Moinhos Quem Diria

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MOINHOS DE VENTO 25

dicas de

Produtos e ServiรงOS

Incomuns

Clรกudia Aragรณn



MOINHOS DE VENTO

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dicas de

Produtos e ServiรงOS

Incomuns


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m 2006, quando comecei a procurar o incomum em Porto Alegre, a cidade era outra. Por razões que transitam entre o

crescimento econômico, a valorização do próprio tempo e a busca cada vez maior pelo aprazível, criamos novos hábitos de vida. E a paisagem urbana, lógico, evolui junto. Numa velocidade tão grande que a história pode, sim, ser atropelada. Não é o caso do Moinhos de Vento, homenageado neste primeiro filhote impresso do projeto Porto Alegre, quem diria – o número 1 do pocket que investiga diversas regiões da capital foi lançado em 2012. Desde o final do século XIX, quando começou a ser povoado, até agora, o bairro cresceu bastante, mas mantém o savoir-vivre que o caracteriza desde a primeira metade dos anos 1900. Na década de 1930, já se viam diversas residências elegantes próximas à praça Maurício Cardoso,t algumas delas preservadas até hoje. Como a mansão Barth, de 1927, construída na esquina das ruas Santo Inácio e Luciana de Abreu pelo arquiteto alemão que o proprietário conheceu durante uma viagem de navio. Ou outra, mais adiante, cujo dono viajou, deixando-a em usufruto dos vizinhos, somente para que eles jogassem pôquer. Além da casa preservada pelo La Ribera. Listada pelo município como bem de interesse cultural, a residência de arquitetura eclética,


que funciona como hall de entrada do prédio é um exemplo de preservação da história aliada à modernidade. Na sala principal, duas das três filhas do casal Cecília e Carlos de Mello festejaram seus casamentos. Onde foi instalado o sistema de segurança, a herdeira do meio observava, durante os anos 1950, o futuro marido passar – ali funcionava o gabinete. No mesmo ambiente, as netas aguardavam a abertura da gaveta alta, quase mágica, de onde vinham as histórias infantis contadas pela avó. E se você sair pela porta (original!) disposto a experimentar as dicas deste guia, vai comprovar que a tradição e o estilo seguem convivendo bem. Para escrever este pocket, estacionei o carro, saí a pé pelas calçadas largas do bairro e revisitei a maioria dos 25 endereços incluídos nesta edição. Outros, descobri agora, aproximando a lupa de produtos e serviços que já tinha percebido, mas ainda não havia experimentado. Na Dinarte Ribeiro, por exemplo, há uma loja escondida e cheia de bossa que produz e vende acessórios de couro up-cycling. Caminhando poucos metros, na mesma praça que marcou o loteamento da região, encontrei o café onde o cliente é recebido com uma chuva de pétalas de rosa, além do único Buffet de À La Minuta de Porto Alegre. Todos os lugares com estilo e história, tal qual o Moinhos de Vento. E todos diferentes. Cláudia Aragón



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enho certeza de que os leitores do “Moinhos de Vento, quem diria!” sabem bem o que é reciclagem. Se é que não estão, na maioria, colocando o conceito em prática. Mas

em up-cycling, você já ouviu falar? Ao contrário da reciclagem, que transforma o lixo em outro produto, o up-cycling usa os resíduos como eles são. E cria produtos de maior valor. É o conceito adotado pela PP Acessórios, que começou no apartamento charmoso de uma das donas, abriu atelier na Dinarte Ribeiro e terá, em breve, uma segunda loja em São Paulo. Usando couros que as indústrias de Novo Hamburgo, Campo Bom e adjacências não querem mais, as designers Petula Silveira e Amanda Py criam bolsas, carteiras, roupas, cintos, embalagens para vinho, porta-isso e portaaquilo cheios de estilo. Beneficiando toda a cadeia produtiva, o trabalho evita que as fábricas paguem pelo descarte. E o rio Sinos, ainda por cima, agradece. Como as bolsas são uma das maiores paixões femininas, tenho que dizer que a marca tem mais de 15 modelos interessantíssimos, daqueles que agradam às mulheres modernas. Mas o que eu nunca tinha visto são as pulseiras escravas de couro, em incontáveis cores e texturas. Como o couro é único, as peças também são, e as coleções mudam a toda hora. E se posso dar uma dica, reúna suas amigas para fazer uma visita ao espaço charmoso. Na área ao ar livre, a gente senta em sofás coloridos feitos de pallets – a sustentabilidade, afinal, mora nos detalhes.

ACESSÓRIOS E ROUPAS DE COURO Up-cycling PP Acessórios Rua Dinarte Ribeiro, 18 (51) 3095.1045 | www.ppacessorios.com.br

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a década de 70, a rua Anita Garibaldi, que liga o Moinhos de Vento à zona norte, tinha pelo menos um armazém por quadra, sempre com o nome do dono

– me lembro dos armazéns do Seu Chico e do Seu Rocha. Com a proliferação dos supermercados, não houve mais como concorrer em preço e variedade. E lá se foram o açúcar fiado, o pão de quarto que as crianças buscavam e, muito importante, o boa-tarde seguido pelo nome do cliente. Deixando exemplo pra gente que sequer havia nascido. “Conheço todos os meus vizinhos pelo nome”, me disse Gabriel Drumond de Moraes, de apenas 21 anos, que abriu com Arthur Bolacel e Honório Dias, de 22, o pequeno Mercado Brasco. Criados em Uruguaiana, São Luiz Gonzaga e Bagé, respectivamente, os estudantes de administração viajaram juntos para Londres e decidiram, na volta, trazer para a vizinhança aquilo que, no interior, ainda se chama de bolicho, onde os moradores do bairro encontram de tudo. Com a alegria, a tecnologia e a estética de agora. Em plena correria do Moinhos de Vento, os moços vendem do cacho de bananas à espumante, do litro de leite às medialunas uruguaias, do sal de última hora à geleia chique. Sem esquecer nunca que estão ali para ajudar. No dia desta entrevista, enquanto preparava meu Sandubrasco (você escolhe os ingredientes entre verduras, frios e outros itens à venda no local), Gabriel parou tudo para ajudar uma mãe com bebê a carregar as sacolas. Em breve, os sócios querem criar uma conta mensal digital. A tele-entrega é feita a pé. E para que ninguém perca o gosto reconfortante de pão quentinho, colocaram na fachada do mercado um painel eletrônico dizendo quantos minutos faltam para sair a próxima fornada. Depois de colocar a massa no forno, Capitão Antônio, o padeiro, aciona a contagem regressiva por wi-fi.

ARMAZÉM COM CONTAGEM REGRESSIVA PARA O PÃO mercado brasco Rua Dr. Florêncio Ygartua, 151 (51) 3573.8333 | www.mercadobrasco.com.br

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ão importa se você está lendo este texto em casa, na mesa de um café ou no banco da praça. Se não

for pedir demais, feche os olhos e tente lembrar de um cheiro que reconheceria em qualquer lugar. Pode ser de terra molhada, do bolo da sua avó ou do hotel onde passou sua noite de núpcias. Pois se essa noite aconteceu em Gramado, Buenos Aires, Salvador, São Paulo, Natal, Vitória, Caxias do Sul, Búzios, Bento Gonçalves, no interior de Rondônia ou aqui mesmo, em Porto Alegre, há boas chances de sua casa ganhar exatamente o mesmo perfume. Na Perfumum Bue, qualquer mortal pode comprar os aromas de hotéis que existem em oito estados brasileiros e na capital portenha. Franquia de uma marca argentina, a loja tem os cheiros dos hotéis Sheraton, Blue Tree e Açores Premium, todos na capital gaúcha. No mesmo expositor, também ficam os aromas de 10 hospedagens bacanas da região da nossa serra, como Casa da Montanha. Alguns também existem em versões para a roupa de cama e para o carro. Com um detalhe bem bairrista: apesar de todas as fórmulas serem criadas em Buenos Aires, foi aqui que surgiram os primeiros produtos voltados à identidade olfativa.

AROMATIZADORES COM PERFUME DE HOTEL Perfumum Bue Rua 24 de outubro, 435, loja 5 (Galeria Champs-Élysées) (51) 3388.7578 | www.perfumumbue.com

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o meio da década de 90, levei um amigo senegalês para conhecer Porto Alegre. Mas apesar de ser filho de embaixador e arquiteto formado pela UNB (Universidade de

Brasília), Jean Pierre recebeu olhares preconceituosos. Já no ano passado, uma senhora de vestes e feições africanas era vista com admiração num shopping da cidade. Ponto para nós, que evoluímos como seres humanos. Ou seria apenas a globalização da estética africana? Seja pela razão que for, o fato é que existe em Porto Alegre uma loja especializada na arte do segundo continente mais populoso do planeta. Comandada por Nelson Poy e atendendo com hora marcada, a Kaya Kwanga reúne um sem-fim de peças feitas em Burkina Faso, Togo, Gana, Tanzânia, Mali e Etiópia, só para citar alguns exemplos. Para enfeitar pequenos ambientes, tem minimáscaras que as etnias Fang e Púnu prendiam no braço, como identificação, na hora de atravessar fronteiras. Se você quiser colorir a casa usando uma peça toda forrada de miçangas, a loja tem as maravilhas nigerianas da etnia Yoruba – preste atenção na poltrona que já saiu na Vogue francesa e na coroa azul que virou escultura de mesa. Como tudo que é vendido na Kaya Kwanga, ambas demoraram meses para chegar ao Brasil.

ARTE E OBJETOS AFRICANOS Kaya Kwanga African Art Rua Barão de Santo Ângelo, 489 (51) 3311.7723 e 9994.3111 | www.kayakwanga.com

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uando foram construídas, na década de 30, as casas geminadas da rua Félix da Cunha serviam de moradia para operários.

Hoje, dão lugar a um punhado de lojas chiques, mas o trabalhador brasileiro continua tendo algum protagonismo no local. No final de 2011, abriu ali a Histórias na Garagem. Na garagem, porque a loja ocupa uma garagem mesmo. Histórias, porque todos os produtos foram produzidos por comunidades muitas vezes esquecidas, com desenhos sugeridos por designers profissionais. No espaço de 50 metros quadrados, as arquitetas gêmeas Tina e Lui vendem, por exemplo, bolsas feitas com redes de pescar camarão que iriam direto para o lixo – uma delas foi notícia na revista Vogue. Com a linha Lã em Casa, a gente entende que o produto das ovelhas é mais versátil do que sempre disseram – há cachepôs, fruteiras e até lustres feitos com o material. E se você ainda insiste que a tradição não pode ser melhorada, preste atenção no teto. Criada pelas irmãs designers, o lustre de palha consegue ser bem moderno.

ARTESANATO COMUNITÁRIO COM DESIGN Histórias na Garagem Rua Félix da Cunha, 1167 (51) 3237.2353 | www.historiasnagaragem.com

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e você não viveu a cena, já viu alguém vivendo: na mesa do restaurante, só uma pessoa quer beber vinho. E parte

para o cardápio de taças, geralmente reduzido, se não com um rótulo só. Ela que aceite as opções da casa, geralmente bem comuns – não dá, afinal, para desperdiçar bebidas de primeira linha, sem saber se alguém mais vai tomar. Ou não dava. No coração do Moinhos de Vento, há o que, em outros países, chamam de wine bar – mas que nós, brasileiros que somos, podemos chamar de Bar de Vinhos. Ocupando um casa de clima intimista que também é loja e bistrô (eles servem almoço, jantar e até café no meio da tarde), a Vinum Enoteca consegue oferecer vinho em doses de 3 tamanhos. A menor, de 25 ml, se resume a dois goles, só pra gente conhecer. A média, com 75 ml, vai até a metade de um cálice grande. E quem quiser continuar no mesmo paladar, pede a taça inteira, para acompanhar toda a refeição. “O vinho tem que sair do altar e ir para a mesa”, me disse Junior Maroso, sommelier e Relações Públicas da casa, que muda os rótulos da máquina a cada 10 dias. No dia da nossa última visita, era fácil provar, por menos de 5% do valor da garrafa, o tinto Cheval des Andes, produzido pela chiquérrima LVMH (Moët Hennessy • Louis Vuitton S.A.). E se você for degustando um rótulo aqui, outro ali, pode, enfim, descobrir do que gosta mais. Para, quem sabe, adotar o hábito do seu avô, aquele que viveu até os 100 anos: no almoço e no jantar, não pode faltar uma (e só uma) taça de vinho.

BAR DE VINHOS Vinum Enoteca Rua Marquês do Herval, 52 (51) 3395.4597 | www.vinum.com.br

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m seu “Dicionário de palavras e Expressões Estrangeiras”, Luís Augusto Fischer esclarece uma dúvida comum: qual o significado de À La Minuta? Segundo o escritor e

Doutor em Letras, o termo francês quer dizer “a cada minuto, na hora que o freguês quiser”. E parece que nenhum outro restaurante em Porto Alegre entendeu tão bem o conceito. Ao meio-dia, fui conhecer o Bistrô do À La, que não tem nada de árabe, mas oferece , até onde sei, o único buffet de à la minuta da cidade. Além de mesinhas na calçada, em frente à praça Maurício Cardoso. “No outro restaurante que tivemos, a gente servia à la minuta três vezes por semana. E era o que mais saía. Quando viemos pra cá, resolvemos fazer só isso”, me explicou Guiarone Clóvis Correa, que divide a sociedade com a nutricionista Eliane Nery. De segunda a sexta, sobre balcões refrigerados, eles repõe durante três horas e meia 12 tipos de saladas, oito sobremesas caseiras e claro, as estrelas do almoço: bife, arroz, feijão, farofa, batata e ovos fritos. A cada dia, a casa que também tem mesas no quintal serve 200 refeições – ou 375 (!) bifes. E olha que não é filé mignon. Porque comida caseira boa não precisa ter a carne mais cara, só bom tempero e conhecimento de causa. Fora a alegria de quem serve – coisa que Clóvis distribui freneticamente. Apesar de ser, como ele mesmo diz, ligado no 220W, o homem que comanda o caixa não quer saber de comanda. Pergunta o que a gente comeu, faz alguma brincadeira e passa a conta na mesma hora.

BUFFET DE À LA MINUTA Bistrô do À La Praça Maurício Cardoso, 53 (51) 3222.3278

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que é ser nobre para você? Ter sobrenome de um quilômetro? Ou sacrificar a vida em nome de um ideal? Para Claiton Franzen, é simplesmente ter bons

sentimentos. E foi para celebrar esses bons sentimentos que ele começou, em 2003, a receber seus clientes de um jeito curioso. É só ocupar as mesas da calçada ou do salão do Dometila Café para ganhar, antes mesmo de fazer o pedido, uma chuva de pétalas de rosas. “Quero lembrar a nobreza de cada pessoa”, me disse o empresário, que deu à casa o nome de batismo da Marquesa de Santos – apesar de ser conhecida pelo título pouco nobre de amante mais famosa do Brasil, ela amou muito. E o amor de verdade, aquele que não sufoca, está entre os sentimentos mais louváveis. Por gratidão, outro sentimento raro no mercado (e, vá lá, por uma questão de marketing), Claiton também colocou nas cadeiras os nomes dos amigos que, há alguns anos, ajudaram a comprá-las. Gerou tantos ciúmes que outros clientes resolveram pagar para deixar suas marcas nas paredes. Entre eles, a atriz Glória Pires, que, lembrando do marido, mandou escrever Gloria & Orlando perto do balcão. E se, depois de testemunhar tanto amor, alguém ainda quiser saber de paixão, basta ler o cardápio, que tem versão em braile. Lá a gente encontra uma carta de Dom Pedro I para Dometila, falando da bela noite que tiveram e das rosas que lhe deu.

CAFÉ QUE RECEBE CLIENTES COM CHUVA DE PÉTALAS Dometila Café Praça Maurício Cardoso, 49 (51) 3346-1592

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embro de quando, morando em São Paulo, notamos a Serra da Cantareira na cena de 17 andares da nossa sacada. Prometemos em família ir até lá. E fomos. Não sei, confesso,

se a subida valeu tanto a pena, mas serviu para saber que a maioria dos nossos amigos paulistanos nunca tinha ido até lá. É que forasteiro precisa reconhecer terreno. Já o nativo, perde a curiosidade. Talvez por isso, três dos quatro jovens do Free Walk Poa, que oferece caminhadas pelo bairro Moinhos de Vento, não sejam da capital. E contem com entusiasmo as histórias públicas e privadas de suas ruas, pessoas, casos e casas. Em um sábado à tarde, encontrei Thiago Goss, André Flores, Cristiano Rickmann e Bernardo Pereira mais 20 pessoas da Colômbia, do Japão, da Coreia e daqui mesmo, na Caixa D´Água da 24 de outubro, inspirada nos jardins de Versailles. Em duas horas, parando em 11 outros pontos, o quarteto contou, por exemplo, sobre o casarão que um morador endinheirado cedeu aos vizinhos só para jogarem pôquer. Ou da escadaria da residência onde Margit, protagonista do famoso Caso Kliemann, caiu morta, sem que jamais descobrissem o assassino. Inspirado em atividades voluntárias já comuns na Europa, o trotoir passa pela avenida Mostardeiro e pelas ruas Florêncio Ygartua, Luciana de Abreu, Santo Inácio, Barão de Santo Ângelo, Dinarte Ribeiro, Tobias da Silva, Félix da Cunha, 24 de outubro e Comendador Caminha. Nas praças Júlio de Castilhos e Maurício Cardoso, também dá um tempo para contar histórias. E até pra mim, que trabalho cruzando a cidade, respondeu à algumas perguntas. Como a de quem vive na mansão neoclássica que chama meus olhos há 20 anos. Erguida com a ajuda de artesãos italianos, a casa ainda abriga herdeiros do estancieiro que a comprou do empresário endividado Brasil César, em 1936. Um deles deve ser o homem que vi certa noite pela janela da casa, lendo sob a luz direcionada de um abajur. Na minha imaginação, ali fica a biblioteca.

CAMINHADA COM HISTÓRIAS PÚBLICAS E PRIVADAS DO BAIRRO free walk poa www.freewalkpoa.com

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egozijai-vos, órf ã o s d o R i b ´s. O c a r d á p i o da lanchonete que fez história em Porto Alegre sobrevive. De p o i s q u e o n e g ó c io fechou, deixando pra trás uma

multidão de apetites. Três exgerentes da casa compraram parte dos equipamentos, contrataram alguns funcionários da cozinha, mantiveram certos fornecedores e abriram a The Best Food. “Vamos montar um Rib´s com outro nome!”, bradou Sidenir Ferreira, um dos donos. E foi exatamente o que os sócios fizeram. No cardápio, apesar dos apelidos serem diferentes, você encontra as ressurreições do Cheese Goleiro, rebatizado de cheese peito de frango; e do prato Independência, acompanhado daquele histórico pão de sanduíche com molho rosê – agora, ele se chama The Best. Para beber, peça o milk-shake que adoçou muitas tardes de domingo nos anos 80. A máquina, os sabores e alguns fãs são os mesmos. Segundo Sidenir, tem gente que recebe o pedido, experimenta e diz que está voltando anos atrás.

CARDÁPIO DO RIB´S The Best Food Avenida 24 de outubro, 1320 (51) 3337.7761 | www.thebestfood.com.br

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fotos: Vanessa Bohn


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eem a explicação que derem, seja ou não econômica, mas o fato é que nunca, como hoje, ouvimos tantos sotaques diferentes pelas ruas de Porto Alegre. E

nem é ir preciso até o Iberê Camargo ou outro ponto turístico para conferi-los. Que o comprove a quantidade de estrangeiros morando e empreendendo na cidade. Como o catalão Xavier Gamez, proprietário do Xavier 260, onde encontramos duas características incomuns. Mais do que restaurante, a casa bem decorada é um laboratório gastronômico. Para completar, recebe com portas fechadas, apenas nas sextas e sábados, exclusivamente para quem faz reserva. E gosta de ser surpreendido – é o chef quem decide o único cardápio da noite. Pesquisador daqueles de bancada e nascido em Embordà, na Costa Brava, Xavier chegou à capital em 2009, como executivo de uma multinacional farmacêutica. Em 2010, conheceu Tamara, a esposa gaúcha. E agora, faz experiências em panelas. Na cozinha onde mede gostos e temperaturas, o cozinheiro-cientista criou, por exemplo, os míniovos perfeitos e vários pratos com Bochecha de Gado. Difícil foi encontrar um açougue que fornecesse o corte diferente, mas ele conseguiu. E a gente faz questão de publicar o veredicto: além de macia, a carne é deliciosa.

CHEF CATALÃO QUE RECEBE DE PORTAS FECHADAS Xavier260 Rua Auxiliadora, 260 (51) 3273.0551 | www.xavier260.com

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evante o dedo quem conhece algum cinema com lareira – mesmo que ela nunca seja acesa. Porque a reportagem de Porto Alegre, quem Diria! não conhecia. Até conferir o

Instituto NT de Cinema e Cultura, que tem um charme especial: ocupar a residência de Armando Boni, construtor do Palácio Santo Meneguetti (mais conhecido como Palacinho) e do antigo auditório Araújo Vianna. Inaugurada em 1922, a casa tombada pelo patrimônio histórico tem dois andares. Embaixo, na mesma sala onde a família viveu os momentos mais íntimos, o visitante assiste a filmes europeus. No pátio, aproveita o café, com bebidas e petiscos. Já no piso superior, encontra o ambiente mais glamouroso. Mediante consulta, você pode conhecer a sala decorada para o casamento da primogênita de Boni, em 1947. De acordo com a quarta filha do italiano, Amarilli Boni Licht, nascida e criada no lugar, a pintura das paredes imita a seda das cortinas que seu pai mandou trazer da Europa.

CINEMA COM LAREIRA EM RESIDÊNCIA HISTÓRICA Instituto NT de Cinema e Cultura Rua Marquês do Pombal, 1111 (51) 3361.3111 | www.institutont.com.br

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izem que as mulheres não se vestem para os homens, mas para as outras mulheres. Pode até ser verdade, mas nos vestimos para nós mesmas. Assim nos percebemos

confiantes. E, confiantes, ficamos realmente mais bonitas. Mesmo que a roupa não apareça. Que o digam as clientes das 41 lojas Outlet Lingerie, espalhadas por 15 estados brasileiros, cujo nome já descreve o produto. E que abriu, recentemente, seu o primeiro ponto de venda em Porto Alegre, oferecendo grandes marcas com descontos permanentes de até 70%. “No total, temos 4.500 itens”, soma a empresária Fernanda Hofmann Appollo, cliente fiel da marca em São Paulo, onde morou até o final de 2012. Lá, ela circulava livre pelas araras nas quais calcinhas, sutiãs, corpetes, cintas-liga, camisolas, baby-dolls e outros fru-frus mulherzinha são divididos por cores. E que oferecem, na mesma cor, vários modelos da mesma peça. Tanto que é difícil contar, por exemplo, quantos tipos de calcinhas brancas existem. Só para um sutiã floreado, de padrão bem menos comum, Fernanda me mostrou 4 partes de baixo combinantes – uma com renda, outra lisa; esta bem-comportada, aquela com tiras fininhas na lateral. Porque o conceito da loja, está lá no site, é montar o próprio conjunto – que, aliás, tem preço menor por ser de coleções passadas. E apesar disso continua fazendo bonito. Como dizia minha avó, dona de uma simplicidade elegante: nunca saia de casa com uma calcinha feia, minha filha! “Vá que te atropelem e alguém, deus o livre, te veja malvestida no hospital”.

LINGERIES DE GRIFFE COM DESCONTOS PERMANENTES Outlet Lingerie Rua 24 de Outubro, 541 (51) 3516.7842 | www.outletlingerie.com.br

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olta e meia, aparece alguma moda relacionada ao chá. É chá verde pra cá, chá branco pra lá, fora as

expressões que usam a palavra – quem nunca tomou um chá de banco, foi chá de pera ou deu uma colher de chá para o amigo atrapalhado? Pois no Brasil, apesar de perder de longe para o café, o chá vem ganhando cada vez mais adeptos. Vide o surgimento recente, em São Paulo, de várias casas onde a bebida é a estrela maior. Já aqui, em Porto Alegre, os tais chás gourmets, bem diferentes daqueles de saquinho, podem ser encontrados na Loja do Chá – na verdade, a continuação de uma loja que ficou 12 anos no shopping Iguatemi e que pouca gente sabe onde foi parar. No dia desta reportagem, a prateleira tinha mais de 100 caixas de metal, cada uma com um blend diferente. Só de chá verde, havia 24 aromas – incluindo os superstars chineses Gyokuro, cuja plantação é protegida por tecidos negros, e Jasmim Pearl Phoenix, em forma de pequenas pérolas. Além do elegante Puerh, oriundo da china, prensado como um pequeno ninho, que quanto mais velho for, mais caro fica. E se você acha que essa dica serve só para o inverno, é bom rever seus conceitos. Profunda conhecedora do assunto, a dona da casa, Tânia Klemt, ensina a fazer chá gelado, água aromatizada e chá com espumante. Nesse caso, os pedacinhos de folhas, frutas ou ervas dançam com as bolhas.

LOJA DE CHÁS GOURMETS Loja do Chá Rua 24 de Outubro, 1280, mezanino (51) 3328.3313 | www.lojadocha.com.br

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o ano passado, nem lembro por que, perguntei a uma jornalista especializada em agronegócios quais eram as frutas típicas do frio. Até ela titubeou.

Simplesmente porque não existem mais frutas de inverno. Com a tecnologia aplicada à lavoura, os supermercados vendem morangos o ano inteiro. Mas e se você quer se alimentar com produtos sem aditivos? Vai à feira de orgânicos, provavelmente. E enfrenta as panelas, obrigatoriamente. Ou enfrentava. Em 2012, abriu em Porto alegre a franquia de uma loja paulistana que começou fazendo somente comida orgânica para bebês – vem daí o nome Empório da Papinha –, mas que, hoje, também atende adultos. Garantindo ser a primeira loja porto-alegrense de comidas 100% orgânicas certificada pela Anvisa, o espaço tem mesmo um apelo infantil, com balanços feitos de pneus coloridos logo na entrada. Nos freezers de temperatura obsessivamente controlada, ficam cinco tipos básicos de alimentos: frutas, sopas cremosas, sopas com pedaços, pratos para serem combinados (um de arroz e outro de feijão, por exemplo) e a linha family, mais gourmet. Para escrever este texto, experimentei o penne com molho branco que foi batizado de Caruzzi. Pra quem não está com muita fome, dá e sobra. E se você tiver filhos, eles podem ter a mesma surpresa que os meus, acostumados a ver a mãe experimentando coisas bem estranhas. Mas nenhuma, até então, classificada como papinha.

LOJA DE COMIDA ORGÂNICA CONGELADA Empório da Papinha Rua 24 de outubro, 79 (51) 3095.2888 | www.emporiodapapinha.com.br

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ão precisei tocar a campainha para entrar na casa do século 20 que fui conhecer não faz muito. Por coincidência, a dona estava chegando, e passamos juntas pela

porta principal, de ferro trabalhado. Como era comum na primeira metade do século passado, o corredor curto distribui caminhos para a escadaria de madeira e os cômodos do térreo. Tudo, hoje, ocupado pela Casa de La Madre, aquela que funcionava na Tobias da Silva. Pra quem não sabe, a loja que nasceu para vender objetos com aconchego de lar cresceu. Mudou de endereço. E mostra como nunca seu objetivo principal: abrigar uma grande família. Junto com a amiga de infância Vanessa Scliar, a criadora da Casa de La Madre, Valéria Nieto, inaugurou em abril de 2013 o que poderia ser chamado de Mansão de La Madre – não, o nome não mudou, mas as acomodações aumentaram bastante. Em 250 metros, reúne vários talentos. Logo na entrada, ocupando o que deve ter sido a sala de estar e a garagem, fica o chamado Roupeiro da Casa, quase um closet aberto. E se você fizer como vizinho curioso, aquele que quer conhecer cada canto da moradia, não vai se arrepender. Antes de chegar no pátio, encontrei os mimos para casa que Carol W e Clarissa Motta Nunes, entre outros artistas, desenvolveram com a ajuda de Valéria. Com mais alguns passos, você chega no café (mas pode chamar de cozinha), comandado por Teresa de Luca, ex-Torta de Sorvete. Se delicie ali mesmo ou junte os amigos no pátio. Uma das vantagens de viver em casa é ficar sob o céu com quem a gente gosta.

LOJA DE OBJETOS E ROUPAS COM CAFÉ E PÁTIO Casa de La Madre Rua Coronel Bordini, 729 (51) 3072.0444 | facebook.com/casadelamadre

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uando comecei a procurar o diferente de Porto Alegre, Mirtilo era raridade – tanto que publiquei no meu primeiro guia onde comprá-lo. Agora

a fruta tem até loja especializada. É verdade que os freezers da Casa do Mirtilo também oferecem amoras, framboesas, morangos e physalis inteiros, mas o nome do negócio não deixa dúvidas sobre sua origem. “Minha esposa, que é nutricionista, sempre foi uma entusiasta do mirtilo”, me disse Mauro Falcão Lisboa, que passou um bom tempo usando o espaço da loja, no térreo de um centro comercial, só para guardar a mercadoria – os clientes pediam por telefone, e a vitrine, inútil, era forrada de papel pardo. Com a abertura das portas para o público, as razões para comprar as embalagens congeladas de 1kg também se multiplicaram. Antes de fazer a entrevista, eu já havia decidido levar mais de um pacote para casa e tomar suco fresco, daqueles bem espessos, no final de semana – com um mixer, a gente faz misturas diferentes direto no copo. Enquanto conversava com o dono, uma senhora chegou interessada em cozinhar coberturas de doces. Outra queria testar as propriedades antioxidantes do mirtilo. E o homem que pediu physalis, a tal frutinha que lembra o butiá, pretendia dá-las aos peixes. Esse uso, nem Mauro conhecia, mas um amigo do cliente garantiu: não há melhor isca para pescar carpas.

LOJA ESPECIALIZADA EM FRUTAS VERMELHAS casa do mirtilo Avenida Goethe, 38, loja 6 (Galeria Goethe) (51) 8118.0123 e 3209.2434 | www.casadomirtilo.com.br

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igam o que disserem as feministas, falem o que falarem os libertários. De acordo com O último Censo do IBGE, entre 2009 e 2010, o número de casamentos

aumentou 4,5% no Brasil. E se formos analisar a década anterior inteira, o crescimento foi de quase 35%. Entre as razões, estão o acesso mais fácil aos serviços da justiça e até a oferta de cerimônias coletivas. Mas que a celebração nunca saiu de moda, não saiu. O que mudou, no máximo, foi a forma de comemorar. E os detalhes planejados por cada casal. Que o digam as clientes da Maison Marriage, casa especializada em criar e vender produtos para casamentos. Alertada por um post no facebook, entrei no site da loja de Lisi Lisboa de Santa Helena. Depois, ao vivo, encontrei mais do que esperava. Com o clima provençal que caracteriza o ramo, o espaço comercializa mimos prontos e sob encomenda. Os prontos, na maioria, vêm do exterior. Como os adesivos de cristal “eu aceito” ou “ela é minha” (em inglês) para colar nas solas dos sapatos dos pombinhos, enquanto eles se ajoelham no altar. Ou, muito bem pensado, o arroz em forma de coração, feito de farinha – os grãos se desmancham e ninguém corre o risco de levar um tombo. Na lista dos produtos sob medida, a Maison vende, por exemplo, os lencinhos de papel “Não segure suas lágrimas”, que todas as mulheres recebem na Igreja. Mas o que mais faz sucesso é o cabide personalizado, cujo fio de metal vai sendo torcido e retorcido, até formar frases curtas. E se você tem dúvidas do “felizes para sempre”, seja precavido, encomendando um cabide com o próprio nome – casar é uma delícia, deixar de ser você, jamais.

LOJA DE MIMOS PARA CASAMENTOS Maison Marriage Rua Barão de Santo Ângelo, 166, loja 2 (51) 3237.4050 | www.maisonmarriage.com.br

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tia mais querida que tive não era minha. Filha renegada de pai rico e órfã de mãe pobre, foi adotada menina, estudou em internato e lia, durante noites

escondidas, o que as freiras não queriam que ela lesse. Assim, letrada, bonita e já moça, foi fotografada na plateia da reitoria, com sua classe em preto e branco. E até hoje admiro aquele rosto naturalmente clássico, decorando meu aparador. Porque tem gente que nasce elegante. Como a carioca Vera Bahia, dona de uma loja de roupas que têm, necessariamente, duas características: marcas famosas (algumas estrangeiras, tipo Prada ou Marc Jacobs) e nenhum (ou praticamente nenhum) uso. “É aquela peça que você comprou, nunca usou e deixou no armário”, explica Vera, apesar de grande parte dos produtos vir de São Paulo, onde são garimpados por uma estilista. No ambiente de 40 metros quadrados, fora o andar de cima, encontrei vestidos que, tenho certeza, causariam furor no povo da moda, com preços de loja de departamento. Mas a exclusividade nem foi o que mais me chamou atenção. Batizada de Deauville Vintage, nome da vila praiana onde Coco Chanel abriu sua primeira loja fora de Paris, a casa tem boas histórias em cada canto. Na vitrine, o manequim de costureira, daqueles que são tórax de madeira, veio da França. Na parede, há várias fotos de musa francesa com seu grande amor, Boy Capel. E, do lado de fora do vidro, uma frase de Chanel, mostrando que ela e Vera, corajosas, são da mesma cepa: “Para ser insubstituível, deve-se sempre ser diferente”.

LOJA VINTAGE DE MARCAS FAMOSAS Deauville Vintage Rua Florêncio Ygartua,65 (Galeria Florêncio Ygartua) (51) 3012.4245 | facebook.com/deauvillevintage

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N

ão há dúvida de que caminhar é o melhor jeito de se conhecer qualquer cidade – inclusive a nossa. Foi caminhando, por exemplo, que descobri um jardim cheio

de estilo na rua Dr. Timóteo. Da calçada, dava para avistar bancos coloridos em forma de cachorro. E é lógico que me aproximei para espiar. Mas só depois de ir até lá, onde funciona uma loja de móveis e objetos assinados por designers famosos, confirmei que as duas casas antigas, ligadas pelo tal jardim diferente, têm coisas que ninguém mais tem para vender. Num espaço de 650 metros quadrados (sem contar a parte externa), a Maiora expõe e comercializa, para se ter ideia, peças do paulista Diego Andrez, criador de luminárias inovadoras – como o modelo Vovó, que remonta em tamanho real um corpo de senhora, vestindo roupas que o artista garimpou em brechós. No rol dos mundialmente famosos, cada vez mais cheio de brasileiros, há nomes como o de Sergio Rodrigues, que desenhou, em 1956, a cadeira onde o arquiteto Oscar Niemeyer sentou até sua morte para projetar – não por outra razão, a cadeira se chama “Oscar”. Como as peças são originais e 80% exclusivas, não dá, óbvio, para comparar os preços com lojas de varejo – em compensação, os móveis duram bem mais do que dois verões. Segundo Mariela Stock, que abriu a Maiora em 2005, quase todos os clientes são arquitetos, mas os “perdidos”, que chegam lá sem companhia profissional, são muito bem-vindos. Nem que seja para observar, como numa galeria de arte, que a palavra design, hoje tão prostituída, não define qualquer objeto diferente. Design é beleza, sim. Mas é, principalmente, arte transformada em função.

MÓVEIS E OBJETOS DE DESIGNERS FAMOSOS Maiora Design Furniture Rua Dr. Timóteo, 597 (51) 3019.8170 | www.maiora.com.br

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o

ual criança não gostaria de entrar numa casa onde a escada acaba antes de terminar, a poltrona pode ser desenhada, a parede dos fundos é

quadro negro e ser arteiro, além de permitido, é incentivado? E qual mãe ou pai, pelo menos entre os que valorizam a cultura, não se orgulhariam de ver o filho de sete anos brincando enquanto conhece e produz arte contemporânea? Pois esta é uma das dezenas de oficinas que a Lezanfan, mistura de loja e conto de fadas, oferece na rua Barão de Santo Ângelo. Ministradas, na maioria, por Tatiana Suarez e Adriana Banana, as aulas-brincadeira acontecem durante a semana e aos sábados. E a faixa etária é bem ampla – de 10 meses a 12 anos de idade. Entre as oficinas do último mês de abril, houve, por exemplo, uma dedicada à Bossa Nova, falando de Tom Jobim, Vinícius de Moraes, João Gilberto e da Garota de Ipanema. Para pitocos de até 4 anos, a Lezanfan reedita periodicamente o Circuito Mistureba e Cacaqueira – eles fazem comidinhas de mentira e, sim, a sujeira está liberada. Até setembro de 2013, quando acontecerá 9ª Bienal do Mercosul, a turma a partir dos 7 anos está sendo preparada para curtir melhor a exposição. E, como sempre, explorar ao máximo a própria criatividade. Segundo Luciana Chwartzmann, idealizadora e proprietária do espaço divertidamente cultural, o negócio, ali, é ser criança de verdade. É “aprender a pensar diferente”.

OFICINAS CRIATIVAS PARA CRIANÇAS Lezanfan Rua Barão de Santo Ângelo, 174 (51) 3072.7857 | www.lezanfan.com.br

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S

abe o amor-perfeito que nasce no seu jardim? Na floriografia, que define o significado de cada flor, ele está ligado a pensamentos ou recordações. Se for dado

de presente para alguém, demonstra amor eterno. Mas pode, sim, alimentar o corpo – e não só o coração. No cardápio da Fornellone, dependendo da época, há um sabor de pizza que traz a flor sobre mozzarella, salmão, azeitonas pretas e catupiry. Multicoloridas, as pétalas são as mesmas que qualquer pessoa tem no pátio, com uma diferença: jamais entraram em contato com agrotóxicos. Segundo Emerson Rosas, um dos sócios da casa, nenhum cliente deixou de pedir a pizza por estranhar o ingrediente – ao contrário. E se o gosto é quase imperceptível, a lembrança não vai embora tão cedo. Quanto mais a gente vive, mais tem certeza de que novas experiências são rejuvenescedoras.

PIZZA COM FLORES Fornellone Avenida Nova York, 93 (51) 3028.7575

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E

u sei que já se falou bastante do Chicafundó. E esta jornalista, nada. Porque quando deixou de funcionar no apartamento da dona, o restaurante parecia ter perdido o

inusitado. Mas foi, confesso, pura miopia minha. Em 2012, conseguimos almoçar na casa comandada pela mezzo chef, mezzo administradora, Elisa Prenna. Já na entrada, dá pra perceber que tudo tem cheiro de casa. E não só porque alguém morou ali. Para começar, tem o ambiente. Além de ocupar os fundos e o pátio lateral, o Chicafundó usa móveis e objetos de segunda mão, muitos herdados de clientes. Onde era a cozinha original, a gente encontra uma máquina de datilografia e a placa que sugere, firme: sente e escreva! E se a decoração brejeira não o convencer por completo, espere pelo atendimento, feito não por garçons, mas por um grupo de amigos. Acomodados na sala onde frequentadores fiéis têm fotos na parede, ganhamos nossa garrafa de água potável – assim, simples e grátis. Outras bebidas, fica mais divertido pegar pessoalmente no freezer. Se não tomar tudo, a garrafa volta para a geladeira com o nome do cliente, cuja inicial, por critérios de afinidade, pode ser estampada em um guardanapo de pano. E antes que o texto termine, contamos o que seu paladar está querendo saber: sim, a comida combina deliciosamente com tudo. Não é arroz com feijão, lógico. Mas não tem frescura.

RESTAURANTE PARA SENTIR-SE EM CASA Chicafundó Rua Cel. Bordini, 232, loja A (fundos da Refúgio Urbano) (51) 3028.6091 | www.chicafundo.com.br

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C

omo você chama a comida que leva peixe cru por cima, tem a lateral coberta por gergelim e dá para traçar inteira numa mordida só? Sushi, provavelmente. No

máximo, uramaki, que é o sushi do avesso. Mas neste caso, a gente garante: não é uma coisa, nem outra. Em uma galeria da rua 24 de outubro, você encontra o minissanduíche oriental, que tem o formato e quase tudo que o sushi tem – menos o arroz. No lugar do ingrediente mais comum dos restaurantes japoneses tradicionais, a dona do negócio e exshushiwoman, Ana Paula Mundstock, usa uma versão mais leve do mantou – pra quem não liga o nome à coisa, aquele pão chinês úmido e pesado, cozido no vapor. Enrolado, o pão é cortado em rodelas. Sobre as rodelas, já que não deixa de ser sanduíche, vai uma e pequena fatia de queijo. E a cobertura, tanto quanto os nomes, não poderia ser mais oriental. No cardápio, há seis minissanduíches de salmão – o Skin, de pele de salmão; o Sashimi, de salmão cru; pasta de salmão e o Spicy, de salmão cozido. Já o sabor Ebi leva camarão; o Thai, filé apimentado; e o Kani, kanikama. Fora os sanduíches grandes, do tamanho de um hambúrguer. De acordo com Ana, que inventou o sanduíche oriental quando estava com fome e tinha poucos ingredientes na geladeira, nenhuma outra casa no Brasil produz receita igual, ainda mais em tantos sabores. Não por outra razão, na hora do registro, a marca soou estranha: “como um sanduíche, receita que nasceu na Inglaterra, poderia ser oriental?”.

SUSHI SEM ARROZ Sanduíche Oriental Rua 24 de outubro, 955, loja 5 (51) 3072.1020 | www.sanduicheoriental.com.br

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E

xistem muitas explicações para o surgimento das Tapas – para quem não sabe, aquelas pequenas porções de pão com alguma cobertura salgada (os chamados montaditos)

ou petiscos espetados em palitos batizados de pinchos. A história mais comum diz que as tapas foram criados na Andaluzia do século XIII, para tapar copos de jerez, protegendo a bebida das moscas. Outra, mais detalhada, fala que tudo começou por causa do Rei Alfonso X – seu serviçal teria colocado presunto sobre uma taça, e o nobre, adorado a ideia. O certo é que as tapas, de origem simples, caíram na graça das classes mais altas. Como o Season Global Cuisine & Tapas, aqui de Porto Alegre, onde encontramos uma sequência de tapas. Comandado pelos caxienses Gabriel e Rodrigo Zanbon, que começaram lavando pratos na Inglaterra, ralaram muito para trabalhar em cozinhas renomadas, até se transformarem em chefs, a casa tem no cardápio 13 petiscos para serem comidos num pequeno prato quadrado. Cinco deles, incluídos na sequência. Para começar, Patrícia e Carina (esposas dos irmãos) trazem à mesa um pão levemente tostado de casca grossa, purê de grão de bico com gergelim e caviar de berinjela grelhada com especiarias do Marrocos. Do mesmo lugar vem a receita dos pequenos pedaços de carne de cordeiro ao molho de tomate. Em seguida, chega o queijo grelhado com salsa verde e o bolinho bacalhau com maionese picante, que desmancha na boca. Mas o que enlouquece os paladares mais calientes são as batatas bravas. Fritas em cubos, elas não negam a pimenta que têm. E se você acha que as tapas são obrigatoriamente espanholas, vai mudar seus conceitos: no Seasons, elas são inspirados em receitas árabes, italianas, até portuguesas.

TAPEO (SEQUÊNCIA DE TAPAS) Season Global Cuisine & Tapas Rua Dinarte Ribeiro, 36 (51) 3508.7781 | www.restauranteseasons.com.br

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Expediente Projeto e Execucão:

Quem Diria Conteúdo Independente

Reportagem, Textos e Edição: Cláudia Aragón

Administração: Mix Agência

Revisão:

Lia Cremonese

Fotografia:

Cláudia Aragón, arquivos pessoais e divulgação




Rua GOnรงalo de carvalho, 76/C - Floresta Porto alegre - RS - CEP 90035-170 Fone: (51) 3085.7990 - 9603.9232

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