micro-conto
O incerto destino da apresentadora amarílis PÁG. 17
9 de abril de 2013 • ANO XXII • N.º 259 • QUINZENAL GRATUITO DIRETOR ana duarte • EDITORes-EXECUTIVos ana morais
acabra jornal universitário de coimbra
rafaela carvalho
FESTIVAL SANTOS DA CASA Nascido do Programa Santos da Casa, emitido nos 107.9 da Rádio Universidade de Coimbra, o Festival com o mesmo nome aposta exclusivamente na música portuguesa. Este ano celebra a sua décima quinta edição com uma programação preenchida PÁG. 6
Crato recusa mais uma vez vinda a Coimbra Interpelado pela Associação Académica de Coimbra, o ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, rejeitou o pedido para que a academia “volte a pedir a palavra” no dia 17
de abril. A ação aprovada em Assembleia Magna vai gerar protesto numa conferência de imprensa a denunciar a recusa insistente do ministro em visitar a PÁG. 5 cidade.
Fórum aac 2013
BAAC
Agenda de ações para Abril
Bar dos Jardins abre este mês
Perante a recusa de Nuno Crato em visitar os espaços da universidade nas comemorações do 17 de Abril de 1969, a Direção-geral da Associação Académica de Coimbra vai proceder ao comunicado de imprensa da decisão do mesmo e proceder ao uso da palavra nas aulas. Também uma petição vai correr as faculdades e cantinas “Pelo fim da exclusão no direito à bolsa por motivos familiares” e posteriormente ser apresentada em Assembleia da República.
A nova concessão dos bares da Associação Académica de Coimbra já está atribuída. A Unicer ganhou o contrato ainda a ser finalizado e o processo promete não ser muito longo. Em causa está ainda um patrocínio e licença para a Queima das Fitas e Latada nos próximos cinco anos. O administrador da DG/AAC assegura que um dos bares abre até ao fim do mês.
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Mais informações em
acabra.net
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destaque
EUSA
2016
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A Europa
cabra | 3
destaque
de olhos postos em Coimbra Apresentada a candidatura à realização dos EUSA Games 2016, Coimbra está a preparar-se para ser avaliada. Entre requalificações estruturais e financiamentos públicos, os apoios multiplicam-se. A AAC acredita que a envolvência da cidade e dos estudantes pode ser fator decisivo no resultado a sair a um de junho. Por Liliana Cunha, Ana Duarte e João Martins
D
epois de 2012 em Córdova, os European Universities Games (Campeonatos Europeus de Desporto Universitário) seguem, em 2014, para Roterdão. Em 2016, Coimbra poderá vir a acolher este evento. Na corrida à realização dos jogos estarão também duas cidades da Croácia – Zagreb e Rijeka. As candidaturas já foram submetidas e estão agora sujeitas à avaliação pela European University Sports Association (EUSA – Associação Europeia de Desporto Universitário). A visita oficial do executivo da EUSA a Coimbra decorre entre 14 e 17 de abril, e a cidade vencedora será conhecida a um de junho, na Eslovénia. Em causa está a avaliação das infraestruturas a ser utilizadas no evento, que vão para além, por exemplo, do Estádio Universitário de Coimbra (EUC). Figueira da Foz e Montemor-o-Velho também poderão acolher jovens desportistas de toda a Europa. Mas a Associação Académica de Coimbra (AAC) não está sozinha. O processo de candidatura começa em Coimbra, contudo, é a Federação Académica de Desporto Universitário (FADU) quem a apresenta – e tal já aconteceu: a 16 e 17 de março, a FADU organizou uma Assembleia Geral (AG) na Madeira, onde estiveram presentes a comitiva executiva da EUSA, a Direção-geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), o presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), João Paulo Barbosa de Melo, o reitor da Universidade de Coimbra (UC), João Gabriel Silva e os representantes da proposta croata. Um dos pontos tratados no dossiê de candidatura foram as modalidades que Coimbra se propõe a acolher. São dez obrigatórias (andebol, voleibol, basquetebol, badmínton, futebol, ténis, futsal, ténis de mesa, voleibol de praia e rugby 7’s) às quais a AAC acrescenta como opcionais o remo e o judo.
Infraestruturas
“É evidente que o EUC carece de grandes obras de requalificação”, afirma a vice-reitora para as Relações
Institucionais da UC, Helena Freitas. Apesar de haver o reconhecimento de que o EUC não está totalmente equipado para acolher um evento desta magnitude, a vice-reitora explica que ele poderá vir a ser requalificado, através de financiamentos vindos, por exemplo, do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN). O vice-presidente da DG/AAC, Tiago Martins, reforça que com esta candidatura [aos EUSA Games 2016], há “mais possibilidades de concorrer ao QREN e sermos bem-sucedidos”. Bruno Barracosa, presidente da FADU, admite que as condições
Um dos pontos tratados no dossiê foram as modalidade que Coimbra se propõe a acolher físicas na outra margem do rio não são “condizentes com um evento deste nível”. No entanto, todos estão confiantes de que este fator não será decisivo na avaliação. A requalificação não passa apenas pelo EUC. Também algumas residências universitárias e as cantinas estão contempladas neste processo, de forma a estarem preparadas para receber o s
estudantes desportistas. Tiago Martins refere que a requalificação das infraestruturas tem como prioridade os espaços “que tiverem condições mais frágeis”. É o caso das cantinas azuis, da residência polo II 1 ou de outras residências que consigam albergar um maior número de participantes.
Pontos fortes e empenho nacional
Embora as acomodações não estejam ainda preparadas, na verdade, os apoiantes da candidatura coimbrã acreditam que isto poderá jogar a seu favor: “o que é valorizado pela EUSA é o legado que esta competição vai trazer à cidade ao modificá-la. Havendo este compromisso e esta vontade de mudar estamos a tentar que este se torne num ponto positivo”, assegura o vice-presidente da DG/AAC. Do lado da FADU, Bruno Barracosa também enuncia que a EUSA “procura deixar uma marca nos lugares onde passa e a requalificação é um ponto a favor de Portugal”. Ainda o empenho cultural da cidade e o facto de a AAC ser pela terceira vez consecutiva campeã europeia de desporto universitário são apontados como pontos importantes. Tiago Martins afirma que na AG na Madeira, a AAC marcou pela diferença: “receber o prémio
[de campeões] mostra o envolvimento das figuras da cidade face a uma candidatura que não o tem”. O vice-presidente da DG/AAC, considera ser um ponto a favor o facto de ter vários incentivos por parte de outras academias e do governo. “Vemos aqui a envolvência que se conseguiu ter, com as forças não só da cidade mas com o país”, explica Tiago Martins. Para isso servem de prova as várias cartas de apoio inseridas no livro principal de candidatura e o mote: “It´s all about passion” (“Está tudo relacionado com a paixão”, tradução livre). “Portugal goza de uma importante repu-
Comparativamente a Coimbra, Zagreb e Rijeka avança com o dobro do orçamento tação no que toca à organização de eventos de alta competição”, afirma no dossiê de candidatura o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, recordando a título de exemplo o Euro 2004. Ainda a Secretaria de Estado do Desporto e Juventude também enaltece a capacidade organizativa e fatores como o clima, a gastronomia e a recetividade da população aos estrangeiros. Por parte das outras direções associativas o apoio também está assegu-
rado: “A AAC é uma instituição que preenche os requisitos, conhecimento e estrutura para providenciar de uma boa forma todos os aspetos relacionados com a organização e operação dos EUSA 2016”, assinala o presidente da Associação Académica de Lisboa, Marcelo Fonseca. A associação de Évora, Beira Interior e Trás-os-Montes e Alto Douro enaltecem que o evento é feito por estudantes e para estes.
Financiamento
“A candidatura neste momento está a ser suportada maioritariamente pela CMC. A AAC não tem despendido custos”, revela Tiago Martins. Também a reitoria tem contribuído, não só a nível financeiro, mas também “a nível logístico e pedagógico”, explicita Helena Freitas. “Jogos desta dimensão exigem, de facto, um conjunto de compromissos das entidades que podem ter um papel ativo e a UC certamente que terá”, acrescenta a vice-reitora. As maiores fontes de financiamento para a realização do evento virão, em parte de apoios púbicos (28,84 por cento do total) e das taxas inscrições dos atletas (48,93 por cento do total). Comparativamente a Coimbra, Zagreb e Rijeka avançam com o dobro do orçamento, com mais modalidades mas com menos estudantes na sua organização. E é aqui que o vice-presidente da DG/ AAC aponta a vantagem da Académica: “aquilo que nos diferencia é que é uma candidatura feita por estudantes e com o apoio da comunidade estudantil”. Como explica Tiago Martins, por sua vez, a Croácia apresenta o apoio obrigatório das federações desportivas, o do presidente croata e de dois ministros. Fica de fora o das associações de estudantes. Até ao fecho da edição, o Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA tentou contactar o presidente da CMC, o Secretário de Estado do Desporto e Juventude e o secretário-geral da EUSA, mas não obteve resposta.
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ENSINO SUPERIOR
Estudam e trabalham dentro da comunidade universitária
A necessidade de trabalhar para suportar os encargos dos estudos tem sido mais evidente. Em regime parcial, a UC tem essa possibilidade em alguns dos espaços. A grande flexibilidade de horários é vista como uma vantagem, apesar de originar também a falta de vínculo. Por Liliana Cunha e Ana Morais
P
recisam de trabalhar ao mesmo tempo que estudam. E a Universidade de Coimbra (UC) dá-lhes a possibilidade de o fazerem nos seus espaços. Mas, integrar a comunidade universitária e servi-la em simultâneo tem os seus prós e contras. Cantinas, residências, Teatro Académico de Gil Vicente e Biblioteca Geral, entre outros, são as opções disponíveis para os estudantes. Ainda assim, encontrá-los nas cantinas, às horas das refeições, é mais frequente. “Somos estudantes-trabalhadores e estamos a trabalhar para a própria universidade”. É assim que Ana Morais, estudante de Mestrado na Faculdade de Direito da UC, encara a ideia de trabalhar na Sandwich-Bar dos Serviços de Ação Social da UC (SASUC). Precisava de um ‘part-time’ para suportar as despesas, e desde cedo que a ideia de se juntar a outros colegas que também encontraram esta opção lhe agradou. Tendo trabalhado antes noutros locais, encontrou nesta oportunidade das Cantinas Amarelas a mais-valia de ser recompensada através de senhas. “Temos a contrapartida de ter de vender as senhas, mas em termos remuneratórios compensa, nos outros trabalhos não conseguia auferir tanto”, atesta ao explicar que por hora recebe duas senhas, o que perfaz 4,80 euros. Este valor seria superior se fossem remunerados à hora, uma vez que nesta condição receberiam
Rafaela Carvalho
Consequências do fecho de mais serviços
O Sandwich-Bar é o local onde mais estudantes trabalham menos.
Falta de diálogo
Da mesma opinião é Washington Oliveira, que já está na reta final da sua tese de mestrado interdisciplinar. Washington já está a trabalhar no setor de alimentação desde setembro de 2009. “No início quando comecei era mais difícil porque tinha de explicar a todas as pessoas o porquê. Agora já estão mais habituadas”, conta o estudante. No entanto,
Washington revela que há falta de contacto entre funcionários e estudantes: “trabalhei num semestre no Polo II e no seguinte as cantinas do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra deixaram de ser dos SASUC. Os funcionários foram redistribuídos pelos serviços. Eu, que trabalhava lá três dias por semana, deixei de ter horário”, lamenta. A parca comunicação entre os estudantes-trabalhadores e a administração é notória: “esta semana traba-
lhamos e para a outra se for preciso chegamos cá e vai-nos ser dito: escusam de vir. Os serviços não comunicam connosco”, contesta o estudante de mestrado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, Bruno Calhegas. O contacto é feito apenas com o encarregado de cada espaço. A esta questão acresce ainda a perda do estatuto que lhes dava acesso à época especial e que perderam. Bruno e os seus colegas trabalham sem vínculo e sem qualquer benefício la-
Bar dos Jardins da AAC abre ainda este mês A nova concessão dos bares da AAC já está fechada. A empresa de distribuição Unicer é a responsável e está na calha a cedência ao clube noturno NB Liliana Cunha A Associação Académica de Coimbra (AAC), depois de terminado o contrato com o bar In Tocha que administrava o bar dos jardins e bar interior, chegou a acordo para ceder os espaços à empresa de distribuição de bebidas Unicer. Nos próximos cinco anos, o abastecimento de bebidas para os dois bares, na Queima das Fitas, na Festa das Latas e ainda a garantia de um patrocínio exclusivo pertence à empresa e à entidade que vá gerir
boral comum ao trabalhador.
o bar. “Para que garantíssemos que não acontecesse o mesmo que no último contrato, uma das maneiras que arranjámos seria a garantia de que não iriam haver faltas relativas ao pagamento”, afirma o administrador da Direção-geral da Associação Académica de Coimbra (DG/ AAC), Rui Brandão, em resposta ao incumprimento verificado pelo bar In Tocha. Desta forma existe no novo contrato uma bancária de seis meses de rendas. A cláusula é acionada a partir do momento em que haja um incumprimento de pagamento. A data relativa à abertura está para breve. Rui Brandão assume que, no mínimo, um dos bares abrirá ainda este mês: “ não sei se vai ser possível, mas provavelmente por essa altura, um deles, pelo menos”. A responsabilidade de escolher quem gere o bar é da distribuidora que já endereçou uma
proposta ao clube noturno NB, mas esta ainda se encontra em processo de análise. No que toca a números, esta pareceu ser a proposta mais vantajosa para a DG/AAC, segundo Rui Brandão. “Auferimos apenas propostas de contrato de duas empresas: a Central de Cervejas e a Unicer, que em concurso, mediante a melhor proposta escolhemos”, explica o administrador da DG/AAC. No que diz respeito a valores resultantes do acordo, a DG/AAC também encaixa uma grande verba com o contrato, já que se incluem as concessões das noites do Parque: “estamos a falar de um aumento entre 40 a 60 por cento, do que se fizessemos concursos isolados para todos os pontos”, assevera Rui Brandão. “Conseguimos ter um aumento, pela garantia de um patrocínio que não existia anteriormente”, explica o admnistrador. Há, no entanto, contrapartidas para com as sec-
ções da casa e núcleos. O patrocínio acordado faz com que qualquer pedido da casa tenha de ser feito à entidade “em termos de obrigatoriedade”. “Não são obrigados a utilizar a marca, mas também não podem usar alguma concorrente, em termos publicitários. Em termos de compra do produto, é apenas um direito de preferência”, expõe Rui Brandão. O administrador avisa ainda que, atempadamente, se informarão as contrapartidas aos organismos. Quanto à abertura dos bares no período noturno, que se encontra encerrado desde agosto do ano passado, o processo irá dentro de algum tempo a julgamento, já que a providência cautelar interposta pela DG/AAC foi revogada: “vamos ter audiência do julgamento para ver em que moldes fica a questão do horário, mas esperamos que seja possível estar aberto até às quatro da manhã”, atesta Brandão.
“Tendo em conta que somos estudantes e temos que encaixar este horário de trabalho com o horário de aulas e exames acaba por ser uma grande vantagem”, explica Ana Morais, ao referir a flexibilidade de que goza neste ‘part-time’ e que vê como “uma vantagem”. Por sua vez, Washington Oliveira classifica esta condição como “tapa-buracos”, uma vez que não há nada fixo e definitivo. Contudo, reconhece que na condição de estudante esta também acaba por ser uma vantagem pois há sempre a possibilidade de trocar com os colegas. “Agora com o encerramento [provisório das Amarelas], fomos indiretamente afetados porque perdemos horas”, lamenta Bruno. Também Washington evoca esta consequência ao referir ainda que as pessoas acabam por aparecer menos, aglomerando-se num só local. “Cada vez mais a tendência é fechar serviços e tentarem concentrar tudo num sítio”, crítica o estudante. O Jornal Universitário de Coimbra A CABRA tentou contactar o chefe do setor de alimentação dos SASUC, Luís Lavrador, que não prestou declarações por falta de autorização do administrador dos serviços de ação social. Ainda assim, mostrou-se disponível para falar futuramente. JOEL SARAIVA
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ENSINO SUPERIOR fórum aac 2013
Ação Social e política do país definem ações a desenvolver A discussão no Fórum AAC pautou-se pela necessidade em ultrapassar os desafios do financiamento e da ação social face à iminência de cortes no ensino superior. Uma petição contra a discriminação na atribuição de bolsas e o uso da palavra nas comemorações da crise académica de 1969 são ações a desenvolver. Por Liliana Cunha e Ana Francisco
A
Ação Social Escolar (ASE) esteve no centro do debate do Fórum AAC. A decorrer durante o último fim de semana, o espaço reuniu os vários organismos da Direção-geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), especificamente os núcleos e a administração. A discussão serviu para delinear as ações a desenvolver ao longo dos próximos meses, tendo como foco a situação política nacional instável. “Muita coisa mudou nestes últimos dias”, salienta o presidente da DG/AAC, Ricardo Morgado. Apesar do chumbo de algumas normas do Orçamento do Estado pelo Tribunal Constitucional, há a ameaça do agravamento dos cortes sobre a educação. É também este fator que justificou, segundo Ricardo Morgado, a urgência da reunião com o reitor da Universidade de Coimbra (UC), João Gabriel Silva, que se realizou ontem. “Queremos que o reitor se pronuncie”, explica o presidente da DG/AAC. A necessidade de reavaliação das formas de financiamento interno do ensino superior (ES) foram referidas como prioridade num contexto hostil para a ASE. Algumas das opções da universidade foram também postas em perspetiva, nomeadamente a possibilidade de um aumento da propina. “O facto de a UC passar por dificuldades não pode ser motivo para aumentar a conta do lado dos estudantes”, informa a direção geral da académica de Coimbra em comunicado, reforçando a vontade em não deixar que a propina seja atualizada para os cerca de 1070 euros, devido à inflação. Vai estar esta semana a circular uma petição nos espaços da UC que contesta a retirada de bolsa àqueles que não tiverem a sua situação tributária regularizada – “sabemos que os números, pelo menos na UC, são mais elevados [150 indeferidos] ”, declara a coordenadora-geral da Área Política da DG/AAC, Leila Campos. A ideia não é nova, já que é “uma petição que vem de trás, do movimento associativo nacional”, contextualiza a coordenadora-geral. O ministério da Educação e Ciência declarou em relatório que o número total de bolsas indeferidas por este motivo mantém-se nos 800, mas os
ana francisco
O Fórum AAC 2013 foi no Departamento de Informártica da Faculdade de Ciências da UC
Conclusões apresentadas Para as próximas duas semanas, a DG/AAC propõe o desenvolvimento das seguintes ações:
9 e 10 de abril Petição “Pelo fim da exclusão no direito à bolsa por motivos familiares” nas faculdades e cantinas
10 de abril Assembleia Magna
11 de abril - Entrega da Petição da Assembleia de República Comunicado à imprensa
17 de abril - 44 anos da Crise Académica de 1969 Pedir a palavra nas aulas dirigentes duvidam.
Discussão prolongada
A discussão de ordem política prolongou-se até domingo, atrasando o programa de atividades. “Foi importante para estreitar relações entre DG/AAC e núcleos de estudantes”, conta o
coordenador-geral dos Núcleos, Tiago Matos. Algumas conclusões ainda ficam por considerar já que os responsáveis deixam o anúncio das mesmas para a próxima Assembleia Magna (AM), amanhã,10. A decisão expressa por uma moção na última AM em trazer
o ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, a visitar os espaços da universidade no dia 17 de abril foi descartada. O convite enviado ao ministério “foi recusado”, revela Ricardo Morgado. “Vamos tomar agora as restantes diligências”, afirma o presidente, referindo-se à consequente conferência de imprensa que foi aprovada em AM.
Empenho/ “sistema regressivo”
“Os núcleos fizeram muitas questões e estavam empenhados”, garante Leila Campos. A vontade em concertar ações no Fórum AAC passou também por avaliar as queixas recorrentes do estudante carenciado. A qualidade da comida servida nos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC) foi abordada – “a qualidade tem decrescido e vamos tentar ajudar os SASUC “, adianta a coordenadora-geral da
Área Política. As saídas profissionais e as suas estratégias de acesso para o acompanhamento aos licenciados, bem como a pedagogia (Processo de Bolonha, ECTS’s e Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior) foram outros dos temas abordados no debate e formação. O Fórum AAC de 2013 reafirmou, assim, a preocupação em fazer da ASE prioridade face aos desafios económicos. O facto de a iniciativa ter sido em Coimbra revelou-se produtivo, sendo que se gastou menos, mas tal não fez com que deixasse de haver dispersão entre os dirigentes. A Magna de amanhã está assim reservada para apresentar as resoluções e aprofundar novas ações a desenvolver. Continuam pendentes mais cortes na educação dado o chumbo de 1300 mil milhões de euros no Tribunal Constitucional.
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CULTURA cultura por
festival santos da casa
11 a 13
a música “da rádio para o palco”
cá Há 15 anos a passar
ABR
“Manhã” - GEFAC Teatro TCSB • 21h30 6€ C/Descontos
12 e 13 ABR
“A Estalajadeira” – Artistas Unidos
15
Teatro OMT • 21h30 10€ C/Descontos
ABR
“Bestas do Sul Selvagem” Cinema TAGV • 21h30 4€ C/Descontos
18 ABR
“Vontade de ter vontade”
18
Dança TAGV • 21h30 7€ C/Descontos
ABR
“Somewhere in between” A Jigsaw & Birds are indie Música Conservatório • 21h30 5€
19
até
ABR
“Nascente – Rios e Rios de Histórias” Exposição Casa da Escrita Entrada livre
23 ABR
“Água Fria” e “Guerra Civil” Cinema AMSCAV • 21h30 1€ C/Descontos
26 e 27
Festival ‘Santos da Casa’ chega a 2013 com a sua décima quinta edição. Uma longevidade que acompanha a evolução da música portuguesa. A edição deste ano conta com oito concertos e o lançamento em Coimbra do livro “Bookstage – Nos Bastidores do Rock Português”. Por Joel Saraiva, Daniel Alves da Silva e Filipe Teixeira
“E
ra uma vez dois senhores que faziam um programa que se chamava ‘Santos da Casa’ e que depois passou-lhes pela cabeça, quando a rádio fez 13 anos, concretizarem um Festival». Assim começa a história do Festival Santos da Casa, na voz de Nuno Ávila, que juntamente com Fausto da Silva são os mentores do evento. Quando o festival era apenas uma ideia, como explica Fausto da Silva, surgiu a premissa: “passar a música da rádio para o palco”. As bandas que se escutavam às 19 horas no programa radiofónico “Santos da Casa” dedicado exclusivamente à música portuguesa, na Rádio Universidade de Coimbra (RUC), passaram a ter presença em concertos integrados no festival homónimo. Ao longo destas 15 edições, pisaram o palco inúmeras bandas e projetos cuja diversidade musical converge num só conceito: a divulgação “ao máximo”da música portuguesa em palcos conimbricenses, asseveram os também autores do programa Santos da Casa. O festival ofereceu desta forma um palco que permitiu a Coimbra receber diversas bandas em ascensão a tocarem pela primeira vez sob os holofotes da cidade. Nestes primórdios, o cartaz consistiu na atuação de projec-
tos oriundos da região de Coimbra, tendo a primeiro edição contado com bandas comoTu Metes Nojo, Tédio Boys ou Squeeze Theeze Pleeze. Passaram pelos diversos palcos do festival, nomes e projectos como Sam The Kid, Dead Combo, Loto, Linda Martini, Paus, A Naifa, B Fachada, Anaquim. A multiplicidade de estilos musicais resulta numa das particularidades do festival: a sua itinerância e a adaptação de cada projeto a um espaço na cidade. Esta adaptação pode até criar um ambiente mais acolhedor entre bandas e público, como no concerto de Luís Salgado, mais conhecido como Stereoboy, que salienta o corredor da RUC como sendo, “local ideal” para um concerto pequeno e “intimista”. A exibição de Linda Martini na Fnac Coimbra permitiu a primeira “enchente” do espaço aquando da actuação da banda, conta Nuno Ávila. O baterista da banda, Hélio Morais, salienta que foi uma“surpresa”. “Nunca tínhamos saído de Lisboa”, refere, tendo percebido nesse concerto que havia “mais gente a gostar da banda”. Além dos concertos, o festival procura abordar a música portuguesa de formas variadas. A organização trouxe em edições anteriores foto gentilmente cedida por nuno ávila
ABR
“360” - Semana Cultural da UC
24
Teatro TAGV 21h30
15h00 e 7€ C/ Descontos
ABR
“Corsage”
foto gentilmente cedida por adriana boiça silva
Música Salão Brazil • 22h30 Sem informação de preço
até
30
ABR
“Coimbra e as multidões” Exposição Galeria Torre Arnado Entrada livre
Por Daniel Alves da Silva
conversas com músicos bem como a projeção de documentários. A presente edição do festival vai contar com a apresentação, em Coimbra, do livro intitulado “Bookstage - Nos Bastidores do Rock Português”, em que dois jornalistas conversam com “sete monstrosdo rock”, estando já confirmada a presença de João Grande (dos Taxi), entre outros convidados.
A importância do festival
Para Stereoboy, o festival é “impulsionador da música portuguesa” e “propulsor de projetos que se encontram ainda afastados do atual panorama musical português”. Na perspectiva do líder dos Anaquim, José Rebola, o “festival tem importância”, ao continuar a “apostar anualmente na mostra das bandas portuguesas”. Foi em 2008 que o projecto de José Rebola se mostrou em palco pela primeira vez, integrado na programação do Festival Santos da Casa.“Olhando para trás, foi uma estreia repleta de simbolismo”, confessa Rebola. Assinalando o papel da RUC na carreira musical da banda, o músico considera que “acabou por ser uma honra e um privilégio” estrear com um “concerto tão simbólico”, no Salão Brazil. A presente edição conta com um concerto único, que nasce do desa-
fio lançado por Nuno Ávila a duas bandas de Coimbra. Surge assim “Somewhere in Between”, espectáculo que une os Birds are Indie aos AJigsaw, que “acaba por ser um concerto único no Festival Santos da Casa”, criado em exclusivo para o festival. Assim define um dos elementos da banda, Jorri, que assume a importância deste espetáculo por decorrer no festival ligado ao programa onde a música de ambas as bandas “começou a passar na rádio pela primeira vez”. O artista refere o “momento único” que será o concerto,“tanto para quem nos estiver a ver, como para nós, músicos”. Em tom de confidência, Fausto da Silva, um dos organizadores do festival pronuncia-se também sobre o desconhecimento do público acerca da programação musical proporcionada. Ainda assim, o festival consegue afirmar-se como o ponto de passagem da nova música portuguesa. “Se calhar se não formos nós, não vêm cá” ou então “vêm daqui a um ano ou dois”. Mas foi o Santos da Casa que os trouxe primeiro. “Eles estiveram em Coimbra e tu não os foste ver”, remata. Há 15 edições que é assim.
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Reportagem na íntegra em
acabra.net
foto gentilmente cedida por nuno ávila
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desporto
Seniores femininas chamadas à Seleção Nacional de Hóquei Três atletas da equipa sénior feminina da Secção de Patinagem receberam nova convocatória para o estágio 1 da seleção nacional de hóquei em patins
D.R.
Ana Duarte Carolina Varela As atletas Carolina Gonçalves, Ana Rita Reis e Ana Catarina Ferreira receberam a convocatória para o primeiro centro de treinos da Seleção Nacional de Hóquei feminino, em seniores, a decorrer na vila do Luso, entre os dias 15 e 17 de abril. “É com muita satisfação que encaramos que atletas nossas sejam recrutadas para a seleção nacional”, revela o presidente da Secção de Patinagem da Associação Académica de Coimbra (SP/AAC), Rui Freire. Segundo o mesmo, esta é já a segunda convocatória que, pelo menos, duas das atletas agora convocadas conquistam. “A Ana Catarina e a Carolina já representaram a seleção e são apostas ganhas”, afirma Rui Freire, que não esquece a terceira convocada deste ano (Ana Rita Reis) e que considera ser “uma excelente atleta e uma excelente guarda-redes”. Expressa o desejo de que as três possam integrar o grupo de dez finalistas que vão formar a seleção nacional oficial, a competir no Campeonato Europeu deste ano. Para as atletas, esta foi uma notícia recebida com grande entusiasmo. Carolina Gonçalves, que joga na posição de avançada, revela que ficou satisfeita com a notícia e que
Carolina Gonçalves, Ana Catarina Ferreira e Ana Rita Reis são as três convocadas de Coimbra para a Seleção Nacional de Hóquei representa uma continuidade do trabalho que a equipa tem vindo a desenvolver ao longo dos dois últimos anos. “Mostra o bom trabalho do que se tem vindo a fazer na Académica, tanto pelos treinadores, como pelos dirigentes e também pelas minhas colegas de equipa”, confessa. “Fiquei surpreendida, não se falava em nada do Europeu”, confessa, por sua vez, Ana Rita Reis, também jogadora avançada da equipa sénior. Apesar de também estar satisfeita com a chamada, tenta ser realista ao afirmar que a equipa
ainda pode vir a sofrer várias alteações, dado que este é apenas o primeiro estágio. “Agora é observação, para ver como é que estamos e de que forma respondemos ao treino que eles [seleção nacional] fazem. Depois são seriadas dez pessoas. No meu caso, que sou guarda-redes, vão três, e só passarão duas”, explicita a jogadora. Ana Catarina Ferreira partilha da mesma opinião: “não sei que equipa vai ficar, mas com as jogadoras que temos penso que podemos ficar bem classificadas”. A convocatória exerce um gran-
de impacto para a equipa, para a secção, mas, acima de tudo, para as atletas. “A maior concretização a nível de desporto é ser chamada à seleção. É ver concretizar os sonhos de toda a gente: para mim, para os meus pais, para a equipa, para a direção, para a secção e para a Académica. Senti-me honrada”, reconhece Ana Rita Reis. O presidente da SP/AAC atesta que, apesar de serem um clube universitário, sempre apostaram muito na formação dos mais jovens. Diz ser “um esforço que a Académica sempre fez na formação” dos seus atletas.
AAC vs. SLB
2-2 foi o resultado do jogo disputado entre a equipa sénior feminina da Académica e o Sport Lisboa e Benfica. Rui Freire reconhece o bom trabalho das atletas durante a partida e afirma que o jogo deixou “um ligeiro cheirinho de injustiça”. “Estávamos a poucos minutos do fim e o Benfica lá empatou”, lamenta. A equipa da Secção de Patinagem tem vindo a fazer uma boa época, segundo o seu presidente, e já estão na fase final do campeonato nacional com boas perspetivas de futuro. publicidade
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cidade
rafaela carvalho
Coimbra
uma cidade ciclável? O número de grupos dedicados ao ciclismo está a aumentar em Coimbra. No entanto, a cidade ainda carece de infraestruturas de apoio
Hoje, a bicicleta tem vindo a conquistar o seu espaço como uma alternativa ao transporte particular e um complemento ao transporte público em percursos curtos. Neste contexto, está a crescer o número de grupos que visam promover a mobilidade ciclável em Coimbra. Por Camila Correia e Anna Charlotte Reis
T
endo em vista o atual panorama relativo à crise económica, que tem conduzido ao aumento do preço da gasolina, surge a oportunidade de criar condições de integração e promoção de meios de transporte alternativos, não poluentes e menos dispendiosos. Assim, ser encarada como uma cidade ciclável é um dos desafios que Coimbra está a tentar a superar. No entanto, o relevo acidentado da cidade é colocado como o principal obstáculo por todos aqueles que gostariam de optar pela bicicleta como meio de transporte habitual. Criados em janeiro deste ano, os grupos Coimbr’a’Pedal e Pedaladas por Coimbra surgem com a intenção de popularizar a prática do ciclismo. Apresentar percursos, organizar eventos e reunir potenciais ciclistas para discutir ideias que viabilizem o melhor aproveitamento dos espaços urbanos são algumas das atividades propostas. O movimento Coimbr’a’Pedal, fundado pela engenheira civil Inês Frade e o seu grupo, nasceu a partir de debates do Improve Coimbra, um encontro entre pessoas que se propõe a resolver problemas da cidade. “Começámos a discutir como melhorar o estacionamento”, lembra a engenheira, “mas defendi que, se apreciarmos as ruas, vemos que estão cheias de carros e o que se deveria tentar fazer era com que as pessoas mudassem os hábitos de mobilidade”. Dessa forma, o principal obje-
tivo do grupo tornou-se mostrar a toda gente que, apesar dos declives acentuados, Coimbra tem capacidade de acolher a bicicleta para viagens diárias. Inês Frade faz questão de lembrar que “Coimbra não é só a subida da Avenida Sá da Bandeira, tem toda uma zona muito plana, como é o caso da Solum e da zona da Baixa”. O Coimbr’a’Pedal não ignora o facto de Coimbra não estar adaptada ao ciclismo, mas defende uma ação a longo prazo. “Só se ganharmos massa é que teremos expressão, porque se duas ou três pessoas chegarem à Câmara Municipal de Coimbra (CMC) e pedirem qualquer coisa, não acontece nada”, enfatiza a engenheira. Para atingir essa massa o grupo conta com duas plataformas digitais, uma página no Facebook e um site, onde se empenha na divulgação de percursos fáceis para uso diário e na demonstração das vantagens do uso da bicicleta para o ciclista e para a cidade. Já o Pedaladas por Coimbra surgiu como um projeto pessoal do ciclista João Pires, que começou a publicitar os seus trajetos num blogue. “Já andava de bicicleta há uns três ou quatro anos e não encontrava grande companhia”, lembra. Hoje, o grupo ainda é pequeno, mas encontra-se pelo menos uma vez por semana e costuma percorrer as localidades de Penacova e Cantanhede, normalmente aos fins-de-semana. Para além dessas iniciativas cole-
tivas, há também aqueles que, por conta própria, elegeram a bicicleta como meio de transporte habitual. É caso do estudante de mobilidade de Engenharia Informática, Sérgio Andrade, que desde que chegou a Coimbra, há seis meses, utiliza a bicicleta como meio de transporte para se deslocar até à universidade. “Tive dificuldade em subir as ladeiras, mas foi só no início. A princi-
pal vantagem de andar de bicicleta é chegar mais rápido aos lugares, sem precisar de pagar mais por isso”, revela o estudante a respeito dos benefícios que o levaram a optar por esse meio de transporte.
Infraestrutura – Como resolver?
É notável que há uma série de infraestruturas indispensáveis à prarafaela carvalho
tica do ciclismo que estão a faltar em Coimbra e esse é um dos aspetos que mais afasta as pessoas de usarem a bicicleta habitualmente. “Dos passeios que vemos nas cidades, muitos não respeitam as regras de dimensionamento. A cidade não está pensada para a bicicleta”, exemplifica Inês Frade. O coordenador do Pedaladas por Coimbra ressalta que uma das medidas básicas que poderia ser tomada, assim como já ocorre em alguns países, é a complementação da mobilidade ciclável pelo transporte público, com a colocação de suportes nos autocarros para o encaixe das bicicletas. “Nas vias prioritárias dos autocarros poderia haver linhas e sinais a dizer que também ali poderiam circular ciclistas. A nível de infraestruturas, deveria haver balneários ou qualquer tipo de coberto para bicicletas”, complementa ainda o coordenador. Lançado em 2008 pela CMC, o projeto de construção de uma ciclovia entre Coimbra e a Figueira da Foz, com passagem por Montemor-o-Velho, encontra-se suspenso. Como foi adiantado pelo Expresso em outubro de 2012, as obras encontram-se suspensas devido à falta de financiamento, as quais seriam executadas com um custo de cerca de seis milhões de euros, a 85 por cento por verbas do Quadro de Referência Estratégica Nacional e os restantes 15 por cento divididos pelas autarquias de Coimbra, Montemor-o-Velho e Figueira da Foz. com João Valadão
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ciência & Tecnologia
Desleixo e falta de investimento perpetuam focos de tuberculose Entre aparelhos médicos e documentos históricos, a exposição “Luta Contra a Tuberculose” conta a história da doença que matou milhares de pessoas e que ainda sobrevive
carolina varela
Ian Ezerin Joel Saraiva Carolina Varela O número 17 da Rua Castro Matoso abriga uma coleção de apontamentos e utensílios históricos referentes à tuberculose, nunca antes divulgados ao público. Cedida pela Fundação Bissaya Barreto à Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP), a casa dá espaço à primeira exposição da FPP em Coimbra, que se prolonga até 30 de junho. Com o ‘slogan’ “Stop TB in My Lifetime” (“Acabar com a Tuberculose na minha geração”, tradução livre), a FPP pretende dar maior luz ao problema de tuberculose em Portugal e no mundo. A primeira exposição da delegação de Coimbra “centra-se na temática da tuberculose, hoje em dia considerada uma vergonha internacional”, determina o delegado distrital da FPP de Coimbra, João Rui de Almeida. O delegado refere que “zonas como a África, a Ásia e a Europa de Leste têm problemas muito graves”, facto que as afasta do positivo decréscimo anual de 6,4 por cento que se têm registado em Portugal. No entanto, o país ainda está aquém dos números apontados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para países de baixa incidência – 20 casos por 100 mil
Em 1882, Robert Koch - prémio Nobel da medicina - identifica o bacilo da tuberculose habitantes. As peças expostas retratam alguns dos momentos mais relevantes na história da luta contra a doença, que em 1860 matava entre 12 mil a 15 mil pessoas por ano. Nebulizadores antigos, estetoscópios, um aparelho do pneumotórax, um carro de desinfeção pública e selos de promoção da luta contra a tuberculose são alguns dos apontamentos que figuram o espaço da casa onde está patente a exposição. Os artigos expostos chegam de vários pontos do país. O Hospital da Universidade de Coimbra, o Hospital dos Covões, a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, o Instituto de Higiene e Medicina Social, o Museu da Ciência, a Sociedade Portuguesa de Pneumologia de Lisboa e algumas coleções particulares cederam
algum do seu espólio à mostra.
A doença e o doente
Nos dias que correm, a tuberculose continua muito associada a meios onde a pobreza, a degradação e a promiscuidade imperam e as defesas imunitárias se ressentem. O contágio é o principal fator de propagação da doença. João Rui de Almeida alerta para a gravidade da “existência de pessoas que sabem estar infetadas e não tomam as devidas precauções, criando um perigo para a saúde pública”. A necessidade de uma consciencialização para os sintomas da doença é uma das prerrogativas que os rege. “A pessoa sente-se mais fraca, emagrece, tem falta de apetite, apresenta uma febrícula que se mantem durante dias e uma tosse persisten-
te”, pormenoriza o presidente da delegação. Nos últimos anos, “a tuberculose encontrou um aliado explosivo – o HIV”, alerta o delegado. O mesmo adverte que o número de pessoas infetadas com o vírus da Sida a contraírem tuberculose “é muito elevado”, fator preocupante, uma vez que destrói o sistema imunitário do paciente, tornando-o completamente suscetível. “As pessoas desmontaram os sanatórios, quase que desapareceu a estrutura, mas anda aí um resto que nos envergonha”, lamenta o presidente, que atribui a culpa da não extinção da doença a algum “desleixo das pessoas”. O presidente enfatiza algumas das questões que mais prejudicam a erradicação da doença. “Um tra-
tamento hoje demora cerca de seis meses, os medicamentos usados são os mesmos de há muitos anos, está-se a criar resistência aos antibióticos e os laboratórios internacionais deixaram de estudar estas moléculas porque não lhes dá rendimentos”, alerta João Rui de Almeida. O delegado acredita que “se houver um maior investimento de todos os países na pesquisa de novos antibióticos, novos métodos de diagnóstico e novas formas de tratamento, tudo é capaz de se resolver”. A exposição, que pode ser visitada, de forma gratuita, mediante marcação, tem como mote reavivar a memória de todos para um problema que manchou o passado, continua a afetar o presente e cuja extinção é urgente.
Cirurgia cardiotorácica – um balanço de 25 anos O Centro de Cirurgia Cardiotorácica de Coimbra comemora um quarto de século. Em continuidade com o trabalho desenvolvido, abre as portas ao balanço dos últimos anos Camila Correia Ian Ezerin Com um volume crescente de atividade, o Centro de Cirurgia Cardiotorácica de Coimbra (CCC) celebra 25 anos. Hoje, sem lista de espera, o centro opera cerca de 1850 pacientes por ano e conta
com uma taxa de mortalidade inferior a um por cento. O diretor e cirurgião do Centro, Manuel Antunes, orgulha-se dos números: “não há nenhum Centro, entre corações e pulmões, na Península Ibérica, que ultrapasse 1500 pacientes operados”. “Os dois tipos de cirurgia que se fazem mais frequentemente são a cirurgia da revascularização coronária e as cirurgias valvulares essas duas preenchem três quartos da nossa atividade”, ressalta. Segundo o médico, o CCC tem “um sistema de gestão diferente do habitual nos serviços clínicos”. Manuel Antunes adianta que o centro prima por um serviço baseado no trabalho em equipa, no “controlo completo que o diretor assume de todas as coisas” e na exclusividade dos médicos, que
“trabalham cerca de 80 horas semanais”. O modelo de trabalho no Centro afasta-se da burocracia excessiva: “quando o diretor e o administrador decidem adquirir qualquer coisa ou contratar alguém, desde que esteja contratualizado e que haja orçamento para isso, não necessitam de andar de administrador em administrador”, explica o diretor Manuel Antunes. A equipa geral do Centro é formada por cerca de 115 pessoas, das quais vinte são médicos. Do conjunto não se contam só portugueses, há dois médicos de origem espanhola. A presença internacional também pode ser percebida entre os pacientes. “Recebemos, com frequência, doentes de Espanha. Alguns serviços hispânicos enviam doentes
carolina varela
especialmente para a cirurgia conservadora da válvula mitral, que é uma das marcas do serviço”, destaca o diretor. Manuel Antunes nota que “a população do país está a diminuir e o número de doentes globais em cirurgia torácica não está a aumentar”. O “aumento de experiência e refinamento dos métodos do Centro”, salientados por Manuel Antunes, são também o fator que aponta para o baixo índice de mortalidade. A atividade do centro iniciou-se em 1988 “praticamente do nada”, lembra o diretor. Em meio ano o Centro conseguiu superar os números dos nove anos anteriores, com um registo de 250 operações, em oposição às 183 feitas durante quase uma década anterior. com Carolina Varela
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bitcoin
O
negócio
do ouro virtual
Em tempos de descrédito na economia tradicional, ressurge a velha ideia das moedas privadas, que se alia aos desenvolvimentos tecnológicos e impulsiona o desenvolvimento de sistemas monetários virtuais e independentes de regulação. O sucesso da bitcoin é oexemplo mais recente. Contudo, inicia-se a discussão: será esta moeda viável? Por Ana Morais e Daniel Alves da Silva
O
sistema bancário, um dos pilares no qual se assentou a génese da sociedade capitalista, apresenta alguns sintomas de alarme, sendo cada vez mais evidentes os sinais de desconfiança das pessoas no setor, como demonstra o atual caos financeiro que ameaça propagar-se pela Europa. A crise do euro, que para muitos era apenas um problema regional grego, provou que os problemas de um estado são transversais e se expandem a toda a comunidade europeia – sendo o mais recente exemplo a crise dos bancos no Chipre. Essa perda de confiança no setor financeiro é referida pelo economista e investigador do Centro de Estudos Sociais (CES), Nuno Teles, que assume “perceber a motivação que está por detrás” destes sistemas monetários alternativos. A bitcoin [ver caixa] é uma dessas moedas. A forma como esta é apresentada, refere ainda Nuno Teles, “descentralizada, ‘peer-to-peer’, pode ser muito atraente” pelo seu conceito e a pela sua facilidade de uso. Nas
últimas semanas foi notório um grande ‘buzz’ à volta desta moeda virtual, em parte justificada pela novidade que é, e como explica o investigador do CES, deu origem a que “em 2013 o valor [da bitcoin] tenha aumentado 600 por cento”. A bitcoin, nascida na internet, não tem limites quanto ao alcance da sua potencial utilização. Para o gestor da Loja Bitcoin Portugal, Pedro Fernandes, “com este sistema qualquer pessoa do mundo pode criar uma conta para receber dinheiro e enviar, não há mesmos limites”. Essa grande facilidade, reiterada pelo gestor, baseia-se no facto de não ser necessário nome ou registo. “É um processo imediato”, acrescenta. Quanto às motivações de outros utilizadores, Pedro Fernandes não ignora que algumas se baseiam em reações anti-governos ou anti-bancos, apesar de a sua “onda” ser apenas “a facilidade de pagamentos pela internet”. A moeda é apontada por muitos como uma alternativa aos pagamentos em negócios virtuais. Para o diretor técnico da PM-AKORDE-
ON Editora - uma das lojas em Portugal a aceitar pagamentos em bitcoins -, Rui Santos, foram as vantagens de “eliminação de intermediários e da necessidade de confiança em terceiros” exigidas pelos tradicionais métodos eletrónicos de pagamento. Rui Santos teve conhecimento do funcionamento da bitcoin “ao procurar na nternet por métodos de pagamento sem restrições e de baixo custo”.
Extração e especulação
“A inspiração do ouro é muito clara”. Quem o diz é o investigador Nuno Teles para explicar que a produção da moeda é feita de forma semelhante ao que acontece com a extração do ouro. É necessário equipamento próprio bem como horas de procura para obter este metal precioso. Paralelamente, dado que a moeda é produzida através da capacidade de computação, existem também alguns custos associados à necessidade de uma elevada capacidade de processamento, bem como de eletricidade e, claro, tempo.
Apesar de ser uma moeda virtual, a bitcoin tem também uma representação físic
Teoricamente, a bitcoin é uma alternativa de valor às moedas convencionais porque não há nenhum banco central a controlar a emissão da moeda. Mas o ritmo da nova moeda que entra faz com que o valor da moeda seja sobretudo determinado pela procura e pela oferta da mesma, o que, para Nuno Teles, “traz grandes problemas”. O facto de ser somente um mercado que determina o valor da moeda, de forma livre, faz com que “a sua volatilidade seja muito maior”, critica. Tanto Pedro Fernandes como Rui Santos não se dedicam ao ‘mining’ de bitcoins - processo de obtenção de bitcoins a partir das capacidades do computador para a resolução de problemas matemáticos que surgem na rede –, mas sim à compra e venda desse ouro virtual. Poderá assim a bitcoin transformar-se num produto de especulação?
O risco de “bolha”
Existem diferentes visões que poderão responder a esta pergunta. Se, por um lado, a especulação
pode resultar numa valorização do valor da moeda, o inverso também pode acontecer, pois tornase problemática a existência de especulação “sem ter uma economia forte por trás”, reconhece Pedro Fernandes como um “bocado problemático”. Ainda assim, para o gestor da Bitcoin Portugal existe economia real a sustentar esta moeda virtual, já que existem empresas a aceitar pagamentos de bens reais neste sistema monetário. Contudo, há o risco de “bolha” especulativa e até de ‘crash’, isto se a bitcoin registar um decréscimo abrupto no seu valor. Por sua vez, Nuno Teles apresenta uma análise mais apreensiva ao referir que o objetivo da bitcoin “não é não haver especulação”. Para o economista, a única garantia dada é que a massa monetária é sempre a mesma, o que origina uma total liberdade de mercado. “Se houver muita procura o valor cresce, se a procura colapsar ele desce”, esclarece o investigador, que não concorda que esta regulação do valor monetário
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bitcoin
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ca que presenta o código que dá acesso à conta de cada utilizador. O ‘buzz’ mediático à volta desta moeda tem impulsionado o seu valor
pelo próprio mercado seja “por natureza justo”. Do lado oposto está Rui Santos. Para o empresário, a bitcoin “mudou o dinheiro”, sendo uma “experiência única e revolucionária de costumes, políticas e perceções económicas e monetárias”. Embora admita que a bitcoin ainda não seja muito utilizada em compras, Rui Santos refere que muitas moedas deverão ter sido compradas “como investimento”. Justifica-se com os dados recentes da sua loja, que permite também a compra de bitcoins, onde se registou um “aumento exponencial” desses pedidos nos últimos dois meses.
Regulação procura-se
Para evitar o rebentar de uma eventual bolha especulativa urge procurar soluções. Confrontado com esse problema, Pedro Fernandes propõe a “quem goste de bitcoin”, àqueles que imaginem uma boa alternativa a pagamentos na internet, que não a estejam apenas a comprar, mas “a participar na economia”: recebendo paga-
mentos, utilizando-a como recompensa pela partilha de conteúdos, aceitando a moeda “como método alternativo” de trocas comerciais. Para Nuno Teles, o princípio da bitcoin “não é para estar ao serviço da economia”. Encontra-se implícita nesse sistema uma crítica à emissão desmedida de moeda dos sistemas fiduciários – onde se utiliza uma moeda baseada na confiança, em que os estados e os bancos centrais manipulam a quantidade de moeda que existe em circulação – como é o caso do euro ou do dólar. Neste sentido, existe um sentimento “anti-estatal e anti-intervenção pública”, assevera o economista. Assim sendo, a ideia da bitcoin pode ser considerada “anarco-capitalista”, em que é “o mercado a determinar tudo”, sem qualquer tipo de intervenção estatal. Porém, o investigador é cético quanto à perda do monopólio estatal e dos bancos centrais na emissão de moeda, já que acredita que “os estados nunca deixarão que esse poder seja colocado em causa”, e os estados têm o poder de
regular este tipo de mercado alternativo. Pedro Fernandes, com a loja a funcionar desde 1 de fevereiro, queixa-se da falta de regulamentação destes sistemas. Tendo contactado o Banco de Portugal no dia 10 de janeiro para obter esclarecimentos legais sobre a bitcoin, ainda não obteve qualquer resposta. Ainda assim, pede, “é bom haver alguma regulação”. O período da história capitalista em que houve mais estabilidade financeira e crescimento económico, segundo o economista, foi na época em que as moedas eram “mais reguladas”, no período de pós-guerra. Nuno Teles percebe a perda de confiança no setor financeiro, contudo considera que a alternativa “não é privatizar tudo”, mas sim “democratizar as esferas dos bancos centrais”. Referindo-se aos bancos centrais, indica que estes “devem ser escrutinados e estar dependentes do poder democrático” criticando a sua independência que tem conduzido à falta de confiança no setor financeiro.
A génese da bitcoin, uma moeda em expansão Apesar de ser um processo que começou a ser discutido em 2008, só em 2009 a bitcoin foi oficialmente lançada para a rede. O sistema que funciona de forma descentralizada, isto é, num sistema em que os computadores estão ligados diretamente uns aos outros, e a própria rede gera automaticamente moeda a partir do nada, foi criado pela mão de alguém com o pseudónimo de Satoshi Nakamoto. A produção da bitcoin é proporcional ao poder de computação e o seu valor é guardado em ficheiros existentes na rede. O protocolo de funcionamento funciona de forma semelhante ao bittorrent, onde cada ponto transmite transacções e verifica se estas são válidas antes de as retransmitir. O processo de validação e confirmação da transacção dá-se em poucos segundos. A sua emissão é feita automaticamente, sem qualquer tipo de intervenção humana. As unidades bitcoin são criadas a ritmo previsível, que diminui para metade a cada 4 anos, estando o seu número máximo limitado a 21 milhões, isto é, quando este valor for atingido a sua emissão pára. Neste momento são criadas 25 unidades bitcoin de dez em dez minutos. Sendo que as bitcoins emitidas até à data se encontram próximas da metade de todas as bitcoins que serão disponibilizadas até 2140, se a rede se mantiver em funcionamento até lá. Contudo, o crescimento do número de moedas tende a diminuir, e segundo algumas projecções, em 2017 se terão gerado três quartos do valor máximo de bitcoins. Devido á dificuldade de obtenção da moeda - dada a exigência de recursos necessários para a resolver os problemas matemáticos que originam uma bitcoin -, existe um mercado de compra e venda dessa moeda virtual em ‘sites’ criados para o efeito, num regime semelhante aos sistemas de investimento na Bolsa. Para o membro do Conselho de Administração da Bitcoin Foundation, Jon Matonis, a legitimidade da moeda conquista-se “através do mercado livre e aberto”, acrescentando que este “não é um instrumento que exige legitimidade regulamentar com o intuito de ganhar aceitação e adoção”. Ainda assim, Jon Matoins acredita numa “adoção generalizada” da moeda virtual.
12 | a cabra | 9 de abril de 2013 | Terça-feira
país
Sistema político português (des)adequado à realidade atual Novas formas de pensar a organização política são cada vez mais uma hipótese. O descrédito por parte dos cidadãos no modelo atual é cada vez mais evidente
Pedro Martins Ao longo de três décadas de democracia, a relação entre o povo português e o sistema político que os governa é cada vez mais distante. “Há um desfasamento entre o sistema político e os cidadãos”, afirma o professor de Filosofia Política no Instituto de Línguas e Ciências Humanas da Universidade do Minho, João Cardoso Rosas. Esse desfasamento reflete-se na crítica à classe política em geral, aos partidos políticos e na adesão às formas de participação política informais não enquadradas por outras forças organizadas, como as manifestações apartidárias. O fosso entre o sistema político e os cidadãos é explicado por razões de ordem histórica. “O nosso sistema político é resultado da forma como a transição política se passou”, afirma o professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa (IEP-UCP), Manuel Braga da Cruz, numa referência ao período posterior ao 25 de Abril de 1974 marcado pela inexistência de consensualidade em termos de organização politica. O também sociólogo do IEP-UCP reitera ainda que “uma revisão constitucional nessa maté-
ria seria positiva, pois a nossa constituição é resultado dessa transição política”.
Ciclos uninominais implicam riscos
As propostas de reforma do sistema eleitoral poderão porventura surgir como solução para esse problema. No entanto, relembra Cardoso Rosas, esta reforma “não vai resolver todos os problemas, nem toda a insatisfação dos cidadãos ”, mas a necessidade de esta se concretizar mantém-se. Semelhante opinião é defendida pelo politólogo José Bourdain, que acredita que “o sistema eleitoral português é profundamente injusto, deixando de fora muitos cidadãos, que efetivamente vão votar e cujo voto acaba por não contar para nada”. Porém, mostra-se cético quanto à adoção de círculos uninominais (em que se exerce o direito de voto num só candidato), salientando o risco dos “deputados saltarem de partido em partido durante uma legislatura consoante as negociações políticas que são feitas”. O ceticismo em relação a esta opção é partilhado por João Cardoso Rosas, que relembra que “o sistema eleitoral maioritário com círculos uninominais favorece os grandes partidos e desfavorece os pequenos partidos em geral”. Embora a lista de competências atribuídas ao chefe de Estado pela Constituição da República Portuguesa seja reduzida, a possibilidade de instituir um regime presidencial é afastada por Braga da Cruz, que não considera que fosse uma decisão acertada, apontando o desfasamento “entre a legitimidade da figura presidencial, que é enorme, e os seus poderes”. Afia, ainda, como
solução a “diminuição desta legitimidade, através da revisão do regime eleitoral do Presidente da República, que passaria a ser eleito por sufrágio indireto”. Posição próxima é a adotada pelo professor do Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa, José Adelino Maltez, que afirma que “o Presidente da República não precisa de ter os poderes aumentados”, e acrescenta que “devemos continuar a ter o primado do parlamento sobre o presidente”. À parte das consequências que poderiam resultar da instituição deste regime, a possível implementação desta forma de governo não seria desprovida de riscos. “Um regime presidencial poderia rapida-
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“Um regime presidencial poderia rapidamente evoluir para um regime não democrático” mente evoluir para um regime não democrático”, relembra o professor da Universidade do Minho, embora admita a possibilidade de “um presidente eleito com poder executivo fortalecer a relação entre si e os eleitores”. Porém, Adelino Maltez reforça que se trata de “um problema de cultura política que não pode ser resolvido através de reformas legislativas”. O papel dos partidos políticos mostra-se essencial neste contexto, defendendo o professor do IEP-UCP que “é fundamental que estes se ancorem mais na sociedade, pois estão a fazer mal a mediação entre a sociedade e o Estado”. com António Cardoso
Razões históricas explicam o fosso entre o sistema político e os cidadãos
Acesso a cuidados médicos cada vez mais moderado carolina varela
As taxas moderadoras constituem uma forma de manter os serviços saúde ativos. O condicionamento do acesso à saúde exponencia o crescimento do setor privado Anna Charlotte Reis A implementação do novo regime de taxas moderadoras no Serviço Nacional de Saúde (SNS) surgiu como uma das medidas de austeridade do Estado, que perante o contexto de crise económica, pretendeu reduzir os gastos em todos os serviços públicos. A forma de financiamento e gestão da saúde em Portugal é hoje cada vez mais posta em causa no que à sua qualidade e manutenção dos serviços diz respeito.
Embora estas taxas constituam uma forma de equilibrar o orçamento público para saúde, um dos objetivos primordiais é moderar o acesso da população a esses serviços de assistência médica. No entanto, como é sabido, “estas taxas não têm moderado e não têm constituído razão para moderar o acesso dos utentes, e também não são fonte de financiamento”, afirma o diretor do Centro de Cirurgia Cardiotorácica dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), Manuel Antunes. Nas palavras da investigadora do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa (IHC-UNL), Raquel Varela, “apesar de se designarem taxas, tratam-se mais de um imposto e são totalmente injustas à luz do trabalhador que paga todas as funções do Estado”. Opinião que é semelhante à do coordenador regional da zona centro do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), Paulo Ana-
cleto, que não concebe a existência dessas taxas no contexto de Estado Social. “Os portugueses pagam impostos, por isso deveria-se financiar a saúde, a educação, a assistência social, a justiça, que são os pilares essenciais de qualquer economia em qualquer país”, enfatiza. Apesar da aplicação das taxas moderadoras em Portugal não ser algo atual, o agravamento das medidas de austeridade levam a um consequente aumento dos preços, conduzindo, então, a uma redução considerável de pessoas a procurarem assistência médica. “Hoje há uma menor acessibilidade provocada pelo aumento do valor das taxas moderadoras e de outros componentes da saúde”, ressalva o enfermeiro Paulo Anacleto. A limitação do acesso aos serviços médicos faz parte de uma descaracterização progressiva do SNS. “Este governo já deu provas de que as pessoas mais idosas não devem ter cuidados
de saúde, as pessoas com doenças crónicas , ou seja, aquilo que o governo acha que não é mão de obra produtiva pode ser eliminada.”, critica a investigadora do IHC-UNL. No entanto, e apesar do orçamento do Ministério da Saúde constituir cerca de 15 a 16 por cento do orçamento global do Estado, esses custos aumentam em média 5 a 6 por cento por ano. O diretor do Centro de Cirurgia dos HUC acredita que “pensar a gerência de um serviço básico como a saúde pelo Estado parece ser uma possibilidade distante atualmente”. Consequentemente, o serviço público de saúde é cada vez mais taxado e as clinicas e hospitais privados parecem cada vez mais beneficiados. “Os seguros em Portugal aumentaram em progressão geométrica, portanto o SNS é cada vez mais subfinanciado para que o setor privado floresça em grande medida”, destaca o Paulo Anacleto. com António Cardoso
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mundo
O negócio de Bruxelas e Washington Negociações de acordo de comércio livre transatlântico recentram a União Europeia (UE) no panorama internacional. O envolvimento de grupos de interesse provoca resistência ao acordo. A possibilidade de concretização do acordo abre a porta para uma integração mais profunda. Por Pedro Martins
N
uma era na qual se pensava que as atenções dos Estados Unidos da América (EUA) se encontravam concentradas no Pacífico, o início das negociações para a celebração da Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (PTCI), a 13 de fevereiro de 2013, veio demonstrar que a importância da UE na agenda norte-americana se mantem. Como maior destino para o investimento norte-americano e seu principal parceiro comercial, a UE
Tavares. Contudo, esta divergência de vontades é desvalorizada pelo Conselheiro Político e Económico da Embaixada de Portugal nos EUA, Gabriel Escobar, que frisa que se tratou de “uma decisão conjunta do Comissário Europeu do Comércio, do presidente dos EUA, do presidente do Conselho Europeu e do presidente da Comissão Europeia de colocar as negociações em marcha”. As expectativas relativamente às consequências deste acordo não
se torna numa “zona de comércio injusto”».
Envolvimento de lobbies nas negociações
Uma das consequências apontadas incide sobre a regulação económica. As diferenças entre as legislações regulatórias europeias e norte-americana têm sido apontadas ao longo das últimas décadas como um dos entraves principais para a entrada de produtos norte-americanos. Esta si-
que os consumidores venham a ser prejudicados pela entrada dos produtos norte-americanos, cujo preço é mais baixo, em consequência da flexibilidade da regulação desse setor nos EUA. As críticas ao acordo não se circunscrevem ao setor agroalimentar. A possibilidade de homogeneização da legislação sobre propriedade intelectual tem gerado oposição por parte de ativistas pela proteção de dados, que temem que esta venha a evoluir no sentido de facilitar o comércio de
ção à China, que tem sido a maior concorrente dos dois países na última década. Ana Gomes relembra a “concorrência desleal por parte da China”, referindo “o efeito disciplinador que este acordo terá nas relações comerciais”. Esta postura defensiva é desvalorizada por Rui Tavares. “As interdependências são muito grandes. Acho que ambos vão agir muito discretamente, de forma a não pôr a China em causa”, afirma o eurodeputado. A possibilidade de uma integra-
ilustração por joão pedro fonseca
conserva a sua posição de maior potência comercial mundial ao integrar a maior zona de comércio livre do mundo, cujas transações poderão contabilizar mais de 50 por cento do Produto Interno Bruto mundial. O apoio dos principais líderes europeus a este projeto não se fez tardar, embora o presidente da República Francesa, François Hollande, se tenha mostrado receoso quanto ao acordo. Porém, a reação entre os dois parceiros transatlânticos não é similar. “Durão Barroso fez deste possível acordo uma enorme festa em Estrasburgo, ao passo que Obama falou dela apenas numa frase no discurso sobre o estado da União”, relembra o eurodeputado independente, Rui
têm gerado consenso. “A abertura a um potencial de crescimento económico e de criação de emprego dos dois lados do Atlântico” é apontada pela eurodeputada socialista, Ana Gomes, como sendo uma vantagem significativa. Todavia, as fragilidades que algumas economias europeias demonstram no contexto de crise criam algum receio em relação à concorrência dos produtos norte-americanos que vierem a entrar no mercado europeu. Contudo, Rui Tavares relembra que “os problemas que estamos a viver agora são europeus, criados por europeus e que poderiam ser resolvidos por europeus”, embora admita «o risco de estarmos a entrar numa zona de livre comércio que rapidamente
tuação é especialmente visível no setor agro-alimentar, descrito pela eurodeputada como “o setor que vai oferecer maior resistência ao acordo”. Esta resistência levanta suspeitas relativamente ao envolvimento do ‘lobby’ da indústria agro-alimentar norte-americana, que muitos suspeitam estar por detrás do início das negociações, de forma a baixar as barreiras de entrada no mercado europeu. Essas mesmas alegações são recusadas por Gabriel Escobar, que afirma que “os EUA têm sido muito transparentes em relação à vontade de avançar nas negociações”. As suspeitas têm gerado oposição ao acordo por parte de diversas associações de defesa do consumidor europeias, que temem
dados pessoais, algo que acontece nos EUA. O mesmo acontece relativamente ao setor informático e à indústria cinematográfica, cujos interesses em proteger os seus produtos no mercado europeu são conhecidos.
Acordo tem efeitos geopolíticos
Os efeitos não se cingem ao campo económico. Em termos geopolíticos, “a criação desta área de comércio livre representa um fator de estabilidade da ordem internacional”, afirma o investigador do Instituto Português de Relações Internacionais, Carlos Gaspar. O crescimento económico oriundo deste acordo é apontado como uma vantagem económica em rela-
ção mais aprofundada no espaço transatlântico tem sido proposta pelos intervenientes. Num relatório oficial elaborado pelo grupo de trabalho euro-americano para o emprego e crescimento, este acordo deverá ser elaborado de forma a evoluir com o tempo, abolindo progressivamente as barreiras ao comércio e ao investimento e criando mecanismos que permitam um aprofundamento da integração. Todavia, a direção na qual esse processo irá evoluir é deixada em aberto. Como afirma o eurodeputado, “não deve haver qualquer rigidez de princípio”, não deixando de reiterar que “a Europa deve estar na linha da frente nessas matérias”. com António Cardoso
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cinema
artes
Grande “Oz: e Poderoso” De Sam Raimi Com James Franco Michelle Williams Rachel Weisz 2013
Oz: o grande e bom
ver
crítica de Manuel Robim
É
natural e inevitável que seja traçado um paralelismo – ou antes, uma linha de continuidade – entre “Oz: The Great and Powerful” e “The Wizard of Oz”, o clássico de 1939 escrito por Lyman Frank Baum. Afinal de contas, e apesar de a Disney não admitir oficialmente que se trata de uma prequela desse tão aclamado filme, “Oz: The Great and Powerful” conta a história do “grande e poderoso” feiticeiro de Oz, como ele chegou lá e que caminho percorreu para se tornar, uma vez mais, um grande e poderoso feiticeiro. Oscar Diggs, interpretado por James Franco, é conhecido no mundo do espectáculo como Oz, mas na verdade não passa de um ilusionista egocêntrico e mulherengo, pertencente a um circo ambulante que actua pelo Kansas. Estas suas características tornam-se evidentes durante a pequena introdução a preto e branco que Sam Raimi nos oferece. Oz, pelo meio de confusões com mulheres e maridos de mulheres,
acaba por ter de fugir num balão de ar quente enquanto um tornado se movimentava e ia destruindo tudo o que aparecia. À semelhança de Dorothy Gale em “The Wizard of Oz”, o ilusionista acaba por aterrar numa terra de paisagens deslumbrantes e recheada de criaturas mágicas e flores do tamanho de automóveis: este lugar é Oz. Acaba por ser uma rapariga tímida (Mila Kunis, no papel de Theodora, uma bruxa pacífica) que, ao encontrá-lo assim que ele cai do céu, o informa da grande profecia daquele lugar: um dia chegaria um homem vindo do céu, com o mesmo nome daquela terra, que libertaria todo o povo dos grandes males que ali convergem – neste caso, da malvada bruxa, Wicked Witch – para depois se tornar rei. Apesar de não ser brilhante, James Franco cumpre no seu papel, acrescentando uma personalidade misteriosa a um homem aparentemente pouco profundo e muito egoísta. Rachel Weisz como bruxa Evanora, irmã de Theodora, e Michelle
Williams como Glinda, a bruxa boa, acrescentam seriedade e leveza, respectivamente, conseguindo unir um argumento que não vai muito para além daquilo que pode. Ainda acompanhando Oz nesta jornada encontramos Finley, um fiel macaco voador com a voz de Zach Braff e também um outro elemento que me impressionou pelo alcance emocional gigantesco que acrescenta. Falo da pequena boneca de loiça, que ganha vida através da voz de Joey King. Poderia ser irónico que Oz tenha sido apelidado de grande e poderoso, tendo em conta que se trata de um ilusionista do início do século que, munido de truques que iludem os espectadores, leva-os a acreditar que a magia é real. Mas é exactamente esse o ponto-chave deste filme: crença. Oz não é um feiticeiro, é um ilusionista, e o verdadeiro desafio deste homem que “não quer ser bom, mas sim ser grande” é conseguir a crença da sua audiência. E a sua audiência desta vez é o povo desesperado de Oz.
“
Mata-os suavemente”
O
utono de 2008. Início da crise financeira nos Estados Unidos e colapso da banca com os resultados que hoje são conhecidos. Esta constitui a ação secundária que serve de pano de fundo na narrativa de uma outra crise. Enquanto Bush e Obama discursam e tentam encontrar soluções, Jackie Cogan (Brad Pitt) – um emotivo assassino a soldo – tenta encontrar os responsáveis pelo assalto a uma casa de jogo, propriedade de elementos do crime organizado de um obscuro subúrbio de Nova Orleães. Depois da ocorrência, o negócio do jogo ilegal vê-se abalado na sua fiabilidade. A tarefa de encontrar aqui pontos de contacto entre a ação principal e secundária torna-se fácil: após um
assalto que origina uma crise, há um sentimento generalizado de que é preciso responsabilizar alguém e levá-lo à justiça (independentemente do seu grau de culpa e do modelo em que esta é apresentada). O realizador Andrew Dominik conta ainda com poucos trabalhos no currículo: apenas duas longas-metragens antes de chegar a “Mata-os Suavemente”, sendo que, na sua estrutura essencial, há similaridades entre este filme e o anterior, “O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford”. Se o ‘trailer’ promete fartas cenas de pancadaria e violência ‘à la’ Hollywood, estas apenas consumem alguns minutos à hora e meia, fazendo basear a película
nos diálogos e relações entre personagens de moral questionável. Os efeitos especiais, ainda que escassos, pecam por algum exagero, fazendo com que algumas cenas fiquem mais folclóricas que esteticamente agradáveis. Dominik vai buscar outra vez Brad Pitt para fazer um filme com um ritmo notável sem precisar de recorrer constantemente aos espirros de sangue. Já para desempenhar os principais papéis de mafiosos e criminosos, a escolha torna-se demasiado óbvia, com James Gandolfini, Ray Liotta e Vicent Curatola muito colados a este tipo de personagens. Não foi um êxito, nem será um clássico, mas constitui um eficaz instrumento de entrecamilo soldado tenimento.
filme
De Andrew Dominik editora
Prisvideo 2013
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Entretém-me suavemente
9 de abril de 2013 | Terça-feira | a
cabra | 15
feitas
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“
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Bagaço, Ovos Moles & Diplexil”
É
de pouco interesse o significado de AVC. É tão provável que seja Aveiro City Brilhantina como Acidente Vascular Cerebral. contemporânea Um pouco à semelhança do que acontece no EP “Bagaço, Ovos Moles & Diplexil”, AVC vai sendo diferente de faixa para faixa, com apenas quatro denominadores comuns: DJ Profail, Haka, Spasm e Sarcasmo. Este quarteto não vem de agora e apesar de pertencerem à nova escola de MCs, dada a sua tenra idade, são já todos parte integrante do catálogo da No Karma Records: Haka e DJ Profail com a “Mixtape Sixteen”, Spasm com o EP “Ema” e Sarcasmo com o EP “Noites Calmas, Dias Felizes”. Um leque de De edições que vai tendo como pano AVC de fundo a Ria de Aveiro. Em “Bagaço, Ovos Moles & DiEditora plexil”, damos de cara com seis No Karma Records faixas totalmente novas onde, não só os MCs, como também os pro2013 dutores se apresentam numa forma bastante assinalável. Nomes como MCF, Metamorfiko, Zim, Deloise ou Sam The Kid, garantem que no melhor pano só cai a nódoa se os MCs trouxerem vinho. Sim, vinho! Fala-se de tudo: mulheres, decadência, vontades, loucura, bebedeiras, incertezas... Tudo isto abordado muitas vezes em tom de brincadeira, mas sempre com um descaramento e uma dose de brutalidade lírica poucas vezes ouvida no RAP português. Quem sabe se não é do bagaço? A exaltação do ego é de resto a característica mais vincada deste grupo que jura e acredita a pés juntos no tema “havece” que “AVC é do c***lho!” e que de tudo farão para “vencer no meio do azeite”. No meio da ironia tão característica, afirmam ainda, na ‘press-release’, que “AVC é, sem sombra de dúvida, a pior coisa a sair de Aveiro a seguir ao Paulo Portas”. Talvez por isso seja gratuito, apenas pago para quem quiser contribuir em nokarmarecords. com. “Bagaço, Ovos Moles e Diplexil” poderia perfeitamente ser a receita de uma terapia de choque de um qualquer curandeiro aveirense. Psicologicamente é a vacina contra o tédio, quanto aos efeitos físicos, esses permanecem no segredo de AVC. Carlos Braz
A memória imbuída no presente
De Leopoldo Brizuela Editora Alfaguara 2013
jogar
“A
memória é o essencial, visto que a literatura está feita de sonhos e os sonhos fazem-se combinando recordações”. A frase de Jorge Luís Borges encaixa na premissa de Leopoldo Brizuela para o livro “Numa mesma noite”. Por entre uma narrativa com influências do seu conterrâneo Borges, o escritor argentino reconstrói as memórias (suas e colectivas) à volta da ditadura argentina e da sua convivência com o presente. O livro, galardoado com o prémio Alfaguara em 2012 (um dos mais importantes prémios literários de língua espanhola), dialoga entre o 2010 e 1976, em duas histórias distantes no tempo e na situação política vivida, mas unidas por circunstâncias incrivelmente semelhantes. A personagem principal, Leonardo Bazán, é quem narra as duas histórias por ele testemunhadas. Dois assaltos à casa dos vizinhos, dois tempos, mas uma situação colectiva semelhante, um silêncio idêntico, movido por clandestinidades e suspeitas. Leonardo Bazán, para além das iniciais do seu nome serem as mesmas que as de Leopoldo Brizuela, também ele é escritor e também ele era adolescente aquando da ditadura militar na Argentina. Com laivos autobiográficos claramente assumidos, esta é também uma viagem do próprio escritor argentino à sua infância. Uma tentativa de, através da literatura, como a
“ E
personagem principal também o faz, questionar as suas memórias e de observar como estas se ligam ao presente – uma prática recorrente nos escritores da sua geração que cada vez mais se voltam para o período da ditadura argentina. Como num balancé, vamos saltando entre 76 e 2010, nas memórias de Bazán, ajudada por outras vozes e perspectivas de personagens que surgem para compreendermos esses dois assaltos movidos em mistério. Cria-se o suspense, com o leitor à procura de um desfecho que una os dois assaltos, e entre ele o que mais se encontra é medo. A cobardia está sempre presente na narrativa de Bazán - o medo como figura central. Contudo, se o olhar do narrador sobre 76 nos assombra, o retratar do presente desilude. É a parte da história que menos densidade tem, onde se pedia mais crítica, e menos devaneios existenciais do escritor, de Brizuela e de Bazán, agarrando-se demasiado à literatura e ao processo criativo, do que propriamente à desconstrução da sociedade argentina contemporânea. “Numa mesma noite”, apesar das críticas aqui lançadas, faz-nos também olhar para o nosso contexto, onde momentos contemporâneos cada vez mais se assemelham a outros tempos e vontades… João Gaspar
Metal Gear Rising: Revengeance - Xbox 360”
E, no meio disto tudo, onde anda o Snake?
guerra das cabras A evitar Fraco Podia ser pior Vale a pena A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro
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Numa mesma noite”
Plataforma Disponíveis PS3, Xbox 360 Editora Kojima Studios/Platinum 2013
xiste na vastidão da cultura cinematográfica e televisiva norte-americana um chavão cuja origem se perdeu algures na repetição contínua de si próprio e que se traduz à letra em algo como “nunca leves uma espada para uma luta de pistolas”. “Metal Gear Rising: Revengeance” (MGR:R) é denegação desta premissa básica. Esqueça-se qualquer lógica básica de combate. Uma espada – que mais parece uma qualquer peça caída do último modelo da Lamborghini – é mais do que suficiente para fazer a frente a dois parentes afastados de um AT-ST, quatro soldados e um puma metalizado, com uma moto-serra presa à cauda, e lança-chamas e mísseis em tudo quanto é parte do corpo. Afinal, é de ‘cyborgs’ que falamos. Em boa verdade, esqueça-se toda a lógica da mais recente fase da colecção, que conta já com dez capítulos. Em “MGR:R”, a furtividade e o tacticismo do movimento estão longes de ser o primordial, ante a espectacularidade e o dinamismo em que a acção se desenrola. Em pequenos trechos de alucinantes combates, onde a destreza de movimento e a necessidade de percepção lesta têm de imperar, a plasticidade das cores e a banda sonora electro/j-pop/ rock/por aí fora compõem um ramalhete capaz de fazer corar o fã mais in-
condicional de “DDR”. “MGR:R” é um jogo de arcada por excelência, onde até os combates são classificados numa escala de ‘A’ a ‘S’. Há uns tempos, logo após o anúncio de “Assassin’s Creed 4” (AC), discutia-se algures nos meandros da internet a longevidade cronológica da série e um hipotético argumento para um episódio no futuro. “Metal Gear Rising: Revengeance” oferece pistas para uma – má – má sequela de “AC”. Muito forçadamente, e sobretudo desastradamente, estão lá as marcas do ‘parkour’ que caracteriza toda a série dos assassinos. E, entre Ezio e Ratonhnhaké:ton, o modo de luta de Raiden não traz grandes novidades. Sobra-nos, porém, o consolo de perceber que “MGR:R” nunca poderá ser uma premonição de um “AC” futuro, na certeza de que seria impossível à Ubisoft desenvolver um enredo tão básico como o do novo Metal Gear, onde as falas se resumem a um diálogo digno de “Silent Jay and Bob”. Restam-nos também duas certezas: a de a diversão que decorre de ver a quantos minúsculos pedaços conseguimos reduzir o cenário, com a ajuda da katana, resultaria numa missão adicional, e a de que “MGR:R”, apesar de tudo, não é um jogo para doentes cardíacos. joão miranda
16 | a cabra | 9 de abril de 2013 | Terça-feira
soltas
Portugal em águas,
critic’arte
uma ideia para o ensino superior
prosa e poesia
João Ramalho-Santos • Investigador do Centro de Neurociências e Biologia Celular
Abrem-se as portas, os espetadores não se sentam nas cadeiras da plateia. Sobem todos ao palco para formar um clima imersivo e intimista. A cortina fecha-se e o cenário já pronto tem cadeiras que, juntas, formam a letra U, e ao centro das cadeiras uma mesa com areia repleta de cartas com poemas. O público senta-se e aprecia o escurecer da sala e o retornar das luzes que convidam a atriz para o centro. Começa a peça. No Dia Mundial da Poesia, o Teatro Académico de Gil Vicente prestou a sua homenagem através da obra de conceção e interpretação de Neusa Dias, “Portugal em Prosa e Poesia”. Muito bem desenvolvida, a representação permeia o tema “água” do início ao fim. Os textos e os poemas escolhidos são interpretados com maestria pela atriz. A trilha sonora, utilizada para auxiliar no tom e ritmo da peça, também foi escolhida a dedo. A peça torna-se uma homenagem a Portugal, uma vez que a autora assume a interpretação dos textos, dando vida a diversos portugueses e portuguesas mencionados em textos de Raúl Brandão, José Gomes Ferreira, Vitorino Nemésio, entre outros. Além disso, a grande capacidade da artista de transportar o público para lugares distantes fez com que a apresentação acabasse por ser um passeio turístico num barco à vela para os inúmeros estrangeiros que estavam presentes naquela noite do dia 21 de março. Durante os 50 minutos de apresentação, a atriz possui um olhar fundo e transmite a verdadeira importância da arte para o tempo presente. Como a mesma descreve na carta de apresentação da obra, citando Antonin Artaud, “a arte tem o dever social de abrigar o coração da sua época”. Neusa Dias representou o dever brilhantemente, trazendo à poesia uma brisa do mar que jamais conheceu. Por Caroline Pinheiro
“I
d.r.
A Investigação Enquanto Pilar de Excelência Universitária
ntegrar os alunos o mais possível (e o mais cedo possível) na atividade produtiva relacionada com a Universidade, e nomeadamente na investigação de excelência, deve ser um objetivo primordial do ensino. O que se aprende hoje não é estático nem imutável; trata-se, em parte, de conhecimento trabalhado por antigos alunos, que os atuais inovarão para gerações futuras. Seja investigação básica, seja aplicada; feita em laboratórios, escritórios, institutos, clínicas, bibliotecas, comunidades, campos, empresas. Em todas as Faculdades, em todas as áreas. É incrível que alunos de outras instituições estejam por vezes mais informados sobre oque se faz em Coimbrado que os seus próprios estudantes (e sei que o mesmo se passa noutras Universidades). Para tal é preciso saber identificar (e promover) a Excelência, não apenas presumir que tudo é igualmente bom; ou que há cursos de primeira e de segunda. Não há uma métrica única que meça a Excelência em todas as áreas do conhecimento, mas todas as áreas têm mecanismos capazes de a identificar. A Democracia menoriza-se quando se demite de avaliar e, pior, quando avalia sem respeitar diferenças. É preciso também pensar a longo prazo: a qualidade do ensino não passa apenas pela conclusão de cursos e preenchimento atempado de inquéritos e formulários; mas pelo impacto e
AAC
produtividade dos formandos a cinco, dez anos. Desse ponto de vista um erro tem sido a tentação de eliminar diversidade na formação, “fidelizando” alunos com Mestrados que são extensões de Licenciaturas, e Doutoramentos que apenas prolongam Mestrados. A que acresce a cegueira de considerar todos os alunos de igual modo, em mais um exemplo de democracia colectivista mal aplicada, que nivela por baixo. Os alunos de Doutoramento, sobretudo esses, têm de ser vistos como trabalhadores, porque de facto são dos elementos mais produtivos da Universidade. A inflexibilidade de prazos e as propinas (elevadas) no Terceiro Ciclo são contraproducentes e injustas, porquanto a qualidade necessita de tempo. Não se pode pedir Excelência com rigidez, nem (apenas) com docentes cada vez mais sobrecarregados. O que nos leva à necessidade imperiosa de integrar de modo mais consequente e menos envergonhado investigadores dos vários Centros ligados à Universidade no seu dia-a-dia; e participar na dignificação da profissão (porque disso se trata) de Investigador Bolseiro. Não pode ser algo tolerado com
desconfiança: com a sua experiência e qualidade estes elementos são uma clara mais-valia, dada a incapacidade orçamental para contratar novos docentes é a única via para alguma renovação. Claro que será necessário cumprir as devidas minudências jurídicas e pormenores burocráticos (ou mudá-los). Mas a Universidade tem de tomar medidas que evitem ostracizar colaboradores úteis, bem como mitigar as que tendem a transformar docentes em funcionários, e, no limite, em polícias e delatores, promovendo indiretamente a mediocridade e o cinzentismo apático. Para terminar a era útil, recompensar os mais produtivos, mais até do que castigar a preguiça incompetente. Mas reconhecer, com eficácia e sem complexos, a diferença entre uma coisa e outra,e tomar medidas concretas que não se resumam a “slogans” inconsequentes, seria um bom primeiro passo.
d.r.
portaria
pelos caminhos de santiago
Testemunhos e outras curiosas histórias de Francisco Linhares
“
Sempre me considerei um representante da Associação Académica de Coimbra (AAC) no Caminho de Santiago. É uma rota milenar, percorrida por muita gente, e quando saio de Coimbra levo sempre alguns emblemas da AAC para ir deixando. A Associação participa em muitas atividades culturais e desportivas e geralmente não participo em nenhum delas. A única coisa em que sinto que posso ser representante da Associação é realmente ali. Geralmente levo sempre um casaco, bonés e emblemas nas mochilas da AAC. No dia em que deixei o símbolo da AAC na Cruz de Ferro – um dos lugares mais emblemáticos do Caminho -, passou um grande grupo de ciclistas portugueses por nós, de Elvas, e disse-lhes “eu sou de Coimbra” e eles disseram-me “passámos na Cruz de Ferro e estava lá um símbolo da Associação”. Nem queriam acreditar que tinha sido eu. Fiz o primeiro Caminho em 2004 e depois já fiz mais seis vezes. O mais engraçado aconteceu-me em 2004. Quando cheguei a Santiago, uma das coisas que me surpreendeu foi encontrar na praça do Obradoiro muitos estudantes trajados, que abordam os peregrinos e oferecem-se para ser os cicerones na visita. Pensei logo: se um grupo de estudantes de Coimbra trajados se dirigisse aos turistas, não só se promoviam a eles próprios e à cidade, como também ganhavam um dinheirinho para eles. Depois desse ano, não sei se em 2006 ou em 2007, estava aqui a trabalhar e a Tuna de Santiago veio a Coimbra participar num encontro de tunas. Numa dessas noites do Festuna, quem é que me vem aqui parar ao banco em frente à entrada? Exatamente um dos estudantes da Tuna, completamente bêbedo. Queria comprar cigarros e alguém lhe disse para ir à Associação e pedir ao senhor Francisco para o deixar comprar tabaco. Ele não me pediu nada, pensava que estava mal disposto e fui perguntar o que se passava. Disse-me que era galego, que estava um pouco ‘borracho’ e que queria tabaco. Disse-lhe: “olha, vai à máquina e tira”. Quando me disse que era de Santiago, ficámos ali a conversar os dois a fazer tempo que abrisse o Troica para eu o levar para comer qualquer coisa e ficar melhor. Conclusão: ajudei-o e estive ali a conversar com ele sobre Santiago. Ficou-me tão grato e disse-me “Francisco, quando fores a Santiago procura por nós!”. E acabou por acontecer. Para aí uns dois ou três anos depois, estou eu sentado no chão, completamente roto, acabadinho de chegar e começo a ouvir “Francisco no lo posso crer”. Começo a olhar para o lado e era exatamente o mesmo gajo a quem eu tinha vendido tabaco. Começou a gritar “Coimbra, briosa!”, foi buscar a tuna e fizeram-nos uma serenata impressionante, linda! Eu explico a toda a gente o que é a AAC e todos eles se admiram pelo facto de a AAC me dar trabalho. Sobretudo quem conhece o grande grau de deficiência que tenho e aquilo que sofro admira-se como é que tenho paciência para trabalhar, em vez de estar internado e como é que a AAC me dá esta possibilidade. Senti-me um privilegiado imenso por pertencer à AAC. O meu trabalho na Associação conseguiu reconhecer-me tão longe! Trabalhar na AAC, para além de ser o meu ganha-pão, também me dá uma certa notoriedade porque me torna conhecido em todo o lado.
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Entrevista por Carolina Varela
9 de abril de 2013 | Terça-feira | a
cabra | 17
soltas
O INCERTO DESTINO DA APRESENTADORA AMARÍLIS
micro-conto
Por Mário de Carvalho
T
eria sido um fugaz tremor de terra, ou apenas um pico de luz. O certo é que o televisor estremeceu, pareceu oscilar e, a meio da sarabanda de efeitos dum espectáculo cheio de cor e sons, deu um estalo e apagou-se. Nesse instante a Apresentadora Amarilis foi projectada para a sala do senhor Gomes Raimundo com alguma força. Valeu-lhe a espessura da carpete e o braço dum sofá a ampará-la. Mas faltava-lhe um sapato.
No dia seguinte o senhor Raimundo levou a apresentadora à televisão e pediu explicações. --Não aceitamos devoluções -- disseram-lhe ao balcão. --Para mais, com um sapato a menos… -- Eu sei lá se o sapato era da casa? Se calhar os sapatos eram propriedade da senhora… -- Seja como for, é uma questão
de princípio…
raciocinar um bocado:
O senhor Raimundo disse que deixava ali a senhora e que lhe fizessem o que quisessem. Mas o homem abespinhou-se: «Não deixa, não senhor». «Deixo!» «Não deixa». E seguiu-se uma contenda verbal, até que apareceram os seguranças e o Senhor Raimundo e a Apresentadora Amarílis foram postos na rua. Havia muito trânsito. O senhor Raimundo disse então à mulher, após
--Vai desculpar, mas assim sem sapato, não dá. Não tenho pachorra para carregar consigo outra vez às costas de volta a casa. Quando muito posso levá-la até um contentor e fica para ali. Pode ser que alguém lhe pegue. A Apresentadora anuiu, que remédio. E ainda lá está. Um bocadinho de lado. ilustração por joão pedro fonseca
mário de carvalho 69 anos Jornalista, escritor, dramaturgo, argumentista e advogado português, teve uma trajetória de luta contra o regime salazarista que o levou à prisão e, inclusive, ao exílio na Suécia. Lisboeta, nasceu a 25 de setembro de 1944 e teve a prisão do seu pai pela PIDE como um marco que o levaria a resistir desde jovem ao regime vigente ideologia que o levou à prisão,em 1971, por catorze meses. Retornando a Portugal após da revolução de Abril de 1974, teve sua estreia com o volume antológico “Mar”, publicando no ano seguinte (1982) o seu primeiro livro. A bagagem cultural, as experiências vividas e os conhecimentos adquiridos sobre a língua portuguesa tornaram Mário de Carvalho um escritor versátil, merecedor de distintos prémios. Dentre eles os Grandes Prémios de Romance, Conto e Teatro da Associação Portuguesa de Escritores, o prémio Pen-clube e o Prémio Internacional Pégas.Com inúmeras publicações, o ritmo do autor é intenso e diversificado. O domínio do idioma e o seu estilo de escrita refletem a versatilidade e pontencialidade de um dos principais escritores da atualidade. Caroline Pinheiro
entre a arregaça e o calhabé Por Bacharel Jorge Gabriel
N
o outro dia, ouvi um fulano todo pintas – daqueles que usam a barba cuidadosamente por fazer e uma malinha a tiracolo – proferir a alto e bom som: “sabes, Vanda, já não conseguia viver sem o meu iPhone”. Enquanto resistia à súbita vontade de fazer o amigo da Vanda engolir o seu querido telemóvel aplicação por aplicação - cheguei à conclusão que o meu grau de quadradice é por demais elevado. Até porque não se tratava de um telemóvel, não senhor, tratava-se de um iPhone e com certeza existem aplicações que tornam a sua digestão uma brincadeira de crianças. Bem sei, caros leitores, que também vocês cederam ao chamamento da tecnologia. É natural que o façam. Bem sei que me olham do cimo da vossa torre de marfim e silicone, enfeitada com imponentes bustos de Steve Jobs e dizem: irra maiscágajo burro oublá, a falar mal dos iPhones. Isto de certeza
que ele não tem um. De facto, acertaram. Provavelmente não serei o mais brilhante dos quadrúpedes. E também não tenho um iPhone. Em tempos, porém, já tive uma dessas coisas a que chamam um telefone esperto até que o perdi em laringe alheia. Da curta experiência, retirei o gosto em andar com o mundo no bolso. Há que reconhecer todas as coisas boas que ter o mundo num buraco das calças acarreta. Desde logo, parecendo que não, o mundo é uma coisa volumosa, dá por isso sempre jeito alojá-lo perto da púbis de forma a impressionar o sexo oposto. Não me tomem por anti-tecnológico fundamentalista. Não quero que voltemos às cavernas, aos tempos em que amigar apenas queria dizer reduzir a migas os miolos do gajo da gruta vizinha. Simplesmente, preocupo-me com o rumo deste mundo que, ao andar no bolso de toda a gente, não anda na cabeça de ninguém. E, agora que
O mundo é uma coisa que brilha, vibra e às vezes parece um pénis grande d.r.
penso nisso, a referência à caverna não é descabida, assim nos lembremos da de Platão. Pseudo do…, dizem vocês agora, possivelmente com razão. Também pseudo é o facto de, na verdade, me estar borrifando para o mundo que, por sua vez, diga-se de passagem, se evacua com gosto
na minha bela tola. O que realmente me preocupa nestas coisas dos telefones i e dos telefones espertos é a forma como vieram mudar a minha vida, ainda que não possua tais bugigangas. Lembro com saudade as ardentes discussões em mesas de plástico vermelho, nas quais se debatia
quem marcou o segundo golo do Benfica-Copenhaga de 2005. Recordo com nostalgia as apostas ao fim de dez finos, sabendo que o resultado era o que menos importava, antes nos seduzia a retórica de um sofista com os copos. Só porque sim. Altercações que que se prolongavam durante horas, como se de tal celeuma dependesse o futuro da humanidade. Mas tás parvo? Algum dia o Super-Pai é de 2000? Com três toques se muda o mundo, ou com três toques se consulta aquele que temos na púbis, são as tais discussões infrutíferas findas à nascença. Poderão dizer-me que ganhamos anos de vida a evitar tais trivialidades. Talvez, caro leitor pragmático, talvez. Contudo, e poderá não ser menos verdade, se calhar perdemos anos de vida a contemplar tanto rectângulo brilhante. *Por escolha do autor este texto não segue as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
18 | a cabra | 9 de abril
de 2013 | Terça-feira
opinião Cartas à Diretora Crónica da Actual Família Portuguesa Tiago Lorga Gomes *
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Os filhos da velha vivem tempos difíceis, lutando contra o sistema que os quer cativos e obedientes, de cabeça submissa, cinto apertado, aprumados dentro do possível, para transmitir a ideia e a noção de ordem dentro do caos que assola a família
A velha. A velha está exausta. Miserável e sem onde cair morta, a viúva apresenta-se sempre de negro, essência do presente que vive e do futuro que se avizinha, chorando durante longas horas o auge da vida que lhe escorre por entre os dedos. Vive sem ambições nem encantos, dominada pelo medo de perder o pouco que tem, da ruína súbita e da vergonha da dívida. Outrora trabalhadora e serviçal, a velha está debilitada, frágil e no fim da vida. Os seus olhos perderam o brilho de outros tempos, realçado pela abundância de que dispunha e para a qual tanto se esforçara, espelham agora uma alma enferma e atormentada com o mal que já desaba, condenando-a a uma existência angustiante e simples, sem sonhos, à espera pela morte que espreita no sopro do tempo, sentindo um enorme temor pelos seus filhos e netos. A velha sofre e faz previsões do futuro, acidificando ainda mais o seu coração dilacerado pela miséria e pelo desespero. Os filhos da velha. Os filhos da velha vivem infelizes. Desesperam tal como a mãe, debatendo-se para ganhar o pão diário que já apresenta sombra de escassear, coisa que outrora não acontecia, no tempo em que existia capital, fartura e fundos. Irritados e enraivecidos com as condições que a vida lhes reservara, trocando o luxo de antigamente pela escassez actual: da falta de emprego
às dívidas acumuladas sem o menor dos remorsos; se celebram os filhos da velha como amaldiçoados, descontentes e a clamar por justiça. Saem às ruas, o poder nas mãos do povo, entoando canções e motes insurgentes, desafiando a supremacia da velha que está falida, esgotada, exausta, que nada mais tem para oferecer, nada mais tem para dar, para reservar e para pagar; da velha nada mais virá. Os filhos da velha vivem tempos difíceis, lutando contra o sistema que os quer cativos e obedientes, de cabeça submissa, cinto apertado, aprumados dentro do possível, para transmitir a ideia e a noção de ordem dentro do caos que assola a família. Desesperam com a falta de trabalho, os salários baixos, os preços cada vez mais altos, as obrigações e as dívidas, as despesas e os gastos necessários. Cortam em tudo porque têm de o fazer, igualmente derramando lágrimas pelo apogeu perdido que tanto conforto e qualidade trouxera, derrotado pelo desenrolar das economias e das nações. Os netos da velha. Os netos da velha não vivem, deixam correr o tempo. Alienados da situação actual, só alguns é que sentem o que se passa. A maioria contesta os cortes nas rotinas diárias, a escassez de fundos que os filhos da velha lhes dão, a perda do poder de compra e dos luxos de antigamente. Resignados
e centrados em si, os netos da velha só querem ser deixados fora do turbilhão, é problema dos outros, eles que o resolvam; há-de solucionar-se, dê-se-lhes tempo; não nos afecta. Aí é que os netos da velha assinam a sentença, deixando a crise e a miséria correr pelos lares da família, preocupados com eles, nas suas excentricidades e hábitos. Continuam a fazer por fazer, a mandar fazer, a fazer na errada expectativa de surpresa e novidade, agarrados a um futuro utópico, irrealista, boémio, centrado no estrangeiro, mundo de oportunidades; para fugir da velha que já está mais morta que viva, e dos filhos da velha endividados, antes que a coisa dê para o torto e ninguém consiga sustentar ninguém, vivendo todos do nada material, sabendo que do nada não se faz vida; desertando da pátria que os criou e que se afunda lentamente. A velha chora, sem reservas nem espólio para deixar, pelo futuro que se aproxima, pacientemente aguardando na enferma espera pela morte. Os filhos da velha vivem obcecados com o que ela irá deixar de herança, suplicando-lhe e ameaçando-a para lhes dar meio de sustento, a vida está adversa, os tempos difíceis e de nada valem as medidas austeras; crendo piamente que será a velha que os irá livrar de todo o mal, desconhecendo que nada lhes será deixado. Os netos da
velha estão pouco preocupados, se é que o assunto lhes suscita alguma emoção, idealizando sonhos maravilhosamente ricos e esplendorosos, ignorando que disso não passarão. Abram a cova, tragam a mortalha. A velha está morta, quer dizer, ainda respira e mexe, mas não vale a pena sustentar, a herança não cresce de dia para dia, mas a dívida e o gasto sim. Enterre-se a velha, mas não sem antes lhe pedir uma derradeira vez pelo fundo que hipoteticamente guardava, a salvação para o descalabro, a chave que iria abrir os cofres da abundância, o elixir da plenitude e da riqueza. A velha cerra os olhos; está efectivamente morta. Os filhos aguardam com impaciência as benesses que a miserável deixa para trás. Esboçam feições de puro terror, observando que nada ficara. Estão condenados. No enterro, a família da velha abraça-se, junta-se e sabe que ficará unida nesta luta contra a adversidade financeira, a crise, a fome e a miséria, a falta de emprego e a incerteza. No céu, a velha sorri e abençoa os filhos e os netos, reservando-lhes um futuro incerto e que por eles será moldado e ditado, à custa do suor e do sacrifício. Apenas o tempo o dirá, pensaria ela. Muito se engana, a velha. A família o fará.
meios de desvendá-los, provar sua atuação e finalmente punir o agente, ou até mesmo utilizar-se de ideias no estilo Michel Foucault, filósofo francês no seu livro “Vigiar e Punir” publicado em 1975. Mas as ferramentas que o direito e a medicina usaram durante muito tempo tornam-se pequenas para a descoberta desses crimes contemporâneos. Como o desenrolar de novas metodologias aplicadas ao mundo da criminalidade e a facilidade de conhecimento (tendo em vista que a educação hoje é acessível a todos que busquem ser conhecedores de algum tema e ou de alguma matéria específica), torna-se então justo do ponto de vista elucidativo que é perseguido pela criminalística que seja criado um caminho onde as novas ciências possam interagir, juntando assim conhecimentos técnicos para auxiliarem na elucidação dos crimes de uma forma ampla. Dessa forma temos um enorme campo de atuação onde podem ser chamados sempre que preciso profissionais das mais
diversas áreas como a Psicologia, a Botânica, a Química, a Física, as Mecânica, a Antropologia e outras mais com a finalidade de trazerem para o mundo jurídico e para o campo da criminalística uma “luz” que outrora não era enxergada. Os jovens profissionais que entram todos os anos no mercado de trabalho esquecem-se ou não são conhecedores de que há um enorme campo aberto para atuação das mais diversas áreas dentro do mundo criminalístico, um mundo novo com possibilidades de ascensão e renome no mercado e poucos são os jovens que se interessam em enveredar por este que promete ser um fascinante mundo. Cada vez faz-se mais necessários termos pessoas capacitadas para utilizarem suas ciências de forma a contribuir para que como em toda fórmula, a justiça seja feita de forma empírica, nos modelos probatórios e não nos moldes filosóficos.
*Estudante da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
Ciência e criminalística, uma visão para o hoje Josecler Alair *
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Atualmente um sujeito com índole criminosa pode utilizar-se perfeitamente de ferramentas e aparatos que o permite cometer delitos sem que ele tenha saído da sua residência
Há alguns anos que uma enorme quantidade de tecnologias novas está sendo introduzida e utilizada por parte das forças policiais em todo o mundo. Esses novos avanços tecnológicos estão a levar técnicas de investigação criminal a níveis jamais sonhados pela sociedade. Até o século passado, o mundo do crime era perfeitamente vinculado ao campo do Direito, em todos os lugares do mundo os artigos que eram elencados em todos os códigos, quer sejam eles penais, civis, constitucionais, eleitorais, trabalhistas e até mesmo o código canónico traziam permissões e/ou proibições que mostra-nos uma leitura direta sobre formas de prevenção a um ato criminoso e, se preciso, a punição em caso de cometimento de delitos. A criminalística, ciência auxiliar do Direito, encarregou-se de conduzir as investigações, os inquéritos, cuidando de trazer à baila as provas que forem precisas para atribuir a um agente, a execução de atos delituosos que poderiam levá-lo ou não a ser culpado por
isto. Quando era preciso sair do mundo jurídico para conseguir a resolução de crime contra a vida, recorria-se à medicina legal. Sherlock Holmes exemplifica-nos muito bem essa ideia de que no mundo do crime, o direito e a medicina devem andar equiparados. Mas a “evolução humana” deu-se segundo a teoria de Charles Darwin e infelizmente, junto com o homem as diversas modalidades de crimes também se foram evoluindo. Atualmente um sujeito com índole criminosa pode utilizar-se perfeitamente de ferramentas e aparatos que o permite cometer delitos sem que ele tenha saído da sua residência. Como exemplo temos os crimes cibernéticos e outros mais como os crimes de peculato, de extorsão, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e/ou assinaturas, violação moral, sexual e a pedofilia. Face a essas muitas mudanças o mundo jurídico tem de acompanhar essas modalidades de crimes e a criminalística da mesma forma precisa estar á frente para encontrar
*Perito judicial, pós-graduando em Ciências Forenses
9 de abril de 2013 | Terça-feira | a
cabra | 19
opinião
Cartas à Diretora Exercício do Direito de Resposta e de Retificação André Oliveira* Exma. Sra. Diretora, No dia 19 de março de 2013, o Jornal de que V/ Exa. é Diretora publicou uma entrevista/crónica com o funcionário da AAC, Francisco Linhares, que contém um conjunto de factos falsos e incorretos, que atingem a minha reputação e bom nome, pelo que, nos termos da Lei, vejo-me forçado a solicitar a publicação, na próxima Edição do jornal Universitário de Coimbra “A Cabra”, do seguinte: DIREITO DE RESPOSTA E RETIFICAÇÃO 1. No dia 19 de março de 2013, o Jornal “A Cabra” publicou uma entrevista ao funcionário da AAC, Francisco Linhares, que contém um conjunto de factos falsos, ofensivos e que põem em causa o meu bom nome e imagem. 2. Contrariamente ao referido nessa entrevista, a empresa “InTocha” iniciou a sua atividade na AAC em 2006 e não em 2008 (ano este em que presidi à Direção-geral da Associação Académica de Coimbra). 3. Nunca qualquer funcionário reportou à DG/AAC 2008 ter sido vítima de ameaças ou agressões por parte de elementos da empresa de segurança ou de quaisquer pessoas ligadas ao concessionário do bar. 4. A DG/AAC a que presidi não foi a única a instaurar um processo disciplinar ao referido funcionário, com fundamento em
Editorial
incumprimento dos seus deveres profissionais. 5. No ano de 2008, Francisco Linhares foi efetivamente alvo de um processo disciplinar motivado por um vasto conjunto de razões, nomeadamente: (i) atrasos repetidos e injustificados no início de turno; (ii) faltas não justificadas ao trabalho; (iii) regresso tardio de férias, sem qualquer justificação. 6. Apesar de estas e outras condutas do funcionário consubstanciarem, no nosso entendimento, justa causa de despedimento, tivemos em conta a sua condição física e as dificuldades que repetidamente invocava, para não efetivarmos o despedimento por factos que, naturalmente, apenas ao próprio podiam ser imputados. 7. É falso que alguma vez o Magnífico Reitor ou o Diretor dos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra tenham abordado o signatário sobre este assunto. 8. A ação da DG/AAC 2008 sempre foi no sentido de defender os superiores interesses dos estudantes e da AAC e não o interesse de alguém em particular, seja estudante, funcionário, instituição pública ou privada. 9. Lamento profundamente que Francisco Linhares tenha aproveitado uma entrevista, sem exercício prévio do contraditório, para proferir afirmações falsas e que colocam em causa o meu bom nome, bem como o de todos os que integraram a DG/AAC 2008. 10. Consequentemente, aguardo que, em tempo útil e através deste jornal ou de outra publicação com idêntica tiragem e abrangência, Francisco Linhares se retrate e assuma inequivocamente a falsidade das afirmações que proferiu, sob pena de ter que recorrer aos mecanismos adequados para repor a verdade dos factos. *Presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra no ano letivo 2007/2008
Falta capacidade de organizar
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A atividade de congregação entre os núcleos e a Direção-geral da Associação Académica de Coimbra dará sempre que falar. Este ano deixam-se as conclusões serem limadas em Assembleia Magna. Em má altura chegou o anúncio do primeiro-ministro a explicar a fábula dos cortes nos setores basilares da economia e do bem-estar social. Significou que as academias ainda têm mais que suar ou simplesmente desenhar ações que não saem do círculo do inglês para ver. A discussão no Fórum AAC durou horas mas, como sempre, os trabalhos foram demorados porque houve quem não chegasse a tempo. A dispersão lembrada por Ricardo Morgado como fator disuasor para o Fórum cá aconteceu, mas muito por conta da sua pessoa. No segundo dia de trabalhos marcado para começar às 14h, apenas se iniciou às 17h com a chegada do presidente. Consta que o debate do dia anterior durou até de manhã, foi animado, e por isso eram precisos afinar os retoques para a tarde. Não os houve, o programa inverteu-se e todos os núcleos esperaram por aquele que nos representa. Apesar da decisão tardia, o Fórum AAC ganhou em ser em Coimbra. No entanto, há coisas que se dão que nem abonam a favor de um local ou de outro. Repetem-se as manhas não importa a localização. Resolveu-se adotar uma petição que já tinha sido proposta por outros e o pedido da palavra nas aulas para simbolizar o 17 de Abril ,já que Nuno Crato recusou mais uma vez vir a Coimbra.
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Repetem-se as manhas não importa a lo calização. Resolveu-se adotar uma petição que já tinha sido proposta por outros e o pedido da palavra nas aulas para simbolizar o 17 de Abril
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O cidadão português é caracterizado por não refletir sobre a forma como nos organizamos em tudo na vida, e a organização do sistema político não é exceção. Consequentemente, a forma como esse sistema funciona transmite aos cidadãos uma imagem negativa do poder judicial, da Assembleia da República, do Governo e do Presidente da República. Não é tanto o sistema político em si mas a forma como o é organizado, acima de tudo por não ter mecanismos que sejam capazes de eliminar a compra de poder ou a corrupção. O descrédito nas instituições leva a uma falta de confiança e de esperança nas forças internas em encontrarem uma solução, com base numa reflexão realista e inteligente e conducente de decisões compatíveis com o real e eficaz funcionamento da democracia. O sistema parlamentar de partidos que temos não se mostra compatível e já deu sobejas provas das suas incapacidades. Há que encontrar um sistema político alternativo que verdadeiramente tenha em conta os interesses legítimos dos cidadãos. No entanto, para tal exige-se uma verdadeira consciência da sociedade civil para a problemática contrariando o divórcio cada vez maior entre os cidadãos e o sistema político. Um divórcio que é real e tem sido agravado ao longo dos últimos anos. Novos estilos, uma nova dinâmica e uma nova noção de cidadania são aspetos fundamentais para que exista um necessário gradualismo reformista. Por António Cardoso e Liliana Cunha
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Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759 Diretora Ana Duarte Editora-Executiva Ana Morais Editores Rafaela Carvalho (Fotografia), Liliana Cunha (Ensino Superior), Daniel Alves da Silva (Cultura), João Valadão (Cidade), Carolina Varela (Ciência & Tecnologia), António Cardoso (País & Mundo) Paginação António Cardoso, Rafaela Carvalho Redação Ana Francisco, Bárbara Sousa, Beatriz Barroca, Daniela Proença, Ian Ezerin, João Martins, Joel Saraiva, Pedro Martins, Tiago Rodrigues Colaborou nesta edição Anna Charlotte Reis, Daniela Gonçalves, Camila Correia, Caroline Pinheiro, Dalila He, Sara Silva Fotografia Ana Maria Coelho, Ana Morais, Caroline Pinheiro, Daniela Proença, Daniel Alves da Silva, Inês Balreira, Inês Valadão, Rafaela Carvalho, Sara Silva Ilustração Carolina Campos, Joana Cunha, João Pedro Fonseca, Tiago Dinis Colaboradores permanentes António Matos Silva, Bruno Cabral, Camila Borges, Camilo Soldado, Carlos Braz, Catarina Gomes, Fábio Rodrigues, Filipe Furtado, Inês Amado da Silva, Inês Balreira, João Gaspar, João Miranda, João Ribeiro, João Terêncio, José Miguel Pereira, José Miguel Silva, Luís Luzio, Lourenço Carvalho, Manuel Robim, Rui Craveirinha, Tiago Mota Publicidade António Cardoso - 914647047 Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Adriana Bebiano, João Rasteiro, Francisco Linhares
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jornal universitário de coimbra
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Centro de Cirurgia Cardiotorácica
O Centro de Cirurgia Cardiotorácica dos CHUC, coordenado por Manuel Antunes, celebra 25 anos de sucesso na prática cirúrgica. Com uma taxa de mortalidade inferior a um por cento e uma média de 1850 operações por ano, o centro realiza toda a atividade com base no trabalho de equipa, num controlo completo pelo diretor e na exclusividade de todos os médicos. A inexistência de lista de espera está na base dos valores atingidos, atirando o centro para o topo da Península Ibérica. Três quartos do trabalho preconizado pela equipa, de cerca de 115 pessoas, centra-se em cirurgias de revascularização coronária e cirurgias valvulares. C.V. PÁG. 9
DG/AAC
A Direção-geral da Associação Académica de Coimbra (DG/ AAC) conseguiu à primeira vista uma boa solução para os seus bares e a garantia de um bom encaixe financeiro. Assegurou para se precaver uma cláusula que, em caso de incumprimento, tem a garantia de seis meses de renda assegurada. No entanto, o contrato com a Unicer esconde uma contrapartida que ainda dará que falar pelos organismos da casa – o direito de preferência por esta empresa no que toca ao patrocínio corta a possibilidade de procurar outras formas de concessão, limitando a decisão ponderada e livre. D.A.S. PÁG. 5
Sistema Político Português
O sistema político português não se adequa à realidade política atual. Ao fim de 39 anos de democracia, o povo português não se sente identificado com a classe política que o representa. Nesta “partidocracia” disfarçada de democracia, os cidadãos têm sido tratados como peças no jogo de interesses dos líderes políticos. Ignorando a constituição pela qual se deveria guiar, o poder político guia o nosso país num caminho em direção a um beco sem saída. O povo assiste, imóvel, sem reagir, e assim se mantem, passando Portugal de um Estado de direito ao “Estado a que chegamos”, nas palavras de Salgueiro Maia. P.M. PÁG. 12
Uma imagem vale mais que mil palavras por Paulo Batistella
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É difícil escrever sobre uma fotografia que nos diga algo. Tanto quanto reconhecê-la numa sociedade imagética e exibicionista. Imagens é o que mais temos, percepções é o mais difícil. Para ver e sentir algo novo, é preciso sair da zona de conforto. Viajar para Marrocos foi uma das melhores coisas que já fiz na vida, e fazer essa foto também, visto que não tenho grandes habilidades como fotógrafo, nem um vasto repertório fotográfico. O retrato do sorriso miúdo, envolto em tecidos marroquinos, retoma um novo mundo, que me descobriu e ainda me assusta. Mas, tal como intitulado, se uma imagem vale mais do que mil palavras, para que esse breve comentário? Também não sei. Pela preguiça, nem teria feito. Contudo, precisava de ressaltar que uma boa imagem, também vale mais que mil.