Edição 201 do Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

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CHEGADA À LUA

CINEMA

40 anos depois, será que o “grande passo para a humanidade” de Neil Armstrong não passou de uma encenação? P 15

A antevisão dos filmes que estreiam nas férias P 16

7 de Julho de 2009 Ano XVIII N.º 201 Quinzenal gratuito

RELIGIÕES À descoberta das crenças que coabitam em Coimbra P 10 e 11

a cabra

Director: João Miranda Editor-executivo: Pedro Crisóstomo

Jornal Universitário de Coimbra

ANDRÉ FORTE

A equação de

Yann Tiersen O músico francês que ficou célebre com a banda sonora de “O fabuloso destino de Amélie Poulain” fala sobre o que liga a sua música ao cinema P6

O balanço da época Os resultados das secções desportivas e do desporto universitário da Académica P 7, 8 e 9

Câmara de Coimbra

AAC

Candidatos avançam Queixa ao próximo com propostas Provedor de Justiça A três meses das eleições autárquicas, fomos para a rua saber quais os problemas que os conimbricenses vêem na sua cidade e o que gostariam que fosse resolvido. A insegurança e o viaduto do Choupal são as maiores preocupações. Até ao momento, perfilam-se sete nomes para a corrida. Em entrevista, os candidatos respondem com as ideias para os próximos quatro anos.

A Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra vai apresentar uma queixa a requerer a fiscalização sucessiva do regime jurídico e da lei de financiamento do superior assim que o novo Provedor de Justiça for eleito pela Assembleia da República. Ainda este mês, decorre uma campanha, a nível nacional, de sensibilização para uma acção conjunta entre académicas a realizar em Outubro.

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DESTAQUE

JOÃO RIBEIRO

DAVID DIAS prepara-se para estagiar este Verão numa instituição bancária

Pôr o curso em prática no Verão Os estágios de curta duração representam uma oportunidade para os estudantes tomarem contacto com o mundo profissional da sua área de estudo, ainda antes da conclusão do curso. Este ano, o número de candidatos da UC ascende aos 600 Filipa Faria João Miranda João Ribeiro Depois das aulas, dos trabalhos e dos exames, a maioria dos estudantes aproveita os dois meses das férias de Verão para descansar e esquecer por completo a rotina da universidade. Contudo, são cada vez mais os alunos que usam o tempo de férias para se aproximarem do mundo do trabalho. Durante um, dois ou três meses, quem concorre aos estágios de curta duração sujeita-se a horários, tarefas e responsabilidades inerentes à vida profissional que pretendem seguir. Para este ano, são cerca de 600 os estudantes da Universidade de Coimbra (UC) que aproveitam os estágios em empresas e instituições promovidos pelo gabinete de Saídas Profissionais. É o caso do estudante de Economia David Dias, que após ter assistido a um workshop sobre procura de emprego se apercebeu que “cada vez mais as empresas, quando recrutam uma pessoa, dão valor à actividade extracurricular e à experiência que ela tem”. O estudante, que acabou a licenciatura este ano, passou o mês de Agosto

de 2008 na agência do Banco Português de Investimentos (BPI), em Coimbra. Enquanto estagiou na banca, David Dias conseguiu experimentar um pouco de tudo: “estive na caixa, na parte de créditos a empresas, um pouco por todo o lado”, conta o estudante, que se prepara agora para concorrer a um novo estágio. A ideia da importância que a experiência perto da profissão assume na candidatura a um futuro emprego é corroborada pelo docente da licenciatura de Ciências da Educação na UC, José Manuel Canavarro: “se as pessoas conseguirem encontrar uma actividade de ocupação durante o Verão, isso é uma valorização curricular. Evidentemente que se essa ocupação estiver ligada à área de formação da pessoa, tanto melhor”. De resto, segundo a coordenadora das Saídas Profissionais, Fernanda Pereira, são muitos os casos de quem faz mais do que um estágio durante o curso. Maria Inês Silva, estudante de Engenharia do Ambiente, é um bom exemplo. Desde que entrou na faculdade fez três estágios na Danone de Castelo Branco e já se inscreveu para o quarto, numa câmara municipal. Tal como Maria Inês, há vários estudantes

de Engenharia do Ambiente que fazem o mesmo. “O nosso curso é muito teórico e queria ter uma ideia do que era a vida de trabalho e um pouco mais de experiência”, justifica. No entanto, também há críticas a apontar: “a empresa está mal preparada para estes estágios. Às vezes, tinha um projecto que se fazia numa semana e andava lá um mês, porque demoravam muito tempo a dar-me material para trabalhar”. Apesar do cansaço, Inês considera a experiência positiva. “Quando lá estou, refilo muito, mas todos os anos me inscrevo e é por algum motivo”.

Aprender a “acordar cedo” José Manuel Canavarro aponta alguns aspectos negativos e riscos decorrentes dos estágios de Verão. “Nas áreas onde há muita procura, os estudantes fazem estágio numa determinada empresa, a empresa gosta do estudante, incentiva-o a continuar e isso pode fazer com que demore mais tempo a concluir os seus estudos ou os deixe a meio”, explica o docente, que exemplifica com o caso dos estudantes de Engenharia Informática, onde a situação é mais recorrente. Fernanda Pereira defende que a

grande vantagem destes estágios é a de constituírem “uma oportunidade para os estudantes de trabalharem numa organização e entrarem em contacto com a cultura organizativa”. Os estágios de curta duração integram a emissão do certificado de Suplemento ao Diploma pela universidade, ou seja, são uma mais valia a nível

curricular. Quem passa por uma experiência deste género refere invariavelmente o que ganhou ao nível do contacto com o mundo do trabalho, nem que seja para, tal como David Dias, passar a ter noção de que “tem que acordar cedo”.

NO VERÃO TAMBÉM SE ESTUDA Para cada vez mais estudantes, o fim das aulas não significa o abandonar da sala de aula. De cursos de línguas a intercâmbios com outras universidades, a oferta de cursos de Verão abrange um leque cada vez mais vasto e a que os estudantes da Universidade de Coimbra (UC) não são alheios. Para José Manuel Canavarro, “os cursos de Verão constituem uma mais-valia do ponto de vista curricular, porque permitem aprofundar alguns temas, ou conhecer temas novos”. O docente de Ciências da Educação na UC explica ainda que a frequência destes programas acarreta outros benefícios, na medida em que “as entidades empregadoras valorizam muito as pessoas que frequentaram cursos de Verão, pois

demonstra que têm um interesse quase contínuo por aprender”. Para além do ingresso nestes programas, muitos estudantes optam por frequentar os cursos em universidades que não as de origem, o que, segundo José Manuel Canavarro, lhes permite “lidar com realidades que não são exactamente as mesmas com que foram lidando ao longo do ano lectivo”. É o caso de Carlos Pedro Mendes, aluno do quinto ano de Medicina na UC, que teve conhecimento de um programa promovido pela Federação Internacional de Estudantes de Medicina. Em Agosto de 2008, partiu para Valladolid, Espanha, onde durante quatro semanas integrou o serviço de emergência do hospital. Marco Duarte soube do programa


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DESTAQUE LUÍS GOMES

PEDRO BRANCO aproveita o tempo livre antes de começar a trabalhar nas férias

Trabalhar para pagar os estudos Os empregos de Verão surgem como resposta não só a necessidades financeiras mas também como meio de apreender certos hábitos de trabalho, contribuindo para uma valorização curricular. Apesar de possuirem aspectos negativos, continuam a ser procurados

Alcançar a independência financeira, suportar os custos da universidade ou simplesmente satisfazer alguns caprichos de férias são razões que levam vários estudantes a, todos

os anos, trocar o descanso por trabalhos de Verão. Do final dos exames ao início das aulas, em Setembro, as mesas das salas de aula são substituídas por balcões de café ou até mesmo por um posto na linha de montagem de uma adega. Desde que ingressou na licenciatura de Psicologia, Vera Baetas passa todos os Verões longe das se-

de intercâmbio através de colegas de turma e do núcleo de estudantes e decidiu participar este ano. “Conheço muita gente que já fez e que gostou muito da experiência”, conta. No entanto, considera que já ter feito Erasmus “também ajudou um bocado na decisão”. Antes de iniciar o sexto ano de Medicina, o estudante está “à espera de obter novos conhecimentos” num hospital de Tunes, na Tunísia. Justifica que “é a partir da prática que se consegue aprender”. Carlos Pedro Mendes caracteriza a experiência como enriquecedora. “É óptimo por causa do conhecimento, contactamos com formas de trabalhar diferentes e também para ter mais alguma experiência clínica”, aponta o estudante, que também

refere o lado de “conhecer pessoas de outros países, fazer amigos e contactar com todo o tipo de culturas e pensares diferentes”. “É uma forma impecável de passar as férias”, reitera. O melhoramento do currículo não é uma das principais razões para integrar este tipo de experiências. “Foi mesmo uma questão enriquecimento, tanto em termos profissionais como pessoais”, explica Carlos Pedro Mendes. No início do ano lectivo, Marco Duarte considera que não vai estar em desvantagem em relação aos colegas por abdicar do tempo livre. Pelo contrário: “acho que me vou divertir muito mais que alguns colegas”. F.F.

Filipa Faria João Miranda João Ribeiro

bentas de Freud e dos testes dos borrões de Rorschach e as garrafas e pipas de vinho alentejano tornamse os seus instrumentos de trabalho. “Eu trabalho todo o Verão e vou um fim-de-semana ou outro à praia”, conta a estudante. A opção de trabalhar durante as férias deve-se, segundo Vera Baetas, sobretudo a uma razão: “sou aluna bolseira e quando o ano começa ainda não temos bolsa, este dinheiro fica para mim para me aguentar até a bolsa chegar”. Os locais de trabalho mais frequentes acabam por ser cafés e restaurantes. Liliana Beldroega, estudante de Serviço Social, é um destes casos. A perspectiva de integrar o programa Erasmus levou-a a procurar uma ocupação remunerada. “Trabalhei num hotel e fazia de tudo um pouco, estava no café, ajudava na cozinha e fazia limpezas”, recorda. Para além da compensação monetária, Liliana admite que ganhou também alguma experiência pessoal e profissional, de tal forma que pretende neste Verão voltar a trabalhar. “Preferia viajar e fazer outras coisas, mas acho que mesmo se não tivesse necessidade não me importava de trabalhar durante o Verão”, refere ainda a estudante. O motivo que levou Pedro Branco ao balcão de um restaurante foi um

pouco diferente das razões apontadas pelas colegas. “Apenas fui trabalhar porque quis”, confessa Pedro, que encontrou no emprego uma forma de independência financeira relativamente aos pais. “Chegamos a uma certa idade, tornamo-nos mais adultos e foi isso que me motivou”, explica. A experiência profissional é, segundo o docente da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, José Manuel Canavarro, sobretudo valorizada pelas entidades empregadoras, por acostumar o estudante a uma série de práticas que o acompanharão no futuro. “A pessoa já sabe que tem que obedecer a horários, que tem que acatar com determinadas responsabilidades e que tem que fazer tarefas que às vezes não são aquelas que queremos”, especifica José Manuel Canavarro.

Ordenados baixos, muito trabalho A natureza precária destes tipos de emprego coloca muitas vezes os estudantes em situações pouco desejáveis. Carga horária pesada, baixos salários e, por vezes, más condições higiénicas são alguns dos pontos referidos. Pedro Branco conta que no restaurante onde trabalhou não aceitavam empregados a curto

termo. A condição imposta passou então por “ter um ordenado mais baixo e trabalhar mais que os outros”. O estudante refere como exemplo uma época de maior trabalho em que não largou o posto durante 16 horas seguidas, mais do que o triplo dos colegas. Contudo, admite que, “à partida, quando se entra não se espera um ordenado muito elevado”. O cansaço resultante de três meses de trabalho, dirigidos ao descanso das aulas, pode ser o grande aspecto negativo desta opção. “É importante que os alunos consigam encontrar aqui algum equilíbrio entre o que podem ou devem dispensar durante os dois meses em que não há actividades lectivas”, adverte José Manuel Canavarro. Também os estudantes estão cientes desta desvantagem. Porém, Pedro Branco apresenta uma fórmula: “se uma pessoa souber gerir bem o tempo acaba por se divertir e trabalhar ao mesmo tempo”. Também o desejo de prolongar a actividade profissional inicialmente pensada somente para o período de férias é apontado por José Manuel Canavarro como um possível problema: “não é que isso tenha mal, mas pode é ser difícil conciliar essa actividade profissional com o estudo”.


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ENSINO SUPERIOR LEANDRO ROLIM

Pensar a gestão do edifício

SALA DE ESTUDO DA AAC, numa quina-feita à noite, onde os estudantes se preparam para os exames

Críticas ao novo bar continuam Barulho da esplanada da Associação Académica de Coimbra, durante a noite, motiva desagrado por parte de estudantes e secções. Direcção-geral planeia remodelar sala de estudo ainda este Verão Diana Craveiro São duas da manhã na sala de estudo da AAC e vários os alunos de volta de livros e apontamentos para a última fase dos exames. “É uma afronta para os estudantes haver aqui um bar”, atira o aluno de Economia Henrique Santana. As reacções da generalidade dos frequentadores da sala fazem ver que nem sempre é fácil a concentração com o barulho proveniente do bar exterior, que se impõe ao silêncio. Luís Vizeu, estudante de Di-

reito, sugere mesmo o “encerramento” do espaço. Mas nem todos se sentem afectados pelo ambiente dos jardins da AAC. Nas cantinas, as alunas de Ciências Farmacêuticas, Nicole Caetano e Ana Costa, dizem já estar “habituadas ao barulho” e pensam que os estudantes deviam arranjar outros sítios para estudar, já que para as cantinas e a sala de estudo “só vai quem quer”. Quando confrontado com as queixas dos estudantes, o administrador da Direcção-Geral da AAC (DG/AAC), Miguel Franco, defende

que tem tentado chegar a um entendimento com o concessionário do bar dos jardins “para que o nível do ruído esteja dentro dos parâmetros legais” e que “consiga ir ao encontro das necessidades da casa e dos estudantes”. Miguel Franco acrescenta que ficou decidido que, durante todo o ano, “a partir da uma da manhã, o som deixaria de ser ambiente”. Quanto à sala de estudo, foi definido, em plenário de secções, a 31 de Março, que a direcção-geral iria tentar diminuir o ruído através da colocação de vidros duplos. O ad-

ministrador garante que o projecto já está feito, mas que os vidros ainda não podem ser colocados. “Para fazer as obras de remodelação tínhamos que fechar a sala e isso seria prejudicial por causa dos exames”, justifica. No entanto, Miguel Franco explica que “qualquer alteração no edifício tem de ter a aprovação da reitoria e dos arquitectos”, visto que a Universidade de Coimbra é candidata a património da UNESCO. Apesar disso, o dirigente associativo acredita que “neste Verão o projecto poderá avançar”.

As secções da AAC também têm várias críticas a fazer. O presidente da secção de xadrez, Bruno Pais, conta que “quase perderam um jogo por causa do barulho”. Depois de a equipa da AAC ter ganho, os adversários “aproveitaram o facto de ter havido barulho durante o jogo e apresentaram isso na secretaria [para alterar o resultado], mas foi possível contrapor”, adianta. A vice-presidente do Ciclo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC), Margarida Cabral, diz que o horário para aumentar o volume da música tem sido cumprido, mas que se torna “insuportável” se alguém quiser trabalhar até mais tarde. “Desistimos de muitas coisas por causa do barulho”, lamenta. O presidente do Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC), Filipe Balão, critica o facto de não haver mais casasde-banho e conta que já viu pessoas a “urinar no corredor”. O administrador da DG/AAC revela que o problema já está a ser solucionado com a “construção de novas casas-debanho no jardim”. A Rádio Universidade de Coimbra (RUC) foi também uma das secções com críticas à esplanada. Mas, mais importante do que discutir o barulho do bar, para o presidente da secção, Alexandre Lemos, “deve aproveitar-se o momento para pensar como se vai gerir o edifício”. Já a secção de fado conseguiu chegar a um acordo com os concessionários do bar exterior. “Houve o compromisso de o som baixar quando a escola de música funcionasse”, que se traduziu no aumento do nível do som apenas a partir da uma da manhã. Nas salas Dr. Jorge Gomes, no edifício da AAC, e Tó Nogueira, por baixo da sala de estudo, os ensaios dos grupos são afectados pela música do bar exterior. A solução foi encontrada através de uma política interna em que “os grupos procuram optimizar o tempo perdido num ensaio”, explica o presidente da secção, Hugo Ribeiro.

DG/AAC apresenta queixa ao próximo Provedor de Justiça RJIES e Lei de Financiamento contestados junto de Alfredo José de Sousa. Iniciativa entre academias do país arranca ainda este mês Pedro Crisóstomo Cláudia Teixeira Logo que a Assembleia da República eleja o novo Provedor de Justiça, na próxima sexta-feira, 10, a Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) vai apresentar uma queixa a requerer a fiscalização sucessiva do Regime Ju-

rídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) e da Lei de Financiamento do Ensino Superior. A decisão está pendente há quatro meses, desde que a direcção-geral apresentou em Assembleia Magna uma moção na qual alega que algumas matérias reguladas pelo regime jurídico do superior “invadem” a autonomia estatutária das instituições de ensino superior. Assim que Alfredo José de Sousa – o nome proposto em conjunto pelo PS e pelo PSD para ocupar o cargo – entrar em funções, a AAC vai contestar, com outras académicas, “a forma de designação, a competência e os mandatos dos titulares dos órgãos de gestão da universidade” constantes no RJIES. À data da magna, 11 de Março, a DG/AAC corroborava “as

dúvidas de constitucionalidade” nos dois diplomas levantadas em 2008 por Jorge Miranda – que viria a ser votado para provedor de Justiça no Parlamento e que entretanto desistiu do processo. Quando questionado sobre o facto de não ter sido enviada a queixa enquanto Nascimento Rodrigues ainda era titular da Provedoria de Justiça – até 3 de Junho –, o presidente da DG/AAC, Jorge Serrote, justifica que “a questão foi mesmo o [novo] provedor” e por isso optou por aguardar a eleição de Alfredo José de Sousa. Também em conjunto, as academias do país vão realizar uma campanha de informação para retratar os problemas do ensino superior, a começar ainda este mês. A iniciativa está a ser elaborada pela Associação

Académica da Universidade do Minho e advém de uma moção aprovada no último Encontro Nacional de Direcções Associativas, em Maio, em Coimbra. O objectivo da actividade é, de acordo com Jorge Serrote, “mobilizar para a manifestação nacional em Outubro”. O dirigente associativo acrescenta que a campanha vai começar em Julho mas “terá mais expressão em Setembro, quando chegam os novos estudantes”. Com o mesmo objectivo, a DG/AAC vai levar a cabo, em Setembro, uma iniciativa intitulada “UC a pente fino”, que vai consistir na apresentação à comunidade estudantil de um levantamento dos problemas pedagógicos e físicos de todas as faculdades e departamentos da Universidade de Coimbra.

LEANDRO ROLIM


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ENSINO SUPERIOR MIGRAÇÕES NA UC

Mudar o curso da vida Com a época de exames a chegar ao fim são vários os estudantes que decidem transferir-se para outro curso da UC. Desinteresse e falta de vocação estão entre os motivos mais apontados ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES

entrar na Madeira pelo contingente e, como quis garantir um lugar no ensino superior, candidatei-me também para Medicina Dentária em Coimbra”. “Voltei a tentar no segundo ano e repeti os exames nacionais, mas falhei o objectivo. Só o consegui quando ia para o terceiro ano”, lembra ainda a estudante. No entanto, depois de um ano de experiência em cursos que não satisfazem as suas pretensões a hipótese de permanecer é, muitas vezes, posta em causa. “Ponderei ficar em Ciências Farmacêuticas e mesmo agora às vezes arrependo-me de ter mudado. Cheguei a considerar voltar ou entrar em Medicina Veterinária, que era outra das opções”, confessa Estela Loureiro. O caso repete-se. Também Catarina Faria admite ter ponderado ficar em Medicina Dentária: “não ia ficar seis anos a tentar mudar para Medicina”. “A certa altura pensei se valeria o esforço estar todos anos a fazer os exames nacionais para mudar”, acrescenta.

Vasco Batista Dos milhares de alunos colocados por ano no ensino superior, nem todos têm a felicidade de ficar no curso que desejam. Outros entram na primeira opção, mas depressa chegam à conclusão que não têm vocação ou que a influência exercida por familiares para ingressar em determinados cursos venceu as próprias ambições pessoais. Bárbara Baptista, finalista da licenciatura em Jornalismo da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra é um dos exemplos: “estava em Engenharia Física porque a minha mãe queria muito que fosse para Engenharia Biomédica, mas nesse ano não consegui entrar e ela viu que Física seria a coisa mais parecida e então foi a minha segunda opção”. O que fazer? Satisfazer os caprichos alheios à própria vontade ou procurar alternativas? A solução para fugir a anos frustrantes a estudar matérias que não fazem claramente as suas pretensões profissionais afigura-se única. Na Universidade de Coimbra (UC) centenas de alunos mudam todos os anos de curso à procura de uma experiência académica mais satisfatória, recorrendo para o efeito ao regime de mudança de curso ou optando novamente pelo concurso na-

Outra realidade Encontrar um novo rumo traz consigo mudanças radicais. Uma nova faculdade, com novos colegas e, por vezes, um espírito e uma relação de vivência completamente díspar à que estavam habituados. “Encontrei um ambiente mais familiar na faculdade de Direito já que só existem

Ciências Farmacêuticas é o curso que recebe mais alunos por transferência interna

Com a mudança de curso, muda também o quotidiano de muitos estudantes

cional de acesso ao ensino superior. Telma Mateus está actualmente a estudar Serviço Social na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Depois de quatro anos em Direito percebeu que “não [se] revia no curso”. “Não ia ao encontro do meu gosto pessoal e depois a minha vocação não era aquela”, explica. Por sua vez, Bárbara Baptista confessa que “se ficasse em Engenharia Física, provavelmente iria demorar dez anos para terminar o curso. Assim foi bem mais fácil e estou naquilo que gosto”. De acordo com números do Departamento de Estudos e Estatística da UC centenas de alunos ingressam por mudança de curso. Direito, Ciências Farmacêuticas, Economia, Engenharia Civil, Jornalismo, Turismo, Lazer e Património e Psicologia são os cursos da universidade que recebem mais alunos por este regime.

dois cursos”, revela Gonçalo Ribeiro que se transferiu de Jornalismo para Direito. “Também o estilo de ensino é completamente diferente. É mais exigente, aprende-se e enriquece-se mais”, complementa. Para Telma Mateus, a faculdade de Direito foi o lugar de saída e confessa ter sentido diferenças bastante significativas. “A faculdade de Psicologia é mais pequena e em Serviço Social somos apenas cerca de 50. Acho que as pessoas são mais unidas”, analisa. Aqueles a que a mudança de curso não obriga a um novo sítio para estudar não deixam de sentir quaisquer alterações. Foi o que se passou com Catarina Faria, que ao mudar para Medicina deparou-se com “um mundo completamente à parte”. “Estávamos no meio de centenas de pessoas e só as conhecíamos de vista, dos corredores”, reflecte.

Contudo, os dados do departamento não veiculam as licenciaturas de proveniência dos estudantes que acedem ao regime de mudança.

Por uma vaga em Medicina Medicina é, desde há vários anos, dos cursos com mais candidaturas e que regista as notas de candidatura

mais elevadas. Os que não conseguem uma das cerca de 1500 vagas nas universidades portuguesas e não querem perder um lugar no ensino superior matriculam-se noutras opções como Ciências Farmacêuticas ou Medicina Dentária. É o caso de Estela Loureiro, que completou o primeiro ano em Ciências Farmacêuticas e mais tarde con-

seguiu mudar para Medicina. “A ideia era ficar num curso que depois pudesse facilitar a entrada em Medicina ou que tivesse cadeiras em comum que me dessem equivalências”, justifica. Catarina Faria viu a sua tentativa lograda de ingressar em Medicina depois de ter feito dois anos em dentária: “no meu primeiro ano, não tinha média suficiente para


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CULTURA

YANN TIERSEN • MÚSICO

cultura por

cá “Filmes e música estão numa

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equação de sentido comum”

JUL

ORQUESTRA TÍPICA FERNÁNDEZ FIERRO TAGV • 21H30 ESTUDANTE 10¤

10 JUL

B FACHADA Música FNAC • 22H ENTRADA LIVRE

O músico francês esteve de passagem pela Figueira da Foz para encantar a audiência do Centro de Artes e Espectáculos e mostrar o novo álbum, “Dust Lane”. Com três espectáculos em Portugal, Yann Tiersen esgotou as bilheteiras de Norte a Sul. Por Ana Beatriz Rodrigues ANDRÉ FORTE

om as faces rosadas, num claro sinal de quem já desfrutou do sol português, Yann Tiersen, 39 anos, apresentou-se descontraidamente, com chinelos e camisa meia aberta. Alguns cabelos brancos e olheiras denotam o cansaço de mais uma digressão e as pulseiras no pulso direito do cantor contam estórias musicais, de outros concertos já idos. Pausadamente, entre grandes silêncios, o artista, oriundo da Bretanha, confessou que a banda sonora de “O fabuloso destino de Amélie Poulain” é passado e os seus planos para o futuro.

C

11 JUL

MICHAEL BUBLÉ FNAC • 21H30 ENTRADA LIVRE

16 JUL

17º CURTAS DE VILA DO CONDE Festival Internacional de Cinema TAGV • 22H ESTUDANTE 3,50¤ até

16 VOAR SOBRE COIMBRA HÁ MEIO SÉCULO

Fotografia Documental GALERIA PINHO DINIS ENTRADA LIVRE

17 JUL

ELAS SOU EU Teatro Novo do Brasil TAGV • 21H30 ESTUDANTE 8¤

18 JUL

EXPEÃO Música FNAC • 17H ENTRADA LIVRE

até

23 JUL

EUNICE MAIA Pintura GALERIA ALMEDINA ENTRADA LIVRE até

28 13 AGO

JUL

Instrumentos como o piano? O piano é diferente. Antigamente, nos meus anteriores trabalhos, existiam peças de piano, violino e alguns detalhes mais electrónicos ou orquestrais. Eu continuo a utilizar esses pormenores, mas, em especial no que respeita ao último álbum, quis mudar um pouco, para não ser sempre o mesmo. Aliás, há somente oito canções no disco, não se trata um trabalho longo.

Esta é a sua quarta visita ao nosso país. Gosta de Portugal? Gosto muito. Já passei bons momentos cá.

JUL

JOSÉ MIGUEL FERREIRA Fotografia GALERIA ALMEDINA ENTRADA LIVRE até

20 SET

PAISAGEM Pintura de João Carrilho Graça CENTRO DE ARTES VISUAIS ENTRADA LIVRE

Por Sara Oliveira

Recentemente, começou a utilizar efeitos no som. Trata-se de uma maneira de evitar o aborrecimento das mesmas canções? Sem dúvida. No próximo álbum, existe um efeito que eu costumo usar com sombras de brinquedos e mais efeitos, sim. Eu estava tão habituado a olhar canções, buscar sons, que, hoje em dia, já não os consigo utilizar, é impossível.

Temos um bom público? Sim, muito bom. Uma nova visita com um novo álbum para mostrar... Sim, já o terminei, mas irá ser lançado no início do próximo ano, Janeiro penso eu. Tem, então, um novo álbum. Lançou, em 2006, um DVD ao vivo... Quais as diferenças que podemos esperar entre o Yann Tiersen desse DVD e o de actualmente? Canções diferentes, em primeira instância. E, também, uma banda diferente: o baterista, Dave Green, e o guitarrista, Robin Allende. Nós temos trabalhado juntos desde o início da digressão, em Paris, onde nos conhecemos, quando eles tocavam com uma banda britânica. Mas é notória uma grande evolução desde o lançamento da banda sonora do filme “O fabuloso destino de Amélie Poulain”... Na verdade, essa banda sonora foi uma compilação dos meus dois primeiros álbuns. Basicamente, apenas fiz duas novas canções para o filme. Por isso, como os trabalhos de base remontam a 1996, já passou muito tempo, como é óbvio. E é muito aborrecido, para mim, falar sobre isso... Pois, é sabido [risos]. No entanto, torna-se inevitável, já que é óbvia a sua ligação com o cinema, uma vez que actuou com grupos de teatro quando era mais novo.

cos, como o violino, me ajudam a encontrar o meu próprio caminho. Para já, é o oposto. Por exemplo, no próximo álbum existem novos instrumentos, um ambiente mais sóbrio, dado que já não consigo tocar alguns, creio que os usei em demasia no passado e acabam por me enfadar.

O MÚSICO ficou célebre com o filme “O fabuloso destino de Amélie Poulan”

Não sou ligado ao cinema, somente autorizei a que as minhas canções fossem utilizadas na banda sonora, que, depois disso, se transformaram num sucesso massivo. Creio que se tornou num mal-entendido, porque eu realizei três bandas sonoras e, à excepção da banda sonora do filme "Adeus, Lenin!", todas elas eram compilações de trabalhos prévios. Quanto aos grupos de teatro, apenas tive um amigo que estava a dirigir uma peça e eu tocava música lá que já tinha composto. Não tenho nenhum problema com o cinema, porém acabo por ficar com pouca coisa para dizer sobre ele. Mas o cinema e a música são duas artes que trabalham de mãos dadas... Sem dúvida. Só penso que filmes e música estão numa equação de sentimento comum, não numa questão de trabalho. Não acredito que seja realmente possível compor música para imagens, antes penso que é algo abstracto, não é linguagem. Por

vezes, "encaixa" no filme, devido a alguma razão desconhecida. É como na vida. Mesmo assim, nos seus primeiros álbuns, "La Valse des Monstres" e "Rue de Cascades", é notório um ambiente cinematográfico. Sim, sim. Acho que são álbuns mais cinematográficos do que, por exemplo, trabalhos de Tortoise ou Mogwai. Mencionando essas bandas, o post-rock é uma influência para o seu trabalho? Nem por isso. Eu sempre gostei de bandas como Pink Floyd ou Genesis. Encara a sua música como tendo um lugar mais tradicional, mais clássico ou minimalista? Sim. Quando era mais novo, toquei sete ou oito anos numa banda de rock. No fim, estava farto, já que não fazia as coisas à minha maneira. Talvez porque os instrumentos acústi-

Então, é mais uma questão de ambiente do que de som? Não sei. Penso que, quando tocamos música temos de encontrar a nossa própria forma de gostar dela, caso contrário torna-se um pesadelo. Na sua página online, é mencionado que desistiu da "solidão" do piano para abraçar novos instrumentos. Para si, o piano é solidão? Gosto de organizar as ideias no simples acto de tocar e buscando novos instrumentos. Se eu pretendo encontrar novas ideias, o piano torna-se complicado, muito técnico e, por vezes, impede-me de encontrar o que procuro. Desde o início, quando criava meras peças de piano a solo - o que, ainda assim, acaba por ser raro, nos meus trabalhos -, a maioria das ideias acabava mesmo por ser encontrada na guitarra, por exemplo. E, de facto, muitas das suas influências acabam por vir das guitarras. Falo, concretamente, de Joy Division e Nick Cave. Sim. Os Joy Division foram a banda da minha adolescência [risos].


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DESPORTO

As contas da

temporada Com o fim da época para a maioria das modalidades da Académica, A CABRA recupera os principais resultados e conta quais as expectivas das secções que vão continuar a competir durante o Verão. Por Miguel Custódio, Catarina Domingos, Sónia Fernandes e André Ferreira

Andebol Segunda divisão debaixo de olho A equipa de andebol da Académica espera ainda uma decisão da Federação Portuguesa de Andebol para saber se mantém a equipa sénior na segunda divisão ou se desce para a terceira, como consequência da reestruturação dos quadros. Para o presidente, Filipe Coelho, o balanço desta época é “bastante positivo”, pois os objectivos foram conseguidos, com a (possível) subida de divisão à vista. No entender de Filipe Coelho, “a aposta na continuidade do projecto que tem vindo a ser desenvolvido nas últimas duas épocas e a aposta na formação” são os factores de sucesso da secção. Para o ano, a secção de andebol traçou como objectivo a manutenção nesta nova segunda divisão.

Atletismo Melhor época dos últimos dez anos Com a época ainda a decorrer, a secção de atletismo continua a amealhar sucesso após 15

anos sem participar na segunda divisão. Até agora, o atletismo da Académica ganhou alguns prémios colectivos e conta também com vários individuais, dos quais se destacam Lenine Cunha e Luís Silva. Nas camadas jovens, os juniores a tornaram-se campeões distritais. “Das últimas dez épocas, esta está a ser a melhor e a secção de atletismo vai ter dificuldades em fazer igual nos próximos anos”, relata Mário Rui. O presidente da secção revela que a “mística do clube” é um dos factores do sucesso, mas o facto de “juntar atletas mais velhos com um grupo de jovens atletas torna a equipa equilibrada”.

Badminton Ao nível dos clubes profissionais

mista Luís Baía/Maria Rodrigues alcançaram o segundo lugar. Na segunda divisão de seniores, José Silva e Luís Silva foram vice-campeões. “Todos os atletas ficaram entre os oito melhores nos seus respectivos rankings”, resume o presidente da secção, Nuno Baía. No entender do responsável, os resultados são “bons, comparando com os clubes madeirenses, que são profissionais”. Com 80 atletas, o projecto que se segue é a criação de uma escola de badminton. “Estamos à espera de um parecer da federação e do Instituto do Desporto de Portugal”, avança.

Basebol Com a época concluída, as equipas masculinas e as mistas de badminton da AAC terminaram no quarto lugar. Em sub-17, a dupla masculina Luís Baía/Marco Simão e a dupla

“Expectativas elevadas” O campeonato nacional só começa em Setembro e a competição

mais próxima é a Taça de Portugal a realizar nos dois últimos fins-de-semana deste mês. As expectativas para a época são “elevadas”, como refere o presidente da secção, José Valente. “A Académica tem como tradição ser sempre uma das melhores equipas e o grande objectivo para a próxima época passa por vencer todas as competições em que está envolvida”, defende. José Valente destaca ainda a alteração do local de treinos para o Campo de Santa Cruz como “um factor de aumento da quantidade de praticantes da modalidade e muito importante para a secção”.

Basquetebol A surpresa da liga O basquetebol teve em 200809 a melhor prestação no principal escalão, a liga portuguesa. Com o orçamento mais baixo da prova, a AAC terminou em terceiro lugar, depois de ter obrigado o Benfica ao quinto jogo nas meias-finais. Para o presidente, Luís Viegas, a participação foi “brilhante”. A “coesão, o espírito de equipa e o espírito de união” entre dirigentes e atletas levou Coimbra “de volta à altaroda do basquetebol nacional”.

Mas nem tudo corre bem e, para Luís Viegas, a falta de “uma casa própria dificulta as coisas”. Na formação, a equipa recebeu o prémio de equipa mais dinâmica pela Associação de Basquetebol de Coimbra. Os objectivos para a próxima época são “chegar aos play-off” e, na formação, “mais do que ganhar títulos, formar atletas para o futuro”.

Bilhar Primeiros passos vitoriosos No primeiro ano da equipa de bilhar da Académica, o grupo alcançou o terceiro lugar no Campeonato Distrital de Pool Português e o quinto lugar no Torneio Nacional de Pool. Para o membro da pró-secção de bilhar, Ricardo Salgado, o terceiro posto por equipas é “um objectivo atingido”. A nível individual, um atleta conseguiu a participação na fase final do campeonato de bola 8, em Las Vegas. “O mais importante era começar a actividade, criar condições e promover a criação da equipa universitária para o próximo ano”. A pró-secção de bilhar foi criada em Outubro de 2008 e está a seguir percurso para chegar a secção. “Temos todos os sinais de que podemos chegar lá”, acredita.


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DESPORTO Boxe Faltam atletas para competir A secção tem tido algumas dificuldades para encontrar atletas para competir, mas muitos procuram a secção para aprender a modalidade. Com o campeonato ainda a decorrer, o presidente, Miguel Silva, espera que, na última prova do campeonato, marcada para o fim do ano, a AAC consiga obter um bom resultado na segunda categoria. O boxe conta com um grupo de cinco atletas nos quais deposita grandes esperanças. Para além de torneios, a secção tem participado em algumas galas de kickboxing. O balanço está a ser positivo, diz o presidente, para quem o facto de existir “um grupo estável e um treinador com alguma experiência” é o principal factor de êxito.

Cultura Física Continuar a modernização Com uma grande remodelação desde do início deste ano, a cultura física tem vários atletas que voltaram a competir e outros que chegaram à secção para entrar em competição pela primeira vez. Ainda com o campeonato a decorrer, Eduardo Cabrita diz que “o balanço das competições até agora é positivo”. O elemento da comissão administrativa revela que a “estabilização da secção” era algo que preocupava. A renovação do equipamento, “já muito degradado”, foi o principal factor para que a secção tenha desenvolvido uma boa campanha. Eduardo Cabrita aponta ainda como principal desafio “a continuação da modernização da secção”.

Desportos Motorizados A (de)correr sobre rodas Os desportos motorizados estão a meio da época. Em crosscar, Luís Caseiro encontra-se em segundo lugar e Ricardo Antunes está em sexto. Na competição de todo-o-terreno de navegação, que este ano mudou de formato, a secção já conseguiu um terceiro

lugar nas cinco primeiras provas. Para Caseiro, também vice-presidente da secção de desportos motorizados, as dificuldades são “principalmente monetárias”. Na opinião do atleta eram necessárias mais verbas “para organizar competições”, porque as actividades que promovem “não têm fins lucrativos”. Para o próximo ano, a secção tem como objectivos alargar o leque de atletas e organizar novas provas, como o campeonato nacional de perícias e um encontro de clássicos.

Desportos Náuticos Guardar o primeiro lugar Com o campeonato na recta final, a secção tenta manter o primeiro lugar do Ranking Nacional de Clubes até ao fim. Este ano, os náuticos já contam com algumas conquistas de destaque, entre as quais o segundo lugar na competição Shell 8, em que, pela primeira, vez chegou ao pódio. Nos escalões de formação, a secção também conta com bons resultados. O atleta Tomé Perdigão domina por completo o Skiff júnior. O presidente, Ruben Leite, diz que o sucesso da secção passa por “uma aposta na formação” e por “elevar o nome da Académica”. Até ao fim o objectivo passa por “manter o primeiro lugar e a equipa como número um do remo nacional”, acrescenta.

Futebol Título distrital de bolso “Correu muito bem”. É com entusiasmo que Rui Pita, atleta e presidente da secção de futebol da Académica, classifica esta temporada. A equipa alcançou o primeiro lugar da I Divisão Distrital e garantiu a subida à Divisão de Honra da Associação de Futebol de Coimbra (AFC). Segundo Rui Pita, a equipa técnica “foi uma mais-valia porque já conhecia e plantel”, o que tornou a equipa “mais forte e coerente”. A AAC chegou ainda aos quartos de final da Taça da AFC. Para a próxima época o principal objectivo é a “manutenção na Divisão de Honra” afirma o Rui Pita, que também quer vencer o campeonato de futebol da Federação Académica do Desporto Universitário.

Ginástica 45.º aniversário cheio de títulos A comemorar 45 anos, a secção de ginástica conseguiu “evoluir nas suas três modalidades [acrobática, tumbling e trampolim]”, como considera a presidente, Vânia Henriques. “Conseguimos mais do dobro dos títulos do ano passado”, estima. Com pódios em trampolins, ginástica acrobática, nas equipas femininas e mistas de TeamGym e nos campeonatos de trampolim e de duplo mini trampolim, Vânia Henriques justifica o sucesso com “o nível dos treinadores, trabalho intenso e um investimento em material que rondou os 30 mil euros”. Para o futuro, a secção pretende “conseguir um pavilhão de ginástica ou um outro espaço físico”.

Halterofilismo Sem competição, mas “de portas abertas” O halterofilismo esteve parado cerca de quatro anos, devido à extinção da federação nacional. Há dois, os clubes associaram-se juntamente com os apoios da federação mundial e a actividade foi retomada. No entanto, o calendário nacional deste ano está interditado porque não há mulheres. Sem competição, a secção apenas mantém a vertente da manutenção com cerca de 12 atletas, enquanto que outros desistiram. “Estamos de portas abertas para treinar e prestamos apoio a outras secções, emprestando o nosso espaço”, relata o responsável pela secção, Alexandre Brás.

Patinagem Os desafios da segunda divisão A equipa sénior masculina de Hóquei em Patins conseguiu subir à 2.ª divisão nacional. O director desportivo da secção, Joaquim Nogueira, justifica o sucesso com “o trabalho que é feito nos escalões de formação”. Para o ano

novos desafios se avizinham “são necessários maiores apoios para competir na 2.ª divisão”. As despesas são maiores e as deslocações mais longas. O segredo para a manutenção passa, segundo o dirigente, por “muito trabalho e pela procura de novos apoios que possam melhorar as condições da secção e da equipa”.

Judo A caminho da Europa A AAC conseguiu o terceiro lugar no Campeonato Nacional de Equipas Seniores Masculinos, a prova por equipas mais importante do escalão principal. Segundo o presidente da secção de judo, Rui Fonseca, este “é um resultado histórico, que já não era conseguido há 20 anos”. A nível individual, a secção também alcançou bons resultados. Luís Mendes sagrou-se campeão nacional de esperanças e conquistou diversas medalhas em torneios do circuito europeu. Já Pedro Gonçalves e Nuno Silva sagraram-se campeões nacionais de Katas. O próximo ano traz novos desafios fruto do bronze alcançado: a Académica prepara-se para participar na Liga Europeia de Clubes pela primeira vez na história.

Lutas Amadoras Ganhar a última prova Para além da já habitual luta greco-romana, as lutas amadoras participaram nas chamadas lutas agarradas. Até agora ainda não há nenhum resultado que se possa realçar, mas o presidente da secção, Miguel Silva, está confiante para a última prova, onde espera que os atletas “estejam na máxima força”. Miguel Silva entende que a grande dificuldade passa por arranjar atletas “que queiram entrar para a secção, para a vertente competitiva e não só para fazer manutenção”. Por isso, um dos grandes objectivos “é o recrutamento de atletas para a competição”.

Karaté Camadas jovens dão frutos O karaté da AAC está mais direccionado aos jovens e é com eles que tem chegado ao pódio. Nos campeonatos regionais foram os infantis e os juvenis que alcançaram os primeiros lugares. Os cadetes e juniores conseguiram apurar três atletas para o campeonato nacional. Segundo o treinador, José Arlindo, estes lugares são possíveis devido ao “trabalho que tem sido desenvolvido com as camadas jovens e que tem dado frutos”. O facto de terem um espaço próprio no Estádio Universitário também ajuda aos resultados. Para o próximo ano, a secção quer participar no campeonato regional da federação para “apurar atletas para o campeonato nacional” e também na Liga de Karaté Shokotan em que apenas participam cadetes e juniores.

Natação Competição vai a meio A conquista do Campeonato Nacional de Masters pela Académica é, até agora, “o ponto alto da temporada”, nas palavras do coordenador-geral da secção de natação, Miguel Abrantes. A época ainda vai a meio, mas, até ao momento, a


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DESPORTO

AAC já conseguiu “resultados de pódio nacional nos vários escalões de competição”. A nível regional, as equipas de absolutos e as de infantis são vice-campeãs. A par dos triunfos, a secção de natação organizou o II Meeting da Cidade de Coimbra, que, segundo o responsável, “foi considerado o melhor torneio internacional em Portugal”. No pólo aquático, que retomou a actividade há três anos, a AAC assegurou a participação nas fases de qualificação do campeonato nacional.

Pesca Desportiva 2009 como peixe dentro de água Está prestes a entrar na casa dos 30 anos, mas nem só de “experiência acumulada” vive a secção de pesca desportiva. Os regionais ainda vão a meio, mas 2009 “já está a ser melhor” do que o ano passado. Luís Monteiro alcançou o título de vicecampeão no campeonato regional da 2.ª divisão. Um resultado “meritório e interessante” deste atleta de 20 anos que apenas falhou o primeiro lugar por um ponto, lembra o treinador e presidente da secção, Belisário Borges. Também Rui Fernandes conseguiu um bom resultado, ao subir à primeira regional. Só os campeonatos de clubes “não correram assim tão bem”. Até à Taça da Associação, há ainda quatro meses de trabalho pela frente. Tudo em aberto e o tudo por tudo “para que quem está a representar a Académica consiga o melhor resultado”.

Radiomodelismo Boas possibilidades Também no radiomodelismo a época ainda vai a meio e só termina em Novembro, mas, como refere o presidente, Luís Vaz de Carvalho, “vários pilotos da Académica encontram-se nos primeiros lugares e têm boas possibilidades para os campeonatos”. No Campeonato Nacional de 1/5 Pista, Gonçalo Almeida lidera com 360 pontos. No nacional de 1/8 TT, Miguel Matias, campeão nacional no ano passado, encontra-se no segundo lugar. Nem

tudo corre da melhor maneira e Miguel Matias é o primeiro a admitir a “falta de praticantes que, neste momento, se nota na secção e a nível nacional”. No entanto, a Académica conta ainda com 20 atletas em competição.

Rugby De volta aos melhores A Académica sagrou-se campeã nacional de 1.ª Divisão, garantido assim a subida à Divisão de Honra, principal escalão nacional da modalidade. Num ano em que a secção de rugby “alcançou todos os objectivos definidos no início da época”, como considera o presidente Jaime Carvalho, a equipa conseguiu ainda o terceiro lugar no Campeonato Nacional de Seven´s. Para o ano as expectativas são elevadas e Jaime Carvalho coloca a fasquia “nos quatro primeiros lugares para garantir acesso à final four”.

Taekwondo Apostar nos mais novos A secção conseguiu pódios em várias categorias e organizou o Torneio Queima das Fitas, com alguns atletas a conseguir boas prestações. A atleta Sílvia Costa foi convocada para competir pela selecção nacional no Torneio Internacional do Seixal e de Ourense, onde conseguiu o segundo e terceiro lugar, respectivamente. Para o vice-presidente e treinador, Carlos Barradas, esta temporada “fez uma grande aposta nas crianças”. Todos os resultados, diz, devem-se “à motivação e confiança dos atletas”. O treinador afirma ainda que, na próxima época, vai “apostar no desporto universitário” e também “nas crianças, porque elas são o futuro”.

Ténis Atenções viradas para 2010 A equipa sénior masculina da Académica garantiu a presença na primeira divisão nacional para a próxima temporada, depois de ter vencido o Campeonato Nacional da Segunda Divisão. A equipa feminina conseguiu revalidar o título nacional no primeiro escalão. “Quando há qualidade e trabalho, os resulta-

dos acabam por surgir”, defende o presidente, Tiago Fidalgo. Para divulgar a modalidade pela cidade, a secção está “a negociar protocolos de colaboração com escolas primárias e do ensino básico”. O Campeonato Europeu de Ténis Universitário é o grande projecto para 2010. Devido às obras no Estádio Universitário, a secção não vai organizar o Campeonato da Europa Coimbra University Ladies Open, este ano.

Tiro com Arco Em competição até Novembro “Os resultados não são definitivos”, porque a época ainda não terminou, mas o tiro com arco tem, neste momento, atletas colocados nos três primeiros lugares. Segundo o presidente, Adamo Caetano, são classificações para “melhorar ou pelo menos manter”. As competições só acabam em Novembro e até lá os atletas têm de se deslocar a Cernache, onde um dos sócios da secção conseguiu um campo para os treinos de Tiro de Campo. Esta é a principal dificuldade da secção, que não tem espaços para treinar as principais modalidades: Tiro de Caça e Tiro de Campo. Outra das dificuldades apontadas pelo presidente é a “falta de dinheiro para adquirir material”. Até ao final da época, a secção participa ainda no Campeonato de Besta.

Voleibol Perspectivas de futuro Com a manutenção na Divisão A2 assegurada e “os objectivos para esta época cumpridos”, tanto nos masculinos como nos femininos, o presidente da secção, Manuel Leal, já pensa no próximo ano. São esperadas novidades nas equipas de voleibol para a próxima época e a estratégia passa por “fazer protocolos com varias entidades, nomeadamente a reitoria da universidade e a câmara, para conseguir trazer para Coimbra atletas

pré-universitários ou universitários com estatuto internacional”.

Xadrez A preparar a 1.ª divisão As equipas da AAC já terminaram a participação na segunda divisão e na terceira divisão. A Académica III ficou em sétimo lugar na série C do terceiro escalão, enquanto que a Académica II ficou no terceiro posto na série B da segunda divisão. A I Divisão tem início marcado para dia 1 de Agosto. “Não lutamos para ganhar, porque isso acarreta gastar bastante dinheiro e não temos vantagem nenhuma”, antevê o presidente da secção de xadrez, Bruno Pais. No entanto, já está a ser definido um projecto para a próxima temporada. O responsável adianta que vão chegar “jogadores de muitas partes do mundo para ganhar mesmo a primeira divisão e ir à Liga dos Campeões”.

Desporto Universitário O triunfo vindo de Bristol Nas provas universitárias deste ano, destaca-se o título nacional em futsal masculino e em rugby seven’s masculino e feminino, o segundo lugar de José Silva em badminton e o terceiro lugar em voleibol de praia.Lá fora, a grande conquista foi o segundo lugar alcançado em Bristol pela equipa masculina de rugby seven’s no europeu. A feminina, que nunca tinha entrado a jogar junta, conseguiu uma vitória. Para o próximo ano, Coimbra recebe a prova europeia de ténis e já se fazem os primeiros contactos. “Os campos têm de ser requalificados, mas, para já, o trabalho que está a ser feito é de gabinete”, afirma o coordenadorgeral do desporto da Direcção-Geral da AAC, Rafael Ferreira. Com Pedro Crisóstomo e Cláudia Teixeira

COMENTÁRIO A TRILHAR A DIRECÇÃO CORRECTA Na hora de recuperar todos os resultados da temporada, de recordar tudo o que foi feito fora das quatro linhas e de lembrar os desafios que se avizinham, evoco uma frase do jornalista americano Heywood Broun: “Os desportos não constroem o carácter. Revelam-no”. E o carácter da Académica não se faz de milhões, mas de tostões, com os atletas muitas das vezes a correr por amor à camisola. Este foi um ano feito de vitórias. A surpreendente prestação da Académica na Liga Portuguesa de Basquetebol, a subida da equipa de ténis da Académica à I Divisão, o regresso da formação de rugby à Divisão de Honra para a próxima temporada, a promoção da equipa de futebol à Divisão de Honra, o vice-campeonato europeu da equipa universitária de rugby seven’s louvam mais uma época desportiva. Tais triunfos só mostram que na hora de jogar a qualidade das equipas não se mede pelos

O CARÁCTER DA ACADÉMICA NÃO SE FAZ DE MILHÕES, MAS DE TOSTÕES orçamentos, mas que o brio e a dedicação também têm uma palavra a dizer. Na hora de perder, as equipas da AAC fazem-no com a mesma dignidade e muitas são as formações que nem querem a vitória e consentem a derrota, porque subir de escalão, sem um projecto sustentado e consistente, não traz qualquer vantagem, como o caso do xadrez e do hóquei. Mas, independentemente das vitórias e derrotas dentro de campo, fora dele há gente a remar na direcção correcta: a inauguração do Campo Santa Cruz, que deu mais um espaço de treino a algumas secções; a adopção do estatuto atleta-estudante, que era uma antiga reivindicação e que veio revalorizar a prática desportiva dos estudantes; e a aprovação de uma pró-secção de bilhar, que mostra que o leque de modalidades dentro da AAC pode continuar a expandir-se. As vitórias também acarretam desafios. E o próximo será pensar na construção de um pavilhão que sirva as secções desportivas e na requalificação do velhinho Estádio Universitário, que, no próximo ano, vai acolher o Campeonato Europeu Universitário de Ténis. Mas o que for feito, que seja bem feito e que não seja só para esse campeonato, mas que seja também uma boa oportunidade para o estádio, para a cidade e para o desporto. Catarina Domingos Editora de Desporto


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TEMA

CRENÇAS DE UMA CIDADE D.R.

m Julho deste ano, surgiu uma nova paróquia em Coimbra. A Igreja de São João Baptista tornou-se no novo local de culto para a comunidade cristã. Mas, apesar de Coimbra ser uma cidade católica por excelência, são várias as religiões e comunidades que existem na cidade, que contam com um grande número de fiéis. É no bairro de Santa Apolónia, em Eiras, que encontramos a mesquita muçulmana. Localizada na cave de um prédio habitacional, passa despercebida aos olhares mais comuns. De acordo com a muçulmana Arcénia Chale, esta mesquita existe há cerca de 20 anos e é muito procurada. “Existem muitos crentes, até porque é o único local de culto aqui”, refere. Somos recebidos por um crente. Traz nas mãos uma touca branca bordada em linho. Antes de iniciarem as cinco rezas do dia, os muçulmanos têm de realizar uma lavagem – a Wudu – para limpar algumas partes do corpo e que serve de purificação. Segundo Arcénia Chale, “todo o crente tem de estar puro quando entra numa mesquita, por isso realiza esta lavagem. Se for uma mulher, há que ter ainda o cuidado com a roupa interior. Se estiver menstruada, a mulher não entra no local de culto, porque é algo considerado impuro”, afirma. Após a lavagem, e envergando vestes brancas, os crentes deixam os sapatos à entrada da mesquita. Existe um altar, onde se encontra o Imam, o responsável pelo seguimento das orações. De acordo com Arcénia, “todos seguem o Imam e rezam em conjunto. Podemos fazê-lo em casa, mas o lugar sagrado é mesmo a mesquita, onde se privilegia o contacto com as pessoas, a religião e Alá”, sublinha. Antes de entrar, um dos crentes inicia a Azan, o chamamento para a oração, em voz alta. Cerca de sete homens dispõem-se em fila diante do altar, descalços. Baixam-se, le-

E

Igreja Ortodoxa A Igreja Ortodoxa está fundamentada no credo de Niceia-Constantinopla, que enuncia as diferenças entre a Igreja Ortodoxa e a Católico-Romana. Apesar das mutações culturais, linguísticas e rit-

vantam-se, sempre voltados para Meca, mais próximos do seu Deus. Também no bairro de Santa Apolónia existe uma outra comunidade, mas desta vez ligada ao catolicismo. A Igreja do Nazareno existe há cerca de 14 anos e, segundo o seu ministro local, Marco Carvalho, “surgiu a partir de uma irmã que veio de África e que decidiu iniciar a igreja na sua própria casa”. A partir daí, a comunidade foi crescendo, tendo o primeiro culto evangélico sido realizado na escola primária do bairro. A Igreja do Nazareno parte do catolicismo, mas apresenta algumas diferenças ao nível de liturgia e de culto. Segundo Marco

A lavagem é um ritual obrigatório antes de qualquer reza islâmica Carvalho, é uma crença “que vem dos apóstolos. É uma Igreja Católica Apostólica Não Romana”. Acreditam que a salvação decorre da fé e não das obras. Também com ligações à religião católica existe a Igreja Ortodoxa, tendo a primeira paróquia surgido em Coimbra nos finais da década de 70. Para o bispo Damasceno Ribeiro, “na altura da fundação das primeiras comunidades, a Igreja Ortodoxa era inteiramente desconhecida, tendo a reputação de uma seita ou de ligações ao comunismo”. Hoje, a situação é diferente. “Todo o género de reacções ou ideias préconcebidas tornou-se algo raro ou mesmo extinto”, explica. Actualmente com cerca de dois mil fiéis

uais que se foram acentuando ao longo dos séculos, as raízes históricas e espirituais da Igreja Católica Ortodoxa e da Igreja Católica Romana são comuns. As Sagradas Escrituras são quase iguais, com as principais diferenças a existir ao nível da interpretação, tendo o calendário litúrgico uma estrutura similar à da Igreja Católica. De resto, a veneração da Virgem Maria, a santos e a crença em dogmas como o Espírito Santo, a existência de apenas um Deus, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo são algumas das marcas desta Igreja.

portugueses em Coimbra, fora os imigrantes de Leste, a Igreja Ortodoxa espera crescer ainda mais em Portugal. “Temos a esperança de poder suprimir algumas deficiências estruturantes, contando com o apoio das autarquias. Uma vez erguidas mais paróquias ortodoxas, é algo que constitui uma mais-valia para a sociedade”, considera o bispo. “Nós, se pudéssemos, não teríamos o rótulo de igreja, pois chamamos a isto a casa de Deus”. É desta forma que o bispo Robson Gomes, da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), fala da comunidade que tem vários locais de culto, não só em Portugal como em todo o mundo. Em Coimbra, a IURD tem dois centros de oração, onde é seguida por cerca de 400 fiéis. No entender de Robson Gomes, a finalidade da IURD é “pregar a palavra de Deus”. “A pessoa crê naquela palavra e tende a expulsar o pessimismo e o negativismo. Começa a acreditar na sua saúde e na sua qualidade de vida. Queremos levar essas pessoas à salvação eterna”, defende. A IURD assume-se como um local de culto onde a Bíblia é ouvida e ensinada a todos os que necessitem de ajuda. “Todas as pessoas de todas as religiões podem entrar e ouvir a palavra. A base do nosso ensinamento é o meio de reflexão, em que Jesus é o caminho, a verdade e a vida”, explica Robson Gomes. Outra das diferenças face ao catolicismo está na imagem de Jesus Cristo. A IURD não usa qualquer imagem de Jesus pregado na cruz. Ao invés, apresenta no altar uma cruz simples e o nome. “Se pegarmos na Bíblia, lemos que o próprio Deus condena a imagem. É por isso que não temos qualquer representação, porque Ele morreu e ressuscitou, está vivo até hoje”, explica o bispo. Numa linha completamente diferente encontra-se a União Budista Portuguesa, que tem uma comuni-

Islamismo Meca – cidade natal de Maomé – é tida como o local mais importante da religião com o maior número de fiéis no mundo. A história do Islão é composta por vários profetas, de entre os quais Adão e Jesus Cristo,

Budismo

dia, desde a madrugada até à noite, sempre em direcção a Meca.

Não sendo propriamente uma religião nem uma filosofia, este “tipo de ciência” baseado nos ensinamentos de Siddhartha – que procurava atingir o estado de buda, para ajudar os outros – faz a apologia da felicidade, da


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TEMA

Embora em Coimbra o catolicismo assuma o papel principal, as migrações e a globalização têm provocado o acolhimento de várias religiões, cada uma com rituais demonstrativos da sua espiritualidade. Por Tiago Carvalho, Andreia Silva e Camilo Soldado LEANDRO ROLIM

ANDREIA SILVA

dade amadora em Coimbra criada há cerca de um ano. Na opinião da praticante Cláudia Quintans, “o budismo não é uma religião, mas sim uma maneira de viver e um método prático para examinar a experiência, os actos e as reacções das pessoas. Deste modo, promove-se a felicidade e evitam-se situações de ansiedade ou medo”. O grupo de sete pessoas medita na Secção de Yoga da Associação Académica de Coimbra (AAC) todas as quartasfeiras. Sentados no chão e com a ajuda de um livro de orações, o objectivo é treinar a mente, para serem e estarem mais felizes.

texto do Vaticano, considerou “a rejeição da união com Deus um dos fenómenos mais graves do nosso tempo, devendo ser objecto de um exame sério”. Confrontado com estas afirmações, Carlos Esperança considera que D. João Alves “parte do seu legítimo direito de opinião”, apesar de achar que “os ateus também têm o direito à existência”. O presidente da AAP criticou ainda as Igrejas, dizendo que “convivem mal com a liberdade e com o pluralismo. Há uma tendência de considerarem infiéis, todos aqueles que não sejam da própria religião”.

Sinal de novos tempos Os que não crêem em nenhum Deus Em Coimbra existe também um grupo de descrentes em qualquer entidade divina. A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) surgiu não só com o objectivo de “apagar o preconceito que existe face ao ateísmo”, como também de “defender a laicidade do Estado”, como esclarece o presidente, Carlos Esperança. Apesar disto, este afirma que não pretendem espalhar o ateísmo, apenas fazer com que “haja liberdade religiosa, liberdade de não ser religioso e até liberdade de ser religioso.” A AAP não combate “o direito à religiosidade, mas sim o que são as mentiras da religião”, afirma o responsável. Carlos Esperança diz que “há um decréscimo de pessoas que são religiosas praticantes”, mas, apesar disso e do magro número de associados, defende que a AAP se move mais “pela defesa de princípios”. Num artigo de opinião publicado no Diário de Coimbra, o bispo emérito de Coimbra, D. João Alves, expressou o seu ponto de vista sobre o ateísmo. Citando um

TIAGO CARVALHO

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serenidade e da ajuda, para evitar coisas que promovam a ansiedade e o medo. Esta maneira de viver compreende os actos passados como a causa do sofrimento, reconhecendo que existem determinadas causas e que ele pode acabar através de um caminho que conduz ao abandono dos comportamentos que o produzem, bem como através de acções que produzem actos positivos. O budismo praticado em Coimbra é o tibetano, que possui quatro interpretações diferentes: a Nyingma, Gelug, Kagyo e Sakya.

IURD Fundada pelo bispo Edir Macedo em 1977, a Igreja Universal do Reino de Deus teve origem no Brasil, estando actualmente representada em todos os continentes. Esta comunidade baseia as suas crenças na

ressurreição de Jesus Cristo, na vida eterna, no pagamento do dízimo (oferta de uma certa quantia monetária, considerado algo sagrado) e ainda na cura divina (“curar os enfermos e expulsar os demónios”). A IURD considera Deus como a única entidade superior, rejeitando toda e qualquer imagem. Por isso, não venera os santos da Igreja Católica, não existindo qualquer representação figurativa nos locais de culto. O objectivo principal da comunidade é ajudar pessoas que tenham problemas pessoais, através das leituras da Biblia e da oração.

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A mistura entre religiões é cada vez mais comum nas sociedades actuais, em que os movimentos migratórios e a globalização ajudam a uma coexistência de culturas. O presidente do Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar de Coimbra, Jorge Cotovio, defende “ser importante essa diversidade de oferta para as pessoas, porque cada uma tem em comum a procura de um ser transcendente e essa é uma dimensão importante da pessoa que deve ser considerada”. O bispo ortodoxo Damasceno Ribeiro considera que Portugal é um país afortunado nesse aspecto, por ter “um sentido elevado de tolerância, talvez mais do que qualquer outro país europeu”. Jorge Cotovio pensa que a existência de uma diversidade de religiões na cidade de Coimbra é uma novidade, “algo que está na moda”. “Pode também significar que as pessoas em tempos de crise ficam mais abertas ao transcendente e ao esotérico, mas também é um padrão que veio para ficar”, finaliza.

Ícone ortodoxo da Rainha Santa Isabel Mesquita muçulmana em Santa Apolónia Local do culto da oração da IURD Meditação budista na Secção de Yoga da AAC

Igreja do Nazareno A Igreja do Nazareno considerase “uma família cristã multi-cultural, de tradição armínio-wesleyana”, ou seja, baseia-se na doutrina do “crescimento espiritual, gradual rumo à semelhança de Cristo”, re-

conhecendo a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Apoiada nas escrituras do Antigo e do Novo Testamento, esta religião foi-se construindo durante a Reforma Protestante do século XVI, para se afirmar no século XVIII impulsionada pelo britânico John Wesley. Apesar de coincidirem em alguns pontos, a “salvação pela fé e não pelas obras”, a liturgia, o culto e a ausência de dogmas, são alguns dos pontos que distingue a Igreja do Nazareno da Católica.


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CIDADE

CORRIDA À CÂMARA DE COIMBRA

Os candidatos respondem A três meses das eleições autárquicas, os candidatos à Câmara Municipal de Coimbra apresentam as primeiras ideias para os próximos quatro anos. Primeiro, A CABRA foi saber o que os conimbricenses esperam que a autarquia melhore na cidade. Por Maria Eduarda Eloy São sete os candidatos que se perfilam para as eleições à Câmara Municipal de Coimbra (CMC), a 11 de Outubro. Depois de ouvirmos 30 conimbricenses, de ambos os sexos e diferentes

idades e profissões, desafiámos os candidatos a falar sobre os principais problemas que preocupam os cidadãos. Álvaro Maia Seco, Carlos Encarnação, Carlos Faria, Catarina Martins, Francisco Queirós,

Horácio Pina Prata e Vítor Ramalho falam sobre a insegurança, o viaduto do Choupal, os espaços verdes, a rede de transportes, a desertificação da Baixa, a crise do pequeno comércio e a ineficiência

dos serviços de limpeza. O Movimento Esperança Portugal, o Movimento Partido da Terra, o Partido Humanista e o Partido Operário de Unidade Socialista confirmam que não vão apresen-

tar lista concorrente à autarquia. Contactado pel'A CABRA, o Movimento Mérito e Sociedade não deu qualquer resposta até ao fecho da edição. Com Andreia Silva

Uma escolha difícil Após um longo processo, em que a decisão dos elementos da Federação Distrital do Partido Socialista de Coimbra e da Comissão Política Concelhia foi essencial, o presidente da Metro Mondego, Álvaro Maia Seco, foi escolhido como representante do Partido Socialista (PS) na corrida à CMC, a 5 de Julho. Até ao fecho da edição, foi impossível entrar em contacto com Maia Seco. Recusando sobrepor-se aos projectos do candidato, o presidente da Federação Distrital do

PS de Coimbra, Victor Baptista, fala pelo partido que representa e assume que o “primeiro projecto é ganhar as eleições ao dr. Carlos Encarnação”. Acredita também que quem for presidente da CMC “tem de resolver imediatamente a questão da Baixa e o problema dos comerciantes”, no que respeita à desertificação daquele espaço. Quando questionado acerca do sentimento de insegurança na Baixa, o vereador do PS afirma que “há matérias mais importan-

tes para a cidade” e que as pessoas têm de se “habituar a conviver com situações mais delicadas”. Mas declara que para resolver esse problema, o “que é preciso é recuperar todo aquele património e habitações”, para ali colocar pessoas a viver. Em relação ao Choupal, Victor Baptista admite que a passagem do troço do IC2 vai afectar “uma zona menor, que pode ser devidamente preservada e para a qual há estudos de impacte ambiental” que confirmam que o problema é

inexistente. Na opinião do deputado, a maior ameaça que afecta a mata do Choupal foi criada “com as obras do rebaixamento do rio Mondego”, porque “a água deixou de chegar ao Choupal e as árvores estão a morrer”.

“Moldar as soluções de acordo com as áreas da cidade” O actual presidente da CMC candidata-se àquele que será o seu terceiro e último mandato, se vencer as eleições pela coligação Partido Social Democrata/Partido Popular/Partido Popular Monárquico. Carlos Encarnação considera que “de certeza

que não vai ser prejudicado na campanha eleitoral” pelo facto de ter sido constituído arguido no processo do arrendamento ilícito do antigo prédio dos CTT. Sobre esse ponto, a autarca argumenta “não ser verdade que alguém tenha sido beneficiado com isso”. De entre os projectos em curso neste mandato, aos quais pretende dar continuidade, estão a ser ultimadas as obras que vão permitir a instalação das câmaras de vigilância na Baixa. Mas o candidato social-democrata frisa que “a PSP é que tem a

competência da segurança e não a câmara”, sendo que a única intervenção que esta pode ter é “um contributo adicional”. No que respeita às queixas de desertificação da Baixa por parte dos comerciantes da área e do Mercado D. Pedro V, Encarnação pretende “moldar as soluções de acordo com as áreas da cidade” e afirma que o projecto da Sociedade de Reabilitação Urbana para o Centro Histórico “é absolutamente fundamental”. Afirma também que “sem o metro rápido de superfície não é possível re-

“Resolver as lacunas apresentadas pelo povo” Será com uma “política completamente nova” que o candidato do Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses/Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (PCTP/MRPP), Carlos Faria, se apresenta à CMC. Para o partido, o desemprego apresenta-se como a questão central. “Coimbra tem potencialidades para ir para a frente nesse aspecto. É fundamental apostar nas energias e na inovação, e a Universidade de Coimbra tem capacidade para isso”, afirma Carlos Faria.

O candidato fala da questão do Choupal como “uma disciplina para beneficiar os ‘patos bravos’”, algo de que ouve falar há oito anos. “O pulmão da cidade deveria ser o Choupal. Se durante este tempo o têm deixado morrer, abriram agora uma justa causa”, aponta. Relativamente à questão da requalificação da Baixa, Carlos Faria considera que a criação de “condições de igualdade em termos de abertura e de fecho de estabelecimentos” ajuda ao fomento do pequeno comércio. Para o candidato, a abertura das

grandes superfícies ao fim-desemana representa “uma desigualdade de direitos relativamente aos pequenos comerciantes”, já que face ao maior tempo de exposição dos centros comerciais “o comércio tradicional não consegue competir”, garante. A insegurança dessa zona da cidade é outro dos problemas levantados, na qual a polícia municipal é acusada de se dedicar mais à fiscalização do estacionamento do que à vigilância das ruas. Apostar numa cidade mais limpa e mais cultural, “com espectáculos a

custo reduzido”, são também outros projectos pensados para uma candidatura que se afirma pronta a trabalhar “para resolver as lacunas apresentadas pelo povo”, remata Carlos Faria. Nota Editorial: Contactado pel’A CABRA, o PCTP/MRPP apenas fez saber que Carlos Faria era candidato à CMC a 5 de Julho. Por não se encontrar na cidade até ao fecho da edição, vimo-nos impossibilitados de obter uma fotografia.

solver o problema da Baixa” e que, apesar de ter “datas comprometidas”, os prazos estão a sofrer atrasos de seis meses. Sobre o Choupal, Encarnação declara que tenta “minimizar o mais possível os efeitos” da passagem do IC2 e do TGV pela mata, sendo que durante o seu mandato acrescentou “mais 20 hectares de espaços verdes” à cidade. Quanto à empregabilidade, o autarca admite que além do iParque, “a câmara não se pode entreter com mais coisas”.


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CIDADE

“Devolver a cidade às pessoas” A candidata do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, aposta em “devolver a cidade às pessoas”. A docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra acredita que a “construção

exagerada” é o principal problema de gestão da cidade e a causa de vários problemas, como a poluição. A expansão de Coimbra para a periferia “obriga as pessoas a deslocarem-se diariamente, portanto, ambientalmente é uma catástrofe”, conclui. Para Catarina Martins, o troço do IC2 que irá substituir cerca de cinco por cento da área da mata do Choupal “é inaceitável”. “Vamos ter um viaduto a separar a cidade daquela mata”, onde “ vão passar cerca de 100 mil veículos por dia, o que, em emissões de

gases poluentes e ruído, vai afectar inevitavelmente toda a flora e a fauna”, revela. Uma das medidas que Catarina Martins pretende implementar, caso ganhe as eleições, é o Orçamento Participativo: “uma forma de gestão em que a câmara disponibiliza parte do orçamento” à população para a deliberação de projectos que considerem essenciais à cidade. A defesa, a promoção de zonas verdes e a aposta em “novas modalidades de transporte muito mais ecológicas, com com-

para aquilo que é importante, que é o lazer e a família”, defende. No que respeita à limpeza da cidade, o candidato crê “que não é um problema dos mais graves, neste momento” e, em relação à segurança, Francisco Queirós considera que Coimbra “não será das cidades com maiores problemas nesse campo”, mas admite que “a segurança é muito preocupante em zonas como a Baixa”. Na sua opinião, o sentimento de insegurança encontra-se “interligado com a questão do abandono do comércio

tradicional”, pelo que será importante “atrair pessoas para a Baixa” e implementar “políticas de incentivo ao comércio”.

bustíveis não poluentes” serão também projectos a realizar. Catarina Martins afirma que o centro histórico é uma das preocupações centrais do BE, no “sentido da sua reabilitação”, porque “dando vida à Baixa não existe um sentimento de insegurança”. O projecto do partido passa pela renovação dos edifícios e a “inclusão de habitação a custos controlados no centro histórico, para trazer famílias jovens e estudantes para a zona”, bem como pelo fomento da “dinamização cultural”.

“Reforço do papel das freguesias” As principais linhas do projecto do candidato da Coligação Democrática Unitária (CDU), Francisco Queirós, baseiam-se no “reforço do papel das freguesias”, através do aumento de verbas, e na “gestão participativa das populações”. Acredita que, “em algumas questões marcantes da cidade, as decisões foram tomadas à revelia das populações”. Francisco Queirós pretende alterar essa tendência e tornar a autarquia “mais próxima dos cidadãos”. Na área da Cultura, o candidato

da CDU entende que “é necessário que haja uma nova política” e, nesse âmbito, a coligação vai “propor a criação de um conselho consultivo” para a essa área, caso vença as eleições de 11 de Outubro. Francisco Queirós concorda com os cidadãos que se queixam da falta de transportes públicos para zonas mais periféricas de Coimbra. “Temos que ter mais transportes públicos e precisamos sobretudo de redes integradas, para que o cidadão possa mais facilmente deslocar-se pela cidade e ter mais tempo

“Reconstruir uma Coimbra eficaz” O antigo vice-presidente da CMC, Horácio Pina Prata, que se candidata como independente, define o seu projecto como “um imperativo d e

consciência” para “reconstruir uma Coimbra eficaz”. Pina Prata apoia o projecto iParque, que ajudou a lançar, considerando ser necessário atrair “investimento estrangeiro” para a área. A construção de um aeroporto para Coimbra é também uma prioridade na candidatura, algo que, no seu entender, constitui uma oportunidade para potenciar “o turismo e o negócio”. O candidato discorda da plataforma política criada para defesa de um aeroporto internacional na base de Monte Real, preferindo um “de natureza re-

gional, mas com um interface nacional”, com 300 metros de pista e seis milhões euros de investimento”. O apoio às iniciativas económicas na zona da Baixa é outro dos planos de Pina Prata para travar a desertificação. A recuperação urbana passa pela “reabilitação do património”, começando pelos edifícios públicos. Pina Prata pretende apoiar também a criação de “actividades de natureza nocturna”, como bares, para dar vida à Baixa e abrir a CMC aos sábados, para “actividades relacionadas com o atendimento à população”.

“Coimbra, actualmente, não oferece oportunidades nenhumas” É com uma candidatura “cautelosa” que o candidato do Partido Nacional Renovador (PNR), Vítor Ramalho, se apresenta à Câmara Municipal de Coimbra. Tudo porque afirma não gostar de promessas, “ao contrário dos partidos do sistema, que tudo prometem em altura de eleições e que depois nada cumprem”, acusa. O aumento da criminalidade, a questão do Choupal, a empregabilidade e a revitalização da Baixa são as questões centrais apresentadas pelo PNR à câmara.

Relativamente à construção do viaduto junto ao Choupal, que irá provocar o abate de algumas árvores, Vítor Ramalho confessa ser “um atentado ao ambiente, uma vergonha”. “O Choupal já se encontra votado ao abandono, e com esta situação irá piorar, ao ponto de qualquer dia já não existir mais”, alerta. Contrariar a desertificação da Baixa é uma das preocupações, para do candidato do PNR, que considera ser necessário “diminuir a influência das grandes su-

perfícies, recuperar os prédios, fazer espectáculos de rua e criar estacionamentos gratuitos para as pessoas que façam compras”. A criminalidade é outro dos aspectos apontados. “A videovigilância que vai ser instalada não resolve nada. A Baixa precisa de polícias que saiam das esquadras”, afirma o candidato. Quanto ao aumento da empregabilidade em Coimbra, Vítor Ramalho considera importante uma melhoria da ligação entre a universidade e a cidade. “Coimbra,

actualmente, não oferece oportunidades nenhumas”. “É necessário criar empresas, onde os estudantes possam fazer estágios durante o curso, o que ajudaria à criação de postos de trabalho”, sugere Vítor Ramalho.

Outros projectos de Pina Prata incluem a construção de um centro de congressos e espectáculos e a criação de uma “autoridade única de transportes” que coordene os SMTUC com o futuro Metro Mondego. Planeia ainda a orientação dos transportes públicos para uma “política de eficiência energética” que evite a duplicação de linhas e gastos excessivos de combustível e a melhoria dos espaços verdes, bem como a concretização do “silo” de estacionamento nos terrenos dos Hospitais da Universidade de Coimbra.


14 | a cabra | 7 de Julho de 2009 | Terça-feira

PAÍS & MUNDO

Quem quer ser voluntário D.R.

Reconhecimento, oferta formativa e satisfação pessoal mais importantes do que a “caridade” para o milhão e meio de portugueses que fazem voluntariado Bruno Monterroso Com as férias de Verão a chegar, as instituições que promovem o voluntariado têm as portas abertas a todos os que queiram ajudar. De acordo com um estudo da Universidade Católica Portuguesa, são cerca de 1,5 milhões os portugueses que fazem trabalho voluntário. Segundo o responsável pelo Gabinete de Juventude da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), Pedro Pina, “os estudantes universitários são 80 por cento” dos voluntários desta organização. A presidente da Associação de Amizade Portugal - Cuba, Armanda Fonseca, realça este interesse ao afirmar que “há muitos jovens interessados em participar”. Marta Pires é um exemplo da participação dos jovens no trabalho voluntário: “comecei aos 11 anos no Banco Alimentar Contra a Fome. Entretanto fui fazendo participações mais regulares”. Hoje, já a estudar na Universidade de Coimbra, na área da saúde, tem tentado que a experiência de voluntariado seja também coerente com a formação académica. Por que participam, então, os jovens? Segundo Pedro Pina, há inúmeras vantagens, como sejam a participação social, o reconhecimento, a gratidão, a oferta formativa e a satisfação pessoal. “Concebemos o voluntariado enquanto força de transformação so-

80 POR CENTO dos voluntários da Cruz Vermelha Portuguesa são universitários

cial e de participação cívica”. No que diz respeito à formação, Pina diz que a CVP “tenta ao máximo ir ao encontro das áreas de interesse dos voluntários e corresponder àquilo que são as expectativas”. Armanda Fonseca sublinha: “há amigos nossos que já têm uma obra feita, que voltam e que revêem a escola que construíram”. Para além disso, relembra que “as pessoas criam um ambiente de grande amizade e solidariedade que lhes toca muito”.

Uma experiência para toda a vida Para o responsável da CVP, o objectivo é que a experiência de voluntariado se repita. “Quando

entrevistamos e recrutamos voluntários, tentamos que o processo seja sistemático, respeitando sempre a disponibilidade do voluntário, que é, aliás, a regra de ouro”. Interessa sobretudo respeitar e manter as relações estabelecidas. E dá o exemplo da ocupação de tempos livres em bairros desfavorecidos: “aquelas crianças desde a primeira vez começam a estabelecer uma relação afectiva. Não faz sentido que na sessão seguinte sejam pessoas completamente diferentes”. Armanda Fonseca concorda que, por norma, a experiência é repetida, pelo menos na associação a que pertence: “anualmente há dois ou três grupos de voluntários que vão prestar o seu

apoio solidário a Cuba e é isso que fazemos há 30 anos” Quem gostaria de voltar a fazer voluntariado é Catarina Guerra. Educadora de infância em 1991, altura em que esteve três meses na Roménia, viveu uma das experiências “mais incríveis” da sua vida. Actualmente professora do ensino básico, explica que desde aí não olha para as coisas da mesma maneira. “O valor dos bens materiais é muito relativo”, realça. Catarina refere ainda uma situação ocorrida pouco depois do fim da missão: “quando cheguei a Madrid a minha mãe e uma amiga resolveram levar-me ao 'El Corte Inglés'. Quando entrei fiquei horrorizada, senti que havia

demasiadas coisas”. Catarina relata outros episódios que a marcaram pela sua desumanidade: “junto do sítio onde trabalhávamos, havia camadas de dejectos secos no chão”. A visão de jovens a atirar comida para o chão e pessoas de gatas para se alimentarem, “como se fossem cães”, é outra das imagens que ainda relembra. Apesar do esforço e da dedicação dos envolvidos, há sempre trabalho a fazer. Armanda Fonseca é da opinião de que “se deve informar e despertar as pessoas”, explicando isso mesmo. “Há muito que podemos fazer, ensinando, construindo, e é importante que as pessoas apoiem e ajudem os outros”.

ANA BELA FERREIRA / ARQUIVO

Barroso mais longe da reeleição Depois das eleições europeias e com um referendo irlandês iminente, trava-se a batalha pelo próximo presidente da Comissão Europeia Rui Miguel Pereira As contas voltaram a complicar a vida a Durão Barroso e o ponto de viragem europeu volta a ser o referendo irlandês. Após a consulta de todos os grupos parlamentares europeus, o presidente do Conselho da União Europeia, Frederik Reinfeld, viu-se confrontado pela posição desfavorável dos grupos socialista, verdes, liberal e da esquerda europeia para a eleição de um novo presidente da comissão antes do referendo irlandês. A decisão de Reinfield mostra o complicado entendimento dentro da União Europeia (UE), como explica a especialista do Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais (IEEI),

Rosário de Moraes Vaz: “aquilo que há um mês era certo, dada a posição [favorável] dos estados e a composição do Parlamento Europeu (PE), hoje já não é”. Contudo, e até à data, o antigo primeiro-ministro português é o único nome avançado.

Pressa para a eleição Líderes como a chanceler alemã, Angela Merkel, e o próprio primeiroministro da Suécia, que agora preside ao conselho, insistiram várias vezes ao longo do último mês na necessidade de uma resolução para esta questão já em Julho. Ou seja, bem a tempo de evitar a “ginástica de anca” parlamentar a que o Tratado de Lisboa obriga, isto se aprovado no referendo irlandês. Com o novo tratado, o

presidente da Comissão Europeia (CE) passa a necessitar de uma maioria qualificada e não de uma maioria simples, o que obriga a um consenso muito mais alargado para a reeleição de Barroso. Moraes Vaz conclui que esta eleição, depois de Julho, “está longe de ser certa”. A necessidade de alianças vai levar à negociação “em confronto” entre grupos parlamentares de lugares chave dentro da CE, o mesmo se aplica para a nova figura de Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança. A importância do referendo do Tratado de Lisboa na Irlanda volta a surgir depois de o primeiro-ministro do país, Brian Cowen, ter conseguido garantias de independência em ma-

térias essenciais para os irlandeses. Através de um protocolo, com força jurídica e paralelo ao tratado, permite-se aos irlandeses manter a autonomia em questões como a proibição do aborto, neutralidade militar e garantia de política fiscal; e permite-se à UE obter o tão esperado “Sim”.

Problemas para o presidente Os problemas, na perspectiva da especialista do IEEI, passam por uma maior “preocupação de aproximação da Europa aos cidadãos”. “Os resultados das últimas eleições mostram que apesar dos esforços a abstenção é alta”, alerta. Importa ainda refazer as medidas de resposta à crise económica que, segundo Moraes Vaz, “foram insuficientes”. Outro problema é o lugar da UE no mundo. A especialista acredita que a UE tem de assumir um papel credível na governação mundial.


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CIÊNCIA & TECNOLOGIA CHEGADA À LUA FOI HÁ 40 ANOS

Ciência contraria teorias da conspiração No aniversário da ida à Lua, há ainda quem levante suspeitas sobre o que aconteceu em 1969. Terá sido um “pequeno passo para o homem” ou um grande embuste para a humanidade? Diana Craveiro Sara São Miguel A 20 de Julho de 1969, Neil Armstrong tornou-se o primeiro homem a pisar a Lua. A promessa feita pelo presidente dos Estados Unidos da América (EUA), John F. Kennedy, num discurso em Maio de 1961, tinha-se finalmente concretizado. No entanto, quatro décadas depois, ainda surgem dúvidas quanto à veracidade desta odisseia espacial. É impossível falar da conquista espacial sem referir o confronto dos dois lados da história. Se, por um lado, há pessoas que não duvidam, por outro, a desconfiança de alguns levou à criação de teorias que contestam este feito, ao ponto de irritar os próprios astronautas. É o caso de Walter Cunningham – piloto da primeira missão tripulada a fazer testes para chegar à Lua, em 1968 –, que, quando confrontado com alguns 'factos' apresentados pelos defensores da teoria da encenação, foi acutilante na resposta que deu a A CABRA. “Que perda de tempo ridícula para um estudante universitário”, contrapôs por email. Os cépticos baseiam-se sobretudo em fotografias publicadas pela própria NASA (agência espacial norte-americana) e questionam detalhes invulgares. Todavia, a comunidade científica consegue explicar todos os supostos erros. A bandeira americana que aparece nas imagens é objecto de suspeitas, devido à sua aparente ondulação, uma vez que na Lua não há vento. O professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), Carlos Martins, evidencia que “a bandeira não está a tremer. Para além de estar presa ao mastro, também está presa a um suporte horizontal e não está completamente esticada”. “Comparando várias fotografias e filmes é fácil ver que a bandeira está sempre na mesma posição, sem qualquer oscilação”, sustenta. Outro dos argumentos frequentemente referido no discurso dos cépticos é a existência de sombras com direcções e tamanhos diferentes, quando a única fonte de luz é o Sol. O docente justifica

como sendo um “resultado óbvio do efeito de perspectiva e das pequenas elevações e vales da superfície lunar”. Os cépticos apontam ainda a impossibilidade de haver uma pegada no solo, devido à ausência de humidade. Nuno Vaz Santos, engenheiro da Critical Software – a única empresa portuguesa a trabalhar com a NASA – compara o solo lunar a plasticina. “Uma pessoa põe um pé e faz uma pegada porque destrói as ligações que há entre as partículas e então formase uma marca”, clarifica.

Dúvidas sobre a tecnologia A tecnologia existente na década de 60 é também posta em causa. O coordenador do Ano Internacional da Astronomia (AIA 2009), João Fernandes, tal como outros cientistas, nega o argumento, uma vez que “a NASA tinha um orçamento gigantesco e cerca de meio milhão de cientistas e engenheiros a trabalhar no projecto”. Carlos Martins admite, contudo, que nem toda a tecnologia usada era 'de ponta', já que “datava da Segunda Guerra Mundial ou dos anos 50”. A grande odisseia espacial pode ser relembrada através das imagens obtidas pela televisão e pelas pequenas máquinas de film a r instaladas

de rolos fotográficos Angel Buquerin revelou que “a película e a câmara foram fabricadas especialmente para a ocasião”. É ainda neste contexto que a ausência de estrelas nas fotografias da altura é justificada. “Para tirar uma fotografia às estrelas é preciso deixar a máquina em exposição, senão não há tempo necessário para que o negativo seja impresso”, clarifica o coordenador do AIA 2009. João Fernandes aplica o exemplo ao dia-a-dia: “se vocês pegarem numa máquina fotográfica à noite e a dispararem para o céu, garanto-vos que não vêem nada”.

Ida à Lua, “porque sim” Para os estudantes parece não haver dúvidas sobre a veracidade do feito americano. Ainda assim, na hora da justificação, o argumento resume-se a duas palavras: “porque sim”. Dos 12 inquiridos,

nenhum conseguiu explicar a sua convicção. Os poucos cépticos, como Emanuel Botelho, de Estudos Artísticos, e Ricardo Nobre, de Radiologia, põem em causa a tecnologia e o tempo de preparação da missão. Botelho aponta ainda como razões de uma possível encenação, “a tecnologia, que não era muito avançada” e o facto de os “EUA precisarem desesperadamente de ter alguma primeira vez no espaço”. No entanto, o estudante tem algumas reservas e está aberto aos dois lados da história. Para João Fernandes, não há dúvidas de que o homem foi à Lua. O clima vivido na década de 60, devido à Guerra Fria, não permitia que este feito fosse uma farsa. “Se tivesse sido realmente

uma fraude, com a espionagem e contra-espionagem que havia entre os dois blocos, era impossível que não se soubesse”, explica. O docente apresenta ainda três argumentos que considera inquestionáveis. “Quando o homem foi à Lua deixou lá ficar uns espelhos chamados retroreflectores”. Os espelhos foram colocados para ajudar a calcular a distância da Terra à Lua. “Da Terra são disparados lasers que batem nos reflectores e regressam. Se não houvesse lá nada, eles não voltavam”, acrescenta o coordenador do AIA 2009. A pedra lunar que se encontra exposta no Museu de Ciência da UC, até 24 de Julho, é outra das provas apontadas por João Fernandes, pois um robô só seria capaz de transportar gramas de pó. Para a farsa ser possível, seria necessário uma “conspiração a nível internacional”, o que considera “pouco credível”. O professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, Carlos Fiolhais, critica as teorias que não aceitam a chegada do homem à Lua e considera-as “completamente absurdas”. A última missão à Lua foi em 1972. Desde então, o homem não voltou a pisar o solo lunar, por, segundo Carlos Fiolhais, “falta de vontade política”.

a bordo. A câmara Hasselblad 500ELs com película Kodak, usada para tirar as fotografias, é contestada pelos mais críticos, que lhe apontam fraca resistência face a grandes variações de temperatura. Contactada, a Kodak Portugal reencaminhou para a congénere espanhola. O responsável de marketing da fabricante ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES PUBLICIDADE


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CINEMA

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Verão, tempo de férias e de muito calor. Facto pouco reconhecido mas por muitos admitido: as salas de cinema têm ar condicionado. Por isso mesmo deixamos quatro propostas para o Verão cinematográfico

Inimigos Públicos ” DE MICHAEL MANN COM JOHNNY DEPP CHRISTIAN BALE MARION COTILLARD 2009

scapando ao óbvio “UpAltamente” da inevitável Pixar, “Inimigos Públicos” é a primeira proposta. Com data de estreia para 6 de Agosto, marca o regresso de Michael Mann à cadeira de realizador depois de “Miami Vice”, em 2006. Pelas imagens divulgadas nos trailers é já possível notar os habituais cuidados visuais de Mann, assim

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mais procurado dos Estados Unidos, é caçado pelas autoridades) promete acção, não deixa de surpreender enquadrar tais intenções numa reconstituição dos anos 1930. Também a presença de Marion Cotillard, oscarizado pela interpretação de Edith Piaf em “La Môme”, não deixa de constituir um desvio do que são as regras normais de casting para um filme de Verão.

como a utilização do HD como dispositivo preferencial na captação de imagem. O que não é habitual é o facto de estrear no início do mês de Agosto, ainda época de Blockbuster (cinema de acção de grande orçamento e grandes estrelas), um filme de época. É certo que Johnny Depp e Christian Bale cumprem a quota de estrelas de cinema e a sinopse do filme (John Dillinger, o criminoso

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Blood: O Último Vampiro”

Inglorious Basterds – Sacanas sem Lei”

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uentin Tarantino volta ao grande ecrã com “Sacanas sem Lei”, o primeiro remake na curta mas prolífica carreira do realizador. Passada em França, durante a Segunda Guerra Mundial, a trama gira em torno de um grupo de soldados judaico-americanos que, sob a chefia do Tenente Aldo Reine, espalham o terror pelos soldados do Terceiro Reich. Sangue, violência e humor negro são os elementos que se podem esperar dum elenco que conta, entre outros, com a participação de Brad Pitt, Mike Meyers e Eli Roth.

cinema asiático vai marcar presença em Agosto com “Blood: O Último Vampiro”. Baseado na popular série animada do mesmo nome, “Blood” conta as peripécias de Saya, uma vampira de aparência adolescente que, com a ajuda de uma agência governamental, combate as forças do mal. Espera-se muita acção ao estilo de “O Tigre e o Dragão”, num filme que promete ser um autêntico festival de efeitos especiais, sangue e adolescentes com pouca roupa. Uma boa alternativa a filmes com robôs desprovidos de história.

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O Barco do Rock”

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im, Richard Curtis é o argumentista das comédias românticas inglesas com Hugh Grant. Sim, é o realizador/argumentista de “O Amor Acontece”, o mais doce filme natalício dos últimos anos. Mas é também um dos argumentistas de “Blackadder”, um dos melhores momentos da comédia britânica pós-Python. Por isso, devemos dar o destaque a “O Barco do Rock”, com estreia marcada para 23 de Julho, com Phillip Seymour Hoffman, Nick Frost, Kenneth Branagh e o inevitável Bill Nighy nos principais papéis. Curtis escreve o argumento e também realiza.

FERNANDO OLIVEIRA

DE QUENTIN TARANTINO

DE HIROYUKI KITAKUBO

DE RICHARD CURTIS

COM BRAD PITT MIKE MEYERS ELI ROTH

COM YOUKI KUDOH SAEMI NAKAMURA JOE ROMERSA

COM BILL NIGHY KENNETH BRANAGH PHILIP SEYMOUR HOFFMAN

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uase três décadas depois, os Sonic Youth contiVerdadeiramente nuam bem vivos e exploSonic Youth sivos. “The Eternal”, o 16º álbum da banda lançado no início do mês passado pela Matador, marca o regresso dos nova-iorquinos a uma editora independente e agora com novo baixista – Mark Ibold (ex-Pavement). Os elementos fundamentais reúnem-se: os riff’s de Thurston Moore, o trio de vozes compartilhado entre este último, Kim Gordon e Lee Ranaldo, a distorção das guitarras e o som abrasivo. Está DE criado o ambiente familiar a que os SONIC YOUTH Sonic Youth nos habituaram desde o início da sua carreira. Torna-se, EDITORA por isso, quase impossível resistir a MATADOR comparações entre este “The Eter2009 nal” e os melhores álbuns da banda, mas vamos fazer um esforço, pelo menos. Afinal, é um disco dos Sonic Youth e isso diz quase tudo. “The Eternal” é um disco sólido e coeso – de doze canções – explosão de ‘noise’, melodia e poesia. Destaca-se a quente e emotiva “Walkin Blue”, a visceral e violenta “Anti-Orgasm”, a melódica e poderosa “No Way” e a negritude melodiosa de “Malibu Gas Station”, na qual temos a voz de uma vigorosa, mas simultaneamente sedutora Kim Gordon. E ainda os quase dez minutos de “Massage the History”, a faixa que encerra o disco com a sussurrante Gordon e a habitual distorção das guitarras. Aliás, aqui a química de Ranaldo e Moore é cada vez mais inquestionável e transforma, por exemplo, “Antenna” e “No Way” em canções absolutamente imperdíveis. Embora pareçam, desde há uns discos para cá, rendidos aos sons melódicos, que não se assustem os puristas: os Sonic Youth continuam, apesar disso, a fazer música abrasiva e caótica – mas agora em formato de canções. Na linha dos anteriores álbuns dos nova-iorquinos, “The Eternal” pode ser alvo de críticas por não apresentar nada de verdadeiramente original, por não reinventar o grupo, fazendo deles algo que não são. Já ninguém pode pedir isso aos Sonic Youth. “The Eternal” é simplesmente – ou não tão simples quanto isso – um disco dos Sonic Youth. E isso é o mesmo que dizer que estamos perante um álbum muito bom.

Baía dos Tigres ” Ao longo da estrada: ruído dos rostos nas palavras flagrantes

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Allo! Allo! - Série 6” A terrível batalha de Nouvion

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Watch Me Fall”

fome, na Guerra Colonial em busca da independência e depois nas Civis em torno da disputa pelo domínio do território – esse quadro cinzento povoado de minas onde viu “raízes no lugar das pernas, férteis na terra que as mutilou”. E os monólogos do autor servem a história a partir de si, mais do que a si. Há o sufoco da verdade nas palavras criadoras de imagens – “na dieta de Caiundo vasculho as ondas em busca de paisagens de resgate”. Assim, “Baía dos Tigres”, que mereceu o prémio ‘PEN Clube’ em 2000, não é apenas um relato de viagem, é o movimento de pessoas que cruzam a história através do passado – tempo marcado até ao presente em cada rosto..

aía dos Tigres”, o primeiro livro do jornalista Pedro Rosa Mendes, é sobretudo uma constelação de histórias com personagens anónimas que o autor descobriu, em 1997, durante a viagem por terra de Angola para Moçambique. Ao longo de 10 mil quilómetros, percorridos, entre perigo, prisões e encontros, Pedro recolhe marcas de dor, de destruição, singulares gritos de força “Mostra-me as suas próteses com orgulho, porque eu não acreditava que as usasse: tinha-o visto chegar de bicicleta.” - e conta-as sob o olhar severo que envolve a riqueza da experiência com a ficção. A narrativa constrói-se através de diálogos marcados pelo ritmo das pessoas – são elas os motores das melodias cheias de ruído – as vozes também de

DE PEDRO ROSA MENDES

INÊS RODRIGUES O

DE DAVID CROFT DE JAY REATARD

DE TY SEGALL

EDITORA PRISVIDEO

EDITORA MATADOR

EDITORA MATADOR

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não teve mesmo, um espaço para os seus anti-heróis e, sobretudo, para os seus heróis do dia-a-dia. Os que de um roubo de uma salsicha fizeram virar o tabuleiro da guerra, os que tiveram que dividir o seu tempo entre a Resistência e uma dupla de mulheres ansiosas e os que possuíam como único meio de combate uma bicicleta e um terrível sotaque francês. Pela mão da Prisvideo, a sexta temporada da série chega, nos finais de Julho, às prateleiras de todo o país. Baseando-nos nas edições portuguesas anteriores, da mesma distribuidora, pouco mais podemos esperar do que os episódios legendados em português e os clichés da “ selecção de cenas”. Fica, contudo, uma boa forma de relembrar as míticas noites de sábado da TV2.

enunciação “Segunda Guerra Mundial” sugere em nós algo aparatoso, uma espécie de evento mais que global. E o relato da História não ajuda – Normandia, Estalinegrado, Pearl Harbor, quase tudo ao mesmo tempo – com um olhar conseguimos percorrer um continente, estar ao mesmo tempo em dois continentes e é preciso essa atenção total, afinal tratase de uma “Guerra Mundial”. E a certa altura damo-nos por nós a perguntar qual a razão para que, com uma guerra que tão depressa está na Europa como na Ásia, como a seguir envolve a América, deveríamos focar a nossa atenção numa pequena vila rural francesa de seu nome Nouvion. “Allo! Allo!” demonstrou-nos como mesmo uma epopeia à escala global poderia ter tido, se

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Gran Torino”

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JOÃO MIRANDA

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Boa noite e boa sorte – reedição”

DE CLINT EASTWOOD

DE GEORGE CLOONEY

EDITORA WARNER BROS

EDITORA PRISIVIDEO

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18 | a cabra | 7 de Julho de 2009 | Terça-feira

OPINIÃO

UMA ESPÉCIE DE ESPONTANEIDADE CRIATIVA

António Pedro Pita *

D.R.

A arte mostra que o subjectivo não se opõe ao objectivo, que a imaginação não se opõe ao realismo, que o material não se opõe ao imaterial

Cartas ao director podem ser enviadas para

acabra@gmail.com

A escrita de mais um artigo sobre a situação cultural coimbrã tem pouco interesse se se limitar a chover um pouco mais de resignação ou de revolta na molhada melancolia das repetições do costume. Pelo meu lado, prefiro tomar outro caminho e propor uma hipótese: a conjugação das transformações patrimoniais em curso com o desenvolvimento de uma criatividade artística disseminada lança as bases, sem precedentes próximos, da afirmação de Coimbra como cidade de cultura contemporânea e cosmopolita. Embora fundamentais, deixarei para melhor oportunidade as muito significativas transformações do património histórico material. Prática por excelência da transfiguração, importa perceber o modo de ser decisivo reconhecido à criatividade artística. É que tudo conspira para que, hoje (é a crise!...), as artes sejam vistas com simples práticas subjectivas (em tempos que requerem grandes decisões objectivas) alimentadas sobretudo pela imaginação (em tempos que necessitam do maior realismo) e concretizando-se em obras cuja dimensão material é, sobretudo, portadora do maior alcance imaterial. Ora, a crise (ou as várias crises imanentes à Crise) apela profundamente ao cultural porque na cultura, como em nenhuma outra instância, a questão medular é a construção e a partilha de sentido, o labirinto do reconhecimento de si como devir, a génese de possíveis, o trabalho (e a paciência) do comum. A arte mostra que o subjectivo não se opõe ao objectivo, que a imaginação não se opõe ao realismo, que o material não se opõe ao imaterial. Cada elemento é mediado pelo outro e é este processo infinito de mediações que caracteriza a cultura, tanto mais forte quanto mais longo e apertado for o ciclo de mediações e tanto mais frágil quanto for mais breve e mais solto. Ora, a leitura e a caracterização da cena coimbrã convém não se distraírem de um elemento fulcral: para além de estruturas e de iniciativas que podemos considerar felizmente consolidadas e das

quais não falarei agora, há uma espécie de espontaneidade criativa que pode não assumir configurações formais mas que importa identificar, valorizar, acompanhar e incentivar. É impossível não nos entusiasmarmos por um projecto conceptual como “Chambres, rooms, zimmers”, que nos faz intuir a cidade mítica enquanto percorremos a cidade real. É impossível não saudarmos uma Associação como Rio Contigo e as suas arrojadas propostas de intervenção urbana. É impossível não ler o Magazine de Artes de Coimbra e Afins, cuja importância maior é constituir uma distância de análise, um determinado ponto de vista sobre acontecimentos que, de outro modo, se esvaneciam na tragicidade de um presente efémero que se não pensa a si mesmo, não frequentar as iniciativas da nova sede da Arte à Parte e não perceber as dinâmicas de mudança de toda a zona do Quebra Costas. É impossível não continuar à procura de um lugar até que grupos como Camaleão e Marionete encontrem condições que lhes permitam desenvolver as respectivas identidades programáticas. É impossível permanecer imune ao sopro transdisciplinar que percorre a Casa da Esquina, ancorada em práticas como a fotografia e as artes cénicas como condição para transgressões disciplinares fecundas. É impossível não valorizar uma experiência operática como Bastien e Bastienne, quer pelas suas condições de produção (partilhadas por Ad Libitum, Companhia das Artes e a cooperativa de cultura Teatro dos Castelos) quer pelo seu prometedor resultado artístico. Falo de experiências nómadas, de práticas ainda hesitantes, propostas à procura da sua ideia ou identidade. É a esta zona de (in)determinações que é preciso estar atento para perceber de onde, e como, virá aquilo que vai conjugar-se com as práticas consolidadas e delimitar um outro presente, solto do passado para criar as formas novas da nossa identidade cosmopolita. * Director regional da Cultura do Centro PUBLICIDADE


7 Julho de 2009 | Terça-feira | a

cabra | 19

OPINIÃO ENSINO SUPERIOR - BALANÇO DE UM (QUATRO) ANO(S)

EDITORIAL UM ANO DE LETARGIA

Alfredo Campos *

O ano lectivo que agora termina não diferiu, nos seus traços essenciais, dos que o precederam nesta legislatura, convergindo o balanço do último ano com o de toda a legislatura. Penso que não se encontram divergências assinaláveis face ao anterior governo, antes o desenvolvimento de uma orientação política concreta. No que respeita ao modelo organizativo e financeiro, a implementação do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES), consubstancia as orientações definidas pela OCDE e OMC, rumo a uma crescente liberalização do sistema. Neste sentido vem, a coberto de um necessário aumento da autonomia das instituições de ensino, fazer depender essa autonomia da crescente privatização das instituições, promovendo a sua constituição em Fundações de direito privado. Propositadamente confundindo a necessária ligação do ensino ao sistema produtivo, com a subjugação da educação ao interesse económico – e continuando a crónica política de subfinanciamento das instituições – o RJIES solidifica tal orientação com a introdução de elementos da esfera económica nos órgãos máximos de gestão das instituições, gradualmente fazendo depender os interesses destas, dos objectivos daqueles. É também consubstanciada a concentração de poderes no funcionamento dos órgãos, com a criação da figura do director, a transferência de competências entre órgãos, e a redução acentuada da participação democrática dos estudantes no governo das instituições. Assistimos à consolidação do Processo de Bolonha onde, a coberto da importante reestruturação do ensino e da sua vertente pedagógica, se implementa um modelo no qual é reduzido o investimento

do Estado e aumentado o seu grau de elitização, ao dividir a formação em dois ciclos, verificando-se um crescimento muito assinalável dos custos de frequência do segundo. O Estado reduz assim, ainda mais, o investimento no ensino, colocando nos estudantes o ónus do financiamento do sistema, enquanto simultaneamente limita a formação ao mínimo necessário à criação de uma mão-de-obra barata, reservando os níveis mais avançados de conhecimento aos indivíduos de maiores possibilidades económicas. Tal é agravado por uma política de acção social escolar que privatiza sectores fundamentais deste sistema e reduz o apoio social das bolsas enquanto incentiva o recurso aos empréstimos bancários – realidade dificilmente escamoteada pelo recentemente anunciado aumento do valor das bolsas. Finalmente, face a tais políticas para o ensino superior público, é notória a reduzida contestação por parte do movimento estudantil. Comparativamente à acção de vastos sectores da população, quanto a outras áreas da acção governativa, as academias estudantis, incluindo a Associação Académica de Coimbra, limitam a sua acção à retórica negocial. Penso que as academias, centrando-se exclusivamente no diálogo e com aversão às acções de massas, por vezes em estreita conivência com o poder político, procuram ignorar que negociação alguma é possível, sem a prévia conquista de espaço negocial pela afirmação do seu poder contestatário, só demonstrado pela acção de massas. Facto que a hipotética manifestação nacional a realizar em Outubro próximo, quando já nada será mudado, pode esconder. * Investigador-júnior do Centro de Estudos Sociais da UC

NOTA EDITORIAL O portal informativo ACABRA.NET, apesar de se encontrar online, continua sem possibilidade de actualização por motivos técnicos.

Secção de Jornalismo, Associação Académica de Coimbra, Rua Padre António Vieira, 3000 - Coimbra Tel. 239821554 Fax. 239821554 e-mail: acabra@gmail.com

Conjecturavam-se grandes projectos para 2009. Um levantamento total dos problemas da universidade e do ensino superior era apresentado no início do ano. Também a consequente resolução desses mesmos problemas e a reivindicação de um ensino superior público, gratuito e de qualidade não eram deixados ao acaso. Contudo, foi com grande consternação e amargura, cada vez menos alheias, que ouvimos relatos de estudantes que se viram obrigados a recorrer ao Banco Alimentar Contra a Fome para escamotear as faltas de apoio social. Com a mesma afecção, vimos um inúmero conjunto de colegas obrigados a suspender ou mesmo a abandonar a universidade e os estudos. Vimo-nos impedidos de, a justa voz, participar nas decisões de uma instituição que essencialmente a nós pertence. A cognominada taxa moderadora, que são as

arrasto, a restante maioria dos estudantes demonstrou os seus frutos: a prorrogação da atitude algoz do ensino superior que o governo veio assumindo. Não podemos cerrar os olhos e vulgarizar que o Processo de Bolonha é uma realidade dogmática, mas que ainda assim possui aspectos positivos, cuja luta deve passar somente por potencializá-los. A realidade demonstranos o contrário. O ensino superior nunca assumiu um carácter tão elitista e tão regressivo desde 1974. A iniciativa de luta agendada para Outubro representa um avanço na determinação estudantil por um ensino melhor. Contudo, não pode nem deve ser encarada como um fim. Muito menos pode ser encarada com a leviandade que a direcção-geral assumiu até agora. No final do ano lectivo, e para uma acção que se pretende condignamente massificada, a mobilização para uma

Acreditar não chega. Não podemos cruzar os braços

propinas, a pouco está de ultrapassar a barreira dos mil euros. E as incisivas alterações pedagógicas apenas vieram agudizar a situação. A propalada aposta numa avaliação contínua veio revelar-se uma sobrecarga horária de trabalhos. Contemplamo-nos impedidos de participar activamente nas aulas e deparamo-nos com a redução das nossas licenciaturas à insignificância mais profissionalizante permitida. E, a tudo isto, pediram-nos para acreditar. Mas acreditar não chega. Não podemos cruzar os braços. Não podemos esperar que o ensino superior que, mais ou menos assumidamente, defendemos nos caia no colo. É preciso encontrar um rumo novo, definir uma nova orientação, que não a desenvolvida ao longo deste ano. O estado letárgico em que caiu a acção da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) e, por natural

qualquer noite de quinta-feira nos jardins da associação não pode ultrapassar a dinamização da manifestação. Também as propostas aprovadas e assumidas em magna não podem continuar a ser arrogadas com o desleixo com que vêm sendo. Não é com uma atitude atestada de servilismo e de cobardia que o ensino superior evoluirá para os eixos definidos pela vontade estudantil. É necessário que a DG/AAC não se deixe encostar a uma história de luta e combate e que tome uma posição, não para honrar algum estatuto ou memória colectiva. É imperativo que os estudantes saibam exigir essa atitude para que se possa, desde já, desenvolver as bases para dar combate e reivindicar o mesmo ensino superior público, gratuito e de qualidade que se defendia em altura de eleições. João Miranda

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759 Director João Miranda Editor-Executivo Pedro Crisóstomo Editor-Executivo Multimédia: João Ribeiro Editores: André Ferreira (Fotografia), Cláudia Teixeira (Ensino Superior), Sara Oliveira (Cultura), Catarina Domingos (Desporto), Andreia Silva (Cidade), Rui Miguel Pereira (País & Mundo), Diana Craveiro (Ciência & Tecnologia) Secretária de Redacção Sónia Fernandes Paginação Pedro Crisóstomo, Sónia Fernandes, Tatiana Simões Redacção Alice Alves, Ana Coelho, Ana Rita Santos, Bruno Monterroso, Camilo Soldado, Catarina Fonseca, Filipa Faria, Filipa Magalhães, Luís Simões, Maria João Fernandes, Maria Eduarda Eloy, Marta Pedro, Patrícia Gonçalves, Patrícia Neves, Pedro Nunes, Sara São Miguel, Tiago Carvalho, Vasco Batista, Vanessa Quitério Fotografia Ana Bela Ferreira, Ana Coelho, João Ribeiro, Leandro Rolim, Luís Gomes, Maria Eduarda Eloy Ilustração Rafael Antunes, Tatiana Simões Colaboraram nesta edição Ivone Costa, Miguel Custódio Colaboradores permanentes Ana Val-do-Rio, Carla Santos, Carlo Patrão, Cláudia Morais, Dário Ribeiro, Emanuel Botelho, Fátima Almeida, Fernando Oliveira, François Fernandes, Inês Rodrigues, José Afonso Biscaia, José Santiago, Milene Santos, Pedro Nunes, Sofia Piçarra, Rafael Fernandes, Rui Craveirinha Publicidade Sónia Fernandes - 239821554; 914926850 Impressão FIG - Fotocomposição e Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra


Mais informação disponível em Redacção: Secção de Jornalismo Associação Académica de Coimbra Rua Padre António Vieira 3000 Coimbra Telf: 239 82 15 54

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Jorge Serrote

Tem sido o constante jogo da espera. Mas já não se espera muito até Janeiro. Ou melhor, espera-se que não se desespere com a espera. Serrote espera pela eleição do Provedor de Justiça para apresentar uma queixa. Serrote espera pelas eleições para sair à rua. Serrote espera pelas outras académicas para mobilizar os estudantes. Serrote espera que venham os novos estudantes para informar. Serrote espera, sobretudo, que acabe o mandato. E, então, pior do que um presidente sem vontade própria é a imagem de um presidente desacreditado pelos que o rodeiam. Não se espere que algo aconteça. P.C.

Seabra Santos

Manteve-se à sombra da torre num ano de “profundo edifício de reformas” na UC. Os últimos seis meses foram, efectivamente, de mudança profunda nos órgãos de governo, nas faculdades, de estrangulamento financeiro e de acusações de má gestão. Palavras, poucas. Há seis meses que procuramos consecutivamente agendar uma entrevista com Seabra Santos. A permanente indisponibilidade em se pronunciar publicamente perante a comunidade que representa – enquanto reitor da UC e presidente do CRUP – denota da parte de Seabra Santos senão falta de vontade em evitar tanta especulação. Devemos somente lamentar. P.C.

Mariano Gago

Se a má gestão ministerial pudesse ser quantificada em ‘gaffes’, Mariano Gago ganharia aos pontos a Manuel Pinho. Mas como a ciência do ministro pouco tem de superior, falemos não de quantidade, mas de qualidade. E aqui temos especialista. Desqualificou a aprendizagem, desqualificou a acção social, desqualificou o financiamento, desqualificou-se a si próprio com as infelicidades que proferiu sobre a gestão das universidades e agora quer desqualificar os professores – sacrificando em tudo a democracia. Também Gago não gosta muito de entrevistas. Percebe-se porquê. Em quatro anos de governo, tem ficado sempre mal na fotografia. P.C.

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