Edição 309 Jornal Univesritário de Coimbra - A CABRA

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EDIÇÃO ESPECIAL

Finda o verão e a Coimbra do Amanhã envolve-se nas suas vestes outonais. As baladas de um novo começo que insistem em não calar ganham vida nestas páginas

27 DE SETEMBRO DE 2022 ANO XXXI Nº 309 GRATUITO PERIÓDICO DIRETORA JOANA CARVALHO
SOFIA RAMOS ARQUIVO SJ/AAC

Coimbra, o lar do movimento estudantil português

“ Para se fazer uma omelete não são apenas precisos ovos partidos, mas também alguém “oprimido” para os par tir: presume-se que todos os revolucioná rios entendam isso”, escreveu a autora norte-americana Joan Didion no ensaio “O Movimento das Mulheres”. A comunidade universitária, constituída na sua grande maioria por jovens adultos, verifica-se como palco de voz das novas gerações. Os alunos da Universidade de Coimbra (UC) eram e são ligados com frequência às mais marcantes demonstrações de mobilização estudantil. Coimbra é um exemplo de que bra de silêncios e de manifestações em reação a algumas das normas impostas na história da instituição.

Contexto histórico-social das gerações de mudança

Para compreender a mobilização dos es tudantes em Coimbra é essencial olhar para as revoluções passadas. O primeiro movi mento de revolta registado aconteceu com os batalhões anti-miguelistas académicos, por volta de 1828. Mais tarde, chegou a designada Sociedade do Raio, ou Geração de 70, constituída por nomes como Eça de Queirós e Antero de Quental, que em 1862 levou à demissão do Reitor, com o abando no da Sala dos Capelos durante a abertura solene do ano letivo.

Desta forma, como resposta à neces sidade do associativismo estudantil, em

1887 fundou-se a Associação Académi ca de Coimbra (AAC). Contudo, uma das mais significativas mobilizações estudan tis foi a greve académica de 1907. A re volução rompeu com a reprovação do alu no, que dedicou o seu trabalho a Teófilo Braga, José Eugénio Dias Ferreira (filho do antigo político João Dias Ferreira) aos exames do grau de doutor em Direito. O movimento dispersou-se por toda a aca demia e alguns dos estudantes que faziam parte da sua organização foram expulsos, o que originou uma revolta de dimensão nacional. Mais tarde, em oposição à políti ca educativa imposta pelo Estado Novo, deu-se a “crise de 69”, um momento con siderado emblemático na história da UC e de Coimbra. Na atualidade, veem-se na cidade mais ativistas independentes, cujo os focos incluem lutas contra o pagamento de propinas, desigualdades sociais ou al terações climáticas.

O ativismo “não passa apenas pelo exigir, mas também pelo partilhar”

Um exemplo de órgão ativista na cidade é o projeto GENDERAACtive. “Gender porque o impacto feito é sobre igualdade de género, active por optar por muito di

namismo e ação, e a menção à AAC para a aproximação com a comunidade académi ca e as estruturas da casa”, explica a coor denadora, Daniela Sofia Neto. Ao longo da sua dissertação de mestrado, a estudante apercebeu-se de que vários jovens não ti nham conhecimento das campanhas de sensibilização das problemáticas de géne ro. Agora, como estudante de doutoramen to, continua defensora da mesma temáti ca, e, desta forma, fez a sua proposta à Académica Start UC.

A coordenadora concluiu que “certas personalidades acabam por não serem fala das”, por isso um dos objetivos do projeto passou por dar visibilidade aos caráteres que se mantiveram nas sombras da divul gação. Daniela Sofia Neto mencionou a rubrica “Mulheres na Ciência”, onde pre tende dar a conhecer o trabalho de algu mas investigadoras da UC. Admite ainda que “gostaria de explorar o trabalho de in vestigadores ao nível dos estudos de géne ro, pois seria o colmatar das lacunas”. Para além disso, acredita que um dos próximos passos para o ativismo está em “discutir de que forma se pode chegar às pesssoas”.

Outra iniciativa, já conhecida na cidade, é a Plataforma Anti Transfobia e Homo

- POR CLARA NETO - CLARA NETO
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Comunidade académica continua em união para defender causas sociais. “Uma geração como a nossa só podia ter uma atitude - a de permanente rebelião” (Eça de Queirós, 1896)

fobia (PATH), que surgiu da necessidade de organizar a marcha anual em defesa da causa intitulada pela associação. O proje to envolve “um grupo de pessoas que se juntou para o mesmo propósito”, esclarece Luísa Freitas, membro do coletivo. Expli ca também que “por o evento acarretar al guns custos, são também organizadas fes tas de angariação de fundos - as “Fora do Armário”, um dos fatores de mudança so cial para a comunidade LGBTQIA+ de Co imbra”. Skye Espadinha, em conjunto par ticipante do movimento, assenta que “as iniciativas no meio académico já descons truíram muito, no entanto, ainda têm um longo caminho pela frente”. Acredita na existência de uma “forte desinformação, a qual só se combate através da educação”. Acrescenta ainda que “o ativismo, tal como estudar, é o enriquecer do conhecimento e da capacidade de transmiti-lo a outros, e, para além disso, não passa apenas pelo exigir, mas também pelo partilhar”.

“No meio de tal Uni versidade, geração como a nossa só podia ter uma atitude - a de permanente rebelião. Com efeito, em quatro anos, fizemos, se bem me recordo, três revoluções, com (...) as imagens dos reitores queimadas entre danças selváticas. A Universidade era, com efeito, uma grande es cola da revolução: pela experiência da sua tirania aprenderíamos a detestar todos os tiranos, a irmanar com todos os escravos” (Eça de Queirós, 1896).

“A universidade deve apostar na for mação interna dos docentes”

Outro movimento, já de nome interna cional, é o HerforShe (ele por ela). “Como o nome indica, o objetivo é conscienciali zar os homens e formar os novos meninos a ligarem-se à luta feminista, sempre na perspetiva de que é uma luta de todos e para todos”, explica Joana Claro, estudante e coordenadora geral do projeto. A inicia tiva, criada pela Organização das Nações Unidas em 2014, difundiu-se por todo o

mundo, com a existência de núcleos em vários países, “como é o caso de Portugal, da França e dos Países Baixos”, adiciona. “O principal propósito em Coimbra é fa zer face à desigualdade de género que ain da se verifica, com algumas parcerias que permitem a intervenção direta com a UC”, explica a aluna.

Quanto à criação de novas iniciativas na cidade, Joana Claro acredita que “seja de louvar todas as que surgem, mas é mais proveitoso fortalecer as que já existem”. A coordenadora justifica o seu argumento ao reconhecer que “é sempre difícil colocar um projeto destes em prática”. Em relação à conciliação de diversas atividades na vida académica, afirma ser “importante ter algo além dos estudos, pois os movimen tos ativistas permitem a formação pessoal, isto é, ganhar capacidades sociais e de or ganização”. Entende que “um sentimento comum aos estudantes-ativistas é que é difícil, por vezes, gerir todas as coisas que se pretendem fazer, contudo, isso permite adquirir competências de gestão de tem po”. Defende ainda que “a universidade deve apostar na formação interna dos do centes das instituições”. A estudante exem plifica que ocorrem “alguns problemas ao tratar as pessoas conforme o género com que se identificam, assim, há ainda um longo caminho pela frente em termos da instrução dos profissionais”.

A coordenadora do HeforShe acredita que o próximo passo do ativismo passa por “apelar ao interesse dos estudantes, para que se liguem a movimentos, e formar os que têm tanta vontade de fazer a diferença”. Explica ainda que “o contributo das novas gerações traz visões e formas de atuação diferentes”. Para além disso, acrescenta que “uma geração tão próxima da tecnologia permite, também, conhecer maneiras ino vadoras de consciencializar toda a comu nidade”. A estudante termina ao declarar que “todos os anos surgem dife rentes de safios, é uma aprendizagem constante, e, desta forma, a educação é a melhor arma contra a desigualdade de género”.

“Mais apoio pode significar mais adesão”

Por sua vez, a representante da Greve Climática Estudantil de Coimbra (GCEC), Maria Mailho, acredita que “é sempre necessário criarem-se mais projetos, pois as pessoas devem reivindicar pelos seus ideais”. No decorrer da formação do nú cleo da cidade, verificaram-se alguns im previstos. Admite que “durante algum tem po [o núcleo] era apenas constituído por dois membros, agora inclui cerca de vinte”. Elucida que a GCE é “uma organização estudantil que tenta combater, através da greve às aulas, as mudanças climáticas”. A iniciativa pretende mobilizar, para além da comunidade académica, todas as pessoas interessadas em se manifestar pela causa.

Em relação ao tipo de apoio dado às ini ciativas sociais, Maria Mailho confessa que “se sente a necessidade de mais auxílio e financiamento às secções, assim como a outras organizações fora da UC e da AAC geridas por estudantes”. A representante termina ao destacar a situação que ocor reu no segundo semestre do passado ano letivo. O GCEC colaborou com o Grupo Ecológico (GE/AAC) para a limpeza dos Jardins da Sereia e da AAC, porém, “por falta de divulgação, poucas pessoas aderi ram, prova de que a falta de apoio pode resultar em menor adesão”. Desta forma, afirma que os ativistas são, muitas vezes, colocados “debaixo do tapete”.

É comum notar o entusiasmo e a con vicção nas ações e no discurso destes jovens académicos. Pelas ruas fazem uso dos cânti cos de revolta, do marchar coletivo, das ban deiras, dos cartazes e dos megafones. Existem em Coimbra associações, organizações, co letivos, movimentos, que contribuem para a realização de diversas atividades dentro do município. Dentro da agenda colaborativa, incluem-se eventos como marchas, manifes tações, workshops, palestras, e até festas com o propósito de angariar fundos. O ativismo faz parte da vida de muitos estudantes da cidade, que se juntam, até aos dias de hoje, para educar e expor o seu descontentamento face ao que consideram ser injustiças sociais significantes.

CLARA
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NETO

A que soam as tunas no feminino?

Entre tradição e mudança, Coimbra surge cantada por vozes que se indignaram contra ecos do conservadorismo. Do da - POR ALEXANDRA GUIMARÃES -

Diz o costume que em Coimbra os tro vadores cantam serenatas às donzelas que estão às janelas. Mas e se essas donzelas quiserem sair à rua e cantar também? A res posta pode parecer difícil, após seis séculos de exclusividade masculina no seio da Aca demia. Fundada em 1290, a Universidade de Coimbra (UC) teve a primeira mulher ins crita em 1891. Porém, demorou até que as mulheres começassem também a fazer parte da cantiga universitária.

Corria o ano de 1989 e não havia ainda tunas femininas na universidade mais an tiga do país, mas foi nesse ano que tudo mudou. No seio da Falange de Apoio Negro, claque de apoio à Associação Académica de Coimbra (AAC) – Organismo Autónomo de Futebol, não só se falava de desporto, mas também de música. Era aí que já existia a FAN-Farra Académica de Coimbra, uma tuna masculina, e onde um grupo de cin co amigas, em encontros de café, começou também a compor. Assim surgiram As FANS – Tuna Feminina da Universidade de Coim bra. Ana Domingues, uma das primeiras in tegrantes do grupo, lembra que foram “mui to aceites” e que algo que no início era “uma brincadeira” se tornou depois “mais sério”. A antiga Fan recorda que “começaram a ser convidadas para apresentações, a ter mais elementos e a crescer a nível musical”, ao mesmo tempo que “criavam laços que fica ram para sempre”.

Ao mesmo tempo, em 1989, surgia a Tuni nha, um conjunto de raparigas que se reunia para tocar e cantar, mas que não era ainda designado como tuna. Patrícia Ferraz de Matos, uma das estudantes que se juntou ao grupo, participou na primeira atuação, no Sarau da Latada de 1991. “No cartaz fomos anunciadas apenas como «grupo surpresa» e houve uma discussão dentro da Secção de Fado (SF/AAC) já durante o Sarau, porque havia quem receasse uma ameaça à tradição coimbrã”, relembra a antiga estudante. Con ta ainda que, “embora a Tuninha acabasse por conseguir atuar, na entrada em palco não foi anunciada como tuna, mas antes como «um grupo de meninas que cantam e dançam»” e não puderam fazer o típico pas so. Sem fundos, sem uma sala para ensaiar e sem conseguir ver aprovada a proposta de pertencer à SF/AAC, a Tuninha em pouco tempo chegou ao fim.

Porém, Patrícia Ferraz de Matos recor da que “houve um núcleo de raparigas da Tuni nha”, ao qual pertencia, que “não de sistiu e que continuou a juntar-se para tocar e cantar, no início até na rua”. Foi em maio de 1993 que se apresentaram ao público, ainda sem nome. “A tocar desde a Alta até à Baixa, subimos as escadas de São Tiago e as pessoas começaram a juntar-se”, explica a então integrante do grupo. Revela ainda que “foi no final, quando nos perguntaram o nome, que surgiu a ideia de batizar a nova

tuna de Mondeguinas, as ninfas do Monde go”. A partir daí começaram a recolher e a adaptar músicas tradicionais portuguesas. Desde temas medievais e renascentistas a canções das diferentes terras das estu dantes, criaram um repertório e mais tarde surgiram os originais.

Foi também nesta altura que teve lugar o primeiro encontro de tunas femininas em Portugal, o Canto da Sereia, organizado em conjunto pelas Mondeguinas e pel’As FANS.

Patrícia Ferraz de Matos lembra que “tam bém isto foi problemático, porque não que riam incluir o evento na Semana Cultural”.

Mais tarde, em 1998, surgiu a ideia de formar uma outra tuna feminina, desta vez, composta por alunas de Medicina e de Medicina Dentária. Teresa Pascoal, uma das iniciadoras do projeto, revive o momento em que “um grupo de amigas começou a reunir colegas destes cursos, até que em 2000 foi criada de forma ofi cial a Tuna Feminina de Medicina da Uni versidade de Coimbra (TFMUC)”. No ano seguinte, apresentaram-se à Academia no Teatro Académico de Gil Vicente e foram apadrinhadas pela Tuna de Medicina da Universidade de Coimbra (TMUC). Desde esse momento, o grupo cresceu e compuse ram vários temas inéditos.

A mais recente tuna feminina de Coim bra estreou-se já em 2011. No ano anterior, quatro estudantes ligadas à SF/AAC senti ram “necessidade de representação femini na na secção”, como explica Diana Costa, uma dessas alunas. Anos antes, tinha havi do uma tentativa de criar o grupo femini no as Garotas, que não vingou. Mas, des ta vez, a ideia foi avante e deram início à Estudantina Feminina de Coimbra (EFC), da SF/AAC. “No princípio ensaiámos com a Estudantina Universitária de Coimbra, que deu uma grande ajuda, bem como toda a secção”, conta Diana Costa. O repertório, que tem por base a música portuguesa, começou então a compor-se e vieram novos membros. “Com a formação da Feminina, muitas raparigas juntaram-se até a outros grupos da secção”, menciona a fundadora.

Mulheres que não ficaram “em casa a coser meias”

Joana Ladeiro, uma das fundadoras das Mondeguinas, refere que “no início viveram-se situações de discriminação”. A antiga estudante esclarece que “nas noites de convívio, os ânimos exaltavam-se mui tas vezes quando se falava de igualdade de género na Academia”. Esses debates chega ram a terminar inclusive em agressões físi cas “quando alguém disse que as mulheres não tinham o direito de participar e que «deviam era estar em casa a coser meias»”, acrescenta Joana Ladeiro.

A fundadora das Mondeguinas refere que

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surgimento à atualidade, a história das quatro tunas femininas
cidade dos estudantes
ALEXANDRA GUIMARÃES

houve outras situações em que estas jovens “questionaram o seu papel neste meio”, como quando fizeram uma proposta ao Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra - Magnum Consilium Veteranorum para mu dar o traje académico feminino, ainda que sem sucesso. A reivindicação incluía a pos sibilidade de usar calças, de não usar sapa tos de salto alto e de ter maior liberdade de movimento neste “traje para mulheres cria do por homens”, explica.

Para Joana Ladeiro, a distinção entre géner os estava “não na sociedade em geral, mas na cabeça de quem controlava a AAC”. Também Teresa Pascoal, fundadora da TFMUC, é da opinião de que, “por ser a Academia de Co imbra, foi mais difícil implementar o pro jeto”, e que “às vezes, a vontade de desistir era grande”. Contudo, sublinha que “o apoio das outras tunas femininas então existentes, As FANS e as Mondeguinas, que já tinham conhecimento e experiência”, bem como da TMUC, lhes abriu “algumas portas do mun do académico”.

A fundadora da TFMUC considera que “como mulheres, conseguiram desbravar terreno” e “mostrar que não só conseguem estudar, como também pôr em prática as suas qualidades, conhecimentos e paixões”. Teresa Pascoal resume esta vivência numa frase: “não senti apenas que passei por Co imbra, senti que fiz parte de Coimbra”.

Em 1995, a AAC desafiou os grupos académicos a fazer um álbum conjunto de nominado “Indiferença”, como forma de mostrar que a juventude que então frequen tava o meio estudantil estava envolvida em causas. As Mondeguinas participaram com um original chamado “Indignação”, que ainda está presente no repertório e no qual asseguram não calar o sentimento que dá nome ao tema. Para Patrícia Ferraz de Ma tos, “a música é intemporal”, na medida em que “não se aplica apenas às lutas daquele período, mas também à luta contra o ma chismo, a misoginia e a desigualdade so cial”. A antiga Mondeguina relembra ainda um momento que a tocou, quando, no final de uma atuação, uma senhora agradeceu o

que as Mondeguinas fizeram pela condição das mulheres, porque se revia naquilo.

As vozes que hoje se fazem ouvir Numa altura em que a maioria dos estudantes da UC são do sexo feminino, estas quatro tu nas continuam a desenvolver a sua atividade. Entre festivais nacionais e internacionais, são conquistados prémios, lançados álbuns e hoje são referência obrigatória nos Saraus e nas atua ções do Parque das festas académicas. Catarina Nunes, presidente da TFMUC, subli nha que “a vida académica de Coimbra passa pelas tunas”. A estudante garante que integrar este grupo musical “mudou todo o percurso universitário, trouxe mais responsa bilidade e organização” e fez dela “uma pes soa melhor”. Ainda que haja “cada vez mais público a acompanhar o trabalho da TFMUC”, a presidente lamenta que continue a existir “uma ideia pré-concebida de que as tunas mas culinas são melhores”. Para Catarina Nunes, a solução passa por “uma maior aposta na divul gação das tunas femininas”.

Já Inês Moita, membro atual d’As FANS, con sidera que “dentro da Academia ainda há difi culdade em ver as tunas femininas incluídas, em particular por parte dos grupos masculinos”. A

estudante refere que este entrave “é mais notório durante as festas académicas, como nesta Queima das Fi tas” e dá como exem plo a situação do Chá Dançante, no qual só participam tunas masculinas. “Os grupos femininos ajudaram a trazer a mulher para a música em Coimbra, mas ainda há um caminho a percorrer”, reforça Inês Moita. Para ela, fazer parte d’As FANS significa “conciliar música, amizade e diversão”, sem esquecer “a importância do compromisso e do trabalho”.

Inês Ladeiro, filha de Joana Ladeiro, confessa que, por ser filha de uma das fundadoras das Mondeguinas, “cresceu com a tuna e já conhecia as músicas des de pequena”. Para a mãe, esta foi “uma he rança”, como se “tivesse criado algo para as gerações futuras”. Inês Ladeiro pertence hoje às Mondeguinas e considera que esta experiência lhe ensinou que “quan do achamos que algo não está bem, temos que nos indignar e falar”.

A estudante afirma que “as Mondegui nas nunca se vão calar perante os desafios que surgirem”, visto que “ainda há muitas opiniões conservadoras, sem cabimen to no século XXI”. Como exemplo, conta que, “há uns anos, a tuna recebeu ameaças anónimas por escrito ao levar a palco uma música em que incluiu a guitarra de Co imbra”. Inês Ladeiro considera que “a UC está mais atrasada em questões de tradi cionalismo do que outras universidades do país, surgidas já no século XX, com homens e mulheres como estudantes”.

Ana Raquel Ribeiro, membro da Estu dantina feminina da SF/AAC, é da opinião de que “a EFC ajudou a integrar a mulher na música de Coimbra e na SF/AAC”. Con tudo, aponta a “dificuldade de arranjar es paços para festivais de tunas, mais senti da pelos grupos femininos do que pelos masculinos, que têm mais fundos”. Para ela, a solução para combater as desigual dades passa pela “união entre tunas femi ninas”, como foi o caso do evento do Dia da Mulher, que juntou estes grupos. Ana Raquel Ribeiro assegura que “é nas tunas que se encontram grandes amizades e que se vive Coimbra nos seus melhores mo mentos académicos”.

ALEXANDRA GUIMARÃES
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ALEXANDRA GUIMARÃES

Cáritas Diocesana de Coimbra possui seis respostas sociais para a área dos comportamentos aditivos. Diretores técnicos das diferentes estruturas traçam o perfil de utentes cada vez mais envelhecidos e de uma cidade que, apesar de dotada dos meios, dificulta o processo de reinserção

Orelógio marca as 11h07 e a senhora sentada num dos sofás azuis da en fermaria da Equipa de Rua Reduz (ERR), localizada no Terreiro da Erva, na Baixa da cidade, conta como conheceu o senhor sentado a seu lado. Sueli*, originária de Mato Grosso do Sul, no Brasil, estava em Portugal há quase 20 anos quando viu Sér gio* na estação de Coimbra-A, em 2020.

Ambos receberam apoio da ERR per tencente à Cáritas Diocesana de Coimbra, onde iam fazer a toma de medicação an tes de, em maio, partirem para o Brasil. Sueli tinha problemas com o álcool e Sér gio com drogas psicoativas, mas não con some há cerca de um ano. Sobre o motivo do consumo, Sueli declara: “a gente mis tura-se com colegas que bebem e acaba a beber também, só para fugir das mágoas”.

A ERR está situada na Baixa desde 2002 e recebe cerca de 200 pessoas por mês, que ali passam para receber algum tipo de apoio. Um dos programas existentes é a troca de seringas, destinado aos utentes com comportamentos aditivos. Por mês, é feita a distribuição de cerca de seis mil ‘kits’, constituídos por seringas, agulhas, filtros, um preservativo e equipamento de desinfeção, entre outros materiais.

Segundo o último “Diagnóstico do Ter ritório” da cidade, publicado em 2020 pelo Centro de Respostas Integradas de Coim bra, tem-se assistido a uma descarac terização da Baixa como zona residencial. Verifica-se um “aumento expressivo de prédios devolutos ou até em ruínas que são

utilizados como local de consumo/tráfico a céu aberto”, lê-se no documento. O dire tor técnico da ERR, Rui Sousa, indica que a Baixa é “o ponto inicial de quem visi ta a cidade”, pelo que existe uma grande confluência de pessoas e um maior “ali ciamento para praticar atividades ilícitas que podem levar ao consumo e tráfico”.

Através de uma política de minimização de riscos e redução de danos, a ERR ten ta desenvolver relações de proximidade com os utentes para que a prestação de apoio seja mais produtiva. “São pessoas margina lizadas e excluídas pela sociedade e em situação de grande vulnerabilidade social e económica, pelo que pode ser difícil estabelecer um elo com elas”, expli ca o diretor.

Sérgio já tinha estado noutra estrutura da Cáritas, o Centro de Alojamento Tem porário Farol, mas ao fim de uma semana saiu. “Fui para lá para não estar na rua e não consumir, mas tinha a sensação de es tar preso e fui embora”, confessa. A dire tora técnica do Farol, Justina Dias, explica que a dinâmica da estrutura, situada na Rua D. João Peculiar, incorpora o respeito por horários restritos. “Para dar estabi lidade, tem de se ter regras muito defini das”, assevera.

Justina Dias dirige o Centro desde a abertura, em 2005, e conta que o aparelho surgiu da necessidade de construir “uma estrutura de transição da rua para um acolhimento mais institucional” de modo a “permitir um processo mais gradual de

adesão ao tratamento para a população mais instável e dependente”. A diretora explica que, “por terem sofrido alguns traumas durante a vida”, estas pessoas têm “dificuldades em voltar a confiar e a ter uma boa capacidade de resiliência ou de lidar com frustração”.

O princípio estruturante do Centro é a prática de “uma ação multidisciplinar baseada no humanismo e pragmatismo”, elucida Justina Dias. Reforça ainda a im portância de fazer com que o espaço pos sibilite que as pessoas acreditem nas suas capacidades, através de rotinas e ativi dades que fomentem a responsabilização individual. Os utentes passam, em média, entre seis a 18 meses na estrutura, mas existem situações que exigem mais tem po. Os utentes internos, que usufruem dos quartos para dormida, permanecem, por norma, menos tempo no Centro do que os externos.

No ano passado, passaram pelo Farol 117 pessoas, 104 das quais do sexo mas culino e com a faixa etária predominante dos 50 aos 59 anos. A maioria delas tinha habilitações correspondentes ao 1.º, 2.º e 3.º ciclos de ensino e 72 já tinham vivido numa situação sem-teto. A diretora refere que o perfil do utente tem-se vindo a al terar ao longo do tempo. “Há 20 anos era feito o consumo de substâncias tradicio nais, enquanto que este público consome substâncias, como ‘ecstasy’ ou ácidos, que, em termos de estabilização, os deixa mais limitados”, explica.

“Não”, a palavra-chave que é trabalhada todos os dias
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O Sol Nascente | viHda+ e a origem das respostas sociais

As estruturas da área dos comportamen tos aditivos da Cáritas, em Coimbra, sur giram a partir do Sol Nascente | viHda+, situado na rua Antero de Quental. Foi aí que os problemas e necessidades foram identificados e onde se materializaram duas respostas sociais.

O Centro de Dia Sol Nascente acompanha utentes com problemas aditivos, com um tratamento realizado em ambulatório. Já o Centro viHda+ presta apoio a utentes se ropositivos, embora existam casos em que ambas as situações se cruzam. No ano de 2021, foram acompanhados 77 utentes, 62 dos quais do sexo masculino. A faixa etária predominante foi a dos 50 aos 59 anos e a maioria dos utentes tinha o 3.º ciclo de ensino básico.

A diretora técnica desde 2015, Carole Oliveira, evidencia que as pessoas mais jovens que fazem consumos tendem a não procurar tratamento com tanta frequên cia quanto as mais velhas. “Os utentes são, na maioria, beneficiários do Rendi mento Social de Inserção ou pensionistas, que fazem aqui a alimentação”, reitera. A diretora des taca a importância do apoio psiquiátrico, visto que cerca de 70% dos utentes sofrem de perturbações mentais, seja por consequência do consumo ou por condição prévia.

As estruturas da Cáritas funcionam numa lógica de articulação com outras respostas sociais, da instituição ou outras. No caso do Sol Nascente | viHda+, são por vezes estabelecidas ligações com o Farol e a Co munidade Terapêutica. “Tenta-se que exis ta uma sinergia com todas as instituições da cidade, que são mais-valias”, declara Carole Oliveira.

Situada em Casais de Cima, na Maior ca, encontra-se a Comunidade Terapêuti ca Encontro (CTE). Aí, os utentes encon tram-se numa fase de abstinência por não consumo, após saírem das unidades de tratamento. A diretora técnica, Marta Fer reira, explica que a comunidade trabalha, sobretudo, “a parte clínica” e “tenta-se perceber o motivo do consumo ou das re caídas, que ocorrem com frequência”. No caso de João*, é a quarta vez que frequenta a estrutura e confessa que a solidão é um dos seus pontos fracos. “Quando me sinto só ou mais rejeitado, tenho tendência a ir para o consumo”.

Marta Ferreira defende que se tem veri ficado uma mudança da faixa etária dos utentes, que estão “cada vez mais enve lhecidos”. Contudo, segundo a diretora, a maior parte dos que têm histórico de con sumo de álcool começam muito cedo, entre os 12 e 15 anos, e as pessoas com toxicode pendência, por volta dos 15 ou 16. João, por exemplo, iniciou os consumos de álcool por volta dos 14 anos. O utente acredita que o “não” é uma palavra-chave que tem de ser trabalhada todos os dias e crê naquilo a que chama o “sistema da vela” para explicar o consumo: “neste mo mento a vela está apagada, mas ainda lá está e pode voltar a acender”.“Enquanto está acesa, vai sempre diminuir de taman

ho e nunca voltar ao inicial”.

Alguns dos pacientes da CTE são depois encaminhados para o Apar tamento de Reinserção (AR), um ‘duplex’ com capacidade para oito utentes do sexo masculino, onde colo cam em prática o sentido de autono mia e res ponsabilidade que adquiri ram nas outras estruturas. A diretora, Andreia Oliveira, esclarece que aqui é desenvolvida a “capacidade de re flexão crítica, que é muito importante para o crescimento pessoal”.

Os utentes com rendimentos já contribuem para o financiamento da casa, apoiada em cerca de 80% pela Segurança Social. Neste espaço têm de desempenhar as tarefas domésticas de forma autónoma e estabelecer con tactos com possíveis entidades em pregadoras. Apesar de ser desenvolvi do processo de saída da instituição, a diretora destaca que a especulação imobiliária na cidade dificulta a au tonomização dos utentes.

“Para ajudar no tratamento é preci so uma comunidade inteira”

A Equipa de Intervenção Direta (EID) da Cáritas tem sede no Bair ro da Rosa, nas instalações do Cen tro Comunitário S. José. Segundo o diretor e psicólogo, Ricardo Sousa, sentiu-se, em 2005, que há “necessi dade de dar resposta à problemática do consumo e tráfico de substâncias psicoativas no Planalto”.

A estrutura presta apoio às pes soas que estão em fase de tratamento, numa lógica de prevenção, redução e minimização de recaídas e lapsos. As famílias dos utentes funcionam como os parceiros da equipa no apoio e no trabalho de reintegração social. “Para ajudar no tratamento é preciso uma comunidade inteira”, frisa o diretor.

A maioria dos utentes é do sexo masculino e possui o 2.º e 3.º ciclos de ensino. Devido às iniciativas desen volvidas junto dos jovens e crian

ças, verifica-se uma predominância nas idades entre os dez e 19 anos.

Coimbra e as respostas sociais para os comportamentos aditivos

Os problemas com o alojamento, os obstáculos na empregabilidade e o con servadorismo dos conimbricenses são apontados como dificuldades no trata mento de comportamentos aditivos na cidade. Apesar destes obstáculos, Ricardo Sousa considera que Coimbra é detentora de uma rede de instituições que permite dar uma “resposta satis fatória” nesta área.

Rui Sousa e Andreia Oliveira salien tam as dificuldades relacionadas com o alojamento, que dificultam a reinserção social. Segundo a Estratégia Local de Habitação 2020-2030 da Câmara Muni cipal de Coimbra, a oferta que existe na cidade não se coaduna com a procura e as possibilidades económicas da popu lação. Por sua vez, Marta Ferreira desta ca ainda que a oferta de emprego para os pacientes é também precária.

Já Manuela Lopes, assistente social na Cáritas há 27 anos, conta que por vol ta dos anos 2000, pessoas de Lisboa e do Porto vinham a Coimbra fazer trata mentos porque a cidade tinha “uma me lhor resposta em termos de equipamen tos sociais”. Porém, tem-se manifestado alguma resistência a certas estruturas, como as salas de consumo assistidas, e a mesma reitera que a cidade está a “ficar para trás”.

Para João, estruturas como a CTE oferecem “todas as “ferramentas” para que os utentes tenham uma vida estável. O mesmo confessa que “o caminho fá cil é consumir”, mas que, embora difícil, é possível trabalhar o “não” através do apoio e da responsabilidade pessoal

*Nota: os nomes assinalados não são fictícios, mas não contêm o sobrenome por uma questão de não identificação das fontes.

DÉBORA CRUZ
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O caminho que falta percorrer até à inclusão com mobilidade reduzida reforçam necessidade de um futuro mais inclusivo na Vereadora da CMC vê combate à exclusão como “um dos deste

Em cima da sua cadeira de rodas, Patrícia Dinis passeava pela cidade de Coimbra, quando se deparou com um carro estacionado em cima do passeio onde se encontrava. Sem espaço para pas sar pelo passadiço e sem rampas por onde descer, a jovem precisou da ajuda de qua tro homens que ali estavam para carregar a sua cadeira de rodas de 300 quilogramas até à estrada. Se ali não estivesse ninguém, Patrícia Dinis não sabia como teria con tinuado o seu percurso.

A jovem de 21 anos, natural de Coim bra, nasceu com deficiência motora e tem-se deparado com algumas adversidades.

Patrícia Dinis contou que já foi “excluída em muitos encontros” e sente que as pes soas pensam que precisa sempre de alguém para cuidar de si. A jovem afirma que “há o preconceito das pessoas pensarem que quem tem mobilidade reduzida não pode fazer o mesmo que quem não tem”. Com tristeza, apelou: “é preciso mudar as men talidades”.

Na mesma linha, o dirigente da Asso ciação Rodinhas de Portugal (ARP), em

Coimbra, Pedro Aguiar, refere que pessoas com mobilidade reduzida sofrem exclusão social e dá o exemplo do acesso a espaços históricos que diz estarem “limitados”. Entre eles, indicou o Jardim Botânico e acrescentou que “há forma de adaptar es tes lugares sem que percam a sua estética”.

Não são apenas as deficiências visíveis que determinam as dificuldades de loco moção. Luís Barata, de 53 anos, nasceu com deficiência visual e sente-se, de igual forma, excluído por ter mobilidade redu zida. Nos percursos nos autocarros da ci dade, diz já ter ouvido “comentários ina propriados”e comenta ainda: “há sempre a tendência para a exclusão”.

No que toca às viagens que faz pela ci dade de autocarro, o homem de 53 anos considera que seria importante que a in formação fosse sonora. De entre estas in formações: o próximo autocarro a chegar à paragem quando se encontra à espera, bem como as paragens a que o veículo se está a aproximar para saber quando tem de parar para sair no local correto. Luís Barata , ainda nesta luta, reforça que não

seria importante apenas para os cegos, mas para todos. Da mesma forma pen sa Vânia Fachada, técnica de orientação e mobilidade na Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), que referiu que este sistema já foi utilizado há anos e que “dava muita segurança à pes soa invisual”.

Além do meio social, também outros problemas surgem a quem necessita de um acessório para se mover. Pedro Aguiar fi cou dependente da sua cadeira de rodas de um dia para o outro, após sofrer um acidente de viação, em criança. A seu ver, os passeios conimbricenses “já foram me lhorados”, no entanto, considera que ain da há muito trabalho a fazer. Na mesma linha, a vereadora na área dos transportes e da mobilidade da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), Ana Bastos, menciona que a cidade “vem a adaptar-se no tempo” e que “outros projetos se perfilam no sen tido de a tornar cada vez mais inclusiva”. No entanto, diz que “ainda há muito a fa zer, até porque os investimentos exigidos a essa transformação obrigam à definição de prioridades de investimento e por inerên cia a um faseamento no tempo”.

Também Patrícia Dinis vê os passei os como um entrave aos seus percursos porque, segundo aponta, “alguns têm ele vações e outros são muito altos”. Ana Bas tos refere que Coimbra “tem vindo a re

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Habitantes
cidade.
objetivos primordiais
executivo” SOFIA VARIZ PEREIRA

baixar passeios no encaminhamento das passagens para peões para possibilitar o seu atravessamento livre de degraus acen tuados”. Além disso, acrescenta que “todas essas intervenções foram acompanhadas pela aplicação de faixas em pavimento podotátil, de forma a apoiar a referen ciação dos invisuais”.

Para Luís Barata, na cidade de Coim bra “alguns problemas resolveram-se, mas aparecem outros novos”. Dos mais recentes é o estacionamento inapropriado das tro tinetes. Na sua experiência, estes veículos “ficam estacionados em qualquer lado”, o que perturba o seu caminho. Apesar de achar que as obras servem para “melhorar o dia a dia de cada um”, considera que as mesmas deviam estar “sinalizadas e divul gadas”. Como explicou, “quem não vê, só tem a perspetiva do local onde está e se há uma alteração, este pode ser arriscado, também a nível físico”.

O olhar dos que tentam construir o caminho para a inclusão

Há quem trabalhe no sentido de incluir todos aqueles que mais se sentem excluídos da vida social. Em Coimbra, isso não é ex ceção. Existem instituições que trabalham, todos os dias, no sentido de ajudar quem não se sente integrado na sociedade. Dois exemplos disso são a ARP e a ACAPO.

A ARP é uma associação que, segun do a sua página de apresentação, trabalha “de deficientes para deficientes”. Tanto os membros que compõem a direção, como quem usufrui dos seus serviços têm mobi lidade reduzida. Para Pedro Aguiar, esta é uma vantagem da organização porque os membros da direção “sabem, melhor do que ninguém, o que melhorar para que estas pessoas possam usufruir dos seus direitos”.

Além disso, a associação pretende tam bém tirar as pessoas com mobilidade re duzida de casa, através dos eventos que organiza, como explicou o dirigente da associação. O passeio em ‘Batec’, sistema que coloca a cadeira com três rodas, possi bilita percorrer longas distâncias e aceder a locais sem a ajuda de outros, é o evento “mais marcante”, segundo Pedro Aguiar.

Nesta associação existe também o Ban co de Empréstimo de Produtos de Apoio (BEPA), que assiste pessoas, de forma tem porária, com acessórios como canadianas ou até mesmo cadeiras de rodas. Este em préstimo funciona com o preenchimento de um contrato e através do pagamento “de uma quantia irrisória”, esclareceu o diri gente da ARP.

Também a ACAPO se preocupa em ajudar os seus pacientes, através de dois serviços. O primeiro é o Centro de Acolhimento e de Acompanhamento a Pessoas com Defi ciência (CAARPD), que é financiado pela segurança social. Este serviço atende na área da orientação e mobilidade, no sen tido de ajudar os deficientes visuais a “an dar na rua com autonomia”, bem como em todas as outras tarefas da vida diária, ex plicou Vânia Fachada. O segundo é apoia do pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional e ajuda os utentes, no âmbito da sua formação profissional e no alcan

ce de emprego. No âmbito deste serviço, a ACAPO conta com cursos profissionais onde, depois, os utentes são encaminhados para um estágio.

A ACAPO também responde com apo ios de reabilitação de forma individuali zada. Como explicou Vânia Fachada, se, por exemplo, o utente precisar de ajuda in formática, é nesse ramo que vão insistir e tentar perceber o que há para melhorar. O mesmo acontece com a aprendizagem dos percursos, já que alguns utentes pedem para aprender caminhos específicos.

No que toca à cooperação por parte da autarquia, a técnica de orientação e mobi lidade referiu que a CMC contacta a asso ciação para pedir ajuda, por exemplo, “para a criação de percursos pedonais acessíveis e livres de obstáculos”. Acrescentou ain da que o município tem, cada vez mais, “um comportamento ativo e de melhoria para a acessibilidade da cidade”. Na mes ma linha, Ana Bastos afirmou que “dar a segurança e a autonomia a todos aqueles que, por diferentes razões, veem a sua mo bilidade condicionada, é uma obrigação de qualquer município e, de momento, é considerada uma prioridade e intervenção, por parte do executivo da CMC”.

Uma equipa com visão para um futuro inclusivo

Do Brasil para Portugal, Márcio Sousa fundou, em novembro de 2019, uma equi pa de futebol para cegos, em Coimbra. Treinador no Sport Club Conimbricense, considera que “a importância que se dá ao desporto para pessoas com deficiência vi sual é muito pequena em relação à que se dá às pessoas ditas normais”. Antes de vir para Portugal, Márcio Sousa já tinha tra balhado com pessoas cegas no seu país.

Para que haja uma maior visibilidade para estas equipas, o treinador conside ra que é preciso que haja “voluntariado e vontade de divulgar”. Destaca ainda que “os meios de comunicação devem estar mais atentos a estes atletas”.

O que ainda falta percorrer para que “a cidade seja de todos”

“Há um caminho a trilhar para que Co imbra seja de todos”, referiu Luís Barata.

Patrícia Dinis gostava que a “cidade fosse mais acessível” e vê os passeios como uma questão importante a ser tida em conta.

Na ótica de Vânia Fachada, o facto de a ci dade estar rodeada de obras significa que o “objetivo é melhorar”. Assim, Ana Bastos contou que, através do programa Portu gal 2020 e do Plano Estratégico de Desen volvimento Urbano, “foi possível obter fi nanciamento europeu para beneficiar um conjunto de trajetos pedonais”.

Pedro Aguiar considera que os locais têm de estar preparados para todos, porque “todos fazem parte da sociedade”. Além disso, acredita que devia haver “uma maior fiscalização”, no que toca aos estaciona mentos reservados a quem tem o dístico próprio. Ainda na parte dos automóveis, Ana Bastos confessou que, na tentativa de combater o estacionamento abusivo nos passeios, a CMC começou a colocar “pinos ou dispositivos físicos”, para “impedir o acesso a passeios e espaços pedonais”.

Numa outra perspetiva, a técnica de orientação e mobilidade apela à atenção das pessoas em relação ao braille, uma vez que nem todos os cegos aprendem esta componente. Vânia Fachada explicou que “aprender braille demora algum tempo” e reforça que as pessoas se devem “preocu par com os tamanhos de letra”, porque há algumas pessoas que estão a caminhar para a falta de visão, mas que ainda têm alguma visi bilidade.

A vereadora da CMC vê o combate à ex clusão como “um dos objetivos primordiais deste executivo”. Além disso, acrescenta que apesar de já haver trabalho concluído, “muito mais há ainda a fazer para se atingir o patamar mínimo de qualidade exigível a uma cidade que se quer atrativa, acessível e inclusiva”.

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SOFIA VARIZ PEREIRA

A Coimbra do futuro está pronta para o desafio da sustentabilidade?

CMC aposta em uma rede contínua e segura de ciclovias. Regenerar a habitação é, fundamental, segundo os especialistas

Asustentabilidade deve ser um dos de safios centrais das cidades do futuro. Quem o diz é Ana Raquel Matos, professora de Sociologia na Universidade de Coimbra (UC). Para a especialista, falar de susten tabilidade é “pensar em qualidade de vida” e planificar a cidade para o futuro. Para isso, a docente frisa a necessidade de apostar em medidas que tenham a ver com “a poluição, a mobilidade e a habitação”. Em Coimbra, os desafios neste sentido são muitos. O cami nho para um futuro mais sustentável é com prido e abrange vários níveis de atuação.

Um deles é a gestão de resíduos. Ana Raquel Matos, que leciona a disciplina de Ci dades, Espaço e Vida Urbana, considera que “é uma das áreas mais críticas” da cidade: “há falta de ecopontos e existem contentores de recolha sobrelotados”. Em Coimbra, segun do dados da PORDATA, 17,8 por cento dos resíduos urbanos são recolhidos de forma se lectiva, um valor que está abaixo das médias portuguesa (21,5 por cento) e europeia (48 por cento). Para “minimizar o impacto” na vida dos conimbricenses, explica a docente, é necessário “implementar um sistema inte grado de gestão de resíduos”, que passe por “mudar hábitos” entre a população.

Mas como? O vereador da Câmara Muni cipal de Coimbra (CMC) com o pelouro da Sustentabilidade, Carlos Lopes, consi dera que é “essencial promover uma forte cam panha” para a população, com o objetivo de evitar que “os resíduos continuem a ser colocados na rua a qualquer hora”. Carlos Lopes apela, também, ao envolvimento de “restaurantes e cafés numa gestão equili brada dos seus resíduos”. Propõe ainda “o aumento expressivo da taxa de reciclagem”.

Bicicletas e trotinetes

Outro dos desafios a enfrentar é a questão de uma mobilidade mais sustentável e efi ciente. A vereadora da CMC com o pelouro do Transporte, Ana Bastos, acredita que é preciso “atacar com medidas dissuasoras” o uso do veículo individual, através da limi tação do estacionamento. Em Coimbra, se gundo dados da CMC, 18 por cento da po pulação usa o transporte público, um dado que veio a diminuir por causa da pandemia. Para melhorar a eficiência dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC), a vereadora aposta na “tecnologia”, para dar “indicações aos utentes em tempo real”, além do investi mento na qualidade, “com autocarros con fortáveis e o devido alojamento”.

Com o objetivo de alavancar a utilização dos transportes coletivos, a vereadora

Em Coimbra, segundo dados da PORDATA, 17,8 por cento dos resíduos urbanos são recolhidos de forma selectiva, um valor que está abaixo das médias portuguesa (21,5 por cento) e europeia (48 por cento)

propõe ainda “oferecer medidas de apoio à população”. Também aposta na melhoria do sistema ‘Park&Ride’, que permite estacionar o carro nos arrabaldes e deslocar-se para o centro de Coimbra, com autocarros a cada dez ou quinze minutos. Ana Bastos lamen ta que, até agora, o sistema “tenha sido um fracasso total”, porque, nos locais de desti no, “não existem medidas dissuasoras para o uso do automóvel”. Os objetivos primordiais - ainda não concretizados - do sistema são, desta forma, uma alternativa para “limitar o estacionamento de carros na periferia” e “ligar esses parques de estacionamento a qualquer destino na cidade”.

Para o futuro dos transportes na cidade, a vereadora afirma que a CMC está a desen volver outras iniciativas. A grande aposta dos próximos anos é o sistema de ‘Metro bus’ que, segundo a mesma, “vai ser a linha dorsal de todo o transporte na cidade e arredores”. O serviço, que deve ser inaugu rado em 2024, vai contar com duas linhas de veículos elétricos, que vão unir a Loja do

Cidadão com o CHUC, e o Vale das Flores com Coimbra-B, onde a CMC trabalha para construir uma “grande estação intermodal”. Segundo Ana Bastos, a meta do projeto é “centralizar o transporte e permitir que as pessoas possam passar de um transporte a outro” no mesmo local. A ideia é renovar a estação de comboios, instalar ali a central do ‘Metrobus’, e construir uma nova central de camionagem.

Além do transporte tradicional, a apos ta nas deslocações sustentáveis deve passar também pelos novos sistemas de micromo bilidade presentes na cidade, como as tro tinetes, nas quais foram feitas 68 mil via gens por dia durante 2021, segundo dados da CMC. Para Ana Raquel Matos, é preci so “procurar soluções para integrar esses veículos no sistema de transportes da ci dade”. No momento, elas partilham espaço nas faixas de rodagem com o resto de viatu ras, o que nem sempre acaba por ser seguro. Além disso, partilham passeios pequenos com os transeuntes.

O futuro da mobilidade, como explica a professora de Sociologia, também não se pode compreender sem uma “rede de ci clovias que Coimbra não tem”. Ana Bastos critica que o que existe em Coimbra “não é uma rede de ciclovias, porque não existe nelas nem continuidade, nem lógica”. Re alça também que o atual executivo da CMC trabalha num “plano geral” para “constru ir ciclovias nos sítios certos” e garantir que a rede tenha continuidade, de modo a que as deslocações sejam seguras. O objetivo é permitir que a bicicleta “não esteja só liga da ao lazer e ao desporto”, mas que também possa ser um meio de transporte acessível e confortável para a deslocação na cidade, afirma a vereadora.

JORGE BOTANA
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Habitação e regeneração urbana

Ana Raquel Matos, acredita que, além do transporte e da gestão de resíduos, outro dos patamares de atuação deve ser “a habitação e a utilização do espaço público”. Neste sen tido, Coimbra está a viver, neste momento, uma importante transformação na margem direita do Rio Mondego, na Baixa da cidade. A requalificação da zona, segundo afirma Ana Bastos, passa pela criação de “uma zona em que se vai priorizar a circulação pedonal e ciclável”, com quiosques, zonas verdes e an fiteatros para o rio vai ser “um local de con tinuidade entre o Choupal, o Parque Verde e o Parque Manuel Braga”.

Contudo, o projeto de requalificação não está livre de polémica. A criação desse novo espaço apenas vai ser possível através do des mantelamento da Estação Nova e da ferrovia que existe à beira do rio. Luis Neto, membro do Movimento pela Estação Nova, afirma que as obras “estão no caminho certo”. No entanto, acredita que “a linha de comboio não impede a requalificação” e assevera que “existem maneiras de mitigar o efeito barrei ra” do caminho de ferro. Lamenta, assim, que acabar com a estação, num dos corações da cidade, é “decapitar a função que tem como dissuasora do meio automóvel” e defende a complementaridade entre o atual comboio com o futuro ‘Metrobus’.

Esta transformação urbanística, segundo avança a CMC, deve interligar-se com pro jetos como a criação de zonas residenciais de baixa velocidade e a plantação de árvores. É também fulcral a participação cidadã de regeneração urbana, de acordo com Gonçalo Moniz, professor de Arquitetura na UC e co ordenador do projeto URBiNAT . O docente realça a ideia de “pensar no espaço público não só de forma física, mas também social e comunitária”. Incentiva ainda a “desafiar a comunidade para trazer os seus conheci mentos e dinamizar o espaço”.

Para o coordenador do URBiNAT, um dos objetivos, em Coimbra, deve estar nas áreas periféricas da cidade. “Preocupam-me as co munidades que vivem perto do centro, mas que estão longe em termos de mobilidade”,

frisa. Gonçalo Moniz apela à necessidade de se trabalhar para unir as zonas periféricas ao resto da cidade e atuar contra “a falta de acessos públicos” ao centro, que existe desde zonas como o bairro do Ingote.

A perspetiva de alavancar a participação cidadã também é defendida pelo presi dente da União de Freguesias de Coimbra (UFC), Francisco Campos, que considera “importante que as pessoas se sintam parte da solução”. Por parte da CMC, o vereador Carlos Lopes acredita também que a parti cipação dos cidadãos é “um dos bons cami nhos a seguir” e adianta a criação de um “Observatório para a Sustentabilidade”, para envolver mais a população nestas questões.

A regeneração urbana está também rela

cionada com a qualidade da habitação. Em relação ao tema, Ana Raquel Matos defende o incentivo à “construção de um edificado urbano mais sustentável”. Sem esquecer os prédios já existentes, apela à “realização de projetos de requalificação energética” com medidas “acessíveis a toda a população”.

Outro dos problemas ligados à habitação é o crescente valor das rendas e aquisição de imóveis. Em Coimbra, segundo o site imobiliário Idealista, o preço médio do metro quadrado arrendado atingiu, em fe vereiro de 2022, os 9,1 euros, um recorde histórico. Neste sentido, o presidente da UFC sugere desenvolver um sistema de “rendas controladas” para pessoas jovens em algumas zonas e destaca a urgência da “reabilitação de casas para habitação so cial” na zona histórica da cidade.

O papel dos estudantes

O futuro de Coimbra também não se pode perceber sem o papel dos milhares de estudantes que nela vivem. A presi dente da comissão administrativa do Gru po Ecológico da Associação Académica de Coimbra (GE/AAC), Emília Oliveira, acredita que a sustentabilidade é possível quando existe “uma implementação de va lores para reutilizar os recursos” nos gru pos que conformam a cidade. O GE/AAC organiza, de forma frequente, campanhas de consciencialização entre os estudantes e atividades como recolhas de lixo ou ofi cinas de alimentação sustentável.

Emília Oliveira lamenta que “a cidade ainda não está familiarizada com com portamentos para facilitar às pessoas uma atitude sustentável”, e acredita que exis tem formas de ajudar os cidadãos a atua rem melhor, como “instalar mais ecopon tos”. Sobre o papel da UC, a presidente da comissão administrativa do GE/AAC reforça que “há vários pontos onde me lhorias podem ser feitas”, como as residên cias. Por fim, sugere ações como a criação de um “centro de compostagem para a co munidade académica” ou a “plantação de árvores nos pólos I e II”.

“É importante que as pessoas se sintam parte da solução”, Francisco Campos
JORGE BOTANA
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JORGE BOTANA

EDITORIAL

À medida que o sol esfria

I númeras pessoas juram que o sol nesta pe quena cidade não é o mesmo que noutros sítios. O engraçado de ter vivido aqui a minha vida inteira é poder ter a oportunidade de ver uma Coimbra diferente à medida que eu vou cres cendo. Consoante os ciclos da vida de uma pes soa, também esta cidade muda. Será isso o que se quer dizer quando se fala sobre este mistério? Chegou setembro, sinónimo de rebuliço e caos, à medida que milhares de estudantes iniciam um novo ciclo. As expetativas são muitas para os que pi sam o chão de Coimbra pela primeira vez. Mas que legado lhes é deixado, no início do seu percurso?

A oferta de casas para estudantes reduziu em 80 por cento, diz o Observatório do Alojamen to Estudantil. As razões para isto são várias: a preferência pelo alojamento local, os crescentes custos de construção ou o recente fenómeno, os “nómadas digitais”. E era bom se os problemas se ficassem pelo alojamento estudantil, mas infe lizmente estende-se a toda a ação social. No en tanto, e como nos relembram sempre, as univer sidades não são “Santas Casas da Misericórdia”.

Poderíamos passar a “batata quente” entre os alegados responsáveis, distraindo-nos do real problema: o distanciamento das Institui ções de Ensino Superior da comunidade que servem e representam. É nossa função estar mos atentos a estas questões. Mais importan te ainda é falar sobre estes temas, se não que remos que os mais novos herdem os mesmos problemas que têm assolado as últimas gerações.

A CABRA manterá o seu olhar vigilante e dará sempre voz àqueles que muitas vezes gritam e são ignorados. E convidamos todos a fazer parte desta história. Aqui estaremos para os receber, mesmo que seja só para nos sentarmos a ler um belo jornal.

Ficha Técnica

Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA

Depósito Legal nº 478319/20

Registo ICS nº116759

Propriedade Associação Académica de Coimbra

Morada Secção de Jornalismo

Rua Padre António Vieira, 1 3000-315 Coimbra

Diretora Joana Carvalho

Equipa Editorial Luísa Macedo Mendonça & Simão Moura (Ensino Superior), Raquel Lucas & Ana Filipa Paz (Cultura), Larissa Britto & Fábio Torres (Desporto), Eduardo Neves & Sofia Ramos (Ciência & Tecnologia), Clara Neto & Daniel Oliveira & Sofia Variz Pereira (Cidade), Gabriela Moore & Sofia Ramos (Fotografia)

Colaborou nesta edição Jorge Botana, Débora Gomes, Alexandra Guimarães, Clara Neto, Sofia Variz Pereira

Conselho de Redação Luís Almeida, Tomás Barros, Inês Duarte, Filipe Furtado, Leonor Garrido, Hugo Guímaro, Margarida Mota, Bruno Oliveira, João Diogo Pimentel, Paulo Sérgio Santos, Pedro Emauz Silva

Fotografia Jorge Botana, Débora Gomes, Alexandra Guimarães, Clara Neto, Sofia Variz Pereira

Paginação Luísa Macedo Mendonça, Gabriela Moore, Fábio Torres

Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A. Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: fig@fig.pt

Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Tiragem 2000

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