“QUEM QUER SER BILIONÁRIO?” MUDANÇAS NA UC
CASAS DA ALTA
Num registo próximo de “Cidade de Deus”, o novo filme de Danny Boyle inspira-se no tom positivo de Bollywood
O itinerário às moradas onde habitaram “grandes portugueses”
Faculdade de Farmácia vai para o Pólo III já este semestre
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17 de Fevereiro de 2009 Ano XVIII N.º 192 Quinzenal gratuito
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a cabra
Director: João Miranda Editor-executivo: Pedro Crisóstomo
Jornal Universitário de Coimbra
EUNICE OLIVEIRA
MinervaCoimbra
Há 10 anos em nome da cultura P7
Desenhos animados As novas técnicas transformaram a animação. Se agora há mais realismo, as histórias têm vindo a perder a essência
Apenas três faculdades da UC leccionam aulas em inglês com a língua. O facto de não falarem português fluentemente apresenta-se, na opinião dos alunos de ‘incoming’, como o maior entrave à aprendizagem e à integração.
Com a chegada de novos estudantes estrangeiros para o segundo semestre, A CABRA foi saber se a Universidade de Coimbra (UC) tem condições para receber alunos de outros países. Apesar de a língua
ser a principal dificuldade sentida pelos estudantes que chegam através de programas de mobilidade, das oito faculdades, só Ciências e Tecnologia, Letras e Economia leccionam aulas em inglês - a língua
internacional por excelência. Um inquérito realizado pela Divisão de Relações Internacionais, Imagem e Comunicação da UC a 604 estudantes mostra que 128 alunos estrangeiros têm dificuldades
AAC
Andebol
Que futuro para a NATO?
Encontrada solução para erguer secções
Fim da fase regular do campeonato
Guerra do Afeganistão volta a ser a principal prioridade
O Conselho Fiscal da Associação Académica de Coimbra (CF/AAC) decidiu lançar uma comissão administrativa à Secção de Escrita a Leitura, que estava em risco de extinção. Em relação à de Gastronomia, o presidente do CF/AAC, Alexandre Almeida, afirma que "provavelmente, a solução passará pelo mesmo".
Depois da vitória sobre o Académico de Viseu, neste fim-desemana, a equipa sénior de andebol da Académica acabou a primeira fase do Campeonato Nacional de 2ª Divisão Zona Centro no terceiro posto, com 51 pontos. Agora, vai disputar a fase complementar, na qual luta pela manutenção.
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Mais informação em
acabra.net
Desde 1949 que a Organização do Tratado Atlântico Norte (NATO) se assume como o mais viável sistema
de defesa conjunta. Os paradigmas geopolíticos mundias mudaram e a organização resistiu ao tempo. Hoje, os novos problemas exigem novas respostas, não sem contar com a crise económica mundial. O renovado apelo da Administração norte-americana aos seus aliados pode ser um factor preponderante para o desenvolvimento dos conflitos.
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DESTAQUE Problemas infra-estruturais afectam UC Nova faculdade de Farmácia vai criar novas condições para os estudantes. Contudo, outras faculdades debatem-se com problemas estruturais. Solução pode passar pela utilização dos espaços de outras faculdades João Miranda O aviso para estudantes no site da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC) não podia ser mais explícito. Os caixotes e o lixo que se amontoam à porta da cafetaria do mais recente edifício do Pólo das Ciências da Saúde, ou Pólo III, da universidade, também não. A faculdade de Farmácia muda-se definitivamente para o novo espaço universitário neste segundo semestre. Segundo o presidente do Conselho Directivo da FFUC, Adriano Barbosa de Sousa, “Farmácia irá na sua globalidade para o Pólo das Ciências da Saúde, tendo três edifícios”: a faculdade, a Biblioteca das Ciências da Saúde, que será partilhado com a faculdade de Medicina, e um terceiro junto ao actual restaurante universitário, que, como afirma Barbosa de Sousa, “está em acabamento”. Este último vai servir não só a parte administrativa da faculdade, como jornadas e congressos, com um anfiteatro com lotação de cerca de 400 pessoas. Entre as vantagens que encontra no novo espaço, o presidente do Conselho Directivo da FFUC destaca primordialmente o facto de os alunos estarem agora concentrados num só edifício em que não existe uma divisão física entre as aulas teóricas e as teórico-práticas. “Os alunos vão ter aulas práticas com menos alunos, com um ensino de qualidade maior”, argumenta o presidente. Outra vantagem apontada por Barbosa de Sousa prende-se com a proximidade do edifício ao restaurante universitário e à nova residência de estudantes do Pólo das Ciências da Saúde. Os estudantes começaram já as aulas teóricas ontem, dia 16. Contudo, devido ao período do Carnaval, na próxima semana, as aulas teórico-práticas só se iniciaram no dia 2 de Março. Também o presidente do Núcleo de Estudantes de Farmácia da Associação Académica de Coimbra, Tiago Craveiro, considera a mudança produtiva: “vamos centralizar um serviço de
saúde a nível único, e será uma situação que contribuirá para o proveito quer de Farmácia quer de Medicina”. “As instalações estão bastante evoluídas”, entende. Ainda não existe uma perspectiva para a conclusão da transferência. Ainda assim, o presidente do Conselho Directivo da FFUC espera que esteja concluída em Maio e que o novo ano lectivo arranque com a faculdade a funcionar na sua plenitude no Pólo III. Relativamente aos antigos edifícios da faculdade, Adriano Barbosa de Sousa admite que não sabe qual é o futuro da antiga farmácia dos Hospitais da Universidade de Coimbra, nem do Museu: “a reitoria lhes dará um destino que eu não sei qual”. O antigo Palácio dos Mellos vai dar lugar à nova biblioteca da faculdade de Direito.
Nova biblioteca para Direito Projecto do arquitecto Siza Vieira, o Palácio dos Mellos vai sofrer uma intervenção para dar lugar à futura Biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (FDUC). Aquando da apresentação do projecto, o arquitecto deixou claro que a especificidade do edifício levou a que se “optasse por uma construção não em altura mas, pelo contrário, em escavação”. Assim, a nova biblioteca vai-se distribuir por cinco pisos, dos quais três serão subterrâneos. A sala de leitura vai disponibilizar 200 lugares e 1922 metros de prateleiras com mais de meio milhão de livros. O edifício vai disponibilizar ainda uma sala de informática no piso zero, o mesmo de acesso à biblioteca, sala de trabalhos de grupo e de audiovisuais. Ainda não existe uma data fixada para a conclusão da obra. Contudo, segundo o presidente do Conselho Directivo da FDUC, José Faria e Costa, existe na faculdade “uma enormíssima carência de infra-estruturas, nomeadamente de salas de aula, mas também de salas de seminários, reuniões, coisas que o ajustamento ao Processo de Bolonha
O CENÁRIO do novo edíficio deixa transparecer a recente mudança da FFUC
exige de certa forma. Este é um problema real e efectivo”. Uma solução apontada pode passar pela utilização de espaços das outras faculdades: “temos que tentar arranjar espaços que passam directamente pelas outras faculdades”. Todavia, “tudo deve ser racionalizado e não deve haver apropriações dos espaços comuns”, adverte José Faria e Costa. Também o presidente do Conselho Directivo da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), Carlos Ascenso André, encontra na utilização das salas das outras faculdades, como a de Medicina, uma solução para a falta de espaço no próprio edifício da faculdade. “Vejo todas as
vantagens em racionalizarmos a utilização dos espaços na alta universitária e há faculdades que estão com falta de espaço, no-
Solução apontada pode passar pela utilização dos espaços de outras faculdades meadamente para aulas e é natural que se caminhe para uma racionalização de espaço”, aponta. Porém, para Carlos Ascenso André a transferência para outras
faculdades não deve ser um cenário colocado.
Psicologia em impasse Com mais de dez anos de existência, o plano da construção de um novo edifício da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC) no Pólo II foi sendo consecutivamente adiado. “Têm havido constrangimentos externos à própria universidade, relacionados com a situação do próprio país, mas também relativos às pessoas que estão à frente do ensino superior em Portugal”, defende o presidente do Conselho Directivo da FPCEUC, José Tomás da Silva. Segundo o docente, a última notícia que o con-
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DESTAQUE PUBLICIDADE
A SAÍDA DA FFUC do Palácio dos Mellos abre as portas a uma nova biblioteca de Direito
selho directivo obteve sobre o assunto é a de que “não existe autorização para iniciar a construção do edifício no Pólo II, onde já existe a garantia da parte da Universidade de Coimbra do espaço onde vai ser construído esse edifício”. José Tomás da Silva explica que não compreende a decisão governamental, adiantando que já foi transmitida à reitoria a preocupação sobre o assunto. “As outras faculdades congéneres de Psicologia e Ciências da Educação públicas do país já têm instalações próprias, como deve ser, com condições de trabalho para docentes, discentes e funcionários e isso não acontece na nossa faculdade e é uma desvantagem que temos
nesta competição”, argumenta o presidente do conselho directivo. Actualmente, a faculdade funciona no Colégio Novo, cuja pertença é da Santa Casa da Misericórdia, o que no entender de José Tomás da Silva causa uma série de dificuldades à faculdade, devido às obras de que carece. O docente aponta ainda a falta de salas de aula, de espaços laboratoriais e de gabinetes de pessoal como entrave à plena actividade. O presidente do conselho directivo explica que a actividade só subsiste graças à “cooperação dos funcionários e dos docentes e à vontade de quererem fazer algo pela sua faculdade” e à utilização de espaços da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade
de Coimbra. Para José Tomás da Silva, a reitoria tem de tomar acção relativamente a esta questão: “há que mexer nos interesses instalados e encontrar espaços alternativos; penso que a reitoria tem de encarar isto de frente, não podem continuar a dizer que a faculdade de psicologia um dia vai ter um edifício”. “Têm de ser tomadas medidas, encontradas soluções porque problemas há muitos e a situação é grave”, conclui. Até ao fecho desta edição, A CABRA tentou contactar, sem sucesso, os responsáveis da equipa reitoral para esclarecer sobre esta questão. Com Tiago Carvalho e Catarina Domingos
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ENSINO SUPERIOR ESTUDANTES ERASMUS NA UC
Maioria das aulas dada em português Aprender em português é uma das maiores dificuldades sentidas por estudantes estrangeiros na UC. Das oito faculdades, apenas três leccionam algumas aulas em inglês ILUSTRAÇÃO POR RAFAEL ANTUNES
Pedro Crisóstomo Cláudia Teixeira “Hoje, toda a gente conhece alguém que fez Erasmus”. Dúvidas parece não haver sobre a presença de estudantes ao abrigo de programas de mobilidade na Universidade de Coimbra (UC). Mas se a expressão do presidente da Associação Sócrates Erasmus da UC (ASE-UC), Miguel Rio, também parece não criar surpresa, surgem algumas dúvidas quando olhamos para os dados sobre o número de cadeiras leccionadas na língua internacional por excelência, o inglês. Das oito faculdades da universidade, apenas três (Ciências e Tecnologia, Letras e Economia) têm unidades curriculares leccionadas em inglês, das quais 32 são de licenciaturas, 49 de mestrados e 28 de doutoramentos. Só no ano lectivo passado, entraram 801 alunos na universidade oriundos dos quatro cantos do mundo, segundo números oficiais da UC. Itália, Brasil e Espanha são os países de onde chegam mais estudantes estrangeiros, sendo que 75 por cento vêm através de Erasmus. No entanto, as faculdades de Direito, Medicina, Farmácia, Psicologia e Ciências da Educação, e Ciências do Desporto e Educação Física não estão referidas no documento oficial da UC onde constam as cadeiras leccionadas na língua internacional. Sobre esta última faculdade, apenas é esclarecido que “algumas cadeiras poderão ser dadas em inglês se houver estudantes estrangeiros em frequência nas aulas”. A faculdade de Ciências e Tecnologia é a que mais oportunidade dá aos estudantes estrangeiros de acompanhar as aulas em inglês (42 unidades de mestrado, 28 de doutoramento e três de licenciatura), sobretudo nas áreas de informática e biologia. No caso da faculdade de Letras, embora as disciplinas de licenciaturas e mestrados leccionadas em inglês sejam 32, dessas, apenas três não têm a ver com o ensino da língua. Economia é, das três faculdades enumeradas no documento, a que menos aulas tem em inglês (quatro, todas de licenciatura). A chefe da Divisão de Relações Internacionais, Imagem e Comunicação (DRIIC), Filomena Carvalho, esteve sempre incontactável, até ao fecho da edição, para esclarecer sobre a relação dos estudantes estrangeiros com a aprendizagem, em inglês, na UC.
Língua dificulta integração A língua é também a principal difi-
culdade sentida pelos alunos recebidos na UC, segundo um inquérito realizado no ano lectivo passado pela DRIIC. De uma amostra de 604 estudantes estrangeiros, 128 referiram ter dificuldades com a língua, verificando-se uma maior tendência nos alunos com origem em países da Europa de Leste. De acordo com o documento, a principal causa deste tipo de problemas reside no facto de o português ser uma língua muito difícil. O estudante de Língua e Literatura Portuguesa para Estrangeiros, Keita Sato, natural do Japão, explica que estudou a língua portuguesa com professores brasileiros e que, mesmo assim, em Portugal, “se torna muito complicado perceber o que as pessoas dizem”. “Consigo perceber quando falam lentamente, como fazem muitos professores”, ressalva. Também Je Seong Kyu, aluno do mesmo curso, e oriundo da Coreia do Sul, sentiu dificuldade no que diz respeito ao português: “apesar de estudar português há três anos, no início senti muita dificuldade em conversar com os portugueses, sobretudo porque falavam muito rápido”. O estudante de Engenharia Civil Matteo Marini, natural de Itália, encontra-se em Coimbra desde Setembro passado e conta que, quando chegou, teve algumas dificuldades na inscrição num curso de português para estrangeiros, devido ao número limitado de inscrições. “Por isso, o primeiro mês não foi muito fácil para mim”, explica. O mesmo inquérito da DRIIC revela que a maioria dos alunos de chegada mostra não ter tido problemas de integração. No entanto, Sato afirma que o que menos gosta na sua estadia em Coimbra é a “dificuldade de fazer amigos com os portugueses”. “Por vezes, acho que não gostam dos estrangeiros, se calhar porque não falo muito bem português”, lamenta. O presidente da ASE-UC corrobora e explica que “há um certo afastamento dos alunos portugueses dos Erasmus”. A razão, adianta, reside no facto de os estudantes portugueses serem “bastante fechados” nas suas aulas, rotinas e actividades. Miguel Rio admite que “é próprio da cultura dos portugueses não estar à vontade para falar inglês ou espanhol com os estudantes Erasmus”. Apesar disso, o presidente da ASEUC acredita que pode haver uma mudança, fruto do programa Erasmus. Se “há alguns anos este programa de mobilidade estudantil não tinha tanto impacto e apenas uma minoria de alunos o podia fazer, hoje é um fenómeno em crescimento”. Com Hugo Anes
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ENSINO SUPERIOR
Conselho Fiscal lança comissão administrativa a secção da AAC ANDRÉ FERREIRA
Apesar da omissão nos Estatutos da AAC, o caminho para as novas direcções das secções em risco de extinção é a nomeação de comissões administrativas. Os projectos começam a ganhar forma e já há actividade Rui Miguel Pereira Depois do anúncio da inactividade e possível extinção, as secções de Gastronomia e de Escrita e Leitura (SESLA) da Associação Académica de Coimbra (AAC) ganham nova vida. Com o objectivo de formar direcções e ressuscitar as secções, pouco mais de vinte pessoas compareceram no plenário reunido para o efeito a 20 de Janeiro. Agora, quase um mês depois, já existem actividades agendadas e comissões administrativas para organizar as secções. Existe, no entanto, um problema devido ao facto de os estatutos da AAC serem omissos quanto à questão do procedimento de recuperação de secções que não apresentem actividades há mais de um ano. Perante esta omissão, o Conselho Fiscal da AAC (CF/AAC) e a Direcção-Geral da AAC (DG/AAC) pediram pareceres aos advogados que se mostraram favoráveis à nomeação de uma comissão administrativa para a SESLA. No que diz respeito à secção de Gastronomia, o presidente do CF/AAC, Alexandre Almeida, explica que “ainda está em discussão”. O coordenador-geral do Pelouro da Cultura DG/AAC, Carlos
AS SECÇÕES de Gastronomia e de Escrita e Leitura já têm actividades agendadas
Eva, é o indigitado pela direcçãogeral para a comissão administrativa lançada à SESLA e aponta que o objectivo é “angariar novos sócios e garantir a actividade das secções”. Carlos Eva reconhece ainda que apesar de, no caso da SESLA, ter havido uma tomada de posse sem eleições, esta justifica-se para “formalizar a responsabilidade e compromisso das pessoas”. Admite, o coordenador da DG/AAC, que é possível que o mesmo venha a suceder com a secção de Gastronomia: "tem muito mais lógica tomar esta opção do que extinguir uma secção". A opção pelas comissões administrativas, como explica Alexandre
Almeida, foi essencialmente para manter a estrutura da secção "sem voltar à estaca zero". Pois, "se as extinguíssemos para depois as retomar isso seria um pouco apagar a história que já existe". “A lógica das comissões administrativas assenta, acima de tudo, na vontade de não perder a história, não forçar a quebrar um ciclo mas sim reabilitálo".
Reerguer uma secção No passado dia 12, tomou posse a comissão administrativa da secção de Escrita e Leitura. O presidente da secção, José Mendes, conta que tomou conhecimento da situação através do Conselho Cultural da
AAC. “Após isso, reuni-me com mais quatro pessoas e formei um grupo de trabalho ao qual se juntaram, depois do plenário, mais dez pessoas”, explica. À frente do projecto da secção de Gastronomia está o ainda presidente da Secção de Fado da AAC, Nuno Ribeiro. Segundo ele impôsse a necessidade de "não ficar de braços cruzados" e "não perder mais um pedaço da casa". Estão já agendadas várias iniciativas nas duas secções. A primeira actividade do SESLA ocorreu ontem, 16, em parceria com o Pelouro da Cultura da DG/AAC. Celebrou-se o Dia dos Namorados através da distribuição de poemas
pela comunidade estudantil. Prevêse, ainda, a realização de um concurso de crónicas e um concurso de poesia. Por sua vez, Nuno Ribeiro admite a possibilidade de a secção de Gastronomia ter um espaço no recinto da Queima e realizar provas de vinhos. Existe um convite por parte da secção de Culturas Lusófonas da AAC para elaborar um panfleto sobre pratos típicos dos países de língua oficial portuguesa e uma acção de solidariedade em parceria com a DG/AAC. “Equacionam-se protocolos com as cantinas da Universidade, casas típicas da cidade e a ampliação do espólio bibliográfico da secção”, conclui Nuno Ribeiro.
Com Catarina Domingos
DG/AAC promove campanha de sensibilização aos estudantes Alertar a sociedade civil para os problemas no financiamento do ensino superior é o principal objectivo da iniciativa Nuno Agostinho Filipe Sousa A Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) vai promover uma campanha informativa, durante esta semana, acerca do financiamento do ensino superior. A iniciativa, denominada (Des)Governos, vai ser dinamizada através de cartazes espalhados por
pontos estratégicos da cidade de Coimbra e, de acordo com o coordenador-geral do Pelouro da Política Educativa da DG/AAC, Rui Carvalho, vai incidir sobre as “derrapagens orçamentais de algumas obras públicas e o efeito altamente benéfico e de desenvolvimento que esse dinheiro poderia trazer ao ensino superior público”. O dirigente associativo aponta como exemplos a ponte Rainha Santa Isabel, em Coimbra, a Casa da Música, no Porto, o Túnel do Marquês, em Lisboa, e “o caso dos submarinos, aquando do mandato do Paulo Portas enquanto ministro da Defesa”. Rui Carvalho explica que “a acção vai ter um efeito visual e vai focar alguns dos maiores elefantes brancos da actualidade” e adianta que
“não vai ser entregue à tutela nenhum caderno reivindicativo”. Com a actividade, a DG/AAC pretende “fazer uma crítica aos sucessivos governos que protagonizaram estas derrapagens megalómanas, não tendo como objectivo fazer juízos de valor sobre a importância destes mesmos investimentos”, explica Rui Carvalho. “Estas obras são qualificadas como de grande importância para a sociedade civil, mas acabaram por ter custos acrescidos muito elevados para a realidade nacional”, acrescenta. Rui Carvalho afirma que “a actividade serve simplesmente para mostrar que não tem havido responsabilidade de quem governa na utilização diligente do dinheiro dos contribuintes, dos quais os estu-
dantes também fazem parte ao pagarem IVA sobre todos os bens que compram”. “O que se pretende é despertar a consciência crítica da população em geral e recolocar a discussão sobre o ensino superior na agenda política nacional, demonstrando que este deve ser tratado como o motor de desenvolvimento do País, como de resto é reconhecido em todos os países desenvolvidos”, esclarece o coordenadorgeral do da Política Educativa. “Este é de resto um dos grandes objectivos desta equipa da DG/AAC, assumido por nós desde sempre”, conclui. Já na semana passada a direcção-geral havia lançado um
cartaz com a cara do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, alertando para a exclusão de alunos do ensino superior, e sete mil panfletos idênticos ao outdoor.
ANDRÉ FERREIRA
6 | a cabra | 17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira
ENSINO SUPERIOR
UC não discutiu passagem a fundação A passagem da Universidade de Coimbra a fundação é, de acordo com o assessor da instituição, Pedro Santos, “uma questão em aberto” Cláudia Teixeira Após a recente aprovação, pelo governo, da passagem das universidades do Porto e de Aveiro e do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), a fundações públicas de direito privado, o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), Seabra Santos, veio criticar o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior dizendo que houve falhas de informação da tutela às instituições sobre a transformação das universidades em fundações. Acerca deste assunto, Seabra Santos fez saber que não prestava mais declarações. Ainda assim, no que diz respeito à possível passagem da Universidade de Coimbra a fundação pública de direito privado, o assessor de imprensa da UC, Pedro Santos, explica que “como esta é ainda uma primeira fase, a UC resolveu não avançar para essa solução”. “É uma questão que estará em aberto até se entender que ela deve ser discutida e ela ainda não foi discutida no Conselho Geral”, acrescenta. Já em Janeiro do ano passado, o também reitor da UC,
Seabra Santos, alegou, em declarações à A CABRA, que “a lei é vaga, pois não há informação ao nível de legislação”, mas alertou para o facto de “ser preciso estar aberto a todas as possibilidades”. Apesar de o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, ter afirmado que com a passagem das universidades a fundações há uma autonomia acrescida para as instituições, o presidente do Conselho de Avaliação da Fundação das Universidades Portuguesas, Virgílio Meira Soares, afirma que “esta transformação é algo que necessita de maiores esclarecimentos porque não se conhece ainda como vai ser o modo de funcionamento futuro e o seu verdadeiro estatuto de autonomia em relação à tutela”. Meira Soares sublinha que “o que se sabe é que uma boa parte das receitas [das instituições] não virá do Orçamento de Estado, sendo necessário que sejam capazes de gerar receitas próprias numa percentagem bastante alta para a sociedade em que vivemos, o que é abalado, nesta altura, pela crise que está a abalar o sector privado”. O presidente do Conselho de Avaliação da Fundação das Universidades Portuguesas questiona
sobre o que “o que acontecerá se a escolha [da passagem a fundação pública de direito privado] se revelar um grave erro para a instituição”. “Mas, obviamente, que quem aderiu não o terá feito sem pensar maduramente na decisão grave que iria tomar e no risco que pode vir a correr”, ressalva. No que diz respeito à passagem de três instituições de ensino superior a fundações públicas de direito privado, aquando da sua visita a Coimbra, no passado dia 13, a líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, afirmou que “a questão das fundações é um tema complexo” e acrescentou: “percebo que haja dúvidas pelo facto de ter sido dada liberdade às diferentes instituições para se constituírem ou não como fundações”. Questionada acerca do regime fundacional, Manuela Ferreira Leite referiu que “depende das circunstâncias das diferentes faculdades e dos aspectos que lhe vão estar subjacentes, o que depende de cada uma delas”. A possível passagem das instituições de ensino superior a fundações públicas de direito privado decorre da implementação, no ano lectivo passado, do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior.
ANDRÉ FERREIRA
A PASSAGEM DA UC a fundação ainda não foi discutida em Conselho Geral
REVISÃO DOS ESTATUTOS DA AAC
Nenhuma lista apresentada a votação ANDRÉ FERREIRA
A proximidade das eleições da assembleia estatutária com as eleições para a DG/AAC é uma das razões apontadas pelo antigo presidente da Assembleia Magna João Miranda Após a decisão da Assembleia Magna (AM) da Associação Académica de Coimbra (AAC), de dia 12 de Novembro do ano passado, de agendar eleições para uma Assembleia de Revisão dos Estatutos da AAC, nenhuma lista se apresentou à votação. Para o presidente da AM cessante, Nuno Mendonça, o vazio dos estatutos relativamente a esta situação re-
mete a solução para a lei geral, o que segundo o antigo presidente passa por “se convocar uma nova data [de escrutínio] numa magna”. Mendonça esclarece ainda que já advertiu a mesa actual para esta situação. O actual presidente da AM, Miguel Portugal, explica que está, de momento, a averiguar com os advogados da AAC a melhor solução para o problema. A importância da revisão surgiu de dúvidas apresentadas pelos advogados da AAC sobre três artigos dos estatutos, relativos a sanções impostas pelo Conselho Fiscal da AAC. A necessidade, apresentada por alguns sócios da Rádio Universidade de Coimbra (RUC), da inclusão, nos estatutos, da radiofonia como actividade da AAC, para estar conforme a legislação da entidade reguladora, foi também uma razão apresentada nessa magna. Foi então votado o agendamento de eleições para uma assembleia de
REVISÃO vem no seguimento de um parecer favorável dos advogados da AAC
revisão para o dia 11 de Dezembro, com o intuito de alterar os três pontos em questão e solucionar o problema da RUC. De acordo com Nuno Mendonça, o facto “de ser um mandato condicionado para determinado trabalho” e “a proximidade [da votação da assembleia] com as eleições para a DG/AAC” foram as razões para que nenhuma lista se tenha apresentado. Sobre a questão da RUC, o presidente da secção, Alexandre Lemos, explica que “muito dificilmente a rádio apresentará uma lista”. Contudo, adianta que a administração da secção vai, numa primeira fase, interceder junto da entidade reguladora e, caso o problema não se solucione, diligenciar junto da assembleia de revisão a alteração dos estatutos. Isto porque, segundo Alexandre Lemos, “não é fixo, ao contrário do que foi dito, que seja necessária uma revisão dos estatutos”. PUBLICIDADE
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CULTURA
LIVRARIA MINERVA GALERIA • 10 ANOS
A Linguagem de uma livraria: ler, falar e ver Minerva significa conhecimento e sabedoria. Mas, em Coimbra personifica outros sentidos que sobrevivem passados 10 anos, onde a literatura, a tertúlia e a arte são companheiras e vivem juntas no mesmo espaço. Por Tiago Carvalho e Sara Oliveira EUNICE OLIVEIRA
A MINERVACOIMBRA é a editora que mais livros tem publicados sobre a cidade
U
ma rua, muitas coisas. Um aglomerado de utilidades que esconde uma particularidade multifacetada. Por detrás de um banco de jardim de pedra, está a MinervaCoimbra. Muitos confundem-na com a Editorial Minerva, que se encontra na capital portuguesa, com um nome semelhante, mas em muito diferente. Editora, livraria, papelaria, galeria de arte e com espaço de tertúlias e conferências, o que parece pequeno por fora tem o mundo do conhecimento a seus pés. A comemorar 10 anos de existência, a Minerva Galeria, no bairro Norton de Matos, em Coimbra, faz questão de “fazer descer a sabedoria da universidade à cidade”, como, com um sorriso, refere a proprietária, Isabel Carvalho Garcia. Desde cedo, Isabel Garcia e o marido, José Alberto Garcia, sempre tiveram uma paixão e ligação aos livros. Enquanto Isabel, aos 21 estava à frente de uma livraria na Baixa da cidade, José Alberto andava pelo mundo, e das viagens
trazia livros que os “amigos lhe pediam constantemente”. A partir daí não foi preciso muito mais para que as Edições MinervaCoimbra fizessem correr tinta pela primeira vez. O projecto familiar teve início como alfarrabista na Baixa, há 23 anos. Foi “a mãezinha”, como gosta de chamar a proprietária, que impulsionou um projecto com horizontes mais ambiciosos. Corria o ano de 1999, quando surge a oportunidade da tão desejada mudança. Um ‘stand’ de automóveis afigurou-se o espaço ideal para concretizar o desejo de juntar literatura, arte e tertúlias num único espaço. “Os editores quando chegavam aqui, há dez anos atrás, ficavam encantados com o espaço que havia para além da livraria”, relata entusiasmada a mentora do projecto, que lembra ainda a advertência que colocava: “não pensem nisso, os livros ali não vão entrar. Podem entrar sim, feiras do livro, mas nunca em estantes”, pois apenas a arte iria dominar aquele espaço rectangular, de pa-
redes altas que desesperavam por ganhar vida.
Nem só de livros vive uma livraria Arriscaram, inovaram e tornaram única a “livraria do bairro”. Pioneira num novo conceito que Isabel e José Alberto Garcia trouxeram a Coimbra, os resultados não se fizeram esperar. Logo aqueceram a casa, as palestras. A sala rectangular só deixava as suas paredes brancas quando um quadro dava lugar a outro. Apesar do bairro Norton de Matos ficar a três quilómetros da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), ambas têm uma ligação próxima e regular. A MinervaCoimbra foi pioneira em Portugal na edição de colecções de livros na área da comunicação. Isabel Garcia explica que a Colecção Comunicação, por exemplo, “está dividida em três series: jornalismo, media e teorias”. Mas existem outras colecções associadas à parceria com a FLUC, que comporta uma loja de vendas no interior da faculdade
pertencente à Editora MinervaCoimbra, “que serve mais de apoio para os estudantes da própria faculdade e para os professores”, assegura a proprietária da editora. A novidade tentou ser sempre o ‘slogan’ da livraria do bairro Norton de Matos. Muitas ideias e discussões já vaguearam por entre as prateleiras cheias de livros, que mesmo à noite viam pessoas a entrar e a sair. Diversos professores da UC, poetas como Manuel Alegre, historiadores, psicólogos, médicos e jornalistas já passaram pelos serões que se alongavam na Rua de Macau. Isabel Garcia, com entusiasmo conta-nos histórias. “Foi numa dessas noites que Paulo Ilharco, professor de filosofia, que escreve livros de poesia, nos surpreendeu! Ele, para além de convidar as pessoas a dizerem poesia, faz ‘karaoke’ e põe toda a gente a cantar”. Isabel conta mesmo que se “criam verdadeiras festas”. A proprietária da MinervaCoimbra defende que apesar da bonança, “a crise já se instalou na
cidade há três anos atrás”. Actualmente, a venda de livros tem sofrido quebras uma vez que “as pessoas estão mais seguras do que pretendem comprar”, constata. “Os pais não podem e nem pensam sequer em enveredar por outros caminhos que não sejam o dos livros escolares”. Fernando Caridade, funcionário da livraria da Rua de Macau, afirma que mesmo assim “o forte das vendas está nos romances e nos livros universitários”. O banco verde que dá as boasvindas a quem se dirige à livraria convida a estar nele e a apreciar um dos livros da montra que lhe faz companhia. Resta saber se vai estar ocupado ou não, daqui a outros 10 anos.
8 | a cabra | 17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira
CULTURA
TAGV RECEBE “DA MINHA VISTA PONTO” AMANHÃ E QUINTA-FEIRA
cultura por
cá “Veste uma roupa nova na
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Páscoa e terás sorte o ano todo”
FEV
FURSAXA E SHARRON KRAUSS
D.R.
Música SALÃO BRAZIL • 23H • 5¤
20 FEV
ANDRÉ MOTA QUARTETO Jazz SALÃO BRAZIL • 23H • 5¤
23 FEV
COMO ME VÊS?
Representada pelo Teatro Regional da Serra de Montemuro, a peça está repleta de singularidades que padronizam o comportamento humano Sara Oliveira
Fotografia de Manuel Pedro CAFÉ COM ARTE • ENTRADA LIVRE
26 FEV
LUÍS FIGUEIREDO AO PIANO Jazz OFICINA MUNICIPAL DE TEATRO 22H • 2¤ até
26 FEV
TÂNIA ANTUNES Pintura GALERIA ALMEDINA 3ª A SÁB •10H ÀS 18H • ENTRADA LIVRE
27 FEV
MÁRCIO RANGEL Música • Violino e guitarra SALÃO BRAZIL 23H • 5 ¤
27 FEV
MATÉRIA DE POESIA Recital TEATRO DA CERCA DE S. BERNARDO 21H30 • ADULTOS 10¤ • CRIANÇAS 6¤
27 FEV
CARMEN SOUZA Música TAGV • 21H30 NORMAL 15 ¤ • ESTUDANTE 12,5 ¤
28 FEV
YAKETY BAND Música FNAC • 22H ENTRADA LIVRE até
28 FEV
NUNO BASTOS RODRIGUES Exposição de Fotografia CAFÉ SANTA CRUZ ENTRADA LIVRE
Por Sílvia Teixeira
O teatro permite usar da palavra e da música para se fazer entender. E é através das sílabas que observa a vida e representa os seus mitos, preceitos e preconceitos. Na peça “Da minha vista ponto”, que vai estar em cena amanhã, 18, e quinta-feira, no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), em Coimbra, a “comichão no nariz quer dizer que vais ser beijada por um tolo”, ou o “veste uma roupa nova na Páscoa, e terás sorte o ano todo” são veredictos que reflectem as estruturas de pessoas que necessitam de padrões e rituais para sobreviver. Apenas precisam de se sentir habituadas ao que sempre conheceram. “E isso funciona?”, pergunta alguém do palco. A resposta “não” é clara. A música que abre o espectáculo traduz o ritmo de vida daquilo que representa: notas picadas e repetidas. Rotinas que habituam. Hábitos que não se rogam pela diferença. É uma melodia que não nos deixa até decidirmos deixá-la a ela. O cenário é sempre igual, mas nem por isso aborrece a retina de quem o questiona. Quatro degraus que podem ser tudo: um café, um
O ESPECTÁCULO estreia amanhã, 18, às 21h30 no teatro Gil Vicente
pasto, uma rua, ou um outro sítio qualquer. É cinzento e suporta as quatro personagens em torno das quais gira a história desta peça. E as máximas não deixam de assombrar as vidas destas quatro pessoas: “se apanhares uma folha cadente no primeiro dia de Outono, não apanhas uma única constipação em todo o Inverno”. Entre uma representação física e psicológica, são contadas histórias que aparentemente não são desconhecidas do comum dos mortais. Entre um olhar e uma conversa, está a empregada de mesa que serve de patins, o professor de física quântica, o rapaz que está
sempre com a sua bicicleta, o homem rabugento que reza a sua sorte às duas vacas que encaixam no cenário de degraus cinzentos, ou a mulher que veste azul e acredita que é gata. Quando uma toalha, que religiosamente aparecia numa varanda de um apartamento, desaparece, deixando todos atónitos com a fuga à rotina, a vida deste grupo de pessoas ruma noutro sentido. É então desta forma que o agricultor não consegue escolher os números para acertar na sorte grande, o totoloto, a mulher que acredita que é gata perde capacidades que outrora tivera e o professor de física quântica
deixa de saber quando é que deve ou não estar presente no café que tantas vezes o guarda do mundo. Entre os intervalos das auras destas pessoas existe o Santo Sudário, cujo destino é incerto. Curiosamente sabe-se que o vizinho bibliotecário anda desaparecido. Esse acontecimento conduz cada uma das quatro personagens ao encontro delas mesmas e dos outros, alimentando as peripécias e a intriga que invoca o pano de fundo da imaginação de quem assiste a uma comédia que reflecte medos e particularidades da inquietação humana quando deixa de ter um dia igual a tantos outros.
Fotografia invade Coimbra As Jornadas de Imagem e Arte Digital de Coimbra 2009 querem ser as “mais completas do país”. O evento começa amanhã com o workshop Fotografia de Glamour Eunice Oliveira A Secção de Fotografia da Associação Académica de Coimbra está a organizar, em parceria com a editora Blue Ray, as Jornadas de Imagem e Arte Digital de Coimbra 2009 (JIAD), a decorrer entre amanhã, 18, e o dia 25 deste mês. Com um programa diversificado,
as jornadas pretendem assumir uma vertente "pedagógica, de troca de conhecimentos, numa cidade como Coimbra, em que a formação está sempre presente", afirma um dos organizadores e tesoureiro da secção de Fotografia, Paulo Abrantes. Workshops, debates, palestras, ‘coach training's’, intervenções artísticas e exposições são as actividades planeadas para dinamizar a iniciativa, a ter lugar no Centro Cultural D. Dinis, até Novembro. Um programa "plural", no entender de Paulo Abrantes, que pretende chegar a todos os públicos, "desde fotógrafos e estudantes de webdesign a pessoas anónimas". A formação pretende-se ajustar ao conhecimento de cada um, por isso os participantes vão poder encontrar desde um workshop de iniciação,
até um outro de exposição de fotografia. O primeiro workshop, Fotografia de Glamour, tem lugar já amanhã, dia 18, ao qual se segue o curso de Teoria e Prática da Gestão de Cor, no dia 19, e o workshop de Iniciação Fotográfica, no dia 25. O evento conta ainda com uma exposição, patente de amanhã, 18, a dia 25 de Fevereiro no Centro Cultural D. Dinis. No dia 26, António Homem Cardoso, fotógrafo com 40 anos de carreira, descrito pelo organizador do evento, Paulo Abrantes, como um "outsider” porque “rompeu com todos os cânones da fotografia", vai presidir a uma conferência. O custo de cada actividade varia entre os 20 euros para estudantes e sócios da Secção de Fotografia da AAC, 30 euros para os sócios da As-
sociação Nacional dos Industriais de Fotografia e da Associação de Fotógrafos Profissionais, e os 50 euros para o restante público. O programa para os restantes meses ainda não está fechado, mas Paulo Abrantes adianta que "outros autores e outras matérias" vão ser privilegiados. E exemplifica: "um dos grandes mestres internacionais do Photoshop vem a Coimbra, no seguimento de um circuito internacional que está a seguir". A par da organização das JIAD 2009, a Secção de Fotografia está a trabalhar na edição de um livro sobre a Queima das Fitas, a ser lançado em Maio. Prevista está também uma visita de três dias a um museu, em Faro, com uma câmara escura, assim como uma exposição de fotografia na semana cultural da universidade.
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21 e 22 FEV
Crosscar das Amendoeiras em Flor VILA NOVA DE FOZ CÔA
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DESPORTO
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BASQUETEBOL
HÓQUEI EM PATINS
Académica vs Casino Ginásio 15H • PAVILHÃO MULTIDESPORTOS
Académica vs. AF Arazede 18H • ESTÁDIO UNIVERSITÁRIO N.º 1
21 FEV
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VOLEIBOL Centro Voleibol de Oeiras vs Académica 18H • MUNICIPAL S. JULIÃO DA BARRA – OEIRAS
FUTSAL AAC/OAF
Boa surpresa na taça ANDRÉ FERREIRA
A Briosa nunca tinha chegado tão longe na Taça de Portugal. O adversário que se segue é o Alpendorada, da 1ª Divisão André Ferreira A equipa de futsal da Académica/Organismo Autónomo de Futebol (AAC/OAF) está a fazer história na Taça de Portugal. Nunca uma equipa da modalidade tinha atingido os quartos-de-final da competição. Para além disso a equipa de Tó Coelho está a realizar um bom campeonato, assumindose como uma das principais candidatas à subida de divisão. Depois de deixar pelo caminho Boa Esperança, Santa Susana, Sacavenense e Lamas Futsal, a Briosa recebe, na próxima semana, dia 24, o Alpendorada, equipa que milita na 1ª Divisão. A sorte do sorteio tem estado do lado da Académica, embora a deslocação a Lisboa para jogar frente ao Sacavenense tenha sido um jogo difícil, “num ambiente mais hostil, num campo bastante complicado”, refere Tó Coelho. Chegar aos quartos-de-final da competição nunca foi o objectivo principal da temporada. A meta da equipa de Coimbra foi sempre chegar “o mais longe possível, pensando sempre jogo a jogo”, como explica o técnico dos estudantes. O treinador da Briosa, que che-
ESTE FIM-DE-SEMANA, a Académica perdeu com o Lameirinhas por 4-0
gou este ano a Coimbra, refere a importância de estar a fazer história pela Académica, pelo que o clube representa. Para o jovem treinador é gratificante o grupo de trabalho estar a “acrescentar qualquer coisa ao palmarés da Académica”. “É sempre positivo”. Na Taça de Portugal, em épocas anteriores, a turma de Tó Coelho nunca superou a primeira eliminatória. O capitão da Académica, Gonçalo Barão, considera que “a taça tem sido uma boa surpresa” e que mesmo a jogar frente a uma equipa como o Alpendorada, “a próxima
eliminatória é para ganhar”. O capitão da Briosa garante que a equipa de Coimbra vai fazer tudo para “contrariar o favoritismo” da equipa nortenha. O Alpendorada eliminou o Instituto D. João V, nos oitavos-de-final, e ocupa o oitavo lugar na primeira fase do campeonato nacional da 1ª Divisão. O facto de se tratar de uma equipa de escalão superior não intimida os conimbricenses, como explica Gonçalo Barão. “Vamos enfrenta-los olhos nos olhos e tentar ultrapassá-los”, garante. Para o próximo encontro da Taça
de Portugal, a Académica poderá não contar com o capitão, que se encontra em tratamento de uma pubalgia. Gonçalo Barão afirma que estar a jogar lesionado, significaria prejudicar-se a si próprio e à equipa. A Académica vai fazer o terceiro jogo em casa para a taça. O técnico dos estudantes conta que o apoio “tem sido muito bom e é um dos aspectos muito importantes no sucesso”.
Quinto no campeonato Neste momento a Académica está
no quinto lugar do Campeonato Nacional de 2ª Divisão Nacional Série B e mostra boas hipóteses de subida ao primeiro escalão, estando a cinco pontos da liderança. Este fim-desemana, a Académica perdeu, na Guarda, com o Lameirinhas por 4-1. A boa prestação na taça “pode funcionar como um tónico para o resto do campeonato onde a equipa está na luta pela subida de divisão”, como afirma Tó Coelho. Na próxima ronda, a Académica recebe a equipa Rio de Mouro, num jogo a contar para a 17ª jornada do campeonato.
DESPORTOS MOTORIZADOS
Caseiro parte para a revalidação do título A primeira prova de crosscar de Luís Caseiro é em Foz Côa. Fazem-se os últimos ajustes para o arranque da competição Catarina Domingos A defesa do título de campeão nacional de crosscar, alcançado por Luís Caseiro no ano passado, no Eurocircuito de Montealegre, começa já no próximo fim-desemana, a 21 e 22 de Fevereiro. O Crosscar das Amendoeiras em Flor marca o início da temporada do Campeonato de Portugal, que
este ano vê o número de provas reduzidas para sete, em vez de nove, como aconteceu em 2008. A preparação para 2009 começou logo no fim-de-semana a seguir à conquista do título nacional da modalidade. “Está tudo pronto para começar”, afirma o piloto da Secção de Desportos Motorizados da Associação Académica de Coimbra (SDM/AAC). Agora, “falta acabar de montar o carro e a resposta de alguns patrocinadores”, conta o piloto. A preparação técnica do carro e a aquisição de material são projectos que levam sempre tempo a ser montados. Caseiro explica que a organização de toda a logística oferece dificuldades, “porque fica já tudo preparado para o longo do ano”. No ano passado, o corredor pas-
sou a representar uma nova marca, a ASK. À parte de alguns melhoramentos, o essencial do chassis mantém-se e apenas foi equipado com um novo motor. “Consegui reunir orçamento e adquirir dois motores mais recentes para garantir maior competitividade e fazer face aos adversários”, relata. Em 2008, Luís Caseiro terminou as nove corridas sempre entre os três primeiros lugares. Agora, defende que é importante manter a mesma regularidade para estar “na luta pelo título”. Manter o número um na viatura é, no seu entender, “um objectivo ambicioso, porque a nível competitivo os melhores estão sempre presentes”. Para esta temporada estão também pensadas duas presenças no
campeonato espanhol. “Há um interregno nos meses de Julho e Agosto no nosso campeonato, vou aproveitar para manter o ritmo e tentar atingir o mercado espanhol”, define Caseiro. O título
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conquistado no Campeonato Nacional de Crosscar foi o primeiro conseguido pela SDM/AAC, que nasceu em 2004. Para si, “é um orgulho muito grande, porque a secção é recente”. O último reconhecimento a Luís Caseiro aconteceu na XI Gala dos Prémios Salgado Zenha, na qual arrecadou o Prémio Atleta, em ex-aequo com André Sousa, do desporto universitário. “Apanhou-me completamente de surpresa, mas tenho noção do que representa para nós”, sublinha.
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DESPORTO P•R•O•LONGA•M•E•N•T•O BASQUETEBOL Neste fimde-semana, a Académica venceu fora o Sampaense por 68-73. Este resultado, relativo a mais uma jornada cruzada da Liga Portuguesa de Basquetebol, dá à equipa de Norberto Alves o quinto lugar, com 35 pontos. Na próxima ronda, a AAC recebe o Casino Ginásio, penúltimo classificado, que este sábado venceu o Aliança.
HÓQUEI EM PATINS Depois de ter carimbado a presença no Campeonato Nacional de 2ª Divisão, a Académica venceu fora o Gualdim Pais por 1-3. A AAC está na liderança da 3ª Divisão Zona B com 42 pontos. Na próxima ronda, última da fase regular da prova, a equipa de Miguel Vieira recebe o AF Arazede.
VOLEIBOL Nesta 20ª jornada da Divisão A2, a Académica venceu por 3-0 a Ala Nun’Álvares. Com este triunfo, a AAC soma 28 pontos. Na próxima ronda, a equipa de Carlos Marques joga com o Centro Voleibol de Oeiras. A equipa sénior feminina perdeu com o Clube Desportivo da Póvoa por 3-2, em jogo da 17ª jornada da Divisão A2. A fase regular termina na próxima semana, frente ao Clube Voleibol de Oeiras.
AAC luta pela manutenção na segunda fase EUNICE OLIVEIRA
A fase regular do Campeonato Nacional de Andebol da 2ª Divisão Zona Centro chegou ao fim. A Académica fala em objectivo “cumprido” Vasco Batista Catarina Domingos
Mesmo antes da vitória frente ao Académico de Viseu, a equipa sénior de andebol masculino da Associação Académica de Coimbra (AAC) já sabia que ia disputar a fase de apuramento, na qual vai lutar pela manutenção. Em casa, neste domingo, a AAC bateu o Académico de Viseu por 3324 e termina a fase regular da Zona Centro do Campeonato Nacional de 2ª Divisão em terceiro com 51 pontos. A equipa orientada por Ricardo Sousa não conseguiu garantir a presença na fase final, que daria acesso à 1ª Divisão, na qual já não participa desde a época de 1987/88. O presidente da secção de andebol da AAC, Filipe Coelho, revela que a possibilidade de subir ao escalão superior “foi algo com que a equipa sonhou a meio da época”. No entanto, segundo o responsável, “o objectivo inicial traçado seria sempre a manutenção e por isso foi cumprido”. Para o técnico Ricardo Sousa, a formação “está a superar as expectativas, tendo em conta que no ano passado a equipa esteve perto da descida de divisão, numa situação muito tremida”.
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RUGBY Depois da v i t ó r i a frente ao R u g b y Clube da Lousã, neste fim-de-semana a equipa sénior de rugby da Académica deslocou-se a Trás-osMontes, onde foi vencer a Associação Académica da Universidade de Trás-osMontes e Alto Douro (AAUTAD) por 89-7. A equipa de Sérgio Franco está em primeiro lugar do Campeonato Nacional de I Divisão e na próxima jornada recebe em casa a Escola Agrária de Coimbra. Catarina Domingos
Nuno Santos
A ACADÉMICA fechou a fase regular com uma vitória sobre o Académico de Viseu
Da época transacta para a temporada actual, a Académica registou uma melhoria pontual significativa, que faz o treinador considerar que a AAC “é a surpresa da prova”. Este ano, a Académica termina a fase regular com mais 23 pontos do que no ano anterior. O progresso é explicado por Ricardo Sousa pelo facto da equipa ser praticamente a mesma do ano passado. “Os jogadores foram-se conhecendo cada vez melhor, há uma maior união e uma maior identificação parte a parte”, sublinha. Ainda assim, no seu entender, não houve “maturidade e confiança necessária para enfrentar algumas situações”. “Há pequenas coisas que ainda podemos melhorar sobretudo do ponto de vista psicológico”, defende o treinador.
O regresso da equipa feminina Depois de largos anos de paragem, a equipa sénior feminina de andebol da AAC voltou a reunir-se. No ano de estreia no Campeonato Nacional de
2ª Divisão Zona 2, a equipa de Miguel Catarino termina a fase regular com 14 pontos e duas vitórias. “É uma equipa muito jovem que está ainda em formação e tem muita potencialidade”, explica o presidente da secção. Já o técnico Miguel Catarino destaca “a evolução significativa da primeira para a segunda volta, que permite encarar esta próxima fase e os próximos anos com optimismo”. No andebol feminino, uma vez que não existe competições a nível regional nem na terceira divisão, para a fase complementar não está em jogo a subida ou descida de escalão. Por isso, os próximos encontros vão “servir para dar mais experiência às jogadoras”, como refere Filipe Coelho. À semelhança da equipa masculina, a segunda fase inicia-se em Março.
“Tenho ambição de ir às Olímpiadas” O que significou ser distinguido com o Prémio Carreira nos Salgado Zenha? Significou que já estou a ficar velho [risos]. Desde 1989 que estou na Académica, são quase 20 anos como atleta, como treinador, como director. É uma honra muito grande ser reconhecido com um prémio destes pela Academia, por todos os resultados que tive. Por que é que escolheste Badminton? É um desporto de família. O meu irmão, a minha irmã, os meus primos já jogavam e eu naturalmente também fui para o Badminton.
Vencedor do Prémio Carreira na XI Gala dos Prémios Salgado Zenha
A fase complementar que junta as dez equipas classificadas entre o terceiro e o último lugar começa a disputar-se em Março. Ricardo Sousa espera “acabar essa fase em primeiro lugar, para carimbar a manutenção o mais rápido possível”. “Não ganhamos nada com isso, mas é nossa obrigação”, considera. Para a próxima época, Filipe Coelho afirma que “não se pode pensar em nada inferior ao que foi feito este ano” e antevê que seja possível “apostar forte numa fase final”.
Que momento eleges como o mais marcante na passagem pelo desporto universitário? O mais marcante foi o Campeonato do Mundo Universitário na China (Wuhan). É o país onde o Badmin-
ton é mais praticado. Encontrei uma realidade completamente diferente do que na Europa, com pavilhões cheios, transmissões televisivas, um ambiente distinto à volta do desporto. Foi ultra estimulante. De que é que vais ter mais saudades do desporto universitário? Gostava do ambiente dos torneios universitários e vou ter saudades das pessoas que fui conhecendo ao longo da minha participação. Que planos tens para o futuro? Ainda tenho algumas hipóteses como atleta e tenho a ambição de poder representar Portugal nos Jogos Olímpicos de Londres. Como treinador vou continuar na Académica e tentar aumentar significativamente o número de praticantes.
Estou com um projecto juntamente com o presidente da Secção de Badminton da AAC e com um outro colaborador, para fazer uma escola da modalidade em Coimbra. Como avalias o panorama do desporto universitário em Portugal? Ainda há um grande caminho a percorrer, mas nem creio que seja um problema das universidades, é mais um problema em termos legislativos. Por exemplo, na Tailândia, na China e mesmo nos Estados Unidos, o desporto universitário está incutido no currículo das universidades. Os atletas-estudantes conseguem conciliar as duas actividades. Em Portugal, é muito difícil ter uma actividade de alta competição e conseguir sucesso escolar.
Virginie Bastos e Catarina Domingos
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CIDADE
TIAGO CARVALHO
RENOVAÇÃO DO PARQUE ESCOLAR EM COIMBRA
Escolas do século XXII OS ALUNOS estão provisoriamente a ter aulas em monoblocos desde Outubro, sensivelmente
O programa de remodelação das escolas básicas e secundárias tornou-se ‘slogan’ do governo para este ano. Coimbra não escapa à inovação e algumas modernizações já estão em curso Viviana Figueiredo Marta Pedro Sílvia Teixeira O som dos berbequins soa em consonância com o toque das campainhas. Nas salas, os alunos dão lugar aos materiais de construção. A remodelação do parque escolar é o resultado de um programa lançado pelo Ministério da Educação, em Fevereiro de 2006, e que este ano foi uma das prioridades traçadas pelo governo para estimular o investimento público. Alargado a nível nacional, o programa governamental de melhoramento das infra-estruturas escolares vai atingir três das escolas secundárias de Coimbra, tendo-se já iniciado na Escola Secundária Avelar Brotero. O início da fase piloto do processo terminou em Setembro de 2008 com a intervenção em escolas do Porto e de Lisboa. “Actualmente já estão em curso mais 26 intervenções em esco-
las de todo o país, incluindo as conimbricenses às quais se juntarão mais 75 até ao final do primeiro semestre deste ano”, certifica Catarina Frazão, directora de comunicação e imagem do Parque Escolar, empresa responsável pelo projecto. O desafio é requalificar 330 escolas até 2015, a nível nacional. Os custos suportados pelo Estado atingem o numerário dos milhões e criam boas expectativas nos dirigentes das escolas, como o demonstra o vice-presidente do Conselho Executivo da Escola Secundária Infanta D. Maria, Rui Bento: “estamos ansiosos por ver a escola remodelada”. “Vamos ter novas salas de aula, um refeitório, novos balneários, laboratórios e ainda uma biblioteca mais moderna”, refere o vice-presidente. Os benefícios agradam a toda a comunidade escolar, como explica Rui Bento: “todos aceitam perfeitamente estas obras”. O esforço durante o processo de renovação será conjunto. A escola refere ainda a importância de trabalhar em conjunto com a empresa directamente envolvida com o plano. Após a conclusão das obras nas várias escolas, as empresas intervenientes vão assegurar a manutenção ao longo de dez anos, o que torna as responsabilidades económicas das instituições de ensino menos pesadas. As despesas básicas continuam, ainda assim, ao encargo das escolas. A opinião dos responsáveis das várias instituições inseridas no pro-
grama é unânime. “É o salto de dois século. Estávamos no século XIX em termos de escolas e passamos para o XXII”, acredita o vice-presidente da Escola Secundária Avelar Brotero, Mário Bicho, onde as mudanças já se começam a sentir. O fim das obras está previsto para o mês de Dezembro deste ano, mas Mário Bicho alerta que o projecto está bastante atrasado. "A escola está a ser intervencionada no global, alguns espaços vão ser só remodelados, outros criados de raiz. Vão ser criadas infra-estruturas mais actuais com aquecimento e isolamento”, descreve o vice-presidente. Desde Outubro de 2008 que as obras decorrem no interior da escola e, por isso, algumas aulas passaram a ser leccionadas em monoblocos cuja dimensão se adequa ao tamanho das turmas. A intervenção assume outros moldes na Escola Secundária Quinta das Flores, onde, mais do que remodelações a nível de infra-estruturas, o projecto vai originar um conservatório de música suplementar. As alterações no bar e na parte administrativa parecem menores aos olhos dos dirigentes, quando comparadas com a construção do novo conservatório de música dentro da escola secundária. "As expectativas dos alunos não são muitas", como explica o director do conselho directivo da escola, Francisco Henriques. O orçamento para o desenvolvimento da obra desta instituição é comum ao
disponível para a Escola Secundária Infanta D. Maria.
Remodelação das primárias a cargo da Câmara Os projectos variam de acordo com as necessidades de cada escola. O programa, embora não se restrinja ao ensino secundário, assume outros contornos nos graus inferiores de ensino. Com financiamento exclusivamente camarário, algumas escolas primárias de Coimbra foram já alvo de remodelação. "O trabalho feito pela câmara ao longo dos anos para o primeiro ciclo é sobretudo de criação de condições físicas para que as escolas sejam mais acolhedoras", afirma o chefe da divisão de educação da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), João Teixeira. As intervenções foram para além das infra-estruturas e reequipamento das escolas. Ligeiramente afastadas do plano de renovação escolar está a construção de novos edifícios pré-escolares, também financiada pela CMC. Ao nível de novos projectos, João Teixeira adianta ainda a futura construção de uma nova escola primária na zona da Solum. "O programa de remodelação da CMC ainda não está acabado e vai estender-se até 2009 ou 2010", salienta João Teixeira. No que se refere às escolas básicas de segundo e terceiro ciclo, as mudanças ainda não estão planea-
das."Não é uma questão de não querer, é de não se saber quem pode", explica João Teixeira. A questão está relacionada com a incerteza de saber se o projecto deverá ser levado a cabo pelo governo ou pela câmara. Para o chefe da divisão da educação, "existem duas escolas que precisam de uma intervenção prioritária: a Eugénio de Castro e a escola Alice Gouveia". No plano das prioridades, salienta ainda, a degradação da secundária Jaime Cortesão. Sobram ainda quatro escolas secundárias que precisam de intervenção, mas para as quais não existe ainda um calendário de intervenção, não estando, para já, incluídas no Programa de Renovação do Parque Escolar. "É um salto qualitativo muito importante, esta remodelação que se está a dar", reforça o vice-presidente da secundária Avelar Brotero. Os alunos, apontados como os mais beneficiados com o programa, mostram-se entusiasmados. Mário Bicho não tem dúvidas e lança mesmo uma pergunta: "quem é que não gosta de ir para melhor?". Os vários benefícios não escapam aos olhos de ninguém, como corrobora João Teixeira: "beneficiam o concelho de Coimbra e ajudam na própria crise.”. “Afinal, como se tem dito, a solução para a crise está no investimento das obras públicas", conclui. Com Maria do Carmo Freitas e Ana Catarina Augusto PUBLICIDADE
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TEMA
PEDRO CRISÓSTOMO
VISITA organizada pela câmara motivou muitos habitantes de Coimbra a conhecer melhor a Alta
CASAS HABITADAS PELA MEMÓRIA A Alta de Coimbra esconde um labirinto de casas onde viveram gerações de poetas, escritores e músicos. Património esquecido ou valorizado aquele por onde passaram desde Eça a Zeca Afonso? Por Pedro Crisóstomo m nome traz sempre outro por arrasto. Antero de Quental, Eça de Queirós, Teófilo Braga, António Nobre, Aristides de Sousa Mendes, José Régio, Vitorino Nemésio, Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Teolinda Gersão. A lista é extensa e podia continuar se insistíssemos em construir uma árvore de palavras sobre escritores e músicos ilustres – ou grandes portugueses, se assim lhes quisermos chamar – que habitaram
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ANDREIA FACHADA
Coimbra noutro tempo e cujo nome aqui deixaram não por mero acaso. As casas onde viveram, no labirinto de ruas e vielas da Alta, a maioria deles enquanto estudantes da Universidade de Coimbra (UC), uns ainda no século XIX, outros nos anos 30, 40 ou 60 do século passado, continuam de pé. O tempo não as apagou do mapa nem da memória, mas umas estão hoje um pouco degradadas, com a pintura lascada e à espera de comprador. Outras
continuam de janela aberta, habitadas por idosos e estudantes. Algumas têm carros encostados à porta, travando os circuitos turísticos e impedindo uma fotografia mais bem conseguida para os visitantes. Por exemplo, uma das casas onde viveu Antero de Quental, na Travessa da Couraça, com vista para o Mondego, é actualmente habitada por universitários nos andares superiores e tem à porta uma placa de homenagem ao poeta. Antero estudou durante mais de cinco anos em Coimbra e, durante esse tempo, teve oito moradas diferentes. A primeira no Largo da Sé Velha, entre 1859 e 1862, quando protagonizou um movimento estudantil contra o reitor, Basílio de Sousa Pinto, e a última na Rua do Borralho, já quando a praxe desempenhava um papel menos importante na sua vida académica. E se os anos em que passou na cidade foram agitados e pouco pacíficos para a sua geração, para a história fica o ano em que viveu no Palácio dos Con-
fusos, em 1861, quando ganha corpo a ideia de organizar a secreta Sociedade do Raio, de que foi líder de referência.
A rua da escrita É também em 1861 que Eça de Queirós entra para a faculdade de Direito, vindo residir para a Rua do Loureiro, a mesma que em gerações diferentes seria morada de Teolinda Gersão e João José Cochofel. A casa onde viveu este poeta e crítico literário (conhecida como a Casa do Arco, graças a uma passagem que atravessa a rua) foi espaço para inúmeras tertúlias, dos anos 40 ao 25 de Abril de 1975, entre Cochofel e outros escritores amigos: Eduardo Lourenço, Gomes Ferreira, Fernando Lopes Graça. A Casa do Arco vai, agora, passar a ser a futura Casa da Escrita, do departamento de Cultura da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), com a remodelação a cargo do arquitecto João Mendes Ribeiro. O espaço, cujas obras Mário Nunes espera ver prontas “até ao final do ano”, vai ser um centro de acolhimento de escritores e de tí-
tulos literários. A casa vai, segundo o vereador, albergar uma biblioteca, um auditório e uma fonoteca. Apesar das condicionantes, que valor histórico e patrimonial podem ter estas casas no desenvolvimento turístico da cidade? “Se entendermos a história” como algo que resulta “de uma vivência quotidiana que esteve quantas vezes na base desses patrimónios e deixou no anonimato tantos lugares, tantas pessoas, tantas acções, com certeza que têm valor histórico”, acredita o docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) na área do turismo e lazer, Norberto Santos. Património “algo esquecido”, lamenta o geógrafo, muitas destas casas deviam ser conhecidas “não só pelos turistas, mas também pelos autóctones”, porque, como lembra, “os embaixadores dos lugares são os que neles nascem e os que os adoptam”. Por isso, sublinhando que a cidade não tira partido deste património, Norberto Santos critica o facto de ficarem “por efectuar intervenções de reabilitação” que “encapotam patrimónios que pre-
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TEMA
PEDRO CRISÓSTOMO
PEDRO CRISÓSTOMO
O ESCRITÓRIO DE TORGA é visitado por muitos grupos de estudantes
CASA DE TORGA PREPARA CENTRO DE ESTUDOS ANDREIA FACHADA
CASAS onde moraram José Régio e Eça de Queirós
cisam de ser conhecidos”. “Ter esses patrimónios e não lhes dar a devida atenção é duplamente lesivo”, continua. Habitada no rés-do-chão, mas degradada na parte superior, com vidros partidos e fissuras na fachada, está na Rua das Flores a casa onde foi fundada, em 1947, a revista “Presença” por José Régio, Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões. Questionado sobre a intenção da CMC na aquisição de algumas dessas casas para a constituição de espaços-museus, o vereador da Cultura da CMC, Mário Nunes, admite que o município está “sempre interessado”, mas explica que isso dependerá da “vontade dos proprietários em vender esse património”. Foi o que aconteceu com a casa onde viveu Miguel Torga, que a câmara adquiriu por cerca de 300 mil euros à filha do poeta, Clara Rocha, que doou parte do recheio para a constituição do museu. Fundada em Agosto de 2007, a Casa-Museu Miguel Torga é a única do género que, à data, foi convertida em espaço de acesso público (ver artigo ao lado).
Outro olhar sobre a Alta “A identificação, classificação e promoção do património é fundamental para a valorização das actividades de lazer”, diz Norberto Santos, que louva “o propósito do município valorizar percursos turísticos alternativos, agora apresentados”. Concretamente, o professor da FLUC fala na constituição de rotas: “a dos escritores seria de grande significado” e “teria a bondade de dar espaços de lazer às populações locais”. Uma visita pedonal pela Alta que se vai repetir quinzenalmente até Abril foi inaugurada na quartafeira passada, 11, pelo departamento de Cultura da CMC. Num circuito que esgotou as inscrições, 35 participantes, principalmente reformados ‘salatinas’ (habitantes da velha Alta), percorreram as ruas do centro histórico, conhecendo os locais frequentados por Eça de Queirós, Teolinda Gersão, Adriano Correia de Oliveira, António Nobre, Aristides de Sousa Mendes e Miguel Torga. Com Andreia Fachada
Lugar onde Miguel Torga viveu desde 1953 é hoje uma casa-museu visitada por milhares de pessoas Pedro Crisóstomo O número três da Praceta Fernando Pessoa, em Coimbra, foi durante 32 anos a morada de Miguel Torga e é há ano e meio roteiro para escolas, grupos e turistas estrangeiros. A casa que Torga habitou a partir de 1953 – e que foi visitada por cerca de 4500 pessoas, em 2008 – deverá “ter um local de exposição, mostra e consulta no interior da própria casa” ainda “no decurso do mês de Fevereiro”, espera a conservadora, Cristina Robalo Cordeiro. “Estamos a tentar instalar na casa do escritor a biblioteca, alguns manuscritos, cartas e documentos que estão a ser ratados pelos bibliotecários da câmara”, explica a conservadora. No imediato, o objectivo é colocar todo o material num dos três quartos da casa e transformá-lo numa sala de exposição. A médio prazo, para o qual Cristina Robalo Cordeiro não aponta datas, vai ser construído um auditório simultaneamente
centro de documentação no jardim traseiro da casa que vai permitir implementar o Centro de Estudos Torguianos. A ideia é, como sublinha Cristina Robalo Cordeiro, desenvolver “um lugar de reflexão, de discussão, de troca de impressões e de consulta para os estudiosos do Torga”. Actualmente, a casa-museu é um espaço que mantém o mobiliário e os objectos do poeta tal e qual quando ali viveu. Depois de fotografado, tudo foi colocado nos devidos espaços, conservando a sobriedade que Torga tanto preservava. Rústica, simples, solarenga, a casa foi mobilada em função da ida do poeta e da mulher a antiquários. Andrée Crabbé Rocha partilhava com o marido o gosto por objectos sagrados, apesar de Torga não ter sido um homem religioso. Uma das peças mais antigas da casa é parte de um tríptico do período medieval – da transição entre os séculos XIV e XV –, adquirido num antiquário em Madrid. Outro objecto distinto da sala de jantar é um quadro a óleo
que Dórdio Gomes (primeiro marido de Natália Correia) ofereceu a Torga. A mistura de referências de Trás-os-Montes e do Alentejo, colocando no centro a figura de um ceifeiro de traços rudes e vincados, fazem lembrar o próprio escritor. Mas o espaço mais intimista da casa é o escritório, hoje sempre de porta aberta aos visitantes. Miguel Torga pediu ao arquitecto para deixar um espaço aberto por baixo do acesso ao sótão. Ali, Torga repousava sobre um divã a que chamava de sarcófago, olhando para as primeiras edições das suas obras, que também elas repousavam, comprimidas, num pequeno armário escuro em madeira ao fundo dessa cama. Hoje, os livros dão lugar a outros títulos, de arte egípcia, de Gil Vicente, de Jorge de Sena, de Jaime Cortesão... Transformada em museu para ser dedicada à vida e à obra do poeta, a Casa-Museu Miguel Torga pretende, assim, “ser um incentivo à leitura e ao conhecimento da literatura”, sintetiza Robalo Cordeiro.
14 | a cabra | 17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira
PAÍS & MUNDO INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA DA GRAVIDEZ D.R.
SÃO 38 AS UNIDADES DE SAÚDE que estão habilitadas a praticar a Interrupção Voluntária da Gravidez e apenas três clínicas privadas
Dois anos depois do polémico referendo A despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez foi referendada em 2007. A CABRA faz um balanço sobre a actual situção nos hospitais e clínicas portugueses Ana Rita Ribeiro Inês Almas Rodrigues Em 2007, nove anos após a primeira consulta popular, o país respondeu afirmativamente à despenalização do aborto até às dez semanas. O debate sobre o tema foi aceso e culminou, desta vez, com uma vitória de 59,25 por cento. O início da sua implementação não foi pacífico e ainda hoje existem objectores de consciência. O balanço que o director executivo da Associação Portuguesa para o Planeamento da Família (APF), Duarte Vilar, faz destes dois anos de prática do aborto lega é positivo: "mudou de uma situação em que o único recurso que as mulheres tinham era o aborto clandestino para uma em que podem ter acesso ao aborto seguro e legal". Também o presidente do Colégio de Ginecologia e Obstetrícia da Ordem dos Médicos, Luís Graça, concorda com o balanço do director executivo da APF. Referindo que "houve um grande ganho para a saúde", Luís Graça aponta que "o número de mulheres a dar entrada nos hospitais com complicações por causa de abortos ilegais reduziu substancialmente para metade". Em contrapartida, o porta-voz do Movimento Portugal Pró-Vida (Movimento PPV), Luís Botelho, acredita
que o balanço não é positivo: "25 mil mortos é o grande balanço do referendo e temos alguns indicadores que este pode vir a duplicar". Ainda de acordo com este dirigente, o objectivo deste movimento é "despertar a consciência das pessoas".
Abortos ilegais Apesar da despenalização, o aborto ilegal não desapareceu por completo. O representante do Movimento PPV acredita que "o próprio aborto se está a banalizar". Ainda no final do mês passado, a Polícia de Segurança Pública (PSP) fechou uma clínica de Leça do Balio, Matosinhos, onde se praticava o aborto ilegalmente. Duarte Vilar diz que "é muito provável que o aborto clandestino não tenha desaparecido totalmente; temos alguns testemunhos que nos mostram que continua a haver algum comércio de produtos abortivos, sobretudo nas zonas mais pobres". Na mesma medida, Luís Graça afirma que o aborto clandestino não vai deixar de existir porque "a lei só permite o aborto legal até às dez semanas e as mulheres que têm onze, doze ou treze semanas, vão recorrer ao aborto ilegal". Em Portugal, a Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) pode fazer-se até às dez semanas em trinta e oito unidades de saúde pública e em mais três clínicas privadas devi-
damente autorizadas para a realização dessa prática. Ao longo destes dois anos, a APF manteve activa a linha Opções (uma linha de informação e aconselhamento especializado sobre gravidez não desejada, IVG e esclarecimento contraceptivo) e recebeu um total de 1326 chamadas, maioritariamente do sexo feminino. De acordo com o relatório da APF, apresentado dia 11, são 238 as mulheres que apontaram a situação económica como razão para a fazer um aborto. O mesmo estudo mostra que mais de 50 por cento das mulheres que interromperam voluntariamente a gravidez se situa na faixa etária entre os 20 e os 35 anos. O Movimento PPV não encara o número total de abortos legais realizados desde 2007 com satisfação. Luís Botelho afirma que "apesar de difícil, temos esperança de revogar a lei", ou seja, "reconduzir os seus aspectos mais criminosos". O representante afirma que, "se perdermos esta esperança, estamos a defraudar o futuro do nosso país". O movimento cristão diz "respeitar as instituições democráticas, ainda que elas estejam a dar cobertura ao genocídio".
Objectores de consciência A objecção de consciência é um di-
reito garantido nos termos da lei. Quando foi implementado, muitos foram os profissionais de saúde que apelaram a este direito. Em 2007, mais de 60 por cento dos profissionais de saúde declaram-se objectores de consciência acabando por condicionar o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Luís Graça reconhece que quando a lei foi implementada, muitos dos seus colegas foram objectores de consciência mas que actualmente "a objecção de consciência (que existe) é por terem medo de trabalhar". Opinião semelhante tem a médica obstetra na Maternidade Daniel de Matos, em Coimbra, Teresa Sousa Fernandes, que afirma que hoje em dia já não se verificam tantos objectores de consciência: "todo o restante pessoal cobre essas prováveis objecções de consciência e, no fundo, não se dão por elas". (ver caixa) O dirigente do Movimento Portugal PróVida diz desconhecer a situação dos médicos que não querem trabalhar, ainda que admita que os casos que existem "são particulares". No que toca à falta de profissionais de apoio administrativo e de enfermagem, como refere o relatório da APF, Duarte Vilar diz que "nenhuma mulher ficou sem fazer uma IVG que desejava por falta de apoio dos serviços". Segundo este especialista, "até à data, o SNS tem sido capaz de dar
resposta aos pedidos" e a época mais complicada é o tempo de férias. "Sabemos que alguns hospitais fazem acordos com clínicas privadas porque não conseguem dar resposta necessária no tempo de férias".
"SE HÁ OBJECTORES DE CONSCIÊNCIA, NÓS NÃO CONHECEMOS!" Teresa Sousa Fernandes, da Maternidade Daniel de Matos, em Coimbra, afirma que "desde há dois anos se mantém a quantidade que esperávamos de abortos. Os que se faziam ilegais são os que se fazem legais agora". No que diz respeito aos profissionais de saúde que são objectores de consciência, a médica obstetra diz que, pelo menos no seu serviço, "devem ser tão poucos que são até mais objectores ao trabalho e não de consciência". Teresa Sousa Fernandes diz não haver falta de pessoal na zona centro. Na Maternidade Daniel de Matos, existe uma equipa que se ocupa dos pedidos recebidos: "temos uma consulta (três vezes por semana) que tem oito médicos disponíveis. Existe uma enfermeira, uma psicóloga e uma assistente social".
17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira | a
cabra | 15
PAÍS & MUNDO
50 ANOS DO TRATADO DO ATLÂNTICO NORTE
Novas ameaças colocam NATO em encruzilhada O fim da União Soviética e do Pacto de Varsóvia ditaram modificações no panorama bélico internacional. A NATO enfrenta, hoje, novos desafios D.R.
Vasco Batista Luís Nunes Pedro Nunes Fundada a 4 de Abril de 1949 em Washington, por iniciativa dos Estados Unidos da América (EUA), Canadá e seus aliados europeus, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) constituiu-se como um dos pilares do sistema de segurança colectiva ocidental da Guerra Fria, que só viria a terminar com a queda do bloco soviético, em 1991. Pautando a sua acção a favor da paz e da democracia, a NATO foi formada para conter a escalada soviética na Europa no pós-guerra. Anterior ao Pacto de Varsóvia, aliança militar soviética, a NATO sofreu uma reestruturação profunda, em virtude dos desafios colocados em matéria de segurança ao sistema internacional, nas últimas décadas do século XX. Com a aproximação do cinquentenário da assinatura do tratado fundador, importa reavaliar o seu mecanismo de funcionamento, bem como a sua base operativa. Para o deputado do Partido Socialista e vice-presidente da Assembleia do Atlântico Norte, José Lello, esta “alteração profunda” registada “no quadro geoestratégico”, emotivada pelo “fim do confronto de blocos”, levou a que “a NATO deixasse de ter o mesmo papel”. Opera-se uma reestruturação originada, na opinião do antigo chefe do Estado-Maior do Exército, General Loureiro dos Santos, pelo interesse dos EUA em “defender os interesses do Ocidente em todo o Mundo”. Esta alteração passa pela “autorização da actuação da NATO fora da área” para que foi criada, fenómeno “que se repercutiu na sua própria estrutura interna”, alterando a natureza dos comandos, de “âmbito funcional, que preparam forças para actuar no exterior”.
Problemas internos Em virtude das mutações registadas no sistema internacional, “as ameaças com que os aliados se confrontam são de outro teor”. São particularmente relevantes as temáticas do “terrorismo, da criminalidade organizada, da emergência dos estados falhados e de um conjunto de conflitos diversificados”, sublinha o parlamentar José Lello. No seio da própria aliança, esta mutação é “fractu-
rante”. Na convicção de Loureiro dos Santos “existem grandes divergências”, no que respeita “à necessidade de intervenção em determinado tipo de áreas”. O grau de envolvimento dos estadosmembros, a braços com a crise económica mundial, é desigual, comprometendo a “capacidade de participação no processo de decisão da NATO”, porque “os estados europeus não estão muito disponíveis para investir na defesa”, assumindo-se os EUA como “o único espaço com grande capacidade militar da NATO”. A eleição de Obama para a administração americana coloca na agenda da NATO a defesa de “uma atitude moral e ética na afirmação da liberdade e da democracia”. Para José Lello, “o presidente Obama manterá todos os seus compromissos no seio da Aliança Atlântica”, perspectiva que considera “muito positiva”. O politólogo José Avelino Maltez afirma que “não existe nenhuma divergência de fundo no super-espaço atlântico”, EUA e Europa, espaço que partilha a mesma matriz “de humanismo laico e de humanismo cristão”. Por sua vez, Loureiro dos Santos acredita que a posição de Obama, expressa pelo vice-presidente Joe Biden na conferência de Munique, forçará os estados europeus a um maior grau de comprometimento, que já não podem justificar a sua inacção com a “discordância com as políticas da administração Bush”.
Dificuldades nos teatros actuais No teatro de operações do Afeganistão, que inaugurou esta nova fase da vida da aliança, a NATO combate “ameaças complexas que estão situadas bem longe das nossas fronteiras comuns” onde “detém o grande desafio de acabar com núcleos de formação de terroristas”, argumenta José Lello. No entanto, “a NATO sujeita-se [no Afeganistão] a ter a sua primeira derrota da sua existência, em termos militares”, na opinião do general. As relações com a Rússia, outro dos temas da agenda da Aliança, caracterizam-se por pontos de tensão ao longo da fronteira comum e alguma crispação motivada pela intervenção russa na Geórgia. Loureiro dos Santos acredita que no futuro esta relação “passará pela procura de um entendimento com a Rússia”, situação que “transpira das várias
A NATO ainda é vista por países do antigo bloco soviético como a única alternativa à esfera russa
declarações dos estados-maiores quer nos EUA, quer da própria Rússia”. Avelino Maltez refere a importância da distinção entre “declarações e realidade”, acrescentando que “tudo isto não passa de bailados e encenações políticas”. O futuro da Aliança está assegurado porque, de acordo com José Lello, esta “é o único instrumento com capacidades militares efectivas”, que tem capacidade “de ligar os dois espaços do Atlântico”, designadamente a “União Europeia com o pilar europeu e os Estados
Unidos e o Canadá com o pilar norte-americano”, constituindo “um elemento muito importante para a dissuasão de todo o tipo de ameaças”. Já Loureiro dos Santos acredita que a Aliança desaparecerá se mantiver a actual forma, podendo evoluir para “um grande fórum, onde se reúnem periodicamente os ministros dos Negócios Estrangeiros, os ministros da Defesa, os chefes de governo e de Estado”. A solução passará por um alargamento a Sul, regressando a “uma matriz geográfica”, apoiada num “núcleo de estados ribeiri-
nhos do Atlântico”, “não só dos Estados do Norte, mas de todo o Atlântico”, acrescenta o general. Avelino Maltez defende para além de uma aliança militar, que para solucionar as grandes questões de segurança da actualidade, “seria interessante considerar a hipótese de criação de um espaço de convergências civilizacionais que englobasse a Rússia, a Europa e a América do Norte”, sublinhando o papel fundamental da Rússia na história europeia e afirmando que não faz sentido “pôr o vector militar acima do factor cultural”.
16 | a cabra | 17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira
CIÊNCIA & TECNOLOGIA TÉCNICAS DE ANIMAÇÃO
“Os domínios da hiper-realidade prometem mundos fantásticos” Se há bem pouco tempo eram o Vicky e o Dartacão que prendiam as crianças ao ecrã da televisão, hoje em dia a animação recorre a técnicas muito diferentes Diana Craveiro O Coordenador da Licenciatura em Design e Multimédia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), António Olaio, explica que as diferenças entre os desenhos animados mais antigos e os mais recentes “estão, desde logo, nas próprias potencialidades das novas técnicas”. “Hoje também é frequente o uso despudorado do [desenho] mais tosco e arcaico”, o que pensa que “contraria, com bastante humor, qualquer hegemonia da exibição técnica, que pode até ser ridícula”, dando como exemplos os Simpsons e o South Park. Por outro lado, o professor fala dos canais de desenhos animados Nickelodeon e Cartoon Network onde “a qualidade estética do desenho se sobrepõe a qualquer deslumbramento meramente técnico”. Existem várias técnicas de animação, como, por exemplo, 2D e 3D, o tradicional desenho, animação de plasticina ou de areia ou mesmo o recurso a bonecos articulados. O director da Casa da Animação no Porto, Luís da Mata Almeida, pensa que “algu-
mas técnicas de animação são inventadas, surgem da mistura de várias técnicas”. “Antes, aquilo que se fazia e tinha mais visibilidade era feito em desenho animado, imagem a imagem”, por isso se chamava desenho animado, como, por exemplo, a Branca de Neve e os Sete Anões. No entanto, agora “deve começar a falar-se de animação, “porque esta inclui todas as técnicas”, explica. O professor da FCTUC acredita que “na televisão o 3D é sobretudo usado em produtos de péssima qualidade ou para tornar mais barata e massificada a produção de animações já antigas”, dando como exemplo o Noddy ou mesmo a Idade do Gelo. “Já em animações como Pokoyo, a qualidade é absolutamente fantástica, porque o 3D é utilizado com extremo bom gosto em soluções compositivas e plasticamente muitíssimo bem desenhadas”, afirma. Outro filme que também recorreu a novas tecnologias foi o Panda do Kun Fu, em que os artistas trabalharam interactivamente com gráficos em tempo real que permitiam ver qual iria ser o resultado final. Manipulavam modelos complexos, reviam a sua forma e molde e faziam alterações rápidas para melhorar os efeitos visuais, tudo sem interromper o fluxo de trabalho criativo. A professora responsável pela Licenciatura em Comunicação e Design Multimédia na Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC), Maria Carvas Monteiro, diz que o desenho animado parece seguir em duas direcções. “Por um lado, a utilização de sofisticados
softwares de criação gráfica permite, cada vez mais, uma complexificação dos cenários, personagens e ambientes; por outro lado, a simplificação e o minimalismo das imagens sublinham a importância do desenho”. No entanto, Maria Carvas Monteiro pensa que “muitas destas características se encontram, desde sempre, no cinema de animação”, acrescentando que isso “significa que a tecnologia apenas veio permitir, eventualmente, uma economia de tempo nos processos de edição e produção”. As maiores diferenças que António Olaio encontra nos desenhos animados contemporâneos, além das especificidades técnicas, “são a nível da construção, porque a concepção das animações depende sobretudo da qualidade do desenho, da construção narrativa, dos argumentos, da sua realização enquanto cinema”. No entanto, o professor da UC afirma que “isto depende das múltiplas autorias, e não da mera inovação técnica”, já que “por si só as tecnologias não dão beleza aos desenhos, mas sim a forma como são utilizadas”. Maria Carvas Monteiro diz que a animação de hoje em dia é quase totalmente produzida em ambientes digitais, “embora se recorra muitas vezes à utilização de modelos à escala”. “Por exemplo, as personagens adquirem movimentos e expressões muito próximos das suas equivalentes reais, porque há um processo prévio de registo desses movimentos e expressões, que são depois digitalizados.” Mas a professora da ESEC concorda com o docente da FCTUC, afirmando que “as imagens digitais criam objectos e mundos impossíveis, amplificando as possibilidades dos efeitos especiais, embora isso não signifique necessariamente originalidade e criatividade”.
Também há animação em Portugal Quanto à técnica que mais deslumbra os espectadores, o 3D, o director da Casa da Animação defende que esta não é a mais utilizada, mas é a que tem mais visibilidade, “porque maioritariamente as longasmetragens de animação são feitas
com esta técnica”. Já António Olaio acredita que “a técnica 3D é cada vez mais usada, embora sem tomar completamente o lugar de outras tecnologias”. O professor pensa que “as potencialidades de realismo do 3D não devem prevalecer”, porque “os exemplos de excesso de realismo, sem preocupações formais mais interessantes, dão resultados medíocres”. Maria Carvas Monteiro defende o investimento na investigação para a invenção de novas tecnologias, porque “os domínios da hiperrealidade prometem mundos fantásticos e cativantes”. A docente acha que “a história tem mostrado que o grau de realismo influencia, sem dúvida, a percepção”. “Mais realismo nas imagens aumenta a ilusão de vivenciar outros mundos, fantásticos ou ameaçadores, sem qualquer perigo para o sujeito”, acrescenta. Portugal tem produzido curtas-metragens e séries de animação de curta duração que estão presentes nos mercados e que passam nos canais de televisão ou em salas, no caso das curtasmetragens. Luís da Mata Almeida diz que “pouca gente sabe que Portugal tem um lugar de grande qualidade no mundo da animação”. “Já devemos ter ganho cerca de 200 prémios internacionais nos mais prestigiados festivais, através de curtas-metragens”, conta.
Com mais ou menos tecnologia, portugueses ou estrangeiros, os desenhos animados continuam a entreter os mais jovens, e não só. Com Hugo Anes
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17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira | a
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CIÊNCIA & TECNOLOGIA
Porque faz sentido falar em Darwin A 12 de Fevereiro de 1809 nasceu, em Inglaterra, Charles Darwin, aquele que, 50 anos mais tarde, viria a publicar "A Origem das Espécies", um livro sobre a Teoria da Selecção Natural. Por Diana Craveiro
D.R.
primeira edição da "Origem das Espécies" foi publicada em 24 de Novembro de 1859 e imediatamente esgotou os 1250 exemplares. A partir daqui começou a desenrolar-se a polémica à volta das teorias do biólogo. A investigadora do Grupo de História e Sociologia da Ciência do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra (CEIS20), Ana Leonor Pereira, não hesita em dizer que Charles Darwin foi muito importante, comparando-o a Copérnico, que, em 1543, afirmou que era a Terra que andava à volta do Sol, e não o contrário. Quase 500 anos depois, a teoria geocentrista de Copérnico continua a ser ensinada e a docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) "pensa que com Darwin é um pouco a mesma coisa, porque a partir do momento em que o paradigma evolucionista se instala, o criacionismo essencialista, que era o paradigma estático da história natural que vigorava antes, não faz muito sentido". Quanto à relação entre a religião e a ciência, Ana Leonor Pereira acha que são "coisas completamente diferentes, mas a partir do momento em que dentro da ciência se instala o paradigma da evolução, não faz sentido invocar a Bíblia". Manuela Alvarez é professora de biologia na Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC) e explica que, segundo Charles Darwin, "a selecção natural é o contributo diferencial dos indivíduos para a geração seguinte". "Uma vez que no seio de uma população os indivíduos se cruzam e têm descendentes, há uns que vão ter mais descendentes que outros e uma maior representação da sua contribuição genética", acrescenta. Ana Leonor Pereira explica que a teoria das espécies se chama Teoria da Descendência com Modificações e que "não só é uma teoria biológica, mas também socioló-
A
gica, económica, histórica, etc…é uma teoria que se imprimiu em todos os domínios das ciências humanas", afirma. Quanto ao reconhecimento da importância desta teoria, Manuela Alvarez pensa que as pessoas não têm essa consciência, porque a "interpretam fora do contexto científico e num contexto cultural". "A população tem noção da evolução, da mudança", explica, "agora o mecanismo dessa mudança acho que não é acessível à população em geral até porque o ensino da biologia e das ciências a nível da escola é muito fraco". Outro dos problemas apontados pela bióloga, está no facto de as pessoas pensarem que a teoria de Darwin é simples e de fácil compreensão. "Por exemplo eu acho que o saber comum tem aquela ideia de que a evolução produz uma hierarquia e que foi produzindo indivíduos cada vez mais complexos e inteligentes" , no entanto, "a mudança biológica produz organismos mais bem adaptados mas não produz organismos melhores do que os outros", explica. Já Ana Leonor Pereira, acredita que as pessoas reconhecem o trabalho de Darwin, "porque há um grande esforço que desde há muito tempo está a ser feito e, até em termos de institucionalização escolar da teoria de Charles Darwin, foi praticamente imediato, um fenómeno de sucesso incrível”. "As descobertas de Charles Darwin estão mais actuais do que nunca, porque hoje cada vez mais os avanços da biologia e da genética dão razão a Darwin", defende a docente da FLUC."Cada vez mais faz sentido falar em Darwin, não há nada na investigação que faça sentido sem o paradigma evolucionista. Quando se trabalha uma vida, trabalha-se sempre no pressuposto que ela evoluiu e evolui, que não é fixo", afirma. Se Darwin tivesse vivido no nosso tempo, Ana Leonor Pereira pensa que ele teria ido mais longe.
"Ele era genial, mas os contextos são diferentes. Talvez a nossa época esteja a precisar de um Darwin, alguém com inteligência, capacidade e dedicação de investigação do Darwin", diz. Quanto à melhor maneira de homenagear Darwin, Ana Leonor Pereira diz que se deve aproveitar a ocasião para estimular o espírito científico nas crianças. "São coisas que não se aprendem, mas conduzir a mente das crianças e dos jovens para uma atitude científica que é observar, coleccionar e experimentar". Já Manuela Alvarez acha que se deve passar a mensagem certa. "Retirar o darwinismo do contexto social e cultural onde geralmente é mal interpretado e passar uma imagem correcta".
Darwinismo em Portugal "Há muitos darwinistas em Portugal, ao contrário daquilo que é dito", afirma Ana Leonor Pereira. "Desde os anos 60 que há darwinianos, mesmo dentro da Universidade de Coimbra, a única na altura", conta."Tivemos em Portugal o primeiro tratado de antropologia e o de sociologia e esses tratados foram feitos por representantes da geração de 70, que foi de facto a grande geração da cultura portuguesa que introduziu Darwin em Portugal no plano da cultura, com nomes como Teófilo Braga, Eça de Queirós ou Ramalho Ortigão". "O darwinismo em Portugal é tão digno como nos outros países, não temos que ter esse complexo quase de inferioridade em relação a expressão que o darwinismo assumiu em todo o mundo", diz Ana Leonor Pereira. Para ela, Charles Darwin entrou na cultura portuguesa como entrou em todo o mundo."Estamos a lidar com alguém que tem uma dimensão universal e como opera uma relação antropológica acaba por se implantar de uma maneira ou de outra em todas as culturas".
“DESCOBERTAS de Darwin estão mais actuais que nunca”, defende Leonor Pereira
INFOGRAFIA POR JOÃO MIRANDA
18 | a cabra | 17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira
CINEMA
ARTES FEITAS
“
Quem quer ser bilionário? ”
Q
DE DANNY BOYLE COM DEV PATEL ANIL KAPOOR SAURABH SHUKLA 2008
O príncipe encantado que veio das favelas CRÍTICA DE RUI CRAVEIRINHA
uestões estilísticas aparte, Danny Boyle sempre se apresentou como um camaleão cinematográfico, saltitando de género em género, sem nunca estabilizar num padrão. Não tem medo de desafios que outros realizadores deixam passar ao lado, compensando a sua ousadia temática com um exaustivo trabalho de pesquisa - veja-se “28 Days Later” ou “Sunshine”, exímios pastiches dos géneros que habitam. É por isso com pouco espanto que se vê Boyle realizar “Slumdog Millionaire”, adaptação de um romance indiano que retrata a conquista do concurso “Quem quer ser milionário” por um mero empregado de terceira, vindo de castas inferiores, pobre e sem qualquer educação. Jamal é o rapaz sonhador que, embora rodeado da maior das misérias, aspira a encontrar o amor e a felicidade. Acaba por ser obrigado a participar no concurso para poder libertar a sua paixão de
infância duma vida de decadência. É a velhinha história da conquista do sonho americano, numa versão filmada na Índia, mas que mantém incólume a matriz de valores americanos. Das favelas ao maior palco do mundo, Boyle filma os podres da sociedade indiana, com especial foco na pobreza e na ostracização das castas inferiores. Mas de forma habilidosa, evita um tom excessivamente opressivo, preferindo focar-se na epopeia de esperança de Jamal. E aí reside simultaneamente a maior força e fraqueza do filme. Por um lado, é uma história cheia de coração, cuja maior qualidade é pôr um sorriso na cara dos seus espectadores. Por outro, a ingenuidade do olhar de Boyle acaba por ser demasiado próxima de um imaginário tipo conto de fadas (recorrente no cinema de Bollywood), para que o filme seja levado a sério. Curiosamente, Boyle renega qualquer relação com o cinema in-
diano que vá para além do seu tom positivo, preterindo o festival policromático que caracteriza Bollywood em favor de um registo estético muito próximo de “Cidade de Deus” – frenético, electrizante, cheio de cores saturadas e sujas. Apesar de a escolha ser óbvia, dada a proximidade temática dos dois filmes, e estilística entre os seus autores (ambos adeptos do estilo videoclip), não deixa de ser uma escolha algo contraditória, dado o quão diametralmente opostos acabam por ser os tons com que cada um conta a sua história. Sobra assim um híbrido curioso, algures entre o retrato social deprimente de “Cidade de Deus” e o entretenimento efusivo e romântico de Bollywood. E se não se procurar mais que entretenimento, então “Slumdog” justifica o título de ‘feel good movie of the year…’ o que não deixa de ser estranho num filme que a espaços, pretende caracterizar a pobreza de um país.
Valquíria”
S
endo uma temática que parece atormentar o realizador (basta recordar “Apt Pupil” onde um rapaz descobre que o seu vizinho é um veterano criminoso de guerra alemão - ou mesmo, de forma mais ligeira, o inicio e um dos subplots de “XMen”), esta nova incursão de Bryan Singer pelo Nazismo (ou por episódios colaterais que o retratem) pauta-se acima de tudo pela sobriedade. Não é fácil mostrar um episódio histórico como este (que, como se sabe, terminou num falhanço), sobre um grupo de oficiais “traidores” germânicos liderado pelo jovem Claus von Stauffenberg, que procurou eliminar,
com engenhos explosivos, o seu líder Adolf Hitler e, dessa forma, iniciar a escalada que permitiria terminar quer com o Terceiro Reich quer com a guerra que vigorava. Mas tal como a dita “Operação Valquíria” de Stauffenberg, o argumento mostra-se demasiado esquematizado, numa abordagem que, embora cuidada (minimamente também nos factos comprovados), revela-se demasiado polida e fria, quase sempre distanciando em demasia os espectadores do conjunto de corajosos dissidentes (como que uma “descrição da História” e não o “contar de uma estória”) e cujo resultado final, não sendo um fracasso como o plano ori-
ginal da trama, apenas consegue causar pouco mais do que um satisfatório impacto. Tom Cruise contribui com um competente trabalho de contenção, apoiado por secundários de luxo, destacando-se Bill Nighy e Tom Wilkinson. A realização de Singer, tecnicamente irrepreensível (com momentos de bom suspense, principalmente durante o decisivo atentado), apresenta-se presa por todo este formalismo exagerado que marca “Valkyrie”, demonstrando estar cada vez mais longe da originalidade e irreverência dessa sua obra de culto chamada “The Usual Suspects”.
DÁRIO RIBEIRO
DE
BRIAN SINGER COM
TOM CRUISE TOM WILKINSON KENNETH BRANAGH 2008
A Revolução que não chegou a ser
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ARTES FEITAS
OUVIR
LER
The Crying Light” teatralidade continua a ser a pedra de toque de Antony "Outro Mundo" and The Johnsons que regressaram neste inicio de ano com “The Crying Light”. A capa confirma-o pela presença do dançarino japonês Kazuo Ohno de 102 anos, homólogo de Antony pelo universo de ambiguidade, delicadeza e mistério. Despido de grande parte da exuberância delineada em “I Am A Bird Now” (2005), “The Crying Light” é um disco de repouso e contemplação após tumulto. Apesar da atmosfera de intimidade que a voz de Antony transmite, abrem-se clareiras DE sobre o palco das suas canANTONY AND THE JOHNSONS ções, muito graças aos arEDITORA ranjos de cordas do jovem SECRETLY CANADIAN compositor clássico Nico Muhly. Esses são os momen2009 tos de luz do disco, o piano e voz de Antony acariciados por uma leve malha sinfónica que dá nome ao vazio e contém o estilhaço. Tido como o disco mais pessoal e maduro de Antony, representa, por outro lado, a aceitação dos seus tormentos e insegurança que até aqui tinham povoado as suas letras, para agora derivarem em temáticas universais como a Natureza ou as relações familiares (resultando porém, no empobrecimento da intensidade emocional de algumas canções). Este é um disco que necessita mais do que uma audição atenta para se colar à pele, pois a aparente similitude entre faixas, progressivamente vai revelando pequenos jardins numa vasta floresta, desde a bateria em “Kiss my Name” à bucólica guitarra em “Epilepsy is Dancing”, na visão cinematográfica dos violinos em “Everglade” ou no tom triste de valsa em “One Dove”. Por fim, fica o estranho trago de que celebrámos todos um estranho segredo. Antony está a reescrever a sua história, escutámo-lo no ano passado sobre as batidas electrónicas de “Hercules & Love Affair”, e ainda no Ep “Another World”. “The Crying Light” vem apenas aumentar os ‘watts’ de um luz (e)terna.
A
Danças na floresta ” “Bailes mágicos até ao amanhecer”
DE
JULIET MARRILIER EDITORA DOM QUIXOTE 2008
N
detalhes por resolver à partida, no seu mundo próprio e como nos tirar do nosso. Wildwoodancing é uma obra que apetece ler do princípio até ao fim, e com poucas interrupções de preferência. Apesar de a autora já ter editado várias trilogias anteriormente, o actual livro foi um dos primeiros a ser originalmente escrito. A autora australiana já arrecadou o prémio Aurealis Award for Best Fantasy Novel em 2006, no ano seguinte manteve-se em quarto lugar na lista dos dez para jovens adultos, recomendados pela maior loja online de livrosAmazon.com. Também em 2007, Marillier arrecada um prémio YALSA's de melhor livros para jovens adultos. A sequela de Wildwooddancig já está à venda em Portugal, tanto a versão portuguesa como a original em Inglês. Cibelle’s Secret promete voltar a imergir no folclore romeno. De leitura obrigatória para os fãs do género fantástico, são também, a Triologia de Sevenwaters, as Crónicas de Bridei, Foxmask e Foxskin. Uma mescla de ilusão, fantasia, magia, batalhas épicas entre o bem e o mal, e todo o folclore nórdico e celta estão espelhados nos livros Juliet Marillier, por vezes comparada à conceituada escritora do género fantástico Marion Zimmer Bladley.
CARLA SANTOS
VER
Ao Encontro de Fidel”
Que tiene Fidel?
CARLO PATRÃO
GUERRA DAS CABRAS A evitar Fraco Podia ser pior Vale a pena FILME
A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro
EXTRAS
Artigos disponíveis na:
a Transilvânia rural de outros tempos, quando famílias de mercadores habitavam grandiosos castelos, cinco irmãs descobrem um portal para outra dimensão. E durante todas as luas cheias o portal era aberto, e as irmãs passavam para o “outro reino”, onde várias criaturas dançavam em bailes mágicos até ao amanhecer. Este é o mundo do livro recentemente editado em Portugal. O imaginário de Juliet Marillier vai buscar muito do folclore romeno para rechear a trama de criaturas mágicas, nem sempre boas e bem-vindas no lado de cá. Como não podia deixar de ser, a autora incluí subtilmente o imaginário dos vampiros na história. Juliet Mariliet deixa a história à mercê de um amor proibido, um sapo mágico, a vida rural na zona da mítica Transilvânia e a força de uma rapariga que vai ter de lutar entre aquilo em que acredita e o que a sociedade da época considera aceitável. É um livro que apetece devorar do princípio ao fim, principalmente em inglês, onde nada se perde na tradução. Há até um glossário com a fonética para a correcta pronunciação do nome das personagens. Juliet Marillier sabe bem como envolver a narração, às vezes com muitos
“
DE
OLIVER STONE EDITORA IMMORTALES 2008
execução de três sequestradores de um ‘ferryboat’, motiva uma segunda investida do realizador Oliver Stone, na tentativa de compreender a realidade política cubana, na sua série de entrevistas com o comandante-emchefe Fidel Castro, em “Ao encontro de Fidel”. Na sequência do documentário realizado em 2003, intitulado “Comandante”, Oliver Stone aproveita a confiança capitalizada junto do velho guerrilheiro para questioná-lo acerca dos acontecimentos marcantes desse ano (desvio de um avião da “Cubana de Aviación”, sequestro de um ‘ferryboat’ e a prisão de 75 dissidentes políticos). ‘El Comandante’ responde a Stone da forma que o caracteriza. Às acusações do realizador, baseadas nos registos da imprensa pro-norte-americana, responde Fidel com um conhecimento profundo e detalhado dos temas em discussão, tomando a ofensiva. Stone aproveita esta nova oportunidade para ir mais longe, investigando as suspeições levantadas por Fidel, atingindo conclusões surpreendentes, recorrendo a entrevistas com dissidentes, prisioneiros políticos, frente-a-frente com Fidel. Assumindo uma postura distanciada
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da entrevista, recusando o seu papel de jornalista, mas tentando manter alguma objectividade, Stone transmite a sua opinião pessoal sobre os temas através de uma selectiva banda sonora, e da imagem referencial de contextualização. “Ao encontro de Fidel” e “Comandante” são testemunhos cinematográficos coerentes com a produção fílmica de Stone, que obedece a um fascínio por personagens históricas e controversas (“Talk Radio”, “The Doors”, “JFK”, “Nixon”, “Alexandre”, “W.”, e o documentário no prelo sobre Hugo Chávez). Num documentário de cerca de uma hora, que talvez não seja possível apreciar em toda a sua extensão sem o visionamento de “Comandante”, e que no final deixa a sensação de que fica muito por explorar (30 horas de entrevistas condensadas em uma hora de documentário), Fidel sai uma personagem mais misteriosa e intrigante do que no início do filme. O visionamento de “Ao encontro de Fidel” poderá responder a algumas questões levantadas no “Ocidente” acerca do processo político que se vive em Cuba, quando se comemora o quinquagésimo aniversário da Revolução Cubana.
PEDRO NUNES
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SOLTAS
ALMOÇO SOCIAL
RICARDO PINTO • DIRECTOR DA REVISTA MACA Caldo Verde
Feijoada
Maçã
PROJECTO ‘MACA’
CULTURA EM COIMBRA
VIDA
Como surgiu a MACA (Magazine de Arte de Coimba & Afins)? A Associação Arteaparte foi fundada há dois anos, em Fevereiro de 2007, e serviu de base jurídica para um espectáculo que estávamos a fazer, que era a “Ópera dos Bichos”, inspirado na obra do Miguel Torga e em homenagem ao centenário [do autor]. Depois, propus que avançássemos com a revista. Começámos do zero. Não sou de jornalismo nem tenho formação na área. O primeiro passo foi montar a equipa com pessoas com alguma experiência e com a mesma paixão. Fazer uma revista é um sonho, para mim, muito antigo e acho que a ideia de publicar atrai qualquer pessoa. Estabelecemos, no início, atingir os dez anos de publicações e cada dia que passa sinto que estamos mais perto. A maior parte das pessoas achava que só íamos conseguir fazer um número e muitas delas riram na nossa cara. Não levei a mal porque, de facto, era um grande desafio. Achavam que no primeiro número tínhamos esgotado todo o assunto de Coimbra, mas nós nunca achámos isso. A revista é trimestral, ou seja, saem quatro por ano. Em dez anos, chegamos aos 40, o que já representa um volume de trabalho considerável. Este é o projecto, o que não quer dizer que seja sempre eu à frente ou que a equipa não mude. Por enquanto, estou inteiramente dentro, apesar de fazer outras coisas. O grande objectivo era que a MACA, daqui a uns dois ou três anos, passasse a mensal, porque aí sim, íamos sentir o pulso da cidade de outra maneira.
Como é que encaras a situação cultural em Coimbra? Temos várias abordagens para as várias questões: o teatro tem uma abordagem, a música, outra... Relacionamo-nos com cada uma de maneiras diferentes, pois têm lógicas diferentes. Mas isso também é uma característica particular. Há uma grande cisão entre as áreas artísticas. Nota-se que há músicos que nunca foram ao teatro e actores que não sabem bem o que se está a passar na música em Coimbra. Às vezes, há preocupações em não ferir susceptibilidades porque este é amigo daquele. Isso nota-se mais no teatro. Há quase política em sobreposição à arte, esta é a minha visão das coisas. Se calhar é assim que elas devem ser e não podiam ser de outra forma. Em Coimbra há muitos grupos de teatro e subgrupos, o que é óptimo tanto para o público como para a produção cultural, mas por vezes geram-se polémicas. Do ponto de vista musical, as coisas já são diferentes. Há menos trincheiras. As bandas rock de Coimbra são desinteressadas mas não completamente, conseguem separar as coisas de forma saudável. Primeiro está o palco, a música e colaboram uns com os outros, e só depois vem o resto. Noutras áreas sente-se que antes da arte e do espectáculo estão outras coisas. O trabalho das companhias de teatro tem vindo a melhorar significativamente. O futuro é radiante para a cultura em Coimbra, no que diz respeito ao teatro. As exposições estão um bocado dependentes da programação da câmara.
ACADÉMICA Como é que a tua vida académica influenciou a tua participação no projecto MACA? Eu estive durante algum tempo na secção de fado a tocar guitarra de Coimbra, mas não foi na academia que aprendi a tocar. Mas para um guitarrista penso que é fantástico estar a aprender a tocar nas ruas onde a guitarra nasceu e onde as pessoas percebem o que ela representa e fazem parte dessa vivência. Se eu fosse tocar guitarra para outro sítio já ninguém tinha esse entendimento. Isto é muito bom. Quando mudei para Antropologia fiz parte do primeiro núcleo de estudantes e, nessa altura, decidimos fazer um boletim sobre as actividades do núcleo. Posso dizer que foi o embrião da MACA. Na altura ainda não tinha noção do que iria ser, mas havia a pulsão de querer fazer algo mais. Acho que faz falta em qualquer cidade do mundo haver uma referência deste tipo. As respostas que há dos outros jornais não chegam para aquilo que se faz em Coimbra. Não têm essa vertente da crítica dos espectáculos e dos concertos.
João Ribeiro
PEDRO MONTEIRO
FEVEREIRO 1995 • EDIÇÃO N.º 17 • MENSAL • 100$00
ESTÁDIO SEM REDE”
m Fevereiro de 1995, A CABRA apelidava o conflito entre as secções desportivas e a Comissão Directiva do Estádio Universitário (EU) de “a última grande polémica da Academia”. Com a chuva, que impedia a utilização dos courts ao ar livre, a secção de ténis ocupou o anexo do
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Pavilhão 2 do EU. “Quando treinavam, foram abordados por um funcionário a fim de abandonarem o espaço. Motivo: o ginásio estava cedido ao Centro Regional de Segurança Social”, contava o jornal universitário. “As costuras rebentaram” quando o presidente da comissão chamou a polícia para obrigar a secção de ténis a abandonar os pavilhões. As autoridades apenas registaram a ocorrência. Na troca de acusações entre as duas partes, Eduardo Cabrita, presidente da secção de ténis na altura, acusava a comissão directiva de “não atender às mais prementes necessidades”, como balneários, equipamentos e colmatar os prejuízos decorrentes da inactividade dos atletas. No meio da polémica, punha-se em causa “a participação das equipas em
compromissos desportivos já assumidos”, como relatava A CABRA. Relativamente às queixas das secções desportivas, de que a comissão dava preferência aos alunos de Ciências do Desporto, o Jornal Universitário de Coimbra também ouviu o responsável do Pelouro de Desporto da DirecçãoGeral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Paulo Tejo. O dirigente associativo não se mostrou surpreendido e referiu que uma reunião entre a comissão directiva e a DG/AAC fora cancelada. “É que a comissão alegou não reconhecer à Direcção-Geral competências para discutir assuntos da gestão corrente do estádio”, podia ler-se. A CABRA entrevistou igualmente o vice-reitor para a área da Gestão e Património, Fernando
18ºANIVERSÁRIO A CABRA sai do arquivo...
Rebelo, que se mostrava optimista em relação à “asfixia” que as secções diziam sentir. As secções desportivas também defendiam a via dialogante, mas, se os problemas não se resolvessem, ameaçavam “tomar uma posição de força” contra “obras pendentes, pressupostamente por falta de verbas, campo de rugby sem vedações, falta de balneários, gabinetes em condições precárias e salas insuficientes”. Nesta “guerra surda” que o jornal descrevia numa página inteira o presidente da comissão direc-
tiva, Francisco Soveral, remetia todas as explicações para o reitor da universidade. Catarina Domingos
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O MUNDO AO CONTRÁRIO
SOLTAS
BRASIL As autoridades de S. Salvador, na Bahia, vão aplicar uma medida de segurança inédita no Carnaval. Os foliões que perturbem a ordem pública correm o risco de ser enjaulados no próprio local. Cada jaula tem capacidade para três a quatro presos. As 19 esquadras móveis vão reter os infractores apenas algumas horas, até serem encaminhados para as esquadras tradicionais.
AUSTRÁLIA Um homem foi detido pelos serviços de alfândega no Aeroporto Internacional de Melbourne. O indivíduo, proveniente do Dubai, traficava ovos de pássaros, sementes de plantas e vários exemplares de beringelas. Entre o material de contrabando estava ainda um pombo vivo, “aninhado” nos collants, entre as pernas.
TEM DIAS... Por Licenciado Arsénio Coelho
UM AMOR PELO SÃO VALENTIM ntre as centenas de caloiros a entrar para a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra no ano da graça de 1998, bem lá no meio, estava um rapaz esguio, demasiado magro e quase demasiado louro chamado Arménio. O meu amigo Arménio. A estabilidade sempre foi uma qualidade que ele prezou acima de tudo. Como tal, e como é um rapaz que sempre defendeu com todas as forças os seus valores pessoais (não confundir com os sobre-
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valorizados valores académicos), 10 anos e alguns meses depois tem a honra de lá continuar. No mesmo curso, e ainda no primeiro ano. É um dos orgulhosos veteranos da mui grande instituição que é a FDUC. Mas é um bom rapaz. Apesar de veterano, consegue pronunciar palavras com mais de duas sílabas com alguma facilidade – isto se lhe for dado o devido tempo de reflexão. Na sexta-feira à noite - e quando pensava que a minha Sexta-Feira 13 até estava
REINO UNIDO Tinha 35 anos e morreu porque…bebeu demasiada água. Shaun McNamara foi encontrado morto em casa. Inicialmente acreditava-se que sofrera um ataque cardíaco mas a autopsia veio revelar que McNamara morreu de hiponatremia, uma rara intoxicação causada pelo consumo excessivo de água. O britânico ingeriu tanta água que o cérebro inchou. Eunice Oliveira
CARICATURA POR GISELA FRANCISCO E ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES
a correr bem – o Arménio telefona a convidar-me a mim e à minha cara-metade para um almoço de casalinhos de São Valentim, numa pizzaria ali algures no Parque Dr. Manuel Braga. Disse-me que tinha uma namorada estrangeira e queria ambientá-la à cidade. Como sou um tipo com uma simpatia acima da média, aceitei. Fiquei de me encontrar com eles (na companhia da minha parceira de vida) junto ao cais de embarque do basófias. Faltavam 15 minutos para o meio-dia quando apareceram. Ele esguio e louro como sempre. Ela… um leãomarinho. E não, não é uma figura de estilo. Não me pagam para esses luxos. Era mesmo um daqueles bichos que costumamos ver nas páginas da National Geographic. Ainda olhei duas vezes para confirmar. Fechei os olhos e voltei-os a abrir. Porém, a pele flácida, enrugada e acinzentada da criatura continuava lá. É verdade que ele nunca teve um gosto especialmente apurado no que toca ao sexo feminino. Há um rumor recorrente que o coloca junto de uma estudante de Engenharia Informática numa intensa permuta de fluidos, imagine-se. Mas nada me tinha preparado para esta situação. - Então? Vamos andando para o restaurante? A Carla veio o caminho todo a queixar-se com fome. Não foi fofinha? – disse ele, trocando umas surreais carícias com o animal.
O meu primeiro impulso foi chamá-lo à parte e perguntar-lhe se já tinha reparado que a sua namorada era um leão-marinho. Mas fiquei com medo de o ofender. Inventei algo sobre ter que ir ao multibanco e assim que eles se afastaram comentei com a minha mais que tudo: - Não achas a namorada do Arménio um pouco estranha? - Estranha? Porquê? Então Arsénio? Tens que deixar de ser tão preconceituoso. Cocei a cabeça e meditei durante alguns segundos. Mas não havia nada a fazer. Lá fomos almoçar. No entanto, não pude deixar de estranhar a forma como ninguém se parecia importar com a incapacidade da namorada do Arménio (Carla?) em pronunciar qualquer palavra perceptível. Já nos estávamos a despedir quando o Arménio comentou que naquela noite estava a planear uma noitada de cinema caseiro com a Carla. Iam ver o Mickey Blues Eyes, o Nothing Hill e o Amor Acontece. Nesse momento não consegui aguentar mais e chamei-o à parte: - Mas tu estás parvo ou quê, Arménio? Não sabes que os Leões Marinhos não gostam nada do Hugh Grant? Todas as crónicas em
arseniocoelho. blogs.sapo.pt
COM PERSONALIDADE SARA OLIVEIRA
ISABEL CAMPANTE • 39 ANOS • ASSESORA DE IMPRENSA
SIMULTANEAMENTE INTERESSANTE E INTERESSADA Eu tenho o privilégio de trabalhar ao pé de pessoas muito interessantes. Se eu saísse de mim e me conhecesse tinha muitas outras pessoas que acharia interessantes, antes de me achar interessante a mim. É uma auto-crítica. Tenho um papel de intermediação, a vários níveis. A partir do momento em que não sou eu a criadora, aquilo que eu faço é levar a companhia até aos seus públicos. Um trabalho principalmente na área da comunicação. Eu gosto de estar com pessoas, de gostar das pessoas, eu gosto de falar com as pessoas, mas principalmente gosto de ouvir e ao ser uma boa ouvinte, isso coloca-me mais do lado de ser mais interessada do que interessante. A cultura está sempre a precisar de mais coisas. Há uma permanente insatisfação por parte dos criadores, que é saudável. Coimbra tem sinais positivos, mas principalmente tem um potencial tão grande que não está aproveitado. Há muito para fazer e muito para contrariar. Eu já fui estudante universitária em Coimbra e quando entrei na faculdade era a única pessoa que frequentava o Teatro Académico de Gil Vicente. E tenho a memória de no universo das ciências as pessoas não serem curiosas. Preocupa-me imenso neste momento que a situação ainda esteja a piorar mais. Eu já vi espectáculos que me mudaram a vida, e isso exige que nós estejamos dispostos a correr riscos. Daqui a 10 anos ainda vou estar aqui. Está reservado um futuro alegre. Eu não sei se o melhor para as pessoas é só chegar ao final do dia e verem uma coisa que as faz não pensar. Era conveniente pensar um bocadinho para depois relativizar. A nossa vida é muito pesada, é muito terrível. Se da nossa árvore olharmos para a floresta vemos que a coisa não é bem assim. No caso do teatro, uma pessoa depois vai adquirindo códigos, sabe o que é que determinada coisa quer dizer, porque é que é feita. O que é fantástico é uma pessoa ver uma coisa e a pessoa que está ao lado ver outra, são as diferentes leituras. Coimbra é uma obrigação. Gosto de estar aqui, quero estar aqui e quero continuar aqui. Sabia que desde o princípio era pouco provável que viesse a utilizar o curso como instrumento profissional. Mas a Matemática é uma linguagem importantíssima que está presente no meu quotidiano. O teatro transforma as pessoas. São muitos anos, são quinze anos, muitas polémicas, muita luta. É uma satisfação imensa estar neste teatro, que me dá uma motivação extraordinária. É um sentido de existência. Eu tenho gente que me pergunta “então ainda não conseguiste outra coisa?” e eu estou onde deveria estar e isto é magnífico. Se calhar era mais cinzenta e mais quebrada há um tempo atrás, mas continuo a corar. Acho que é um desperdício passarmos pela vida sem experimentar o máximo de coisas possíveis. Entrevista por Sara Oliveira
22 | a cabra | 17 de Fevereiro de 2009 | Terça-feira
OPINIÃO
“QUE CULPA TIVE EU?” Shahd Wadi *
D.R.
Quando o povo palestiniano tenta defender o restante da sua terra, ou até ter condições mínimas para viver sem bloqueio, é denominado terrorista
Cartas ao director podem ser enviadas para
acabra@gmail.com
Pergunta Dalal, uma rapariga de Gaza, que perdeu toda a família quando caiu uma bomba na sua casa, Dalal que teve a sorte ou o azar de estar na casa da avó naquele momento, foi a única que sobreviveu. “Isto é o vestido da minha irmã, e aquilo é a blusa do meu irmão”, explica Dalal andando entre as ruínas da sua casa. Depois de passar dias de lágrimas e choro, Dalal finalmente sorriu quando encontrou um membro vivo da família: A sua gata. Foram todos embora e ficou a gata. Com o enterro da família de Dalal e com a morte de mais de 1300 pessoas (410 crianças) na guerra de apenas 22 dias, em Gaza, a palavra “paz” também foi enterrada. Esta palavra desapareceu completamente durante as campanhas eleitorais de ambos os partidos israelitas vencedores da direita, Likud e Kadima, que são as duas faces da mesma moeda que têm cada vez mais sede de sangue, muito sangue. Os partidos que em vez de colocar a palavra “paz” nas campanhas eleitorais, colocaram uma guerra e ganharam as eleições com ela. “Precisamos de ser mais fortes e mais agressivos”, explica ao The Guardian (11 Fevereiro 2009) um israelita que mesmo sendo de esquerda votou desta vez na direita. Mais agressivos ainda? As suas frases levam-nos às imagens, que estão ainda muito vivas nos nossos olhos, as imagens que se calhar vão ficar vivas para sempre. A guerra de Israel não foi apenas contra qualquer ser vivo que anda pelo gueto chamado Gaza, foi um enorme crime contra a humanidade, utilizando todos os tipos de armas legais ou ilegais, que resultaram em feridas e queimaduras raras que nunca foram vistas antes. Mesmo assim, o povo israelita está a pedir ainda mais agressividade e ainda mais sangue, 91% da população esteve a favor da invasão e da guerra de Gaza. A maior parte dos media ocidentais anuíram com as inverdades de Israel que justifica a invasão de Gaza, dizendo que o Hamas violou a trégua de seis meses com os seus rockets, e então Israel não teve uma outra hipótese se não bombardear Gaza e, “infelizmente” tiveram que matar alguns civis (a maioria das mortes são civis, mais de 900). A verdade é que a trégua foi quebrada por Israel a 4 de Novembro de 2008 quando mataram 6 membros do Hamas em Gaza e mesmo assim o Hamas aceitou a
extensão da trégua com a condição de que Israel terminasse o bloqueio a Gaza, mas a resposta foi a invasão. Em 2005, Israel retirou todos os colonatos de Gaza, o Likud proclamou que isso era um sinal de paz e boa vontade, e mais uma vez a comunidade internacional acreditou. Mas um ano depois, o processo de expansão dos colonatos na Cisjordânia foi massivo, o número de colonos aí introduzido foi muito mais elevado do que os que foram retirados de Gaza e Israel continuou o controlo das saídas e das entradas de Gaza. A “coincidência” é que Israel invadiu Gaza apenas depois desta retirada! E assim ficou muito mais à vontade para cometer mais brutalidades e mais crimes com fósforo branco ou outras formas ilegais de guerra. Quando Israel começou a bombardear “os malfeitores terroristas Palestinianos”, os media ocidentais até adoptaram o termo “terroristas”. Seja qual for a minha opinião sobre o Hamas, tenho que dizer que Hamas é um grupo nacional de resistência tal como os outros grupos palestinianos que têm todo o direito a lutar contra a ocupação. E não podemos esquecer que Israel é um país construído na base do terrorismo. A origem do exército israelita são grupos terroristas que pertenciam ao movimento Sionista, e que aplicaram o plano da limpeza étnica da terra da Palestina para construir o estado de Israel. Grupos como a Haganah massacraram vilas inteiras e expulsaram muitas outras para construir Israel nas suas terras. Mesmo assim quando o povo palestiniano tenta defender o restante da sua terra, ou até ter condições mínimas para viver sem bloqueio, é denominado terrorista. O povo palestiniano pagou muito com estas eleições, sejam os árabes dentro de Israel, que com estes resultados vão continuar a ser cidadãos de segunda classe sem direitos básicos, ou os palestinianos em Gaza e Cisjordânia que vivem e vão continuar a viver numa “mega-prisão” (utilizando as palavras de Ilan Pappe), e se tentarem um dia resistir, serão “naturalmente” assassinados sem julgamento. Israel e o mundo sorriem com silêncio olhando todos os dias para uma Dalal, para a sua gata e para o “holocausto da paz”. * Docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra PUBLICIDADE
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OPINIÃO EDITORIAL
ACTUA, BOTA ABAIXO!
INFORMAR NÃO CHEGA, Daniel Maciel e Ricardo Vieira *
No seguimento da publicação do “Actua Academia” pela anterior Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra, a Real República do Bota-Abaixo entendeu manifestar-se publicamente em reacção à atitude, profissionalismo, dedicação e boa fé com que se elaborou o mesmo, apresentando-se, tanto em forma como em conteúdo (no nosso entender), vago, mal construído, enganador, ignorante às verdadeiras dinâmicas daquilo que são as vivências em República, numa palavra, medíocre. Tanto no processo de desinformação sistemática com que os dados foram adquiridos como na forma enganosa e kafkiana como, quer o acordo, quer a publicação do “texto”, foram processados, os responsáveis do “Actua Academia” mostraram nada menos do que total incompetência, falta de tacto ou experiência ao nível mais baixo das relações institucionais. Desde entrevistas telefónicas duvidosas a afirmações inventadas ou recolhidas de fontes paranormais, a tudo parecem ter recorrido, excepto ao contacto directo, pessoal e profissional. Assim, e em rescaldo do recente pedido de desculpas levado a cabo pela actual DG/AAC, o BotaAbaixo, num gesto magnânimo de um altruísmo sem precedentes, aprovisiona aos menos informados uma visão mais profícua daquilo que entendemos ser a realidade dentro dos nossos Reais paços: A Real República do BotaAbaixo foi fundada aquando da destruição da velha Alta na década de 40. O Bota-Abaixo esteve instalado na zona a destruir, na rua do Borralho, sendo depois transferida para a sua actual morada, na rua de S. Salvador. Durante o movimento académico de 69/70, no decurso da “Crise”, o Bota-Abaixo esteve, como a maioria das repúblicas, envolvida no processo de contestação ao regime, tendo um dos repúblicos, Horácio Duarte de Campos, sido preso por ser um dos signatários do decretus de Luto
É PRECISO AGIR
Académico e Abolição da Praxe, em 1969. Em 1988, foi criada a Associação Real República do Bota-Abaixo, constituída por antigos e actuais repúblicos. Graças ao esforço de várias gerações esta conseguiu, em 2002, comprar finalmente o edifício onde se situa a República. Actualmente, a República do Bota-Abaixo, com todo o espírito que a rodeia, continua bem viva, e é habitada por uma geração de repúblicos que tenta manter este espírito. Todos os cargos hierárquicos praxísticos foram abolidos, e o único “cargo” que se mantém é o de Xerife, exercido por todos os actuais repúblicos em rotatividade mensal. A Casa, enquanto República, mantém um papel activo na vida social coimbrã. Exemplo disso são a cooperação – frisa-se, cooperação, já que foi uma deliberação do Conselho de Repúblicas – nos Respúblicas, a realização de ciclos de cinema e workshops, bem como outros eventos de cariz cultural abertos a toda a comunidade. Em relação à praxe, a República optou por não ter uma posição barricada no extremismo anti/pró-praxe. Assim,“…consideramos excessiva e evitável a acoplagem acrítica que se faz entre a vida universitária e os fenómenos praxísticos” (Manual do Caloiro de 2001). Terminamos dizendo que a Real República do Bota-Abaixo tem as suas portas abertas a todos os estudantes e assumimo-nos como uma alternativa de socialização, onde não há espaço para hierarquias e humilhações, onde se convive de forma comunitária, se partilham experiências e saberes entre repúblicos e comensais, que vêm de vários sítios do país e do mundo e que estudam nos mais variados cursos do ensino superior. Achamos positiva qualquer aproximação por parte da AAC às Repúblicas, desde que de um modo construtivo, dinâmico, informativo e responsável.
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O recente estudo sobre o custo de vida e da educação do estudantes da Universidade de Coimbra, encomendado pela Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (AAC), veio demonstrar que os alunos e as suas famílias têm que suportar em média um custo de 600 euros mensais. Valores que ficam muito aquém do rendimento da maioria das famílias portuguesas e que aliados à, cada vez mais, parca Acção Social Escolar apresentam-se como um grande entrave no acesso e na permanência dos estudantes no ensino superior. Os sucessivos cortes orçamentais e o desinvestimento no ensino superior não auguram uma melhor perspectiva para a situação dos estudantes. As duas recentes campanhas da DG/AAC vieram demonstrar isso mesmo. O outdoor colocado junto às escadas Monumentais e os sete mil flyers com uma nota de 500 euros são ilustrativos da falta de apoios sociais aos estudantes do ensino superior. A iniciativa que começou ontem serve também para comprovar que as escolhas governamentais na atribuição das verbas públicas em muito prejudicam o ensino superior, entendido, de resto, como pilar do desenvolvimento do país. Contudo, é necessário que a direcção-geral não se fique por aqui, e a denúncia sobre a real política do Governo continue e seja aprofundada. As campanhas de informação são importantes, porém, não resolvem nada por si só. E o outdoor e os flyers nunca resultarão desligados de uma política de acção, acção de facto mobilizada e mobilizadora, não apenas resumida a meras acções simbólicas de sensibilização da sociedade civil. Afinal de contas, o ensino superior é feito essencialmente… de estudantes.
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As campanhas de informação são importantes, porém, não resolvem nada por si só
Conforme o seu estatuto editorial e o seu livro de estilo, o Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA orienta o seu trabalho de uma forma completamente descomprometida com qualquer grupo, organização ou pessoa individual. Assim, A CABRA assume-se como um jornal que tem como objectivo servir os interesses do seu público-alvo de ser informado. Todo o trabalho de produção d’A CABRA segue uma lógica de honestidade e cumprimento do que é o entendimento geral de ética ou de deontologia. A CABRA é um jornal livre e independente. Nunca o facto de ser elaborado por estudantes ou o facto de ser pertença da Associação Académica de Coimbra deve ser considerado como factor para que o jornal seja encarado como um folhetim ou um almanaque de promoção ou de exaltação de qualquer pessoa ou entidade, nunca esquecendo, contudo, o objectivo primordial de informar e esclarecer o seu públicoalvo. Assim, não é com intimações mais ou menos latentes que se vai proceder a alguma alteração da linha editorial do jornal. Este editorial, como todos os outros, parte da construção colectiva de toda a direcção de redacção. João Miranda
* Repúblicos da Real República do Bota-Abaixo
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Defesa do Choupal
A Plataforma do Choupal foi criada ainda não há um mês e já fez circular uma petição, subscrita por sete mil assinantes, e promoveu um cordão humano que juntou na Mata Nacional quase 1500 pessoas. A mobilização contra o projecto de construção de um novo viaduto sobre o espaço verde, a que o Ministério do Ambiente já deu aval, revela que os conimbricenses, às vezes, também são inconformistas. C.D.
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acabra.net
Concepção e Produção: Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra
EcoCasa - Água
Depois dos resultados conseguidos do projecto EcoCasa no sector energético, a iniciativa, com vista à racionalização da água, vai observar 15 famílias conimbricenses e os seus consumos. Depois seguem-se as recomendações para o uso eficiente da água. A observação contínua destes agregados vai ser um ponto de partida para a protecção deste valioso bem. C.D.
Notas sobre arte...
Andebol AAC
A fase regular do Campeonato Nacional de 2ª Divisão Zona Centro chegou ao fim. A Académica falha por pouco a fase final que daria a possibilidade de lutar por um lugar no primeiro escalão. Ainda assim, os números não enganam. A melhoria pontual da época transacta para agora deixa antever uma fase complementar tranquila e uma próxima época de outros voos, para chegar à 1ª Divisão. C.D. PUBLICIDADE
Sem Título • Malangatana 1999 O olhar dos corpos grotescos irrompem do quadro para a esfera do visitante vigiam cada passo, cada movimento. O observador é observado à medida que a peça de arte nos pinta de um frio azul alba. Espalhados na tela, corpos contorcidos desgastados que se enfrentam por uma longa luta sem fim. Os quadros expostos na Galeria Pinho Dinis são a prova de que as formas simbióticas também se atrapalham. Toda a exposição de Malangatana é ocular, como se de uma retina artistica se tratasse. Ignorar o reflexo do dramatismo na sua obra é ser alheio ao sofrimento humano, é dissolver o passado de um povo africano. Esta violência, presente na obra do moçambicano, é fruto da promiscuidade de uma guerra entre homens do mesmo país. O ano de 1992
marca o fim da guerra civil moçambicana e o início da reconstrução do país. Ainda assim, o artista não volta as costas ao passado. Esta mesma herança motiva-o, como um verdadeiro cidadão da paz, para as causas humanitárias, sociais e culturais. Nascido em Matalana, Moçambique, a 6 de Junho de 1936, Malangatana Valente Ngwenya é um artista multifacetado, reconhecido em todo o mundo como um embaixador da cultura africana. Depois da sua primeira exposição, em 1961, estudou em escolas de arte e recebeu, inclusivé, uma bolsa da Gulbenkian. Esta exposição conta com pinturas, desenhos e poesia, 40 obras no total, e está patente até dia 21 de Fevereiro na Casa Municipal da Cultura de Coimbra. Por Rui Miguel Perreira
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