Edição 250

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2 de outubro de 2012 • ANo XXii • N.º 250 • QuiNZeNAL GrAtuito diretorA ANA duArte • editorA-eXeCutiVA ANA morAis

acabra JorNAL uNiVersitÁrio de CoimbrA

̃o Stephanie Sayuri paixa

ContrAto in toChA:umA DisCussão públiCA? Desde 2006, data da assinatura do contrato de cessão dos bares da Associação Académica de Coimbra , que a esplanada dos Jardins tem enfrentado várias críticas. Falta de licenciamento e o ruído são alguns dos problemas que lhe são apontados Pág. 7 Stephanie Sayuri paixa ̃o

miCro-Conto

assembleia magna

ricardo morgado

Cristóvão de Aguiar

Amanhã há discussão mais um ano à frente da AAC na academia Para iniciar o debate deste ano letivo, a DG/AAC convocou uma Assembleia magna (Am) com enfoque para a discussão da situação política atual e ações a desenvolver. Assim, amanhã na Cantina dos Grelhados os estudantes são chamados a debater a AAC. Apesar do “alvoroço” proporcionado pela organização da Latada, a DG garante que a dinamização da Am não foi afetada. Já os movimentos estudantis levantam vozes discordantes e pedem uma DG/AAC “mais forte”.

A oito meses do seu mandato à frente da Associação Académica de Coimbra (AAC), ricardo morgado confessa que tem havido instabilidade no número um da Padre António Vieira. Principalmente porque a AAC “vai ter de aprender a gastar menos”, declara o presidente da DG/AAC. o sorteio de duas propinas, o rumor de falta de coesão interna na equipa a pouco tempo da Festa das Latas e a pré-decisão de uma recandidatura foram pontos abordados na entrevista ao jornal A Cabra.

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caso do “mensalão”

saúde em necessidade

Corrupção mancha governo de Lula

Falta de médicos afeta interior do país

Cultura em luta manifesta-se e ocupa os principais pontos da cidade

A sociedade brasileira dá sinais de vitalidade ao revelar e julgar um dos maiores casos do Supremo tribunal Federal, desde a democratização: o processo do “mensalão”. o caso foi divulgado em plena governação do primeiro mandato do expresidente Lula da Silva, e envolve os mais altos quadros da setor político e empresarial. no entanto, o Brasil transmite, de alguma forma, a imagem de uma democracia que tem os seus problemas, mas tenta resolvê-los.

As regiões periféricas do país apresentam carências cada vez mais graves no campo da saúde. A falta de médicos nestas zonas é um dos principais problemas para os centros hospitalares, com a maioria destes profissionais a fixarem-se nas zonas do litoral. De forma a atrair os recémespecialistas para as zonas mais desfavorecidas, a ordem dos médicos já apresentou uma proposta ao ministério da Saúde. Pág. 15

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“Entrei no comboio num apeadeiro sem nome” Pág.21

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Mais informação em

acabra.net


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DEsTAquE

In Tocha – de mecenas a “questão polémica” Em 2006, o presidente cessante da DG/AAC, Paulo Fernandes, afirmou em entrevista ao Jornal A Cabra, que “o In Tocha é um mecenas para a AAC”. Hoje, a situação envolve-se de controvérsia e a questão dos incumprimentos contratuais do concessionário e da AAC geram discussão pública, mas pouco transparente. Por Ana Duarte e Ana Morais “Nós estávamos a achegar a uma situação insustentável e precisávamos de dinheiro”, confessa Ricardo Morgado

“O

In Tocha é uma questão polémica e eu percebo que o vá ser sempre até ao final”. É o presidente da Direção-geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Ricardo Morgado, quem o afirma. Os espaços que a AAC concessiona ao grupo In Tocha Hotelaria Lda. estão, desde a data de assinatura do contrato (1 de setembro de 2006), envoltos em controvérsia. Este assunto ganhou uma nova dimensão quando informações de exclusivo acesso a sócios da AAC (isto é, todos os estudantes da Universidade de Coimbra) invadiram a blogosfera nos últimos meses. Uma moção da DG/AAC, uma ordem de despejo e excertos do próprio Contrato de Cessão da Exploração de Estabelecimento Comercial do Bar e do Bar Esplanada da AAC. São documentos disponíveis apenas para sócios da

2006 setembro Assinatura do Contrato de Cessão da Exploração de Estabelecimento Comercial do Bar e do Bar Esplanada da Associação Académica de Coimbra (AAC) com empresa In Tocha Hotelaria Lda.. Estiveram presentes o presidente e o administrador da Direçãogeral da AAC da altura, Fernando Gonçalves e Luís Viegas Cardoso, respetivamente, Tomás Ramalho e Mário dos Santos, representantes do In Tocha.

AAC, todos na internet, de forma parcial e não oficial. Com estes registos, surgem os equívocos quanto a incumprimentos de ambas as entidades – AAC e In Tocha. Quem não cumpriu o quê, afinal? Tanto um lado como o outro alegam incumprimentos – a AAC direciona o assunto para a falta de pagamento de algumas rendas; o In Tocha levanta a questão do atraso no licenciamento, que dizem ter provocado prejuízos avultados à empresa.

Rendas em atraso “Já de alguns meses para cá existia um incumprimento do contrato”, assevera o vice-presidente da DG/AAC, Samuel Vilela. Incumprimentos esses a nível do pagamento de rendas. Neste seguimento, a 27 de agosto, a DG/AAC apresentou uma moção com o intuito de “proceder, com justa causa, à resolução imediata do contrato”, visto que está pre-

visto contratualmente que o não pagamento de renda constitui motivo para efetuar a rescisão unilateral do contrato. “Se quiséssemos ser realmente maus e não considerássemos o In Tocha um ‘player’ fundamental, nós tínhamos dito ‘acabou’ ”, remata o presidente da DG/AAC. À data em que foi apresentada a moção, estariam cinco rendas em atraso. Samuel Vilela explica que esta questão não é tão linear: “na realidade não são cinco, seriam apenas três”, uma vez que “duas tinham a ver com uma penhora de que a AAC foi alvo, não por algo relacionado com a DG/AAC, mas relacionado com uma secção desportiva”.

Processo de licenciamento Segundo o contrato assinado por Fernando Gonçalves e Luís Viegas Cardoso (então presidente da DG/AAC e administrador, respetiva-

2007 janeiro

2009 março

Confrontado com a construção do Bar Esplanada da AAC junto à sua janela, o GEFAC alerta para a falta de licenciamento da obra, ficando esta embargada durante cerca de dois anos.

Depois de conseguido o licenciamento, o Bar Esplanada da AAC reabre.

mente) e Tomás Ramalho e Mário Jorge dos Santos (representantes do grupo In Tocha), o licenciamento seria da responsabilidade da AAC. Tomás Ramalho, diretor-geral da empresa concessionária, é perentório: “a DG/AAC é a responsável pelo licenciamento. Não tem nada a ver connosco, nós somos os exploradores”. Para além das obras iniciais (a edificação do Bar Esplanada dos jardins ainda em 2006), houve a necessidade de um investimento adicional para qualificar o bar segundo as diretrizes da Câmara Municipal de Coimbra (CMC). A situação de falta de licenciamento foi denunciada por um Organismo Autónomo da AAC – O Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC) em janeiro de 2007. O coordenadorgeral da altura, Adérito Araújo, avança que “a obra estava a ser feita sem qualquer licença” e que, como o

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2010 janeiro

O presidente da DG/AAC Serrote, efetua a extensão alegados incumprimentos que terão provocado pr para a empresa concession contrato passa a ser a 10 d


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DEsTAquE Stephanie Sayuri paixa ̃o

edifício pertence à reitoria da UC, ficaram surpreendidos por esta se “ter descartado um bocado”. Já o pró-reitor da UC desse mesmo ano, Raimundo Mendes Silva, defende: “o edifício da AAC, embora seja da universidade, está entregue à gestão da DG/AAC. Portanto, nunca foi muito protocolar exatamente qual é a responsabilidade da atuação [da reitoria] sobre o edifício”. O que levou a esta denúncia da parte do GEFAC foi a proximidade da construção do bar com a janela da sala. “A primeira versão do bar dos jardins ocupava uma área significativamente maior [do que atualmente]. Um dos lados estava a ser construído a cerca de um metro das janelas do GEFAC”, aclara Catarina Alves, membro do organismo. “Quando começámos a tentar perceber o porquê de estar a ser construído daquela forma, acabámos por concluir que nem sequer tinha sido iniciado um processo de licenciamento ou pedida a devida autorização”, acrescenta. Depois do embargo nas obras provocado por ilegalidades, só em março de 2009 é que o Bar Esplanada dos jardins entrou em funcionamento.

Extensão do contrato Na primeira versão do contrato de cessão, a data do término seria a 31 de agosto de 2011. O presidente da DG/AAC da altura, Jorge Serrote, aciona uma extensão do contrato por mais dois anos – até 10 de março de 2013. “Foi prolongado devido ao incumprimento por parte da AAC, considerando o facto de o licenciamento ser responsabilidade da AAC, e após parecer jurídico”, justifica o ex-diri-

10 eiro

G/AAC de então, Jorge tensão do contrato, por entos da parte da AAC, do prejuízos avultados essionária. O término do a 10 de março de 2013.

gente. Por não haver licenciamento, não havia esplanada – e, consequentemente, não havia lucro para o In Tocha, apenas prejuízo: “o In Tocha deixa na AAC mais de dois milhões de euros”, ressalva Tomás Ramalho. O prolongamento do contrato – assinado por Jorge Serrote, Miguel Franco (administrador da DG/AAC) e Mário dos Santos (representante do In Tocha) - foi uma decisão levada, ainda em 2008, a Conselho Internúcleos, Conselho Cultural e Conselho Desportivo, resultando num “parecer favorável de todos os órgãos”, garante Serrote. Na assinatura do supracitado documento, estiveram ainda presentes os futuros presidente e administrador da DG/AAC – Miguel Portugal e Joel de Oliveira, respetivamente.

Denúncia do contrato Em 2010, aquando das eleições para os corpos gerentes da AAC, este contrato vem mais uma vez à discussão pública. Foi dessa discussão que se tornou público o elevado valor de rescisão do acordo: “em caso de incumprimento ou cumprimento defeituoso do contrato obriga-se ao pagamento de uma indeminização no valor de quinhentos mil euros”. Alguns meses após esse debate, a DG/AAC liderada por Eduardo Melo denuncia o contrato, “de forma a permitir que quem viesse no futuro tivesse a oportunidade de negociar”. Contudo, Eduardo Melo ressalva que “não havia motivos específicos que motivassem essa questão”. “A AAC sairia a ganhar, independentemente da relação ambígua com o atual con-

2011 dezembro A DG/AAC, liderada por Eduardo Melo, faz a denúncia do contrato, para que, deste modo, a AAC beneficiasse de uma “situação que seria vantajosa do ponto de vista negocial”, afirma o próprio.

TRABALHO DAS SECçõES E ORGANISMOS AFETADO

cessionário”, acrescenta.

Situação regularizada “Percebo que é difícil para as empresas, neste momento, cumprirem com os seus compromissos. Mas nós estávamos também a chegar a uma situação insustentável e precisávamos de dinheiro”, confessa Ricardo Morgado. Atualmente, a DG/AAC confirma a regularização das rendas em atraso, mas para isso tiveram que avisar os concessionários “bastantes vezes”, conta o presidente. A 7 de setembro, a DG/AAC emitiu uma ordem de despejo – na sequência da moção -, que foi imediatamente refutada pelo In Tocha, dado que cumpriram os pagamentos a tempo. “O In Tocha entregou três cheques pré-datados e já foram todos depositados com boa cobrança”, atesta Samuel Vilela. Quando questionado acerca da ordem de despejo, o diretor-geral do grupo In Tocha não hesita: “recebemos a ordem tranquilos. Com sentido de responsabilidade, com sentido de dever perante a AAC, perante os nossos fornecedores e perante os nossos clientes”.

Futuro dos espaços de concessão “Se o In Tocha estiver em condições e quiser concorrer ao concurso [para concessão dos bares da AAC] tem esse direito de preferência e nós não podemos tirar o que está contratualizado”, afirma Ricardo Morgado, acrescentando que o que pode fazer é “garantir que não vai ser nada feito às escondidas e o processo do bar vai ter a maior clareza possível”.

O In Tocha levanta a questão do atraso no licenciamento, que dizem ter provocado prejuízos avultados à empresa

“Quando o In Tocha abriu o bar de fora, queríamos ver o contrato e não nos deixaram ver”, conta o membro da direção do Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC), Mariana Ferreira. Por conseguinte, foi organizada em conjunto uma ação entre várias secções e organismos com o intuito de perceber por quanto tempo mais “o barulho ia durar”. “Depois apercebemo-nos pouco a pouco que aquilo ia durar muito mais tempo e que as nossas exigências não eram ouvidas”, protesta. Assim, o ruído acaba por ser um elemento perturbador das várias secções e organismos autónomos mais próximos da esplanada. Do Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC), a presidente, Anabela Ribeiro, protesta: “tornou-se caótico porque faziam festas quase megalómanas e às vezes sem grandes razões”. Opinião corroborada pelo presidente da Secção de Xadrez, Bruno Pais – “é incomodativo, é música alta, é gente aos berros”, reitera ao acrescentar que já recebeu queixas dos alunos devido ao barulho. Também João Mendes, presidente da Rádio Universidade de Coimbra (RUC) exemplifica algumas situações incomodativas: por vezes a emissão foi afetada ou até a gravação em estúdio. “A partir de uma determinada hora não podemos gravar mais. É impossível que qualquer isolamento nos estúdios suporte o que vem da esplanada”, contesta. No entanto, o facto da decisão resultante da providência cautelar interposta por Maria Vitália, ter obrigado o In Tocha a encerrar os dois estabelecimentos durante o período da noite, já trouxe uma nova dinâmica para as secções e organismos. Anabela Ribeiro afirma mesmo que “agora a diferença é abismal porque fecha à meia-noite. Conhecemo-nos melhor assim, e até o trabalho uns dos outros”. O presidente da RUC partilha dessa opinião: “antes, a partir da meia-noite, era quando começava a aumentar o ruído. A partir de agora é o oposto”. Por Ana Duarte e Ana Morais

2012 agosto

2012 setembro

A DG/AAC de Ricardo Morgado apresenta uma moção porque, segundo o vice-presidente da DG/AAC, Samuel Vilela, “de alguns meses para cá existia um incumprimento do contrato”. O não pagamento de rendas seria por parte do In Tocha seria esse incumprimento

É emitida uma ordem de despejo que foi recebida “com tranquilidade” pelo In Tocha, afirma o seu diretor-geral, Tomás Ramalho. Samuel Vilela explica que a situação já foi regularizada porque até ao prazo estipulado (dia sete), o In Tocha entregou três cheques pré-datados com “boa cobrança”.


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EnSIno SupErIor

Regulamento Disciplinar vem com atraso Stephanie Sayuri paixa ̃o

“não é só culpar o aluno, é culpar também o professor, a instituição e as condições de trabalho em geral”, relata João amado.

As normas para a má disciplina dos alunos do Ensino Superior (ES) estava já sujeita a implementação desde 2007. Inscrevem-se motivos como plágio, assédio e falta de exigência no ES Liliana Cunha “As Instituições de Ensino Superior (IES) têm o poder de punir, nos termos da lei e dos estatutos, as infrações disciplinares praticadas por docentes, investigadores e demais funcionários, bem como por estudantes”, assinala o artigo 75º sobre a autonomia disciplinar do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Su-

5 Ricardo Morgado

perior (RJIES). A razão para a realização do Regulamento Disciplinar dos Estudantes da Universidade de Coimbra (UC) encontra-se plasmada no documento assinado em 2007 pelas IES. Chega com cinco anos de desfasamento. “Ao definir o quadro de infrações e sanções, o regulamento procura favorecer, pela via do controlo externo, uma progressiva autorregulação dos estudantes que a não evidenciam”, explana a vice-reitora para a Pedagogia, Madalena Alarcão. Antes o poder de sancionar o aluno era deixado à descrição do docente, “cada um fazia à sua maneira”, assinala Luís Rodrigues. “Está a começar onde há pessoas mais despertas para o problema”, salienta o ex-professor da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCE), João Amado. A efetivação do regulamento pode acontecer de duas formas: “uma é estar na prateleira, mas

Discussão do regulamento Em sede de concertação, várias entidades foram ouvidas na elaboração do documento. “A reitoria enviou este regulamento inicialmente para o senado e não para o conselho geral, porque este não tem competências

pedagógicas” expõe o coordenador do pelouro para a ligação aos órgãos da Direção Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Filipe Luz. O mesmo, e em conjunto com o pelouro da pedagogia, resolveu reunir com o Senado e também o Conselho Geral “porque achámos que eles também se deveriam pronunciar por uma questão de peso nos órgãos de governo da UC”. A posterior apresentação de modificações foi feita para com a vice-reitora para a pedagogia, Madalena Alarcão.

“Não é indisciplinado e agressivo quem quer” Conseguiram-se mudanças significativas: reduzir a falta de limitações no que toca por exemplo à obtenção da “prova em questão”, afirma Filipe Luz. Também a canalização das multas para o Fundo de Apoio Social, que antes eram para receita da UC, foi para o coordenador do pelouro “a grande vitória”.

A massificação do ES trouxe uma roda de fatores que vem influenciando a conduta menos própria do estudante. “Não é indisciplinado, não é agressivo quem quer. Há razões”, acrescenta o professor . Até mesmo o assédio de alunos a professores é comum, embora “em Coimbra não haja casos”, refere o docente. “Ao nível do Ensino Superior, os professores começam a sentir-se muito frustrados. Não é só culpar o aluno, é culpar também o professor, a instituição e as condições de trabalho em geral”, relata João Amado. O fundo de toda a questão pode residir aqui, bem como a falta de exigência que transita do ensino secundário. “A minha experiência como docente é a de que os estudantes, como todo o ser humano, experimentam os limites da sua atuação”, aclara Madalena Alarcão. A resposta do contexto e das pessoas com quem interagem é que “é importante”, acentua a vicereitora.

“Pondero fazer um segundo ano, não desminto” O presidente da Direçãogeral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) aborda o tema da estabilidade na academia, a dificuldade nas contas e um segundo mandato Porquê o sorteio da propina na Festa das Latas? Queríamos premiar as pessoas para que elas tivessem mais-valias na compra do bilhete mais cedo do que o preço. Através do patrocínio para a Festa das Latas conseguimos ter dinheiro para assegurar uma propina. Depois, o reitor quis associarse a isto e dar também uma. Temos recebido bastantes críticas, mas acho que devemos ridicularizar a propina.

Presidente da Direção-geral da Associação Académica de Coimbra

não resolver absolutamente nada, outra é fazer com que as pessoas o conheçam”, refere o professor. A necessidade de fazer face a problemas como maus comportamentos em contexto académico é real, “bem como diversos tipos de fraudes nos trabalhos. São manifestações que, se crê, terem-se tornado progressivamente mais frequentes e mais graves”, refere a também docente na FPCE, Maria Helena Silva. Para a mesma justifica-se criar um documento que ajude a “diminuir e desencorajar” as ocorrências e poder tipifica-las, legitimando “as sanções correspondentes”.

Não houve manifesta adesão da AAC à manifestação, mesmo sendo um protesto in-

dependente, porquê? Enquanto instituição, não houve por uma simples razão: sou defensor de que esse tipo de questões deve ser decidido em Assembleia Magna. Esse protesto foi marcado de forma muito espontânea, onde não houve tempo para se marcar uma magna. Isso levou a que não houvesse uma adesão como AAC, mas como pessoas a aderir ao protesto. Foi um protesto de pessoas, de famílias, e não de instituições, centrais sindicais. Foi isso que trouxe impacto. Quanto à coesão interna da DG/AAC e até ao possível rumor da demissão do administrador, tens alguma coisa a dizer sobre isso? O que posso dizer é que ainda ninguém se demitiu. Fala-se de muita coisa, não sou novo nisto. Chega-se a

dois meses das eleições e há sempre um burburinho. Temos as nossas divergências e a DG/AAC está mais exposta nesta altura, já estava à espera. É uma equipa que vai acabar o que tem para fazer. Podemos falar para a próxima semana e para a outra e não vai haver demissão. Se acontecer, há de ter um motivo e aí estarei para falar. Em última entrevista ao Jornal A Cabra disseste que “uma AAC precisa de estabilidade para poder desenvolver as suas atividades”. Sentes que há a estabilidade necessária? Dentro da AAC, estamos a passar uma fase muito instável, sobretudo por problemas financeiros. Quem sofre são as secções, as desportivas principalmente, os núcleos e, claro, os estudantes. Habituámo-nos a uma estrutura que já não é assim.

Tudo leva a uma gestão muito rigorosa das contas. A Festa das Latas teve um abaixamento muito grande no seu orçamento, porque doutra forma não saberíamos se era viável fazê-la. Vamos ter mesmo de aprender a gastar menos e a saber poupar. Mais um ano seria suficiente para dar os tais passos? Apercebermo-nos do que é a AAC num ano é pouco. Estar aqui ainda me deu mais vontade em vez de me ter constrangido. Pondero fazer um segundo ano, não desminto. Já tomei a minha pré-decisão. Brevemente tomarei uma decisão e anunciarei em público. Seja eu ou não, o meu trabalho não pode ser comprometido. Sinto-me bem e realizado a ser presidente da DG/AAC. Mais um ano pode ser positivo. Por Liliana Cunha e Ana Morais


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EnSIno SupErIor

“Fazer essa transição é inevitável” A Fundação Cultural e a Fundação Museu da Ciência estão em vias de passar de novo para as mãos da universidade. A perda de património e pessoas é real Liliana Cunha Quem o diz é a vice-reitora para as relações institucionais, Helena Freitas. A inevitabilidade de extinguir a Fundação Cultural da Universidade de Coimbra (FCUC) e a Fundação Museu da Ciência surge da recomendação feita pela tutela aquando da proposta de encerramento de mais de 34 fundações. Do ponto de vista da vice-reitora, a manutenção da fundação enquanto organismo independente não traz

vantagens: “fundações que constituem organismos de direito público não faz sentido continuarem a funcionar como fundações”, sustenta. Mas afinal o que acontece se a fundação for extinta? “Parece-me que ainda ninguém verdadeiramente sabe como é que agora esse processo pode ser conduzido”, confessa Helena Freitas. A constituição de uma fundação traz vantagens no que toca à gestão da instituição. E não só. Na sua origem há o interesse de representar um determinado património e preservá-lo duradouramente. “A fundação foi criada precisamente para tentar encontrar formas de apoiar e ajudar a manter um património único em muitos aspetos, mas que extravasa a função meramente de ensino”, assinala o diretor da fundação Museu da Ciência, Paulo Gama Mota. Sendo de foro administrativo privado, estas duas fundações que integram o Teatro

Académico de Gil Vicente (TAGV), o Estádio Universitário, o circuito turístico da Universidade de Coimbra (UC), a Rede UC, o Palácio S. Marcos, a UCV produções e o Museu da Ciência, recebem indiretamente fontes de financiamento do Estado. “No fundo, o orçamento que tem é da UC. Depois, gera receitas próprias no âmbito das atividades que executa”, explica Helena Freitas. Contudo, releva que “não recebe dinheiro do Estado enquanto fundação. Zero”. Grande parte da sustentabilidade e razão de ser da fundação é que poderá abrir as portas ao mecenato privado sem comprometimento estatal. “É realmente mais fácil, num regime como o que tinha a fundação, gerir em princípio as receitas que de facto podem advir do mecenato e da venda de produtos – no que toca ao TAGV, nos bilhetes, por exemplo, ou no circuito turístico”, aponta a vice-reitora.

Também a rápida contratação de funcionários está favorecida “em função das necessidades do momento”, assevera Helena Freitas.

Subterfúgio para gerir as finanças públicas “A pergunta é o que acontece à universidade, que fica com um encargo e com mais dificuldade em geri-lo, preservá-lo e mostrá-lo à sociedade, é isso que nos estão a tentar fazer”, revela Paulo Gama Mota. “Houve um rato que foi parindo várias montanhas de despesa” afirmara o líder parlamentar do Partido Social Democrata, Luís Montenegro a semana passada. A visão de que uma fundação representa um “subterfúgio para gerir as finanças públicas”, como explica Helena Freitas é usual. No entanto, “estas fundações não custavam nada ao Estado”, reitera a mesma. Paulo Gama Mota não deixa esquecer a questão de que “o patri-

mónio é frágil e precisa de ser mantido. O Estado não dá mais um tostão à UC para o manter”. Acatar a recomendação do governo pode representar uma perda da função social e cultural que as fundações representam - “a UC tem uma função que não tem comparação – tem os seus museus, o TAGV, o Estádio Universitário, tem as secções todas da AAC, e não tem apoio do Estado”, frisa o diretor do Museu da Ciência. “O Estado não nos deixa tentar resolver os problemas o melhor que é possível”, lamenta Paulo Gama Mota. O reitor da UC, João Gabriel Silva, ainda não decidiu o que fazer, já que cabe sempre à Instituição de Ensino Superior em questão a última palavra. “Está a universidade e o reitor profundamente empenhados em manter o museu, que é uma aposta estratégica da universidade e manter as pessoas”, sinaliza Paulo Gama Mota.

Stephanie Sayuri paixa ̃o

a sede da uCV produções, uma das unidades da Fundação Cultural, encontra-se na Casa das Caldeiras

“Alvoroço” da Latada atrapalha convocatória da Magna A Cantina dos Grelhados será o palco, amanhã, quarta-feira, da próxima discussão dos estudantes. Direção-geral e movimentos divergem quanto à linha de ações Ana Morais Pouco tempo depois do arranque do novo ano letivo, surge a discussão no órgão máximo da academia, a Assembleia Magna (AM). Segundo o vice-presidente da Direção-geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Samuel Vilela, “a tendência [de protesto] que tem acontecido a nível nacional deve ser transporta para a realidade da academia”. Assim, a DG/AAC viu necessidade de discutir em AM algumas ações que possam ocorrer durante a Festa das

Latas. “Se queremos fazer alguma coisa de importante na Latada tem de ser decidido em Magna”, reitera o presidente da DG/AAC, Ricardo Morgado. Samuel Vilela atenta para o dia do cortejo, 16, ao referir que este “pode ser um bom meio para fazer alguma coisa com uma maior intensidade”. Na convocatória constam os pontos habituais: informações, análise da situação política e ações a desenvolver e outros assuntos. As atenções centram-se no segundo ponto. Igor Constantino, elemento da Frente da Ação Estudantil (FAE), considera “positivo” que a DG/AAC tenha a preocupação de debater a atual conjuntura do país. No entanto, o estudante refere que deve haver “uma posição forte” e deve ser dado “um salto de qualidade em relação ao que foi o ano passado”. Já o coletivo AACção vai mais longe: “o trabalho desta DG/AAC tem sido fraco e absolutamente inexistente na defesa dos interesses dos es-

tudantes da Universidade de Coimbra”, protesta um dos membros, Hugo Ferreira, ao alertar para a necessidade de saírem desta AM ações concretas para um “posicionamento da AAC na contestação estudantil”. É também vontade deste coletivo questionar “o porquê da ausência da direção-geral e do seu não pronunciamento público” em relação à manifestação de 15 de setembro. “A nossa preocupação é agir e fazer alguma coisa o mais depressa possível”, certifica Alma Rivera, elemento do movimento A Alternativa És Tu. Nesse sentido, o coletivo encontra-se já a dinamizar uma atividade nas cantinas azuis (em frente às portas giratórias) para amanhã, quarta-feira, com o mote “Por mais ação social”. Plano indicativo para dois meses Samuel Vilela adianta que será distribuído o plano de atividades indicativo da DG/AAC para os próximos

dois meses, “como tem sido habitual ao longo das outras AM durante este mandato”, explica. O vice-presidente da DG/AAC refere ainda que podem surgir algumas moções referentes ao impedimento que os estudantes com propinas em atraso têm na sua inscrição neste ano letivo, e também “algo relativamente à ação social”. “Anda tudo num alvoroço pela Festa das Latas”, é a justificação de Ricardo Morgado para a convocatória “tardia”. Ainda assim, Samuel Vilela refere que, para colmatar essa falha, vai ser feita uma divulgação que chegue “ao maior número de estudantes possível”. A DG/AAC assegura que foi feito um convite aos vários movimentos para uma reunião anterior à AM, contudo os representantes dos mesmos asseguram que não lhes chegou nada.

Movimentos a uma só voz Os três movimentos parecem concordar no que concerne à realização de ações que contrariem “o conjunto de

medidas que têm tido efeitos nefastos na vida dos estudantes”, como enumera Hugo Ferreira. Ainda assim, a perceção de que a linha das ações simbólicas seguidas no ano letivo anterior parece ser também um ponto de encontro nos discursos dos coletivos: “as ações simbólicas não têm surtido efeito. A resposta tem de ser ainda maior, tem de ser forte”, pede Alma Rivera. Para reiterar esta união dos três movimentos, Igor Constantino adianta: “a FAE está a tentar falar com os outros coletivos para organizar um encontro aberto e preparar ações unitárias”. O elemento da FAE vai mais longe e deixa a questão: “quem sabe se um projeto de lista conjunto para a AAC”. Hugo Ferreira afiança que a postura da AACção será a de abertura para o “debate com a DG e com os outros movimentos”. Samuel Vilela acrescenta que antes das eleições eleitorais terá que haver outra AM, e aí pode ser dada a continuidade das ações de protesto.


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ENSINO SUPERIOR NAS ÚLTIMAS 100 EDIÇÕES “UC p repar a candidatur a à UNESCO” 18 de abril de 2006

O projeto apresentado à Comissão Nacional da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura previa que se despendessem 45 milhões de euros para a “mudança radical da imagem de Coimbra”, segundo o coordenador da candidatura, Nuno Ribeiro Lopes. Estavam incluídas para requalificação, as faculdades, a Associação Académica de Coimbra, entre outras.

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“ B o l o n h a ca u s a dificuld ades na U C” 9 de outubro de 2007

Foi no ano letivo de 2007/2008 que o processo de Bol o n h a realmente se generalizou pela Universidade de Coimbra (UC). “Quem opte por acabar o curso pelo plano antigo acaba por sair prejudicado”, salienta o então presidente do núcleo de Sociologia, Miguel Violante. Verificamse também atrasos nas equivalências.

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U C v o t a p ar a o p r i m e i r o C o ns e l h o G e r a l 11 de novembro de 2008

Dá-se em 2009 a primeira eleição para o Conselho Geral da Universidade de Coimbra. O órgão assume algumas competências do Senado, passando a definir “as linhas gerais de orientação da Universidade”. Os candidatos pretendem potenciar e representar os interesses dos estudantes no futuro da UC.

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“ E s t u d an t es i g n o r am c o m p et ê n c i a s d o C G ” 7 de dezembro de 2010

Passados dois anos após a candidatura de estudantes para o Conselho Geral, 76, 6 por cento dos estudantes da Universidade de Coimbra desconhece as competências e funcionamento do organismo. “Houve uma tentativa de aproximação mas as reuniões eram muito pouco participadas”, lamenta o senador de Psicologia, João Oliveira.

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“O modelo desta casa será o futuro das residências” Stephanie Sayuri paixa ̃o

Uma cooperativa administrada por estudantes consegue nos tempos de hoje suportar o peso de um empréstimo e ainda ajudar os estudantes mais carenciados Liliana Cunha Assemelha-se a uma casa como qualquer outra, mas o espírito de quem a habita e administra distingue-se. A Cooperativa de Habitação dos Estudantes da Universidade de Coimbra (CHEUC) encontra-se sitiada na Rua Castro Matoso, perto das Escadas Monumentais e nasceu em 1998. “Ceder a casa a uma instituição que fica a cargo dos consumíveis e da sua independência”, acentua o membro da direção da CHEUC, Damieta Fonte. Chegou à cooperativa há seis anos e desde aí encantou-se pelo facto de habitar numa casa de estudantes, para estudantes e administrada por estes. Desde aí, Damieta partiu em busca da maior divulgação possível de sua casa. Acredita ser este o grande exemplo para as residências universitárias dos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC) – “o modelo desta casa será o futuro das residências”. Os SASUC não conseguem garantir em proporção a oferta de habitação para os alunos da Universidade de Coimbra, e como tal, em 2008, encetaram um protocolo

a CheuC é administrada por estudantes e para estes com a esta cooperativa para encaminhar os alunos carenciados que não tivessem lugar nas residências. A raiz social está patente ao longo de toda a visita à casa. Quem

lá quiser viver precisa de ser obrigatoriamente aluno da UC e “se houver mais do que um candidato tem de haver um concurso. Aquele que tem mais dificuldades é que

entra”, atesta Damieta Fonte. Verificam-se os rendimentos familiares, existindo o mesmo critério de seleção como nos SASUC. Já segundo as palavras do antigo administrador dos serviços, António Luzio Vaz, a ideia representa as “novas repúblicas”. O estudante bolseiro usufrui na mesma do complemento para o alojamento e os restantes não pagam mais de 80 euros em quarto duplo. Para mais, a cooperativa encontra-se de momento prestes a abater o empréstimo da casa realizado há uma década o que facilita a sustentabilidade das contas. O preço das rendas de 17 pessoas suporta o empréstimo e ainda chega para acumular num fundo a reverter para situações emergentes. Pelos residentes nota-se satisfação. Daniel, estudante de Economia, prepara-se para assumir o cargo de tesoureiro na nova administração da cooperativa: “temos um projeto que se fosse para a frente teria sucesso pelo preço que praticamos”, sinaliza. O projeto de que fala é o desejo de transferir o modelo para uma nova casa na Rua Antero de Quental. No entanto, há um problema - “300 mil euros de empréstimos e só com oito quartos. Não dá para comportar”, lamenta Damieta Fonte. A direção da CHEUC não tem de momento disponibilidade monetária e “os canais da universidade estão fechados”, contesta Damieta. A vontade de estender a cooperativa vai continuar, porém, para já “ é melhor do que andar por aí a arrendar casas com rendas muito altas”, conta uma recém chegada à casa.

Alunos sem resposta a estágios de verão O aumento de inscrições nos estágios de verão e a redução de pessoal no gabinete levou a que alguns alunos ficassem sem poder praticar a atividade Liliana Cunha “Os estudantes solicitaram a realização de estágio apenas durante o mês de julho, condição que limitou a sua colocação”, certifica a diretora do serviço de gestão académica da Universidade de Coimbra (UC), Susete Araújo. Os estágios de verão, serviço concedido pela Universidade de Coimbra, registaram no ano de 2012 um maior afluxo de candidaturas. A justificar isso foi determinante a perda de metade dos recursos hu-

manos, em 2011. E, como tal, houve estudantes que viram o seu pedido sem resposta. “Não percebo como é que não me selecionaram, não me contactaram, não me avisaram de qualquer tipo de situação”, queixa-se o estudante de Direito, Guilherme Novo Soares. A sua candidatura não recebeu resposta. Mesmo tendo um problema com o formulário, este foi aceite. O estudante deslocou-se ao gabinete um mês depois para procurar saber o resultado, mas nos serviços ninguém o atendeu. “Não era possível atenderem-me, estavam extremamente ocupadas”. Garantiram-lhe que passado uma semana lhe enviavam uma resposta. A resposta não chegou e ficou sem estagiar no verão. “Só me aconteceu a mim que eu saiba”, lamenta. Em concreto, a situação não foi pontual. “Não fui colocada, eu e muitas outras colegas minhas de faculdade”, recorda a estudante de

Psicologia, Joana Nascimento, apesar de as suas colegas terem conseguido o estágio no ano anterior. Não foi a primeira vez que Joana concorreu. “Lembro-me que no primeiro ano concorri e passado uma semana tive uma resposta do gabinete”, conta. A resposta célere este ano não foi possível. O número de candidaturas passou de 893 em 2011 para mais de 1000 neste ano muito em conta pela divulgação realizada junto de cada faculdade e do email informativo do Inforestudante. “Só fiz estágio de verão no ano passado, em agosto. Candidatei-me aos Hospitais da UC, ao serviço de Psiquiatria e entretanto contactaram-me”, conta a também aluna de Psicologia, Sara Cardoso. A estudante declara que deveria haver uma maior preocupação no que toca ao contacto entre gabinete, entidade e estagiário. “Só me disseram que tinha de lá estar a uma hora, no dia tal, e eu tive de ir sem saber muito

bem”, evoca. À parte os constrangimentos deste ano, os três alunos são perentórios em afirmar que tendo ou não realizado o estágio, este representa um “contacto com a realidade de forma a aprimorar os conhecimentos do que é necessário aprender para praticar”, reconhece Guilherme Novo Soares. Joana percebeu que “não queria trabalhar naquele contexto”, e Sara adorou a experiência: “foi muito enriquecedora”, confirma. Assim, “949 estudantes da Universidade de Coimbra puderam em 2012 conhecer de perto a realidade do mundo laboral”, salienta Susete Araújo. A diretora do serviço aponta também o facto de alguns estudantes terem sido contactados “sem sucesso” e de outros terem desistido do estágio. Todavia, a preservação da oportunidade “para a entidade de acolhimento percecionar a qualidade da formação dos pré-finalistas/finalistas da UC” continua.


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CULTURA

Cidade aderiu com entusiasmo à luta por mais cultura ̃o Stephanie Sayuri paixa

O núcleo de Coimbra do “Manifesto em Defesa da Cultura” organizou no passado sábado, 29, o “Dia de Luta pela Cultura”, reivindicando 1% do Orçamento do Estado

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“P o r u m p u n h a d o d e d i s c os ” 7 de Setembro de 2009

para mais informações, com o Manifesto nacional, visitem http://emdefesadacultura.blogspot.pt Maria Emília, reformada de 80 anos que, sentada num banco, assistia às declamações da estátua Florbela Espanca, sempre que alguém assinava o manifesto. “Um país sem cultura não vale nada”, assevera, para depois sublinhar a importância da repetição deste género de manifestações.

Um balanço positivo Manuel Pires da Rocha denuncia: o valor investido na cultura está numa tendência de descida. Algo “absolutamente incompatível com as necessidades que existem no nosso país”. Portugal já não é o mesmo que na época pré-25 de Abril, em que havia “pobretes mas alegretes”. O país tem cultura, tem muitas atividades profissionais ligadas à cultura, que têm um peso “muito grande” no Produto Interno Bruto. O também diretor do Conservatório de Música de Coimbra

não concorda com a contenção e a austeridade, considerando-as “um crime que se está a realizar à economia portuguesa” e também de “tudo o que está ligado à cultura”. No final das atividades, Pedro Rodrigues, subscritor do manifesto e administrador da Escola da Noite, confessa que “as expetativas foram superadas”. A adesão das pessoas às iniciativas “superou largamente” o esperado, acrescentando que os signatários não são “indiferentes à situação em que as pessoas estão” e, com todas as carências que existem pelo país, tinham dúvidas quanto à receção “de uma proposta que, nos dias que correm, é quase radical” - a “defesa da importância da cultura e do seu investimento”. O movimento irá continuar. “Dissemos desde o início que isto era uma primeira iniciativa”, continua Pedro

Rodrigues, para depois referir que esta foi “uma iniciativa de sensibilização da opinião pública e dos dirigentes políticos”. As próximas atividades ainda não estão planeadas, embora este movimento, “quer a nível local quer a nível nacional, seja para continuar. Faz parte da sua própria natureza”. É “um movimento aberto”, conclui. O diretor do Conservatório não esconde o seu agrado pelo decorrer das atividades. “Tivemos muitas coisas na rua, muita adesão, mas não tivemos qualquer tipo de agressividade”, que poderia ser causada pelo típico discurso de haver “gente a morrer à fome” enquanto se “fala de cultura”. Existe a compreensão das pessoas de que “estamos a falar apenas de uma e da mesma coisa; da capacidade que nós teremos para fazer de Portugal um sítio asseado”.

Ciclo de humor inaugurado com dueto no TAGV O ciclo de humor “As Formas do Riso” é hoje inaugurado. Manuel João Vieira e JP Simões são os autores de um espectáculo musical polvilhado de humor Daniel Alves da Silva O Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) inicia hoje o ciclo “As Formas do Riso”, uma co-produção entre o TAGV e as Produções Fictícias (PF), com o espetáculo “Música maravilhosa para gente maravilhosa”. Até junho de 2013, o TAGV receberá humoristas das PF, num programa “marcado pelo humor”,

“C o i m b r a é a c i d ad e d o s l i v r os ” 17 de Setembro de 2009

Já foi colégio, teatro académico e Faculdade de Letras. A Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra é o maior espaço de leitura universitária do país. Com um espólio riquíssimo, é também uma das duas bibliotecas nacionais que possui depósito legal. Mas também ela passa por dificuldades.

Daniel Alves da Silva Vários agentes e polos da atividade cultural coimbrã decidiram unir-se sob a bandeira da defesa da cultura. Num dia preenchido por ações que “obrigavam” os transeuntes a confrontarem-se com a cultura, foram vários os que se surpreenderam e mostraram interesse em perceber e fruir das atividades que decorriam à sua volta. Da Baixa ao Vale das Flores, a cultura esteve em destaque num dia dedicado às lutas contra a austeridade, palavra que já entrou no léxico do dia-a-dia e funciona como o mais eficaz carrasco da cultura que ainda sobrevive em Coimbra. Um piano na Baixa, leituras públicas, visitas guiadas ao Museu da Ciência e ao Teatro Académico de Gil Vicente, concertos, um debate, ensaio aberto, homens estátua… E até houve espaço para um grupo se ter juntado às iniciativas, espontaneamente, efetuando uma performance após o final de um dos concertos, provando que há espaço para as entidades culturais se surpreenderem mutuamente. A cultura saiu à rua num dia quente de outono, enquanto os manifestos circulavam pelos cidadãos mais ou menos anónimos, que anuíam às frases impressas e assistiam, à sombra, a todo um desenrolar de acontecimentos. “Acho muito bem que se manifestem”, confidencia

NAS ÚLTIMAS 100 EDIÇÕES

como asseverou o diretor-adjunto do TAGV, Mickael de Oliveira, durante a apresentação do ciclo. Apostando numa programação de qualidade, mas ao mesmo tempo “capaz de angariar público”, justifica-se a aposta no humor. Manuel João Vieira (MJV) é conhecido pela sua lírica, situada algures na fronteira entre a pura brejeirice e a ironia refinada. Para além da sua persona política, o eterno Candidato Vieira é também ator e, claro,músico. Os seus vários grupos musicais percorrem géneros distintos, contaminando-se e deixandose contaminar pela vidinha tipicamente portuguesa, reunindo assim uma linguagem musical muito particular. JP Simões, natural de Coimbra, escreveu contos, libretos, argumentos, atuou em filmes e é um dos

mais profícuos músicos nacionais. Fundador dos Belle Chase Hotel, Quinteto Taiti, colaborador dos Pop Dell’Arte, também possui uma discografia a solo que lhe permite ser reconhecido como um dos grandes nomes da música portuguesa. Manuel João Vieira assegura a necessidade da colaboração. “É essencial em investigação científica. Em ficção científica também”. Ninguém escapa a essa quase-obrigação, mesmo que as personalidades envolvidas sejam totalmente contraditórias. “O JP [Simões] é um monstro da organização”, confidencia Vieira, “um sujeito realmente picuinhas”. E como têm decorrido os ensaios? “Eu e o JP temos ensaiado muito nestes últimos anos para este espetáculo, só que nunca um com o outro e nunca para este espetá-

culo”. MJV refere a tentativa, infrutífera, de ensaiar o concerto. “Chegámos à conclusão que o melhor era ver o que se fazia quando chegássemos ao palco”, sendo impossível determinar nesta resposta lacónica a existência de qualquer ironia ou se é um mero desabafo. Poderemos esperar algum tipo de interação com o público? Mais uma vez é difícil interpretar as declarações de MJV. “Nada. Tudo e nada”. Embora refira, pouco depois, que está a pensar em “entrevistar o [JP] Simões em público, tipo talk show”. E da mesma forma dúbia que (não) revelou pormenores, deixa um conselho críptico: “como dizia o almirante Américo Tomás, a propósito de uma visita, e ainda antes do acordo anal-fabético: «Só tenho um adjetivo: Gostei».” Interpretem como quiserem.

Em tempos de crise na indústria musical, três editoras independentes de Coimbra deram o seu testemunho. Lux Records, Rewind e MiMi Records, pelas palavras dos seus fundadores, explicaram de que forma se distinguem do resto do mercado e como vêem o futuro do mercado discográfico.

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“U m a e s p é c i e d e convers a” 9 de Novembro de 2010

Criar, inovar e reinventar foi o mote do “Pensar fora da caixa”, que decorreu nos dias 20 e 21 de novembro de 2010. Uma ideia que nasceu num trabalho universitário e que cresceu até se tornar um ciclo de conferências. Que exploraram a necessidade da criatividade se ligar ao marketing, gestão e comunicação.

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“5 0 a n os d e p o i s , um T A G V d e s c a r a c t e r i za d o” 24 de Maio de 2011

Falta de financiamento e desequilíbrio na estrutura administrativa foram alguns dos problemas apontados ao teatro académico. Ao completar os 50 anos de existência, as críticas focam-se também na fraca programação, considerada por um ex-diretor “uma misturada”, sendo “o TAGV uma coisa da «mãe Joana», de porta aberta, vai quem quer”.

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8 | a cabra | 2 de outubro de 2012 | Terça-feira

cULTUra

Não fiques no limbo. Revolta-te! cá

cultura por 2

OUT

“Uma abeLha na chUVa” CineMa aMsCav • 21h30 1€ C/desContos

4 OUT

daniel alves da silva

o ciTac presenteia-nos com “Limbo”, peça sustentada pela questão “o que é o Fim?”. respostas procuram-se. início? Finitude? recomeço? Limbo

Mariana Morais

a ViaGem dança taGv • 21h30

5 OUT

naná VasconceLos MúsiCa taGv • 21h30 10 € C/ desContos

5e6 OUT

WorkshoP Jacc - conTexTos de imProVisação com edUardo LaLa de

s/

Conservatório MúsiCa de CoiMbra

inforMação de preço

8 e9 OUT as Linhas de WeLLinGTon CineMa taGv • 21h30 4€ C/ desContos

10 OUT

a JiGsaW

s/

MúsiCa oMt • 22h inforMação de preço

12 e 13 OUT

coimbra in moTions (cUrTas meTraGens) CineMa taGv • 14h30 5€ C/ desContos

13 OUT

The macaqUes MúsiCa esCadaria do Quebra-Costas 17h00 • entrada livre

18 OUT

Um GriTo Parado no ar teatro oMt • 21h30 s/ inforMação de

preço

19 OUT

The Parkisons MúsiCa • 22h30

states Club s/ inforMação

de preço

Por Daniel Alves da Silva

“Limbo”. Fusão de teatro, performance, quase dança, improviso. Tendo “Fim” como ponto de partida, o trabalho de pesquisa do Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC) passou pelo testemunho de várias pessoas quando confrontadas com a questão: “o que é o Fim?”. Começa por se observar o que o conceito “fim” provoca nas pessoas. “A coisa que mais as tocava sobre o fim; fim de uma relação, fim das estrelas, fim do resistir”. A partir daí, começa o desafio. A ideia é construir algo a partir da agregação dos vários testemunhos. “Nenhum deles fugiu para nenhuma personagem. Estou a tentar mostrar-te ideias e contra pontos”, clarifica um dos quatro encenadores, Gil MAC, que também é um dos atores desta peça. É aqui que surge o conceito “limbo”, perante a dificuldade em digerir e definir “fim”. Os atores incentivam a interpretação de “fim” como qualquer coisa ténue e incerto, “não é uma linha”, alerta o ator Jucélio Carvalho, acrescentando: “ o fim já passou e ninguém deu por ele. O fim não é um marco, o fim é uma continuidade. Ninguém sabe onde começa e onde termina”. E perante isto conclui: “não se sabe se o fim já passou ou se está a chegar. Por isso vivemos nesse limbo, nessa incerteza”. O “fim” surge como a transição, o gerar de uma nova fase. “Chegamos ao limbo, não acreditamos que existe

Uma co-produção deMO e CiTaC que esteve em palco no Teatro-estúdio de 22 a 29 de setembro um fim, acho que é um ponto de partida”, continua o ator. “O sentimento fica em nós para lutar contra esse fim e crescer, voltar a crescer”, explicando: “fim não é finito, é apenas uma ponte, um novo momento”. “Limbo” pretende também fazer da sua plateia um público participativo, ativo, com ideias e vontade de agir. Tendo como palavra de ordem “ação”, aborda-se a incerteza atual das dicotomias “artista – não artista”, da “arte – instituição”, “expressão livre -regulamentação”. Gil MAC proclama também a revolta: “se tu fizeres, vais cometer erros. Com os erros vais aprender. Se não fizeres nada, estás lixado. É o que eles querem.”, garante o ator. “Eles vão determinar que és passivo e estás controlado. Se fizeres alguma coisa, se fizeres uma asneira, essa as-

neira vai repercutir-se”, elucida. Sempre incentivando a revolta, o ator alerta para a responsabilidade individual de cada um, enquanto espetador. “Ação. Tu fazeres alguma coisa. Tu, espetador”, conclui. A arte é hoje um terreno incerto; perante a incerteza, a mensagem do CITAC é a luta. “A questão da arte neste momento é um limbo total, há que lutar, lutar, lutar. Expor o corpo, resistir”, como explica outro dos atores/encenadores, Cláudio Vidal, que clarifica: “com a cabeça no balde, o máximo que conseguir aguentar, levantar a cabeça e continuar”.

“Uma pessoa que entra no CITAC está sujeita a tudo” Num ambiente mais calmo, os atores aproveitam para informar que o

CITAC tem inscrições abertas (a toda a comunidade) até ao dia 15 de outubro para a frequência do curso de iniciação, gratuito e intensivo. Com a duração de seis meses, culminará num espetáculo final. Além de noções técnicas, o curso é um desafio de gestão. Esclarece Anabela Ribeiro, presidente do organismo: ”uma pessoa que entra no CITAC está sujeita a tudo; ser ator, espetador, técnico de luz, de som. Vamos fazendo um pouco de tudo”. Confrontando o espetador com o conceito “fim”. Início. Provocandoo. Estimulando-o. Espicaçando-o enquanto se desenrola. Levando-o à ação, no final: Não fiques no limbo. Revolta-te. O fim é agora…Fim. Com Daniel Alves da Silva e Inês Araújo

SESLA regressa à atividade a secção de escrita e Leitura da associação académica de coimbra (sesLa) encontrava-se desativada desde 2009. neste momento, inicia-se o processo de a reativar, com uma equipa ainda a definir Beatriz Barroca Carlos Rodrigues A reativação parte da vontade de um grupo de estudantes em ter “um espaço de partilha de escrita e leitura”, segundo um dos elementos que pretende a sua reativação, Sara Vitorino. Um espaço que, acrescenta, “de

momento, não existe na Associação Académica de Coimbra (AAC)”. Assim, a SESLA vem representar “um ponto de encontro, um local para conversas informais” para quem estiver interessado, aberto a qualquer membro da comunidade estudantil. A SESLA é reativada por ter “pessoas que compartilham o desejo comum em ver esta secção em atividade”, explica outro estudante interessado na reativação da secção, Rui Sousa. São essas pessoas “motivadas e interessadas”, que farão do SESLA “uma secção viva e atuante na Academia”, nas palavras de Rui Sousa. Uma secção que já funciona, “embora ainda numa fase embrionária”. Há uma Comissão Administrativa que “funcionará até 25 de outubro, altura em que será eleita a direção”, esclarece Sara Vitorino. Apesar disso, a SESLA ainda não tem uma sede pró-

pria. Atualmente apenas é possível contactar a secção através de um endereço de e-mail. Associada à SESLA, e recomendada pela Comissão Administrativa para dar o seu testemunho, Sara Vitorino acrescenta que está a decorrer um concurso lançado pela Secção, subordinado ao tema “125 Anos de AAC, 125 Anos de Luta e Irreverência”. Os textos deverão ser submetidos na página criada para o concurso, onde também se encontra disponível o regulamento. Serão atribuídos dois bilhetes gerais para a Festa das Latas e Imposição de Insígnias como prémio. O concurso termina no próximo dia 2 de outubro. A SESLA planeia, numa fase posterior, participar na Semana Cultural da Universidade de Coimbra, em que será feita uma recolha de histórias, contos e relatos, tendo como tema a

água . O propósito é o de reavivar as mesmas e dá-las a conhecer, o que confere um “valor cultural e etnográfico” à iniciativa, com a publicação de uma revista e uma eventual exposição. Outra ideia da SESLA será a de organizar trocas de livros, o que pode facilitar o acesso à bibliografia técnica de cada curso, sem gastos por parte dos estudantes. d.R.


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desPorTo canoagem - clube fluvial de coimbra

Pódio na mira da canoagem de Coimbra num ano em que a canoagem ganhou destaque mediático, em coimbra, o clube Fluvial de coimbra (cFc), continua a ser o único que desenvolve a modalidade Patrícia Gouveia Emanuel Pereira O Clube Fluvial de Coimbra (CFC) viveu em agosto deste ano um momento alto. A atleta Beatriz Gomes marcou presença em duas finais olímpicas na canoagem, nas vertentes de K2 500 metros e K4 500 metros. Fundado em 1989, é pioneiro em Coimbra na prática desta modalidade.

“Os Jogos Olímpicos deste ano foram o coroar de um trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelos clubes e pela federação nos últimos anos”, afirma o presidente do CFC, Ricardo Machado. Os interessados em praticar este desporto têm surgido e o clube não tem mãos a medir com tanta procura por parte de jovens que querem ingressar na prática da modalidade, muitos deles agora inspirados pela prestação da atleta olímpica. Com a época forte a decorrer entre março e agosto, o clube conta já neste momento com cerca de 70 praticantes que diariamente treinam nas águas do Mondego. No verão, o número de pessoas que procuram praticar canoagem dispara para números ainda maiores. “Tivemos muita gente, demos formação a centenas de jovens, quer nas férias desportivas, quer em atividades com escolas e instituições”, revela o

dirigente. No entanto, à medida que os praticantes aumentam, começa a surgir um grande problema: a falta de espaço. “Necessitamos de ter mais espaço para guardar as embarcações e para o trabalho físico de ginásio, que é complementar ao trabalho de água”, considera. Para Ricardo Machado, este é “um assunto que merece uma urgente resolução, uma vez que afeta a qualidade de trabalho”. Contudo, a crise também já deu sinais. “Dado que é um desporto ligeiramente caro, os esforços financeiros são muitos, apesar do apoio constante da Câmara Municipal de Coimbra, que assume a responsabilidade dos gastos energéticos de luz e água”, desabafa Ricardo Machado. A atestar esta ideia está o facto de nos Jogos Olímpicos deste ano, a canoagem ser das modalidades com uma das menores verbas financeiras.

Por outro lado, embora esteja em fase de crescimento em Coimbra, a canoagem não possui o mediatismo e os simpatizantes de outras modalidades, o que faz com que seja mais complicado encontrar patrocinadores. “Num país que tem todas as condições para ser um grande polo de desenvolvimento, e numa modalidade que tem tido ótimos resultados, infelizmente as coisas não chegam ao conhecimento da opinião pública, pelo menos da forma que achamos que merecia”, declara o dirigente. Neste capítulo, a prestação de Beatriz Gomes em Londres trouxe uma visibilidade extra que pode servir para atrair apoios do Estado. O treinador do Clube Fluvial de Coimbra, André Coelho, mantém também a esperança que “esse resultado tenha demonstrado que a modalidade tem muito potencial em Portugal”, já que “existem boas condições climaté-

ricas para a prática”. De olhos postos no futuro, o técnico revela que os objetivos passam por “crescer sempre o mais possível e superar os resultados conseguidos anteriormente. Felizmente isso parece estar a ser conseguido pois num ano e pouco de trabalho, melhorámos já bastante”, enalteceu André Coelho. No ano passado, os melhores resultados foram conseguidos na Final Nacional de Torneios Abertos, uma prova em que competem as camadas jovens e onde foi alcançado o 4º lugar em equipas e quatro títulos nacionais individuais, bem como um segundo lugar e um terceiro. As ambições para esta nova época passam por, “chegar ao pódio”, afirma o treinador. Perante estes recentes sucessos desportivos, o técnico dá a receita para o futuro afirmando que o importante é “continuar a melhorar”. d.R.

“Chegar ao pódio” e “continuar a melhorar” são, segundo o treinador andré Coelho os grandes objectivos para um futuro próximo

Com motivação extra, novos atletas chegam ao Halterofilismo encorajados pelo resultado conseguido na Ucrânia de alexandre brás, novos competidores chegam para levantar os halteres, com a ambição de conquistas Emanuel Pereira “Apareceram atletas novos agora. É sempre bom para a modalidade haver resultados destes, mas nunca se esquece que é necessário um trabalho mais fundamentado do que apenas só por um resultado individual em si”, afirma o atleta da secção e recentemente campeão do mundo em Lviv , Ucrânia, Alexandre Brás. Foi no Campeonato Mundial de Halterofilismo de Masters (Veteranos), competição que contou com a participação de 579 atletas de 45 países. A participar no esca-

lão M35, categoria de -56kg, o competidor da Briosa, Alexandre Brás, conseguiu levantar 80kg no movimento de arranque e 94kg no movimento de arremesso. Com um total de 174kg,o competidor conimbricense alcançou a medalha de ouro. Um feito inédito para um atleta da secção e para um atleta de Coimbra. “Foi a realização de um objetivo, foram muitos meses de trabalho para isto”, afirma Alexandre Brás, que na Lviv Arena, contou apenas com o apoio da comitiva da seleção nacional. Portugal conseguiu ainda mais um título neste campeonato, alcançado por Maria Lagoa. “É um grande orgulho para todos nós termos alguém com um título mundial, um grande estatuto e uma demonstração do trabalho que temos vindo a realizar”, declara o presidente da secção, Bruno Almeida. “Os custos foram suportados inteiramente pela secção. Nós somos poupados, e com um bo-

cado de esforço conseguimos realizar a viagem ”, assevera. Também o dirigente confirma a chegada de novos competidores, motivados pelo resultado alcançado além fronteiras.“ Já temos atletas novos a treinar. Este resultado permite uma maior divulgação para a modalidade”, menciona o dirigente, acrescen-

tando que “muitos chegam e pensam que também são capazes de conseguir um resultado semelhante.” A divulgação dos resultados, treinos e competições é essencialmente feita via internet. “Há poucos meios de divulgação em Coimbra. Ela passa muito pelas redes sociais”, assegura o presid.R.

dente Bruno Almeida.

Metas bem definidas Numa equipa composta sobretudo por atletas universitários e, terminado o Campeonato do Mundo, os objetivos já estão definidos:“ no nacional de equipas, esperamos ficar nas três melhores classificadas.” Já na Taça de Portugal, Alexandre Brás afirma sem hesitar: “ iremos lutar pela vitória”. Contudo, em novembro, mais uma grande prova está marcada no calendário: o Campeonato Mundial de Powerlifting, que irá decorrer em Las Vegas, Estados Unidos. Tanto Bruno Almeida como Alexandre Brás vão participar na competição, ambos com boas perspetivas. Depois de na época passada a secção ter tido vários campeões nacionais, tanto a nível feminino como a nível masculino, as expetativas deste ano passam por: “manter a qualidade de resultados obtidos “, espera Bruno Almeida.


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DEsPorTo Stephanie Sayuri paixa ̃o

NAS ÚLTIMAS 100 EDIÇÕES “De portas abertas” 21 de outubro 2008

Depois de sete anos encerrado, o Campo de Santa Cruz reabriu. O novo Santa Cruz conta com um polidesportivo e um relvado sintético, infraestruturas que inviabilizam a prática de desportos “indoor”. A obra de requalificação custou cerca de um milhão e duzentos mil euros.

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Downhill Adrenalina na Praça

“ D e po i s d a A c a d ém i c a s ó a A c a dé m i c a ” 9 de dezembro 2009

Académica viu desaparecer um exjogador e sócio número um. Joaquim Gonçalves Isabelinha faleceu com 100 anos. Uma das figuras mais carismáticas de Coimbra, licenciado em Medicina pela Universidade de Coimbra, chegou a dar consultas de graça. Agraciado com diversas condecorações, deixou a cidade e o clube mais pobres.

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“Coimbra acolhe C a m p eo n a t o s N a ci o n a i s Universitários” 23 de novembro 2010

Desde 1990 que a Federação Académica do Desporto Universitário organiza os Campeonatos Nacionais Universitários e pela primeira vez em vinte anos, Coimbra foi a cidade escolhida para organizar. A realização dos jogos na cidade conimbricense implicou a reestruturação do estádio universitário.

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“ N ã o h á m a i s pr es s ã o no cargo de s e l e c i o n a do r n a c i on a l ” 3 de maio 2011

O selecionador nacional, Paulo Bento, concedeu uma entrevista ao Jornal A Cabra .Durante a entrevista, o técnico falou da sua chegada à equipa das quinas, das diferenças que existem entre treinar um clube e uma seleção, das responsabilidades que o cargo acarreta e da importância da formação académica nos jovens desportistas.

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a etapa foi organizada pela Câmara Municipal de Coimbra (CMC) e pelo Bike Clube de Coimbra

No último dia de setembro decorreu, no centro de Coimbra, a última e a mais importante prova da Taça de Portugal de Downhill Urbano Vodafone 2012. Por Emanuel Pereira

O

downhill urbano esteve de volta a Coimbra, este domingo.Com um dia de sol, e quase sem vento, estiveram reunidas as condições ideais para o downhill brilhar no coração da cidade. Coimbra já tem a tradição de acolher provas deste tipo de modalidade, pois já acolheu eventos como a descida das Escadas Monumentais, o Troféu de DHX 2011, Campeonato Nacional de DHU, em 2010. Estas foram “provas míticas que ficaram na memória de todos”, afirma o diretor de prova, Tony Carmo. A etapa foi organizada pela Câmara Municipal de Coimbra (CMC) e pelo Bike Clube de Coimbra. Milhares de pessoas eram esperadas, declara o técnico assistente da CMC no departamento de desporto, Humberto Almeida. “Se pensarmos que vão estar aqui cerca de 200 atletas, todos eles trazem amigos, fãs, e se cada um trouxer duas ou três pessoas, só aí são 1000 de fora da cidade que aparecem aqui “. Para além dos acompanhantes dos atletas, mais pessoas eram esperadas, como o próprio técnico menciona: “contamos ainda com as pessoas que vão passando e que não ficarão indiferentes à imagem que isto transparece”. A prova começou por volta das 9h30m da manhã, e na classe rainha - as elites masculinas - um atleta do distrito, Francisco Pardal partia à frente e saía confiante. “O objetivo é ganhar a corrida, principalmente por estar em casa, entro em todas as provas para ganhar, por isso, quero conquistar a taça”, afirma. Eram os treinos que estavam a começar. Apesar do aparato, o trânsito continuava como se um dia nor-

mal se tratasse. Tony Carmo explica o percurso: “a prova começa no cimo do Jardim da Sereia, passa no centro e por entre o Jardim”, começa por explicar. O trajeto continua pelas escadas do Sereia, sai pelos torreões com um “salto espetáculo ali para a estrada,”, como apelida o diretor da prova, e atravessa a Praça da República. A prova prossegue com a descida da Avenida Sá da Bandeira, terminando em frente ao Centro Comercial Avenida. Um trajeto que era “muito físico, plano e que exigia muita pedalada”, segundo Francisco Pardal.

enorme”. No final, a alegria de uns era o desapontamento de outros. Na categoria das elites, Paulo Domingues acabava de vencer a Taça, após o 3º lugar na prova conimbricense, o que significava a derrota de Francisco Pardal, por 4 décimas de segundo. O vencedor da taça que transporta a alcunha de “Amarelo ” mostrava-se satisfeito: “é uma sensação que toda a gente procura, já a procuro desde o início do ano. Comecei mal a época, tenho-me esforçado por isto e estou feliz”. O melhor na prova foi José Bor-

ges, com um tempo recorde de 1m28,974s.Nas diversas categorias, vários foram os vencedores: em cadetes, Vasco Santos; veteranos B+C (de 40 anos para cima), Arsénio Silva; veteranos A (dos 30 aos 40 anos), José Luís Pereira; juniores (até aos 18 anos), Marcelo Dias, elites femininas, Maaris Meier e elites masculinas, Paulo Domingues. No final, a chefe de divisão de atividade física da CMC, Marta Prata, estava satisfeita com a prova e afirmava que “as provas de downhill são para manter em Coimbra ”. Stephanie Sayuri paixa ̃o

À tarde, tudo mudou Após as eliminatórias das 14 horas, Paulo Domingues, um dos concorrentes, ultrapassara Francisco Pardal na liderança das elites. Três pontos separavam os dois atletas. A grande final estava marcada para as 16 horas, e aí tudo se iria decidir - desde os campeões em cadetes até aos vencedores em veteranos. Mais gente acabou por chegar para assistir, contudo, como afirma Sandra Trigueiros, de 37 anos, que já veio em edições anteriores, “na altura em que eu vim, acho que estava mais público. Parece-me que hoje está menos gente”. Da mesma opinião é José Oliveira, de 40 anos:“ acho que está pouco público, já não é a primeira vez que venho aqui ver isto. Da outra vez que vim, foi à noite e estava mais gente”. As descidas sucediam-se, os pilotos utilizavam as energias que tinham para fazer o menor tempo possível. Entre a assistência estava Bernardo Amaral, de 54 anos, que tinha a filha em competição e desabafa: “sinto o coração nas mãos, mas é uma alegria

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CiDaDE Candidatura à unesCo ̃o Stephanie Sayuri paixa

̃o Stephanie Sayuri paixa

patríCia Murta

NAS ÚLTIMAS 100 EDIÇÕES “C o i m b r a n o F u t u r o ” 13 de Março de 2007

Uma projeção de Coimbra a dez anos e um conjunto de objetivos a alcançar. Entre eles, a reabilitação da Alta e da Baixa, a ligação entre as duas estações ferroviárias, o novo Hospital Pediátrico e a candidatura da Alta Universitária a Património Mundial da UNESCO.

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“M o n d e go à e s p e r a d e d e s a s s o r e am e n t o ” 9 de Outubro de 2007

o resultado será conhecido entre finais de junho, princípios de julho

A caminho do Património Para fazer parte da lista de Património da Humanidade da UNEsCo, Coimbra foi alvo de avaliação. se preencher todos os requisitos poderá vir a ser o cartão-de-visita de Portugal para o Mundo. Por sorina Burlacu, andreia Gonçalves e João Martins

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ove meses após a oficialização da Candidatura “Universidade, Alta e Sofia”, a Património Mundial da Humanidade, foi realizada a primeira visita de avaliação por membros do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS) às áreas candidatas. Na sequência da promoção desta candidatura, inúmeras iniciativas têm sido promovidas pela Universidade de Coimbra (UC), pela Câmara Municipal de Coimbra (CMC) e com a colaboração da Agência de Promoção da Baixa de Coimbra (APBC). Depois de ter sido aceite o dossiê de candidatura, do ponto de vista oficial e administrativo, por parte do Comité do Património Mundial, elaborado pela UC e pela CMC, a ICOMOS, organização responsável pelas visitas de avaliação do “Bem” (património candidato), iniciou esta fase do processo. A primeira visita de avaliação ocorreu na semana de 17 a 23 de setembro. A presidente do ICOMOS-Portugal, Ana Paula Amendoeira, explica que “a pessoa que vem fazer a visita nunca é da mesma nacionalidade, para não haver opiniões tendenciosas”, acrescentando que o perito que veio avaliar o património

candidato é de nacionalidade irlandesa. Esta visita foi acompanhada por membros do ICOMOS-Portugal, nomeadamente pela presidente, pelo vice-presidente, José Aguiar, e pela presidente da Assembleia Geral, Cláudia Torres. Esteve também presente nesta missão a secretária executiva da UNESCO, Manuela Galhardo. Devido ao caráter confidencial deste processo, não foi dado de momento qualquer parecer pelo técnico irlandês e pelos membros da ICOMOS-Portugal. Mas numa fase posterior, os mesmos entregarão os seus pareceres diretamente ao Cen-

tro do Património Mundial da UNESCO. Apenas o resultado final conhecido após a reunião anual do Comité do Património Mundial será divulgado publicamente - “se tudo correr bem entre finais de junho, princípios de julho” adianta a presidente Ana Paula Amendoeira.

tura e conta com maquetes, painéis, elementos multimédia e até mesmo com o dossiê entregue à UNESCO. Tem como extensão os painéis identificativos das áreas candidatas afixados em 29 edifícios da cidade.

Visita “correu muito bem”

Raimundo Mendes da Silva está satisfeito com as atividades de promoção e divulgação da candidatura, sobretudo com a iniciativa “Universidade vai a Baixa”, defendendo que “as iniciativas agora têm de vir de fora para dentro”. O curador considera fundamental que as pessoas encontrem a sua forma de participar na candidatura. Ideia confirmada por um dos membros da direção da APBC, Isabel Campante, - “quando a APBC soube que a candidatura ia incluir a Baixa, quisemos manifestar a nossa disponibilidade”. “A Universidade vai à Baixa” foi um projeto composto por três atividades. Numa primeira fase foi realizado um curso de visual, merchandising e vitrinismo, que contou com uma forte adesão por parte dos comerciantes, como confirma a funcionária da loja de roupa “Abilini”, Graça Azambuja, - “despertoume o interesse para aprender mais”, conta. Outra das atividades promovidas foi o concurso de montras alusivas à candidatura cujos resultados foram já divulgados no dia 29, contribuindo para a mudança de visual das ruas da Baixa. O último projeto de promoção teve também bastante impacto. Ainda o projeto “Montra de Mostrar Sonhos” envolveu a participação de 200 crianças da cidade com a ocupação de vitrinas com desenhos onde foram expressos os sonhos para a sua “casa”. Contudo, o curador da Candidatura garante que mesmo que não Coimbra não seja elevada a Património da UNESCO, já “se ganhou o planeamento e ferramentas, absolutamente, essenciais para a evolução da cidade e da UC”.

“A nossa intuição é de que os contactos estão a correr bem e que a candidatura está a ser analisada com detalhe e apreço” afirma o curador da candidatura, Raimundo Mendes da Silva. A confirmar a intuição do curador, a presidente esclarece que a visita “correu muito bem” acrescentando que “o técnico teve oportunidade de visitar todas as áreas que fazem parte da candidatura”, tendo-lhe sido facultada toda a informação necessária. “Recriar Universidade Alta e Sofia” (RUAS) é a associação que faz a gestão do “Bem” e que perante a UNESCO responde pelo mesmo. Numa primeira fase congrega a UC, a CMC, a Direção Regional de Cultura do Centro e Coimbra Viva Sociedade de Reabilitação Urbana S.A., mas, posteriormente, “virá a ter outros sócios”, garante o curador e vogal pela UC na associação. RUAS terá no futuro sede no Colégio de São Bento, onde já se realiza uma exposição permanente. A exposição pretende dar a conhecer toda a génese da candida-

O INTErMEDIárIO DA UNESCO NO PATrIMóNIO CUlTUrAl ICOMOS é uma organização internacional não-governamental, criada em 1965, na sequência do Segundo Congresso de Arquitetos e Técnicos de Monumentos Históricos, em 1964, que produziu a Carta de Veneza. Conta com o apoio de mais de 90 comissões nacionais, organizadas em rede, com uma direção central em Paris. Dedica-se a promover a proteção e valorização dos monumentos, funcionando como intermediário da UNESCO no processo de avaliação de Candidaturas a Património Mundial dando apoio às instituições que estão a preparar as candidaturas. A sua função essencial passa por dar pareceres e informações técnico-científicas ao Comité do Património Mundial da Unesco. Dispõe de equipas no terreno, que avaliam as condições do património que é proposto, no que diz respeito às caraterísticas de autenticidade, de integridade e conservação, sendo discutidas e avaliadas posteriormente. João Martins e Sorina Burlacu

Levar Coimbra a gostar de Coimbra

Naquela altura o Mondego era considerado “cada vez mais um rio de areia”. Como tal, enumeravam-se as várias consequências do adiamento constante do desassoreamento do rio. A redução do percurso náutico do Basófias e as inundações em invernos chuvosos eram as consequências apontadas. O então vice-presidente da CMC, João Rebelo, afirmava que a obra seria executada em 2008.

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““ [ O m e t r o] p o d e v ir a s e r o s i s t e m a ar t e r i a l d o s t r an s p o r t e s d e C oi m br a” ” 20 de Novembro 2007

Em entrevista ao Jornal A Cabra, o antigo Presidente da Metro Mondego S.A., Álvaro Maia Seco, afirmava que em 2010 estaria concluído o primeiro troço da etapa inicial do projeto. Segundo Maia Seco, o processo estaria “concluído no final de 2012”. Isto é, o metro de superfície em Coimbra à disponibilidade de toda a população.

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“S o us a Ba s t os : f i m à vista?” 18 de Outubro de 2011

O abandono do antigo Teatro Sousa Bastos, há mais de 20 anos é explicado com a não aprovação, por parte da CMC, dos projetos que foram sendo propostos ao longo dos anos. Os vários movimentos de artistas e a vontade do proprietário, Joaquim Orfão, em fazer obras ao edifício em ruínas não se sobrepõem aos atrasos na CMC.

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Centros ComerCiais “Fantasma” Catarina gomes

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antes apelidado “encanto de Coimbra” não passa hoje de uma lembrança ofuscada do que foi. As Galerias Topázio, situadas na Avenida Emídio Navarro, foram já o maior centro comercial de Coimbra, graças, entre outros motivos, à sua localização. Hoje, pouco mais de meia dúzia de lojas resistem, das 34 iniciais, distribuídas por dois pisos. Os poucos que entram dirigem-se expeditamente para os cafés ou restaurante, que publicitam preços à altura da crise. No primeiro andar poucas lojas permanecem abertas. O restaurante Camelo sobrevive de clientela certa, à semelhança do snack-bar. Mas não se compara palidamente ao que era antigamente. José Peixoto, dono do restaurante vegetariano “Menu Verde”, conta que ainda recebe clientes em dias certos e que houve um decréscimo substancial nos últimos anos do seu negócio. “O que me vale é que forneço a restaurantes”, admite. No andar do seu restaurante todas as outras lojas se encontram fechadas, muitas com avisos de penhora, exceptuando os escritórios que funcionam à porta fechada.

Catarina gomes

Não sei se vale a pena investir aqui”

Mariana,Costureira Catarina gomes

“Aqui não se vive, sobrevive-se”. Irondina Lopez mantém o seu Cabeleireiro a custo mas recusa-se a abandoná-lo. “Ninguém o compra e ninguém está disposto a pagar o que dei por ele”, remata. Para contornar a crise desdobra-se em tarefas, evitando ter de contratar empregados. De facto, todas e quaisquer obras ou alterações que o estabelecimento precise são levadas a cabo pela própria. “Sou polivalente, é o que me vale”. Além da falta de clientes, devido não só à crise mas também aos cabeleireiros ilegais que ensombram a sua atividade, por praticarem preços mais baixos, o negócio é igual-

mente atrasado devido à falta de segurança. Aponta à sua volta, correndo a sala desarrumada com os olhos. Por todo o lado podem verse parafusos e ferramentas várias. “Fui assaltada há dois dias. Eu sou uma sobrevivente”, assegura, “serei até não poder mais manter a loja”. Quando indagada acerca da falta de clientela, Irondina não hesita na hora de apontar o dedo. “Não é pela localização de certeza. Aqui querem tudo o que há em Lisboa e depois ninguém vive. O que acontece com os centros comerciais é o que acontece com as fábricas”. Na loja de bordados e malhas


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Centros ComerCiais “Fantasma”

Por aqui já não se vive.

Sobrevive-se Esquecidos devido à ofuscação provocada pelas novas superfícies, os centros comerciais “fantasma” de Coimbra passam despercebidos à maior parte dos habitantes. Mas se, para uns, possuir uma loja num desses centros antigos se torna uma privação, para outros constitui uma oportunidade de negócio. Por Catarina Gomes e Daniela Proença danieLa ProenÇa

Komiral, Maria do Patrocínio move-se vagarosamente pelo espaço, onde trabalha há 12 anos, para chegar ao telefone. “Não vai muito bem não. Isto está mau, dona Adélia”, replica a uma qualquer saudação do outro lado da linha, enquanto arranja uma almofada desalinhada. Segundo a mesma, a situação das Galerias “está nas últimas” porque as lojas são alugadas com o propósito de servirem de escritórios à porta fechada. Na sua opinião, uma administração nova poderia melhorar a

situação das Galerias, que ainda gozam de um espaço propício para albergar negócios vários. “Oh, já aqui fiz muito dinheiro, quando isto ainda era o maior centro comercial da cidade”, relembra saudosamente. Percorre a loja tocando nos objetos, explicando o seu processo de confeção. “Estas camisolas são caras porque são feitas à mão com oito agulhas” e, ainda saudosa, comenta com pesar: “gostava de ensinar às minhas netas o ofício mas já não querem. E assim se perde tudo”. Catarina gomes

Do oito ao oitenta O centro comercial Mayflower, em Celas, é rico, sobretudo, em sapatarias, joalharias, antiguidades e ateliers de costura. Maria Alice Martins, dona da sapataria Tokayo, olha em volta para as lojas adjacentes que sabe já vazias, e lamenta que a administração não tenha fundos para dinamizar o espaço. “Este centro já é menos procurado porque as pessoas também vão desaparecendo da zona”, constata. O membro da administração, Luís Amado, lembra que o centro outrora “movimentava muito bem”, antes dos grandes espaços roubarem toda a atenção. “Os lojistas ficam entregues à sua sorte. Conseguimos fazer obras há cinco anos para tornar o centro mais apelativo, mas é escusado”. Também no Mayflower se depende de clientes muito certos e também aqui os comerciantes se desdobram por várias lojas, tomando conta de mais do que um espaço ao mesmo tempo. “O serviço prestado é do tipo que faz com que as pessoas venham. Eu e a minha mulher tentamos ser acolhedores. Felizmente temos muito que fazer”, acrescenta. Anexado ao Mayflower, o café Bolero funciona quase como um portal para uma realidade paralela, separando dois centros. No Primavera os corredores são bem iluminados e muitas das lojas são orientadas para um público mais jovem. Madalena Pacheco (nome fictício), dona da loja Junior’s, afirma que a sua loja funciona há 16 anos e que sempre teve muita

Quem passa na baixa raramente o repara. O Visconde parece a qualquer distraído uma mera loja de beleza e saúde. Lá dentro, no entanto, no terceiro andar, ainda se encontram funcionais dois outros estabelecimentos. A D. Mariana tem apenas a rádio por companhia. Mantem o seu negócio no centro comercial há 18 anos. Segundo a mesma costumava estar cheio, mas de uns anos a esta parte as últimas lojas que ainda resistiam acabaram por fechar. “Ainda tenho muito que fazer porque não levo muito”, explica com um sorriso. A sua principal concorrência são as lojas das grandes superfícies, que tornam o papel da costureira obsoleto. “Ainda aparecem algumas clientes novas mas muitos não sabem que ainda estou aqui”. Com olhos de menina Mariana vagueia pela pequena loja enquanto enumera os problemas do edifício, visivelmente devoluto. Aquele que mais a afetou sempre foi o ar. A questão do sistema de ventilação não é recente. De facto, Mariana tenta trazê-la à discussão em todas as reuniões com a administração. Por várias vezes se deslo-

cou à câmara municipal para expor a sua situação, advogando que a falta de manutenção do ar tem já causado dores de cabeça, desmaios e problemas de respiração. “Com o elevador avariado há cinco anos, ninguém tem vontade de subir estas escadas. A administração não faz nada, mas também não sei se vale a pena investir aqui”. Nas escadas do terceiro andar, à espera da sua vez, estão sentados vários jovens de origem africana que conversam entre si. Celso Filipe começou o seu negócio há um ano e meio, com três ou quatro clientes, recorda. “Não havia nenhuma barbearia destinada exclusivamente aos PALOP. Por isso foi uma oportunidade para inovar.” As vantagens de ter uma loja num local como o Visconde são várias, segundo o mesmo. “Na baixa o acesso é fácil e torna-se mais barato ter loja porque é um centro desvalorizado”. Mário Otelo que assiste com olhar atento, atira entredentes, assim que questionamos Celso Filipe acerca da sua especialização: “É especialista é... em tirar-nos o dinheiro dos bolsos”. Também no Golden, situado na Avenida Sá da Bandeira, o preço do aluguer das lojas tem atraído novos negócios, tal como a loja de moda jovem Helena Colaço ou a Smart Shop Fantasy. O funcionário do espaço de aluguer de viaturas, também recente, Paulo Oliveira, reconhece o panorama atual dos centros comerciais antigos, que lamenta. No entanto, “todas as situações podem ser moldadas a nosso favor”, observa.

Catarina gomes

Catarina gomes

procura, não tomando a localização como fator prejudicial ao seu negócio. No Primavera estão de momento a funcionar uma farmácia, um ginásio, lojas de moda e acessórios, lojas de artigos para a casa e um cabeleireiro. A única loja vazia havia sido mudada para o primeiro andar.

Encontrar oportunidade na adversidade


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CIÊNCIA & TECNOLOGIA NAS ÚLTIMAS 100 EDIÇÕES “I na u g u r a ç ã o d o M u s e u da Ciência” 5 de fevereiro de 2006

A primeira exposição, que ainda permanece no espaço do Museu, intitula-se “Segredos da Luz e da Matéria”. Atualmente, constituindo-se como um polo de ciência e cultura, continua por explorar pela sociedade coimbrã, em geral, e pela população estudantil, em particular.

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“À p r o c u r a d e um mundo p erfeito” 6 de fevereiro de 2008

A engenharia genética quer uma população mais saud á v e l , inteligente e até com determinados feitios. Dir-se-ia que as recentes manifestações também o exigiram. Fala-se de ética que deve ser cumprida quando se trata de mexer com genes. Fica tudo sempre na mesma. E continuase à espera de D. Sebastião.

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“G o v e r n o e M a s s a c h u s e t ts I n s t i tu t e o f T e c h n o lo g y ( M I T ) ” 19 de outubro de 2010

Por aqueles dias, foi anunciada com pompa e circunstância a renovação do contrato entre o Estado português e o MIT. A ciência é suposta ser um mecanismo de desenvolvimento e progresso de um país. Mas por cá agitam-se contratos com instituições renomadas mas ignoram-se os direitos dos investigadores. Ou são amigavelmente convidados a emigrar.

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O Lobo Ibérico ganha mais dois anos na Malveira Perante a ameaça à sobrevivência do Centro de Recuperação do Lobo Ibérico, o recurso a uma das mais bem sucedidas iniciativas de angariação de fundos vem permitir a permanência da espécie nos solos que ocupa há 25 anos. Por Paulo Sérgio Santos e Miguel Patrão Silva

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erante a possibilidade de ter de abandonar os terrenos onde está situado o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico, o Grupo Lobo, através de uma iniciativa de “crowdfunding”, e em parceria com o portal ambiental Naturlink, conseguiu ganhar algum tempo, evitando a saída da Serra da Malveira. O presidente do Grupo Lobo, Francisco Petrucci-Fonseca, começa por referir que toda a situação foi gerada por “filosofias diferentes”. O também docente da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) acrescenta que “não existe nenhum problema”, tendose chegado a um consenso entre o Grupo Lobo e os proprietários dos terrenos em questão. O Grupo Lobo, uma Organização Não Governamental (ONG) de ambiente criada em 1985, tem como principal objetivo “procurar a coexistência entre o homem e o lobo”, nas palavras do seu presidente. Uma das atividades de divulgação desenvolvidas é precisamente o Centro de Recuperação do Lobo Ibérico, cujo propósito é providenciar um ambiente em cativeiro, adequado a lobos que não possam viver no estado selvagem, permitindo a sua observação e estudo.

Embora outrora numerosos, estima-se que atualmente apenas existam cerca de 2000 lobos em toda a Península Ibérica, 300 dos quais em solo português. Segundo o docente da FCUL, “o lobo é um elemento fundamental, um predador de topo que contribui para o equilíbrio necessário dos ecossistemas”, apoiando esta afirmação no exemplo de Yellowstone (ver caixa). O declínio da espécie deveu-se principalmente a dois fatores: a ocupação humana dos seus habitats e aos mitos criados desde a Idade Média. No nosso país, ainda se vive uma situação de mudança; apesar de mal visto por alguns setores da sociedade, começa a existir uma maior tolerância em relação a este carnívoro. Todavia, para Francisco Petrucci-Fonseca, “ainda estamos longe do que seria o ideal”.

O presente e o futuro São 25 anos de trabalho, visíveis através de 17 hectares onde, como descreve o presidente do Grupo Lobo, “a única coisa que não é natural é o cercado”. Torna-se evidente que são esses mesmos 25 anos que compelem o Grupo Lobo a querer permanecer no mesmo local onde o projeto se iniciou. Posto perante a possibili-

dade de abandono da Serra da Malveira, surgiu uma parceria entre o Grupo Lobo e a NaturLink, o portal ambiental de maior tráfego da Europa. O fundador e diretor-geral da NaturLink, Rui Borralho, refere que o portal “chega a ter mais de um milhão e meio de visualizações por mês”. Na sequência da criação de uma iniciativa internacional de “crowdfunding” –forma de financiamento coletivo ou colaborativo- ambiental em parceria com a plataforma norte-americana Indiegogo, a Naturfunding, uma das campanhas iniciais foi precisamente a angariação de fundos para aquisição dos terrenos do CRLI pelo Grupo Lobo, como corrobora Rui Borralho: “tudo isto se passou muito rapidamente, o contrato para a fundação da Naturfunding foi assinado em junho e lançou-se a campanha no final de julho”. A poucas horas do final da campanha (28 de setembro), já foi arrecadado um montante próximo de 68 mil dólares. Embora seja uma fração do total necessário para a aquisição dos terrenos 250 mil dólares -, o valor conseguido faz com que “esta campanha, se não bater o recorde mundial, estará entre as duas ou

três maiores respeitantes a causas animais”, segundo Rui Borralho. Durante a vigência da campanha, foi acordado entre os proprietários dos terrenos e o Grupo Lobo o pagamento faseado do montante total para a aquisição, ao longo de cinco anos, permitindo a sobrevivência do CRLI nos tempos imediatos. Francisco Petrucci-Fonseca considera que o CRLI não vive apenas de donativos financeiros, podendo as pessoas “visitar o centro e participar no programa de voluntariado, bem como divulgar as nossas atividades”. Mesmo perante dificuldades, “penso que o nosso trabalho está a chegar às pessoas”, conclui o investigador.

o lobo em yellowstone Francisco Petrucci-Fonseca explica que a reintrodução do lobo no conhecido parque norte-americano “teve um impacto muito positivo”. A predação que o lobo exerce principalmente sobre os herbívoros tem permitido um ressurgimento de espécies animais e vegetais que haviam desaparecido ou estavam em perigo de extinção. este facto “possibilitou que o ecossistema alcançasse o seu equilíbrio”.

foto cedida pelo centro de recuperação do lobo ibérico - sara loureiro

“C h i m p a n z é s e a or i ge m do bipedis mo” 17 de abril de 2012

Os chimpanzés, os nossos parentes mais próximos na Ordem dos primatas, partilham cerca de 98 por cento dos genes com o ser humano. E o seu comportamento é uma indispensável fonte de conhecimento para que se possa entender a nossa própria espécie. Uma investigação em português que demonstra, novamente, um lado mais humano dos primatas.

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Uma das lobas do Centro de Recuperação do Lobo Ibérico (Faia ) com as suas crias


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PAíS Migração influencia serviços Médicos

Desertificação assombra hospitais A acompanhar a migração para o litoral, os centros hospitalares das regiões periféricas apresentam um número de médicos mais reduzido. Melhorar os recursos técnicos existentes, criar incentivos e apostar na qualidade das formações no interior parecem ser as soluções mais plausíveis. Por João Valadão

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balado pelo complexo clima político e económico que se vive no país, o setor da saúde apresenta-se como um dos mais fragilizados pelos sucessivos cortes orçamentais feitos pelo governo. Em cima da mesa está o planeamento do encerramento de diversas unidades de saúde, para além daquelas que fecharam as portas ao longo do ano. De norte a sul do país, litoral, interior e ilhas, vários são os hospitais ou centros de saúde que se encontram em estado de falência. A situação é denunciada pelo bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, que considera que “o serviço nacional de saúde, por razões conjunturais e financeiras, está a ser emagrecido”. Ainda que a crise afete o setor da saúde no seu todo, os problemas parecem agravar-se quando se trata de regiões do interior ou menos desenvolvidas. A falta de médicos nesses locais é, neste momento, uma das principais dificuldades com que os centros hospitalares têm de lidar. Mas, se por um lado as populações do interior reclamam por mais médicos, por outro também se debate a falta de emprego dentro da profissão. A resposta parece estar na assimetria da colocação de médicos, concentrando-se essencialmente no litoral e nas cidades mais desenvolvidas. A delegada de saúde da região do Alentejo, Filomena Araújo, acredita que “a assimetria de médicos tem a ver com as assimetrias do nosso país” e com “os rácios feitos por população”. Segundo a mesma, “é isto que faz com que haja um menor número de médicos numa extensão maior, de densidade baixa, mas dispersa.” José Manuel Silva esclarece que “em termos de política nacional do país, existe uma estratégia de desertificação do interior que, naturalmente, não facilita a fixação de qualquer cidadão ou profissional nas zonas interiores”. O bastonário acrescenta que “os médicos são como qualquer outro cidadão: optam pelo local do país onde podem desenvolver com mais qualidade a sua profissão”. Teresa Nunes, interna em Coimbra, reconhece que “efetivamente, existe uma má distribuição que está relacionada com o facto das regiões mais desenvolvidas serem o local onde está assegurada maioritariamente a formação”. A recém-graduada comenta ainda que as pessoas “acabam por criar raízes

d.r.

de recursos”. A opinião é partilhada pelo bastonário da Ordem dos Médicos, que reconhece ser “fundamental a criação de condições, não só a outros níveis, mas em termos de recursos técnicos disponíveis”. O médico observa também que “tem que haver uma garantia de uma remuneração mínima que garanta a qualidade da prática” e realça que “quando são oferecidos salários extraordinariamente baixos, inferiores a 2000 euros brutos por mês, os médicos têm outra opção, que é a emigração”. Já Teresa Nunes relembra as carências das formações: “não é que não haja nos hospitais mais pequenos, mas a maior concentração acontece nos centros mais desenvolvidos”.

Cursos de medicina: o porquê de um não-aumento

diminuida a qualidade na saúde, o doente é quem mais sofre nesses locais, o que de certa forma justifica a centralização que acaba por acontecer”.

Falta de recursos dificulta deslocalização Face ao crescente abandono das regiões do interior por parte dos profissionais de saúde, a solução parte por criar atrativos que aliciem a vinda de recém-especializados. José Manuel Silva diz que “a Ordem dos Médicos desafiou o ministro da saúde a dar aos médicos portugueses as mesmas condições que foram dados a médicos da América La-

tina”, e garantiu ainda que essas “nunca foram proporcionadas aos médicos portugueses”. Questionado sobre o porquê dessas contratações, o próprio não consegue encontrar uma explicação e lembra que “foi uma opção feita por sucessivos governos, uma decisão política dos ministérios da saúde”. A solução para atrair novos médicos parece convergir num ponto - a atribuição de novos recursos. Filomena Araújo explana que “a questão de integração de mais médicos no interior passa por uma abordagem mais global em termos de estrutura,

Em debate há alguns anos, o número de vagas para os cursos de Medicina nas diversas faculdades do país têm gerado algumas discordâncias. Se, por um lado, esse número se aparenta suficiente, por outro, centenas de estudantes abandonam o país para estudar no estrangeiro. José Manuel Silva sustenta que “a razão do não aumento está relacionada com o facto de já se ter excedido as capacidades formativas do ensino pré-graduado”. Este alerta para o excessivo número de estudantes. “Neste momento, a qualidade do ensino pré-graduado em Medicina está afetada porque há um número superior àquilo que é a capacidade formativa das várias faculdades de Medicina”, elucida o bastonário. Filomena Araújo corrobora a afirmação: “o número [de estudantes] é suficiente, em termos da capacidade instalada nas universidades”. Por outro lado, Teresa Nunes assegura que “os hospitais não têm condições para garantir uma formação adequada”. Ainda que reconheça que um número reduzido de médicos crie dificuldades de acesso aos doentes aos hospitais, o bastonário da Ordem dos Médicos ressalva que “médicos a mais são também perniciosos aos doentes, porque reduzem o nível global da qualidade da medicina em qualquer país.” Acerca desta redução, este explicou que “a qualidade geral da formação diminui e os médicos serão tendencialmente médicos não especializados e menos diferenciados”.

NAS ÚLTIMAS 100 EDIÇÕES “ T rê s d é c a d a s d e Autonomia Regional” 18 de Abril de 2006

A constituição de 1976 impulsionou o desenvolvimento dos arquipélagos dos Açores e da Madeira, com a atribuição do Estatuto PolíticoAdministrativo. Os seus representantes são unânimes em afirmar que a constituição saída da revolução de Abril contribuiu para a autonomização e desenvolvimento das ilhas.

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“ P o rt u g a l p r e p a r a c h e g a d a d a g r i pe a vi á r i a ” 24 de Outubro de 2006

O vírus H5N1 encontra-se na fase de alerta três, numa escala de zero a seis, definida pela Organização Mundial de Saúde. A Direção-Geral de Saúde está a preparar os serviços médicos para uma eventual pandemia de gripe, mesmo ainda não tendo sido registado nenhum caso de aves ou pessoas infetadas.

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“Concentração de m e io s e p r e c a r i e da de p r e j u d i c a m li b e r d a d e de imprensa” 10 de Novembro de 2009

Portugal caiu 20 lugares no ranking da liberdade de imprensa. O bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, acredita que “o jornalismo em Portugal está muito enfeudado”. Alfredo Maia, presidente do Sindicato dos Jornalista Portugueses, destaca que “há organismos que dificultam o acesso à informação”.

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“ N o va s a ç õ e s d e r u a “ à rasca”“ 5 de Abril de 2011

A manifestação “À rasca”, que conseguiu insurgirse na agenda mediática, materializa-se agora na forma de assembleias, de debate e de ações de luta práticas. A agora conhecida Geração à Rasca “não teve um fim em si próprio”, nas palavras de um dos promotores da manifestação em Lisboa, António Frazão.

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16 | a cabra | 2 de outubro de 2012 | Terça-feira

Mundo Brasil: Caso “Mensalão“

NAS ÚLTIMAS 100 EDIÇÕES “S é g o l è n e p od e s e r p r i m e i r a m u l he r presid ente” 21 de Novembro de 2006

Em seis semana de campanha com uma intensa cobertura de imprensa, depois de comícios, debates e de um comício exclusivo a militantes do Partido Socialista. Ségolène confirmou o favoritismo, na primeira vez que um partido francês passa por eleições internas para definir o candidato às presidenciais.

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“F M I n a i d a d e d a r e f or m a” 6 de Novembro de 2007

A era da globalização tem vindo a pôr em causa organizações como o Fundo Monetário Internacional (FMI). Com 61 anos e a precisar de reforma, a instituição tem, desde 1 de novembro, um novo diretorgeral.Os especialistas são unânimes ao considerarem que o FMI está a perder influência na economia global.”

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“O m u n d o à e s p e r a d a no v a e q u i p a d a C as a Br a n c a” 9 de Dezembro de 2008

Eleito o presidente, Barack Obama desilude aqueles que esperavam uma administração apenas de democratas.Segundo o comentador de política internacional, Luís Delgado, “há uma grande frustração de muitos americanos que pensavam que ele ia acabar com o sistema de Washington”.

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“D i s c u s s ã o s o b r e c a n n ab i s r e l a n ç ad a n o mundo” 23 de Novembro de 2010

Referendo para legalizar a marijuana na Califórnia intensificou atividades pró-liberalização da substância em diferentes países.Já Filipe Guedes, organizador do evento Marcha Global da Marijuana em Lisboa, sublinha que “a interdição da cannabis tem menos de 100 anos” e considera que “apenas se mantém por questão de ignorância generalizada”.

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Por um punhado de reais Sete anos após a divulgação nos media e cinco anos depois da acusação formalizada, os 11 ministros que compõem o Supremo Tribunal Federal Brasileiro (STF) começam a condenar os 38 réus envolvidos, naquele que é o mais extenso processo desta instância, o julgamento do caso “Mensalão”. Por António Cardoso

“H

á uma manifestação de vitalidade da sociedade brasileira que conseguiu não só divulgar o escândalo, descobrilo, divulgá-lo, julgá-lo e penalizar os seus intervenientes”, assevera o diretor-adjunto do jornal Expresso, Nicolau Santos, referindose ao impacto do julgamento do caso “Mensalão” na sociedade brasileira, que teve início no dia 2 de agosto de 2012. Um julgamento que tem tanto de grande , como de complexo, e segundo os números do Supremo Tribunal são: 90 horas divididas em mais de 15 sessões, 50 mil páginas de processo, acima de 300 volumes, 38 réus e 600 testemunhas. A investigação conta com quase 100 acusações: corrupção ativa, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, peculato, evasão de divisas, entre outras. Envolve maioritariamente a classe política e o setor empresarial do Brasil e quebra “um pouco o tabu generalizado de que há pessoas acima da lei”, afirma o Professor Catedrático da Universidade de S. Paulo e ex-Ministro da Justiça Brasileira, Miguel Reale Junior.

O início da investigação O caso remonta ao ano 2005, quando o deputado Robert Jefferson, residente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), denunciou em entrevista ao Jornal Folha de S. Paulo um complexo esquema de corrupção dentro da máquina do Partido dos Trabalhadores (PT), que inclui a compra de deputados, do PTB inclusive, com dinheiro público. O objetivo seria o de conseguir apoio político. O dinheiro era desviado por Delúbio Soares, extesoureiro do PT, e pelo empresário Marcos Valério. O principal mentor deste esquema é José Lima Dirceu, ex-ministro da Casa Civil. Em agosto de 2007, dois anos após o caso ter sido denunciado, o STF recebeu a denúncia da Procuradoria Geral da República e abriu o processo contra os envolvidos, naquele que foi “um dos maiores escândalos políticos vivenciados no Brasil”, segundo o editor-adjunto da editoria de Poder do jornal Folha de S. Paulo, Thiago Faria. O caso foi divulgado em plena governação do primeiro mandato do ex-presidente Lula da Silva, que afirmou, ao sair da presidência, que “uma das suas missões

d.r.

era provar que esse esquema era uma fraude e que foi uma invenção da oposição.”, diz o editor da Folha de S. Paulo. Apesar disso, o caso avançou dentro dos trâmites legais e foram comprovadas as práticas de corrupção, sendo que, até ao momento, o ex-presidente “não foi objeto de qualquer apuração, nem de qualquer inquérito pelo ministério público.”, diz o exMinistro da Justiça, do governo de Fernando Henrique Cardoso. Apesar da atual presidente ser filiada no Partido dos Trabalhadores, e a governação ser de continuidade, Dilma Rouseff, fez questão de manter uma governação inócua e distante do caso. “Ela fez o que um político faz, que é a separação das três áreas de poder: está do lado executivo e deixou a justiça funcionar”, mencionou o diretor-adjunto do Expresso. Este caso concreto exterioriza um dos maiores problemas judiciais do Brasil. “O crime de corrupção sempre foi da orientação do STF, e sempre fez parte do código penal”, segundo Reale Junior. No entanto, existia até então uma perceção generalizada de que “havia uma impunidade no país”, relativamente aos mais altos quadros políticos e empresariais do Brasil.

Solução para a corrupção Quando questionado sobre uma possível solução destes males de corrupção que afetam o país, Thiago Faria diz que “não existe uma só medida, são várias”. Este ano, o Brasil aprovou “a lei de acesso à informação” que, de acordo com o editor, traduz uma maior transparência no país. Vai mais longe e afirma: “é um avanço enorme”. Na visão de Nicolau Santos, “a corrupção é milenar e voltará a acontecer no Brasil e noutros países”. Dentro dos crimes praticados pelos réus, o que diferencia este caso é sobretudo o género de corrupção praticada, que “não foi motivada para obter dinheiro em beneficio próprio, mas para obter poder político”, defende Miguel Reale Junior. O jurista admite que este caso “fere, de forma central, o processo democrático, em que a forma de obter a maioria no congresso, deixou de ser a persuasão e a coligação, para passar a ser a compra”. Obviamente o caso tem consequências negativas na imagem do Brasil, mas ao mesmo tempo de-

Supremo Tribunal Federal inicia julgamento do Caso “Mensalão” monstra uma vitalidade judicial interna, ao não ser contemplativo com pessoas que defraudam e fazem uso do dinheiro público, desviando-o para meios partidários ou pessoais. Hoje, as convicções do editor-

adjunto do Folha de S. Paulo são perentórias: “mostrar de alguma forma a imagem de que o Brasil é uma democracia plena e, como todas as outras, tem os seus problemas, mas tenta resolvê-los de forma eficaz”.


2 de outubro de 2012 | Terça-feira | a

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eSTATuTo ediToriAl Qualquer publicação deve divulgar, anualmente, o seu estatuto editorial

Estatuto Editorial do Jornal Universitário de Coimbra A CABRA e do portal informativo ACABRA.NET De acordo com o Artigo 17º, alínea 3, da Lei de Imprensa, qualquer publicação deve divulgar, anualmente, o seu estatuto editorial ---

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ACABRA e ACABRA.NET são dois órgãos de comunicação social académicos cujo objetivo é constituírem-se – numa simbiose capaz de aproveitar o formato e estilo diferente que cada um possui – enquanto Jornal Universitário de Coimbra.

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ACABRA e ACABRA.NET têm como público-alvo a Academia de Coimbra e é sob este princípio que devem guiar as decisões editoriais.

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ACABRA e ACABRA.NET orientam o seu conteúdo por critérios de rigor, criatividade e independência política, económica, ideológica ou de qualquer outra espécie.

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ACABRA e ACABRA.NET praticam um jornalismo que se

quer universitário no sentido amplo do termo – desprovido de preconceitos, criativo, atento, incisivo, crítico e irreverente.

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ACABRA e ACABRA.NET praticam um jornalismo de qualidade, que foge ao sensacionalismo e reconhece como limite a fronteira da vida privada.

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ACABRA e ACABRA.NET são na sua essência constituídos por um conteúdo informativo, mas possuem espaço e

Princípios e normas de conduta A isenção, imparcialidade e integridade que devem marcar o trabalho no Jornal Universitário de Coimbra implicam por parte dos seus jornalistas o conhecimento e aceitação de regras de conduta. Assim, o jornalista deve: 1. Recusar cargos e funções incompatíveis com a sua atividade de jornalista. Neste grupo incluem-se ligações à Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra, à Queima das Fitas, ao poder autárquico, bem como a atividade em gabinetes de imprensa, na área da publicidade e das relações públicas. Este grupo fica impedido, à partida, de escrever na editoria de Ensino Superior dado o conflito de interesses e parcialidade. Quanto ao resto das editorias a restrição anula-se. Deste grupo estão excluídos, por respeito para com o direito do estudante de Coimbra de participar na gestão da Universidade de Coimbra, os cargos em órgãos de gestão das faculdades e da universidade. Cabe à Direção do Jornal Universitário de Coimbra decidir quais os casos em que a atividade jornalística se encontra prejudicada por outras atividades e agir em conformidade. 2. Abdicar do uso de informações obtidas sob a identificação de “jornalista do Jornal Universitário de Coimbra” (ou similares) em trabalhos que não sejam realizados no âmbito do Jornal Universitário de Coimbra. Além disso, o jornalista compromete-se ao sigilo das informações obtidas desta forma. Exceções a esta norma poderão ser autorizadas pela Direção do Jornal Universitário de Coim-

bra. 3. Recorrer apenas a meios legais para a obtenção da informação, sendo norma a identificação como jornalista do Jornal Universitário de Coimbra. De forma alguma podem ser usadas informações obtidas através de conversas informais ou outras situações em que o jornalista não se identifica como tal e como estando em exercício de atividade. 4. Abdicar de se envolver em atividades ou tomadas de posição públicas que comprometam a imagem de isenção e independência do Jornal Universitário de Coimbra. Contudo, o Jornal Universitário de Coimbra reconhece o direito inalienável do jornalista universitário a assumir-se como cidadão. Assim, nunca um jornalista do Jornal Universitário de Coimbra será impedido de se manifestar em Reunião Geral de Alunos ou Assembleia Magna, desde que não esteja nessa altura em exercício da sua atividade jornalística, em cujo caso deverá prescindir do seu direito de expressão e voto. De igual forma, nunca será impedido de participar ativamente em qualquer atividade pública. Cabe à Direção do Jornal Universitário de Coimbra decidir quais os casos em que a atividade jornalística se encontra prejudicada por outras atividades e agir em conformidade. 5. Ter consciência do valor da informação e das suas eventuais consequências, particularmente no meio académico de Coimbra, no qual o Jornal Universitário de Coimbra é produzido e para o qual produz. Neste contexto particular-

mente sensível, o jornalista deve ter especial atenção à proveniência da informação e à eventual parcialidade ou interesses da fonte (não descurando o imprescindível processo de cruzamento de fontes), bem como garantir uma igualdade de representação em caso de informações contraditórias ou interesses antagónicos, evitando que o Jornal Universitário de Coimbra se torne meio de comunicação de qualquer instituição, grupo ou pessoa. Num meio em que o desenrolar de acontecimentos pode afetar, direta ou indiretamente, o Jornal Universitário de Coimbra, o jornalista tem também que saber manter o distanciamento necessário para a produção de uma informação rigorosa. 6. Garantir a originalidade do seu trabalho. O plágio é proibido. Nestes casos, a Direção do Jornal Universitário de Coimbra deverá agir disciplinarmente e o jornal deverá retratar-se publicamente. 7. Recusar qualquer tipo de gratificação externa pela realização de um trabalho jornalístico. Estão excluídos deste grupo livros, cd’s, bilhetes para cinema, espetáculos ou outros eventos, bem como qualquer outro material que venha a ser alvo de tratamento crítico ou jornalístico; constituem também exceção convites de entidades para eventos que tenham um inegável interesse jornalístico (por exemplo, convites da DireçãoGeral da Associação Académica de Coimbra para cobertura do Fórum AAC). Cabe à Direção do Jornal Universitário de Coimbra resolver qualquer questão ambígua.

abertura para conteúdos não informativos, que se pautem por critérios de qualidade e criatividade.

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ACABRA e ACABRA.NET integram-se na Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra, perante cuja Direção são responsáveis; contudo, as decisões editoriais d’ ACABRA e d’ ACABRA.NET não estão subordinadas aos interesses ou a qualquer posição da Secção de Jornalismo, nem aquele facto

interfere com a relação sempre honesta e transparente que ACABRA e ACABRA.NET se obrigam a ter perante os seus leitores.

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A CABRA é um jornal quinzenal, cuja periodicidade acompanha os períodos de atividade letiva.

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ACABRA.NET é um site informativo, de atualização diária, cuja atividade acompanha os períodos de atividade letiva.

PUBLICIdAdE


18 | a cabra | 2 de outubro de 2012 | Terça-feira

CinEma

arTes

“paranorman”

E

De chris BuTLer e sam FeLL Com Kodi smiT-mcphee 2012

Terror animado

vEr

CrítiCa De manuel roBim

H

á uma tendência para romancear o modo de vida dos saudosos anos 20: o burlesco dos festins de cabaret, o ritmo vertiginoso das correntes musicais, o glamour dos vestuários e das mansões, os comportamentos de êxtase. Boardwallk Empire - a série da americana HBO criada por Terence Winter com a ajuda de Tim Van Patten e Martin Scorsese não se afasta desta tendência. Todo o trabalho de cenografia, fotografia e figurinos resulta, visivelmente, de um esforço por incorporar a sedução de que qualquer série de época necessita para conquistar o público. E a equipa de Boardwalk fá-lo impecavelmente, esforçando-se pela incorporação dos mais diversos

sta é a história de Norman, um rapaz que é incompreendido pela maioria das pessoas que o rodeiam, incluindo a sua própria família. Norman, no entanto, possui um estranho dom: consegue comunicar com os mortos. Na verdade, esse facto apenas ajuda a aumentar a distância entre ele e todos os que se recusam a aceitar a sua estranha capacidade paranormal. Mas os verdadeiros problemas começam quando o seu tio, um velho que tresanda a loucura e a dentes por tratar, lhe passa um complicado testemunho. Norman “apenas” terá de pôr travão à maldição da bruxa que assombra a cidade, tarefa que poderá revelar alguns segredos obscuros que, desconhecidos do povo, irão alterar significativamente as vidas de

quem nesta aventura se envolver. Com uma realização soberba, planos cinematográficos perfeitos a lembrar Steven Spielberg, com uma história cativante e personagens interessantes, Chris Butler (“Corpse Bride”) e Sam Fell (“Flushed Away”) criaram uma história perfeita para crianças e adultos. Referências a clássicos de terror fazem-se notar de forma muito inteligente e por vezes hilariante. Na verdade, algumas das referências serão apenas entendidas pelos mais graúdos, ao passo que muito do ambiente criado é próprio para os mais novos. O que torna esta animação tão interessante e completa é, no fundo, o originar de uma aventura recheada de twists e surpresas, vivido por personagens muito característicos – alguns proposita-

damente clichés do filme de terror típico – que, a juntar à combinação de exatidão na direção e composição minuciosamente cuidada, deixa subtilmente o espectador confortável nos cenários criados. Quer o quarto exageradamente temático de Norman, ou mesmo as ruas vazias da vila onde Norman vai cumprimentando, com a naturalidade que lhe é característica, pessoas mortas. “ParaNorman” é um filme para todos, com aventura e humor, em qualidade e quantidade, um trabalho extremamente completo da Laika Entertainment que, no seu estilo peculiar, mostra simultaneamente que nem um filme de terror precisa de ser sangrento, nem uma animação para crianças necessita de ser uma compilação de ursinhos de peluche.

Boardwalk empire - a segunda série” pormenores e tentando uma aproximação às histórias verídicas. Porém, os anos 20, não foram tão perfeitos como muitos fantasiam. E é aqui que a série de Terence Winter ganha toda a sua força. Desenrolando-se numa América marcados pela “Lei Seca” e pelo chamado “período de ouro” da Máfia Americana, esta é uma história de gangsters corruptos interpretados de forma brilhante por atores como Steve Buscemi, Michael Pitt ou Stephen Graham. Em Boardwalk não há censuras, nem preocupações com a suscetibilidade dos espetadores. Há sim tiros ao desbarato, escalpes arrancados como “quem toca violino” (palavras da equipa de produção), degolações a céu aberto. Tudo isto regado a muito, muito álcool. Não fosse o fruto proibido o mais ape-

tecido. Uma série de traições, guerras familiares, extrema ambição e intrincadas conspirações políticas que se intensificam nesta segunda temporada. Esta chega agora a Portugal em DVD, na mesma altura em que – coincidência ou não – estreia na televisão: para quem não consegue esperar pacientemente os episódios semanais. Uma breve nota para o conjunto de extras que podíamos dispensar: um dossier de personagens inacabado e spots das duas temporadas que nada acrescentam. Salvam-se os já habituais episódios comentados que acabam por satisfazer a curiosidade dos fãs e uma breve retrospetiva histórica dos anos 20 que podia ter sido bem melhor aprofundada. rafaela Carvalho

filmE

Extras

De Terrence WinTer eDitora

Lusomundo/Warner 2012 Artigo disponível na:

Álcool tingido de sangue


2 de outubro de 2012 | Terça-feira | a

cabra | 19

FeiTas OUvir

lEr

life in loops”

A

cabou por ser longa a espera pelo sucessor de “Turntable Food” de DJ second ride Ride. Seis anos é a “distância” que separa a estreia da confirmação. “Life In Loops” surge assim como produto de uma maturação, tanto nos pratos, como na receita. As suas técnica e criatividade são qualidades mais do que reconhecidas e premiadas, dada a sua colecção de títulos ao nível nacional e mundial. Vão deixando a sua marca nos inúmeros projectos de Ride, tais como Pixel Trasher, que liga a imagem e o som na ponta dos dedos, bem como “Turntable Food”, que cruza Jazz e Hip-Hop ao De bom estilo de Rocky Marsiano. dJ ride Fusão parece ser a palavra de ordem e em grande parte por eDitora “culpa” das colaborações (que opTimus discos não são poucas). Poderia, portanto, “Ride & Amigos” ser o 2012 nome de qualquer um dos seus discos; Rodrigo Amado, Margarida Pinto, Sam The Kid, Tekilla, Sagas e Stereossauro (Ovelha Negra) figuraram na lista de convidados do primeiro disco. Em “Life in Loops”, Sarah Linhares, Paus, Lisa Davis, Legendary Tigerman, Stereossauro, G4Tet e Beatshake são os “amigos” que o acompanham. O resultado é uma travessia pelo Blues, Hip-Hop, Funk, Dubstep, Breakbeat, Soul e mais umas quantas influências que se vão descobrindo, após sucessivas audições, trazendo à memória o disco “Enter” de DJ Kentaro; Tudo isto, sem nunca esquecer o Scratch, através do qual teve oportunidade de tocar com o reputadíssimo DJ Q-Bert. Este é um disco que, claramente poderia figurar no catálogo de editoras como a Ninja Tune, dado o nível de qualidade e originalidade. Para já, e à semelhança do seu último EP (In Journeys), Ride vai-se mantendo por solo nacional (Optimus Discos), com a promessa de se estender a outros voos. É a evolução mais do que esperada de uma carreira que se vai afirmando pelo trabalho. E é no trabalho que parece rodar o loop da vida de DJ Ride. Carlos Braz

um dia na vida de ivan Deníssovitch”

Tanta guerra para tanto dia

De aLeKsandr soLJeníTsin eDitora seXTanTe ediTora 2012

guerra. E o autor sabe-o bem. Também lá esteve, assim como todas as personagens do livro. A ficção surge apenas na personagem principal, Deníssovitch. Contudo, em tudo se nota a extrema crueza da realidade. As palavras parecem condizer com o ambiente e também elas se movem em planos cinzentos e frios, mas cientes de todo aquele mundo, onde os dias são guerras. À medida que se vai percorrendo este dia, o autor, a princípio com um olhar mais sóbrio, também se deixa levar pela crescente vontade de Deníssovitch de o dia acabar. Quer tanto que o dia acabe como a sua personagem, e tudo o que impede um de dormir é tudo o que faz o outro de soltar mais berros no narrar do dia. E assim, numa narrativa simples mas densa (à boa maneira russa), o gulag de Soljenítsin faz-nos pensar no tempo, num tempo onde o mês passa a ter só três domingos, o sol a pique é só à uma da tarde, as nove da noite são afinal às dez. O tempo mede-se de outra forma. Quanto tempo falta para o almoço, para a formatura, para a segunda chamada, para se poder viver? Procura-se um tempo e luta-se contra outro. Amanhã começa mais uma guerra. Três mil seiscentas e cinquenta e três guerras em três mil e seiscentos e cinquenta e três dias. Mais um dia e a vida não foge. João gasPar

JOGar

Borderlands 2” o regresso do filho pródigo

GUErra Das CaBras A evitar Fraco Podia ser pior Vale a pena A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro

Artigos disponíveis na:

O

gulag emerge sobre os olhos de Soljenítsin como uma grande estepe seca, fria e plana, vazia de comida e de possibilidades de fuga, onde se espelha uma lua gigante e um sol que não aquece. Onde a vida é uma coisa que facilmente se esvai - na solitária, nas manhas do gulag, numa doença que ataca o corpo. Ninguém quer acabar “na terra fria”. O romance, pela primeira vez traduzido diretamente do russo por António Pescada (o mesmo que traduziu Anna Karenina de Tolstoi para a Relógio D’Água), foi escrito a quente em 59, enquanto Soljenítsin cumpria a sua pena num campo de trabalhos cazaque por críticas a Estaline. Ivan Deníssovitch, a personagem principal, há oito anos que está num gulag a tentar defender-se com o que pode do sabor da terra fria. Faltamlhe dois anos para acabar com os dias. E aqui rumamos a um dia seu, apenas um dia, que se mostra tão grande que enche as páginas de um livro. É um dia, sem dramas nem manhas, um único dia que revela todos os outros através do olhar de alguém que o percorreu. Em “Um dia na vida de Ivan Deníssovitch” o tempo sai desconstruído. Não que Soljenítsin utilize analepses ou prolepses. Um dia deixa simplesmente de ser um dia. É uma

Plataforma ps3, XBoX ou PC eDitora 2K 2012

T

odo aquele chorrilho anacrónico de lugares-comuns a que nos submeteram durante horas infindáveis de uma lobotomia moral, nos meandros da educação cívica impingida algures entre o 5º e o 9º ano, poderia sintetizar prolificamente a experiência de jogar “Borderlands 2”: “não sentencies à partida”, “há sempre mais do que um passo” ou o saudoso “não julgues o livro pela sua capa”. O impacto inicial de estarmos perante uma quase qualquer coisa – um cenário e figurino que quase aparentam um “HalfLife 2”, uma fluência rítmica que quase se aproxima de um qualquer “Unreal” e o cliché do robot idiota que, muito forçadamente, quase se assemelha ao Weathley, do “Portal 2” (ainda para mais, sem o indispensável tom de Stephen Merchant) – rapidamente dá espaço a todo um mundo novo de tumulto incessante, uma profusão de opções e caminhos, e explosões e tiros q.b. – tudo regado com uma generosa dose de plaquetas e glóbulos vermelhos, e demais ingredientes ruborizados, que jorram desregradamente a cada cinco segundos. E depois há as armas! Para todos os gostos – literalmente! Há armas de

fábricas e de artesãos, e as combinações entre elas, e as que disparam balas e as que disparam líquidos corrosivos e ainda, pasme-se, as que por uma artimanha mal amanhada se transformam numa granada... Muito resumidamente, “Borderlands 2” cumpre a sua função de sequela e aperfeiçoa a cada frame o triunfo do precedente. Pandora, o cenário de toda a trama, permanece o baldio deserto onde o caos pós-apocalíptico de “Eli” conheceu um dia a aridez de um qualquer western barato americano – muito embora, a ingenuidade dos gráficos limpos da primeira versão tenham dado origem a uma sublime complexidade plástica da imagem, que mais remete para a distorção rotoscópica de “A Scanner Darkly” do que para uma aproximação ao real. As personagens, essas, continuam quatro (embora diferentes do primeiro) e, como apanágio de qualquer RPG que se preze, correspondentes na forma preconceituosa mais básica (onde não faltam o elemento feminino e o musculado disforme) à função que ocupam. Receita mais do que suficiente para um co-op alienante, o bastante até o, já previsto, remate da triologia. João miranDa


20 | a cabra | 2 de outubro de 2012 | terça-feira

soltas a verdade que

critic’arte

a máscara oculta

uma ideia Para o eNsiNo suPerior João Paulo avelãs NuNes • Historiador, Fluc e ceis20 da uNiversidade de coimBra

Balbina Mendes, artista plástica transmontana no campo da pintura naturalista, nasceu em 1955, em Malhadas, Miranda do Douro, e dedica-se em exclusivo à pintura. É dela a exposição “Máscaras Rituais do Douro e Trás-os-Montes” em exibição no Museu Municipal de Coimbra- Edifício Chiado. As máscaras, símbolos do imaginário popular cujas origens (mágica, religiosa ou mitológica) se perderam no tempo, foram escolhidas para a exposição no Museu Municipal de Coimbra, no sentido a apelar à conservação e defesa do património imaterial das comunidades do nordeste português. Cada máscara transporta em si a possibilidade de múltiplas interpretações. Interpretações no domínio da histórica, da antropologia, da arte popular, do mundo pagão. Manipulando cor, forma, textura, expressão, Balbina Mendes confere à tele vitalidade e energia contagiantes. A máscara ganha vida, sai da tela. Saem os caretos que representam o diabo e afugentam os espíritos. Saem as raparigas com as saias rodadas das festas populares. Saem os rapazes que disputam entre golpes e palavrões. As danças, as corridas, os gritos e as chocalhadas. Os fatos de colcha franjados de lã vermelha, amarela, verde, azul. A alegria, espontaneidade e fraternidade do povo. A máscara vive também de uma disputa paradoxal entre ocultação e identidade. Ela, que oculta, pretende acima de tudo a revelação de uma verdadeira identidade, a libertação e exaltação daquilo que está verdadeiramente contido em cada um de nós. Partindo deste caráter libertino, deseja a emersão de ordem e regeneração; o revelar de situações que permaneciam camufladas, associadas a compartimentos socialmente rejeitados A exposição “Máscaras Rituais do Douro e Trás-os-Montes” proporciona uma relação entre máscara e espetador, onde a máscara deixa cair a máscara e revela todo o seu caráter e verdade, ao mesmo tempo que espetador viaja e se confronta com os seus receios mais profundos. Cai a máscara, tudo fica às claras….

Por Mariana Morais

A UniversidAde de CoimbrA e A “Crise de 2008” Vivendo-se hoje uma profunda crise económico-financeira, social e política que afecta, nomeadamente, os países desenvolvidos e de desenvolvimento intermédio — com destaque para os Estados integrantes da União Europeia e, nestes, para países como Portugal —, talvez se justifique considerar hipóteses de futuro da Universidade de Coimbra (UC) tendo em conta questões decorrentes da conjuntura actual. Face à ameaça de destruição, quer dos “Estados-Providência” nacionais, quer de posturas multilaterais e menos assimétricas de relacionamento entre países no seio da União Europeia, com que bloqueios e oportunidades se confronta a UC? Defende-se, em primeiro lugar, as vantagens de a UC continuar a ter como objectivos fundamentais contribuir para a redução das desigualdades socioeconómicas e socioculturais, para o desenvolvimento integrado e sustentável, para o reforço da democracia e da cooperação internacional. É, assim, decisivo que se mantenha como instituição pública e autónoma onde existe liberdade de investigar, ensinar e aprender, de prestar serviços à “comunidade” (local/regional, nacional, da União Europeia e global), de intervir nos planos cultural e cívico; onde se assume o dever da procura da qualidade e da gestão rigorosa dos recursos mobilizáveis.

Só se poderão manter tais propósitos se no nosso país não se continuarem a degradar as condições de acesso, frequência do ensino superior e sucesso para muitos dos estudantes de cursos de graduação e pós-graduação. Se a UC puder assegurar aos seus colaboradores condições dignas e operatórias de trabalho, de remuneração e de progressão na carreira. Se a UC dispuser de instrumentos e estratégias eficazes de auto-governo e de colaboração com instituições congéneres nacionais; de internacionalização e de abertura à “comunidade”; de avaliação, aperfeiçoamento, bonificação de boas práticas e penalização de actuações menos positivas. Em termos mais concretos, dever-se-ia libertar os investigadores e docentes de parte substancial das tarefas administrativas que lhes têm sido atribuídas. A UC poderia concluir o debate acerca da “reestruturação dos saberes” a desenvolver no seu seio e retomar o diálogo com o Instituto Politécnico de Coimbra sobre o futuro de ambas as instituições. As unidades de investigação sediadas na UC deveriam ser convidadas a estabelecer um relacionamento mais sólido com as correspondentes unidades e subunidades orgânicas. O aparelho de Estado português e a “sociedade civil” pode-

riam incorporar mais na sua actividade conhecimento inovador e técnicos com qualificação superior. Muitos dos estudantes deveriam, também, aproveitar melhor a oferta — científica e profissionalizante, cultural e desportiva, associativa e política, etc. — directa e indirectamente associada à UC, reduzindo o investimento feito em actividades e comportamentos com escassas virtualidades formativas. A Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia poderiam garantir à UC um enquadramento mais estável, para além de utilizaram os respectivos mecanismos de avaliação de modo sobretudo construtivo e formativo, reduzindo as exigências burocráticas e atenuando a ênfase na avaliação sumativa.

d.r.

Breves Wikileaks O jornalista e ativista Julian Assange, fundador do Wikileaks, em asilo diplomático na nação do Equador, discursou em videoconferência sobre a sua liberdade de expressão enquanto exilado, e acusou o governo do Estados Unidos da América de ser responsável por uma campanha que quer criminalizar a prática da livre expressão. O ativista declarou que é tempo dos EUA porem fim à perseguição das pessoas que supõem ser as fontes do Wikileaks e considera que é tempo de Obama fazer a coisa certa e unir-se às forças de mudança, sem “belas palavras” mas com ações de valor.

SCUT O Governo garantiu a redução das tarifas em 15 por cento

das antigas vias sem custos para os utilizadores (SCUT) não tem impacto no Orçamento do Estado, sendo compensada pela poupança alcançada pela revisão dos contratos das Parcerias Públicas-Privadas(PPP). A redução de 15 por cento no preço das portagens das antigas SCUT para todos os utilizadores resulta do esforço conduzido pelo Governo na revisão dos contratos das PPP rodoviárias, que já permitiu uma poupança acumulada de 1,2 mil milhões de euros. Açores O Presidente do PS/Açores garante que os socialistas não venderão a autonomia ao governo e salientou que Vasco Cordeiro, candidato à presidência do executivo regional, não precisa de dizer se concorda com António José Seguro. Carlos César, que se referia às recentes declarações da líder do PSD/Açores sobre Pedro Passos Coelho, frisou ainda que os socialistas "não vão vender a autonomia ao Governo da República", assegurando que não acontecerá

nos Açores o que aconteceu na Madeira, uma região que "faliu e entregou o poder a Lisboa".

Autarquias Mil freguesias vão desaparecer até ao final do ano. Até 15 de outubro próximo, os municípios têm de se pronunciar sobre quais as freguesias que querem fundir. A medida pretende dar tempo aos mesmos para se preparem para as autárquicas de 2013. O confronto entre os autarcas e os membros do governo é patente, com os primeiros a afirmarem a impossibilidade de terem o processo concluído até ao fim de 2012. As reformas administrativas levadas a cabo pelo governo de Pedro Passos Coelho têm gerado grande descontentamento

entre os autarcas de todo o país, que planeiam agora um protesto em Lisboa. Genéricos Uma lei aprovada pelo governo português para acelerar a entrada de genéricos no mercado já está a gerar polémica no seio da indústria farmacêutica. Os laboratórios europeus já avançaram com uma queixa contra Portugal, afirmando que a lei “viola os direitos da propriedade intelectual da indústria". A queixa está agora a ser avaliada pela Comissão Europeia e o Estado português tem até ao final do ano para dar uma resposta. Irão A agência de notícia Reuters foi condenada por “propaganda contra o regime”. Em causa está uma reportagem televisiva sobre mulheres iranianas que praticavam artes marciais, e que um júri considerou como propaganda perigosa. A peça já tinha levado, em março, à suspensão das atividades da agência no país. A decisão do júri deverá ser agora confirmada

por um juiz do tribunal de Teerão e a Reuters, que aguarda a decisão, tem a possibilidade de recorrer.

Lamego A cidade esteve recentemente no panorama internacional, através de uma das suas mais recentes organizações culturais, a Zigur Artists. Um projeto, de vários jovens da cidade, prima pela promoção da diversidade cultural. A entidade foi ainda responsável, este ano, pela realização do festival “TRC ZigurFest”. O destaque deu-se quando a Monocle, uma importante revista internacional, referiu a organização nas páginas da sua última edição. Por António Cardoso e João Valadão


2 de outubro de 2012 | terça-feira | a

cabra | 21

soltas o comBoio Às arrecuas

micro-coNto

Por cristóvão de aguiar na Praça do Município… Trajando de peixeira, dirigiu-se em discurso directo à assembleia da carruagem, ergueu a voz de contralto e disse: Minhas senhoras e meus senhores, colegas e companheiros de ofício, o peixe custa os olhos da cara, eu bem

em coro; do que este país precisava era de um Salazar, ao que outro passageiro, mais politizado em ideologia educacional, acrescentou: Um será escasso, dois seria o ideal… A presidenta, visivelmente incomodada por fora, cortou-lhe o raciocínio rente, ex-

Ilustração Por tIago DInIs

D

e marcha atrás, perfurou o comboio a escuridão do primeiro túnel, só assim poderia o tempo virar-se do avesso e permitir entrelaçar-se com outro, já caído no campo de batalha, todavia redivivo no coval da memória. Num apeadeiro em cuja plataforma se notava o cimento rachado e inçado de remendos mendicantes, chuleados de pretérito perfeito, simples ou composto, ergui a mão e mandei parar o trem – parou. Era a camionete da carreira para a cidade, aí exercia os meus estudos e outras laborações. Os passageiros que aguardavam o comboio para a Figueira não entenderam a transfiguração e lavraram o seu protesto numa folha azul de papel selado, timbrada, já ninguém se lembra, com o respectivo abaixo-assinado… Entrei no comboio num apeadeiro sem nome; na carruagem viajavam peixeiras da Figueira – vinham de Coimbra. Apregoavam pelas ruas eh sardinha da areia, a gente ouvia d’aru, mas percebia-se. No interior da carruagem deambulava um fresco cheirinho a peixe, havia quem sentisse arrepios e se mostrasse enojado, a presidenta do maior partido viajava também e, pelas suas narinas, notava-se que o odor as estava insultando – ia convidar, bichanou-me um ex-ministro que, logo após tomar posse, telefonou e disse: Papá, sou ministro, vou ganhar rios de dinheirame logo que termine o mandato… O Lopes, perdão, aquele que toda a gente conhece por Tsunami, o que tentou ir contra ventos e marés, ainda presidente da edilidade e plantador de palmeiras no areal, moderno D. Dinis semeando naus a haver – ia então a presidenta convidá-lo para que viesse cultivá-las

tento vender o meu, mas ninguém me dá ouvidos, a culpa é do governo, apostado em fazer tudo ao contrário, especializou-se nessa matéria… Muito bem, bravo – os passageiros

eNtre a arreGaça e o calHaBé

clamando: Nada de hipérboles, metáforas ou aumentos, estes só são necessários para os administradores da banca e das grandes empresas, poucos mas bons, os reformados que

se aguentem, é uma loucura o governo aumentar-lhes as pensões à custa da dívida pública e dos nossos impostos… E peixeirando sempre: a democracia necessita de férias, anda cansada e exausta de tanto laborar, está precisada de ir a banhos. Durante esse parêntesis de lazer, instalava-se uma ditadura suave, toda cigarrinho português suave, o quantum satis para pôr em prática certas medidas, ela abomina medidas fortes, enérgicas, e dentro do seu bafo nada se pode fazer… Levantou-se o passageiro carnavalesco do jardim do comboio, vestido de bisonte, e declarou: Eu bem que dezia que a prática democrática só servia aos colonialistas do eixo Lisboa /Cascais /Lisboa… O ex-ministro que telefonou e anunciou: Papá, já sou ministro, ainda sem o ex por que tanto ansiava, aplaudiu a presidenta e a sua sugestão, dava-lhe jeito, ficava livre e alodial, mas tinha de haver um letreiro: A folia democrática acabou, já uma criatura não pode ganhar o seu, com lisura e suor de assinaturas, sem se ver incomodado pela turbamulta da professorada – não tem que fazer, só se manifesta nas ruas das capitais de distrito, à chuva e ao frio, bem se vê que não pertence ao grupo crescente dos sem-abrigo… Em vez da estação da Figueira, o comboio às arrecuas terminou a sua marcha na Gare do Oriente: facilitava a vida a toda a gente, até rima e não deixa de ser verdade… As peixeiras seguiram, em manifestação, canastras à cabeça, para a residência oficial do PrimeiroMinistro, o maquinista e o revisor foram ocupar duas cadeiras vagas no parlamento, a classe operária sempre na vanguarda, sempre, viva! E abaixo o que está por cima!

crIstóvão De aguIar • 72 anos natural da Ilha de são Miguel, açores, e licenciado em Filologia germânica pela Faculdade de letras da universidade de coimbra, o autor luís cristóvão Dias de aguiar, nascido a 8 de setembro de 1940, tem-se revelado um escritor de mérito, como o comprovam os muitos prémios já recebidos. Destacam-se dois marcos importantes no seu percurso literário: foi agraciado em 2001 pelo Presidente da república com a ordem do Infante D. Henrique; e em 2005 foi homenageado pelos quarenta anos de vida literária pela Faculdade de letras, em conjunto com a reitoria da universidade de coimbra, publicando o livro "Homenagem a cristóvão de aguiar 40 anos de vida literária". Para muitos, a sua obra mais importante é a trilogia raiz comovida (19791981), merecedora do prémio “ricardo Malheiros”. ao lado desta obra, convivem outras que confirmam o seu talento: "ciclone de setembro", "grito em chamas", "Passageiro em trânsito", "Marilha", "com Paulo Quintela à mesa da tertúlia" e "a descoberta da cidade".

Carlos Rodrigues

o totoProPiNa: do you Feel lucky PuNk, do you?

Por Bacharel Jorge Gabriel

H

á qualquer coisa de profundamente anti-português nos sorteios. A noção de que a bendita taluda premiada nos irá parar ao bolso é de um optimismo repugnante. Que é o mesmo que dizer de uma falta de patriotismo repugnante. A minha pessoa, meus caros, veio ao mundo neste afável rectângulo à beira-mar. Como tal, recusa-se, por princípio, a apostar na possibilidade de acertar em meia dúzia de números, por exemplo. Saudosa alma lusitana, triste fado português, pouco científica genética tuga, chamem-lhe o que quiserem: é mais forte que eu. Contudo, reconheço, nem sempre assim é. A excepção surge com o aumento da probabilidade de ganhar o que quer que seja. Aí, estão criadas as condições óptimas para que a virulenta fezada, essa parasita que nos cega, se infiltre no corpo, sorrateira. O primeiro sintoma é ignorar o prémio, numa pujante e febril vontade de

ganhar. O que quer que seja. Só assim se explica a contínua circulação de porta-chaves etimológicos, bibelots sombrios e cassetes de ranchos etnográficos. Sem quermesses, rifas e afins, todos esses simpáticos objectos estariam decerto condenados a uma lamentável extinção precoce. A verdade é que, não obstante os diversos tipos de sorteio, somente existem dois tipos de prémio: ou absolutamente astronómico e nos muda o estilo de vida, ou absolutamente pitoresco e nos muda apenas o estilo, caso teimemos, por exemplo, na audição da mais recente cassete do Rancho Etnográfico de Colo do Pito (149 habitantes) que afortunadamente acabou de nos sair na rifa. Porém, e numa imaginativa manobra nunca antes vista no tedioso mundo dos sorteios, eis que, recentemente, fomos brindados com uma nova estirpe de prémio. O prémio irónico. Compra um bilhete geral da La-

d.r.

tada e habilita-te a ganhar uma propina, é a premissa. O prémio em si nada tem de irónico. Sou até da opinião que todos os possuidores de um bilhete geral para o dito certame deveriam ser agraciados com o pagamento da propina. Dar-se-ia a devida medalha, con-

decorar-se-ia tão estoico esforço em prol da causa e coisa associativa, com graves riscos para a saúde de fígado, rins, entre outros órgãos menos internos dos nossos heróis. Contudo, os tempos são distopianos, não podemos honrar quem tanto merece.

Onde está a ironia, perguntarse-ão alguns por esta hora, menos lestos nestas coisas de raciocínio e/ou percepção da realidade. A ironia, essa, reside no facto de, na altura em que existem mais alunos em dificuldades financeiras ou mesmo a abandonar o ensino superior, se ofereça uma propina a quem tiver meios suficientes para pagar um bilhete geral da Latada que, imagino, deve andar longe de barato. Não ponho de lado a hipótese de eu ser um tremendo quadradão e esta uma estratégia desenhada por proféticos marketeers. Quem sabe se não ouviremos em breve: compre uma empresa ao Estado e habilite-se a ganhar o 13º mês. Seria irónico. No mínimo. Já agora, o nome é Gabriel, Bacharel Jorge Gabriel. Prazer.


22 | a cabra | 2 de outubro de 2012 | Terça-feira

opinião 1789: por uma DisCussão Dos funDamentos Das ComuniDaDes polítiCas moDernas e Dos seus legaDos silvia roDríguez maeso*

“Des valeurs inventées jadis par la bourgeoisie et qu’elle lança a travers le monde, l’une est celle de l’homme et de l’humanisme – et nous avons vu qu’elle est devenue […]”. - aimé Césaire, Discours sur le colonialisme (présence africaine, 1955, p. 69)

Na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão assinada em 1789, “os representantes do povo francês” consideravam fulcral que “todos os membros do corpo social” tivessem sempre presentes os direitos “naturais, inalienáveis e sagrados do Homem”: a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. Não se faz referência explícita, na Declaração, a quem exactamente estava incluído nesse “corpo social” nem quem eram, portanto, as/os titulares desses direitos. Na altura, a França era um dos mais poderosos estados coloniais mas a Declaração omite questões relativas à escravatura ou à condição racial desse “povo francês”. Em resposta à Declaração, Marie Gouze publica em 1791 – sob o pseudónimo de Olympe de Gouges – a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã; ainda que Gouze tenha escrito obras de teatro e textos políticos – no típico tom da ilustração humanista e paternalista da época – sobre o cruel tratamento aos escravos e à população negra nas colónias, a sua declaração também não incluía estas questões.

Como assinala o historiador haitiano Michel-Rolph Trouillot no seu fascinante livro “Silencing the Past” (Beacon Press, 1995), “a marca definitiva do poder seria a sua invisibilidade; o desafio principal, a exposição das suas raízes” (p. xix). Os silêncios na Declaração de 1789 são a marca do poder que torna invisíveis as estruturas de dominação e opressão sobre as quais se alicerçam as comunidades políticas modernas, e cujos legados estão presentes na contemporaneidade. Mas continuemos no fim do século XVIII: a Declaração colocou no centro da discussão o estatuto político das colónias e sobretudo, da compatibilidade da legalidade da escravatura com o emergente enquadramento jurídico-político. Neste contexto, uma insurreição de escravos na ilha de Saint-Domingue em 1791 toma as proporções de uma revolução política que culmina – contra as firmes crenças e prognósticos dos poderes coloniais europeus – no nascimento da república independente de Haiti, proclamada em 1804. Não obstante, o estado francês só mostrou vontade política de reconhecer a independên-

cia de Haiti em 1824, sempre e quando recebia da ex-colónia uma indemnização no valor de 150 milhões de francos, a serem pagos em 5 anos. Finalmente, a França reconheceu oficialmente a República de Haiti em 1838 com a assinatura dum tratado que reduzia a indemnização colonial a 90 milhões, a pagar em 30 anos. Haiti saldou a sua “dívida” em 1947. A revolução política dos escravos em Saint-Domingue é um dos eventos fulcrais para compreender a história contemporânea e sobretudo para compreender os fundamentos políticos das ditas democracias europeias na actualidade: os direitos humanos. No entanto, de acordo com a análise de Trouillot no livro anteriormente citado, a produção da História – por exemplo, a que aprendemos nas escolas e é narrada nos manuais escolares – tem silenciado a revolução do Haiti mediante interpretações que reduzem o seu significado político a uma nota de rodapé da Revolução Francesa – sendo esta considerada como a verdadeira agente transformadora da História com maiúsculas. É nesta perspectiva que me parece crucial que

na celebração do aniversário da Declaração de 1789 questionemos porquê é precisamente a Declaração, e não a Revolução de Saint-Domingue, o acontecimento político que consideramos basilar das comunidades políticas democráticas europeias. Uma resposta parece óbvia: “porque aconteceu na Europa”, mas esta revela o que Boaventura de Sousa Santos denomina como “pensamento abissal” – característico da modernidade – que desliga a história da administração colonial da história da formação do estado-nação e da concepção moderna do direito. É portanto vital abrir o debate sobre a forma como as nossas comunidades políticas se fundamentam em conceitos desenvolvidos a partir da exclusão radical do “outro”: a ideia moderna de humanidade foi constituída sobre o processo de desumanização dos povos colonizados.

*Investigadora do Centro de Estudos Sociais

Cartas à Diretora “a maior assoCiação aCaDémiCa Do país, onDe esteve?” João Cosme*

o silêncio é uma boa resposta para uma direção que fica na história da academia por ter conseguido um feito inédito: um retrocesso na luta estudantil, no ano de maior contestação social desde 1974

As políticas de austeridade e o memorando da ‘troika’ estão na ordem do dia. Os estudantes, como outros setores da sociedade, sofrem na pele a consequência das medidas austeras que levaram um milhão de portugueses às ruas, no passado dia 15 de setembro. A quebra acentuada nos rendimentos das famílias, conjugada com o aumento de propinas e de cortes nas bolsas, tornou o ensino superior ainda mais elitizado. Paralelamente, o governo diminuiu drasticamente o financiamento das instituições de ensino, colocando em risco o seu funcionamento e provocando a extinção de muitos dos seus serviços de ação social. Está em causa mais que um serviço público. O ensino superior universal e gratuito é um bem de todos, que deve ser dirigido para o desenvolvimento e progresso do país, podendo vir a ter um papel fundamental na saída para a atual crise. Tal como a Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) vinha dizendo nos últi-

mos meses, o Ensino Superior é um investimento e não uma despesa para o Estado. Essa mesma direção tem preferido ações simbólicas como forma de protesto, tendo a última sido estranhamente marcada à beira da época de exames. Ainda mais estranha é a resposta dada aos movimentos sociais que se têm formado em Portugal, e que rejeitam as políticas de austeridade, de cortes no financiamento de serviços públicos, como o ensino superior, e contra os quais a Académica sempre se pronunciou. As recentes manifestações de 15 de setembro são disso um bom exemplo, um momento histórico de mobilização popular contra a austeridade. Um momento histórico também em Coimbra, onde é preciso recuar até 1 de maio de 1974 para encontrar uma manifestação de semelhante dimensão. Os portugueses saíram à rua e disseram “basta de austeridade”, que só cria mais dívida, que aumenta o desemprego e que destrói ainda mais

a nossa economia. A maior associação académica do país, onde esteve? Os problemas que afetam estudantes, trabalhadores, pensionistas, precários são os mesmos. Que razão terá então a DG/AAC para não unir forças com todas estas maiorias sociais? Será que concorda com os cortes no Ensino Superior? O silêncio é uma boa resposta para uma direção que fica na história da academia por ter conseguido um feito inédito: um retrocesso na luta estudantil, no ano de maior contestação social desde 1974. Vivemos um tempo de emergência social. Chegou a hora da Associação Académica de Coimbra pedir novamente a palavra, pelos nossos colegas que já abandonaram a universidade, pelos que para lá caminham passando por sérias dificuldades, por um ensino superior universal e gratuito. Amanhã já é tarde! *Estudante da FDUC

Cartas à diretora podem ser enviadas para

acabra@gmail.com PUBLICIDADE


2 de outubro de 2012 | Terça-feira | a

cabra | 23

opinião Cartas à Diretora

temos fome De Direitos! por mais ase! Catarina ângelo *

A educação tem sido alvo de duros cortes, que nos últimos anos se têm vindo a agravar. Desde 2007, as universidades sofreram um corte de 20 por centro no financiamento e prevê-se que no ano de 2013 apenas 2 a 5 por cento do Orçamento do Estado seja destinado à educação. Este ano, as propinas aumentaram cerca de 36 euros, estando no valor médio de 1060 euros. Também o valor dos mestrados tem vindo a subir, existindo alguns que passam os 9 mil euros. A juntar a este aumento de propinas, existem ainda outros entraves à permanência no ensino superior: o regulamento das bolsas continua a ser irreal e inconcebível para satisfazer as necessidades dos estudantes mais carenciados, sendo um instrumento extremamente mecânico cheio de burocracias que não leva em consideração o estudante como ser humano. No último ano, foram cortadas 17600 bolsas, e apenas foram atribuídas 120 bolsas máximas. Além de menos bolsas, o valor das que foram atribuídas baixou. Com este cenário, muitos são os que se vêm obrigados a abandonar o Ensino Superior: até Março de 2012, mais de 6 mil estudantes tinham abandonado o seu curso. Para os que conseguem permanecer no Ensino Superior, as condições oferecidas não são as melhores. Além de toda a deficiência no sistema de atribuição de bolsas, as faculdades conti-

eDitorial

nuam degradadas e os funcionários são cada vez menos, o que provoca um atraso e perda de qualidade dos serviços. Também no serviço de saúde prestado aos estudantes ocorreram alterações, com o início do pagamento de taxas moderadoras (exceptuando os alunos bolseiros). O fecho de cantinas é também preocupante, tendo já fechado uma o ano passado. Prevê-se que este ano (Dezembro, Janeiro) mais uma cantina encerre. O resultado já se faz notar, com as filas exageradas, com a perda de qualidade.

o regulamento das bolsas continua a ser irreal e inconcebível para satisfazer as necessidades dos mais carenciados

Para que esta situação melhore só existe uma opção: lutar! É preciso dirigir isto para os responsáveis: o governo! Quer os SASUC, quer a reitoria apenas se tentam governar com o pouco que recebem deste. É por este motivo que o movimento Alternativa és tu! decidiu organizar uma concentração no dia 3 de Outubro à porta das cantinas azuis. É importante que exista uma união de estudantes, para que esta situação se altere. *Por coletivo A Alternativa és tu

Secção de Jornalismo, Associação Académica de Coimbra, Rua Padre António Vieira, 3000 - Coimbra Tel. 239410437 e-mail: acabra@gmail.com

a ironia sai Cara

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Durante esta semana, a azáfama para a compra do voucher para o bilhete geral da Festa das Latas e Imposição das Insígnias 2012 foi visível. Isto porque, até ao final da semana, sorteava-se o pagamento de duas propinas. Ligada a esta ideia da Direção-geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) está a reitoria da Universidade de Coimbra (UC). O reitor, João Gabriel Silva, afirma mesmo ter-se associado “com satisfação” a esta iniciativa. Numa altura em que a propina ultrapassou a barreia dos mil euros, fazendo com que o ensino superior (ES), que se quer público, se torne cada vez mais de e para elites, é irónico que a própria universidade – uma das únicas que, aliás, implementou o aumento da propina – se ofereça para pagar uma prestação. É irónico também que uma DG/AAC, que se tem pautado por lutas, apesar de parcas, pela redução da propina, lance esta ideia, com o objetivo de a “ridicularizar”, segundo o próprio presidente. A ironia ganha outros contornos com o facto de a Festa das Latas “atrapalhar” a marcação da primeira Assembleia Magna do ano letivo e pôr em causa uma divulgação atempada, para que um maior número de estudantes possa comparecer no maior debate da academia. Capas e copos à parte, os novos alunos da UC devem ser consciencializados para o que se passa dentro e fora da AAC, e não apenas movidos para os bares com cerveja mais barata.

Capas e copos à parte, os novos alunos da uC devem ser consciencializados para o que se passa dentro e fora da aaC, e não apenas movidos para os bares com cerveja mais barata

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Saiu na passada quarta feira, 26, em Diário da República, a lista das fundações que o Estado vai extinguir, quer anulando o financiamento quer avançando com uma recomendação para encerramento de outras. Nessa proposta contam a Fundação Cultural e a Fundação Museu da Ciência, ambas da UC. Ambas ao serviço tanto dos estudantes como da cidade. São a ponte entre o ensino e o serviço público – a educação e a cultura e ciência. Mas não é só a UC que perde neste panorama. A identidade histórico-cultural do país esvai-se de dia para dia. Fundação Cidade de Guimarães, Fundação Paula Rêgo, Museu do Douro. Três exemplos de fundações que, de formas diferentes, contribuem significativamente para o enriquecimento cultural e patrimonial de Portugal. Curiosamente, a Fundação PSD-Madeira não sofreu, nesta fase inicial, qualquer alteração – apesar de estar a ser investigada pelo Ministério Público. A vice-reitora para as Relações Institucionais, Helena Freitas, assume uma postura de pura cordialidade quanto à sugestão do executivo. “Ir contra o pedido do governo não vai trazer vantagens à universidade”, dizia em declarações à Radio Universidade de Coimbra, acrescentando que possivelmente a UC vai acatar a decisão. Esta atitude de subserviência para com um governo que cada vez mais ataca a cultura e o ensino, faz da UC uma cigarra obediente, que nada mais faz do que cantar de um palanque algumas palavras ocas, enquanto as formigas cá vão andando a sobreviver, com o que resta.

Ana Duarte e Ana Morais

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759 Diretora Ana Duarte Editora-Executiva Ana Morais Editores: Stephanie Sayuri Paixão (Fotografia), Liliana Cunha (Ensino Superior), Daniel Alves da Silva (Cultura), Andreia Gonçalves (Cidade), Paulo Sérgio Santos (Ciência & Tecnologia), João Valadão (País), António Cardoso (Mundo) Secretária de Redação Mariana Morais Paginação Catarina Gomes, Rafaela Carvalho Redação Emanuel Pereira Colaborou nesta edição Beatriz Barroca, Carlos Rodrigues, Inês Araújo, João Martins, Mariana Morais, Miguel Patrão Silva, Patrícia Gouveia, Sorina Burlacu Fotografia Daniel Alves da Silva, Mariana Morais, Patrícia Murta Ilustração Tiago Dinis Colaboradores permanentes Bruno Cabral, Camila Borges, Camilo Soldado, Carlos Braz, Fábio Rodrigues, João Gaspar, João Miranda, João Ribeiro, João Terêncio, José Miguel Pereira, José Miguel Silva, Luís Luzio, Manuel Robim, Rafaela Carvalho, Rui Craveirinha, Tiago Mota Publicidade António Cardoso - 914647047 Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra, João Paulo Avelãs Nunes, Cristóvão de Aguiar


Mais informação disponível em

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Jornal Universitário de Coimbra

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Ministério da Saúde

Numa altura em que a austeridade atinge limites máximos, o setor da saúde é um dos que encontra mais fragilizado. As medidas tomadas pelo ministério de Paulo Macedo não parecem ter em conta valores éticos e morais, como a recente intenção de limitar o acesso aos medicamentos mais caros para tratar o cancro ou a SIDA. Para além do mais, em cima da mesa está planeado o encerramento de várias unidades por todo o país. No Alentejo, onde a população se encontra muito dispersa, a população terá de percorrer centenas de quilómetros para aceder a cuidados básicos de saúde. J.V.

DG/AAC

As várias direções-gerais que estiveram envolvidas no contrato de concessão dos bares ao grupo In Tocha nunca clarificaram o dito contrato para os sócios da AAC. As várias incongruências que têm surgido na blogosfera referentes a supostos incumprimentos tanto da parte do concessionário como da AAC só vêm deitar mais lenha para a fogueira e os sócios ficam sem saber qual é, afinal, a verdade. É de salientar, também, como é que alguns bloggers conseguem aceder a informação que é do exclusivo interesse e alcance dos estudantes e os publicam levianamente. Mais: porque é que ninguém se pronuncia sobre isso? A.D.

Ministério das Finanças

Parece que a montanha de ratos e de despesa que Luís Montenegro diz que o Partido Socialista anda a parir não é tão linear quanto isso. Existem fundações que nada têm a ver com dinheiros públicos diretos. É esse o caso da Fundação Cultural da Universidade de Coimbra e a Fundação Museu da Ciência. A recomendação para a sua extinção, e ameaça da tutela, pode ser fatal. Até quando o reitor João Gabriel Silva continuará sem se pronunciar sobre isto? A preservação das atividades programáticas e os recursos humanos das fundações estão na corda bamba. L.C.

À volta para Coimbra por Stephanie Sayuri paixã̃o

200 x 100 O sol explode em Coimbra e já são 19h30min. Tive saudades desses dias compridos. Hoje, no dia da volta, reflito. Estava perto de ir embora, mas ainda distante daqui. A chegada foi tranquila, principalmente diferente. Ao contrário de como aconteceu há um ano, essas ruas já não são estranhas, sei bem onde estou e como chegar. Pela primeira vez consigo chamar outro lugar de lar. Aqui passei a maior parte do último ano. Mas mais do que a medida do tempo, o lar se faz pelo significado, pelo o que em muito ou pouco tempo representou e representa; e no lugar que me acolheu, carrego em mim o lugar que me criou. Penso: quantos lugares me acolherão? Que lugares serão esses? Viverei em todos eles? Concluo: não é de onde eu vim ou onde estou. A ideia é clara: o mundo me acolheu e ainda andarei por cada canto desse planeta incrível.


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