durante este período de contestação, prendese com os seus ganhos pessoais,

O papel do jornalista há de ser o que foi sempre: dizer o que alguém não quer que seja dito


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ENTREVISTA - JUAN LUÍS CÉBRIAN

que acusam de ser de entre 12 a 13 milhões de euros no ano passado…. Um dia dizem que ganho oito, outro dia 12 milhões, já nem sei o que ganho. E pergunto: onde está todo esse dinheiro? Então as notícias que foram

Não. Já utilizei o avião privado. Este ano creio que só usei uma vez. Em fevereiro, para um ato com Sarkozy, tive que ir a Paris. Foram 12 mil euros. Perante estes factos, não considera que isto é viver acima das possibilidades? Está num

vou permitir nunca que o ‘El País’ seja dirigido por essas assembleias. O ‘El País’ é uma empresa normal, não é uma cooperativa. Os donos do ‘El País’ são os acionistas do PRISA, não são os jornalistas do ‘El País’, nem os seus trabalhadores. Os jornalistas podem pedir a demissão do diretor. Mas o diretor é nomeado

é um trabalhador que não tem horário laboral, tem um salário normalmente o dobro ou o triplo de um redator e, para além disso, é um cargo de confiança da empresa, um pouco como o representante da empresa. E acho que é uma falta de respeito aos leitores não assinar uma crónica ou reportagem. Mas não me

fissão liberal, mas ao mesmo tempo somos assalariados. Pertencemos a empresas que têm que descobrir como sobreviver. Em 1981, no prefácio a uma biografia de Pinto Balsemão, dizia que tinha uma tarefa mais fácil que o então primeiro-ministro

Continuo a acreditar em jornalistas e continuo a acreditar que haverá sempre jornalistas…

lançadas à volta dos seus ganhos pessoais são falsas? Sim. Não ganho 13 milhões de euros. O que ganho foi aprovado pela assembleia de acionistas. Mas vários jornais, como é o caso do ‘El Economista’, avançaram com a manchete de que teria havido uma atualização ao valor que inicialmente aprovado, que deixaria de corresponder a 5,3 milhões para, entre ações, retribuições e remunerações, passar a 13,6 milhões. São notícias falsas? Honestamente, a única coisa que é a verdade é o que está publicado na internet [site da CMVM espanhola]. Então e a utilização de viagens em jato privado também é uma notícia falsa?

grupo com uma dívida líquida de 3,5 mil milhões de euros, cortaram nas pessoas, os próprios administradores não deveriam dar o exemplo? Os administradores dão o exemplo, eu baixei 7 por cento do meu bónus deste ano. Claro que temos de dar o exemplo. Sabem quanto oferecemos de indemnizações? 180 mil euros líquidos, o que equivale a 350 mil euros brutos. Digam a qualquer jornalista português que, por despedilo, lhe vão dar 350 mil euros brutos...

pelo conselho de administração. Outra questão levantada na assembleia foi a da ameaça do diretor, Javier Moreno, de que os jornalistas que não assinassem no dia da greve não poderiam voltar a assinar. Não acreditamos que uma greve de empresa [layoff] seja um direito dos jornalistas. O ‘El País’ é um dos jornais que mais tem estabelecidos os direitos dos seus jornalistas. O que dizemos é que o jornalista deve assinar, porque deve responsabilizar-se.

Em assembleia de trabalhadores, foi acusado por vários jornalistas, que chegaram a pedir a sua reprovação. Como comenta? Eu não estava nas assembleias. Eu não acredito que os jornais sejam dirigidos por essas assembleias e não

Sim, mas os correspondentes estrangeiros, sobretudo, afirmam que houve essa ameaça. Eu acredito que os correspondentes estrangeiros, e disse-lhes isso, naturalmente têm direito a fazer greve como qualquer trabalhador. Mas o correspondente estrangeiro, não só

consta que o diretor tenha dito isso. Mas houve essa acusação de correspondentes estrangeiros. Só dois jornais, dos mais de 100 que fizeram eco da situação do ‘El País’, que foram o ‘New York Times’ e o ‘Frankfurter Allgemeine Zeitung’, pediram a opinião do diretor e da empresa. A falta de rigor jornalístico não é um problema só em alguns jornais, é um mal endémico. Qual considera ser o papel do online em toda esta situação de que vimos falando? O ‘El Mundo’ também está em reestruturação, a Impresa avançou com despedimentos... É um papel definitivo. A imprensa, se não está à beira de desaparecer, está à beira de transformar-se radicalmente. E eu compreendo que os jornalistas, que têm medo de perder o seu trabalho ou têm medo que o seu trabalho se transforme de tal maneira que exija competências que não possuem, lutem pelos seus direitos, pelos seus interesses, façam greves. Não greve de empresa, a greve de empresa não é uma greve, não é um direito reconhecido. Compreendo que protestem contra a empresa. Compreendo que me identifiquem, enquanto presidente, como estando no outro lado. O que não compreendo é que prejudiquem o próprio jornal. O jornal é o seu futuro, não é o meu. Como administrador, acha que foi um erro tornar a informação gratuita? Não sabemos qual é o modelo de negócio no futuro. Informação gratuita vai haver muita. Já havia antes da internet. A rádio faz informação e é gratuita. Mas o que quero dizer é que ninguém sabe como isto se vai organizar. E vamos padecer durante alguns anos de crises como a de que estamos a padecer.

daniel alves da silva

E como jornalista? O papel do jornalista há-de ser o que foi sempre. Dizer o que alguém não quer que seja dito. Terá de haver um jornalismo de investigação e um jornalismo de rigor. Mas o problema é que nós, jornalistas, somos uma pro-

português, pois o “País” que tinha que gerir era bem mais pequeno e simples de conduzir. Era então jornalista, hoje é administrador. Tendo em conta os últimos desenvolvimentos, arrepende-se da escolha? Não sinto nenhuma contradição minha, quer como administrador, quer como jornalista. Eu continuei a escrever artigos e alguns editoriais no ‘El País’, durante os anos como administrador. Portanto, não sinto nenhuma contradição. Sinto uma responsabilidade de fazer com que o ‘El País’ sobreviva. Se há alguém interessado em que o ‘El País’ mantenha a sua qualidade, que mantenha a sua influência e excelência profissional, sou eu. Não há um só redator no ‘El País’ que esteja mais interessado. Qual é o futuro do jornalismo? O futuro do jornalismo é o futuro que os jornalistas lhe queiram dar. Se existirem jornalistas com conhecimento, com coragem e convicção de serviço à comunidade, existirá jornalismo. E o futuro dos jornalistas? O futuro dos jornalistas depende dos jornalistas atuais, depende de que entendam que o mundo mudou e que precisam de renovar o jornalismo e aproveitar a experiência dos mais velhos. Têm uma oportunidade extraordinária, porque têm uma mudança revolucionária e têm a oportunidade de encabeçar a revolução. Os jornalistas têm que se adaptar às circunstâncias. Mas também as empresas e as redações. Temos que nos adaptar aos novos comportamentos dos leitores. São os leitores quem mudou. E qual o futuro dos jornalistas que despediu? Há novos empregos. Há jornalistas que estão a fundar os seus próprios jornais, os seus próprios blogues. Há novas oportunidades para o jornalismo. Não as tradicionais. 129 trabalhadores despedidos. Haverá oportunidades para todos eles? Sim.


12 | a cabra | 18 de dezembro de 2012 | Terça-feira

PAÍS PIB indica descida do nível de vida em Portugal António Cardoso “A austeridade implica recessão e isso traduz-se nisso mesmo, numa recessão da riqueza criada num país”, assegura o diretor e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, José Reis. O Produto Interno Bruto (PIB) per capita, expresso em comparação ao poder de compra em Portugal, caiu de 80 para 77 por cento da média da União Europeia em 2011, segundo os dados publicados pelo Eurostat. Esta foi a maior queda desde, pelo menos, 1996, e também o valor mais baixo desde então, que se tinha registado apenas em 2004. Este indicador mede o que se produz por pessoa, e é um dos mais usados para comparar o bem-estar económico em diferentes países. No ano passado, Portugal registou um valor equivalente a 77,4 por cento da média dos 27 países da União Europeia, uma descida de 2,9 pontos percentuais face a 2010. “Existe uma imediata consequência: nós passamos a criar menos riqueza, quando temos capacidade para criar mais”, afirma o catedrático.

“Nós passamos a criar menos riqueza, quando temos capacidade para criar mais” Ainda assim, Portugal é o 19º país da União Europeia na lista do Produto Interno Bruto per capita. O país mais rico é o Luxemburgo, onde a riqueza por habitante é quase o triplo da média europeia: 271 por cento. Seguem-se outros países do Centro e Norte da Europa: Holanda, Irlanda, Áustria, Suécia, Dinamarca e Alemanha têm um Produto Interno Bruto per capita 20 a 30 por cento acima da média europeia. Bélgica e a Finlândia estão 10 a 20 por cento acima. A vizinha Espanha e a Itália estão alinhadas com a média dos 27. A Bulgária é o país mais pobre, seguindo-se países como a Grécia, Portugal e Eslováquia estão 20 a 30 por cento abaixo da média, ao passo que Malta, Eslovénia e Republica Checa estão 15 a 20 por cento abaixo, mostrando que, segundo José Reis, “são países que, na última década, registaram um desenvolvimento significativo, enquanto Portugal esteve relativamente estagnado”. A descida verificada no ano passado encontra-se também abaixo daquilo que se verificava no momento de entrada de Portugal no euro. Apesar de não haver previsões disponíveis, este é um caso em que a tendência será a inevitável descida, tendo em perspetiva o consumo no atual momento de austeridade.

A Base depois das Lajes: trabalhadores querem soluções foto gentilmente cedidA por António ArAújo

A 19 de novembro, a administração dos EUA informou o Governo português que iria reduzir o seu contingente nos Açores, de 640 para 160 efetivos Daniela Proença João Valadão

foto gentilmente cedidA por António ArAújo

joão vAlAdão

A notícia foi recebida com grande apreensão entre os trabalhadores civis portugueses na infraestrutura, onde se prevê que o impacto económico da redução da presença norteamericana provoque um corte de seis por cento no Produto Interno Bruto da Ilha Terceira. O professor da Universidade dos Açores e especialista em Relações Internacionais, Luís Andrade, começa por alertar que os efeitos desta redução “serão terríveis”. O docente explana que a base é o segundo maior empregador na ilha, a seguir ao Governo Regional, e que o consequente despedimento de três centenas de trabalhadores civis portugueses será “muitíssimo complicado numa ilha daquela dimensão”. Também o presidente da Comissão de Trabalhadores da Base das Lajes, João Ormonde, refere que numa situação em que o desemprego local atinge os 16 por cento, a diminuição dos efetivos militares norte-americanos irá ter implicações “dramáticas a nível económico e social”. João Ormonde argumenta que a Comissão pediu que “os despedimentos fossem feitos junto das pessoas mais velhas” - que se apresentassem “mais disponíveis” e de acordo com as indeminizações previstas pela lei. O também trabalhador refere que a injeção de capital estrangeiro na Terceira corresponde a cerca de 60 a 70 milhões de euros anuais, por via dos “salários diretos, do setor de arrendamento de casas ou dos serviços conexos a empresas”.

joão vAlAdão

“Portugal não deve aceitar passivamente uma decisão dos EUA”

A medida prevê a redução em 500 militares norte-americanos

A Base Aérea Nº4 (BA4) teve uma importância crucial para a aviação militar norte-americana desde meados do século XX. As forças militares norte-americanas ocuparam a infraestrutura em 1946, aquando da saída das tropas inglesas, que lá tinha estabelecido uma base área em 1943. A importância das Lajes, como centro de apoio no combate aos submarinos alemães, passou a ser um ponto de apoio fundamental às forças aéreas norte-americanas no auge da guerra fria. Durante décadas, milhares de meios aéreos da Organização do Tra-

tado do Atlântico Norte (OTAN), a caminho de outras bases, utilizaram os Açores como ponto de escala. Contudo, a evolução da engenharia aeronáutica e a capacidade crescente dos meios aéreos em realizar grandes viagens, aliado ao fim da Guerra Fria, no início dos anos 90, contribuiu para a diminuição da importância geoestratégica da BA4. Esta redução pode vir a pôr em causa as relações bilaterais entre os Estados Unidos da América (EUA) e Portugal, ainda que as opiniões divirjam. O investigador da Universidade Lusófona, José Filipe Pinto, entende que estas alterações poderão afetar a relação bilateral e “Portugal não deve aceitar passivamente uma decisão dos EUA”. Já Luís Andrade defende que “as relações [entre os dois países] são muito fortes e que o governo português deve fazer sentir ao governo americano as implicações na Ilha Terceira”. No que concerne às questões laborais na BA4, João Ormonde argumenta que o Estado Português deve ter uma atitude menos “desculpabilizante” das razões dos EUA. O mesmo defende ainda que Portugal “tem obrigação de ser mais interventivo” e que a administração portuguesa deve ser “mais agressiva e a uma só voz”.

Chineses poderão estar interessados A possibilidade dos EUA abandonarem definitivamente a Base das Lajes não está, para já, a ser equacionada. Porém, há quem afirme que a China manifesta interesse na BA4. Para o investigador da Universidade Lusófona, José Filipe Pinto, a passagem do primeiro-ministro chinês pelos Açores denota algum interesse pela base em si. O docente acrescenta ainda que “a China aproximou-se da Lusofonia uma vez que disponha de Macau” e que Portugal foi para a China “a entrada na União Europeia”, ironiza. José Filipe Pinto acredita na rentabilidade do arquipélago, afirmando que é uma “mais-valia” e que “a Base das Lajes é apenas um dos elementos dos Açores”. Este investigador realça que “uma vez mais o que está em causa é uma estratégia norte-americana” e que num primeiro momento se desvaloriza o valor estratégico das Lajes para “diminuir a sua capacidade negocial”. No entanto, o professor ressalva que a defesa dos EUA irá demonstrar preocupação, assim que os serviços mínimos não servirem os interesses das forças militares de ambos os países. Por outro lado, Luís Andrade duvida que “o governo chinês esteja interessado em ter uma presença militar na Base das Lajes”. O docente conclui que essa hipótese é improvável pela presença de Portugal na OTAN e por ser um “aliado bilateral dos EUA”.


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MUndO

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Protestos na eslovénia

A União que nos separa foto gentilmente cedidA por ŁukAsz BArtkowiAk

stamos aqui, todos juntos, independentemente se de esquerda ou direita. Não tem a ver com divisões políticas mas uma completa mudança de governo e das elites políticas. O nosso protesto é contra toda a política das classes dominantes”, dizia um membro da manifestação do dia 30 de novembro, nas praças Kongresni e Republika, no centro da capital eslovena, Liubliana. Milhares de pessoas juntaram-se nos protestos anti governo, em véspera de eleições, para mostrar o seu descontentamento face aos cortes e reformas do governo designados para evitar o resgate internacional. Manifestantes atiravam petardos e pedras da calçada. A polícia bloqueava a passagem em frente ao Parlamento no sentido de evitar que se repetisse a violência dos protestos em Maribor, onde cerca de dez mil pessoas protestaram pela resignação do prefeito Franc Klanger, acusado de corrupção. “O que os eslovenos querem é ter mais oportunidades para participarem no processo de discussão política e voto. Não apenas de quatro em quatro anos, mas permanentemente”, afirma a professora de Antropologia na Universidade de Liubliana e colunista na revista ONA, Vesna Godina. Os protestos devem-se à ambição por um sistema que não deixe apenas nas mãos dos partidos as decisões políticas, acrescenta ainda a docente.

Sucessão à direita

A Eslovénia é o mais recente palco de protestos no panorama europeu. Os manifestantes opõem-se ao poder político controlado pelas elites corruptas, que se personifica no governo conservador de Janez Janša. A adoção de reformas de austeridade que a União Europeia impõe assusta o país que não esquece as lições do antigo bloco comunista. Por Ana Marques Francisco, em Liubliana, Eslovénia

De um ponto de vista sociológico, é na própria estrutura do estado democrático que encontra o problema. A Eslovénia, nascida do rompimento de uma união comunista, alimenta a génese do socialismo: “os indecisos normalmente preferem partidos de esquerda que se enquadram na tradicional cultura política eslovena e que, de um ponto de vista prático, provam ao longo da história ser mais sociais e economicamente funcionais”, explica a professora de Liubliana. Ainda assim, salienta que este ‘standard’ moral não tem sido respeitado e os eslovenos não veem com bons olhos nenhum dos partidos políticos. “Não sei se algum destes partidos é orientado à esquerda em termos de interesses”, comenta Vesna Godina, referindo-se aos constantes casos de corrupção observados entre os membros do governo nacional e local. Para citar mais um deles: Zoran Janković, prefeito de Liubliana e ex-presidente da Mercator (a maior cadeia de retalho do sudeste europeu), no mês de outubro de 2010, referia numa entrevista ao jornal diário ‘Večernji list’ que a corrupção não constitui um problema sério na Eslovénia. Contudo, foi detido em setembro deste ano, juntamente com os seus dois filhos, por suspeita de participação num dos maiores

casos de corrupção no país. Sociais democratas (SD) e democratas (SDS) têm-se sucedido nos últimos dez anos no Governo. Janez Janša foi primeiro-ministro entre 2004 e 2008 e eleito pela segunda vez em 2011. Borut Pahor foi-o entre 2008 e 2011 quando o seu partido ficou em primeiro lugar na coligação. Ao ter vencido as eleições para Presidente da Eslovénia, Pahor tornouse no mais novo a exercer esse cargo e o único a ter passado pelas três posições presidenciais no sistema político esloveno: presidente da assembleia, primeiro-ministro e presidente da república. Quando os resultados foram anunciados afirmou: “este é apenas o início de algo novo, uma nova esperança, um novo período”.

O exemplo europeu Gasper Zavrsnik é um jovem jornalista. Explica que as pessoas não querem aceitar que, enquanto são forçadas à austeridade, as elites se apropriem de dinheiro público. "A Eslovénia, em comparação com a Grécia, Portugal e Espanha não foi tão afetada pela recessão até meio do ano de 2012", refere, explicando que a população está progressivamente a revoltar-se. "O Governo esloveno está a implementar ideologia neoliberal, que nunca resultou na Eslovénia. As divisões entre esquerda e direita são muito polarizadas na Eslovénia. O maior problema é a falta de consenso entre a oposição e a coligação”. Ainda assim, o jornalista acredita que os protestos podem dar frutos apesar de ser uma "batalha de longo termo" que pressupõe resistência. Dá o exemplo dos protestos em Maribor, que atingiram o seu objetivo - o prefeito demitiu-se e os estudantes da Universidade de Liubliana conseguiram que os cortes na educação fossem evitados. A influência por parte de outros países em recessão na Europa é crucial, sendo que a Eslovénia apenas agora se está a juntar à onda de protestos. Para além da crise económica ser de bem menor gravidade: “nós, eslovenos, podemos ver onde a austeridade neoliberal e as reformas desreguladas estão a levar-nos. Vemos isso por vossa causa [Grécia, Portugal, Espanha] que põem em contexto todas essas mudanças devastadoras”, reflete Gasper Zavrsnik. Vesna Godina acredita que “os eslovenos ficariam satisfeitos se os problemas fossem resolvidos ao nível do sistema político local”, acabando assim com as manifestações que juntam essencialmente pessoas que querem ver estabilizada a sua situação económica e acabar com a elite política. Problemas concretos que parecem ignorados pela política nacional. “Estas demonstrações mostram que este tipo de soluções capitalistas já não são adequadas”, garante.


14 | a cabra | 18 de dezembro de 2012 | terça-feira

Cinema

artes

D

amor ” De Michael haneke com eMManuelle riva Jean-louis trintignant isabelle huPPert 2012

a beleza de um monstro

ver

crítica De joão ribeiro

“A

América produziu apenas três escritores clássicos Mark Twain, J.D. Salinger e eu. Sou o Jonathan Flynn e tudo o que eu escrevo é um clássico". É assim que a personagem de Robert de Niro se define, apesar de o seu estilo de vida, numa etapa inicial do filme, se assemelhar mais a um Charles Bukowski. Parte daqui o mote para uma película que falha em escapar à clássica lógica de filme promotor do "sonho americano", realçando os incontáveis ensejos que apenas a "land of the free and the home of the brave" nos pode oferecer. Juntando isto à prévia informação do trailer – que nos lembra que o filme é assinado pelo mesmo realizador de “About

isse Michael Haneke que foi o contacto com o drama de um familiar próximo que o levou a rodar “Amor” (Palma de Ouro 2012), o que talvez venha provar que a perfeição se atinge mesmo quando a arte imita a vida. Perdão, a morte. Anne (Emmanuelle Riva) e Georges (Jean-Luis Trintignant) formam um casal idoso da classe média alta e erudita parisiense. Levam uma vida de qualidade, pacata e rotineira, repartida entre ‘soirées’ de música clássica e visitas pendulares da filha, que vive em Inglaterra. Tudo muda quando Anne sofre um AVC que a deixa incapacitada e roga ao marido que não a deixe ir para hospitais ou casas de repouso. A doença agrava-se de dia para dia, reduzindo ao máximo as capacidades de Anne até chegar a um estado terminal cuja única esperança é a morte. Entre o casal estabelece-se uma fortaleza – amor, pois claro – que os une e impede a entrada ou até a compreensão de quem os ro-

deia. A comparação com filmes como “Mar Adentro” ou “O Escafandro e a Borboleta”, ambos tratando da doença e da degeneração física, é inevitável. No entanto, “Amor” superaos, não pela comoção que se adivinha, mas sim pela crueza com que a morte se insinua e paira naquele apartamento de Paris. Começa pela lentidão sufocante, em que a mais simples tarefa se arrasta na sua execução, como se o tempo também ele se tivesse submetido aos caprichos da morte. Haneke é mestre na utilização que faz invariavelmente dos planos longos e fixos, lembrando o espectador de que é apenas um visitante de Anne e Georges e que terá de esperar o tempo que for preciso, tal como eles. A banda sonora é parca e composta exclusivamente pelos trechos de música clássica que o casal ensinou toda a sua vida. A brutalidade da rotina de quem aguarda a morte não é sequer perturbada pela habitual tomada de po-

sição política em relação à eutanásia em que normalmente caem este tipo de filmes. Anne tem vontade de morrer, isso é certo, mas não faz uso do discurso próprio do paladino dos direitos do enfermo que quer deixar de sofrer e de ser um fardo para quem está. Mais uma vez, não há mensagem ou moral nenhuma a passar para o espectador, limitando-se este a assistir. Que a morte nos diz a todos muito e muito mais do que aquilo que desejávamos é o maior dos lugares comuns. Haneke resolveu simplesmente mostrá-lo, como Tolstoi, por exemplo, já o havia feito e o resultado é desagradavelmente próximo de cada um de nós. E nessa aceção estamos mesmo perante um “monstro”, como a certa altura Anne chama afetuosamente a Georges, por se mostrar mais do que é devido. Um “atrevimento” que deixará qualquer público desconcertado, como seria desejável que acontecesse sempre nas salas de cinema.

mais Uma Noite de merda Nesta cidade da treta” a Boy”, Paul Weitz – e as expectativas não estão propriamente altas. Então vejamos: Jonathan Flynn, escritor boémio e falhado, é o pai ausente de Nick Flynn, um aspirante a escritor. Depois da morte da mãe de Nick, e passados vários anos sem qualquer contacto, progenitor e primogénito reencontram-se numa instituição de acolhimento de sem-abrigo onde o segundo é empregado e o primeiro busca refúgio. A trama desenrola-se seguidamente numa sequência de cenas nem sempre lógica sem que alguns eventos se apresentem relevantes, com elementos encaixados de forma forçada e pouco natural. Nick Flynn, o anti-herói, é interpretado por Paul Dano, cuja expressividade e emotividade

fazem lembrar um Keanu Reeves num dia menos bom. Salvam-se alguns rasgos de de Niro, que depois das últimas décadas do século XX parece ter perdido completamente a aptidão para escolher papeis que acrescentem algo positivo ao seu currículo. Convém ainda lembrar que todo o enredo é baseado no livro autobiográfico “Another Bullshit Night in Suck City”, do escritor Nick Flynn. Não fosse este dado e a tradução do título original do filme, “Beign Flynn”, perderia qualquer sentido, o que, ainda assim, não seria inédito em Portugal. “Mais Uma Noite de Merda Nesta Cidade da Treta” teve uma passagem discreta pelas salas de cinema e o mesmo destino parece aguardá-lo no formato DVD. camilo solDaDo

Filme

De Paul Weitz eDitora

Focus Features 2012

Artigo disponível na:

“about a writer”


4 de dezembro de 2012 | terça-feira | a

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Feitas OUvir

ler

em nosso nome”

rumor branco”

S

ir Scratch já "cá" anda há muitos anos. Apelidado de "puto Manucho" quando, tira teimas tanto ele, quanto o próprio rap português partilhavam a mesma juventude, Scratch ganhou espaço e preponderância no movimento. Sete anos depois, chega o tira-teimas pela mesma mão de quem "pariu" uma das maiores promessas do hip-hop nacional. Confirmação, superação ou desilusão? "Eu conheci o Sir Scratch em casa do Sam (the kid), ele tinha 12 anos, já fazia melhor rap do que niggas com 30, 35 e 40 anos..." - foi com estas palavras de Valete que Sir Scratch abriu o seu primeiro disco "Cinema: Entre o Coração e o Realismo". Decorria o ano de 2005 e De Scratch acabara de se tornar um Sir, sir scratch pela mão da Footmovin' com apenas 18 tenros anos. Para trás, um eDitora projecto já extinto (Plunasmo) com FootMovin' o seu irmão e uma guerra de palavras(beef) famosíssima, com Lance2012 lot e Caligula. “Em Nosso Nome” tem o cunho de 30 artistas, sem contar com o próprio Sir Scratch. Desengane-se quem pensar que vai pôr os ouvidos em 30 rappers nacionais. Há de tudo, desde pesos-pesados do rap como Sam The Kid, Bob Da Rage Sense, DJ Madkutz, passando pelas vozes de Dino, New Max, Kalaf e Tamin, ou até alguns nomes mais duvidosos como Tim (Xutos&Pontapés), Diogo Dias (Klepht) e Nu Soul Family. A produção é o prato forte do disco e ficou a cargo de artistas tão importantes como Sam The Kid, o norte-americano Nottz ou mesmo a inseparável dupla João Gomes e Francisco Rebelo (Cool Hipnoise/Orelha Negra). Na mensagem reside o ponto fraco do disco. Esperava-se uma evolução mais vincada de Scratch, tanto no ‘flow’, quanto na variedade de temas. Se os títulos indiciam uma orientação temática muito bem intencionada, após audição, vão-se notando os erros de sempre: uso abusivo de aliterações, antíteses e trocadilhos, bem como o excesso exaltação de si próprio contra “inimigos imaginários”, que vão transformando o seu discurso em algo pouco conclusivo. “Em Nosso Nome” tem tudo para agradar à crítica generalista (instrumentais) mas, para os fãs do rap “tuga”, será o filme de 2005 a melhor recordação de Sir Scratch. carlos braZ

Q um grito invulgar

De alMeida Faria eDitora assírio e alviM 2012 (edição revista)

uando Almeida Faria, proveniente de Montemor-o-Novo, estuda no Liceu de Évora, aos 16 anos, há um professor que lhe desperta interesse: pela figura séria e pela literatura. Confessa que, até esse momento, era reduzido o seu interesse literário. Em 1962, aos 19 anos, publica “Rumor Branco”, a sua primeira obra, prefaciada por aquele professor, Vergílio Ferreira. Com os 50 anos da obra, é lançada a edição revista. Uma primeira nota: o leitor deve tentar (não é prometido que consiga) tomar consciência de que esta é uma obra escrita por um rapaz de 19 anos, ou um homem de 19 anos, que vem, quase alheado disso, provocar discussão pública acesa no panorama literário português, entre o “mentor” e existencialista Vergílio Ferreira e o crítico Alexandre Pinheiro Torres. Dissidências que hoje, com a devida distância, se entendem políticas e provocadas também pela deserção de Vergílio Ferreira do neo-realismo para o existencialismo, deixando ao fundo os problemas daquele Portugal. A questão mantém-se: o que é “Rumor Branco”? A expressão provém do músico Stockhausen, e é como que uma proposta de “intertextualidade”, se puder ser assim chamada: as marcas de nouveau roman de Rumor Branco (que são essencialmente formais, mas também estão patentes na viagem por uma escrita de fluxos de consciência) asseme-

lham-se estranhamente análogas às harmonias electrónicas contemporâneas do músico alemão. Como prefaciou Vergílio Ferreira, “diria eu que é sobretudo uma voz; e que mais do que uma voz ele é claramente o seu tom” – uma voz que é polifónica, estridente, solitária, mas sempre, de alguma forma, ontológica. É difícil especificar o objecto perante o qual se está. “Para nos fazermos fomos feitos e os homens não nascem mas se fazem”, é uma das evocações existencialistas da obra – que são, no entanto, alternadas por críticas ao espírito burguês, ao provincianismo das discussões e ao estado quase animalesco dos homens. Aos sete fragmentos (que correspondem a capítulos) que compõem “Rumor Branco”, liga-os o nome Daniel João. Será ele sempre o mesmo? O que liga vivências citadinas, boémias, rurais e de reclusão? “Rumor Branco” é o grito que Benigno Almeida Faria não pôde dar na juventude, depois de estar em Paris e em Cambridge e de se ter apercebido do atraso e da repressão que mergulhavam Portugal em agonia. É um grito contra a opressão cultural, no mesmo ano em que os estudantes abalavam o regime salazarista. É a forma do seu grito. Pergunto: quem grita assim aos 19 anos? Lamento apenas que me tenha chegado com o ruído do Novo Acordo Ortográfico. iNês amaDo Da silva

JOGar

o ladrão honrado

GUerra DaS CaBraS A evitar Fraco Podia ser pior Vale a pena A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro Plataforma DisPoNíveis Ps3, XboX 360, Pc Artigos disponíveis na: eDitora bethesda 2012

2

012 é ano para esquecer no que concerne à grande produção industrial – não há um jogo que se aproveite para a posteridade. No meio da patetice de “Black Ops 2” ou “Assassin’s Creed III”, surge “Dishonored”, uma não-sequela (!) que embora desprovida de pretensões artísticas, ao menos demonstra alguma réstia de carácter. Harvey Smith (Dir. Criativo) pertence a uma longa linha de designers norte-americanos que chegou à maturidade com “System Shock”, e que desde então procura aprofundar o entretenimento ‘sand-box’ para adultos. “Dishonored” segue esse ideário pró-jogador com fervor, colocandonos no papel de Corvo, um assassino que é uma réplica do Garret de “Thief”, apenas conferido com os poderes sobrenaturais do ADAM de “Bioshock”. Encarregue de salvar um mundo de FC vitoriana, Corvo tem de executar diversos alvos políticos em complexos ambientes não-lineares, plenos em armadilhas e adversários que conferem amplas oportunidades para experimentar as mais rocambolescas ferramentas de assassinato em minuciosas estratégias de eliminação silenciosa. “Dishonored” estimula eficazmente aquela parte do nosso cérebro que

Dishonored - Ps3” tira prazer do delinear de planos, dando-nos a efémera ilusão de sermos pequenos deuses a brincar com os destinos de míseros mortais. O problema aqui, como em todos os jogos que evoca, é que essa agenda é tão absorvente que expurga a experiência de todas as cambiantes sensoriais, emocionais e intelectuais que lhe podiam dar um sentido ulterior; tudo é dominado pelo desafio lúdico, deixando nenhum espaço para expressão digna desse nome. Até seria interessante explorar o mundo ficcional de “Dishonored”, que não sendo tão temática e esteticamente rico como os de “Bioshock” ou “Human Revolution”, nem tão elusivo e ambíguo como o de “Half-Life 2”, poderia ser o pano de fundo ideal para uma aventura digna da literatura que cita. Infelizmente, ficamonos sempre pela auto-indulgência bem executada, mas vácua, artificial e sem gosto (passa por aqui uma “fetichização” cartoonesca pela violência que não conseguimos subscrever). Não é nada de bom, mas ainda assim este é o melhor AAA norte-americano do ano… Assim estão os videojogos.

rUi craveiriNha


16 | a cabra | 18 de dezembro de 2012 | terça-feira

soltas HaBitar

critic’arte

uma ideia para o ensino superior carlos sequeira • reitor da universidade de trás-os-montes e alto douro (utad)

como poética Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. Uma sala de exposição, um atelier e dois quartos sobrepostos – chamado de “abrigo”. É nestes espaços, dentro do contexto do seu doutoramento em Arte Contemporânea, que Claudia Renault, artista plástica brasileira, natural de Minas Gerais, nos conta histórias de Coimbra. Escritas com material quotidiano – botões estampados, pedaços de cadeiras, fragmentos de árvores – iluminam nossos olhos com seus textos inéditos. Coladas nas paredes e vitrais dispostos no atelier, nossa leitura é diferenciada porque o meio de publicação não é a latrina ou o saco de lixo. Ao observar algo tão banal e rotineiro, dispensável a ponto de ser jogado fora, indagamo-nos da coisa seu histórico, percurso e dono. Somos incentivados a esmiuçar o olhar, forçarmonos na busca de um sentido que julgamos oculto. Mas ele inscreve-se de modo claro em cada material recolhido. Podemos ler, expostas, as fotos da autora na sua busca-achamento. Um objeto encontrado e colado na parede da rua e lá está a possibilidade de mudança de olhar. A caçadora de sentidos segue em segundo plano auxiliando nossa própria descoberta. E ela acontece sorrateiramente, enquanto uma imagem é recolocada ao alcance dos olhos-objetivos ou no trazer para o foco das atenções algo quase imperceptível. A novidade no usual é algo a ser valorizado num contexto de conversas-repetidas e do re-revisitar do já sabido da nossa sociedade. Claudia nos ensina que do pretensamente lido pode-se extrair a polissemia. A possibilidade de nos reinventar a nós mesmos surge dessa revisitação de coisas e lugares e do pensar criativo sobre si mesmo e nossas próprias condições.

Por Carlos Nicola carlos nicola

ConheCimento e universalismo na origem de Coesão e de equidade Líderes e profissionais qualificados, investigação, inovação e especialização, políticas modelares em mobilidade social e em igualdade de oportunidades para mulheres e minorias sociais concorrem indissociáveis da formação superior. Caldo primordial para o fortalecimento económico, o empreendedorismo vem agora desafiar para objetivos mais amplos que a educação geral pós-secundária, a investigação e a prestação de serviços à região e à comunidade. Neste século XXI, ninguém questionará, portanto, que as universidades sejam instituições sociais que incluam, na sua missão essencial e na sua esfera de competências e possibilidades, os problemas coletivos e a construção de sociedades desenvolvidas, justas e igualitárias. Porém, a responsabilidade das universidades deverá ir mais além do que a capacitação profissional e a instrumentação económica, pois a educação é um bem público na medida em que forma cidadãos com conhecimentos e valores importantes para a construção de sociedades justas e desenvolvidas a partir da integração dos aspetos económicos, culturais, estéticos, técnicos, éticos e políticos - todo um património comum, imprescindível para o desenvolvimento humano e para qualquer projeto de humanização. Embora influindo nas estruturas da vida social, sobre valores e instrumentos de desenvolvimento, as instituições de ensino superior (IES) têm perdido a imunidade aos sistemas socioeconómico e histórico-cultural. Não é novidade o forte condiciona-

mento pelas doutrinas e práticas de mercado, que fazem parte da luta política, económica e ideológica. Vivemos num tempo em que a ética está a ser subsumida pela economia de mercado. E a proeminência do mercado, enquanto razão central da sociedade, arrasta as universidades para duas subversões: uma condicionada superiormente – tutela -, e outra, na sua própria esfera de atuação, local e regionalmente: 1. As IES sentem-se obrigadas aos objetivos de adaptação e capacitação de profissionais para o trabalho e para a competitividade das empresas, esquecendo a visão mais alargada, humanista e universal, da universidade. O mais grave é que esta formação para o eixo central da economia de mercado (competitividade, produtividade) não é neutra. Tende a desintegrar e a delapidar vínculos sociais sem a consequente produção de mecanismos de solidariedade e cooperação ativa;2. A tutela aceita ver desvalorizado o papel determinante que as IES possuem no mapa de ordenamento territorial, funcionando como agentes catalisadores e ativos de um bem de inexcedível valor axiológico, porque sem preço, e que se designa por coesão social e territorial, fixação de pessoas, conhecimentos e produtos em áreas cuja desertificação e desanexação seria evidente e desastrosa a prazo para o país. A universidade tem responsabilidades e não deve perder a sua capacidade de refletir sobre as questões determinantes da sociedade, de criar conhecimentos e técnicas e de estimular ações que produzam, de modo sustentável, mais desenvolvimento humano com mais coesão e justiça

social. Falhar este objetivo é favorecer o individualismo e os mecanismos de exclusão. O Estado, a tutela, e os organismos reguladores desta importante função social que é a educação superior, devem continuar a pugnar pela solidificação dos polos de desenvolvimento regionais, reestruturados sem dúvida, mas assentes numa lógica distributiva onde o reordenamento não poderá deixar de ter em consideração a equidade na distribuição dos bens materiais e culturais. Impõe-se, assim: analisar a concorrência das ofertas educativas e a necessidade e possibilidades de crescimento; e analisar o rateio das vagas entre as diferentes ofertas educativas acreditadas pelas agências nacionais, nas diferentes IES, permitindo ou não a liberalização dos numeri clausi, articulando-os com mecanismos de titulação múltipla. A equidade que subjaz à plenitude democrática em termos económicos, políticos e sociais será assim partícipe numa democracia cognitiva, essencial na construção de sociedades inclusivas.

Breves Portugal Segundo o relatório “Education at a Glance 2012”, os professores portugueses são dos que dão mais horas de aulas em toda a Europa, e até no espaço mais alargado da OCDE. Para já, a educação terá de assegurar uma contribuição significativa no que toca à despesa do Estado, dado que o Governo irá efetuar um corte de quatro mil milhões de euros nessa área. Ainda sobre o estudo, e comparativamente à restante zona europeia, há mais tempo para preparar as aulas e apoiar os alunos. Expresso

Brasil A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, tem neste mo-

mento um documento que visa adiar a plena aplicação do Acordo Ortográfico (AO), que apenas aguarda aprovação presidencial. Inicialmente, no Brasil, a data para a plena aplicação do acordo era 1 de janeiro de 2013. A data falada atualmente é 1 de janeiro de 2016, a mesma para a entrada em vigor total do AO decidida em Portugal e dos Jogos Olímpicos no Brasil. Público Médio Oriente Os Estados Unidos da América (EUA) assumem o comando de várias baterias de mísseis Patriot apontadas à Síria a partir da Turquia, numa operação da NATO que envolve mais de mil soldados dos EUA, Alemanha e a Holanda. O Irão acusa os países ocidentais de estarem a preparar uma nova guerra mundial. Esquerda.net Coimbra Uma equipa do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC) cria prótese e apoio lateral para o atleta Telmo Pinão, amputado da perna es-

querda. O atleta, que antes praticava karaté, acabou por enveredar pelo ciclismo, em 2008. Agora, surgiu a hipótese de adquirir uma prótese na perna, estando, assim, a colaborar num projeto de alunos da licenciatura de Engenharia Mecânica do ISEC. O objetivo, segundo o docente Luís Roseiro, passava por projetar e construir uma prótese para ciclismo adaptado, que fosse destinada a Telmo. Diário As Beiras Privatização da RTP Para o Secretário-geral do Partido Socialista (PS), António José Seguro, tanto a venda como a compra de órgãos de comunicação “deve ser livre”. No caso da estação pública de rádio, o PS recusa a sua alie-

nação, sem abdicar de “defender a transparência” deste e de outros processos de privatização. Seguro afirma ainda que “ democracia exige que todos nós saibamos quem detém o poder e quem detém a influência”. O Governo “quer fazer uma privatização à pressa da RTP, mas nós estamos contra”, disse, frisando que o PS “defende princípios e defende transparência”. Lusa

na mostra “Arquitetura Imaginária”, patente desde o dia 1 no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa. O arquiteto de Coimbra vai estar ao lado de nomes como Álvaro Siza, Eduardo Souto de Moura, Carrilho da Graça, entre outros. Na mostra, vai estar patente o espaço do Jardim Botânico, como objeto de “arte” privilegiado pelo arquiteto de Coimbra. Diário de Coimbra

Coimbra João Mendes Ribeiro é um dos cinco arquitetos portugueses de renome que participam

EUA Depois do massacre na escola de Sandy Hook, em Newton, o presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou que o país já passou por “demasiadas tragédias”. Perante esta situação, o presidente democrata prometeu tomar medidas significativas no que toca ao uso de armas. Durante o fimde-semana, a polícia apurou que o atirador, Adam Lanza, 20 anos, tinha três armas consigo, uma delas uma espingarda militar. O jovem terá tido acesso às armas em casa, já que a sua mãe as colecionava. Jornal i Por Ana Duarte


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soltas semideuses em part-time

micro-conto

por luís Filipe Borges Ilustração Por João Pedro Fonseca

E

le tem um carro amolgado, um telemóvel avariado, uns óculos sem a haste direita, uma cicatriz na mão esquerda, as calças rotas e o coração partido (tão perigosos os clichés, tão absurdos e irresistíveis). Ela tem as pernas perfeitas – tão preguiçosos os adjectivos, tão idem aspas, uma gargalhada para salvar o mundo e uns olhos onde apetece ficar a viver. Eles não se conhecem bem. Encontram conforto no acaso, estabilidade no ódio às novas tecnologias, tranquilidade no silêncio que não atemoriza, solidariedade na crise e defesas contra a timidez nos sms. Sim, o século XXI reduziu a antiga correspondência romântica que levava esforço e tempo a bilhetes da escola primária, meia dúzia de frases dialogadas à distância mas com a velocidade da luz. Tão longe e a ilusão do tão perto. Trazem para a mesa feridas abertas, desejos interrompidos e sonhos irrealizáveis. Por ironia, só falam através de substantivos, sobretudo quando se fazem rir. Dançam o luto tenso de pessoas vivas. Supõem o mar em copos meios cheios de vodka, meio vazios de poesia. Discutem o encantamento como conferencistas numa palestra, esse estado intermédio – bem mais do que indiferença, algo menos que paixão ou (claro) amor. Não conhecem os amigos do outro, a família, o local de trabalho, as datas importantes, os dramas obliterados, a música foleira cantarolada às escondidas, as imperfeições nuas. É tão bom não se conhecerem bem. Nada bem. Nada. O amor são os domingos à tarde, as horas perdidas com prazeres individuais usufruídos em conjunto: um

luís FIlIPe borges 35 anos

livro para ela, uma jogatana de playstation para ele. Uma aguarela para a senhora, um vynil de jazz para o cavalheiro. A imprensa toda para a dama, só os desportivos e meio maço de cigarros para o doutor. Eles sabem disso, apreciam o aforismo coloquial, partilham-no até, mas não foi com o outro que o viveram, souberam, enfim aprenderam. Há entretanto fantasmas alegres a rodopiar à volta da sua mesa e orações ateias no eco dos indizíveis. São calmos. Toda a gente quer ser feliz e ninguém deseja ser calmo. Como eles. Não é por mal dos outros, só não se lembram. É a responsabilidade solidária da descontracção. A vidinha distrai-nos, essa sonsa. A rotina toma

conta de nós e dos nossos. Deles não. Encontraram-se agora na mesma encruzilhada mas estão serenos. Trazem dois mundos às costas e nenhum viajou ainda ao planeta do interlocutor. Separam-se até já. Relaxam na bravura envergonhada das mensagens escritas, revelando sóbrios um pouco mais do que o supostamente permitido pelo álcool. Idade da inocência, inveja doce dos amigos esvaziados pelo quotidiano, aquele tempo sem hábitos, defeitos ou contradições. Ficam a marinar – a fazer de conta que atrás de tempo, tempo não vem – no repouso das palavras escritas. Pretendem não ter apagado antes dezenas, centenas de bilhetes virtuais semelhantes; fingem ser in-

entre a arreGaça e o calHaBé

génuos, vestem o melhor sorriso como acessório da melhor roupa, e começam tudo de novo. Ele leva o encanto tão a sério que até faz questão de se vestir bem enquanto envia mensagens. Ela confia tanto na sedução franca que lê em voz alta tudo o que escreve e recebe. O som ecoa nas paredes nocturnas de ambos e assusta o receio. Talvez seja possível mais uma maratona. Pura. Talvez possam corrê-la nas horas vagas da vida, dois semi-desconhecidos que apalpam terreno na escuridão. Lado a lado, mesmo cegos, a coisa faz-se. Não sabem mais nada, por agora. Mas ao menos agora não conhecem obstáculos, ruínas, horários nem pecados. Se derem as mãos até cortam a meta.

luís Filipe borges nasceu em 1977, na ilha terceira, açores. o seu amor à ilha era grande, no entanto, a vontade de expandir os seus horizontes falou mais alto. Foi assim que mergulhou na azáfama da capital e ingressar na Faculdade de direito de lisboa. dos tempos de faculdade traz consigo a sua alcunha - o boinas. sempre acompanhado por uma, dizia que a usava para marcar a diferença...até hoje. não gosta de pastéis de nata mas adora humor. desta forma deu vida ao ‘talk-show’ "revolta dos Pasteis de nata" (rtP) e aproveitou para conquistar as gargalhadas dos portugueses. escreveu livros como "sou português, e agora" e "a vida é só fumaça". Foi co-apresentador dos programas de rádio "5 para a uma " e "5 para o meio-dia " e atualmente é apresentador, às segundas feiras , do programa "5 para a meia noite" (rtP). com 35 anos já experimentou rádio, televisão, cinema e teatro. conheceu o sucesso, mas sem nunca esquecer de onde veio, afirma de peito cheio: " podemos sair das ilhas, mas elas nunca saem de dentro de nós" . assim é "o boinas".

Inês Martins

as santas devem estar loucas

por Bacharel Jorge Gabriel

C

omo o leitor decerto sabe, internet e humor andam de mãos dadas. Ele são os sempre profundos memes, ou mimes, ou mimisse ou que raio é. São as horas de intensa diversão no Facebook, em português, Feicebuque, ainda Faizebúk para quem quiser atirar pró fino. De igual forma, circulam eternamente arcaicos e-mails com anedotas com piada apenas para quem envia, descontando os exageros da contradição. Confesso que acho singela graça a cartas correntes - “se depois de leres este texto não fizeres o pino vais falecer por intervenção de S. Sidónio” – não há nada que roce tão bem o pináculo da comicidade. Precisamente, o que tem mais piada na internet, como na vida de resto, é o que não é suposto tê-la, ou melhor, o que não é feito com intenção de entreter mas, por uma qualquer característica que possua, tem graça redobrada. Terrenos férteis nesta dinâmica são os panta-

nosos comentários no Youtube. Passo a relatar um cabal exemplo: Um vídeo tem o título “Xutos e Pontapés – O Homem do Leme” mas, desafiando as leis da multimedialidade, não tem vídeo, apenas música [o uploader – Sir Sardine de seu nome – justifica: “É só a música não tem imagens.. Pode ser útil a muitos, inclusive eu…;-)]. Tal como este vídeo não tem vídeo, o segundo comentário mais votado também não é um comentário porque assim se lê: “acho q nem vale a pena comentar pois todos sabem o que os xutos significam”. Reparemos no paradoxo existencial introduzido pelo utilizador Catotaak (2009): será a ausência de comentário um comentário? O que significa comentar? O que significa a vida? E a morte? Não sabemos. Neste momento, a única coisa que sabemos, diz-nos Catotaak, é o que os xutos significam. E já não é pouco. Tudo isto para dizer que a ver-

d.r.

dade é a melhor comediante, quantos e-mails já não recebemos, vindos de gente bem-intencionada, que nos deixaram dobrados sobre o abdómen. Infelizmente, há muito que não recebia essa benesse, andava até algo soturno, arrastavame pelos cantos como um cão sujo

de enfado à espera do banho de espuma humorística que tardava. Mas tudo mudou, na semana passada, quando o Reitor me chamou para ir à missa. Dizia-me um e-mail do protocolo que o Reitor tinha a honra de convidar minha excelência para a

Missa de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira da Universidade. Ainda que sinceramente agradecido pela consideração, não só acabei por não ir como acabei por rir, decerto assinando a dupla condenação ao fogo dos infernos. Em minha defesa, missa não é coisa para a qual se faça um convite. Qual foi a última vez que ouvimos as palavras: oublá queres ir ali à missinha comigo? Por outro lado, missa e internet não combinam, é uma questão de tempo, dirão alguns, o Sumo Pontífice já twitta, se calhar daqui a uns anos já fazemos o upload das rezas, o download do corpo de cristo, sacamos uma aplicação para escolher a cor da batina do senhor abade. Todos esperamos ansiosamente esse dia. Para já, convenhamos, um convite por e-mail para ir à missa ainda é do mais hilariante que a internet tem para oferecer.


18 | a cabra | 18 de dezembro de 2012 | terça-feira

opInIão O desperdíciO geraciOnal Virgínia Ferreira*

esta “tese” toma o emprego masculino e o feminino como equivalentes, ignorando o fenómeno da segregação do mercado de trabalho, em função do sexo

As pessoas mais jovens têm vindo a enfrentar dificuldades cada vez maiores para reentrar no mercado de trabalho. Esta tendência, registada desde há vários anos, acentuou-se significativamente com a presente crise. O gráfico apresentado mostra bem que as pessoas na faixa etária dos 15 aos 24 anos sempre tiveram em Portugal muito mais dificuldade para encontrar um emprego, bem expressa no facto de a sua taxa de desemprego corresponder a mais do dobro da observada para o conjunto da população. Neste gráfico, podemos ainda observar o modo como o desemprego tem vindo a afetar as mulheres e os homens, quer em geral, quer no grupo etário mais jovem. Nele está bem claro o incremento mais acentuado do desemprego entre os homens que, sendo em geral mais baixo do que o das mulheres, acabou por ultrapassar este em meados do corrente ano. Gostaria de sublinhar que isto mostra bem o quão errónea é uma ideia muito disseminada de que “em situações de crise, as mulheres são as primeiras a ser despedidas”. Esta “tese” toma o emprego masculino e o feminino como equivalentes, igno-

rando o fenómeno da segregação do mercado de trabalho, em função do sexo. Os homens estão a perder postos de trabalho mais rapidamente do que as mulheres porque eles constituem a mão-deobra maioritária nos sectores que mais têm sido afetados pela perda de emprego – a construção civil e a indústria (nomeadamente a do ramo automóvel). Estes indicadores também sugerem a conclusão de que as pessoas mais jovens constituem o grupo etário mais vulnerável e que mais oportunidades de emprego tem perdido desde o início da crise (2009). Neste caso, o incremento observado nas taxas de desemprego juvenil tem sido paralelo em ambos os sexos, mantendo-se a taxa de desemprego das jovens superior à dos seus pares do sexo oposto (38 por cento versus 36 por cento). À questão de saber o que leva os/as jovens qualificados/as a emigrar parece, pois, fácil responder. Apesar de um diploma do ensino superior reduzir as probabilidades de ficar sem emprego (reduzindo bastante as taxas de desemprego dos seus titulares), acontece frequentemente que a posição que se alcança é caracte-

rizada pela instabilidade e/ou pela fraca relação entre a formação académica obtida e os conteúdos funcionais do posto de trabalho ocupado. Esta descoincidência entre formação e trabalho pode ter uma orientação vertical, resultando do facto de os postos de trabalho ocupados não exigirem qualificações de nível superior (o que afeta cerca de 18 por cento de jovens no seu primeiro emprego, na União Europeia [UE]), ou horizontal, quando o emprego exige qualificações de nível superior mas em áreas diferentes das da formação inicial (15 por cento na UE). Em especial o primeiro dá origem ao fenómeno da sobrequalificação académica. No nosso país, parece que nem o/s governo/s nem os privados dão muita importância aos níveis de formação académica, donde, as baixas qualificações também produzirem fracos efeitos de exclusão do mercado de trabalho (Portugal tem uma das mais elevadas taxas de emprego no grupo de pessoas com qualificações muito baixas). Outra característica do nosso mercado de trabalho é oferecer poucas oportunidades de progresso na carreira, especialmente nas suas

fases iniciais. Por fim, o elevado retorno, que o mercado de trabalho costumava atribuir aos diplomas de educação de nível superior, está em queda desde os anos 90. Não admira, pois, que a frustração sentida em face destes reveses na transição para a vida ativa – o desemprego ou um emprego precário, desqualificado e mal remunerado – leve as/os jovens a deslocar as suas esperanças para outros mercados de trabalho, onde o retorno dos diplomas é menor, mas o desencontro vertical entre formação e emprego poderá ser menor, pelo menos numa segunda fase de integração no país de acolhimento. O impacto deste “brain drain” será terrível para o país, desprovido de quem possuirá, em princípio, as qualidades necessárias à sustentabilidade e à inovação.

*Docente da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Investigadora do Centro de Estudos Sociais

Fonte: Ine, estatístIcas do emprego (várIos anos)

A Cabra errou: Por lapso, na edição nº 245 do Jornal Universitário de Coimbra A CABRA houve um erro na paginação do espaço "Cultura por cá", tendo sido publicada o da edição nº253. Na mesma edição, no artigo "Estará o movimento a começar a fervilhar?", onde se lê "no último evento organizado pela ZCH" deveria ler-se "no último evento organizado pela Toxic Pit (Rui Alexandre, dos Terror Empire, e Marco Fresco, dos Tales From The Unspoken) e apoiado pela ZCH". Ainda nessa edição, no artigo “Espaço: O desconhecido aos nossos olhos”, o último parágrafo foi corrigido no site acabra.net, visto que continha alguns dados incertos relativos à presença do homem na Lua. Cartas à diretora podem ser enviadas para

acabra@gmail.com


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opInIão cartas à diretOra

cOnFOrmismO de elites jOãO azeVedO*

A excelência académica vive hoje paredes meias com a mais impressionante mediocridade. Os governos são os principais responsáveis mas fazem o que fazem com a cumplicidade ou resignação das universidades. As instituições académicas nem sempre reagem, ou então, nem sempre se insurgem com força perante insuficiências e caprichos dos governos. Quando o fazem, muitas das vezes usam manobras e artifícios que levam à mais confrangedora comunidade académica dos últimos anos. O último exemplo foi o “chega” proferido pelo Magnifico Reitor contra este Orçamento do Estado, que “coloca em causa os funcionamentos básicos da universidade”. Ouvimos uma declaração bem intencionada, insurgindo-se contra este governo e estas políticas que levaram os estudantes a acreditar que unidos poderiam vencer mais este “ataque” ao Ensino Superior público. Falsa ideia, como comprovado, dias mais tarde, pela declaração conivente com o status-quo de quem a profere, uma vez que aplaude mais um corte à nossa universidade, desta vez na ordem dos 25 por cento do que primeiramente estava previsto. Não estávamos já no limiar do funcionamento? Perante todas estas políticas que afectam sempre os estudantes, com um ensino a perder qualidade e a tornar-se cada vez mais elitista, deparamo-nos, infelizmente, com um incompreensível conformismo da nossa academia. Hoje, muitos estudantes já não o podem ser a tempo inteiro, uma vez que a falta de bolsas de estudo em número e montante suficiente levam a que grande parte daqueles que com mais dificuldades ainda permanecem no

editOrial

Ensino Superior se vejam obrigados a trabalhar, não tendo assim tempo para o estudo intensivo ao qual hoje Bolonha obriga, e para já não falar no convívio académico e científico que tanta importância tem no enriquecimento humano e cultural de todos nós. Assim, o que deveria ser uma excepção, o trabalhador-estudante acabou por se transformar numa bem pesada realidade. Muitos outros que aspiram a “gerir” associações excitados, para não dizer corrompidos pelas políticas vindas das juventudes partidárias, escolas de má vida e de má formação humana, lutam sim, pelo poder e pelo

estes líderes estudantis dos nossos dias nunca perdem tempo em usurpar o poder que têm para imediatamente tentarem ridicularizar a primeira voz crítica e de alerta que se levante” interesse pessoal, encenando verdadeiras peças teatrais com todos os peões que têm poder de decisão, ao invés do interesse colectivo que “lideram”. Estes líderes estudantis dos nossos dias nunca perdem tempo em usurpar o poder que têm para imediatamente tentarem ridicularizar a primeira voz crítica e de alerta que se levante. São esses que iniciam fulgurantes carreiras nas juventudes partidárias e talvez seja este o mais grave dos traços marcantes do Ensino em Portugal. *Estudante de Engenharia Civil na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra

Secção de Jornalismo, Associação Académica de Coimbra, Rua Padre António Vieira, 3000 - Coimbra Tel. 239410437 e-mail: acabra@gmail.com

pOr cá nada de nOVO

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É um assunto que já não é novidade. Mas é preciso ser levantado, de quando a quando, para voltar a trazer a discussão à mesa. O futuro é cada vez mais incerto. Se para aqueles que, por motivos económicos ou culturais, não conseguiram prosseguir estudos no Ensino Superior (ES) e, ainda assim, hoje têm emprego, uma casa e dinheiro para (sobre)viver. Para os outros que apostaram na sua formação académica durante anos, gastaram o seu tempo com investigações que, muitas das vezes, não são reconhecidas devidamente pelo estabelecimento de ES que frequentaram, a situação é insustentável. É difícil conceber um país, dito pleno em democracia, que não invista nas gerações mais novas – que, no fundo, serão os próximos governantes, professores, funcionários, investigadores, etc.. É ainda mais difícil ver isso, dado que se tornará num ciclo vicioso: se, atualmente, não há capital para investir e, aparentemente, vontade, amanhã será pior. E se existe um Governo que não está disposto a sacrificar despesas próprias para canalizar verbas para a educação/investigação, levanta-se a questão: que futuro? Para nós, para a educação, para o estado do país, para a democracia. A “fuga de cérebros” – consequência direta do desinvestimento e do abandono dos jovens recém-formados pelo Estado – aumenta a velocidade galopante. É preciso alterar mentalidades, ver a longo prazo. Quando os nossos governantes, porventura, discursarem nesse grande país que é o “Lá fora” sobre as suas gerações mais novas – chamadas de “mais qualificadas de sempre” – só há uma resposta, à ‘bom português’: “não foi com a vossa ajuda”.

não é por o orçamento ter ficado estável que os alunos não continuam com a corda ao pescoço e à espera de uma objeção permanente de quem os representa

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Depois de um mês que se revelava prometedor para a contestação estudantil, dezembro está a cinzento. Ao invés do ano anterior, em que se decidira em sede de Encontro Nacional de Direções Associativas (ENDA) a moção “Natal Negro no Ensino Superior”, este ano trouxe pelo último ENDA realizado no último fim-de-semana uma palavra: desapego. Embora a coleta das direções associativas se reúna várias vezes durante o ano letivo, desta feita não conseguiram aprovar nada de significativo para o próximo ano civil. Sem nenhum protesto nem nenhuma reivindicação digna de nome que pretenda lutar para que mais nenhum aluno abandone o ES. Embora apenas o recém-eleito dirigente da Federação Académica do Porto, Rúben Alves tenha falado ao Jornal A CABRA em tempo útil, o que saiu de relevante no Minho foi quase inexistente. Prevê-se uma declaração de princípios que se a nega a olhar para o desemprego como um grupo homogéneo e uma calendarização atempada para a discussão do novo regulamento das bolsas. Somente. O facto de o governo recuar no corte influencia as hostes para que se determine um período de espera. Todavia, é preciso um novo Natal Negro e um ano de 2012 igualmente negro. Não é por o orçamento ter ficado estável que os alunos não continuam com a corda ao pescoço e à espera de uma objeção permanente de quem os representa. Liliana Cunha e Ana Duarte

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759 Diretora Ana Duarte Editora-Executiva Ana Morais Editores Rafaela Carvalho (Fotografia), Liliana Cunha (Ensino Superior), Daniel Alves da Silva (Cultura), João Valadão (Cidade), Paulo Sérgio Santos (Ciência & Tecnologia), António Cardoso (País & Mundo) Paginação António Cardoso, Rafaela Carvalho Redação Ana Marques Francisco, Beatriz Barroca, Daniela Proença, Ian Ezerin, João Martins, Joel Saraiva, Luís Azevedo, Pedro Martins, Tiago Rodrigues Colaborou nesta edição Carlos Nicola, Inês Martins, Rafaela Vilão, Rita Abreu Fotografia Ana Morais, António Araújo, Daniel Alves da Silva, Inês Balreira, João Valadão, Luís Gomes, Lukasz Bartkowick, Rafaela Vilão Ilustração Carolina Campos, Joana Cunha, João Pedro Fonseca, Tiago Dinis Colaboradores permanentes António Matos Silva, Bruno Cabral, Camila Borges, Camilo Soldado, Carlos Braz, Catarina Gomes, Fábio Rodrigues, Filipe Furtado, Inês Amado da Silva, Inês Balreira, João Gaspar, João Miranda, João Ribeiro, João Terêncio, José Miguel Pereira, José Miguel Silva, Luís Luzio, Manuel Robim, Ricardo Matos, Rui Craveirinha, Tiago Mota, Torcato Santos Publicidade António Cardoso - 914647047 Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Carlos Sequeira, Luís Filipe Borges, Vírgina Ferreira


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Jornal Universitário de Coimbra

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Ministério da Educação e Ciência

Nos últimos tempos, é cada vez mais notória a perda para o estrangeiro dos portugueses mais bem formados de sempre. Depois dos altos níveis de emigração nos anos 60 e 70 - por motivos e gerações diferentes -, a emigração repete-se e os jovens, depois de se formarem, não conseguem ser absorvidos pelo mercado. Depois de se apostar e canalizar fundos para uma formação de excelência, o Ministério da Educação e Ciência deve então apresentar propostas a longo prazo que tenham em vista fixar os recém-formados. Curiosamente, não parece ser essa a linha de raciocínio dos nossos governantes, que nos aconPág. 9 selham a emigrar. A.M.

Ministério dos Negócios Estrangeiros

Na passada semana, o presidente do Governo dos Açores, Vasco Cordeiro, deslocou-se aos Estados Unidos onde, segundo o Jornal Público, manteve “intensos contactos” após a decisão norte-americana de reduzir a presença militar na Base das Lajes. Com esta decisão, cerca de 300 trabalhadores da Ilha Terceira são atirados para o desemprego. Porém, o que é de estranhar neste processo é a falta de transparência no diálogo mantido entre a administração americana, o Governo Regional e o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Urge assim pensar numa alternativa para estas pessoas que perderam os seus empregos e mostrar solidariedade com os trabalhadores. A.M. Pág. 12

AndA dAí! por rafaela Vilão

Vice-reitoria para as Instalações

Sempre com a vontade de citar e mostrar percentagens de boas classificações internacionais, a UC continua a enunciar a excelência dos seus resultados. Ainda assim, parece não oferecer aos seus estudantes – os responsáveis por esses mesmos resultados – as condições necessárias para os obter. É sabido que quando aperta a época de exames, as maratonas de estudo se prolongam noite dentro. Mas onde estudar à noite? Os espaços oferecidos pela UC são escassos e os que existem partiram da força dos alunos. O vice-reitor para as instalações, Vítor Murtinho, descarta-se desta responsabilidade e pede iniciativa dos estudantes. E iniciativa do Pág. 4 vice-reitor? A.M.

200 x 100 Décima sexta hora do dia. Vagueiam pela cidade em passos vagarosos e despreocupados. Sem destino definido, sem mapa nem roteiro. Atravessam ruas e ruelas, de mãos dadas, dedos enleados. Olham-se nos olhos tentam ver o mais fundo possível. Têm conversas amenas ou profundas, riem com franqueza e ela repousa suavemente a cabeça no ombro dele. Esboçam rascunhos de um amanhã perfeito. Conjecturam o futuro, fazem previsões e promessas - juram ocupar as duas metades de uma mesma cama. Garantem que hão-de viver sob o mesmo tecto. Vão dando infinitos nós aos fortes laços que os unem. No encerrar de cada dia, no início de cada noite, têm-se um ao outro, não importa o quão longe estejam. Sabes, hoje sonhei contigo. Acordei com desejo de te amar.


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