Edição 280 - Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

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13 DE DEZEMBRO DE 2016 ANO XXV Nº280 GRATUITO PERIÓDICO DIRETORA INÊS DUARTE EDITORA EXECUTIVA CAROLINA FARINHA

ELEIÇÕES CONSELHO GERAL E SENADO 2016

ENTREVISTAS AOS REPRESENTANTES ELEITOS DO ÓRGÃO MÁXIMO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA ABSTENÇÃO DESCE CERCA DE CINCO PONTOS PERCENTUAIS EM RELAÇÃO A 2014, MAS DESCONHECIMENTO DOS ESTUDANTES PREVALECE

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ENSINO

CULTURA

Atraso na atribuição de bolsas prejudica investigação em Portugal. Fundação para a Ciência e a Tecnologia anuncia data de abertura das candidaturas para 2017

Secções Culturais apontam dificuldades logísticas e materiais ao seu funcionamento. Comunidade estudantil tem vindo a envolver-se, mas em regime parcial

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DESPORTO

Coimbra já está a preparar a receção dos EUG de 2018. Um dos objetivos da organização é que, no final, “não exista qualquer buraco financeiro”

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CIÊNCIA

Criminalidade informática é uma realidade crescente. Rostos encondidos atrás de ecrãs acedem a informações confidenciais e atacam pessoas ou empresas


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PERCENTAGEM DA ABSTENÇÃO DIMINUI, MAS DESCONHECIMENTO SOBRE CONSELHO GERAL CONTINUA A SER ALTO Em 2016, houve um aumento de cerca de mil estudantes eleitores para as votações de primeiro e segundo ciclo. Numa sondagem realizada pelo Jornal A Cabra, 73,91 por cento dos estudantes desconhecem o órgão máximo da UC e respetivas funções - POR JOANA BEJA E CAROLINA FARINHA -

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dia 6 de dezembro pautou-se pelas eleições do Senado e do Conselho Geral (CG) da Universidade de Coimbra (UC). Para o órgão de governo da universidade foram nomeados os representantes dos professores e investigadores, dos não docentes e não investigadores, bem como dos estudantes. Foram quatro as listas candidatas aos assentos no CG, para representar os alunos de primeiro e segundo ciclo de estudos, das quais três sagraramse vencedoras. A Lista P conquistou dois lugares no órgão, ao obter 35,01 por cento dos votos. A esta seguiu-se a Lista C com 1157 votos. Com uma percentagem de 27,19 ficou a Lista V. Já a abstenção, para as eleições dos representantes dos alunos de primeiro e segundo ciclo foi de 78,93 por cento. Em relação a 2014, a percentagem de abstenção desce a 4,17 pontos percentuais. Já a Lista J alcançou 100 votos. Conseguiu assim o lugar de representante dos estudantes de terceiro ciclo de estudos. 91,09 é a percentagem que marca a abstenção para o terceiro ciclo de estudos. Abstenção diminui, mas continua significativa O Jornal Universitário de Coimbra – A Cabra realizou, para esta edição, uma sondagem com a finalidade

de perceber qual o conhecimento dos estudantes da Universidade de Coimbra acerca do Conselho Geral e das suas funções. Dos alunos inquiridos, 73,91 por cento respondeu de forma negativa à questão “conheces o Conselho Geral e quais as suas funções?”. Existe, entre todos os vencedores escolhidos para representar os estudantes de primeiro, segundo e terceiro ciclo de estudos, uma unanimidade em afirmar que grande parte da comunidade estudantil não conhece o CG. Luís Bento Rodrigues, eleito representante dos estudantes do terceiro ciclo de estudos, afirma que “é algo muito difícil de mudar, porque há uma grande renovação dos regentes da universidade”. No entanto, esclarece que um passo que já foi tomado para uma tentativa de aproximar o órgão aos estudantes foi o de tornar públicas as atas das reuniões. “Não é só de dois em dois anos, quando há eleições para o CG, que as pessoas têm de ter conhecimento [do órgão]”. Informar os alunos desde que entram na UC, a começar na semana das matrículas, é a proposta de Henrique Cabral, representante dos estudantes do primeiro e segundo ciclo de estudos. Uma outra aposta destacada passa pela aplicação de um “separador no Inforestudante que permita às pessoas falarem com os membros eleitos”. O membro justifica que a

união entre os cinco representantes dos alunos, no CG, pode “elevar os interesses de toda a comunidade estudantil”, de forma a melhorar a própria universidade. De 2014 a 2016, Gonçalo Bento representou os estudantes de primeiro e segundo ciclo de estudos no CG. Este conselheiro geral refere que existe a necessidade de pro-atividade, pois a falta de conhecimento do órgão não se cinge só a alunos, “mas também a professores e funcionários, o que envolve toda a academia”. O órgão de governo da UC promoveu “um debate em que dava a conhecer as problemáticas e as propostas de solução da UC”, de forma a dar mais relevo às funções do CG e criar uma ligação a toda a universidade. Gonçalo Bento, que é também vice-presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), explica que já existe uma proximidade entre o órgão de gestão da Academia e o Senado. No entanto, acredita que a DG/AAC deve trabalhar, “a nível político”, em conjunto com o CG, de modo a existir “uma fonte de transmissão de conhecimentos entre a dinâmica da UC e da AAC”. João André Sousa, também conselheiro geral no mandato de 2014 a 2016, acredita que é a conjugação entre o desconhecimento do órgão e o desinteresse pelo associativismo estudantil que marcou a ARQUIVO - ANA DUARTE


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CONHECES O CONSELHO GERAL E AS SUAS FUNÇÕES?

Ficha técnica A sondagem foi realizada pelo Jornal Universitário de Coimbra – A Cabra, entre os dias 5 e 9 de dezembro. Foi obtida uma amostra de 345 estudantes da Universidade de Coimbra. A margem de erro associada é de 4 por cento, com nível de confiança de 95 por cento. A realização da sondagem contou com a participação de Carlos Almeida, Joana Beja, Mariana Bessa, Rita Fonseca, João Pimentel, João Ruivo e Paulo Sérgio Santos.

elevada taxa de abstenção nas eleições. “O CG tem uma tendência natural em fazer-se pouco conhecido e a sua importância não chega ao estudante normal”. Compete, assim, aos novos representantes, “alimentar o interesse e mostrar porque é que vale a pena acompanharem o CG”. Como sugestão para combater o anonimato do órgão de governo pelos estudantes, Rita Andrade, eleita para representar os estudantes de primeiro e segundo ciclo, explica que “é essencial mostrar o trabalho que é feito através da elaboração, por parte dos conselheiros, de relatórios trimestrais”. O membro eleito para representar os estudantes do primeiro e segundo ciclo de estudos realça que existem “muitas vitórias por parte dos conselheiros que não são trazidas para os estudantes”. De forma a partilhar os relatórios realizados pelos membros do CG, Renato Pires, representante eleito para os estudantes de primeiro e segundo ciclo, criou comissões, durante a sua campanha, que pretende que perdurem durante os dois anos de mandato. O seu intuito é o de “analisar os relatórios, fazer balanços do que já foi feito e do que deve ser melhorado”. Esta é uma medida que visa a aproximação entre o CG e os estudantes, de forma a envolvê-los, “quer no processo de decisão, quer nas matérias discutidas em CG”. Balanço do processo eleitoral Apesar de considerar que “continua a haver uma grande abstenção” nas eleições para o Conselho Geral, Henrique Cabral acha positivo o facto de ter sido possível diminuir essa taxa. Acrescenta que a diminuição pode estar “associada às propostas feitas pelas listas”, durante a semana de campanha, o que contribuiu para uma afluência às urnas. Renato Pires partilha a mesma opinião pois, “quando se tem cerca de três mil e quatrocentas pessoas a votar num universo eleitoral de dezas-

sete mil, é uma conquista das listas terem conseguido aumentar o número de votantes”. Rita Andrade adianta ter “a consciência tranquila” de que todos os esforços “para motivar as pessoas a exercer o seu direito de voto” foram feitos, já que tentou chegar “ao maior número de estudantes”. Apesar da diminuta percentagem de eleitores no terceiro ciclo, Luís Bento Rodrigues acredita que, o aumento dos mesmos confere “legitimidade ao processo eleitoral” do passado dia 6. Refere, no entanto, que o método de votação deveria ser modificado, de modo a abranger os eleitores que não se encontram em Coimbra na data marcada para as eleições. Ambos os conselheiros gerais entre 2014 e 2016 fazem um balanço positivo das eleições. Gonçalo Bento concorda que se deve “repensar a forma de votação”, que contribui para a elevada taxa de abstenção, verificada, com especial incidência, entre os estudantes do terceiro ciclo, para o seu único representante. Por seu lado, João André Sousa mantém a posição de que “houve uma participação bastante positiva e as listas procuraram ligar-se aos estudantes, em vez de ter posturas muito rígidas”. Esclarece que, de futuro, “o esforço deve ser feito fora das reuniões, junto com o reitor e com os órgãos executivos”, pois, dentro destas, “as deliberações acabam por não ser votadas”. Até ao fecho desta edição não foi possível contactar o presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra, José Dias, nem Rui Bebiano, investigador no Centro de Estudos Sociais e coautor do livro “Do Ativismo à Indiferença. Movimentos Estudantis em Coimbra”. Órgão de governo da UC e método de votação Dos 35 membros que compõem o CG, 18 são pro-

fessores e investigadores, dois não docentes e não investigadores, dez personalidades externas à UC e cinco estudantes. Destes cinco, quatro representam os alunos de primeiro e segundo ciclo, e um, os de terceiro ciclo. À exceção dos estudantes, cujo mandato é de dois anos, os restantes membros do órgão de governo figuram no CG durante quatro anos. As funções intrínsecas ao órgão, segundo o seu Regimento revisto a 21 de setembro de 2015, passam por eleger, substituir, suspender ou destituir o reitor, propor iniciativas necessárias ao bom funcionamento da universidade e aprovar alterações aos Estatutos da UC. Ao órgão compete também, sob proposta do reitor, aprovar o plano anual de atividades da Universidade de Coimbra, o relatório anual de atividades e as contas anuais consolidadas, bem como designar o Provedor do Estudante e fixar as propinas. Por ano, o Conselho Geral reúne-se, de forma ordinária, quatro vezes. Podem ainda ser feitas reuniões extraordinárias sempre que o seu presidente as convocar, a pedido do reitor ou de um terço dos seus membros. O reitor da Universidade de Coimbra participa nas assembleias e tem o poder de convidar os diretores das unidades orgânicas da universidade, de forma a serem ouvidos sobre assuntos da sua especialidade. O método de Hondt é o usado nas eleições para o Conselho Geral. De acordo com a Comissão Nacional de Eleições, esta forma de votação é um modelo matemático utilizado para converter votos em mandatos. Algumas das vantagens deste método, segundo a Comissão Nacional de Eleições, prendem-se com o facto de ser simples e assegurar uma boa proporcionalidade em relação aos votos e mandatos.


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“QUEREMOS MAIOR CONHECIMENTO SOBRE OS SASUC” Como pontos de atuação, Rita Andrade destaca a discussão do Regime Fundacional, da Ação Social indireta e da internacionalização da UC - POR INÊS FERREIRA -

INÊS NEPOMUCENO

Que balanço fazes das eleições? A campanha foi muito bem conseguida. O nosso objetivo era chegar ao maior número de estudantes e dar a conhecer o que é o Conselho Geral [CG]. A reaproximação do órgão aos estudantes foi feita de forma a explicar aos mesmos o que é o CG, porque há um grande afastamento e desconhecimento sobre este órgão. Nas eleições, ainda se verificou um grande número relativo à abstenção e não podemos ficar contentes com isso. Temos a consciência tranquila de que fizemos todos os esforços para motivar as pessoas a exercer o seu direito de voto. De que forma é que pretendes levar a questão do Regime Fundacional ao CG? O Regime Fundacional vai ser o assunto mais polémico do próximo mandato. Foi um ponto debatido em todas as listas, não só por representantes do primeiro e segundo ciclo, mas também do terceiro. Não tenho nenhuma dúvida de que o assunto vai ser debatido no CG. Em relação à Ação Social indireta, como pretendes agir? A Ação Social indireta foi um dos pontos que debatemos. Não foi por acaso que durante a campanha visitámos os Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra [SASUC], para mostrar que queremos fomentar a ligação dos estudantes do primeiro e segundo ciclo com essa instituição. É uma grande preocupação, pois continua a haver uma diminuição dos seus serviços. Queremos que haja um maior conhecimento da comunidade estudantil em relação aos SASUC. Muitos conhecem as cantinas e as

residências, mas esquecem-se de outros serviços, como os médicos. É muito importante que haja um maior investimento para uma melhoria das condições dos serviços indiretos. Como pretendes trabalhar com os restantes membros do CG? Na próxima segunda-feira vai ser realizada a primeira reunião entre os vários membros do CG. Vamos definir as linhas estratégicas na próxima reunião para tomarmos posse o mais depressa possível e começarmos os trabalhos. A nossa posição é a de termos sempre contacto com os representantes para melhorar o trabalho no CG. Em relação à internacionalização, com que universidades é que pensam realizar protocolos? Não temos nomes de universidades em vista, queremos fazer um estudo, saber que esforços é que já foram feitos nesse sentido e que universidades é que vão poder estar abertas a estes protocolos. Depois, perspetivá-los. Qual pensas ser a principal razão para o desconhecimento dos estudantes quanto ao CG? Temos que atuar. Ir às faculdades dar a conhecer este órgão e o trabalho que é feito pelos estudantes. Pretendemos fazer relatórios trimestrais de trabalhos do CG para levar à comunidade estudantil. Temos que ir ao encontro dos jovens pois isso não foi feito nos últimos anos, o que pode ser a razão que tenha levado ao maior desconhecimento atual e desinteresse por parte dos estudantes.

“QUEREMOS DISCUTIR A VERTENTE SOCIAL DO DESPORTO UNIVERSITÁRIO” Renato Pires garante que o seu principal objetivo passa por representar os interesses da comunidade estudantil - POR CRISTINA OLIVEIRA INÊS NEPOMUCENO

Que balanço fazes destas eleições? Houve um aumento de estudantes em comparação com as dos anos anteriores. Foi um resultado histórico para todos. E para nós, que alcançámos perto de 1300 votos, é uma responsabilidade. Mas esse aumento era algo que esperávamos e foi um dever que cumprimos. Ainda há muitas pessoas que não sabem o que é o Conselho Geral [CG]. Achas que esse desconhecimento por parte dos estudantes se verificou nas eleições? Aquilo que continua a acontecer é que existe um grande desconhecimento sobre o que é o CG. Ao haver essa maior afluência às urnas conseguimos ultrapassar isso, embora reconheça que continua a haver bastantes estudantes que não têm conhecimento do que é. Como é que as comissões vão funcionar? Vão funcionar sempre divididas por áreas. Dividimos em cinco comissões, às quais estão ligadas diversas matérias. O objetivo é que elas trabalhem sempre com os relatórios oficiais do CG e que esses relatórios apresentem algumas recomendações. Depois, há que verificar se estas foram cumpridas. Quais vão ser os principais objetivos a atingir neste mandato? O principal objetivo é conseguirmos representar, da melhor maneira possível, aquilo que são os interesses dos estudantes. Queremos discutir o Regime Fundacional, uma redução do valor da propina do estudante interna-

cional e a vertente social do desporto universitário. Como é que as infraestruturas utilizadas para os Jogos Europeus Universitários podem ser reutilizadas e que impacto podem ter na Ação Social Escolar? O nosso objetivo é que essas infraestruturas criadas sejam aproveitadas para os Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra, de forma a transformá-las em residências. Quais são as maiores dificuldades com que os alunos do primeiro e segundo ciclo se deparam? A propina é uma das questões principais e é sempre do interesse de todos os estudantes que haja uma redução do seu valor. Queremos também que, nas questões sociais, como o Programa de Apoio Social a Estudantes através de atividades de tempo parcial, haja uma análise daquilo que é o seu funcionamento. Depois, a questão do cumprimento dos regulamentos pedagógicos. Já nos reunimos com o Provedor do Estudante e há essa preocupação da parte dele para que os regulamentos sejam cumpridos. De que forma é que terem dois membros da lista no CG pode ser uma mais-valia para a representação dos estudantes e dos seus interesses? Tendo em conta o resultado eleitoral, que nos permitiu eleger dois elementos, é um maior apoio naquilo que é a defesa das nossas bandeiras. Aquilo que pretendemos é que, a partir de agora, não sejamos só os dois, mas a defesa dos cinco.


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“A PROPINA É UM FATOR DE DISCRIMINAÇÃO SOCIAL” Promoção de debates sobre o Regime Fundacional e criação de uma ligação entre os estudantes e o Conselho Geral são as principais bandeiras de Henrique Cabral Que balanço fazes das eleições? O resultado da eleição do Conselho Geral [CG] foi histórico. Foi a que obteve mais votos. A luta contra a abstenção foi mais aproximada do que todos pretendíamos, mas ainda há muito para lutar. Achas que o desconhecimento sobre o CG, por parte da comunidade estudantil, está a começar a diminuir? No ano passado, perto de três mil pessoas votaram e, este ano, quase quatro mil, o que é muito bom. Mais estudantes conhecem o CG e espero que tenham votado em consciência. A que pontos do teu projeto pretendes dar prioridade? O primeiro é a ligação entre o CG e os estudantes. Em segundo lugar, vamos propor a criação de um separador no Inforestudante, onde os representantes dos estudantes possam ser ouvidos e onde se possam ouvir os que queiram dar o seu contributo sobre os assuntos do CG. Vamos lutar por um debate público sobre o Regime Fundacional. Temos uma posição contra. Um dos nossos objetivos é dar o nosso contributo e a nossa opinião em relação ao Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior. É importante não esquecer que a propina internacional, em Coimbra, continua a ser sete mil euros, a mais alta do país. Se a UC quer apostar na sua internacionalização, não podemos continuar a permitir que os estudantes internacionais sejam objeto de lucro. Em relação à propina nacional a postura é a mesma. Vamos tentar que ela desça e discutir de que forma o vamos fazer e definir uma estratégia para conseguirmos reduzir o valor da propina. Esta é

um fator de discriminação social. Como membro do CG, de que forma podes criar uma aproximação com os estudantes? Através de um contacto físico, interagindo com as pessoas das várias faculdades. Como alternativa à presença física vamos aplicar as propostas que apresentámos. As pessoas precisam de saber que isto existe e o que o CG faz, de modo a aproximarmo-nos dos estudantes. Já existem várias formas de interação, tanto física como ‘online’, mas existem mais formas interessantes de melhorar o contacto do CG com os estudantes.

INÊS NEPOMUCENO

- POR ANA FRANCISCA NUNES -

Pensas que os dois meses de experiência que já tens, como membro do CG, podem dar uma perspetiva mais alargada quanto ao funcionamento deste órgão? Sim. Estes dois meses no CG foram cruciais para eu me candidatar, não só pela motivação, mas também porque consegui conhecer a realidade do CG. Tenho uma visão diferente, mas não quer dizer que seja mais ou menos assertiva que a dos outros membros. É importante que os representantes dos alunos de todos os ciclos se unam em benefício dos estudantes? Sim. Precisamos de ouvir as pessoas, dar o nosso contributo, chegar a consensos e conseguir defender os estudantes. Temos mais força juntos e acredito que isso seja possível. Vou lutar por conseguirmos ser unidos, debater e chegarmos a conclusões produtivas, que elevem os interesses do estudante e que melhorem a UC.

“DEFENDO UMA MAIOR AUTONOMIA DA UC” Durante o mandato, Luís Bento Rodrigues pretende ampliar o número de bolsas do terceiro ciclo e garantir espaços de estudo para os doutorandos Qual o balanço que fazes das eleições? Um fator positivo é que esta foi a eleição com o maior número absoluto de votantes do terceiro ciclo. Esse aumento dá sempre mais legitimidade ao processo eleitoral, mas ainda houve uma pequena percentagem de eleitores.

O que pode o CG fazer para diminuir essa taxa de abandono? Queremos fazer um estudo para saber as razões desse problema e propor soluções. É preciso começar a discutir o porquê de haver essa taxa de abandono e que medidas tomar para reduzi-la.

Que pontos do teu projeto vais priorizar? Uma das prioridades é discutir o Regime Fundacional. Não aprecio a ideia de haver um órgão por cima do Conselho Geral [CG] com o poder de decisão final. No entanto, defendo uma maior autonomia da Universidade de Coimbra [UC]. As instituições públicas têm problemas com a morosidade nos procedimentos administrativos, no recrutamento de recursos humanos e na aquisição de material. Pretendemos também iniciar uma discussão na Assembleia da República sobre o alargamento das bolsas de estudo para o terceiro ciclo. Além disso, precisamos encontrar espaços dignos para os estudantes de doutoramento estudarem. Muitos não têm sequer um local fixo de trabalho.

O que pensas em relação ao valor das propinas? A questão das propinas é política e existe porque o Governo quer que exista. Podemos exigir a redução das propinas ou até mesmo a sua abolição, mas não é sensato fazê-lo de forma isolada. Não vai depender de nós a sua abolição. É irrealista pensar que se pode acabar com a propina sem uma discussão a nível nacional. Temos um interesse muito maior no terceiro ciclo, porque as propinas não entram para as despesas estruturais e queremos saber ao certo onde esse dinheiro está a ser gasto. Não me choca uma pessoa que tem capacidade económica contribuir um pouco para a formação que vai ter. Isto não prejudica aquele que não tem dinheiro e precisa do apoio do Estado para ter o Ensino Superior [ES]. Mas essa posição não se vincula à minha lista. Não quero é que ninguém fique fora do ES porque não tem dinheiro para pagar.

Quais os maiores problemas que os doutorandos enfrentam hoje? A princípio, questões económicas contribuem para uma taxa de abandono elevadíssima no terceiro ciclo, na ordem dos 20 por cento. Depois, falta uma estrutura de apoio, com a questão da aquisição de materiais e de serviços, que é lenta. O reitor diz que a administração está muito melhor. Não achamos que ainda esteja boa, queremos uma administração melhor ainda.

As ações do CG são suficientes para melhorar a qualidade do ensino dos doutorandos? Têm um papel muito importante, mas é preciso que seja um papel em rede. O CG vai fazer a diferença na vida das pessoas, mas tem de haver intercomunicação com os demais representantes de faculdades, dos estudantes, entre outros.

INÊS DUARTE

- POR JOÃO NOÉ E JOANA PEDRO -


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NOVAS VOZES ESTUDANTIS NO SENADO Candidatos acreditam que é preciso informar os estudantes sobre o órgão. Representar e dar força aos alunos são metas dos membros eleitos - POR PEDRO CHAVES INÊS NEPOMUCENO

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oi no passado dia 6 de dezembro que ocorreram as eleições para o Senado da Universidade de Coimbra (UC). Este é um órgão consultivo, sem qualquer poder legislativo. No entanto, todos os membros eleitos pelos alunos concordam que serve para dar voz aos diferentes membros da universidade, em particular aos estudantes. Regime Fundacional e problemáticas específicas das faculdades Os estudantes eleitos neste processo eleitoral concordam, de forma unânime, que é necessário existir uma aproximação do Senado à comunidade estudantil. As posições em relação ao Regime Fundacional são várias, entre os novos membros do órgão. Há posturas a favor, contra e opiniões ainda por formar. A renovação de espaços nas respetivas faculdades, o investimento na investigação e a aproximação ao mercado de trabalho são temas que estão também em cima da mesa. Quanto ao Regime Fundacional, Sara Lopes, membro do Senado pela Faculdade de Medicina da UC, afirma que “não vai ser algo de todo negativo, pois permite a captação de financiamento externo para a universidade”. Em oposição, Diogo Melo, membro do Senado da Faculdade de Economia da UC (FEUC), refere “ser essa a sua maior preocupação”, ao considerá-lo “antidemocrático, porque tira bastante importância à opinião dos estudantes”. Pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da UC (FPCEUC), foi eleita Mariana Simões, que constata “a necessidade de o assunto ser bem debatido”, e acrescenta ainda não ter “uma opinião formada sobre o assunto”. Em relação aos problemas concretos de cada faculdade há vários temas na agenda de cada eleito. Catarina Botelho, eleita para representar a Faculdade de Direito da UC (FDUC), apela “ao alargamento do mapa de exames para os alunos de Direito, pois cinco semanas é muito pouco tempo”. A realização de obras de requalificação na FDUC é outro fator prioritário, explica.

Em relação à Faculdade de Letras da UC (FLUC), Alexandre Silva, membro do Senado por esta instituição, abordou a questão da nova oferta pedagógica da FLUC, que considera ser inovadora. No entanto, explana a “noção de que essa oferta deve ser aprimorada, a começar pelas cadeiras de iniciação”, e acrescenta que estas devem ser “destinadas a cada curso”. Carolina Silva, membro do Senado da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da UC, afirma que se candidatou por sentir que a voz da faculdade não é ouvida na reitoria. Destaca ainda “a necessidade de apoios, pois a faculdade está fraca a nível de instalações”. A questão da investigação é enfatizada por Rodrigo Ribeiro, eleito para representar os estudantes da Faculdade de Farmácia da UC. “Os alunos dão valor a isso e o investimento nessa área é algo em que se deve continuar a apostar”. Por seu lado, Diogo Melo considera que, na FEUC, “os estudantes estão a ser ensinados muito para o lado da investigação, e pouco para o mercado de trabalho”. Bernardo da Franca, membro da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, esclarece que, “no Senado, são discutidos assuntos globais”. Contudo, afirma que a sua “área de ensino tem de defender uma maior proximidade às empresas”. A abstenção que tem havido nas eleições para os órgãos da universidade e da Associação Académica de Coimbra é motivo de preocupação para os novos membros do Senado. Mariana Simões identifica que, na FPCEUC, “o principal problema prende-se com os alunos deixarem o associativismo de parte”. Já Catarina Botelho diz ser “imperativo os estudantes começarem a ter a ideia de que têm de se fazer ouvir”. “Os alunos não reconhecem a importância do Senado, mas o problema não está neles, está nas pessoas que têm obrigação de divulgar a sua importância”, afirma Rodrigo Ribeiro. A atuação do Senado junto dos estudantes O órgão consultivo serve para coadjuvar o reitor

na gestão da universidade. É composto pelo reitor, que o preside, pelos diretores de todas as unidades orgânicas, um aluno de cada faculdade e unidade orgânica, e por dois trabalhadores não docentes e não investigadores. O mandato dos seus membros tem a duração de dois anos e pode ser renovado após o termo do mesmo. Este órgão reúne-se, em sessão ordinária, uma vez por mês, e de forma extraordinária sempre que o reitor assim decidir. As suas competências são várias. Dar o parecer sobre questões como a alteração dos Estatutos da UC e o exercício do poder disciplinar são algumas das suas funções. O Senado deve ser informado pelo reitor sobre a legislação aprovada no Conselho Geral (CG), assim como o plano e relatório anuais de atividade. Pode também ser ouvido pelo CG e pelo reitor nas matérias consideradas pertinentes. A maioria das opiniões sobre as funções do Senado são transversais a todos os novos membros. Para Alexandre Silva, este órgão “serve para dar voz aos estudantes”, no entanto “não é um órgão executivo, o que dificulta a matéria”. Catarina Botelho tem a opinião de que deve ser “a força dos estudantes, que está associada à ideia de representatividade e de presença”. Já Carolina Silva refere que se deve “insistir em problemas que já foram apresentados e ainda não foram resolvidos”, assim como, “criar um diálogo com várias entidades para chegar à resolução dessas necessidades”, justifica. “O órgão onde existe um maior rácio de alunos para docentes” é como Bernardo da Franca justifica a importância do Senado, para além de permitir o aumento da representatividade estudantil nos órgãos da UC. Sara Lopes considera ser “muito importante veicular a opinião [dos estudantes], porque são eles o motor da universidade”. Até à data de fecho desta edição, não foi possível contactar os representantes para o Senado do Colégio das Artes e do Instituto de Investigação Interdisciplinar.


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CANDIDATOS CONTESTAM ATRASO NA DIVULGAÇÃO DAS BOLSAS PELA FCT Resultados só vão ser anunciados em fevereiro de 2017. Lesados exigem que a Fundação seja responsabilizada e que aumente os recursos disponíveis - POR CAROLINA CARDOSO E SIMÃO MOTA -

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concurso para a Atribuição de Bolsas de Doutoramento e Pós-Doutoramento 2016, da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) sofreu um atraso de três meses. O prazo de divulgação dos resultados, estabelecido pela FCT, não foi cumprido e foi prorrogado até 28 de fevereiro de 2017. No entanto, de forma a colmatar a demora na divulgação dos resultados, a FCT prevê a abertura do concurso de 2017 para março. Em entrevista ao Jornal A Cabra, as razões apontadas pela FCT prendem-se com “o volume de candidaturas submetidas e a complexidade do processo inerente à sua avaliação”. A Fundação especifica que, este ano, o número de pedidos de bolsas foi “maior em 20 por cento face ao ano anterior”. Outra agravante para o atraso foi a introdução de uma alteração ao Guia de Candidatura para o concurso de 2016. Este dá acesso a candidatos que, não tendo o grau de mestre, “forem detentores de um currículo relevante”. Atraso nos resultados com influência negativa nos candidatos João Pedro Ferreira, candidato a bolsa de pós-doutoramento em Economia Regional e representante do núcleo de Coimbra da Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), reivindica os direitos dos candidatos às bolsas de investigação e aponta a injustiça no desrespeito pelos prazos, uma vez que as pessoas “acabam por estar com as suas vidas em ‘stand-by’”. “Estão, de maneira geral, sem nenhuma forma de subsistência, pois o Governo não foi capaz de prever os meios que seriam necessários para proceder à avaliação dos concursos”. João Pedro Ferreira acrescenta que os candidatos vivem “na incerteza de poder vir ou não a ter bolsa de investigação”. O alargamento do prazo está a afetar a investigação de Filipa Malva, candidata à bolsa de pós-doutoramento da FCT, o que provocou uma suspensão de uma proposta proveniente do estrangeiro. Segundo a candidata, o atraso gera complicações, não só a nível profissional, mas também pessoal. Explica que “é preciso arranjar emprego em outro lugar ou fica-se desempregado”. “Poder continuar ou não o ciclo de estudos” é o que está em causa para Irina Castro, candidata à bolsa de doutoramento da FCT. Tal como acontece com Filipa

Malva, também Irina Castro refere que o atraso na divulgação está a influenciar a sua carreira, uma vez que não sabe se investe num trabalho a ‘full-time’ ou se termina o doutoramento. A ABIC “recebe dezenas de casos em que os bolseiros ponderam a hipótese de abandonar os seus planos de trabalho e de estudo”, refere João Pedro Ferreira. Acresce que, “apesar dos seus projetos terem todo o mérito e poderem vir a ser financiados, no momento em que são, as pessoas já não estão interessadas”. Esta razão prende-se com questões temporais e por “se sentirem maltratadas, o que faz com que já não estejam disponíveis”. Na perspetiva do representante da ABIC em Coimbra, a investigação em Portugal fica prejudicada por estes atrasos, e pelo atual sistema de trabalho precário. Esclarece que esta se faz “sem direitos, não é remunerada de forma justa e não dá aos investigadores portugueses as condições de estabilidade necessárias e consagradas na Carta Europeia do Investigador”. Na sua visão, “um bolseiro de investigação não tem direito a sonhar e a perspetivar a sua vida a médio ou a longo prazo”. O candidato considera que a solução para a precariedade “seria a passagem dos bolseiros para os quadros do Estado”. A principal causa da contestação da ABIC é a exigência de “contratos de trabalho para todos os bolseiros” e o “fim do estatuto de bolseiro de investigação”. Salienta também que os estudantes com bolsa deveriam ser tratados como “trabalhadores normais com direito a um contrato de trabalho e acesso pleno à Segurança Social”. Precariedade dos bolseiros com consequências para a investigação Irina Castro considera que “a atribuição de bolsas de pós-doutoramento e de projetos de doutoramento são formas de precariedade”. A opinião de que “as pessoas que têm vínculos a uma instituição devem ser passadas a contrato” é partilhada por Filipa Malva, uma vez que “não faz sentido que as universidades estejam a usufruir do seu trabalho”. O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, anunciou medidas para combater a precariedade do trabalho dos bolseiros, entre as quais, a passagem de todos os doutorados e bolseiros, há mais de

três anos, a contrato. No entanto, segundo João Pedro Ferreira, esta medida “deve ser para todos”. A FCT recorda que o decreto-lei 57/2016 de 29 de agosto refere que estes têm o prazo máximo de cinco anos, o que não resolve o problema da instabilidade aquando do seu fim. Todos os candidatos afirmaram, de forma unânime, que a solução para o atraso que se verifica todos os anos deveria passar por colocar mais recursos ao serviço da FCT e pela responsabilização da mesma quando desrespeita o calendário definido. O artigo 128º do Código de Procedimento Administrativo prevê “a possibilidade de alargamento do prazo por um período até 90 dias úteis”. Segundo o representante da ABIC em Coimbra, este será o 15º ano consecutivo sem que o valor das bolsas seja atualizado. Ambas as candidatas consideram que este devia ser revisto. Referem também que “o poder de compra dos bolseiros continua a ser o mesmo que em 2002, a última data de atualização, apesar dos custos de vida terem aumentado”. Este ano, segundo a FCT, foram recebidas 5361 candidaturas, sendo 3001 a bolsas de doutoramento e 2260 a bolsas de pós-doutoramento. Prevê-se a atribuição de 800 bolsas de doutoramento e 400 de pósdoutoramento. Verifica-se um aumento para o dobro das primeiras e uma diminuição de 180 nas segundas. João Pedro Ferreira considera que este aumento “é positivo, mas que não resolve os problemas que estão subjacentes aos direitos destas pessoas”. Como medida de prevenção, a FCT decidiu antecipar a data de abertura do Concurso para a Atribuição de Bolsas de Doutoramento de 2017, que está prevista para março. No seguimento das conversas entre a ABIC e a FCT, João Pedro Ferreira considera a decisão “lógica e positiva, uma vez que se enquadra na realidade atual dos alunos que começam o ano letivo em setembro”. Filipa Malva conclui que “o conhecimento, em Portugal, tem dificuldade em evoluir, pois cria-se um ciclo vicioso, em que os vínculos com as instituições se tornam mais precários e existem muitos investigadores a trabalhar sozinhos”. ARQUIVO


13 DE DEZEMBRO DE 2016 CULTURA -8-

SECÇÕES CULTURAIS PRECISAM DE MELHORES CONDIÇÕES Número de colaboradores não defrauda expectativas e entraves prendem-se com questões logísticas. DG/AAC lamenta críticas e UC aponta esforços que têm vindo a ser feitos - POR CARLOS ALMEIDA E LUÍS ALMEIDA -

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ão 15 as secções culturais de que a Associação Académica de Coimbra (AAC) dispõe. Há quem fale num “legado” para defender, como é o caso do presidente do Centro de Estudos Cinematográficos (CEC), Vítor Ferreira. Para cumprir a responsabilidade, é necessário que haja interessados, o que por vezes é um entrave. Obstáculos são, também, as infraestruturas e recursos disponibilizados. Recursos humanos existem, mas o impacto na comunidade estudantil nem sempre é o esperado “Há cada vez menos pessoas interessadas em dar tempo para participar no associativismo juvenil, devido à pressão de terminar o curso”, acredita a presidente da Secção de Fado da AAC, Inês de Almeida. Esta ideia é justificada pelo presidente do CEC, como advento do Processo de Bolonha. Para além de encurtar a duração dos cursos superiores, altera o paradigma da permanência dos estudantes no associativismo. “Os alunos estão disponíveis para colaborar nos projetos, mas numa perspetiva parcial e não total”, constata Vítor Ferreira. Para contrariar a fraca participação na cultura da academia, a aposta nos eventos é grande por parte de algumas secções. A presidente da Secção de Fado da AAC considera que “o grupo tem maior impacto duas vezes por ano, nas serenatas”. Já a Secção de Filatelia da AAC não reconhece nos jovens interesse por esta atividade. No entanto, a presidente, Carolina Pereira, ilustra que, “apesar da carência de jovens, há atividades que a secção faz que são imprescindíveis e talvez sejam a razão pela qual sobrevive”. Já o presidente do Centro de Informática da AAC (CIAC), Mauro Guímaro, conta que os membros não têm o hábito de divulgar a secção, logo o “impacto fora do círculo de interesse é diminuto”. Algumas secções têm crescido no número de colaboradores e sócios ativos e efetivos. É o caso da Secção de Escrita e de Leitura da AAC (SESLA), que conta com cerca de 50 membros e tem dinamizado iniciativas pela cidade, cuja principal é a Tertúlia Literária mensal. A presidente, Ana Bordalo, refere que se pretendem realizar “mais atividades, com o intuito de assegurar a continuidade do grupo”. Nesse sentido, também a Secção de Gastronomia da AAC, com cerca de 60 colaboradores, tem vindo a realizar ‘workshops’ para mostrar o que a gastronomia oferece e para atrair mais pessoas. O presidente desta secção, João Martinho, declara que este é um grupo “muito técnico e a forma de chegar ao público é através de atividades”. Condições materiais são principais obstáculos É no edifício-sede da AAC que a maioria das secções culturais desenvolvem os seus trabalhos, exceto duas: a Secção Experimental de Yoga (SEY) e a Secção de Astronomia, Astrofísica e Astronaútica da AAC (SAC), que partilham espaço no edifício das Cantinas Verdes. Pedro Silva, vogal da SAC, expressa o desejo de uma sala no edifício-sede da AAC. “O sítio de que a SAC dispõe está em más condições e é quase usado como armazém”, explica. Também a presidente da SEY, Miriam Jorge, expressa descontentamento. Refere que “a sala de práticas está uma miséria, cheia de humidade, cai água lá dentro, cheira mal, está cheia de ácaros. Está a fazer-se yoga em condições absolutamente precárias”. No entanto, acrescenta que se “está sempre a proceder a obras e limpezas regulares”.

O edifício das Cantinas Verdes é propriedade da Universidade de Coimbra (UC) e, como afirma o presidente da Direção-Geral da AAC, José Dias, “a responsabilidade de fazer obras vem da reitoria”. O reitor da UC, João Gabriel Silva, argumenta que “não se pode negar o grau de investimento na recuperação de instalações nos últimos anos”. Explica ainda que “o dinheiro disponível para a restauração é curto” e acrescenta que “há que fazer escolhas, todos compreendem que se tente intervir nos edifícios mais utilizados”. Em relação ao lugar de que cada secção dispõe dentro do edifício-sede da AAC, muitas são as que se queixam da falta de material e das condições do espaço ou da sua ausência. O presidente da Televisão da AAC (tvAAC), Pedro Gonçalves Santos, afirma que “existem problemas de humidade porque a sala foi pensada como local de exposições”. No entanto, refere que o trabalho não sai prejudicado. Já o presidente do Grupo Ecológico da AAC, Tiago Mendes, refere que o tamanho do espaço ocupado pela secção é tão reduzido “que é incomportável ter 25 pessoas a trabalhar”. Neste sentido também os presidentes do CEC, Secção de Fado e Secção de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) argumentam que, por vezes, é necessário requisitar espaços para alguns eventos. A vice-presidente da SDDH, Cátia Soares, ilustra que “era bom que a sala fosse maior” e que, apesar da escassez de material, tem “o suficiente para fazer um bom trabalho”. O presidente da Rádio Universidade de Coimbra, Francisco Campos Coroa, também refere que “falta muita coisa para o normal funcionamento, porque há muito equipamento que, devido à frequência com que

é utilizado, estraga-se de forma fácil”. Direção-Geral com disponibilidade limitada Quanto às relações entre as secções culturais e a DG/AAC, há quem não tenha razão de queixa, como é o caso da SDDH, Secção de Fado e Secção de Filatelia. A vice-presidente da SDDH refere que “quando há um problema, a DG/AAC faz questão de resolver”. A tvAAC e a SAC concordam que devia haver uma relação mais próxima, mas a SEY, o CIAC e o CEC afirmam sentir pouco ou nenhum apoio por parte da DG/AAC. O presidente do CEC critica o auxílio para o Festival Caminhos do Cinema Português, que consistiu em “20 euros em ‘plafond’ de papelaria e fotocópias e a cedência do espaço da Coimbra Editora dentro do edifício”. Vítor Ferreira considera que este apoio não vai ao encontro da dimensão do evento. José Dias esclarece que o edifício-sede da Associação Académica de Coimbra é propriedade da UC mas “cada secção é responsável pela sua sala e, se estão degradadas, têm elas de fazer a renovação”. O presidente da DG/AAC acrescenta que “quem faz a cultura da casa são as secções e a Direção-Geral apenas constitui uma plataforma de entendimento com todas”. Para concluir, lamenta que as críticas tivessem de ser exteriorizadas uma vez que “podiam ter sido feitas em espaço próprio, o plenário das secções culturais”. Até ao fecho desta edição, não foi possível obter declarações da Secção de Fotografia da AAC e SOS Estudante da AAC. Com Catarina Areal JOÃO RUIVO


13 DE DEZEMBRO DE 2016 CULTURA -9-

TEUC FAZ ARTE FORA DOS GUIÕES COM “ESTEPE” Espetáculo é resultado de adaptação de publicações de Bret Easton Ellis. Liberdade de processos criativos contribui para cenografia inovadora - POR PEDRO SILVA E RICARDO SILVA -

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mais recente encenação do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) aborda um conjunto de personagens que são atores e artistas que fingem arrendar um apartamento para passar lá uma noite a gravar uma longa-metragem. “Eles estão lá a filmar cenas uns com os outros sem muitas preocupações estruturalistas em relação a como se faz no bom cinema”, explica a encenadora da peça, Paula Garcia. “Filmam uma pessoa, mas a voz é de uma outra, o que provoca uma disjunção entre o visual e o sonoro”, acrescenta. O Teatro de Bolso do TEUC acolhe “Estepe”, pelas 21 horas, com data final a 14 de dezembro. De acordo com a encenadora, as personagens deambulam entre imagens identitárias que são esquecidas de forma fugaz. Desta forma, sempre que surge um pensamento profundo, desviam dele a sua atenção. Esta é uma perspetiva que aborda a vaga ‘No Wave’ dos anos finais de 1970 e início da década seguinte. Inês de Miranda, atriz na peça, ilustra que as personagens “encaram a vida de uma forma superficial, desapegada e apática”. Esta inércia das personagens advem de um contexto temporal onde a banca começa a comercializar com o Estado. Paula Garcia explica que na altura representada já não era suficiente uma pessoa fazer um bom trabalho, era necessário mostrar-se disponível para apresentar uma certa personalidade que se inserisse no mercado. “Há todo um conjunto de questões que mantêm uma espécie de manutenção de identidade e que já são um valor de mercado”, explica a encenadora.

Baseado em publicações de Bret Easton Ellis, escritor norte-americano, a representação retrata um contexto de crise económica que se compara com a atualidade. A equipa da peça assegura que “Estepe” remete para a ideia de resistência e de participação em atividades artísticas e culturais como forma de combate a uma crise também social. Carolina Moreira, atriz no espetáculo, vê oportunidades de criar alternativas no contexto de crise e sublinha que tal se “torna um campo fértil para o aparecimento de novas ideias de criação artística”. Uma forma de resistência que “transgride as normas convencionais do teatro e do cinema”, propõe Paula Garcia. Acrescenta ainda que a verdadeira resistência é feita a partir de entrada em abordagens desconhecidas para permanecer nas atividades desejadas. Não é a primeira vez que o grupo de teatro trabalha sobre os problemas derivados de crises económicas e sociais. Xénon Cruz, também ator na representação, lembra que é característica do TEUC, o diálogo com a realidade da sociedade, “Há tempos houve um espetáculo sobre a situação da educação” revela. “O objetivo é pegar neste tipo de temas a construir abordagens diferentes à volta deles” acrescenta. Este é um projeto que Paula Garcia caracteriza como inovador e que se afasta da criação cénica convencional. Desta forma o TEUC é retratado como um espaço com identidade e transmite os seus valores e ideias de liberdade e de criatividade. “A cenografia é baseada na luz e intervêm-se nas paredes, “isto não seria possível

num teatro profissional convencional.” garante a responsável pela encenação. Nos bastidores do TEUC, a equipa que trabalha na peça reconhece que existem obstáculos para quem se dedica a esta arte. A falta de recursos financeiros é também um problema admitido pelos seus membros, o que dificulta a promoção e o desenvolvimento desta expressão artística. “O TEUC tem de forma habitual um orçamento baixo. É preocupante que as artes não tenham, por vezes, dinheiro suficiente para conseguir fazer algum trabalho de maior qualidade.” lamenta Paula Garcia. Inês de Miranda explica que no TEUC os atores não se limitam apenas a sê-lo, mas que também se envolvem nos processos de produção. Acrescenta ainda que se “tem a oportunidade de ter uma escola muito para além do trabalho artístico. É uma formação pessoal” esclarece. A opinião generalizada dos membros do TEUC demonstra que são vários os desafios de participação cívica dos estudantes em várias atividades culturais, que a crise agrava até ao ponto de pôr em causa a criatividade, o trabalho intelectual e a liberdade. Tudo isto não se pode perder, segundo a encenadora Paula Garcia, uma vez que os espaços de criação livres estudantis representam “espaços públicos de discussão que premeiam a liberdade”. A preocupação com este aspeto da comunidade geral de Coimbra tem sido reproduzida nos debates sobre o futuro da universidade e das suas dependências. D.R. - ANA PAULA MATEUS


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COIMBRA ULTIMA PREPARATIVOS PARA RECEBER OS EUG DE 2018 Orçamento previsto para o evento tem sido alvo de reformas. Os Jogos vão colocar Coimbra como o “centro do desporto universitário em Portugal” - POR JOÃO PIMENTEL E JOÃO RUIVO-

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mês de julho de 2018 reserva, para a cidade de Coimbra, a receção dos European University Games (EUG). A organização está a ser levada a cabo por quatro entidades nacionais, tais como a Federação Académica de Desporto Universitário (FADU), a Associação Académica de Coimbra (AAC), a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) e a Universidade de Coimbra (UC). O vereador do desporto da CMC, Carlos Cidade, afirma que se trata da “maior iniciativa multidesportiva em que alguma vez Portugal se viu envolvido”. Já foi dado início à reabilitação de infraestruturas, bem como zonas envolventes ao recinto dos Jogos e, por isso, delegados da EUSA vieram à cidade, no passado dia 7, para averiguar o que já foi feito. Para além destes espaços, também alguns complexos desportivos da CMC vão ser alvos de reformas. Os Jogos vão envolver cerca de cinco mil estudantes com idades compreendidas entre os 17 e os 30 anos. Jogos Europeus Universitários: o modus operandi O evento resume-se a uma competição universitária, com vários desportos, regida pela European University Sports Association (EUSA). Os participantes tanto podem ser equipas universitárias, como estudantes das várias universidades europeias. As provas bienais representam o maior evento desportivo europeu de estudantes e na edição que Coimbra vai acolher constam 13 modalidades. As categorias Futebol, Futsal, Voleibol, Andebol, Badminton, Ténis de Mesa, Ténis de Campo e Basquetebol vão ser obrigatórias. Por sua vez, o Judo, Râguebi de 7, Remo, Basquetebol de 3x3 e Canoagem são opcionais. Os Jogos, na opinião do coordenador do desporto da Direção-Geral da AAC (DG/AAC), Rui Magalhães, “não se circunscrevem ao perímetro da cidade de Coimbra são um evento nacional”. Nesse sentido, “foi preciso concertar as quatro entidades responsáveis pela candidatura”. Para além de Coimbra, foram também aspirantes à organização deste evento as cidades de Varna, na Bulgária, e Tampere, na Finlândia. Para Rui Magalhães o facto de a AAC ter sido, “durante dois anos consecutivos, o clube universitário mais medalhado a

nível internacional” e, assim, “o melhor clube europeu do desporto universitário” foi o fator determinante para o triunfo da candidatura. Por sua vez, o secretário-geral dos Jogos de 2018, Mário Santos, realça o “papel determinante da AAC” e a “capacidade de reunir os parceiros para encetar este projeto”. A preparação do evento Para receber os Jogos, “o que se tem feito é uma aproximação entre os órgãos organizadores e os responsáveis do Governo”, refere Rui Magalhães. Para além disso, a UC já reabilitou na totalidade, os Pavilhões 1 e 3 do Estádio Universitário (EU). Em relação ao espaço envolvente ao Estádio, de acordo com Mário Santos, “espera-se que seja concluída a restauração do Pavilhão 2, do campo pelado, que vai passar a piso sintético, da tribuna do campo principal e zonas envolventes”, até aos Jogos Europeus Universitários. O vereador do desporto da CMC refere que vão ser efetuadas medidas de reabilitação da zona exterior do EU, como a “construção de uma ponte pedonal que vai ligar o EU à baixa da cidade”. Outros espaços que pertencem à CMC, como o Campo de Futebol da Arregaça, o Pavilhão Jorge Anjinho, o Pavilhão do Clube União 1919 e o Pavilhão do Sport Clube Conimbricense vão também ser alvos de reformas. Dia 7, os delegados da EUSA deslocaram-se a Coimbra e “saíram da cidade satisfeitos com a visita técnica que realizaram”, confessa Carlos Cidade. No que diz respeito ao orçamento, Rui Magalhães refere que tem havido “reestruturação ao longo dos anos, de forma a fazer uma gestão racional dos recursos”. Carlos Cidade vai ao encontro das palavras de Rui Magalhães ao esclarecer que existe um consenso no que toca a “gastar apenas o dinheiro necessário para o evento, de modo a que no final não exista qualquer buraco financeiro”. O secretário-geral dos EUG de 2018 adianta que a “FADU está a trabalhar junto do Governo, no sentido de garantir o financiamento para o evento”. Ocorreu na segunda-feira, dia 12, uma reunião com o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, para abordar estes aspetos. Ao todo vai ser feito “um investimento superior a três milhões de euros”, finaliza.

Os membros envolvidos na organização confessam-se atentos à complexidade que envolve a preparação deste evento. Mário Santos adianta que, durante a estadia, “a maior parte dos estudantes vai ficar alojados nas várias residências universitárias da cidade”. Para tal, a questão do alojamento está a ser concertada junto dos Serviços de Ação Social da UC, de forma a “não colocar estudantes fora das residências”, conclui. No próximo ano realiza-se em Coimbra o Campeonato Europeu Universitário de Judo, Taekwondo e Karaté. Para Carlos Cidade, este torneio vai ser um desafio “que vai por à prova” a capacidade organizadora da cidade, um ano antes de receber os EUG. Mário Santos mostra-se “convicto de que vai estar tudo pronto” para receber o evento e que o “envolvimento de todos os parceiros vai ser essencial para aproveitar esta oportunidade de “reabilitar equipamentos que a UC e a cidade necessitam”, com o intuito de fomentar a prática desportiva. A herança para o desporto na cidade A importância deste evento é unânime e o secretário-geral da iniciativa considera os Jogos como a “alavanca para a valorização do desporto e como fator do aumento da qualidade de vida de todos os membros da academia”. Acrescenta que vai ser uma “ocasião para demonstrar as valências da cidade nas áreas do conhecimento, das infraestruturas e dos recursos humanos”. Por sua vez, Carlos Cidade garante que se trata de “um evento nacional, com repercussões a nível internacional”, pelo que o facto de serem feitos na cidade vai contribuir para que “Coimbra seja vista de outra maneira”. Para o vereador da CMC, os EUG de 2018 vão “marcar uma mudança de paradigma da prática desportiva na cidade e, em especial, na universidade”. Os três representantes das entidades envolvidas na preparação dos Jogos acreditam que a cidade fica com competências para receber, no futuro, eventos de ainda mais alto nível. O coordenador do desporto da DG/AAC não tem dúvidas que Coimbra vai ser, “nos próximos anos, o centro do desporto universitário em Portugal”. INÊS NEPOMUCENO


13 DE DEZEMBRO DE 2016 CIÊNCIA E TECNOLOGIA - 11 -

A CRIMINALIDADE POR DETRÁS DO MONITOR Divulgação descuidada de informação privada constitui um dos maiores problemas no que respeita à deturpação de dados pessoais ‘online’ - POR INÊS NEPOMUCENO E FRANCISCO NUNES -

om a massificação do uso da Internet, metade da população mundial tem acesso a esta, segundo dados da ‘Internet World Stats’. Com isto, a criminalidade informática, também conhecida por cibercrime, é cada vez mais uma realidade. Segundo o presidente da Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal da Polícia Judiciária (ASFIC/PJ), Ricardo Valadas, este é “o delito com maior frequência, neste momento, para a Polícia Judiciária”. O cibercrime, como explica o também inspetor na área, “constitui todo o tipo de criminalidade cometido através de meios informáticos”. São exemplos difamação no ‘Facebook’, ou casos de ataques a servidores de empresas. Esta vertente criminal pode relacionar-se com os conteúdos, quando consiste na partilha de imagens, vídeos e filmes que não pertencem à pessoa que os divulga. Pode ainda considerar-se de contacto, sempre que se visa interagir com pessoas com objetivos maliciosos. Por fim, pode consistir em comércio eletrónico contra o património, como as burlas e vendas falsas na Internet. Este tipo de delito tem aumentado, o que explica o número de queixas situado nas “dezenas por semana”, a nível nacional. Ricardo Valadas menciona que “qualquer pessoa que utilize meios informáticos pode ser vítima de um crime, se não tomar as precauções devidas”. Em relação aos criminosos, o perfil é abrangente, pois “qualquer pessoa com más intenções, que tenha acesso e conhecimento para utilizar os meios tecnológicos” pode praticar este delito. O inspetor da Polícia Judiciária considera ainda que um dos maiores problemas relativos à deturpação de dados pessoais na Internet reside no facto de as pessoas “divulgarem muita informação

pessoal que não devem”. Em casos de denúncia, cabe à PJ tomar conta das diligências do processo. Ricardo Valadas explica que “cada crime tem um tipo de adaptação e de protocolo que se tem de seguir para fazer a investigação”. Existe uma “unidade central da polícia especializada”, intitulada de Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica e sediada em Lisboa, onde se encontram os equipamentos e as pessoas prontas para agir nestes termos, adianta. A nível internacional, “a Polícia Judiciária estabelece colaboração estrita com outros países através de entidades como a Organização Internacional de Polícia Criminal INTERPOL e o Serviço Europeu de Polícia EUROPOL”. O acordo mais recente foi assinado dia 24 de novembro e marcou a integração portuguesa na European Cybercrime Training and Education Group. Este contacto é “essencial na troca de informação entre estados e no ultrapassar de barreiras”, remata Ricardo Valadas. As duas redes principais, onde se protagoniza a maior parte destes delitos, são a ‘deep web’ e a ‘dark net’. Na primeira encontra-se “toda a informação fora do alcance dos motores de busca”. A segunda “utiliza uma rede paralela, com um sistema de encriptação muito específico e acessível através de um ‘browser’ chamado TOR” e que, por não ser acessível através dos motores de busca e dos métodos usuais, se encontra incluída na ‘deep web’. Na ‘dark net’ circulam “conteúdos que não são aceites nas redes convencionais e é utilizada por pessoas que têm alguma coisa a esconder, apesar de também ter informação válida”, admite. Pela existência destas duas plataformas, nem todos os crimes cibernéticos são fáceis de combater.

INÊS NEPOMUCENO

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INVESTIGAÇÕES DO CNC PREMIADAS A NÍVEL EUROPEU Nanopartículas seguras, SFGNA, cancro da mama triplo negativo e neuroblastoma são alguns dos temas dos projetos galardoados - POR HUGO GUÍMARO E PEDRO DINIS SILVA -

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o mundo inteiro, milhões de pessoas vivem com um diagnóstico de alguma doença, um conjunto de sinais e sintomas específicos que afetam um ser vivo e alteram o seu estado normal de saúde. As doenças são uma ameaça para a humanidade, e algumas podem chegar a matar milhões de pessoas, enquanto outras são como “assassinos silenciosos”. Foi neste âmbito que o Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra (UC) arrecadou, a nível europeu, 380 mil euros em financiamento para três projetos de investigação nas áreas da nanosegurança, do fígado e do cancro. A produção de nanopartículas – elementos de dimensão microscópica - com base no transporte de fármacos para o tratamento de patologias é algo que está na ordem do dia. Visa o desenvolvimento de ferramentas rápidas e não invasivas para um diagnóstico mais seguro. É neste campo de ação que a nano-segurança é o tema patente no projeto “GoNanoBioMat”, que conta com a participação de Olga Borges, investigadora do CNC. “O objetivo é dar respostas a perguntas relevantes na área do desenvolvimento de nanopartículas” como a criação de ‘red lines’, elucida. Estas “são documentos orientadores que permitem à indústria fabricar medicamentos de base nanotecnológica mais seguros e eficazes”. Neste projeto está ainda presente o conceito ‘safe-bydesign’, que é definido pela investigadora como “o desenvolver de nanopartículas mais seguras”.

Por sua vez, o consórcio internacional “mtFOIEGRAS” é liderado por Paulo Oliveira, investigador do CNC. O tópico abordado neste projeto é o Síndrome do Fígado Gordo Não Alcoólico (SFGNA), uma “patologia que pode afetar até 40 por cento da população mundial”. Tentar perceber a sua “verdadeira extensão” é o principal objetivo da investigação. “Neste momento não há um diagnóstico eficaz para esta condição nem marcadores que permitam dizer qual o estado da doença”, afirma. Paulo Oliveira refere ainda que “a atual diagnose é feita numa altura em que, quando são revelados resultados, a doença já se encontra num estado avançado”. Segundo o investigador, a biópsia hepática é uma das maneiras usadas para ter a certeza da localização da doença, mas esse é um método muito invasivo e não aconselhável “a não ser que haja certeza de uma patologia grave”. “O sonho é tirar uma amostra de sangue, que providencie um painel muito mais certo do diagnóstico”, afirma. Para isso, é necessário “validar estes métodos para perceber se podem ser usados no futuro de forma mais rápida, barata e segura”. Outro projeto premiado foi desenvolvido pelos membros do “NanoDoxer”, consórcio coordenado por João Nuno Moreira, investigador do CNC. A principal finalidade é “estudar dois tipos de cancro bem identificados, o da mama triplo negativo e o neuroblastoma”, explica. Adianta que as “soluções terapêuticas existentes são pouco eficazes” e estão associadas a “grandes níveis de toxicidade”, pelo que “há a

necessidade de novos tratamentos”. Refere ainda a existência de “uma verdadeira carência de atenção médica”. Entre estes dois tipos de cancro “identificou-se uma proteína que existe em elevada quantidade, a nucleolina, importante para a proliferação de tumores e associada à sua agressividade”. A ideia é “com uma única nanopartícula, que transporta dois tipos de fármacos, avaliar em modelos animais o potencial terapêutico da nova estratégia e tirar partido do denominador comum entre as doenças”. Com estes dados “quer-se torná-la numa fragilidade para o tumor”, explicita o investigador. Para o combater, vai ser usada uma nanopartícula com a superfície coberta de um polímero, “que faz com que o organismo não identifique este corpo estranho e o elimine”. O objetivo é “aumentar a extensão da sua coação no tumor”, elucida. Assim, “este componente é muito importante para aumentar a segurança da viagem”, conclui o investigador. Paulo Oliveira admite que este reconhecimento internacional tem uma enorme importância para a UC, “sobretudo porque é preciso que cada vez haja mais financiamento pela fama, pelo crédito, pela importância”. “Quando alguém pensar num determinado tema de investigação, tem de pensar logo na UC”, expressa o investigador. “A universidade tem de se ligar a sócios, ser reconhecida lá fora, estar a par com outras instituições que existam a que chegam projetos destes”.


13 DE DEZEMBRO DE 2016

SOLTAS - 12 -

EM CONT(R)OS BOAS FESTAS - POR SECÇÃO DE ESCRITA E LEITURA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -

PATRICIA MENDES - SECÇÃO DE FOTOGRAFIA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA

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lguém gosta muito de celebrar o Solstício. Diz-se que acontece quando se quiser mas, infelizmente, parece que só se quer uma vez por ano. É uma época bonita e repleta de sentimento, encantada com luzes, enfeites e muitas melodias. Alguém carrega sempre um sorriso e um “Feliz Solstício” nos lábios. É um tempo de ânimo, de mudança... Tempo de encontros que se adiam durante o ano. A família de Alguém está longe - a distância aumenta quando só os laços de sangue unem, mas já se sabe que não é algo que se escolha. Alguém convive mais com as amizades, essas estão mais próximas e presentes, sempre à distância de uma rede social. E nos encontros reais ocasionais nos Centros de Comércio de Explorações dessa vida, mais frequentes nessa época, há trocas de abraços desajeitados e bem-intencionados - o espírito da época é contagiante.

Falando em espírito, é o tempo de Alguém rever a Instituição. Felizmente o discurso não mudou desde o ano anterior e o sentimento é de alívio pois há sempre receio de se ter perdido algo ao longo do ano. Reconectado, Alguém decide deixar uma esmola - qual será o valor mais indicado? (Andar de avião não é a única forma de chegar ao céu e há bilhetes que se pagam a prestações). Alguém pensa sobre o que tem e por vezes desespera por aquilo que gostaria de ter. Sonha com surpresas no sapato. Reflecte profundamente sobre isso, principalmente nos momentos menos bons deste período nos quais a pobreza alheia se torna mais visível. Os pobres têm frio, mas aquele casaco que Alguém não usa pode voltar a estar na moda e aquele outro que vai usando é necessário para não usar todos os dias o mesmo. Os pés deles estão gelados, mas meias são a oferta convencionada aos familiares mais distantes - obrigações da época.

A barriga deles está vazia, mas a época exige em destaque na mesa o corpo desprovido de vida de outros miseráveis, eternos esquecidos, degolados com amor da temperatura da estação e sempre por um bem maior. Alguém terá todo o gosto em partilhar o que possa sobrar, em nome da caridade. Tem pena de tanta miséria. Mas afasta esses sentimentos e pensamentos…a época é de alegria e de contentamento, de celebração. Nunca se sabe o amanhã, Alguém prefere aproveitar enquanto pode. O Solstício implica muitos gastos e neste momento não tem como fazer melhor. Na próxima vez tentará ajudar mais. Talvez deixe uma nota maior na Instituição. Até aponta na lista de desejos para o novo ano. É tempo de mudança. É tempo de renascimento. E renasce Alguém no fim do Solstício, na ressaca de privilégios e de excessos excessivos. A festa passou. O resto ficou. É agora tempo de arrumar as luzes e os outros enfeites.


13 DE DEZEMBRO DE 2016 SOLTAS - 13 -

FACEJAQUIM DA AAC - POR JGS -

Associação Académica de Coimbra

Querido Pai Natal, eu sei que já não tenho idade (quase 129 anos..) para te escrever e muito menos para ainda acreditar em ti. No entanto decidi que este ano o devia a mim e aos meus. Não sei se fui uma boa Académica, mas espero que saibas que a intenção é sempre a melhor. Espero que tenhas tido um bom ano. Todos o merecemos e acho que por vezes se esquecem de ti. Com tanto paleio, já deves estar à espera de uma lista repleta de pedidos. Afinal todos te escrevem a pedir prendas sem fim. Carros telecomandados, pistas de comboios, poleiros no governo, consolas, bonecas que falam, telemóveis e sabe-se lá que mais. Pai Natal, nem briquedos nem paz no Mundo. Este ano só te peço uma coisa: Podes dar-me uma Revisão de Estatutos?

OBITUÁRIO - POR CABRA COVEIRA -

ERA UMA VEZ UMA ABSTENÇÃO

P

arecia. Quase que parecia. Pode até andar a dizer-se que foi histórico, que mais estudantes votaram. Que mais se dirigiram às urnas, pegaram na bela da caneta e fizeram uma cruzinha no quadrado que bem lhes aprove. 21 por cento, imagine-se! Uma loucura! Tragam as medalhas, as taças, os troféus! E desses 21 por cento, quantos sabem, efetivamente, para o que votaram? Quantos sabem, com toda a certeza, o que é o órgão máximo da Universidade de Coimbra? Pois é, nunca tinham pensado nisso. De nada.

O LAVABO QUE FOI, PARTE II

S

e antes era um WC masculino meio que chamuscado, agora é a vez do feminino não ter acesso. Mas não nos fiquemos por aí no que toca a reestruturação do edifício. Ele é salas que fazem ‘remakes’ do Titanic, com inundações a torto e a direito, falhas nas construções e edifícios com condições que enfim. Mas cá andamos, festejando aniversários para mostrar o melhor que há na casa. Que importa umas míseras gotinhas no chão. Ou até aos tornozelos. Pensando melhor, joelhos. Tanto faz. A culpa é de outrem.


13 DE DEZEMBRO DE 2016 ARTES FEITAS - 14 -

CINEMA

Um sistema contra o homem - POR VASCO SAMPAIO -

I, Daniel Blake De

Ken Loach

Com

Dave Johns, Hayley Squires, Sharon Percy

2016

O

s médicos dizem que não está apto para trabalhar depois de um ataque cardíaco, mas os profissionais de saúde da segurança social britânica dizem o contrário. É-lhe recusada a pensão de invalidez. Enquanto espera por um recurso, vê-se obrigado a pedir um subsídio de desemprego. Ora, Daniel Blake (Dave Johns) nunca usou um computador. Nunca escreveu um currículo, nunca esteve desempregado. E tem pela frente uma épica batalha com um monstro burocrático britânico (mas não exclusivamente britânico, diga-se) que deixaria até os mais bem-adaptados ao mundo atual de rastos. Eis que Daniel conhece Katie (Hayley Squires), mãe de dois, solteira. Também ela procura um emprego e luta diariamente contra as barreiras impostas aos mais carenciados pela assistência social bri-

tânica. Daniel e Katie cedo percebem que terão de se ajudar um ao outro a ultrapassar a negra situação em que se encontram. Juntos, testam os limites do amor -próprio e procuram sobreviver sem perderem a única coisa que lhes resta: a dignidade. Em todos os instantes e apesar de todos os dramas que revela, I, Daniel Blake não deixa, contudo, de ser um filme que vai direto ao assunto. Ao contrário do preconceito comum quanto aos vencedores da Palma de Ouro em Cannes, a mensagem que Ken Loach aqui transmite é facilmente identificável e compreensível: o sistema não funciona para aqueles que realmente precisam dele. O efeito conseguido começa por ser cómico, quando Daniel é mostrado como um homem completamente desfasado da realidade, mas rapidamente os risos são substituídos por expressões de espanto e olhos

Em

Oficina Municipal do Teatro

N

ão, não vou falar do icónico livro de Jostein Gaarder publicado em 1991(a Sofia dele é com“f ”) mas sim do espetáculo Sophia, em cartaz até 7 de janeiro na Oficina Municipal do Teatro. Trata-se basicamente de um ‘blend’ de algumas das obras infantis da autora portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004). Está quase tudo lá: A Menina do Mar, O Cavaleiro da Dinamarca, O Rapaz de Bronze, A Fada Oriana, A Árvore. Talvez colocar tantos contos num único espetáculo tenha sido um equívoco, pois embora os atores executem suas múltiplas tarefas muito bem, a costura dramatúrgica se mostra um tanto frágil e cria hiatos na trama. Facto é que algumas crianças terminaram o espetáculo se perguntando por alguns dos personagens. Eu também.

A Cabra aconselha

EM PALCO

Sophia até 7 janeiro aos sábados às 17h30

lacrimejantes quando os acontecimentos do filme se tornam chocantes demais. No final, constrói uma narrativa eficaz sobre vidas das quais nunca se ouve falar, e apenas perde força quando o objetivo político do realizador se torna demasiado evidente. Não deixará, por certo, de ser um dos melhores filmes do ano e também, arrisco, um dos mais emocionalmente devastadores. Verdade seja dita: chorar assim vale a pena.

O Mundo de Sophia - POR FÁBIO LUCINDO -

Aliás, as crianças... Escrevo aqui um sacrilégio: o maior problema do teatro infantil são as crianças. Há toda uma questão de comportamento no ambiente teatral que precisa muito ser trabalhada pelos pais. Claro, isso é dificílimo e delicado para que os miúdos não o cristalizem como “chato”. Afinal, não é. Mas as crianças, às vezes, fazem ser. Não, elas não têm culpa, e no caso do teatro infantil acabam por ser o melhor termômetro sobre o andamento do espetáculo. O cenário minimalista, um grande tapete branco que também serve de tela para projeções, foi muito bem explorado por Jonathan Azevedo. Imagens belíssimas são criadas a partir da luz e os adereços são utilizados de maneira prática e pontual, sem exageros. As cordas que compõe o cenário também exercem múltiplas finalidades colaborando com o ‘mise en scène’ de maneira poética e funcional. Sobre a música pouco há a dizer, trata-se de uma banda sonora que não dialoga, apenas reforça

as imagens criadas pela luz. Não é ruim mas podia ter algo mais. Este “algo mais” fica por conta do trabalho de manipulação de bonecos realizado pelos atores. Espantoso. O jogo com escalas de tamanho e profundidade, além da relação de proximidade com o público, distribuído em meia arena pelo teatro, também é muito inteligente. Se as crianças são o melhor termômetro, facto é que, salvo alguns poucos choros, a grande maioria se acalmou logo no início do espetáculo e assim se manteve até ao fim. Escrevo aqui uma reverência: a maior maravilha do teatro infantil são as crianças. Eu vi. Elas gostaram. O que mais importa?

Podia ser melhor


13 DE DEZEMBRO DE 2016 ARTES FEITAS - 15 -

GUERRA DAS CABRAS

MÚSICA

A evitar Fraco Podia ser pior

Tristeza em Modo Maior

Podia ser melhor A Cabra aconselha

- POR FILIPE FURTADO -

A Cabra d’Ouro

“A

felicidade é como a pluma que vento vai levando pelo ar, voa tão leve mas tem a vida breve, precisa que haja vento sem parar”. As palavras são de Vinícius de Moraes, a composição de António Carlos Jobim. Essa alegre “Tristeza” entre a poesia e a música é a faixa de abertura para “Carminho Canta Tom Jobim”. A ideia do disco aparece depois de uma noite a cantar e tocar temas do ‘songbook’ de Jobim. A família do pianista adorou e o convite formal para gravar o disco chegou pelo próprio filho, Paulo Jobim. Com total liberdade para escolher quais os temas interpretar, Carminho apenas se deteve pela sua regra de evitar canções com a palavra “você”, vocábulo que não lhe parece natural do cantar em português de Portugal. Entre uma ou outra ligeira adaptação à letra, podemos encontrar temas como “Estrada do Sol” (com Marisa Monte), “Meditação”, “Falando de Amor” (participação de Chico Buarque), “Sabiá”, “Retrato em Branco e Preto” ou “Luiza”. O disco mantém essa aura muito autêntica de António Carlos Jobim. As composições seguem os arranjos originais do compositor e, claro, contam com a genética musical: filho e neto estão lá, Paulo e Daniel, respectivamente. Assim como outros integrantes da Banda Nova que acompanharam o maestro Tom em vida - Jaques

Carminho Canta Tom Jobim De

Carminho

Editora Warner

2016

A Cabra aconselha

Morelenbaum no violoncelo e Paulo Braga na bateria. Pela “Estrada de Sol” ouvimos a cumplicidade entre Carminho e Marisa Monte, uma simbiose que não é nova. Em “Falando de Amor” com Francisco Buarque de Hollanda, os versos partilhados em pergunta-resposta capturam essa essência pura dos anos de ouro da Bossa Nova. O timbre de Maria Bethânia é ornamento de luxo em “Modinha”, nesse contraste entre a melancolias, a de lá e a de cá, esse sofrer fadista a um oceano de distância. Sublime em todo o disco é o peso do maestro Jacques Morelenbaum, um violoncelo que nos tira deste mundo como um filme, ”Retrato em Branco e Preto” será uma das melhores “películas”deste disco. Talvez seja este o destino do fado, deixar-se perder pelo mundo, abraçando outras lusofonias musicais, outros hemisférios, embrenhando-se em gingados, espalhar-se como a bossa nova. (Há poucos dias era Zambujo a cantar Buarque). Talvez seja só a bela voz de Carminho a querer cantar o que lhe vai na alma. Seja como for, estamos bem entregues. António Jobim deixou-nos em 94, mas a sua música será eterna, no fado de cá ou na bossa de lá.“Chega perto/Vem sem Medo/ Chega Mais Meu Coração/Vem ouvir esse segredo/Escondido num choro-canção”.

LIVRO A arte de ser filho da puta - POR PAULO SÉRGIO SANTOS -

P

ublicado em 2013 no Brasil, “O Drible” é o terceiro romance de Sérgio Rodrigues, que chegou a Portugal no ano passado, curiosamente só depois de ser traduzido em espanhol e francês. É, de forma resumida, uma obra em que o futebol funciona como metáfora para a vida. O livro conta a história de Murilo Filho, grande cronista desportivo, e do seu filho Neto. Murilo, à beira da morte, resolve ligar a Neto ao fim de 26 anos e tentar reatar uma relação inexistente. A vida é, então, um continuum de características: a represa do Rocio, onde os protagonistas passam algum tempo, igual à de Merequendu, onde Murilo nasceu, exceto os bambuzais; os traços comportamentais de ambos; e a suposta perda de memória do pai como ponte para a incapacidade de lembrar de Neto. A ironia da inocência, os genes a funcionar para que, anos fora, o filho seja uma espécie de esboço do pai. O autor opta por uma estrutura ultimamente habitual no espaço literário, que descreve por diversas vezes como a “relatividade do tempo. Rew, play, pause, play.” (pág. 232), o som do ‘videoteipe’ em que pai e filho assistem a partidas da seleção brasileira. “Pronto: metade futebol, metade prosopeia, estava feito o

Brasil.” (pág. 69). O tom cantado do português do outro lado do Atlântico verte, aqui como noutros nomes mais sonantes da escrita, a qualidade de um jogo de palavras, metáforas que se vão transformando em samba. Por vezes, as palavras revestem-se também de alguma familiaridade que causa estranheza. A referência a outras décadas, em locais ou objetos, adquire um caráter abstrato para o leitor, sedenta que é de uma maior descrição. Presente e passado movem-se e fundem-se, então, para tecer a trama que vai desaguar num final digno – imagine-se a final da Liga dos Campeões de 1999 entre Bayern e Manchester United, uma revienga em tempo de descontos. Porque, no fundo, a vida é mesmo assim. Já Charles Darwin postulava que sobrevivem os mais aptos. Algumas vezes os mais fortes. Algumas vezes os filhos da puta.

O Drible De

Sérgio Rodrigues

Editora

Companhia das Letras

2015 A Cabra aconselha


Mais informação disponível em

EDITORIAL - POR CAROLINA FARINHA -

Falta de informação não leva estudantes às urnas Muitas são as medidas referidas pelos membros eleitos para o Conselho Geral (CG) da Universidade de Coimbra (UC). Apesar de alguns varrerem para debaixo do tapete a questão do Regime Fundacional, o mandato vai ser pautado pela decisão sobre a passagem (ou não) a Fundação. Todos dizem que, enquanto representantes estudantis, a opinião que prevalece é a dos seus pares. No entanto, as reuniões ordinárias vão revelar as intenções dos membros eleitos. Vão ser as expressas nos manifestos eleitorais distribuídos? Ou a das conversas cara a cara com os possíveis votantes? O desconhecimento crónico por parte da comunidade estudantil é uma preocupação à qual não é atribuída a devida importância. Devemos permitir que os estudantes votem sem consciência do grau de relevância do seu ato? Não deveria existir uma maior informação sobre os órgãos da universidade?

E a investigação? E, se se pretende abrir as portas da UC à investigação, não deveria existir um incentivo maior em Portugal? Falo do atraso na atribuição de bolsas de doutoramento e pós-doutoramento pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). É possível investir na internacionalização da UC quando existem investigadores portugueses, na mesma universidade, a desistir dos seus estudos por falta de financiamento? A retardação na saída dos resultados está, segundo a FCT, de acordo com os trâmites da lei, o que não impede que tenham já iniciado uma tentativa de prevenção do problema para o ano 2017. Desta forma, prevê-se a abertura do prazo de candidaturas para março do próximo ano. Se o número de bolsas vai aumentar, é preciso esperar para ver.

“O

desconhecimento crónico por parte da comunidade estudantil é uma preocupação à qual não é atribuída a devida importância. (...) Não deveria existir uma maior informação sobre os órgãos da universidade?”

ERRATA Na página 7 da edição nº 279 do Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra, na entrevista a Alexandre Amado, onde se lê “Contudo, existem algumas medidas, como a possibilidade de contratar a prazo docentes para a universidade, que será tida como uma grande vantagem numa perspetiva dos trabalhadores” deve ler-se “A possibilidade de contratar a prazo docentes será tida como uma grande vantagem de uma certa perspetiva mas que do ponto de vista dos trabalhadores, docentes e não docentes, pode trazer uma série de problemas de outra ordem”. Aos visados, as nossas desculpas.

Ficha Técnica

Diretora Inês Duarte

Paginação João Ruivo

Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA Depósito Legal nº183245702 Registo ICS nº116759 Propriedade Associação Académica de Coimbra

Editora Executiva Carolina Farinha

Ilustração João Ruivo

Equipa Editorial Carolina Farinha (Ensino Superior), Carlos Almeida (Cultura), João Pimentel (Desporto), Mariana Bessa e Rita Fonseca (Ciência & Tecnologia), João Ruivo (Fotografia)

Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A. Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: fig@fig.pt

Fotografia Inês Duarte, Inês Nepomuceno, João Ruivo Colaborou nesta edição Luís Almeida, Joana Beja, Carolina Cardoso, Pedro Chaves, Inês Ferreira, Hugo Guímaro, Simão Mota, Inês Nepomuceno, João Noé, Ana Francisca Nunes, Francisco Nunes, Cristina Oliveira, Joana Pedro, Pedro Dinis Silva, Ricardo Silva, Pedro Silva JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Colaboradores Permanentes Filipe Furtado, Fábio Lucindo, Vasco Sampaio, Paulo Sérgio Santos

Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra Tiragem 2000 exemplares


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