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Retoma do turismo alicerçada no que é genuíno e sustentável

gran tema Retoma do turismo alicerçada no que é genuíno e sustentável

A ordem em 2019 já era para desacelerar e desencorajar o turismo de massas, mas a pandemia impôs-lhe uma travagem brusca… Instalou-se uma crise no setor e nos países mais dependentes das atividades económicas que gravitam em torno dele. Adivinha-se que o caminho será novamente de crescimento depois da pandemia, mas evidencia-se a oportunidade para planear como retomar um setor sem cometer os erros do passado, sem comprometer o planeta e a qualidade de vida das pessoas. Que Portugal queremos partilhar com os turistas? O Plano Turismo + Sustentável 20-23 aponta o caminho e a Actualidade conta-lhe como o Alentejo quer continuar a crescer de forma sustentável, como o futuro Geoparque Algarvensis pode ser transformador do turismo e da região e como as cerejas reforçaram a dimensão turística do Fundão e dinamizaram outras áreas da economia local.

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Textos Susana Marques smarques@ccile.org Fotos DR

OEuropeu de Futebol de 2004 (realizado em oito cidades portuguesas) terá dado um inegável contributo para pôr Portugal no mapa do turismo mundial e dilatar os números do setor, que até essa altura eram pouco expressivos. trouxe jornalistas e estrangeiros, gerou “barulho” sobre o destino Portugal e aguçou o apetite pelo país em quem talvez nunca tivesse equacionado antes conhecê-lo. Mas o Euro foi também a oportunidade encontrada pela câmara Municipal do Fundão para comunicar no mercado português a marca “cereja do Fundão”, que foi “o fruto da nossa Seleção” e depois disso nada voltou a ser como era, para a cereja e para o Fundão…

O que tem a cereja a ver com o turismo? Quase tudo, no Fundão… Quase tudo, no turismo sustentável que Portugal projeta, alicerçado na genuinidade do país, à luz do Plano turismo + Sustentável 20-23, iniciado em outubro do ano passado e cuja versão final (pós consulta pública) foi apresentada no passado mês de junho, no Algarve. Este plano visa a retoma do setor assente na máxima “Reativar turismo. construir Futuro” e alinhado com os objetivos da Estratégia turismo 2027 (Et27). Na prática, pretende-se alinhar os objetivos da sustentabilidade com a evolução da atividade turística.

No caso do Fundão, veremos como a cereja não está apenas no topo do bolo, já que inspira a receita de crescimento do município, em várias direções, incluindo o turismo…

A cereja que inspira o turismo

A tradicional época da cereja já passou, no entanto, dir-se-ia que no Fundão ainda não porque à boleia da cereja e da marca “cereja do Fundão” dinamizaram-se várias atividades, que fazem dela um fruto sempre presente ou omnipresente no municí-

pio. Paulo Fernandes, o presidente da câmara Municipal do Fundão, conta-nos a história: “A cereja representa 60% da produção agrícola do concelho, ocupando entre 2.000 a 2.500 hectares de pomares. O Fundão é a principal zona de produção de cereja a nível nacional, com capacidade para produzir atualmente entre seis a sete mil toneladas por ano. O Fundão sempre produziu cereja de qualidade. Sabíamos do potencial deste fruto e da região para o produzir e apostámos numa campanha de valorização do produto. lançámos a marca ‘cereja do Fundão’, com o slogan ‘o fruto da nossa seleção’, por altura do Euro 2004, e foi um sucesso, uma vez que o mercado nacional valoriza agora muito a marca e o produto cereja do Fundão.” depois desta campanha multiplicaram-se as ações de promoção e verificou-se um envolvimento geral da comunidade em torno da cereja, frisa Paulo Fernandes. “O objetivo sempre foi também diversificar as atividades em torno da cereja, de modo a tê-la presente na região o ano todo. Atualmente, temos na região cerca de 30 produtos diferentes, que usam a cereja como ingrediente (licores, compotas, molhos, doces, chás e infusões, vinagre, gin, etc). Entre 30 a 40 restaurantes portugueses criam pratos em torno da cereja do Fundão. tudo isto visa valorizar o produto e a região.”

No ano passado, a comissão Europeia certificou a cereja do Fundão como sendo um produto com indicação Geográfica Protegida (iGP), mais um passo na valorização da fileira. “Estamos a crescer 4% ao ano em área produtiva, mas o objetivo é melhorar a produtividade dessa área mais do que aumentar o número de hectares, bem como reforçar o preço a pagar aos produtores de cereja. Queremos que essa atividade seja cada vez mais sustentável e respeitadora de todos os intervenientes, feita em boas condições de trabalho, com boas práticas ambientais, bem como aumentar a quota do comércio justo, ou seja, queremos ser sinónimo de qualidade a todos os níveis. Percebemos que este produto tinha que ser mais investigado e isso está a acontecer ao nível da saúde e da biotecnologia.” O autarca indica que “desde 2009 duplicou o contributo da fileira da cereja para a economia do concelho, representando mais de 20 milhões de euros por ano”. Estamos a falar de cerca de “300 empresas que trabalham a cereja nas suas diferentes vertentes”, indica Paulo Fernandes, acrescentando que neste contexto, o

O Geoparque que o Algarve quer mostrar ao mundo e que pode ser transformador da região

Um terço do Algarve, uma área total de 1.381km2, situada Loulé, Silves e Albufeira, guarda “um património geológico anterior ao aparecimento dos dinossauros, tão singular e tão relevante que permite contar vários capítulos da história do planeta Terra”, como explica a Coordenação Técnica do Geoparque Algarvensis. O projeto passa pela constituição da Associação Algarvensis, organismo que integra os referidos municípios e a Universidade do Algarve e que quer candidatar o geoparque a Património Mundial da UNESCO. Em causa um património “com 350 milhões de anos” e uma história “focada nos mares do interior e na separação dos continentes e formação do Continente Americano, com a abertura do Oceano Atlântico”. Tudo isto já pode ser visitado pelos apreciadores do turismo de natureza, arqueologia e história. No geoparque dinamizam-se três áreas fundamentais de trabalho holístico do território, contam os responsáveis pelo Algarvensis: “ciência/conhecimento, com a inventariação dos geossítios e a criação de conhecimento em diversas áreas (arqueologia, biodiversidade, fauna, flora,…), com a preparação de edições para vários públicos; educação, com programas dedicados à comunidade escolar, às comunidades residentes e à criação de atividades que aportem valor e pensamento como o GeoPalcos Arte. Ciência.Natureza. E o Geoturismo com a criação de percursos e a sua identificação no terreno, a valorização de sítios, como as Antas do Ameixial e a criação de comunicação online e offline.” Um dos requisitos da candidatura “é ter trabalho efetivo de Geoparque com o mínimo de um ano antes da submissão da mesma à UNESCO”, esclarece a Coordenação Técnica do Geoparque Algarvensis, adiantando que a submissão deverá ser feita em 2023 e elencando os principais trunfos da candidatura: “Um grande atributo a favor da região é ser o único projeto de Geoparque Mundial da UNESCO a Sul do Tejo. Os pilares em que assenta a candidatura UNESCO, nomeadamente conhecimento, educação e geoturismo, são também os pontos fortes a favor da região, reforçando o papel da Universidade do Algarve na região, assim como a criação de um ‘produto’ disponível todo o ano, contribuindo significativamente para a diversificação da oferta turística e atraindo turistas com outros interesses. Num conceito alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e com a nova estratégia do Turismo mais verde, mais sustentável e mais ecológico, este é um dos projetos chave para alavancar o destino todo o ano, alicerçado num produto que alia património natural e cultural, autenticidade e proximidade às pessoas dos lugares, com qualidade de vida e bem-estar, permitindo experiências no território. Este projeto do aspirante Geoparque Algarvensis Loulé-Silves-Albufeira é, já hoje, considerado, pela Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL) e pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, um projeto estruturante para a estratégia de desenvolvimento regional da próxima década.” Este projeto reúne e valoriza conhecimento sobre “o Metoposaurus Algarvensis, uma espécie única para a ciência, descoberta na Jazida da Penina e que é o

O Geoparque que o Algarve quer mostrar ao mundo e que pode ser transformador da região

motivo primeiro deste projeto, por ser o geossítio de referência mundial a que a UNESCO obriga para apresentarmos a candidatura; um hotspot mundial da biodiversidade, com mais de duas dezenas de espécies cavernícolas únicas no Mundo; uma história da Terra, com as suas evidências físicas, da separação dos continentes, com o geossítio do Pirinéu, a mostrar-nos essa discordância angular; entre tantas outras descobertas de pessoas, de atividades e de saberes que ainda se cruzam neste Algarvensis.” O financiamento para este geoparque “será realizado como até ao momento pelas autarquias (e também pelas quotas de todos os associados) e com o recurso a fundos comunitários, através da submissão de candidaturas”. A Coordenação Técnica do Algarvensis frisa que o trabalho “assenta numa estratégia de desenvolvimento integrado, sustentado e com futuro para o território, potenciando a criação de emprego, a fixação de pessoas e a atração de pessoas ao interior do Algarve”. O fio condutor do projeto é a coesão social e territorial do Algarve: “Ser um território na sua maioria de baixa densidade, não incluindo o litoral, e incluindo duas cidades que se situam no barrocal – Loulé e Silves, foi uma opção clara de contribuir para a valorização do interior, para contrariar a desertificação e para potenciar a economia regional, com uma oferta turística que está disponível todo o ano. Foi, acima de tudo, dar esperança e luz a um território que precisava de ser olhado de forma holística com novos conceitos de desenvolvimento que assentassem no respeito pelo lugar, na criação de emprego e empresas que potenciem uma economia verde. Este projeto reforça a coesão social e territorial do Algarve e inverte a tendência de concentração de pessoas, emprego e economia no litoral, abrindo novas oportunidades no interior, complementando e completando a oferta existente ao nível do emprego, da economia e da atratividade do Algarve. Refira-se, também, que este projeto promove o trabalho ao nível da ação climática, tão importantes que são para o território as questões da água (ou falta dela), da desflorestação, da economia de circuitos curtos.” Um projeto de Geoparque “é sempre transformador do território porque o faz de uma maneira holística e alicerçada na ciência e nas necessidades específicas de cada território e das pessoas que o habitam”. Assim, “pretende-se fixar pessoas no território Algarvensis, com a criação de condições ao nível das acessibilidades, da tecnologia, para dar qualidade de vida a quem vive ou escolherá viver neste Geoparque”. Por outro lado, “atrair economia e negócio ao território é outro dos objetivos, com a valorização dos recursos endógenos, promovendo a agricultura e a transformação de produtos, de negócio como queijarias, destilarias e tantos outros, com a certificação de produtos de origem protegida e controlada”. No âmbito do turismo, “a criação de rotas e percursos, atraindo pessoas ao território pretende ser o motor para a instalação de hotelaria sustentável, de restauração, de pequenos negócios que permitam a criação de emprego”. Como referido, “este projeto pode atrair para a região pessoas ao longo de todo o ano, pode ainda (já está a acontecer) atrair investigadores de várias áreas do saber para aqui se fixarem.” Outra frente de trabalho é a comunicação, observam os coordenadores do projeto: “Ser aspirante Geoparque Algarvensis já nos permite uma divulgação ao nível do Fórum Português de Geoparques, o que significa uma comunicação de qualidade e exigência. Quando recebermos a distinção da UNESCO estaremos integrados na rede Mundial de Geoparques, o que aumenta substancialmente o alcance da divulgação do nosso trabalho. A comunicação já está a ser trabalhada em conjunto com a Região de Turismo do Algarve e com a Associação de Turismo do Algarve que são uns parceiros de excelência para a comunicação na Península Ibérica e no Mundo. A página de internet do Algarvensis, as redes socias são outros veículos em que já estamos a trabalhar, assim como parcerias estratégicas com órgão de comunicação social e com empresários do ramo do Turismo. São múltiplas as estratégias, ações e meios que já estamos a desenvolver e que com a chancela UNESCO serão potenciados, pelas redes mundiais que vamos integrar e que nos vão conferir uma garantia de qualidade e sustentabilidade do trabalho e do destino.” Caso a candidatura não seja aprovada, os responsáveis pelo Algarvensis prometem reformular o que for preciso e voltar a submeter o projeto, “porque este é um pacto com as pessoas que não tem retorno, é um compromisso de esperança que não podemos falhar”.

Anos dourados no Alentejo

Além da cor das searas, o crescimento do turismo na última década antes da pandemia também justifica o adjetivo e a metáfora, confirma Vítor Silva, presidente do Turismo do Alentejo: “Os últimos anos, considerados até 2019, foram realmente fantásticos em termos de desenvolvimento turístico do Alentejo, em todos os indicadores que quisermos considerar.” O número de dormidas passou de 1172 558, em 2010, para 2.8779.300, em 2019. Como nota Vítor Silva “globalmente assistimos a uma quase duplicação do número total de dormidas e ao crescimento exponencial da importância do mercado externo, que em dez anos mais que triplica (passando de 274 592 para 986.119). O presidente desta região de turismo adianta que “o contributo do alojamento é apenas uma parte da receita gerada pela atividade turística, assim e tendo presente que em 2019 os proveitos globais do alojamento se situaram nos 172.100.000 euros e atendendo ao seu efeito multiplicador, podemos estimar que o setor do turismo aportou ao Alentejo uma receita total entre os 600 e os 700 milhões de euros, num PIB regional que, nesse ano, atingiu os 13.408 milhões de euros”. Entre 2009 a 2019, a capacidade de alojamento na região “aumentou de 7.318 camas em estabelecimentos hoteleiros (Sem TR, TH, AL e PJ) para 138.012 camas (todas as tipologias incluídas)”, informa Vítor Silva, salientando que “o crescimento da oferta também se fez em qualidade. O número de unidades de alojamento classificadas como Hotéis de 5 estrelas passou de três, em 2009, para oito, em 2019.” O Alentejo não costuma ser identificado com o turismo de massas e talvez não seja esse o seu desígnio, mas tem propostas de sobra para agregar visitantes, nota Vítor Silva “A região apresenta-se como um amplo mosaico diversificado de produtos turísticos, como a cultura e o património, com dois locais classificados como Património da Humanidade e quatro bens classificados como Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO; a natureza, com seis áreas classificadas como parques ou reservas naturais, a gastronomia e vinhos, as atividades de ar livre, com destaque para o walking, cycling, horseriding, ballooning, golfe e birdwatching, bem como para todas as atividades possíveis de praticar nos planos de água interiores e no mar (sailing, rowing, canoeing, windsurfing, kitesurfing, coasteering, surfing, SUP, water skiing, dolphin watching etc.), o enoturismo, todo o segmento do MI, os estágios desportivos e, no cruzamento de todos estes produtos, o touring cultural e paisagístico.” O responsável pela região de turismo destaca “dois atributos que são os valores maiores que a marca Alentejo encerra e que são efetivamente únicos: as pessoas e a sua natural hospitalidade, bem como a luz do Alentejo, seja de dia ou de noite, que assume aqui uma dimensão inigualável”. A pandemia refreou a atividade turística, obrigando agora a reforçar muitos dos objetivos anteriores à crise, que ainda passam por “aumentar a procura turística; crescer a um ritmo mais acelerado nas receitas do que nas dormidas; alargar a atividade turística a todo o ano e a todo o território; contribuir

para aumentar as habilitações da população empregada no turismo; assegurar que a atividade turística gera um impacto positivo nas populações residentes; incrementar os níveis de eficiência energética nas empresas do turismo; apoiar a digitalização do setor; impulsionar uma gestão racional do recurso água no turismo; promover uma gestão eficiente dos resíduos na atividade turística”. Vítor Silva acredita que o impacto da pandemia irá diminuir, pelo que aspira a que "a prazo, se retome a dinâmica turística que marcou toda a década passada, crescendo em volume, mas e sobretudo em valor, atenuando a sazonalidade e conseguindo que os resultados da atividade turística beneficiem todo o território.” O gestor sublinha que “no que concerne à adequação entre oferta e procura, o Alentejo possui mais de setecentas unidades de alojamento, a maioria das quais no âmbito do TR e TH e largas centenas de outras empresas dos segmentos da restauração, animação, DMC’s, PCO’s, Guia e etc. conseguindo a resposta mais adequada a cada tipo específico da procura”. No entanto admite “existirem usos conflituantes no território do Alentejo, nomeadamente com os que provocam maiores mutações na paisagem, como sejam determinadas práticas agrícolas” e advoga que “a defesa dos princípios da sustentabilidade é uma tarefa que cabe a cada um dos cidadãos, das empresas e das instituições, pois só numa dimensão holística se consegue que o Alentejo seja efetivamente um destino sustentável”. Um dos casos de sucesso na região é a Comporta. Vítor Silva garante que o crescimento do turismo na Comporta não compromete a genuinidade e sustentabilidade deste destino: “Felizmente os instrumentos de gestão territorial em vigor acautelam bem essa situação, tendo definido áreas especificas para o desenvolvimento turístico (as ADT’s), rácios de edificabilidade e de relação entre oferta e moradores que consideramos serem equilibrados e contribuírem para a sustentabilidade dessa parcela do nosso território.” O Alentejo investirá para já no mercado interno e espanhol, revela o presidente desta região de turismo: “No imediato estamos focados na promoção junto dos mercados de proximidade, usando estratégias adequadas para cada um deles, nomeadamente com recurso à produção e disseminação de conteúdos, seja no circuito B2B ou B2C, maioritariamente através de meios digitais e com a realização das ações inversas que sejam possíveis. Numa segunda fase e de acordo com a evolução que a pandemia venha a conhecer, prevemos apostar em mercados europeus, por estimarmos que a mobilidade intraeuropeia seja mais facilitada. Finalmente e numa terceira dimensão reforçar o trabalho promocional em mercados de long holl, que nunca abandonámos, tanto mais que estes assumiam até 2019 lugares importantes na hierarquia dos mercados para o Alentejo, como o revelam o posicionamento do Brasil como segundo mercado externo mais importante e os Estados Unidos, que ocupavam o quarto lugar.” De salientar também a representatividade dos turistas espanhóis: “Tendo presente os dados reportados a 2019, a Espanha representava uma quota de 21,2% do mercado externo.” turismo também beneficia, já que a cereja foi usada como bandeira da região. todos os anos, por altura da apanha da cereja, o município promove a campanha da cereja do Fundão, iniciativa que pretende divulgar o produto e a região através de diversas ações. Este ano, estrearam a plataforma online www.produtosdofundao. pt, onde além de cereja se vendem outros produtos do concelho. O site convida também ao Apadrinhamento de cerejeiras do Fundão: por 20 euros pode-se ser padrinho ou madrinha de uma cerejeira, colher os seus frutos e receber de oferta dois quilos de cerejas. Os bebés que nasceram em Portugal no mês de junho podem ser padrinhos de graça (mediante inscrição) porque nunca é cedo demais para angariar simpatia para a cereja e para região. daí também a criação de uma quinta pedagógica, que irá disponibilizar vários programas para os mais jovens. como referiu Paulo Fernandes, o município organiza a Rota Gastronómica da cereja do Fundão (decorreu entre 18 de junho e 4 de julho) em prestigiados restaurantes, que incluiem nos seus menus pratos originais com a cereja do Fundão. A tasca da Esquina do chefe Vítor Sobral, o loco, do chefe Alexandre Silva, em lisboa, e os restaurantes Euskalduna e Semea do chefe Vasco coelho Santos e o Almeja, do chefe João cura, no Porto, integraram a iniciativa.

Na cidade do Fundão decorreu o Festival Gastronómico “Fundão, Aqui come-se Bem – Sabores da cereja” - http://saboresdacereja.cm-fundao.pt/ - que “reúne diversas propostas de restaurantes e pastelarias da região, que dedicam menus e doçaria a este fruto”.

O que a cereja está a fazer ao Fundão ou o que o Fundão está a fazer a partir da cereja, poderá inspirar o modelo de evolução que Portugal quer para a retoma do turismo e da economia? Há em Portugal outros casos em que

a genuinidade de um ou de vários produtos inspira ou poderá inspirar a sua exploração sustentável, contagiando vários setores de atividade e impulsionando a economia local.

O crescimento sustentável do turismo assenta na genuinidade, em respeitar e promover o que Portugal tem de único, sem o comprometer, como se indica no texto do filme de apresentação do Plano turismo + Sustentável 20-23: “Os tempos trouxeram-nos novos desafios, mas também um novo caminho, um caminho para um futuro que sabemos ser não só o que está certo, mas também o que é melhor para um planeta melhor. O nosso caminho começa por preparar o nosso país para uma oferta mais sustentável. Vamos adaptar a legislação às novas tendências de consumo, apoiar financeiramente as empresas do setor para que se tornem mais sustentáveis e acessíveis, proteger os locais mais vulneráveis às alterações climáticas, estimular a redução do uso de plástico, tornar a reutilização e o combate ao desperdício a prática comum nos nossos restaurantes, promover a eficiência energética, hídrica e a neutralidade carbónica, reforçar a segurança com o selo clean & save, estimular a inovação e incentivar a responsabilidade social e reduzir as desigualdades.” como? “Estimulando, aprendendo, promovendo e premiando com as pessoas sempre no centro”. O turismo de Portugal prevê ações como a educação para o turismo sustentável, junto dos mais novos, a reeducação para uma restauração circular e sustentável, o desenvolvimento de práticas para uma economia circular, a neutralidade carbónica nos empreendimentos turísticos, a construção sustentável em empreendimentos turísticos, a eficiência hídrica nos campos de golfe em Portugal e a redução do plástico na hotelaria.

O Plano abrange quatro eixos estratégicos: Estruturar uma oferta cada vez mais sustentável; Qualificar os agentes do setor; Promover Portugal como um destino sustentável; Monitorizar o desempenho do setor para a sustentabilidade. de acordo como turismo de Portugal, as metas até 2023 passam por ter “75% de empreendimentos turísticos com sistemas de eficiência energética, hídrica e gestão de resíduos; 75% dos empreendimentos turísticos que não utilizam Plásticos de uso Único; 25.000 aderentes ao Selo clean & Safe e 30.000 profissionais formados; e 50.000 profissionais com formação nas áreas da sustentabilidade.”

Nos últimos anos, Portugal foi alvo de referência mediática internacional constante enquanto destino turístico, quer nos media tradicionais, quer nas redes sociais. A ideia é continuar a sê-lo, mas enquanto destino de turismo sustentável.

O turismo de Portugal quer “incrementar as competências dos profissionais do setor do turismo, alavancar iniciativas e dinâmicas já existentes, dar visibilidade a boas práticas e inspirar todos a fazer melhor, para alcançar melhores resultados em termos

de receitas, da satisfação dos turistas e da preservação do nosso planeta, de forma a que o turismo continue a crescer em valor e alcance a meta de gerar 27 mil milhões de euros em receitas turísticas até 2027”. como refere em comunicado o turismo de Portugal, “de acordo com as orientações globais da Organização Mundial do turismo, a recuperação responsável do setor, após a pandemia de cOVid-19, permitirá que este retome a atividade ainda mais forte e mais sustentável”. Essa “recuperação do setor assente na sustentabilidade permitirá, não só a resiliência perante futuras crises, como o retomar da atividade turística sob o compromisso de fazer melhor e com maior segurança, do ponto de vista económico, social e ambiental”.

Para Portugal evoluir deverá ser sinónimo de “aumentar a procura turística no país e nas várias regiões, crescer a um ritmo mais acelerado nas receitas do que nas dormidas, alargar a atividade turística a todo o ano, aumentar as habilitações da população empregada no turismo, assegurar que a atividade turística gera um impacto positivo nas populações residentes, incrementar os níveis de eficiência energética nas empresas do turismo, impulsionar uma gestão racional do recurso água no turismo e promover uma gestão eficiente dos resíduos na atividade turística nacional”.

A Portugal não falta atrativos turísticos. O caminho passa por mantê-los na sua genuinidade, partir do que temos de bom e derivar daí o crescimento em diferentes direções. Para que o turismo possa alicerçar uma retoma sustentável, terá que reforçar os seus alicerces de sustentabilidade, sobretudo os que se revelaram débeis.

A procura também parece apontar nesse sentido, já que a pandemia alterou a forma como queremos viajar e até o que queremos conhecer. Em 2020, a região do Porto e Norte de Portugal encabeçou o ranking nacional em número de hóspedes. Sobretudo no interior norte vários estabelecimentos esgotaram a sua lotação no verão passado. O desafio será crescer sem comprometer os argumentos que aguçaram a curiosidade dos visitantes. um desafio que se estende a outras regiões como é o caso do Alentejo, que viveu uma década dourada antes da pandemia (caixa das páginas), mas continua a ter margem para aumentar os números: interessa crescer em valor, mais no que em dormidas.

No centro, o citado caso do Fundão aponta um dos caminhos possíveis: em vez de fazer do turismo o agente mobilizador da economia, dinamizar o turismo como mais uma consequência da valorização de um produto local.

O Geoparque Algarvensis (caixa das páginas) persegue um objetivo semelhante, procurando ser um agente transformador da economia local, disparando em várias direções: ciência, sustentabilidade, criação de postos de trabalho e fixação da população e também turismo, já que constitui um novo e diferenciador elemento de interesse para o destino Algarve.

O painel do Barómetro de turismo da iPdt – turismo e consultoria estima que a retoma total no setor só deverá acontecer em 2023: “No que se refere à retoma plena do setor, os membros do painel do Barómetro do turismo não acreditam que em 2022 já possamos estar ao mesmo nível de 2019, no que se refere ao desempenho do turismo. No entanto, apontam o verão de 2023 como o momento da retoma total do setor”.

O mesmo barómetro indica que o Plano do Governo ‘Reativar o turismo | construir o Futuro, para estimular a economia e a atividade turística’ “é bem visto pela maioria dos” inquiridos, com uma “média ponderada das respostas, numa escala de 1 a 5, de 3,41 pontos”.

Prioridades do Plano Turismo + Sustentável 20-23: estruturar uma oferta cada vez mais sustentável; qualificar os agentes do setor; promover Portugal como um destino sustentável; monitorizar o desempenho do setor para a sustentabilidade

“declaração de lisboa”: diálogo sobre desafios na justiça da américa latina com a uE

SrS advogados e uría menéndez – proença de carvalho lideram operações de fusão e aquisição e de venture capital

As instituições de justiça mais relevantes da América latina (cOMJiB, AiAMP e cimeira Judicial iberoamericana) assinaram, no final de junho, a “declaração de lisboa”, onde se comprometem a estabelecer um fórum de diálogo permanente com a uE, mediante a criação de um comité técnico de Acompanhamento constituído por representantes das três instituições. O comité ficará encarregue de planificar as próximas reuniões para abordar os temas que estão na agenda de justiça da uE e América latina. A comissão Europeia e o Eurojust estarão presentes em todas as reuniões para continuar a prosseguir uma estratégia comum de justiça entre as duas regiões. A declaração de compromisso assinada em lisboa foi impulsionada pelo programa comunitário El PAcctO, tendo esta sido considerada “uma oportunidade para firmar as bases que permitam definir de maneira adequada os standards de funcionamento da justiça perante os desafios presentes e futuros”, assegurou Antonio Roma, coordenador da área de cooperação entre sistemas de justiça do El PAcctO, no encerramento do evento. A ministra da Justiça de Portugal, Francisca Van dunem (na foto, ao centro), lembrou que “vivemos num mundo globalizado, em que as fronteiras territoriais já não são barreiras ou obstáculos à atividade criminosa, especialmente nesta era digital. A pandemia criou condições para que grupos criminosos organizados concentrem a sua ação em atividades ilegais, como a falsificação de medicamentos, produtos e equipamentos médicos. Estamos testemunhando o ressurgimento do racismo, xenofobia e discurso de ódio, alimentado por notícias falsas e desinformação. Estas são questões prioritárias na Europa e também foram, e são, uma prioridade para a justiça durante a Presidência do conselho da união Europeia”. As instituições da justiça que assinaram a “declaração de lisboa” comprometem-se a continuar o trabalho nas matérias que estão na agenda a nível internacional, como as “grandes agressões contra o meio ambiente”, bem como questões relacionadas com a proteção de dados e a impressão digital. Neste “Encontro de instituições de Justiça da união Europeia e América latina”, celebrado em lisboa, entre 28 e 30 de junho, participaram mais de 20 representantes regionais de países de América latina, Espanha, Portugal, da direção-Geral de Justiça da uE e do Eurojust. 

Auría Menéndez–Proença de carvalho lidera o setor de fusões e aquisições em Portugal, de acordo com o ranking do ttR – transactional track Record, com um valor de operações associado de 698 milhões de euros. O mais recente ranking do prestigiado diretório, que compreende o primeiro semestre do ano, revela quais foram os principais escritórios de advogados e legal advisors ligados às nas principais operações de M&A, venture capital, private equity e asset acquisition. A uría Menéndez–Proença de carvalho liderou a lista, por valor, enquanto a SRS Advogados liderou a tabela de assessores jurídicos, por número de transações, com doze operações. de acordo com o site “Advocatus. pt”, que cita dados do relatório do ttR, nos primeiros seis meses de 2021 foram realizadas 192 transações que se traduziram num valor total de 3.957 milhões de euros. das quatro áreas, M&A destacou-se, com 83 transações e um valor de 1.892 milhões de euros, seguida pelo segmento de asset acquisition, (937 milhões de euros), venture capital (922 milhões) e de private equity (206 milhões). O ttR selecionou como transação do mês a aquisição da imperial chocolates pela espanhola chocolates Valor. A operação contou com a assessoria jurídica da telles Advogados e da cuatrecasas. 

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