Livreto "Os mais belos poemas".

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Cecília Meireles

OS MAIS BELOS POEMAS



Cecília Meireles

OS MAIS BELOS POEMAS


Obras de Cecília Meireles Espectros, 1919 Criança, meu amor, 1923 Nunca mais, 1923 Poema dos Poemas, 1923 Baladas p ara El-Rei, 1925 O Espírito Vitorioso, 1929 Saudação à menina de Portugal, 1930 Batuque, samba e Macumba, 1933 A Festa das Letras, 1937 Viagem, 1939 Vaga Música, 1942 Poetas Novos de Portugal, 1944 Mar Absoluto, 1945 Rute e Alberto, 1945 Rui — Pequena História de uma Grande Vida, 1948 Retrato Natural, 1949 Problemas de Literatura Infantil, 1950 Amor em Leonoreta, 1952 Doze Noturnos de Holanda e o Aeronauta, 1952 Romanceiro da Inconfidência, 1953 Poemas Escritos na Índia, 1953 Batuque, 1953 Pequeno Oratório de Santa Clara, 1955 Pistoia, Cemitério Militar Brasileiro, 1955 Panorama Folclórico de Açores, 1955 Canções, 1956 Giroflê, Giroflá, 1956 Romance de Santa Cecília, 1957 A Bíblia na Literatura Brasileira, 1957 A Rosa, 1957

Obra Poética,1958 Metal Rosicler, 1960 Poemas de Israel, 1963 Antologia Poética, 1963 Solombra, 1963 Ou isto ou Aquilo, 1964 Escolha o Seu Sonho, 1964 Crônica Trovada da Cidade de San Sebastian do Rio de Janeiro, 1965 O Menino Atrasado, 1966 Poésie (versão francesa), 1967 Antologia Poética, 1968 Poemas Italianos, 1968 Poesias (Ou isto ou aquilo& inéditos), 1969 Flor de Poemas, 1972 Poesias Completas, 1973 Elegias, 1974 Flores e Canções, 1979 Poesia Completa, 1994 Obra em Prosa - 6 Volumes - Rio de Janeiro, 1998 Canção da Tarde no Campo, 2001 Poesia Completa, edição do centenário, 2001, 2 vols. (Org.: Antonio Carlos Secchin. Rio de Janeiro: Nova Fronteira) Crônicas de educação, 2001, 5 vols. (Org.: Leodegário A. de Azevedo Filho. Rio de Janeiro: Nova Fronteira) Episódio Humano, 2007

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“Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.” -Cecília Meireles

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Sumário

Recado aos Amigos Distantes......................................................... A Velhice Pede Desculpas................................................... De Que São Feitos os Dias?................................................ Canção do Amor-Perfeito..................................................... Retrato de Mulher Triste....................................................... Como se Morre de Velhice................................................... Ninguém me Venha Dar Vida............................................... O Tempo Seca o Amor......................................................... A Amiga Deixada...................................................... Lei..................................................... Timidez......................................................... Criança......................................................... Canção Póstuma...................................................... Personagem.................................................

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Biografia

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ecília Meireles foi uma grande escritora brasileira nascida no dia 7 de novembro de 1901, na cidade do rio de janeiro. Órfã de pai e mãe, Cecília Meireles foi criada pela avó, Dona jacinta. Formou-se professora e com apenas 18 anos de idade publicou seu primeiro livro “Espectro”. No ano de 1922, Cecília casou-se com o pintor Fernando Correia Dias e com ele teve três filhas. Cecília fundou a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro no ano de 1934 e escreveu várias obras na área de literatura infantil. Após vários anos sofrendo com a depressão o marido de Cecília suicidou-se em 1936 e quatro anos depois Cecília casou-se novamente com o engenheiro agrônomo Heitor Vinicius da Silveira. Cecília publicou o livro “Viagem” no ano de 1939 e com esse livro ganhou o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras.Cecília Meireles veio a falecer em sua cidade natal no dia 9 de novembro de 1964.

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De Longe Te Hei-de Amar De longe te hei-de amar - da tranquila distância em que o amor é saudade e o desejo, constância. Do divino lugar onde o bem da existência é ser eternidade e parecer ausência. Quem precisa explicar o momento e a fragrância da Rosa, que persuade sem nenhuma arrogância? E, no fundo do mar, a Estrela, sem violência, cumpre a sua verdade, alheia à transparência. Cecília Meireles, in ‘Canções’

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Recado aos Amigos Distantes Meus companheiros amados, não vos espero nem chamo: porque vou para outros lados. Mas é certo que vos amo. Nem sempre os que estão mais perto fazem melhor companhia. Mesmo com sol encoberto, todos sabem quando é dia. Pelo vosso campo imenso, vou cortando meus atalhos. Por vosso amor é que penso e me dou tantos trabalhos. Não condeneis, por enquanto, minha rebelde maneira. Para libertar-me tanto, fico vossa prisioneira. Por mais que longe pareça, ides na minha lembrança, ides na minha cabeça, valeis a minha Esperança. Cecília Meireles, in ‘Poemas (1951)’

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A Velhice Pede Desculpas Tão velho estou como árvore no inverno, vulcão sufocado, pássaro sonolento. Tão velho estou, de pálpebras baixas, acostumado apenas ao som das músicas, à forma das letras. Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético dos provisórios dias do mundo: Mas há um sol eterno, eterno e brando e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir. Desculpai-me esta face, que se fez resignada: já não é a minha, mas a do tempo, com seus muitos episódios. Desculpai-me não ser bem eu: mas um fantasma de tudo. Recebereis em mim muitos mil anos, é certo, com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras. Desculpai-me viver ainda: que os destroços, mesmo os da maior glória, são na verdade só destroços, destroços.

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De Que São Feitos os Dias? De que são feitos os dias? - De pequenos desejos, vagarosas saudades, silenciosas lembranças. Entre mágoas sombrias, momentâneos lampejos: vagas felicidades, inactuais esperanças. De loucuras, de crimes, de pecados, de glórias - do medo que encadeia todas essas mudanças. Dentro deles vivemos, dentro deles choramos, em duros desenlaces e em sinistras alianças... Cecília Meireles, in ‘Canções’

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Canção do Amor-Perfeito Eu vi o raio de sol beijar o outono. Eu vi na mão dos adeuses o anel de ouro. Não quero dizer o dia. Não posso dizer o dono. Eu vi bandeiras abertas sobre o mar largo e ouvi cantar as sereias. Longe, num barco, deixei meus olhos alegres, trouxe meu sorriso amargo. Bem no regaço da lua, já não padeço. Ai, seja como quiseres, Amor-Perfeito, gostaria que ficasses, mas, se fores, não te esqueço.

Cecília Meireles, in ‘Retrato Natural’

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Retrato de Mulher Triste Vestiu-se para um baile que não há. Sentou-se com suas últimas jóias. E olha para o lado, imóvel. Está vendo os salões que se acabaram, embala-se em valsas que não dançou, levemente sorri para um homem. O homem que não existiu. Se alguém lhe disser que sonha, levantará com desdém o arco das sobrancelhas, Pois jamais se viveu com tanta plenitude. Mas para falar de sua vida tem de abaixar as quase infantis pestanas, e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas. Cecília Meireles, in ‘Poemas (1942-1959)’

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Como se Morre de Velhice Como se morre de velhice ou de acidente ou de doença, morro, Senhor, de indiferença. Da indiferença deste mundo onde o que se sente e se pensa não tem eco, na ausência imensa. Na ausência, areia movediça onde se escreve igual sentença para o que é vencido e o que vença. Salva-me, Senhor, do horizonte sem estímulo ou recompensa onde o amor equivale à ofensa. De boca amarga e de alma triste sinto a minha própria presença num céu de loucura suspensa. (Já não se morre de velhice nem de acidente nem de doença, mas, Senhor, só de indiferença.) Cecília Meireles, in ‘Poemas (1957)’

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Ninguém me Venha Dar Vida Ninguém me venha dar vida, que estou morrendo de amor, que estou feliz de morrer, que não tenho mal nem dor, que estou de sonho ferida, que não me quero curar, que estou deixando de ser e não me quero encontrar, que estou dentro de um navio que sei que vai naufragar, já não falo e ainda sorrio, porque está perto de mim o dono verde do mar que busquei desde o começo, e estava apenas no fim. Corações, por que chorais? Preparai meu arremesso para as algas e os corais. Fim ditoso, hora feliz: guardai meu amor sem preço, que só quis a quem não quis. Cecília Meireles, in ‘Poemas (1947)’

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O Tempo Seca o Amor O tempo seca a beleza, seca o amor, seca as palavras. Deixa tudo solto, leve, desunido para sempre como as areias nas águas. O tempo seca a saudade, seca as lembranças e as lágrimas. Deixa algum retrato, apenas, vagando seco e vazio como estas conchas das praias. O tempo seca o desejo e suas velhas batalhas. Seca o frágil arabesco, vestígio do musgo humano, na densa turfa mortuária. Esperarei pelo tempo com suas conquistas áridas. Esperarei que te seque, não na terra, Amor-Perfeito, num tempo depois das almas. Cecília Meireles, in ‘Retrato Natural’

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A Amiga Deixada Antiga cantiga da amiga deixada. Musgo da piscina, de uma água tão fina, sobre a qual se inclina a lua exilada. Antiga cantiga da amiga chamada. Chegara tão perto! Mas tinha, decerto, seu rosto encoberto... Cantava — mais nada. Antiga cantiga da amiga chegada. Pérola caída na praia da vida: primeiro, perdida e depois — quebrada. Antiga cantiga da amiga calada. Partiu como vinha, leve, alta, sozinha, — giro de andorinha na mão da alvorada.

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Lei O que é preciso é entender a solidão! O que é preciso é aceitar, mesmo, a onda amarga que leva os mortos. O que é preciso é esperar pela estrela que ainda não está completa. O que é preciso é que os olhos sejam cristal sem névoa, e os lábios de ouro puro. O que é preciso é que a alma vá e venha; e ouça a notícia do tempo, e. entre os assombros da vida e da morte, estenda suas diáfanas asas, isenta por igual. de desejo e de desespero. Cecília Meireles, in ‘Poemas (1954)’

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Timidez Basta-me um pequeno gesto, feito de longe e de leve, para que venhas comigo e eu para sempre te leve. . . — mas só esse eu não farei. Uma palavra caída das montanhas dos instantes desmancha todos os mares e une as terras mais distantes.. — palavra que não direi. Para que tu me adivinhes, entre os ventos taciturnos, apago meus pensamentos, ponho vestidos noturnos, — que amargamente inventei. E, enquanto não me descobres, os mundos vão navegando nos ares certos do tempo, até não se sabe quando... — e um dia me acabarei. Cecília Meireles, in ‘Viagem’

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Criança Cabecinha boa de menino triste, de menino triste que sofre sozinho, que sozinho sofre, — e resiste, Cabecinha boa de menino ausente, que de sofrer tanto se fez pensativo, e não sabe mais o que sente... Cabecinha boa de menino mudo que não teve nada, que não pediu nada, pelo medo de perder tudo. Cabecinha boa de menino santo que do alto se inclina sobre a água do mundo para mirar seu desencanto. Para ver passar numa onda lenta e fria a estrela perdida da felicidade que soube que não possuiria. Cecília Meireles, in ‘Viagem’

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Canção Póstuma Fiz uma canção para dar-te; porém tu já estavas morrendo. A Morte é um poderoso vento. E é um suspiro tão tímido, a Arte... É um suspiro tímido e breve como o da respiração diária. Choro de pomba. E a Morte é uma águia cujo grito ninguém descreve. Vim cantar-te a canção do mundo, mas estás de ouvidos fechados para os meus lábios inexatos, — atento a um canto mais profundo. E estou como alguém que chegasse ao centro do mar, comparando aquele universo de pranto com a lágrima da sua face. E agora fecho grandes portas sobre a canção que chegou tarde. E sofro sem saber de que Arte se ocupam as pessoas mortas. Por isso é tão desesperada a pequena, humana cantiga. Talvez dure mais do que a vida. Mas à Morte não diz mais nada. Cecília Meireles, in ‘Retrato Natural’

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Personagem Teu nome é quase indiferente e nem teu rosto já me inquieta. A arte de amar é exactamente a de se ser poeta. Para pensar em ti, me basta o próprio amor que por ti sinto: és a ideia, serena e casta, nutrida do enigma do instinto. O lugar da tua presença é um deserto, entre variedades: mas nesse deserto é que pensa o olhar de todas as saudades. Meus sonhos viajam rumos tristes e, no seu profundo universo, tu, sem forma e sem nome, existes, silêncio, obscuro, disperso. Teu corpo, e teu rosto, e teu nome, teu coração, tua existência, tudo - o espaço evita e consome: e eu só conheço a tua ausência. Eu só conheço o que não vejo. E, nesse abismo do meu sonho, alheia a todo outro desejo, me decomponho e recomponho. Cecília Meireles, in ‘Viagem’

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Cecília Meireles foi uma grande escritora brasileira nascida no dia 7 de novembro de 1901, na cidade do rio de janeiro. Órfã de pai e mãe, Cecília Meireles foi criada pela avó, Dona jacinta. Formou-se professora e com apenas 18 anos de idade publicou seu primeiro livro “Espectro”. No ano de 1922, Cecília casou-se com o pintor Fernando Correia Dias e com ele teve três filhas. Cecília fundou a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro no ano de 1934 e escreveu várias obras na área de literatura infantil.

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