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Turismo: abrandar para acelerar
Turismo: abrandar
para acelerar
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No inverno de 2019, mesmo à noite, ainda era comum formar-se uma multidão para tentar ver a cor da água da Fontana de trevi, em Roma, a mesma que Fellini imortalizou no filme “la dolce Vita”, através da cena em que a personagem interpretada por Anita Ekberg se banha nesta fonte barroca, da autoria de Nicola Salvi.
A fonte, com 20 metros de largura, estava (antes da pandemia) sempre recheada de moedas, atiradas pelos turistas, que assim formulavam o desejo de voltar à capital italiana. Aparentemente, estes desejos cumprem-se, a julgar pelo número de turistas que visitavam a cidade e impediam a visão integral da fonte antes do início da pandemia.
A cidade era um dos mais flagrantes exemplos da invasão de turistas e do turismo desenfreado, que de alguma forma despovoou a zona histórica de Roma de romanos.
A necessidade de travar este turismo de massas já se sentia em vários pontos do mundo: a ilha tailandesa de Maya Bay fechou-se ao turismo em 2018 para regenerar o seu ecossistema; o Governo peruano impôs um limite à entrada de turistas em Machu Picchu; o Butão, no sopé dos Himalaias (zona “magnética” para mochileiros), quer atrair turismo de alto valor e de baixo impacto, pelo que o turista só pode visitar o país se garantir um gasto diário de 250 dólares (cerca de 212 euros) por pessoa.
Portugal registou em 2019 um recorde no número de turistas, ficando perto dos 27 milhões. O turismo impulsionou o crescimento da economia, mas também destabilizou a vida dos portugueses, sobretudo em cidades como lisboa e Porto, inflacionando o custo da habitação (com a conversão ao alojamento local de vários imóveis) e obrigando muitos dos seus habitantes a mudar de casa, elevando a densidade populacional nos arredores das metrópoles. Acresce que este crescimento económico dependente do turismo terminou quando a pandemia chegou, dando lugar a uma crise que afeta gravemente o setor e as atividades com ele relacionadas.
No entanto, da mesma forma que a pandemia deu uma folga ao ambiente, também deu ao turismo e a quem nele trabalha uma oportunidade para refletir qual o melhor caminho a seguir, um caminho de evolução, ou seja, de crescimento sustentável.
O filme que sintetiza o plano turismo + Sustentável 20-23 do turismo de Portugal para estimular a economia e a atividade turística procura mostrar esse caminho.
O tema de capa desta edição é também deste caminho que trata, abordando alguns exemplos. O turismo deve surgir como consequência do trabalho de consolidação e de promoção do que Portugal tem de bom, de único, de genuíno. Esse caminho deve ser sustentável, para não comprometer o produto Portugal no que ele tem de melhor, nem a qualidade de vida das pessoas que habitam o país.
A retoma total no setor só deverá acontecer em 2023, de acordo com um estudo do iPdt – turismo e consultoria. Queremos crescer, mas para acelerar no futuro foi preciso abrandar agora e será preciso avançar a um ritmo controlado daqui em diante.
E-mail: smarques@ccile.org