NOVEMBRO DE 2011
REVISTA OFICIAL DO SINDICATO RURAL DE SANTA VITÓRIA DO PALMAR
O AGRONEGÓCIO EM SANTA VITÓRIA DO PALMAR
Cartola
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editorial
alexandre teixeira
S
empre que esta revista for aberta, por quem quer que seja, onde quer que estiver, será encontrado em suas páginas o resumo de uma trajetória épica, escrita nas páginas da história do município de Santa Vitória do Palmar por homens e mulheres verdadeiramente abnegados. Esta revista conta uma história de 100 anos através de uma narrativa atual, pois o presente é o resultado de uma ou de muitas ações do passado. Aqui, nestas terras planas e ventosas, os mergulhões de ontem plantaram sementes férteis e profícuas. Os pioneiros lavraram, semearam e colheram; replantaram os grãos, semearam filhos e lhes transmitiram ideais de perseverança, trabalho e fé no amanhã. Pois bem, o amanhã já chegou; é hoje, quando se comemora os 100 anos de atuação da entidade mater – o Sindicato Rural de Santa Vitória do Palmar - que propaga os feitos e as conquistas da classe, ao mesmo tempo em que enfrenta todas as batalhas, seja no campo econômico, político no classista, para defender e manter viva e forte a classe produtora. As primeiras sementes lançadas ao solo sob a força dos ventos desta terra, ainda no século passado, deram frutos; outras gerações se fizeram presentes, primeiro a segunda, hoje já a terceira e, em alguns casos, a quarta - de comum a todas, a perseverança e a disposição para o trabalho e para conhecer e dominar o novo. Os campos de Santa Vitória floresceram sob esta máxima, e hoje produzem arroz, soja, bovinos, ovinos, equinos, aves e energia limpa. Sim, os ventos de Santa Vitória, em breve, vão gerar energia para a região, para o Estado e para o País. Esta é a saga de um segmento da sociedade que, mais do que nenhum outro, soube interpretar a palavra diversificação. Esta é a história da classe produtora de Santa Vitória do Palmar, a história que as próximas páginas contam e ilustram. Boa leitura. Henrique Borges Diretor
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Índice Representação sindical é fundamental à agropecuária................. 6 Um século a serviço do agronegócio............................................... 8 Genética reconhecida e aprovada................................................... 12 O grão de ouro do extremo Sul do Brasil.................................................24 Evolução morfológica e funcional.............................................................34 Referência em ovinos Ideal e Corriedale........................................ 40 Bacia leiteira: um segmento consolidado.................................................44 Aves são destaque na Expointer 2011............................................. 51 Mudança de hábitos eleva consumo................................................. 54 Troca de experiências fomenta a produtividade............................ 58 energia limpa para Santa Vitória..................................................................60
reVista oficial do sindicato rural de santa Vitória do palmar noVemBro de 2011
fone: (53) 3263.1551 www.sindicatoruralsVp.com.Br
expediente diretor executiVo Henrique Borges editor Jairo netHer reportagem Felipe severo e Jairo netHer contato com a redação
alexandre teixeira
redacao@futurars.com.Br projeto gráfico adelino BilHalva fotografia alexandre teixeira e divulgação
produção
porto alegre/rs - (51) 3084.4717
entrevista
RePReSenTAÇÃO sindical é fundamental à AGROPecUÁRiA alexandre teixeira
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ormado em agronomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) em 1987, com especialização em gestão ambiental e mestrado profissional em energia, materiais e ambiente, Fábio Avancini Rodrigues desenvolve atividades agropecuárias desde 1991, na Fazenda Palmar - Cabanha da Salga, onde mantém gado para invernada, utilizando nos últimos quatro anos a raça Angus em cruzamentos absorventes visando melhorar a produção, além de cavalos Crioulos. Integrando gestões anteriores há mais de 10 anos, cabe a ele comandar e ditar os rumos do Sindicato Rural de Santa Vitória do Palmar até o próximo ano, com a missão ainda de organizar os festejos alusivos ao centenário da entidade durante a Expofeira 2011.
Qual a impoRtÂncia do segmento agRonegócio, o Que RepResenta a pRodução pRimáRia paRa o municÍpio de santa vitóRia do palmaR? O agronegócio é de suma importância para o município, que tem sua economia baseada na agropecuária uma vez que existem poucas indústrias em Santa Vitória. A maior prova disso é a criação de uma entidade para organizar os produtores e defender suas demandas há 100 anos, embrião do atual Sindicato Rural, que comemora em 2011 também 80ª edição de sua exposição agropecuária, uma das mais antigas do Rio Grande do Sul, cuja primeira edição foi realizada no mesmo ano da fundação da Sociedade Pastoril Agrícola e Industrial de Santa Vitória do Palmar. Com uma área superior a 70 mil hectares destinados à orizicultura, seremos o terceiro maior produtor de arroz este ano, conforme dados do Irga, sem contar que alguns dos melhores rebanhos das raças Angus e Hereford encontram-se estabelecidos no município. Temos ainda uma excelente criação de cavalos Crioulos, que já garantiram a criadores locais vitórias na mais conceituada exposição morfológica da raça, a Expointer, e também no Freio de Ouro, considerada a mais completa prova equestre do mundo. E, apesar da diminuição significativa do rebanho ovino em decorrência do advento das fibras sintéticas, nos idos da década de 50, nosso município abriga ainda destacados criatórios, principalmente das raças Ideal e Corriedale. Não podemos nos esquecer de que a lã já foi responsável pela manutenção de grande parte de nossas estâncias, chegando a ser chamada de ‘ouro branco’ na época. Hoje, com a demanda crescente pela carne de cordeiro e pela valorização da lã, estamos otimistas de que possa haver uma retomada dos investimentos na atividade e, consequente, aumento dos plantéis.
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Que atividades vÊm sendo desenvolvidas pelo sindicato RuRal no sentido de impulsionaR o desenvolvimento das atividades agRopecuáRias no municÍpio? A representação sindical é fundamental neste processo. Por isso, como ente político-classista da categoria, representamos os produtores junto aos órgãos competentes. Integramos o Sistema Farsul, com quem mantemos parcerias, através do Senar-RS, que resultam em cursos de capacitação praticamente semanais, e através da Casa Rural, seu braço comercial, que não compra, não estoca e não vende nada, mas que intermedia a compra de insumos agropecuários buscando sempre preços mais acessíveis aos produtores. Junto com o Senar, tendo como parceira ainda a Secretaria Municipal de Educação, desenvolvemos também o projeto Alfa de alfabetização de adultos em comunidades agrícolas - com a primeira turma formada em 2011 e que terá continuidade - e o projeto Jovem Aprendiz, já com duas turmas formadas, num total de 800 horas/aula. Afora os demais serviços oferecidos aos nossos associados, possuímos também uma Casa de Saúde, atualmente cedida para a Prefeitura e gerenciada pela Secretaria Municipal da Saúde. além da pecuáRia e da oRiZicultuRa, Que outRas atividades agRopecuáRias vÊm despontando em santa vitóRia? Temos no município uma cooperativa de produtores de leite bem organizada, a Sul Leite, nossa parceira, que vem mantendo uma qualidade de produção muito boa e começa a operar uma pequena usina de produtos lácteos, como leite pasteurizado e bebida láctea, num primeiro momento, solidificando-se cada vez mais. Outro setor bastante organizado é o da avicultura, que vem obtendo resultados significativos que consolidam cada vez mais sua posição no cenário avícola Estado. existe algum pRoJeto paRa agRegaR maioR valoR À atividade pecuáRia, como a cRiação de um selo de indicação geogRáFica, poR exemplo? Recentemente foi criada a Associação de Pecuaristas dos Campos Neutrais (Apecan), que visa integrar e organizar a produção buscando um diferencial de preço a nossa produção, haja vista a qualidade das raças britânicas continentais que predominam no município e ao fato de não ocorrer incidência de carrapatos na região, o que garante uma qualidade superior ao couro. Qual o sentimento de estaR À FRente da oRganiZação da exposição em Que se comemoRam os 100 anos do sindicato RuRal? É uma honra, sem dúvida, pois é um momento importante para a instituição, mas tenho certeza que qualquer um que estivesse em meu lugar faria um trabalho bem feito. Não organizamos nada sozinhos, somos uma equipe, toda a diretoria e nossos já tradicionais colaboradores e parceiros, como as prefeituras de Santa Vitória e do Chuí, clubes de serviços e outras entidades que integram o poder público. Sem eles seria impossível organizar um evento de tal magnitude, que atingiu tal condição dadas as ações implementadas por todas as diretorias que me antecederam.
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espeCial
UM SÉcULO A SeRViÇO dO AGROneGÓciO
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com a missão de defender os interesses da classe agropecuária, sindicato rural foi fundado em 1911 soB o nome de sociedade pastoril, agrÍcola e industrial de santa Vitória do palmar
orria o ano de 1911 e Santa Vitória do Palmar tratava-se de um próspero município da fronteira, sob o governo do Partido Liberal, na pessoa do arguto Manoel Vicente do Amaral. Terra boa, de homens pacíficos e trabalhadores, nas palavras do dito político, lugar de clima ameno, solo fértil e fecundo, sendo um campo aberto para as atividades das classes trabalhadoras. Sendo já o município de longa data produtor de carne, exportara nesse ano 13.868 reses e produzia também milho, tanto para consumo como para exportar para Jaguarão, Pelotas e Rio Grande. Lavouras de trigo eram uma novidade entre os produtores, que viam escassas as produções agrícolas, o que somente seria alterado com o cultivo de arroz décadas depois. “Foi nessas condições que o Intendente Manoel, que na época correspondia ao atual cargo de prefeito, viu o surgimento da Sociedade Pastoril, Agrícola e Industrial”, explica o historiador Erodes Armendaris Acosta, autor do livro A Estância Ovelheira, lançado em comemoração aos 100 anos do Sindicato Rural, originado desta pioneira iniciativa que visava a proteção dos interesses da classe agropecuária.
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ERODES ARMENDARIS ACOSTA
divulgação
com seus pares, cedeu o prédio para a instalação de uma escola de nível ginasial que ali funcionou por 11 anos. “Era uma carência antiga da comunidade santa-vitoriense, pois só os mais abastados tinham acesso ao ensino médio, uma vez que era necessário deslocar-se a outras cidades da região para estudar. Foi um marco na história do município”, ressalta Rodrigues, que muito se orgulha por ter sido aluno e também professor do Ginásio de Santa Vitória do Palmar. Segundo ele, o gado é a razão existencial de Santa Vitória, cujas primeiras estâncias se originaram a partir das sesmarias doadas pela Colônia Portuguesa aos fidalgos da época. “Com a descoberta de ouro em Minas Gerais, a carne passou a ter um valor muito grande. Buscava-se gado no Uruguai, às vezes 20, 40 mil cabeças, que eram levadas até o centro do país, passando por Santa Vitória”, recorda Vasques, citando que o município chegou a abrigar também mais de 10 charqueadas. Com o passar do tempo, conforme Rodrigues, outro animal despontou nos campos do município, que chegou a ser um dos maiores produtores de ovinos do país. Hoje, destaca-se também a orizicultura, implantada no início do século XX, que, junto com a pecuária, é a maior responsável por alavancar a economia do município, que comemora este ano também a 80ª edição de sua Expofeira Agropecuária, Comercial, Industrial e Artesanal.
HOMERO VASQUES RODRIGUES
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Conforme resgata o historiador, o intendente descreveu em seu Relatório Anual da Prefeitura o brilhante êxito obtido pela primeira exposição-feira realizada pela entidade, em 21 de abril daquele ano, onde foram vendidos excelentes reprodutores das raças Durhan, Hereford e Holandês. “Em 1913, mediante o sucesso da segunda exposição-feira da Sociedade Pastoril, jubilava-se o Intendente que, além das raças bovinas já descritas, foi salutar a venda de potrilhos nascidos no município, próprios para tração e corridas, além de exemplares ovinos, mas lamentava que, por má interpretação da lei aduaneira, magníficos exemplares de finos reprodutores não puderam vir do Uruguai”, acrescenta Acosta. Autor dos livros Recado aos Mergulhões e O Caramujo Grande, Homero Vasques Rodrigues, outro santa-vitoriense apaixonado pela história do município, recorda que a Sociedade Pastoril, Agrícola e Industrial de Santa Vitória do Palmar, fundada em 2 de janeiro de 1911, teve como primeiro presidente o Coronel Manuel Dedeus Dias, sendo que em 2 de setembro de 1941 a entidade passou a chamar-se Associação Rural, adotando seis anos mais tarde o nome de Casa Rural, até 1965, quando transformou-se efetivamente em Sindicato Rural, filiado à Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul). O professor de história aposentado lembra ainda que em 1950, após a conclusão da sede onde funciona até hoje o Sindicato Rural, seu presidente Andy Emilio Matte, de comum acordo
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puJança agropeCuÁria MoviMenta a eConoMia
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e riqueza. Isso porque as condições de clima e solo são apropriadas para essas atividades, que são responsáveis por uma grande parte dos empregos diretos e indiretos no município. Segundo ele, no momento em que Santa Vitória se prepara para receber grandes investimentos dentro do setor de produção de energia eólica a matriz econômica tradicional do município tem que seguir sendo valorizada e incentivada, pois a agropecuária é o esteio principal de sustentação do povo local. “Temos produtores extremamente qualificados, isso comprovado pelos prêmios conquistados fora do município, inclusive na Expointer. Nosso patrimônio genético de bovinos, ovinos e equinos é constituído com muito trabalho e investimento dos produtores, o que muito nos orgulha”, ressalta. Além da pujança da pecuária e da orizicultura, o prefeito destaca ainda que tem se verificado um desenvolvimento acelerado também na produção leiteira, inclusive com a implantação de uma microindústria de laticínios no município, viabilizada por meio de uma parceria entre a Prefeitura e a Cooperativa Sul Leite, além da
ampliação do setor de horticultura e o surgimento do cultivo de soja em rotação com a lavoura de arroz. “Acredito que o setor agropecuário irá conquistar maiores índices de produtividade com produtos mais qualificados. A lavoura de arroz vem atingindo índices cada vez mais elevados, inclusive agregando outras culturas complementares, como a soja. O setor pecuário vem da mesma forma produzindo mais e com melhor qualidade. Essas atividades que são tradicionais do nosso município terão compatibilidade com as novas atividades econômicas que em breve serão implantadas na região, como é o caso da geração de energia eólica”, completa Morrone.
EDUARDO CORREA MORRONE
renÉ oliveira
Entre os principais parceiros do Sindicato Rural está a prefeitura municipal, que em conjunto com a entidade tem participado ativamente das lutas do setor produtivo, como o movimento dos orizicultores em busca de melhores preços e reivindicações junto à CEEE na busca de ampliação da oferta de energia elétrica durante o período de irrigação das lavouras, por exemplo. “Somos parceiros em todos os eventos promovidos pelo Sindicato, auxiliando especialmente na Expofeira deste ano, quando se comemoram os 100 anos da entidade”, destaca o prefeito de Santa Vitória, Eduardo Correa Morrone, citando ainda a atuação na capacitação de trabalhadores, através do transporte oferecido aos estudantes que frequentam os cursos promovidos pelo Senar no interior do município, e o permanente diálogo da Secretaria de Agricultura com o Sindicato. Morrone destaca ainda que a atividade agropecuária representa a principal atividade econômica de Santa Vitória do Palmar. “A lavoura de arroz, a bovinocultura de corte e de leite e a ovinocultura são os principais segmentos produtivos que geram renda
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Bovinos
GenÉTicA T reconhecida e APROVAdA pecuaristas santa-Vitorienses destacam-se nos ranKings de expositores das raças angus e hereford, fornecendo tanto material genético como noVilhos de qualidade superior, que são melhor remunerados pela indÚstria frigorÍfica
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radicionais criatórios, que investem especialmente nas raças britânicas Angus e Hereford para produzir touros melhoradores e novilhos adequados à indústria, têm colocado Santa Vitória do Palmar em evidência tanto pelos feitos obtidos nas mais importantes exposições agropecuárias gaúchas como pela excelência na produção de carne de qualidade superior. De acordo com Enir Martins Sanes, chefe da Inspetoria Veterinária, o rebanho bovino de Santa Vitória gira em torno de 200 mil cabeças, números que, segundo ele, vem se mantendo estáveis nos últimos cinco anos. Além do grande número de reprodutores das duas raças comercializados todos os anos, ele também destaca a predominância delas nos lotes apresentados
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para venda nas feiras de terneiros realizadas no município. A sanidade dos animais ofertados é garantida pela inspeção prévia realizada sempre antes das feiras e pela exigência de exames andrológicos e atestados contra doenças como a tuberculose e a brucelose, por exemplo, no caso da venda de touros. “Nosso rebanho bovino é muito bom, temos cabanhas excelentes, que estão sempre investindo em melhoramento genético”, reforça o médico veterinário, informando que outra característica marcante do gado criado em Santa Vitória é a de não apresentar infestação por carrapatos. “Até mesmo os animais que chegam infestados, com o tempo, vão ficando livres do parasita”, completa Sanes.
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Bovinos
seleção CentenÁria Além da comemoração dos 100 anos do Sindicato Rural, a Exposição de Primavera de Santa Vitória do Palmar celebra em 2011 também o centenário da introdução da genética Hereford que hoje se multiplica nos campos da Estância Mauá. “Apenas segui aprimorando a seleção iniciada pelo avô da minha esposa, José Bernardino de Souza Castro, mais conhecido como Juca, que em 1911, na primeira exposição realizada no município, apresentou o touro Grande Campeão da mostra”, orgulha-se Mário Ubirajara Anselmi, o Bira. Com o passar dos anos, Juca Castro passou a trabalhar em sociedade com os filhos, sendo que um deles, Serafim, após formar-se em veterinária em Porto Alegre, junto com seu irmão Úbila Castro (Bilate), sogro de Bira, investiu em touros vencedores de exposições no Uruguai e na Argentina, além de campeões da Exposição do Menino Deus, que anos mais tarde passaria a chamar-se Expointer. “Como presente de casamento, Bilate nos deu 15 vaquilhonas Hereford PO. Infelizmente, veio a falecer dois anos após e não teve a felicidade de ver os resultados de seu investimento em genética, que continua rendendo excelentes resultados até hoje nas principais exposições gaúchas”, lamenta Bira, que acabou incorporando todo o plantel deixado pelo sogro através da aquisição das partes que cabiam aos cunhados. Hoje, já com a quarta geração da família envolvida, através do filho Mário Neto e do genro Leandro, orgulha-se de manter o maior rebanho Hereford puro de origem do Brasil, com mais de 650 animais, registrando anualmente cerca de 280 produtos junto à Associação Nacional dos Criadores Herd-Book Collares (ANC), entidade da qual também é presidente. Outro motivo de orgulho é participar há 38 anos, ininterruptamente, da Exposição Agropecuária de Santa Vitória, onde realiza desde 2007 um leilão particular. Somadas as vendas que promove também em Pelotas, há 16 anos, chega a 60 o número de touros comercializados todos os anos, além de significativo número de ventres. De acordo com Bira, a partir do ingresso do filho no negócio, foi retomando o trabalho de registros de ventres PC, sendo que já na primeira participação na exposição do município, em 2010, a estância ficou com o título de Melhor Trio e Melhor Touro PC, lote do qual saiu ainda o touro rústico mais valorizado da mostra, comercializado por R$ 15,2 mil. “No PO, em 2009 ganhamos em Esteio, Pelotas, Santa Vitória e Bagé, sempre com o Trio Grande Campeão Polled Hereford e o Melhor Touro Rústico. Em 2010, repetimos o feito novamente em Esteio, Pelotas, Santa Vitória, isso sem repetir um só touro, uma vez que todos os vencedores são comercializados”, ressalta Bira Anselmi, que também fornece novilhos para frigoríficos da região. 14 | Bons ventos
MÁRIO UBIRAJARA ANSELMI
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união otiMiZa a CoMerCialiZação Propriedade familiar que remonta à época do bisavô de Ulisses Rodrigues Amaral, a Cabanha Santa Joana tem na pecuária e na lavoura de arroz o alicerce da sua produção. As pastagens cultivadas e as forrageiras para corte, como o sorgo, complementam o sistema produtivo da propriedade, que busca produzir animais adaptados às condições naturais do ambiente em que são criados. Inicialmente, o rebanho era formado por outras raças, até a introdução do Angus em 1947, através dos avós, tanto paterno como materno. “No início dos anos 80, foi iniciada a cabanha, com a tatuagem dos primeiros animais. Mas, entendo que a evolução genética do nosso rebanho aconteceu a partir de 1988, com o início das avaliações por performance dos animais, através do Promebo (Programa de Melhoramento Bovino), e que serviu de base para todo processo de seleção da Cabanha até hoje. Em 2002, iniciamos o uso da ultrassonografia em tempo real, para avaliações de carcaça dos nossos reprodutores, buscando por meio dela identificar animais com maior precocidade e rendimento de carcaça por
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meio das medidas de gordura subcutânea e área de olho de lombo, prática essa que somos pioneiros dentro da raça Angus ” explica Amaral, que mantém um plantel de ventres basicamente PC, tendo iniciado em 2004 também um núcleo de exemplares PO, criados como alternativa para suprir a crescente demanda por este tipo de produto. O trabalho intenso de melhoramento genético realizado ao longo de 23 anos - sempre usando os dados para selecionar o rebanho e buscando animais adaptados e com performance para produzir a campo -, garantiu à Santa Joana a honra de ser a primeira cabanha da raça no Brasil a receber o prêmio Mérito Genético da Associação Brasileira de Angus (ABA), prêmio baseado no comparativo entre rebanhos que usam o Promebo, ficando nas duas primeiras edições colocada entre as cinco cabanhas com melhor performance. Amaral conta ainda que a dificuldade de comercializar individualmente na praça de Pelotas fez surgir o Grupo Só Angus - integrado pela Santa Joana e por mais três cabanhas de Santa Vitória (Albardão, Santa Amélia e
Tradição) e uma de Pedras Altas (Santa Amábile) –, todas com expressão e destaque nacional, o que muito orgulha o grupo de trabalho, que este ano promoveu a décima primeira edição do Remate Só Angus durante a exposição de primavera daquele município. “O mercado aprovou, iniciamos com 30 reprodutores e agora nossa oferta é de 100 touros e 100 ventres ao ano. Conseguimos conquistar a praça, o que nos possibilitou um crescimento em conjunto”, comemora, reforçando que o leilão transformou-se num dos mais importantes do Estado, não só pela oferta expressiva, mas também pela qualidade genética dos animais presentes no evento, onde praticamente todos exemplares passaram por programas de melhoramento genético, sendo aprovados com performance superior. A partir daí, o grupo passou a promover o Só Angus Mergulhão, realizado anualmente durante a Expofeira de Santa Vitória do Palmar. Também integrante do Só Angus, a Estância Santa Amélia, que inicialmente trabalhava com gado pampa, registrou os primeiros exemplares
Angus em 1968 por iniciativa de Helena Rodrigues Rotta, proprietária do estabelecimento que está sob a gestão dos netos Otávio e Marcelo Souza e Pedro Rotta. “O mercado para animais Angus tem aumentado muito e vai aumentar ainda mais, pois a raça cresce em todo o Brasil”, projeta Otávio Pereira de Souza, reforçando que os prêmios obtidos pelos integrantes do grupo nas principais exposições agropecuárias gaúchas geram uma saudável competição interna, o que resulta numa oferta cada vez mais qualificada. Com 300 ventres, basicamente PC, há dois anos a Santa Amélia passou a investir novamente no rebanho PO, importando alguns exemplares da Argentina em parceira com a Estância Tradição, trazendo ainda embriões e animais de criatórios uruguaios, como a Cabanha Bayucuá, que cria Angus naquele país há pelo menos um século. Citando que na última década a estância sempre figurou entres os 10 melhores colocados do ranking de expositores rústicos da ABA, com uma terceira e uma quarta colocação em
2009 e 2010, respectivamente, Souza cita que os principais prêmios para animais PC da Exposição de Pelotas, uma das mais concorridas do Rio Grande do Sul, geralmente ficam com os integrantes do Só Angus. Além da seleção genética com fins comerciais, a Santa Amélia utiliza reprodutores Angus também na produção de novilhos para abate, e dedica-se ainda a criação de gado leiteiro da raça Holandês. O carro-chefe da propriedade, no entanto, é a produção de arroz, soja e sorgo, cultivados numa área de 1500 hectares. “Santa Vitória do Palmar é também pioneira no uso das inovações tecnológicas. Fomos os primeiros a usar a agricultura de precisão, por exemplo; 100% de nossas lavouras são planejadas em cima de um mapa de fertilidade do solo, com adubação por taxa variável, conforme a necessidade do solo”, detalha Souza, que também leva muito a sério o respeito ao meio ambiente. Por isso, foi um dos primeiros santa-vitorienses a utilizar um pulverizador com GPS, que faz uma aplicação bem localizada, minimizando possíveis impactos.
ULISSES RODRIGUES AMARAL
MARCELO SOUZA, PEDRO ROTTA E OTÁVIO SOUZA
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reFerÊnCia eM gado rÚstiCo Com a morte de Antonio Oliveira Rotta, o Nico, que introduziu a genética Angus na Estância Tradição ainda na década de 60, a responsabilidade de tocar o empreendimento recaiu sobre seu neto, Rogério Rotta Assis, trabalho no qual é auxiliado pelo irmão Eduardo. “Ele deixou uma base muito boa, apenas continuamos seu trabalho. Tudo o que sei sobre campo aprendi com meu avô”, destaca o produtor, informando que o plantel atual é formado só por gado rústico, com aproximadamente 250 vacas PC e cerca de 40 produtos PO. Segundo ele, há cerca de sete anos a estância passou a tatuar novamente o gado e a participar de exposições, com resultados expressivos que conduziram a Tradição ao primeiro lugar do Ranking Nacional de Expositores Rústicos da ABA. “Isso deu visibilidade a estância, agregando valor a nossa marca. Santa Vitória é hoje referência em gado rústico, com as cabanhas do município dominando o ranking da ABA”, ressalta Assis, integrante também do Conselho Técnico da Associação. Entre os destaques do plantel está o exemplar Tradição 1406 - filho de Tradição 1110, quarto melhor touro do Sumário do Promebo para índice final -, integrante do Melhor Trio de Machos e escolhido ainda o Melhor Touro Rústico PC da I Exposição Nacional de Rústicos ROGÉRIO E EDUARDO ROTTA ASSIS
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da Raça Aberdeen Angus, realizada em 2009, apontado ainda o melhor exemplar na mostra de Santa Vitória em 2009 e 2010. Este ano, quando debutou na Expointer, a Tradição obteve outros expressivos resultados na IV Exposição Nacional de Rústicos, como o de Trio Grande Campeão tanto nos machos quanto nas fêmeas PC, e ainda o título de Reservado Grande Campeão nos machos, além do Terceiro Melhor Trio de Fêmeas PO, categoria na qual também deu início à seleção a partir da compra das primeiras três fêmeas em 2006. Em parceira com a Estância Santa Amélia, em 2009 foram adquiridas das principais cabanhas argentinas outras 14 fêmeas PO e, mais recentemente, outros ventres da tradicional Cabanha 3 Marias para multiplicação da genética através da fecundação in vitro (FIV). “Queremos fazer um gado PO com a mesma qualidade do PC”, informa Assis, que vende sua produção no Remate Só Angus. “O Angus é a bola da vez, tem havido grande liquidez em nosso remate. No ano passado foram vendidos 100 touros e 100 ventres em menos de três horas”, observa. O selecionador mantém ainda uma invernada em outra propriedade onde produz cerca de 550 novilhos ao ano, grande parte destinada a frigoríficos que trabalham com tabelas de remuneração diferenciadas para animais de melhor qualidade, como o Marfrig, que mantém
um programa de fomento à carne Angus. Outra prova que Santa Vitória do Palmar é hoje referência quando se fala em gado Angus rústico é a Cabanha Albardão, segunda colocada no Ranking Nacional de Expositores da ABA em 2010, ano que marcou o início de uma série de bons resultados, que culminaram com a conquista do título de Trio Grande Campeão de Machos PC da Expointer deste ano. Engenheiro civil, Carlos Talavera Campos conta que acabou tornando-se pecuarista após receber a estância deixada como herança pelo avô da esposa, Amarantho Coutinho, um dos primeiros arrozeiros do município, que iniciou a atividade pecuária com a raça Shorthorn leiteiro para abastecer a fábrica de queijos que manteve entre as décadas de 30 e 40. Assim, nos anos 80, sobre o gado Shorthorn, ao qual se atribui o início dos cruzamentos que originaram o Aberdeen Angus, foi colocado posteriormente o Red Angus até sintetizar-se uma nova família dentro da raça, com especial habilidade materna. “São 20 anos usando intensivamente o Promebo. A grande vantagem é que seu uso nos poupa de testes, pois utilizamos animais já testados a partir de estatísticas que se traduzem em certezas”, explica, informando que hoje todo o gado Angus é rústico e registrado como PC.
Inseminando cerca de 500 vacas registradas todos os aos, a propriedade realiza em toda a produção o chamado desmame precoce, 60 dias após o parto. “Com isso, conseguimos imprimir maior precocidade sexual, pois garante uma rápida recuperação dos ventres e um cio imediato, ou seja, as fêmeas estão prontas para uma nova inseminação logo em seguida”, prossegue Campos, explicando que todas as vaquilhonas entram em serviço entre os 14 e 16 meses - as que não emprenham nessa idade são eliminadas do plantel. Com uma seleção voltada apenas para animais PC, a Albardão pensa também em iniciar um rebanho PO para abastecer o mercado gaúcho. “Precisamos de bons reprodutores, que tragam boas características genéticas, e a grande vantagem do PC é ter famílias mais abertas, variabilidade genética esta que, segundo os geneticistas, garante uma maior heterose”, prossegue o selecionador que é vice-presidente do Núcleo Sudeste de Criadores de Angus e não descarta defender futuramente a possibilidade do gado PC ser registrado como PO após o avanço de uma série de gerações. Dos cerca de 200 machos nascidos na estância, no máximo 50 são selecionados para venda no Remate Só Angus, grupo do qual a Albardão também faz parte, sendo o restante destinado ao abate com cerca de dois anos.
Melhor Touro Rústico da Exposição Nacional de Angus 2009
Trio Grande Campeão Fêmeas PC Expointer 2011
Melhor Touro Rústico PC Expointer 2011
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Bovinos
aCesso FaCilitado À genÉtiCa HereFord Atuando como extensão da Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB) em Santa Vitória e Chuí, o Núcleo Fronteira Sul vem contribuindo para uma maior visibilidade do município através do incentivo ao uso da raça de origem britânica, por aqui chamada popularmente de pampa e reconhecida mundialmente como uma das mais indicadas para a produção de carne de qualidade. “O Hereford está na região há mais de 100 anos, registrando as maiores médias das feiras de terneiros do município nos últimos três anos”, observa Luciano Corrêa Morrone, que preside entidade desde sua fundação, em dezembro de 2008. Segundo ele, a raça adapta-se melhor aos chamados campos finos que predominam em Santa Vitória, similares aos do vizinho Uruguai, por isso a inexistência do Braford na região.
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Ele explica ainda que o núcleo é aberto não só aos criatórios com foco voltado à seleção e genética e sim a todos os que trabalham com a raça ou simplesmente mantém apreço por ela. De acordo com Morrone, quando o núcleo foi fundado eram três os criatórios voltados à seleção genética, hoje esse número chega a sete. “Nossa intenção é que haja touro registrado para todos os criadores, queremos permitir o acesso de todos a reprodutores aprovados e com o registro da Associação”, prossegue o dirigente, ressaltando que deve chegar a dez o número de estabelecimentos santa-vitorienses associados atualmente a ABHB. Conforme Morrone, são comercializados no município no mínimo 100 touros registrados todos os anos apenas dos criatórios locais, afora aqueles adquiridos de produtores
de outras regiões. “Um de nossos objetivos é realizar uma feira só de terneiros Hereford e suas cruzas, no outono, meta que pretendemos alcançar já no que vem”, revela o presidente do Núcleo Fronteira Sul de Hereford e Braford, que vem ajudando o Sindicato Rural a difundir o uso das raças britânicas, cuja produção é melhor remunerada pela indústria frigorífica através de programas de incentivo à carne de qualidade. Administrador do Condomínio Estância Rincão, com foco na pecuária de corte há mais de 40 anos, os últimos 30 utilizando o Hereford, ele explica que em 2003 foi implantada a cabanha, com o início do trabalho de melhoramento genético dentro da propriedade. Hoje, são cerca de 300 vacas PC e outras 50 PO em produção visando a comercialização de reprodutores, além de aproximadamente 800 terneiros terminados sobre
pastagem cultivada em áreas destinadas também às culturas do arroz e da soja, esta cultivada em Jaguarão. O médico veterinário conta que após a formação do plantel, em 2005 iniciaram as vendas de reprodutores e a participação em exposições. “Este ano estreamos na Expointer, onde ficamos com o prêmio de Trio Reservado Grande Campeão de Fêmeas Rústicas PC”, comemora Morrone. Outro estabelecimento santa-vitoriense que tem se destacado pelos excelentes resultados nas exposições de gado rústico e por oferecer acesso fácil à genética Hereford é a Estância Tamanca, administrada pelos irmãos Luciano e Ricardo Sperotto Terra, vencedora do Ranking Nacional dos Expositores da Raça Hereford em 2010. Os campos da estância remontam aos tempos do bisavô deles, sempre com base na pecuária de corte, através da invernada
de gado, e na lavoura de arroz. Em 1998, quando perderam precocemente a mãe, associaram-se ao pai, contrataram assessoria, planejaram o trabalho e hoje cultivam também soja em Santo Augusto e Jaguarão e comercializam equinos Crioulos e reprodutores Hereford. A opção pela raça se deu há cinco anos através da aquisição de animais nos remates de liquidação dos plantéis das estâncias Bela Vista e Santa Maria, além da incorporação do rebanho da Cabanha Mimosa, propriedade da avó da esposa de Ricardo, com quem até hoje eles mantém parceria. “Nosso negócio é a invernada, produzir bons animais para o frigorífico, aliado a isso facilitamos a venda de touros melhoradores para ter acesso a animais de melhor qualidade”, relata Ricardo, explicando que a ideia de comercializar
reprodutores surgiu da necessidade de melhorar e facilitar a produção de seus fornecedores, já que o mercado passou a valorizar melhor o gado de origem britânica. De acordo com Luciano, facilitar o acesso a touros provados significa justamente maior acesso a terneiros de qualidade superior, por isso criaram o Programa Pampa Negro de Relacionamento com o Produtor, há cerca de três anos, recebendo de volta terneiros, vaquilhonas e até mesmo touros velhos, que servem como crédito para a compra de novos reprodutores nas exposições realizadas no município. “Vendemos touros na primavera para pagamento no outono com terneiros, por exemplo”, exemplifica Ricardo, lembrando que a empresa oferece como parte de seu programa de pós-venda um exame andrológico quando os touros vendidos aos dois
LUCIANO CORRÊA MORRONE
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Bovinos
Trio Grande Campeão Fêmeas PO Expointer 2011
anos completam 36 meses. Atualmente, o plantel da Estância Tamanca é de 300 vacas em cria, 250 PC e o restante PO, que produzem em média cerca de 120 machos ao ano, dos quais apenas 40 são selecionados para venda como reprodutores. “Estamos aumentando o plantel PO aos poucos, sempre primando pela qualidade”, destaca Ricardo. Para isso, em 2010 importaram do Uruguai, junto com as estâncias Rincão e Santa Terezinha, uma vaca que é mãe da Reservada Grande Campeã da Exposição do Prado e uma fêmea da Cabanha Las Rosas, tradicional criatório uruguaio. Este ano, junto com a Rincão, adquiriram por US$ 10,2 mil também uma fêmea da Cabanha El Paraíso, da família Bordaberry, conceituada selecionadora de Hereford daquele país, todas para coleta e transferência de embriões visando aumentar o plantel
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de elite. “Também já se encontra em coleta a Melhor Fêmea Rústica da Expointer 2010, que terá ainda a companhia da Melhor Fêmea Rústica da Nacional 2010 e da Melhor Fêmea Rústica da Expointer 2011”, acrescenta o selecionador. Além de dois touros próprios, destacados na Exposição de Bagé, é utilizado na formação do plantel o reprodutor K170, apontado Melhor Macho Polled Hereford PC e Supremo Campeão da Raça Hereford da Exposição Nacional 2010, adquirido da Reculuta Agropastoril, de Santana do Livramento. Participando de exposições há apenas três anos, este ano a Estância Tamanca obteve novamente resultados expressivos na Expointer, como Trio Grande Campeão de Fêmeas PO, do qual saiu a Melhor Fêmea Rústica PO, Trio Reservado de Grande Campeão Fêmeas PO e Trio
Grande Campeão Fêmeas PC, do qual saiu a Melhor Fêmea Rústica PC da Expointer 2011. As vendas da empresa se concentram em Pelotas, onde mantém remate anual em conjunto com outras cabanhas, e Santa Vitória, onde estréiam este ano leilão particular em parceria com o Condomínio Estância Rincão, além de São Lourenço do Sul e Arroio Grande..
RICARDO SPEROTTO TERRA estamos aumentando o plantel po aos poucos, sempRe pRimando pela Qualidade
Melhores fêmeas rústicas PO da Nacional 2010, da Expointer 2011 e da Expointer 2010
Luciano e Ricardo Sperotto Terra durante premiação aos melhores da raça Hereford na Expointer 2011
Couro de altÍssiMa qualidade Localizada entre as lagoas Mirim e Mangueira, local privilegiado para a criação de gado, Santa Vitória do Palmar tem ainda como diferencial o fato ser uma região livre de carrapatos, o que possibilita uma menor utilização de fármacos, garantindo ainda a integridade do couro do animal e tornando-o muito procurado pela indústria coureiro-calçadista. Conforme Sérgio Mendonça, gerente do Cambará Frigorífico Ltda., instalado no município, a não incidência de carrapatos e bernes nos campos locais, bem como a ausência de mata silvestre - evitando assim possíveis aranhões por espinhos -, confere ao couro dos animais criados em Santa Vitória uma qualidade acima da média, pois têm assegurada a garantia de classificação superior quando entregue à indústria. “É um couro liso, sem furos, muito uniforme, o que garante uma valorização até 50% superior se comparado aos preços praticados para o couro oriundo de outros locais do Estado”, ressalta o profissional, que vende cerca de 300 peças mensais para uma empresa de Pelotas a cerca de R$ 70 cada. Em contrapartida, os produtores santa-vitorienses queixam-se de que não estão sendo remunerados adequadamente pela qualidade superior do material entregue. A questão vem sendo discutida também pela Associação de Pecuaristas dos Campos Neutrais (Apecan), criada recentemente e presidida por Carlos Talavera Campos. De acordo com ele, além de uma melhor remuneração ao couro produzido no município, através da associação deve ser negociado também com os frigoríficos um diferencial aos produtores que entregarem gado para abate através da Apecan, uma vez que praticamente todos utilizam raças de origem européia, as mais indicadas para a produção de carne de qualidade.
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o GRÃO de OURO do extremo sul do Brasil principal cultura do municÍpio, oriZicultura figura nos dados oficiais como a terceira maior área plantada do rio grande do sul
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c
onforme dados do Instituo Rio Grandense do Arroz (Irga), Santa Vitória do Palmar possui a terceira maior área plantada de arroz do Estado, com 70 mil hectares, atrás apenas de Uruguaiana, com 85 mil, e Itaqui, com 73 mil. “A produção do município na safra 2010/2011 foi de 558,8 mil toneladas, o que representa 6,24% da produção de arroz do Rio Grande do Sul”, informa o presidente da instituição Cláudio Pereira. Mesmo que produtores defendam Santa Vitória como a segunda maior área, alegando que a Itaqui soma-se a área do município de Maçambará, os técnicos do Irga confirmam que este número – 70 mil ha – engloba também a área plantada do município do Chuí. Discussões à parte, o certo é que o município conta com mais de 200 produtores, sendo que sua tradição no setor primário já levou cinco santa-vitorienses à presidência do Irga. Segundo o chefe do escritório municipal do Irga e do 16º Núcleo Assistência Técnica e Extensão Rural (Nate), Giuseppe Silveira Morroni, o Pepo, a cultura do arroz gera mais de cinco mil empregos diretos e em torno de 12 mil indiretos no município de 31 mil habitantes, conforme Censo 2010 do IBGE. “Quando a lavoura está bem, a cidade também está bem”, afirma Pepo, referindo-se que o preço da saca de arroz baliza a economia da cidade. Atualmente, conta com uma produtividade de 7,8 mil quilos por hectare (kg/ha), o que daria uma
divulgação irga
alexandre teixeira
CLAUDIO PEREIRA
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média de 156 sacas de 50 kg produzidos por hectare. Essa contabilidade abrange juntamente o município do Chuí, que também faz parte do 16º Nate. Santa Vitória teve sua “revolução orizícola” na década de 1960. Aposentado do Banco do Brasil e produtor de arroz, José Luiz Morrone, que chegou para morar na cidade nesta época, acompanhando assim todo o desenvolvimento da lavoura, diz que até 1960 se plantava apenas 1,5 mil hectares e que com o advento da lavoura aconteceu esta revolução. Ele conta que era muito difícil mudar a cabeça dos pecuaristas para arrendarem suas terras para plantar arroz. “Mudamos a cultura dos pecuaristas com os resultados da lavoura”, explica Morrone. Pois, em 1962 já se plantavam 20 mil ha, aumentando ainda mais depois que fizeram a estrada de acesso à cidade. Com produtores vindos de Camaquã, São Lourenço do Sul e Arroio Grande neste período, o município de Santa Vitória do Palmar consagrou-se um polo orizícola, como é até hoje. Segundo Morrone o primeiro lavoureiro do município teria sido um uruguaio da família De Castro, na
década de 1940, que plantava arroz na região da Queimada. A Granja Mangueira foi a primeira granja a se estabelecer no município. E o produtor Érico da Silva Ribeiro – como veremos a seguir – era conhecido como o Rei do Arroz, pois, conforme Morrone, ele seria o maior plantador individual de arroz do mundo. Morrone começou a produzir arroz somente em 1990. Quando ainda era funcionário do Banco do Brasil tinha a missão de fiscalizar as lavouras e acompanhá-las, visto que era o Banco quem financiava. Porém, se considerava mais um conselheiro que um próprio fiscal. A implantação da BR 471, que aconteceu em 1960, facilitou para escoar a produção, embora sua pavimentação tenha ocorrido somente na década de 1970. O produtor lembra-se da mudança ocorrida com a revolução de 1964, onde houve um endurecimento de crédito por parte dos bancos, e que isso teria quebrado as lavouras. Atualmente, planta 500 hectares, é participante ativo da Associação dos Arrozeiros e possui uma produtividade média equivalente à do município. Morrone costuma dizer que se o GIUSEPPE SILVEIRA MORRONI
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brasileiro comesse uma colher a mais de arroz a crise acabaria, visto que um dos motivos da crise é o aumento de produção e a redução do consumo. Também acredita que se o produtor diminuísse suas áreas de plantio o preço seria corrigido. “Pois existe uma alta produtividade e uma baixa rentabilidade”, explica, lembrando que em 2004 e 2005 se vendeu a saca de arroz a R$ 35, R$ 40, num dos melhores momentos do setor. “Se o lavoureiro se capitalizasse mais nessa época, hoje ele enfrentaria melhor a crise”, pondera. Hoje, a indústria paga cerca de R$ 23,50 por saca, preço considerado pelos produtores abaixo do custo de produção. De acordo com ele, R$ 29 seria o preço considerado ideal para que a classe honrasse os compromissos. “A
tabela de descontos aumentou muito. Existem coisas que não existiam, como o desconto para o grão quebrado, para umidade, impurezas”, reclama Morrone, ponderando que a indústria é sempre beneficiada com esses descontos e que os produtores são sempre prejudicados, pois se tornam reféns destes preços. Ele afirma também que o Uruguai e o Paraguai são pequenos produtores que atrapalham muito, pois o arroz vindo de lá possui tributação menor que a do arroz brasileiro, deixando assim a concorrência desleal. As despesas do produtor vão do defensivo para a terra até o armazenamento. Antes, o transporte era a última despesa. “Todo mundo ganha com as lavouras: máquinas, insumos, aviação, menos o produtor”, lamenta Morrone.
JOSÉ LUIZ MORRONE
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o rei do arroZ Ex-deputado federal e engenheiro civil, o produtor Érico da Silva Ribeiro diz ter nascido dentro de uma granja de arroz no município de Camaquã. Começou exatamente em 20 de agosto de 1960 na atividade orizícola. Em 2010, comemorou sua 50ª colheita com uma grande festa. No início, queria trabalhar com estradas, mas seu pai, que começou plantando dez hectares, queria que o filho seguisse no ramo. Até se tornar o maior produtor de arroz do mundo, como sentencia Morrone, o que lhe conferiu a alcunha de Rei do Arroz. Foi um dos primeiros arrozeiros de Santa Vitória e acompanhou toda a evolução tecnológica das lavouras. Lembra-se até de quando se plantava arroz com juntas de boi, e também se adubava manualmente. “As taipas eram feitas com pá e as colheitas com foice”, recorda. Ribeiro conta que quando chegou a Santa Vitória havia três mitos: diziam que a água da lagoa Mangueira era salgada; que o clima era frio demais para produzir; e que a terra da região era frágil, ou seja, sem sustentação para as máquinas trabalharem. Ele desmistificou tudo isso. No início, as estradas ruins eram um problema grave. Em 1966, adquiriu a Granja do Salso, onde se mantém produzindo até hoje. Ele conta que neste ano choveu durante todo mês de
outubro e novembro, mas foi até o dia 28 de dezembro plantando, o que diminuiu a produtividade, pois o período correto para o plantio, segundo pesquisas, é de 23 de setembro a 5 de novembro. Em 1971, viajou aos Estados Unidos para aprender sobre armazenagem. Era cético em relação à armazenagem em silos, não acreditava que o arroz ficaria seguro naquelas estruturas, até conhecer um silo com ventilação, onde se secava o arroz e não deixava umedecer. Ribeiro é lúcido sobre os problemas que afetam o setor orizícola, e enumera três medidas que poderiam amenizar a crise: diminuir a produção, ou seja, a área plantada, não a produtividade - considera que isso seja um contrassenso humano, pois todo mundo quer plantar mais; soluções governamentais pensadas mais cedo, pois medidas tardias não adiantam – tem que começar em março porque em julho já se vendeu o arroz; e fazer álcool do arroz, como alternativa, como já vem sendo discutido. Outra medida importante, segundo ele, seria o melhoramento dos portos para agilizar o mecanismo de exportação. Porque hoje os produtores não exportam mais arroz ensacado por falta de estrutura, apenas a granel. Outro problema recorrente nas lavouras é a energia elétrica, que não vem suportando ultimamente. Na Granja do Salso 100% do arroz é
irrigado com bombas de inundação acionadas com energia elétrica, o que demanda um grande abastecimento. “Estamos realizando reuniões com a CEEE buscando alternativas para o fornecimento”, afirma Márcio Sanchez da Silveira, gerente administrativo da Granja. Mas, a saída definitiva será a longo prazo, quando forem instalados os dois parques eólicos no município, previstos para os próximos três anos. A alta produtividade na Granja do Salso se deve à adesão ao Projeto 10, que consiste em ações realizadas dentro do tempo certo, como o plantio, adubação, irrigação e controle de invasores. “Há oito anos produzíamos cinco mil quilos por hectare. Hoje produzimos mais de sete, graças ao Projeto 10”, conta Silveira. Ele explica que o nome é Projeto 10 uma vez que seu objetivo é que se atinja a marca de 10 mil kg/ha na totalidade da área plantada, sendo que já existem áreas com estes resultados. A Granja do Salso planta mais de cinco mil hectares, 800 deles destinados à soja e o restante ao arroz, com 30% da lavoura financiada pelo banco. Possui em torno de 190 funcionários, aumentando o número em períodos de safra, e conta também com cinco engenheiros agrônomos que dão auxílio técnico na propriedade, entre eles, Silveira.
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ÉRICO DA SILVA RIBEIRO
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MoBiliZação eM BusCa de MelHorias para o setor A Associação dos Arrozeiros de Santa Vitória do Palmar é uma entidade que milita em favor da classe. Tem discutido questões com o governo, como a alta tributação de insumos, o preço aviltado do grão e a entrada de arroz dos países do Mercosul (Uruguai, Argentina e Paraguai) com preço mais baixos que o brasileiro, visto que os impostos lá são menores. Outro agravante é o estoque elevado das safras passadas. Na pessoa do presidente da Associação, Márcio Sanchez da Silveira, a entidade tem se mobilizado junto a Prefeitura e ao Sindicato Rural buscando formas de melhorar o setor, visto que, segundo ele, o arroz é responsável por 70% do PIB do município. “É a cultura que movimenta a cidade”, observa o engenheiro agrônomo,
lamentando a ausência de mais empresas de beneficiamento, pois muitos produtores levam o arroz até Camaquã ou Pelotas - existe apenas uma empresa que realiza beneficiamento na cidade. “Apenas 120 mil fardos da produção são beneficiados quando poderiam ser 11 milhões”, destaca Silveira. Ele lembra que o ano de 2011 foi muito difícil comercializar o arroz e que chegaram a vender arroz a R$ 17. “Com esse preço não conseguimos cobrir o desembolso. Sendo que, segundo a Conab e o Irga, o preço para suprir os custos de produção é de, no mínimo, R$ 29”, salienta. O governo estipulou o preço mínimo de R$ 25,80, mas, segundo ele, é mais baixo que o custo de produção. “É muita
disparidade de preços com os países do Mercosul”, queixa-se. “Temos apenas boas intenções dos políticos. Mas nada de efetivo”, pondera, reforçando que costuma levar esses problemas da classe para a Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul, a Federarroz. De acordo com o secretário da Agricultura de Santa Vitória do Palmar, Roberto Carlos Oliveira da Silveira, o trabalho é realizado em constante parceria com os produtores. “Com o preço mínimo do arroz em R$ 29 o produtor poderia honrar os compromissos sem pedir renegociação das dívidas”, avalia, dizendo, porém que este não é o responsável pelo endividamento. “O que ocorre é que nem o preço mínimo tem sido pago”,
MÁRCIO SANCHEZ DA SILVEIRA
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ROBERTO CARLOS OLIVEIRA DA SILVEIRA
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emenda Roberto. Ele informa que entregou em mãos ao deputado Marco Maia, presidente da Câmara Federal, uma pauta de reivindicações para o setor, que conta atualmente com o Programa de Escoamento de Produção (PEP), que realizou 18 leilões com uma oferta total de 2,2 milhões de toneladas de arroz, como informa o presidente do Irga, Cláudio Pereira, e as Aquisições do Governo Federal (AGFs), onde foram comercializadas 390 mil toneladas - e que só não foram mais efetivas pela falta de armazéns credenciados pela Conab para realizar a estocagem -, além da Medida Provisória 519, que permite a doação de estoques governamentais de alimentos para ajuda humanitária internacional, retirando dos armazéns até 500
mil toneladas de arroz.Para ele, a crise do setor é elementar: “O consumo do arroz diminuiu e a produção tem aumentado. Então, é difícil fazer a saca de arroz valer mais que R$ 26”, acredita. Roberto também enumera algumas alternativas para que o preço não fique tão estagnado, como usar o arroz para ração animal e para usina de etanol de Cristal, possível local de instalação da usina, onde serão investidos R$ 40 milhões. E, claro, uma intervenção do governo junto às instituições financeiras para controlar o crédito para determinadas áreas de plantio. Como Roberto também é produtor, em um discurso para o governador do RS disse que o município de Santa Vitória é um dos mais prejudicados do Estado. E disse por
quê: a rodovia chegou só em 1960; a energia elétrica chegou atrasada; por conta disso se perdeu a industrialização do arroz; e há apenas uma indústria de beneficiamento, sendo que o município é o terceiro maior em produção do RS. Para ele, uma das saídas seria a Hidrovia do Mercosul, que ligaria a Lagoa Mirim até Rio Grande e Pelotas. Assim, levaria o arroz direto para Porto Alegre e facilitaria a aquisição de insumos mais baratos. “Nenhum ciclo da cadeia produtiva deve ficar desamparado. O poder público deve trabalhar para todos”, afirma. “Se as instituições locais estiverem fortalecidas é bom para toda a comunidade”, considera Roberto.
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Foi na Estação Regional Zona Sul, situada na VRS 333, entre Santa Vitória e o balneário Hermenegildo, que o grão Irga 424 foi desenvolvido. O chefe da Estação, Anderson Chaves, afirma que é uma cultivar que se adapta melhor ao clima específico de Santa Vitória do Palmar. Não bastasse um grão exclusivo para a terra do mergulhão, outra variedade, ainda mais adaptada, está sendo lançada: o Irga 426, que é um grão ainda mais exclusivo e adaptado ao solo e ao clima santa-vitoriense. Pesquisas como essas são realizadas nos seis hectares da Estação Experimental, onde ficam dispostas micro-lavouras acompanhadas por Chaves e sua equipe. Além de promover eventos como roteiros técnicos, dias de campo nas propriedades e visitação às lavouras. Terminado o levantamento, a apresentação das pesquisas acontece em julho, sendo que 100% das lavouras da cidade têm os dados levantados. A Estação pesquisa cultivares para deixá-las mais resistentes ao clima frio da região e ao solo. Todos os dados informados nesta reportagem, como área plantada e produtividade individual dos produtores, são levantados por relatórios realizados pelo 16º Nate junto a cada produtor. Graças a estas pesquisas, podemos saber que a Lagoa Mirim irriga 48% das lavouras do município, que a Lagoa Mangueira é responsável por 43% e os outros 9% são irrigados por barragens, e que na safra passada apenas 13 produtores faziam parte do Projeto 10. O chefe do escritório municipal do Irga ressalta que em ano de La Niña, quando é mais seco, os produtores plantam dentro do prazo estabelecido pelo Projeto 10. Mas, quando o ano é de El Niño – quando chove muito – o plantio costuma atrasar. Conforme Pepo, dez dias de atraso na irrigação, significam 20 sacos a menos por hectare.
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uM grão exClusivo para santa vitÓria
ANDERSON CHAVES
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equinos
eVOLUÇÃO morfológica e funcional criatórios iniciaram seleção a partir das chamadas linhagens rio-grandenses e do sangue la inVernada, cruZando-as posteriormente com reprodutores chilenos
A
intensa atividade pecuária desenvolvida em Santa Vitória do Palmar requer uma cavalhada à altura para o trabalho de campo, razão principal para a predominância da raça Crioula no rebanho do município, formado por 12 mil animais, conforme dados da Inspetoria Veterinária. De acordo com Rafael Rodrigues Machado, presidente do Núcleo de Criadores de Cavalos Crioulos Pedro Arício de Souza, cujo nome homenageia o primeiro estancieiro de Santa Vitória a ter cavalos da raça registrados, nos últimos anos vem mudando o perfil dos criatórios locais, que inicialmente mantinham cavalos apenas para o serviço nas estâncias. “As cabanhas passaram a participar ativamente de provas, não só as do Freio de Ouro, que ainda são o foco principal, mas também em modalidades como a Campereada, o Laço e a Paleteada”, explica o médico veterinário, lembrando que a primeira Copa Mergulhão de Paleteada - realizada este ano no município e com a intenção de ser anual - distribuiu R$ 12 mil em prêmios. Segundo ele, para o início de 2012 está prevista uma credenciadora de animais inéditos ao Freio de Ouro, o que só ocorreu uma vez até hoje no
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município, que também já sediou uma semifinal da prova máxima da raça Crioula. Machado reforça ainda que é crescente o número de novos criadores. “Recebemos anualmente, em média, a adesão de pelo menos três novos sócios”, emenda, informando que chega a 40 o número de associados da entidade. De acordo com ele, é visível também a evolução da manada santa-vitoriense, tanto funcional como morfológica, que, em sua opinião, deve dar um salto ainda maior com a recente liberação da inseminação artificial e da transferência de embriões pela Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC). “A cada ano melhora a qualidade de nossos cavalos, e também dos ginetes. Essa decisão da ABCCC, além de diminuir os custos, vai permitir acesso de todos os criadores à genética de ponta”, projeta o dirigente. Criador de cavalos Crioulos desde 1987, na Estância Cerro Lindo, onde mantém 20 éguas em cria, ele revela que um dos objetivos do núcleo é resgatar os feitos dos animais santa-vitorienses que se destacaram ao longo dos anos, como Ganadero da Harmonia, vencedor do Freio de Ouro 2006.
RAFAEL RODRIGUES MACHADO
alexandre teixeira santa vitóRia do palmaR | 35
equinos
três as gerações da família envolvidas com a raça Crioula, pois, além do pai e dos dois irmãos, o filho de quatros anos também já é sócio da ABCCC, desde os 10 meses de idade, tendo inclusive seu próprio afixo. “Ele tem que criar seu próprio nome”, observa o selecionador. Ele destaca ainda a forte relação familiar que norteia o empreendimento, o que pode ser comprovado no catálogo do remate Manadas da Fronteira, promovido anualmente em Pelotas junto com as estâncias Tamanca, Dona Silvina e Rincão, onde constam várias fotos dos membros da família em situações do dia a dia no campo, sempre a cavalo. Técnico da ABCCC desde 2006, atendendo praticamente 100% dos criatórios santa-vitorienses, Teixeira conta que todos iniciaram suas seleções a partir das chamadas linhagens rio-grandenses e do sangue La Invernada, do Uruguai, que era o que havia disponível na época. “Posteriormente, passaram a cruzar estes animais com reprodutores chilenos, o que deu mais mobilidade lateral aos animais”, recorda o veterinário, citando que os campos baixos e alagadiços da região são considerados ideais para a criação de equinos. “A raça apresentou uma evolução muito grande nas últimas
Jg Martini
Administrador da Cabanha Harmonia, formada por seu pai em 1975, Rodrigo Teixeira lembra que Ganadero participou de três edições do Freio, obtendo o Bronze em 2005 e o Ouro no ano seguinte, já apresentado pelo condomínio formado atualmente por seis criadores. Ele explica que hoje o garanhão é utilizado sobre as filhas La Invernada Don Mateo, adquirido em 1984 e responsável pela base do criatório formado hoje por 38 éguas de cria. “Foi o primeiro chileno puro a cobrir em Santa Vitória, era diferente de todos os animais disponíveis à época, com muita docilidade e facilidade de executar movimentos. Mudou toda história da raça e foi um divisor de águas da nossa cabanha”, revela o veterinário, lembrando que além de Ganadero da Harmonia, Registro de Mérito da ABCCC com mais de 400 filhos distribuídos por 140 afixos diferentes, três de seus filhos vêm também sendo testados na reprodução, um deles em preparo para Freio de Ouro. Teixeira lembra ainda que numa das primeiras incursões fora do município a cabanha obteve o prêmio de Reservado Grande Campeão Expointer 1983, com o exemplar Heregê. Ele destaca ainda que já são
Ganadero da Harmonia, Freio de Ouro 2006
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décadas, o processo atual é bem conduzido, há mais discussão sobre acertos na seleção”, constata, completando que o cavalo Crioulo não é mais só do gaúcho: “Hoje, participa de provas da Federação Internacional Equestre (FEI), com visibilidade no mundo inteiro, ou seja, extrapolou as fronteiras”.
RODRIGO TEIXEIRA
ALIAR MORFOLOGIA E FUNÇÃO É O GRANDE DESAFIO O gosto dos filhos pelo cavalo, aliado à necessidade de bons cavalos para o serviço, foi uma das razões que levaram Lauro Cardoso Terra a adquirir os primeiros exemplares da raça Crioula em meados da década de 70: duas éguas importadas do Uruguai e um reprodutor adquirido em Esteio. Posteriormente, foram comprados outros animais em liquidações como a da Cabanha CPO, e feitos investimentos também em coberturas de garanhões destacados, dando origem ao atual plantel da Estância Tamanca, administrada pelos irmãos Ricardo e Luciano Sperotto Terra, tradicional invernadora de novilhos e produtora de genética Hereford. “A grande égua que tivemos foi LS Trapaça, uma filha de Butiá Arunco, Freio de Ouro e duas vezes Reservado Grande Campeão da Expointer. Os filhos e filhas dela venceram várias exposições, sendo que seu último filho, com Santa Elba Señuelo, foi Xiru Velho da Tamanca, hoje reprodutor-chefe da estância”, lembra Ricardo. Ele explica que antes dele foi usado o garanhão BT Lado a Lado (La Inveranda Encomendero x BT Bibiana), que deixou uma base muito boa. “As melhores mães são as filhas do Lado a Lado, e sobre elas usamos o
Uma e Pico da Tamanca conduzida por Felipe Silveira durante o Freio de Ouro 2011
Xiru Velho. Nosso objetivo é formar um plantel homogêneo e padronizado, buscamos um cavalo bonito e funcional”, acrescenta o selecionador. “Não temos o foco voltado exclusivamente para cabanha, usamos os cavalos para serviço e selecionamos aqueles que se destacam”, emenda o irmão Luciano. Com 40 éguas em cria, os irmãos comercializam a maior parte da produção no remate Manadas da Fronteira, em Pelotas. Além disso, estão sempre preparando e domando algum exemplar para
o Freio de Ouro, prova da qual participaram em 2009 e 2011 com uma fêmea do próprio afixo, Uma e Pico da Tamanca. Para os próximos ciclos, já mantém em preparo um cavalo com Zeca Macedo e uma fêmea com Felipe Silveira. Aliar morfologia e função é também o maior objetivo da Cabanha Mal Abrigo, buscando sempre a vitória no Freio de Ouro e também produzir animais que possam contribuir de alguma forma para a evolução da raça em outros criatórios. “Invisto no Freio,
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equinos pois acredito que esta prova demonstra muito a aptidão do cavalo Crioulo”, conta o empresário Marcelo Martins Zanetti, lembrando que BT Miralumo, principal garanhão da cabanha, participou da final da prova em 2004, além de ter sido Grande Campeão da Exposição de Santa Vitória e Campeão Cavalo Adulto em Pelotas. “Trata-se de um filho do Hornero, que está reproduzindo muito bem, padronizando a manada. Tenho como desafio a partir de agora buscar outro cavalo para colocar em suas filhas que estão entrando para a cria”, prossegue o produtor rural, que na temporada passada usou Tinajera Chambergo, pai do Reservado Grande Campeão da Expointer 2011, Galo de Santa Edwiges. “Acredito que este sangue vai dar certo na Mal Abrigo”, aposta, o selecionador, que investe ainda em gado de corte e na cultura do arroz. O criatório, iniciado há cerca de 20 anos, conta hoje com 65 éguas na
divulgação
MARCELO MARTINS ZANETTI
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Xirú Velho da Tamanca
divulgação CaBanHa Mal aBrigo
cria, selecionadas por sua docilidade, função e morfologia. “Visitei criatórios tradicionais de Santa Vitória, Uruguaiana e Herval, onde adquiri as primeiras éguas, algumas ainda na manada de cria. Além de comprar, queria conhecer o trabalho que realizavam para adaptar ao meu modo de pensar e começar assim uma longa e adorável jornada na raça Crioula”, conta Zanetti, cuja produção é comercializada através de remates em parcerias com outras cabanhas. Citando a qualidade dos animais criados atualmente em Santa Vitória que sempre presentes no Freio de Ouro e na morfologia da Expointer, onde se encontra o que há de melhor na raça -, ele vislumbra um potencial de crescimento ainda maior para a raça na região. “Vejo as cabanhas do município se preocupando em buscar sempre o melhoramento genético, a evolução e a expansão da raça, que está sendo vista em todo o Brasil”, completa Zanetti.
BT Miralumo
Desde 1976
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ovinos
referência em OVinOS ideAL e cORRiedALe caBanhas do municÍpio acumulam prêmios nas mais importantes exposiçÕes de oVinos do estado
A
pesar da drástica redução dos plantéis, devido ao abigeato e, principalmente, à ascensão das fibras sintéticas, Santa Vitória mantém ainda hoje um dos maiores rebanhos de ovinos do Rio Grande do Sul, com 65 mil animais, conforme dados da Inspetoria Veterinária. No município, que na década de 50 foi sede de uma das maiores cooperativas de lã do Estado, a Covilã, estão tradicionais criatórios que ao longo dos tempos vêm acumulando prêmios nas mais importantes exposições gaúchas. Uma delas é a Cabanha Água Fria, iniciada por Flor Amaral em 1955 e das mais premiadas na raça Ideal. Quatro anos após o iniciar o criatório, já participava da Exposição do Menino Deus, em Porto Alegre, onde conquistou por oito anos consecutivos o grande campeonato de machos, feito jamais alcançado por outra cabanha. Além disso, é o único criador brasileiro até hoje a ganhar um título de Grande Campeão na mais importante mostra de ovinos Ideal da América, a Exposição Internacional do Prado, em Montevidéu, no Uruguai, em 1963. Em plena atividade, a Água Fria continua arrebatando prêmios, principalmente na Expointer, em Esteio, mostra que completou 34 anos em 2011 e da qual só não participou uma única vez em razão de uma doença que acometeu o rebanho. “Só na Expointer são 15 grandes campeonatos de machos e 11 de fêmeas”, enumera Amaral, sem contar outros tantos nas mais tradicionais exposições do interior gaúcho, como Uruguaiana, Bagé, Pinheiro Machado, Herval, Jaguarão e Cachoeira do Sul, entre outras. “Crio ovinos porque gosto, meu objetivo é ir melhorando sempre a qualidade da lã, buscando a perfeição”, emenda o selecionador, que se orgulha de nunca ter importado animais, selecionando o rebanho sempre a partir de seus melhores exemplares. Prestes a completar 90 anos, ele conta que optou pela raça Ideal porque o mercado da lã estava aquecido na época. “Apesar de não gerar um animal de porte grande, é uma ovelha de ótima lã, com bom rendimento na indústria”, explica o criador, que deixou de lado as ovelhas SO e hoje se dedica apenas ao plantel PO, formado por cerca de 120 ovelhas na cria – o rebanho comercial é administrado pelo filho Renato. Com foco exclusivo na venda de
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FLOR AMARAL
alexandre teixeira
OLAVO ACOSTA DE OLIVEIRA
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ovinos
KeKÉ BarCellos
artesanato eM lã CoMo alternativa de renda
reprodutores, Amaral ressalta que atualmente tanto a carne como a lã vivem um bom momento, no entanto são poucos os que têm ovinos para abastecer o mercado. “Se bem explorado, o ovino é o melhor negócio que tem”, afirma, lembrando que no Uruguai as lãs de melhor qualidade estão valendo em torno de US$ 8 o quilo. Após perder o pai, aos nove anos, Olavo Acosta de Oliveira voltou para o campo para trabalhar em prol da sobrevivência da família, dedicando-se à criação de ovinos desde os 11 anos de idade. Na década de 60, chegou a ter 1700 animais no campo, encarneirando mais de 750 ovelhas por temporada e obtendo taxa de assinalação de 92%, quando a média do município, segundo ele, oscilava entre 35 e 40%. Hoje, aos 80 anos, mantém na Cabanha Alda apenas 70 exemplares Corriedale, dos quais 30 fêmeas PO e outras 20 SO. “Diminuí o rebanho por causa do abigeato e pela falta de mão de obra qualificada”, justifica o criador, que também foi associado da Covilã, possuindo na época a inscrição de número 170 dentre seus mais de mil associados. Com cabanha estabelecida desde 1971, Oliveira manteve leilão particular por 26 anos, mas com o passar do tempo foi agregando novos parceiros. Atualmente vende sua produção junto 42 | Bons ventos
com outros três criatórios do município durante a Feira de Ovinos de Verão, em fevereiro, com 40 anos de vendas ininterruptas em remates no Parque do Sindicato Rural de Santa Vitória. “Tenho uma clientela fiel, pois a base do negócio é a confiança e a seriedade. Todo ano falta carneiro, se tivesse mais vendia todos facilmente”, ressalta o criador, que acumula ainda mais de 200 troféus em importantes exposições gaúchas. De acordo com ele, o ovino é hoje mais rentável que o gado e o arroz, com o maior rendimento anual percentualmente. “Ovelha dá um juro de 60,70% ao ano, não existe animal que dê maior juro que este”, afirma, calculando que uma fêmea gera cerca de R$ 24 com quatro quilos de lã, além de outros R$ 80 com um cordeiro parido em setembro e vendido no Natal, e ainda fica no campo, produzindo. Oliveira lembra ainda de um excelente negócio que fez na Expointer no início dos anos 90, ocasião em que com o dinheiro que ganhou com a venda de um borrego comprou 60 vacas e ainda lhe sobrou uma boa quantia. “Sempre ganhei dinheiro com as ovelhas, formei três filhos na universidade com elas”, completa o produtor, que trabalha também com gado Angus e produz terneiros para venda.
Um segmento que vem despontando em Santa Vitória é o artesanato em lã ovina, motivado pela facilidade ao acesso à matéria-prima necessária para a confecção das mais variadas peças, que já vem sendo produzidas no município por um grupo de artesãos formado por 15 mulheres e um homem. Coordenadora e representante do grupo Fiando Ideias, nome que deve ser lançado oficialmente durante a Expofeira 2011, Mairlha Silveira Correa Mirapalhete explica que o trabalho foi iniciado há dois anos, após a participação de alguns de seus integrantes num curso promovido em conjunto pela Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS) e a Prefeitura Municipal, entidade esta que adquiriu e doou 600 quilos de lã branca para a confecção das primeiras peças. Posteriormente, ganharam da Estância Tamanca mais 1.500 quilos de lã oriunda de ovinos naturalmente coloridos, garantindo assim um bom estoque de matéria-prima. “Recebemos a lã suja, lavamos, abrimos, cardamos e fiamos para só então tecer as peças, num processo totalmente manual e artesanal”, explica a artesã, que se criou vendo a mãe trabalhar com isso e possui mais de 30 anos de experiência no ramo.
No caso da lã branca, ela conta que primeiro é feito o tingimento através de produtos de origem vegetal, como frutas, cascas de cebola e de árvores e plantas medicinais, como a macela e o boldo. Segundo a artesã, as peças mais procuradas são os xergões, para uso nos cavalos de serviço das estâncias da região, mas são produzidos também xales, tapetes, trilhos e outros tantos artefatos. “Estou muito orgulhosa com os resultados, pois, além do retorno financeiro, a atividade tem proporcionado o crescimento pessoal dos integrantes do grupo, a uma união muito forte entre todos”, acrescenta Mairlha, explicando que, retirada a parte necessária a novos investimentos, a renda obtida com a venda das peças e dividida igualmente entre todos.
Grupo de artesãos Tecendo Ideias
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leite
BAciA LeiTeiRA: um segmento consolidado com um grande potencial de gado leiteiro e uma cooperatiVa modelo, santa Vitória do palmar é referência na metade sul
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c
riador de gado leiteiro há 40 anos na Cabanha Tertúlia, Heleodoro Natálio de Oliveira Filho, que possui cerca de 80 animais da raça Holandês, confessa que há alguns anos o produtor de gado de leite sofria qualquer tipo de preconceito por se tratar de uma cultura preterida. Mas, os resultados foram tão bons, correspondendo – e até superando – expectativas, que muita gente migrou para o segmento, vislumbrando um mercado promissor que acabou se consolidando no município. A atividade que começou como um hobby para Heleodoro, se tornou a principal fonte de renda da família, inclusive para pagar a faculdade dos filhos. Ele trabalha com a esposa de sol a sol para manter a produtividade alcançada, que é de 300 litros por dia, ou seja, nove mil litros ao mês. E não poupa elogios sobre uma de suas principais parceiras no êxito do negócio: “A fase da Cooperativa hoje é sensacional: preço bom e metas alcançadas”, reconhece. É um dos fundadores da Sul Leite, Cooperativa dos Produtores de Leite da Zona Sul Ltda., que antes era uma associação. Embora reconheça o bom momento, também acredita que podem chegar mais longe: “Ainda existe um potencial bárbaro a ser explorado. Estamos só no começo”, garante Heleodoro. Outro produtor que apostou no empreendimento e vem se dando bem é Orestes de Oliveira, irmão de Heleodoro. Com apenas 30 hectares destinados à produção de leite, consegue uma produtividade de 200 litros por dia (seis mil ao mês) com aproximadamente 40 animais. “Não há concorrência entre os produtores. Quanto mais produz, mais ganha”, garante Orestes. “O leite remunera o produtor diariamente”, aposta. Ele lembra que antes da consolidação do bom negócio a mão de obra era muito difícil de conseguir. Atualmente as pessoas querem trabalhar neste segmento. “Hoje a Cooperativa é essencial para Santa Vitória, gera empregos e renda”, ressalta o produtor.
HELEODORO NATÁLIO DE OLIVEIRA FILHO
ORESTES DE OLIVEIRA
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leite
a Cooperativa sul leite Com cerca de 80 cooperados, mais de quatro mil animais distribuídos entre eles, 1400 vacas em ordenha e uma produção média de 17 mil litros de leite por dia, a Cooperativa Sul Leite se tornou uma referência em resultados e gestão. Com gado produzindo leite a pasto e utilizando rações, tem um produto de alta qualidade, rico em proteínas e gorduras, baixos índices de células somáticas (concentração de glóbulos brancos que baixam a qualidade do leite) e baixos índices de bactérias. Fomenta a escala de produção com assistência técnica, seleção genética, o bem-estar animal – com uma farmácia veterinária que atende a todos os cooperados – e geram cerca de 200 empregos indiretos no município. Em 2001, houve uma reformulação no modelo de gestão da Sul Leite e que permanece até hoje. Terceirizaram a administração, onde presidente e diretoria não são remunerados. Contrataram um corpo técnico composto por dois engenheiros agrônomos, uma médica veterinária, um zootecnista e um técnico agrícola, para dar suporte em organização, produção, produtividade e qualidade aos 80 cooperados e um número expressivo de
pequenos produtores. Assim inauguraram uma microusina onde se pasteuriza leite e produz bebida láctea. Fornecem para Santa Vitória em torno de 1,5 mil litros por dia, que é cerca de 20% do consumo médio na cidade. Sem contar os derivados, como o iogurte de morango feito recentemente, e os planos de produzir queijo e doce de leite, em breve. Para Marcos Juliano Kalil Pereira, engenheiro agrônomo e há três anos na gerência administrativa da Sul Leite, o objetivo da Cooperativa é simples: “Aumentar a escala de produção através do acesso a créditos, formação de parcerias, programas de assistência técnica, diversificação de matriz produtiva do município e construir uma indústria de beneficiamento de leite”, relata. Fundada em 28 de agosto de 1997, a Cooperativa nasceu de um grupo de produtores já existentes de uma cooperativa de lãs. “No início eram 30 cooperados. Atualmente, são 80. Pequenos e grandes” conta Kalil. Ele diz ainda que a Cooperativa chegou como uma parceira, e com ela existe a garantia do pagamento, ou seja: leite produzido, dinheiro na mão. Claro que todo esse leite não ficaria
Processo de embalagem para distribuição do produto em Santa Vitória do Palmar
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somente em Santa Vitória. É vendido para a Consulati, empresa parceira de Pelotas, que vem diariamente à cidade abastecer o bitrem (caminhão Romeu e Julieta) e depois leva para beneficiar. “90% da produção vai para a Consulati”, diz Kalil. A Cooperativa compra todo o leite produzido pelos cooperados – dentro dos padrões e exigências estabelecidos – e revende à Consulati. A média para a produção varia entre R$ 0,75 e R$ 0,76 por litro. Mas quando o cooperado atinge um volume acima de 51 mil litros produzidos ao mês, obtém o valor de R$ 0,78. Conforme Kalil somente 2% da área do município que pode ser explorada com agropecuária é destinada à cultura do leite, o que equivale a quatro mil hectares aproximadamente. No início, a Cooperativa enviava um caminhão com apenas três tarros de 50 litros à Pelotas para a Consulati, que na
época foi subsidiada pela Prefeitura, que acreditou na ideia. Isto era necessário para que se soubesse a qualidade do produto. E também por que antes de existir a Cooperativa se produzia muito leite e não tinham pra quem vender. Assim muito alimento tinha de ir fora. O produtor rural e presidente da Sul Leite, Carlos Inácio Talavera Campos engenheiro civil, assume o relativo sucesso: “A Cooperativa é um viabilizador e fomentou muito a bacia leiteira”, conta. Além dos benefícios apontados, outra vantagem é a logística oferecida pela Sul Leite, que terceiriza caminhões-tanque para buscar o leite nas propriedades. Funciona assim: o caminhão-tanque vai lá, recolhe o leite dos cooperados e leva para a microusina que repassa à Consulat, recebe o pagamento e entrega ao produtor novamente. Com exceção dos grandes
MARCOS JULIANO KALIL PEREIRA
sul leite A marca do nosso leite!
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leite
proprietários, que produzem volumes mais elevados e a Consulat busca direto com seu bitrem. “80% dos produtores produzem 20% do leite do município e 20% produzem 80% do leite”, diz o presidente, que possui em torno de 100 vacas leiteiras. Para a despesa com o frete do caminhão é cobrada dos cooperados uma porcentagem de 7% sobre o que é produzido por eles. “Mas a meta hoje é pagar todo o frete para os produtores”, afirma Campos. Conforme relatório da Cooperativa, com dados gerados até agosto de 2011, a produção foi de 467 mil litros/mês este ano. Tiveram o ápice de produtividade em 2009, quando alcançaram a média de 500 mil litros/ mês, produzindo mais de seis milhões de litros de leite no ano. Se o clima ajudar, podem alcançar este patamar novamente em 2011, acredita Kalil.
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Segundo o presidente, a Sul Leite busca atingir 1 milhão de litros ao mês, para podere adquirir o próprio bitrem, exercer poder de barganha e vender o produto por um preço ainda melhor. Para que a Sul Leite venda seu próprio produto – leite em saquinho, iogurte e outros derivados – para outras cidades precisam regularizar sua situação frente à Coordenadoria de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Cispoa), que é o órgão da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul responsável pela inspeção de produtos de origem animal que são comercializados dentro do Estado. Atualmente a Cooperativa possui apenas o Serviço de Inspeção Municipal (SIM), que só autoriza a comercialização dentro do município. “Faltam alguns detalhes na usina, algumas adaptações, mas
CARLOS INÁCIO TALAVERA CAMPOS
ROBERTO CARLOS OLIVEIRA DA SILVEIRA a sul leite nunca visa o lucRo, pois Repassa tudo o Que aRRecada paRa seus coopeRados queremos ainda este ano regularizar a situação”, afirma o secretário da agricultura do município Roberto Carlos Oliveira da Silveira. A Sul Leite possui também um convênio de repasse para o Programa Federal Fome Zero, chamado Projeto Doação Simultânea. Ela recebe uma verba da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), compra produtos de agricultores familiares (hortifrutigranjeiros, leite etc.) e repassa para as famílias carentes do município. “A Sul Leite nunca visa o lucro, pois repassa tudo o que arrecada para seus cooperados”, destaca Silveira, afirmando que atualmente Santa Vitória tem um dos melhores leites da região Sul.
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aviCultura
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AVeS são destaque na eXPOinTeR 2011
alexandre teixeira
grupo de aVicultores santa-Vitorienses é hoje referência no rio grande do sul
O
início da avicultura – ou criação de galinhas – começou no continente asiático há oito mil anos. A ave domesticada, primeiramente, era utilizada como animal de briga ou objeto de ornamentação. Somente no final do século XIX carne e ovos passaram a ser apreciados. A avicultura se fortificou no século XX e começou a representar uma fonte de renda adicional aos sítios e fazendas. Estimulados pelo aspecto econômico, os avicultores começaram a tentar novos acasalamentos entre as raças diferentes, visando o aprimoramento da espécie. Nesta época ainda eram criadas soltas, nos quintais ou arredores das casas, e se alimentavam com restos de comida caseira, grãos e insetos. A partir da década de 1930 houve um grande progresso na criação de galinhas. Um dos pioneiros da avicultura em larga escala no Brasil foi Charles Toulin, um engenheiro agrônomo francês, que introduziu várias práticas modernas na sua Granja do Mandi, em Itaquaquecetuba (SP). Lá manteve reprodutores de boas linhagens, alta produção de ovos e incentivou a criação de galinhas pelo fornecimento de famosas quinas, que são quatro galinhas para cada macho.
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aviCultura
o pioneiro eM santa vitÓria Vanderli Rodrigues Martins começou a criar aves como um hobby, até se tornar sua principal atividade. Participou da primeira exposição de aves em 1975, e hoje é o presidente da Associação de Avicultores de Santa Vitória do Palmar, fundada em 1992, e vice-presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Raça Pura. Aos 44 anos é um dos entusiastas deste segmento pouco (re)conhecido no Estado. Para quem se entreolha quando tocam no assunto ou para quem acha que galinha é bom só na panela, os resultados falam por si. “Dos 100 animais que foram para a Expointer em 2011, 40 foram premiados”, conta Martins. Martins é um selecionador e faz melhoramento genético em cerca de 100 animais no Aviário da Palma, há 17 km de Santa Vitória do Palmar, onde são criadas em viveiros e gaiolas. Cria também galinhas para a produção de carne e ovos, além de aves ornamentais. Possui em torno de 100 matrizes, que são os machos para a reprodução. Os galos são vendidos com cinco ou seis meses pelo preço médio de R$ 150. Mas, exemplares premiados têm cifras que chegam a mais de R$ 1 mil. “Por
esse aqui ofereceram R$ 1.700 e não vendi”, mostra orgulhoso o exemplar da raça New Hampshire premiado em Esteio. A Associação tem em torno de 20 criadores. Para poderem registrar as aves eles realizam o processo de anilhamento, que é um anel de metal preso à pata do animal para identificá-lo. O anel leva o nome do aviário mais o número de registro na Associação. Da Palma 06, galo de sete anos avô de uma grande campeã na Expointer, é um dos xodós de Martins. As fêmeas são anilhadas com 2,5 meses e os machos com 4,5 meses. Aves com defeito não são registradas. Martins produz de 150 a 200 pintos de raça por ano. Investiu em raças puras para melhorar a produção. Os criadores possuem parceria com a Prefeitura, que ajuda nos fretes para as exposições e despesas em documentação, bem como com a Emater local, que vacina os animais no tempo certo, e não somente em época de feiras. Ele afirma que existem mais de 300 raças de galinhas, mas se dedica apenas às raças New Hampshire, Light Sussex, Leghorn Italiano e Plymouth Rock Barred.
Plymouth Rock Barred
VANDERLI RODRIGUES MARTINS
Em 2011, uma fêmea Plymouth Rock Barred sagrou-se Grande Campeã Adulta da raça na 34ª Expointer, trazendo para Santa Vitória e para Martins mais um troféu para a estante que já está cheia deles. Ainda este ano, ele participa da exposição agropecuária do município com 30 exemplares de seu aviário.
Light Sussex
Leghorn Italiano
preMiaçÕes do aviÁrio santa Bela 2007 Reservada Campeã Aves Fêmeas na 76ª Expofeira de Santa Vitória do Palmar
2010 Reservada Bicampeão Machos 79ª Expofeira de Santa Vitória do Palmar
2008 Grande Campeão Machos na 77ª Expofeira de Santa Vitória do Palmar
2011 Grande Campeã de Esteio Fêmeas na 34ª Expointer
2009 Grande Campeão Machos na 78ª Expofeira de Santa Vitória do Palmar 52 | Bons ventos
a terapia da aviCultura Diana Soares Munhoz começou a criar aves em 2007 como uma atividade extra e como uma renda complementar para a família. Até se tornar uma de suas paixões. A avicultura foi, também, uma terapia para o câncer de mama diagnosticado em 2008, e para o qual vem fazendo tratamento. Seu marido Marco Antônio Teixeira Munhoz, que é caminhoneiro, não tem dúvidas que a criação de aves ajudou Diana a enfrentar a doença. O Aviário Santa Bela, que fica nos arredores de Santa Vitória do Palmar, quase no fim da Avenida Campos Neutrais, em apenas quatro
anos já obteve diversas premiações. Atualmente tem 14 exemplares de raça e só cria animais New Hampshire, que ficam em gaiolas separadas do resto da criação. Ela gasta o preço simbólico de R$ 3 para anilhar cada animal. Este ano pretende levar 14 exemplares para exposição do município. Diana e o marido já foram até a exposição uruguaia do Prado, em Montevidéu, uma das mais tradicionais da América Latina. “Fomos para adquirir experiência”, conta Denise afirmando que o grande campeão do Prado era da raça New Hampshire.
New Hampshire DIANA SOARES MUNHOZ
Fontes: Http://pt.WiKipedia.org/WiKi/ aviCultura Http://galistas.Blogspot.CoM
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alexandre teixeira
HortiFrutiCultura
mudança de háBitos eLeVA cOnSUMO PREOCUPAÇÃO CADA VEZ MAIOR DA POPULAÇÃO COM A SAÚDE ESTIMULA CONSUMO DE FRUTAS E VERDURAS E FAZ CRESCER ÁREA DESTINADA AOS HORTIFRUTIGRANJEIROS
EDUARDO VIEIRA
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c
om uma economia baseada principalmente na orizicultura e na pecuária de corte, os produtores santa-vitorienses estão cada vez mais buscando a diversificação. Com isso, fruticultura e, especialmente, a horticultura se apresentam como boas opções e têm conquistado seu espaço nos férteis campos do município. “Estamos tentando fomentar a produção de hortifrutigranjeiros, que vem apresentando sinais de uma retomada no município. Temos cerca de 30 pequenos produtores, todos nos arredores da cidade, no entanto a maior parte do que se consome ainda vem de fora”, explica Miriam Farias, extensionista da Emater de Santa Vitória do Palmar. Ao contrário dos demais produtores, que mantém outras fontes de renda, Eduardo Vieira hoje vive exclusivamente da produção de frutas, legumes e hortaliças, que comercializa
em aproximadamente 50 pontos de venda no município. Ele conta que a família está há mais de 100 anos na atividade, sendo que seus três filhos optaram por seguir seus passos, trabalhando junto com ele e a esposa na área de 10 hectares que arrendam próximo ao pórtico de entrada da cidade. Ali, eles cultivam alface, couve, ervilha, fava, pepino, abobrinha, batata doce, milho verde, tomate, cenoura, acelga e brócolis, entre outros, além frutas como pêssego, ameixa, uva, laranja, limão e maçã. Só com melão e melancia a área plantada chega a 2,5 ha, com uma produção média de 50 toneladas/ano. Além disso, são 7,5 mil pés de morango, cultivados sem defensivos químicos. “Nas demais culturas, procuro também usar o mínimo possível de agrotóxicos, só quando é extremamente necessário, dando preferência à adubação orgânica”, conta o produtor.
Segundo ele, a demanda é tão grande que poderia facilmente duplicar a área plantada. No entanto, por falta de mão de obra especializada, prefere aprimorar o trabalho visando aumentar a produtividade e a qualidade do que cultiva. Vieira ressalta que a ampla discussão oportunizada pela mídia sobre os benefícios dos hortifrutigranjeiros para a saúde vem estimulando cada vez mais o consumo destes produtos. “Todo mundo está cada vez mais preocupado com a saúde, isso vem mudando a cultura e o hábito alimentar das pessoas, que estão consumindo mais frutas e verduras”, observa o produtor, citando ainda o apoio à atividade oportunizado pela Emater local através de cursos de capacitação, com o repasse de informações técnicas e novidades tecnológicas.
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HortiFrutiCultura
inClusão na Merenda esColar surge CoMo alternativa para CoMerCialiZação
MIRIAM FARIAS
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Através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que obriga os municípios a adquirirem no mínimo 30% dos gêneros alimentícios que compõe a merenda escolar, preferencialmente, da agricultura familiar, os produtores de frutas, legumes e hortaliças estão tendo uma nova alternativa para comercializar sua produção. Segundo Miriam Farias, em Santa Vitória o programa abrange 26 escolas municipais, três estaduais e um Centro de Referência no Atendimento Educacional Especializado (CRAEE). De acordo com a extensionista da Emater, existe no município um grupo informal formado por 15 produtores que já está comercializando sua produção através do PNAE. “O número de produtores de hortaliças que participam do programa ainda é pequeno, já que prestamos assistência a 35 olericultores, totalizando 32 hectares. Acreditamos que a pouca participação deve-se ao fato de não haver grande produção. Assim, tudo que é produzido é facilmente vendido para o comércio local ou na vizinhança”, acrescenta. Miriam revela ainda que em 2010, as escolas municipais compraram diretamente da agricultura familiar o equivalente a R$ 6,2 mil e as escolas estaduais R$ 2,7 mil. “Este ano, até o momento, a Prefeitura Municipal já adquiriu um total de R$ 34,9 mil e as escolas estaduais outros R$ 9,6 mil”, detalha, informando que para possibilitar a venda para a alimentação escolar de produtos beneficiados, bem como uma maior oferta de produtos, está sendo criada, com amplo apoio da Prefeitura, a Cooperativa Mista dos Pescadores e Agricultores Familiares de Santa Vitória do Palmar (COOPAF), que permitirá a comercialização também de filé de peixe tanto para o PNAE quanto para o Programa Fome Zero. Além disso, ela conta que a Emater/RS - Ascar também tem forte atuação na elaboração de projetos de crédito rural, sendo que o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ) e o Pronaf Mais Alimentos beneficiaram, nos últimos dois anos, 96 produtores, totalizando R$ 3.427.937,90 - apenas na linha investimento.
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integração
troca de experiências fomenta a PROdUTiVidAde
alexandre teixeira
há mais de 30 anos, cite 73 Vem discutindo formas de melhorar a produção agropecuária em santa Vitória do palmar
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uem acha que o Clube de Integração e Troca de Experiências (Cite) é somente para pecuaristas, engana-se. Toda e qualquer cultura é bem-vinda, seja ela gado de corte ou leite, arroz, ovinos, hortifrutigranjeiros ou peixes. O objetivo de todos os Clubes é exatamente o que diz a sigla. Além de militar em outras atividades importantes no campo, como o combate ao capim-annoni – praga da campanha gaúcha –, o melhoramento das pastagens e a difusão das tecnologias utilizadas. O ex-presidente do Cite 73, o médico veterinário Luiz Carlos Fettermann, é um dos integrantes mais ativos, pois sabe dos resultados que essa integração traz: “O crescimento é visível e é muito gratificante porque a gente vê o resultado”, afirma. Ele considera a entidade muito representativa na cidade, mas acredita que já exista a necessidade de outro Clube para Santa Vitória do Palmar: “Estamos precisando de um outro Cite. Por que com um grupo muito grande é difícil de se reunir. O número ideal de produtores é 12”, sugere. Atualmente, o Cite 73 conta com 14 integrantes. A filosofia dos Cites gaúchos foi idealizada por Getúlio Marcantonio, um líder do setor rural que morreu em 2010. Marcantonio foi deputado estadual e secretário estadual da Agricultura no governo Synval Guazzelli. Era um incentivador da agricultura e pecuária no RS, e exemplo de ser humano, segundo os próprios citeanos. O lema da entidade vem da filosofia iluminista francesa e propõe a união entre os produtores, sem limitar a atividade no campo, independentemente de classe social, sempre priorizando o coletivo e buscando integrar as culturas. Os citeanos reúnem-se mensalmente em cada propriedade e costumam visitar todas elas durante o ano. “A gente discute, debate, critica e troca
experiência”, observa Fettermann, que também é conselheiro fiscal da Federacite, a Federação dos Clubes de Integração e Troca de Experiências. Na pessoa do atual presidente do Cite 73, o produtor e médico veterinário Marco Antônio Petruzzi, buscam assinar convênios com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como o Programa de Sanidade Animal, onde pretendem alcançar o patamar de melhor carne do mundo, uma vez que já possuem um rebanho livre de carrapato, contribuindo para a qualidade do produto, e também com o Ministério do Meio Ambiente, com quem iniciou o programa Boas Práticas Agropecuárias, onde fomenta a pecuária e conserva o meio ambiente. Outra vantagem que os citeanos possuem é o auxílio técnico especializado, onde podem otimizar a produção: “Os produtores tiveram um salto muito grande com os técnicos especializados”, afirma Fettermann. E isso com um custo muito baixo, pois não onera os produtores. Além de parcerias com a Prefeitura, Sindicato Rural e Emater, que também dão assistência ao grupo, que já foi eleito o Cite do ano em duas oportunidades. Fettermann tem sua produção centrada na Fazenda Baobá, que ele explica ser o nome de uma árvore africana que não para nunca de crescer. Afirma que com a participação dentro do Clube conseguiu melhorar a produtividade, sem contar que o Cite é, ainda, um grupo de amigos que se confraterniza também nas horas de lazer. E não só dentro do Cite 73, mas também com os outros clubes espalhados no RS, onde existe um entrosamento muito bom para também trocar experiências quando se encontram duas vezes por ano: na Expointer, durante a eleição do Cite do ano, e na Fenasul, em maio.
LUIZ CARLOS FETTERMANN
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energia
eneRGiA LiMPA para santa Vitória com o anÚncio da instalação de um complexo eólico, municÍpio pode ter um desenVolVimento econÔmico jamais Visto em seus 139 anos
U
J.tadeu e su rodrigues
m forasteiro que caminhe pelas ruas planas de Santa Vitória do Palmar pode estranhar a não ocorrência de ladeiras. Não existe relevo na região. A topografia é propriedade exclusiva dos mergulhões. Sem coxilhas, cerros ou acidentes geográficos. Mas o mesmo forasteiro verificará outro detalhe peculiar: que está sempre ventando por lá. Pois, antes mesmo de saber da instalação de um complexo eólico, a equipe de reportagem, que manteve estada por uma semana no município realizando entrevistas para esta revista, já comentava entre si a forte incidência dos ventos pelas ruas da cidade.
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divulgação
Se um leigo consegue perceber esta singularidade, um pesquisador da área, então, nem se fala. Assim foram realizadas pesquisas sobre os ventos frequentes da região até descobrirem que o município é um privilegiado por isto. “A medição dos ventos e as licenças ambientais vêm sendo desenvolvidas pela empresa Pampa Energia Eólica desde o ano de 2005”, afirma o diretor da empresa Luiz Gustavo Sant’Anna. A Eletrosul Centrais Elétricas S.A. teve 21 empreendimentos vencedores no 12º Leilão de Energia Nova (A-3) promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), por meio da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), 16 deles serão implantados no Litoral Sul. Os novos investimentos eólicos em Santa Vitória do Palmar e também no Chuí vão totalizar 492 megawatts (MW) de potência. Aproximadamente, serão gerados 1.000 GW/h (gigawatts/hora) por ano, energia suficiente para abastecer toda a população de Porto Alegre. O complexo eólico de Santa Vitória vai se chamar Geribatu e irá gerar 258 MW,
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energia
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já o localizado no Chuí terá o mesmo nome da cidade, e irá gerar 144MW. Os 90 MW de potência restantes serão destinados à ampliação dos parques eólicos Cerro Chato I, II e III, que já estão sendo construídos em Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai. Como a energia limpa e renovável se tornou tendência no mundo todo, haja vista a poluição e a degradação ambiental causada pelas energias não-renováveis, o Brasil também resolveu investir. E este segmento pode crescer sete vezes nos próximos três anos, saindo dos atuais 1.114 MW para 7.098 MW, em 2014. Atualmente, o país conta com 57 parques eólicos em produção e 30 em construção. O investimento totaliza R$ 1,7 bilhão. A Eletrosul será responsável pela construção e operação dos empreendimentos. “As obras, que devem durar cerca de 18 meses, terão seu início no segundo semestre de 2012. Serão instalados 201 aerogeradores que entrarão em operação no início de 2014”, diz Sant’Anna, que também é diretor da Renobrax Energias Renováveis. “Os investimentos bilionários decorrentes destes empreendimentos irão alçar Santa Vitória do Palmar e Chuí a um patamar de crescimento e desenvolvimento econômico jamais visto, sendo inimaginável até poucos anos atrás”, conclui o diretor, salientando ainda que a energia eólica possui convivência pacífica com a produção agropecuária, sendo plenamente complementar.
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Cartola
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