8 DE NovEmbro DE 2011 • ANo XXI • N.º 236 • QUINZENAL GrATUITo DIrETor cAmILo soLDADo • EDITorEs-EXEcUTIvos INês AmADo DA sILvA E João GAspAr
Uma ideia para o Ensino Superior por J.Norberto Pires
acabra
“A equação da inovação” Pág. 20
JorNAL UNIvErsITárIo DE coImbrA
Estudantes presentes na greve geral dia 24 de novembro, após decisão em Magna Na AM de ontem, 7, ficou decidida a presença dos estudantes de Coimbra na manifestação de 24. Eleições para os corpos gerentes da AAC marcadas para os dias 28 e 29
A
presença dos estudantes de Coimbra na greve geral convocada pelas centrais sindicais, CGTP e UGT, para o próximo dia 24 de novembro, foi deliberada ontem,7, em Assembleia Magna(AM). A decisão resultou de uma moção proposta pela
DG/AAC aprovada por larga maioria, numa intenção de demonstrar o desagrado dos estudantes face aos cortes anunciados para o ensino superior. Também em AM ficou acordado que as eleições para os corpos gerentes da ACC vão realizar-se nos dias 28
e 29. Ao contrário do que vem sendo habitual, este ano as eleições não terão período de reflexão, devido à aprovação de uma moção apresentada em Magna. Dia 24, face à presença dos estudantes na greve geral, não haverá campanha eleitoral. Pág.5
CeM ANOs De FCtuC A faculdade que se diz das ciências assinala o seu centenário desde a reforma republicana de 1911 A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra celebra um século de existência desde da reforma republicana de 1911, que uniu as Faculdades de Matemática e Filosofia, criadas pelo Marquês de
Pombal. O último século de ensino é indissociável da reforma pombalina, que introduziu o ensino experimental e modernização dos planos de estudo e descobertas internacionais, como o lítio.
Pág.14
felipe grespan
Linhas ferroviárias abandonadas e agora suspensas PET do atual governo prevê suspensão das linhas do Oeste e Vouga no próximo ano Pág. 12 e 13
DestAque
CAMINhOs
O sufoco financeiro dos estudantes
Um adulto festival É preciso informação de cinema português para exercício cívico
Condicionados pelas dificuldades económicas que se fazem abater sobre as famílias, muitos estudantes da UC passam por privações. Também o novo regulamento de bolsas, sucessor do decreto-lei 70/2010, vem retirar a ainda mais estudantes o direito de receber este apoio que, para muitos, se revela essencial para a permanência no ensino superior. Quem deseja ficar é, cada vez mais, obrigado a definir estratégias e encontrar alternativas de financiamento.
A comemorar a sua 18ª edição o Festival Caminhos do Cinema Português, apresenta-se de 9 a 17 de novembro ao público com mais de 150 filmes. Com uma maior participação do público na votação, o evento, entre documentários, curtas e outros géneros, traz a Coimbra películas como “O Barão” de Edgar Pêra, “Viagem a Portugal” de Sérgio Tréfaut ou ainda “Cisne” de Teresa Villaverde.
Pág. 2 e 3
Pág. 7
Princípio “utilizador-pagador” no Estádio Universitário As secções desportivas reclamam pelo esforço que fazem, todos os anos, para manter as condições do estádio, quando surge a notícia de que o estádio universitário vai passar a ser pago. A medida, votada em Conselho Geral da Fundação Cultural da Universidade de Coimbra e
que já motivou as demissões dos elementos do Conselho Desportivo da Associação Académica de Coimbra da comissão de gestão do Estádio Universitário de Coimbra , vai entrar em vigor já no próximo mês de janeiro. Pág.10
CIDADANIA e INFORMAçãO
Plataformas como o Puzzled By Policy surgem como instrumentos para ajudar a uma melhor informação dos cidadãos. Numa conjuntura de crise a informação torna-se vital para um real exercício da cidadania, em que os media são fundamentais para um conhecimento económico-social das populações. Pág. 17
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Mais informação em
acabra.net olga juskiewicz
2 | a cabra | 8 de novembro de 2011 | terça-feira
deStAque
O que a CRISE es
Foi em 2010 que as regras de atribuição de bolsa mais privaram aceder a este apoio. Somando a atual conjuntura socioeconómic permanecer no ensino superior. Por Inês Amado da Silva, An
O
ingresso no ensino superior – com todas as dificuldades que acarreta – já não é uma garantia de estabilidade. Aos constrangimentos que os jovens têm de contornar, soma-se, agora, um cenário de asfixia financeira, no qual o estudante, com ou sem apoio, tem de movimentar-se. Espelho da crise económica que afeta as famílias, os jovens enfrentam limitações agravadas pelas novas restrições no âmbito da atribuição de bolsas, bem como pela impotência dos serviços de ação social (SAS). Serviços esses que estão menos humanizados desde que em abril, por despacho do ex-ministro da ciência e tecnologia e ensino superior, Mariano Gago, é obrigatório que os SAS processem as candidaturas às bolsas através da plataforma da direçãogeral do ensino superior, ao invés de todo o processo ser tratado diretamente nos serviços. As perspetivas de futuro, condicionadas, desta forma, pelas posses económicas, passam pela intenção de abandonar um país que não garante as condições necessárias para a melhoria do nível de vida dos estudantes. Apesar de preferir que Portugal “oferecesse condições de trabalho aos seus jovens”, o secretário de estado do ensino superior, João Queiró, afirma que “havendo a atual situação de desemprego” é possível que “haja diplomados que procurem essa opção noutros países”. No entanto, o secretário de estado tem dúvidas quanto à expressão “fuga de cérebros”, pois “não há dados concretos”, mas reconhece que é “bem visível” que se está a assistir a “uma fase de procura de melhores condições de vida” no estrangeiro. O ensino universitário atravessa, assim, uma etapa crítica – e tanto as
Ilustrações de tIago dInIs
universidades como os estudantes fazem escolhas e poupanças
para sustentar a situação de crise. João Queiró acredita que, antes de a situação económica do país melhorar, “ainda vai piorar um bocado”.
Estudantes e SAS fragilizados No ano letivo de 2010/2011, menos 12 mil estudantes do ensino superior receberam bolsa de ação social escolar (ASE) em relação ao ano anterior. Devido ao regulamento de atribuição de bolsas, estipulado pelo decreto-lei 70/2010, o facto de os rendimentos familiares ultrapassarem os valores definidos fez com que 32 por cento dos estudantes vissem o seu pedido de bolsa indeferido. Também 19 por cento dos candidatos a bolsa não apresentou um número suficiente de créditos efetuados no ano anterior. Nesse ano, os Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC) viriam a indeferir mais 700 bolsas de ASE que no ano anterior, constituindo uma quebra de 35 por cento no número de bolsas atribuídas. Para o presente ano letivo, as perspetivas não parecem melhorar. João Queiró defende medidas mais rigorosas no que toca ao aproveitamento escolar. Se no ano passado os ECTS a realizar por um estudante deveriam totalizar os 50 por cento, segundo o novo regulamento apresentado pelo Ministério da Educação e Ciência, esta percentagem sobe para 60 no ano letivo 2012/2013. Apesar de o processo de atribuição não estar ainda concluído, perspetiva-se que, a nível nacional, cerca de dez mil alunos possam vir a perder o apoio para estudar, a maioria devido ao fim do regime transitório, em vigor no ano anterior (que consistiu em atribuir a bolsa mínima a quem não preencheu os requisitos segundo o decreto-lei 70/2010). Ainda assim, João Queiró considera que a
estimativa de dez mil alunos é um número “exagerado”. Como avança o jornal Público, em todo o país, “os indeferimentos deverão chegar quase aos 30 por cento, o número mais alto dos últimos anos”. Contrapondo-se aos cálculos, o administrador dos SASUC, Jorge Gouveia Monteiro, afirma que “é completamente prematuro fazer estimativas de quantos alunos vão ficar sem bolsa este ano porque há um cruzamento de muitos fatores que se alteraram”. Segundo o administrador, no ano passado, cerca de 800 estudantes receberam bolsa em Coimbra ao abrigo deste regime transitório. É também em Coimbra que se vai operar o maior corte nos serviços de ação social. Segundo Gouveia M o n teiro, a verba consignada pelo Orçamento do Estado (OE) para os SASUC, passa de 5,5 milhões de euros (verba que se mantinha há quatro anos seguidos) para 4,84 milhões de euros. Ainda que o OE para 2012 atribua aos serviços de ação social da UC a verba mais elevada dos SAS do país, as situações de carência e até de abandono do ensino superior parecem multiplicar-se. Face às desistências, o administrador dos SASUC garante que o número de 600 abandonos da UC que se registou até fevereiro de 2011 não pode ser usado como indicador por não ser preciso. “As anulações têm muitas outras razões”, refere Gouveia Monteiro, que acredita que “o grande sinal de abandono são os estudantes que desaparecem e não se voltam a matricular, nem nesta, nem noutra universidade, não tendo concluído os estudos”. O administrador lembra a importância de um estudo que faça “esta despistagem de forma muito mais organizada, para se poder perceber qual é o volume daqueles que desaparecem do sistema de ensino superior”.
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deStAque
stá a tirar aos ESTUDANTES
am os estudantes de a receber. O novo regulamento vai cortar ainda mais o número de estudantes que podem ómica, são cada vez mais aqueles que passam dificuldades e se vêm obrigados a encontrar estratégias para Ana Francisco e Camilo Soldado
Tiago Cruz: “A minha situação não me permite pagar todas as despesas” Todos os dias de aulas, o estudante do terceiro ano de direito faz o caminho entre Figueira da Foz e a faculdade pois não tem alojamento em Coimbra. Apesar de ter recebido bolsa no primeiro ano, assim não foi no segundo e por uma cadeira ficou de fora do sistema de atribuição de bolsas. No entanto, com o rendimento do agregado familiar de uma empregada doméstica e dois irmãos a estudar no ensino básico, Tiago Cruz não se manteria no ensino superior sem o Instituto Justiça e Paz. “A minha situação não me permite pagar todas as despesas inerentes à frequência no ES”. O estudante poupa em tudo o que pode: “evitar refeições fora das cantinas, trazer comida de casa, pedir livros emprestados ao invés de os adquirir e andar a pé” são apenas algumas das medidas para Tiago conseguir cortar. A única despesa mensal fixa é o passe social que usa para se deslocar entre a Figueira e Coimbra.
Bárbara Antunes: “O meu pai diz que o curso é a herança que deixa” Estudante do segundo ano de Psicologia, Bárbara Antunes tem 20 anos. É para ir a casa que, todas as semanas, diz poupar 10 euros do seu dinheiro – porque ir a casa “faz falta”, e trabalha ao sábado num café de Viana do Castelo, a sua zona. “Se trabalhar as oito horas de todos sábados do mês, consigo 50 euros”, conta. O pai, reformado, mantém uma pequena empresa que gera prejuízo; a mãe mantém dois empregos, com os quais consegue 800 euros ao fim do mês. A irmã está também no ensino superior (ES). Sempre lhe recusaram bolsa: “quando me dizem que os meus pais têm rendimentos a mais acho que está tudo maluco. É ridículo”. Quanto ao futuro profissional, admite ser necessária adaptação e disponibilidade para o que vier, “temos que nos sujeitar”. Nunca equacionou deixar de estudar: “o meu pai diz que o curso é a herança que deixa”, conta Bárbara - mas assegura que “o ES é cada vez mais para quem tem dinheiro”. Filipe Salazar: “Não sei se vai ser possível voltar” Sem bolsa no segundo ano de Jornalismo, com o pai desempregado há ano e meio e a perda de um dos empregos da mãe, Filipe Salazar, com 20 anos, congelou a matrícula quando devia estar a frequentar o último ano da licenciatura. Residente na Maia, o estudante sentiu que “as coisas em casa estavam muito apertadas” e não se sentiria bem se não ajudasse. Depois de já ter acumulado dois empregos e um deles ter fechado, Filipe trabalha numa empresa de telecomunicações na área do telemarketing em regime de part-time. O irmão mais velho tem 22 anos e também trabalha, nunca tendo tido hipótese de frequentar o ES. Enquanto estudava em Coimbra, Filipe candidatou-se às residências universitárias, sem sucesso. O próprio revela que houve fins de semana em que os 50 euros de orçamento semanais encurtavam para 30 e ficava sem ir a casa. “Tenho perspetivas de voltar”, conta, “mas não sei se vai ser possível”.
Ana Garcia: Quanto ao futuro, “não dá para ter uma visão positiva” A preocupação de tirar boas notas foi o motivo que a levou a repetir o primeiro ano de Direito, que diz ser um curso “dispendioso”: “os livros todos para o semestre rondam os 150/200 euros”. Agora no segundo ano, “como, à partida, não tenho os 50 créditos exigidos, não terei bolsa”. É por isso que, de há três semanas para cá, trabalha num call center. Filha de pais divorciados, afirma que o pai, apesar de não ganhar “propriamente mal”, é consumido pelo valor do empréstimo à habitação. A mãe está desempregada depois de a fábrica onde trabalhava ter fechado. Recebe a bolsa mínima, valor que lhe paga o alojamento na residência e tem cortado “naquilo que, no fundo, não é essencial” (concertos, cd's). E assegura que, quanto ao futuro, “não dá para ter uma visão positiva quando se está a par do que acontece atualmente”.
Rosa Cardoso: “Preciso mesmo de ser independente” A frequentar o 5º ano de Medicina, Rosa Cardoso diz não passar fome nem lhe faltarem bens essenciais. “Tenho muitas amigas que me estão sempre a oferecer ajuda”, conta. A estudante de 23 anos revela encontrar-se numa situação familiar complicada, que não lhe permite contar com ajuda dos pais, apenas com a dos tios. A bolsa de cerca de 400 euros que lhe era atribuída passou para o montante mínimo: “o que é que eu vou fazer à minha vida, isso é impossível”, terá reclamado nos SASUC, e a resposta que obteve foi que “há pessoas em situações bem piores”. Entretanto, Rosa tem evitado as idas a casa ao fim-de-semana, em Guimarães. Vive numa residência, admitindo que lhe seria impossível pagar um quarto. “Comer na cantina ainda fica um bocadinho caro, tento fazer o máximo possível de refeições em casa”, conta também. O seu maior objetivo é poder sustentar-se “sem ter que recorrer a outras pessoas”: “preciso mesmo de ser independente”. Estudante de Direito: “Tenho medo que os meus pais me digam para desistir por não poderem pagar” Sem bolsa desde o ano passado, por não ter completado os requisitos de aproveitamento escolar, a estudante de 20 anos do curso de Direito, que não se quis identificar, voltou este ano a candidatar-se após ter completado as cadeiras em falta. A “lenta verificação das candidaturas à bolsa” faz com que tenha de fazer alguma ginástica financeira para pagar propinas, rendas e material escolar. Com ambos os pais a trabalhar com o ordenado mínimo nacional, a jovem de Leiria gasta algum dinheiro em deslocações e confessa evitar fazer algumas viagens a casa. “Tenho medo que os meus pais me digam para desistir por não me poderem pagar os estudos”, confessa, explicando que tem de gerir um orçamento mensal reduzido. A sua prioridade é acabar o curso e ter um emprego em concordância com as possibilidades económicastendo em conta o “desemprego” que a fará deixar de lado a vontade de ser advogada.
Ruben Viegas: “No centro comercial, 70 por cento dos trabalhadores são licenciados” O seu futuro será fora do país. “É frustrante uma pessoa andar a estudar 17 anos de uma vida para receber o ordenado mínimo”, justifica o estudante de 21 anos, a frequentar a licenciatura em Administração Publico-Privada (APP). Candidatou-se a bolsa quando entrou no ensino superior. “Entretanto o meu pai ficou desempregado e foime concedida a bolsa”, recorda. Na segunda matrícula, Rúben não obteve bolsa porque o ano de adaptação lhe correu “um bocado mal” e fez menos uma cadeira do que as necessárias para atingir o aproveitamento escolar. O estudante de APP viu o seu pedido para a bolsa indeferido e começou a trabalhar. “Não foi uma obrigação mas ajudou bastante”, lembra. O estudante trabalha em regime part-time num centro comercial onde garante que 70 por cento dos seus colegas são licenciados.
Sofia Peres: Os SASUC aconselharamna a desistir dos estudos Sofia Peres vive dos abonos, da pensão da avó, e dos trabalhos que a mãe faz ocasionalmente. Ficou sem bolsa aquando da alteração das regras de atribuição, por estas não terem em conta as mudanças de curso. Este ano voltou a concorrer, mas um erro na avaliação das dívidas na segurança social deixou o processo pendente. Confrontados com o seu “complicado” processo, os SASUC aconselharam-na a desistir dos estudos. Indignada pela falta de apoios sociais, conseguiu a ajuda do fundo do Justiça e Paz que incumbe nos seus membros o princípio de “retribuir e ajudar outros alunos que estão na mesma situação”, explica a jovem de 19 anos. Com um bom aproveitamento escolar e planos para montar o seu próprio negócio, a aluna do segundo ano de Estudos Artísticos vê os seus horizontes limitados pelos constrangimentos económicos. “Já ponderei deixar de estudar quando as coisas estavam mesmo difíceis”, lembra Sofia, que aponta a “incompetência na maneira como os SASUC avaliam os processos, dos quais estão geralmente sobrecarregados” como motivo da má avaliação dos casos.
Nuno Margarido: “Mais do que uma instituição para gerir, os SASUC devem ser uma instituição para cuidar” “Se não tivesse vindo para a faculdade poderia ter um futuro melhor, e não teria estas preocupações”, defende Nuno Margarido, 23 anos, a frequentar o último ano em Direito. O jovem acredita que há dois tipos de estudantes para dois tipos de ensino superior público. À espera de saber se vai ser admitido na residência a que se candidatou, vive a “situação embaraçosa” de morar com os amigos. Com uma irmã mais nova ainda no ensino secundário, o pai desempregado e a mãe a ganhar pouco mais que o ordenado mínimo, sente-se como apenas “mais um número” nas listas dos SASUC. Um dos constrangimentos que ultrapassa é a “vergonha” de não poder comprar os livros pedidos pela licenciatura. Considera a hipótese de ir trabalhar para o estrangeiro. Propõe ainda que os estudantes possam trabalhar nas cantinas, e outros espaços da UC, sem prejuízo na bolsa, afirmando a sua convicção de que os SASUC, “mais do que uma instituição para gerir devem ser uma instituição para cuidar”.
4 | a cabra | 8 de novembro de 2011 | Terça-feira
EnsIno suPErIor Pré-CamPanha eleitoral Para os CorPos gerentes da aaC
Dos cartazes aos autocolantes Novo senador da FLUC eleito a 12 de dezembro Inês Balreira No próximo dia 12 de dezembro os estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) vão escolher o seu novo representante para o Senado Universitário. Desde o início do ano letivo que a FLUC não tem representatividade orgão. A senadora eleita o ano passado, Diana Taveira deixou de ser aluna da UC, encontrando-se a frequentar o mestrado em Lisboa. Como tal, a estudante teve de renunciar o cargo ao fim do primeiro ano, que deveria ser ocupado por um dos suplentes da lista – Fábio Pereira e André Mendes. Porém, nenhum dos dois aceitou o cargo. Diana Taveira explica que quando se candidatou sabia que poderia ter de abandonar o Senado, no entanto “estava descansada” uma vez que os suplentes “comprometeram-se a ocupar o lugar, o que acabou por não acontecer”. “Eu ia informando-os das reuniões para estarem a par dos assuntos quando um deles tivesse que assumir o cargo”, acrescenta. O primeiro suplente, Fábio Pereira, afirma que a situação foi inesperada. “Já sabíamos que a Diana iria sair, da minha parte sugiram problemas e não consegui aceitar as funções, as razões do André não as sei”, explica o estudante. Fábio Pereira revela ainda o seu desconforto perante a situação: “acho que é triste termos saído assim, porque nos candidatámos para defender os interesses dos estudantes da FLUC e não conseguimos”. O coordenador geral do pelouro da Política Educativa e também responsável pelo pelouro da Ligação aos Orgãos, Samuel Vilela, explica que o esperado nesta situação é que “sejam convocadas eleições intercalares para cumprir o ano de mandato que falta”. Samuel Vilela adianta que as eleições vão ser convocadas hoje pela reitoria e vão decorrer no dia 12 do próximo mês. O coordenador diz ainda ter conhecimento da renúncia dos dois suplentes, inclusive questionou André Mendes acerca da possibilidade de aceitar o cargo até novas eleições, sem resposta positiva até ao momento. “Acho que é grave nenhum dos dois ter assumido o cargo e se a intenção não era de continuar, que o assumissem até haver eleições para manter a representatividade da faculdade”, acrescenta Samuel Vilela. Até ao fecho da edição não foi possível contactar o segundo senador suplente, André Mendes.
Apesar de ainda não ser semana oficial de campanha, os projetos apostam já na divulgação das suas ideias. Por detrás da difusão trabalham equipas com estruturas diferentes, que se adequam ao orçamento disponível. Por Inês Balreira
A
poucos dias dos estudantes da Universidade de Coimbra (UC) serem chamados às urnas para escolher os novos corpos gerentes da Associação Académica de Coimbra (AAC), os projetos já conhecidos ultimam os pormenores para os tempos de campanha que se avizinham. Situada no número 91B da Avenida Sá da Bandeira, fica a sede do projeto “Desperta a Academia”. O espaço, bastante amplo, era uma antiga sucursal da Caixa Geral de Depósitos, que se encontrava fechado há mais de 10 anos. A sede divide-se numa sala espaçosa, onde se realizam as reuniões, e em duas mais pequenas: uma sala envidraçada para algumas das reuniões e outra, que funciona como espécie de gabinete. Os outros projetos já conhecidos – “Liga-te à Academia” e Frente de Acção Estudantil (FAE) – não têm ainda sede definida. Ricardo Morgado, da “Liga-te à Academia” conta que tinham um sítio certo para a sua sede, contudo, devido a problemas, tiveram que pensar numa segunda opção, que ainda está a ser pensada. “O local carecia de uma licença e não nos quiseram emprestar o espaço”, explica. Por sua vez, Manuel Afonso,
elemento da FAE, conta que também ainda não encontraram um sítio para a sede. “Pedimos aos Serviços de Acção Social da UC uma sede permanente, mas eles ainda não deram resposta. Apenas nos disponibilizaram as cantinas”, afirma.
Organização da campanha Por detrás de toda a divulgação trabalha um conjunto de pessoas, cuja organização vai variando de projeto para projeto. No caso da FAE, a equipa funciona por plenário em que estão presentes todos os membros. “Nunca começamos a trabalhar do zero, tudo o que são ideias já vêm de trás”, esclarece Manuel Afonso. Sílvia Franklim, também membro da FAE, conta que para hoje à noite, dia 8, está convocada uma reunião aberta para todos os que queiram participar no projeto.” Depois da reunião vamos articular a questão da lista, do programa e da campanha”, acrescenta a estudante. No projeto de Ricardo Morgado existe um encarregado pela divulgação em cada faculdade. “O responsável trabalha com o diretor de campanha, é assim que o material é distribuído e as coisas funInês BalreIras
cionam”, adianta o representante da “Liga-te à Academia”. Contrariamente, a “Desperta a Academia” não tem diretor de campanha, como esclarece o seu representante, André Costa. “Assentamos no princípio de que todos devem participar nas decisões e na equipa de campanha.
“Não podemos esbanjar dinheiro na campanha quando esta vale cada vez mais pelas ideias” Assim sendo, o nosso projeto não tem diretor de campanha, tem uma equipa coordenadora, de 19 elementos”, explica. Tal como a “Liga-te à Academia”, a “Desperta a Academia” tem um elemento da equipa em cada faculdade e ainda alguns elementos para funções específicas, como a comunicação interna e externa e o trabalho gráfico.
Financiamento para as atividades Em tempos de crise também os projetos têm que encontrar for-
mas de se auto financiar. “Somos um movimento que não é financiado, não temos apoio de nenhuma juventude partidária nem de nenhum lobby económico”, assevera André Costa. O estudante revela que desenvolveram um sistema de três níveis de financiamento: o primeiro provém do contributo pessoal dos elementos; o segundo é fruto de iniciativas próprias, como jantares de projeto ou a venda de postais aos turistas durante o mês de agosto; o terceiro provém do que conseguem ao mobilizar a sociedade, os comerciantes, a família e amigos. Por sua vez, Ricardo Morgado garante que os lucros conseguidos até agora pelo seu projeto advêm de “um esforço de equipa”, mas que futuramente vão poder usufruir do ‘plafond’ disponibilizado pela AAC. “Estamos em crise, não podemos andar a esbanjar dinheiro numa campanha, quando esta vale cada vez mais pelas suas ideias”, afirma o estudante. Sílvia Franklim explica também que o financiamento que têm conseguido provém das coletas que fazem no fim das reuniões. A estudante acrescenta ainda que futuramente contam também com a verba disponibilizada pela AAC. Inês BalreIra
Inês BalreIra
O projeto “Desperta a academia” é o único com sede já definida
8 de novembro de 2011 | Terça-feira | a
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EnsIno suPErIor
Estudantes na greve geral dia 24 rafaela carvalhO
Manifestação do dia 24 vai contar com a presença dos estudantes de Coimbra. Em AM ficaram marcadas as eleições para os corpos gerentes da AAC, dia 28 e 29 Inês Balreira Ana Morais Por deliberação da Assembleia Magna (AM) realizada ontem, 7, os estudantes da Universidade de Coimbra (UC) vão sair à rua no próximo dia 24 de novembro. A Associação Académica de Coimbra (AAC) associa-se, assim, à manifestação do dia da greve geral de trabalhadores, convocada pelas centrais sindicais CGTP e UGT, em Lisboa. A decisão resulta de uma moção proposta pela direção-geral da AAC (DG/AAC), como forma de demonstrar o descontentamento dos estudantes face à atual conjuntura económica e social do país, mas principalmente aos cortes já anunciados para o ensino superior (ES). O coordenador-geral do pelouro da Política Educativa, Samuel Vilela, salienta que esta não deve ser “uma iniciativa isolada por parte dos estudantes”. A concentração está agendada para as 15 horas no Largo Marquês do Pombal, tendo como destino final uma manifestação em frente à Assembleia da República. O presidente da DG/AAC, Eduardo Melo, afirma que os estudantes vão seguir o curso normal da manifestação, mas não
6 Eduardo Melo
Presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra
este ano não haverá dia de reflexão para as eleições. a decisão provém de uma moção aprovada na aM. pode confirmar se os estudantes se vão juntar desde o início aos trabalhadores devido a questões logísticas. Um dos vários elementos do quórum a congratular a iniciativa da DG/AAC foi o estudante da Faculdade de Direito da UC, Hugo Ferreira, que depois da moção ter sido proposta, confessou que iria apresentar uma semelhante. Contudo, o estudante da FEUC, André Martelo, afirma que a “junção aos trabalhadores não faz sentido. Não fazemos greve, somos estudantes e não trabalhadores”. André Martelo revela que existem associações de estudantes que estão a preparar uma manifestação nacional para o dia 29 deste mês, à qual a AAC não vai aderir. Segundo o aluno da FEUC a par-
ticipação nesta iniciativa seria “muito mais concertada”. Em resposta, Eduardo Melo afirma que a DG/AAC “não tem conhecimento” do evento agendado para dia 29. “Acho curioso aqueles que pedem manifestação, atrás de manifestação venha agora criticar”, protesta o dirigente. André Martelo adiantou que está também convocada uma manifestação em Coimbra para o dia 24.
Definição do calendário eleitoral Outro assunto que marcou esta AM foi a discussão e aprovação do regulamento eleitoral. Por decisão maioritária, os estudantes vão escolher os novos corpos gerentes da AAC nos dias 28 e 29 do presente mês. Caso haja necessidade
de se recorrer a uma segunda volta esta vai ter lugar a 5 e 6 de dezembro. O regulamento estipula ainda que os projetos candidatos tenham entre os dias 14 e 16 para apresentarem a sua candidatura oficial enquanto lista. O período de campanha decorre entre os dias 19 e 27, sendo que contrariamente aos outros anos, estas eleições ficam pautadas por uma ausência de período de reflexão. A decisão provém de uma moção proposta pelo estudante da Faculdade de Letras da UC (FLUC), André Amador. Ficou ainda estipulado que dia 24 não haverá campanha eleitoral, uma vez que os estudantes se juntam à greve geral. A proposta partiu do estudante da FLUC, Tiago Martins.
Quanto às listas para o conselho fiscal serão apresentadas separadamente das listas para a DG/AAC e mesa da AM, sendo que os elementos para o referido órgão são eleitos pelo método de Hondt, não havendo lugar para uma segunda volta. Na sequência da definição do calendário eleitoral foi apresentada uma moção relativa ao ‘plafond’ disponibilizado pela AAC às listas concorrentes durante a campanha. O proponente, Diogo Barbosa, estudante da FLUC, sugeriu que as listas concorrentes pudessem apenas utilizar as verbas disponibilizadas pela Associação, de maneira a evitar “os milhares de euros em materiais de campanha”. No entanto, a moção foi reprovada.
“Acredito que se tente colar a imagem de instabilidade e que seja vantajoso para alguns” O mandato da atual direçãogeral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) tem sido pautado por sucessivas demissões. Porém, o presidente da DG/AAC garante que não se vive um clima de instabilidade. Na semana que passou houve mais uma demissão, a do tesoureiro. Miguel Andrade afirmou que se “sentia perseguido pela falta de confiança” desde que iniciou funções. Porque é que existe uma falta de confiança entre os elementos da tua equipa? Essa falta de confiança não existe dentro da minha equipa. A única questão relativamente ao Miguel prendeu-se com algumas falhas técnicas que eu tive a oportunidade de explicar. Acho muito estranho que alguém queira provocar um caso des-
tes e referir-se a perseguição política, fazendo-o publicamente da maneira que o fez e que é assessorado pelo assessor de uma lista candidata à DG. O clima de instabilidade que se vive na DG/AAC pode ser motivo para uma falta de confiança dos estudantes nos seus dirigentes e um consequente afastamento da AAC? Eu percebo que as pessoas possam achar isso não conhecendo a realidade, mas não é isso que se passa. Acredito que neste momento se possa tentar colar a imagem de instabilidade e percebo que isso seja vantajoso para alguns. Acredito que os estudantes saberão fazer esse julgamento e saberão compreender que nenhuma decisão é tomada com leviandade, mas sim como forma de proteger os seus interesses. Quem é que vai ocupar o
lugar de tesoureiro? Philip Santos? Eu requeri ao Conselho Fiscal indicação sobre o procedimento para substituir o tesoureiro. Só depois de ter essa indicação é que poderei realizar essa substituição. Poderá ser o Philip como poderá não ser… O facto de já vários elementos da DG/AAC acumularem cargos pode prejudicar as funções para que foram inicialmente designados? Não acredito nisso. Se assim fosse e se prejudicasse as suas funções já teria havido outro tipo de reorganização. Isso não se verifica e estamos descansados quanto à atuação do Samuel Vilela e do João Pereira. Como é que vês os três projetos que já se apresentaram como candidatos aos corpos gerentes da AAC? Até este momento
não conheço o conteúdo dos três projetos. Sei apenas que, se houver a tentação de criticar esta DG, cá estarei para a defender. Obviamente tenho as minhas opiniões, mas guardo-as para mim. Acho que os estudantes conseguem avaliar os projetos e escolher o melhor para a AAC. O que esperas da próxima DG/AAC, independentemente da lista que ganhar? Espero uma DG com uma postura cada vez mais preocupada com a defesa dos direitos dos estudantes, que seja capaz de dizer que a AAC está presente e tem ideias concretas para o desenvolvimento da nossa sociedade. Penso que será necessário ao longo do próximo ano intensificar ainda mais a postura reivindicativa da AAC. Inês Balreira
6 | a cabra | 8 de novembro de 2011 | Terça-feira
ENsiNo suPErior arquIvo - rafaela Carvalho
Para além do Centro de Produção de Conteúdos, que vai funcionar na Casa das Caldeiras, vão ser integrados na Fundação Cultural a loja e o circuito turístico, bem como a Rede UC
Fundação Cultural da UC reestruturada e com novas metas Numa fase de dinamização do órgão, vão ser incluídas três novas estruturas. Entre elas está o Centro de Produção de Conteúdos, a situar-se na Casa das Caldeiras Inês Balreira Ana Francisco O Centro de Produção de Conteúdos, a Loja e Circuito Turístico e a Rede da Universidade de Coimbra (UC), são unidades que vão passar a ser geridas pela Fundação Cultural da UC (FCUC). A inclusão no órgão, que tem por objetivo promover, apoiar e dinamizar iniciativas no âmbito das atividades Inês BalreIra
científicas, culturais e sociais da UC, faz parte de um processo de dinamização que a estrutura vai sofrer nos próximos tempos. A Casa das Caldeiras é o local escolhido para acolher o novo Centro de Produção de Conteúdos. O centro “será uma unidade que vai enquadrar projetos da UC, como a televisão web UCV, e o iTunes University, que consiste na divulgação de um segmento da plataforma iTunes de conteúdos produzidos por universidades”, explica a vicereitora para a Cultura, Clara Almeida Santos. O objetivo é que este funcione como um elo de ligação entre as valências e recursos dispersos pela UC. Quanto à integração da Loja e Circuito Turístico, a aposta é impulsionar o branding e merchandising da UC, bem como disponibilizar uma oferta turística de uma forma mais integrada. O
vice-reitor para a Inovação, Recursos Humanos e Novos Públicos, Henrique Madeira, explica que a intenção é disponibilizar “material a bons preços, mas acima de tudo passar uma imagem apelativa e interessante da UC”. O também coordenador da loja e circuito aponta o início de 2012 como data de reestruturação da loja. “Vamos ter uma loja online a sério, com uma grande diversidade de produtos ao dispor da comunidade universitária e dos turistas em geral”, conta. A dinamização do Circuito Turístico da UC conta ainda com a colaboração da Câmara Municipal de Coimbra. “A lógica da promoção cruzada tem de ser implementada e o grande objetivo é fazer com que os turistas compreendam que esta cidade tem muito mais a oferecer do que uma visita de um par de horas”, explica Clara Almeida Santos. A rentabilização do circuito tu-
rístico permite ainda a manutenção do espólio e publicitar a imagem da UC. “O espólio precisa ser bem cuidado e isso é um custo enorme. A maneira como o orçamento de uma universidade é formado tem pouco em consideração este fator”, aclara Henrique Madeira.
Um novo impulso para a restante FCUC Com a inclusão destas novas unidades na FCUC, também as outras já integradas - Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), Auditório da Reitoria, Palácio de S. Marcos e Estádio Universitário de Coimbra (EUC) – vão sofrer uma dinamização. O TAGV vai apostar na “fomentação e desenvolvimento das redes de criação e produção”, como refere a vice-reitora para a Cultura. Contudo, Clara Almeida Santos esclarece que “o mais importante será definir a dinâmica de programação
em curso, que tem as limitações a que os tempos correntes obrigam, mas que segue uma linha”. Os objetivos quanto ao EUC passam por continuar a apoiar o desporto universitário. Contudo, foi recentemente aprovado o regime de utilizador-pagador. Clara Almeida Santos explica que “não é possível à UC assumir todas as despesas de funcionamento”. Relativamente ao auditório da reitoria e ao Palácio de S. Marcos vão continuar a servir a mesma lógica de funcionamento. Porém, à semelhança do EUC, a sua utilização vai passar a ser paga, apesar de os “preços praticados serem quase simbólicos”, esclarece a vice-reitora. Clara Almeida Santos refere ainda que, num futuro próximo, “terá de haver uma preocupação alargada, caso a UC venha a ser classificada como património da Humanidade”.
Pagamento dos lucros da Latada 2010 em atraso Contas vão ser pagas até ao final do mandato da atual DG/AAC, revela o coordenador geral dos núcleos. Falta de tesoureiro não deverá afetar o processo Inês Balreira Anualmente, os 26 núcleos da Associação Académica de Coimbra (AAC) recebem da direção-geral da AAC (DG/AAC) a quantia referente aos lucros que obtiveram na Festa
das Latas desse ano. No entanto, existem contas de 2010 ainda por saldar. O coordenador geral dos núcleos, José Amável confirma esta situação, afirmando ainda que “os processos de tesouraria são complexos e a DG/AAC não teve possibilidade de pagar aos núcleos antes”, atendendo a que é necessário “ter em conta outras despesas”. No entanto, foi estipulado um prazo em conselho inter-núcleos para o pagamento das contas em atraso, que o coordenador aponta para dois a três meses após a latada de 2011. José Amável revela ainda que para além das contas de 2010 vão ser pagas já as referentes a 2011. Questionado sobre a falta de tesoureiro o coordenador afirma que “a
questão temporária do tesoureiro está a ser tratada com a maior celeridade e não vai afetar a continuação deste processo”. O núcleo de estudantes de Química é um dos exemplos que ainda não recebeu os lucros de 2010, como confirma a sua presidente Cristiana Marques. No entanto, houve já núcleos que receberam a quantia de 2010. O presidente do núcleo de Engenharia Informática, Tiago Abrantes, revela que a “DG/AAC pagou a núcleos que estivessem numa situação financeira mais apertada”, mas que, não é o caso do seu núcleo. Um dos que já recebeu o pagamento foi o núcleo de Psicologia e Ciências da Educação, confirma o seu presidente, Ricardo Viegas. “Fi-
zemos um pedido de agilização de verbas porque tínhamos saído de uma presidência complicada e queremos realizar umas jornadas científicas e, apesar de já estarmos numa situação melhor, queríamos esse acerto de contas”. Existem ainda outros núcleos que não vão receber quantia alguma, uma vez que têm contas em atraso com a DG/AAC. José Amável explica que, com estes núcleos, foi feita uma “modalidade em que a dívida seria subtraída ao valor que têm para receber”. O núcleo de Economia é um dos que se encontra nesta situação e abdicou do montante de 2009 e 2010 para saldar as dívidas, como confirma o presidente do núcleo, Dino Alves.
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CuLTurA
18 anos a gerar visibilidade no panorama do cinema nacional
cultura por
cá
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o único festival de cinema português do país atinge a maioridade. Numa semana com mais de 150 filmes, construir um curso prático de cinema e aumentar a participação do público na votação são as novidades. Por Liliana Cunha e Ana Duarte D.r.
Jornadas de dramaturgia espanhola Contemporânea ConFerênCia e leituras FluC e tCsB vários horários • entrada livre
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D.r.
NOV
“À CoNvErsA CoM… GAsPAr sobrAL” tertúlia BiBlioteCa muniCipal 18h • entrada livre
14 18 a NOV
“o PoDEr DA EsCriTA DoCuMENTAL” Curso livre de paleograFia arquivo históriCo 15h • 10 a 15 euros
15 NOV
“brANCo” DE KrzyszToF KiEsLowsKi Cinema auditório do msCav 21h30 • entrada livre
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“reesCrever o pós-moderno” de Jorge Figueira exposição e Colóquio Colégio das artes 18h • entrada livre
18 NOV
“soNNENALLEE” DE LEANDEr hAubMANN
“sangue do Meu sangue”, da autoria de João Canijo será um dos muitos filmes a exibir, assim como “Cisne”, de Teresa villaverde
F
ilmar em português. A rodagem de películas em idioma lusitano passa há dezoito anos por Coimbra, com um festival a trilhar as novidades recentes da produção cinematográfica portuguesa. Neste outono, contam-se algumas novidades mas a matriz é sempre a mesma: desafiar as pessoas a ver o que de melhor há no nosso cinema. O Festival Caminhos do Cinema Português, único no país, destaca-se igualmente pela escolha de uma cidade fora do circuito das grandes metrópoles. Organizado pelo Centro de Estudos Cinematográficos (CEC) da Associação Académica de Coimbra, o Caminhos é composto por uma equipa de colaboradores, que trabalham desde a formação em workshops até à programação de todo o evento. O presidente do CEC, Vítor Ferreira, ressalva o esforço interino, aumentado pelos “problemas crónicos de falta de pessoal” na secção. Salienta ainda que nada é feito em vão, pois o fim último faz com que todos tentem “levar o festival a bom porto e dar-lhe um palco cada vez melhor”. As novidades são várias, conferindo um novo rosto a esta edição. Acolhe-se como novo espaço o Centro Cultural Dom Dinis, a gratuitidade de sessões para idosos “Caminhos Séniores” - a decorrer nos dias 12 e 13 de Novembro. Realizam-
se também as “Master Sessions”, onde o conteúdo dos filmes dá azo a discussão entre realizadores e audiência. E como a atração de público é sempre relevante, este ano promove-se, ainda, a sua participação direta na classificação de filmes: em todas as sessões é distribuído um boletim de votação para a eleição do melhor filme segundo a audiência.
Filmes,realizadores e júri De longas a curtas, documentários a animações, os géneros espelham a diversidade e a consagração dos autores selecionados a concurso. Na secção competitiva, há João Canijo, com “Sangue do meu Sangue”, o filme de ficção português mais visto do último ano e Teresa Villaverde com “Cisne”, só para nomear alguns. A aposta em novos talentos é reforçada pelos “Ensaios Visuais”, que destacam jovens amantes da sétima arte. Em “Retrospetiva” revisitam-se outros tempos e na categoria de “Cinema Mundial” viaja-se pelo trabalho de diferentes realizadores estrangeiros. A seleção dos filmes passa por vários critérios. Vítor Ferreira defende a representatividade das obras a concurso e dos seus criadores: expõe “a qualidade dos filmes em si” e “todo o cinema produzido em Portugal durante um ano”. Para Rodrigo Barros,
co-realizador da curta metragem “Nocturnos”, este festival revela-se importante pelo facto de nunca ter realizado um filme antes: “conheci a Aya Koretzky [co-realizadora de “Nocturnos”] e decidimos fazer este trabalho. Abordámos a forma de vida dos indigentes, assunto esse com pouco espaço mediático”, explica. No caso de Tiago Cravidão, autor de “Magiae Naturalis”, foi através da promotora Andar Filmes que a colaboração se concretizou. Na opinião do presidente do CEC, o júri é uma mais-valia para o festival. Heterogéneo, com elementos reconhecidos pela opinião pública, este encontra no seu seio jurados provenientes de “diversas tendências” para fomentar a “discussão” aquando da deliberação dos possíveis galardoados. São José Correia, um dos elementos, encontra neste festival “grande mérito” e crê que “há uma geração a mudar de atitude”, tomando “o gosto pelo cinema português”. O painel de jurados estende-se às três secções: para além do júri oficial, há o júri da Revista C, o júri de Ensaios Visuais e o júri da Federação Internacional de Cineclubes.
O que esperar Mas o “Caminhos” vai para além da mostra de filmes. “A ideia de fazer um ciclo de formações completas já vem
de há algum tempo”, adianta o formador do workshop de edição de som e imagem e membro do CEC, Tiago Santos. A ideia é fornecer uma componente mais profissional aos participantes, dar-lhes a parte prática que, na opinião do formador, é quase inexistente. Os módulos vão desde linguagem cinematográfica com o doutorado em Cinema Fausto Cruchinho, pré-produção com o produtor de documentários da RTP José Farinha e montagem com João Brás. “Isto é um ensaio”. Apesar de já terem algumas inscrições garantidas para as atividades dos workshops, Vítor Ferreira admite a hipótese de a ideia falhar. No entanto, Tiago Santos espera que “haja formandos suficientes para fazer o curso inteiro e, a partir daí, haver uma linha que una todos os módulos”.
Expetativas para a ediçãoVítor Ferreira espera que “com a heterogeneidade do painel de jurados, saia dali uma decisão que seja representativa daquilo que é, efetivamente, o melhor do cinema portuguêsde 2010/2011”. No que diz respeito à relação visibilidade/retorno, Tiago Santos não tem pudor em afirmar que a visibilidade “é enorme”, mas a repercussão da mesma não se efetiva da mesma forma : “é dificil porque os orçamentos são baixos”.
Cinema FluC - sala 10 20h• entrada livre
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“véNus NEGrA” DE AbDELLATiF KEChiChE Cinema tagv 21h30 • 3
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“i CouLD Do ThAT” DE MAriANA roquE
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exposição sala arte à parte entrada livre Até
FEsTivAL DE MúsiCA DE CoiMbrA 2011 músiCa vários loCais sessões às 21h de 0 a 5 euros
ou
21h30
Até
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“DoN’T shiT whErE you EAT” E “A sALA” exposições CapC – Casa muniCipal da Cultura 3ª a sáB - 14h às 18h s/inFormação de preço
Por Rafaela Carvalho
8 | a cabra | 8 de novembro de 2011 | Terça-feira
CulTuRa
Há vida por detrás das paredes do Ingote e da Rosa. E vem à varanda Quatro mulheres distintas e, no fundo, com algo em comum, que vale a pena mostrar: é este o tema da exposição fotográfica “Mulheres do Bairro” Ana Duarte Mariana Santos Mendes Uma exposição de fotografia pouco convencional. No Bairro da Rosa e no Bairro do Ingote, de 15 de outubro a 30 de novembro, será possível admirar, espalhadas pelos bairros e suspensas em varandas, fotografias de “quatro mulheres extraordinárias”, que fazem parar até o mais distraído transeunte. “Atrás das casas vivem pessoas e foi isso que quis mostrar”, explica Francisco Paramos, recém licenciado em Comunicação, Design e Multimédia, pela Escola Superior de Educação de Coimbra, que promoveu e trabalhou toda a exposição “Mulheres do Bairro”. A escolha das mulheres não foi ao acaso. Há várias razões que levam Francisco a preferir estas e não outras, ainda que com histórias semelhantes. Com isto, conheceu mulheres a quem hoje chama de “família” e para quem é o “menino de ouro”. A exposição que, a princípio, tencionava realizar no Parque de Nómadas, acabou por vir a tomar forma nestes bairros, depois de se ver confrontado com as suas realidades.
AnA pAtRíciA AbReu
“Histórias de Vida”, o nome do projeto, pretende conceder vitalidade a estes locais, dando a conhecer o quotidiano de quem lá vive e despertando, ainda, a comunidade para a cultura. E foi assim que conheceu Manuela Braz, Ludovina Santos, Adriana Colotto e Elisa Teixeira, que partilharam com Francisco as suas vivências, deixando-o entrar não só nas suas vidas, mas também nas suas casas. “Foi um menino de ouro que me apareceu aqui. Agora consideroo um neto”, refere Ludovina – “Ti Bina” para as gentes do bairro.
“Queremos uma cidade sem fronteiras” Numa primeira impressão, pode parecer difícil receber uma ideia como esta – um projeto de partilha intensa, onde a vida das pessoas é (literalmente) exposta. Mas o feedback foi bom e a exposição ganhou vida. “As pessoas dos bairros receberam muito bem o projeto e acarinharam desde logo o Francisco, chegando até a vê-lo como um membro da comunidade”, refere a presidente da Associação de Moradores do Bairro da Rosa, Manuela Braz. Essa intimidade foi crescendo e, sem tabus, o recémlicenciado tomou conhecimento da dura realidade que se vive por ali: pais que lutam para sustentar a sua família, casas degradadas que servem de abrigo a idosos, imigrantes distribuídos pelos lotes e, acima de tudo, a criminalidade. Mas os fantasmas do planalto não afastaram o “rapaz das fotos” – como ficou conhecido para os habitantes – , muito pelo contrário. “Senti neces-
sidade de fazer alguma coisa por aquele sítio, por aquelas pessoas, e durante três meses andei por lá a tirar fotos e a conhecer aqueles que são marginalizados” explica Francisco, lamentando profundamente a situação. E Manuela acrescenta: “é uma coisa fenomenal, que retrata a vida das pessoas e mostra que há muito para conhecer por detrás das paredes destes edifícios”. Da parte da Câmara Municipal de Coimbra, o apoio foi total. O vereador da Habitação, Francisco Queirós, defende a filosofia do “este é um bairro como os outros” e salienta a importância deste tipo de atividades. Apesar disso, no início, houve algum receio: Francisco Queirós reconhece que, no seio de uma crise, “esta ideia podia não resultar”. Os moradores foram convocados, em jeito de conferência, para aprovação, e a surpresa não poderia ser melhor: “foi muito bem recebida e toda a gente mostrou interesse em ser um dos rostos do trabalho do Francisco”, reforça o vereador. Pelo facto de a experiência ter vindo a revelar-se enriquecedora, tanto para os moradores como para a dinamização dos próprios bairros, projetos futuros ficaram em suspenso para mais tarde ali voltarem. O intuito? Desmistificar a velha lenda do perigo latente que paira na Rosa e no Ingote e fazer saber a todos que há mais para além disso. Essa tem sido, aliás, a batalha de Francisco Queirós: “queremos uma cidade sem fronteiras, uma cidade sem guetos, onde toda a gente se conhece e onde o preconceito não existe”.
AnA pAtRíciA AbReu
Até dia 30, é possível ver fotos de “4 mulheres extraordinárias” nos bairros
A revisitação de Shakespeare por um homem só Coimbra vai acolher no próximo dia nove de novembro o primeiro espetáculo da digressão nacional da peça "À procura de Ricardo III" Ana Duarte “É noite?/ É de noite?/ Que noite é esta?” pergunta Ricardo III. Shakespeare transpõe para o papel a vida daquele que foi o último rei de Inglaterra e em cinco atos, temos um drama histórico. Hoje, pela mão do encenador Luís Mestre, há a busca do monarca. “À procura de Ricardo III” é a reescrita do texto shakespeariano do século XXI. António Durães interpreta a obra, que estará no Teatro Académico Gil Vicente (TAGV) quarta-feira, 9 de novembro, pelas 21h30. É em Coimbra que “À procura de Ricardo III” inicia a sua digressão na-
cional, depois de ter tido a sua estreia absoluta na Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão. O diretor do TAGV, Fernando Matos de Oliveira, classifica a vinda deste espetáculo a Coimbra como a afirmação da cidade num “circuito de teatro de nível, qualidade e referência do panorama cultural”. Deste modo, Matos de Oliveira pretende também dar um contributo à cidade e gerar a oportunidade da comunidade contactar com “grandes artistas portugueses, sejam atores, dançarinos ou músicos”. Para além da aposta em novos conceitos culturais, a nova programação do TAGV prevê uma aproximação entre instituição – público: “queremos dar a experiência às pessoas de trabalhar com várias personalidades da cultura, através de, por exemplo, workshops”. E com este propósito, Luís Mestre irá trabalhar numa “oficina de escrita” a 7 e 8 deste mês, onde será abordada a escrita para teatro e a prática teatral. Àcerca de “À procura de Ricardo III”, Luís Mestre define-a como uma
“reescrita”. “Já tinha pensado neste projeto e já o tinha discutido com algumas pessoas, inclusivé com o António Durães [ator principal da peça], que aceitou de imediato”, acrescenta. Mas porquê um palco tão escasso de personagens? O encenador explica que esta é uma peça onde existe um “homem só, aparentemente doente e que padece de algo desconhecido”. Apesar de aparecer um enfermeiro em cena, aquele que trata do homem enfermo, este não fala e, ainda assim, revela-se importante na peça: “o homem que se auto-denomina Ricardo III revê sempre várias pessoas ligadas a ele próprio nessa personagem secundária e é isso que torna o drama intrigante”, justifica Luís Mestre. “À procura de Ricardo III” apresenta-se como um processo gradual: “as expetativas para a digressão dependem de várias fases de apresentação e de trabalho”, aclara Mestre. No próximo ano, irá decorrer uma nova reescrita da peça, para tentar perceber quem é, realmente, a persona-
gem: “no início de 2012 já iremos apresentar um novo homem, com características diferentes, mas talvez com as mesmas incertezas”. O convite é feito ao público para aparecer e
acompanhar o “homem aleijado e só” numa bebida: “Tragam-me whisky/ E sirvam-se./ Não gosto de beber sozinho”. Com Daniel Silva D.R.
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despoRTo a
12 NOV
fuTSAL AMSAC x Académica 16h • Pavilhão Escola Eb 2.3 general Humberto Delgado
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b A S qu E T E b OL Académica de Coimbra x barcelos-H. Terço-givec 16h • Pavilhão Multidesportos Mário Mexia
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Rugby Académica x Técnico 16h • Estádio universiário de Coimbra
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A Académica pode ser a última etapa de Orlando Simões Fernando Sá Pessoa Uma semana após a sua apresentação, o técnico de basquetebol ainda não conseguiu inverter os maus resultados, averbando mais dois desaires. Finda a partida frente ao Barreirense, Orlando Simões abriu o jogo e contou os seus planos.
Como tem sido a sua relação com o ex-treinador Luís Santarino, agora dirigente da secção? Normalíssima. Eu conheço o Luís, ele conhece-me, não houve qualquer tipo de problema na passagem de testemunho.
O que é que o fez aceitar este convite da Secção de Basquetebol da Associação Académica de Coimbra? Foi, de alguma maneira, o desafio de estar todos os dias no pavilhão. Uma coisa é durante muitos anos ter feito isso, outra coisa é treinar as seleções nacionais, em que apenas se trabalha nos períodos de férias com os jogadores. Prefiro o frenesim dos treinos e jogos. Este foi um grande desafio que tinha que aceitar pelo envolvimento e pelo respeito que tenho pelo emblema da Académica e pelo seu significado. E, apesar de ser um grande desafio, por causa da época que a equipa fez no ano passado, não regateio esforços, sei muito bem aquilo que me espera. E há condições para a equipa crescer. Acredita que ainda é possível alcançar as metas do ano passado? O resultados da época regular não estão muito condicionados. Mas, claramente, o número de derrotas do ano passado foi muito pequeno. A participação no play-off e a capacidade de lá chegar vai depender do que façamos daqui para a frente. A parada estava muito alta e o desafio elevado. E o plantel, está à altura? Eu direi que não. Perdemos estes dois jogos. Mas não me vou desculpar com os jogadores. Temos a necessidade de melhorar e, se for possível, reforçar o plantel. Desde o primeiro momento em que cheguei, identifiquei dois pontos débeis. Um deles era não termos um jo-
E para quando será possível ver uma Académica com ambições de conquistar títulos? Esse é um problema que a direção e a cidade têm que perceber. Até agora têm jogado para estar nos pontos altos. Mas o salto ainda é grande. Enquanto existirem plantéis como os do Porto, Benfica e CAB-Madeira, que são totalmente profissionais, com jogadores que treinam duas vezes por dia, é difícil. A grande maioria dos jogadores da Académica é composta por estudantes ou trabalhadores. Está nos seus horizontes pessoais dar esse salto na AAC? Depende dos objetivos que a direção tenha. Parece-me que existe uma ambição grande da direção em, se possível, se intrometerem neste ano o u
já no próximo nos lugares cimeiros. Mas é muito cedo para se falar sobre isso. É evidente que, para quem entra no comboio em andamento como eu, as preocupações são tantas que não se pode pensar em altos voos. A minha preocupação, neste momento, é consolidar o grupo e fazer de cada jogo uma final. Gostaria de ficar por Coimbra? Eu penso a curto prazo. Assumi o compromisso para esta época com outra de opção, mas é preciso as pessoas estarem satisfeitas com os resultados. Não aponto a logo prazo. É preciso fazermos uma boa época, recuperarmos este atraso que temos. Depois de momentos melhores, como o Eurobasket em 2007, vê a possibilidade de momentos assim na Académica? O período das seleções nacionais tem um timing. Foram seis anos em que estive nos seniores e em que conseguimos um feito histórico. O nono lugar no campeonato é uma coisa que provavelmente Portugal não vai mais repetir. Mas diria que esse espaço já passou. Enquanto treinador de clube, gostava de o terminar com algum sucesso. Quando treinei o Oliveirense, ganhámos a Taça da Liga. Vamos ver o que conseguimos fazer aqui. Quando pretende terminar essa c a r -
reira? Eu não gostava de me alongar muito mais. Tinha previsto por volta dos 60 anos. Este desafio, a confirmar-se, pode projetar-me para além disso, já que fiz 59 agora. Estes dois anos estariam dentro dos limites. Então há a hipótese de terminar a carreira em Coimbra? Sim, acho que sim. E depois disso, equaciona continuar? Tenho um objetivo, que é treinar jovens. Irei fazer isso, é algo que já tenho traçado há muito tempo. Ou em Coimbra ou em Sangalhos, onde comecei. Então pode ficar na formação da Académica… Sim, não fecho a porta a isso. Quem recolheu tanto do basquetebol tem obrigação de dar um contributo também à formação. Depois da sua passagem pelos sub-20, considera que a Académica tem jogadores com capacidade para lá estarem? Eu conheço mal a formação da Académica porque não trabalhamos conjuntamente. Acho que é um problema que a direção tem em mãos, com a Câmara Municipal de Coimbra, e sei que estão a tentar resolvê-lo já no futuro. Têm de encontrar uma oficina de trabalho, ter um pavilhão. Eu gostava de estar em cima de tudo, porque posso-lhe dizer que o distrito de Coimbra tem tido pouca presença de jovens nas seleções nacionais. Isso significa que o basquetebol de formação, aqui, não tem tido um nível tão bom quanto se esperava. Quer deixar algum apelo à cidade? Eu gostava de ver mais gente no basquetebol. Também sei que não é um desporto muito tradicional. Mas as pessoas só vêm praticamente quando se joga com as equipas mais conceituadas. A equipa merece um apoio maior do público.
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V OL E I b OL S. Mamede x Académica de Coimbra 16h • Pavilhão S. Mamede
OrlandO SimõeS • TreinadOr da SecçãO de BaSqueTeBOl da aac
gador que intimidasse, que ressaltasse na área próxima de cesto.
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Futsal universitário prestes a arrancar Fábio Santos O treinador da equipa da secção de fustal da Associação Académica de Coimbra (AAC), João Oliveira, garante ter um “conjunto forte, temido pelas outras universidades”. Depois dos treinos de captação realizados no passado mês de outubro, a Académica voltará a marcar presença no campeonato universitário de futsal, a ter início nos dias 23 e 24 deste mês, em Vila Real, e o objetivo é chegar à fase final, que terá lugar em Braga. As expectativas da equipa dependem da disponibilidade de alguns jogadores, que constituem a equipa profissional da Académica/OAF. O treinador queixa-se da falta de preparação constante, ao alegar fazerem “apenas três a quatro treinos antes de cada encontro”. Tal facto poderá ser determinante para baixar o rendimento da equipa. Esta situação deve-se à incompatibilidade da agenda dos jogadores da Académica/OAF de futsal. Refere ainda que, “quando esses jogadores estão presentes, as coisas correm um pouco melhor”. Mas nem sempre podem contar com eles, e é por isso que o técnico procura “uma equipa mais ou menos mista”, onde pode contar com jogadores que, apesar de não competirem ao mais alto nível, ”têm total disponibilidade para servir a equipa”. Contudo, o plantel está preparado e conta, para além dos jogadores da Académica/OAF, com aqueles que participaram nos recentes treinos de captação protagonizados pela Académica. A iniciativa, já levada a cabo nos últimos três anos, é ideia de João Oliveira, por causa “da saída de alguns jogadores”, tendo, por isso, proposto “fazer alguns treinos de captação”. Aylton Rita, coordenador de desporto da DG/AAC, revela que, “apesar de não serem atletas de cariz profissional, muitos deles têm uma qualidade razoável”. O mesmo afiança que esta ação advém da “necessidade de renovar os plantéis das equipas” e, segundo o próprio, “o número de estudantes que participaram nesta iniciativa, este ano, foi, sem dúvida, o mais elevado, com 87 inscritos”. Recorde-se que a Académica já foi campeã em 2008 e vice-campeã no ano passado, neste torneio, para além de já ter marcado presença no campeonato europeu.
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DESPorTo Prolongamento B A S Q U E T E BO L
Depois de três derrotas nos três primeiros jogos do campeonato, a Académica, agora com Orlando Simões ao leme, via no encontro com o Barreirense a oportunidade de mudar o rumo dos acontecimentos. Pouca sorte para o novo treinador, que viu a equipa sair vencida do Pavilhão Multidesportos. 57-61 foi o resultado final. Está difícil reencontrar o caminho das vitórias, depois do excelente terceiro lugar do ano passado. RU g B y
No passado dia 29 de Outubro, a equipa sénior de rugby da AAC foi a Lisboa vencer o campeão GD Direito. A contar para o Campeonato Super Bock – fase de apuramento, a Académica alcançou um grande resultado (21-18). Com a vitória sobre os advogados, a equipa sobe ao quarto lugar, posto que dá acesso à fase final. fUTEBOL
Em jogo a contar para a sexta jornada do Campeonato da Divisão de Honra da Associação de Futebol de Coimbra, Académica-SF recebeu, no passado dia 6 de Novembro, o Carapinheirense. O resultado para com o líder acabou por ser uma derrota, por 1-0, pelo que agora a luta pela subida está mais equilibrada. Os estudantes prosseguem o campeonato em terceiro lugar, com apenas um ponto a menos do que o primeiro posto. ANDEBOL
Em jogo da sétima jornada da terceira divisão do campeonato nacional, a Académica recebeu e venceu, no Pavilhão nº 3 do Estádio Universitário, o lanterna vermelha Almeirim e ascendeu assim ao segundo lugar, embora com mais um jogo que o Académico e Viseu. Mantêm-se abertas as possibilidades de subida.
Fernando Sá Pessoa
Investimento das secções no EUC não vale como argumento A decisão sobre o princípio de “utilizador-pagador” do Estádio Universitário continua a motivar discordâncias entre todos. Apesar do dinheiro que as secções desportivas usaram para a manutenção do mesmo, a medida vai avançar. Por Fernando Sá Pessoa
E
m carta enviada à reitoria por Eduardo Melo, presidente da direção-geral Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) e do Conselho Desportivo (CD/AAC), são usados como argumentos contra o princípio de “utilizador-pagador” os investimentos feitos pelas secções desportivas no Estádio Universitário de Coimbra (EUC). “Cerca de 600 mil euros”, pode lerse, é o valor que foi por elas gasto, só nos últimos cinco anos, na manutenção do estádio. Instado a comentar a decisão da Fundação Cultural da Universidade de Coimbra (FCUC), na qual o EUC está inserido, o membro do CD/AAC, Miguel Franco, não tem pudor em afirmar a postura contra a decisão tomada. E lança a dúvida se “o estádio ficará a ganhar com isto”. Na referida carta, esta posição é fundamentada com a “ausência de apoio pela UC para o desporto universitário”, pelo que a decisão da FCUC é considerada “incompreensível”. Não obstante o posicionamento do CD/AAC, é mostrada disponibilidade para ouvir a outra parte, pelo que é um Eduardo Melo compreensível aquele que diz entender “as necessidades de investimento” no estádio, A coordenadora do pelouro do desporto da DG/AAC, Filipa Godinho, aproveita para deixar, também ela, a sua deixa. Este princípio não se pauta, para a dirigente associativa, por princípios de “justiça”, dado os valores que já foram pagos pelas secções para que o estádio se pudesse manter aberto. “Se tem condições que permitem a prática desportiva, é porque as secções têm lá estado”. A vice-reitora para a Cultura da UC, Clara Almeida Santos, atual responsável pela FCUC, prefere dizer, no entanto, que o documento que vão propor “, tem em consideração as especificidades das secções e a singularidade do desporto universitário”. Defende, por isso, “o trabalho em conjunto”.
era “insustentável e sem paralelo”, apontando o dedo à exclusividade deste caso relativamente ao resto do país. Responsável pela FCUC, a vicereitora considera que não estão em causa os investimentos realizados anteriormente, mas sim o trabalho em conjunto entre a FCUC e as secções desportivas que deverá ser feito, para “benefício das mesmas”. Admite que “talvez se possam operar algumas melhorias no estádio”, em resposta a opiniões que visam a falta de qualidade das atuais infraestruturas e a possibilidade de esta taxa não se vir a traduzir em benefícios mateiais.
sido feita apenas com uma hora de antecedência. E queixa-se ainda que nenhuma das outras partes foi ouvida, pelo que, na sua opinião, ocorreu uma “decisão unilateral”. No entanto, convidada a comentar a demissão de Miguel Portugal e de Jaime Carvalho do CD/AAC, Clara Almeida Santos assegura que esses “elementos foram auscultados exploratoriamente” e que Eduardo Melo também teve direito de voto. Jaime Carvalho, taxativo, mantémse firme, ao afirmar que “tudo depende da forma como as coisas forem feitas”.
Falta de diálogo e de informação
“Querem pôr a AAC fora do EUC?”
A respeito de uma suposta ausência de conversações, a vice-reitora defende-se, retorquindo que só ainda não houve reunião com as secções desportivas “por indisponibilidade de agenda do presidente da DG/AAC”, primeiramente e, numa fase posterior, por a própria ter-se ausentado do país. Sobre a convocação de Eduardo Melo para a reunião onde foi votado o princípio “utilizador-pagador”, Miguel Franco lamenta que ela tenha
O presidente da secção de Ténis, Eduardo Cabrita, vai mais longe nas declarações que faz. Para o membro da comissão de gestão do estádio universitário, as recentes declarações da vice-reitora, que dão conta da possibilidade de o estádio fechar caso as secções não cedam, são, ironiza, “engraçadas”. Numa alusão ao desporto a que está ligado, Cabrita diz que no ténis, muitas vezes, “é o adversário que provoca o erro”. Deixa, por isso, o alerta, ao temer “que tudo isto
acabe numa grande salsada”. E diz ainda que é preciso perguntar: “quem é que está a ganhar com isto?”. Lançando duras farpas à forma como as coisas estão a ser conduzidas, sublinha várias vezes o até agora quase total desconhecimento sobre aquilo que se está a passar, e aproveita para lembrar que, “dentro do estádio, não existe só a AAC, há outras entidades que a utilizam, como a Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física”.
Para o próximo ano civil Já sobre o timing em que a decisão foi tomada, o dirigente desportivo adianta que os membros da fundação cultural “não foram, provavelmente, esclarecidos sobre o que é a realidade desportiva”. “Não é lógico”, completa Eduardo Cabrita, “que, num setor desportivo que funciona de agosto a jullho, virem propor alterações para as quais não estão preparados”. Miguel Franco lamenta que, até agora, ninguém fora da FCUC “tenha a mínima noção dos valores em causa”, mas lembra que “o que está decidido formalmente é o princípio utilizadorpagador entrar em vigor a partir de janeiro”. olga juskiewicz
Manter o EUC em funcionamento Otimista, Clara Almeida Santos, principal rosto desta resolução, avança que a situação que até aqui se vivia
O Estádio Universitário de Coimbra vai passar a ser pago pelas secções da AAC
A VOZ DAS SECÇÕES Em cima da mesa não estará, no entanto, apenas a decisão em si, como é sabido, mas a forma como o processo tem sido conduzido. De entre as várias secções desportivas da academia, Rui Pita, presidente da secção de Futebol, coloca-se até ao lado do princípio aprovado a 17 de outubro passado, temendo, única e exclusivamente, a forma como as coisas se poderão vir a processar. “Concordo com o “utilizador-pagador”, desde que existam condições para trabalharmos”, reitera. Existe, pois, entre as várias modalidade que usufruem do estádio, a ideia de que poderão a vir a pagar uma taxa extra, “sem que isso se traduza em melhorias concretas”. Mais receoso está Rui Fonseca, presidente da secção de Judo, que, augura, se o princípio avançar, revelar-se-á uma “machadada muito forte, tendo que se equacionar toda a atividade das secções conforme estão a ser”. Com vista, no entanto, a formar uma posição coesa sobre o assunto, para posteriormente se encetarem as almejadas negociações com a Fundação Cultural, decorreu ontem, dia 7 de novembro, (já após o fecho de edição d’A CABRA) uma reunião entre as secções desportivas. Com efeito, visou-se encontrar uma “posição conjunta”, como esperava Filipa Godinho. Posteriormente, refere a coordenadora, a ideia será alcançar um ponto intermédio de consenso com o organismo da reitoria, tentando salvaguardar que as secções “não saiam prejudicadas”. Aguardam-se agora novidades sobre a matéria.
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CiDADE inês amado da silva
CEFA, a formar autarcas desde 1980 A missão do CEFA é a de “desenvolver ações na formação do pessoal da administração local”, afirma Nuno Marques Pereira
os autarcas e funcionários da administração local são a face mais visível do Estado junto da população. Para o bom exercício das suas competências, é necessária uma formação adequada - proporcioná-la é a função do Centro de Estudos e Fomação Autárquica, com sede nacional em Coimbra. Por Ana Morais
“A
formação ministrada aos funcionários da administração pública central ou local é fundamental para assegurar a qualidade de serviços prestados aos cidadãos”, assegura o vice-presidente do Centro de Estudos e Formação Autárquica (CEFA ), Nuno Marques Pereira. Criado na década de 80 com “a missão de desenvolver ações na formação do pessoal da administração local”, ainda enquanto instituto público e sob a tutela do Estado, o CEFA passou a fundação de direito privado de utilidade pública em dezembro passado, na sequência do Programa para a Reestruturação da Administração Central do Estado. A Fundação CEFA tem funções que lhe são “atribuídas por lei” e que só o
“A fundação CEFA não faz formação para autarcas eleitos, mas isso deve ser repensado” CEFA pode prestar, certifica o vicepresidente - as formações para carreiras específicas da administração local, isto é, a formação inicial onde se podem incluir polícias e bombeiros municipais ou fiscais e administrativos. Para além desta formação existem ainda dois cursos destinados a altos dirigentes. Mas quando se questiona a formação de um presidente de câmara, por exemplo, a resposta é negativa – “o CEFA não faz formação para autarcas eleitos”, admite Nuno Marques Pereira. Contudo, o vice-presidente revela a necessidade de a situação ser repensada e encara-a como um “desafio”,
lembrando que “também tem de haver vontade política”. A formação prestada é descentralizada, ou seja, estende-se para além da sede – “desde Monção a Vila Real de Santo António, e nas ilhas quando é preciso”. São fundamentais as parcerias estabelecidas e os acordos com os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa fazem parte do círculo do CEFA, “sobretudo em Angola e Moçambique”. Os formadores são “funcionários autárquicos de exceção, professores universitários e outros nomes sonantes da administração pública”, refere Marques Pereira.
Formação “fundamental” O responsável pela Divisão de Património e Aprovisionamento da Câmara Municipal de Coimbra, António Carvalho, frequentou o primeiro curso do CEFA e considera que este lhe permitiu “ter um acesso mais rápido a uma carreira administrativa na autarquia local”, e encara este trabalho de formação autárquica como “fundamental”. É necessário que se “atualizem os conhecimentos na administração local, pois a legislação altera-se rapidamente e é importante que se esteja em permanente atualização”, assegura. Com a profunda reforma da administração local que está a acontecer, o CEFA tem vindo a pensar em formações nesse âmbito e “a criar espaço de discussão”. No passado mês de outubro, depois de serem notificados pelo CEFA de que poderiam cessar a sua qualidade de funcionários públicos ou até de que poderiam ser dispensados, os funcionários da instituição foram convocados pelo Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública e de Entidades com Fins Públicos (SINTAP) para uma greve. Segundo o responsável sindical, José Abraão, esta situação era “injusta e ilegal”. No
dia da greve, os funcionários deslocaram-se a Lisboa para exporem a situação ao Secretário de Estado da Administração Local, Paulo Júlio, que lhes deu garantias de que tal não aconteceria. Assim, José Abraão afirma que “está o problema resolvido”, acrescentando também que o número de funcionários (cerca de 40) “não é excessivo”.
inês amado da silva
Cortes do OE Depois da extinção, em 2011, do CEFA enquanto instituto público, os órgãos de gestão da Fundação são nomeados pela Associação Nacional de Munícipios Portugueses e pela Associação Nacional de Freguesias. Segundo Marques Pereira, a passagem a fundação privada “trouxe vantagens em termos de gestão, tornou tudo
inês amado da silva
“A diminuição da transferência do OE pode ter reflexos na gerência da instituição” mais flexível e maleável”. Notícias recentes dão conta de uma diminuição da transferência do Orçamento do Estado (OE) para 2012, num financiamento que provém também de fundos comunitários e de propinas pagas pelos formandos. O vice-presidente revela que esta diminuição já tem vindo a notar-se ao longo dos últimos anos e lamenta que isso possa implicar “reflexos na gerência da instituição”. Contudo, Marques Pereira assegura que está previsto para breve uma revisão dos estatutos da fundação e só depois disso é “que poderá decidir-se onde cortar”.
inês amado da silva
12 | a cabra | 8 de novembro de 2011 | Terça-feira
SuSpenSão de linhaS
N
ão se vê vivalma, nem gente que chega, nem gente que vai, nem gente que fica. A estação da Marinha Grande parece fugir da cidade que se agita de manhã, criando um subterfúgio de silêncio onde nem o tic-tac do relógio do apeadeiro se ouve, com ponteiros parados desde há dez anos para cá. E na calmaria escutam-se os passos de um andar que se faz vagaroso, como que aceitando o compasso do lugar. É um idoso, com os seus sacos, a chegar à estação. Deixa-os encostados a um poste e volta para trás, certo de que ninguém por lá anda para se apoderar dos seus pertences. Numa esquina, e apoiado a uma árvore também ela esquecida, o velho urina e fá-lo ali porque até as casas de banho se mostram cerradas. Foi há dez anos que a estação da Marinha Grande fechou portas apesar de a circulação na linha se ter mantido. “Ó se era diferente!” lembra Joaquim, dono de um café que se prostra em frente da referida estação, não percebendo o porquê de esta ter fechado há 10 anos: “havia tanto movimento, tínhamos isto sempre cheio”. Agora, valem-se dos clientes das redondezas e não de passageiros que por ali param, porque esses são coisa parca e inconstante. Na estação ferroviária de Leiria o cenário é idêntico. Três taxistas param à frente da mesma, mas depressa se repara que a sua função lembra mais um paciente pescador de linha, que clientes nem vê-los. Ao
“Vemos um abandono completo da utilização do comboio , o que é um contraciclo daquilo que têm sido as diretrizes da União Europeia”, critica Heitor Castro
contrário da paragem da Marinha Grande, em Leiria a estação mantémse aberta, apesar de a bilheteira levantar a placa “Encerrado” o dia inteiro. O movimento da estação fazse com uma conversa entre os mesmos taxistas que lá esperam, mas que perto do almoço lá desistem, por meia dúzia de pessoas que aguardam um comboio a sair em direção à Marinha Grande e um pequeno café, dentro da estação, que lembra o visitante da suspensão, em janeiro do próximo ano, da linha do Oeste, assim como da do Vouga, e de um pequeno troço da linha do Este. “Quer assinar?”, pergunta de imediato a empregada de balcão assim que alguém pede café, apontando para uma petição. Conta que até para o mercado de Leiria a levou, “com a ajuda de mais dois moços”, onde, garante, “apresentamos soluções”. “Isto está uma bagunça, está esquecido”, desabafa um dos clientes do café. O desabafo repete-se também nos bancos de quem espera o comboio, como quem também espera por promessas que se fazem “há mais de 20 anos”, recorda o presidente da Câmara Municipal de Caldas da Rainha, Fernando José da Costa, apontando para os vários programas eleitorais de “todos os partidos”. Em vez disso, a política de transportes parece virada para o transporte automóvel e rodoviário: “estamos a observar um abandono completo da utilização do comboio”, critica o membro da Comissão de Defesa da Linha do Oeste,
Heitor Castro. Daniel Conde, cidadão associado ao Movimento Cívico Pela Linha do Tua, sustenta este abandono: “a nível nacional perdeu-se um terço de ferrovia, mais de 40% de passageiros desde 1989 e 50% de funcionários nos caminhos de ferro”. “Estamos a ir completamente em contraciclo àquilo que têm sido as linhas orientadoras da União Europeia para os transportes”, aponta Heitor Castro, deixando também a sua incredulidade por esta medida ser tomada, através de imposições da “troika”, no Plano Estratégico de Transportes (PET), lançado pelo atual governo.
Sem modernização não há utentes E, no que toca ao abandono dos comboios, a culpa recai em quem? Nos cidadãos ou na gestão das linhas? Daniel Videira Murta, professor da cadeira Economia dos Transportes na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), considera que, “apesar de haver alguma negligência por parte dos governos no transporte ferroviário, a culpa também é dos utentes que preferem o transporte individual”, garantindo que, em Portugal, “para cada romântico do comboio há 1000 latinos apaixonados pelo carro”. Já na ótica de Heitor Castro, o problema reside na má gestão por parte da Comboios Portugal (CP): “se se realizasse uma renovação, modernização, eletrificação e duplicação de linhas no Oeste, a
Ferrovia esquecida, aband
o peT lançado pelo Governo atual prevê a suspensão das linhas do oeste, Vouga e um troço da linha do es linhas ferroviárias e munícipes. a má gestão da Cp e a não-renovação da ferrovia são apontadas com
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SuSpenSão de linhaS procura de passageiras poderia ser multiplicada em quatro, cinco ou seis vezes”, reiterando que a mobilidade no Oeste “está intimamente ligada com a revitalização da linha ferroviária”. Na linha do Vouga, apesar de esta representar um maior fluxo de passageiros, 68% dos passageiros que vão ser afetados pela suspensão das linhas, também a oferta condiciona a procura e a utilização daquele meio de transporte. Jorge Almeida, vice-presidente da Câmara Municipal de Águeda (CMA), município afetado pela suspensão do “Vouguinha” (apelido que a linha ganhou), considerava os horários como “absolutamente inadequados”: “Até setembro de 2010, o primeiro comboio chegava a Águeda às 8h30, isto num conselho francamente empresarial”, o que tornava impossível a utilização deste meio de transporte por todos os trabalhadores que iniciariam o seu trabalho às 8 horas. Também ao final da tarde, o mesmo problema se verificava, segundo Jorge Almeida, com o último comboio a sair às 18h30, “o que impossibilitava o uso do comboio para quem trabalhasse no comércio ou noutro tipo de serviços que saia depois das 19 horas”. Este “desajuste completo de horários”, levou a que a câmara refizesse, em conjunto com a CP, um horário mais adequado para o ramal do Vouga. Resultado? “Nos primeiros três meses aumentámos em 13% o número de passageiros, e no primeiro semestre deste ano obtivemos um aumento de 30% relativamente ao mesmo período em 2010”. “Não há no país nenhuma linha a crescer desta forma”, atesta o vicepresidente da CMA, lembrando também que, a suspensão da linha ocorre num momento em que foram feitos investimentos na melhoria do já centenário Vouguinha. “Temos vários trabalhos ainda a decorrer na estação de Águeda, em taludes, supressão de passagens de nível”, explica. A indignação está sempre presente no discurso de José Almeida, que não encontra qualquer justificação para esta decisão para além da “cegueira e irracionalidade de pessoas que nem vieram ao terreno – decidiram em cima do joelho e pronto!”, lembrando que não há, de momento, nenhum eixo rodoviário entre Águeda e Aveiro onde seja possível fazer uma ligação mais rápida. “É mau de mais para ser verdade”, desabafa, afirmando que “as populações têm todo o direito em se sentirem defraudadas”. Na Linha do Oeste, apesar de percorrer uma zona de elevada densidade populacional, o problema reside também na questão da oferta de serviço: “demora-se tanto a ir das Caldas
“O negócio dos transportes não pode ser visto como uma fábrica de salsichas. Não se olhar para um cliente à procura de formas de lucrar”
da Rainha para Lisboa hoje como há cem anos atrás e assim não há transporte ferroviário que resista”, assevera o Presidente da CMCR, que lembra também a má oferta de horários. A ligação de Leiria a Lisboa-Entrecampos é feita apenas cinco vezes por dia e demora quatro horas, a ligação Caldas da Rainha a Lisboa-Entrecampos já tem uma oferta de dez viagens por dia e demora duas horas e meia e Torres Vedras a Leiria existem apenas quatro opções e a viagem pode demorar duas horas, tudo opções duas a três vezes mais longas que o uso do transporte rodoviário ou automóvel. “Assim é impossível competir com os outros meios de transporte”, comenta Fernando José da Costa. O presidente da CMCR acredita que a modernização da Linha do Oeste também seria uma solução para outro problema que a CP atravessa – a saturação da Linha do Norte. Para além desse argumento, Fernando José da Costa aponta também para a ferrovia como um “alívio no tráfego automóvel e rodoviário que Lisboa recebe diariamente”, considerando que “os cidadãos apenas não utilizam o comboio porque não os serve ou em termos de tempo ou em termos de horário”. Heitor Castro teme mesmo o encerramento total da linha, que vai apenas estar disponível para o transporte de mercadorias: “é inviável a linha viver do transporte de mercadorias e, mais tarde ou mais cedo, vai deixar de existir”.
Urgência na aposta ferroviária “A situação mais chocante é a da Linha do Oeste”, censura o membro da comissão executiva da Associação Comboios XXI, Nuno Oliveira, lembrando que a mesma zona “ia ter uma concessão de autoestradas, mas em termos de linha ferroviária é constantemente negligenciada”. “Não há nenhuma direção estratégica para nenhum meio de transportes, muito menos para a articulação dos vários meios”, explana Nuno Oliveira, que não aceita como motivo principal o de redução de custos: “a suspensão de linhas representa uma fração minúscula dos prejuízos”. “É lamentável que o argumento financeiro seja evocado sistematicamente e que prevaleça sobre todos os outros”, reprova Heitor Castro, recordando que “nenhuma empresa de transportes no mundo tem lucro”. O mesmo reitera que “o negócio dos transportes não pode ser visto como uma fábrica de salsichas, em que se olha para um cliente à procura de formas de lucrar”. De acordo com o membro do movimento cívico que defende a Linha do Oeste, se as políticas de transportes continuarem na mesma linha, “vai existir mais um fator que leva à desertificação do país, com aldeias a deixarem de ter o seu único meio de transporte público disponível”. Situação que toca a Daniel Conde, defensor da manutenção das linhas do Tua, Corgo e Tâmega que, segundo, o PET vão continuar suspensas. “No vale do Tua há várias aldeias que não têm qualquer tipo de transporte alternativo, estão completamente isoladas, com a maior parte da população idosa e reformada”, afirma. O mesmo lança duras críticas à tutela que tomou a decisão de suspensão das linhas, considerando que as tomou através de “dados absurdos e manipulados”, como o caso de cada passageiro no Tua custar 29 mil euros ao Estado por ano, ou as automotoras “consumirem 140L/100km, quando consomem, em média, apenas 37L/100Km”. Daniel Conde observa ainda que “há sempre investimento para levantar a linha e para desfazer tudo mas nunca mais há verba para a repor”. Na estação de Leiria, Mário Almeida, 76 anos, espera pelo comboio para a Marinha Grande. Ao seu lado tem uma bicicleta que usa para fazer o restante caminho de Leiria para a Ortigosa, onde mora o seu filho. A partir de 2012 a alternativa é o autocarro e ficar-lhe-á seis euros mais caro dos 2,25 que paga hoje pela viagem. “Ver o meu filho? Só se ele depois quiser vir cá a casa!”.
donada e, agora, suspensa
o este. a motivação financeira desta medida não é encarada como justificação possível para os utentes das omo causas que fomentam o abandono da utilização do comboio. Texto e Fotografia por João Gaspar
14 | a cabra | 8 de novembro de 2010 | Terça-feira
CIÊNCIA & TeCNologIA Centenário da FaCuldade de CiênCias e teCnologia
FCTUC: mais de cem anos de Ciência Num século, a FCTUC acumulou um vasto património, viu passar nos seus corredores figuras de importância internacional, conceptualizou a ideia de televisão, descobriu um elemento químico e acompanhou avanços científicos. Mas não são apenas 100 anos que desenham a história desta faculdade. Por Filipe Furtado
A
celebrar o seu centenário, a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), assinala uma longa e natural evolução desde a reforma republicana de 1911, que caracteriza o modelo atual, mas também nela estão presentes os primeiros passos dados no ensino experimental com a Reforma Pombalina de 1772. “A Reforma Pombalina de 1772 foi um verdadeiro terramoto intelectual”, define o professor catedrático, Carlos Fiolhais, no qual foi fundado um ensino baseado na observação e na experiência, já incluindo autores da Revolução Científica, como Galileu e Newton, nos planos de estudo. Pretendia-se um “estatuto internacional” para a instituição. O mais importante nesta mudança estrutural de ensino terá sido a criação da Faculdade de Matemática e da Faculdade de Filosofia, aponta o historiador de Ciência, Décio Martins. “Em 1759, houve um desmantelamento do nosso sistema educativo, que era essencialmente dominado pelos jesuítas e oratorianos em Lisboa”, explica o também diretor do Museu de Física da UC. Com a expulsão dos jesuítas do país, faltavam pessoas que garantissem o funcionamento de um curso na área das ciências. Para esses lugares foram contratados mestres estrangeiros e construídas novas infraestruturas, entre elas, o Laboratório Químico, o Gabinete de Física Experimental, agora situado no Museu da Ciência, ou o Jardim Botânico. Décio Martins elogia a ação do Marquês de Pombal que criou condições muito específicas para o ensino da física. O gabinete de física, à altura, “podia ser considerado como um dos mais bem equipados da Europa”, apetrechado com seis centenas de instrumentos fabricados em Portugal. Da mesma forma, “o Laboratório Químico terá sido caso único no mundo”, construído de raiz para o ensino da química. Estava previsto, também, um Observatório Astronómico que, por falta de financiamento, foi adaptado a uma unidade de menores dimensões, no Pateo das Escolas da UC, demolido aquando do Estado Novo.
foto CeDiDa por imagoteCa mUniCipal De CoimBra
fotomontagem por felipe grespan:
filipe grespan
foto CeDiDa por imagoteCa mUniCipal De CoimBra
D.r:
Faculdades de Filosofia e Matemática Nas faculdades de Matemática e de Filosofia surgia uma complementaridade no ensino: “os estudantes de filosofia deviam frequentar algumas cadeiras na Faculdade de Matemática, e os de matemática deviam frequentar algumas cadei-
“A reforma pombalina de 1772 foi um verdadeiro terramoto intelectual” ras de filosofia”, conta o historiador e refere ainda que este era “um modelo bem desenhado na altura, que acabava por ser uma gestão de recursos”. O brasileiro Vicente Coelho Seabra foi um dos primeiros estudantes da Reforma Pombalina, concluiu o curso de filosofia, fez o curso de medicina e continuou interessado na química, marcando a
história da faculdade quando “publicou “uns” Elementos de Química, publicados um ano antes de Lavoisier [criador da Química moderna] publicar “os” Elementos de Química”. Durante a reforma destacaramse várias personalidades no ensino em Coimbra. Tomé Henriques Sobral usava o Laboratório Químico, durante as invasões francesas, para o fabrico de pólvora em ajuda ao exército, ou no combate a epidemias. Por sua vez, José Bonifácio de Andrade e Silva, numa viagem à Escandinávia, descobriu o terceiro elemento químico - o lítio. Uma nova abordagem ao trabalho científico foi conseguida por António dos Santos Viegas, professor da casa durante mais de 50 anos, que “procurou que os estudantes desenvolvessem teses e dissertações sobre temas atuais”, destaca Décio Martins. Um dos seus alunos, Henrique Teixeira Bastos, fez os primeiros estudos do raio-x em Coimbra, em fevereiro de 1896, dois meses após a descoberta dos mesmos.
A ideia de televisão, na forma mais técnica do termo, já era pensada por um estudante de Coimbra. Adriano Paiva é tido como personalidade que lançou a “possibilidade de transmitir imagens através de impulsos elétricos, utilizando as propriedades fotossensíveis do selénio”, sublinha o físico.
“Se não tivessem investido em estádios há uns anos atrás, talvez tivéssemos ganho muito mais” Reforma de 1911 Carlos Fiolhais assevera que “a Reforma Pombalina não continuou com o mesmo vigor do início. Há cem anos, houve outra reforma, esta republicana”, na qual “as duas faculdades pombalinas da área das ciências se uniram para formar a Faculdade de Ciências”. A cidade universitária tinha avançado até
determinado ponto, “mas foi preciso fazer ajustes”, indica o diretor do Museu de Física. Era necessário acompanhar os avanços da física e desdobrar essa cadeira anual em duas, criar mais institutos e criar cadeiras mais específicas, como a ótica, a acústica, a eletricidade “uma evolução natural”, refere Décio Martins. “Em 1973, a Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra passou também a ser de Tecnologia, formando engenheiros. Foi-se tornando a grande escola de ciências e tecnologia que é hoje”, caracteriza Carlos Fiolhais. Referente à situação atual, Décio Martins deixa a crítica à falta de condições que alguns investigadores sentem: “infelizmente, muitos dos nossos melhores cérebros procuram condições no estrangeiro, mas isso depende da capacidade política e económica do país”. “Se não tivessem investido em dez estádios de futebol há uns anos atrás, talvez tivéssemos ganho muito mais”, conclui.
Com Juliana Pereira pUBliCiDaDe
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CIÊNCIA & TeCNologIA
Anonymous – ‘hacking’ social o grupo internacional Anonymous lança-se na internet numa luta contra os problemas sociais e pela liberdade de direitos. Rótulo? "Hacktivistas", respondem para quebrar ideias erradas do público acerca da sua atividade, dos seus propósitos e da forma como o fazem. Por Paulo Sérgio Santos
O
olga jUskiewiCz
grupo Anonymous nasceu em 2008 e debruçara-se, há pouco tempo, com a ideia de terminar com o Facebook - a rede social que agrega, segundo estatísticas do próprio ‘site’, cerca de 800 milhões de pessoas. 5 de novembro foi a data estabelecida como meta para esse propósito, como pode ser ouvido em diversos vídeos disponibilizados na plataforma YouTube. A ideia, contudo, foi posteriormente abandonada “por existir alguma discussão interna sobre avançar ou não com a operação”, começou por referir ‘TheAnonMessage’, nome pelo qual o membro do grupo Anonymous deseja ser mencionado. “O Facebook é, hoje em dia, o principal mensageiro de informação de todas as revoluções e movimentos mundiais. Logo, se o ataque acontecesse neste momento, seria uma má mensagem por parte dos Anonymous, a de que não nos preocupamos com os protestos mundiais”, sustenta ainda ‘TheAnonMessage’. Elísio Estanque, sociólogo do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, destaca “o potencial que a Internet apresenta de utilização bondosa, progressista, de denúncia e maior transparência das instituições; por outro lado, pode servir como uma estratégia de controlo da vida privada de cada um”. Opinião que fica patente quando ‘TheAnonMessage’ declara que “o Facebook está a usar a privacidade, vendendo informação confidencial a governos corruptos, como é o caso da Síria. Há uma grande probabilidade que, após a resolução de todas as pontas soltas no mundo, possa haver um ataque em grande escala ao Facebook, como forma de dizer que estamos aqui e de que estamos atentos.” Os últimos comunicados dos Anonymous apontam
A organização descentralizada do grupo luta contra problemas sociais e pela liberdade de direitos essa mesma investida para 2012.
Atacar os males da internet
Mas nem só do Facebook vive a internet. “A rede está disponível, pelo menos em potência, para grupos neonazis, de extrema-direita, ou de pedofilia”, acrescenta Elísio Estanque. E a ‘Operação DarkNet’, lança-se também para esses problemas. Em outubro, o grupo internacional encerrou 40 sítios de pornografia infantil, expondo cerca de 1500 pedófilos. ‘TheAnonMessage’ assevera que “os Anonymous pretendem dar um exemplo: expor um molestador faz com que haja menos um pedófilo na internet e menos uma pessoa a abusar de crianças”. Quando se fala nos Anonymous, pensa-se numa estrutura altamente organizada. Contudo, a realidade é
outra, como nos mostra ‘TheAnonMessage’: “nós funcionamos como uma organização descentralizada, sem líder. As ideias surgem através dos vários membros e são partilhadas através do IRC (Internet Relay Chat, um protocolo de comunicação) ou comunicados públicos”, explica, afirmando que as más ideias acabam “simplesmente por morrer”. “Se és um Anonymous, acreditas em liberdade, justiça, igualdade, discurso livre e exclusão de censura”, aponta o membro do grupo ativista como fundamentos da organização. Apesar dos ideais pelos quais os Anonymous se pretendem reger, o grande público pode ter uma perceção distorcida destes “hacktivistas”, nome pelo qual preferem ser intitulados. O membro do grupo refere que “qualquer coisa dita sobre nós é pura
especulação, como foi o caso da FOX (canal televisivo norte-americano), que nos apelidou de demónios e ciberterroristas”.
‘Hacktivismo’ “Há determinados grupos que se especializam e se aperfeiçoam em dominar os instrumentos que permitem aceder a sítios e plataformas protegidos”, afirma o sociólogo do CES, referindo a Wikileaks como um exemplo óbvio. A associação dos Anonymous com esta organização internacional levou a algumas baixas entre os membros, presos por suspeita de ligação aos ataques à PayPal e à Mastercard, entre outras empresas. TheAnonMessage encara esta situação como “um sacrifício do coletivo. Todavia, o nosso apoio à Wikileaks continua e queremos que as
pessoas entendam que a cadeia é para criminosos, não para hacktivistas que querem devolver direitos às pessoas”. Ainda na memória recente estão as insurreições no Magrebe, com revoluções em países como a Tunísia, Egito e Líbia. ‘TheAnonMessage’ considera que “os Anonymous, juntamente com outros grupos, funcionam como primeiros impulsionadores da mensagem, através da internet. Depois, o encerramento desta pelos governos, que mostra haver algo a esconder, levou as pessoas para a rua”. No final da conversa realizada via Skype, retém-se uma das frases de TheAnonMessage: “seremos sempre a faísca que acende o fogo do conhecimento”.
Com Filipe Furtado
TDT pode implicar despesas elevadas Falta de informação leva utilizadores a subscrever serviços a operadoras e a fazer gastos desnecessários Juliana Pereira A partir de 12 de Janeiro de 2012, toda a zona litoral vai deixar de receber o sinal analógico para dar lugar ao digital – o que tem sido designado por Televisão Digital Terrestre (TDT). Contudo “a mensagem não está a passar da forma correta” e “verifica-se um desconhecimento deste novo sistema” pela maioria da população,
assegura o técnico de áudio e vídeo da Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO), António Alves, ainda que o apagão decorra dentro de dois meses. “As perguntas têm sido muitas, numa altura em que estamos próximos do ‘swich-off‘, o que é preocupante”, acrescenta o técnico. Por outro lado, o funcionário da Portugal Telecom (PT) Bluestore, André Cabral, declara que "a informação tem estado a escoar bastante bem", mas defende que "as pessoas se acomodam às operadoras que lhes dão uma maior abertura de canais". Também o técnico da DECO alerta para a situação: "as empresas de serviços de televisão paga têm aproveitado a ocasião para impingir o seu produto
aos consumidores”, e garante que “as pessoas vão ter que fazer a transição para a TDT agora ou quando deixarem de subscrever esses serviços, por isso o melhor é fazerem-no já”. António Alves salienta ainda que "as pessoas têm direito a ter televisão gratuita". Ao contrário do que se pensa, a TDT pode trazer também alguns problemas na transmissão. A qualidade de imagem aumenta e “tem, de facto, uma nitidez acrescida”, admite António Alves. No entanto, quando a intensidade do sinal estiver fraca ou se situar numa zona de refleção de sinal (em vales ou rodeado por prédios muito altos), “pode ocorrer uma interrupção da transmissão do sinal ou a pixelização de imagem”.
Camilo solDaDo
António Alves aconselha a população a “verificar se está ou não numa zona de cobertura de sinal terrestre” e só depois passar para a instalação do equipamento. Na maioria dos casos, será apenas necessário comprar o aparelho descodificador e fazer a sintonia dos canais. Porém, em raras exceções, “poderá ter de haver uma mudança da antena” por falta de preparação daquele equipamento para receber o sinal digital, explica o funcionário da PT. O técnico da DECO garante que “essa é uma situação que vai corresponder a poucos casos”, mas que tudo isso implica custos que podem ascender a mais de duzentos euros, caso haja mais do que um aparelho televisivo na habitação.
16 | a cabra | 8 de novembro de 2011 | Terça-feira
PAís
Sem conceber, Portugal perde gerações A população mundial não cessa de aumentar, mas Portugal regista a menor taxa de fertilidade desde há três décadas. Habitantes com vida mais longa serão o futuro Liliana Cunha Vir ao mundo significa deixar descendência, renovar gerações e propagar a humanidade. No entanto, a população portuguesa contraria esta necessidade e o número de nados vivos que nasce no país é cada vez menor: nos próximos quatro anos, Portugal vai ser o país com a segunda pior taxa de fecundidade em todo o mundo. “Não asseguramos a substituição de gerações desde 1982”, afirma a especialista em demografia Cristina Sousa Gomes. Tal poderá, a longo prazo, significar a disparidade entre faixas etárias, com uma população mais envelhecida: “progressivamente vão existir mais pessoas de idade e menos jovens na sociedade”, sustenta a docente da Universidade de Aveiro (UA). Nas últimas três décadas, a tendência de decréscimo manteve-se. Se o valor médio para garantir a renovação de gerações é de 2,1 filhos, “em oitenta e noventa, o indicador reduziu-se até 1,49 crianças por mulher”, sendo que, entre 1995 e 2000, veio a verificar-se “uma ligeira recuperação para 1,56” e, no ano de 2009, atin-
giu-se o valor de 1,39, resume a responsável pelo serviço de comunicação do INE, Isabel Silva. Para recolher dados indicativos desta progressão, o Instituto Nacional de Estatística (INE) apura, com base nas Conservatórias do Registo Civil, “o número de nados vivos por cada 1000 mulheres”. “Os dados são enviados de forma eletrónica”, explica Isabel Silva, e o Índice Sintético de Fecundidade é a ferramenta utilizada para medir a oscilação demográfica.
Condicionantes da baixa fecundidade “A dinâmica populacional interfere na contração da economia”, analisa a secretária geral da Associação Portuguesa de Famílias
“As pessoas formadas não estam motivadas para serem pais porque têm outras opções de vida” Numerosas (APFN), Ana Cid. Contrariando o convencional, as famílias numerosas são um contributo importante para a renovação de gerações, pois o número de filhos é maior. Todavia, também elas estão a diminuir: “não só sentimos, como é um facto comprovado pelos dados do último Censos”. Como lamenta a secretária geral, esta é uma situação que se deve “às penalizações que existem sobre as famílias numerosas com muitos filhos a cargo”. Existem
“despesas essenciais como a necessidade de uma casa maior ou o cálculo da água por escalões que não entram na tributação ao Estado”, explica Ana Cid, que garante ainda: “as mulheres querem ter mais filhos, só não estão a ter porque não podem”. Já a obstetra da maternidade dos Hospitais da Universidade de Coimbra, Teresa Sousa Fernandes, constata o contrário na sua experiência. “As pessoas formadas não estão motivadas para serem pais porque têm outras opções de vida”, afirma a obstetra. “principalmente gente que tem aspirações na vida e com uma maior formação académica”. Para Ana Cid a barreira económica é, ainda assim, a mais gravosa. Ressalva ainda uma outra, “a cultural”, pois não se considera o nascimento de crianças como “a possibilidade de um futuro melhor, amanhã”. Distingue ainda que, por vezes, “dentro da própria família” se equaciona a chegada de um novo membro “como mais encargos, mais preocupação”. “Isso compromete toda a nossa situação demográfica”, compadece.
Poderá descer mais? Em prospetiva, a especialista em demografia da UA adianta que a taxa de fecundidade não descerá muito mais -“ já está tão baixa”, constata. É tempo de pensar em como será a pirâmide etária do país mais tarde, “um estreitamento ao nível dos mais jovens”, mas salienta que o envelhecimento da população não é necessariamente mau: “significa a possibilidade de ter as pessoas até mais tarde”.
Ilustração de tIago dInIs
Opinião pública não substitui justiça nos tribunais Resolver processos que envolvam o corromper do dinheiro público nunca foi consensual, mas o poder público não se pode elevar ao poder judicial Joana Castro A imagem da administração pública portuguesa tem sido abalada por casos em que as figuras que a compõem são constituídas arguidas em casos de corrupção, fraude fiscal e desvio de capitais públicos. Existe a possibilidade destas se recandidatarem aos mesmos cargos, não lhes sendo atribuída nenhuma penalização. Para o constitucionalista Jorge Miranda, “a condenação penal não pode envolver uma restrição de um direito fundamental como o de se candidatar e ser eleito”. No
momento de votar, “o eleitor faz a avaliação do político não em função da sua conduta moral e do abuso que possa ter feito do cargo político, mas da obra que o mesmo terá realizado” explica a investigadora do Centro de Investigação e Estudos Sociológicos da Universidade de Lisboa (ISCTE), Ana Maria Belchior. Dá como exemplo “o cenário assistido recentemente na Madeira com a reeleição de Alberto João Jardim”. É do senso comum a diferença que existe entre alguém que é constituído arguido e alguém considerado culpado: “a Constituição declara todo o arguido inocente até transito em julgado da decisão de condenação”, lembra Jorge Miranda. No entanto, refere também que a condição de culpado “não deveria impedir que o arguido condenado seja preso”, havendo até a hipótese de absolvição no final com “direito a indemnização”. Isto serviria para
que não houvesse “recurso a mil expedientes processuais” e para que se “valorizasse o tribunal de primeira instância”. Quanto aos setores das contratações e das negociações, a investigadora do ISCTE considera que “há uma imagem de pureza na conduta ética”. Apesar de não “grassar a corrupção” na Administração Pública, há setores em que “esta assunção não é propriamente nova”. Acrescenta ainda que “há todo um historial que se tem vindo a consolidar”, devido à “falta de mecanismos de vigilância e de fiscalização, assim como a incapacidade de por vezes fazer funcionar o sistema de punição”. Esta falha acaba por funcionar “como estímulo”.
Recursos no processo penal Para o professor de Direito Processual Penal da Universidade Nova de Lisboa (UNL), Frederico Costa Pinto, a libertação ou o não
cumprimento das penas como resultado do recorrer do processo penal “não é problema das figuras da administração pública”. “Os casos têm uma maior cobertura mediática e aquilo que é uma árvore é tomada pela floresta”, explica. Costa Pinto evoca as “centenas e centenas de processos que terminam pelo país e que as penas são cumpridas”. Elucida que “o que se passa é que arguidos de elevado estatuto socioeconómico têm possibilidade de contratar escritórios de advogados que conseguem suscitar mais problemas ao término do processo”. Tal, deve-se, segundo o mesmo, à postura “mais agressiva” desses escritórios. O recorrer da decisão do processo, condição a que todos os arguidos têm direito, tende “a modificar um pouco as penas concretas aplicadas”. Esta alteração “deve ser vista” como o “bom funcionamento do sistema”, já que, as decisões dos tribunais superiores
“podem estar erradas e devem ser criticadas”, de modo a fazer-se “boa justiça”, explica Costa Pinto. A possibilidade de recorrer a várias instâncias pode ter o “pressuposto implícito de que as pessoas deviam ser responsabilizadas de forma mais severa”. “Não podemos substituir uma justiça de tribunais por justiça de opinião pública”, atenta o docente da UNL. A reflexão pública de casos de corrupção dentro do Estado pode atingir níveis de contestação elevada, mas, num estado de direito, “a responsabilidade criminal é atribuída pelos tribunais”. Para se desfazerem equívocos, há que reconhecer a devida importância às instâncias jurídicas para se saber “em que base se decidiu e com que elementos, então aí poderemos ver se havia razão ou não para baixar a pena”, esclarece Frederico Costa Pinto.
Com Liliana Cunha
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Mundo
“Informar os cidadãos com as cartas todas”
MarIa garrIdo
Vive-se, no momento atual, uma conjuntura de crise, na qual toda a informação é pertinente e necessária para se exercer o conceito de cidadania. Plataformas como Puzzled By Policy surgem para ajudar. Por Maria Garrido
P
revisto em instrumentos internacionais como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o direito à informação “é indissociável da liberdade de opinião, que é o seu fundamento, e exige concatenação à garantia de objectivismo e pluralismo”, sublinha a professora de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP), Luísa Neto. Entendendo o sistema informativo como “suporte da ação política e do diálogo” entre os órgãos do poder e os cidadãos, e a sua difusão “essencial ao conhecimento económico-social”, a docente defende ainda que “a possibilidade de acesso à informação deve ser igual para todos, devendo pertencer à sociedade e em seu nome ser exercida”. “Informar os cidadãos com as cartas todas, acho que é imperioso”. Quem o diz é a professora de Sociologia da Comunicação da Universidade da Beira Interior, Antónia do Carmo Barriga. Considerando que a informação tem “sobretudo um valor social muito elevado”, a docente relaciona a questão com o conceito de cidadania: “se quisermos ser cidadãos por inteiro, temos que estar informados”. “É uma questão de cidadania e também uma questão de economia pessoal”, acrescenta. Jónatas Machado, professor de Direito da União Europeia da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (FDUC), consolida esta acepção, ao afirmar que “sem informação se pode perder a cidadania”, tornandose o “cidadão em súbdito”.
Cidadania e democracia participativa Assim, para o indivíduo poder continuar a ser cidadão e a agir como tal num sentido mais participativo, há uma necessidade de informar e esclarecer. Mas estes atos não pode partir apenas dos media. Devem partir, também, da própria iniciativa do cidadão em procurar essa informação: “é preciso que as pessoas queiram ser esclarecidas e que, aqueles a quem compete esse esclarecimento, esclareçam bem”, asse-
vera o professor de Direito Comunitário da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Fausto Quadros. No entanto, Quadros acredita que um dos entraves pode ser a “falta de informação e a informação errada” a que acedemos. “A aquisição destas competências de informação é um dos pré-requisitos para uma cidadania activa e completa: hoje, de facto, «saber é poder» ”, completa Luísa Neto. Sendo “os meios de comunicação as veias e as artérias, as informações que estes facultam devem ser abrangentes, diversificadas, críticas, fiáveis, justas e de confiança”, conclui. Na atual situação de crise, onde a democracia parece, também, de algum modo, afectada por esta conjuntura, Jónatas Machado afirma que “se vive uma crise democrática, no sentido de que não basta existir informação”. Para o professor, “por vezes o problema não é a falta de informação”, mas o facto de os cidadãos não serem dotados de meios de acção: “informar sim, mas também dotá-los de meios para agir, designadamente quando se verifica que as instituições que deviam proteger os seus interesses não protegem”. Se por um lado “os sistemas de obtenção de informação, de acountability
O direito à informação é consagrado em vários instrumentos internacionais [responsabilização], de prestação de informação e de exigência dessa informação falham”, por outro “também é verdade que por vezes aqueles que deviam ter agido com base na informação disponível, não agiram”, refere. Para Fausto Quadros, não se vive uma crise democrática. “Não direi que estamos a viver uma crise democrática; direi antes que a democracia está a ser posta à prova em momentos de crise, e é nestes mo-
O sistema informativo age como “suporte da ação política e do diálogo” com os cidadãos, afirma Luísa Neto mentos que a democracia mostra o pela National University of Ireland, tas, para o cidadão médio da União seu valor e a sua força”, acredita o Galway e constituído por um con- Europeia (UE) ”. “Os governos recoprofessor. “Nos tempos que correm”, sórcio de 12 parceiros em nove paí- nhecem hoje que, para realizarem alerta já Antónia do Carmo Barriga, ses europeus (onde entra Portugal políticas públicas eficazes, precisam “não convém estar-se desatento”. com a Agência LUSA), o projeto de encorajar a participação do cidaPara a docente é “fundamental” “tem como objetivo principal forne- dão e da comunidade em geral no haver “interpretação, debate e parti- cer a todos os cidadãos europeus, in- processo de decisão política”, explica cipação cívica”, bem como é “um dependentemente da sua ainda o mesmo comunicado. dever de qualquer cidadão ser parti- alfabetização ou conhecimentos tecA plataforma propõe-se então “encipativo e activo, envolver-se nos asfrentar o défice democrático, combisuntos da Sociedade: é uma nando conceitos e tecnologias de obrigação”, lembra. participação eletrónica, totalmente Como tal, há consequências que testados”, trabalhando a redução da emergem da falta de esclarecimento “complexidade da elaboração de posobre as medidas que são tomadas e líticas e processos legislativos, a que nos governam. Falta de esclarenível da UE, e capacitando os cidacimento que resulta, diz Fausto Quadãos no processo de decisão polídros, nas “opiniões disparatadas e tica”. A coordenadora do projecto, erradas sobre a crise e não sermos Deirdre Lee, justifica que a “eParticapazes de a ultrapassar”. Tal como cipation não pretende substituir os destaca Luísa Neto, “a comunicação nológicos, uma atraente e simples modos tradicionais de participação, – entendida como um debate ani- plataforma de participação nas mas sim complementá-los para facimado e civilizado entre cidadãos – é questões políticas atuais, com espe- litar uma inclusão mais ampla”. o elemento vital da democracia”. Deirdre Lee acredita que “a platacial enfoque na questão da imigração”, refere a responsável por parte forma pode encorajar uma maior da agência portuguesa, Teresa participação através do forneciPuzzled By Policy mento de uma política de informaCorroborando a ideia inicial de que o Gomes. No comunicado de imprensa en- ção, da facilitação de um discurso acesso à informação deve estar disponível a todos, surge um projecto viado pela agência, podemos encon- informativo entre as partes interesintitulado “Puzzled By Policy”, fun- trar o propósito desta iniciativa face sadas e da capacitação dos cidadãos dado com o suporte da Comissão à “situação preocupante” que é a “di- para se tornarem mais ativos na Europeia no âmbito do Programa de ficuldade de acesso e utilização de criação de modelos políticos”. Apoio à Política de TIC. Liderado informações, recursos e ferramenCom Diana Teixeira
A cidadania e a informação são dois conceitos diretamente relacionados
18 | a cabra | 8 de novembro de 2011 | terça-feira
Cinema
ArteS
“
Actividade paranormal 3 ”
O
de Henry JooSt Ariel ScHulmAn Com cHriStopHer nicHolAS SmitH lAuren Bittner 2011
Actividade paranormal a mais
ver
CríTiCa de josé sanTiago
cinema de horror tem sido caracterizado por uma falta de originalidade crónica, compensada apenas por alguns artifícios que, de forma esporádica, resultam, mas que têm sido levados até à exaustão. exemplo disso é o estilo câmara na mão, onde somos voyeurs da vida captada pelas próprias mãos das personagens principais. exemplos de uma boa execução deste estilo contam-se pelos dedos das mãos. ruggero deodato despoletou este engenho com o filme holocausto canibal, em 1980, e chega a ser estranho que só mais tarde, no final dos anos 90, é que a febre tenha pegado com o já clássico Projecto Blair Witch, de daniel myrick e eduardo Sánchez. A partir daí, o género foi-se reinventado com poucos casos de sucesso, como cloverfield, onde se introduziu o elemento “monstro gigante ataca cidade” e a produção espanhola [rec], que traduziu de forma exímia a sensação de claus-
trofobia associada ao género “zombie”. Actividade Paranormal foi um sucesso nas bilheteiras, em parte porque Steven Spielberg viu o filme e decidiu investir, não só na distribuição, mas também na produção de um novo final, francamente mais fraco que o original, mas que deixou em aberto a possibilidade para sequelas. Foi isso que aconteceu. Um filme que vive em torno da tensão e dos poucos, mas memoráveis, momentos de susto, transformou-se num franchise de sucesso destinado a uma estreia por cada dia das Bruxas. este ano estreou Actividade Paranormal 3 e, espantem-se, é uma prequela dos dois filmes anteriores. Aqui, a acção decorre em 1988 e podemos assistir ao desenrolar dos eventos que levaram à maldição das irmãs Katie e Kristi rey. É sem dúvida um festival de sustos, ideal para um momento bem passado no cinema, mas que perde em suspense. Aquilo que
funcionou no primeiro filme, e que foi aqui completamete posto de parte, é o facto de não termos de ver tudo. As câmaras não têm de ser omnipresentes e estar sempre no local da acção, isso acontece em Actividade Paranormal 3 e desafia todo o propósito de estarmos confinados a uma câmara caseira. Apesar de um final recompensador, acaba por dar demasiadas respostas a algo que ganha com o factor “desconhecido”. Se queriam oferecer respostas talvez não fosse má ideia o uso de uma narrativa convencional. As interpretações estão bastante acima do esperado, especialmente da parte das duas jovens actrizes, que nos convencem na perfeição que existe uma entidade desconhecida a acompanhá-las. Um filme de emoções fortes mas lamentavelmente fáceis. memorável apenas para quem não está regularmente exposto ao género.
a Vida, acima de Tudo”
F
amília, mulheres, África e vergonha. Algumas palavras que regem este filme de Oliver Schmitz, um realizador sul-africano que se preocupa, mais uma vez, em levar para o grande ecrã os problemas da complexa sociedade do seu país. O enredo desenrola-se numa pequena vila nos subúrbios de Joanesburgo e gira à volta de chanda, uma promissora pré-adolescente que tem como única preocupação os estudos. A situação muda drasticamente quando morre uma irmã mais nova e chanda se vê em apuros para evitar a desagregação da família. A jovem, aparentemente imune a sentimentos, é bastante madura para a idade que leva. À morte da irmã, junta-se o alcoolismo do padrasto, a prosti-
tuição da melhor amiga e a doença da mãe. com excepção de chanda, temse a sensação de que paira pelo ar um grande vulto de ignorância, fomentado pelo medo e pela incompreensão. A mãe, atingida pela SidA, chega a visitar um falso médico. chanda insiste que ela se deve deslocar ao hospital, mas a vergonha faz com que permaneça em casa. O problema, para alívio da comunidade, é parcialmente resolvido pela vizinha mrs. tafa. com recurso a uma vidente, esta convence lillian, a mãe de chanda, de que a sua casa está amaldiçoada e que deve partir. A casa e os dois irmãos mais novos ficam ao cuidado de chanda, que, nada convencida com as histórias sobrenaturais, faz todos os esfor-
ços para encontrar a mãe e descobrir a verdade. Schmitz, que até aqui tinha tornado esta película fortemente emotiva sem ser sensacional, acaba o filme com um grande cliché à hollywood. chanda consegue trazer a mãe para casa e miraculosamente reverte as opiniões dos vizinhos em seu favor. O que num instante era uma multidão enraivecida disposta a apedrejar a jovem passa para um pacífico coro religioso. contudo, isso não estraga o filme. mostra-nos mulheres, lutadoras, que enfrentam os preconceitos e o ostracismo de uma comunidade que outrora lhes foi amigável para simplesmente se manterem juntas como uma família. joão Valadão
filme
De Oliver Schmitz eDitora PriSvideO 2011
Artigo disponível na:
Schiuu!
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FeitAS oUvir
ler
Árvore Kriminal”
o filho de mil Homens”
t
orna-se praticamente impossível falar de Allen halloween sem Fly nigga, Fly! fazer menção ao álbum que veio dar um abanão ao rap português, no ano de 2006. Sem que nada o fizesse prever, Projecto mary Witch deu início a um fenómeno de culto nacional só comparável a dealema e valete. A expectativa sobre um próximo disco que seria aquele de Janeiro, de Agosto, do dia das Bruxas e até do Natal, foi fugindo sempre para as mesmas datas do ano seguinte. contudo, não é propriamente fácil escutar a Bruxa. Qualquer desculpa serve para não se gostar, desde a voz cavernosa ao de ritmo lento, passando pela duHAlloween reza do conteúdo, sem nunca esquecer algum défice na ediTora pós-produção e/ou no processo SonoterApiA de gravação. É um álbum que vale mais pela 2011 envolvência do que pela perfeição. As batidas são negras, ora espelham o terror, ora a expectativa angustiante de um qualquer filme de suspense. houve uma evolução clara e a diversidade na produção é evidente. em “O Ódio”, parecemos regressar a Augustus Pablo; em “O convite”, é distinta a forma como o tema ganha força pela junção do baixo em conjunto com as teclas; “hora de Ponta” transportanos para um ambiente de perseguição citadina com os ecos e as backvocals tão característicos. A lírica é forte, Allen relata o quotidiano, é um storyteller nato e, apesar da dureza das palavras, a mensagem não é de todo negativa. trata-se de uma espécie de “ouve o que eu vi, não queiras o que eu vivi”, reforçada pelos seus “tropas” Johnny Ganza (já falecido), Buts mc e Ka tha Brabo bem como Psydin Atómico, J-cap e lord G. O ponto negativo do álbum prende-se na nova abordagem aos refrões feita por halloween. O estilo mais cantado não abona a favor e o exemplo disso é o tema “crazy”, talvez dos piores do artista. É imperfeito, é duro, é sujo mas é real. Precisa de ser ouvido de olhos fechados pois esta realidade é a deles, não a nossa. Carlos Braz
Ser mais metade
de VAlter Hugo mãe ediTora AlFAguArA 2011
A
solidão ainda almejava naquela casa ao pé da praia. Ali, alguém vivia sozinho com um boneco de boca traçada por botões vermelhos. O boneco era o filho que crisóstomo, aos 40 anos, desejava ter. Sentia-se apenas metade do que era. A força do seu desejo de paternidade faz com que vá à procura. camilo, rapazinho franzino que tinha perdido o seu avô, encontra-o. tão naturalmente como nasce o dia, camilo e crisóstomo eram pai e filho. Já isaura era a mulher que diminuía, vivia sentindo-se menos que os bichos do quintal. isaura encontra crisóstomo. e camilo ganha uma mãe. O Antonino era maricas. Ao falar, parecia emanar flores. dizia as palavras certas, mas era profundamente rejeitado. A sua mãe, matilde, acreditava que deveria odiar o seu filho. Pensa que errou. A anã tem uma história que comove e facilmente identificamos com situações conhecidas. A prontidão com que todos a ajudavam não nascia da generosidade que classifica as almas cristãs, mas sim de um desejo de desgraça alheia que secretamente oscila na mão dedicada. mas não esqueçamos o preconceito homossexual. Passando-se o enredo num meio rural, observamos a construção de uma imagem repleta de mitos que não detêm vestígios de ló-
gica e facilmente se tornam saberes universais. As personagens apresentadas nesta obra acabam por se encontrar e como peças de um puzzle, completam-se. Juntas, tornam-se felizes. A indolência que percorre os sentimentos mais tristes pode ser confundida com auto-comiseração permanente. Porém, já Fernando Pessoa nos dizia que o homem é um ser descontente. Sentir-se apenas “metade do que se é” é comum. Na sua obra, O filho de mil homens, valter hugo mãe não deixa escapar as pequenas coisas que nos impedem de ser mais essa metade. com um olhar sensível, ao longo de páginas onde a simplicidade impera, o autor conta-nos a história de pessoas também simples. mas nada de confusões: a simplicidade não é sinónima de pobreza. Através desta obra percebe-se como não são necessárias complicadas peripécias para construir um enredo envolvente. Aqui, clama-se pela atenção do leitor para as peculiaridades da vida. com um final que satisfaz todos os desejos de família e felicidade, compreendemos como as mentes humanas se ocupam de coisas insignificantes e como se mantêm lutas para procurar aquilo que pode estar a um mero passo de distância. niCole inÁCio
JoGar
nier”
pigmaleão
GUerra DaS CaBraS A evitar Fraco Podia ser pior vale a pena A cabra aconselha A cabra d’Ouro PlaTaforma XBoX 360/pS3 Artigos disponíveis na: ediTora SquAre eniX 2011
h
oje em dia, nem mesmo videojogos maiores são capazes de nos presentear com inesperadas formas, de tão cristalizado se tornou o vocabulário videolúdico; um pequeno relance é agora suficiente para caracterizar uma obra até ao seu mais intimo detalhe. “Nier” carrega esse fardo em peso ao assumirse como pastiche, parecendo mera obra de carácter copista. Se fosse quadro, teria em foco uma cena tirada a regra e esquadro dos beat’em ups de Kamiya (“Bayonetta”), simplesmente desprovida do carácter genial e transgressor neles; à sua volta, um enquadramento estrutural de “zelda” ortodoxo, mas sem a elegância característica de miyamoto; e como pano de fundo figurativo algo como uma narrativa J-rPG com marca de qualidade Square enix, embora na base de enorme influência temática e estética de Fumito Ueda. Ficando-nos por aí na nossa análise, descartaríamos “Nier” como produto inferior e derivativo, indigno de posterior reflexão. mas o jogo está para além de tais repreensões pois demonstra conhecer a essência das suas apropriações, usando-as quer como forma de elevar contextos dramáticos, quer como via para um meta-discurso humorista
onde brinca com a memória de títulos matriciais como “Advent” ou “resident evil” para os elogiar e parodiar. Assim, a habilidade não se encontra nas infinitas apropriações em si mesmas (embora elas sejam sintomáticas de um incomum conhecimento histórico do género), mas na leveza com que Yoko taro (realizador) as usa como pedras de toque para esconder a sua fealdade e depois abordar um tema sentido e universal – o pai que busca salvar a filha de uma doença mortal – apesar de todo o artificialismo formal com que o esconde. É a bizarria constante que torna a acção interessante e esta apenas é expressa através da sua capacidade para percorrer uma imensa paisagística de outros videojogos, resultando em convulsões estéticas, narrativas e mecânico-diagramáticas excitantes e inauditas. mas é sempre o coração e alma por detrás da subversão de códigos de género e falta de originalidade que fazem com que “Nier” seja mais que uma mera inflexão sobre os caminhos do passado. Uma obra que por aparentar ser falsa acabou incompreendida (foi o canto de cisne do estúdio), mas que não deixa ser bem mais genuína que a falsa originalidade que a rodeia. rUi CraVeirinHa
20 | a cabra | 8 de novembro de 2011 | terça-feira
soLtas
inêS Balreira
uma ideia PaRa o ensino suPeRioR J. noRBeRto PiRes • PResidente do conseLho de administRação do coimBRa iPaRque
tomai e comei
a equação da inovação: humanidades e ciências
o amaRe(Lamento) do PRato sociaL
Fito a montra de mãos que reviram as distintas mesclas a ritmo mecanizado. Recolho o prato dianteiro, como quem não espera melhor que o aceitável - o trágico discernimento que mais tarde vim a raivosamente lamentar. Após o recostar cómodo no assento, arrasto a pequena malga, meia vazia de caldo. Sorvo sofregamente a mistura aguada, que graças a deus vem quente, fazendo escorregar as pequenas vísceras de esparguete, a compensar a mígua de ingredientes da solução, que se derrama ligeiramente pelo canto da boca. Acabada, agora sim, preparo-me para o mata-bicho. Miro fixamente a mixórdia. Um empadão acompanhado de salada timidamente temperada a azeite. Não será assim tão mau. Manejei os talheres, procurando o melhor ângulo para abordar o bloco ressequido, que deixava adivinhar a sua estadia prolongada em stock. Trespassei a dura carapaça, cujo interior desvendou o recheio de batata mole, tragicamente conjugado com a enorme porção de legumes. As aparências iludem. A amálgama contorceu-se entre os maxilares, revelando o doce do milho e da cenoura, a frescura das ervilhas, e a cebola despropositada, que a língua procurava incessantemente evitar. Meia ingestão serviu para compreender que o hábito não ia atenuar vómito que, contudo, cumpriu a malfadada missão de me saciar. Benta a água que lubrificou vezes sem conta o canal que lentamente deixava deslizar a aberrante mistura. Desarmada de vida nas papilas gustativas, capitulei. Repousei a minha ténue esperança na pequena taça de maçã cozida, qual papinha de bebé, que deixava adivinhar o seu manuseamento prévio. Desviei a atenção com o polvilhar da canela, e lancei-me vorazmente ao viscoso líquido. Salivei por mais, inconsolável ainda assim pela carência de algo mais consistente.
Por Patrícia Cunha
Eles não sabem nem sonham, que o sonho comanda a vida, que sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança, como uma bola colorida, entre as mãos de uma criança”, dizia António Gedeão na sua “Pedra Filosofal”. Eu acredito muito no poder da imaginação e da intuição. São factores distintivos que devem ser devidamente considerados. O nosso modelo de ensino considera essencial a acumulação de conhecimento específico, a memorização de informação, e uma certa tendência de análise rigorosa (“científica,” como dizem), muito formal e padronizada, em detrimento do apelo à imaginação e à capacidade de ver mais à frente. As duas coisas são necessárias, e a questão está em saber onde colocar o foco para que encontremos o ponto de equilíbrio. Albert Einstein é um excelente exemplo. Jogou com a sua intuição e capacidade imaginativa, e grande parte das suas realizações mantêm-se válidas até hoje. Perguntava-se várias vezes quando fazia determinadas suposições ou avaliava certas teorias, se Deus seguiria aquele caminho. James Maxwell escreveu as equações fundamentais sobre o electromagnetismo. E fê-lo em grande parte por intuição, para manter a simetria entre propagação da luz em matéria e no vazio, usando a sua capacidade de imaginar como deveria ser. Nicola Tesla, para mim o maior inventor de todos os tempos, imaginou como poderia comandar à distância e como criar robôs. E com isso nasceu a “tele-automática” e foram realizadas expe-
Roque Beat #3 - B Fachada e LuLa Pena • taGV • 20 de outuBRo uma noite de cumplicidade(s)
U
m foco de luz iluminava uma cadeira vazia e uma guitarra. Senta-se uma mulher, faz-se silêncio para melhor se ouvirem os phados que ela tem para cantar. Lula Pena regressa quase um ano depois ao TAGV, desta vez como 1ª parte duma sessão que seria concluída por B Fachada. Mas concentremo-nos agora na música de Lula Pena. Uma voz rouca, sussurrante, inconfundível. “Está aqui qualquer coisa que não deixa…”, confidencia ao público, quando tem de recomeçar a sua música. Lula queria proximidade, mas o palco estava demasiado distante da plateia. “Estão confortáveis?”, questionou, pouco antes de recomeçar a tocar. Apenas se escuta a guitarra e a voz, que transportam o auditório para outras paragens, onde nacionalidades e sonoridades diferentes se misturam. E para terminar a viagem da melhor maneira possível chama ao palco o companheiro que irá prosseguir a noite. B Fachada senta-se ao piano para in-
riências inovadoras de tele-robótica. O obsessivo John Nash ficava horas a olhar para quadros e paisagens, como se estivesse a imaginar ou a ver mais além, e depois escrevia as suas ideias e propostas. Steve Jobs imaginou um novo mundo e das suas mãos saíram algumas das peças de engenharia mais inovadoras dos últimos 100 anos. O que fazemos é uma mistura de imaginação, intuição, intelecto e trabalho, muito trabalho. Todos os que hoje reconhecemos como génios tinham estas características. Davam muito valor à imaginação e à intuição, tanto ou mais valor do que davam à inteligência, e trabalhavam muito, incansavelmente. A equação da inovação tem, portanto, de ter estes 4 elementos. Mas em que medida? Hemingway escreveu um livro fabuloso chamado “O velho e o Mar”. Nele o velho Santiago, que não pescava um simples peixe há 84 dias, tinha nos magníficos olhos azuis o brilho d e
d.r.
querer apanhar o maior peixe da sua vida. Mesmo muito cansado, com um barco a cair de podre, e a vela remendada. E conseguiu, ganhando de novo o respeito de todos. E nós viajamos a Cuba com ele. O Principezinho, de Saint-Exupery, descobriu que afinal mais importante do que navegar, ver e desvendar novas realidades, é importante descobrir o valor das coisas e das pessoas, e que isso exige tempo. A Universidade de Coimbra tem estas valências todas e pode realizar, com os seus alunos, a fórmula da inovação. É uma universidade clássica, devia explorar esta sua mais-valia. Nenhum aluno de ciências ou engenharia deveria poder concluir o seu curso sem estudar a história das ideias, sem ter conhecimentos musicais de alguma valia, sem falar de literatura com alguma profundidade, ou sem ter um curso de escrita criativa. São estímulos à imaginação e à criatividade que me parecem essenciais. Nenhum aluno de humanidades deveria poder concluir o seu curso sem falar de matemática, física, discutir a história do pensamento científico ou estar num laboratório a resolver um problema prático. Faríamos uma autêntica revolução se trabalhássemos mais na fronteira entre as humanidades e as ciências: porque é lá que mora a inovação. Sejam arrojados nos curricula.
aRte.Ponto Daniel Silva.
terpretar o seu dueto com Lula Pena incluído no último registo da cantora, Troubadour. B Fachada não é só para meninos. E nesta noite, em particular, não foi mesmo recomendado a meninos. Num concerto maioritariamente constituído por temas tocados ao piano, com espaço também para a guitarra (quando o concerto já ia mais adiantado), o músico de Cascais canta sobre o amor, obsceno ou apaixonado, e pormenoriza a “Hora da passa” - temas novos, que serão incluídos no disco que será editado perto do final do ano. Quando pega na guitarra, alguém sugere que toque “Monogamia”. B acede ao pedido. “É assim?”, questiona ao auditório sobre a correção das palavras que ia cantando. Com letras irónicas e uma postura em palco descontraída, o artista arranca gargalhadas do público, que se deixa cativar até pelos erros – “Até quando me engano batem palmas!” – exclama, surpreso. E para quem não aceita que se vá embora, como
uma certa senhora que abandonou o concerto. Talvez esperasse um outro artista e se tenha irritado com um Fachada demasiado sincero, que reagiu com um honesto “Se pudesse ia eu!”, após o fechar da porta. Perto do final surgiram temas do registo anterior “de Inverno”, que culminou num regresso de Lula Pena ao palco para cantar em conjunto o “Barrigão”. A cumplicidade entre os dois artistas foi bem evidente, sobretudo num encore absolutamente único: os músicos regressaram ao palco, onde ao piano e guitarra recriaram um tema tradicional. Lula deu o mote, pedindo ao público para repetir os versos ”No alto daquela serra está um lenço a acenar, está dizendo viva viva, morra quem não sabe amar”. Fachada no piano também cantou com a guitarrista, e o público respondeu ao apelo da nova música portuguesa que também respeita e reinventa a tradição, terminando assim da melhor maneira uma noite memorável. Por Daniel Silva
8 de novembro de 2011 | terça-feira | a
cabra | 21
soLtas Risco de FaLência (Remixed)
micRo-conto
Por Paulo Kellerman
I
Já tinham terminado a refeição há algum tempo mas mantinham-se sentados à mesa, olhando para a televisão em silêncio. O noticiário abrira com pormenores sobre um novo caso de corrupção envolvendo políticos e, logo de seguida, passara a antecipar e detalhar a forte possibilidade de duas ou três agências de rating descerem a notação de alguns bancos; eles ouviam, indiferentes e apáticos, como se o que escutavam não tivesse nada a ver com as suas vidas (na verdade, não tinha) e apenas se mantivessem aparentemente atentos porque não havia nenhuma alternativa melhor. Então, por fim, ela levantou-se da mesa e levou os pratos cobertos de restos de salmão para a cozinha, cambaleando ligeiramente; ele deixou-se estar sentado durante uns segundos mas, de repente, acabou por se decidir a ir à casa de banho, onde lavou as mãos cuidadosamente, até sentir que extinguira o odor a casca de laranja. Quando ambos regressaram à sala (quase em simultâneo, o que não deixou de ser peculiar: se a companhia do outro não era desejada, porque não aproveitaram a oportunidade para se refugiarem num qualquer recanto seguro da casa?), ainda falavam de agências de rating e aumentos de juros e possibilidades de falências na televisão. Ele deslizou para o sofá e deixou-se estar, imóvel e inerte, como se se preparasse para se desligar do mundo (ou talvez apenas da sua vida familiar), entrando numa espécie de hibernação protectora; ela, por seu lado, recolhia algumas migalhas acumuladas na mesa (migalhas dele, ela nunca tocava em pão), uma a uma, com excessiva e desnecessária concentração; e apanhava uma microscópica fibra
de casca de laranja (dele), que caíra ao chão e fora inadvertidamente esmagada. Quando ia a passar junto da televisão (migalhas e casca de laranja bem presas na mão), ela parou e disse (sem o olhar): – Espanta-me que nunca ninguém se tenha lembrado de criar uma agência de rating que se dedique a prever os riscos de falência dos casamentos. Que analise uma relação e diga: prevejo consideráveis riscos de incumprimento a curto prazo. Ou: na actual conjuntura, é altamente previsível que as expectativas se deteriorem. Ele continuou prostrado no sofá, estático e silencioso, respirando devagarinho, com os olhos quase fechados; mas, ao ouvi-la, sorriu timidamente, quase com gosto. E respondeu: – Uma escala que medisse o risco de falência dos casamentos, antes das pessoas se casarem? Tinhanos dado muito jeito, não achas? Ela, então, aproximou-se dele e estendeu a mão na direcção do seu rosto, como se o fosse acariciar; mas não lhe tocou: limitou-se a abrir a mão e deixar cair sobre o seu cabelo desgrenhado as migalhas (e a casquinha de laranja) que tinha recolhido na mesa. Ele abriu os olhos mas não se mexeu, olhando-a com alguma curiosidade, com alguma surpresa, com (alguma?) vontade de se indignar; e ela, quando percebeu que ele nem se iria dar ao trabalho de sacudir as migalhas do cabelo, suspirou em silêncio (um suspiro interior, simultaneamente secreto e ostensivo) e marchou para a cozinha, onde ligou
resultado?”, perguntara o juiz. “Das agências de rating, claro”, tinham eles respondido quase em coro (e porquê?, por que motivo tinham dado aquela resposta imprópria e disparatada, em uníssono?). Riam e, pouco depois, despediam-se, um pouco surpreendidos consigo próprios; algo aliviados por perceberem que, afinal, o outro não parecia assim tão feliz; algo embaraçados por terem rido (teria sido mais próprio discutirem?), por terem apreciado esse riso iluStração por ana Beatriz MarqueS partilhado. E riso após riso, foram prolonApós o divórcio, encontra- gando o pós-divórcio, forçando uma ram-se algumas vezes para aproximação ténue e artificial (obviatratar de assuntos práticos mente inconsequente), acalentando relacionados com os resquícios – o uma indefinida e inconfessável (obfuneral, por assim dizer – do casa- viamente desesperada?) possibilimento (e também, mais secreta- dade de regressão. Até que, certo dia, mente, para se vigiarem um deles (não importa quem) se inmutuamente; para constatarem se o teressou súbita e inesperadamente outro não estaria demasiado feliz, de- por um – ou uma – colega lá do esmasiado cedo). Curiosamente, acaba- critório e tudo se precipitou: houve vam sempre por rir (rir mesmo, com umas saídas e uns copos e umas gargosto e vontade, com prazer; juntos: galhadas e uns toques e, por fim, como já não acontecia há anos) umas fodas (umas valentes fodas); e, quando recordavam a expressão do nesse momento, esqueceram-se juiz perante a resposta deles à sua úl- agências de rating e juízes surpreentima questão; “e, já agora, de quem didos e risos partilhados, esqueceuconsideram que foi a responsabili- se tudo. E a vida lá seguiu em frente, dade por o vosso casamento não ter finalmente.
a máquina de lavar louça e ficou à espera durante cinquenta minutos para de lá retirar dois pratos, quatro talheres e um copo (os mesmos que iriam servir para o jantar do dia seguinte, de todos os dias seguintes).
II
monumentais Panados sociais Por doutorando Paulo Fernando • facebook.com/paulofernandophd
D
ia de Romaria da Festa das Latas - o justiceiro solitário desce a avenida com a efígie do ministro espetada numa lança. Certamente que tal metáfora é coisa que só fez sentido numa mente assoberbada por consumo literário. Afinal, quem me garante que não se tratava de uma procissão? Com esta timidez, ao transeunte distraído mais parece uma cruzada em prol do homem que agravou a austeridade superior do ensino moderadamente universitário? Aquela carantonha era o estandarte de uma tropa fandanga, uma orda mongol, que não conhece a lei e a ordem. Na sua marcha de terra queimada, ocupa os dois lados da avenida. A praça, livre da acampada municipal, agora é para cortar a direito. Alguns há que atalham no caminho para a terra santa, cortando senda pelos jardins, não sei se do hábito, se para cumprir mais uma capelinha na sua peregrinação. Os infiéis atacam a coluna que vai
partida. Pelo meio lá aparecem com a sua politização! Não sabem que cada macaco deve ficar no seu galho? Que este não é momento para falar dessas coisas sérias? O que vai pensar a minha mãezinha que me veio ver descer a avenida, mais despido que uma garota de uma escola de samba do carnaval da Mealhada, numa euforia ébria? Que eu virei um bolchevique? Ai dEUS nos acuda! A fauna aqui é outra. Nasce da criatividade creacionista e anti-darwinista dos “doutores”. No género feminino, o magote consiste em vários especímenes a cuja designação se pode acrescentar o sufixo “inho”, que, como diz a publicidade, é bem português. Joaninhas, ratinhos (!!!), leoazinhas, coelinhas – ou seja, qualquer coisa a que se possa ajuntar um par de orelhas e uma cauda. No género masculino, a matrafona é rainha e senhora, tradicionalmente uma aposta ganha nas comemorações pagãs do Entrudo. Voltando ao início, é bicharada que é pouco dada à evolução, e
natural de leiria, Paulo Kellerman, cedo se lançou para a escrita, colaborando com pequenas histórias nos jornais diário de leiria, região de leiria e no suplemento dna do diário de notícias. Cresceu a gostar de Paul auster, salman rushdie e Calvin & Hobbes. É nos contos que se expressa e foi com eles que em 2005 ganhou o Prémio de Grande Conto Camilo Castelo Branco, com o livro “Gastar Palavras”. das palavras que mais gasta conta “foder, angústia e sexo”, coisa que o irrita profundamente – essa de gastar palavras. Funcionário público, Kellerman lança as suas reservas sobre o desejo de ser escritor a tempo inteiro. “Trabalho para isso, mas não digo logo que sim”. Para além da escrita, fez rádio durante 12 anos e é um confesso apaixonado de música eletrónica. Irrita-se com o extremismo técnico de lobo antunes e com o piloto automático em que entrou saramago n’a Caverna ou n’o Homem duplicado. não tem pressa em escrever um romance, continuando pelos contos, que normalmente publica no seu blogue agavetadopaulo.blogspot.com. o seu último livro intitula-se “Chega de Fado” e foi lançado em 2010.
João Gaspar
the Lone RanGeR rafaela Carvalho
mais à preservação da espécie. Lá pelo meio, uns quanto enganados, ainda trazem uns dixotes sobre o estado do país, sobre o ensino superior, enquanto enterram a dentuça no térreo nabo. Já há vacina contra a Mononucleose? (lá vão os hipocondríacos a correr para a wikipedia) Outros há, que equivocados sem
Paulo Kellerman • 37 anos
dúvida, pensam que aquele apetrecho de alcova serve para pedinchar dinheiro. Talvez tivessem ficado confundidos com a iniciativa simbólica da DG. Meus caros, desenganem-se, qualquer penico, por mais colorido que seja, de plástico da toga ou porcelana das caldas, serve para mijar! Olhando agora para a retaguarda,
vem lá o carro vassoura. Literalmente. Tenta-se limpar por estas paragens o que por outras se sujou. O candidato a carregador do piano ainda tem de se contentar com um lugar na cauda do pelotão. Os da frente são roladores, já partem com a vantagem de conhecer o terreno, o jovem aspirante é um trepador, na verdadeira acepção da palavra. Não serão com certeza as latas que apanhou que se irão tornar no lastro que não lhe permitirá chegar ao sprint final. Também desse lado há muito veterano das clássicas, que já por várias vezes foram ao controlo anti-doping. Enfim, Dom Quixote lá seguiu, pau no ar, contra os seus moinhos simbólicos. Não leva escudeiro. Os sanchos de pança farta foram escorraçados a pontapé. Outros virão para tomar o seu lugar. Também o Lone Ranger tinha o seu Tonto. *Por escolha do autor este texto não segue as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
22 | a cabra | 8 de novembro de 2011 | Terça-feira
opinião diA MundiAl do urBAnisMo - As cidAdes. soBrevivênciA e perenidAde de uMA AlternAtivA josé António BAndeirinhA*
não é propriamente o urbanismo que se encontra debilitado, são as cidades. ou, por outra, é a incapacidade de o urbanismo tratar o grave problema das cidades contemporâneas
8 de Novembro. Celebra-se o dia mundial do Urbanismo. Temos por hábito dedicar um dia, que apodamos de mundial, a coisas que, manifestamente, se encontram em posição de desprezo, de desvantagem, ou de subjugação excessiva. Assim, num contexto global marcado pela presença insistente das guerras regionais, celebramos o dia mundial da Paz. Celebramos o dia da mulher, dada a condição de desigualdade de género. Celebrámos em tempos o dia do operário, por se tratar de uma classe explorada e subjugada. Até chegamos a celebrar o dia da Terra, para nos lembrarmos do desgaste que exercemos sobre o planeta. Neste caso, não é propriamente o Urbanismo que se encontra debilitado, são as cidades. Ou, por outra, é a incapacidade de o urbanismo tratar o grave problema das cidades contemporâneas que o torna frágil, quase inútil. Onde radica essa incapacidade? Radica, em meu entender, em duas origens distintas, embora complementares. Por um lado, o vazio programático do poder contemporâneo. O Urbanismo sempre foi uma ciência emanada do poder político, embora em determinados momentos, anteriores à crise de 1929, o tenha sido também do poder económico. Dado o esvaziamento de conteúdos programáticos firmes, os governos democráticos
contemporâneos, quer sejam locais ou nacionais, tendem para a degenerescência da esfera decisória, vertendo-a em gestos de mera simulação, onde não há mais lugar para a regulação firme e efectiva do espaço urbano, para o Urbanismo. Por outro lado, e agora tão na moda, a instituição do “fim” da cidade, profeticamente prenunciada por teóricos oriundos de várias áreas do saber, inclusivamento do próprio urbanismo. Confrontados com o alastramento das áreas metropolitanas, difuso, irracional e irresponsável pelo espaço que desperdiça e pelos gastos infraestruturais acrescidos que gera, os pensadores contemporâneos do urbanismo preferem, ao jeito neo-liberal, encarar o problema como uma “fatalidade” dependente do livre e libertino funcionamento dos mercados, de solos e imobiliário. A cidade fica então entregue a si própria e às suas vivências e culturas, agora cada vez mais marginais. O seu funcionamento deixa de ser inteligentemente delineado e regulado, passa a diluir-se no espaço metropolitano indiferenciado, tábula rasa difundida a partir de um centro que contem em si uma cidade, igualmente vazia. Apesar disso, et pour cause, ainda é possível pensá-la num sentido mais global, concebê-la enquanto entidade que, no quadro de determinados parâmetros, se insinua como alternativa
sólida, credível e realista, ao fenómeno hegemónico e inelutável do crescimento difuso. Sim, apesar desses novos determinismos metropolitanos, muito up to date, atrevo-me a pensar que subsiste ainda uma entidade, ontologicamente reconhecível, que se inscreve numa matriz de continuidade histórica, a que continuamos, e continuaremos, a chamar cidade. Os modelos a partir dos quais podemos balizar essa entidade são globais, embora deva reconhecer que, para o que aqui nos interessa, são de salientar aqueles que se identificam segundo uma matriz de localização geográfica centrada na bacia do Mediterrâneo, com especial incidência na Europa do Sul. Há, contudo, por toda a Europa, provas incontestáveis de subsistência, e de florescimento, de cidades de média dimensão, que não se inscrevem em vórtices de absorção metropolitana e que se inserem em redes de articulação, quer com as suas regiões de influência, quer com outros pólos urbanos congéneres. Não seria possível enumerálas, nem será necessário citá-las. Visitamo-las, reconhecêmo-las e identificamo-las a partir das suas especificidades culturais. Conseguimos circunscrever os seus limites, encanta-nos a vida dos espaços públicos, potenciada por consideráveis índices de densidade populacional. São mais fáceis de manter e mais baratas de infraestruturar que o espaço
peri-urbano difuso. Por isso, e pela qualidade de vida urbana, insinuamse como uma incontestável alternativa à metropolitanização global. Resisto, portanto, na consideração da cidade como uma possibilidade, como uma opção operativa. Françoise Choay considera que o urbano, modelo cultural hegemónico, se desvinculou da ideia de espaço que lhe estava associada e alastrou por todo o território, provocando a morte da cidade1. Por muito que nos deixemos seduzir por esta ideia, é também impossível deixar de constatar uma realidade dinâmica e futurante, através da qual um elevado número de cidades de média dimensão sobrevive e floresce, sem serem absorvidas pela voracidade metropolitana e sem se insinuarem elas próprias como pólos expansionistas. Para isso, muito contribuem medidas políticas concertadas, quer de carácter nacional, quer de carácter local, que fixam e clarificam autonomias e influências de capitalidade territorial e administrativa, medidas que ajudam a sobrevivência da centralidade urbana, face à utilização indestinta do território metrolitano periférico. *Por escolha do autor este texto não segue as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. *Docente do Departamento de Arquitectura e investigador do Centro de Estudos Sociais
A Cabra errou: Na edição 235, no artigo “A Coimbra queirosiana redescoberta” é referido que Eça de Queirós habitou a República BotaAbaixo. De facto, o escritor habitou uma república que ficava ao lado do que é hoje a Bota-Abaixo. Apresentamos as nossas desculpas. Cartas ao diretor podem ser enviadas para
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8 de novembro de 2011 | Terça-feira | a
cabra | 23
OpiniãO Inês balreIra
editorial Uma QUestão de direito
P
ode parecer redundante mas torna-se inevitável voltar a falar de regulamentos de atribuição de bolsas e ação social escolar (ASE) que, a par com a também já propalada asfixia financeira das instituições do ensino superior (IES), deveria estar no topo da lista de assuntos mais prementes a tratar pelo Ministério da Educação e Ciência. Depois de o decreto-lei 70/2010 ter varrido uma parte significativa das bolsas de ASE (menos 12 mil a nível nacional no ano letivo de 2010/2011), o novo documento que regula a atribuição de bolsas parece claramente insuficiente pois continua a excluir estudantes com dificuldades em encontrar recursos para a manutenção no ensino superior (ES).
É legítimo perguntar até que ponto um estudante com este tipo de necessidades consegue aguentar as despesas (alimentação, propinas, alojamento, viagens a casa, etc…) até meio do ano letivo sem lhe ver atribuída a bolsa. Com esta marginalização, o ensino superior como degrau social deixa de existir, perdendo-se a oportunidade de melhoria de condições de vida de uma camada da população portuguesa. É retirar a hipótese de formação no ensino superior a toda uma geração. Perde-se aqui também uma oportunidade de desenvolver o país através da qualificação superior e, consequentemente, alavancar a recuperação económica. Numa altura tão crítica em que só agora os Serviços de Ação Social da
“
É arrepiante a facilidade com que se encontra casos de quem congelou a matrícula na UC por não ter possibilidades de sustentar a permanência Posto isto, está em causa o direito à liberdade de aprender, consagrado na Constituição da República Portuguesa. Para um ensino que se quer público, gratuito e universal, os últimos anos têm indicado o caminho contrário, com a exclusão de quem não tem possibilidades de suportar os custos inerentes à frequência no ES. É arrepiante a facilidade com que se encontra casos de quem congelou a matrícula na Universidade de Coimbra por não ter possibilidades ou teve que começar a trabalhar para sustentar a permanência. Chegámos a um ponto em que os estudantes evitam ir comer às cantinas por ser impossível suportar duas refeições de dois euros e quarenta por dia, só para nomear um dos muitos exemplos de poupança.
Universidade de Coimbra receberam os dados do aproveitamento escolar relativos ao anterior ano letivo, pode depreender-se que a conclusão do processo de atribuição de bolsas acontecerá novamente depois de janeiro. Enquanto isto, a academia parece andar mais entretida com o período pré eleitoral e respetivas jogadas do que com os problemas efetivos que os seus sócios em maiores dificuldades enfrentam. Mais do que esperar por saber quem vai ser o eleito no dia 29 de novembro para ocupar a cadeira da presidência, espera-se que o atual mandato cesse para que quem venha a seguir tome medidas realmente eficazes no combate às sucessivas medidas negligentes e insensíveis tomadas pela tutela.
Camilo Soldado
Secção de Jornalismo, Associação Académica de Coimbra, Rua Padre António Vieira, 3000 - Coimbra Tel. 239821554 Fax. 239821554 e-mail: acabra@gmail.com
Diretor Camilo Soldado Editores-Executivos Inês Amado da Silva, João Gaspar Editoras-Executivas Multimédia Ana Francisco, Catarina Gomes Editores Inês Balreira (Ensino Superior), Ana Duarte (Cultura), Fernando Sá Pessoa (Desporto), Ana Morais (Cidade), Filipe Furtado (Ciência & Tecnologia), Liliana Cunha (País), Maria Garrido (Mundo) Secretária de Redação Nicole Inácio Paginação Inês Amado da Silva, Rafaela Carvalho Redação Diana Lima, Diana Teixeira, Félix Ribeiro, Joana de Castro, Paulo Sérgio Santos Fotografia Ana Patrícia Abreu, Camilo Soldado, Daniel Silva, Felipe Grespan, Inês Amado da Silva, Inês Balreira, João Gaspar, Olga Juskiewicz, Rafaela Carvalho Ilustração Ana Granado, Ana Beatriz Marques, Tiago Dinis Colaborou nesta edição Mariana Santos Mendes, Daniel Silva, Juliana Pereira, Mariana Neves Colaboradores Permanentes Carlos Braz, João Miranda, João Ribeiro, João Terêncio, João Valadão, José Afonso Biscaia, José Miguel Pereira, José Santiago, Lígia Anjos, Luís Luzio, Pedro Madureira, Pedro Nunes, Rafael Pinto, Rui Craveirinha Publicidade João Gaspar 239821554; 917011120 Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, J.Norberto Pires, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra, Paulo Kellerman
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Eduardo Melo
Desde que Eduardo Melo iniciou o mandato que se vive um clima de instabilidade na AAC. A sua direção ficou marcada de início pela história mal contada do secretário-geral da Queima das Fitas. Seguiu-se a demissão do administrador, e com ele, os coordenadores dos pelouros de ligação aos órgãos e relações internacionais abandonaram a DG. Na última semana foi o tesoureiro que se demitiu, também em situação um pouco ambígua. Há quem alegue jogadas políticas em torno das próximas eleições. A verdade é que mais uma vez Eduardo Melo pouco ou nada clarificou a situação, aliás, como aconteceu das outras vezes. I.B.
Min. Economia e Emprego
Segundo o Plano Estratégico dos Transportes, integrado na Secretaria de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, até ao final do ano as linhas ferroviárias do Oeste e Vouga vão ficar suspensas. A mobilidade sustentável fica descurada, assim como uma política ferroviária sólida. Também a Comboios de Portugal merece a reprimenda pela má gestão das linhas ferroviárias que dão origem a um decréscimo de passageiros. Os horários dos comboios e a oferta de serviços parcos e de má qualidade impedem muitos utentes de poderem utilizar este meio para se deslocarem. A.M.
FCUC
A Fundação Cultural da Universidade de Coimbra votou, em Conselho Geral, o princípio do “utilizador-pagador”, no que concerne ao regime de utilização do estádio universitário de Coimbra. Assim sendo, as secções desportivas da AAC vão passar, a partir do próximo ano, a ter de prestar contas com uma “renda de casa”. Para muitas, mais não é que passar a pagar por um espaço que têm sustentado sozinhas. Conselho Desportivo e Associação Académica souberam da proposta pouco antes da sua votação. Esperam-se, pelo menos agora, negociações. F.S.P.
Abrir e fechAr de cortinAs por Joana de Castro
200 x 100 Cortinas. De fumo, de fogo, de água, de engano e de mentira. Que nos abrem e fecham conforme a vontade de outrem. Conforme a vontade de alguém que não nos deixa arredá-las para ver aquilo que é. Como se vivêssemos com a realidade censurada pelo abrir e fechar de cortinas e de portas, de barreiras à verdade a que todos nós aspiramos conhecer, vencer e ultrapassar. Como se vivêssemos no centro da cebola e quiséssemos, desesperadamente, sair para o lado de fora da casca. Como se do lado de fora da cebola não houvesse mais portas e mais cortinas que abrem e fecham e sobem e descem até ao derradeiro cair do pano das cortinas da vida.