11 DE MAIO DE 2021 ANO XXXI Nº303 GRATUITO PERIÓDICO DIRETORA LEONOR GARRIDO EDITORES EXECUTIVOS CÁTIA BEATO E MARIA MONTEIRO
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Concerto teste-piloto em Coimbra mostra que “a Cultura é segura” NINO CIRENZA
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ENSINO
CULTURA
DESPORTO
CIÊNCIA
CIDADE
Depois das críticas aos Cadernos Eleitorais eletrónicos, intervenientes revelam como funciona a plataforma
Atividades culturais regressam de forma progressiva com a reabertura de salas de cinema, teatro e outros espetáculos.
Após ser reabilitado, Pavilhão Jorge Anjinho volta a poder receber as várias modalidades da Académica
UC considerada a universidade mais sustentável do país, distinta na inovação tecnológica e erradicação da fome
Para garantir a sobrevivência do comércio da Baixa surgiu o Gabinete de Intervenção Social e Apoio ao Empreendedor
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Nova aplicação dos SASUC gera reações mistas por parte da comunidade estudantil Estudantes apontam limite de carregamento como principal problema do sistema. Vice-presidente da DG/AAC realça importância da resolução de défices para melhor integração do novo mecanismo - POR JOANA CARVALHO -
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om o regresso das aulas ao ensino presencial, após cerca de dois meses em casa, reabriram também os serviços de alimentação dos SASUC, com algumas alterações. A partir do dia 19 de abril, passou a ser necessário a utilização exclusiva do cartão de estudante da UC enquanto método de pagamento. Para carregar o cartão, é necessário recorrer a uma nova aplicação, chamada SASUC Go!, à qual os estudantes acedem através do seu ‘e-mail’ institucional. As várias cantinas e ‘snack-bars’ administrados pelos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC), que constituem o aparelho de distribuição de refeições, servem a grande maioria da comunidade estudantil conimbricense. O usufruto destes serviços é utilizado não só por estudantes da academia, mas por uma larga porção de estudantes do instituto politécnico e associados seccionistas da Associação Académica de Coimbra (AAC). Segundo Renato Daniel, vice-presidente da Direção-Geral da AAC (DG/AAC) e representante dos estudantes no Conselho Geral da UC, este sistema foi implementado com o intuito de colmatar o excesso de filas existente no acesso às cantinas. Após a realização de um estudo no Pólo II, verificou-se que “esta aplicação era vantajosa para a redução de filas” para que não existisse nenhum impedimento aos estudantes na hora de almoço. O dirigente associativo ressalva que “ainda se está num período de transição”, o que “pode dificultar a inserção deste novo mecanismo na comunidade estudantil’’. O dirigente associativo sublinha que casos de estudantes que não tenham ‘smartphones’ foram comunicados aos SASUC. Luísa Mota, estudante do 3º ano de Jornalismo e Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, revela que foi “apanhada de surpresa” quando no dia 22 de abril se dirigiu às cantinas e se deparou com o novo sistema. “Para começar, o processo não é explicado e formam-se imensas filas atrás das máquinas para carregar o cartão”, afirma a finalista. A aluna comenta ainda que o sistema é complexo, visto que só se pode efetuar carregamentos pela aplicação ou através de quiosques nas cantinas, com cartão de débito ou crédito. O limite mínimo de carregamento foi também evidenciado por vários estudantes. Através da aplicação só é permitido carregar o cartão com pelo menos cinco euros e nas máquinas com um mínimo de dez. Francisco Simões, estudante do 6º ano de Medicina, considera desadequado “fazer um carregamento de 5 euros se um café custa apenas 40 cêntimos”. Rita Martins (nome fictício), estudante, afirma que a aplicação e o sistema de compra de refeições seriam mais apelativos se o limite de carregamentos fosse levantado. O vice-presidente da DG/AAC salienta ainda que os “próximos tempos vão ser de deteção das várias falhas existentes e a sua posterior comunicação” ao administrador dos SASUC, Nuno Correia. No que diz respeito ao descontentamento por parte dos estudantes em relação aos limites de carregamento, Renato Daniel relembra que estes existem “devido às taxas aplicadas pelo cartão multibanco da mesma forma que acontece quando se vai a um café”. No entanto, o dirigente ressal-
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ta que o objetivo é que “a aplicação se desenvolva e que se consiga simplificar todos os mecanismos de pagamento dos SASUC”. Luísa Mota salienta que ouviu “alguns rumores através de colegas”, mas que não recebeu “nenhuma notificação pelo Inforestudante”. Da mesma forma, Rita Martins afirma não ter recebido algum aviso, mas que foi informada sobre a mudança de sistema através das redes sociais. Pelo contrário, Francisco Simões afirma ter recebido uma notificação a avisar sobre as alterações. Outra questão que fica por acautelar é o acesso de pessoas externas às cantinas da UC. Sofia Poupinha estuda Língua Gestual Portuguesa na Escola Superior de Educação (ESEC) e é seccionista no Coro Misto da Universidade de Coimbra (CMUC). A estudante do politécnico refere que passou a utilizar os serviços de alimentação dos SASUC a partir do momento em que entrou “mais em contacto com a academia”. A coralista recorria à refeição social das cantinas por serem mais baratas do que na ESEC e por estarem mais perto da AAC e, desta forma, da sala de ensaios do CMUC. A aplicação SASUC Go! tem, de acordo com Sofia Poupinha, uma opção para a inscrição de pessoas externas à academia, mas quando esta se tentou inscrever “acabou por dar erro”. A aluna do politécnico diz não entender o propósito da adoção deste sistema.Para a estu-
dante, este sistema “não traz grandes vantagens a nível pandémico”, caso seja esse o motivo por detrás desta mudança de paradigma. Luísa Mota ressalta que “o sistema anterior já estava mecanizado’’ e que considera o novo procedimento “pouco intuitivo, dado que não existem muitas indicações a explicar o processo”. Por outro lado, Francisco Simões considera o sistema “bastante intuitivo e simples”, sem contar com os problemas dos limites do carregamento tanto na aplicação como nas máquinas. Contudo, o estudante de Medicina lamenta não existir uma aplicação compatível com os vários sistemas operativos, o que obriga ao acesso ao sistema sempre através do navegador. Renato Daniel destaca o facto de a UC ter “os melhores serviços de ação social do país”, assim como o facto de a refeição social dos SASUC ser a mais barata a nível nacional. O dirigente associativo espera que, com o desenvolvimento deste novo sistema, “sejam sempre salvaguardados os estudantes”. A colaboração entre a DG/AAC e os SASUC foi frisada pelo vice-presidente. Este salienta que o diálogo entre ambas as instituições vai sempre passar por uma “ótica de tentar resolver os principais défices da aplicação”. O Jornal A Cabra contactou o Secretariado do Administrador dos SASUC, no entanto, até à data, foi recusado o pedido de declarações.
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Cadernos Eleitorais eletrónicos em julgamento Nova plataforma digital de eleições é “o futuro para a Academia”, afirma Dora Santo. Para Francisco Costa pode ser um “retrocesso daquilo que se conquistou há 50 anos”. Após queixas dos estudantes, trabalho dos criadores da plataforma vai ser contratualizado - POR ANA RITA BAPTISTA -
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nova plataforma digital de eleições, posta em prática pelo atual Conselho Fiscal da Associação Académica de Coimbra (CF/ AAC), foi alvo de uma longa discussão por parte dos intervenientes na última Assembleia Magna (AM). Os cadernos eleitorais eletrónicos foram testados em novembro de 2020, nas eleições para a Direção-Geral da AAC (DG/ AAC), mas foi na AM de dia 27 de abril que o assunto ganhou maior relevância. A atual presidente do CF/AAC, Dora Santo, defende que adotaram este método “pois evita muitos erros e o gasto elevado de papel”, ponto corroborado por João Bento. Esta ideia, concretizada por João Albuquerque e João Bento, “não é de agora”, como conta o último. Foi em 2019, ano em que foi presidente da Mesa da AM (MAM/AAC) que se começou a debater a criação de cadernos eletrónicos. João Bento acrescenta ainda que, na altura, a ideia foi apresentada ao CF/AAC em funções. Francisco Costa, que à data era o presidente e que na última AM interveio contra este novo método, revela que já na altura não achou “confiável” e “por isso não foi colocado em prática”. O ex-presidente do CF/AAC apresentou, inclusive, uma moção para inviabilizar os cadernos eletrónicos em prol do método clássico. A (des)confiança As maiores preocupações dos estudantes presentes na AM prenderam-se com a preocupação de uma possível fraude eleitoral e com o acesso indevido a informações pessoais. Para Francisco Costa, estas são “preocupações essenciais”, pois “o ser humano é por natureza trapaceiro”. Posto isto, considera que o CF/AAC atual, ao colocar em prática o novo método, deve precaver-se de possíveis “atos de má-fé”. No que toca ao acesso aos dados e à legalidade do mesmo, Dora Santo garante que apenas ela e os dois criadores da plataforma têm acesso. Esclarece ainda que os dois são associados efetivos da AAC, e que os dados dos estudantes que vão constar na plataforma são enviados pela Universidade de Coimbra (UC). Frisa que esses dados são apenas “o nome, número de estudante e o curso”. No caso da informação a que têm acesso os associados seccionistas da AAC, vai ser a que consta na ficha de inscrição. Muitos estudantes mostraram preocupação com o possível acesso em tempo real a quem já tinha ou não votado. João Bento e Dora Santo garantem que o mesmo não vai ser possível. “Apenas vai aparecer a quantidade de eleitores que já votou”, refere a presidente do CF/AAC. “É possível que os delegados de mesa façam pesquisas através do número de estudante para saber se uma pessoa já votou”, revela o ex-presidente da MAM/AAC, mas caso isso aconteça “fica registado e sabe-se quem foi a pessoa”, acrescenta. Ainda em relação ao acesso ao voto em tempo real, os estudantes mantêm-se de pé atrás. “Em papel só se via quem já votou se os presentes na mesa fossem coniventes”, ressalva Francisco Costa. Há sempre alguém, um “superutilizador” da plataforma, que tem aces-
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so a todas as informações. Informações “que estão encriptadas, mas que não são difíceis de decifrar”, afirma Cesário Silva, mestrando em Engenharia Informática na Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, um dos estudantes que questionou na AM. Ambos temem possíveis abusos de poder com este acesso exclusivo à plataforma e contestam a falta de transparência que sentem da parte dos responsáveis. Em caso de falha no sistema, os cadernos têm de ser impressos. Neste sentido, o ex-presidente do CF/AAC levanta a questão do tempo que pode ser necessário para as urnas poderem voltar a abrir. Coloca ainda a hipótese de se poder “deitar abaixo o sistema em urnas específicas de forma propositada”. Para Dora Santo, falhas no sistema não são uma preocupação “neste momento”, já que nas eleições dos dias 5 e 6 de maio tudo “correu de forma normal”. Em caso de falência no sistema, “está tudo preparado para resolver o problema de maneira rápida”, esclarece. Cesário Silva questionou o porquê de não haver um contrato para os criadores pelo seu trabalho na plataforma para “garantir sigilo profissional”. Após
estas intervenções, no dia 27 de abril, a presidente do CF/AAC revela que “já está a ser feita uma contratualização pelos serviços gratuitos prestados” pelos seccionistas. A moção apresentada por Francisco Costa para abolir os cadernos eletrónicos e manter o método clássico acabou recusada com 196 votos contra, 11 abstenções e 166 a favor, depois de cinco recontagens. Apesar do não aval da moção, o ex-dirigente mantém a ideia de que “os estudantes não são favoráveis aos novos cadernos eleitorais”. Acrescenta ainda que a orientação de voto da DG/AAC em prol dos cadernos digitais é que “decidiu a votação”. Para o ex-presidente os elementos da DG/ AAC deviam ter usado o seu “direito à abstenção”, visto que se tratava da aprovação de um “regulamento eleitoral de dois órgãos que vão fiscalizar a DG/AAC no futuro”, destaca. Em reação às críticas feitas pelos intervenientes na AM, Dora Santo não mostra preocupação e considera positiva a intervenção. “É sinal de que os estudantes têm interesse em saber como as coisas funcionam”, clarifica.
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Museu académico na AAC: entre promessa e realidade
Promessas de um museu dedicado à AAC permanecem no papel ao longo dos últimos mandatos. Nada está decidido, mas, segundo João Assunção, a nova DG/AAC está comprometida com o projeto
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Museu Académico da Associação Académica de Coimbra (AAC) tem sido mote de candidaturas à presidência da Direção-Geral da AAC (DG/AAC) ao longo dos anos. De acordo com o atual presidente da DG/AAC, João Assunção, “não é possível explicar os motivos pelos quais o museu não foi construído nos anos anteriores”. O presidente da DG/AAC admite que a construção “não é trabalho de só um ano”. No entanto, “a atual direção tem a intenção de tirar do papel o museu dedicado aos 134 anos de história da AAC”, completa João Assunção. Já existe um Museu Académico de Coimbra, no Colégio de São Jerónimo, desde 11 de dezembro de 1987, concretizado no âmbito do centenário da AAC. Este está preenchido com vários espólios: peças da época contemporânea em cerâmica, medalhística, torêutica e ourivesaria, têxteis, pintura, esculturas e instrumentos musicais. Existem ainda arquivos discográficos, fotográficos e documentais, uma biblioteca e até uma coleção de cartazes. Três anos mais tarde,em dezembro de 1990, o museu começou a funcionar, após a assinatura do Protocolo de Instalação do Museu Académico. Este documento foi assinado entre a AAC, a Reitoria da UC, os Organismos Autónomos da AAC e a Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra. Para o novo museu estão guardados objetos como a Taça de 1939 da Académica de Coimbra, troféus de várias modalidades desportivas, e ainda um conjunto de documentação histórico-política, segundo o presidente da DG/AAC. Além da vertente desportiva, João Assunção salienta a “importância política que a AAC teve desde o seu
- POR ANA HAEITMANN -
início”. O dirigente adianta ainda que “o conjunto de documentação histórico-cultural é vital para manter viva as lutas dos estudantes conimbricenses ao longo dos anos”, completa. Para o presidente da DG/AAC a pretensão do projeto é uma demonstração cultural e política da tradição académica. Na recandidatura do passado presidente da DG/ AAC, Daniel Azenha, em 2019, já existia a promessa de aproximar a cultura da AAC com a criação de um projeto para um Museu Académico. O tema também surgiu na Assembleia Magna do dia 2 de março de 2020, quando Daniel Azenha revelou que parte do seu plano de atividades para esse mandato era “transformar o armazém onde estão guardados 132 anos de espólio num Museu Académico”. Daniel Azenha afirma que a sua direção deixou “um estudo sobre o local onde seria montado
o Museu Académico, tendo como preferência a Cantina dos Grelhados”. No entanto, admite que “com a pandemia, não foi possível concluir o plano”. Quando questionado sobre os possíveis custos da iniciativa, o antigo presidente da DG/AAC respondeu que “o orçamento tem de ser decidido depois da localização, por isso não foi definido”. João Assunção não especificou quais os problemas no planeamento do museu. Contudo, o dirigente associativo conta que “os locais para a colocação do mesmo estão a ser analisados pela atual administração”. “É um projeto que precisa de parceiros, tais como a Câmara Municipal de Coimbra e a Reitoria da Universidade de Coimbra, por isso, torna-se “difícil determinar o quanto se vai gastar e demorar”,conclui o presidente da DG/AAC.
CÁTIA BEATO
Estudantes de Medicina cabo-verdianos sem apoio financeiro
Solidariedade estudantil sentida por alunos cabo-verdianos. Presidente do NEM/AAC desconhece motivos por detrás do corte de bolsas
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urante o segundo confinamento, os estudantes cabo-verdianos da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) que usufruíam de um programa de intercâmbio com a Universidade de Cabo Verde viram o apoio desaparecer. No passado mês de abril, com o intuito de ajudar os alunos, o Núcleo de Estudantes de Medicina da Associação Académica de Coimbra (NEM/AAC) angariou fundos, desde bens alimentares, higiénicos, a doações diretas de dinheiro. Desde 2018 que a FMUC promove este programa que permite aos estudantes de Medicina completarem o quarto e quinto ano do curso na UC. Neste sentido, são atribuídas bolsas a cada um dos alunos a fim de poderem subsistir em Coimbra durante estes dois anos. De acordo com a presidente do NEM/AAC, Matilde Santana, a situação foi comunicada ao diretor da FMUC, Carlos Robalo Cordeiro, pelos próprios estudantes. O dirigente da faculdade reportou a situação ao núcleo que identificou de imediato a urgência do problema.
- POR JOANA CARVALHO E CÁTIA GONÇALVES -
Susana Torres, uma das coordenadoras do Departamento de Voluntariado e Integração Social do NEM/AAC, relata que cerca de onze estudantes foram atingidos por este corte. Dois desses alunos acabaram por abdicar da ajuda para que os esforços “fossem concentrados nos restantes”. “A situação já era bastante precária, pelo que se percebeu”, afirma Matilde Santana. A dirigente associativa refere que os estudantes, de maneira a economizar e distribuir os alimentos de forma igualitária, passaram a fazer compras em conjunto “como se fossem mesmo uma família”. A presidente do NEM/AAC acrescentou ainda que, para além da angariação de fundos, a reitoria e os Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra arranjaram soluções em conjunto, através de um acordo com as cantinas, de forma que os estudantes pudessem comer. Matilde Santana sublinha a gratidão sentida pelos estudantes face à adesão por parte da comunidade académica à iniciativa, devido à quantidade de do-
ações recebidas “em pouquíssimo tempo”. Segundo a dirigente associativa, os alunos fizeram chegar ao NEM/AAC uma carta de agradecimento pelo auxílio prestado e que “sentiram o espírito de força e entreajuda de Coimbra”. Susana Torres reitera que o papel do NEM/AAC nesta situação vai passar pela sensibilização e articulação com os estudantes de Coimbra “para apelar ao seu lado mais humano”. Ambas as dirigentes reforçam a disponibilidade do NEM/AAC para qualquer ajuda que seja precisa. Matilde Santana relembra também que o núcleo estudantil tem vindo a apoiar várias causas solidárias, como “voluntariado e angariações monetárias e de bens materiais” e que, neste caso, não seria diferente. As razões por detrás do corte das bolsas ainda são desconhecidas, contudo Matilde Santana suspeita que se possa dever a problemas financeiros exacerbados pela pandemia da COVID-19. O diretor da FMUC, Carlos Robalo Cordeiro, não respondeu ao pedido de prestação de declarações.
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Da revolta estudantil à Revolução dos Cravos Estudantes que participaram nas Forças Armadas estabelecem ponte entre os dois eventos. “Crescente tensão” entre a Academia e o poder político desafiava regime ditatorial , diz Rui Namorado - POR JORGE CORREIA -
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crise académica que se iniciou a 17 de abril de 1969 consistiu na greve às aulas e aos exames feita pelos estudantes da Universidade de Coimbra (UC), como forma de protesto contra o facto de não terem sido ouvidos na inauguração do edifício das matemáticas. Alberto Martins, presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (AAC), viu o seu direito ao uso da palavra ser negado e Coimbra fez-se ouvir em jeito de retaliação. O historiador e professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), Rui Namorado, que estava a terminar os seus estudos em Coimbra na altura da revolta, contextualiza-a como ocorrência num país que atravessava a primavera marcelista. Uma época “de censura e onde o único canal de televisão era sectário”, pelo que ideais como os da luta estudantil francesa, conhecida como “Maio de 68”, não “tiveram grande repercussão” em Portugal. Se a crise académica de Coimbra contribuiu para o golpe de Estado que, cinco anos depois, a 25 de Abril, viria a pôr fim à ditadura instalada em Portugal é uma questão em aberto. Rui Namorado mostra-se apologista desta tese, pois acredita que existe uma “ligação objetiva” entre ambos os eventos. Segundo o professor da FEUC, tanto o 17 de Abril de 1969 como o 25 de Abril de 1974 “inserem-se num conjunto de lutas, como o Maio de 1968, que refletem algo que estava a emergir: a crise do sistema, que se traduz em formas de instabilidade social e política”. Após a crise, viveu-se um ambiente de “grande repressão”, pelo que a AAC se encontrava fechada. Os estudantes “sofreram penalizações e alguns foram mandados para a guerra colonial”. A UC afigurava-se um “lugar simbólico para o regime”, mas a revolução não passou despercebida e efetuaram-se alterações para agrado dos estudantes, como a mudança de reitor, que “apesar de ter sido escolhido pelo Governo, tinha a confiança dos alunos”. Esse clima de “armistício institucional” acarretou ainda a realização de eleições para a AAC e os estudantes que foram para a guerra voltaram, bem como os processos disciplinares de que tinham sido alvo foram removidos. Porém, a nível político, continuaram a haver conflitos, e os que abandonaram Coimbra para integrar as forças armadas tiveram, segundo o historiador, uma “influência direta” na Revolução dos Cravos, devido ao contacto estabelecido entre eles e os capitães. Segundo Rui Namorado, apesar de ambos os eventos terem bases diferentes , as duas revoluções apresentam uma “lógica de resistência generalizada, que vai ao encontro dos interesses setoriais”. Enquanto a base da greve académica foi melhorar o ensino, a do 25 de Abril foi mais abrangente. A Academia não era “um dos instrumentos do regime” e depressa se tornou num obstáculo à sua manutenção. A “crescente tensão” entre esta e o poder político desafiava o regime ditatorial em que Portugal estava mergulhado e deu lugar às lutas universitárias do pós-Revolução, que emergiram em consonância com os valores de Abril.
FOTOGRAFIA GENTILMENTE CEDIDA PELO MUSEU ACADÉMICO DE COIMBRA
INÊS MOITA
FOTOGRAFIA GENTILMENTE CEDIDA PELO MUSEU ACADÉMICO DE COIMBRA
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TAGV e o retomar de cena num reencontro com a cultura Interrupção total da programação artística e cultural levou a quebra de receitas. Pandemia dá azo a novos projetos e, com o fim do estado de emergência, atividades regressam de forma progressiva - POR CRISTIANA REIS E INÊS CASAL RIBEIRO -
CÁTIA BEATO
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pandemia originou mais uma suspensão de todo o setor cultural desde o dia 15 de janeiro. Após um longo período de ausência, as salas de cinema, teatro e outros espetáculos reabriram portas ao público com as mesmas regras e limitações do primeiro desconfinamento. No Teatro Académico Gil Vicente (TAGV), o retomar das atividades deu-se no dia 19 de abril com a exibição da exposição “Marionete x 20 – O Futuro é Daqui Para a Frente”. O diretor da estrutura universitária, Fernando Oliveira, relembra os efeitos da COVID-19 na instituição. “Foi uma fase obviamente muito disruptora que gerou um efeito devastador nas pessoas que trabalham na área da cultura. Muitas têm contratualização precária, outras são ‘freelancers’ e algumas vivem de acordo com as indústrias culturais”, confessa. Dentro do próprio edifício, as necessidades também se fizeram sentir. Segundo Fernando Oliveira, a interrupção total da programação artística e cultural teve um “efeito negativo na equipa”. Os colaboradores de criação e produção artística foram afetados pela “suspensão de ciclos e ensaios em curso, assim como pela desagregação de coprodutores que financiam determinados projetos”, explica o diretor. Na altura em que não puderam abrir portas, desenvolveram-se atividades de manutenção do equipamento, próprias dos momentos em que existiam intervalos de programação. Foi ainda possível organizar o arquivo histórico do teatro. Mais tarde, a equipa passou a estar em teletrabalho, que se mantém até hoje nas áreas administrativas. No entanto, esta situação já não afeta o funcionamento do espaço, sendo “compatível com as
atividades que se estão a desenvolver”, como aponta Fernando Oliveira. A COVID-19 veio ainda lembrar a importância da tecnologia numa altura em que não é recomendado o contacto humano. No teatro, recorreu-se aos meios digitais e parte dessa aprendizagem veio para ficar. “Há alguns processos de trabalho que podem prosseguir de modo complementar, através das redes e dos dispositivos de reuniões”, enfatiza o diretor do TAGV. Por outro lado, explica que alguns aspetos se tornaram mais claros, visto que “não se pode estar cara a cara a apreciar obras artísticas que no domínio das artes ao vivo são muito afetadas”. As transmissões de eventos online, de forma a dar respostas às limitações impostas pela pandemia, permitiram que estes pudessem obter um maior alcance. A disponibilidade dos conteúdos em acesso aberto passou a ganhar relevo neste formato. No entanto, Fernando Oliveira alerta para o facto de esta facilidade “colocar em causa a necessidade de circulação dos espetáculos em território nacional e internacional”. Ainda que o recomeço seja encarado com otimismo, o responsável pelo espaço tem alguns receios quanto à carência de receitas ao longo destes meses. “Estamos a tentar recuperar, mas, ainda assim, com uma limitação muito grande que é o facto de apenas podermos abrir a meia casa”. Neste momento, o TAGV tem cerca de 750 lugares na totalidade, mas só pode ter disponíveis 380”, esclarece. A limitação do funcionamento dos teatros e dos espaços culturais afetou o ritmo das produções e suspendeu o curso de novos projetos. Não obstante, a pandemia veio dar lugar a um novo fenómeno e muitas criações foram reorientadas para se
poderem adaptar à situação presente. “École des Maîtres”, um projeto europeu que conta com a participação de países como Portugal, Itália, Bélgica e França e que tem como parceiro nacional o TAGV, é um exemplo desta adaptação. A edição de 2020 foi cancelada devido à pandemia e a organização reajustou-a ao campo da escrita no teatro. O projeto, que está a ser desenvolvido remotamente desde julho do ano passado, incentiva a que se construam textos a partir da situação pandémica, e pretende incorporar uma “reflexão e mediação artística sobre esta conjuntura que se vive”, aponta Fernando Oliveira. Os textos vão ser apresentados em julho deste ano. Com a nova fase de desconfinamento e com o fim do estado de emergência, em vigor desde 9 de novembro do ano passado, o diretor do edifício universitário considera que “o setor vai ter condições, de uma maneira mais progressiva, para voltar ao normal”. Acrescenta ainda que se nota um “processo dinâmico” em que as pessoas vão “conquistando o espaço exterior e o regresso aos eventos artísticos em público”. Fernando Oliveira relembra ainda o papel dos alunos como uma comunidade “importante para o espaço”, que se afastou da cidade e das atividades culturais. “Tudo isto só se pode recompor, com alguma continuidade, a partir do próximo ano letivo”, acredita. Num momento em que os espaços artísticos e culturais acompanham o país numa reabertura progressiva, o diretor do TAGV deixa ainda uma mensagem de otimismo, e salienta que “as artes são um dos lugares de encontro com o próprio humano”, algo que considera importante reter, após a experiência da pandemia.
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Círculo de Artes Plásticas de Coimbra: o valor da interação na arte Interação com público apontada como maior dificuldade durante confinamento. Carlos Antunes lamenta a baixa importância conferida à arte em Portugal - POR BEATRIZ MONTEIRO MOTA -
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intura, escultura, vídeo e multimédia são alguns dos programas que, desde 1958, fazem parte do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC). Em 2015, expandiu os horizontes e passou a realizar o evento “Anozero - Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra”. Depois de largos meses sem atividade devido à pandemia, são três as exposições em vigor neste momento, conta o diretor do CAPC, Carlos Antunes. “Corpos”, de Ana Léon, “Retratos de Ninguém”, de Tiago Martins, João Correia e Sérgio Rebelo e “Futuro”, de R2, são as exibições que estão agora distribuídas pela cidade. De forma geral, o CAPC funciona como os organismos autónomos da Associação Académica de Coimbra (AAC), informa. A direção tem a principal função de programar o espaço e trabalha em conjunto com associados que colabora. Segundo Carlos Antunes, “além do trabalho de programação e de curadoria das exposições, o CAPC tem também um programa aberto de serviços educativos”. “Esfera CAPC” interage com os cidadãos, aos quais lança desafios para participarem nas diferentes ações. Com as portas fechadas durante os últimos meses, por conta da pandemia, o diretor conta que não foram semanas inativas. “Aproveitá-
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mos o tempo para um período mais reflexivo e de organização interna da estrutura”, revela o diretor do CAPC. A promoção de conversas online, a preparação da Bienal, a procura de recursos e de financiamento e a organização do arquivo foram algumas das tarefas desempenhadas ao longo do confinamento. No que diz respeito à inauguração de exposições, Carlos Antunes confessa que não sentiu grandes alterações, para além de uma redução na agenda cultural da associação. No entanto, a interação com o público, “muito estimada pelo CAPC”, ficou prejudicada, uma vez que estava proibida. Neste aspeto, o programa “Esfera CAPC”, por se basear no contacto com o público, “foi um trabalho que deixou de poder ser feito”. De volta ao trabalho, Carlos Antunes conta que já foram inauguradas duas exposições “com uma grande adesão” em que “as pessoas estavam ávidas de atividade cultural”. “C orpos” de Ana Léon está presente na Casa Municipal da Cultura, no Jardim da S ereia. Explica que “são pequenas animações de uma enorme intimidade” e acrescenta que esta ar te “espelha a atmosfera intimista que a ar te deve sempre proclamar”.
Por sua vez, o edifício sede na Rua Castro Matoso recebe “Retratos de Ninguém”, uma proposta de antigos alunos de Design e Multimédia, alguns já professores e outros a frequentar o doutoramento. A obra, de acordo com o diretor, foi selecionada, em 2019, para “o maior prémio de arte e multimédia em Portugal”, o Prémio Sonae Media Art. Tal como a obra de Ana Léon, aborda o tema da identidade, neste caso ao utilizar múltiplas fotografias fundidas de todos os visitantes que entram no espaço. “É como se se tratasse de um jogo de identidades trocadas”, reforça. Pelo contrário, “Futuro”, de R2, nunca fechou, “devido à sua própria condição”. Esta obra é um pequeno museu com a escultura de Francisco Tropa localizado ao ar livre, junto à Ponte de Santa Clara. Inaugurada em 2020, Carlos Antunes olha-a como “uma proposta curiosa, porque marca um ano carregado de forma negativa pela ideia da pandemia”. “Todo o pensamento sofisticado em Portugal é pouco valorizado”, confessa o diretor. Numa perspetiva geral, lamenta o escasso valor que é dado à arte, bem como à ciência e à literatura. Contudo, ressalva que isso não deve ser um motivo para desanimar e que “compete a cada um de nós tornar o mundo um lugar em que vale a pena viver”.
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O regresso à (Praça da) Canção Na semana em que se celebraria a tradicional Queima das Fitas, a cidade dos estudantes recebe segunda prova-piloto com plateia em pé. Foi obrigatório apresentar teste negativo à COVID-19 e as receitas dos bilhetes reverteram para a União Audiovisual - POR JÉSSICA TERCEIRO -
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ecorreu no passado sábado, dia 8 de maio, o terceiro concerto teste-piloto do país, na Praça da Canção, em Coimbra, com a presença de quase 500 pessoas. O evento abriu portas às 19h15, e às 20h30 deu-se início às atuações dos artistas Anaquim, The Twist Connection, Birds are Indie e Portuguese Pedro. Este teste-piloto, organizado no âmbito da candidatura de Coimbra a Capital Europeia da Cultura 2027, serviu para obter dados clínicos por parte das autoridades de saúde que possibilitem aumentar a lotação de público em futuros eventos e festivais. O evento foi organizado pela Câmara Municipal, em conjunto com a Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos, a Associação Portuguesa de Festivais de Música (APORFEST) e a Associação Portuguesa de Serviços Técnicos para Eventos. Contou ainda com a parceria da Cruz Vermelha Portuguesa, a Roche e a WiseSafety.
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S e nd o e ste o terc eiro teste-pi l oto, o c once r to na ci d ade dos estud antes foi o pr ime i ro com c ap acid ade p ar a m i l p ess o as e m p é, div idid as em g r up os de 250 . O pr i me i ro teste-pi l oto de cor reu em Brag a, com u ma l ot aç ão de 400 p ess o as s e nt ad as , to d as com resu lt ado negat ivo, e contou com a p ar t ic ip aç ão de Fernand o R o cha. O s egundo re a l izou-s e na me sma ci d ad e nor ten ha, com l ot aç ã o i d ênt i c a, mas j á c om a pl atei a em p é, e re ceb e u o ar t ist a Pe dro Abr un hos a.
CÁTIA BEATO
Ricardo Branão: “A cultura é segura” O presidente da APORFEST, Ricardo Branão, acredita que o ‘feedback’ dos primeiros concertos foi ótimo e realça que “todas as pessoas que foram aos primeiros testes-piloto não estavam infetadas, uma vez que só podiam entrar se dessem negativo”. Admite ainda, que só 15 dias depois da realização de cada concerto é que se pode perceber se houve ou não contágio no local. A APORFEST espera que os resultados deste projeto “sejam positivos a confirmar que a cultura é segura e que não há contágios nos eventos”. No que toca à experiência destes primeiros testes, Ricardo Branão reitera que deve haver menos restrições na cultura, pois este acaba por ser um dos setores que mais regras cumpre e onde se têm todos os cuidados. Reconhece que “a cultura sofreu muito ao longo deste ano e meio e não faz sentido existirem restrições quando se assiste a um espetáculo e não quando se vai ao supermercado ou andar de avião”. O presidente d a A P ORFEST confess a que os promotores j á prov aram qu e exe c ut am as me did as d e re st r i ç ão com to do o c uid ado, e querem ver as qu e stõ e s d e s e gur anç a mais a l iv i ad as, p ara re duzi r as li mit açõ es que, atu a l mente, existem no me rc a do d a c u ltur a a nível outd o or’ e ‘ i nd o or’. O regresso à plateia Já a matar saudades de convívios ao ar livre, a plateia presente na Praça da Canção, reconhece, em termos gerais, a eficiência e a excelente organização do evento. Com enorme vontade de ouvir música ao vivo e de apoiar artistas locais, um dos espectadores presente acentuou que “o desejo de sair de casa era muito grande” e que “ter a oportunidade de ver um concerto em plena pandemia é formidável”. Os espectadores menos reticentes em relação às regras de
CÁTIA BEATO
CÁTIA BEATO
segurança neste regresso dos espetáculos, afirmam que, assim que voltarem os eventos sem regras de segurança, vão ser os primeiros a marcar presença, pois “os concertos são um vício e, depois de tanto tempo sem eles, não há como conseguir resistir”. Os bilhetes tiveram um custo de dois euros (com teste incluído) e puderam ser adquiridos na Ticketline e o lucro obtido reverteu para a União Audiovisual. Na compra do bilhete, foi necessário agendar o Teste Rápido de Antigénio, realizado no dia do concerto pela Cruz Vermelha, na Praça da Canção. Para assistir a este concerto, foi obrigatório o uso de máscara, a apresentação do teste negativo à COVID-19 e seguir critérios como não pertencer a nenhum grupo de risco e não ter estado em contacto com infetados nos últimos 14 dias. CÁTIA BEATO
8 desporto 11 de maio de 2021
O nascer da Pró-Secção de Padel da AAC Construir campos em nome próprio e participar em competições nas várias categorias são alguns dos objetivos da pró-secção. Reitor da UC é jogador da equipa de padel - POR CÁTIA BEATO -
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necessidade de chegar mais perto da comunidade estudantil e de carregar o símbolo da Académica ao peito durante os jogos foi o que motivou um grupo de amigos conimbricenses a criar a Pró-Secção de Padel da Associação Académica de Coimbra (AAC). Fundada pouco antes do início da pandemia, o que levou à interrupção da atividade durante o confinamento, a pró-secção vai retomar a atividade com vista a chegar mais à comunidade estudantil nos tempos vindouros. O atual presidente da Pró-Secção de Padel da AAC, Nuno Botelho, confessa a vontade de dar condições aos estudantes para experimentarem jogar este desporto para, com isso, “a modalidade crescer em Coimbra”. A equipa, segundo o presidente, “vem quase do início do padel na cidade”. Há quatro anos foram vice-campeões nacionais de veteranos e, no ano seguinte, campeões nacionais de M4. “A equipa é, mais ou menos, sempre a mesma, daí nos darmos bem”, refere Nuno Botelho e acrescenta que entre os jogadores existe uma grande amizade. No meio dos membros que compõem a equipa de padel encontra-se o reitor da Universidade de Coimbra (UC), Amílcar Falcão, que segundo o dirigente foi “uma peça fundamental para dar início a esta aventura da pró-secção”. À direção também perten-
cem três estudantes da UC que vão levar a cabo o futuro da pró-secção, pois “no fundo só se quis dar o pontapé de saída, para depois passar a bola para os mais novos”, confessa Nuno Botelho. A sede é situada nos campos do n10 em Eiras. “É lá que temos o nosso posto de trabalho e, portanto, nós costumamos jogar no n10”, alega Nuno Botelho. Porém a equipa não rejeita jogar pelos diferentes campos da cidade, pois o padel é um desporto sem “qualquer tipo de rivalidade”, declara o presidente. Por ser uma modalidade individual, cabe a cada jogador trazer o seu material. Basta umas sapatilhas, um equipamento desportivo e uma raqueta para a prática deste desporto. “Depois é juntar quatro jogadores e divertirem-se a jogar, que é o fundamental no padel”, confessa o presidente. Um dos grandes objetivos da direção é crescer, ou seja, “angariar muitos associados para no próximo ano conseguir competir em mais categorias que as deste ano”, confessa Nuno Botelho. Para a pró-secção, a ideia é ter mais associados e mais jovens para participar em competições nas várias categorias de padel. Ao refletir sobre o futuro, o sonho do presidente já é outro, onde a visão de “poder vir a ter campos nossos” ocupa o lugar principal.
“O padel é um desporto fantástico e apaixonante para qualquer pessoa que experimente”, confessa Nuno Botelho e acrescenta que “desde o nível de principiante até ao mais avançado, o jogador diverte-se sempre”. Além disso, a ideia de promover um torneio social de forma a “captar também pessoas a experimentar o padel” e de arranjar um monitor associado para “poder ensinar a modalidade” são outras metas a alcançar pela pró-secção de padel. O grande foco, antes de recomeçar a atividade na pró-secção, foram as inscrições para os Nacionais de Padel. “Arranjámos os jogadores e fizemos uma equipa para participarmos nas várias categorias”, conta Nuno Botelho. Agora que se espera um regresso à normalidade, é altura de começar a trabalhar nas próximas ideias da equipa para a prósecção. O presidente alega que se vai “começar uma campanha, nomeadamente no seio da academia, na tentativa de angariação de novos associados”. Para já, estão a ser formados protocolos com os principais clubes da cidade para dar condições aos jogadores e associados para poderem jogar, seja a preço mais barato ou competitivo. “Em breve esperamos chegar à comunidade de forma a que as pessoas nos contactem e queiram associar-se a nós”, conclui o presidente.
Pesca desportiva da Académica ambiciona regresso aos grandes palcos da modalidade Secção mantém-se ativa através de treinos individuais por parte dos seus atletas. Equipa da AAC tem como objetivo colocar a equipa de volta aos campeonatos nacionais
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Secção de Pesca Desportiva da Associação Académica de Coimbra (SPD/AAC) acumula quarenta anos de história, apesar de se ter encontrado sem atividade durante os últimos anos. De momento, continua a procurar realizar provas com frequência e proporcionar oportunidades de competição aos seus atletas. Mesmo com a pandemia a afetar de forma geral as atividades desportivas, a secção mantém-se a funcionar dentro daquilo que a Direção Geral de Saúde permite para o desporto. Para o presidente da SPD/AAC, Humberto Marques, um dos problemas atuais para a secção é não poder fazer treinos coletivos, como é a pretensão dos praticantes.No entanto, explica que mesmo com o entrave de não existirem treinos coletivos, os atletas continuam a realizar treinos individuais e a preparar as próximas provas em que vão participar. Sobre aqueles que são os objetivos da secção a curto prazo, o dirigente aponta como o principal “voltar a colocar a Académica nos Campeonatos Nacionais”. Para além disso, pretende, no plano individual, que “todos os atletas consigam atingir os seus objetivos” ao serviço da Académica. “Com
- POR FRANCISCO BARATA -
o desconfinamento já podemos estar todos juntos e preparar os campeonatos nacionais individuais e de clubes”, acrescenta o presidente da SPD/AAC. Humberto Marques aponta os patrocinadores, tanto dos atletas em si como da secção no global, como o principal apoio para adquirir o material necessário para a prática da modalidade. Lembra também existirem as verbas do Conselho Desportivo da AAC (CD/AAC) e da Direção-Geral da AAC (DG/AAC) que considera “não serem suficientes” para alcançar certos objetivos da secção. Os 18 atletas que compõem a secção não praticam a atividade num local fixo, “dependendo sempre de onde se vão realizar as provas”, como expli-
ca o presidente da SPD/AAC. Contudo, Humberto Marques menciona a pista de pesca do Choupalinho, no Parque da Canção, como a zona onde, nos tempos mais recentes, a secção tem realizado treinos e preparado as próximas provas que vai disputar. A SPD/AAC, que já conseguiu no ano de 1992 conquistar um Campeonato do Mundo de Clubes, além de um campeonato nacional e vários títulos regionais, pretende agora manter os seus atletas a treinar e a competir ao nível mais alto possível. Esta equipa da AAC luta assim para se manter ativa e poder, no futuro, como reitera o presidente da SPD/AAC, voltar a organizar treinos coletivos entre todos os praticantes que integram a secção.
CÁTIA BEATO
11 de maio de 2021
desporto 9
Planos para o Pavilhão Eng. Jorge Anjinho preveem aluguer das instalações a particulares Reabilitação do edifício marcada pela renovação de equipamento desportivo. Secções de basquetebol, futsal, voleibol e andebol já usufruem das instalações. Obrigação de testagem à COVID-19 pode causar “problema de liquidez da tesouraria das secções”, anuncia Miguel Franco - POR JÉSSICA OLIVEIRA -
CÁTIA BEATO
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epois da reconstrução a que o Pavilhão Engenheiro Jorge Anjinho foi submetido, a “Casa da Académica” voltou no início do presente ano a receber as modalidades para a prática de desporto. O secretário-geral do Conselho Desportivo da Associação Académica de Coimbra (CD/AAC), Miguel Franco, relembra que houve a necessidade de reabilitar o espaço. Em consequência do furacão Leslie, o edifício apresentava danos a nível do piso e do telhado que “ficaram em péssimo estado”, relata. Assim, a Académica Casa Mãe e o Organismo Autónomo de Futebol trabalharam em conjunto para reabilitar as instalações. Quanto às alterações feitas, o secretário-geral do CD/AAC expõe que “o pavilhão foi dotado de equipamento desportivo como tabelas de basquetebol, redes de voleibol, ‘placards’ e marcadores de pontos”. Ainda assim, “houve um cuidado redobrado com o controlo de acessos, a necessidade de contratar empresas para afixar as tabelas e de trocar algum equipamento de canalização”, acrescenta. O administrador da Direção-Geral da AAC (DG/AAC), Diogo Santos, explica que o aumento da infraestrutura foi “essencial” para que “todas as secções passassem a ter horas suficientes de treino e todos os escalões pudessem praticar a atividade física”. De momento, o espaço está a ser usado pelas equipas de futsal, andebol, basquetebol e voleibol, explica Miguel Franco. O secretário-geral do CD/AAC reitera que o pavilhão dispõe do material necessário para todas as modalidades “à exceção das bolas, que são asseguradas pelas próprias secções”. Para além das dimensões que as instalações têm para a prática de desporto, o edifício dispõe de gabinetes que podem vir a ser utilizados. Diogo Santos confessa que o objetivo da atual DG/
AAC é que “cada secção seja representada, pelo menos, com uma sala no edifício”. O administrador entende que a existência de gabinetes será benéfica “pela questão da proximidade à prática do desporto”. No entanto, segundo Miguel Franco, “o CD/ AAC ainda está a trabalhar para entender que uso dar às salas”. O secretário-geral começa por explicar que “não há gabinetes para todas as secções”, pelo que “faz mais sentido dar prioridade às que utilizam o pavilhão e que usufruem de espaços próximos das instalações”. Ainda assim, ressalta a possibilidade de rentabilizar o edifício e arrendar algumas das salas para privados. Questionado sobre a capacidade do pavilhão para receber jogos oficiais, Miguel Franco declara que “está totalmente dotado para competição e treino.” Já o presidente da Secção de Basquetebol da Associação Académica de Coimbra (SB/ AAC), João Frazão, acredita que “ainda não existem as condições necessárias no edifício” para serem efetuados jogos da liga profissional. Para o dirigente da modalidade, “as dimensões das tabelas podem ser melhoradas” e a existência de “um ’placard’ eletrónico e transmissões televisivas, pode vir a ser vantajosa para a realização de jogos a nível competitivo”, destaca. Ainda assim, o presidente da SB/AAC afirma que “a secção ficou satisfeita por voltar aos treinos”. João Frazão acrescenta que a reabertura do pavilhão coincidiu com a retoma da atividade desportiva que estava interrompida pela pandemia, “o que foi ainda mais agradável.” Quanto à frequência com que os atletas usufruem das instalações, o dirigente da secção explica que são “dois dias por semana, com horários que permitem treinos de formação e treinos da equipa amadora”. No que diz respeito à segurança dos atletas no
retorno à prática desportiva, Diogo Santos relata que os jogadores que estão a frequentar o pavilhão “procederam à testagem prévia à COVID-19”. O secretário-geral do CD/AAC ressalta que a obrigação de testes vai implicar um custo “que será assumido por algumas secções, e outras vão pedir aos pais dos atletas para suportarem o gasto em causa”. Assim, Miguel Franco não tem dúvidas que se vai gerar um “problema de liquidez da tesouraria das secções”. Ossecretário-geral do CD/AAC dá conta que o aluguer do edifício “é pago pelas modalidades que o requisitam”. Segundo Miguel Franco, a gestão da utilização das instalações é feita através de um horário fixo negociado com as secções desportivas. Depois, os horários livres são rentabilizados “através de acordos ou torneios com entidades privadas”, explica. O pagamento do piso e de algumas intervenções “foi feito pela DG/AAC”, declara Diogo Santos. Para além do apoio da Câmara Municipal de Coimbra, o administrador da AAC esclarece que o pavilhão já tem fontes de rendimento. “Existem entidades externas, como a Escola Superior de Educação de Coimbra, que estão a usufruir das horas vagas”. Ainda assim, as instalações “vão estar abertas a pessoas particulares que queiram alugar o edifício para a prática de desporto”, acrescenta. Miguel Franco confidencia que “têm havido muitos pedidos de eventos, na sua maioria desportivos” e fala na possibilidade da “organização de jantares, conferências e eventos culturais”. Os próximos eventos do Pavilhão Eng. Jorge Anjinho vão acontecer “à medida que as federações começarem a usufruir do calendário que já estava marcado”, que sofreu alterações devido à pandemia.
12 ciência & tecnologia 11 de maio de 2021
Um milhão de portugueses vacinados contra a COVID-19 Quatro meses passaram desde a primeira vacina administrada em Portugal, contra a COVID-19. Mais de três milhões de vacinas já foram aplicadas no país, o que coloca Portugal na segunda fase de vacinação - POR CARINA COSTA -
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Pfizer, a Moderna e a AstraZeneca são as três vacinas que estão em vigor no território nacional. No entanto, a Janssen, mais conhecida como Johnson & Johnson, está prevista começar a ser aplicada nesta semana, de 10 a 16 de maio. Segundo a página da Direção-Geral da Saúde (DGS) um milhão de pessoas já têm a vacinação completa. A docente da Universidade de C oimbra (UC) e diretora do L aboratório de Análises Clínicas da UC, Ana Miguel Matos, explica as diferenças existentes entre as três vacinas em vigor. Expõe ainda que as vacinas variam na sua constituição e é isso que as distingue. A Pf izer e a Moderna são vacinas de RNA mensageiro, ou seja, “são constituídas por informação genética do vír us, que uma vez introduzida no organismo humano induz a produção de uma proteína viral, contra a qual o organismo responde criando anticorpos”, esclarece a investigadora. A par tir deste momento o sistema imune passa a ser capaz de reconhecer o vír us, e prevenir a sua replicação, em caso de uma infeção futura. As vacinas AstraZeneca e Janssen têm uma composição diferente das outras duas. Ana Miguel Matos revela que estas são vacinas à base de vectores virais, geneticamente modificadas. Isto significa que vírus não patogénicos para o homem são modificados de forma a conter informação genética do SARS-CoV-2. Estes vírus, uma vez introduzidos no organismo humano, e à semelhança do que acontece com as outras vacinas, vão induzir a produção de uma proteína viral e, como consequência, o desenvolvimento de anticorpos. A D GS já assegurou a introdução da vacina Janssen em Por tugal, sendo que esta é recomendada apenas para pessoas acima dos cinquenta anos. Até ao momento, é a única vacina que funciona com uma só dose. No presente, todas as outras vacinas têm um esquema vacinal de duas doses. A Pfizer e a Moderna recomendam ambas um intervalo de 28 dias entre cada administração, enquanto a AstraZeneca aconselha 12 semanas de espera. Apenas a AstraZeneca, devido a algumas complicações encontradas, é recomendada a pessoas com 60 anos ou mais, enquanto que as outras duas são de uso geral. Apesar de ser um fator importante no combate à pandemia, “as vacinas não têm uma eficácia de 100% na imunidade”, relembra Ana Miguel Matos. No entanto, assegura que a vacinação “confere proteção” e que a “imunidade adquirida vai ajudar
o organismo a não desenvolver as formas graves da doença”. Em relação aos efeitos secundários de cada vacina, Ana Miguel Matos refere que podem variar , mas que “acabam por ser comuns a muitas outras”. Relatos como dores no local da injeção, febre, dores de cabeça ou dores musculares são sintomas normais, mas que não representam preocupação significativa, afirma. A s egund a fas e de va cina ç ã o em Por tu ga l iniciou-s e no mês de abr i l. D e acordo com o ‘website’ do gover no, est á pre v isto que s ej am v a cina d as 1 m i l hã o e 800 m i l p ess o as p ess o as com mais de 65 ano s e nove cent as m i l, ent re os cinquent a e o s 64 anos com diferentes p atolog i as, até à fas e s eguinte. D e a c o r d o c o m a D G S , Po r t u g a l c o n t i n e n t a l j á t e m “m a i s d e 1 0 % d a p o p u l a ç ã o c o m a v a c i n a ç ã o c o m p l e t a”. A maior disponibilidade de vacinas e o r i t m o d e i n o c u l a ç õ e s e n c o n t r a - s e “e m a u m e n t o s i g n i f i c a t i v o”, o q u e p e r m i t e a n t e c i p a r u m a “m é d i a d i á r i a d e c e m m i l v a c i n a ç õ e s”. A ‘t a s k f o r c e’ d a v a c i n a ç ã o afirma que estes resultados só foram p o s s í v e i s c o m “a i m p l e m e n t a ç ã o d o p r o c e s s o d e a u t o a g e n d a m e n t o”. D e s d e 2 3 d e a b r i l q u e o Po r t a l d o Au t o - a g e n d a m e n t o p a r a Va c i n a ç ã o c o n t ra a C OVID-19 est á ab er to. A D GS avançou que cerca de 206 mil inscrições foram registadas. FONTE: DIREÇÃO-GERAL DA SAÚDE
JOÃO RUIVO
11 de maio de 2021
ciência & tecnologia 13
Universidade de Coimbra é a mais sustentável do país Instituição foi avaliada com projetos e iniciativas para todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. “Mais importante do que o que já se está a fazer bem, é perceber o que se pode fazer ainda melhor”, considera o reitor
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Universidade de Coimbra (UC) conquistou o primeiro lugar, a nível nacional, e a 21.ª posição, na tabela global, do Times Higher Education Impact Rankings 2021. Com a classificação de 92,7 em 100, os destaques principais são para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) n.º 2, que visa erradicar a fome, e n.º 9, no âmbito da Indústria, Inovação e Desenvolvimento. Para o ‘ranking’ são tidos em conta parâmetros como a investigação, o ensino e a gestão de cada instituição, de modo a medir o seu sucesso no cumprimento dos ODS, definidos pelas Nações Unidas. Assim, o Times Higher Education Impact Rankings contempla um total de 18 ‘rankings’, ou seja, um por cada um dos ODS e um global, que avalia o desempenho geral das instituições. A UC encontra-se nos primeiros cem lugares a nível mundial em nove dos 17 objetivos fixados pelas Nações Unidas. Embora não haja obrigação, a UC concorreu com projetos e iniciativas para todos os ODS previstos. Amílcar Falcão, o reitor da instituição, destaca que este facto demonstra a visão da UC em relação ao próprio ‘ranking’, uma vez que “mais importante do que o que já se está a fazer bem, é perceber o que se pode fazer ainda melhor”. Na conquista do terceiro lugar mundial no ODS número 2, realça-se a estratégia de combate ao desperdício alimentar e a disponibilização de cabazes alimentares pelos Serviços de Ação Social às repúblicas universitárias a preços acessíveis. Segundo o reitor da UC, estão também a ser desenvolvidos programas de investigação e participação em consórcios na pesquisa de soluções para o setor agroalimentar. Está a ser realizado o “Mobfood”,
- POR INÊS RUA -
“projeto de investigação e desenvolvimento tecnológico que agrega vários agentes do setor agroalimentar com vista à promoção de uma indústria alimentar nacional mais competitiva”, exemplifica Amílcar Falcão. Outra iniciativa é o “Reseed”, “que estuda o impacto socioeconómico e ecológico da disseminação de produtos alimentares vindos de outros continentes desde o século XVIII na Europa”, acrescenta. Para este Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, também se teve em conta a existência da refeição social, equivalente a 74 por cento de todas as refeições servidas pela UC, com um custo de 2,40 euros. “Não há nenhuma instituição de Ensino Superior com um valor igual ou inferior a este”, enfatiza o reitor. No nono ODS, no âmbito da Indústria, Inovação e Desenvolvimento, a instituição ocupa o 13.º lugar a nível global. O destaque vai não só para as 121 ‘spin-offs’ criadas e as 304 patentes ativas, como também para o trabalho desenvolvido pelo Instituto Pedro Nunes. Enquanto instituição privada sem fins lucrativos criada pela UC, “salienta-se o apoio a 330 empresas, a criação de 2600 postos de trabalho e a média anual de 190 milhões de euros de volume de negócios”, declara Amílcar Falcão. O reitor da UC acentua ainda o peso de projetos como o “UC Transforma”, uma plataforma de voluntariado, para o resultado obtido com o terceiro ODS, que corresponde à Saúde de Qualidade, e a realização de parcerias para implementar os objetivos, no âmbito do ODS n.º 17. A UC Transforma, que “pretende juntar Projetos e Ações de Voluntariado”, já realizou 467 horas de trabalho voluntário. Conta também com 16
organizações registadas e realizou, até então, 19 iniciativas. Além disso, com vista a combater as desigualdades entre mulheres e homens no mundo académico, a UC é a única universidade portuguesa a fazer parte do projeto “SUPERA - Supporting the Promotion of Equality in Research and Academia”, coordenado pelo Centro de Estudos Sociais da UC. O reitor destaca também o “ambicioso” Plano para a Igualdade, Equidade e Diversidade, “lançado recentemente e já congratulado pela secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Rosa Monteiro”. Nos restantes objetivos, a UC posiciona-se sempre no “top 200”. Na perspetiva do reitor, o resultado é “bastante positivo e reflete o trabalho que a UC está a desenvolver para todos estes importantes ODS”. Com o intuito de melhorar o papel da UC nos objetivos previstos na Agenda 2030, Amílcar Falcão adianta que vão ser realizados desenvolvimentos importantes na área da inovação pedagógica e na área da eficiência energética. Neste sentido, a instituição ambiciona ser a primeira universidade portuguesa a alcançar a neutralidade carbónica até 2030. Para além de diversos mecanismos de modo a consciencializar a comunidade académica para o impacto de comportamentos no combate às alterações climáticas, surge a campanha “Salvar o Futuro”. Segundo o reitor, esta iniciativa visa “disponibilizar uma plataforma que mobilize e incentive a sociedade a pensar em soluções para a concretização dos 17 ODS, com vista a garantir a todos uma participação cívica ativa”. Com Luísa Tibana MARIA MONTEIRO
14 cidade 11 de maio de 2021
ACERSI CUIDA+ oferece ‘tablets’ à comunidade idosa Profissionais concluíram que projeto contribuiu para melhoria da autoestima de alguns utentes. Dispositivo eletrónico contém jogos, músicas, filmes, canais religiosos e um botão de emergência
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Associação das Cozinhas Económicas Rainha Santa Isabel (ACERSI) desenvolveu o projeto ACERSI CUIDA+, em parceria com as empresas siosLIFE e BPI. A iniciativa, pensada no seguimento dos efeitos negativos da pandemia na saúde mental da comunidade idosa, tem como objetivo distribuir ’tablets’ aos utentes da associação. O dispositivo eletrónico contém jogos como ‘puzzles’, jogo da memória, músicas, filmes, um canal religioso e um botão de emergência ligado à ACERSI. O projeto é financiado pela empresa BPI e Fundação La Caixa e conta com a participação de 20 utentes. De acordo com Teresa Sousa, assistente social, os profissionais constataram que os utentes “estavam esgotados a nível físico e psicológico” e com sintomas depressivos. A ideia do projeto surgiu devido às adversidades impostas à associação. A falta de funcionários e a consequente impossibilidade de disponibilizar equipas de acompanhamento incentivou a associação a encontrar uma alternativa nas novas tecnologias. O ‘tablet’ possui características e funcionalidades destinadas às “pessoas idosas que não estão habituadas às tecnologias e inclusive aos que não sabem ler nem escrever”, destaca a assistente social. Segundo Teresa Sousa, a estratégia utilizada para
- POR JULIA FLORIANO E MARÍLIA LEMOS -
estimular o interesse dos utentes, consistiu em “marcar uma visita domiciliária, trazer o dispositivo e mostrar como funciona, para então perguntar à pessoa se gostaria de ter algo igual”. Para a assistente social, a iniciativa mostra-se importante porque se obser vou que os utentes conseguiram “desempenhar novas atividades de forma online”. Além disso, os profissionais concluíram que o projeto contribuiu para a melhoria da autoestima de alguns utentes. O balanço dos utentes Rosalina Ferreira, de 81 anos, uma das beneficiárias do projeto, relata que desde março, quando recebeu o seu ’tablet’, este tem ser vido de “entretenimento todas as tardes”. Considera ainda que a adaptação ao dispositivo foi “muito simples, visto que tudo foi explicado pela equipa” e que já estava familiarizada com um telemóvel. A utente queixa-se de “eventuais falhas na conexão à internet”, mas mesmo assim avalia a iniciativa como “muito boa”. Mostra ainda entusiasmo ao descobrir a possibilidade de ouvir músicas de compositores que já gostava, como o André Rieu. Rosalina Ferreira revela o seu “grande e antigo apreço por cantar”, atividade que não pode mais realizar devido a problemas de saúde.
Explica que agora “ouvir e assistir apresentações” já a deixa “mais bem disposta”. A beneficiária refere também os jogos como uma das suas atividades favoritas, em especial o jogo da memória. Conta que a sua rotina consiste em intercalar os jogos com momentos para música e palavras-cruzadas. Para Rosalina Ferreira, “cada atividade tem o seu momento, conforme a disposição”. Também Maria Amélia Brissos recebeu um dispositivo. A idosa, de 60 anos, conta que começou a utilizar o ‘tablet’ no dia 25 de março e que gosta de ouvir músicas, em especial Bandalusa e Zé Malhoa, e de realizar videochamadas com a filha. Destaca também o gosto por filmes, como Mr.Bean ou Charles Chaplin, e por jogos da memória, puzzles e o jogo de “matar insetos” que, segundo Teresa Sousa, incentiva a desenvolver a motricidade fina. A utente explica que tem o hábito de utilizar o dispositivo durante toda a tarde para manter-se entretida. A assistente social sublinha ainda que Maria Amélia Brissos encontra-se “mais animada e bem disposta” desde que iniciou o projeto. A beneficiária conclui que a experiência “possibilita novas aprendizagens” e “melhorou a sua visão acerca das novas tecnologias”. A Associação S egundo Teresa S ousa, a ACERSI “já é, ela própria, uma senhora idosa”, visto que nasceu em 1933 como uma Instituição Particular de S olidariedade S ocial. Explica que tem como propósito “apoiar indivíduos em situação de carência económica e social’’, e que, apesar de ter surgido como refeitório social, constitui também o C entro de Dia para Idosos e o S er viço de A poio Domiciliário. A a s s i s t e nt e s o c i a l re f e re q u e “a s s it u a ç õ e s d e v u l n e r a bi l i d a d e s ã o s i n a l i z a d a s p e l a s e g u r a n ç a s o c i a l , q u e av a l i a e a c omp a n h a o s i n d i v í du o s b e n e f i c i a d o s”. R e l at a q u e , c om a p a n d e m i a , o re f e it ór i o c ont i nu a a pre s t a r o s s e r v i ç o s , m a s e m re g i m e ’t a k e - aw ay ’. Teresa Sousa refere ainda outra iniciativa da associação, o projeto “Oficina dos Avós”, iniciado em março de 2020, mas suspenso devido à pandemia. Financiado pela fundação BPI, consiste em aulas de informática, costura criativa e ioga, além de sessões informativas sobre saúde. Indica também o projeto intergeracional “Avós e Companhia”, que “vai contar com estudantes voluntários da Universidade de Coimbra para visitas domiciliares e auxílio dos idosos naquilo que precisem, como visitas ao ser viço de saúde e a utilização do ’tablet’. JULIA FLORIANO
11 de maio de 2021
cidade 15
COVID-19 e degradação da Baixa de Coimbra dificultam o regresso dos comerciantes Pandemia agravou dificuldades já existentes na Baixa de Coimbra e os comerciantes reivindicam revitalização do centro da cidade. Gabinete de Intervenção Social e Apoio ao Empreendedor criado para apoiar lojistas
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os poucos, a Baixa de Coimbra inicia o regresso à normalidade. O alargamento de horários dos estabelecimentos e o fim do estado de emergência trouxeram mais pessoas à zona central da cidade. Máscaras, gel desinfetante e o distanciamento social continuam a marcar o quotidiano dos conimbricenses. Apesar das dificuldades provocadas pela pandemia da COVID-19, os comerciantes do Centro Histórico de Coimbra tentam manter uma atitude positiva em relação ao futuro. A Praça 8 de Maio aloja o estabelecimento de Horácio Mendes. O proprietário de 84 anos recusou a venda ao postigo e encerrou a sua loja durante três meses e meio. A Sansão digna-se pelo bom atendimento e, para Horácio, a venda ao postigo não permitia tratar e aconselhar os clientes de uma forma satisfatória. O lojista confessa que a pandemia o obrigou a ir ao “baú” porque o “dinheiro não cai do céu”. A convicção de que a sua loja faz a diferença com a venda de tamanhos grandes que atrai clientes de todo o mundo, fez com que Horácio nunca tenha pensado em encerrar a loja. Natural de Pombal, o vendedor chegou a Coimbra com apenas 14 anos e abriu a sua loja em setembro de 1969. “É o meu primeiro filho”, declara. Quando visitava o estabelecimento fechado, o proprietário sentia que estava a entrar num “túmulo” e admite que, muitas vezes, as lágrimas o acompanhavam. Por outro lado, durante o confinamento, Paulo Gonçalves aproveitava as suas visitas ao café Santa Cruz para fazer obras. O proprietário de 48 anos remodelou paredes, pinturas, chão e mobiliário. Paulo esteve em casa durante dois meses e meio e aponta como principal dificuldade a perda de ritmo diário. O dono do espaço teme que os danos causados pela pandemia sejam “irrecuperáveis”. O estabelecimento vizinho pertence a Idalinda Oliveira, que cumprimenta todos os clientes que entram e saem da pastelaria Visconde. A loja nunca fechou, mas Idalinda investiu em plataformas ‘online’ e no regime ‘take-away’. A proprietária de 57 anos conta que já sofreu com inundações e foi vítima de um roubo, pelo que encara a pandemia como mais uma dificuldade. Com a chegada das vacinas, a lojista acredita que a “pior fase já passou” e que as pessoas estão mais conscientes da necessidade de continuar a cumprir as medidas de segurança. Para Luís Filipe Carvalho, um novo confinamento é “um receio latente”, mas o proprietário da Loja das Meias acredita que a vacinação irá evitar um novo fecho do comércio. As redes sociais ajudaram o lojista a “manter contacto com os clientes”, embora afirme que não foi o “suficiente para fazer face às despesas”. Apesar de considerar que o comércio mudou com a pandemia, o vendedor de 62 anos assegura que “o comércio da Baixa está vivo”. Já a mercearia tradicional de Paulo Bela
- POR MARIA LUÍSA CALADO E DÉBORA CRUZ -
não beneficia do mesmo movimento que a Loja das Meias. A Camponeza está localizada na Rua da Louça, junto ao Largo do Poço, onde o fluxo de pessoas é menor. “Esta parte da Baixa de Coimbra está desprezada pelos próprios habitantes”, critica o comerciante de 63 anos.“Enquanto as pessoas se mantiverem lá para cima e não vierem aqui, os negócios vão perdendo”, acrescenta. Paulo admite ter tido “quebras de 80 por cento” durante a pandemia, mas mantém a loja aberta para que as “formiguinhas não deixem de vir”. O negócio de Paulo Bela promove degustações de vinho e sofreu com a perda dos turistas, já que eram “os clientes que traziam mais dinheiro”. Na mesma rua localiza-se a Pedrosa, loja que vende roupa de bebé. A perda do turismo não afetou o negócio porque “não são os turistas que vêm comprar os enxovais”, afirma a proprietária, Dora Frade. Apesar de ter apostado nas redes sociais, a comerciante de 41 anos reveWla ter tido dificuldades nas vendas ‘online’, visto que “os clientes gostam de ver e apalpar” os produtos. Dora confessa que os clientes de longa data foram importantes para manter as vendas, mas julga que as pessoas estão a começar a recorrer “um bocadinho mais ao comércio tradicional”. Situada na Praça do Comércio, a ‘concept store’ de Cátia Melo, esteve aberta durante apenas seis meses até ao primeiro período de confinamento. A pandemia fez com que a proprietária da Coola Boola - Colab se questionasse a si própria e ao seu negócio. “Acho que não sou a mesma por causa das preocupações, aliás tenho tido insónias”, constatou. A mulher de 39 anos confessa que a maior dificuldade foi a incerteza do futuro. “Não sei fazer futurologia”, desabafou a lojista. Com a pandemia, Cátia Melo afirma que sentiu dificuldades em dinamizar a área devido à paralisação da cultura. “Ninguém faz um esforço real para aproveitar a Baixa, para dinamizar
os negócios e a própria cidade”, sustenta a empreendedora, “os ‘shoppings’ estavam a abarrotar e a Baixa estava vazia”, acrescenta. “Se as pessoas não vierem à Baixa, a cidade perde-se”, conclui Cátia. Gabinete de Intervenção Social e de Apoio ao Empreendedor é criado para apoiar comerciantes da Baixa. Inaugurado no dia 27 de abril, o gabinete é promovido pelo Observatório de Cidadania e Intervenção Social (OCIS) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. O projeto tem como objetivo estimular o desenvolvimento comunitário. Clara Santos, responsável pelo OCIS, salienta que “os efeitos colaterais da pandemia trouxeram outra pandemia, a da pobreza, do encerramento de várias lojas e do aumento abismal do número de desempregados”. O gabinete é um “espaço multissetorial” que oferece apoio direto a nível psicossocial para colmatar algumas das “necessidades e receios” dos comerciantes da Baixa num período de fragilidade, salienta Clara. A proprietária da Pedrosa, Dora Frade, foi a primeira cliente do gabinete, que a ajudou a realizar o contrato de uma nova colaboradora. Para Idalinda Oliveira, dona da Visconde, o gabinete é “uma associação muito boa, podemos entrar, falar e expôr os nossos problemas que temos logo uma ajuda”, afirma. Cátia Melo, da Colab, frisa que o gabinete é positivo, porque é “muito apologista que a Universidade intervenha mais na cidade”. O gabinete, situado no Salão Brazil, conta com as parcerias do Jazz ao Centro Clube e da Agência de Promoção da Baixa de Coimbra. Para Clara Santos, é fundamental perceber que “a academia pode ser muito mais do que a produção de conhecimento puro”. A docente acredita que estas iniciativas promovem uma universidade “direcionada para a defesa da dignidade e dos Direitos Humanos”. DÉBORA CRUZ
16 soltas 11 de maio de 2021
CRÓNICAS DO TRODA - POR ORXESTRA PITAGÓRICA -
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ntão amiguinhos como vai o vosso desconfinamento, já fizeram o teste gratuito patrocinado pela UC e pelos SASUC? Aqui o vosso cronista já fez o seu teste. Esta primeira vez foi muito rápida, verti uma lágrima no fim e nunca mais vou ver quem mo fez. Uma experiência quase tão agradável como o prato social a dois euros e quarenta.
Por falar em cantinas, os SASUC decidiram adotar o modelo McDonald’s com estas novas maquinetas e aplicação a condizer. Claro está que quem se lembrou disto obviamente que não come nas cantinas, visto que apenas dá mais trabalho a toda a gente que frequenta estes locais. Qual MbWay, mandem-me dois euros e quarenta por SASUC Go para ir comer um prato diferente que o que está prometido na ementa. Com um nome destes, uma pessoa espera poder colecionar seres virtuais como noutra aplicação de nome similar. Até poderia ser uma boa ideia, com cada refeição desbloqueava-se uma cozinheira da cantina, que se podem colecionar e trocar com os amigos. Voltando ao tópico inicial, a nossa academia está tão à frente no desconfinamento que os jardins ultimamente são uma versão ao vivo de “Onde está o Wally”, mas neste caso “Onde está a Máscara neste ajuntamento de 100 pessoas embriagadas”. Ponto positivo, os jardins nunca andaram tão limpos, com relvinha e tudo. Se a relva crescer demasiado, parece mais um cenário da vida real de um episódio de “Dora a Exploradora” (notaram como introduzimos subtilmente o próximo
FOTOGRAFIA CEDIDA PELA ORXESTRA PITAGÓRICA
tema?). Pois é, quem diria que na nossa associação as pessoas em cargos de responsabilidade fazem as coisas como bem lhes apetece. De qualquer forma, as Assembleias Magnas andam a roçar o modelo de telenovela me xicana, onde temos uma sessão de peripécias, drama, choro, e no fim termina com um “continua no próximo episódio”, portanto, esta violação dos Estatutos é apenas mais um traço de personalidade daquela que é a nossa casa. Depois deste pot-pourri de acontecimentos agridoces, a nossa querida crónica chega ao fim. Esperamos que todos os 15 leitores deste jornal (praticamente todos da Secção de Jor-
nalismo e malta que ajuda) tenham gostado. Como estamos a 500 caracteres de terminar esta nossa intervenção satírica relativa ao dia-a-dia de um comum estudante desta nossa Acad emia ao lado da Universidade, este último parágrafo foi escrito numa pseudo perífrase em que se dissemos muito, mas não acrescentámos nada ao que foi dito anteriormente. Se chegaram até aqui na expectativa de mais um comentário gargalhófico sobre a atualidade, lamentamos, mas tal não vai acontecer…. Esta fotografia é um empréstimo da Pitagórica ao Jornal A Cabra, com juro de 6,9% à proprina.
ÉXTÉGUES DA ISABEL - POR ISABEL SIMÕES -
S
omos seis no autocarro. Envelhecidos pela vida vamos em busca de algo que a alimente. #hávidanestesmtuc
E
stou a começar a ficar zoomidificada. Desde as 08h30 da manhã já foram três e o dia ainda não acabou. #hávidanestacidade
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cordo devagarinho ao som da chuva persistente que ontem anunciei como possível. #hávidanestacidade
cabreando por aí...
11 de maio de 2021
soltas 17
CONTROVÉRSIAS DA AGRICULTURA BIOLÓGICA - POR MARIANA FARIAS - GRUPO ECOLÓGICO DA AAC -
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agricultura biológica tem como principal objetivo maximizar o “natural” e minimizar a interferência química na produção dos alimentos. Nos dias que decorrem, na maioria das superfícies comerciais, a sociedade é confrontada com secções de produtos de origem biológica e orgânica, sendo estas vistas como as melhores opções e mais saudáveis. A maioria das frutas e vegetais que nos são familiares nem sempre tiveram o aspeto atual, pois foram modificados pelos humanos através da criação seletiva sendo assim geneticamente modificados e melhorados. Um estudo sobre o impacto do uso de terras agrícolas na mudança climática, descobriu que a produção de alimentos orgânicos é pior para o clima do que a agricultura convencional, visto que necessita de áreas mais extensas de terra para cultivar os produtos, pois o grande uso desta na agricultura biológica leva indiretamente a maiores emissões de dióxido de carbono, devido ao desmatamento necessário par tal. Assim como os produtos vegetais e frutícolas biológicos, a produção de carne biológica e produtos lácteos, apresenta aspetos ainda mais complicados. Um estudo em 2017, calculou que a carne bovina alimentada com pasto exige muito mais terra do que carne bovina alimentada com grãos, ou seja, o gado criado de modo livre no campo aumenta o desmatamento das áreas florestais, bem como o espaço ocupado pelas fazendas utilizadas para tal. Por alguma razão, as pessoas presumem que os pesticidas que ocorrem naturalmente são melhores para a saúde e para o meio ambiente do que os criados pelo Homem. Investigações realizadas sobre a toxicidade destas substâncias naturais levam à
perda dessa credibilidade, sendo que alguns pesticidas naturais demonstram ser muito piores para a saúde e ambiente, e tanto os pesticidas orgânicos como convencionais são tóxicos a partir de uma determinada dose. Ao contrário do que as pessoas pensam, 99.9% dos pesticidas ingeridos são de origem natural e a agricultura biológica utiliza vários não só naturais mas também sintéticos, sendo autorizados na ausência de soluções naturais. Na agricultura biológica, a utilização de pesticidas poderá apresentar ainda uma quantidade superior à agricultura convencional. Isto, porque os pesticidas orgânicos tendem a ser menos eficazes sendo assim utilizados em doses superiores para garantir o mesmo resultado na eliminação de pragas. Mesmo que não exista contaminação por pesticidas, os produtos biológicos parecem ser mais propensos à contaminação bacteriana. Um estudo detetou duas vezes maior contaminação por salmonella em produtos biológicos do que em alimentos produzidos pelos métodos convencionais. A razão para esta contaminação mais frequente, é o uso de estrume em vez de fertilizantes artificiais, pois muitas bactérias são disseminadas por contaminação fecal. A agricultura convencional geralmente também utiliza estrume, mas é usada irradiação e agentes antibacterianos para limitar essa contaminação. Em suma, a agricultura biológica tanto apresenta vantagens e desvantagens baseadas no conceito do apelo ao natural e não propriamente na ciência que dita o que é melhor para a saúde e para o ambiente.
OBITUÁRIO - POR CABRA COVEIRA -
GANHA JUIZINHO!
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elas minhas contas, cerca de 100% das Assembleias Magnas do atual mandato foram um fracasso. Contudo, felizmente, houve uma professora de Matemática que esclareceu que ““cerca de” não existe”. Não fossem haver dúvidas sobre a capacidade da MAM de contar votos. Mas longe de mim questionar essas engenharias lá do Polo II. Na zona do Polo I apenas questionamos a oratória. Mas já dizia Pitágoras que a soma do quadrado dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. O que é que isto tem a ver? Tanto como o percurso académico do presidente da Mesa a meio de uma discussão. Enfim, é tudo um Li(n)cho.
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SASUC GO CHARGE YOURSELF!
euros? A audácia de presumir que um mero estudante tem esse saldo na conta bancária! O arroz doce não vale esse dinhei ro! Queria um café e tive de comprar três baguetes e dois compais! Queria almoçar, mas FIQUEI SEM BATERIA! Saí de casa sem saber lavar roupa, mas ninguém me disse que era preciso uma ‘app’. Mas pior que tudo só mesmo o vídeo a explicar a aplicação. Aqueles dois atores do Canal Panda nem sabem o que estão a ven der. Aqueles movimentos de mãos tipo Harry Potter ‘wannabe’ são a definição de “não sabemos o que se passa, mas paguem-nos”.
18 artes feitas 11 de maio de 2021
CINEMA
GUERRA DAS CABRAS A evitar Fraco
As rasteiras da memória
Podia ser melhor Razoável
- POR PEDRO EMAUZ -
A demência e as consequências do envelhecimento são temas que poderiam ter resultado, como já se viu inúmeras vezes, numa experiência de simples tristeza e pouco mais que isso. No entanto, quem chega ao fim deste “O Pai”, realizado pelo francês Florian Zeller, sabe que acabou de assistir ao filme mais assustador do ano e, surpreendido, dificilmente lhe sairá da memória. A cena de abertura retrata um ambiente acolhedor, com os raios de sol a ultrapassar as janelas de um apartamento inglês que certamente se assemelha ao de muitos de nós: uma filha preocupada a dar sermões e recados ao pai, já envelhecido, que resmunga enquanto vê televisão. Anne (Olivia Colman) quer contratar uma cuidadora para o pai de 80 anos, Anthony (Anthony Hopkins), que, em teimosia, recusa a ideia de que já não sabe olhar por si. E se calhar começamos por achar o mesmo. As faltas de memória iniciais aparentam não ter grande peso, em parte desmanchadas pelo sentido de humor e carisma de Anthony. E é assim que começa por lidar com relógios que desaparecem do pulso, com conversas sobre viagens a Paris que surgem, da sua perspetiva, do nada. Mas esta leveza transita para um total aborrecimento, enervado pelas preocupações incessantes de Anne, chegando mesmo a questionar as intenções da própria filha. Este filme sublinha a ideia de que nem tudo é o que parece e é esta falta de clareza que leva Anthony a suspeitar de tudo e todos, refugiar-se no seu quarto e fechar a porta, na esperança de
que quando a voltar a abrir já tudo faça sentido. Aquilo que nos assusta neste filme é que não vemos apenas um senhor de idade a perder o relógio ou a não reconhecer a filha - nós próprios não sabemos onde está o relógio, nem reconhecemos Anne quando esta aparece na pele de Olivia Williams. É talvez dos retratos cinematográficos mais impactantes do que é a demência porque é ilustrada na perspetiva de Anthony, sendo impossível não ficar imerso na sua aflição. Isto resulta, claro, da fantástica escrita de Florian Zeller, que primeiro levou a obra para palco e que a adaptou para o ecrã em conjunto com Christopher Hampton. Mas sentimos que não seria o mesmo sem os dois atores principais. Olivia Colman traz uma delicadeza ao sofrimento que é vermos os nossos entes mais queridos caírem nas trapaceiras da memória. Anthony Hopkins tem o desempenho do valor de uma carreira inteira. Num ano onde se viram grandes performances em vários filmes, não há dúvidas de que o Oscar de Melhor Ator Principal foi bem entregue, porque o seu desempenho é muito maior que qualquer prémio - é uma autêntica lição do poder da fragilidade num ator. É um filme difícil de se ver, pelas mesmas razões que nos prendem ao ecrã do início ao fim: é íntimo, arrepiante e doloroso. É um autêntico thriller sem o assumir e essa “rasteira” dá-nos uma valente pancada. Às vezes, faz-nos muito bem cair.
A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro
O Pai De Florian Zeller com
Anthony Hopkins, Olivia Colman, Rufus Sewell
2020
A Cabra aconselha
11 de maio de 2021
MÚSICA
From tha Streets 2 tha Suites De Snoop Dog Editora Doggy Style Género West Coast hip hop, gangsta rap, G-funk 2021
Neva Left, neva will - POR DIOGO MACHADO -
Quase trinta anos após a sua estreia no mundo do ‘rap’, o acarinhado Snoop Dogg volta dois anos depois do seu último projeto com o seu 18º álbum, este de duração curta, mas que não deixa de impressionar. Natural de Long Beach, Califórnia, “Tha Doggfather”, como é conhecido, ou “Uncle Snoop”, como se acostumou a ser tratado, regressa a um estilo que o viu dominar o mundo do hip hop durante duas décadas. O álbum arranca com “CEO”, onde Snoop escolhe entrar num instrumental estilo ‘hyphy’ de Rick Rock enquanto fala da sua longevidade no rap. A segunda entrada, “Roaches in My Ashtray” retorna às suas raízes ‘g-funk’ com as suas já conhecidas rimas sobre sessões de fumos. A voz de Snoop Dogg parece soar bem em qualquer estilo, mesmo quando se mostra mais despreocupado. Com isto não quero passar a ideia de que o álbum não tenha atitude. Quando se concentra, Snoop ainda é capaz de rimar de forma agressiva, como é evidenciado na música Talk Dat Shit To Me, “Play Superman, I’ll be your Kryptonite / Took this n**gas citch cuz she’d rather fuck a Crip tonight”.Nesta música responde também ao último ataque do ‘rapper’ Eminem que decidiu criticar Snoop Dogg no seu último projeto. Os Tha Eastsidaz fazem um retorno inesperado em “Fetty in the Bag” enquanto Big Tray Deee e Goldie Loc se reúnem com o Uncle Snoop para falar da vida ao som de alguns sintetizadores e ‘hand-claps’. Produzido por Nottz, “Look Around” é retirado diretamente de “Tha Blue Carpet Treatment”
Uma natureza viva pintada por Delia
Owens
- POR MARIA MONTEIRO -
No prólogo do livro, somos logo confrontados: o corpo de Chase Andrews foi encontrado morto na cidade de Barkley Cove, na manhã de 30 de outubro de 1969. A partir deste homicídio, Delia Owens volta ao passado para contar uma história muito maior que esta. A história de Kya Clark, nascida numa família caótica e abandonada para viver à custa dos recursos naturais do pântano. A precisão da autora a dissecar ao pormenor este ambiente pantanoso, típico da Carolina do Norte, criou em mim a necessidade de pesquisar se esta tinha alguma ligação com o meio. Acontece que, para além de escritora, Delia Owens também é zoóloga, e foi aí que tudo fez sentido. Pinta um verdadeira natureza, viva, dinâmica e cíclica, que para além de ser o espaço onde se desenrola a trama, é quase como uma personagem do livro, que define ou pauta o estado de espírito das personagens. Vejo o pântano como se fosse o grande ensinador de Kya para a vida. Na ausência de pai, mãe e irmãos desde muito cedo na vida, é ali que ela aprende a ser observadora, atenta e desconfiada, mas também onde se isola quando o olhar das pessoas da vila lhe corta a alma. Owens também retrata o quanto o ser humano pode ser dissimulado e discriminador, já que a sociedade de Barkley Cove não poupa em comentários maldosos sobre a índole da rapariga. Apesar disso, é bonito ver a resistência. Mudam as estações, mas o caráter de Kya permanece apenas dependente dos segredos que a natureza encerra. No final, tal como um pântano após tempestade, a lama
artes feitas 19
assenta e tudo volta ao seu lugar. Resta a tranquilidade e a esperança de que por mais que tenhamos muitos traumas da infância, nunca podemos darlhes o poder de nos limitar. Acompanhar o desabrochar da “menina do pântano” e vê-la a chamar a atenção de dois jovens também permitiu pensar sobre os diferentes tipos de amor. Por um lado, o verdadeiro, que por vezes é doloroso e envolve sacrifícios, e por outro, o abusivo, a dependência emotiva que muitas vezes é vivida silenciosamente. A decisão entre um ou outro é um conflito vivido por Kya, que acaba por refletir o seu crescimento e amadurecimento. O The New York Times descreveu-o como “dolorosamente belo”, mas eu gostaria de inverter a ordem dos adjetivos. Para mim, é belamente doloroso. É belo ver florescer neste brilhante romance de formação, suspense e quase uma ode ao pântano, uma história tão lastimosa. Ficamos com a sensação que lá, onde o vento chora, afinal não é um lugar tão longe de onde estamos.
(projeto de 2006) e ainda soa tão ‘gangsta’ como na altura. É sempre uma experiência nostálgica ouvir um álbum novo de um dos ‘OGs’ do rap. Isto porque, hoje em dia, esta sonoridade já não é tão comum nas produções da maioria dos ‘rappers’ que dominam as rádios e as plataformas de ‘streaming’. Para terminar o álbum, o décimo tema, “Left My Weed” relata uma situação comum em que esquece da sua erva. A letra de Snoop Dogg conta a história em como chega à festa e se apercebe que não trouxe a sua ‘weed’. O refrão cantado em conjunto com J Black traz uma vibe ‘chill’ como aquela que provavelmente o Uncle Snoop procurava ter com aquilo que deixou em casa. Em conjunto com o projeto “Neva Left” este é provavelmente o meu álbum preferido do Doggfather em anos recentes. Não tem uma duração exagerada e todos os temas presentes se encaixam bem e trazem ao ouvinte boas memórias de outras sonoridades do ‘rap’.
A Cabra aconselha
LIVRO
Lá, onde o vento chora
De Delia Owens Editora porto editora 2019
A Cabra aconselha
Mais informação disponível em
EDITORIAL Trazer à lembrança o que é a Academia - POR LEONOR GARRIDO E MARIA MONTEIRO-
N
uma edição em que recordamos momentos como o 17 e o 25 de abril, cruciais para liberdade que temos hoje em dia, é triste ter também de escrever sobre a situação dos nossos colegas de Cabo-Verde, estudantes de Medicina. Como parte da Academia, especialmente de uma com valores tão distintos desde sempre, é importante não deixar esta história passar-nos ao lado. Quando bolsas que permitem que alunos possam estudar num outro país são suspensas, sem aparente motivo nem tentativa de explicação por parte de quem as devia proporcionar, é hora de ouvir e tentar perceber. Apesar da situação lamentável, é bom ver que alguns estudantes se uniram para replicar a luta contra a injustiça pela qual a Academia de Coimbra é tão bem conhecida. São estes os valores que queremos manter presentes. Não só nos assuntos que trazem incómodo a todos, e que fazem as televisões virem até cá, mas também em situações que, apesar de graves, provavelmente não vão ser faladas a nível nacional. Tentando combater esta tendência de priorizar as notícias negativas, falemos em outras coisas pelas quais a cidade de Coimbra é conhecida: noites na Praça da Canção. A nossa cidade foi a terceira privilegiada no país a receber este conceito que, apesar de muito aquém do habitual, nos traz um pedacinho do que um dia já vivemos. É com ânimo e esperança que vemos, pouco a pouco e ainda dentro da realidade que nos afastou do mundo como o conhecíamos, um desfrutar de vida não sentido há mais de um ano. Uma esperança de que a normalidade, apesar de demorada, vai chegar.
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É com ânimo e esperança que vemos, pouco a pouco e ainda dentro da realidade que nos afastou do mundo como o conhecíamos, um desfrutar de vida não sentido há mais de um ano. Uma esperança de que a normalidade, apesar de demorada, vai chegar”
Ficha Técnica
Diretora Leonor Garrido
Fotografia Cátia Beato, Débora Cruz, Júlia Floriano, Maria Monteiro
Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA Depósito Legal nº 478319/20 Registo ICS nº116759 Propriedade Associação Académica de Coimbra
Editores Executivos Cátia Beato e Maria Monteiro
Ilustração João Ruivo
Equipa Editorial Tomás Barros e Bruno Oliveira (Ensino Superior), Mafalda Pereira (Cultura), Francisco Barata e Diogo Machado (Desporto), Luísa Tibana (Ciência & Tecnologia),Cátia Beato e Maria Miguel (Cidade), Cátia Beato (Fotografia)
Paginação Luís Almeida, Leonor Garrido
Colaborou nesta edição Ana Haeitmann, Ana Rita Batista, Beatriz Monteiro Mota, Cátia Beato, Cátia Gonçalves, Carina Costa, Cristiana Reis, Débora Cruz, Diogo Machado, Francisco Barata, Inês Casal Ribeiro, Inês Rua, Joana Carvalho, Jéssica Oliveira, Jéssica Terceiro, Jorge Correia, Júlia Floriano, Maria Monteiro, Maria Luísa Calado, Marília Lemos, Pedro Emauz
Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra
Morada Secção de Jornalismo Rua Padre António Vieira, 1 3000-315 Coimbra
JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA
Conselho de Redação Carlos Almeida, Luís Almeida, Inês Duarte, Filipe Furtado, Hugo Guímaro, Margarida Mota, João Diogo Pimentel, Paulo Sérgio Santos, Pedro Dinis Silva, Pedro Emauz Silva
Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A. Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: fig@fig.pt
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