Edição 284 Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

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3 DE MAIO DE 2017 ANO XXVII Nº284 GRATUITO PERIÓDICO DIRETORA CAROLINA FARINHA EDITORES EXECUTIVOS CARLOS ALMEIDA E RITA FLORES

Atraso na distribuição das verbas da Queima das Fitas Grupos académicos candidatos a projetos da festa académica de Coimbra de 2015 continuam sem levantar verbas. Comissão Organizadora tem regalias após o decorrer das festividades. PÁG. 4 e 5 HUGO GUÍMARO

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ENSINO

CULTURA

DESPORTO

Diminuição dos anos de cursos faz com que os estudantes abandonem a cidade mais cedo. Processo de Bolonha facilita experiências de mobilidade internacional

Estatuto do Estudante integrado em atividades culturais é ainda pouco conhecido por parte da comunidade académica. Discussão e revisão são próximos passos

Desporto para pessoas com dificuldades, tanto físicas, como intelectuais, é uma forma de fomentar a autoestima, bem como os laços interpessoais

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CIÊNCIA

Novas tecnologias exigem desenvolvimento de outras competências sociais. Uso excessivo pode transformar sujeitos em “espectadores do mundo real”


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TRABALHADORES-ESTUDANTES NA UC DIMINUEM DESDE 2014 Prazo de entrega da documentação termina em outubro. Entidades patronais nem sempre elaboram contrato de trabalho o que impede os alunos de pedir o estatuto - POR ISABEL SIMÕES -

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ados da Provedoria do Estudante da Universidade de Coimbra (UC) revelam que, em 2014, existiam 1208 alunos com o estatuto atribuído. Em 2017, há menos 282. Embora existam “mais estudantes a procurar meios de subsistência”, o número de alunos a usufruir do Estatuto de Trabalhador-Estudante tem diminuído desde 2014 na UC, revelou o Provedor do Estudante, José Luís Ferreira Afonso. A UC concede este estatuto ao aluno que apresente HUGO GUÍMARO

comprovativo da sua situação laboral, de inscrição e descontos para a Segurança Social. Em entrevista com o Provedor do Estudante, aparecem pessoas “que, embora trabalhem, quando lhes é perguntado porque não requerem o estatuto” respondem que é “porque não descontam” ou “porque não têm contrato de trabalho”. Os estudantes vêem-se “sem alternativas”, afirma José Luís Ferreira Afonso. “Se reclamarem, a entidade patronal é capaz de não aceitar, o que acontece muito em trabalhos ocasionais em que ganham pouco”, acrescenta. A dificuldade na obtenção de documentos comprovativos é confirmada por Raquel Coutinho, aluna de Gestão, na Faculdade de Economia da UC. O prazo para pedir o estatuto é outro dos obstáculos apontados por Sofia Rocha, de Antropologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC. O regulamento de Direitos Especiais dos Estudantes da UC impõe que o aluno solicite o estatuto “no ato da inscrição e até ao prazo máximo de 15 de outubro, ou no prazo máximo de 15 dias úteis após inscrição no ano letivo, caso a mesma seja efetuada em data posterior”. “Quem começa a trabalhar mais tarde já não pode pedir”, lamenta a aluna de Antropologia. No ano passado chegaram à Provedoria cerca de 400 casos. Destes, parte diz respeito a dificuldades

de alunos com estatuto. Segundo o Provedor do Estudante, as queixas foram de dois tipos. “Alguns docentes não sabiam se o estudante podia ou não entregar o trabalho fora do prazo estipulado” e se o “estudante podia faltar a algumas aulas”. O que, desde “que seja justificado, pode”, afirma. O Estatuto de Trabalhador-Estudante foi atribuído em setembro de 2016 a Sofia Rocha e a estudante demorou “cerca de um mês a obtê-lo”. Para o atraso contribuiu a necessidade de se deslocar à Segurança Social. A aluna trabalha cerca de 25 horas por semana e está a realizar um estágio. Confessa que, no curso, “todos os professores estão disponíveis para ajudar”. Recebem os estudantes e respondem em tempo útil aos ‘e-mails’ que são enviados. Raquel Coutinho trabalha em ‘part-time’. No seu ano é a única aluna que tem o Estatuto de Trabalhador-Estudante. Tem de ir a recurso a uma das cadeiras porque não conseguiu acompanhar as aulas, o que a afasta da época normal de exames. “Acho injusto”, acrescenta. Já para Ricardo Oliveira, que frequenta a Faculdade de Direito da UC, entre o pedido e a concessão passaram apenas dois ou três dias. Quanto a dificuldades com a entidade patronal o aluno confessa que “nunca as sentiu”.

CIÊNCIAS SOCIAIS FORMAM INDIVÍDUOS DO MUNDO Educação dos estudantes está dependente “não só dos investimentos no ES, mas também da iniciativa do aluno”. Componente prática dos cursos pode ser adquirida fora da sala de aula - POR HUGO GUÍMARO E SIMÃO MOTA -

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s estudantes dos cursos de Relações Internacionais, Sociologia e Estudos Europeus podem deparar-se, no seu futuro, com situações de conflitos e de resolução de problemas internacionais. Desta forma, a academia tem um papel importante na preparação e na formação destes futuros profissionais. A “juventude formada nas universidades tem condições para contribuir para uma viragem a nível social, económico e do mercado de trabalho a nível internacional”, refere Elísio Estanque, docente na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. As opiniões dos estudantes demonstram, não só as perspetivas de futuro que têm, como a consciência de que uma boa formação académica é a base de tudo. O curso de Relações Internacionais “oferece aos estudantes bases sólidas para encarar o mundo de mente mais aberta e ensina a pensar, criticar e construir”, explica o presidente do Núcleo de Estudantes de Relações Internacionais da Associação Académica de Coimbra (NERIFE/AAC), Diogo Videira. A formação académica ajuda a “criar um pensamento crítico”, que permite “analisar as diversas perspetivas” e, daí, conseguir “a melhor solução”, justifica. Quem acaba o curso “não

sai com uma preparação clara e real, fica apenas preparado para enfrentar algumas situações”, acrescenta. Diogo Videira esclarece que essa componente é ganha através da “participação no associativismo”, por exemplo. Apesar da oferta de unidades curriculares do curso de Sociologia, o presidente do Núcleo de Estudantes de Sociologia da AAC, Daniel Glória, refere que “é importante apostar num carácter mais pragmático da aplicação da sociologia” e “não apenas na parte teórica”. Dá “um maior à vontade no mercado de trabalho”, comenta. No curso de Estudos Europeus, a formação académica dos estudantes ganha importância para os alunos. O presidente do Núcleo de Estudantes de Letras da AAC, Rafael Almeida, defende que “nenhum estudante está preparado a 100 por cento”. “Os estágios são importantes para a consolidação da formação, pois quando estiverem em contacto com o mundo do trabalho, a aprendizagem é posta em prática”, esclarece. Elísio Estanque lamenta que a abertura dos cursos e das universidades esteja apenas dependente do critério económico e de mercado. Defende que a estratégia no Ensino Superior (ES) deve ser de “estreitar relações com o mundo exterior”. Na

opinião do docente, a formação depende “não só dos investimentos e do funcionamento do ES, da qualidade do corpo docente, mas também da iniciativa do próprio aluno”. O aumento da componente prática é um dos aspetos-chave focados pelos presidentes de núcleos. Daniel Glória defende que um dos problemas é “não existirem muitos estágios curriculares e haver uma falha na componente prática. No entanto, o presidente do NERIFE/AAC ressalva que esse elemento “pode ser adquirido num ambiente fora de aula”. Sobre esta questão, embora Elísio Estanque reconheça custos elevados que lhe são inerentes, defende um acompanhamento pedagógico de maior proximidade. “A universidade pública precisa de ser consolidada. É necessário que exista uma formação de qualidade”, justifica. A participação em programas de mobilidade é “importante para alguém que estude Relações Internacionais, pois o contacto com a diferença traz, ao estudante, capacidade de adaptação”, defende Diogo Videira. Esclarece ainda que, quando em contacto com outros países, o aluno desenvolve competências de relação, troca de ideias e experiências interculturais”.


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IMPACTO DE BOLONHA NO DESENVOLVIMENTO EXTRACURRICULAR DO ESTUDANTE Diminuição do número de anos dos cursos provoca quebra na adesão a secções da AAC. Sistema de créditos ECTS facilita intercâmbio dos estudantes para países membros do espaço europeu - POR INÊS FERREIRA E INÊS NEVES -

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ez anos após a implementação do Processo de Bolonha na Universidade de Coimbra (UC), é possível medir o impacto que teve na comunidade estudantil? Na opinião do presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Alexandre Amado, a intenção que move o Processo de Bolonha “não é de todo negativa”. Contudo, “o modo como é executado tem de ser alvo de reflexão”. O dirigente associativo considera que fazer dos European Credit Transfer and Accumulation System (ECTS) “um sistema europeu que permita e facilite, aos estudantes, fazer mobilidade, e uniformizar o sistema de Ensino Superior [ES] europeu, são desígnios importantes”. Uma instrução que se adequa às necessidades dos estudantes? No que diz respeito a esta temática, a vice-reitora para os assuntos académicos da UC, Madalena Alarcão, considera que “não foi fácil e nem sempre equacionada da melhor forma”. Contudo, “está a ser ajustado, com alterações aos planos de estudo”. Num ensino centrado nos estudantes afirma que ainda há um “caminho a percorrer, de modo a amplificar as boas práticas existentes”. Refere que esta evolução deve estar a cargo de docentes e estudantes, mas que estes “nem sempre aceitam ter um papel mais ativo”, uma vez que “é também mais exigente”. Um ensino centrado na comunidade estudantil, como afirma Alexandre Amado, “resultaria em turmas mais pequenas, em que o aluno teria mais liberdade na escolha das suas opções, com uma componente prática diferente”. Com a redução dos anos de duração dos cursos, “o tempo para os estudantes participarem noutras atividades extracurriculares diminui”, refere. Acentua ainda que as secções culturais e desportivas “são afetadas de modo particular”, pois os estudantes priorizam o respetivo curso em detrimento das atividades que a AAC lhes proporciona. Para Madalena Alarcão este foco no estudante visa “colocar a tónica na aquisição de competências que aumentem a empregabilidade do diplomado”, assim como uma “participação ativa na construção da sua aprendizagem ao escolher as atividades extracurriculares que pretende desenvolver, exemplifica. Presença estudantil nas atividades da academia “A partir do momento em que os cursos são comprimidos e o programa curricular se mantém”, torna-se “complicado conciliar o esforço exigido pelo Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra [TEUC] com a faculdade”. Esta é a opinião de Inês Pereira, membro da direção do TEUC. As quatro horas semanais impostas por cada unidade curricular, na opinião de Inês Pereira, não se cingem ao trabalho feito na sala de aula. “As pessoas não conseguem realizar atividades extracurriculares e, se arranjam algum tempo, é porque escolhem dormir menos”. As, “pelo menos”, quatro horas diárias que o TEUC “exige são incompatíveis” com a carga horária a que cada estudante é submetido. Segundo a presidente do TEUC, Renata Monto-

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jos, “não é o grupo que sai a perder, mas sim a formação dos estudantes na faculdade”. A presidente reforça que o curso de formação do presente ano letivo contou com “90 inscritos para 20 vagas”. Desta forma, a adesão dos estudantes ao TEUC não foi afetada pela mudança em causa. O Processo de Bolonha “mudou a forma como as secções culturais trabalham”, elucida o presidente da Rádio Universidade de Coimbra (RUC), Francisco Campos Coroa. O facto das pessoas não permanecerem na RUC “por muito tempo”, devido à diminuição do período que os estudantes permanecem na cidade, torna “mais difícil garantir, de forma continuada, um trabalho de qualidade”, acrescenta. Oposto à opinião da presidente do TEUC, o presidente da RUC declara que com a redução dos anos de licenciatura, “houve uma diminuição” da adesão dos estudantes à secção. O presidente da Secção de Bilhar da AAC, Ricardo Salgado, considera que a atividade desportiva é prejudicada pela diminuição do período de licenciatura e pelas “exigências do dia-a-dia”. Apesar da secção ter sido fundada no pós-Processo de Bolonha, em 2009, Ricardo Salgado reitera que “os que ficam em Coimbra conseguem fazer um percurso interessante. Aos restantes, faltalhes tempo para tal”. Por sua vez, o presidente da Secção de Rugby da AAC, Paulo Picão, afirma que, apesar da adesão à secção não ter diminuído, “os estudantes abandonam de modo mais precoce a modalidade porque vão para outras cidades”. Experiência de mobilidade internacional Este processo teve início oficial em maio de 1998 aquando da assinatura da Declaração de Sorbonne (percursora do Processo de Bolonha), pelos ministros da educação da Alemanha, França, Itália e Reino Unido. Foi estabelecido um conjunto de objetivos a cumprir, de forma gradual, com o propósito de criar um espaço europeu de ES, em que os diferentes sistemas nacionais partilhem critérios e princípios formais de educação. Implementado na UC, em setembro de 2007, o Processo de Bolonha visou uma reestruturação dos graus, diplomas e a implementação de instrumentos para facilitar a mobilidade e a empregabilidade, como o sistema de créditos ECTS. Para a vice-reitora esta mudança “reforça também a importância da aprendizagem ao longo da vida”, assim como “favorece a internacionalização dos currículos que permitem o desenvolvimento de um conjunto de ‘soft skills’”. Desta forma, o Processo de Bolonha continua em vigor e, hoje em dia, qualquer aluno europeu usufrui da possibilidade, “muito mais facilitada”, de se deslocar, a nível académico e profissional, para os países-membros do espaço europeu, segundo a vice-reitora. Madalena Alarcão refere ainda que “a experiência de internacionalização é um dos ganhos claros do Processo de Bolonha”, uma vez que “abre as instituições a novas experiências e ideias”. A convivência com outros contextos culturais e referências de ensino e pesquisa são “essenciais” para o estudante, conclui.


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QUEIMA DAS FITAS 2016 CONTINUA SEM PARECER DO CONSELHO FISCAL Conselho Inter-núcleos e Conselho de Veteranos da UC não recebem o dinheiro da QF há três anos. Por outro lado, os Conselhos Cultural e Desportivo afirmam ter as contas em dias - POR CAROLINA CARDOSO E CRISTINA OLIVEIRA -

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om a Queima das Fitas (QF) quase a começar, o Jornal Universitário de Coimbra – A Cabra foi tentar entender quais os processos que estão por detrás desta semana de festa. Ao comparar os dados do Relatório e Contas do ano passado com os de 2015, constata-se que o resultado líquido da QF’16 corresponde a 178 190,91 euros, enquanto o de 2015 apresenta um valor de 503 909,01 euros. Esta diferença, como explica a responsável pela Tesouraria da QF’17, Mónica Coelho, implica que a COQF’17 tenha de fazer uma “retenção de custos”, sem “limitar os gastos na segurança, higiene e infraestruturas”, aspetos considerados básicos para o decorrer das festividades. A diferença significativa entre os resultados líquidos dos dois últimos anos deve-se, segundo o secretário-geral da QF’17, Luís Lobo, à “elevada precipitação que se verificou, em 2016, em todas as Noites de Parque”. Facto que se expressa “na diferença entre a receita dos bilhetes pontuais entre 2015 e o ano passado”. No entanto, não considera que a procura e o interesse por parte dos estudantes tenha diminuído. O secretário-geral continua a encarar “a QF de Coimbra como a maior e mais conceituada festa académica do país”. Os dois documentos, aos quais qualquer estudante da Universidade de Coimbra (UC) pode aceder na Tesouraria da Associação Académica de Coimbra (AAC), apresentam o orçamento estimado para o evento e o que foi executado. Nessa estimativa existe ainda uma quantia de 20 mil euros apresentada como despesas diferidas. Este valor corresponde a “um fundo” que, segundo Mónica Coelho, é destinado às “despesas posteriores ao

fecho do orçamento”. No caso de esse dinheiro não ser gasto na sua totalidade, “entra na receita do ano seguinte”, acrescenta a responsável pela Tesouraria. Regra geral, os relatórios e contas são aprovados até ao final de setembro. “Por vezes, nos três meses seguintes, surgem despesas imprevistas, tais como fornecedores que entregam as faturas mais tarde ou multas por licenças”, salienta Luís Lobo. Este fundo serve, assim, para cobrir este tipo de despesas. O valor é deixado à parte do orçamento, “para não entrar em conflito com o fundo de maneio da QF”, valor que é deixado para a organização da festa do ano seguinte, salienta. Segundo o artigo 47º do Regulamento Interno do evento, caso a QF obtenha saldo positivo, parte da verba final destina-se ao “pagamento dos honorários dos funcionários e ao fundo de maneio da estrutura permanente da QF, até 31 de dezembro do ano a que se reporta”. Do restante, 39 por cento é atribuído à Direção-Geral da AAC (DG/AAC), 26 por cento ao Conselho Desportivo da AAC (CD/AAC), 21 por cento ao Conselho Cultural da AAC (CC/AAC), 3 por cento ao Conselho Inter-Núcleos da AAC (CIN/AAC) e 1 por cento ao Magnum Concilium Veteranorum - Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra (MCV). Da mesma receita, 5 por cento destina-se ao “fundo de maneio e à melhoria das infraestruturas funcionais” da QF do ano seguinte e outros 5 por cento a atividades propostas por instituições académicas e grupos de estudantes, que não façam parte de nenhuma das instituições antes referidas.

Verbas relativas a 2016 em atraso Esta distribuição das verbas está, assim, dependente do parecer dado pelo Conselho Fiscal da AAC (CF/AAC). De acordo com o artigo 46º do Regulamento Interno da QF, o mesmo relatório deve ser “apresentado até ao dia 15 de outubro ao CF/AAC para elaboração de um parecer final”. No entanto, como adianta o presidente do CF/AAC, Eric Jorge, ainda não foi emitido o parecer do Relatório e Contas de 2016. A demora na realização do mesmo deve-se ao facto de “ter chegado demasiado tarde”, refere Eric Jorge, e no objetivo de o “analisar e estudar do início ao fim, sempre com o mesmo nível de rigor”. O presidente do CF/AAC entende que o desenvolvimento das atividades dos vários núcleos e secções necessita do seu parecer sobre o documento. “Há verbas que têm de ser atribuídas e que são essenciais para a sobrevivência de algumas secções”, acrescenta ainda Eric Jorge. Esse mesmo atraso na entrega do Relatório e Contas ao CF/AAC é confirmado pelo secretáriogeral da QF de Coimbra. Devido a questões internas, como “a entrega tardia das faturas”, o documento já tinha sido apresentado com um atraso de quatro meses ao Conselho Geral da QF, que tem a competência de o aprovar. Por consequência, chegou também atrasado ao CF/AAC. De modo a perceber como é que a demora na atribuição das verbas afeta as entidades, cada uma prestou o seu testemunho. O presidente da DG/ AAC, Alexandre Amado, afirma que como “a DG/ AAC tem uma dívida para com a COQF, a verba que lhe deveria ser entregue é abatida nessa


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mesma dívida”. Logo, apesar de não receberem a quantia que lhes corresponde, considera-se “que o dinheiro já foi atribuído”. No caso do CIN/AAC, o tesoureiro do Secretariado Permanente do CIN/AAC, Daniel Glória, afirma que ainda não recebeu as verbas relativas à QF’16. O presidente do CIN/AAC, Alexandre Amado, acrescenta ainda que as verbas de 2015 e 2014 também se encontram em falta. Quando a quantia é atribuída, o processo de distribuição pelos diferentes núcleos começa pelo pedido dos cadernos eleitorais de cada um. Assim, parte das verbas são repartidas de forma equitativa e proporcional aos núcleos. O resto do dinheiro destina-se a projetos que os mesmos apresentem ao Secretariado Permanente do CIN/AAC para que sejam financiados. Em relação à parcela destinada às secções culturais da AAC, o presidente do CC/AAC, Paulo Abrantes, declara que ainda não a recebeu. Isto deve-se “ao facto do Relatório e Contas da QF’16 ainda não ter sido apreciado pelo CF/AAC”. No entanto, tal como Daniel Glória, o presidente do CC/AAC assegura que todos os anos recebem as verbas. Acrescenta também que a repartição feita pelas diversas secções culturais é executada consoante “o movimento de caixa que cada uma faz ao longo ano”, de forma proporcional por cada secção. Quanto às secções desportivas da AAC, a resposta do presidente do CD/AAC, Miguel Franco, vai ao encontro do que foi dito pelos restantes presidentes dos conselhos. Por “falta de liquidez da QF”, as secções desportivas ainda não puderam ter acesso ao que lhes corresponde das verbas de 2016, garante. Em relação aos anos anteriores, Miguel Franco alega que o CD/AAC recebeu a sua parte. Adianta até que houve anos em que, antes dos valores que iriam receber estarem estabelecidos, já tinham recebido a quantia da primeira tranche. Para distribuir pelas diferentes secções, o presidente do CD/AAC explica que se aplica “uma fórmula que atribui a uma secção, um determinado número de pontos”. Essa fórmula não depende do número de atletas, apesar de esse ser um dos condicionantes. Por exemplo, “se uma equipa se encontra na Primeira Divisão, com cinco atletas, e outra equipa se encontra na Segunda Divisão, com dez atletas, recebe aquela que está na Primeira Divisão”. No entanto, todas as secções desportivas, sem exceção, recebem verbas provenientes da COQF. O presidente do MCV, João Luís Jesus, afirma que, “pelo terceiro ano consecutivo”, não recebe verbas provenientes da COQF. “A única exceção

foi uma verba destinada a uma iniciativa que se realizou em março” que foi pedida à COQF, refere o Dux Veteranorum. Como o MCV necessitava de alguns fundos, foi solicitado um adiantamento das verbas que estavam em dívida. O mesmo acrescenta que o dinheiro que lhe é atribuído é utlizado nas atividades de receção ao caloiro, em ‘flyers’, cartazes e na edição do Código de Praxe. Há uns anos, “havia pequenos atrasos, no entanto, quando a QF começava, já a anterior estava fechada”, explica João Luís Jesus. Neste momento, “apesar dos relatórios e contas da QF apresentarem resultados líquidos positivos”, a COQF não tem disponibilidade “de verbas concretas para proceder à distribuição que o regulamento estipula”. Repúblicas e outros grupos académicos sem projetos realizados Segundo o Regulamento Interno da QF, 5 por cento do resultado líquido da QF é destinado a “atividades propostas por instituições académicas e grupos de estudantes”, que se orientem consoante “os princípios e os fins consagrados nos Estatutos da AAC”. Quem quisesse receber as verbas relativas à QF’17, tinha de apresentar o projeto até 17 de março. Na candidatura, os grupos académicos devem explicar o fim para o qual essa verba vai ser utilizada. “Apresentam o seu problema, expõem o caso e fazem um orçamento”, refere o secretário-geral da QF. De seguida, este deve passar pela Comissão Central da QF do ano a que se reportem e pelo Conselho Geral a fim de ser aprovado. Esclarece ainda que, “a maior parte das vezes, não é possível financiar os projetos na totalidade”, mas que estes são financiados em parte. Contudo, segundo o apurado, apesar de executada a candidatura, existem diversos grupos académicos que acabam por não levantar a verba que lhes foi atribuída. Assim, os valores de 2015 podem ainda ser recolhidos até 30 de junho. Quando este dinheiro nunca chega a ser levantado entra para o fundo de maneio da QF do ano seguinte, como explica Luís Lobo. “É redistribuído pelas estruturas da casa, ou seja, é adicionado ao lucro da Queima que se segue”, reforça o secretário-geral. A República do Bota-Abaixo afirma que “falta documentação para que possa ir levantar o dinheiro”. Já a República Ay-Ó-Linda justifica-se através do mesmo argumento, isto é, não tem os documentos necessários que comprovam que o

dinheiro de 2014 foi gasto. Acrescenta que a COQF “demora muito tempo a entregar o dinheiro”, dando o exemplo da verba de 2014 que, por demorar tanto tempo a chegar, juntou-se à de 2015. As FANS - Tuna Feminina da UC é também um dos grupos académicos que ainda não recolheu o dinheiro que lhes foi atribuído. A presidente d’As FANS, Teresa Penetra, explica como a distribuição do lucro não funciona de forma numérica. “É preciso apresentar faturas do valor que se propuseram a gastar” no ano anterior e só depois é que é possível levantar a verba, esclarece. Por sua vez, o presidente da Imperial Tuna Académica da Faculdade de Farmácia da UC (TAFFUC), Jorge Espírito Santo, sublinha que falta apenas levantar o dinheiro uma vez estão em fase de transição na direção. Comissários da organização da QF com regalias durante a semana académica O planeamento da QF de Coimbra está a cargo de uma COQF, que é composta pelo Conselho Geral, Comissão Central, secretário-geral e secretariados. São estes os responsáveis por todas as decisões tomadas relativas ao funcionamento da QF. No entanto, a AAC e o MCV ocupam a posição de entidades tutelares. Quanto ao Conselho Geral, este é um órgão permanente, composto por cinco elementos. São eles o presidente da DG/AAC, o Dux Veteranorum, o tesoureiro da DG/AAC, um representante das secções culturais e outro das secções desportivas da AAC, ambos escolhidos nos respetivos plenários. Em relação ao secretário-geral, este deve ser um estudante ou antigo estudante da UC, desde que não tenha concluído o seu percurso académico há mais de dois anos. Luís Lobo ocupa esta posição há dois anos e constitui, juntamente com o secretário de sala da QF, os únicos remunerados, de acordo com o Regulamento Interno da QF. Esta remuneração corresponde a um salário mínimo nacional. Luís Lobo esclarece que o cargo que ocupa “o obriga a despender muito tempo”, daí que se justifique o ordenado. Enquanto comissários da QF, apresentam algumas regalias. “Têm direito a um determinado número de bilhetes-gerais para oferecer a quem quiserem” e vão ter também direito, na QF de 2018, “a serem convidados de honra”, esclarece o secretário-geral da QF. Além disso, têm ainda a possibilidade de “escolher o número do seu carro no cortejo da QF”, conclui. HUGO GUÍMARO


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QUEIMA DAS FITAS ENFATIZA ATIVIDADE DAS SECÇÕES CULTURAIS DA AAC A festa da academia é uma oportunidade para dar a conhecer as suas iniciativas e atrair potenciais membros. Secções avaliam o seu impacto como positivo - POR LUÍS SARAIVA E RICARDO SILVA -

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Queima das Fitas (QF) em Coimbra é o principal evento festivo da comunidade estudantil da cidade. Este ano, como é hábito, várias secções culturais da Associação Académica de Coimbra (AAC) vão marcar presença no Parque da Canção. A QF é caracterizada pelo presidente da DirecçãoGeral da AAC (DG/AAC), Alexandre Amado, como “uma festa dos estudantes e da academia”. As perspetivas que os vários grupos partilham convergem em termos de visibilidade e divulgação do trabalho das secções. A importância que é dada à QF vai desde o “financiamento de toda a estrutura da AAC”, como argumenta o presidente da Secção de Fotografia da AAC, Paulo Abrantes, até à apreciação da festa em si, como sublinha o presidente da Rádio Universidade de Coimbra (RUC), Francisco Campos Coroa. “A preocupação é que seja uma noite excelente para quem lá for”, refere. Francisco Campos Coroa alude ao Palco RUC cuja programação é da responsabilidade da sua secção, e organizado em conjunto com a Comissão Organizadora da Queima das Fitas (COQF). Visibilidade, expectativas e impacto A Serenata Monumental marca o inicio das celebrações, altura em que se iniciam os trabalhos das

secções culturais e os projetos em equipa. É o caso da Secção de Fado da AAC que trabalha em parceria com a tvAAC e com a RUC. De acordo com o presidente da Mesa do Plenário da tvAAC, Jónatas Laranjeira, “a serenata é onde se eleva a fasquia”. Confessa ainda que “existem problemas técnicos que não se podem controlar”. A transmissão da Serenata é realizada pela tvAAC e pela RUC, aliado ao registo de imagens feito pela Secção de Fotografia da AAC que contribuem para um “grande número de espectadores de todas as idades”, indica Jónatas Laranjeira. O administrador da Secção de Fado da AAC, Manuel Pinheiro, acredita que a Queima das Fitas é uma semana de “grande expressão, onde a secção oferece apoio artístico”. Os diferentes corpos de comunicação social da AAC vão realizar a cobertura dos eventos. O presidente da RUC indica que a mesma “vai estar visível para as pessoas, há a garantia de que estão a ouvir”. As expectativas para as Noites do Parque e os eventos que se realizam em paralelo com este são altas e o evento marca o calendário dos estudantes de forma particular. O presidente da Secção de Astronomia, Astrofísica e Astronáutica da AAC, Bruno Conceição, espera conseguir uma boa adesão por parte da HUGO GUÍMARO

comunidade estudantil para as atividades do grupo ao mesmo tempo que o dá a conhecer. A tesoureira da SOS Estudante, Daniela Callebaut, espera que a “interação com as pessoas seja divertida e ajude na divulgação.” Para a presidente interina da Secção de Defesa dos Direitos Humanos da AAC, Inês Filipe, “as atividades são uma extensão daquilo que se faz ao longo do ano”. As secções participam conforme a sua área de atuação, o Grupo Ecológico da AAC, na edição de 2015, conseguiu recolher “cerca de 47 mil copos de plástico”, como destaca a presidente deste grupo, Marta Graça. A presidente revela que o objetivo para a QF’17 é “trabalhar por um recinto limpo”, assim como “pressionar as cervejeiras para que estas comecem a utilizar material reutilizável”. Júlio Medeiros, comissário do pelouro cultura da COQF, mostra-se solidário com o objetivo, mas lembra as limitações à prossecução do mesmo, como as concessões atribuídas às cervejeiras. Dificuldades e obstáculos a ultrapassar A preparação e a concretização do projeto que é a QF de Coimbra não ocorre sem alguns obstáculos e críticas. Os comentários feitos à COQF vão desde situações recorrentes até a questões pontuais. Paulo Abrantes aponta que “existem falhas de comunicação entre as secções culturais e a COQF”. Daniela Callebaut considera que, “por vezes, as secções mais pequenas não se sentem tão valorizadas como as maiores”. As dificuldades enfrentadas pelas secções culturais durante a QF são, na sua essência, de índole burocrática e comunicativa. Bruno Conceição critica a COQF por ter uma postura de distanciamento em relação às secções. Júlio Medeiros desvaloriza essa objeção e refere a inevitabilidade da burocracia e a falta de tempo para um maior acompanhamento com os grupos da AAC. Nem todas as secções culturais da AAC vão marcar presença no Parque da Canção durante o evento, 10 em 15 dos grupos culturais que constituem a academia vão participar. A sua presença recai em pontos comuns como a dinamização do espaço e dar a conhecer as suas atividades aos estudantes. O impacto é, em geral, positivo. Contudo, a visibilidade de cada secção varia. Francisco Campos Coroa, considera que “é algo muito envolvente para a RUC e para a cidade”. Por outro lado, algumas secções participam com atividades desenvolvidas fora da festa. Miriam Jorge, presidente da Secção Experimental de Yoga da AAC, difunde as atividades a decorrer nos dias 28 e 29 de maio ainda no âmbito da QF e enfatiza os “benefícios da prática da meditação e do yoga na ansiedade e no rendimento escolar”. Em fase de aproximação do final de ano letivo e início da época de exames espera-se uma diminuição significativa da participação dos estudantes nas agendas das secções culturais . O presidente da Mesa do Plenário da Secção de Escrita e Leitura da AAC, espera que “os estudantes estejam preocupados com a academia em si para que seja possível continuar as atividades”.


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DIREITOS, DEVERES E REGALIAS DO ESTUDANTE INTEGRADO EM ATIVIDADES CULTURAIS O estatuto, criado no ano letivo de 2010/2011, serve de apoio aos estudantes que integram grupos culturais ligados à AAC ou à UC. O desconhecimento em relação a este documento ainda persiste - POR LAUREN BENTO E DANIELA PINTO HUGO GUÍMARO

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Estatuto do Estudante integrado em atividades culturais especifica os benefícios, bem como as obrigações de qualquer aluno que seja sócio oficial e que participe em pelo menos 75 por cento das atividade de secções culturais, organismos autónomos ou grupos culturais ligados à Associação Académica de Coimbra (AAC) ou à Universidade de Coimbra (UC), como refere o artigo 5º do documento. Entre os direitos e deveres, encontra-se a ação de desenvolver a prática cultural baseada nos princípios de ética e respeito pela integridade moral dos intervenientes, ter bom aproveitamento escolar no ano letivo transato ou ter acesso a mais épocas de exames consoante o escalão atribuído. Os grupos integrados neste estatuto são divididos em três escalões. A classificação baseia-se no número de horas de trabalho que estes efetuam ao longo do ano letivo. Para um grupo cultural ser classificado com o escalão A, é necessário que o trabalho semanal tenha pelo menos 12 horas. As atividades podem ser de nível nacional ou internacional. O escalão B tem que ter uma média de seis horas semanais. No caso do escalão C, o trabalho semanal deve ser até três horas com atividades que possuam relevância local. O objetivo da divisão “é perceber qual a dimensão de trabalho nas atividades culturais”, expõe Pedro Gouveia, vice-presidente da Direção-Geral da AAC (DG/AAC). Atribuição do estatuto O processo “difere de faculdade para faculdade”, explica o secretário-geral do Conselho Cultural da AAC, Paulo Abrantes. O mesmo acrescenta que, com o estatuto, é possível “negociar as datas de exames e trabalhos com os professores”. Por outro lado, a justificação de faltas “depende de curso para curso”. O administrador da Secção de Fado da AAC, Manuel Pinheiro, explica que os alunos têm que se dirigir à sua secção para “tomar conhecimento do direito

ao estatuto”. É a direção desta que trata do processo e faz a “ponte com outros organismos que o concedem”. O administrador manifesta que “o estatuto é atribuído demasiado tarde” e ilustra uma situação na qual este lhe foi concedido apenas dias antes dos exames da época especial. Manuel Pinheiro argumenta que “o estatuto funciona para a época especial, mas não é eficaz no processo de reconhecimento de faltas”. O administrador acrescenta ainda que, “se os professores não aceitam atestados médicos ou justificações dignas e verdadeiras, o assunto deve ser discutido na Reitoria”. Relata que dialogar com professores e administrativos “já não é suficiente”. O Observatório da Cultura da Universidade de Coimbra (OCUC) tinha como função analisar e classificar os grupos culturais para atribuição de escalões. Neste momento o OCUC não está a funcionar e “a diferenciação já não acontece”, como explica Pedro Gouveia. O vice-presidente acrescenta ainda que o OCUC estava inserido na Fundação Cultural da UC, extinta em 2013. Por outro lado, o presente Conselho Cultural da AAC tem a seu encargo a promoção do incentivo à participação dos estudantes em atividades de âmbito cultural da UC. Discussão e revisão Pedro Gouveia esclarece que “A DG/AAC realizou uma reunião com a vice-reitora Clara Almeida Santos”, na qual foi exposta a vontade de contactar a própria DG/AAC, as secções culturais e organismos autónomos. O objetivo é que haja uma revisão do mesmo, esclarece. Acrescenta ainda que após a primeira reunião, cresceu a vontade de se concretizarem mais encontros no mesmo âmbito. Na opinião do vice-presidente da DG/AAC, é importante uma aproximação com as secções culturais e organismos autónomos, bem como com os membros e dirigentes. O intuito é “perceber o porquê do sistema imple-

mentado e do OCUC não funcionaram”. Uma das propostas da DG/AAC é realizar um Fórum Cultural, que integra o plano de atividades apresentadas em Assembleia Magna. “Neste fórum, procura-se discutir o estatuto com o objetivo de encontrar as falhas do mesmo, de modo a torná-lo mais vantajoso”, explica Pedro Gouveia. “Assim, é possível a apresentação de uma posição bem definida para a Reitoria”, descreve. O administrador da Secção de Fado da AAC defende que o estatuto “devia ser obrigatório e atribuído a todas as pessoas que estão nas secções culturais, mesmo aquelas não inseridas nos corpos dirigentes”. Aponta ainda que “a direção e os corpos da secção cultural a que a pessoa pertence são os responsáveis pela justificação de faltas”. “Um ponto a realçar do estatuto é o fornecimento de ferramentas aos estudantes para que eles possam integar-se em atividades”, como elucida o vice-presidente da DG/AAC. Defende que, além das horas de trabalho realizadas pelos grupos, “outras áreas deviam também ser abordadas”. Ressalva a importância da internacionalização e o número de prémios obtidos por cada secção para “uma cultura de qualidade, que seja reconhecida”. O estatuto incentiva estudantes a ambicionar a vaga a um cargo superior dentro de uma secção. “As pessoas querem pertencer, mas não querem ter a responsabilidade”, constata o secretário-geral do Conselho Cultural. Acrescenta que “é preciso mais divulgação”. Apesar da existência do documento que está em vigor desde o ano letivo 2010/2011, este ainda não é muito conhecido pela comunidade académica. Segundo o vice-presidente da DG/AAC, “o desconhecimento sobre o estatuto deve-se a não existir muita aplicação por parte das faculdades. Os estudantes, segundo a perspetiva de Pedro Gouveia, “não usufruem o suficiente deste”.


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DESPORTO -8-

MEDALHAS PODEM SER DECIDIDAS PELA RESPIRAÇÃO Nadadores assumem importância do controlo da forma como se respira. “Em miúdo, o importante, é chegar à frente. Só se percebe que faz sentido controlar estas coisas quando se cresce” - POR RAFAEL SOARES -

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espirar pode até ser um ato simples e involuntário no quotidiano das pessoas. Porém, na natação, este processo ganha uma importância maior. Neste desporto, “é tudo ao milésimo de segundo”. A respiração “atrasa um pouco o nado”, além de “influenciar a posição hidrodinâmica do corpo”, começa por explicar Maria Gil, treinadora adjunta da Secção de Natação da Associação Académica de Coimbra (SN/AAC). Nas provas de velocidade, uma respiração eficaz pode assumir um papel preponderante “nas grandes decisões”. Devido à sua duração e à distância percorrida pelos atletas, “todos os pormenores contam”, tal como explica Tomás Veloso, nadador do Clube Náutico de Coimbra, de 100 e 200 metros bruços e 400 metros estilos. “Quanto menos vezes se respirar, mais veloz é o nadador”, acrescenta. Desta forma, os treinos não se resumem apenas ao aperfeiçoamento de técnicas ou estratégias. A respiração também se insere nos programas de trabalho que, elucida Maria Gil, devem ser individualizados, consoante o perfil dos atletas. Nesta área, Tomás Veloso costuma realizar tarefas de apneia, que “consistem numa realização de séries debaixo de água sem respirar”. Gustavo Madureira, atleta da SN/AAC, de 50 e 100 metros crawl e 50 metros mariposa, faz treinos semelhantes e explica que o objetivo passa por “otimizar a velocidade de respiração”, bem como gerar um “maior conforto em situação de prova”. Tomás Veloso explica que o controlo é feito através da contagem de braçadas e que a estratégia depende do tipo de prova ou exercício. “Tanto se pode

ILUSTRAÇÃO POR JOÃO RUIVO

nadar de uma forma mais tranquila e respirar de três em três ou de duas em duas para aumentar o ritmo da braçada”. No caso de Gustavo Madureira, o atleta costuma respirar apenas uma vez nos 50 metros crawl e “duas ou três” na mariposa. Não respirar até ao fim, nos 50 metros crawl, não lhe compensa. “Nos últimos metros acaba por se perder força e precisase de oxigénio para respirar, de forma a conseguir aguentar o ritmo até ao final da prova”, refere. O atleta tem um lugar exato para fazer essa respiração, aos 35 metros. Gustavo Madureira relata que, “caso isso aconteça dois ou três metros antes ou depois, influencia o tempo final”. A respiração bilateral, ou seja, para os dois lados, é

o ideal, segundo Maria Gil, até para “jogarem com os adversários que têm”, o que permite obter “uma visão para os dois lados”. No entanto, esta é uma decisão que cabe aos nadadores porque nem todos conseguem retirar o melhor rendimento dessa estratégia. “Eu poderia fazer a respiração bilateral mas não rende. Gustavo Madureira conta que a sua técnica para o lado esquerdo é descoordenada. A noção da importância do controlo respiratório é algo adquirido com o tempo, segundo relatam os nadadores. “Em miúdo, o importante é chegar à frente do vizinho do lado. Só se percebe que faz sentido controlar estas coisas quando se cresce”, explica o atleta da SN/AAC, de 22 anos, que pratica natação há cerca de uma década.

ARTES MARCIAIS COMBATEM A AGRESSIVIDADE “O indivíduo procura uma atividade que o satisfaça”. Estereótipo da violência confundido com o “espírito indomável” dos atletas - POR MARGARIDA MANETA E PEDRO DINIS SILVA -

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odas as artes marciais são, na sua índole, baseadas no combate físico. A Associação Académica de Coimbra (AAC) tem uma vasta oferta de secções de desportos de combate, entre elas as secções de Lutas Amadoras, Karaté e Taekwondo. Os estudantes podem participar nestes grupos por diversas razões. No entanto existe sempre o estereótipo de que é a violência que os motiva. Onde vai, então, o praticante de desportos de combate buscar motivação? O presidente da Secção de Taekwondo da AAC, Nuno Semedo, aponta duas razões: “um desejo de competir ligado a uma paixão por este tipo atividades” e “uma vontade de aprender técnicas defensivas para que um indivíduo se sinta mais seguro em determinadas situações”. Segundo o presidente da Secção de Lutas Amadoras da AAC, Adilson Brito, “o indivíduo procura uma atividade que o satisfaça, na parte física e psicológica”. O técnico da Secção de Karaté da AAC, José Lemos, complementa esta ideia ao referir que “existem aspetos próprios da modalida-

de que são agradáveis de fazer”. A violência pode, então, estar associada ao espírito desportivo destes atletas? Adilson Brito faz notar que existe uma distinção entre um ato violento e a arte marcial, visto que, por norma, “as pessoas que executam a violência gratuita na rua nunca praticaram desportos de combate”. José Lemos sublinha que “quem é praticante destes desportos não tem tanta necessidade de exteriorizar a agressividade que todas as pessoas têm dentro de si”. “Quanto maior for o nível de experiência dentro de uma arte marcial, menor é o nível de agressividade do indivíduo”, explica Nuno Semedo. O presidente da Secção de Taekwondo completa que os atletas “ganham capacidades de autocontrolo e de inteligência emocional”, que utilizam na resolução de problemas do quotidiano. O presidente da Secção de Lutas Amadoras salienta que valores como o respeito e o companheirismo são os mais promovidos em qualquer desporto de combate. Existem atletas que se re-

lacionam fora de competição. Contudo, “quando começa um combate, a amizade é suspensa e permanece o respeito”, ilustra. José Lemos destaca também que qualquer arte marcial é “um jogo controlado de técnicas”. Nuno Semedo elucida que o praticante possui um “espírito indomável”, que lhe permite “delinear limites e ultrapassá-los com o seu esforço, sem prejudicar os outros”. O desportivismo, segundo o presidente da Secção de Taekwondo, “é transportado para o treino, o que ajuda a formar o atleta de uma maneira construtiva e pacífica”. “Cada vez mais falta desporto aos jovens”, afirma Adilson Brito. “A atividade física acaba sempre por manter um foco no desportista”. O presidente da Secção de Taekwondo esclarece que, durante um combate, prevalece a concentração e o empenho, mas nunca a agressividade. “O mais próximo do conceito de violência é a garra, a tentativa de ganhar vantagem sobre o adversário. O momento após o combate é um sentimento de realização e felicidade”, conclui.


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DEFICIÊNCIAS NÃO SÃO ENTRAVE À PRÁTICA DESPORTIVA Praticar natação, para além de fazer os atletas com incapacidades “trabalhar o corpo inteiro e desenvolver o sistema respiratório”, dá-lhes a possibilidade de “conquistar medalhas” - POR JOÃO NOÉ E PEDRO SILVA ILUSTRAÇÃO POR JOÃO RUIVO

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pesar de pouco divulgado, o desporto adaptado em Coimbra já é uma realidade. Na cidade, existem associações de portas abertas a pessoas com deficiências intelectuais e físicas que desejam praticar atividade física. Especialistas afirmam que existem vários benefícios aliados a este tipo de desporto, tanto a nível de saúde, como a nível social. Há mais de 30 anos que a Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC) promove a prática desportiva para pessoas com deficiência. Os atletas da APCC têm a oportunidade de participar em competições nacionais e internacionais em modalidades como natação e tricicleta. Contudo, é na boccia, desporto cujo objetivo é deixar bolas coloridas perto de uma bola branca, que a APCC mais se destaca. O nome mais famoso da instituição é António Marques, atleta de Penacova e antigo campeão mundial da modalidade, que acumula medalhas em jogos paralímpicos. “Participa-se sempre nas competições em que nos é permitido e desde que se tenham atletas em condições de competir”, declara Anabela Marto, coordenadora de Educação Física e Desporto da APCC. “Quando se entra em torneios, o objetivo é ganhar”,

cursou mestrado em Engenharia Biomédica, Carlos Santos ressalva que a natação traz benefícios para a saúde. O desenvolvimento da autoestima é outra das vantagens identificadas por Tânia Morais. O trabalho desenvolvido pela psicóloga permitiu concluir que pessoas com este tipo de incapacidade sentem-se realizadas ao praticar desporto. O desenvolvimento de habilidades mais ligadas à componente física é também identificado pela psicóloga da APPDA como um “auxílio na motricidade das pessoas com deficiência, pois os desportos ajudam a expandir a capacidade de movimentos do corpo”. “Além da possibilidade de conquistar medalhas, praticar natação faz trabalhar com o corpo inteiro e desenvolver o sistema respiratório, por exemplo”, esclarece Carlos Santos.

acrescenta. Anabela Marto completa ao mencionar que “o facto dos desportistas participarem em competições motiva-os para continuar a treinar”. Em termos de resultados, o objetivo é claro: “quem treina gosta de competir e, quando os atletas competem, ganham”. Atividade física recomendada para pessoas com deficiência Tânia Morais, psicóloga da Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo de Coimbra (APPDA-Coimbra), destaca alguns dos benefícios da prática desportiva para pessoas com deficiência. “O desporto pode ter um papel social”. A psicóloga adianta que, a partir da atividade física, acabam por se formar laços entre pessoas com o mesmo tipo de incapacidades. Carlos Santos, portador de autismo e atleta de natação, mostra como a prática de desportos pode ajudar na socialização de pessoas com algum tipo de deficiência. O atleta participa em competições em Coimbra e noutros distritos. Para Carlos Santos, uma das vantagens de competir é poder viajar. Antigo estudante da Universidade de Coimbra, onde

São necessárias iniciativas que superem lacunas Na opinião da coordenadora de Educação Física e Desporto da APCC, existem condições para que mais pessoas com deficiência pratiquem desportos em Coimbra. Anabela Marto considera que ainda existe pouca divulgação sobre a possibilidade de pessoas com deficiência fazerem atividades físicas na cidade. “O desporto adaptado ainda é pouco conhecido e os pais de pessoas com deficiência ainda não têm a ideia de integrar os filhos, quando ainda são novos, na prática de uma modalidade”, aponta. “Coimbra reúne condições estruturais para a prática desportiva por portadores de algum tipo de deficiência”, afirma Tânia Morais. “Pessoas com espetro do autismo podem fazer aulas de natação de graça caso representem a APPDA em torneios”, explica. A coordenadora de Educação Física e Desporto da APCC considera que podia haver maior promoção e sensibilização, já que “as pessoas com deficiência só teriam a ganhar se existissem mais eventos”. Para além disso, “quem mora na cidade também podia assistir a mais provas”, comenta. Anabela Marto acredita que a integração do desporto adaptado em Coimbra ainda tem lacunas. “Não há muitos clubes na cidade e a procura ainda é pequena. Para além disso, a falta de calendarização de eventos impede a preparação de um ano para o outro”. A coordenadora realça que o comum é que as federações organizem atividades na cidade. “Os eventos por parte do poder público são escassos em Coimbra e, quando existem, partem de iniciativa das federações, como as competições de natação que são organizadas pela federação portuguesa da modalidade”, observa. A psicóloga da APPDA começa a verificar cada vez mais atividades ligadas à promoção do desporto adaptado à deficiência em Coimbra. Tânia Morais ilustra esta ideia a partir do 1º Encontro de Atividades Aquáticas, no passado dia 26 de abril. “O evento reuniu quase 50 nadadores com algum tipo de deficiência intelectual, em que mais de 30 eram de Coimbra”, adianta. A psicóloga do APPDA espera que esta seja apenas a primeira de muitas iniciativas deste tipo. A prática de desporto deve sempre surgir como complemento a outro tipo de tratamento, de acordo com Tânia Morais. A terapia da fala, a terapia ocupacional e a psicologia são alguns exemplos.


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SASUC DISTRIBUEM CONTRACEÇÃO POR UMA SEXUALIDADE SAUDÁVEL E SEGURA Iniciativa distingue UC de outras universidades. DG/AAC também manifesta preocupação com excesso de comportamentos de risco durante a semana da Queima das Fitas - POR RENATA AMORIM E EUFRÁSIA SILVA -

O

s Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC), em parceria com a Administração Regional de Saúde do Centro, celebraram um protocolo cujo objetivo é a distribuição gratuita de métodos contracetivos aos estudantes da UC. Com esta campanha, iniciada dia 20 de abril, os alunos da universidade podem agora dirigir-se aos Serviços de Saúde e de Gestão da Segurança no Trabalho (SSGST), situados na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, para usufruir deste serviço. “A ideia é que consigam ter uma sexualidade saudável”, afirma António Queirós, médico e um dos responsáveis pela iniciativa. De modo a alcançar este objetivo são fornecidos aos estudantes universitários métodos contracetivos como pílulas, preservativos, anéis vaginais, dispositivos intrauterinos, implantes subcutâneos e contraceção de emergência. A iniciativa está pensada de modo a fornecer o acompanhamento médico necessário e incentiva a marcação de consultas de ginecologia e planeamento familiar. Com este projeto, que se vai prolongar nos próximos anos letivos, os SSGST passam a desempenhar um papel semelhante ao de um centro de

saúde. Na opinião de António Queirós, complementa e enriquece os serviços já oferecidos de clínica geral, oftalmologia, medicina dentária, saúde mental, nutrição, ginecologia e planeamento familiar. Esta iniciativa “merece destaque por oferecer mais um serviço que diferencia a UC de outras universidades”, como defende o médico. Acrescenta que consciencializa os estudantes para uma “sexualidade saudável e segura que traz benefícios no futuro em termos sociais”. Também o presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Alexandre Amado, considera “uma ideia aberta que pode resolver problemas e sensibilizar a academia”. No que diz respeito à DG/AAC, a preocupação manifesta-se em promover campanhas que consistem na “distribuição de preservativos e sensibilização direta, junto dos estudantes, no recinto durante a semana da Queima das Fitas [QF]”, como esclarece Alexandre Amado. Apresenta ainda como preocupações adicionais para a semana da festa académica, o combate aos riscos rodoviários, o consumo excessivo de substâncias e o impacto ambiental que a QF tem na cidade.

HUGO GUÍMARO

GERAÇÃO ATUAL CONTRARIA HETERONORMATIVIDADE Visão e atitudes de cada um não são imutáveis, pelo que a identidade sexual é um processo de construção. Mudanças na adolescência podem causar dissonâncias identitárias - POR LUÍS ALMEIDA E ANA FRANCISCA NUNES HUGO GUÍMARO

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aio é o mês da luta contra a homofobia. Durante décadas, a comunidade LGBT lutou pelos seus direitos em Portugal. Numa altura em que a identidade de género e a sexualidade são temas de debate parlamentar, é importante sensibilizar a população, segundo Ana Cristina Santos, investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES) e coordenadora do projeto INTIMATE, ligado ao estudo das minorias. Ao refletir sobre o conceito de orientação sexual, a investigadora afirma que este “não está cristalizado no tempo” e que se pode definir como “um desejo, prática e afetividade no campo da sexualidade”. Ana Cristina Santos compara esta noção ao futebol ao dizer que, assim como “não se nasce com uma orientação futebolística definida, também não se nasce com uma orientação sexual definida”. A ideia contrária é, segundo a mesma, “ingénua e pouco rigorosa, porque são seres humanos em construção”. A heteronormatividade é um dos tópicos em que a investigadora mais insiste. “A nível social, todas as pessoas são condicionadas para uma determinada orientação”, declara. Defende a ideia ao exemplificar que, desde crianças, os indivíduos são influenciados a sentir atração pelo género oposto. Ana Cristina Santos sublinha que “é algo banal que revela que todos crescem a pensar que existe um

modelo de afetividade”. “Ao longo das suas vidas, alguns indivíduos apercebem-se que existe um maior espetro de diversidade e abertura sexuais”, reconhece a coordenadora do projeto INTIMATE. “Os jovens da geração atual estão mais propícios a experiências fora do campo heteronormativo sem que isso condicione a sua orientação sexual”, acredita. Ana Cristina Santos acrescenta ainda que “a comunidade juvenil está muito mais à vontade com o ser, sentir e estar”. No passado dia 6 de abril foi aprovada pelo Governo a proposta de lei que estabelece o regime da identidade de género. A principal mudança associada refere-se à diminuição da idade com a qual se pode alterar a identidade de género nos documentos de identificação, desde que exista autorização dos pais. “A adolescência é uma fase em que o corpo sofre grandes alterações”, afirma a investigadora. Garante ainda que estas mudanças, num adolescente transgénero, podem causar dissonância na sua identidade. Apesar da polémica, Ana Cristina Santos acredita que quem pretende alterar o seu género já refletiu muito sobre o assunto. A investigadora conclui ao esclarecer que “aquilo que define as pessoas é a forma como veem e as suas atitudes e isso não está estagnado e fechado numa caixinha”.


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NOVAS FORMAS DE RELACIONAMENTO INTERPESSOAL: O IMPACTO DA MODERNIZAÇÃO TECNOLÓGICA Utilização dos recentes avanços tecnológicos é tema que deve ser objeto de atenção e interesse. Há necessidade de abordar o uso problemático e procurar uma utilização funcional - POR PEDRO CHAVES E ANA RITA TELES -

As investigações mostram que há uma interferência das novas tecnologias ao nível do relacionamento interpessoal”, afirma Maria Vale Dias, docente da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC). Isso tem um “impacto positivo e negativo em termos de relações com os outros e de equilíbrio individual”. O seu uso veio provocar alterações ao permitir um contacto mais fácil e instantâneo, explica Paulo Peixoto, docente da Faculdade de Economia da UC. No entanto, “perde-se algo que tem que ver com a espontaneidade de uma relação real”, refere Maria Vale Dias. A evolução dos relacionamentos lado a lado com a tecnologia A docente da FPCEUC explana que, antes das novas tecnologias, “se falava de relações face a face”. A sua emergência “exige o apuramento de diferentes competências” porque, por exemplo, “não se consegue ver nem interpretar as expressões faciais”. Uma das vantagens prende-se com o facto de “pessoas que se afastam da sua terra, das suas amizades, poderem prolongar contacto”, elucida Maria Vale Dias. Acrescenta que isso “facilita a manutenção de relações que não seria possível manter à distância”. Outro dos benefícios é a possibilidade de ter “acesso a uma maior diversidade de informação e cultura”, assim como “permitir alargar a rede de contactos”, constata. Apesar dos aspetos positivos, as novas tecnologias também acarretam problemas. Um dos pontos negativos está relacionado “com as dificuldades de gestão de tempo e com as diferenças entre o que é real e o que é virtual”, afirma a docente da FPCEUC. Pode falar-se, em alguns casos, de “uma confusão entre relações autênticas e as que não o são”. Isso pode, por vezes, “culminar em situações de perigo”, acrescenta. No caso das redes sociais, Maria Vale Dias considera problemático “o acesso demasiado precoce de

crianças, mesmo sem autorização dos pais para isso”. “Tem de se pensar como os jovens estão a usar as novas tecnologias e qual o papel do adulto”, comenta. Reforça ao afirmar que os pais, tal como ensinam os filhos a comer e a relacionar-se com os outros, “são responsáveis pela educação noutros campos e devem promover competências para a utilização das novas tecnologias”. Na perspetiva de Dina Soeiro, docente da Escola Superior de Educação de Coimbra, o ensino é a resposta no sentido de “promover competências para um melhor uso da tecnologia”. Em complemento, Dina Soeiro, defende que o seu uso “gera alguma impulsividade”, na medida em que as respostas podem ter “uma interpretação diferente daquela que foi dada pela pessoa que escreveu”. Na opinião da docente da FPCEUC, “a maior dificuldade é saber como gerir tudo isso”. O vício das novas tecnologias é uma realidade, daí “a importância de perceber quando não se está a cumprir com aquilo que é suposto, como dormir, comer e alcançar certos objetivos”, aclara. Mau uso pode ser contrariado com utilização funcional Maria Vale Dias é da opinião de que a solução passa por, “tal como na vida real, tentar perceber se o relacionamento vai ao encontro do bem-estar e não põe a pessoa em perigo”. Porém, os cuidados que se têm no mundo real não são os mesmos que se devem ter no mundo virtual, elucida. “É importante apostar numa estrutura equilibrada do ponto de vista psicológico, de organização do tempo e dos próprios objetivos”, explica a docente da FPCEUC. Isto porque, por vezes, “os sujeitos estão de tal forma envolvidos no mundo virtual, que quase se tornam espectadores do mundo real”. Deve manter-se uma ligação entre a virtualidade e a realidade”, refere Maria Vale Dias. Nos casos mais extremos apela à necessidade de, “caso o indivíduo

não se aperceba do vício, as pessoas à sua volta o chamarem à atenção, para ela perceber o que se está a passar consigo mesma”. Também existem casos em que o próprio se apercebe da sua condição, mas não a consegue controlar, constata. Novas questões conduzem a novos estudos Quanto às consequências do uso excessivo das novas tecnologias, a docente da FPCEUC, defende a necessidade de se proceder a uma investigação nesse sentido. Maria Vale Dias alerta para a importância de fazer uma ligação entre os relacionamentos reais e virtuais porque, de certo modo, se complementam. “Há que interligar esses dois mundos e compreender que existe uma diferença entre ambos”, acrescenta. Uma investigação, que está a ser levada a cabo pela FPCEUC, tem como objetivo perceber se, mais do que as novas tecnologias, não são as caraterísticas de cada pessoa que a colocam em perigo, como expõe Maria Vale Dias. Algo que também tem sido estudado na área da psicologia é a questão da solidão. A finalidade é entender “até que ponto as pessoas tentam encontrar ajuda para essa situação através das novas tecnologias”. No entanto, refere que “muitas vezes se está ligado ao mundo virtual e as pessoas sentemse sozinhas”. Na opinião de Maria Vale Dias, “há muita utilização das novas tecnologias e é por isso que este tema deve ser objeto de atenção e interesse”. Reforça ainda que é necessário abordar o seu uso problemático “mas, se a utilização em massa, tiver uma utilização funcional pode ser algo bom”. A docente da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da UC finaliza ao afirmar que as tecnologias não são nem muito más, nem muito boas. “Tal como uma faca pode ser vista como um instrumento fundamental para cortar pão, também pode assassinar. Com a ‘Internet’ passa-se o mesmo”. HUGO GUÍMARO


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CINEMA

Encontrar o rumo - POR CARLOS ALMEIDA -

ACabana De

Stuart Hazeldine

Com

Sam Worthington, Octavia Spencer, Tim McGraw

2017

O

s sentimentos de dor e perda, que muito se assemelham, costumam ser frequentes no mundo cinematográfico, contudo, difíceis de retratar. A Cabana, filme baseado no romance heterónimo de William P. Young, consegue umas quantas capturas sentimentais curiosas. Claramente voltado para um universo cristão, este filme joga com o acaso e com a existência do mal como dado adquirido. Trata-se da história de Mack Phillips (Sam Worthington), um homem de família com uma infância sofrida que dramaticamente perde Missy, sua filha. Deus é parte essencial do quotidiano desta família e Phillips, mergulhado na “Grande Tristeza”, acaba por alegadamente o conhecer cara a cara. A caracterização de Deus como trindade pretende dar lógica a certos eventos, mas o que importa da película

não é um conjunto concreto de ideias e sim os conceitos abstratos que esta quer transmitir. O perdão, entre eles, talvez o mais impactante. Tal como no romance, também o filme é narrado na terceira pessoa, mas esta narração não é tão sólida por falta de maiores intervenções, ou seja, não faz grande falta. De lugares comuns também está cheio o enredo, o que não abona a favor dos diálogos que perdem potencial e consequentemente tornam previsíveis os seguintes desenvolvimentos. A banda sonora é fraca e mais possibilidade retira a cenas que acabam por falhar a missão de emocionar o espectador, mas claro que não se pode ter um Hans Zimmer ou um Clint Mansell para cada rodagem que se faça. A balança acaba por pender para o que já é habi-

De

Nuno Fonseca

Em

Podia ser melhor

EM PALCO

ser humano ou pior que isso Até 14 de Maio de 2017

tual e não para a novidade, apesar das capacidades para fazer melhor. Não obstante, e idependentemente da propaganda cristã, podem encontrar-se mensagens com diferentes graus de profundidade que não deixam de fazer a mente ref letir. A imagética ajuda a esta ref lexão e procura encontrar-se com a natureza e a simplicidade. Aqui a direção de fotografia aqui tem que ser valorizada. O filme é uma parábola que ambiciona o que tem de ambicionar, mas que não se aproxima das concretizações desejadas.

Alucinação cromática - POR JOÃO RUIVO -

Museu Municipal de Coimbra | Galeria de Exposições Temporárias

A

resposta, às diferentes conjecturas, motivadas pelo título desta exposição, estão em plena Rua Ferreira Borges, no interior do emblemático Edifício do Chiado. Apreciar a obra do pintor conimbricense, Nuno Fonseca, é testemunho de uma “dicotomia humana” e as diferentes fragilidades desta criatura. O pintor apresenta a sua “razão estética”, onde procura explorar as debilidades humanas numa pluralidade de visões em uma só imagem. São obras de presente e futuro que ousam não causar indiferença e agitar e por isso merecem ser testemunhadas. “A rapariga que queria ter braços” é a obra que enceta a exposição “Ser humano ou pior que isso”. Aqui e em toda a mostra, o corpo humano é o cerne da questão, e está presente em todas as obras do artista, numa perspectiva quase de conflito com a norma, ou encadeamento do próprio gêne-

ro humano. No processo de criação primeiro nasce a mancha e mais tarde a figuração, que se manifesta com realismo. Numa mistura de técnicas contrastantes, o artista apresenta um conjunto de “várias atitudes pictóricas a dialogar na mesma tela”. Toda a obra flutua na retórica do título da exposição, pelo impacto visual e cores vibrantes, destaco as seguintes obras: “Dentro do negro que sou eu” (dicotomia sujeito-objecto), “O meu coração ficou com o cão” (ninguém fica indiferente aos ‘jeans’ dourados, sim dourados!), e “Bang Bang, meu amor, Bang Bang” (um urso de peluche aponta um revólver, adivinhem a quem!?). Estas obras recordam-me que “toda a vida social procede de irracionalismos vários, sendo impossível a ideia de uma sociedade racionalmente organizada, justa ou só bem organizada”. E “o homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que

precisam de saber. Nós não.” (Fernando Pessoa). O corpo é desenhado a grafite com traços sóbrios e suaves, em contraste com a sua envolvência, onde recorre a uma técnica mista, carregada de tinta acrílica e/ou empastelamento que gera uma tempestuosa e exótica palete cromática. Trata-se de uma vasta coleção, de estética irresistível, com pormenores deliciosos e de realismo extremo que contrasta com uma distinta palete cromática. Esta exposição estará presente, até dia 14 de maio, no Museu Municipal de Coimbra/Galeria de Exposições Temporárias.

A Cabra d’Ouro


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MÚSICA

GUERRA DAS CABRAS A evitar

Despir os Fados

Fraco Podia ser pior

- POR FILIPE FURTADO -

Podia ser melhor A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro

Nua” está ela de corpo e alma, “nua” está Gisela João neste segundo disco cheio de grandes poemas, enormes fados. “Volta esta noite p’ra mim, canto-te um fado no silêncio, se quiseres” é o desejo de “Fado para esta noite” que abre as portas para estes 14 temas gravados entre o Palácio de Santa Catarina, em Lisboa, e a Cidadela de Cascais. O fado há muito nos habituou a casar poemas e canções com ilustres intérpretes, a marcá-las nos cânones dessa linguagem. Há uma nova geração que agarra na tradição com facilidade, com destreza, que não tem medo de a fazer sua e criar novos enlaces. Gisela João é, sem dúvida, parte desse elenco. Depois de um disco de estreia muito aclamado pela crítica, em 2013, “Nua” arrisca-se a ser ainda melhor. A acompanhar Gisela estão Ricardo Parreira, na guitarra portuguesa; Nelson Aleixo, na viola de fado; e Francisco Gaspar, na viola baixo. No alinhamento do álbum somos logo surpreendidos com o bem animado “Senhor Extraterrestre”, composição original do falecido Carlos Paião. A interpretação em nada fica atrás da célebre versão que Amália gravou durante a década de 80. “Sombras do passado” é talvez o tema mais arrebatador do disco, a melodia abre um abismo na alma e cair para o abismo

Nua De

Gisela João

Editora

Nonesuch Records

2016

é doce como boiar no mar. Na faixa seguinte, continuamos na beleza musical da tristeza – “Fado da Saudade”, com o mesmo vigor de Amália. Depois há que dançar o “vira” “Lá na minha aldeia”, que nem só de melancolia vive o fado. Irresistível é a versão de “O Mundo é um Moinho”, tema do cancioneiro popular brasileiro assinado pelo perpétuo Cartola. Pelo meio de David Mourão-Ferreira ou Alexandre O´Neil, ainda ouvimos a letra de Capicua no bailarico de “Noite de São João”, para terminar na mística de “Llorona”, canção inspirada na pintora Frida Kahlo. Gisela João canta em espanhol como se da sua primeira língua se tratasse, porque fados há muitos, mas os de lá e os de cá dão-se bem. Parece que a doçura é o ingrediente essencial para falar das farsas deste mundo e doce é a voz de Gisela João. “Nua” está de corpo e alma, nua acolhe-a o fado para dele não regressar.

A Cabra aconselha

LIVRO Um livro que se expande pelo(s) mundo(s) - POR PAULO SÉRGIO SANTOS -

A

última incursão de J.K. Rowling pelo mundo ficcional da feitiçaria não é totalmente nova. Aproveita, aliás, pontas soltas do universo de Harry Potter para o estender ainda mais. Em Hogwarts, nas aulas de Cuidados com as Criaturas Mágicas, o livro adotado é “Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los” (editado em 2001 pela Presença), assinado precisamente por Newt Scamander, a personagem principal deste “Fantastic Beasts and Where to Find Them”. E a escrita desse manual didático é a saída de cena do último livro da autora britânica. Tal como em “Harry Potter and the Cursed Child”, o leitor está perante um livro não convencional, no sentido de uma tradicional obra literária. Trata-se do argumento original de que resulta o filme homónimo, organizado portanto de um ponto de vista de uma câmara móvel, daquilo que um espectador assiste num ecrã, sucessivos ‘zooms’ e afastamentos, saltos de cena, interiores e exteriores. A ser um livro normal, teria provavelmente pouco mais de cem páginas, ao contrário das mais de 270 que possui. Mas nada se perde. Percebe-se ainda melhor porque o universo de Harry Potter ganha a tantos sucedâneos: nele, o real não está

ausente tal como o percecionamos; pelo contrário, muito daquilo que faz parte do nosso mundo é intrínseco a este. A magia continua presente, tudo permanece brilhantemente descrito, embora de forma mais sucinta: “Watching NEWT walk, we see in him an unselfconscious Keatonesque quality, a sense of diferent rhythm to those around him” (pág. 9). O leitor entra, então, na última aventura de Newt Scamander antes da escrita do seu manual. E é a figura do magizoólogo que transmite ao livro uma aura científica (“but he still shows a scientist’s curiosity about this alien environment.” – pág. 9), de conservação, preocupação e amor pela natureza e pelos seres que nela habitam. É mais uma adição a um universo que pode não voltar a ver Harry Potter. Tal como um Occamy, uma espécie de ave com uma propriedade curiosa – “choranaptyxic” (pág. 212): cresce ou diminui consoante o espaço disponível. E há muito por onde expandir.

A Cabra d’Ouro

Fantastic Beasts and Where to Find Them De

J.K. Rowling

Editora

Little, Brown

2016


3 DE MAIO DE 2017 SOLTAS - 14 -

EM CONT(R)OS BENTO, NUNCA MAIS. - POR SECÇÃO DE ESCRITA E LEITURA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -

FOTOGRAFIA POR VANESSA MENDES - SECÇÃO DE FOTOGRAFIA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA

A

li, aos pés da velha igreja, sentado em degraus de pedra mais antigos que o novo mundo, António, um decrépito senil, observa a aglomeração. São jovens, idosos, crianças, vagabundos, docentes, cristãos, pagãos, doentes, indecentes, imprudentes, vagabundos cristãos, docentes indecentes, doentes imprudentes, dentre tantos outros entes que ali se reúnem em comunhão. Enquanto uma multidão entoa cânticos emocionados em memória de tempos longínquos, Antônio avista um sujeito. Um corpo sem vida no meio do povo. Está logo ali, rodeado por olhos marejados, vozes embargadas e discursos calorosos. Sem muito entender o que se passava, ele se levanta e caminha alguns passos entre a multidão. No caminho, acaba por esbarrar em Celeste, uma mulher de uns trinta anos que parecia estar a par do que se passava. - Ó mulher, sai da frente! - Mas quem me esbarrou foste tu, velho imbecil! - Mais respeito! Eu poderia ser teu pai!

- Mal-educado deste jeito, ainda bem que não és! Devias é ir p’ro… Celeste é interrompida por sua mãe, Justa, que a puxa pelos braços e a impede de concluir seus impropérios. Ainda sem muito entender o contexto daquilo tudo, o velho se posiciona mais adiante para enxergar o que estaria por vir. Ateou fogo em seu cigarro e permaneceu a espera do ato seguinte. Chegando em frente ao corpo exposto no centro do pequeno largo que abrigava os presentes, Celeste o encara com um ar de alívio e resignação. De mãos dadas com Justa, permanecem silentes. Lágrimas vertem de seus olhos e percorrem seu rosto ao som das vozes a cantar em uníssono o hino nacional. António, ainda sem saber ao certo o que se passa, canta o hino nacional a plenos pulmões e se deixa inebriar pelo clima de comoção ali presente. Consegue, com algum esforço, se posicionar frente defunto, para seu assombro. O corpo ali presente era de

seu colega de juventude, Bento. Já não se falavam há muitas décadas, mas António guardava com carinho as conversas e a admiração por Bento. A afinidade de ideias, a visão de mundo, o amor à pátria eram laços que os mantinham ligados mesmo durante tantas décadas de ausência. A vida deu a ambos caminhos distintos. Um seguiu a via científica, que lhe rendeu prestígio acadêmico, o outro, seguiu a via militar e alcançou o título de Marechal. António, surpreso e um tanto atordoado, contempla o cadáver com ar de nostalgia e resignação. Com as mãos juntas, sobre o ventre, permanece silente. Lágrimas vertem de seus olhos e percorrem seu rosto ao som das vozes que permanecem a cantar em uníssono o hino nacional. Após a leitura do salmo 91 reproduzida pelo pároco da cidade, deu-se início ao cortejo fúnebre de Marechal Bento, homem influente da cidade, que foi amigo de António, e que violou Justa, mãe de Celeste, há pouco mais de trinta anos.


3 DE MAIO DE 2017 SOLTAS - 15 -

FACEJAQUIM DA AAC - POR JGS -

José

Como é que é malta? A Queima está aí a chegar! Já está tudo pronto. @Ana @Carlos @Rita Sítio do costume.

Ana Sítio do costume? Palco principal, palco RUC, tendas, casas de banho lá do fundo, Cruz Vermelha?

Carlos Ó Ana! Claro que não, onde é que temos a cerveja mais barata, os nossos amigos todos e não temos que chegar a casa com a roupa cheia de lama? É Palco Portagem! Investimos o geral no after! No último dia damos um salto ao recinto para tirar as clássicas fotos junto ao Mondego e ao slogan #saudades #queima #coimbra

OBITUÁRIO - POR CABRA COVEIRA -

AS DANÇAS DA PRIMAVERA

M

aio, mês da procriação. Os estudantes movem-se devagar, cortejando os seus parceiros. De 5 a 12 deste mês atinge-se o clímax desta fase reprodutiva em Coimbra. Ao contrário de outros animais o estudante nem sempre tem noção dos perigos que a vida selvagem pode proporcionar e é aí que entram outras grandes feras - as doenças sexualmente transmissíveis. Neste BBC da vida selvagem existem super-heróis, estes são os grandes paizinhos do estudante desprevenido: os SASUC. Vão distribuir vários tipos de contracetivos. Portanto, se acharem que é demasiado tarde, não se apoquentem, também há contraceção de emergência.

TRABALHO: FONTE DE RIQUEZA

D

e muito trabalho vive a academia, mas recompensas monetárias não é uma regalia de todos, apenas de alguns membros da Comissão Organizadora da Queima das Fitas (COQF). Aparentemente, trabalhar para uma festa que acontece uma vez por ano é mais exaustivo que o próprio cargo de presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra. Entre artistas e patrocínios já contactados em anos anteriores consegue-se encontrar tempo para cancelar o rumor da desejada vinda de Maria Leal ao Chá Dançante. O trabalho é árduo, mas o pagamento é minimamente aceitável. Se o tempo é dinheiro, gasta-o na COQF.


Mais informação disponível em

EDITORIAL - POR CARLOS ALMEIDA E RITA FLORES -

Interesses na Queima das Fitas A Queima das Fitas (QF) é já uma festa de longa tradição. No entanto, o modo como esta é financiada nem sempre segue os prazos estipulados nos regulamentos. Isso é, por vezes, prejudicial, não só para a comissão organizadora da festa do ano seguinte, como para as secções culturais e desportivas, bem como organismos autónomos da academia. Ao mesmo tempo existem verbas disponíveis para a execução de projetos por parte de outros membros da Associação Académica de Coimbra que não chegam a ser levantados. Se por dificuldade dos regulamentos ou por esperarem o aprovar deste vencimento questiona-se a utilização das verbas. O resultado líquido da QF’16 apresentou uma diferença de cerca de 300 mil euros em relação ao ano anterior. Apesar de esta se ter verificado na diminuição da receita da venda de bilhetes pontuais face à chuva intensa que abençoou as festividades, questiona-se a promoção do evento e das atividades que o antecedem. O cartaz traz ainda vários artistas repetidos e sempre dentro dos mesmos géneros. Mas talvez o marketing repetitivo e direcionado a públicos mais jovens seja uma solução para o aumento ou manutenção do lucro. Se para a maioria da academia o cortejo é uma questão de sorte, para a organização da QF é uma regalia escolher o número do carro no qual estão inseridos. Espera-se então que entre sortes e azares, a chuva não acelere mais nenhum cortejo, caso contrário, terão de utilizar o convite de honra, ao qual têm direito, para o próximo ano.

O resultado líquido da QF’16 apresentou uma diferença de cerca de 300 mil euros em relação ao ano anterior.”

Ficha Técnica

Diretora Carolina Farinha

Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA Depósito Legal nº183245702 Registo ICS nº116759 Propriedade Associação Académica de Coimbra

Editores Executivos Carlos Almeida e Rita Flores Equipa Editorial Rita Flores (Ensino Superior), Carlos Almeida (Cultura), Rita Fonseca (Desporto), Mariana Bessa (Ciência & Tecnologia) Fotografia Hugo Guímaro Colaboraram nesta edição Luís Almeida, Renata Amorim, Lauren Bento, Carolina Cardoso, Pedro Chaves, Inês Ferreira, Margarida Maneta, Hugo Guímaro, Simão Mota, Inês Neves, João Noé, Ana Francisca Nunes, Cristina Oliveira, Daniela Pinto, Luís Saraiva, Eufrásia Silva, Pedro Silva, Pedro Dinis Silva, Ricardo Silva, Isabel Simões, Rafael Soares, Ana Rita Teles

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Colaboradores Permanentes Inês Duarte, Filipe Furtado, João Ruivo, Vasco Sampaio, Paulo Sérgio Santos Paginação Carolina Farinha Ilustração João Ruivo

Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A. Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: fig@fig.pt Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra Tiragem 2000 exemplares


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