12 DE DEZEMBRO DE 2017 ANO XXVII Nº287 GRATUITO PERIÓDICO DIRETOR CARLOS ALMEIDA EDITORES EXECUTIVOS ANA FRANCISCA NUNES E PEDRO DINIS SILVA
Gestão da sede da AAC em transição para a Direção-Geral Motivo da mudança prende-se com a requalificação do edifício. Reorganização mais eficiente do espaço vai ser o objetivo principal da nova administração. PÁG. 3 HUGO GUÍMARO
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ENSINO
DESPORTO
CULTURA
CIÊNCIA
CIDADE
Relação entre SASUC e habitantes das residências mostra-se positiva. Residentes testemunham acerca das condições dos edifícios e possíveis melhorias a realizar
Secções desportivas da AAC ponderam sobre trabalhos de 2017 e metas a alcançar em 2018. Problemas financeiros e infraestruturais mantêm-se presentes
Seminário Maior de Coimbra propõe estender a teologia à cultura. Objetivo principal passa por manter o espaço mais tempo aberto para envolver a cidade
Ansiedade entre a comunidade estudantil pode ser mais que um mecanismo de defesa. Depressões profundas encaminham a comportamentos de alto risco
Três investigadores da UC refletem sobre a biodiversidade do território após os incêndios deste ano. Depois dos fogos, surge o risco de cheias e deslizamentos
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COMBATE AO ABANDONO ESCOLAR NA UC RESIDE NA COLABORAÇÃO ENTRE ALUNOS E PROFESSORES Tutoria e inscrição a tempo parcial revelam-se ferramentas eficazes no combate ao insucesso escolar. “O problema pode estar na organização das unidades curriculares” - POR JÉSSICA GONÇALVES E ANA RUA -
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O sucesso dos estudantes é também o das instituições, como o êxito da sociedade também se reflete no da academia”, declara a vice-reitora da Universidade de Coimbra (UC) para os assuntos académicos, ação social, planeamento e qualidade, Madalena Alarcão. Há cada vez mais cuidado com a problemática do abandono escolar. Tal como todas as instituições de Ensino Superior (ES) em Portugal, a UC procura combater este problema. Para atenuar a situação, a academia disponibiliza várias formas de apoio aos alunos que necessitam. Nos últimos anos, a taxa de abandono da UC tem-se mantido próxima dos 11 por cento. Só em 2012 é que se registou um aumento, devido à crise económica que o país atravessava. Existem dois tipos de abandono escolar. O abandono interno, que “na verdade é uma mudança para outro curso da universidade” e o “abandono concreto, que corresponde à desistência da matrícula”, explica Madalena Alarcão. Nos casos em que não há uma segunda inscrição na mesma universidade, “não é possível saber se o estudante se reinscreveu noutra instituição, ou se abandonou o ES”. As causas do abandono são difíceis de definir. “Grande parte das vezes as pessoas não dizem porque desistem”, afirma a vice-reitora. A mesma considera que “dificuldades financeiras e acumulação de
insucesso escolar são as principais causas de desistência do ES”. No que toca ao apoio financeiro, os Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC) disponibilizam bolsas de estudo, alimentação, alojamento e outros serviços na área da saúde. Estes têm como objetivo “garantir condições de frequência do ES a todos, promover o sucesso académico e combater o abandono escolar”, esclarece a administradora dos SASUC, Conceição Marques. Além disso, a UC “tem outras possibilidades de dar apoio económico aos estudantes que necessitam”, acrescenta Madalena Alarcão. São exemplos “o Fundo de Apoio Social e o Programa de Apoio Social a Estudantes Através de Atividades de Tempo Parcial (PASEP)”, esclarece Conceição Marques. O PASEP é “o único apoio deste tipo destinado a alunos de todos os ciclos de estudo”, explica a administradora dos SASUC. Este baseia-se na possibilidade que se dá aos discentes de realizar “atividades em unidades orgânicas/serviços da UC, cuja retribuição ao estudante que as realize se traduz na atribuição de benefícios sociais”. Em relação ao insucesso escolar, Madalena Alarcão sugere que haja uma maior atenção da coordenação dos cursos. “O problema pode estar na organização das unidades curriculares”, esclarece. A vice-reitora
também aponta a “importância das tutorias na identificação dos problemas”. Outra solução para diminuir o abandono escolar pode estar na alteração da inscrição em tempo integral para tempo parcial. O tempo parcial pode ser útil para os trabalhadores-estudantes, ou para aqueles que não conseguem ter aproveitamento no regime a tempo integral. “A acumulação de insucesso escolar é prejudicial para o aluno. Diminui a perceção de que este é capaz”, assegura Madalena Alarcão. Neste sentido, a inscrição a tempo parcial é vantajosa, pois permite a inscrição em cinco ou menos unidades curriculares por ano. A vice-reitora sugere que seria útil que a plataforma da UC tivesse um sistema de alerta que, de forma automática, avisasse o estudante em que disciplinas regista fraca assiduidade e insucesso. “O mecanismo de alerta automático era importante, pois não teria de se fazer uma análise manual”, declara. O papel da comunidade estudantil também é relevante no combate ao abandono escolar. Na opinião da vice-reitora, docentes e discentes deveriam refletir, em conjunto, para melhorar a forma como as unidades curriculares são lecionadas. Conclui que “o processo de ensino e aprendizagem não pode ser feito só pelos alunos, nem só pelos professores. É uma dança a dois”.
ESTUDO GERAL: PRESERVAR E DIVULGAR O CONHECIMENTO DA UC
Promover a visibilidade e a acessibilidade da produção científica da UC é o propósito da iniciativa. Plataforma foi apresentada ao público em junho de 2008 - POR MARIA FERNANDES E BERNARDO ALMEIDA HENRIQUES -
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Estudo Geral é o Repositório Digital da Universidade de Coimbra (UC) que agrega a produção científica da comunidade universitária. Apresentado em junho de 2008, surgiu na sequência de uma declaração emitida em 2006 pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas. O documento recomendou a criação de repositórios institucionais e a definição de políticas de depósito das publicações académicas para assegurar a divulgação do conhecimento. Responsável pela gestão, manutenção e desenvolvimento da plataforma digital, o Serviço Integrado das Bibliotecas da Universidade de Coimbra (SIBUC) é coordenado por Ana Eva Miguéis, formada em biblioteconomia. “O objetivo principal do Repositório é preservar, divulgar e permitir o acesso à produção científica da UC”, afirma. A prioridade desta ferramenta é possibilitar o depósito de teses, dissertações e artigos, tanto de alunos de mestrado e doutoramento, como de docentes da universidade. A sabedoria, materializada nas Escadas de Minerva, é a matriz do Estudo Geral. Nesse sentido é, em simultâneo, agente de divulgação e ferramenta de aprendizagem para a comunidade estudantil. Assegurar a curadoria da informação, “ao mantê -la autêntica e original”, é uma das características
MARIA FERNANDES
do Repositório, explicita Ana Eva Miguéis. O Estudo Geral, parte integrante do Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal, respeita “um conjunto de directrizes a que todos os repositórios têm de obedecer”, indica a coordenadora do SIBUC. No entanto, a plataforma digital desfruta de alguma autonomia e protagoniza a gestão do próprio fundo. Ana Eva Miguéis realça, nesse domínio, a escolha e introdução de metadados e a “criação e parametrização” do ‘software’ em que opera o sistema, “DSpace”. Com o intuito de dinamizar o contacto do corpo académico com o Estudo Geral, a UC é palco de uma iniciativa que se realiza todos os anos
no final de outubro, a “Semana Internacional do Acesso Aberto”. A responsável pelo SIBUC enfatiza o valor da atividade uma vez que, como acontece na UC, muitos repositórios são “na sua maioria financiados por dinheiros públicos”. Assim, “deve ser divulgado junto da comunidade e de forma alargada”, reitera. A missão do Estudo Geral é, em parte, complementada por outros dois organismos com vocações distintas, a UC Digitalis e o Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC). O primeiro, de acordo com Ana Eva Miguéis, privilegia a compilação e divulgação de trabalhos escritos em língua portuguesa e, por esse motivo, tem um cariz mais diversificado. Engloba três bibliotecas digitais: a Biblioteca Pombalina, a Biblioteca Alma Mater e uma terceira que incorpora revistas editadas pela Universidade de Coimbra. Por outro lado, o AUC enquadra duas vertentes específicas. A coordenadora do SIBUC indica que este “não é apenas o arquivo da universidade, mas também é o Arquivo Distrital de Coimbra”. Por esta razão, tem competências que o distinguem quer do Estudo Geral, quer da UC Digitalis. Compete-lhe preservar a documentação produzida ao longo da História no seio da universidade e da cidade de Coimbra.
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REITORIA E DIREÇÃO-GERAL EM CONVERSAÇÃO SOBRE A NOVA GESTÃO DO EDIFÍCIO DA AAC Regulamento do edifício deve ser apresentado em Assembleia Magna. Alexandre Amado quer uma reorganização correta do espaço - POR FRANCISCO MADAÍL, DANIEL PASCOAL E SAMUEL SANTOS -
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gestão da sede da Associação Académica de Coimbra (AAC) encontra-se num processo de transladação da Reitoria da Universidade de Coimbra (UC) para a Direção-Geral da AAC (DG/AAC). As diretrizes que guiam este procedimento são a utilização rentável do espaço e o fim da burocracia. “Num futuro próximo, é esperado que a sede seja entregue, na sua totalidade, aos estudantes”, confirma o presidente da DG/AAC, Alexandre Amado. Segundo Alexandre Amado, o motivo da mudança “prende-se com o facto de o edifício necessitar de uma requalificação”. O reitor da UC, João Gabriel Silva, explica que a reitoria não se encontra a par do quotidiano dos associados. Sendo assim, o mesmo considera que a Direção-Geral está mais apta para tomar as rédeas do rumo da casa. Tanto o presidente da DG/AAC como o reitor da UC frisam a importância de cumprir o princípio da gestão racional do espaço, de modo a que se tire o máximo partido de todas as atividades. No que diz respeito aos custos que a DG/AAC vai ter de arcar, o administrador do edifício, João Ferreira, explica que “toda a gestão do edifício, limpeza e segurança vão continuar a ser suportadas pela administração da AAC”. Por outro lado, as faturas da eletricidade e da água, até hoje pagas pela reitoria, são assuntos que ainda se encontram em debate. João Gabriel Silva assegura que vão continuar a financiar de forma regular a DG/A AC e espera “que o dinheiro seja aproveitado da melhor forma”.
colega não é académico”, reitera. De acordo com o mesmo, existem organismos ou secções com espaço desnecessário, em detrimento de outras que precisam e não têm. “Não é necessário haver grandes transformações no que diz respeito às secções culturais”, salienta Paulo Abrantes
entanto, o presidente do Conselho Cultural acredita que “as secções desportivas recebem um apoio financeiro da DG/AAC” para o aluguer destes espaços. “No passado, foram vistos troféus e documentos espalhados pelos corredores”, revela Miguel Franco. Paulo Abrantes afirma que o Secções desportivas e divergência de ideias edifício principal não é a melhor opção para O espaço das secções desportivas no edifício é armazenar material, visto que há quem precise um tema que gera opiniões contrárias. O presiden- mais de estar na sede, “por terem a necessidate do Conselho Desportivo, Miguel Franco, afirma de de realizar lá o seu trabalho”. No entanto, que estar presente na sede é “importante a nível ambos chegam a um consenso em relação à simbólico, mas também a nível de operação”. Ex- DG/A AC ter a obrigação de providenciar um plica que isto é “relevante para poderem reunir-se, espaço para estes armazéns. guardarem os arquivos e prémios e receberem os “A responsabilidade é de quem usa o espaço” atletas, pais e dirigentes”. “Há ainda muito para melhorar na utilização Acrescenta que, hoje em dia, isto não se verifica para todas as secções, visto que “entre seis a oito da sede”, realça João Gabriel Silva. João Ferreidas 26 totais não possuem sede no edifício”. Para ra refere a importância de aplicar o princípio além disto, “o trabalho de determinadas secções é da dinamização do espaço e de “retirar salas condicionado, já que algumas salas são partilha- a quem não as utiliza”. Alexandre Amado diz das”. Por outro lado, Paulo Abrantes acredita que querer “garantir que todos tenham lugar” mas algumas modalidades, como por exemplo a ginásti- para que isto aconteça, “as secções que não ca, o andebol e o karaté, possuem espaços que não precisam têm de ceder em certos pontos”. A respeito da gestão do edifício, João Gautilizam, “salas fechadas há anos”. Quanto a isto, Miguel Franco diz não acreditar nesta situação. “As briel Silva afirma que “não é a reitoria que a secções que menos usam a sua sala podem parti- deve fazer” e reforça que “é importante transfelhar”, admite. “O que não faz sentido é documentos rir a responsabilidade para quem usa o espaço”. sensíveis estarem guardados em casa de dirigentes”. A passagem da administração da AAC para as Miguel Franco assume que há secções que pre- mãos da DG/AAC encontra-se assim em andacisam de uma área mais ampla, “o que não quer mento. Embora haja ainda temas a ser discudizer que as desportivas, por realizarem as suas tidos, espera-se uma gestão mais racional dos atividades no exterior, não precisem de uma sala recursos oferecidos pela associação. Assim, vai Utilização dinâmica e responsável do espaço na Associação”. Sublinha que “os locais onde se faz ser possível “tornar o edifício institucional” Em relação às medidas que vão ser tomadas desporto são pagos”. Deste modo, considera “não e “diminuir o choque em certos pontos e moapós o acordo ser concretizado, o presidente da ser legítimo dizer que têm espaços próprios”. No mentos”, conclui Alexandre Amado. DG/AAC destaca três linhas principais. Começa HUGO GUÍMARO por dizer que “nenhuma parte do edifício deve ser vedado aos estudantes e associados”. Acrescenta que “todas as secções devem ter as suas salas” na AAC e que estes espaços atribuídos sejam usados. “É importante ter normas quanto ao uso e manutenção da sede”, sublinha. A responsabilidade de implementar o regulamento da gestão dos espaços físicos fica a cargo do administrador do edifício. O próprio está encarregado de o apresentar em Assembleia Magna. Reforça que, para uma boa reorganização do espaço, a administração quer, antes de o colocar em prática, ouvir todas as estruturas e organismos. Não esconde que “foi preciso alguma luta ao longo dos anos” para que a sede fosse dos estudantes. No entanto, “ao lado de Alexandre Amado foi possível alcançar o objetivo”. O presidente do Conselho Cultural, Paulo Abrantes, afirma que todas as administrações que passaram pelo comando da DG/AAC não cumpriram as promessas feitas a nível de organização dos espaços. No entanto, o mesmo acredita que a mudança da posse do edifício para a DG/AAC pode facilitar a sua ação. Paulo Abrantes reforça a ideia de que “o espaço não cresceu à medida que o número de secções aumentou”. Logo, considera ser essencial que haja bom senso e solidariedade entre todos. “Ser anti
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RESIDENTES DO POLO I AO POLO III REFLETEM DIFERENTES REALIDADES Residentes unidos pelo investimento na reabilitação das residências universitárias. SASUC tentam definir projetos de intervenção nos edifícios - POR MARGARIDA MANETA, MICAELA SANTOS E ANA RITA TELES -
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s residências universitárias nem sempre foram uma prioridade dos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC). A oscilação de condições entre residências deu origem a uma política de reabilitação financiada pelas receitas da Universidade de Coimbra (UC). No entanto, os estudantes continuam a ver as suas necessidades insatisfeitas, ainda que a administradora dos SASUC, Conceição Marques, afirme que “há um planeamento estratégico no sentido de intervir nos edifícios de forma progressiva”. O que é preciso melhorar? Gabriel Ramos, alojado na Residência da Alegria há cinco anos, encontra-se naquela que é a mais antiga da cidade. Considera-a a mais deteriorada devido às más condições do edifício. “As paredes foram pintadas várias vezes, mas não há grande solução com a pintura. As varandas e as salas mostram a idade da casa”. No mesmo sentido, o atual delegado da residência, Guilherme Baptista, acrescenta que “no sótão há muita infiltração”. Para além disso, “o aquecimento dos quartos é insuficiente”. A situação é diferente nas residências do Polo II. Inês Amaral, aluna de Engenharia e Gestão Industrial na Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, habita a Residência 2 do Pólo II. De forma geral, esta não aponta a existência de grandes problemas. No entanto, reconhece que o número de eletrodomésticos não corresponde à quantidade necessária face ao número de residentes. “São necessários mais frigoríficos para responder às necessidades dos alunos que aqui vivem”. Para além da questão dos eletrodomésticos, “há muita gente que se queixa dos colchões”, realça Inês Amaral. O edifício da Residência do Polo III é recente e, por isso, “a nível de condições, em comparação com outras, é melhor”, revela Catarina Fernandes, aluna de Medicina da Faculdade de Medicina da
UC e residente desta. Contudo, confessa que existem alguns pontos negativos. “As casas de banho podiam ter melhores condições. Como são balneários, não têm porta e a água sai fora”. Acrescenta ainda que a sala de estudo encontra-se mal localizada. “Está à entrada da residência e toda a gente passa ali no meio. Para quem quer estudar é difícil concentrar-se”. A administradora dos SASUC reconhece que algumas residências “não têm as condições necessárias ao nível das cozinhas e das casas de banho”. Acredita que, ao reabilitar-se o edifício, essas melhorias de condições vão ser possíveis. Em relação aos equipamentos, como televisões, frigoríficos e cacifos, o objetivo é melhorá-los. “Há todo um programa para criar essas condições de forma a que os estudantes se sintam bem na UC”, explica. Relação dos residentes com os SASUC No geral, todos os residentes admitem que são ouvidos pelos SASUC. A residente no Pólo II relata que estes “são acessíveis” e que sempre que precisa de alguma coisa “há alguém disponível”. Contudo, o problema incide na capacidade de estes concretizarem os pedidos dos estudantes. Gabriel Ramos considera que os SASUC são “bastante acessíveis e compreensivos”. No entanto, já se confrontou com a dificuldade em ver as suas necessidades suprimidas. Retrata ainda uma situação específica, tal como “candeeiros na residência quase não existem. Sabem que há essa necessidade, mas não a solucionam”. Catarina Fernandes, que já foi delegada na residência que habita, também aponta algumas falhas de comunicação. Exemplifica com uma situação em que enviou um e-mail em setembro e ainda não obteve resposta. A mesma refere que “por vezes, os SASUC promovem formações e reuniões para todos os residentes, mas estas ocorrem em tempo de aulas”, refere a mesma.
A residência como uma segunda casa Os “Alegres” acreditam que as condições do edifício contribuem para torná-los mais unidos e para promover um espírito de entreajuda. Para Guilherme Baptista, na Residência da Alegria “todos se juntam para fazer os SASUC perceber que é necessário renovar a casa”. Com a recente aquisição do edifício por parte da UC, os jovens acreditam que os fundos podem ser direcionados para intervir nas instalações. Inês Amaral revela que o ambiente na casa é bom e que não o trocaria. Defende que a residência é mais do que uma renda baixa. “Há pessoas que podiam estar numa casa. No entanto, o ambiente é de segurança e de amizade entre todos, o que contribui para que muita gente venha por opção”. As funcionárias são um elemento muito importante nos alojamentos universitários. Para além de serem “uma ponte entre os alunos e os SASUC”, estão sempre ao dispor dos residentes e promovem um ambiente familiar, explicita a residente no Polo II. Catarina Fernandes admite nunca ter tido vontade de mudar de residência. Para ela, há “um hábito e uma ligação que se cria entre residentes”, mas reconhece que, no início, “a ideia de partilhar um quarto” nem sempre é fácil de aceitar. Para a jovem, viver numa residência é sinónimo de diversidade e de “nunca se sentir sozinha”. “Os residentes pertencem a vários cursos, o que permite falar com diferentes pessoas acerca de diversos assuntos”, esclarece. As residências situadas no Centro Histórico da cidade tendem a estar mais deterioradas. Face a isto, a administradora dos SASUC promete lutar pela reabilitação dos edifícios, uma vez que encara as residências universitárias como indispensáveis para auxiliar pais que “não conseguem assegurar os estudos dos filhos pela sua situação financeira”. ANA RITA TELES
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2017 EM ANÁLISE E 2018 EM PERSPETIVA NO DESPORTO DA ACADEMIA Conquistas e dificuldades financeiras marcam o ano que agora termina das secções desportivas da AAC. Superar resultados já alcançados torna-se resolução de ano novo - POR VITTORIO ALVES, NINO CIRENZA E MELISSA MACHADO HUGO GUÍMARO
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residentes a postos, atletas a pleno vapor e objetivos bem definidos. O ano de atividades desportivas que se encerra delimita as metas que vão acompanhar as secções no ano vindouro. Os re presentantes debruçam-se sobre conquistas, tanto a nível de reconhecimento nacional e internacional, e frustações de funcionamento na casa-mãe. Ponderação positiva de 2017 partilha opiniões No âmbito do mérito desportivo, o balanço geral revela-se positivo. Uma das equipas sénior de basque tebol obteve os resultados necessários para subir de divisão na Liga Universitária. “Foram cumpridas as metas traçadas na época passada”, afirma o presidente da secção, João Bigotte Almeida. As secções de Andebol e Patinagem também viram equipas suas a subir de divisão em campeonatos nacionais. A Secção de Tiro com Arco finaliza o ano com dois atletas campeões a nível internacional, como refere o presidente, Pedro Fernandes. Num tom também otimista, o presidente da Secção de Desportos Motorizados, João Filipe Azeiteiro, expõe o seu balanço positivo de participação em todas as provas. Ao mesmo tempo, o presidente da Secção de Rugby, Paulo Picão, afirma ser um orgulho para todos os adeptos da Académica ver uma das suas equipas disputar um título nacional como única na Região Centro do país. A Secção de Atletismo não fica atrás, com 18 títulos nacionais conquistados. Futsal segue o mesmo caminho. O seu coordenador, João Filipe Soares, afirma que foi estabelecida a igualdade entre os plantéis dos campeonatos federados e universitários, o que pode implicar, na sua opinião, melhor projeção das equipas. O vice-presidente da Secção de Bilhar, Ricardo Vicente, comemora a conquista de três lugares no pódio pelos seus atletas. O Judo da Académica, por sua vez, obteve os “melhores resultados nos últimos 25 anos”, como realça o presidente da Secção de Judo, Filipe Rosa. Para além dos resultados de âmbito competitivo, muitas secções celebram o aumento do número de atletas. Badminton, Desportos Náuticos, Basquetebol, Andebol e Judo fazem parte da listagem. Obstáculos estruturais e financeiros impõem esforços redobrados As secções não deixam de demonstrar as suas insatisfações relativas ao ano que se encerra.
A falta de instalações adequadas foi um dos tópicos mais apontados pelos seus representantes. “Continua a não haver condições mínimas para a prática desportiva”, anuncia o presidente da Secção de Patinagem, João Pires. As secções de Lutas Amadoras, Ginástica e Badminton associam este aspeto às reformas que as instalações desportivas da Universidade de Coimbra estão a sofrer para acolher os Jogos Europeus Universitários 2018 (EUG2018). “Têm havido contingências em termos de despacho de treinos”, elucida o presidente da Secção de Badminton, Diogo Silva. Por seu lado, a Secção de Basebol pretende “arranjar verbas para a deslocação para jogos”, como afirma a presidente, Diana Martins Lavado. Ao mesmo tempo, o presidente da Secção de Voleibol, Paulo Custódio, comunica o encerramento da equipa sénior masculina devido à falta de atletas. Num caso particular, a Secção de Pesca Desportiva encontra-se numa “situação de suspensão das atividades”, como afirma Belisário Borges, um dos cofundadores da secção. A nível financeiro, a Secção de Desportos Náuticos relata “falta de apoio” financeiro para “reforçar a frota e fazer investimentos para o futuro”, como frisa o presidente, Ricardo Reis. A partilhar a mesma opinião está a Secção de Natação, cujo presidente, Benjamim Moreira, realça a inexistência de subsídios e o financiamento independente. “É necessário fabricar os meios de subsistência próprios, que são garantidos através das escolas”, reitera. Ao mesmo tempo, a Secção de Atletismo descreve, pelas palavras do seu presidente, Mário Rui, a situação financeira como “caótica”, com a necessidade constante de “pedir a colaboração dos atletas e familiares dos seccionistas”. A Secção de Basquetebol enfatiza a anulação da dívida relativa à Associação Portuguesa de Basquetebol que rondava os 30 mil euros. João Bi gotte Almeida faz questão de dissociar a atual estabilidade financeira da secção da sua gestão anterior, descrita como “completamente afastada do significado de desporto universitário”. O mesmo problema é relatado pelo presidente da Secção de Futebol, Manuel Crisóstomo, que anuncia dívidas deixadas difíceis de serem supridas. Salientou que o objetivo passou por equilibrar as finanças em 2018”.
Novas conquistas na mira dos seccionistas O ano de 2018 traz a Coimbra o evento desportivo do ano, os EUG2018. As secções tentam conciliar as dificuldades habituais às novas exigências trazidas pelo evento. O coordenador da Secção de Futsal demonstra ânimo em disputar um campeonato de tal magnitude, uma vez que pretende “alargar a base de recursos” e fazer da Académica o “maior clube formador” de novo. A Secção de Judo espera também obter bom desempenho na competição europeia. Já a Secção de Tiro com Arco vê os seus atletas disputar a Prova Ibérica em Espanha. Além de procurar garantir a manutenção na primeira divisão universitária, a Secção de Basquetebol ansia também continuar o seu projecto de ação social. “Existe o desejo de continuar a integrar miúdos do bairro do Ingote a jogar basquetebol de forma gratuita”, conclui João Bigotte Almeida. O presidente da Secção de Halterofilismo, Bruno Almeida, pretende atrair cada vez mais atletas para poder inscrever as equipas em mais competições. Ainda nesta vertente, o presidente da Secção de Boxe, Miguel Silva, afirma estar a preparar para 2018 “uma nova fornada de atletas”. Por seu lado, a presidente da Secção de Karaté, Dora Freire, faz do seu principal objetivo a atração de mais desportistas. A Secção de Xadrez, na voz da sua vice-presidente, Madalena Oliveira, lista como principal meta o regresso à primeira divisão universitária. Sem nenhum título conquistado nesta recente época, a Secção de Radiomodelismo, presidida por Jorge Simões, procura obter algum êxito para o ano seguinte. O presidente da Secção de Andebol, Paulo Santos, planeia um conjunto de atividades, a serem anunciadas em janeiro, em comemoração dos 80 anos da secção, “uma das mais antigas da AAC”. Carlos Balteiro, cofundador da Secção de Pesca Desportiva, prevê uma “reestruturação a nível de competição”. O ano de 2018 traz consigo também a oportunidade das secções desportivas representarem a AAC perante a comunidade internacional. “Assim, leva-se a camisola da Académica a outros países”, como conclui Paulo Fernandes. Até ao fecho da edição deste jornal, não foi possível entrar em contacto com as secções de Cultura Física e de Taekwondo. Com Margarida Mota
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“GUERRA DAS ESTRELAS”, ‘JAZZ’ CIGANO E COIMBRA: UMA DÉCADA DE ANAQUIM “Nascidos e criados” em Coimbra, os Anaquim não são a típica banda que resultou de um grupo de amigos de longa data. No entanto, a junção dos cinco continua a fazer sentido. José Rebola, vocalista e compositor do grupo, partilhou a história da banda na véspera do concerto que celebrou os dez anos de existência - POR JOANA CAMPINHO, JÉNI LAGE E SOFIA RODRIGUES -
FOTOGRAFIA GENTILMENTE CEDIDA PELOS ANAQUIM
Antes de existirem os Anaquim, quem eram João Santiago, José Rebola, Pedro Ferreira, Filipe Ferreira e Luís Duarte? Anaquim não foi uma banda formada por cinco amigos de longa data. Partiu de algumas canções que estavam soltas e que decidi gravar. A única coisa que eu não tocava era bateria, então convidei o João Santiago para se juntar a mim. Convidei também o Luís Duarte que tem estado em todos os projetos musicais que fiz parte e falei com o Pedro e o Filipe que tinha conhecido há pouco tempo. Antes dos Anaquim tive uma banda de ‘psychobilly’. O Santiago tocava em bandas de ‘jazz’ e de ‘funk’ e o Filipe tinha uma empresa de material de som. O Pedro dava aulas de música e já tinha a ideia de ter um projeto mais ambicioso, que se tornou neste momento a Academia de Música de Coimbra, onde somos todos professores. Trazíamos uma bagagem musical já muito grande. Qual é a história por trás de Anaquim? O meu ‘nickname’ no MSN Messenger era Anakin Rebola, por causa da personagem da “Guerra das Estrelas”. Representa uma dualidade entre ‘light side’ e ‘dark side’. Pensei que era interessante transportar esse conceito para a banda, que se foca nas coisas mais positivas. De que forma é que representam esta dicotomia entre o bem e o mal que temos dentro de nós? Nós podemos tentar potenciar as nossas coisas positivas, mesmo que as coisas negativas façam parte. O melhor caminho é preocuparmo-nos com alguns defeitos da sociedade e tentar melhorar. A cidade de Coimbra marcou o vosso percurso? Todo. Nós somos os cinco de Coimbra. Esta cidade é uma espécie de caldeirão onde podemos encontrar pessoas de todo o país. Tenho as bandas de Coimbra como influência. Para além disto, trazemos a universidade, o Botânico, a Sereia e o que é ser caloiro.
Até conseguirem formar o vosso próprio estilo musical, quais eram as principais influências? A banda cresceu muito a partir de um estilo denominado ‘jazz’ cigano, inventado por “Django” Reinhardt, guitarrista que queria fazer ‘jazz’ americano, mas que sem os meios necessários apenas utilizou instrumentos de cordas. Juntámos também influências como Zeca Afonso, Sérgio Godinho e o humor de Carlos Paião, que se impõe nas letras e se mistura com o nosso estilo. Como foi o processo de desenvolvimento da vossa própria identidade? É um desenvolver que nós não percebemos porque é natural e gradual. É um crescimento que só as pessoas à nossa volta têm perceção. O público diz “isto é tão Anaquim” quando ouve um som nosso. Tentamos sempre não cair numa repetição, mas por mais que se tente fugir, seremos sempre as mesmas cinco pessoas a fazer a música. O vosso primeiro álbum, “A vida dos outros”, foi considerado um dos melhores dez álbuns nacionais em 2010 pelos leitores da revista Blitz. O que significou para si este reconhecimento por parte do público? O reconhecimento dos leitores é o reconhecimento do nosso propósito num mundo tão turbulento e conturbado: divertir os nossos ouvintes. Entre ter um álbum que seja o número um das críticas e ninguém gostar e ter o apreço do público, se calhar vamos para este último lado. Durante todo o vosso percurso, o que mudou? Nós crescemos. A malta casa, tem filhos e começa a ter mais ocupações. Quando se tem uma banda que não é a profissão exclusiva começa a ser cada vez mais difícil ter o tempo arrumado, mas teimamos em fazer música, mesmo que percamos horas de sono. A nossa relação ao longo dos dez anos não mudou.
Como é que os Anaquim se posicionam em relação ao mercado atual da música? Eu penso que os Anaquim têm o seu espaço e não são contra nenhum género musical. São contra, talvez, a distribuição da atenção que se dá aos mesmos. Acho bem que haja oportunidade para todos os estilos de música porque existem todos os tipos de público. Não queremos ser as maiores estrelas do nosso país. Queremos, sim, o nosso cantinho onde as pessoas possam conhecer a música que nós fazemos. E como é que caracterizam o vosso público? É um público atento que não se importa de despender atenção a uma banda que compõe letras longas e densas. Não é apenas nacional, mas ainda assim consegue perceber as nossas mensagens e a nossa forma de estar. Na Namíbia, lembro-me de uma miúda de 12 anos cujo primeiro concerto que viu foi o nosso. Não existiram os concertos de coliseu, mas sim um polvilhar destas pequenas coisas que para nós significam muito. E no futuro, o que podemos esperar? Nunca fomos de fazer grandes planos porque também não sabemos como é que as nossas vidas se vão ajustar nos próximos tempos, mas posso dizer-vos que estamos a trabalhar num quarto álbum. Temos mais músicas para mostrar no mesmo estilo e até num mais retro, a fugir para os anos 30 e 40, ou seja, uma época em que nenhum de nós viveu, o que é sempre interessante. Quer acrescentar alguma coisa? Posso acrescentar que tivemos a sorte de não nos enclausurar em nós mesmos e colaborar com outras pessoas ao longo do caminho. É um percurso que queremos continuar a fazer com colaborações que façam sentido, e não convidar apenas quem está a vender.
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SMC ESTENDE TEOLOGIA À CULTURA APÓS 250 ANOS DE TRADIÇÃO “Uma casa fechada é sempre uma casa mais pobre”. É com este espírito que o Seminário se quer abrir à cidade e o Salão de São Tomás é o ponto de partida - POR JOSÉ MIGUEL COUCEIRO, CATARINA MAGALHÃES E MARIA FRANCISCA ROMÃO -
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ercorrido o Jardim Botânico da cidade é possível encontrar o Seminário Maior de Coimbra (SMC). Passados os seus portões, descobre-se um dos seus segredos mais bem guardados: o Salão de São Tomás (SST), outrora a maior sala de espetáculos da cidade. Ao longo das décadas “teve várias finalidades”, sublinha o responsável pelos arquivos, o padre António Calisto. O SST começou por ser uma academia de estudos. As sessões plenárias não eram exclusivas dos seminaristas, “eram abertas a toda a sociedade”, refere o padre arquivista. Funcionou ainda como capela e, mais tarde, como salão de festas. Utilizado como salão de banquetes, por ser “a única sala com condições para acolher suas reais personalidades”, recebeu o casal real, D. Carlos e D. Amélia, no final do século XIX, como informa o padre António Calisto. O reitor do SMC, padre Nuno Santos, assinala que o “espaço tem sido dinamizado”. Nos dias de hoje é a “ponte” que une o Seminário à cidade de Coimbra. Através das suas iniciativas culturais, como os concertos no SST, prova que “tudo o que acontece no Seminário tenta aliar as duas dimensões: a cultural e a espiritual”. “Não é só estudar teologia” A prova dos esforços que têm sido feitos refletese nos protocolos já celebrados com a Orquestra de Sopros de Coimbra e com a Academia Internacional de Música Aquiles Delle Vigne. Acrescentam-se os protocolos em negociação com a Orquestra Clássica do Centro. O reitor defende que é necessário “trazer a música ao Seminário e devolvê-lo à cidade”. A partir do dia 12 de junho deste ano, passou a ser possível visitar o seu interior. Durante os 50 minutos da visita guiada são dados a conhecer o refeitório e a capela de São Miguel, que se acreditava conter as relíquias dos apóstolos. O roteiro continua com a visita
aos aposentos episcopais, que o próprio reitor desconhecia antes de assumir o cargo. Por fim, a biblioteca do Seminário, caracterizada pelo padre Nuno Santos como “muito rica em termos de património”. O cozinheiro Mário Fernandes, que está no SMC desde 2009, admite que a abertura cultural “se torna mais enriquecedora para o próprio Seminário e para a cidade”. O mesmo afirma que a ideia que tinha da casa era outra, entendia-a como um mosteiro. Porém, “todo o ritmo cá da casa é diferente”, argumenta Mário Fernandes. Cerca de 40 anos depois, o Seminário acolhe uma proposta de eucaristia dominical distinta. O reitor decidiu apostar numa “marca mais forte”, que é a de integrar as crianças na missa. Demarca ainda que o SMC dá espaço para múltiplas iniciativas ou projetos, desde que a essência do mesmo esteja salvaguardada. Acrescenta que “se se puder revelar a identidade com criatividade, deve ser feito”. A exposição de jóias e a visualização de filmes de realizadores internacionais são exemplos desta dinâmica. A responsável pelo museu do SMC também encontra a chave da mudança na criatividade. Os grandes artistas não se devem perder no tempo O museu de Nunes Pereira, parte integrante do Seminário de Coimbra, pretende acompanhar a dinamização de toda a instituição. A responsável pelo museu, Cidália Santos, reitera que o “objetivo é mantê-lo o máximo de tempo aberto”. A visita, no entanto, tem de ser marcada. A estratégia passa pela divulgação quer do museu, quer da figura de Nunes Pereira. Apela a que se “deixe o espaço falar por si e a que todos se envolvam”. Monsenhor Nunes Pereira foi um antigo seminarista que se tornou conhecido pela sua obra artística e pelo seu trabalho como diretor do jornal diocesano Correio de Coimbra. A sua notoriedade ultrapassou
fronteiras, o que o “tornou uma pessoa muito conhecida em termos internacionais”, acrescenta Cidália Santos. O museu, antiga oficina do monsenhor, tem expostas inúmeras obras de xilogravura, uma técnica de desenho em madeira de origem chinesa, especialidade do mesmo. O objetivo é fazê-lo renascer no conhecimento do público. Segundo a responsável pelo museu, “os grandes artistas devem ser conhecidos e não perdidos no tempo”. 250 anos de História O SMC foi um projeto idealizado pelo bispo D. Miguelda Anunciação, iniciado no ano de 1748. Desde a sua construção que se assume, nas palavras do seu reitor, como um marco “fora do comum”. Destaca-se como um exemplar de arquitetura italiana em Coimbra e em Portugal. Os próprios materiais foram, na sua maioria, importados de Itália. Inclusive, o primeiro reitor do Seminário era de nacionalidade italiana. “O edifício tem espaços muito inesperados”, acentua o padre Nuno Santos. É constituído por três edifícios: a Casa Velha, que corresponde ao edifício central do Seminário, a Casa Nova e a Casa Novíssima. O SST situa-se na Casa Novíssima, a última das três a ser construída. Ambas se tentaram manter fiéis à inspiração italiana. O objetivo do Seminário passa, agora, por ter um programa cultural definido. A equipa que trabalha neste sentido é constituída por: “um arquiteto, uma ‘designer’, um gestor, um médico que também é músico, um professor universitário próximo da literatura e do teatro e por uma pessoa ligada ao turismo e à internacionalização”, explica o reitor. Aquele que é um espaço nascido dentro da própria religião deixa-se contaminar por outras artes, pois “uma casa fechada é sempre uma casa mais pobre” assinala o reitor do seminário. JOANA PEDRO
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FUNDO NORTE-AMERICANO APOSTA NA INVESTIGAÇÃO DA DOENÇA DE MACHADO-JOSEPH NA UC Terapias dividem-se em três componentes “ fundamentais”. Neuropatologia com “prevalência elevada” em certas regiões de Portugal - POR MIGUEL MESQUITA MONTES E PEDRO EMAUZ SILVA -
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esde o doutoramento que o professor da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra e investigador no Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) Luís Pereira de Almeida se interessou por “doenças do cérebro e estratégias de base molecular para as tratar”, confessa o próprio. Enquanto se encontrava a estudar em Lausanne, na Suíça, começou a trabalhar na área das doenças neurológicas. Ao regressar a Portugal, chegou à conclusão de que pretendia especializar-se numa outra neuropatologia, “com maior relevância no território português”, esclarece. A patologia à qual Luís Pereira de Almeida acabou por dedicar o seu estudo está inserida num grupo de nove doenças neurológicas semelhantes. Todas elas são causadas por uma mutação genética, mas a doença de Machado-Joseph “leva a uma degeneração de determinadas regiões do cérebro, em particular do cerebelo”, explica o professor. Este refere que “isso vai refletir-se numa perda da capacidade de coordenação motora”. O
investigador continua ao explicar que “os doentes começam a ter dificuldades em articular a voz, deglutir e controlar muitos dos movimentos voluntários”, controlados pela parte cerebral em questão. “A única forma que existe para tratar esta neuropatologia é através de terapias para aliviar os sintomas”, elucida. No entanto, o professor alerta que as mesmas não interrompem nem atrasam a progressão da doença. “Também se verifica uma tendência para a antecipação do seu aparecimento na evolução geracional, sobretudo quando a transmissão vem da linha paterna”, clarifica. “Perceber a doença e desenvolver terapias que possam depois ser utilizadas nas clínicas é o principal objetivo da investigação”, aponta Luís Pereira de Almeida. “Têm sido desenvolvidas três linhas fundamentais”, afirma. Uma das correntes surge no nível das alterações da ativação do mecanismo de limpeza das células, denominada autofagia. Ou tra está ligada às células estaminais, utilizadas na substituição dos circuitos neuronais perdidos. A
última explicada pelo investigador incide sobre a terapia genética, na qual se silencia o gene mutado. O professor conta que, há uns anos, esteve no Instituto de Massachusetts, nos Estados Unidos da América em licença sabática onde deu uma conferência sobre a doença e a investigação em desenvolvimento no CNC. “Um antigo aluno, que sofria da própria patologia neurológica, recebeu informação sobre a conferência e mostrou-se interessado em apoiar a investigação”, indica o professor, que acrescenta que esse mesmo aluno, o engenheiro Richard Chin, começou a financiá-la, de forma sistemática, durante cinco anos. “O engenheiro teve um acidente há um mês e meio, relacionado com a doença, e acabou por falecer”, revela Luís Pereira de Almeida. Mesmo assim, a sua família entendeu manter o apoio à investigação, gesto que o professor identifica como “uma grande honra, mas também uma enorme respon sabilidade”. Conclui que “este financiamento tem uma importância superior ao valor que compromete”.
PLANTAÇÃO DE EUCALIPTOS PROVOCA RISCO DE REDUÇÃO DA BIODIVERSIDADE Presença de substâncias químicas na espécie prejudica desenvolvimento de outras plantas. Investigação alerta que normal funcionamento do ecossistema pode ser afetado. - POR MADALENA PORTUGAL E MÓNICA REGO -
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ucaliptais, plantações muito comuns em Portugal, provocam a redução da biodiversidade. Foi este o desfecho de um estudo internacional no qual o investigador Daniel Montesinos da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra participou. Tal facto assume particular importância, dado a elevada quantidade de monoculturas da espécie arbórea, ou seja, a plantação única da espécie em cultivos florestais. Uma espécie perigosa As substâncias químicas produzidas pelas fo lhas da espécie Eucalyptus globulus são “nocivas ao desenvolvimento de outras espécies que coabitam o mesmo terreno”, confirma Daniel Montesinos. Estas árvores, que representam 90 por cento dos eucaliptos portugueses, afetam todo o ecossistema circundante. “A erosão dos solos e a preservação da biodiversidade” são dois fatores que também sofrem consequências com a plantação da espécie, acrescenta. Na sua área nativa, Austrália, os eucaliptos têm “evoluído com outras espécies, o que lhes permitiu desenvolver mecanismos de tolerância a estes vene nos químicos”, explicita o membro do Centro de Ecologia Funcional. Já as plantas europeias, por não terem estado em contacto durante a sua evolução com estas substâncias, “acabam por não resistir”, clarifica.
HUGO GUÍMARO
De acordo com Daniel Montesinos, o território português é constituído por cerca de 35 por cento de área florestal. Dessa ocupação, 25 por cento corresponde a monoculturas de eucaliptos, o que leva o investigador a afirmar que “o resultado é a diminuição da biodiversidade”. Negócio de interesses O doutorado em Ecologia Evolutiva das Plantas opina que os eucaliptais devem “ser reduzidos com o passar dos anos”, o que ainda não aconteceu devido a “interesses políticos e económicos específicos”. Os fogos florestais ocorridos este verão, tema debatido na opinião pública, podem vir a potenciar uma “alte ração na gestão governamental dos eucaliptos”, refere. A espécie arbórea, alvo de investigação internacional, possui “óleos essenciais que a tornam inflamável, tal como o pinheiro”, refere Daniel Montesinos. Segundo o mesmo, o problema re ferente aos eucaliptos “reside no facto de estarem plantados em superfícies contínuas, o que provoca uma rápida disseminação de incêndios”. O estudo foi publicado na revista “Global Ecology and Biogeography” e envolveu investigadores da Austrália, Chile, EUA e Índia. Daniel Montesinos mostra-se convicto em relação às conclusões retiradas e espera que venham a ter impacto nas políticas públicas.
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ANSIEDADE E DEPRESSÃO: DO PROBLEMA AO DIAGNÓSTICO Psicopatologias limitam a vida dos seus portadores. Consciência do problema é o primeiro passo para o tratamento. - POR ANA LAGE, GABRIELA MOORE, ANA SOFIA NETO E FILIPA VIEIRA -
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unânime entre os psicólogos que a ansiedade e a depressão são patologias e que não devem ser subestimadas. Ambas causam muito transtorno e, em situações extremas, se ignoradas, podem culminar em tentativas de suicídio. Estas e outras doenças estão catalogadas no Ma nual de Diagnóstico e Estatísticas dos Transtornos Mentais, livro que é referência mundial nas áreas da psiquiatria e da psicologia. Através deste, percebe-se o quão sérios são os assuntos associados ao foro psicológico e perceciona-se a importância da intervenção médica para sua superação. Ansiedade: mecanismo de defesa ou doença? Ao contrário do senso comum, todas as pessoas sentem ansiedade, mas nem todas sofrem da mesma. Segundo Ana Paula Relvas, professora catedrática da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC), ela é uma resposta natural do indivíduo a uma situação desconhecida ou desconfortável. Frente a desafios, é normal ter receio de falhar, pois é um mecanismo de defesa. No entanto, quando os níveis de ansiedade atingem picos mais elevados e com maior frequência, de forma prolongada, esta torna-se um problema. Ao sentir a incapacidade de enfrentar uma determinada situação, o indivíduo prefere afastar-se dela, o que não é saudável. O agravamento deste quadro pode levar o indivíduo a desenvolver fobias e a sofrer ataques de pânico, que consistem em taquicardia, dificuldade em respirar e transpiração excessiva. Nestes casos mais sérios, costuma utilizar-se medicação, o que não exclui a necessidade de uma “aprendizagem para se saber como lidar com os fatores e reações relacionados com a ansiedade”, explica o psicólogo António Couto. Uma das técnicas utilizadas pelo psicólogo com os seus pacientes é a instalação de uma “âncora”. Esta funciona como uma segurança em momentos adversos através de uma estratégia simples e eficaz. Consiste em aproveitar um comportamento automático, como um tique que o paciente já
manifeste nas situações de ‘stress’, e associá-lo, As manifestações menos óbvias podem ser idendurante um estado de hipnose, a algo tranqui tificadas como algo normal ou não serem identificalizante, o que vai ajudar o doente a acalmar-se. das de todo. A professora da FPCEUC sublinha que é essencial estar atento ao isolamento, quer no seio Origem, acompanhamento e diagnóstico da de- familiar, quer no escolar. No entanto, no caso dos pressão adolescentes, este pode ser interpretado como um A ansiedade pode conduzir ao isolamento e a simples fator de desenvolvimento típico da idade, uma visão “negra e sombria” da realidade, de acor- o que dificulta a percepção de problemas maiores. do com a docente da FPCEUC. Em certos casos, pode levar a um quadro depressivo. A Organi- Panorama universitário zação Mundial de Saúde estabelece nove manifesNão é raro acontecerem casos de suicídio no tações, das quais são necessárias cinco, presentes meio académico. Contudo, ao contrário do que se em simultâneo, num período superior a duas se imagina, a sobrecarga escolar não é o único fator manas, para que seja diagnosticada uma depressão. que leva os jovens às situações extremas. Há alunos O desenvolvimento da patologia deve-se a um que lidam melhor com a exigência do que outros, vasto leque de fatores biológicos e do meio, pelo o que justifica a afirmação de António Couto de que não se pode atribuir-lhe uma causa única. que a pressão pelas boas notas é apenas mais uma É possível associá-la a momentos traumáticos, a das muitas razões que leva os estudantes ao limite. doenças, fins de relacionamentos ou perdas de No caso específico dos estudantes que se despessoas próximas e animais de estimação, como locam para uma cidade ou país diferente, como exemplifica a psicóloga Mariana Pereira. De modo é o exemplo da grande maioria dos que chegam a a complementar esta ideia, António Couto afirma Coimbra, o esgotamento pode ser ainda mais proque, apesar de alguns casos não terem razão apa fundo. Uma vez que se veem longe da sua zona rente, a maior parte dos quadros depressivos têm de conforto, Ana Paula Relvas lembra que escausas enraizadas em acontecimentos passados. tes têm que reestruturar toda sua base de apoio. O tratamento, em geral constituído pela necessária administração de fármacos denominados antide- Saber quando intervir pressivos, pode causar uma dependência face aos Segundo António Couto, a maioria dos estumesmos. De acordo com Ana Paula Relvas, isto leva a dantes que lhe chegam não o fazem de forma vo crer, de forma errada, tratar-se de uma doença crónica. luntária. Quase sempre, os primeiros a perceberem É possível que o atraso no diagnóstico da de- que há algo errado são os pais, que então encami pressão leve a um agravamento do estado psíquico nham os filhos ao psicólogo. É apenas durante a do indivíduo, que pode culminar, segundo Antó- consulta que estes entendem que sua situação não nio Couto, no suicídio. Este é muitas vezes im- é normal e que precisam de ajuda. Isto demons previsível. Acrescenta que o tratamento “depende tra a importância de as pessoas ao redor saberem muito do trabalho mental de cada um dos pro- identificar o problema e como agir perante ele. cessos e de como a pessoa lida com as diversas Este assunto não deve ser tratado de ânimo leve situações”. Para os familiares, torna-se complica- e, segundo os três psicólogos, não pode ser visdo perceber o que acontece dentro da mente do to como uma fraqueza. Por serem casos de saúde doente. O psicólogo acredita ser preciso reestru- mental, estes carecem de atenção e acompanhaturar determinados recursos internos que passam mento adequado de profissionais especializados. pela confiança, autoestima e valorização pessoal. ANA RITA TELES
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NATAL E FIM DE ANO ILUMINAM A BAIXA DE COIMBRA As atividades estão abertas a toda a população. As festividades constituídas por 115 espetáculos decorrem em várias ruas da cidade
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om o intuito de proporcionar um Natal diferente, nesta 5ª edição, a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) apostou num programa musical diversificado, que se prolonga até ao final do ano. HMB, Karetus e Peste & Sida são algumas das bandas nacionais que vão marcar presença em ruas como o Largo da Portagem e a Praça do Comércio, na última noite de 2017. Entre 25 de novembro e 8 de janeiro, comemora-se na cidade de Coimbra, através de várias atividades culturais, a época natalícia. Uma das grandes novidades prende-se com a extensão da iluminação para a outra margem do rio Mondego, que vai manter-se ligada até ao dia 6 de janeiro. A vereadora da cultura da Câmara Municipal de Coimbra, Carina Gomes, explica que a CMC “pretende fomentar e estimular o espírito de pertença dos munícipes ao valorizar a Baixa de Coimbra, o coração da cidade’’. A Associação para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC) organizou um cartaz de Natal, com vista a promover e a atrair pessoas à Baixa da cidade. Pinturas faciais, espetáculos de música ao vivo, balões, a visita do Pai Natal e Mascotes são algumas das animações que vão estar no Centro Histórico. “Os comerciantes, de uma forma geral, estão satisfeitos com a animação de rua que APBC propôs”, destaca Vítor Marques, presidente da APBC.
- POR LILIANA ALBERGARIA E CÁTIA BARBOSA -
As festas gastronómicas também constam no programa de Natal com a 2ª edição da “Festa do Galo”. Inovação e criatividade são características que estimulam os cerca de 40 restaurantes a confeccionar os pratos com galo, galinha e frango. “É uma semana em que se pretende aliar a gastronomia às compras”, refere Vítor Marques. Na perspetiva do Presidente da APBC, o Centro Histórico e a Baixa sofrem de alguma sazonalidade e “este tipo de iniciativas podem ajudar e motivar os próprios comerciantes”. José Madeira Caetano, delegado da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), admite que esse objetivo está a ser bem-sucedido e que “a baixa já está a mudar”, realçando que “a APBC tem feito um trabalho fantástico”. A menos de um mês para a passagem de ano,
as pessoas garantem os seus lugares nos hotéis da cidade. “Com as novas tecnologias, as pessoas reservam com antecedência”, afirma o Delegado da AHRESP. Contudo, há quem opte por celebrar a passagem para o novo ano num ambiente mais acolhedor, como é o caso do Salão Brazil. Segundo José Miguel Pereira, representante do Salão Brazil, “as características únicas” da sala e a “tradição” são fatores que levam as pessoas a escolher este local. Carina Gomes, vereadora da Cultura da CMC conclui que “é um investimento num evento de referência que já provou em edições anteriores fortalecer não só a projeção da cidade, assim como o posicionamento e notoriedade de Coimbra, para estimular a economia”. RAQUEL MEDEIROS
EXCLUSÃO DE DOENTES MENTAIS AGRAVA-SE COM O ENCERRAMENTO DAS INSTITUIÇÕES PSIQUIÁTRICAS
Fim da institucionalização causa problemas de integração que se refletem na comunidade. Dificuldades associadas à saúde mental manifestam-se cada vez mais cedo ILUSTRAÇÃO POR ANA FRANCISCA NUNES
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a Zona Centro, há oito anos, encerraram duas das mais importantes unidades hospitalares psiquiátricas do país, o Centro Psiquiátrico de Recuperação de Arnes e o Hospital do Lorvão. Ambos mantinham em regime de internamento, vários indivíduos com doença mental. O fim da institucionalização aconteceu devido “à nova filosofia do entendimento sobre a saúde mental”, explica a presidente da Associação de Pais e Amigos do Cidadão com Deficiência Mental (APPACDM) de Coimbra Helena Albuquerque. Esta nova abordagem da área da psiquiatria tem o intuito de aproximar estas pessoas da sua família e da comunidade onde estão inseridas. No entanto, a presidente da APPACDM de Coimbra adverte que “isto é uma utopia” devido aos problemas de integração destes indivíduos e ao preconceito das comunidades que tratam estes in-
- POR MARINA FERREIRA E INÊS GAMA -
divíduos como “os tolinhos da terra”. Em Portugal é recorrente utilizar as designações deficiência e doença mental como sinónimos. No entanto, tal como explica Helena Albuquerque “há diferença entre ambas”. A mesma esclarece que a deficiência mental diz respeito a indivíduos com um baixo nível cognitivo, enquanto que no âmbito da doença mental não existe défice cognitivo, mas outros tipos de perturbações, como a esquizofrenia, a bipolaridade e a depressão. Muitas das patologias associadas à saúde mental, como a depressão, começam, nos dias de hoje, a manifestar-se cada vez mais cedo como informa Luís Borges, neuropediatra. A percentagem de crianças e jovens com problemas do foro mental tem aumentado de forma exponencial, uma vez que “ desde tenra idade estão sujeitas a um grande nível de ‘stress’”, alude Luís Borges. “A carga horária e a pressão exagerada que se incute nas crianças” são algumas das causas apontadas pelo especialista. O neuropediatra explica que muitos destes jovens pretendem entrar no mercado de trabalho ou ingressar no Ensino Superior e deparam-se com várias dificuldades na realização de um percurso idêntico a alguém que não tem deficiência ou doença mental. Na Universidade de Coimbra (UC) são mais fre-
quentes os casos de estudantes com patologias associadas à doença mental. A vice-reitora da UC para a ação social, Madalena Alarcão, afirma que existem “protocolos com os Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) e com os Serviços Médicos da Ação Social”. Através desta rede de contactos é possível os estudantes receberem um apoio especializado que permite também que tenham acesso ao estatuto de Estudante com Necessidades Educativas Especiais (NEE). A coordenadora do Gabinete de Apoio ao Estudante da Associação Académica de Coimbra, Joana Costa, salienta que “o papel da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra sempre que identifica um problema deste tipo é o encaminhamento do estudante para as entidades competentes”. Na hora de escolher um futuro profissional são vários os obstáculos que um indivíduo com doença mental enfrenta. Muitos empregadores rejeitam incluir nos quadros da empresa alguém que “não tem a mesma rentabilidade que um empregado comum”, explica Luís Borges. A solução apontada pelo especialista seria “o Estado criar resposta para estes problemas” através da obrigatoriedade “de tanto na função pública como a nível particular existir uma cota fixa para pessoas com necessidades especiais”.
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RISCO DE CHEIAS NO MONDEGO AUMENTA APÓS INCÊNDIOS Iniciativa distingue UC de outras universidades. DG/AAC também manifesta preocupação com comportamentos de risco durante a semana da Queima das Fitas - POR JOSÉ GOMES DUARTE, RAQUEL MEDEIROS, EDUARDA MENDES E ANA SANTOS -
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egundo o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), o ano de 2017 foi o pior em termos de área ardida da última década. Este ano, os incêndios florestais consumiram quase meio milhão de hectares. Só em Coimbra ardeu o equivalente a cerca de 114 mil hectares. Devido aos incêndios que ocorreram até 31 de outubro deste ano, pereceram mais de cem pessoas. Agora, após os incêndios florestais, o risco de cheias é eminente. A causa para os incêndios é complexa e diversa. Para o coordenador do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), Domingos Xavier Viegas, “é preciso mentalizar as pessoas para a importância da floresta”. No entendimento do especialista, “é preciso alertar as pessoas para usarem de modo adequado os espaços rurais, como por exemplo não fazer uso do fogo em dias que não se deve, ou mesmo fazer alguns trabalhos que possam implicar acidentes.” Para Fernanda Cravidão, professora de Geografia na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), “o Estado tem a responsabilidade de gerir o território”. Porém, refere que os cidadãos “que deixaram as suas terras abandonadas” por diversos motivos, “também devem ser responsabilizados”. Como explica a geógrafa, o risco de incêndios aumenta “em áreas com pouca densidade populacional, onde a população está mais empobrecida” e onde “as espécies vegetais estão muito próximas das habitações e das vias rodoviárias públicas”. A opinião da docente da Faculdade de Letras ta mbém é partilhada por Domingos Xavier Viegas, que considera “desejável uma maior limpeza para a redução de carga de combustível”. O perito defende que, através da “limpeza das casas, da vegetação em torno das habitações, da criação de
faixas de gestão combustível, para criar divisões entre a floresta” é possível ter o controlo sobre os incêndios florestais. O ministro da Agricultura, Florestas e do Desenvolvimento Rural, Capoulas Santos vai ao encontro das reivindicações dos especialistas e prevê a contratação de mais técnicos para a reflorestação dos territórios ardidos. O responsável considera fundamental que, no futuro, “plantar uma floresta tenha um conjunto de condicionantes técnicas”. Alterações climáticas como fator potencial dos incêndios florestais “O bioma mediterrânico onde Portugal se situa é ameaçado pelas alterações climáticas nos ciclos de temperatura e nos regimes de precipitação”, refere Helena Freitas, docente do Departamento de Ciências da Vida Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade de Coimbra. A investigadora vai mais longe e explica que vão existir “alterações significativas da temperatura, portanto vai haver um verão mais quente, secas maiores e um regime de precipitação menos previsível”. Acrescenta que “isto tem uma grande influência na Região Centro, já que esta tem uma floresta densa e desordenada, que é sensível à alteração da temperatura e da precipitação.” Domingos Xavier Viegas prevê como consequência das alterações climáticas um “período de incêndios mais alargado e épocas de seca mais frequentes e longas”. O docente da FCTUC reitera que “se não houver alguma mudança de atitude por parte das pessoas, é natural que os incêndios venham a aumentar”. As espécies florestais invasoras, como as acácias, também representam um perigo para a floresta da zona Centro do país. Por terem “propriedades que permitem a produção de sementes e o crescimento rápido”, prejudicam “as espécies
nativas, que têm um crescimento mais lento, e por sua vez perdem terreno para estas”, explica a docente da FCTUC. As cheias depois das chamas De acordo com Fernanda Cravidão, o risco para a ocorrência de cheias tende a aumentar depois dos incêndios florestais devastarem determinado local. No território onde existe área ardida, “se chover em grande quantidade, o risco de queda e deslizamento de terras aumenta, porque o solo não tem onde se fixar”, esclarece a docente. Na Região Centro, as cheias podem ser um problema devido “à bacia hidrográfica do Mondego e ao sistema de barragens que está indexado”, refere Fernanda Cravidão e acrescenta que “é um rio com caraterísticas torrenciais e as suas barragens estão cheias de materiais sólidos”. Os materiais acumulados ao longo dos anos diminuem a capacidade de armazenamento. É nesta ideia que Fernanda Cravidão afirma que “se a chuva cair em grandes quantidades em pouco tempo, a capacidade de transporte e de carga pode aumentar e levar mais materiais que o costume, caso os solos estejam à vista desarmada”. Na perspetiva da perita, “pode ser necessário a abertura das barragens para escoar a área que não tem capacidade de armazenamento”. Este fenómeno já aconteceu na cidade dos estudantes, em anos anteriores. No passado, a abertura da Barragem da Aguieira levou à subida rápida do leito do rio, o que causou uma inundação. Desde setembro que a Agência Portuguesa do Ambiente está a dragar as areias do rio Mondego entre a Ponte Rainha Santa e a Ponte Açude, de forma a minorar uma provável subida das águas e a invasão de zonas leito de cheia como o Parque Verde da cidade. Os especialistas e académicos são unânimes na urgência de encontrar soluções para os problemas. ANA SANTOS
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CINEMA Mais do que o coração - POR VASCO SAMPAIO -
120 batimentos por minuto De
Robin Campillo
Com
Nahuel Pérez Biscayart, Arnaud Valois, Adèle Haenel
2017
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aris, início dos anos 90. O grupo de jovens ativistas Act Up engendra campanhas para alertar a população francesa e prevenir o alastramento do vírus VIH. Para o efeito, monta-se um verdadeiro festival: com direito a sangue falso, apitos, panf letos, seringas, preservativos, ‘confetti’, cinzas, megafones ou até mesmo um camião cheio de amplificadores. Todas estas são ferramentas comuns em dias de campanha, e é esta injeção prematura de adrenalina e provocação que agarra o espetador à película desde o primeiro ‘frame’. Mas é por ir muito além das intenções do grupo de colorir o Sena de vermelho ou de pôr um preservativo gigante no Obelisco de Luxor que 120 Batimentos Por Minuto vale uma ida ao cinema. Este é, acima de tudo, um filme sobre o coração humano e
sobre a sua capacidade de adaptação (ou falta dela). A referência a este órgão começa no título da obra, mas ganha especial relevo quando o guião se foca em Nathan (Arnaud Valois), um jovem seronegativo que se junta ao grupo de ativistas, e na sua relação com Sean (Nahuel Pérez Biscayart), contaminado pelo vírus. Por entre demoradas negociações entre jovens, cenas eróticas sobrepostas e momentos de verdadeira introspeção, Robin Campillo mostra-se exímio a conferir f luidez a uma trama tão variada. Mas o realizador também exagera na exibição do seu estilo. A rápida alternância entre cenas demasiado curtas, a inclusão de diálogos desnecessários e a utilização de desenquadrados números musicais são especialmente estridentes quando Campillo
Legend of Zelda: Breath of the Wild
mostra como trabalha bem na simplicidade. Veja-se a segunda metade do filme, onde o sofrimento das personagens principais passa para primeiro plano e a intimidade e dor são tão impecavelmente captadas que a tremenda carga emocional da obra finalmente transparece. Aqui, muito se faz com duas personagens, um quarto de hospital e um par de frases simples: “Aquilo que me mata não é a doença. É o medo”. E para quem consegue fazer tanto com tão pouco, 60 batimentos por minuto seriam suficientes.
Razoável
JOGO
- POR ALEXANDRE SILVA -
Legend of Zelda: Breath of the Wild De
A
franquia The Legend of Zelda, remonta já ao longínquo ano de 1986 onde o primeiro jogo era lançado no Japão para a Famicon. Desde então vários títulos desta franquia vieram enriquecer a história do reino de Hyrule, todos eles protagonizados pelo eterno herói de barrete verde Link. O mais recente título, Legend of Zelda: Breath of the WIld, de Março do presente ano, arrecadou o galardão mais cobiçado da indústria dos videojogos, o Game of the Year Award. Apesar de ser um exclusivo Nintendo Switch, este jogo é uma muito necessária lufada de ar fresco para a franquia, que já não contava com um sucesso desta magnitude desde 2006 com o lançamento de Twilight Princess. Com gráficos de última geração mas não esquecendo o detalhe, é muito compensador explorar Hyrule e deleitarmo-nos com os ambientes que nos são apresentados. A jogabilidade é bastante boa, mantendo-se fiel ao que esta franquia já nos habituou, e uma vez que falamos de um JRPG, é claro que tem-
os muito equipamento e habilidades para descobrir, que têm aplicações específicas para cada fase do jogo. A história de Breath of the Wild, é extremamente imersiva, com bastantes side quests, que nos mantém agarrados ao ecrã por várias horas. E uma vez que falamos de ecrã é sempre importante realçar, que embora seja melhor apreciar este jogo num grande ecrã em 4K, a Nintendo Switch permite ao jogador levar o jogo para qualquer lado com o seu comando com ecrã portátil, que embora pequeno, têm ótima definição. Um jogo obrigatório para os fãs incondicionais da saga, e para todos os que possuem uma Nintendo Switch e merecedor do Título de jogo do ano.
A Cabra d’Ouro
Nintendo
Para
Nintendo Switch
Março de 2017
12 DE DEZEMBRO DE 2017 ARTES FEITAS - 13 -
MÚSICA
GUERRA DAS CABRAS A evitar Fraco Podia ser melhor
A longa espera por Sara Tavares
Razoável A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro
- POR FILIPE FURTADO -
O
Fitxadu De
Sara Tavares
Editora
Sony Music Entertainment
Ano 2017
Género
World Music
tempo musical é a essência. Poderíamos discorrer sobre a espartana simbiose entre músico, instrumento e o malvado metrónomo. Poderíamos iniciar discussões sobre as dificuldades de tocar a tempos rápidos ou de manter os lentos com leveza de mestre. O tempo musical é uma essência. Porém aqui não falaremos desse trabalho árduo enjaulado entre paredes e muros de compassos. Falamos, sim, da longa ausência da música de Sara Tavares que chega ao fim. “Fitxadu” é o quinto álbum da cantora Sara Tavares e o regresso aos trabalhos de estúdio, oito anos depois de lançar “Xinti”. Ouvimos este “fechar de ciclo” como a própria o define, como o nome do disco em criolo sugere. Se “Fechado” ou “Fitxadu” encerra um capítulo artístico, abre um outro tão magnífico. A música de Sara Tavares continua nessa certeza térrea que é Cabo-Verde, com bonitas letras em criolo e em português, mas dá um salto para a estratosfera com a sua estética electrónica. As colaborações com Manecas Costa, Nancy Vieira, Virgilio Varela, Princezito, Kalaf Epalanga ou Toty Sa’Med ganham outra verticalidade, apareça esta nova roupagem nos pequenos detalhes ou assumindo-se em toda a batida das faixas.
Num cenário mais aural aparece “Ter Peito e Espaço”, imagética sonora para construção de canções em jeito de oração. No outro extremo, escutamos até um remix do single “Coisas Bunitas,” digno das melhores pistas de dança por esse mundo fora. Destaque para “Brincar de Casamento” com o rico timbre de Toty Sa’Med, em trocas de versos e refrões; ou para o groove e funk do baixo em “Flutuar”, na companhia de Paulo Flores. O tempo musical é de essência máxima. Gostaríamos de ouvir Sara Tavares com discos bonitos todos os anos, mas se é fundamental espaço para encontrar os novos rumos, novas sonoridades, tempo para amadurecer nuances, trajectórias, cenários e grooves, valeu a pena a espera destes longos oito anos.
A Cabra aconselha
LIVRO Da História que não se pode apagar - POR PAULO SÉRGIO SANTOS -
J
oão Pinto Coelho escreve no epílogo, nas últimas páginas de “Perguntem a Sarah Gross”, que não falta muito para que se deixe de ouvir falar de Auschwitz na primeira pessoa. No fundo, que haja o perigo de uma das páginas mais negras da existência da humanidade cair no esquecimento, substituída por uma tendência perigosa, similar às atuais ‘fake news, o negacionismo do Holocausto – que desmente a política nazi de extermínio do povo judeu, a morte de mais de seis milhões de pessoas, a prática de genocídio nos campos de concentração. O primeiro livro do autor português, nascido em Londres, é por essa precisa razão um exercício imprescindível de memória futura, ainda que se insira no campo da ficção histórica. A obra, dada à estampa em 2015, foi finalista do prémio LeYa no ano anterior, tendo sido escolhida para publicação por Maria do Rosário Pedreira, e segue uma fórmula recorrente nos últimos tempos literários, a de dividir a ação entre dois tempos. Assim, o leitor começa por conhecer um pouco da América dos anos 1960, pela figura de Kimberly Parker, uma jovem professora que é contratada por um colégio privado, dirigido por Sarah Gross, para ir transi-
tando com as décadas de 1920, 1930 e 1940, com a família da diretora. É aqui, na exploração de Auschwitz antes de o ser, e numa descrição fotográfica de Cracóvia e dos seus guetos na II Guerra Mundial, que o brilhantismo de João Pinto Coelho sobressai. A fluidez e a pungência das palavras e a contextualização dolorosa tornam-se o ponto alto (“Sair com vida de Auschwitz não é o fim de nada. Acho que só se sobrevive aos campos na hora em que se morre.” [pág. 432]), por oposição à trama pouco desenvolvida e demasiado secundarizada de Kimberly, porventura o menos conseguido da obra. Não é fácil criticar um livro em dois mil caracteres. Mais difícil se torna fazê-lo se em causa está um tema excessivamente sombrio. “Perguntem a Sarah Gross” é um belíssimo romance de estreia do autor, onde o seu potencial, comprovado com o prémio LeYa de 2017, ficou patente.
A Cabra aconselha
Perguntem a Sarah Gross De
João Pinto Coelho
Editora
Dom Quixote
2015
12 DE DEZEMBRO DE 2017 SOLTAS - 14 -
AS PERIPÉCIAS DO PANDA - POR SECÇÃO DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -
FOTOGRAFIA POR PAULO ABRANTES - SECÇÃO DE FOTOGRAFIA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA
P
ara os mais distraídos, a mascote oficial da SDDH/AAC é o panda. Porquê? “Porque é branco, preto, asiático…” converge nele uma panóplia de características tão diferentes que habitam em harmonia! E proporciona uma memória mais criativa e duradoura junto dos estudantes em tempo de festa: é tempo de tirar foto com o panda! Este que é já o segundo e não nutre um especial carinho por karaoke: só vai à rua em eventos oficiais da SDDH/AAC. Que eventos, perguntam. Ao longo do ano são dois os mais visíveis: a Latada e a Queima das Fitas. Nos meses de Outubro e Maio, podem contar com o panda para animar as vossas noites.
O panda que é sem género e sem nome, é vestido pelos sócios que asseguram a banca onde qualquer pessoa pode “beber” sobre direitos humanos e aprender com o bem, sobre como derrotar o mal (violações dos direitos humanos). E como qualquer super-herói, o panda encontra todos os anos um arqui-inimigo difícil de erradicar. Adam Smith chamar-lhe-ia de “mão invisível”. Em brincadeira chamam-lhe mão marota. Mas o panda chama-lhe pelo nome: assédio. O panda existe pelos sócios que o envergam, estes (que com ele) não têm face, mas apenas uma missão. E no seu cumprimento, há sempre uma mão, um abraço inusitado à procura de um género. Mas afinal quem está ali em baixo? Um rapaz? Uma rapariga? Um apalpão ali, um empurrão acolá, em prol de
uma curiosidade embriagada que satisfeita, apaga a gravidade dos atos. Sem contar com as pancadas na cabeça, desta feita sem bengala. Porque o panda é um eterno finalista na Universidade e na Associação: só sairá quando todos souberem os que são, para que servem, e como se defendem os direitos humanos! As chamadas de atenção ora caem em ouvidos surdos, ora assustam aqueles que, repentinamente sóbrios, soluçam um “desculpa” envergonhado: “Não era minha intenção. Era só uma brincadeira…”. A Queima vem caminhando, e o panda vai fazer o verdadeiro trabalho de educação para os direitos humanos! E aproveita para deixar a mensagem: “Assédio não!”
12 DE DEZEMBRO DE 2017 SOLTAS - 15 -
CANTIGAS DE MÉ-MÉ - POR CABRA TROVADORA -
As Aventuras de Camões na AAC Descalça vai para a fonte A DG pela verdura Vai fermosa, mas não segura. Leva na cabeça o pote, O tacho nas mãos de prata Em busca de financiamento Para pagar a quem falta.
Estavas, linda AAC, posta em sossego, De teus 130 anos colhendo doce fruto, Naquele engano da Queima ledo e cego Que a dívida não deixa durar muito. Nos inundados campos do Mondego, De teus esbugalhados olhos nunca enxutos, Aos dirigentes ensinando e às queridinhas O tacho em que sem jeito até cozinhas.
OBITUÁRIO - POR CABRA COVEIRA -
2052: UMA ODISSEIA NA AAC
O
ano é 2052. Volvidos 35 anos da transferência do edifício-sede da AAC para as mãos da Direção-Geral, o cenário é apocalíptico. Os elevadores que foram instalados deixaram de funcionar devido ao excesso de peso das dívidas. O chão já não existe, andamos de ‘hoverboard’. Só as vigas restam. Sanitas e urinóis estiveram entupidos tanto tempo que agora são apenas buracos no chão. O cheiro é pérfido e nauseabundo. Existe apenas uma mega-secção: a DireçãoGeral. Contudo, e como tudo na vida, há coisas que nunca mudam. Desde 2016 que a Queima não paga e o Dux Veteranorum ainda permanece o mesmo.
AMARELAS QUE DEUS TEM
E
ste ano, os Reis Magos seguem uma estrela diferente - a dos SASUC. Conta a profecia que, em tempos de inverno, há de surgir um local acolhedor para cear. No entanto, a ementa é diferente do que se pode esperar. No lugar do bacalhau natalício só há tijolos e argamassa. Em vez do peru recheado há betoneiras silenciosas. Aqui, o único desejo das passas é que a obra acabe. Por mais ouro, incenso ou mirra que os Reis tragam, as cantinas amarelas são apenas uma miragem no deserto. Além de amarelas, estão bastante verdes. Parece que não vai ser este ano que as cantinas salvadoras vão dar o ar de sua graça.
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EDITORIAL - POR CARLOS ALMEIDA -
A emancipação de uma jovem centenária
A
gerência da sede da Associação Académica de Coimbra (AAC) está em vias de passar das mãos da Reitoria da Universidade de Coimbra para as da Direção-Geral da AAC. Explora-se um terreno já batido anteriormente: a requalificação do edifício. Assegura o reitor que o financiamento vai continuar. É então necessário organizar as prioridades. É também já sabido que o edifício tem problemas estruturais e organizacionais. Alguns exemplos são a gestão dos espaços das secções. É tema debatido a inclusão de secções desportivas no espaço do edifício e a manutenção da rede elétrica que muitas vezes falha. Também as inundações nas casas de banho e a negligência relativa a estas. A falta de controlo no acesso ao edifício e o seu uso impróprio trazem transtornos a quem por bem o quer frequentar, mas prinicipalmente aos funcionários que limpam os espaços. No entanto, o essencial é a questão da dívida. A gestão irregular dos dinheiros é o maior problema e a saga da falta de pagamentos às secções pela Queima das Fitas ainda não acabou. Ainda pouco se vê ou se fala desta questão. Uma AAC com 130 anos pode vir a ter a sede em suas mãos – uma jovem adulta e independente por final. Esperamos que este início de vida lhe corra bem, que trate da sua saúde, que saiba arrumar a casa, quiçá não esbanje dinheiro, mas também que não deixe de comprar os bens de primeira necessidade. No fundo, que seja feliz.
“
No entanto, o essencial é a questão da dívida. A gestão irregular dos dinheiros é o maior problema e a saga da falta de pagamentos às secções pela Queima das Fitas ainda não acabou”.
Ficha Técnica
Diretor Carlos Almeida
Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA Depósito Legal nº183245702 Registo ICS nº116759 Propriedade Associação Académica de Coimbra
Editores Executivos Ana Francisca Nunes e Pedro Dinis Silva Equipa Editorial Luís Almeida e Pedro Dinis Silva (Ensino Superior), Joana Pedro (Cultura), Margarida Mota (Desporto), Ana Francisca Nunes (Ciência & Tecnologia), Daniela Pinto e Isabel Simões (Cidade), Hugo Guímaro (Fotografia) Colaboraram nesta edição Liliana Albergaria, Vittorio Alves, Cátia Barbosa, Joana Campinho, Nino Cirenza, José Miguel Couceiro, José Gomes Duarte, Maria Fernandes, Marina Ferreira, Inês Gama, Jéssica Gonçalves, Bernardo Almeida Henriques, Ana Lage, Jéni Lage, Melissa Machado, Francisco Madaíl, Catarina Magalhães, Margarida Maneta, Raquel Medeiros, Eduarda Mendes, Miguel Mesquita Montes, Gabriela Moore, Ana Sofia Neto, Daniel Pascoal, Madalena Portugal, Mónica Rego, Sofia Rodrigues, Maria Francisca Romão, Ana Rua, Ana Santos, Micaela Santos, Samuel Santos, Pedro Emauz Silva, Ana Rita Teles, Filipa Vieira
JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA
Colaboradores Permanentes Inês Duarte, Rita Flores, Filipe Furtado, João Pimentel, João Ruivo, Vasco Sampaio, Paulo Sérgio Santos Paginação Luís Almeida, Ana Francisca Nunes, Pedro Dinis Silva Fotografia Maria Fernandes, Hugo Guímaro, Raquel Medeiros, Joana Pedro, Ana Santos, Ana Rita Teles Ilustração Ana Francisca Nunes
Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A. Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: fig@fig.pt Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra Tiragem 2000 exemplares