MARADONA
REMO
O documentário sobre o ‘El Pibe’ em que Kusturica rouba o protagonismo ao “jogador do século XX”
Campeonato de Verão já começou e AAC procura a revalidação
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16 de Junho de 2009 Ano XVIII N.º 200 Quinzenal gratuito
QUEBRA COSTAS As velhas escadas da Alta servem de montra para o artesanato urbano P5
18 ANOS 200 EDIÇÕES
a cabra
Director: João Miranda Editor-executivo: Pedro Crisóstomo
Jornal Universitário de Coimbra
ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES
Afinal, este é o jornal...
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Deixámos que nos seguissem durante uma quinzena • O papel das actividades extracurriculares no ensino superior • Jornalismo universitário: da máquina de escrever à Web 2.0 SUPLEMENTO 18.º ANIVERSÁRIO
Sociedade vigiada Cada vez mais somos vistos e ouvidos sem saber. Por que nos vigiam(os)? P2e3
Inquérito pedagógico à UC pode ser respondido até Setembro Robalo Cordeiro, “uma reivindicação dos estudantes”, há algum desconhecimento quanto aos objectivos do documento.
Os estudantes da UC foram informados do preenchimento obrigatório de um inquérito pedagógico na WOC (Web On Campus), cujo prazo aconselhado
terminou ontem, 15. No entanto, há a possibilidade de o questionário ser feito até ao início do ano lectivo, em Setembro. No caso de um estudante optar por não res-
ponder ao inquérito, terá de fazer chegar ao reitor um requerimento no qual alegue objecção de consciência. Apesar de constituir, segundo a vice-reitora, Cristina
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Sahara Ocidental
Voleibol
Novo pediátrico
Prescrições na UC
Povo à espera do referendo
Liga Europeia Utentes queixam-se Requerimento pode passou por Coimbra de falhas no edifício voltar a ser solução
O Sahara Ocidental está longe de ser o assunto do dia. Ainda assim, a riqueza em recursos naturais tornam este território do Norte de África alvo de disputa entre marroquinos e sarauís, há mais de 30 anos. Mesmo com o cessar fogo, os refugiados continuam a viver no campo mais antigo do mundo.
Na jornada dupla deste fim-desemana, Portugal defrontou a Eslováquia. A vitória de sábado (3-0) não se repetiu no domingo, com a formação de Juan Diaz a perder por 1-3. Com apenas uma vitória na fase de poules da prova europeia, Portugal tem agora menos margem de erro para alcançar a “final four”.
Tendo a inauguração sido prevista para 2007, o novo hospital pediátrico de Coimbra estará pronto para abrir portas neste último trimestre. No entanto, a comissão de utentes aponta para a existência de falhas arquitectónicas. O engenheiro responsável pela obra afirma que os problemas já foram ultrapassados.
Para os estudantes em risco de prescrever, a reitoria da Universidade de Coimbra ainda não encontrou solução. A alternativa pode passar por ser feito um requerimento ao reitor, sendo que os casos vão ser estudados um a um. Apesar de o regime de prescrições estar implementado desde 2007, nunca algum estudante prescreveu até agora.
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DESTAQUE
Não sorria, está a ser
vigiado Câmaras de vigilância, escutas, cartões de crédito, bases de dados pessoais. São muitos os olhos que nos seguem. Especialistas acreditam unanimemente que caminhamos para uma sociedade de controlo
Maria Eduarda Eloy João Ribeiro E se a Universidade de Coimbra (UC) oferecesse aos estudantes iPhones que controlassem a assiduidade? Bom negócio ou grande intromissão? Numa universidade japonesa, esta situação é já uma realidade. Contudo, os estudantes nipónicos não sentem a sua intimidade violada. A evolução tecnológica tem trazido a vigilância, cada vez mais, para a discussão pública. “A sociedade em que vivemos é, sem dúvida, uma sociedade mais vigiada do que era antes de entrarmos na chamada Era da Informação”, defende o docente de Sistemas de Informação e Bases de Dados da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), André Restivo. No Reino Unido existem cerca de 4,2 milhões de câmaras de videovigilância, o que, segundo Restivo, implica que “em média, uma pessoa seja apanhada em trezentas dessas câmaras por dia”. Num bairro de Londres, algumas das câmaras têm até a funcionalidade de comunicar com os transeuntes, caso revelem comportamentos inadequados, como por exemplo deitar lixo para o chão. Perante este quadro é impossível não lembrar o universo construído por George Orwell no romance de ficção “Mil novecentos e oitenta e quatro”, dominado pelos ‘telecrãs’ – aparelhos que vigiavam permanentemente os habitantes, inclusive nas suas casas.
A sociedade concebida por Orwell era subjugada por uma entidade omnipresente, o “Grande Irmão”, a quem todos deviam obediência e fidelidade. Apesar do carácter fantasioso da novela de Orwell, há quem acredite que há uma aproximação a esse modelo social. O docente da Faculdade de Letras da UC (FLUC) Alexandre Sá, considera que o tipo de poder existente hoje “não se manifesta nem se ostenta” de uma forma tão visível como noutras épocas, mas que não deixa de estar presente. O controlo social faz-se através daquilo a que chama “presença difusa”, isto é, o poder aparece dissimulado. O “Grande Irmão” identifica-se com um regime super-poderoso, cujo poder pressupõe a vigilância constante dos seus cidadãos, de forma a facilitar a detecção de elementos rebeldes. No entanto, a tendência de controlo do homem pelo homem existe desde o início dos tempos, mesmo antes do conceito moderno de Estado. Esta ideia é defendida pela docente da Faculdade de Ciências da Universidade Nova de Lisboa Olga Pombo. “Numa sociedade tribal, sem Estado, há uma vigilância terrível sobre os membros dessa comunidade, mas é exercida por umas pessoas em relação às outras porque há regras muito fixas e rígidas”, exemplifica. A diferença é que “numa sociedade como a nossa, com Estado e desenvolvida, há instituições próprias para fazer esse controlo”. A convivência social e a necessidade de re-
FOTOMONTAGEM POR JOÃO MIRANDA
COIMBRA aprovou, em 2008, um projecto para a instalação de 17 câmaras de videovigilância na Baixa
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DESTAQUE ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES
gras são os factores que, para Olga Pombo, justificam a coercividade e o controlo, características presentes ao longo da História.
Insegurança motiva excessos Após o atentado às Torres Gémeas, em 2001, a Administração Bush aprovou uma lei (Patriot Act) que facilitava o acesso a informações pessoais de suspeitos de actividades relacionadas com terrorismo, através de escutas e consultas aos ficheiros médicos e financeiros e até aos emails. O diploma suscitou controvérsia, com os activistas da defesa da protecção de dados a reclamarem contra aquilo que acreditavam ser um ataque à reserva da intimidade. “A existência de terrorismo pode levar a formas de discriminação social, de diferenças étnicas profundas”, realça Olga Pombo. A docente defende que os problemas económicos e sociais estão na base desta desconfiança e que os excessos de controlo são consequência: “em vez de resolver os problemas, desencadeia-se um procedimento de vigilância que tem efeitos sobre as vidas das outras pessoas”. A aceitação deste tipo de controlo é fruto da ideia de que não há alternativas e Olga Pombo mostrase descrente quanto à mudança de rumo das políticas governamentais. A globalização tende a crescer, mas, “se não for acompanhada de justiça social, provavelmente vai aumentar os conflitos”, assim como a necessidade de vigilância e a diminuição das liberdades individuais. Há, no entanto, situações em que a intimidade da vida privada assume um valor secundário, sendo sacrificada em favor do interesse público. As guerras, invasões ou tumultos constituem “estados de excepção”, que Alexandre Sá caracteriza como momentos em que “as liberdades de que normalmente as pessoas beneficiam são limitadas, e o poder político e social é concentrado, em virtude da necessidade de resolver situações urgentes”. Para o docente da FLUC,
Guerras constituem situações em que a intimidade pode ser sacrificada aquilo que é determinante é a capacidade de distinguir quais as situações em que o “estado de excepção” é aplicável. “A excepção e a normalidade tendem hoje a tornar-se crescentemente indistintos”, sublinha. “Daí que as nossas democracias actuais se caracterizem institucionalmente por um processo de concentração de poderes nos executivos governamentais, que se tornam crescentemente legisladores”. O docente do Instituto de Estudos Filosóficos da FLUC Edmundo Balsemão, refere dois tipos de sociedade, de acordo com o modo como encaram a segurança. “Uma sociedade muito apostada em gerar elevados padrões de segurança e tranquilidade, forçosamente tem de vigiar as interacções tidas por 'perigosas'; so-
ciedades muito tolerantes para com a insegurança e uma relativa dose de desorganização terão menos tendência para vigiar interacções desta forma”, explica.
Perigos da Web A Internet, com todas as vantagens inegáveis que apresenta, pode, contudo, constituir uma ameaça à privacidade dos seus utilizadores. “Há cada vez mais ferramentas e mais mecanismos de vigilância sem autorização, o que é um problema em termos de privacidade”, alerta o docente da Faculdade de Ciências e Tecnologias da UC (FCTUC) Edmundo Monteiro. Segundo o divulgador científico norueguês Eirik Newth, as formas de acesso a computadores alheios são variadas: “desde os simples filtros de pornografia e 'spam' usados por ISP's [servidores] até aos mecanismos avançados de escuta e de inspecção de ficheiros usados por agências de recolha de informação”. A obtenção de lucro é a principal
“Há cada vez mais mecanismos de vigilância sem autorização” motivação para se entrar num sistema informático. Na opinião de Edmundo Monteiro, estes “atacantes” pretendem “dinheiro, vender coisas por meios ilícitos ou obter informação dos gostos das pessoas”. “Mas há também aqueles que fazem isso por prazer”, acrescenta. Já André Restivo defende que “estes ataques são feitos normalmente de forma aleatória” e que quem os efectua não tem um objectivo específico. Em Portugal há legislação que condena a utilização abusiva dos dados pessoais dos utilizadores da rede a qual, para Edmundo Monteiro, “é eficaz”. “O que muitas vezes falha é a forma de impor essa legislação”, adverte. No entanto, há formas de prevenir a violação da privacidade na Internet. André Restivo dá o exemplo de que o acesso a “endereços web que comecem por /https/, torna a comunicação entre o computador e o servidor virtualmente impossível de decifrar por terceiras pessoas”. O docente da cadeira de Comunicações Móveis na mesma universidade, Manuel Ricardo, sugere igualmente que não se guardem as palavras-passe em computadores e que se entrem apenas em sites que inspirem confiança. “Tenho algum cuidado na descarga dos e-mails, em particular naqueles ficheiros que vêm em anexo”. Conselhos como estes podem fazer a diferença para evitar graves situações de intrusão na vida privada. O docente da FLUC Alexandre Sá, não tem dúvidas ao afirmar que “o controlo e a vigilância só podem ser empreendidos com acesso a uma informação cada vez maior”. “Os perigos que decorrem daí são a perda de liberdade e de dignidade”, alerta. A CABRA contactou elementos da Comissão Nacional de Protecção de Dados, de quem não recebeu qualquer resposta até ao fim desta edição.
A VIGILÂNCIA DO FUTURO A cadeira onde nos sentamos, diz Manuel Ricardo, “terá certamente um computador embebido, que até percebe qual é a pessoa que se senta e que se adapta de imediato às suas características”. É desta forma que o professor da cadeira de Comunicações Móveis descreve a possibilidade de, no futuro, o computador ter um carácter “omnipresente”, o que terá efeitos óbvios na vigilância. Em relação ao aumento da tecnologia nos objectos do quotidiano, Edmundo Monteiro adverte para os “problemas de privacidade acrescidos por se passar a ter cen-
tenas de coisas ligadas à Internet”. Eirik Newth, jornalista e autor de obras de divulgação científica sobre o futuro da tecnologia, prevê que a tendência é a de “conceber telemóveis como plataformas digitais”. “No futuro, todos os telemóveis terão GPS integrado, o que será muito útil, mas também facilitará alguém seguir os movimentos do utilizador”. Para além do GPS, Eirik Newth refere que se “fosse possível combinar a informação contida em cada e-mail, mensagem instantânea, ficheiro de imagem e vídeo num telemóvel, com as transacções do cartão de
crédito e a localização geográfica do aparelho, ter-se-ia uma muito poderosa ferramenta de vigilância”. O autor do livro “Fremtiden – hva skjer etter 2000?” (em português, algo como “Futuro – O que acontece depois de 2000?”) acredita que “projectos como o 'Carnivore' – sistema de monitorização de e-mails e comunicações electrónicas do FBI, entretanto revogado – sugerem um futuro em que aplicações de fiscalização de informação bastante poderosas vão inspeccionar as enormes bases de dados pessoais que existirão”. M.E.E. e J..R
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ENSINO SUPERIOR Alunos avaliam Universidade de Coimbra ANDRÉ FERREIRA
Inquérito online pode ser respondido até Setembro. Vice-reitora assegura que “quem não respondeu não ficará sem acesso a certidões e documentos oficiais” Inês Almas Rodrigues Cláudia Teixeira Nas últimas duas semanas, os estudantes da Universidade de Coimbra (UC) foram alertados para a obrigatoriedade de responder a um inquérito pedagógico até ontem, 15. O questionário compreende a avaliação de cada uma das disciplinas e docentes de todos os cursos da UC, relativamente ao segundo semestre deste ano. O coordenador-geral do Pelouro da Pedagogia da DirecçãoGeral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Sérgio Oliveira, explica que “o inquérito começou a funcionar este ano na universidade” e que “tem como principais objectivos a melhoria da qualidade do ensino e a promoção do sucesso escolar em toda a instituição”. Os alunos que não tiverem cumprido o prazo têm ainda oportunidade de preencher o documento e, caso não respondam até Setembro, nessa altura “poderão matricular-se mediante a resposta ao inquérito”, explica Sérgio Oliveira. Os estudantes parecem ter conhecimento acerca do documento. É o caso da estudante do primeiro ano de Ciências Farmacêuticas Ana Barata, que, apesar de já o ter preenchido, questiona: “é para avaliar os professores, não é?”. Já Daniel Henriques Namora, que frequenta o segundo ano do
ESTUDANTES podem optar por não preencher o inquérito ao alegar objecção de consciência
mesmo curso, afirma não o ter feito até ao momento. No entanto, há também quem desconheça a sua existência. “Não sei do que se trata”, confessa a finalista de Economia Vanessa Mota. “Mas vou acabar o curso, portanto…”. A vice-reitora para a pedagogia da UC, Cristina Robalo Cordeiro, lembra que “o inquérito é obrigatório, no âmbito do Sistema de Gestão da Qualidade Pedagógica (SGQP), que foi aprovado em Senado Universitário e muito discutido por professores, funcionários e estudantes”. O facto de os alunos serem obrigados a preencher o inquérito para se poderem matricu-
lar no próximo ano lectivo levantou muita discussão na comunidade estudantil. Tal como explica a vice-reitora, “o inquérito inserese numa política de avaliação e de auto-avaliação que todas as universidades têm de ter. E, nesse âmbito, é obrigatório”. A intenção é que “os alunos adiram maioritariamente ao SGQP, porque este sistema está previsto para ajudar os estudantes e a universidade a encontrar falhas e deficiências do sistema”. Daí os responsáveis afirmarem que é uma auto-avaliação: “não é para penalizar os estudantes, é, pelo contrário, para que os estu-
dantes se sintam mais confortados com o desempenho pedagógico da instituição”, explica a vice-reitora.
Objecção de consciência No que diz respeito às vantagens que o questionário pedagógico pode trazer, a estudante do segundo ano de Química Industrial Ângela Ferreira é peremptória: “não vejo alguma vantagem na elaboração do inquérito”. Há, ao mesmo tempo, quem lhe atribua benefícios. Na opinião de Vanessa Mota o questionário “pode trazer vantagens no que diz respeito à qualidade no ensino”.
Cristina Robalo Cordeiro entende que “isto deve ser visto como uma reivindicação dos estudantes”, mas que estes têm, ainda assim, a possibilidade de não preencher o inquérito: “podem fazer uma espécie de requerimento para o reitor; podem alegar objecção de consciência ou que estão fora e não o querem preencher”, avisa. Robalo Cordeiro afirma que após recolhidos todos os inquéritos, vai ser feito um balanço dado a conhecer a todos os estudantes e assegura que “quem não respondeu não ficará sem ter acesso a certidões e documentos oficiais”.
Universidade ainda não discutiu questão das prescrições PEDRO CRISÓSTOMO
Situações de estudantes em risco de prescrever vão ser analisadas caso a caso, pela reitoria. A solução pode passar por enviar um requerimento ao reitor Inês Almas Rodrigues Cláudia Teixeira Com o final do ano lectivo a aproximar-se, são muitos os estudantes que recebem cartas de aviso da Universidade de Coimbra acerca das prescrições. O cenário não é novo. Apesar de o regime das prescrições ter sido aprovado, na UC, em 2007, nunca algum estudante prescreveu. Nos anos lectivos de 2007/2008 e 2008/2009, os estudantes em riscos de prescrever puderam enviar um
requerimento ao reitor da UC, Seabra Santos, a pedir a regularização da situação académica. Para o presente ano lectivo, a vicereitora para a pedagogia da UC, Cristina Robalo Cordeiro, explica que “a reitoria não tem uma solução porque não há números exactos dos estudantes que estão em risco de prescrever”. Robalo Cordeiro não exclui a hipótese de os estudantes fazerem um requerimento ao reitor, à semelhança dos anos anteriores, e acredita que “um estudante que não consiga fazer todas as cadeiras necessárias a não prescrever, mas que mesmo assim tenha um bom aproveitamento, seja uma atenuante para o reitor”. Apesar de não ter conhecimento acerca do número de alunos que estão em risco de prescrever, o coordenador-geral do Pelouro da Pedagogia da Direcção-Geral da
Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Sérgio Oliveira, acredita que “há mais alunos a prescrever”. “Mais nos alunos dos cursos clássicos, como Medicina, Direito e cursos de Letras”, acrescenta. O dirigente associativo adianta que vai falar com a reitoria sobre a questão das prescrições ainda esta semana e espera uma resolução para o problema: “no ano passado foi aprovada uma solução em que os estudantes preenchiam um requerimento e podiam fazer cadeiras isoladas. Este ano, vamos ter que esperar por uma decisão da reitoria”. Perante esta situação, Cristina Robalo Cordeiro assegura que a reitoria “vai ver um por um os alunos que vão prescrever, por que razões e em que circunstâncias. Tem que haver uma avaliação um por um para conseguirmos repescar alguns estudantes”.
O presidente do Núcleo de Estudantes de Direito da AAC (NED/AAC), André Costa, prevê, igualmente, que o número de alunos em risco de prescrever seja maior, “devido aos novos casos de estudantes em riscos de prescrever somado aos do ano passado que não prescreveram graças ao requerimento”. Já o presidente do Núcleo de Estudantes de Medicina da AAC (NEM/AAC), Luís Machado, acredita que a situação em Medicina não é tão alarmante. Machado afirma que os estudantes a prescrever “sejam perto de cem, mas muitos deles são alunos que estão matriculados na faculdade há dez ou quinze anos e não representam a realidade dos estudantes que estão em risco de prescrever”. “No entanto, não se sabe ainda como serão as prescrições. O ano passado não houve, este ano não sabemos”, remata.
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CULTURA
Quebrar com cores a tradição LEANDRO ROLIM
cultura por
cá
16 JUN
ESPERA Teatro TAGV • 21H30 35 ¤
18 JUN
SEMENTES DE UM POVO QUE CANTA
Homenagem a Michael Giacometi TAGV • 21H30 ENTRADA LIVRE
19 JUN
MIKE BRAMBLE Música SALÃO BRAZIL • 23h 3¤
20 JUN
X MOSTRA DE ARTE E CULTURA POPULAR DA REGIÃO DE COIMBRA PRAÇA 8 DE MAIO A PARTIR DAS 10H
ORIGINALMENTE aplicado em mantas de retalhos, o material passou também a ser usado na criação de bijuteria
Existe há três anos e em cada edição tenta trazer algo de novo a uma zona esquecida da Alta. Todos os segundos sábados de cada mês, o Quebra Costas é invadido por artesanato urbano. Por Andreia Silva uma manhã de sábado e o sol ainda nem surgiu, mas as bancadas já se vão montando ao longo das escadas. O espaço em relevo, as ruas estreitas, os cantos e os becos, onde se escondem histórias e tradições, dão outro encanto a esta feira dos tempos modernos. O mercado do Quebra Costas, realizado todos os segundos sábados de cada mês, é assim. Mostra a cultura urbana do século XXI, e molda-se à arquitectura do espaço que o acolhe. E em cada canto fica artesanato, livros e música, onde usualmente se ouve fado e cantares de capa negra. Coimbra precisa disso “como de pão para a boca”, segundo palavras de David Gaspar, proprietário da loja Mau Feitio. Para o comerciante, o conceito “já existe e não é novo”. “Mas tentamos ser criativos”, garante. E aquela manhã é um produto de criatividade: os instrumentos musicais já estão montados para um concerto de jazz que se realizará ao fim da tarde. Junto ao aparelho do dj descansam pessoas em pequenos sofás coloridos, olhando as roupas expostas, igualmente coloridas, os colares feitos à mão e os livros velhos e usados. Elsa Ligeiro, da livraria “Alma Azul”, fala das oportunidades que as obras de Fernando Pessoa, em promoção, trazem. “Todas as pessoas deveriam ler 'Os Portugueses – A Opinião Publica'”, aconselha. Pro-
É
mete ainda palavras de Mário de SáCarneiro e de Franz Kafka. É a concretização de uma literatura democrática, de pequenos livros que são comprados aqui e acolá e que se lêem onde a vida ganha forma. Elsa elogia a filosofia do mercado, que diz ir de encontro àquilo que a própria livraria tenta expressar. “Há uma grande diversidade, onde expressões artísticas como o design, as artes plásticas e a música ganham forma. O público é mais heterogéneo”, salienta. Só lhe ocorre uma crítica, em jeito de melhoria daquilo que já considera “fantástico”. “Deviam trazer outras formas de arte, tal como o teatro de rua”, considera. Laura Rôla, artista plástica, parece que fez uma revolução. Chegou às velhas escadas e juntou-lhes tiras de plástico de várias cores. Revolucionou, misturou as cores da arte urbana a uma coisa estática por onde já passaram gerações. Foi embora, e deixou a sua marca muito própria. Por cima dessas cores estão outras. Colares que “só agora se tornaram moda” e que é mais um resultado da imaginação do que propriamente um produto artístico, como a própria artesã faz questão de afirmar. Maria Miguel, da banca “Migelinha”, conta que aquele tipo de tecido “há muito que é usado nas mantas de retalhos”, mas que depois lhe surgiram
ideias para fazer coisas diferentes, como bijuteria. Mistura muitas cores, “para não cair na banalização”. São elas que, para Maria, fazem toda a diferença na hora do produto surgir. No pequeno largo, o sol surge por fim, enquanto se expõem mais peças. Junto a fotografias a preto e branco que mostram rostos contemporâneos sem lugar está Joana Nave, da marca “Thai Jeans”. Mostra a globalização e as várias culturas num mundo que não pára, misturando o corte de calças da Tailândia ou do Senegal com padrões africanos. A música surge descompassada, os sentidos são completamente preenchidos. As pessoas sobem e descem, os turistas fotografam, cruzam-se com aquela forma de apresentar e de viver o artesanato e não estranham. Criado há três anos por iniciativas particulares e sem apoio da Câmara Municipal de Coimbra, o mercado do Quebra-Costas veio revitalizar uma zona esquecida da cidade.
Vasco Pinto, da Livraria XM, acompanhou “o retrocesso e a decadência da baixa”, provocado pela abertura dos centros comerciais, mas “o valor simbólico, patrimonial e histórico da zona” mantém-se. Ainda há quem se esqueça da existência da Alta de Coimbra, mas, como afirma Miguel Lima, do café “Quebra-Costas”, o balanço do mercado é positivo. “Estão a surgir mais comerciantes a querer expor e a zona apresenta cada vez mais qualidade”. Mas as dificuldades não são esquecidas. É um projecto que conta com materiais próprios e que não gera receitas, mas que continua em prol da dinamização do artesanato urbano. Este ano deu-se mais uma inovação. O protocolo estabelecido com a Rádio Universidade de Coimbra (RUC) permitiu que durante todo o mercado as pessoas pudessem ter contacto com a música enquanto vêem os materiais expostos. Chegamos ao fim, a música ecoa nos nossos ouvidos e ajuda a criar toda uma dimensão estética. Vamos deixando o moderno das peças para chegar ao arco do Quebra Costas e ver o velho comerciante a vender os postais ao som de fado de Coimbra. É o embate com aquilo que Coimbra é e sempre será, mas que pode ser pintado por um artesanato alternativo que enche as ruas mensalmente. Com Filipa Magalhães
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TIGUANA BIBLES Música TAGV • 21H30 7¤ até
26 JUN
ESTILHAÇOS Teatro Bonifrates CASA MUNICIPAL DA CULTURA • 22H NORMAL: 7¤ • ESTUDANTE: 6¤
27 JUN
MUSICALIDADES QUEIMA DAS FITAS Música - Final Jardins da AAC 22H • ENTRADA LIVRE
até
28 JUN
ESPELHO MEU Exposição ALMEDINA ESTÁDIO ENTRADA LIVRE
3 JUL
DULCE PONTES Música PÁTEO DAS ESCOLAS DA UC 22H30 • ESTUDANTE 7,50¤
4 8 a JUL
BICOS/MIGUEL TORGA Exposição de Zuag EDIFÍCIO CHIADO ENTRADA LIVRE
Por Cristiana Pereira
6 | a cabra | 16 de Junho de 2009 | Terça-feira
DESPORTO P•R•O•LONGA•M•E•N•T•O FUTEBOL Este fimde-semana, a Académica SF conquistou a Taça de Campeão de 1.ª Divisão Distrital, que punha frente-a-frente o vencedor da Série A e o vencedor da Série B daquele escalão. A equipa de Bruno Fonseca venceu, nas grandes penalidades, a equipa do Cova-Gala por 5-4, após uma igualdade a três, no final do tempo regulamentar.
ATLETISMO Nas fases finais do Campeonato Nacional de II Divisão, a Académica terminou em sexto lugar com 87 pontos. Nos resultados de sábado destaca-se a vitória de Luís Silva em 5000 metros marcha e os terceiros lugares de Lenine Cunha (salto em comprimento) e Rui Esteves (100 metros). No domingo, Lenine Cunha conseguiu o primeiro posto na prova de triplo salto e Rui Esteves ficou em terceiro em 200 metros. A AAC esteve presente com 20 atletas.
MOTORIZADOS Na quinta prova do Campeonato de Portugal de Crosscar, o piloto da Académica Luís Caseiro ficou em quinto na corrida final. Em Castelo Branco, Caseiro foi quinto classificado na primeira corrida; na segunda desistiu, após despiste; e na terceira ficou em sexto lugar. Na corrida final, o atleta partiu do oitavo lugar e conseguiu subir três posições. Com estes resultados, Luís Caseiro deixou de liderar o campeonato, caindo para segundo.
RUGBY A equipa masculina universitária de rugby seven’s da Acad é m i c a conseguiu a prata nos Campeonatos Europeus Universitários, realizados em Bristol, na Inglaterra. A AAC perdeu na final com os russos do Kuban State por 527. Na caminhada, a equipa de Sérgio Franco conseguiu ainda bater os campeões europeus de 2007 e de 2008. A equipa feminina alcançou um quarto lugar, entre as cinco participantes. Catarina Domingos
REMO
Aí está a liga de Verão SÓNIA FERNANDES
AAC recomeçou a defesa do título de clubes e quer mostrar que a conquista do ranking nacional em 2008 não foi um “acaso” Miguel Custódio A Académica participou na primeira jornada do Campeonato Nacional de Verão, prova pontuável para o Ranking Nacional de Clubes de 2009, e venceu três regatas. A equipa de Coimbra conseguiu o lugar mais alto do pódio nas provas de Shell de 8 com timoneiro juniores masculinos, de Skiff juniores masculinos e de Shell de 2 sem timoneiro juniores femininos. No domingo, a AAC conseguiu um terceiro lugar em Skiff feminino sénior absoluto e arrecadou um segundo lugar na regata Shell de 8 seniores masculinos. Foi a primeira vez que a turma academista conseguiu o pódio neste tipo de barco. A competição foi ganha pelo Sport Clube do Porto, mas a Académica mantém o primeiro posto. Depois de ter terminado o Campeonato Nacional de Inverno em primeiro lugar, a AAC continua a perseguir o objectivo de “conquistar o ranking pela segunda vez consecutiva”, como afirma o treinador, Júlio Amândio. Além do objectivo do bicampeonato, segundo o técnico, o clube ainda espera “fazer melhor do que fez no ano passado, com mais pontos e mais títulos” e “tentar a vitória em provas que não conseguiu vencer em 2008”. Na temporada passada, a Académica venceu o Nacional de Clubes
A ACADÉMICA venceu três regatas na primeira prova pontuável do Campeonato Nacional de Verão
pela primeira vez na história e, como refere o presidente da Secção de Desportos Náuticos da AAC, Rúben Leite, o clube quer mostrar que “não foi um mero acaso nem uma coincidência ter ganho”. No entender de Júlio Amândio, este ano o escalão sénior tem em Shell de 8, a prova rainha dos campeonatos nacionais, uma equipa “mais forte e com melhor material”. A Académica é o clube com maior número de atletas inscritos na Federação Portuguesa de Remo, pelo que um dos projectos continua a ser “o desenvolvimento dos escalões jovens”, nas palavras do técnico.
Um Campeonato de Inverno “confortável” Na primeira metade da época, a AAC terminou a liga de Inverno no topo da tabela classificativa, com 767 pontos contra os 515 do segundo classificado - o Sport Clube do Porto. Para o treinador academista, o Porto “tem um escalão júnior forte e um escalão sénior com grandes referências do remo”. “Como esperávamos, foi o adversário principal mas temos dado conta do recado e lideramos com uma vantagem confortável”, acrescenta. Esta temporada, o campeonato de
Inverno começou com algumas semanas de atraso, devido à greve dos árbitros e problemas entre alguns clubes e federação. Júlio Amândio considera que a primeira parte da época foi “produtiva”, com a AAC a “partir logo na frente, a conquistar importantes vantagens e a vencer provas que nunca tinha ganho”. Com mais nove provas pontuáveis, Rúben Leite antevê um campeonato de Verão “muito equilibrado”. A próxima prova é a Taça de Portugal, marcada para dia 27 de Junho, nas águas do Rio Douro. Com Catarina Domingos
Portugal mais longe da “final four” Na jornada dupla da Liga Europeia de Voleibol que Coimbra recebeu, a selecção nacional venceu primeiro e quebrou depois Catarina Domingos No Pavilhão Multidesportos de Coimbra, com 500 espectadores a apoiar a Selecção Nacional de Voleibol, o público pedia “Violas dános da tua música”, mas a equipa das quinas teve dificuldade em “dar música” à equipa da Eslováquia, ao perder por 1-3. Ao contrário do encontro de sábado, que Portugal venceu por 30 (25-19, 25-20, 25-20), no domingo a selecção não resistiu à
ANDRÉ FERRIERA
Eslováquia, detentora da prova. A formação de Juan Diaz apostou num seis inicial mais jovem e não conseguiu repetir a boa exibição da véspera. Depois de um primeiro set muito equilibrado, mas que a Eslováquia acabou por vencer por 24-26, Portugal entregouse no segundo set e chegou a estar a perder por 14 pontos de diferença. A selecção eslovaca acabou por vencer por 12-25, fruto de um bom jogo ofensivo e tirando proveito dos erros dos portugueses. Já no terceiro set, Portugal tentou reequilibrar as contas e venceu por 25-18. No quarto e último set, a Eslováquia voltou a ser superior e nem o fôlego final da selecção das quinas, com cinco pontos consecutivos, foi suficiente para tentar levar as decisões para um quinto set. A Eslováquia acabou por vencer 25-22. No final do encontro, Juan Diaz
justificou a aposta em novos jogadores evocando os desafios que se avizinham. “Às vezes é preciso perder, para ganhar no futuro e estamos a conseguir desenvolver jogadores”, afirmou. Em Agosto, Portugal disputa a terceira ronda de qualificação para o Mundial 2010. O capitão Flávio Cruz salientou “a reacção que a Eslováquia apresentou após a derrota de sábado”. “Baixámos os braços e quando quisemos reagir já foi tarde”, acrescentou. Com apenas uma vitória, Portugal é terceiro classificado na Poule C da Liga Europeia de Voleibol, com cinco pontos. Para alcançar a “final four”, a selecção precisa de ser primeira no seu grupo, o que deixa os homens de Juan Diaz com menos margem para errar. Esta sexta-feira, 19, e sábado, Portugal joga frente à Áustria, em Steyr.
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CIDADE LEANDRO ROLIM
INAUGURAÇÃO do edifício deverá acontecer no último trimestre deste ano, garante o engenheiro responsável
Novo pediátrico envolto em polémica Comissão de utentes do hospital afirma que existem falhas arquitectónicas na nova unidade. Engenheiro responsável aponta que todos os problemas já foram resolvidos Andreia Silva O novo edifício que vai substituir o actual Hospital Pediátrico de Coimbra apresenta “falhas estruturais gravíssimas que são difíceis de corrigir”. A acusação parte do responsável pela comissão de utentes do hospital, Francisco Queirós, que fala da existência de erros que estão relacionados com a estrutura arquitectónica do novo edifício. “Existem corredores onde não passam camas, casas de banho onde não cabem cadeiras de rodas e as portas estão cheias de relevos em locais como as urgências e blocos operatórios, constituindo focos de infecção”, afirma. A pequena dimensão da nova sala de urgência é também apontada. Segundo Francisco Queirós, “admite-se que depois da abertura se procedam a remodelações, o
que por si só mostra o estado de calamidade da obra”. O engenheiro responsável pela obra, José Varandas da Silva, afasta, no entanto, estas críticas e assegura que parte dos problemas apontados já estão resolvidos. As acusações surgem depois de a Comissão de Utentes do Hospital Pediátrico de Coimbra ter entrado em contacto com a direcção clínica do novo espaço e com o Conselho de Administração dos Centro Hospitalar de Coimbra, além de ter tentado uma entrada no próprio edifício em construção, a qual foi negada pela Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro por “motivos de segurança”, segundo Francisco Queirós. O presidente do Conselho de Administração dos Centro Hospitalar de Coimbra, Rui Pato, confessa ter conhecimento do problema. “Realmente o projecto deveria ter sido mais bem elaborado e há erros que existem desde o início do projecto”, assume.
Responsáveis afastam críticas José Varandas da Silva assume que inicialmente o projecto apresentava deficiências, mas que foram sendo corrigidas ao longo do tempo. Para
além de um problema com o facto de existir uma linha de água debaixo do novo edifício, causado porque “o estudo geotécnico não deu conta das necessidades do terreno”, o engenheiro da ARS do Centro assegura que todas as estruturas arquitectónicas estão agora adequadas. “Houve uma porta do serviço de medicina física e de reabilitação em que realmente as macas não passa-
Problemas nos corredores e salas de cirurgia são os mais apontados vam, mas esse erro foi resolvido. Todas as portas e corredores têm agora as medidas correctas, onde passam perfeitamente cadeiras de rodas e macas”, defende. Segundo o engenheiro, “houve, dentro do possível, uma boa ligação entre a direcção clínica e a construção do edifício”, a qual passou pela elaboração de um programa funcional por parte de médicos e enfermeiros, onde se explicitaram as dimensões dos equipamentos. Nesse sentido, Varandas da Silva sublinha que se a
sala de cirurgia é pequena, “foi porque assim ficou decidido pelos profissionais de saúde. “O director das urgências, Luís Januário, nunca me disse que havia algo errado”, admite. Uma das causas apresentada por Francisco Queirós para as falhas apontadas é a saída de Correia de Campos enquanto Ministro da Saúde e a sua substituição por Ana Jorge. O responsável pela comissão de utentes do Hospital Pediátrico de Coimbra afirma que a mudança no ministério levou a que as ARS ficassem com a responsabilidade sobre as obras. Essa reestruturação “teve implicações neste processo, já que as ARS não têm meios, quadros qualificados e experiência para fazer este tipo de acompanhamento”. Varandas da Silva discorda e afirma que a ARS do Centro tem grande experiência neste tipo de projectos. As pessoas que dirigem esta obra já chefiaram a construção de muitas unidades, nomeadamente os HUC”, defende. Rui Pato assume a mesma opinião e garante que “por parte da ARS do Centro não tem existido qualquer problema, dado que possuem uma equipa de engenheiros a seguir o projecto. O Conselho de Administração dos HUC apenas ajuda na hora da aquisição dos equipa-
mentos”.
Problemas não são de agora Esta não é a primeira polémica que envolve o novo hospital pediátrico. Tendo a inauguração sido prevista para 2007, a obra passou por uma série de percalços. Em 2006, deu-se uma diminuição da verba em menos 13 milhões de euros face ao previsto, por parte do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração Central (PIDDAC). No ano passado, a ARS do Centro pediu uma auditoria ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil, face à existência de problemas com os materiais de construção. Perante a falta de condições do actual hospital pediátrico, “é positivo termos este pequeno avanço”, defende Francisco Queirós, questionandose, no entanto, se “não teria sido possível fazer melhor”. A três meses de ser inaugurado, Varandas da Silva assume que, além da conclusão da obra, faltam adquirir os últimos equipamentos, “num investimento na ordem dos 12 milhões de euros”. Dezembro é o mês apontado para a inauguração. “Penso que as crianças já poderão passar o Natal no novo hospital”, remata o engenheiro. PUBLICIDADE
8 | a cabra | 16 de Junho de 2009 | Terça-feira
PAÍS & MUNDO Partido Sahara Ocidental Os Verdes leva naturismo ao Parlamento sem resolução à vista Bruno Monterroso Com o Verão à porta, o Partido Ecologista Os Verdes (PEV) quer abrir as praias portuguesas ao naturismo. O projecto de lei já foi apresentado na Assembleia da República, há uma semana. O documento foi levado ao Parlamento, este ano, pelo deputado José Luís Ferreira, depois de o PEV ter apresentado dois projectos, um em 1988, outro em 1994. Este último, nas palavras do deputado, “deu origem à lei que ainda hoje rege a prática naturista no nosso país”. Entretanto, tal como na Europa, Portugal deixou de considerar crime a simples nudez em lugares públicos. Nesse sentido, o projecto pretende “a livre prática do naturismo noutros espaços públicos em que o hábito se haja implantado”. Segundo o deputado, “a legislação actual limita o número de praias naturistas a uma por concelho, quando é conhecido que, em alguns, a prática ocorre de forma tolerada”. “Queremos acabar com este limite”, reforça. Para José Luís Ferreira, o ideal seria cada autarquia definir o número de praias naturistas no seu território. Questionado sobre a aceitação do projecto de lei pelos restantes partidos, o deputado ecologista admite confiar na aprovação, ainda que com algumas nuances.
O território do Magreb é há décadas centro de disputa entre Marrocos e a Frente Polisário. As negociações mediadas pela ONU parecem apenas estar a arrastar o problema dos milhares de refugiados D.R.
MANIFESTANTES SARAUÍS protestam pacificamente contra a ocupação do território
Rui Miguel Pereira
A legislação actual limita o número de praias naturistas a uma por concelho As estimativas apontam para 90 milhões de naturistas no mundo. Em Portugal, segundo a Federação Portuguesa de Naturismo (FPN), serão “10 a 15 mil”. No site da FPN, o naturismo é descrito como “uma forma de viver em harmonia com a Natureza caracterizada pela prática da nudez colectiva, com o propósito de favorecer a auto-estima, o respeito pelos outros e pelo meio ambiente”. Em Portugal, existem actualmente 25 praias para a prática do naturismo, mas só seis delas são legais.
Um território no Norte de África é alvo de disputa há mais de 30 anos e a resolução não parece estar próxima. Ao contrário de outras zonas do globo, como o Médio Oriente, o Sahara Ocidental aparenta estar banido da agenda política e mediática internacional. Entretanto, continua por resolver o destino deste território do Magreb, assim como do povo sarauí, representado pela Frente Polisário. Este movimento proclamou em 1976 a República Árabe Sarauí Democrática, que pretende ver reconhecida. O Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), logo em 1975, decidiu a favor do povo sarauí que ainda hoje reclama a independência. Este facto é ignorado por Marrocos que não prescinde da soberania sobre o território. Como tal, e logo após o abandono dos espanhóis – potência colonizadora entre 1884 e 1975 – os marroquinos levaram a cabo a “marcha verde”, “uma migração, mais ou menos forçada, de muitas populações do sul do país, reclamando ser a população histórica do Sahara Ocidental”, explica
o jurista do Centro de Estudos Africanos do Instituto Superior Ciência do Trabalho e da Empresa, José Fernandes. Este movimento levou o povo sarauí ao exílio. Foram construídos campos de refugiados na Argélia que se mantêm até aos nossos dias. A solução provisória tornou-se permanente, como destaca o membro do Centro Português para a Paz e Cooperação (CPPC), Isabel Lemos: os sarauís “receberam tendas que duram seis meses a um ano”, que se mantêm actualmente. Afinal, “estamos a falar do campo de refugiados mais antigo do mundo”, refere ainda a activista. A divergência levou a um conflito que se encontra suspenso desde 1991. Foi negociado um cessar-fogo e a promessa de um referendo promovidos pela missão para o Sahara Ocidental (MINURSO) da Organização das Nações Unidas (ONU). A questão do referendo arrasta-se sem que ninguém consiga chegar a um consenso. Para José Fernandes, “aquilo que deve ser accionado são as organizações regionais, a União do Magreb Árabe e a União Africana” e não a ONU, visto não ter “características que permitam a in-
tervenção em jogos de influência de nível regional”. Marrocos reiterou várias vezes nos seus comunicados a “vontade de continuar a cooperar” para encontrar “de boa fé” uma solução política para esta disputa. Mas como alerta Isabel Lemos, “os marroquinos sabem perfeitamente que qualquer sarauí vai votar pela independência, portanto não querem fazer um referendo”.
Um território rico em recursos O Sahara Ocidental possui uma importante jazida de fosfato, sendo considerada uma das maiores e de melhor qualidade do mundo. Se a isso juntarmos a sua extensão costeira e recursos piscatórios, este território arenoso revela a sua importância económica. Para Isabel Lemos este é o real interesse marroquino: “os marroquinos não quereriam este território para nada se não fosse algo de importante”. Muito criticada pela activista do
CPPC é também a posição portuguesa. Portugal foi um dos países mais empenhados na resolução da situação timorense, sendo um importante interveniente no diálogo com a Indonésia para a realização do referendo em 1999. “Pensamos que a única forma de este povo ter o que merece, foi como aconteceu em Timor”, afirma Isabel Lemos, que desafia Portugal a tomar uma atitude mais coerente e desambígua: “Se preconizamos para uns povos a independência e o respeito pelos direitos humanos também o devemos fazer para outros”. Até ao fecho da edição, A CABRA tentou contactar responsáveis da Embaixada do Reino de Marrocos em Portugal, porém, sem sucesso. Com Bruno Monterroso
18 ANOS 200 EDIÇÕES
SUPLEMENTO
16 de Junho de 2009 Ano XVIII N.º 200 Quinzenal gratuito
a cabra
Director: João Miranda Editor-executivo: Pedro Crisóstomo
Transição para Bolonha causa dificuldades na
Proibição policial relança discussão sobre murais
palco da Cultura?
Senado perde poderes na UC e passa a órgão consultivo
“Coimbra da Europa” arranca hoje
Estudantes contra as propinas
Símbolo afasta DG/AAC e OAF Desporto Críticas no balanço de 2005/06 Académica campeã nacional de râguebi Campo de Santa Cruz reabre em Setembro Estádio Universitário à espera: o projecto de requalificação está pronto, mas faltam as verbas para avançar Desporto Universitário: quando o espírito de grupo não chega
põe fim a conflito entre
amanhã
110 anos de liberdade!
Universidade 2000 Universidade vai a votos Universidade abraça Semana da Lusofonia
Conflitos entre moradores e bares na noite de Coimbra
e reitor
fora da Coimbra Capital Nacional da Cultura
Acção social abaixo da média Dez mil em Lisboa contra a lei de financiamento Descontentamento com medidas de Lynce Então e o Darfur? Estudantes na rua com apoio simbólico
Incertezas nos empréstimos para estudantes
E se Portugal e Espanha fossem um só?
de Coimbra é chamada às urnas Lista R avança em primeiro para segunda volta de eleições Frente-a-frente decisivo Dux rejeita demissão e pondera mudanças na queima Noites divinas Novo espaço e poucas surpresas na Latada Queima em lume brando Fiscal investiga falhas na Queima das Fitas 2005 Estudantes votam Queima amanhã Candidatos presidenciais apontam educação como sector prioritário Estudantes vão elaborar caderno reivindicativo para a p r e s e n t a r no Parlamento
Academia
Contestação
Semana
Cópia do conhecimento
Jornal Universitário de Coimbra
na linha de partida Grupo ecológico: espécie em vias de extinção? Edifício da AAC: Revelação do projecto de reforma que se encontra em fase de estudo Secções culturais da AAC em risco de extinção
Votos para oito
2 | a cabra | 16 de Junho de 2009 | Terça-feira
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ANOS EDIÇÕES
REPORTAGEM
15 DIAS NA REDACÇÃO
A CABRA
AQUI TAMBÉM É NOTÍCIA
A
rotina é a mesma há anos. De quinze em quinze dias, à terçafeira, A CABRA chega às “bancas”. A distribuição do jornal cabe a alguns estudantes que, neste dia, com o apoio de um carro cedido pela Direcção-Geral da Associação Académica, palmilham a Alta e os pólos universitários. Mas antes de chegarem às faculdades, cantinas e cafés da Praça da República, A CABRA é folheada, em primeiro lugar, pelos conimbricenses em geral. Desde há cerca de um ano que o jornal é distribuído, bem cedo, por alguns autocarros dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC). Nesta edição, a tarefa cabe a uma editora e a uma redactora. Mesmo depois de um fecho demorado e cansativo, ainda com horas de sono por repor, encontramo-nos às seis da manhã na associação académica. De jornal na mão, a tinta fresca a deixar os dedos negros, tecem-se elogios à primeira página e folheia-se rapidamente as restantes, porque o condutor da associação académica já espera e é necessário carregar as quatro resmas para o porta-bagagem do carro. Do outro lado do rio, os autocarros vão abandonando, um a um, a central dos SMTUC. À saída, e perante o sinal dado pelas jovens, alguns motoristas fazem um breve compasso de espera, para que estas possam deixar A CABRA no interior do veículo. Deste modo, linhas como a do 7T (Tovim), do 38 (Pólo II) ou do 103 (Santo António dos Olivais) levam o jornal a vários pontos da cidade, logo pela manhã. Um pouco mais tarde, ainda antes do almoço, será a vez dos estudantes terem o quinzenal nas faculdades. Planear, primeiro que tudo Ao longo do ano lectivo, A CABRA não pára. No próprio dia em que sai o jornal, outro já está a ser preparado. Á noite, editores e direcção reúnem para discutir o que correu mal e bem no número anterior e definir página a página a edição seguinte: arti-
gos, fontes a contactar, ângulos de abordagem para cada tema, esquemas de páginas, fotografias ou ilustrações. As dúvidas são as de sempre e não há tempo a perder: o plenário é no dia seguinte, quarta-feira, e para cativar os (poucos) estudantes que, em época de frequências, dedicam alguma da sua disponibilidade ao associativismo, é preciso ter temas apelativos. Ainda assim, e apesar da debandada que, de ano para ano, se sente cada vez mais no piso dois da AAC, a sala parece estar cheia de gente. Há sempre alguém que leva um amigo novo e algo a ocupar um pouco mais de espaço. Às Vias Latinas que se amontoam na sala, umas pelo chão outras pelos armários cheias de pó, juntam-se resmas de jornais, computadores, folhas com contas do telefone por pagar, bocas, caricaturas,
No próprio dia em que sai um jornal, outro começa a ser preparado um cartaz gigante roubado ao Circo Cardinali. Após o plenário de fotografia, tem lugar o de redacção. “É uma poucavergonha que, em 18 anos, só tenham saído 200 edições, mas é verdade!”, brinca o director do jornal. Sentado nas costas de uma cadeira, e visto que ninguém tem nada a dizer acerca do jornal anterior, o estudante passa a apresentar a edição 199. Depois, cabe a cada editor explicar detalhadamente os artigos das “suas” páginas e conseguir redactores. “Os contactos são super fáceis de fazer e estão aqui mesmo na casa”, repete a editora de Ensino Superior, em tom suplicante. Os jovens presentes, porém, não parecem convencidos. Mas ainda há 15 dias pela frente… Tudo calmo, para já Para quem passa parte do tempo a trabalhar no jornal, os dias que se se-
guem ao plenário são os mais calmos. A secção fica mais vazia do que é comum, com os estudantes de fora a aproveitarem para passar o fim-desemana nas origens e repor o sono das últimas semanas. Regressados do descanso, é então necessário voltar ao trabalho. A partir daí, a vida que existe para além do jornal fica quase suspensa. Há telefonemas e entrevistas para fazer, fotografias para tirar e redactores a precisar de orientação. Já para não falar dos cronistas que têm que ser recordados do prazo a cumprir e da publicidade que é necessária angariar. De notar que, no meio de tanto trabalho, sobra sempre algum tempo para um pequeno intervalo, passado, normalmente, a lanchar nas cantinas ou a beber uns finos. À sexta-feira, a situação piora. Apesar dos constantes avisos “não deixem tudo para a última da hora”, “envia-me o artigo o mais cedo possível”, é na véspera do chamado fimde-semana de fecho que a maioria dos redactores se reúne na secção para fazer as últimas entrevistas e começar a escrever. As mesas enchemse de portáteis e de gente à volta dos ecrãs, ao passo que no corredor se faz fila para as máquinas do café e da comida. Do papel para a maquete Depois do jantar, o ambiente é mais calmo e sossegado, mas sobe o stress. Os editores, esses, continuam em frente ao computador a passar entrevistas ou a escrever e corrigir textos. “Ai meu Deus! Que vamos fazer com este artigo?”, exclama alguém, ao mesmo tempo que outro barafusta por causa do ‘vox pop’ que ainda não chegou e do qual depende um dos textos. Para ajudar a passar a noite, enche-se o mini-frigorífico com comida e bebida. O pequeno electrodoméstico foi a última aquisição da casa, uma luta ganha ao fim de anos de reivindicação. Num dos muitos momentos de descontracção, vêemse fotografias da última Queima das Fitas e recordam-se as histórias por
Entre um jornal e outro, um sem númer Pedimos a um “velho” do jornal para seg plenário de redacção ao último exemplar sonos e os cafés tomados durante os dias se seguem é suspeita em casa própria. Te
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ANOS EDIÇÕES
REPORTAGEM
UM JORNAL TAMBÉM SE FAZ DE ENGANOS
ro de tarefas parece interminável até à hora do ‘deadline’. guir uma edição d’A CABRA durante duas semanas. Do r distribuído, acompanham-se as dúvidas, as decisões, os s de trabalho. Aviso à navegação: a autora das linhas que Texto e fotografia por Liliana Figueira detrás de cada uma delas. No sábado, as caras são as mesmas da noite anterior: enquanto uns ainda fazem entrevistas para artigos de última hora e escrevem desesperados, outros corrigem o que está pronto e paginado. Para ajudar a controlar a situação existe o “Deitadinho” – uma espécie de folha mágica (sempre perdida no meio da confusão) – onde cada um vai indicando quais as páginas que estão prontas, paginadas, com foto escolhida, corrigidas no computador e com publicidade. Para uma noite de sábado, o estado é normal: meio jornal fechado, nada que não seja habitual. Mas esta edição era especial, sabia-se desde há 15 dias: tudo iria estar dependente de muita coisa que tinha de esperar pelo domingo para se terminarem os textos. Noite fora, surgem os primeiros si-
Muitas horas sem dormir num dia que por vezes dura bem mais que 24 horas nais de cansaço, combatidos com sucessivos ataques ao mini-frigorífico e idas ao You Tube. Por seu turno, o desaparecimento da mascote da secção, o macaco de capa e batina, não ditou o fim da macacada. Tal como nos outros anos, também agora existe alguém responsável por não deixar que os colegas adormeçam ou fiquem aborrecidos. O número dois da direcção – o “mais eléctrico que não bebe café” – assume a função sem dificuldades. Mesmo quando está a paginar, a corrigir ou a tratar das fotografias, pula, dança, canta e até imita os gestos das artes marciais. Enquanto isso, desenha a maior parte das páginas do jornal num programa que, para os colegas, parece do outro mundo: da intercepção de dezenas de linhas verticais e horizontais nasce uma simples coluna que pode demorar mais de uma hora a estar pronta.
O aperto do dia antes Domingo: os corpos arrastam-se pela secção e juntam-se em redor do computador da paginação, onde, a pouco e pouco, o jornal se vai compondo. “O nosso estado zen é só às cinco da manhã, quando ninguém percebe muito bem o que está aqui a fazer, com o Editorial e Ensino Superior para escrever”, atira um editor. O “Deitadinho” está quase completo e, segundo outro, irá “deitar cedo”. No entanto, pendente pelo regresso da editora que passou a noite toda no Encontro Nacional de Dirigentes Associativos (ENDA), Ensino Superior ainda está por fechar na manhã de segunda-feira. Os mesmos estudantes permanecem em frente à “paginação”: enquanto uns paginam, outros realizam as derradeiras correcções dos textos já em maquete. Isto se a impressora não encravar, como é habitual nas madrugadas de segunda. “É sempre ao domingo!”, protestam. À vez, descansa-se um pouco nos sofás da secção. São muitas horas sem dormir, para alguns já passam 17 horas dentro da mesma sala, e o cansaço toma conta de todos. Num canto, termina-se ensino, “o artigo mais custoso de sempre”, e há ainda um contacto difícil por conseguir. Mas, para que o trabalho ainda renda, faz-se uma pequena pausa para o pequeno-almoço nas cantinas. Chega a hora de ultimar a primeira página, a última das últimas a ser feita – ou pelo menos a ser concluída. Há que ir pensando bem no que pode dar manchete uns dias antes, mas só depois de tudo lido e revisto chega a decisão final. Desta vez, não havia dúvidas quanto ao destaque da primeira, o problema eram as “chamadas”. E, aí, chega a altura de cada editor argumentar que a sua página é que é… O desespero atinge o limite, mas falta o que, àquela hora, parece interminável. É preciso fazer os PDF’s, que a gráfica já aguarda. Passam 40 minutos. São 16h51. E um suspiro de alívio: a 199 vai sair na terça de manhã. “Vamos almoçar?”.
“Senhor ministro, posso gravar? Ups, desliguei!” Trocas de nomes, contactos feitos a horas menos próprias e até insultos são marcos na história d’A CABRA e nas estórias que guarda João Ribeiro Algo aparentemente tão simples como o nome do jornal é ele próprio motivo de espanto e, por vezes, até de alguma incredulidade para a generalidade das pessoas contactadas - “Cabra?!”, “A cobra?!”, a opção passa a maior parte das vezes por referir apenas a primeira parte do nome: Jornal Universitário de Coimbra. Os membros da secção de Jornalismo são também peritos em trocar e atribuir cargos a personalidades. Tratar engenheiros por doutores e professores por “eh pá” são enganos frequentes por parte de quem fala diariamente com o mais variado tipo de pessoas. Quem já participou numa edição conhece a grande dificuldade em obter contactos: ou a pessoa está em reunião ou está fora do país ou, pura e simplesmente, não atende. É por isso que um editor se surpreende quando, num sábado de fecho de edição, por volta da meia-noite, lhe dizem que Marcelo Rebelo de Sousa está ao telefone à sua procura. Julgando tratar-se de gozo, estava já prestes a desmascarar a suposta farsa ao ‘bom modo português’, quando, num momento de lucidez, reconhece a voz do famoso comentador. O insólito tem uma explicação: Marcelo Rebelo de Sousa ligava para o jornal à procura de um redactor ausente (com o mesmo nome do referido editor) que o tentara contactar durante toda a semana. Também após muitas tentativas de falar com o ministro do ensino superior (uma fonte tradicionalmente difícil), contra todas as expectativas, o político atende a uma sexta-feira à noite. No entanto, o editor que lhe telefonava preparava-
se para carregar no botão que colocaria a chamada em alta voz para gravar a conversa e…, sem querer, desliga. Como é óbvio, foi impossível voltar a falar com o ministro para essa edição. Outro episódio foi o de uma editora que recebeu no telemóvel pessoal a chamada de uma pessoa com grande responsabilidade no governo da Universidade de Coimbra e inclusive na vida económica do país. Ao atender, confundea com um antigo director o jornal que habitualmente se fazia passar por outras pessoas e o cumprimento foi cortante: “Oh pá! Deixa-te de merdas!”. O que valeu foi que a fonte não se apercebeu do engano… Após as eleições para a direcçãogeral da associação académica, é habitual haver uma entrevista com o presidente eleito. Num ano em que estas coincidiram com as eleições no Organismo Autónomo de Futebol, o recém-eleito presidente da DG/AAC é contactado para comentar as eleições do clube de futebol. No entanto, o dirigente associativo, julgando tratar-se do convite para uma entrevista pós-eleitoral, precipita-se e, sem deixar que lhe dissessem do que se tratava, dirige-se, trajado a rigor, para a sede do jornal. Esforço em demasia, quando apenas lhe era pedida uma resposta rápida. Relativamente a eleições, também as escolhas das direcções d’A CABRA dão que falar. Há alguns anos, a decisão para definir o director seguinte arrastava-se no tempo. Estavam dois nomes em cima da mesa, até que na derradeira reunião, as pessoas em causa saíram da sala para que a decisão fosse tomada. E qual foi o critério utilizado? Sorteio… Entre cada artigo que povoa as páginas d’A CABRA, esconde-se um mal-entendido, um telefonema para a fonte errada, ou um simples engano num botão. É óbvio que tudo isso poderia ser evitado, mas seria essa A CABRA que conhecemos?
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ANOS EDIÇÕES
PRIMEIRAS PÁGINAS A PRIMEIRA DAS DUZENTAS orriam os primeiros dias de 1991 e a academia via nascer o novo Jornal Universitário de Coimbra. Depois de A CABÚLA e A GAZETA ACADÉMICA, a Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra apresentava o seu recente produto. “Esqueça tudo, é dia de festa!”. Preparava-se, então, a “festa de baptismo” d’A CABRA e “para comemorar” oferecia-se “uma bebida na cerimónia”. A festa iniciavase com “Jazz às 23h” e seguia noite fora na antiga discoteca 7ª Dimensão. No interior da primeira edição d’A CABRA, pode ler-se uma entrevista ao ENTÃO presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Emídio Guerreiro. O dirigente reconhecia que “é bastante difícil a qualquer DG/AAC alterar determinadas situações” e considerava o seu mandato positivo. Na entrevista, Emídio Guerreiro falou também dos problemas com os serviços sociais da universidade, num ano em que “foram aumentados os preços nas cantinas”, apontou falhas aos serviços médico-sociais, discutiu a revisão da lei das associações de estudantes e dos estatutos da DG/AAC. A edição apresentava também a “guia do boémio acidental”, um roteiro com os principais locais bares e discotecas da cidade.
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pós uma Assem de repúdio ao definitiva, obj mento de Estad perior, o catedrático dem Rebelo considerou ter sid eles querem, ou pedem a Vítor Hugo Salgado, defin
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POLÍCIA NO ESTÁDIO
o dia 17 de Janeiro de 1995, a polícia foi chamada ao Estado Universitário. Devido à chuva, os tenistas da Secção de Ténis da Associação Académica de Coimbra (AAC) deslocaramse para o interior do anexo do Pavilhão 2 do Estádio Universitário, no entanto, foram abordados por um funcionário para abandonarem o espaço. O funcionário explicou que o ginásio estava cedido ao Centro Regional de Segurança Social, mas o presidente da secção, Eduardo Cabrita, não acatou a ordem, alegando que o regulamento do estádio concedia prioridade às secções da associação académica. Perante a recusa de Cabrita, o presidente da Comissão Directiva do Estádio Universitário, Francisco Soveral, chamou a polícia para pôr fim à situação, que mais não fez do que tomar conta da ocorrência. No dia seguinte, a fechadura das instalações da secção de ténis havia sido mudada. Para o presidente da secção desportiva “este foi o culminar de uma acção persecutória e discriminatória da direcção do estádio para com a secção de ténis”. O responsável pelo Pelouro do Desporto da DG/AAC, Paulo Tejo, afirmou que “algumas secções desportivas da AAC há muito se vêm queixando do desempenho da Comissão Directiva do Estádio Universitário, nomeadamente que esta as tem preterido em favor do curso de Ciências do Desporto”. Questionado, na altura, pela a A CABRA acerca da situação, Francisco Soveral disse não querer comentar acerca da situação “antes de agendar uma reunião com os representantes da reitoria e da AAC”.
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A CABRA ESTEVE LÁ
Demissão do reitor, massacres em Timor, polícia no Estádio Universitário e conflito no Darfur são algumas das manchetes e temas que compõem as primeiras páginas d’ A CABRA ao longo dos 18 anos de existência. Por Vasco Batista e Cláudia Teixeira
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PRIMEIRAS PÁGINAS TRINTA ANOS DE ABRIL
NO TEMPO DO VHS ictor Hugo Salgado é reeleito presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (AAC), derrotando, numa segunda volta, Daniel Martins do movimento Muda_AAC. O cabeça de lista do projecto X venceu com 54,6 por cento dos votos, enquanto a lista M se ficou pelos 32,9 por cento. O movimento Muda_AAC constituiu-se como a “grande surpresa destas eleições e Daniel Martins “proferiu no final [da primeira volta] graves acusações sobre uma alegada utilização de meios da Direcção-Geral da AAC, nomeadamente automóveis e telemóveis, como instrumentos de cacique, por parte da lista X”.
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ês de Abril, mês da liberdade. A edição nº 112 saía numa data marcante: “trinta anos depois da Revolução dos Cravos e trinta e cinco anos depois da Academia de Coimbra se ter sublevado contra o regime”. E depois de Abril? O que mudou? A CABRA recuou no tempo e, recorrendo a estudiosos da Sociologia, da História e da política, analisou as mudanças que se verificaram desde “o ano da (r)evolução” e perspectivou o futuro para o país. Mas recuou até mais longe e parou no ano da crise académica. 17 de Abril de 1969, mais precisamente. Através de um suplemento, A CABRA reviveu o dia em que os estudantes desafiaram o Estado Novo e quando a academia mergulhou no luto.
ENGENHARIA PROCESSUAL nquanto os estudantes se manifestavam em Lisboa, o Senado da UC fixava a propina mínima para o ano lectivo de 2003/2004. A estratégia havia sido definida em magna: primeiro, os estudantes senadores discutiam até à exaustão; não obtendo sucesso com a discussão, quebrariam o quórum; havendo quórum, partirse-ia para a invasão do Senado. Já na reunião, e com a invasão como única hipótese, retiraram-se durante cinco minutos para delinear a estratégia e o Senado, nesse intervalo, fixou o valor da propina. Os estudantes acusaram o reitor, Seabra Santos, de “engenharia processual” ao que o catedrático respondeu que “o Senado funcionou como um órgão democrático.
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A DEMISSÃO mbleia Magna que aprovou uma proposta de manifestação reitor da UC, Fernando Rebelo, pela falta de uma “posição ectiva e coerente” no que diz respeito à proposta do Orçado para 2003 e à metodologia de financiamento de ensino sumitiu-se. A CABRA lançou uma edição especial onde Fernando o alvo de chantagem por parte dos estudantes. “Ou eu faço o que minha demissão”, admitiu. O presidente da DG/AAC de então, niu a atitude do reitor como “inexplicável e incongruente”.
AI TIMOR
O
conflito em TimorLeste corria o mundo e “abria os noticiários, fazendo manchete nos jornais nacionais”. O massacre no cemitério de Santa Cruz – a 12 de Novembro de 1991 - foi gravado por jornalistas estrangeiros, presentes no funeral de um independentista assassinado. O vídeo alertou a comunidade internacional, que se mobilizou para pressionar por vários meios – ONU e ASEAN – na defesa do povo maubere. Uma semana depois, “a comunidade estudantil coimbrã manifestou a sua solidariedade como o povo [timorense]”. A acção serviu para “silenciar as vozes da consciência” “inconformada com a apatia” do povo português. Com o mesmo intuito, A CABRA dedicou uma edição especial à causa.
HOLOCAUSTO XXI
U
ma edição totalmente dedicada à crise humanitária no Darfur. Foi assim que A CABRA fechou o ano de 2007. E porquê o Darfur? “Porque o que se passa naquela região africana é demasiado chocante para que não nos tenhamos que preocupar”. Com artigos de especialistas em Relações Internacionais, eurodeputados, jornalistas, artistas e outras personalidades com ligações à tragédia, a edição sensibilizou para o conflito “mais violento dos últimos anos” que ainda hoje se arrasta, para que “no final de contas, ninguém [pudesse] dizer que não sabia o que se passava e que não tem a nada a ver com isso”.
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ANOS EDIÇÕES
HISTÓRIA
ANDRÉ FERREIRA
MUITOS FORAM os momentos em que a linha editorial do jornal causou atritos com várias entidades da AAC
A gazeta que acabou em jornal Em 18 anos, os momentos são de desafios e de mutações. Muita tinta correu. Desta vez, A CABRA foi descobrir-se a si própria Filipa Magalhães João Miranda Como Brutus não seria Brutus sem César, também A CABRA não o teria sido sem A Gazeta Académica e A Cábula. Nas agora amarelecidas páginas dos velhos jornais, a afirmação de uma linha editorial emancipada de qualquer poder já se fazia sentir. Manchetes e frases como “Direcção Geral tenta calar a Gazeta Académica” ou “temos como lema a independência” compunham já o ideário de um jornal impermeável. No final da década de 80, surge, entre os membros da Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra (SJ/AAC), a necessidade de uma ruptura com a falta de regularidade dos antigos jornais. Pela mão de um grupo de estudantes de Direito, aparece em Janeiro de 1991 a edição zero do Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA. Sem grandes equipamentos à disposição, o jornal era construído de uma forma quase artesanal, em que as maquetes eram feitas de recortes numa mesa de luz e os próprios textos noticiosos estavam, muitas vezes, imbuídos da opinião de quem os escrevia. Ainda assim, sobre o preço de cem escudos, A CABRA era vendida mensalmente nas filas das
cantinas e à porta das faculdades. Não é, contudo, o preço do jornal que impede de ser feita uma segunda edição do terceiro número do jornal, após – como consta na primeira página – “um dirigente associativo ter adquirido todos exemplares de A CABRA para assim impossibilitar que o jornal chegasse a todos os colegas”. Uma edição especial também não se faz esperar, e, em Novembro de 91, o número seis é inteiramente dedicado à questão de Timor-Leste, numa edição em que o luto pela questão fica marcado no grafismo do jornal, através de uma banda negra nos cantos de todas as oito páginas. Depois de quase um ano sem sair, em Janeiro de 95, o grafismo e o cabeçalho d’A CABRA sofrem as primeiras remodelações, para em 97 sair a primeira edição a cores.
A importância de ser quinzenal O director do jornal e presidente da SJ/AAC, João Queirós, estava de saída, em Maio desse ano, o que colocava o jornal numa situação de impasse quanto ao futuro. “Havia duas facções, uma composta pelo Tiago Maranhão e outra por mim e pelo César Marques”, lembra o antigo membro da direcção do jornal Eduardo Brito. “A facção do Tiago
queria relegar o jornal para um segundo plano e começar uma revista; no outro lado estávamos nós, que compreendíamos a necessidade da revista, mas achávamos que a manutenção do jornal era absolutamente vital e que era preciso reformar-lhe o próprio conceito”, conta. A aposta na reformulação do jornal acaba por sair vitoriosa e depressa se começam a encetar esforços para atingir a quinzenalidade, definindo-se a orientação de duas publicações: a nova revista (que apenas conheceu o número zero) e A CABRA com uma nova imagem. “Apostámos num número absolutamente inovador a nível de desenho, que foi a marca desse ano e que tinha como manchete ‘Conseguirá Marçal Grilo mudar a universidade?’”, lembra Eduardo Brito. Estava assim colocada a primeira pedra para uma nova etapa do jornal. A “quinzenalidade dissimulada” constrói-se ao longo dos três anos seguintes, muitas vezes com “números extremamente maus”, assume o antigo presidente da secção de Jornalismo, que ressalva: “o que interessava era fazer edições com o sentido de pôr material cá fora”. Até que se chega finalmente o ponto em que um atraso de dois dias na dis-
tribuição do jornal leva várias pessoas à sala da secção reclamando da demora.
A Cabra 2.0 A demissão do reitor Fernando Rebelo, em 2002, não coincidia com a agenda de distribuição d’A CABRA. A solução passa pelo lançamento, no dia seguinte, de uma edição especial com quatro páginas dedicadas inteiramente ao assunto. A
Só em 1997 o jornal assumiu a regularidade quinzenal proeza viria a ser repetida no mesmo ano após a reeleição de Vítor Hugo Salgado para a presidência da Direcção-Geral da AAC (DG/AAC). A medida não vinga, pois uma alternativa melhor viria a ser encontrada no ano seguinte.
“Quando lançámos o site ACABRA.NET, em 2003, mudou todo o funcionamento do jornal”, recorda o então director João Pedro Pereira. “Foi um trabalho imenso para conseguirmos pôr aquilo on-line. A aposta em jornais na Internet, no país, ainda era muito incipiente, então em Coimbra era praticamente inexistente”, acrescenta. No ano seguinte, a luta contra as propinas estava num dos picos e, no dia 20 de Outubro, quando os estudantes se preparavam para invadir o Senado Universitário, a polícia de choque carrega sobre os alunos. Como consequência, os estudantes decidem colocar limitações na Festa das Latas. Também a redacção do jornal decide colaborar no protesto e, nesse ano, não há o tradicional acompanhamento da Latada no site. É, aliás, esse um dos grandes dilemas dos colaboradores d’A CABRA: a indispensabilidade de se abster de alguns assuntos, enquanto jovens jornalistas, e a necessidade de participar neles enquanto estudantes. Foi essa mesma necessidade que levou os membros da direcção do jornal ao púlpito da Assembleia Magna, em 2008, algo bastante singular na história d’A CABRA. Em causa estava, segundo o director da altura, Helder Almeida, a recusa da DG/AAC em pagar um cheque devido à revista Via Latina em retaliação a uma entrevista ao presidente da direcção-geral e a um editorial publicados que não haviam sido do agrado da direcção da Academia. Percalços de uma história que se vai construindo entre as duas salas do segundo piso do edifício da AAC.
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ANOS EDIÇÕES
OPINIÃO Nos tempos da tesoura e da cola O primeiro director d’A CABRA recorda as dificuldades do arranque do projecto e como era montar o jornal manualmente, quando os computadores ainda não tinham chegado à redacção JOSÉ DE ALBUQUERQUE
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00 edições de A CABRA. Tantos jornais, tantas gerações passadas, de Coimbra fica sempre a saudade e de A CABRA fica sempre uma batalha ganha. A secção de Jornalismo da AAC, que antes era no primeiro piso em frente à secção de Xadrez, era muito mais a sala de convívio das senhoras da limpeza do que propriamente uma secção. Essa foi a primeira batalha, as senhoras da limpeza não gostaram de perder o seu espaço de alguns dedos de conversa, retiro do tricô e da coscuvilhice... A secção editava então a Gazeta Académica, jornal de grande qualidade ao nível dos textos, mas sem periodicidade e sem grande definição gráfica. A CABRA surge assim como um projecto de ruptura contra o estado letárgico da secção de jornalismo. A secção não dispunha de qualquer computador, não existia na universidade o curso de jornalismo e os redactores tinham apenas a pouca experiência recolhida das últimas edições da Gazeta Académica. Ninguém tinha a menor formação em jornalismo. Fomos todos autodidactas. A grande maioria de nós eram de Direito e havia o António que fora de Direito, mas mudara para História. O António era assim uma espécie de outsider da secção, mas consti-
Um jornal escola
JOÃO LUÍS CAMPOS
cresceu rapidamente para as dezenas de colaboradores regulares e ao fim de algum tempo até tínhamos pessoas para rever textos, éramos quase um jornal a sério. O primeiro jornal, A CABRA n.º 0, e os números que se seguiram foram montados com recurso a uma mesa de luz, tendo por base uma matriz e com recurso a tesoura e cola, assim se montava página a página o jornal, por vezes os recortes eram tantos que se perdiam os títulos ou os destaques saíam repetidos. O n.º 0 saiu sem título. Daqueles tempos sobra o orgulho de ter liderado grandes amigos que ainda hoje, vinte anos passados, encontro com regularidade. No n.º 0, o Rui Oliveira e o Nuno Giraldes, o primeiro juiz e o se-
gundo advogado e poeta, ambos do Porto, fizeram o suplemento “sua Ex.ª vem-se à noite”, com um desenho memorável do KAKA, hoje figura no cinema português. Ficaram ainda os fabulosos textos de Ramiro Correira, hoje cineasta nos States (é urgente reeditar aqueles textos, para deleite de novas gerações). Uma última nota para o esforço que o jornal fez em acompanhar a vida das secções e a vida nas faculdades, tendo em tempo e espaço para a rubrica UniverCidade, onde o diálogo entre a Universidade e Cidade era o ponto de partida. A recuperação do mosteiro de Santa Clara que há muito que fora debatido e defendido nas páginas do jornal. A CABRA desde o nº 0 que teve uma especial atenção pelo Mundo. Estivemos com os estudantes de Timissoara, na Roménia e no n.º 1 demos grande destaque a Timor Leste, quando este ainda não era tema que enchesse páginas na imprensa nacional. 200 edições depois fica um abraço e um agradecimento a todas as gerações que passaram pela Secção de Jornalismo da AAC e souberam crescer e defender um jornal que é de todos, não sendo propriedade de ninguém. A CABRA é uma cabra livre, onde cada geração deixa o seu cunho, sem hipotecar as gerações vindouras. Sei que ainda hoje perdura este espírito e é esse o meu grande orgulho. Obrigado. Director d’A CABRA em 1991
Não me cumpre dizer o que ganhou o jornal “A Cabra” com essa maior presença, mas sim sublinhar o que ganharam os estudantes dessa área e, consequentemente, o jornalismo na cidade e mesmo no país com a passagem pela histórica publicação da Academia. Hoje, os recém-
licenciados que chegam às redacções dos jornais (locais ou nacionais) e que têm no seu currículo a participação no jornal “A Cabra” possuem já um conjunto de competências que, é verdade, os destaca dos demais jovens licenciados. Numa altura em que tanto se fala da ligação entre o saber adquirido nos bancos das escolas e a ligação ao meio empresarial, eis como uma secção da Academia ganha um importante papel na formação dos estudantes da cidade, revelando-se um exemplo de como os estudantes podem, eles próprios, assumir a iniciativa e ajudar a fazer a diferença. Um exemplo que, assim, é dado para muitas outras áreas, em que se fica à espera que outros resolvam aquilo que os próprios, com vontade e dedicação, como é o caso d´”A Cabra”, conseguem fazer com qualidade. Director-Adjunto Executivo Diário de Coimbra
tuía uma mais-valia para o Jornal. Militante confesso na cruzada anti-Dux Veteranurum e todo o seu séquito, António Nunes tinha uma capacidade invulgar na arte de escrever, quer em qualidade, quer em quantidade e tinha na coragem uma sua característica marcante, foram tempos quentes... A CABRA teve ainda um cronista residente e que escrevia sobre pseudónimo TATANKA. Durante a primeira série, Tatanka escreveu em todas as edições e a direcção-geral da AAC estremecia a cada edição do jornal. A luta partidária dentro da AAC teve sempre grande lugar de destaque na Cabra, com entrevistas, artigos de opinião, sondagens e muita polémica. Eram os tempos do “Independente” na vida nacional e de A
A CABRA DESDE O N.º 0 QUE TEVE UMA ESPECIAL ATENÇÃO PELO MUNDO CABRA na vida académica. Já em anteriores textos, escrevi sobre a Teresa, hoje professora, o João Figueiredo Saraiva, advogado em Aveiro, que conjuntamente comigo, fizeram nascer o projecto A CABRA. Tínhamos desde sempre a ideia de que um projecto jornalístico tinha que ter duas premissas essenciais. A primeira era a sua regularidade, A CABRA queria ser um jornal mensal e foi-o de Janeiro a Maio de
1990 - saíram cinco edições, sempre em crescendo no n.º de páginas e no n.º de exemplares; a segunda era a auto-suficiência do jornal. A CABRA era auto-suficiente, a publicidade pagava a edição do jornal. Quando A CABRA saiu não tinha qualquer apoio da AAC e da Reitoria da Universidade. Ao fim do primeiro ciclo de edições, a direcção-geral da AAC, a Reitoria, o Governo Civil e a C.M. de Coimbra olhavam de forma diferente para um projecto que se afirmava na academia. Todos passaram a colaborar e foi assim que chegaram os primeiros computadores, as impressoras a laser (um verdadeiro luxo em 1990) e os subsídios. A CABRA dava assim um novo Elan à secção de Jornalismo. De três elementos, o jornal
A
s duzentas edições do jornal “A Cabra” são um marco assinalável e motivo de grande satisfação, não apenas para todos (muitos) os que passaram por aquela publicação, mas também para a Academia, a Universidade e a cidade de um modo geral. Apesar do papel importante que assume na divulgação de tudo o que se passa na Academia, é na dupla qualidade de antigo estudante da Universidade de Coimbra e actual jornalista com funções de chefia, que aproveito o momento para sublinhar o relevante papel desempenhado por “A Cabra” na formação dos jovens jornalistas que estudam em Coimbra, quer seja nos cursos ligados à área ou outros. Quando, em 1993, surgiram os primeiros cursos superiores (Jornalismo, nas Letras, e Comunicação Social, na ESEC) sentiram-se, no meio jornalístico, as resistências do costume, numa cidade
como Coimbra e numa área tão própria como é a do Jornalismo. Resistências que de algum modo também se terão sentido um pouco no jornal “A Cabra”, pois só anos mais tarde começou a ser regular a integração dos estudantes de ambos os cursos na redacção daquele jornal.
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EDUCAÇÃO ACTIVIDADES EXTRACURRICULARES NO ENSINO SUPERIOR
Aprender fora da universidade Editar um jornal, dirigir um grupo desportivo ou fazer teatro enquanto se é universitário traz muitas vantagens, dizem os especialistas. Mas é preciso pesar os dois pratos da balança PEDRO CRISÓSTOMO
Decisão, Desenvolvimento e Desempenho. Não são oficiais, mas podiam muito bem ser estes os três D’s dos projectos extracurriculares. Juntemo-lhes as palavras “participação”, “responsabilidade”, “partilha” “tolerância” e “identidade colectiva” para perceber que são muitas as vantagens em participar nestas actividades organizadas “de modo mais ou menos espontâneo, em função dos interesses e gostos” dos estudantes, como as apelida Helena Damião, professora de Ciências da Educação na faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra (UC). Mas fiquemos, para já, pelo que os especialistas encontram de vantajoso nos projectos autónomos de estudantes – porque também nisto
Exageros que podem levar ao isolamento desses estudantes no próprio grupo, ao afastamento em relação aos colegas do curso e a excesso de confiança. “Claro que isso acontece”, tanto que “quem está dentro queixa-se de que as bases não participam porque são desinteressadas e comodistas; e quem está de fora também se queixa dos dirigentes e considera factores que contribuem para reproduzir um certo divórcio”, acentua Elísio Estanque. Bom é que as situações “sejam bem articuladas com a actividade lectiva normal”, defende o sociólogo, que é acompanhado nesta ideia por Helena Damião: “para se exercer uma qualquer profissão não basta saber fazer, mas também e primordialmente saber pensar”. É por isso que a teoria, “que tem andado tão desvalorizada, deve voltar a ser dignificada”. E isto não significa ignorar as actividades extracurriculares, por-
Sentido prático é défice do ensino formal, nota Elísio Estanque
Afastamento em relação aos colegas do curso é factor negativo
há o reverso da medalha. As actividades suscitadas pelo movimento estudantil – desenvolvidas por iniciativa própria das estruturas estudantis – são, no entender do sociólogo Elísio Estanque, elementos que trazem mais maturidade e que dão sentido prático e experiência concreta, “défice” que o investigador do Centro de Estudos Sociais da UC (CES) encontra no ensino formal nas universidades. “Uma oportunidade de construir ou clarificar projectos de vida académica, vocacional e profissional”, completa Rosário Pinheiro, docente de Ciências de Educação na UC. Estudos apontam mesmo que as actividades extracurriculares e comunitárias são facilitadoras da autonomia dos estudantes. Dois investigadores norte-americanos concluíram que os aumentos mais significativos de autonomia se registam no início do segundo ano do curso e que os resultados se mantêm praticamente estáveis até ao fim da formação. No contexto português, as respostas são semelhantes. Num estudo realizado entre 2001 e 2003 com 353 estudantes do primeiro ano da UC, Rosário Pinheiro verificou que “a participação em actividades extracurriculares contribui para explicar a adaptação à universidade”. Investigações dos anos 90 revelavam já que os estudantes do
que elas também “envolvem pensamento”, defende a docente.
Pedro Crisóstomo Camilo Soldado
Porta aberta para um emprego?
ABRIR HORIZONTES culturais é motivação que leva estudantes a participar em actividades para além das aulas
quarto ano do curso e que “participavam de alguma forma em actividades extracurriculares possuíam maiores níveis de autonomia do que os que não participavam em actividades para além das académicas”. Numa frase, a investigadora resume as vantagens: “desenvolver as capacidades de aprender a aprender, aprender a analisar, a sintetizar, a integrar conhecimentos e a criticar o que aprende”. Para Elísio Estanque parece não haver dúvidas quanto a isto. “Fazer coisas de forma autónoma em que os estudantes se sintam os mentores dos projectos são sempre experiências enriquecedoras e decisivas”, até porque, diz, “o co-
nhecimento não é para ficar fechado em gavetas”. E, hoje, que os “currículos [dos cursos] continuam muito especializados – os alunos de ciências não têm componentes de humanidades ou artísticas e o contrário também é verdade”, é urgente que alarguem os horizontes culturais e sociais, nota Helena Damião.
Cuidado com o grupo Mas se os estudos comprovam que o envolvimento extracurricular antes e depois da entrada na universidade tem vantagens acrescidas para a adaptação ao ensino superior, a relação não é linear. Vamos, então, às desvantagens.
Até que ponto assumir responsabilidades desde cedo é assim tão positivo? Para Estanque, “se os estudantes começarem a ser habituados a fazer as coisas por eles próprios, ganham mais depressa maturidade e mais segurança”. Mas atenção, diz Rosário Pinheiro. “É importante evitar alguns exageros de envolvimento e participação extracurriculares” de forma a que não haja conflitos “com os objectivos e as tarefas académicas”. Acontece, por vezes, retirarem “não só tempo, mas sobretudo capacidade de investimento (energia física e psicológica) para ir às aulas, para estudar ou para acompanhar o desenrolar de trabalhos académicos”.
Se “os jovens estão, hoje, protegidos – ficam dependentes da família até muito tarde e alguns encostam-se e vão entrando num certo facilitismo – e isso cria desleixo, desmotivação e problemas de vários tipos”, é preciso encontrar respostas, sustenta Elísio Estanque. Quando dos 500 mil desempregados, em Portugal, 50 mil têm diploma universitário – segundo dados do Instituto Nacional de Estatística – parecem surgir “sinais de preocupação de mais estudantes em querer fazer alguma coisa, porque parece que estamos a bater mais ou menos no fundo e alguns começam a perceber que, não fazendo nada, é pior”, avalia o investigador do CES. E também é verdade que “um empregador prefere aquele que teve uma intervenção pública para além do estudo”. Acresce ainda que os “três anos de licenciatura já não são uma garantia de emprego” e que, hoje, “já ninguém tem a certeza de que é que os estudos podem dar”. Mas é preciso ver que a participação não é a mesma de há 20 ou há 30 anos, sublinha, e “é possível que venha aí um outro ciclo com mais vontade de intervenção”.
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CIÊNCIA & TECNOLOGIA Fazer ciência por acaso D.R.
OS ACASOS na ciência são tão recorrentes que foi criado um conceito para descrever este acontecimento: a serendipidade
O que têm em comum o microondas, a tuberculose, o Viagra e a penicilina? Todos são descobertas científicas acidentais, em que a sorte foi quase tão importante como o engenho Diana Craveiro Sara São Miguel Nem tudo o que acontece na ciência é pensado. O dia-a-dia do homem está recheado de acasos científicos, como aconteceu com a descoberta do microondas, dos raios-x ou da penicilina. Percy Spencer, no decorrer do seu estudo das ondas electromagnéticas, reparou que uma barra de chocolate que tinha no bolso estava derretida. O cientista apercebeu-se então que aquele tipo de ondas geraria calor e que qualquer alimento exposto aqueceria. Este electrodoméstico, inventado na década de 40, é hoje um elemento indispensável na cozinha. A tuberculose é uma doença que afecta um terço da população mundial. A infecção, que se manifesta há milhares de anos, foi descoberta acidentalmente pelo alemão Robert Koch, em 1882. O médico investi-
gava a bactéria no catarro dos indivíduos contagiados. Após várias tentativas falhadas de identificar o bacilo ao microscópio, Koch descobriu a solução. Ao cozinhar, colocou sem intenção uma amostra infectada em contacto com uma fonte de calor. Quando, mais tarde, observou novamente a lâmina ao microscópio, o investigador conseguiu distinguir claramente os bacilos patogénicos. Esta descoberta permitiu a identificação de outras bactérias, através do contacto com o calor. Este feito valeu-lhe um nobel e a reputação de ser um dos pais da microbiologia. Também o famoso comprimido azul tem o seu lado acidental. O medicamento actualmente utilizado para combater a disfunção eréctil, tinha como função inicial tratar a angina de peito. O grupo de farmacêuticos americanos que coordenava a pesquisa concluiu que o Viagra não só agia sobre a angina, como também induzia fortemente erecções penianas. A descoberta apesar de ter
sido feita em 1992, só foi comercializada em 1998. Outro acaso da ciência foi a penicilina, descoberta pelo escocês Alexander Fleming, no ano de 1928, no decorrer de uma pesquisa sobre a bactéria responsável por infecções no aparelho digestivo. O cientista encontrou numa amostra da sua investigação uma camada de mofo verde que inibia o desenvolvimento da bactéria. Através de uma cultura do mofo, Fleming descobriu a penicilina. Este fármaco está disponível no mercado desde 1941 e foi o primeiro antibiótico a ser utilizado com sucesso. Estes casos fazem parte dos muitos imprevistos da ciência que levaram à criação do conceito de serendipidade. O neologismo designa as descobertas acidentais que preenchem o mundo científico. No entanto, como dizia Louis Pasteur, “o acaso só favorece os espíritos preparados e não prescinde da observação”.
EXPERIÊNCIAS COM ALTERAÇÕES GENÉTICAS No mês passado, foi criada a primeira linhagem de macacos geneticamente modificados para adquirirem uma cor verde fluorescente sob o efeito de raios ultravioleta. Seguindo o mesmo método de trabalho da investigação dos porcos fosforescentes, os investigadores conseguiram que os genes alterados fossem transmitidos à geração seguinte, algo inédito. A experiência foi levada a cabo por cientistas japoneses que querem agora implantar nos macacos doenças como Parkinson. Em 2006, um grupo de cientistas de Taiwan criou três porcos fosforescentes que ficam verdes no escuro. A experiência foi desenvolvida no âmbito da investigação de células estaminais. Os investigadores da Universidade
de Taiwan introduziram nos embriões dos animais uma proteína fluorescente extraída de medusas. A tecnologia pode ser utilizada para seguir o desenvolvimento de tecidos para gerar novos órgãos humanos. Uns investigadores japoneses conseguiram implantar um gene de espinafre num porco, em 2002. A técnica pode levar à diminuição de gorduras saturadas da carne. O coordenador da investigação, Akira Iritani, disse saber que os alimentos geneticamente alterados são mal aceites, mas espera que sejam conduzidos testes “para que as pessoas tenham vontade de comer o novo tipo de porco”. O único problema é que a taxa de sucesso da experiência é de apenas um por cento.
Portugal investiga propriedades da clonagem Equipa da ilha Terceira está há quatro meses a desenvolver projecto com primeiro bovino clonado no país Diana Craveiro Sara São Miguel A clonagem é um dos marcos da ciência no mundo. Nos últimos anos, a discussão em volta do tema tem-se tornado cada vez
mais constante, sobretudo depois do nascimento da ovelha Dolly, na Escócia, em 1996, e da novilha Garima, na Índia, já em Janeiro deste ano. Mas não precisamos de viajar até tão longe para falarmos deste método de investigação. Em Março, na ilha Terceira, nasceu a vaca Cloneta, o primeiro bovino clonado em Portugal. A experiência tem fins terapêuticos e o objectivo, agora, é produzir cópias saudáveis de tecidos ou órgãos para transplante. O responsável pela pesquisa, Joa-
quim Silva, explica que a clonagem pode ser útil em várias vertentes: “é utilizada para a produção de animais transgénicos, de proteínas de elevado interesse para a saúde humana, de órgãos em animais transformados geneticamente, permitindo a não rejeição para humanos, ou mesmo utilizada como modelo de estudo a aplicar nos indivíduos”. Mas o processo não se reduz à criação de indivíduos idênticos, passa também pelo estudo de problemas de gravidez humana e pela com-
preensão das funções de células estaminais. Os animais clonados podem, ainda, servir para o estudo e tratamento de várias doenças que afectam o homem. O investigador acrescenta que “mais complicada e incerta é a produção de animais geneticamente modificados e clonados, transportando doenças humanas que de outra forma não poderiam ser estudadas a fundo”. O professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), Eu-
clides Pires, afirma que no processo científico “há uma curiosidade de perceber como funcionam as coisas com o objectivo de melhorar a qualidade de vida”. No entanto, apesar de haver curiosidade e conhecimento, em Portugal, não há nenhum instituto capaz de fazer esse tipo de experiências com o custo que isso implicaria”. O docente da UC destaca os Estados Unidos da América como um dos principais países que cobrem quase todos os campos de investigação.
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CINEMA
ARTES FEITAS
“
Exterminador Implacável: Salvação ”
H
DE MC G. COM CHRISTIAN BALE SAM WORTHINGTO MOON BLOODGOOD 2009
Salvação CRÍTICA DE JOSÉ SANTIAGO
ollywood está a passar por uma crise, disso não há dúvida nenhuma. De que outra maneira se explica a falta de projectos originais e a contínua aposta em sequelas e remakes? E se alguns desses projectos falham redondamente, outros há que devolvem alguma esperança ao cinéfilo mais desiludido. O caso da saga “Extreminador Implacável” é único no sentido em que resultou, no início, em dois filmes de acção fantásticos, que conseguiam aliar de uma forma quase perfeita a acção com uma história verdadeiramente original, mas desses dois filmes resultou um terceiro verdadeiramente desastroso. Esperase agora mais uma trilogia dedicada às máquinas assassinas, a começar com “Extreminador Implacável: A Salvação”. McG foi o realizador escolhido para dar nova vida a uma fórmula que se encontrava gasta e conseguiu aquilo a que se propôs: fazer
um filme de acção, com efeitos especiais atraentes e redireccionar a atenção do espectador para John Connor e não para os Extreminadores. O espectador mais desatento pode pensar que está a ver um filme de Michael Bay, o infame realizador de “Transformers” e “Armaggedon”, e a quem McG vai buscar inspiração para muitas das sequências de acção, com movimentos de câmara que conferem um estatuto épico a cada explosão. O problema é que McG ainda não encontrou o seu próprio tom e prefere ir buscar ideias a outros filmes do que criar cenas verdadeiramente originais. Se em “Anjos de Charlie” a inspiração para as cenas de luta foi “Matrix”, aqui sentimos a constante presença do já acima referido “Transformers” e até, imagine-se, de “Cloverfield”. A história é apresentada com uma coerência louvável, tendo em conta o terceiro capítulo da série, e joga perfeitamente com todos os
elementos dos dois primeiros filmes, mas no que toca ao desenvolvimento das personagens deixa muito a desejar. John Connor, que devia ser o centro das atenções, é ultrapassado pela personagem de Marcus Wright, alguém que nos é apresentado na actualidade e que misteriosamente encontramos de novo no ano 2018. Todos os outros intervenientes na trama são demasiado unidimensionais para conseguirem uma aproximação do espectador. No que toca a representações, é sem dúvida Sam Worthington que brilha no papel de Marcus, uma surpresa tendo em conta que o actor principal é Christian Bale, que aqui parece estar a reinterpretar Batman com um tom de voz que, não fazendo aqui qualquer sentido, chega a roçar o ridículo. A saga parece, apesar de tudo, estar bem entregue e é de facto a salvação de um franchise. Esteticamente apelativo e deve agradar a todos os grandes fãs de acção.
Bottle Shock” natural que se compare “Guerra de Castas” a “Sideways”, mas à parte do tema vinícola as comparações ficam-se por aí. “Bottle Shock”, no seu título original, é uma comédia ligeira que explora a imagem que o resto do mundo tem da América, quebrando alguns preconceitos e colocando aquela nação numa posição em que poucas vezes se encontra: como o elo mais fraco de uma competição. Uma premissa só por si merecedora de alguma atenção. A personagem do enólogo Steven Spurrier funciona aqui como o elo de ligação entre os restantes intervenientes, e é
É
nessa ligação que reside o verdadeiro tema do filme. O actor Alan Rickman dá, mais uma vez, vida a uma personagem memorável e tem o mérito de conseguir interpretar a clássica personagem do snob britânico sem cair na caricatura, num exercício de subtileza pouco habitual para uma comédia. Destacam-se ainda as jovens promessas: Freddy Rodriguez, mais conhecido pela recente participação em “Planet Terror”, e Chris Pine que demonstra porque foi escolhido para interpretar o novo Capitão Kirk no novo “Star Trek”. No que toca ao realizador, Randall Miller passa desperce-
bido, o que não é necessariamente mau mas que se nota não ser a intenção. Os cenários de Napa Valley estão maravilhosamente filmados, mas no que toca à história em si o trabalho de câmara é bastante medíocre. O que se nota, no entanto, é uma excelente direcção de actores que compensa largamente a falta de talento estético.
DE
RANDALL MILLER COM
ALAN RICKMAN BILL PULLMAN CHRIS PINE 2008
Boa Colheita JOSÉ SANTIAGO
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ARTES FEITAS
OUVIR
LER
Fuckbook” História é simples: os Condo Fucks eram uma A melhor banda da Matador, que gravou três LPs pouco mementira do ano diáticos mas que geraram um culto underground na região apodada de tri-state (Nova Jérsia, Nova Iorque e Connecticut). Regressaram de surpresa em 2008 para um concerto em Nova Iorque e para um ensaio "secreto" (ainda que, para o efeito, registado) em Hoboken, NJ. O resultado dessa reunião relâmpago é uma colecção de covers de bandas como os Beach Boys, Troggs ou Small Faces, a que a banda chamou “Fuckbook”, e que a Matador prontamente capitalizou. Tudo mentira! Os Condo Fucks são na verdade os Yo La Tengo (que DE aqui encarnam as personagens CONDO FUCKS Georgia Condo, Kid Condo e... EDITORA James McNew), e a Matador arreMATADOR cada os Nobel para melhor marketing editorial e maior sentido de 2009 humor de uma editora discográfica em 2009. “Fuckbook” é simultaneamente uma piada e a única pista para a resolução do mistério: é uma referência a “Fakebook”, o disco quase só de versões que a banda lançou em 1990. A verdade é que já está tudo explicado. Os Yo La Tengo voltaram a explorar a sua veia mais que comprovada de intérpretes do trabalho de outros. Fizeram-no em quase todos os discos de estúdio, fazem-no ao vivo, e sobretudo nas sessões “Murdering the Classics”, um acontecimento anual de angariação de fundos por parte de uma rádio da cidade de Hoboken, em que tocam covers pedidas e pagas - pelos ouvintes, via telefone. Não há aqui nada de novo, mas isso não é minimamente importante. As canções escolhidas são centradas numa corrente musical que se poderia pensar redutora, o rock’n’roll dos anos 60. Alguns dos artistas são até figuras recorrentes na carreira da banda. Mas… São os Yo La Tengo e têm lugar cativo naquele grupo cada vez mais restrito de bandas que não põem a pata na poça nem que lhes paguem. A verdade é que eles só fazem o que bem lhes apetece e isso basta para que tudo o que eles criam resulte por si só. Neste caso então, isso torna-se paradigmático. Tudo neste disco, desde a campanha de desinformação intencional, até à forma como todas as canções soam exactamente iguais (dos onze temas apenas três não contemplam o standard do rock’n’roll que é o “one, two, three, four!” no início) é sintomático da forma descomplexada e genuína com que Georgia Hubley, Ira Kaplan e James McNew sempre abordaram a composição. Setembro é o mês avançado para a edição do novo disco dos Yo La Tengo. Até lá, não nos podemos dar por mal servidos com um aperitivo como “Fuckbook”.
A
O Clã do urso das cavernas ”
O confronto com a história
DE
JEAN M. AUE EDITORA ESFERA DOS LIVROS 2006
I
diferença. Vai ter de lutar para ser aceite, e, muitas vezes, ser incompreendida por revelar uma inteligência fora do normal. Jean M. Auel, o autor, transportanos nos tempos e faz-nos viver as caçadas aos mamutes, os ritos de iniciação à idade adulta. No enredo da história, há tempo para observar de perto a perícia dos fazedores de ferramentas em pedras ou armas para a caça e os encontros entre clãs. É-nos levantado o véu sobre e a entrega das mulheres à vida em família e subserviência ao homem, nunca questionada, a não ser por Ayla. Pela mão de Brum, o chefe do clã, acompanhamos o calor dos caçadores em campanha para apanhar animais de muito maior porte, toda a sua perícia e treinos, de actividades dignas apenas aos homens caçadores. Mas todos esses reflexos do quotidianos são nada mais nada menos do que os costumes de uma era que está a terminar, e a aventura de Ayla é o prenuncio do fim dessa era. De uma época do tempo da qual temos poucos registos escritos, cheganos através de J. Auel a descrição viva e pormenorizada do quotidiano dos nerdentais e da sua possível extinção. Um livro escrito com mestria que não oferece apenas uma viagem de escola, mas sim uma lição sobre os homens que povoaram a terra antes dos Cro-magnon.
CARLA SANTOS
VER
Maradona”
“By Emir Kusturica”
EMANUEL BOTELHO GUERRA DAS CABRAS A evitar Fraco Podia ser pior FILME
Vale a pena A Cabra aconselha
EXTRAS
A Cabra d’Ouro
DE
Artigos disponíveis na:
magine-se no princípio dos tempos do Homem, ainda em evolução, que não conhece o sedentarismo e que anda de caverna em caverna para agradar os totens, deuses que os protegem. Esse é o povo que Ayla, uma criança Cro-Magnon, encontra depois de perder os pais num desastre natural, depois de pensar, quase sem forças para sobreviver, que está completamente sozinha no mundo. Na luta pela sobrevivência, é a acolhida pelo “Clã”, um grupo de seres humanos num estádio menos desenvolvido do que a menina. É Iza, a curandeira do grupo, que vai tratar e ensinar Ayla, passo por passo, a integrar-se na sua estranha nova família, que muito poucas vezes a compreende. Os costumes e as crenças divinas do velho clã vão tornar difíceis a integração de Ayla, uma criança tão atípica que chora e ri, ao contrário de qualquer membro, e que pouco mostra as suas emoções dentro do grupo. Mas cedo aprende a gesticular em vez de falar e a forma como se rege a vida doméstica dentro da caverna partilhada por todos. Apesar de muitas vezes não compreender, a criança, que vai crescendo neste seio, aprende a respeitar as crenças do clã. Tarefa árdua que exige perícia e a sua inteligência um pouco mais desenvolvida. A jornada começa aí mesmo, na sua
EMIR KUSTURICA EDITORA ZON LUSOMUNDO 2009
aradona é mais do que um jogador, é mesmo mais do que um simples mortal. Maradona é um protegido de Deus, aliás, Maradona é o próprio Deus. Corre, dribla, finta, sempre com a bola nos pés. E se não são Gary Lineker, nem Shilton que lhe fazem frente, muito menos serão Margaret Tatcher ou Ronald Reagan. Porque Maradona também é isso: um político que vinga a Guerra das Maldivas pela ponta da chuteira e que empreende a sua luta de classes dentro dos 10 mil metros quadrados do relvado. E que percorre um estádio inteiro de dedos médios bem erguidos para as bancadas. Mas Maradona é ainda uma estrela, um ‘showman’, que calcorreia por si todas estações da América do Sul e que encanta os editores de qualquer tablóide, que, com um microfone na mão, pode propalar o que bem entender. Afinal de contas, é Maradona. El Pibe é no fundo um ícone. Emir Kusturica também. Só que o documentário não é sobre Kusturica e foi esse pequeno erro de casting que o realizador cometeu quando desenvolveu o filme. A começar pelo próprio início do filme, que abre com um concerto… de
M
Emir Kusturica e a No Smoking Orchestra. Durante os 120 minutos de filme, a situação não melhora e Kusturica tenta forçar todas as pontes e paralelismos entre si e Maradona, entre a situação da Argentina e a realidade da Jugoslávia, entre a arte de um futebolista e a técnica de um realizador, num exercício que a um certo ponto chega a roçar o incomodativo. Contudo, fica bem patente nas partes realmente documentais sobre a vida do jogador que é possível fazer uma obra capaz de figurar na selecção de Cannes. Com o filme acabam por perder duas pessoas: Diego Maradona, que não encontra no documentário uma obra à imagem da sua vida, e Emir Kusturica, que com este filme pouco vem acrescentar à sua filmografia razoavelmente gratificante. Nesta edição de DVD, pouco mais encontramos do que um trailer e a opção de selecção de cenas. Resta assim uma boa aquisição para adeptos do El Pibe, fãs de Manu Chao e cinéfilos da obra do Kusturica em geral.
JOÃO MIRANDA
12 | a cabra | 16 de Junho de 2009 | Terça-feira
SOLTAS
CRÓNICA DE VIAGENS
MADRID • ESPANHA LÍDIA PARALTA GOMES
LA GRAN MANZANA
MADRID é uma cidade de múltiplas faces
aminhar pela Gran Via é um banho de cosmopolitismo. De repente, naquela linha recta entre Plaza de Espanha e o omnipresente edifício Metropolis, o mundo contemporâneo assalta-nos sem dó nem piedade. Gigantescos posteres dos mais recentes filmes de Hollywood, o néon das publicidades às grandes multinacionais. De um lado e de outro desta espinha dorsal da cidade, manequins estáticos mostram as últimas tendências da moda nas intermináveis montras e os restaurantes servem as rápidas refeições da pós-modernidade. Carros, multidão, a pressa. Não há como
C
enganar, Madrid é uma grande cidade. Mas neste mundo globalizado, uma boa notícia: Madrid transpira identidade por todos os poros e ainda é uma cidade de múltiplas faces. Como toda e qualquer capital, é a cidade economicista, dos imponentes e cinzentos arranha-céus do Paseo de la Castellana, a cidade de tijolo do centro de decisões políticas de Moncloa. E, felizmente, mais do que isso, temos a Madrid que nos arrebata, nos apaixona. É a Madrid da Plaza Mayor, senhorial, geométrica. De La Latina e os seus infinitos bares típicos onde se provam as melhores tapas da cidade e um do-
mingo à tarde pode rapidamente transformar-se num sábado de folia nas suas castiças e calorosas praças – a aldeia aqui tão perto, portanto. É a Madrid de Lavapiés, multicultural, das cores, dos cheiros. E de Malasaña, a Madrid alternativa dos jovens e não só, da noite que não acaba, de Almodovar e la movida dos anos 80, onde a arte estancada por anos e anos de franquismo renasceu mais forte do que nunca. Talvez por isso Madrid seja, mais que tudo, uma cidade de cultura. Diz-se que é da capital espanhola a medalha de bronze do ranking de oferta cultural mundial e não há razões para não acreditar. Os três vér-
29 DE JUNHO DE 2000 • EDIÇÃO N.º 60 • QUINZENAL GRATUITO
QUEIMA EM LUME BRANDO”
m Junho de 2000, a Queima das Fitas estava em “lume brando” e reinava a confusão na estrutura organizativa. No ano em que o recinto da maior festa dos estudantes mudou de margem, foram vários os problemas regis-
E
tados. A CABRA entrevistou João Couceiro, o então presidente da Comissão Central da Queima das Fitas, que fez um balanço negativo do evento, a começar nas relações da própria comissão central com o secretariado e a comissão fiscalizadora. Os gastos efectivos da queima ainda não tinham sido comunicados e havia já “credores a bater à porta”. Nesse ano, houve inclusivamente o policiamento da Praça de Touros da Figueira da Foz. Os problemas logísticos também se fizeram sentir. João Couceiro revelou que no dia de início das Noites do Parque ainda não havia luz no recinto, que o cartaz era “pouco comercial” e que um espaço “cheio de lama” não era atractivo para os estudantes. Motivos que levaram a uma fraca adesão na edição da queima de 2000. A edição de 29 de Junho de
2000 destacava também “o drama das bolsas atrasadas”. Os estudantes cabo-verdianos tinham o pagamento dos apoios atrasado em 2 meses e havia já quem não tivesse possibilidades de “satisfazer as refeições diárias ou pagar a renda da casa”. O atraso era justificado com a débil situação financeira do país africano. A situação tinha também originado algumas contestações e os estudantes prometiam não ficar de braços cruzados até que as autoridades tomassem alguma atitude. “Achados arqueológicos na Universidade de Coimbra” era também outra das notícias que marcava a primeira página. Tinha sido iniciado um processo de investigação no Pátio das Escolas no sentido de descobrir uma possível muralha visigótica. O processo estava ainda numa fase muito inicial
tices do ‘triangulo das artes’, constituído pelo Museu do Prado, Reina Sofia e Thyssen-Bornemisza atraem milhares todos os anos, mas há mais, muito mais. Toda a cidade está pintalgada de Fundações, Galerias de Arte, grande parte delas de acesso gratuito. Os cinemas e teatros estão sempre cheios de um povo que homenageia a sua arte e os seus artistas da melhor maneira possível: consumindo-a compulsivamente. Não é por acaso que Gran Via é por muitos chamada de ‘Broadway de Espanha’. O tempo é um problema nesta Madrid. Melhor, a falta dele. Mas entre a grande cidade e a cultura ao
virar de cada esquina, ele tem de chegar para um imprescindível passeio pelo Parque del Buen Retiro, enorme massa verde no meio da cidade, a tranquilidade que irrompe a azáfama, o parque que todas as cidades deveriam ter. É aqui que Madrid descansa, tira os sapatos e aproveita os relvados que não acabam, que dá um passeio de barco no lago e aproveita o sol quase sempre presente enquanto a música das guitarras e dos djambés ecoa no fundo. E lá fora a Gran Manzana continua sem parar, sem dormir, à espera de ser descoberta, cheia de vida e possibilidades. Lídia Paralta Gomes
18ºANIVERSÁRIO A CABRA sai do arquivo...
e com informações muito vagas. Na impossibilidade de “afirmar alguma coisa com certezas e precisão”, Helena Catarino, a arqueóloga responsável pelas escavações, remetia para finais do mês de Julho mais conclusões acerca da importância do possível achado. “Ad Eternum Memorium”, de Rui Messias, era anunciada nesta edição como a vencedora do 2º Concurso de Banda Desenhada de Coimbra. Um apelo aos talentos da nona arte, promovido pelo jornal A CABRA e pela
livraria Dr. Kartoon. Cristiana Pereira
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cabra | 13
O MUNDO AO CONTRÁRIO
SOLTAS
HOLANDA O governo holandês está com um problema de falta de presidiários. O país deve fechar pelo menos oito estabelecimentos prisionais e despedir 1200 funcionários até ao final do ano. A situação acontece porque a taxa de criminalidade tem vindo a diminuir. A solução para o encerramento das prisões passa por acolher cerca de 500 presos do país vizinho, já que a Bélgica está a enfrentar uma sobrelotação no sistema prisional.
EUA Paul Baldwin foi preso 153 vezes em 25 anos, uma média de seis vezes por ano. A última detenção aconteceu apenas uma semana depois de ter saído da cadeia. O norte-americano tinha acabado de cumprir um ano de prisão por roubar uma lata de cerveja. Agora é acusado de agressão e considerado um perigo para a comunidade como mostra o extenso cadastro.
TEM DIAS... Por Licenciado Arsénio Coelho
RECORDAR É VIVER
proxima-se o final do ano lectivo e o meu caro leitor, assumindo que é um estudante da mui bela Universidade de Coimbra enquadrase necessariamente numa das seguintes categorias: ou é caloiro, e como tal mal pode esperar pelo próximo ano onde vai poder fazer uso dos super-poderes que lhe foram concebidos pela praxe; ou está a meio do percurso académico e como tal a menos um ano do final; ou então
A
chegou ao fim de uma vida inteira dedicada ao estudo. Pois é exactamente neste último ponto que me vou debruçar esta semana. O final é muito triste, há que dizê-lo. É uma tristeza de alma, uma sensação de vazio. De um momento para o outro acabou uma rotina com quase duas décadas (ou mais). Temos a última aula de sempre (de
FRANÇA Os concorrentes do reality-show “A Ilha da Tentação” vão receber horas extraordinárias. A decisão do supremo tribunal francês diz ainda que os concorrentes têm direito a um contrato de trabalho de 35 horas semanais já que “tentar uma pessoa do sexo oposto requer atenção e concentração”. Cristiana Pereira
CARICATURA POR GISELA FRANCISCO E ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES
sempre!) com todo o simbolismo que isso deveria ter, mas sabe-nos a pouco. Nem abraços, nem beijinhos. Os centenários no liceu eram mais emotivos (para os mais esquecidos, o centenário era aquela bela tradição que se cumpria sempre que se chegava à lição 100). E depois claro, somos atingidos por aquela coisa muito aborrecida chamada nostalgia. Começamos a recordar todo o nosso percurso académico. Encontramos num espaço poeirento da nossa mente uma infância à espera de um toque de espanador para saltar cá para fora. A memória mais antiga (e tomando os 22/23 como idade de referência) provavelmente passa por uma vaga ideia da Rua Sésamo que se associa, invariavelmente, aos primeiros anos de escola. Nessa altura, um ano lectivo era uma unidade temporal muito mais consistente. Eram pequenas reencarnações encadeadas umas nas outras. Lembramo-nos daqueles autocolantes que saíam nos bollycaos ou nos pacotes de batatas fritas. Como eram divertidos os pega-monstros e como ficava bem a porta do quarto forrada com aqueles tipos verdes que diziam coisas como “Tou numa boa”. Lembramo-nos da fase do berlinde ou da colecção de Tazos (onde estará ela?). Na televisão delirava-se com a Ana Malhoa (antes dela andar a posar nua para revistas duvidosas) e com o
seu Buéréré. Nessa altura, os recreios (bela palavra por sinal) eram gastos a jogar à bola, a imitar os Power Rangers, ou no caso das moçoilas, a brincar às Spice Girls. Depois das aulas ia-se tirar o pó à Mega Drive enquanto se esperava pelo Dartacão ou pelo Templo dos Jogos. Cheguei a acabar o Sonic 2 umas 23 vezes. Mas é então que surge uma outra memória, mais avassaladora do que os Diavolos ou os Tamagotchis (ou quiçá os Matutolas) e não podemos evitar começar a trautear: “És águia, tigre e falcão, e o vencedor serás tu. Dragon Ball, Zê Zê Zê”. Lembramo-nos com carinho da nossa primeira namorada, do caloroso primeiro beijo e do momento em que descobrimos as nossas hormonas ao sintonizar o Canal Fiesta (ou deverei dizer Canal 18?) da TV Cabo, numa sextafeira à 1 da manhã. Nessa altura, a escola e o estudo era entidades diferentes. Era uma questão social. Vivíamos num micro-universo onde se podia “passar” com 3 negativas. Infelizmente tudo isso acabou. Assim. Sem mais nem menos. Nem tivemos tempo para nos despedir. Todas as crónicas em
arseniocoelho. blogs.sapo.pt
COM PERSONALIDADE D.R.
SEAN RILEY • MÚSICO • 28 ANOS
O VOCALISTA QUE SE VESTE DE COMPOSITOR Eu estudei guitarra quando era muito novo, quando tinha doze anos. Mas, esse tipo de aprendizagem não me tocou. Não tive nas aulas muito tempo, aquilo aborrecia-me. E fui estudando sozinho e treinando com colegas. Sou das Caldas da Rainha e estive a estudar em Coimbra. Foi, sem dúvida, uma influência para mim. Foi uma cidade onde gostei muito de viver, onde passei grandes momentos e onde fiz bons amigos. Sem dúvida, foi uma cidade que influenciou bastante a formação inicial da banda. E influenciou também toda a escritura do primeiro álbum dos Slowryders. Tive outras bandas, mas foram coisas de amigos que se formavam, davam quatro ou cinco concertos e deixavam de existir. Curiosamente a minha primeira banda foi com um rapaz que hoje em dia está nos Slowryders, o Filipe Costa, que entrou agora para este disco na bateria e no baixo. Na primeira banda que eu tive com catorze anos tocávamos os dois guitarra e eu cantava. Não tento forçar muito a escrita, mas também não tento passar semanas e semanas sentado à espera que me venha uma luz inspiradora dar ao ouvido. Tento fazer um pouco das duas coisas. Tento ir trabalhando consistentemente, escrever, tocando guitarra e não forçar demasiado as coisas. As ideias vão surgindo e algumas aproveitam-se e outras não. Eu acho que é importante ir escrevendo sempre e tocando sempre. Nunca se sabe o que é que sai. Não se pode ficar sentado à espera que as coisas aconteçam. Quando estávamos a fazer o primeiro disco já estávamos a discutir opções que iríamos tomar num segundo disco. Escrevi as letras para o primeiro álbum sem saber que ia tocar com outros elementos. No segundo já foi diferente. As canções foram escritas durante o período em que saiu o primeiro álbum, “Only Time Will Tell”, e quando estávamos a começar a gravar o segundo álbum. Estou a falar de um período de mais ou menos um ano. O segundo disco é um fato de alfaiate e o primeiro é uma espécie de peças de feira da ladra. O que eu quero dizer com isto tem a ver com a forma como as canções foram escritas. No primeiro álbum fiz as canções sozinho. Nem imaginava que ia ter uma banda. Depois acabou por ser essa banda a moldar certas canções e a pôr um pouco dela nessas canções. O segundo disco é diferente no sentido de que quando estávamos a escrever já havia a consciência de que éramos uma banda e da forma como a banda enriqueceria as canções. Foi por isso que falei nessa metáfora. Para o terceiro álbum já há canções e coisas a serem faladas entre nós. No próximo ano o que nos vai ocupar o tempo é tentar promover este disco o melhor possível e tentar tocar no maior número de espaços possível. Depois, daqui a um ano mais ou menos, se tudo correr bem, já estaremos a gravar. Entrevista por Vasco Batista e Rui Miguel Pereira
14 | a cabra | 16 de Junho de 2009 | Terça-feira
OPINIÃO
A CRISE É O CAPITALISMO REAL
José Manuel Pureza *
D.R.
O sismo da Islândia foi apenas uma expressão pontual do movimento tectónico do capitalismo mundial
Cartas ao director podem ser enviadas para
acabra@gmail.com
O que era um dos países tidos como mais prósperos e com um índice de desenvolvimento humano mais elevado do mundo – a Islândia – afundou-se no turbilhão da crise financeira internacional. Ironicamente, quando a literatura dominante em política internacional se habituara a falar de “Estados falhados” para caracterizar boa parte da periferia do sistema-mundo, foi no coração do centro que a bancarrota sucedeu. Como explicar esta situação aparentemente insólita? E que consequências podem dela advir para o mundo? Há uma proximidade essencial entre a situação vivida em 1929 e aquela que hoje marca a economia mundial. Essa proximidade é a economia especulativa. Tal como no período que antecedeu a Grande Depressão, também agora os índices bolsistas foram subindo, espelhando optimismo primeiro e criando euforia depois. A distância entre essa euforia e a efectividade da economia real foi, então como agora, a medida da perda de noção das coisas. O caso da AIG, uma das maiores seguradoras do mundo, é paradigmático: num ápice, as suas acções desvalorizaram em 80 por cento e o valor do capital social da empresa ficou reduzido a 1/5 do que valera antes. O que significa que, ao longo do tempo, houve quem tivesse lucros fantásticos na compra e venda de acções da empresa, fundados em… coisa nenhuma. Foi essa “coisa nenhuma” que alimentou a acumulação de lucros ao longo das últimas três décadas. E foi ela que se revelou no seu imenso vazio nos últimos meses. Recuando a 1980, constatamos que então a acumulação de activos financeiros era apenas ligeiramente superior à dimensão do produto mundial (117 por cento). Em duas décadas e meia, o produto mundial cresceu cinco vezes, mas o acumulado de valores financeiros cresceu quinze vezes: dobrou o produto em 1990, triplicou-o em 2000 e quadriplicou-o em 2005. Essa financiarização da economia espelhou-se acima de tudo na natureza dos lucros: nos Estados Unidos, a parte financeira dos lucros totais da actividade económica passou de 10 por cento em 1980 para 40 por cento na actualidade. A ver-
tigem da multiplicação dos ganhos baseados numa crescente virtualização da economia deu lugar à ganância do crime económico branqueado em offshores e a mercados de futuros onde proliferaram os headge funds, os activos tóxicos que contaminaram boa parte da economia mundial nos últimos meses. A imensa bolha especulativa inchou e o seu rebentamento era apenas uma questão de tempo. Não é pois para levar a sério a avaliação de que mais não se tratou do que da imprevidência de uns quantos gananciosos que não souberam medir a sua avidez. A crise funda que estamos a viver não é um episódio solto de incontinência moral. É antes um desenvolvimento inscrito na própria matriz do sistema económico e que se situa em linha com as fragilidades estruturais da economia internacional nas últimas três décadas. Esta é, com efeito, uma crise anunciada. Para alimentar a sua posição de liderança económica, os Estados Unidos precisam de cativar fluxos de entrada de capital estrangeiro no valor aproximado de dois mil milhões de dólares por dia, como compensação do gigantismo da sua dívida acumulada, actualmente estimada em 48 biliões de dólares. A estratégia seguida para garantir essa atracção foi a de garantir rentabilidades apetitosas – e aqui voltamos à especulação bolsista como núcleo operacional de funcionamento do sistema. A titularização dos créditos de altíssimo risco foi apenas o último passo de uma marcha de insustentabilidade inebriada. A multiplicação de Donas Brancas com efeitos de contágio em cascata internacional mostra como o capitalismo global real é afinal uma pirâmide tão frágil como a que fez a glória da “banqueira do povo”. Esta crise é, pois, estrutural e está para durar. A sua superação implicará alterações profundas no funcionamento das economias e nas relações internacionais de poder. O sismo da Islândia foi apenas uma expressão pontual do movimento tectónico do capitalismo mundial. * Professor da Faculdade de Economia da UC e Investigador do Centro de Estudos Sociais PUBLICIDADE
16 de Junho de 2009 | Terça-feira | a
cabra | 15
OPINIÃO “OS ALUNOS ERASMUS SERÃO
EDITORIAL
EMBAIXADORES DA NOSSA CIDADE”
“O JORNAL TEM QUE SAIR”
Miguel Rio *
O programa Erasmus é, sem dúvida nenhuma, o que mais contribuiu para aproximar a Europa dos seus cidadãos, fomentando o respeito intercultural, a mobilidade geográfica, a tolerância e a solidariedade entre povos. Coimbra e a sua universidade passam a fazer parte de um capítulo novo da vida de todos aqueles que durante um ano ou um semestre a escolhem como destino do seu programa de mobilidade estudantil. O chamado fazer Erasmus é também uma prova de sobrevivência, cheia de desafios e experiências inesquecíveis, a todos os níveis, quer académico, social e cultural. A mobilidade estudantil constitui a melhor forma de, enquanto estudantes, aprendermos uma língua e cultura novas, visitarmos diferentes países e adquirirmos novos conhecimentos académicos, com as consequentes vantagens que trazem ao futuro profissional. Apesar dos poucos recursos financeiros colocados à disposição de quem pretende fazer Erasmus (a chamada bolsa de Erasmus), que muitas vezes não chega nem para pagar o alojamento, o programa goza de boa saúde e são cada vez mais aqueles que querem usufruir do mesmo. Em 2007, comemoraram-se os 20 anos do Programa Erasmus, e desde 1987, até essa data quase dois milhões de estudantes de ensino superior realizaram o programa e esperava-se que até 2012 se conseguisse atingir os três milhões. Desta forma o Erasmus esboça a Europa dentro das vidas quotidianas de centenas de milhares dos seus cidadãos por essa União fora. Para 80 por cento dos seus participantes é a primeira vez que alguém da sua família estuda fora do seu país; para muitos outros é a primeira possibilidade de viver num
país estrangeiro e fora do ambiente familiar; e quase um em cada dez acabam por se juntar com alguém oriundo do país onde fizeram Erasmus. Agora que se começa a iniciar o período de despedida de centenas de alunos Erasmus, ficamos com a certeza que levam Coimbra, a sua universidade, a cultura e os valores portugueses dentro dos seus corações, e jamais os irão esquecer. Relativamente à origem dos alunos Erasmus, continuam a ser maioritariamente de Espanha, Itália e Brasil. No entanto, nos últimos anos, temos assistido a um aumento dos oriundos dos países da Europa de Leste e nos últimos dois anos a um aumento muito significativo de alunos oriundos da Turquia, facto que vem reforçar o carácter multicultural deste programa. Alguns deles voltam quer para fazer um Mestrado ou Master, ou quer mesmo para estagiarem ou trabalharem em Coimbra ou numa outra cidade portuguesa. Os actuais alunos Erasmus serão futuros embaixadores da nossa cidade, da nossa cultura, espalhando aos quatro cantos do mundo o significado da palavra saudade, passando de boca em boca as suas experiências, as suas vivências. Muito ainda se pode fazer para que mais alunos possam beneficiar deste programa através do reforço financeiro das suas bolsas, pois infelizmente somente uma pequena percentagem dos alunos do ensino superior usufruem do mesmo. Alguém disse que uma das maiores conquistas do programa Erasmus não seria tanto as vantagens obtidas a nível académico mas permitr que cheguemos como estrangeiros e partamos como Europeus. * Presidente da Associação Socrates Erasmus da UC
NOTA EDITORIAL O portal informativo ACABRA.NET, apesar de se encontrar online, continua sem possibilidade de actualização por motivos técnicos.
Secção de Jornalismo, Associação Académica de Coimbra, Rua Padre António Vieira, 3000 - Coimbra Tel. 239821554 Fax. 239821554 e-mail: acabra@gmail.com
Fica o aviso ao leitor mais incauto das linhas que se seguem: o autor do texto é juiz em causa própria. Um infortúnio referencial, de cunhar a primeira edição com o número zero, levou a que o jornal número 200 d’A CABRA acabasse por não corresponder, de facto, à ducentésima edição. Não deixa o desacerto, contudo, de ser um motivo de assinalar não só o número, como também os 18 anos da publicação. São, aliás, estes percalços amadores inerentes à condição dos jovens jornalistas que compõem a redacção do jornal uma das características mais notáveis d’A CABRA. Talvez seja também essa
“
e regras deontológicas que se exigem a um jornalista. Não é ainda assim todo este zelo de cumprir um jornalismo sério e responsável que impede aquela que será também outra das mais assinaláveis características d’A CABRA: a irreverência intrínseca a um jornal composto por estudantes. Irreverência que leva a uma aposta em temas diferentes, que conduz à exploração de novos caminhos e que por várias vezes coloca o jornal numa posição dianteira e de relevo a nível nacional. O que nos conduz à última característica que gostaria aqui de destacar, a do trabalho exclusivamente voluntário que cada um
A busca por atingir o profissionalismo e o perfeccionismo impõe a qualquer colaborador d’A CABRA um esforço redobrado na tarefa que desempenha
especificidade que explica, na minha perspectiva perigosamente pretensiosa, a qualidade do jornal. Isto é, a busca por atingir o profissionalismo e o perfeccionismo, na procura de, mais do que equiparar, superar a qualidade do panorama geral, impõe a qualquer colaborador d’A CABRA um esforço redobrado na tarefa que desempenha. Esforço redobrado que passa inicialmente por conseguir desenvolver um trabalho profissional sob a condição de estudante que vai às aulas, que tem que estudar, realizar trabalhos e ainda encontrar espaço nesse período para se dedicar ao jornal. Esforço redobrado que passa também por conseguir contactar fontes, conseguir aceder a locais, conseguir cobrir histórias, sob a categoria de jornalista universitário – o que demasiadas vezes impossibilita o trabalho. Esforço redobrado que passa ainda por ter um cuidado especial em cumprir todos os princípios éticos
dos colaboradores do jornal desempenha para que quinzenalmente o jornal esteja “nas bancas”. De quinze em quinze dias, o corrupio é sempre o mesmo: entre reuniões, plenários, redacção de artigos, tratamento de fotos, paginação e tudo o mais, são noites sem dormir sobre noites sem dormir para que o jornal seja distribuído pelas cantinas e faculdades de duas em duas terças-feiras. Porque, no fundo, o mais importante é que “o jornal tem que sair”, seja sob que condições forem, seja sob um fecho de edição em altura de exames ou férias, seja sob as condições do fecho desta edição que, sem luz na sala na redacção, tivemos que o transportar para a minúscula sala de uma das editoras. Contudo, A CABRA acabou por sair, como sempre. João Miranda
Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759 Director João Miranda Editor-Executivo Pedro Crisóstomo Editor-Executivo Multimédia: João Ribeiro Editores: André Ferreira (Fotografia), Cláudia Teixeira (Ensino Superior), Sara Oliveira (Cultura), Catarina Domingos (Desporto), Andreia Silva (Cidade), Rui Miguel Pereira (País & Mundo), Diana Craveiro (Ciência & Tecnologia) Secretária de Redacção Sónia Fernandes Paginação Pedro Crisóstomo, Sónia Fernandes, Tatiana Simões Redacção Alice Alves, Ana Coelho, Ana Rita Santos, Bruno Monterroso, Catarina Fonseca, Filipa Faria, Filipa Magalhães, Hugo Anes, Luís Simões, Maria João Fernandes, Maria Eduarda Eloy, Marta Pedro, Patrícia Gonçalves, Patrícia Neves, Pedro Nunes, Sara São Miguel, Tiago Carvalho, Vasco Batista, Vanessa Quitério Fotografia Ana Coelho, Bruna Guerreiro, Camilo Soldado, Filipa Faria, Leandro Rolim Ilustração Rafael Antunes, Tatiana Simões Colaboraram nesta edição Camilo Soldado, Cristiana Pereira, Lídia Paralta Gomes, Matheus Fierro, Miguel Custódio, Sara Coimbra Colaboradores permanentes Ana Val-do-Rio, Carla Santos, Carlo Patrão, Cláudia Morais, Dário Ribeiro, Emanuel Botelho, Fátima Almeida, Fernando Oliveira, François Fernandes, Inês Rodrigues, José Afonso Biscaia, José Santiago, Milene Santos, Pedro Nunes, Sofia Piçarra, Rafael Fernandes, Rui Craveirinha Publicidade Sónia Fernandes - 239821554; 914926850 Impressão FIG - Fotocomposição e Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra
Mais informação disponível em Redacção: Secção de Jornalismo Associação Académica de Coimbra Rua Padre António Vieira 3000 Coimbra Telf: 239 82 15 54
Rugby Seven’s Académica
A equipa masculina universitária de rugby de seven’s da AAC regressou de Inglaterra, com a medalha de prata do Campeonato Europeu Universitário. A formação de Sérgio Franco perdeu na final com o Kuban State por 52-7. Além do honrosa prata, a equipa venceu ainda os campeões europeus de 2007 e de 2008. Bons resultados a um ano de Portugal receber o mundial universitário da modalidade. C.D
Fax: 239 82 15 54 e-mail: acabra@gmail.com
acabra.net
Concepção e Produção: Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra
Universidade de Coimbra
É um sinal de valorização democrática dar voz aos estudantes acerca daquilo que lhes é mais próximo - as aulas e os docentes. Apesar de não ter sido suficientemente publicitado e até ter criado algum temor, o inquérito pedagógico pode ser uma importante ferramenta de avaliação. É imperativo, no entanto, que os dados sejam convenientemente divulgados e que as conclusões se traduzam em medidas concretas. J.R.
Notas sobre arte...
Ministério da Saúde
Cinco anos após o inicio das obras, o novo hospital pediátrico vai ser inaugurado neste último trimestre. Marcado por uma série de polémicas a nível orçamental e estrutural, surgem agora acusações de existência de falhas na arquitectura do edifício por parte da própria comissão de utentes. Num projecto que se quer inovador pelo Ministério da Saúde , é de lamentar o surgimento destas questões meses antes da inauguração. A.S. PUBLICIDADE
Rádio Macau • Sardine & Tobleroni 2009 António Variações, GNR, Heróis do Mar, Rui Veloso ou Xutos e Pontapés são alguns dos “pais” do rock português representados pela dupla de artistas plásticos Sardine & Tobleroni. Neste caso, porventura mais que em outros, a exposição não vale por uma obra em si, mas pelo conjunto dos 39 vultos do rock português representados pela dupla. As obras são carregadas de expressão, como se a dupla soubesse que um artista, plástico, musical ou outro não se representa de formalismos ou seriedade. Nesta imagem, que representa o grupo “Rádio Macau”, não faltam as roupas e acessórios coloridos, garridos, com função exclusivamente estética, a mesma que coloca na tela rapazes maquilhados dentro de um aquário. Não é demais recordar a primeira aparição de António Variações na televisão, apresentando-se com um pi-
jama de flanela, com um figurante vestido de aspirina lançando ‘smarties’ para o público. Com efeito, é virtualmente impossível encontrar um artista rock com ar de quem pode simultaneamente ser músico e catequista. Numa época em que o rock não passava de mais um estrangeirismo, de um som desconhecido em Portugal, era obrigatório para o artista “aparecer”, marcar a diferença, na identidade, na imagem, no som ou simplesmente numa coisa qualquer. Nenhum artista rock se considera mais um músico, porque ninguém considera o rock mais um estilo de música. Para o artista rock, ser menos que uma lenda, é falhar. E para tal fim, pouco se olha a meios, ‘smarties’ incluídos. A exposição “Espelho Meu – História do Rock Português” encontra-se no Teatro Académico de Gil Vicente, até 28 de Junho. Por Bruno Monterroso
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