Edição 293 Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

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11 DE DEZEMBRO DE 2018 ANO XXVIII Nº293 GRATUITO PERIÓDICO DIRETOR PEDRO DINIS SILVA EDITORES EXECUTIVOS LUÍS ALMEIDA E DANIELA PINTO

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Eleições AAC marcadas por controvérsia

Da suspensão do processo eleitoral à abertura das urnas, as entidades envolvidas discorrem sobre toda a polémica PÁG. 11-13

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ENSINO

CULTURA

DESPORTO

CIÊNCIA

CIDADE

De saída, o reitor fala dos vários tópicos que marcaram o mandato. João Gabriel Silva deixa conselhos ao sucessor

A Orxestra Pitagórica saltou do palco para desfraldar a sua história. “Não se conhece, vai-se conhecendo”

Desporto adaptado tem sido aposta de campanhas à DG/AAC, mas o passo pode vir a ser dado por um estudante

Síndrome de Burnout provocada em ambientes profissionais e académicos leva ao esgotamento mental

Marisa Matias, deputada do BE no Parlamento Europeu, fala sobre o Orçamento Europeu para 2021-2027 HUGO GUÍMARO


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REITORIA ESPERA ABRIR CANTINAS AMARELAS EM 2019 Reabilitação da infraestrutura conta com oferta de “um serviço mais diversificado”, declara a reitoria. Proposta passa pela possibilidade de um horário de funcionamento alargado

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Reitoria da Universidade de Coimbra (UC) prevê a reabertura das Cantinas Amarelas, no início do próximo semestre. O edifício, construído no início dos anos 80, manteve-se em funcionamento até 2013. No entanto, a falta de condições e a dificuldade em realizar obras, durante o período escolar, levaram ao encerramento da infraestrutura. O motivo na base do fecho de portas f o i a necessidade de requalificar de forma completa as instalações. As obras de requalificação do projeto estão a ser suportadas na totalidade pela UC e o valor adjudicado é de aproximadamente 700 mil ­e uros. Esta in-

- POR PAULO CARDOSO E INÊS CASAL RIBEIRO -

tervenção revela-se como o maior investimento dos últimos 30 anos realizado pela instituição em serviços de restauração para os estudantes, conforme informação disponível da universidade. Segundo a reitoria, o edifício, que se encontra em obras desde 2016, encerrou pela “falta de condições das instalações, que estavam muito degradadas”. Embora não se tenha comprometido com uma data concreta, o reitor da UC, João Gabriel Silva, anunciou, em fevereiro de 2017, a reabertura da unidade alimentar no ano letivo seguinte. A razão que justifica a dificuldade em recomeçar uma nova etapa na

história desta cantina é “o enorme atraso do empreiteiro”, esclarece a reitoria. No entanto, esta prefere “que seja o empreiteiro responsável pela obra a terminá-la”, visto que a mudança de empresa viria “tornar o processo ainda mais demorado”, acrescenta. As cantinas vão reabrir em duas fases. A reitoria espera que a primeira etapa de abertura aconteça no início de 2019 com “serviço de cafetaria e baguetes”. Conta ainda, alguns meses depois, poder apresentar “uma oferta mais diversificada para a comunidade estudantil”. A UC proporciona, no conjunto dos seus espaços de alimentação, uma oferta variada. Desta forma, a nova estrutura vai dirigir-se aos estudantes com outro tipo de propostas, enquanto as restantes cantinas se vão focar no prato social. As Cantinas Amarelas vão funcionar segundo novos moldes. “Assegurar aos estudantes um horário de funcionamento alargado”, que inclua todas as refeições diárias, “é uma finalidade”, enfatiza a reitoria.

HUGO GUÍMARO

URKUND: O SEGREDO DA DETEÇÃO DE PLÁGIO NA UC UC já puniu 77 alunos, 58 por fraude e 19 por plágio. Sanções variam de acordo com as infrações cometidas

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‘software’ URKUND, adquirido pela Universidade de Coimbra (UC), é uma ferramenta de deteção e verificação de plágio que entrou em vigor no ano letivo passado. O sistema de origem sueca trabalha a nível de comparação textual e já permitiu contabilizar alguns dos casos agora revelados. No entanto, os números apresentados dizem respeito a um período de cinco anos. O programa está inserido na plataforma InforEstudante e limita-se a detetar semelhanças entre trabalhos submetidos e outros textos que já se encontrem na base de dados. “O URKUND trata-se de uma intervenção pedagógica e não só de um método de punição”, explica o reitor da UC, João Gabriel Silva. O objetivo é alertar para a violação dos direitos de autor e consciencializar os alunos de que “a entrega de informação que não é sua é considerada roubo”, afirma. O projeto visa auxiliar os docentes a economizar horas de trabalho, pois resulta como um mecanismo de ajuda. No entanto, não determina o veredito final. “A ferramenta assinala

- POR MARIANA NOGUEIRA E DIANA RAMOS -

conteúdo suspeito e depois é o docente quem decide se é plágio ou não”, salienta o reitor da UC. Adianta que “o olho do professor” continua a ser fundamental, dado que é ele quem identifica grande parte dos casos. O ‘software’ permite uma “intervenção mais precoce” no que pode vir a ser considerado plágio. “URKUND é um serviço comprado pela UC, visto que a instituição não conseguiria criar um sistema próprio com uma base de dados tão abrangente”, acrescenta João Gabriel Silva. Apesar de ser um suporte consistente em língua portuguesa, ainda não tem a dimensão da base de dados em inglês. Os trabalhos ficam guardados no sistema e são mais tarde comparados a textos de diversas áreas, nas várias partes do mundo. O reitor da UC aponta que “o problema do ‘software’ é a sua linearidade, pois limita-se à comparação textual”. Para o mesmo, o sistema deteta “falsos negativos e falsos positivos”, ou seja, existem casos de plágio que o programa não encontra e outros que verifica de modo incorreto. Exemplifica que quando um estudan-

te cita uma fonte de forma correta, o sistema continua a ver o texto original e a assumi-lo como cópia. Apesar destas falhas, João Gabriel Silva acredita que o investimento é viável e justifica assim o valor que ronda os cerca de 30 mil euros anuais pagos pela licença. Cabe ao Senado definir um padrão na aplicação das penas. Dos 77 alunos punidos, 58 foram por fraude e 19 por plágio. As sanções aplicadas aos infratores podem variar conforme a infração cometida. Caso o aluno seja apanhado a copiar num exame, para além de reprovar à disciplina, está sujeito também à suspensão das épocas de exames de todas as cadeiras. Se for detetado plágio em trabalhos seus, o semestre em questão fica anulado. Se reincidir, ou seja, voltar a cometer a mesma infração quando já foi punido, é suspenso durante dois anos. “O objetivo não é castigar, mas as infrações cometidas devem ser penalizadas”, esclarece o reitor. Conclui que “o mundo ideal é aquele em que ninguém é apanhado, porque ninguém comete plágio”.


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“SE A UC QUISER UM FUTURO À ALTURA DO SEU PASSADO, TEM DE ACEITAR O DESAFIO DO MUNDO”

Sentado de forma descontraída num dos gabinetes da reitoria, casa que o acolheu nos últimos oito anos, só a profissional rigidez da gravata contrasta com o sorriso com que recorda os dois mandatos enquanto reitor da Universidade de Coimbra (UC). A poucos meses de abandonar o cargo, João Gabriel Silva deixa uma mensagem à academia: a internacionalização - POR MARGARIDA MANETA E MARIA FRANCISCA ROMÃO -

Qual foi o pensamento que teve quando entrou no seu gabinete pela primeira vez? Já não me recordo, mas sei que houve uma dúvida que me acompanhou: “serei capaz de fazer um bom trabalho?”. Sempre pensei que, se não conseguisse, não valeria a pena. Agora que a UC é a instituição de Ensino Superior (ES) mais internacional no país, está financeiramente mais equilibrada e tem um aumento da atividade desportiva e cultural, saio satisfeito. Não foram anos fáceis e ainda há muito para fazer, mas a universidade funciona melhor do que quando entrei. Pode desenhar uma cronologia dos momentos mais marcantes destes anos? Descobrir que tinha a Troika pela frente foi

sem dúvida um momento marcante. Quando me tornei reitor, encontrei uma situação desequilibrada agravada pela ação da Troika. Por isso é que, quando aqui entrei, tinha cabelos escuros e, agora, tenho cabelos brancos (risos). Também me vem à memória o empenho que tivemos na recuperação do Teatro Académico de Gil Vicente, que estava quase a deixar de funcionar. Ainda no plano cultural, destaco o reforço orçamental que injetámos na Semana Cultural da UC, mesmo sem receber um cêntimo do Estado para suportar iniciativas culturais. Encontrámos energias para responder às contrariedades do exterior, sem comprometer a academia. Mesmo com cortes orçamentais, o dinheiro que a UC dá à Associação Académica de Coimbra (AAC) nunca diminuiu e, em certas alturas, foi reforçado. Os Jogos Europeus Universitários 2018 (EUG2018) são também um episódio incontornável desta cronologia que me faz acreditar que a UC tem futuro, porque foi toda a comunidade que o construiu. Na cerimónia de abertura dos EUG2018, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, expressou o desejo de que os jogos fossem “um exemplo da cultura universitária e dos valores olímpicos”. Considera que tal aconteceu? Sem dúvida. Prova disso é o facto de o reitor da UC representar toda a Europa no Conselho Consultivo Académico da Federação Internacional do Desporto Universitário. Os jogos foram um sucesso tão grande que todos os países ficaram interessados em saber qual era o nosso segredo. Juntámos 4 mil atletas e quase 400 universidades sem gastar centenas de milhões de euros. Promovemos uma ligação profunda entre a UC e os estudantes e, como tal, vivemos um espírito olímpico puro. A UC é vista como o principal motor de turismo em Coimbra. Também dinamiza outros setores da cidade, como a economia e a cultura? Se retirássemos as atividades económicas e culturais associadas à UC, sobravam poucas iniciativas em Coimbra. Ao pensar nas empresas da cidade vocacionadas para o futuro e para a exportação, parece-me que todas saíram das nossas faculdades. Assim como o conhecimento avançado e a investigação que sustentam o próprio Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). Sem ele, o CHUC seria apenas um hospital distrital como qualquer outro. Coimbra é, por isso, uma cidade universitária plena. JÉSSICA GONÇALVES

Que caminhos é que considera que uma das universidades mais antigas do mundo tem de percorrer para se adaptar aos desafios do presente? O caminho que a leve a mergulhar no desafio de ser uma universidade global. Não podemos viver apenas para a cidade. Devemos olhar mais longe, quer em termos de atratividade internacional, quer quanto ao conhecimento produzido. Se uma universidade não primar pela qualidade, os estudantes encontram outras alternativas. Assim, precisamos de grandes professores. Tenho aumentado a exigência dos critérios de seleção dos docentes. Não se pode contratar aquele que é próximo. Tem de se contratar quem tem mérito. Como é que encarou a descida da UC no Ranking de Xangai? Como um acontecimento que foi ampliado pelos meios de comunicação nacional de forma pouco justa. Todas as instituições têm oscilações nestas listas. Quando a UC entrou no Ranking de Xangai, não houve notícias. Acredito que seja porque a nossa universidade faz sombra a outras pela idade, história e relevância que tem. A UC é a mais internacional das universidades portuguesas, a que consegue atrair mais gente. Este foi o ano em que noticiaram a descida da propina máxima dos estudantes nacionais. Como é que encarou esta proposta do Orçamento do Estado (OE) 2019? Acho que é demagogia. Para permitir que as pessoas sem condições financeiras cheguem ao ES, temos de concentrar nelas os recursos limitados que existem. Aplicar as mesmas medidas a quem precisa e a quem não precisa é o mesmo que não fazer nada. Quase ninguém passa a poder ingressar numa universidade por 200 euros de diferença. Pela proposta do OE de 2019, as instituições de ES devem ser compensadas pela perda de receitas correspondente. Acredito que isso aconteça, mas não de forma total. O que o espera quando sair daqui? Vou dormir durante dois meses (risos). Depois desse tempo, volto a ser professor. Gosto da interação com os alunos, mas já não dou aulas há dez anos. Também quero retomar a área da investigação. Portanto, “bom filho a casa torna”? Sim, volto para Engenharia Informática sem qualquer hesitação. Tem alguma mensagem que gostaria de deixar ao futuro reitor? Se a UC quiser ter um futuro à altura do seu passado, um futuro que nos orgulhe, tem de aceitar o desafio do mundo, não se pode fechar. Tem de ser uma universidade internacional.


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ÓRGÃO MÁXIMO DA UC EM ELEIÇÕES Votação para os representantes dos estudantes no Conselho Geral aproxima-se. Candidatos temem taxas altas de abstenção - POR NINO CIRENZA, RITA FERNANDES E PATRÍCIA SILVA -

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o dia 11 de dezembro, são eleitos os representantes dos estudantes dos 1º e 2º ciclos de estudos e de 3º ciclo de estudos para o Conselho Geral (CG) da Universidade de Coimbra (UC). A eleição do mandato de dois anos para o órgão máximo de gestão da UC antecede “momentos decisivos para a instituição”, reflete Rafael Duarte, um dos atuais representantes dos estudantes dos 1º e 2º ciclos. “O CG vai ter pela frente a eleição de um novo reitor e a viragem para uma nova década”, acrescenta. Para Renato Pires, também representante dos estudantes dos 1º e 2º ciclos, o cargo que desempenha no CG implica harmonizar os interesses dos alunos, dos professores e de entidades externas. Já o representante dos estudantes do 3º ciclo, Luís Bento Rodrigues, frisa os desafios de um Ensino Superior (ES) numa universidade cada vez mais internacional, como a UC. Os três estudantes apontam a falta de conhecimento do corpo estudantil como a principal causa das elevadas taxas de abstenção nas votações. Rafael Duarte afirma que “as eleições para o CG ocorrem ao mesmo tempo que as de muitos outros órgãos”. Reconhece que, por isto, “torna-se mais difícil divulgar informações”. O órgão soberano da UC O Conselho Geral é o órgão de maior poder de decisão dentro da UC. É constituído por 35 membros, dos quais 18 são representantes dos professores e investigadores, cinco representam os estudantes (os alunos de licenciatura e de mestrado têm quatro representantes e os de doutoramento um) e dois representam os funcionários não docentes e não investigadores. O CG inclui ainda dez personalidades externas à UC. Cabe a este organismo “funções de ordem orçamental”, refere o presidente da Comissão Eleitoral do CG, Carlos Gonçalves. Entre elas, destaca a competência para aprovar os orçamentos da UC e as propinas dos estudantes. Outros dos seus poderes são a destituição dos diretores das faculdades e a eleição do reitor. Carlos Gonçalves explica que os membros do CG são eleitos em listas, diferenciadas para estudantes, docentes e funcionários. “Todos aqueles que pertencem à universidade podem eleger esse colégio restrito”, esclarece. A próxima eleição para o CG é encarada com seriedade pelo presidente da Comissão Eleitoral, que a considera “muito importante para o futuro da instituição”. Carlos Gonçalves menciona que o primeiro desafio para a seguinte gestão vai ser a votação do novo reitor, no dia 11 de fevereiro.

NINO CIRENZA

Um balanço de olhos postos no futuro Os representantes dos estudantes analisam o anterior mandato de forma positiva. Renato Pires afirma que o mandato foi ao encontro das ideias que defendia na candidatura. Comemorou a redução das propinas do 1º ciclo, prevista no próximo Orçamento do Estado, mas criticou o aumento do valor a pagar pelos estudantes do 2º ciclo. Rafael Duarte classifica o facto de “mais pessoas terem ficado a saber o que se faz no CG” como um “passo importante”. Apesar disso, lamentou não ter conseguido alterar o Estatuto do CG. O representante explica que, de quatro em quatro

anos, “existe um período de alguns meses em que o órgão não funciona”. Acrescenta que tal “é grave porque pode mesmo colocar em causa o futuro da universidade”. Neste sentido, Rafael Duarte defende que a proposta de alteração do Estatuto do CG “deve voltar para cima da mesa”. “O mandato só deve terminar quando o seguinte tiver condições para assumir o cargo”, conclui. “Os objetivos mais importantes foram cumpridos com sucesso”, declara Luís Bento Rodrigues, ao refletir sobre um mandato que se pautou pelas lutas sociais dos estudantes de doutoramento. “Não é possível acreditar num ES que exclua os estudantes de 3º ciclo por razões económicas”, argumenta. Aponta este motivo como a grande causa de abandono escolar. Luís Bento Rodrigues acredita que, “passados estes dois anos, os órgãos de governo da UC têm mais em conta as opiniões e posições da comunidade estudantil”. No entanto, lamenta a falta de colaboração na instituição. “Das duas vezes em que procurei comunicar com os doutorandos, as tentativas foram-me vedadas pela UC”, esclarece. Entre os representantes é consensual que a vitória do “não” ao Regime Fundacional representa uma luta para um ES livre e democrático. “Foi possível garantir que a UC não passasse a Fundação”, explica Renato Pires. As lutas do próximo mandato O desejo “de uma revisão final do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior” é assumido por Rafael Duarte. “É um documento desatualizado”, justifica. Por encararem a eleição do reitor como um momento chave, os representantes dos estudantes consideram ser esta a altura ideal para reacender antigas lutas. “O próximo mandato deve ser rico em novas ideias e novas propostas”, reitera Rafael Duarte. Renato Pires defende que “a UC tem de passar de universidade regional a nacional”. Sugere, por isso, a luta pela melhoria das salas de aula, por uma maior qualidade de ensino e atratividade. “Muitos dos estudantes da academia coimbrã acabam por fugir para outros centros por não haver emprego na região”, lamenta. Luís Bento Rodrigues reflete sobre uma mudança de escala que vai além do nacional. Ao reconhecer a “internacionalização crescente da UC”, adianta um dos desafios que a instituição deve abraçar: a multiculturalidade. Eleições Com as eleições à vista, três listas de 1º e 2º ciclos e duas listas de 3º ciclo apresentaram as suas candidaturas. O presidente da Comissão Eleitoral do CG garante que o calendário está a ser cumprido e que o processo eleitoral, definido por um regulamento, está a decorrer “de forma normal”. Das cinco listas apresentadas, duas são recandidaturas. Rafael Duarte volta a apresentar-se como candidato para o 1º e 2º ciclos pela lista C, bem como Luís Bento Rodrigues, que representa a lista D para o 3º ciclo. As novas candidaturas para 1º e 2º ciclos do CG são encabeçadas por Daniela Rosa, representante da lista D, e por João Ferreira, pela lista P. Já para 3º ciclo, a segunda candidatura é a de Marcela Uchoa, da lista M.


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ORXESTRA PITAGÓRICA: ENTRAM DE FRALDA, SAEM DE GATAS Com um bidé e uma sanita se faz uma orquestra. Mas não uma orquestra qualquer, só a Orxestra Pitagórica. Segredos com 128 anos continuam a desafiar a academia - POR LEONOR GARRIDO E MARIA SALVADOR -

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m 1890 surge, por iniciativa de Diogo Polónio, a Xaranga Pitagórica, um grupo académico burlesco. Anos depois, renasce como Orxestra Pitagórica e continua a criar algazarra até aos dias de hoje. Malta do “grupio da gaita alegórica” fala das suas experiências enquanto “pitagóricos”. “Tem sido duradoura, interessante e diferente de ano para ano”, constata Manuel Pinheiro, conhecido como “Natural” dentro do grupo, licenciado em Educação Física na Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra (UC) e atual estudante de Jornalismo e Comunicação na Faculdade de Letras da UC. Admite ainda que “este é um grupo que se recria e também é a marca mais sexy de Coimbra”. Ligado à Real República Ay-Ó-Linda até cerca de 1981, o grupo passou então a pertencer à Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra (SF/AAC). Apesar desta mudança, o objetivo permaneceu sempre o mesmo: “gozar com determinados assuntos e satirizar a atualidade, seja a vida académica ou o quotidiano”, refere Manuel Marques, conhecido por “Canholas”, estudante de Economia da Faculdade de Economia da UC. A geração atual admite saber pouco sobre a antiga história da Orxestra Pitagórica. “Antes dos anos 80, mesmo para a malta da SF/AAC, a história perdeu-se. Não há registos”, informa Manuel Pinheiro. A irreverência dos seus êxitos torna a Orxestra conhecida dos estudantes de Coimbra mesmo antes de ingressarem na UC. “Já conhecia a música “Eu Quero Cagar” desde a primária, mas não sabia o que era a Pitagórica”, conta “Natural”. A dinâmica que envolve o grupo faz com que este seja visto com maus olhos pelos mais conservadores. Alguns dos atuais membros admitem que, ao conhecer o ambiente da Pitagórica, a imagem que tinham mudou. “Penso que a impressão que passa é a de que a malta da Pitagórica tem fama de ser muito boémia e pouco ligada aos estudos”, afirma Manuel Marques. Por isso, revela que ficou surpreso ao perceber que até eram pessoas bastante inteligentes. O grupo mantém em segredo o processo pelo qual têm de passar aqueles que pretendem entrar. “Natural” afirma que é só aparecer às terças e quintas nos ensaios e que, a partir daí, é com eles. No entanto, não podem revelar mais. “O segredo da Coca-Cola também não se revela”, acrescenta Ângelo Sacras, mais conhecido pelos seus colegas pitagóricos por “Beltrano”, estudante de Engenharia Química na Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC). Ângelo Sacras revela também que “quando as pessoas entram para a Pitagórica há toda uma parte burocrática. Quem entra tem de fazer uma entrevista, bem como criar um instrumento e uma letra, mesmo que esta nunca chegue a ver a luz do dia”. A sanita, o adegofone e o autoclismo são algumas das criações que passaram a animar os fãs dos “pitagóricos” em todos os espetáculos. À semelhança da singularidade da Orxestra, a forma como se apresenta ao público também

está longe de ser comum. A divisão ímpar dos instrumentos em duas categorias torna única a sua forma de atuação. “Há os sérios, que são os instrumentos musicais propriamente ditos, e os seríssimos, aqueles que tornam a Pitagórica a Pitagórica”, explica “Canholas”. Também rituais de vestuário, como utilizar a roupa do avesso e submeter os “caloiros” a atuar de fralda, permitindo-lhes adquirir uma nova peça de roupa com o passar do tempo, são imagens de marca do grupo. Ângelo Sacras refere que “a Pitagórica tem a função que as pessoas querem que a Pitagórica tenha”. Na sua opinião, o grupo existe para falar por quem não tem voz. “Alguém tem de falar, alguém tem de conseguir ser tudo e ao mesmo tempo não ser nada. Alguém tem de fazer o impensável e tocar o intocável”, acrescenta Guilherme São Pedro, conhecido por “Inédito” e estudante de Engenharia Mecânica na FCTUC. Os membros do grupo constatam que é difícil estimar um número certo de concertos em concreto, visto que “depende de semestre para semestre”. Apesar de um relativo crescimento face aos anos anteriores, o auge de apresentações da Pitagórica deu-se na década de 1990. “Já ouvi dizer que, antigamente, a malta mal tinha tempo para estudar porque era dia e noite”, acrescenta Guilherme São Pedro. Esta prospe-

ridade resultou do lançamento do único álbum do grupo, “a2+b2=c2”. Ainda que o número de atuações tenha vindo a aumentar, o grupo não se sente valorizado dentro da AAC. “Sentimos que lá fora somos muito mais reconhecidos do que pela academia”, revela o membro conhecido por “Inédito”. Os integrantes contam alguns dos episódios em que sentiram a diferença no acolhimento. “Já fomos tocar a sítios em que chegávamos ao pé de uma tasca qualquer, mostrávamos a pulseira, choviam cervejas, chovia pão... Aqui não temos esse tratamento”, completa Ângelo Sacras. Mulheres na Pitagórica? Sim! Os membros apelam à coragem do público feminino. Apesar de ser um grupo misto, contam que existiram apenas duas integrantes femininas na sua história, a última há cerca de dez anos. No entanto, “se elas não puderem entrar na Pitagórica, que deixem a Pitagórica entrar dentro delas”, brinca “Natural”. Para descrever o grupo, Manuel Pinheiro afirma que “a Pitagórica contraria as probabilidades”. Ângelo Sacras acrescenta que, “por muito impossível que uma coisa seja, se aparecer a Pitagórica, pode acontecer”. Guilherme São Pedro deixa no ar: “a Pitagórica não se conhece, vai-se conhecendo”. ARQUIVO


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UMA EXPLOSÃO DE SABORES MUSICAIS COM SPICY NOODLES As artistas contam como surgiram no panorama musical português. Duo traz tempero retro ao quotidiano moderno - POR MARIA LUÍSA CALADO E GABRIEL REZENDE -

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m projeto que nasceu há dois anos e toma, hoje, novos rumos. Spicy Noodles é a dupla formada pela portuguesa Filipa Bastos e pela brasileira Érika Machado. Pautado pelo estilo e visual excêntricos, o duo pretende lançar, no próximo ano, o seu primeiro álbum de estúdio. As artistas definem o estilo da banda como “um pequeno caos em que depois se acha ordem” e constroem as suas músicas por intuição. Foi numa residência artística no Alentejo que deram forma ao projeto. “Recolhemos apontamentos que depois se transformaram em músicas e vídeos”, conta Filipa Bastos, teclista e baixista do duo. Explica que ficaram três meses nas vilas de Ourique, Aljustrel e Almodôvar. “‘Leve Leve’ foi a primeira música que escrevemos. Viemos do Brasil cheias de coisas que mal conseguíamos carregar. Apesar disso, chegámos super leves”, acrescenta Érika Machado, vocalista e guitarrista. A dupla ainda não tinha nome durante o seu primeiro concerto. No entanto, para Érika, “correu super bem”. A ideia só viria tempos mais tarde, enquanto estavam a comer ‘spicy noodles’, ainda na residência artística. Nenhuma das duas se recorda ao certo de quem partiu a ideia. “Uma amiga coreana já tinha trazido alguns sacos e gostámos imenso. Fazia sentido por causa da explosão de sabores”, narra a vocalista. Quotidiano em imagens musicadas “As pequenas experiências do dia-a-dia” têm sido o ponto de partida para a obra da dupla. Na música “Paisagem da Varanda”, retrata-se a diferença entre a tranquilidade da vila e o caos da metrópole. “Antes morávamos em São Paulo, no 23º andar, com helicópteros

FOTOGRAFIA GENTILMENTE CEDIDA POR SPICY NOODLES

a passar à janela. Quando chegámos a Ourique, conseguíamos ouvir os sons da bola de bilhar do café em frente à nossa casa. A letra é simples: ‘Meus olhos param na rua que passa/Mas nela não passa ninguém/Não passam donzelas nem mesmo soldados/Ninguém vai, ninguém vem’”, recita a vocalista, num tom entusiasmado. Outra diferença evidente para o duo é que, “em Portugal, é difícil viver só da música, porque há muito menos incentivos para bandas independentes”. A vocalista das Spicy Noodles afirma que “há pouco espaço para os artistas médios, pois o mercado musical dá preferência aos grandes nomes”. Apesar disso, ambas reconhecem que ainda existem eventos que abrem espaço para essas bandas. “Vamos fazer um concerto em janeiro com uma banda, também independente, os Birds Are Indie”, acrescentam. Se, por um lado, Érika afirma ter mais ligações a referências da música brasileira, como Pato Fu e Arnaldo Antunes, por outro, Filipa tem mais contacto com os portugueses Clã e Sérgio Godinho, mas o intercâmbio entre culturas persiste. “Sempre ouvi muita música brasileira e a Érika também teve contacto com a música portuguesa por já ter trabalhado bastante com Pato Fu, que é parceira da banda Clã”, diz a teclista e baixista do duo. Já Érika Machado acredita que têm muitas influências, pois ouvem “um pouco de tudo”. Nas músicas “simples“, como diz Érika, imperam os sons sintéticos, que compõem a atmosfera retro procurada. “Queríamos mesmo esse som plástico, quase de brinquedo, do teclado, que se conjuga com a estética que já vem de outros trabalhos”, confessa Érika. Filipa acredita que “existe uma ligação entre os robôs, os desenhos em

‘pixel’ e os videojogos. Por isso, é um projeto de música que também passa pelo elemento visual”. Pragmatismo vs. olhar a ‘bold’ As artistas temperam as músicas com a sua própria visão do mundo. Filipa conta que “a Érika é muito criativa, tem um olhar único e a ‘bold’ do mundo”. Para a brasileira, a pragmatismo, as boas ideias e o perfecionismo da parceira fizeram com que a banda fosse adiante. Contudo, o trabalho em conjunto traz dificuldades. “Em algumas coisas somos muito iguais, em outras muito diferentes e, como não há um terceiro para o desempate, uma tem de convencer a outra”, finaliza Érika, a inundar a sala com risos. “Sempre tive um trabalho muito solitário, em que assumia todos os riscos e dominava todo o trabalho que produzia”, revela Érika. A artista foi uma das poucas que seguiu um caminho diferente do habitual. “Toda a gente tem uma banda e depois faz o trabalho em nome próprio. Acho maravilhoso nunca estar sozinha num projeto”, continua a mesma, em tom entusiasmado. Já Filipa, em palavras breves e expressivas, afirma que “é fantástico ter uma parceira de vida e poder partilhar com ela uma banda”. Quanto ao novo álbum, que se encontra em processo de criação e que deve ser lançado em 2019, as Spicy Noodles expressam frustração. “Temos trabalhado intensamente, mas, com pesar, acabámos de perder três músicas, porque invadiram a nossa casa, roubaram-nos o computador e não tínhamos feito o ‘backup’”, explicam as artistas. “Ainda estamos a tentar reorganizar tudo”, admite Filipa. Entretanto, acreditam que o disco vai ser uma reunião das músicas feitas desde aquela residência no Alentejo.


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PASSOS DE COIMBRA NO CAMINHO DO CINEMA PORTUGUÊS Dificuldades do cinema português apontadas no Festival Caminhos. Especialistas apelam aos espectadores para a visualização de filmes nacionais - POR VASCO BORGES E MARIA MONTEIRO -

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om a realização da XXIV edição do Festival Caminhos do Cinema Português em Coimbra, as atenções voltam-se para a produção nacional e para a contribuição de Coimbra para o panorama cinematográfico de Portugal. Ao longo da semana, foi exibido o mais recente trabalho do cineasta conimbricense António Ferreira, “Pedro e Inês”, que também foi rodado na cidade. A situação do cinema em Portugal foi alvo de reflexão durante a semana do festival. Segundo Tiago Santos, coordenador do Centro de Estudos Cinematográficos da Associação Académica de Coimbra (CEC/AAC), a principal característica da produção cinematográfica portuguesa é a “diversidade”, pois apresenta-se em vários géneros e não está presa a uma única vertente. António Ferreira realça a importância de apelar ao público para não “colocar tudo no mesmo saco” e para valorizar a variedade de estilos. Contributo da cidade para o cenário português O Caminhos do Cinema Português é hoje um dos mais importantes festivais cinematográficos do país. Todos os anos se torna montra a do cinema português contemporâneo. O crescimento do festival é notório pelo aumento do número de inscrições e da quantidade de filmes exibidos de ano para ano. “Passou de 130 para 193 filmes”, conta o coordenador do CEC/AAC. Contudo, a organização aponta dificuldades no que diz respeito aos financiamentos disponíveis e à incapacidade de profissionalizar uma equipa a tempo do evento. A impossibilidade de aceder a meios tecnológicos superiores obriga os programadores a “fazer projeções de cinema em con-

texto amador”. A falta de tempo para formar e orientar voluntários reflete-se “do ponto de vista do acolhimento de convidados, da comunicação e da programação”, acrescenta. Para além do Caminhos, a cidade de Coimbra também contribui com os seus espaços, cursos, realizadores e narrativas. É a única cidade do país com dois cineclubes - o CEC/AAC e Fila K e com uma faculdade que oferece o curso de Estudos Artísticos, com uma componente de cinema. Também o CEC/AAC promove um curso de Cinemalogia, que conta com a participação de especialistas da área que “tem contribuído para criar novos cineastas”, conta Tiago Santos. No que diz respeito a narrativas, Fausto Cruchinho, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, enumera algumas temáticas como “a praxe, o amor de Pedro e Inês e a passagem de Camões por Coimbra”. Alguns nomes do cinema português também passaram pela cidade, tais como João Botelho, Raquel Freire e Tiago Cravidão. Um dos mais recentes contributos veio por parte de António Ferreira, natural de Coimbra, que tem filmado quase todas as suas obras na cidade. “Tenho essa coisa de gostar de filmar em casa, com uma equipa de pessoas que conheço, num ambiente familiar”, confessa o diretor. “Respirar - Debaixo de Água” (2000), “Embargo” (2010), e “Pedro e Inês” (2018) são exemplos da sua filmografia rodada na região. A sua mais recente produção, baseada num livro de Rosa Lobato de Faria, contou com “metade da equipa técnica de Coimbra e centenas de figurantes locais”. João Pais, membro do CEC/AAC e programador do festival, considera que o filme “é um

comercial adaptado a exigências de consciência literária e artística completamente diferentes do que se tem feito”. Acrescenta que António Ferreira “está a remodelar a noção de cinema comercial”. O programador do festival refere ainda que o sucesso de bilheteiras de “Pedro e Inês” prova que “os filmes feitos com um conceito americanizado estão a começar a falhar em Portugal”. Crise do cinema português e soluções Segundo Fausto Cruchinho, o cinema português é “pobre e não tem espectadores”, na medida em que os fundos investidos no cinema não são suficientes e, no geral, os filmes não são um sucesso de bilheteira pela pouca adesão do público. Por outro lado, na perspetiva de Tiago Santos, a crise no cinema também é de cariz cultural, pois falta aos espectadores portugueses “o hábito de ver filmes nacionais e a sensibilidade do olhar”. Completa ao dizer que os consumidores ficam pelo primeiro impacto que a imagem projeta ao invés de procurar outras leituras dos filmes que veem. Perante o declínio da atividade cinematográfica portuguesa, António Ferreira sugere que “a cinematografia ganhava ao fazer mais filmes, usando o mesmo dinheiro para favorecer um número maior de projetos”. Além disso, defende que se deveria obrigar quem opera no mercado a reforçar o investimento na produção e exibição das obras nacionais. Assim, para continuar a promover a sétima arte na cidade de Coimbra e estimular a indústria cinematográfica em Portugal, António Ferreira apela a que “as pessoas deixem os preconceitos e vejam filmes portugueses”.

MARTA EMAUZ SILVA


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ESCASSEZ DE ATLETAS REFLETIDA NA FALTA DE ESPAÇOS PARA SECÇÕES DESPORTIVAS Proposta do CD/AAC concentrada na passagem da propaganda do desporto associativo para o mundo ‘online’. Criação de feira desportiva como outra das principais opções

A grande maioria das secções desportivas sofre de falta de espaços”, confidencia o secretário-geral do Conselho Desportivo da Associação Académica de Coimbra (CD/AAC), Miguel Franco. O problema transversal inerente ao desporto associativo esteve para ser alvo de retalhos, mas surgiram obstáculos. “Há muito tempo que o CD/AAC analisava a hipótese de construir um pavilhão”, adianta o secretário-geral. “Foi nesse sentido que surgiu a ideia de garantir a concessão do Pavilhão Eng. Jorge Anjinho”, explica. O acordo da Direção-Geral da AAC com a AAC/Organismo Autónomo de Futebol, proprietária do espaço, tem validade de 25 anos e foi selado em abril passado. “Foi uma oportunidade que veio colmatar essa lacuna”, sublinha Miguel Franco. No entanto, “uma tempestade abrandou esse sonho”. E trazia às costas o nome Leslie. O secretário-geral esclarece que algumas das secções desportivas visadas têm potencial para ser financeiramente sustentáveis. Porém, “estão a acumular pequenas dívidas por causa da falta de espaços”, e tal “inviabiliza, por vezes, o crescimento saudável”. Ainda assim, “nunca se ponderou acabar com qualquer atividade desportiva da AAC”, frisa, não excluindo a noção de que “se poderia fazer mais”. “Ninguém quer entrar num clube sem equipa sénior” Miguel Franco contextualiza que, “quando se investe em formação, tem-se em vista que os jo-

- POR MIGUEL MESQUITA MONTES -

gadores cheguem a seniores”. Em modalidades amadoras, como as que estão em causa, “a formação é quem financia a equipa sénior, que regra geral é deficitária”, aponta. Por isso, gera-se uma bola de neve no caso de não haver onde treinar e, por conseguinte, de não haver quem treinar. Portanto, quando os atletas atingem certa idade, “ou mudam de clube ou deixam de jogar”, lamenta o secretário-geral. “A equipa sénior da Secção de Andebol da AAC (SA/AAC) é alargada e sólida, mas os escalões de formação ainda estão a crescer”, refere o presidente da SA/AAC, João Paulo Dias, ao relembrar a crise de há seis anos. A equipa de juvenis desta modalidade encontra-se inativa, “e tal é reflexo da falta de captação de então”, reflete o dirigente. Essa captação faz-se através de divulgação no Facebook, da distribuição de ‘flyers’ junto das escolas e de sessões de demonstração nas mesmas. O presidente explica que não haver expectativa de progressão no desporto leva ao abandono precoce ou à mudança de modalidade. “Existir equipa de seniores é uma obrigação que só deve ser abandonada em último caso”, garante. Tal hipótese teria consequências na formação e no potencial de angariação de apoios financeiros. A equipa sénior de Andebol funciona há quatro épocas, depois de ter estado encerrada, “e essa existência moraliza os jogadores que entram na secção”, assume João Paulo Dias.

“A cidade de Coimbra traz atletas de todo o país”, refere Miguel Franco. O mesmo acrescenta que a Académica é o clube que oferece aos jovens a oportunidade de continuar a prática desportiva que levavam nas localidades. Não obstante, o secretário-geral do CD/AAC assume que as instituições da casa estão a falhar na propaganda do desporto associativo. Soluções digitais para um problema físico “A partir do momento em que a Universidade de Coimbra (UC) quer investir no desporto associativo, a AAC deve ser o motor para tal. Deveria haver uma maior ligação entre ambos para se trabalhar mais em conjunto no sentido de captar atletas”, considera Miguel Franco. Embora “já exista um momento de captação no começo de cada ano letivo”, o CD/AAC demonstra interesse na transição do processo físico para o digital, afirma o secretário-geral. Apesar disso, salienta que a captação não deve ser feita apenas neste momento. “Da mesma maneira que existe a Feira de Emprego UC, também devia existir uma feira de desporto”, expõe Miguel Franco. Tal deve ser suportado, por outro lado, pela logística da UC, sugere o secretário-geral. A reitoria, em representação do Gabinete do Desporto da UC, declarou que a iniciativa de propaganda deve partir da comunidade estudantil e, portanto, prefere não comentar o assunto.

PRÓ-SECÇÃO: O NOVO DESAFIO DO FUTSAL E DA ACADEMIA Futebol de salão em processo de transição para formar secção. Neste momento, Futsal é a única pró-secção da Associação Académica de Coimbra

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or entre os Estatutos da Associação Académica de Coimbra (AAC), surge o conceito de pró-secção. Este termo, incomum na academia, procura ser uma transição pela qual as estruturas passam antes de se efetivarem como secção. A título de exemplo, a Pró-Secção de Futsal da AAC assume vir a provar a sua autonomia e sustentabilidade enquanto futura secção. Durante um período de um a dois anos, o projeto “vai ter de provar ao Conselho Desportivo da AAC (CD/AAC) que não só tem um plano sustentável como uma autonomia financeira comprovada”, explica o secretário-geral do CD/ AAC, Miguel Franco. O processo de transição inclui-se numa lógica de proteger a academia com a intenção de “salvaguardar que só avançam para secções os projetos viáveis”, assegura o secretário-geral da CD/AAC. Acrescenta que, apesar das dificuldades inerentes ao processo de formação, a academia tem “todo o prazer em torná-las uma secção da casa e abraçá-las como tal”. “A pró-secção não recebe nenhum financiamento do CD/AAC”, declara Miguel Franco. No contexto desportivo, “a pro-secção, mesmo que

- POR CAROLINA D’OLIVEIRA E PAULA MARTINS -

tenha mérito desportivo, enquanto tiver esse estatuto não vai receber nenhuma verba”, esclarece. “O objetivo da não distribuição de fundos por parte do Conselho Desportivo é garantir que a pró-secção seja, por si só, sustentável e não precise de um financiamento adicional”, acrescenta. Desta forma, as estruturas têm a oportunidade de procurar outras fontes de receita, como patrocínios e, assim, provar que são “ativos” neste processo.

MARTA EMAUZ SILVA

Gabriel Guimarães, jogador de Futsal pela Briosa nas competições universitárias e treinador da mesma modalidade na AAC, relembra que “na história da academia houve vários casos de secções desportivas que, após serem criadas, acabaram por gerar endividamento”. Uma das razões prende-se com “a sua falta de sustentabilidade”, clarifica. Para o jogador, as pró-secções são “uma boa forma de combater isso”. Futsal: a um remate de formar secção O Futebol e Futsal foram, até ao dia 16 de novembro, partes integrantes da mesma secção. O motivo da separação, segundo Miguel Franco, esteve nas diferenças entre dinâmicas e especificidades de cada modalidade. Reforça que “é mais eficiente construir uma direção para cada uma delas de forma a tirar mais valias e ter pessoas mais focadas e especializadas”. Assim sendo, o Futsal torna-se a única prósecção em vigor na AAC. Contudo, em nome do CD/AAC, Miguel Franco conclui que “existe todo o interesse em ver mais modalidades representadas”, enquanto pró-secções, em especial se disserem respeito a desportos que não se praticam dentro da casa.


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DESPORTO ADAPTADO NA ACADEMIA: COMO PROMOVER A INCLUSÃO SOCIAL? Criação de projeto para o desporto adaptado tem sido assunto nas campanhas eleitorais para a DG/AAC. Sonho de estudante pode ser importante para uma prática mais abrangente

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- POR JULIA LOPES E JOÃO M. MARECO -

SAMUEL SANTOS

ideário da casa preza a inclusão social e as secções desportivas orgulham-se da abrangência que as caracteriza. Contudo, a ausência de comunicação com o Núcleo de Estudos da Atividade Física Adaptada (NEAFA) da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra (UC), bem como o afastamento entre os estudantes e a Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), inviabilizaram o projeto. As palavras são da vice-presidente da DG/AAC encarregada pelo pelouro do desporto, Ana Fernandes: “Não houve uma comunicação com o NEAFA”. Explica que, “entre a AAC e a UC, não existe um conhecimento da quantidade de estudantes que querem praticar desporto adaptado”. Isto porque, apesar de a DG/AAC estar “sempre disponível” para o contacto com eles, “eles não nos procuram”, alerta a vice-presidente. Ana Fernandes relembra que a Federação Académica do Desporto Universitário não tem competições de desporto adaptado, “o que limita a oferta desportiva aos alunos com limitações psíquicas e motoras”. “Não saio daqui sem criar uma secção de desporto adaptado” Bernardo Alexandre Lopes, internacional de boccia, idealiza criar uma secção desportiva que transcenda o desporto universitário e que seja presença assídua nos campeonatos nacionais. O estudante de História da Arte na Faculdade de Letras da UC afirma que, em Coimbra, existe um grande número de atletas com mobilidade reduzida que vê a prática do desporto adaptado vetada. “Só há um sítio em Coimbra que é capaz de oferecer desporto adaptado: a Associação de Paralisia Cerebral (APC)”. Fundada em 1975, a instituição está sediada em Coimbra há 35 anos e incentiva a prática desportiva entre atletas com limitações físicas. Natação, tricicleta e boccia são algumas das modalidades existentes. O boccia é a mais antiga e que regista um maior crescimento em termos de resultados desportivos. O estudante alerta ainda para as falhas da cidade em termos de acessibilidade para todos os portadores de mobilidade reduzida. “É vergonhoso que nenhuma cantina tenha rampa e que uma cadeira de rodas não caiba num elevador”, expõe. Rentabilização dos recursos da casa As posições de Ana Fernandes e do secretáriogeral do Conselho Desportivo da AAC, Miguel Franco, convergem na defesa do aproveitamento dos recursos da casa. Argumentam que o desporto adaptado deve estar integrado nas secções desportivas já existentes. Assumem as lacunas comunicativas entre os estudantes e a DG/AAC, uma vez que a maior limitação deste projeto é a “reduzida aproximação aos estudantes”. Ambos realçam que, para criar uma secção, são necessários recursos humanos, de forma a garantir a continuidade da mesma. “Não adianta criar um projeto de desporto adaptado e abandoná-lo a meio do ano, visto que as pessoas envolvidas poderiam ficar desmotivadas”, relembra Miguel Franco.

Para o secretário-geral, o sucesso deste projeto passa por uma maior ligação entre as secções e os estudantes. “Primeiro, as secções devem tentar captar esse tipo de atletas através de alguma divulgação”, informa. De seguida, devem ser realizadas parcerias com instituições que acolhem pessoas portadoras de deficiência, e até mesmo com a Câmara Municipal de Coimbra. “Para além de fazer bem física e psicologicamente, é algo que os deixa felizes” Filipe Rosa, responsável pela Secção de Judo da AAC, enfatiza também a relevância das organizações para os familiares dos atletas: “É importante para os pais ter uma instituição que se preocupe com os filhos para que estes se sintam apoiados também”. Miguel Franco alerta para as sensibilidades inerentes a esta prática desportiva: “O desporto adaptado é muito particular, um treinador de uma modalidade não será obrigatoriamente um bom treinador dessa modalidade para o desporto adaptado”. A mesma opinião é partilhada por Filipe Rosa no caso do judo. Realça que “é necessário ter em conta uma metodologia desportiva adequada aos atletas que são portadores de deficiências distintas”. Para o responsável, a criação de condições propícias para os atletas, o seu bem-estar e a sua integração na sociedade são prioritários: “A prática desportiva é benéfica física e psicologicamente, e acima de tudo gera felicidade entre os atletas”. Falta de praticantes é um impedimento para o

desporto adaptado na AAC Anabela Marta, coordenadora da APC, reconhece que em muitos casos não existem recursos humanos e técnicos para acolher atletas portadores de deficiência. “É muito mais fácil levar um filho guiado pelo próprio pé para o treino do que levar um filho que está numa cadeira de rodas”, exemplifica. Contudo, a coordenadora é otimista no que toca à mudança de paradigma. Defende que as diferenças entre o desporto adaptado e o “normal” são diminutas, uma vez que o desporto adaptado tem uma maior importância na vida dos atletas, facilita a inclusão social e integração num grupo. Em Coimbra, esta oferta desportiva fica a cabo de instituições particulares de solidariedade social, ao contrário do que acontece no Porto e em Lisboa, onde instituições clubísticas potenciam o desporto adaptado. “O Futebol Clube do Porto e o Sporting Clube de Portugal oferecem várias modalidades de desporto adaptado”, conta. Desporto para todos Ana Fernandes rejeita a diferenciação entre o desporto “convencional” e o “adaptado”, uma vez que esta prática desportiva assume um papel de sensibilização para a comunidade no que toca às deficiências cognitivas e físicas. A AAC pretende acolher todas as pessoas que queiram praticar desporto sem olhar a diferenças intrínsecas à condição individual. “Os estudantes são sempre convidados a fazer parte deste projeto que é a AAC, de forma a sentirem-se envolvidos”, conclui Ana Fernandes.


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NORBERTO ALVES: “AS DECISÕES DAS PESSOAS ESTÃO AO NÍVEL DA SUA GRANDEZA” O técnico conimbricense, atual campeão nacional de basquetebol, iniciou a carreira no Olivais de Coimbra. Passagem pela Secção de Basquetebol da AAC foi um marco na história da academia

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- POR ANDRÉ CRUJO E DIOGO MACHADO -

uem se cruza com Norberto Alves tem uma oportunidade de desafiar a conceção do que é ser treinador de um clube desportivo. Com cabelo grisalho e postura calma, é reclinado na cadeira que abre a conversa. Fala do gosto por arte impressionista, que marca a sua identidade. À semelhança de Monet e Van Gogh, Norberto Alves preza distinguir-se no mesmo nível dos pintores. Dessa forma, para o treinador, cada jogador é uma tela. Com as mãos uma na outra e as pernas cruzadas, o ‘coach’ começa por explicar que a sua vida desportiva teve início no hóquei. No entanto, a mudança para o basquetebol, modalidade que define a sua carreira até aos dias de hoje, foi rápida. Ao sentir limitações enquanto jogador, notou que a sua postura era diferente dos demais em campo. Norberto Alves fazia observações acerca da qualidade de jogo dos colegas. “Via coisas que escapavam aos restantes”, diziam. “Olhava para o jogo com outros olhos”, lembra dis- traído, como se pensasse numa situação particular. Na

cidade dos estudantes, treinou uma equipa de iniciadas no Olivais de Coimbra. Surgiu assim o bichinho por ser treinador. Da universidade às quatro linhas Natural de Coimbra, viu-se obrigado a sair da cidade para seguir uma carreira desportiva. Esse objetivo foi cumprido na Universidade de Trás-osMontes e Alto Douro (UTAD). Nove anos da sua vida foram passados em Vila Real, cinco a estudar e quatro como assistente da instituição. “Diverti-me à brava!”, relembra, ao considerar esta uma das melhores alturas da sua vida. Mais do que isso, a cidade deu-lhe a conhecer a sua esposa. “Fui para Trás-osMontes casar uma transmontana”, revela. O seu trajeto exigiu que deixasse de ser professor para treinar basquetebol. Durante o curso treinou algumas equipas e conduziu uma delas à subida de divisão. A transgressão de patamar é uma “procura constante”, motivo que levou o treinador a sair da universidade para procurar um nível de exigência maior. Em 1997, sagra-se campeão de séniores femininos ao serviço do Olivais de Coimbra. Em 2003, assume o comando técnico da Secção de Basquetebol da Associação Académica de Coimbra (SB/ AAC). Após 13 jogos invicto, aceita o convite para treinar a equipa do Sport Lisboa e Benfica. O regresso à Académica veio afirmar o sucesso do coletivo. Nesse ano alcança o terceiro lugar do campeonato e as meias finais na Taça de Portugal. Em 2013, a SB/AAC “foi vice-campeã com um orçamento de segunda divisão”, frisa Norberto Alves.

“Eu aí percebi que era a sério” O Clube Recreativo e Desportivo do Libolo era uma equipa angolana “com bons jogadores que fez um estágio em Portugal” na mesma altura em que Norberto Alves treinava a SB/AAC. Num jogo de treino a equipa africana saiu derrotada pela Briosa, “que não tinha muitas estrelas”. Pelo final da época em que os estudantes se sagraram vicecampeões, Norberto Alves é hospitalizado. A falta de preocupação da instituição para com o treinador levou-o a optar pela saída. “As pessoas não estiveram muito bem comigo”, desabafa de forma apreensiva. A sua deceção levou o ‘coach’ a considerar deixar de ser treinador de basquetebol. Uma semana após a hospitalização, um telefonema com uma proposta de trabalho em Angola surpreendeu Norberto Alves. “Pensava que estavam enganados”, explica. “Vamos falando”, disse. Dispensou a chamada, sem grande consideração pela oportunidade que viria a aceitar. A seriedade do clube foi notória. O treinador é contactado uma segunda vez, e recebe a informação de que tinham aterrado na cidade do Porto com o objetivo de ir a Coimbra para conversar. “Aí percebi que era a sério”, confessa.

MIGUEL MESQUITA MONTES

Angola, a nova casa A vivência no país

africano despertou Norberto Alves para uma realidade em que “o que se considera mais básico pode não estar disponível”, partilha. “Carregar no interruptor e não haver luz ou não haver água potável é uma realidade”, explana. Ainda assim, o treinador conimbricense acredita que “se o projeto Erasmus não se restringisse a países europeus, uma experiência em solo africano seria muito interessante”. Adaptação é a palavra de ordem do treinador. Adaptação à cultura acima da imposição das próprias ideias. Norberto Alves pinta os seus quadros independentemente da tela. As obras são feitas à medida de cada uma e cada criação exprime algo diferente. “Não posso exigir a um jogador mais do que ele exige de si mesmo”, explica. Compara um treinador a um alfaiate, ao exemplificar que “um fato é feito à medida para cada jogador, a seleção do tecido e a cor a condizer”. Quando o técnico abandonou o comando do Libolo considerou que se despedia de “uma formação de topo em África”. O termo “nível” é mencionado pelo treinador com frequência. Dados os resultados que conseguiu, provou a si próprio que está num patamar que lhe confere distinção. É voraz na crítica que faz ao método dos restantes técnicos. Menciona que, “apesar de as suas estratégias serem diferentes e de discordarem”, isso não o incomoda. “Como normalmente ficam atrás de mim, eu não me importo nada com isso”, confidencia relaxado. A dissolução da equipa de basquetebol da AAC foi feita através de “desculpas pouco convincentes”. “As decisões das pessoas estão ao nível da sua grandeza”, considera o treinador. “Vencer ou perder em alta competição é desporto, mas vencer é mais” É assim que Norberto Alves se refere à sua cidade natal: “Coimbra era competitiva porque detinha o conhecimento”, explica. Segundo o professor, o facto de o saber se ter dispersado tira a região da posição de mérito que tinha atingido. Reinventar a cidade é “a chave para a sua recuperação”, através da aquisição de líderes com visão. “No desporto, o que temos de alta qualidade em Coimbra?”, questiona. Apesar dos problemas da cidade, não esconde o orgulho em ser conimbricense. Espera que “a Académica volte para a primeira divisão”. No entanto, para tal acontecer, considera essencial a AAC deixar de ser “uma instituição de 1960 em 2018”. Aos olhos de Norberto Alves, ser competitivo é tentar vencer o adversário mesmo com menos recursos. “Vencer ou perder em alta competição é desporto, mas vencer é mais”, sublinha. Tempo, talento e dinheiro O mote de Norberto Alves é simples e parece fruirlhe resultados. “Sem dinheiro não se contrata talento e sem talento não se vence”, explica. O treinador refere que, dada a evolução do basquetebol, são necessários “atletas mais inteligentes e, acima de tudo, autónomos”. Por isso, foca os treinos em preparar “os jogadores para que necessitem do mínimo de ajuda durante os jogos”. Acredita que os treinadores não alcançam o sucesso através do controlo sobre os atletas. O atual ‘coach’ da União Desportiva Oliveirense não acredita já ter atingido o topo da sua carreira ao realçar que “o ponto alto ainda não chegou”.


ELEIÇÕES AAC 2018: DA SUSPENSÃO DO PROCESSO À ABERTURA DAS URNAS 26 de novembro início da corrida às urnas

30 de novembro CF/AAC decide proceder à contagem quantitativa dos votos para comparar com a ata elaborada pela CE; CD/ AAC recorre da decisão

6 de dezembro CD/AAC abandona contagem quantitativa por presenciar “tentativas de justificar incongruências que deviam ser inseridas na margem de erro”

9 de dezembro Apuramento dos resultados à primeira volta

27 de novembro Noite Eleitoral – CF/AAC, CD/AAC e CE suspendem as eleições por “suspeita de fraude eleitoral”

4 de dezembro CF/AAC decide prosseguir com o processo apesar do recurso interposto pela CD/AAC; CF/AAC substitui o presidente da CE

8 de dezembro A globalidade da contagem não ultrapassa a margem de erro estabelecida pelo CF/AAC e Jorge Graça marca a contagem qualitativa dos votos para noite seguinte


11 DE DEZEMBRO DE 2018 CENTRAL - 12 -

COMISSÃO DISCIPLINAR DEFENDE ANULAÇÃO DESTAS ELEIÇÕES

João Leão argumenta que falta da ata com número de boletins inviabiliza todo o processo. Credibilidade dos dirigentes eleitos sai comprometida, garante

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ela primeira vez em funções, a Comissão Disciplinar da Associação Académica de Coimbra (CD/ AAC), que tomou posse em abril do ano vigente, tem-se oposto às decisões tomadas pelo Conselho Fiscal da AAC (CF/AAC), relativas à condução destas eleições académicas, depois de irregularidades terem sido detetadas. No entanto, o presidente da CD/AAC, João Leão, espera que os estudantes não encarem o órgão fiscalizador que lidera como aquele que “faz birras” e que constitui “um entrave” ao desenvolvimento do processo eleitoral. “É como tentar construir uma casa pelo telhado” Para João Leão, “há indí-

- POR MARGARIDA MANETA -

cios claros de uma tentativa de defraudar o processo, pelo menos a título negligente”. Por isto, a CD/AAC recorreu da decisão do CF/AAC de proceder à contagem quantitativa dos votos com uma margem de erro de dois por cento para o total das urnas e um por cento por urna. A inexistência de uma ata inicial que registe por escrito o número de boletins em circulação é “uma parte importante do procedimento eleitoral”, revela o presidente da CD/AAC. “Se esta ata foi esquecida, não há forma de o resto estar bem. É como tentar construir uma casa pelo telhado”, confessa. Para além disto, “a introdução de um voto diretamente numa urna quando

devia ter sido por envelope” e a “verificação da falta de assinaturas das atas de abertura e de encerramento de urna” exigem, na perspetiva do órgão fiscalizador, “a anulação do ato eleitoral”, como explica o recurso enviado à CF/AAC. “Se a decisão estivesse no nosso poder, já estaria tudo resolvido” O CF/AAC decidiu prosseguir a contagem quantitativa, apesar do recurso interposto pela CD/AAC. Decisão esta que a CD/AAC respeitou dado que “não havia mais grau de recurso”. No entanto, o órgão abandonou a contagem a meio por considerar que “presenciou diversas e demais tentativas

de justificar as incongruências que deviam ser inseridas na margem de erro que o próprio CF/AAC aprovou”, defende o presidente da CD/ AAC. “A decisão de abandonar não foi uma birra”, esclarece. “Não podíamos aceitar estar a observar um escrutínio quantitativo que não está a ser cumprido”, explica. O presidente da CD/AAC acredita que o órgão que preside interveio com um papel de “fiscalização e observação”, no seguimento da necessidade de “resolver problemas que envolvem outros órgãos”. No entanto, não considera a ação da CD/ AAC como “um entrave”. “Se a decisão estivesse no nosso poder, já estaria tudo resolvido. Anulava-se

o ato eleitoral e o processo já tinha ido para a frente”, clarifica. Questionado sobre a credibilidade do presidente eleito, João Leão acredita que “logicamente não vai existir”. O presidente da CD/ AAC espera que a Académica, daqui a dez anos, possa dizer que tem “um procedimento eleitoral limpinho”, no qual espera ter tido influência. Com Miguel Mesquita Montes

“OS PRÓXIMOS CORPOS GERENTES DA AAC NÃO VÃO VIVER NA SOMBRA DE ELEIÇÕES ILEGÍTIMAS” Mesmo sem ata formal, o número de boletins de voto avançado não ultrapassou margem de erro e eleições puderam avançar. Jorge Graça e Pedro Matos Filipe comentam processo eleitoral

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nunciaram juntos a suspensão das eleições para a Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/ AAC) e Mesa da Assembleia Magna da AAC (MAM/AAC), na ma-

DANIELA PINTO

drugada de 27 de novembro. Discordaram quanto à existência de erros mais graves nestas votações do que noutros anos. Foi em harmonia que consideraram que o termo “fraude eleitoral” poderá ter sido precipitado. E em desacordo que apontaram diferentes caminhos a seguir depois de detetadas irregularidades no processo eleitoral. Após quase duas semanas de impasse, o presidente do Conselho Fiscal da AAC (CF/AAC), Jorge Graça, assumiu a função de presidente da Comissão Eleitoral (CE), que antes pertencia a Pedro Matos Filipe. Na origem da suspensão das eleições esteve a “falta de uma ata que revelasse o

- POR MARIA FRANCISCA ROMÃO -

número de boletins impressos”, explica o ex-presidente da CE, Pedro Matos Filipe. Acrescenta que o Regulamento Eleitoral que a prevê, e cuja elaboração coube à estrutura que o próprio presidia, pode ser interpretado, o que o levou a encarar a ata como um documento que podia ser elaborado no fim do ato eleitoral. “Houve uma enorme discussão quanto ao momento certo para redigir a ata”, recorda Jorge Graça. Nas suas palavras, esta é uma questão de “bom senso”, pois considera que não faz sentido contar boletins no final das eleições. O presidente do CF/AAC adianta que, “mais do que uma ata, faltou uma contagem prévia da quantidade de boletins de voto”. Reitera o facto de “nem o próprio presidente da CE saber quantos boletins existiam – um dado básico e essencial”. Jorge Graça: “Erros do passado não podem justificar o presente” O presidente do CF/AAC

não nega a existência de erros processuais que se verificam de ano para ano. Contudo, prevê que as falhas destas eleições fiquem gravadas na memória coletiva da academia. “Houve urnas a abrir demasiado tarde, sete dos delegados da CE propostos por Pedro Matos Filipe foram excluídos por apoiarem publicamente uma das listas, e o número de delegados foi insuficiente”, indica Jorge Graça. “Num trabalho concertado com o CF/AAC, todos os elementos que pudessem ser tendenciosos foram afastados da CE”, ilustra Pedro Matos Filipe. Terem aparecido na sua proposta inicial “foi um ponto que escapou”, lamenta. Ressalva ainda que as falhas no processo eleitoral deste ano não foram mais graves do que em anos anteriores. Consciência, rigor e informação são os pilares que, segundo Jorge Graça, estruturam um processo eleitoral sólido. “A AAC é uma associação de estudantes, mas tal não retira seriedade aos seus momentos de votação”, declara. E, na hora de assumir responsabilidade, “é

ao presidente da CE que cabe o controlo”, desde a organização das eleições até ao momento de apurar resultados, sintetiza. O presidente do CF/AAC conclui, por isso, que “é impensável afirmar que o ato tenha decorrido em moldes normais”. Avança ainda que “os erros do passado não podem justificar as falhas do presente”. Pedro Matos Filipe: “Sinto a consciência tranquila” “Nenhuma ação teve o intui-


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DO PAPEL AO TRIBUNAL: BREVE HISTÓRIA DAS POLÉMICAS ELEITORAIS DA AAC

Processo atual não é estreia nas controvérsias eleitorais. Recordam-se os casos que deram que falar ao longo dos últimos 20 anos

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- POR LUÍS ALMEIDA -

ezembro de 1998. Hugo Capote é eleito presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (AAC). Dois anos depois, Humberto Martins é reeleito para o mesmo cargo. Em 2013, Bruno Matias chega a dirigente da Académica. A ponte de ligação entre estes processos eleitorais é a polémica que se gerou em torno dos mesmos. Pedidos de impugnação, providências cautelares e recursos a tribunais marcaram estes atos. Em 2018, também a corrida aos corpos gerentes da AAC está envolta em demasiada burocracia e problemas.

(Re)Correr até não poder mais Em 1998, de acordo com a edição 43 do Jornal A Cabra, a primeira volta das eleições ficou marcada pelo pedido de impugnação de duas listas ainda antes do encerramento das urnas. O representante da Lista K, José Coelho, e o da Lista R, Vítor Aires, apresentaram queixas à então Comissão Eleitoral (CE). Entre as razões alegadas constava a falta de delegados da CE, a abertura das urnas em momentos diferentes e o difícil acesso às mesmas nas faculdades de Direito e Letras da Universidade de Coimbra (UC) Os pedidos dos candidatos foram indeferidos. Descontentes com a decisão, recorreram para o Conselho Fiscal da AAC (CF/AAC) e, mais tarde, apresentaram um pedido de providência cautelar no Tribunal Judicial de Coimbra. Apesar das críticas, a juíza optou por indeferir o pedido e o processo deuse por terminado. “O fascismo está implantado em alguns dirigentes da Académica” “Boicotes, manifestações, pedidos de impugnação e todo um

conjunto de peripécias”. Pode ler-se esta descrição na edição 63 do Jornal A Cabra para caracterizar o processo de dezembro de 2000. Neste ano, o maior problema prendeu-se com o local de voto dos estudantes da Faculdade de Letras da UC (FLUC). Devido a esta situação, houve uma tentativa por parte dos delegados das urnas de invadir uma sala para que fosse usada como local de voto. Contudo, o Conselho Diretivo da faculdade não permitiu que tal acontecesse. Neste sentido, o representante da Lista T, Nuno Lobo, tentou suspender o ato eleitoral por considerar que os alunos da FLUC não tiveram um “espaço condigno” para votar. Contudo, a CE não concordou com a proposta. Alguns estudantes tentaram ainda impedir a votação na AAC, que chegou a estar suspensa algumas horas, mas que foi retomada. Como forma de protesto, os elementos da Lista T esperaram pela saída das urnas da AAC vestidos com o traje em forma de luto académico. Nuno Lobo afirmou que “o fascismo está

implantado em alguns dirigentes da Académica”. Uma semana mais tarde, o pedido de impugnação foi entregue. Este foi analisado por três juristas da Faculdade de Direito da UC, a pedido do presidente da CE, Vítor Aires, por ter sido acusado de parcialidade pela lista queixosa. O parecer dos juristas indicou que não havia fundamento legal no pedido de impugnação e, em reunião de CE, foi indeferido. Vítor Aires confessou que “não podia fazer mais nada”.

to de enviesar as eleiçõ es”, esclarece o ex-presidente da CE. Confessa que sentiu a sua honra c o mp r o m e tida, mas que fez tudo “da melhor forma possível”. Três dias depois de as eleições terem sido suspensas, garantiu que o número de boletins de voto em circulação iria corresponder ao registo de impressão arquivado na papelaria da AAC. Pedro Matos Filipe avançou a posteriori com um número de boletins. “Sinto a consciência tranquila, porque as contas vão estar certas”, assegura. E estiveram. Jorge Graça declara que, dado o voto de confiança à CE, se abriram as urnas para uma contagem quantitativa. “O número de boletins de

voto em circulação é ligeiramente inferior ao valor avançado”, explica, “uma diferença que se insere dentro da margem de dois por cento”. No entanto, reitera o “trabalho extra e o esforço sobre-humano do CF/AAC” para garantir a legitimidade das eleições, dada a falha inicial.

instáveis, mas a sua legitimidade não sai ferida”, assegura. O ex-presidente da CE classifica o uso do termo “fraude eleitoral” como “precipitado”, pois considera que os estudantes têm o dever de não manchar o nome da academia. Por seu lado, o presidente do CF/ AAC salienta que o termo fraude deve ser entendido no sentido estatutário, ou seja, como uma falha insanável, e não no seu significado coloquial. “As próximas DG/AAC e MAM/ AAC não vão viver na sombra de eleições ilegítimas”, assevera Jorge Graça.

rente que agora termina o mandato. No entanto, o vice-presidente da MAM/ AAC declarou apoio público a uma das listas. Quanto aos secretários do órgão, um integra uma das candidaturas, o outro renunciou ao cargo. Nesta linha de sucessão, passou então a ser o presidente do CF/ AAC, Jorge Graça, a desempenhar as funções de presidente da CE. “Os estudantes podem sentir confiança no resultado da eleição”, conclui.

Urnas, legitimidade e fraude eleitoral Pedro Matos Filipe não concordou com o facto de as urnas serem apenas abertas mais de uma semana depois de o erro ter sido identificado. “Sem as abrir, é impossível perceber o que se passou”, reivindicava três dias depois do ato eleitoral. Jorge Graça explica que o processo foi suspenso o tempo necessário para garantir que “um erro na base não influenciaria tudo o resto”. O CF/AAC acabou por abrir as urnas e analisá-las uma a uma, o que resultou num rigor e controlo superiores a outros anos, adianta o presidente do órgão. “A eleição teve momentos

O novo presidente da CE Depois de as eleições terem sido suspensas, Pedro Matos Filipe revelou não pensar em abandonar a presidência da CE, por considerar não haver irresponsabilidade da sua parte. No entanto, foi destituído das suas funções. Devendo o presidente da CE ser um elemento da MAM/AAC, o seu sucessor natural pertenceria ao corpo ge-

O estranho caso da urna 17 Após um período de estabilidade, as eleições voltaram a ser postas em causa para os corpos gerentes da AAC. Em 2013, a legitimidade do processo voltou a ser questionada. Na segunda volta das eleições, a urna 17 apresentava uma discrepância superior à das restantes em relação à primeira volta. Segundo a edição 266 do Jornal A Cabra, todas as outras urnas tinham variações inferiores a dez por cento entre os dois atos eleitorais. No entanto, a urna em causa obteve um aumento de 26 por cento dos votos para a Lista

T, encabeçada por Bruno Matias, e um decréscimo de 21 por cento para a Lista A, dirigida por Samuel Vilela. Assim, este último pediu a recontagem da urna. Mais tarde, no pedido de impugnação, a Lista A apoiouse na hipótese de a urna ter sido adulterada pois “quem a abriu no dia seguinte encontrou-a lacrada de forma diferente”. À semelhança da contagem quantitativa do processo atual, Samuel Vilela pediu também uma contagem de todos os boletins existentes. A conclusão desta recontagem foi o extravio de 141 boletins. O representante da Lista A admitiu saber que, “mesmo que a urna não existisse, perdia por 28 votos”. Contudo, explica que o que estava em causa não era a vitória da sua lista, mas sim a conduta da CE. Para comprovar o seu ponto de vista, Samuel Vilela recolheu declarações de voto de cerca de 150 alunos que afirmam terem votado na sua lista. Na urna, apenas constavam 94 votos. O candidato derrotado seguiu com uma providência cautelar para tribunal, que a juíza veio a declarar “improcedente” e que deu fim ao processo.

MIGUEL MESQUITA MONTES


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‘TRACKING’ E A ILUSÃO DE PRIVACIDADE Google regista todas as informações dos utilizadores. Alerta necessidade de aprender a utilizar a internet para uma maior segurança online - POR SORAIA LIMA E FREDERICO MAGUETA -

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os dias de hoje, torna-se mais usual encontrar alguém que tenha um, ou até mais, dispositivos com ligação à ‘web’. Desde a simples chamada à consulta de e-mails, o telemóvel já substitui o computador, o que faz com que a vida de muitas pessoas gire em torno deste equipamento. Ambos os aparelhos, para além dos problemas para a saúde, que não estão comprovados, trazem outros riscos. Um fenómeno diário Segundo João Ferreira, estudante de licenciatura de Engenharia Informática na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (UC), o ‘tracking’ encontra-se associado aos telemóveis e aos computadores. O mesmo acrescenta que estas informações servem para “facilitar a vida à pessoa” e considera que, se houver a regulação “necessária”, torna-se algo positivo. Apesar disso, o estudante lamenta que, “por vezes, estes dados são usados de forma perigosa para o utilizador”. De acordo com João Ferreira, “as pessoas acabam por concordar com os termos e condições de utilização dos ‘sites’ e aplicações sem os lerem”. Por isso, acabam por autorizar protocolos que não consentem. Desde a localização geográfica aos interesses pessoais, os termos incluem tópicos que permitem a recolha da informação que está guardada nos aparelhos. “Todos os dados” são convenientes para a Google, completa. É possível, no entanto, parar os serviços de localização. Apesar disso, é algo que “deve ser feito de forma correta” e só assim a multinacional não tem forma de procurar o utilizador, refere João Ferreira. Explica que, “há pouco tempo”, a empresa adicionou uma função numa das suas aplicações que permitia bloquear a possibilidade de localização. No entanto, “como as coordenadas geográficas continuam a ser gravadas, os dados continuam a ser guardados também”, alerta. O perigo da (des)informação dos utilizadores A Google usa informações recolhidas dos utilizadores para melhorar a experiência de cada pessoa. Segundo João Ferreira, é através de modelos estatísticos que a empresa consegue “compreender tendências e perceber como é que a navegação na ‘internet’ pode ser mais pessoal”. O estudante admite sentir-se preocupado com o fenómeno. Explica que, ao personalizar a experiência de cada pessoa, esta fica sempre exposta “às mesmas ideias”, o que causa um problema de “falta de variedade cultural”. Ao filtrar os assuntos a que cada um está exposto, o utilizador acaba por não ter uma utilização “tão livre da ‘internet’, porque não vê novos conteúdos que possam surgir”. O estudante explica que o risco está na “falta de segurança” que algumas empresas podem apresentar. Quando o nível de segurança de uma empresa é baixo, “os ‘hackers’ conseguem ter acesso a certos dados” e depois usá-los em benefício próprio, acrescenta. Se um pirata informático conseguir obter detalhes pessoais de alguém, pode vir a fazer chantagem com essa pes-

soa, de forma a receber dinheiro em troca das informações. Apesar disso, explica que “no caso da Google, é difícil acontecer”. Alexandre Libório, professor de Direito e Informática na Faculdade de Direito da UC, explica que todas as instituições “têm a obrigação de aplicar medidas de segurança informática”. Caso estas normas não sejam implementadas, ou sejam insuficientes, “cabe à empresa provar que fez tudo para que as informações estivessem seguras”, acrescenta. É possível contornar esta situação? João Ferreira assume, sem dúvidas, que “não é possível apagar toda a informação guardada”. Explica que as informações que existem até ao momento têm em vista a melhoria dos serviços prestados pelos servidores e, por terem um uso, não é possível apagá-las. Reconhece que, apesar de haver um controlo sobre este fenómeno, “ainda existem certos furos legais que permitem às empresas usar os dados do utilizador de forma pouco ética”. O estudante acredita que existem formas de contornar a situação. “Para isso, todos os utilizadores deviam conhecer os mecanismos à disposição”, de forma a evitar esta realidade. Para Alexandre Libório, este é um fenómeno que deve

ser controlado. No entanto, esse controlo não passa por uma regulação mais apertada. O docente acredita que é preciso aprender a trabalhar com a ‘internet’. “É uma questão de cidadania e tem de haver consciência do seu potencial”, refere. O que diz a lei? Alexandre Libório afirma que “cada um tem o direito de gerir a sua imagem”. Explica que o utilizador tem direito a saber, por exemplo, “que dados são utilizados, para que fins e durante quanto tempo decorre a recolha de informação”. A Lei afirma que a autorização para a recolha de informação deve ser livre. Apesar disso, o professor questiona a validade desse consentimento. “Muitas vezes, se a pessoa não aceitar os termos de utilização, não há serviço”. Por isso, afirma que esta aceitação do tratamento de dados não é assim tão honesta. Acrescenta que, se a recolha das informações não for necessária, trata-se de um “consentimento abusivo”. O docente explica que, se alguém se sentir lesado por uma empresa, “a primeira coisa a fazer” é contactar a Comissão Nacional de Proteção de Dados. Depois, deve fazer-se uma queixa e entrar em contacto com a entidade em causa. “Se houver uma questão de responsabilidade criminal, pode fazer-se uma queixa ao Ministério Público”, conclui.

MARTA EMAUZ SILVA


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BURNOUT: A OCULTA SÍNDROME SOCIAL Excesso de ‘stress’ desenvolve Burnout nos estudantes. Tratamento prioriza atividades de descontração. - POR JULIA FERNANDES E JULIA PECCINI -

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síndrome de Burnout foi batizada pelo psicanalista norte-americano Herbert Freudenberger no ano de 1970. Caracterizada como um distúrbio psíquico, é provocada por um esgotamento mental intenso no ambiente profissional e universitário, que pode levar a um estado de vulnerabilidade, ‘stress’ e “isolamento” emocional. De acordo com o estudo da Associação Portuguesa de Psicologia da Saúde, a Síndrome de Burnout afetava 13,7 por cento da população portuguesa ativa no ano de 2016. Segundo Rachel Cesar, psicóloga e analista do comportamento, os portadores da síndrome tendem a ser “muito negativos em relação às suas tarefas, possuem dificuldades de concentração e estão sempre cansados”. Existem diversas causas para o seu surgimento, “sendo as principais o sentimento de impotência, inadequação no ambiente de trabalho e o afastamento social”, acrescenta a psicóloga. Dores de cabeça, tonturas, oscilações de humor e distúrbios no sono são outros sintomas mais comuns. Burnout versus Depressão A Burnout confunde-se com a depressão, uma vez que os seus sintomas são semelhantes, como o ‘stress’ e a ansiedade. Tal deve-se ao facto de o distúrbio ser considerado um quadro adjacente da doença, ou seja, quando não é tratado pode desenvolvê-la. É possível diferenciá-la se a questão emocional for considerada. Enquanto a depressão se manifesta de diversas formas, na síndrome o indivíduo “fica fechado ao mundo das emoções, como se não sentisse nada”, afirma Margarida Pedroso de Lima, psicóloga da Universidade de Coimbra (UC). Isto é evidenciado pelo facto de ser comum, no ‘Burnout’, a existência de “dificuldades nas relações interpessoais, que ficam cada vez mais emocionalmente distantes e deixam de ter

qualquer satisfação”, reforça Rachel Cesar. O distúrbio possui três estágios: a exaustão, a despersonalização e o sentimento de baixa ‘performance’. A analista do comportamento explica que a exaustão potencia um estado de cansaço e desânimo. “É como se se estivesse em modo automático”, ilustra. Na despersonalização é comum que as pessoas considerem a sua rotina cada vez mais “stressante e frustrante”. No caso da baixa ‘performance’, a desilusão e o desânimo frequentes levam à “quebra de rendimento”. A alimentação e o sono desregulados são as causas das alterações de humor, explicita Margarida Pedroso de Lima. A síndrome na universidade No meio académico, a Burnout afeta tanto professores quanto alunos. A pressão do estudante com a necessidade de cumprir deveres leva a uma “carga excessiva de stress e faz com que este tenda a desenvolver a síndrome”, alega Gisela Melo, psicóloga. Além disso, a forma como a família exige os melhores resultados ao aluno pode ser também um fator prejudicial, pois o discente se priva “de atividades que o façam feliz, como o lazer”, acrescenta No momento em que integram uma instituição, os estudantes precisam de se adaptar aos critérios da mesma. Rachel Cesar admite que “muitas vezes não são consideradas as dificuldades que podem surgir durante o curso. Se estão longe de casa, ou se são estudantes estrangeiros, há uma grande autocobrança para obterem resultados”. A psicóloga da UC conta que a universidade disponibiliza serviços de apoio psicológico para ajudar alunos com dificuldades. Ademais, Margarida Pedroso de Lima confessa que estes mesmos recursos “podem ser expandidos e mais divulgados”. “A forma como a pessoa lida com

as adversidades e exigências define se ela desenvolverá a síndrome”, acrescenta. Prevenção e tratamento Algumas formas de prevenir o desenvolvimento da Burnout baseiam-se na preservação de uma vida saudável. Isto, por meio de uma alimentação equilibrada e da prática de atividade física, seguida de oito horas de sono e da manutenção de um ciclo social ativo. Rachel Cesar assegura que, se o indivíduo tem “uma vida equilibrada, nos domínios pessoal e profissional, o suporte para superar uma crise é muito maior”. O tratamento psicoterápico é o mais indicado para a Burnout, no que diz respeito ao combate ao ‘stress’. “Melhorar o autoconhecimento e gerar mais segurança no ambiente stressante” são alguns dos objetivos, afirma Gisela Melo. Atividades desaceleradoras, como o retomar da prática de exercício físico, técnicas de relaxamento ou fr meditação, são sugestões por parte de Rachel Cesar. Embora, em casos de sofrimento mais elevado, o afastamento temporário da atividade stressante pode ser o procedimento mais indicado”, acrescenta. A medicação pode ser também um método. “Caso a psicoterapia não resulte, o indivíduo deve procurar atendimento num psiquiatra”, complementa Gisela Melo. Rachel Cesar assegura que o equilíbrio é essencial, tanto na vida profissional quanto emocional. Declara que “criar alternativas que ressignifiquem e otimizem competências emocionais interpessoais, que gerem atitudes mais proativas”, pode evitar a síndrome.

MICAELA SANTOS


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COIMBRA APOSTA EM RECRIAR CAMINHOS PARA A ESQUIZOFRENIA Associação pretende preencher lacuna do Serviço Nacional de Saúde. Arte destacada como principal meio de reabilitação - POR RAFAELA CHAMBEL E MARIANA ROSA -

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Associação ao Desenvolvimento Vocacional, Formação e Inclusão de Pessoas com Esquizofrenia, ReCriar Caminhos (RC), surgiu há uma década, fruto de uma necessidade por parte do Serviço Nacional de Saúde. As modalidades de tratamento das doenças mentais revelavam-se insuficientes na vertente psicossocial. Os pacientes, após um surto psicológico, eram internados e sujeitos a medicação. Já estabilizados, regressavam a casa, sem qualquer acompanhamento, até voltarem ao estado inicial. A isto se chama de processo da “porta giratória”. Assim, um grupo de psicólogos, docentes e investigadores da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC) uniu-se pela criação de uma nova conceção, inspirada em modelos que já são adotados noutros países para além das fronteiras. As aptidões do paciente são privilegiadas, apesar das suas limitações. Deste modo, apostaram na reabilitação psicossocial através das artes, como a pintura, a escrita e o teatro. Neste contexto, o presidente da Assembleia Geral da RC e antigo professor da FPCEUC, Manuel Viegas Abreu, sublinha a inexistência de “prescrição de atividades de reabilitação psicossocial” verificada na época. O resultado culminava no isolamento, cansaço e desmotivação nas tarefas do quotidiano, adianta. Em 2011 surgem “Os Controversos”, grupo de poesia e teatro terapêutico da RC. Em colaboração com o “InterDito”, grupo de expressão dramática da FPCEUC, têm realizado múltiplas apresentações de leituras encenadas e teatros. De acordo com Manuel Viegas Abreu, os principais objetivos do grupo passam por “facilitar o contacto com o público, fortalecer a autoestima e desenvolver capacidades de expressão artística, a fim de combater o estigma que

circunda as doenças mentais e estabelecer laços de amizade”. A associação tem estabelecido um protocolo de cooperação com a Fundação Beatriz Santos. Lado a lado, desenvolvem “atividades de reabilitação no campo das artes plásticas, no sentido de reconhecer as aptidões dos pacientes na pintura, no artesanato, na fotografia e no desporto”, explica o antigo professor. Esquizofrenia: uma doença com forte incidência nos estudantes A esquizofrenia gera preconceitos, fruto da carência de conhecimento científico sobre a origem da doença, que é uma patologia do foro mental. No entanto, segundo Manuel Viegas Abreu, “tem havido muitos progressos, com campanhas de difusão de informação acerca da doença”, que levaram à “diminuição do estigma que envolve as pessoas com esta patologia”. Ilustrativa deste estigma é a noção de que as pessoas com esquizofrenia têm tendência a ser mais violentas. Dados científicos provam que este preconceito está incorreto. Apesar das conquistas, a associação continua a salientar ser fundamental a aposta em “campanhas cada vez mais sistemáticas e impactantes junto da população, no sentido de desfazer estes estereótipos”. Para além do acompanhamento do esquizofrénico, a instituição promove atividades de apoio e informação aos familiares. “As famílias devem saber o que se passa com o seu doente e também precisam de suporte psicológico, de modo a apoiá-lo da melhor forma”, sublinha o presidente da Assembleia Geral da RC. Afirma que é crucial “incentivar as famílias a serem mais participativas”, e aponta este como “um

dos projetos a desenvolver”. Para este efeito, têm como base experiências pioneiras na Faculdade de Medicina da Universidade Nova de Lisboa. A instituição assegura atendimentos à comunidade coimbrã, no sentido de garantir apoio psicológico e emocional perante as dificuldades que os doentes enfrentam no quotidiano. Quando as chamadas provêm de outras regiões, procuram direcionar os pacientes para profissionais locais que os possam assistir. A Associação em Coimbra Na ótica de Manuel Viegas Abreu, a ReCriar Caminhos “é uma mais-valia para a cidade, no âmbito dos cuidados de saúde mental”. O fundador da associação ambiciona “que a prática da instituição seja replicada e ampliada, e, posteriormente, valorizada”. Assim, é “necessário que a população esteja alerta e disponível para ajudar”, salienta. Um voluntário deve ter em consideração a defesa dos direitos e o potencial da pessoa com doença mental. Para o ano que se avizinha, a agenda inclui as habituais sessões de apoio psicológico, suporte emocional, orientação e aconselhamento a esquizofrénicos, bem como sessões de psicoeducação para a família. Anuncia ainda o estabelecimento de um novo protocolo de cooperação com a Rádio Universidade de Coimbra, com vista para o desenvolvimento de uma campanha de literacia focada na saúde mental. A instituição vai continuar a participar na Semana Cultural da UC, na qual vai ser apresentada uma peça no Teatro Paulo Quintela na Faculdade de Letras da UC. Vai-se realizar também a Segunda Caminhada Inclusiva, integrada na celebração dos dez anos da Associação ReCriar Caminhos. PAULA MARTINS


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MARISA MATIAS: “NÃO HÁ UM INVESTIMENTO REAL DE CIDADANIA CRÍTICA E ATIVA NO ESPAÇO EUROPEU”

Conimbricense de nascença, Marisa Matias, deputada europeia pelo Bloco de Esquerda, retrata assuntos da atualidade. Coimbra, política e Ensino Superior são alguns dos focos - POR BÁRBARA COSTA E JÉSSICA GONÇALVES -

renováveis. Quando se votaram as medidas em relação aos plásticos nos oceanos, percebeu-se que, em 2050, vai haver mais plástico que peixes, estão a matar-se ecossistemas e a sufocar-se as bases do nosso próprio alimento. Acabam por ser as populações mais pobres a sentir primeiro as consequências mais dramáticas. Ainda há tempo, mas é muito pouco. Se não houver um conjunto de medidas radicais, atingiremos um ponto de não retorno, mais depressa do que se possa imaginar. Qual o seu posicionamento em relação às medidas em curso para as redes sociais? Eu votei contra o artigo 13 e o artigo 11. Foi um debate polémico, que assim e continua e o vai ser sempre. Há várias vozes a defender que esta legislação protege os autores, mas não o faz. É uma falsa promessa de proteção, com um custo muito pesado para toda a gente: a abertura de uma porta prévia à aceitação e legitimação da censura. Basta isso para não poder estar de acordo com esta legislação. No entanto, é preciso tomar medidas em relação às ‘fake news’. Tem de haver responsabilidade e alguma regulação que não permita a proliferação das mesmas.

JÉSSICA GONÇALVES

O que pensa sobre o estado atual da cidade de Coimbra e o que pode ser feito para o melhorar? Desde há várias décadas que a cidade de Coimbra tem estado num processo de estagnação em muitas áreas. Isto não tem nenhuma justificação porque tem uma universidade importante e tem dinâmicas culturais muito interessantes. Julgo que é uma espécie de resignação e de pouca vontade em ter uma cidade que funcione verdadeiramente do ponto de vista da mobilidade, da habitação, da resposta às necessidades da universidade, dos estudantes e da cultura. Não quer dizer que seja tudo negativo. Coimbra tem a dimensão certa para se ter proximidade, mas ao mesmo tempo alguma privacidade. Tem muitas coisas positivas que podiam ser potenciadas e não são. Considera que os cidadãos são pouco participativos em termos políticos? Considero que nem são chamados a participar e isso define muito a relação que têm com as instituições. Criou-se a ideia de que as vozes não são ouvidas, as oportunidades não são dadas, não há esforço para integrar estas esferas. De certa maneira, sem esse esforço, acaba por se criar uma certa apatia social. Considera que a juventude agora se manifesta menos em relação à política? Eu tenho uma visão um pouco particular em relação a isso. Acho que a participação ativa na política não é só o integrar em movimentos ou fazer parte de projetos coletivos. Acho que quem não participa pode ter impactos tão ativos na cidadania e vida comum como quem participa. O desinteresse produz o efeito de deixar tudo como está, de aceitar aquilo que existe, de não mudar. Esse, por vezes, é mais poderoso do que as tentativas de mudança.

Qual a sua opinião em relação à discussão do Orçamento da União Europeia (UE) para 2027? Em relação às orientações para o Orçamento 20212027 do próximo quadro financeiro plurianual, há já indicações muito claras de alguma concordância da Comissão Europeia com aquilo que é agora a maioria do Parlamento Europeu. As linhas de concordância gerais são péssimas porque se traduzem num corte muito significativo dos fundos de coesão e dos fundos estruturais, que afeta países como Portugal. Mudaram-se os critérios de cálculo para que os fundos estruturais fossem atribuídos e nós, em Portugal, dependemos, em mais de 80 por cento, do dinheiro comunitário para investimento público. Já assim, temos défice de investimento público no Ensino Superior (ES) na Saúde e, por isso, os serviços públicos estão degradados. Se houver um corte muito significativo desses fundos, a nossa situação piora a esse respeito. Estamos longe de ser uma Europa igual e coesa a nível territorial, social e económico. Há uma proposta de reforço na investigação e na inovação. A criação de um orçamento próprio e de um exército comum europeu é a proposta que determina todo o resto do orçamento. Os cortes nos fundos de coesão e na Política Agrícola Comum trazem ainda mais dificuldades para os agricultores da região do Mondego e isto pode significar mais mortes de unidades de produção. Se esta proposta avançar tal como está, não há condições para que um governo português vote a favor. A discussão vai ser muito difícil, longa e dura. Que medidas pensa serem mais eficazes na proteção do ambiente? A UE não pode de maneira alguma continuar a ter a mesma política em relação ao gás natural. Há muitas situações que são duvidosas e devia-se apostar nas energias

O que tem a dizer acerca da vitória consagrada no Orçamento do Estado português para 2019, da baixa das propinas? Isto é um compromisso, mas é uma vitória importante porque é a primeira vez, desde que há propinas, que há uma política para as baixar. Não deviam existir, porque estamos a falar em ES público, que deveria ser gratuito. E é de continuar a trabalhar no sentido de baixar ainda mais. De que modo o Brexit pode afetar a UE e Portugal? As negociações no processo Brexit foram muito complexas, o que não deixa de ser surpreendente. Esta complexidade provém do facto de o Reino Unido ser o estado que já estava mais de fora de todos da UE. Já não estava no euro e tinha regras específicas de participação no mercado interno. Acho que o acordo pode não ser bom em relação às comunidades portuguesas que vivem no Reino Unido e às comunidades britânicas que vivem em Portugal. Se a maioria das pessoas votar na saída, deve respeitar-se esse resultado e tentar negociar o melhor acordo possível, sem castigar o Reino Unido por ter votado pela saída. Este também não pode usar isso para fazer chantagem com as outras pessoas que estão lá e que contribuem para a riqueza do país. Há setores inteiros que dependem de comunidades emigrantes, por exemplo, o setor da saúde depende imenso da comunidade de emigrantes portuguesa. Que razões pensa estarem por detrás do profundo alheamento dos cidadãos, europeus e nacionais, perante as questões da política europeia? Esse afastamento é cultivado pelas instituições europeias. Quanto menos os cidadãos se chatearem melhor, porque interferem menos. Não é por acaso que as pessoas votam nas eleições locais e nacionais e não votam nas europeias. Não o fazem porque é mais distante. Não há um investimento real de cidadania crítica e ativa no espaço europeu. A responsabilidade é de quem decide não participar, porque se acomoda com o que existe. Há uma forma de protesto muito mais eficaz do que a abstenção, que é votar em branco.


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ESTRATÉGIAS DE MOBILIDADE URBANA EM COIMBRA PRETENDEM INCENTIVAR USO DA BICICLETA Rede de ciclovias vai ser ampliada pela Câmara Municipal de Coimbra. Para os ciclistas, não basta a existência de pequenos troços na cidade - POR GABRIELLA KAGUEYAMA E LÍVIA STAMATO -

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o âmbito do Programa Operacional da Região Centro 2020, foram trazidos à discussão aspetos do “Projeto da Ciclovia de Coimbra”. Com execução esperada até ao fim do próximo ano, o desenho urbano prevê que não sejam apenas carros a circular nas estradas, mas também bicicletas. As obras previstas para a realização do projeto permitem que se construa uma rede de ciclovias que percorra as grandes vias da cidade. Como refere Joana Sobral, arquiteta paisagista da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), a implementação de ciclovias é a “primeira fase do que

se pretende numa cidade com altos índices de bicicleta como meio de transporte”. O projeto compreende 14,5 quilómetros que integram Coimbra-B, Urbano Duarte, Quinta da Portela, Pinhal de Marrocos, Instituto Pedro Nunes, Avenida Conímbriga e Vale das Flores. Hoje, o que se verifica em Coimbra são pequenas partes de ciclovia que, na sua maioria, estão localizados junto à Baixa da cidade. Para Fabian Dias, aluno da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), “apesar da ótima qualidade, essas são in-

GABRIELLA KAGUEYAMA

suficientes, pois não levam a lugar nenhum”. Assim como se observa no resto do país, Coimbra abriga grupos ativistas de ciclistas urbanos. O ativismo tenta levar às decisões da CMC à opinião pública e recomendações acerca do assunto. Paulo Andrade, membro do Coimbr’a’Pedal, salienta a necessidade de se construir uma rede de ciclovias com acesso às ruas de tráfego intenso da cidade e não tanto em pequenas vias de bairro. Refere ainda que essa estruturação deve ir ao encontro da utilização das bicicletas “por parte da população, seja ela de lazer, desportiva ou utilitária”. Acrescenta que as ciclovias se devem destinar “não só ao passeio, mas ao uso quotidiano”. Os ciclistas não se queixam apenas da ausência de ciclofaixas na cidade de Coimbra. Paulo Andrade destaca ainda a necessidade de se instalarem estacionamentos tecnicamente adequados, que “podem ser úteis para a CMC”. “A maior preocupação em Coimbra é evitar os buracos e as tampas de ferro no alcatrão”, revela Fabian Dias como mais um desafio que enfrenta no dia-a-dia. Segundo os ciclistas, o incentivo ao uso utilitário da bicicleta na cidade deveria ir para além de projetos como os da ciclovia. “Para que se crie a cultura da mobilidade via bicicletas é necessário que se promovam eventos”, acrescenta o estudante da FCTUC.

ESTE NATAL, “VEM DAÍ AO MUSEU” Machado de Castro como ponte entre a comunidade e os festejos de Natal. Dramatizações e visitas guiadas promovem novo olhar no ciclo da natividade

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Museu Nacional de Machado de Castro (MNMC) volta a abrir portas para promover a temática natalícia. Com o intuito de assinalar o início da quadra festiva, vão ser dinamizadas várias atividades. “O ponto alto vai ser o fim-de-semana de 15 e 16 de dezembro” refere a diretora do Museu Nacional de Machado de Castro, Ana Alcoforado. No entanto, acrescenta que “quem não estiver presente nesse fim-de-semana pode, durante a semana, inscrever-se e fazer as visitas”. A principal atividade prevista é a “Visita da Estrelinha”, na qual “uma personagem, a Estrelinha, guia as pessoas em alguns espaços do museu, por representações ligadas ao ciclo da natividade”, explica a diretora. Reitera ainda que os percursos servem “para dar a conhecer de perto as peças e as representações”. Em colaboração com várias pré-escolas de Coimbra e com a Liga de Amigos do Museu, foi desenvolvido o projeto “Vem Daí Ao Museu”, que convoca os mais novos para darem vida a um presépio. Ana Alcoforado explicita que, no âmbito deste projeto, as crianças “vêm diversas vezes ao museu produzir trabalhos sobre temáticas variadas”. A iniciativa resulta na encenação de um presépio, na qual as crianças “escolhem figuras e fazem deles próprios uma representação de pre-

- POR SAUL DENOFRE E SOFIA GONÇALVES -

sépio vivo”, acrescenta. Numa antevisão do programa natalício, Maria José, assistente técnica do museu, afirma que “a expectativa está muito alta”. Explica que, desde a reinauguração, já conseguiram “fidelizar algum público que está habituado a ter atividades em períodos festivos”. Realça ainda a responsabilidade dos funcionários nesta altura do ano, uma vez que “ter um público fiel e atento, ao ponto de escolher o museu como opção, é importante”. Num convite à comunidade conimbricense, Ana Alcoforado realça a centralidade do museu como “equipamento cultural da cidade”. Com

uma grande expectativa gerada pelo um aumento de visitantes ao longo do ano, a organização do MNMC espera uma boa assistência nos próximos dias. Em relação ao público que visita o museu, Maria José relata que “quem vem de fora surpreendese com a grandiosidade do espaço”, assim como com a “qualidade e diversidade de acervo”. Numa viagem pelos cinco pisos, é de notar o “casamento perfeito entre o contemporâneo do edifício e as esculturas antigas”, conclui. Entre 15 e 22 de dezembro, o MNMC abre portas com a programação de Natal. SOFIA GONÇALVES


11 DE DEZEMBRO DE 2018 CIDADE - 19 -

NATAL EM CASA PODE SIGNIFICAR 11 MIL QUILÓMETROS DE DISTÂNCIA Estudar em Portugal pode custar meses longe de casa. Na ausência de familiares, a magia da época espalha-se entre amigos - POR RAQUEL BEM E ISABEL PINTO -

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om a primeira pausa letiva a aproximar-se, muitos estudantes reúnem-se com os parentes. No entanto, nem todos têm a possibilidade de regressar a casa. Longe da terra natal, as férias que se aproximam trazem mais do que descanso. A saudade aumenta e o sacrifício é maior a cada dia que passa. Ainda que em situações diferentes, existem muitos alunos deslocados em Coimbra. O Jornal A Cabra falou com alguns para descobrir como vão passar estes dias. Em Portugal, dada a predominância do catolicismo, celebra-se o Natal. Nesta época, iluminamse ruas, decoram-se casas, enfeitam-se árvores. O auge das celebrações é a noite de consoada, em que a tradição é jantar com entes queridos e trocar presentes. Mais tarde, a 31 de dezembro, festeja-se a Passagem de Ano, habitualmente na rua, com amigos, música e fogo-de-artifício. A 6 de janeiro, Dia de Reis, termina a época natalícia e, ao contrário do que acontece noutros países, este é um evento com menor importância em Portugal. Apesar de a cultura ser a mesma, há uma grande distância entre o continente e as ilhas. Visitar a família não é tarefa fácil. Para muitos, esta é a primeira ida a casa desde o início do ano letivo, o que torna a quadra natalícia mais especial. Ana Ramos, estudante da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), relata que dá mais valor às pessoas que sempre estiveram à sua volta e que “estas festividades vão tornar-se mais importantes” agora que não vive nos Açores. Já João Sousa, aluno da Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC), anseia pela visita da mãe, que vem ao continente nas férias de Natal. Não obstante ter companhia, as tradições vão mudar porque deixa de ser possível assistir à missa do galo onde era costume e partilhar a ceia com a família

toda. “Vai ser a primeira vez sem as luzes do Funchal e o fogo-de-artifício da Madeira”, conta João. Coimbra é uma cidade intercultural e, por isso, tem pessoas de diferentes nacionalidades e tradições. Maria Martim, aluna da FLUC, afirma que faz parte da “minoria malaia que é cristã” e, por isso, festeja o Natal. Vinda da Malásia, a 11 mil quilómetros de Portugal, acrescenta que a “única diferença é a comida, para matar saudades”. Pascal Cruz também é estudante da FLUC e tem nacionalidade venezuelana e portuguesa. Veio para Portugal com a família há cerca de oito anos. Portanto, vão estar juntos no Natal. A troca de prendas, que lá era feita no Dia de Reis, passa a ser feita na noite de 24, em conjunto com a decoração da árvore e a disposição do presépio. A maior diferença que nota entre as tradições dos dois países é a Passagem de Ano. “Enquanto na Venezuela se valoriza o Ano Novo, em Portugal dá-se mais importância ao jantar de 24 e ao almoço de 25 de dezembro”, salienta. Na véspera do novo ano, toda a família se reúne para comer, escolhe-se um espaço com uma vista agradável e há fogo de artifício, explica Pascal. Nem todos podem, no entanto, ver os parentes e escolhem partilhar o momento com uma segunda família. Passar o Natal com amigos que fez em Coimbra e viajar com eles pela Europa é o plano de Gelson Neto, estudante da FLUC que veio do Brasil há mais de cinco meses. Conta que se identifica com “a religião Umbanda, que é cristã e tem costumes semelhantes aos da Igreja Católica”. Elucida que os eventos celebrados em conjunto são os mesmos, já que “todos os familiares eram católicos e mantêm os feriados”. Também Cláudio Schwab, estudante na ESEC, tenciona deslocar-se ao Porto para estar com ami-

gos na altura que se aproxima. Com nacionalidade brasileira, a ceia não vai fugir ao habitual. Descreve a mesa de Natal como composta por “peru recheado com farofa e bacalhau, que não se encontra noutra época do ano, rabanadas, castanhas e frutos secos”. O 6 de janeiro é, no seu país, a Folia de Reis, muito comemorada no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. “Saem à rua grupos mascarados com muita cor, dança e fantasia”, ilustra. Da Síria para Coimbra, Wajdy Omran, também aluno na ESEC, mudou-se para “seguir os seus sonhos”. É muçulmano alauita e o evento com maior destaque é o Ramadão. “Faz-se o jejum para que os ricos percebam o que é ser pobre. No final, celebra-se o Eid al-Fitr. As crianças batem às portas para receber presentes e há um banquete que reúne família e amigos”, esclarece. Apesar de a quadra natalícia não ser comemorada, Wajdy costumava partilhar costumes cristãos da época. Explica que era hábito “decorar árvores, ruas, e até casas”. Criar um ambiente acolhedor e propício à celebração do Natal é o objetivo dos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC). Com uma “típica consoada” a realizar-se dia 24, a administradora dos SASUC, Maria da Conceição Marques, indica que o evento se destina aos estudantes que ficam em Coimbra e não podem ver a família. Acolhida por uma residência universitária, esta vai ser a sexta edição da ceia, em que “os SASUC facultam os produtos e os estudantes confecionam e organizam a festa”, declara. A administradora menciona que a adesão tem sido significativa e que o encontro é “uma possibilidade de ficar a conhecer costumes de outras partes do mundo”, uma vez que a origem dos participantes se espalha pelo globo. RAQUEL BEM


20 DE NOVEMBRO DE 2018

SOLTAS - 20 -

A MANADA DE MILGRAM - POR SECÇÃO DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -

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filme “O experimento de Milgram” relata, no fundo, uma experiância feita pelo psicólogo Stanley Milgram em 1961 pela Universidade de Yale nos Estados Unidos. Para entender um pouco mais sobre o experimento, é preciso dizer que as pessoas livremente se dispunham a realizá-lo, sendo que ainda eram pagas por isso e não teriam que devolver o dinheiro diante de nenhuma circunstância. Sendo assim, o experimento consistia na criação de dois personagens, um “aluno” e um “professor”. A pessoa que se dispunha a realizá-lo era sempre o professor e o aluno era uma pessoa contratada da equipa experimental, embora o aluno não soubesse dessa informação, acabando por pensar que o professor também tinha sido contratado assim como ele. Os papéis eram tirados “na sorte” e cada personagem ficava em uma sala, separadas ambas por uma parede, o que impedia que se vissem. O professor deveria ler uma lista de palavras ao aluno, o qual deveria posteriormente reproduzi-las. Cada vez que o aluno reproduzisse errado, o professor deveria aplicá-lo um choque, que ia de 45W a 450W. O mais importante a ressaltar é que na sala onde se encontrava o “professor” existia uma outra pessoa da equipa sentada em uma mesa que dizia para que o professor continuasse o experimento toda vez que o mesmo relutasse em continuá-lo. Essa relutância

ocorria porque o aluno gritava “Para! Está doendo muito, eu vou morrer!” e esmurrava a porta para que o experimento fosse cessado. Contudo, o que o professor não sabia era que o aluno participava da equipa experimental, de modo que apenas ficava sentado na sala da frente enquanto um gravador reproduzia essas frases. Esse experimento foi desenvolvido com todos os perfis de estadunidenses: homens, mulheres, brancos, negros, latinos, pobres, de classe média etc. Surpreendentemente, por mais que alguns mostrassem desconfortos, a grande maioria seguiu até o final, isto é, até a aplicação do choque de 450W, apesar de todo apelo clamado da outra sala. A justificativa que muitos davam era que estavam “apenas seguindo ordens”, embora no formulário final muitos tivessem respondido que o experimento foi satisfatório e deveria ser realizado com mais pessoas. Na verdade, por trás da justificativa havia uma obediência cega à autoridade exercida por conta de uma isenção de responsabilidade. Ora, partindo agora para o caso de Adolf Eichmann, que foi um dos maiores organizadores do nazismo, é curioso que, após ter sido apanhado por ter fugido para a Argentina depois da Segunda Guerra Mundial, em seu julgamento no tribunal alemão a maior justificativa dada em sua defesa era que

“estava apenas seguindo ordens”. Rousseau afirmava que “não é tanto o entendimento que distingue especificamente o homem do animal, mas a sua qualidade de agente livre. O animal só sabe obedecer, o homem pode voluntariamente concordar ou resistir”. O grande questionamento que esse filme pode trazer, então, é pensar em quão propenso o homem está a seguir multidões. O famoso “comportamento de manada” se encontra atualmente de forma avultada nas grandes redes sociais, seja na disseminação de fake news no Whastapp e no Facebook, seja no apoio a regimes extremistas, seja no consumismo exacerbado... enfim, o cenário proposto por Milgram na década de 60 ainda é possível de ser transposto para o mundo atual, visto que o ser humano cegamente, mas voluntariamente, abandona seu senso crítico essencial em detrimento de poder se sentir incluído em determinado grupo. Por fim, esse cenário de cegueira social é muito bem tratado no livro “Ensaio sobre a Cegueira” de José Saramago, o qual afirmava “se podes olhar, vê; se podes ver, repara”. A manipulação em massa é um problema que assombra nossa atualidade. Todavia, depois da Segunda Guerra Mundial, do que mais será que o homem é capaz com a justificativa que está apenas seguindo ordens?


20 DE NOVEMBRO DE 2018 SOLTAS - 21 -

CANTIGAS DE MÉ-MÉ

VERDES PT 2018: A APP QUE RECICLA MAIS QUE NÓS

- POR CABRA TROVADORA -

- POR CAROLINA RUIVINHO - GRUPO ECOLÓGICO DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA-

A todos um bom Natal! O Amado mandou um postal: “Que seja mais funcional do que a CE de hoje em dia!” “Eleição” já me enjoa de tão confusa que isso soa. Não será mais na boa implementar uma monarquia? As urnas já estão a perturbar. Quando é que vamos consciencializar? A AAC não sabe brincar a isto da Democracia!

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os últimos anos a produção de resíduos sólidos urbanos tem vindo a aumentar. Com o objetivo de “promover uma maior consciência ambiental”, a aplicação “Verdes PT 2018” foi desenvolvida pelo investigador Márcio Conceição - Centro de Ecologia Funcional, FCTUC. Esta aplicação permite-nos quantificar e qualificar os volumes de resíduos sólidos domésticos gerados por dia, mês e ano em Portugal. Segundo o Investigador, esta app irá sensibilizar os seus utilizadores, uma vez que “verão os milhões de euros colocados nos aterros sanitários e quantidade de empregos que poderiam ser gerados com a reciclagem destas matérias-primas chamadas popularmente de lixo”. Numa análise nacional, percebemos que o lixo reciclado fica muito aquém daquilo que se esperava e apesar dos esforços de sensibilização dos últimos anos, o plástico continua a ser o componente menos reciclado (42%) e o terceiro mais produzido (13%). Já na cidade de Coimbra o cenário é igualmente preocupante, pois a produção de resíduos é superior ao valor registado a nível nacional. Anualmente cerca de 11.000 toneladas de lixo não é reciclado, o que equivale a uma perda de 87.490,17€ a nível energético. É ainda de salientar que anualmente 6.000.000 latas de alumínio vão para os aterros, na qual as festas académicas são responsáveis por milhares destas latas que acabam no lixo indiferenciado, este é um dado importante sobre o qual devemos refletir. A cidade dos estudantes tem muito a aprender e evoluir e estes dados permitem-nos dar um primeiro passo em direção à consciencialização.

OBITUÁRIO - POR CABRA COVEIRA -

P

P. M. F.

. M. F. Sabem o que significa? Uma sigla que tanto tem zumbido pelos corredores desta casa. Para uns, uma verdadeira dor de cabeça que atrasou um processo que já podia estar despachado. Para um, simplesmente alguém que “não podia fazer melhor”. Portanto, um brinde em homenagem àqueles que, na possibilidade sempre presente de errar, decidem que o melhor é nada fazer. Um brinde a ti, P. M. F.! Pela M***** que Fizeste.

E

ESTOU TRISTE

stou triste. 131 anos e estes meninos andam a brincar com a minha imagem. Duas semanas para eleger um presidente! Será que o cargo vale assim tanto a pena ao ponto de manchar o meu nome? Pôr em causa a democraticidade desta instituição parece exagerado, mas talvez seja impressão minha… Se calhar sou demasiado tradicionalista. Isto de chegar à urna, fazer a cruzinha e meter o voto talvez esteja ultrapassado… Para todos os efeitos, os Estatutos preveem a possibilidade de voto eletrónico nos próximos tempos. Se calhar está na hora de pensar nisso.


20 DE NOVEMBRO DE 2018 ARTES FEITAS - 22 -

CINEMA GUERRA DAS CABRAS A evitar

Um crime cinzento

Fraco Podia ser melhor

- POR CARLOS ALMEIDA –

B

aseado na série homónima de 1983, “Viúvas” chega ao grande ecrã pela mão de Steve McQueen, realizador de “12 Anos Escravo”, que em parceria com Gillian Flynn tratou da escrita do argumento. Trata-se da história de um crime que faz com que quatro mulheres se encontrem numa situação difícil de manobrar. Não é uma uma película repleta de ação, como seria de esperar, mas sim um ‘thriller’ que se foca antes no desenvolvimento de cada uma das protagonistas numa trama de alta pressão. Assim, desiluda-se quem possa esperar por uma história frenética. A essência aqui repousa sobre uma exploração de comportamentos e estratégias que perfazem um crescendo até aos ‘twists’ das cenas finais. McQueen consegue surpreender com planos e movimentos de câmara insuspeitáveis. Isso mostra não só o quão prazeroso ou agoniante pode ser acompanhar o modo como o elenco vive as peripécias, mas também realidades que, por vezes, transcendem a história principal, e isso é de destacar. Pode-se contar, portanto, com uma direção de fotografia que cumpre bem o seu papel. Por outro lado, há uma certa calmaria que pode ser desagradável ou aborrecer o espectador, o que num ‘thriller’ não é desejável. Esta obra perde pontos dessa forma. Para além das viúvas protagonistas, que, aliás, exibem uma boa dinâmica de elenco, são de sublinhar as

Razoável A Cabra aconselha

performances dos atores secundários como Colin Farrell e Liam Neeson, que desempenham papéis chave no ritmo do filme. Estes entregam, essencialmente, uma sensação de vilania a uma trama em que não existe preto e branco, mas sim um cinzento escuro. No fundo, todos são vilões com razões mais ou menos morais para o ser e o espectador não pode contar com algum tipo de conforto. Quanto à banda sonora, a que é apresentada é fraquíssima, quase inexistente e não deixa qualquer tipo de recordação. Aqui está um ponto negativo. Os únicos sons que causam impacto são os tiros das armas e os barulhos dos veículos. Desta forma, o público esquece-se de cenas que tinham potencial para causar impressão. Também as falas se diluem na previsibilidade. Apesar de estas, ao longo da rodagem, serem razoáveis e cumprirem a sua missão, o que deixa mais marcas é mesmo o complemento que a estética entrega a cada cena que envolva um diálogo e não o diálogo isolado. Quem aprecia o pormenor, infelizmente, durante os 129 minutos, não pode esperar muito detalhe ou rasgos de genialidade de McQueen. Se se comparar “Viúvas” aos seus anterior trabalhos, “12 Anos Escravo” ou “Shame”, nota-se a preguiça que torna este filme bom. Bom para ver no conforto de casa, mas não tão bom no cinema.

A Cabra d’Ouro

Viúvas De Steve McQueen Com Viola Davis, Michelle Rodriguez, Colin Farrell, Elizabeth Debicki 2018 Razoável


20 DE NOVEMBRO DE 2018 ARTES FEITAS - 23 -

MÚSICA Lenny Kravitz a passear cachorros - POR FILIPE FURTADO -

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e terras cariocas chega o trabalho de estreia de Ana Frango Elétrico - “Mormaço Quente”. Este disco é uma miscelânea, porém, poderíamos resumi-lo pelo mesmo rótulo pragmático da compositora: Bossa-pop-rock. Os temas de Frango Elétrico carregam essa aura irreverente, descontraída e mundana dos tempos aúreos da tropicália, ou, se quisermos, poderíamos falar num pós-tropicalismo. Percorremos a paisagem das pequenas coisas do quotidiano, umas irritam, outras nem alegram nem machucam, apenas estão lá. As letras apresentam um cenário aleatório, ‘nonsense’, surrealismo e reflexões entre a rua e o ‘metrô’. Num ambiente eletrizante, como o seu nome artístico anuncia, Ana Faiguelernt renuncia à supremacia das letras, nem se leva muito a sério, no alto dos seus vinte anos. “Mormaço Quente” abre com a narrativa triste de tentar pedir refeições em restaurantes, fora de horas, depois do fecho da cozinha. Aqui sobram só “Farelos” para tentar matar a fome. No “Bico do Mamilo” ouvimos a eloquência no jogo de passe entre bossa e ‘rock’, ‘rock’ e bossa, sempre a viajar pe-

Mormaço Quente De Ana Frango Elétrico Editora Ana Frango Elétrico Género Rock, Pop, Bossa Nova, Indie

los túneis do subterrâneo. Pelas estórias avulsas de “Roxo” escutamos avistamentos sobre o “passeador de cachorros que parece o Lenny Kravitz” ou críticas à burguesia inconsequente: “fala pra carai, mas não pixa igreja/ fala pra carai, não faz xixi em i­greja”, entre o ‘groove’ gingado dos versos e a bateria passivo-agressiva do refrão. Em “Trago” deixamos o ‘rock’ ficar depressivo, decadente até chegarmos aos dilemas de criança de encontrar “Picles” nos hambúrgueres americanos. Nessas memórias de infância abrem-se leves nuances de solos, o regresso aos ritmos brasileiros, um transe tropical para viajar no tempo. A música de Ana Frango Elétrico é divertida, leve, despreocupada e “Mormaço Quente” é uma manta de retalhos urbanos vestidos a rock’n’roll, num fim de tarde do Rio de Janeiro.

A Cabra aconselha

2018

LIVRO

A urgência da mudança - POR PAULO SÉRGIO SANTOS -

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m 2012, Chimamanda Ngozie Adichie subiu ao palco do TedxEuston, em África, e falou durante meia hora sobre o dever de se ser feminista, uma palavra feminina, mas sem género. Essa palestra transpôs-se para este pequeno ensaio de 48 páginas, ao qual se acrescenta um pequeno conto. Um ensaio onde é patente a realidade cultural africana que envolve a autora nascida na Nigéria, mas de onde, a espaços, se vislumbram exemplos daquilo que se designa como o mundo ocidental, desenvolvido. Onde uma mulher não tem os mesmos direitos que um homem, mesmo que se apregoe que sim. Uma normalidade anormal. “Se repetirmos uma coisa várias vezes, ela acaba por se tornar normal. Se vemos uma coisa com frequência, ela acaba por se tornar normal. (...) Se só os homens ocupam cargos de chefia nas empresas, começamos a achar «normal» que esses cargos de chefia só sejam ocupados por homens” (p. 16). Este é um livro que deveria ser lido por todos. Pela sua simplicidade, pela ausência de meandros insondáveis, pela forma clara como desconstrói o significado de feminista. Sem ir ao dicionário, muito do ódio pela palavra e por todos os seus defensores vem

do seu caráter negativo: “a feminista odeia homens, odeia sutiãs, (...) acha que as mulheres devem mandar nos homens; ela não se pinta, não se depila, está sempre zangada, não tem sentido de humor, não usa desodorizante” (p. 14). É demasiado fácil encontrar pessoas que pensam assim, fruto de uma cultura de glorificação do género masculino ao invés do ser humano, que não percebe a necessidade de evolução e sobrevivência (vide a discussão recente em torno das touradas). Tal como o é vislumbrar cavalos de batalha completamente transviados, como a linguagem inclusiva, a dos portugueses e portuguesas. Este pequeno espaço de crítica não chega para tudo o que gostaria de dizer, mas posso finalizá-lo explicando a nota inicial. “Feminista: uma pessoa que acredita na igualdade social, política e económica entre os sexos” (p. 47). Gostava de não necessitar de o ser em pleno século XXI, mas a sociedade, cega e ignorante, exige-o.

Todos Devemos Ser Feministas De Chimamanda Ngozi Adichie Editora Dom Quixote 2015

A Cabra aconselha


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EDITORIAL - POR PEDRO DINIS SILVA -

Rigor, consciência e transparência

A

lgo não bate certo nesta academia. A passagem da pasta da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (AAC), festividade bastante celebrada todos os novembros pela comunidade estudantil, viu-se este ano subitamente interrompida por uma suspeita de fraude eleitoral. Ao que parece, o termo foi atribuído com alguma precipitação, mas desengane-se o que o considera como sendo uma novidade. Polémicas deste tipo são algo comum no passado recente da AAC, cujas atuais e anteriores Direções-Gerais apelam, na sua larga maioria, a valores como o rigor, a consciência e a transparência. No passado dia 27 de novembro, cumpridos os rituais de campanha, publicidade e cacique, e na antevisão da contagem de votos, aconteceu o inesperado quando o presidente do Conselho Fiscal da AAC, Jorge Graça, o presidente da Comissão Eleitoral, Pedro Matos Filipe, e o presidente da Comissão Disciplinar da AAC, João Leão, romperam pelas Cantinas dos Grelhados adentro para anunciar a suspensão do processo eleitoral. Dias mais tarde, confirmou-se que a causa de todo o reboliço residia na ata que incluía em si o número de boletins impressos, que deveria ter sido elaborado antes de serem abertas as urnas e não o foi. Entretanto, o Fiscal decidiu pelo meio termo com a contagem quantitativa dos boletins, a Comissão Disciplinar recorreu da decisão e Pedro Matos Filipe, o suposto culpado de toda a situação, declarou ter feito tudo “da melhor forma possível”. Acontece que não foram confirmadas irregularidades e o processo prosseguiu. Consigo, leva o peso de uma polémica que poderia ter sido evitada se o rigor, a consciência e a transparência tivessem sido respeitados. Foi escrita polémica em mais uma página da história da AAC. Consumados os seus 131 anos, a academia ainda tem muito que crescer.

Acontece que não foram confirmadas irregularidades e o processo prosseguiu. Consigo, leva o peso de uma polémica que poderia ter sido evitada se o rigor, a consciência e a transparência tivessem sido respeitados”

Ficha Técnica

Diretor Pedro Dinis Silva

Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA Depósito Legal nº183245702 Registo ICS nº116759 Propriedade Associação Académica de Coimbra

Editores Executivos Luís Almeida e Daniela Pinto

Morada Secção de Jornalismo Rua Padre António Vieira, 1 3000-315 Coimbra

Equipa Editorial Margarida Maneta e Maria Francisca Romão (Ensino Superior), Vittorio Alves e Micaela Santos (Cultura), Miguel Mesquita Montes e Samuel Santos (Desporto), Pedro Emauz Silva e Ana Rita Teles (Ciência & Tecnologia), Jéssica Gonçalves e Isabel Simões (Cidade), Hugo Guímaro (Fotografia) Colaborou nesta edição Raquel Bem, Vasco Borges,, Maria Luísa Calado, Paulo Cardoso, Rafaela Chambel, Nino Cirenza, Bárbara Costa, André Crujo, Saul Denofre, Júlia Fernandes, Rita Fernandes, Leonor Garrido, Sofia Gonçalves, Gabriella Kagueyama, Soraia Lima, Júlia Lopes, Diogo Machado, Frederico Magueta, João M. Mareco, Paula Martins, Maria Monteiro, Mariana Nogueira, Carolina Oliveira, Júlia Peccini, Isabel Pinto, Diana Ramos, Gabriel Rezende, Inês Casal Ribeiro, Mariana Rosa, Maria Salvador, Patrícia Silva, Lívia Stamato

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Conselho de Redação Carlos Almeida, Inês Duarte, Filipe Furtado, Margarida Mota, João Diogo Pimentel, Paulo Sérgio Santos Fotografia Raquel Bem, Nino Cirenza, Jéssica Gonçalves, Sofia Gonçalves, Hugo Guímaro, Gabriella Kagueyama, Paula Martins, Miguel Mesquita Montes, Daniela Pinto Micaela Santos, Samuel Santos Ilustração Marta Emauz Silva Paginação Luís Almeida, Pedro Dinis Silva

Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A. Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: fig@fig.pt Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra Tiragem 2000 exemplares


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