Foto: Alexandre Teixeira
Editorial Lavras do Sul comemorou neste ano o trigésimo aniversário de sua feira de terneiros de outono, considerada uma das melhores do Rio Grande do Sul e modelo para tantos outros municípios gaúchos. O sucesso do evento, que registrou uma movimentação superior a R$ 1,6 milhão com a venda de mais de três mil exemplares, confirmou novamente sua condição como um dos pólos mais competitivos do Estado em pecuária de corte, o que vem sendo possível graças aos investimentos constantes dos produtores no melhoramento genético de seus rebanhos e aos critérios rigorosos adotados pelo Núcleo de Produtores de Terneiros de Corte, que garantem a qualidade, a sanidade e a padronização dos animais ofertados. Com uma vocação natural para a produção de terneiros, a pecuária lavrense deve tornar-se ainda mais competitiva, já que o município foi pioneiro na implantação da segunda fase do projeto Rede de Referências, dando continuidade ao processo de difusão de novas tecnologias iniciado há pouco mais de três anos, atendendo hoje outros oito estabelecimentos rurais, onde já são nítidos alguns resultados, como o melhoramento dos campos nativos. Uma ação desenvolvida em conjunto pelo Sindicato Rural, Emater, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Secretaria da Agricultura vem buscando mostrar que o uso da tecnologia é imprescindível também entre os pequenos agropecuaristas, tentando facilitar o acesso a equipamentos adaptados as suas propriedades e incentivando-os a mudarem seus sistemas produtivos, através da adoção da prática do plantio direto como forma de melhor explorar a terra. Outra atividade que promete ampliar sua participação no agronegócio local é a criação de equinos, incentivada pela oficialização do Núcleo de Criadores de Cavalos Crioulos de Lavras do Sul, cujo resultado mais visível até o momento é a ampliação do número de eventos da raça, o que deve incentivar a instalação de novas cabanhas, além de fomentar ainda mais a produção daquelas já existentes. Além disso, a partir do funcionamento das duas barragens que estão sendo construídas nos limites do município, nos próximos anos deve haver um incremento na área das lavouras de arroz, já que haverá água à vontade para irrigação, fato que deverá refletir-se também numa ampla diversificação de culturas.
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Foto: Felipe Ulbrich
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Qualidade em quantidade .............................................................................. 6 30 anos de bons negócios............................................................................ 16 Crescendo com organização ......................................................................... 20 Rede de Referência impulsiona a pecuária de corte ........................................... 24 Tecnologia é imprescindível.......................................................................... 35 Aprendendo e ensinando ............................................................................. 42 Incentivo ao agronegócio ............................................................................ 48 Entre notas, versos e rimas .......................................................................... 52 Rochas ornamentais na terra do ouro ............................................................ 54 Entrevista: Fernando Adauto Loureiro de Souza ................................................ 56 Artigo ..................................................................................................... 60
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Foto: Alexandre Teixeira
Revista Oficial do Sindicato Rural de Lavras do Sul Novembro de 2010
www.srlavrasdosul.com.br srural@farrapo.com.br Fone: (55) 3282.1256
EXPEDIENTE Diretor Executivo Henrique Borges
Jairo Nether Contato com a Redação redacao@futurars.com.br
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Editor
Projeto Gráfico Adelino Bilhalva
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qualidade em quantidade Em 2009, foram comercializados mais de 34 mil bovinos nos remates que ocorrem praticamente em todos os sábados e nas feiras de terneiros de Lavras, apontadas como as melhores do Estado Aproveitando os campos nativos abundantes na região, produzindo com responsabilidade e investindo constantemente no melhoramento genético de seus rebanhos, os pecuaristas de Lavras do Sul são reconhecidos pela produção de terneiros de alto padrão a partir do cruzamento com as raças britânicas Hereford e Angus, que são disputados por compradores de todo o Rio Grande do Sul nas feiras realizadas no outono e na primavera, consideradas as melhores do Estado atualmente. Graças aos investimentos constantes de todas as diretorias, o parque de exposições do Sindicato Rural possui também o melhor recinto de leilões gaúcho, onde em praticamente todos os sábados ocorrem remates de gado geral, organizados pelo dois escri-
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tórios locais, ambos filiados ao Sindicato dos Leiloeiros Rurais (Sindiler). Os números registrados em 2009, quando foram movimentados R$ 17,7 milhões com a comercialização de 34.319 animais, consolidam a condição do município como um dos pólos mais competitivos do Estado em pecuária de corte. “Os compradores sempre dizem que os terneiros daqui são os melhores. Além disso, nossa oferta é grande. Para quem quer quantidade, aqui tem, e com qualidade”, destaca João Souza, sócio da Clínica Veterinária ao lado de Martim Afonso e João Alberto Souza. Segundo ele, a estrutura do recinto de leilões ajuda muito, já que é moderna e todos ficam muito bem acomodados. “O pessoal de fora vem e fica impressionado”, garante.
João Souza
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Fotos: Kéke Barcellos (ilustrativa) e Alexandre Teixeira
Mercado Com cerca de 600 clientes ativos, a empresa, que está no mercado há 27 anos mantendo até hoje a formação inicial, promove cerca 30 leilões a cada ano, movimentando uma equipe de 40 pessoas em cada evento. Há pouco mais de um ano, a Clínica Veterinária optou por vender gado geral somente à vista, fato que não deixou de atrair os compradores que se deslocam à Lavras para os remates realizados aos sábados. “Eles não se importam em pagar à vista devido a qualidade dos produtos ofertados”, ressalta Souza, explicando que o objetivo agora é fortalecer a praça também através da venda de reprodutores Angus, Hereford, Braford e Brangus, realizada durante a Expo Lavras, em novembro, onde cada leiloeira tem o direito de vender 40 animais. “Temos vendido sempre praticamente toda a oferta. Apesar de ser o último remate da região, tem andado muito bem”, completa.
Um bom exemplo de que vender em Lavras é um bom negócio é o da Fazenda Santa Ubaldina, de Edelcir de Vargas Severo, lavrense radicado em Dom Pedrito, cuja propriedade está situada na divisa entre os dois municípios. Há seis anos ele comercializa sua produção na Feira de Outono de Terneiros de Corte, onde este ano ofertou 90 terneiros, dentre os quais saiu o lote mais pesado, com média de 286 quilos. “Seria muito mais cômodo vender em Dom Pedrito, mas opto por vender em Lavras por diversas razões, entre elas a experiência de 30 anos neste tipo de negócio, a excelente organização e o tratamento igual dispensa8 -
João Rafael Abascal
Fotos: Kéke Barcellos (ilustrativa) e Alexandre Teixeira
“A parceria entre os produtores, a Inspetoria Veterinária, o Sindicato Rural e os escritórios é o que garante o sucesso dos eventos, pois trabalhamos juntos, sem vaidades, para tornar Lavras um pólo cada vez mais vendedor”, emenda João Rafael Abascal, da Abascal e Borges Remates, empresa que mantém em sociedade com Ercy Labella. Em atividade há mais de 15 anos, a leiloeira promove pelo menos outros 28 remates a cada ano, com destaque para as feiras de terneiros de outono e primavera, onde atua em conjunto com a Clínica Veterinária comercializando apenas machos castrados – juntas, as duas empresas venderam 5.608 terneiros nos dois leilões realizados no ano passado, com uma movimentação superior a R$ 3,2 milhões. “Procuramos mostrar que quem produz um terneiro melhor vende melhor, e isso está incentivando os produtores a melhorarem cada vez mais os seus rebanhos”, acrescenta Abascal. De acordo com ele, cresce a cada ano a venda de terneiros para compradores de outras regiões. “Em todas as feiras sempre há um bom número de investidores novos. Da mesma forma, vem aumentando a participação de municípios como Caçapava do Sul, São Gabriel, Dom Pedrito e Bagé como vendedores nas feiras de Lavras”, destaca Abascal. “Nossos principais atrativos são a qualidade da oferta e a garantia do pagamento”, reforça.
do a todos os vendedores, independente do número de animais que estão oferecendo. É uma feira reconhecida em todo o Estado e até fora dele”, ressalta o produtor. Segundo ele, os prêmios de melhor lote que vêm obtendo ao longo dos anos o obriga a levar terneiros melhores todos os ano, aumentando seu compromisso em oferecer animais com uma qualidade cada vez maior. “Hoje, só não vende terneiro pesado quem não quiser, pois a maioria dos touros à venda possuem dados de avaliação genética para diversas características que se deseja imprimir, como ganho de peso, por exemplo”, reforça Severo, que só adquire reprodutores com mais de 900 quilos e com aptidão comprovada para velocidade de ganho de peso, pois eles irão transmitir isso para sua progênie. Com cerca de 700 ventres Angus e Brangus em produção, ele pretende aumentar a oferta para a feira do ano que vem, levando cerca de 150 terneiros. “Normalmente meus animais são comercializados para fora de Lavras e um comprador de Dom Pedrito, que adquiriu animais no outono, me relatou que após colocá-los em confinamento conseguiu vendê-los em agosto com cerca de 400 quilos e rendimento de 59%, resultados que são muito bons”, completa Severo.
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Mercado
ótimo volumE, com lotEs Padronizados Com uma oferta nunca inferior a três mil animais, a Feira de Outono de Terneiros de Corte de Lavras do Sul atrai compradores das mais diversas regiões do Estado, atraídos pela excelente condição dos exemplares ofertados. Um destes investidores é Frederico Wolf, da Wolf Genética, de Dom Pedrito, selecionador de Hereford e produtor de novilhos para abate, que há mais de 10 anos adquire em Lavras terneiros para recria e terminação. “Se pudesse, compraria todos os anos, mas às vezes não tenho disponibilidade de campos para engordar mais animais”, explica o pecuarista, que em 2010 adquiriu cerca de 300 terneiros.
Fotos: Kéke Barcellos (ilustrativa) e Alexandre Teixeira
Frederico Wolf
Entre as justificativas para comprar em Lavras estão o volume da oferta e o grau de sangue britânico que os produtores locais conseguiram imprimir em seus rebanhos, gerando produtos com boa aceitação no mercado de carne. “Além disso, são terneiros rústicos, com boa resistência ao carrapato e totalmente adaptados aos mais diversos tipos de campos. Isso sem contar a seriedade e o capricho dos produtores”, reforça Wolf.
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Depois de observar no ano passado a genética, o peso e a padronização racial dos animais em pista, Ricardo Furtado, da Reculuta Agropastoril, de Santana do Livramento, retornou à Lavras este ano e estreou como comprador na feira de outono, onde comprou cerca de 150 animais. “Como adquiro basicamente exemplares Hereford e Braford, encontrei lotes padronizados com as características raciais que procuro e com uma quantidade muito grade de animais para escolha. Só compro terneiros pesados e consegui vários animais dentro dos padrões de peso que se enquadram ao meu sistema de produção, de no mínimo 200 quilos”, prossegue o produtor, que faz uma invernada precoce com estes animais e os abate em novembro, com cerca de 400 quilos. De acordo com ele, pesaram na decisão de compra o fato de ser uma feira especializa-
da na venda de terneiros, com ampla experiência neste tipo de venda e com lotes muito padronizados, o que é fundamental para o comprador. “Afora a qualidade diferenciada dos animais, fiquei muito satisfeito com o serviço prestado durante a feira, desde o atendimento dos escritórios de remates até o transporte e entrega dos produtos”, acrescenta Furtado, que pretende voltar às compras em 2011, já que está fazendo investimentos para aumentar sua área de terminação de animais. Além dos investidores de fora, muitas propriedades locais também realizam suas em Lavras, entre elas a Cabanha São Crispim, especializada na terminação de novilhos, que desde 1996 adquire nas duas feiras de terneiros realizadas anualmente no município pelo menos a metade dos produtos que
entrega ao frigorífico. “Incentivados pelo Núcleo de Produtores de Terneiros de Corte, os vendedores estão produzindo animais que se aproximam cada vez mais dos padrões exigidos pelo mercado atualmente”, ressalta Bóris Delabary, que investe em exemplares Angus e Hereford, e suas cruzas, pois integra a Apropampa.
Ricardo Furtado
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Mercado
tErnEiro bom, novilHo mElHor ainda Como a maior parte dos terneiros ofertados nas feiras acabam ficando no município, muitos produtores lavrenses estão invernando estes animais para o abate, seduzidos pelas bonificações que vem sendo pagas pela indústria frigorífica para exemplares com sangue britânico, hoje presente na maior parte do rebanho bovino local. “Cerca de 60% do gado gordo produzido em Lavras é abatido pelo Marfrig, que trabalha com uma bonificação de até 2% para animais Angus e Hereford”, informa Ronaldo Sérgio Barbosa, responsável, junto com Camilo Borges, pela compra de gado para o frigorífico no município. Ele lembra ainda que exemplares rastreados podem receber um bônus de até R$ 100, desde que os produtores façam parte da Lista Trace, a relação de empresas habilitadas à exportar para a União Europeia. “Hoje, temos três propriedades em Lavras que integram esta lista, que entregam juntos entre 1600 a 2000 animais/ano ao frigorífico”, revela Barbosa. Com uma década de experiência na atividade, ele explica que o frigorífico dá prioridade para a compra de exemplares com até 2,5 anos e peso de carcaça superior a 220 quilos. “Esse é o boi ideal, por isso os produtores já estão adequando seus sistemas para produzir dentro dos padrões que o mercado deseja”, destaca Barbosa, reforçando que a qualidade dos novilhos produzidos em Lavras é muito boa.
Ronaldo Sérgio Barbosa
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Agronegócio fomenta o turismo Lavras está inserida na região turística do Pampa Gaúcho e faz parte do Território do Alto Camaquã, que possui diversos atrativos naturais, mas o que vem movimentando mesmo o setor de serviços do município é o turismo de negócios rurais, já que economia local gira em torno da pecuária de corte. “Os remates aos sábados, as feiras de terneiros e a Expo Lavras tem atraído muita gente. É um público sofisticado e de bom poder aquisitivo, que acaba usufruindo de toda a rede de serviços, como hotéis, pousadas, restaurantes e comércio em geral, por isso temos trabalhado no sentido de capacitar e qualificar o pessoal que trabalha nestes estabelecimentos, para que eles possam receber e atender bem os visitantes”, explica Fernanda Ricalde Teixeira, secretária de turismo de Lavras do Sul.
Fotos: Kéke Barcellos (ilustrativa), Alexandre Teixeira e Chaleco Lopes
Segundo ela, recentemente a Secretaria de Turismo e de Indústria e Comércio organizou o curso Excelência em Atendimento Sim Sr., que contou com mais de 70 participantes de diversos empreendimentos do terceiro setor, entre eles representantes do Sindicato Rural.
Fernanda Ricalde Teixeira
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Mercado
sanidadE garantida Além da genética diferenciada, o rebanho bovino de Lavras do Sul é referência também no quesito sanidade, uma vez que para serem vendidos nos remates realizados no município todos os animais devem apresentar atestados confirmando a vacinação contra febre aftosa, entre outras garantias sanitárias. Chefe da Inspetoria Veterinária há 22 anos, Gaspar Itajara Soares da Silveira revela que em breve, através de uma ação que vem sendo desenvolvida pela Secretaria da Agricultura do RS, será possível conhecer ainda mais o nível de sanidade do rebanho local. “Foram sorteadas seis propriedades de Lavras para a realização de exames de sorologia em 30 animais jovens de cada uma delas, com o objetivo de verificar o índice de defesa dos rebanhos e ver se não há nenhum vírus circulando entre eles. É uma ótima iniciativa, pois é uma forma de termos um controle maior da sanidade de nossos bovinos”, destaca o médico veterinário, lembrando que este trabalho visa a retirada da vacina contra a febre aftosa no futuro. “Esta ação já está em andamento em todo o Estado e será realizada em nosso município após a Expo Lavras 2010, sendo que deve estar concluída em toda a região até o final de novembro”, acrescenta.
Fotos: Alexandre Teixeira e Chaleco Lopes
Gaspar Itajara Soares da Silveira
De acordo Silveira, o rebanho bovino de Lavras do Sul é composto atualmente por 305 mil cabeças, com 1680 produtores cadastrados (somados aqueles que se dedicam também a criação de ovinos e equinos) e uma média de 50 a 60 mil animais enviados para o abate a cada ano. Sobre as feiras de terneiros, o veterinário revela que, de comum acordo com o Núcleo de Produtores de Terneiros de Corte, vem sendo limitada a participação de animais, devido a grande oferta existente. “Estamos fazendo um controle mais rigoroso, não nos preocupando mais tanto com a quantidade e sim com a qualidade, sempre tentando fazer com que Lavras tenha a melhor feira do Estado”, conclui Silveira.
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Produzindo com sustEntabilidadE Levando em consideração que praticamente todo o gado de Lavras do Sul é produzido em campos nativos, o Sindicato Rural realiza novamente este ano, durante a Expo Lavras, o seminário O Pampa e o Gado, que em 2009 atraiu cerca de 300 participantes oriundos de vários municípios da região. “Nosso objetivo é divulgar esse bioma que é diferenciado e muito importante, mas ainda pouco conhecido. Pretendemos mostrar que é possível trabalhar com os recursos disponíveis nele de forma sustentável”, revela José Carlos Paiva Severo, produtor rural na Fazenda Querência da Pedreira e organizador do evento. Citando palestras como Pecuária Produtiva e Sustentável e Conservação Ambiental e Pecuária no Pampa, segundo ele, a ideia é mostrar os benefícios que podem ser obtidos através de uma atividade bem conduzida, com melhoramento dos campos e lotações adequadas. Além disso, serão apresentados relatos sobre a pecuária familiar na região e realizada uma mesa-redonda com representantes de entidades como Alianza Del Pastizal, Apropampa, Embrapa, Emater e Sindicato Rural, moderada pelo engenheiro agrônomo Carlos Nabinger. “Grande parte dos assuntos abordados são respaldados em resultados de pesquisas”, reforça Severo.
José Carlos Paiva Severo
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Bovinos
30 anos de bons negócios Critérios rigorosos adotados pela ANPTC nas feiras de terneiros sob sua chancela garantem a qualidade, a sanidade e a padronização dos animais ofertados A Feira de Outono de Terneiros de Corte de Lavras do Sul completou 30 anos mantendo sua tradição de ofertar produtos de qualidade diferenciada em grande quantidade, registrando novamente a maior oferta de machos castrados do Rio Grande do Sul, todos acima do peso mínimo exigido para feiras oficiais, que é de 160 quilos. Com isso, o evento realizado em maio comercializou 3.041 animais, numa movimentação superior a R$ 1,6 milhão. “A constância da nossa oferta se deve ao grande número de vendedores que temos todos os anos, em torno de 60, a maioria pequenos e médios produtores”, revela Jacques Brasil de Souza, que desde 2006 preside o Núcleo de Produtores de Terneiros de Corte do município, responsável pela promoção da feira. O dirigente lembra que para marcar essa data comemorativa, o NPTC sorteou doses de sêmen entre os vendedores, além de um lote com 10 terneiros entre os compradores, onde o agraciado foi o produtor lavrense Blau Fabrício de Souza, da Estância da Salamanca. O NPTC de Lavras também realiza a Feira de Primavera de Terneiros de Corte, cuja 27ª edição encerra a programação da Expo Lavras 2010. “Em novembro, além dos terneiros que não alcançam o peso mínimo para a venda em maio, são comercializados também animais vendidos no outono, que foram criados usando sobras de lavouras e retornam à feira com cerca de 300 quilos”, explica Souza, ressaltando que essa prática resultou em um novo mercado. “Com a diminuição da oferta de novilhos de dois anos, os invernadores começaram a comprar esses terneiros para a produção do novilho jovem”, acrescenta.
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Jacques Brasil de Souza
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Fotos: KĂŠke Barcellos (ilustrativa) e Chaleco Lopes
Bovinos
Ele cita ainda ações realizadas no passado pelo NPTC, como as inseminações coletivas visando padronizar o gado local com o sangue britânico das raças Angus e Hereford, aceitas atualmente pela Associação dos Produtores de Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional (Apropampa), entidade que obteve direito à utilização de um selo de indicação de procedência para a carne produzida na região, a única do Brasil a receber esta distinção até agora. “Com esse trabalho de orientação dos cruzamentos, cerca de 80% dos animais ofertados nas feiras do município se enquadram nos padrões exigidos pela Apropampa”, ressalta Souza.
Max Soares Garcia
Um dos primeiros a ser fundado, em 1987, o NPTC de Lavras do Sul integra hoje a Associação dos Núcleos de Produtores de Terneiros de Corte (ANPTC), entidade da qual fazem parte ainda os municípios de Caçapava do Sul, São Sepé, Pinheiro Machado, Cachoeira do Sul e Santana da Boa Vista. “Além do aporte institucional dado aos núcleos, pretendemos a partir de agora buscar parcerias com empresas privadas, como laboratórios, empresas de inseminação artificial e frigoríficos, por exemplo. Queremos agregar outros benefícios, além dos patrocínios e juros diferenciados que já temos direito por organizarmos feiras de terneiros oficiais”, revela o presidente da entidade, Max Soares Garcia, reeleito em 2010 para um mandato de mais três anos. Segundo ele, já existem tratativas com frigoríficos no sentido de criar linhas de crédito específicas para o financiamento de terneiros que possam ser quitadas através da entrega dos produtos para o abate.
Citando ainda a venda de terneiras e vaquilhonas nas feiras alternativas de cada núcleo, Garcia reforça que são dadas garantias totais em relação à sanidade dos animais ofertados, pois todos são vistoriados e organizados em lotes com a maior padronização possível. “Seguimos a cartilha da Secretaria da Agricultura, porém com um grau de rigidez maior em alguns aspectos, com isso os clientes sabem que a qualidade é garantida”, completa o dirigente, adiantando que a ANPTC está de portas abertas à integração de novos municípios, desde que estes produzam e vendam dentro dos critérios estabelecidas pela entidade.
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Fotos: Kéke Barcellos (ilustrativa) e Alexandre Teixeira
Garcia faz questão de destacar que o principal diferencial das feiras de terneiros de outono e de primavera organizadas sob a chancela da ANPTC é a oferta exclusiva de machos castrados à faca, já que a Secretaria da Agricultura do RS permite a venda de machos inteiros. “Isso garante uma qualificação a mais para quem compra, já que não haverá a perda de peso ocasionada normalmente logo após a castração dos animais”, observa, informando que juntos os seis núcleos ofertam anualmente entre 16 e 18 mil terneiros, cerca de 10 mil concentrados nas feiras outono, das quais a de Lavras do Sul é responsável sempre pelo maior volume. “Lavras tornou-se um referencial na produção e comercialização de terneiros”, emenda.
qualidadE garantida Lar Luiz Ilha Ramos
Um dos fundares da ANPTC, Lar Luiz Ilha Ramos lembra que as feiras de terneiros gaúchas começaram a ser realizadas em meados da década de 70, com a primeira venda realizada em Carazinho, e logo em seguida em Rosário do Sul e Santa Maria. “Nos anos 80, o Jacques Fabrício de Souza e eu fomos chamados pela Secretaria da Agricultura do RS para ajudar a formatar o regulamento das feiras, pois já tínhamos a experiência de ter organizado este tipo de vendas em Lavras e em Caçapava do Sul, recorda o titular da Fazenda São Luiz, sediada em Caçapava. “Mais tarde, com o fortalecimento dos núcleos de produtores, foi fundada a ANPTC, cuja primeira gestão foi assumida pelo Jacques, em março de 1990”, acrescenta Ramos, que dirigiu a Associação entre 1992 e 1995. “Hoje, a ANPTC é uma marca de referência em termos de feiras de terneiros, pois segue critérios rigorosos para garantir a qualidade, a sanidade e a padronização dos animais”, ressalta. Para compor a oferta de terneiros que vende em Caçapava na primavera, Ramos se abastece nas feiras de outono chanceladas pela ANPTC, onde adquire pelo menos 70% dos produtos, a maior parte deles em Lavras, considerada por ele a melhor feira gaúcha. “Com certeza é a mais qualificada do Estado”, conclui o produtor.
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Equinos
crescendo com organização Incremento no número de eventos a partir da criação do Núcleo de Criadores de Cavalos Crioulos de Lavras do Sul deve incentivar a instalação de novas cabanhas, além de fomentar ainda mais a produção daquelas já existentes
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Fotos: Felipe Ulbrich (ilustrativa) e Alexandre Teixeira
Com criatórios renomados, onde padreiam vencedores do Freio de Ouro e da Morfologia da Expointer, aos quais somam-se anualmente novos investidores, Lavras possui hoje 3.857 equinos registrados juntos à Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), número este que deve crescer ainda mais a partir da criação do núcleo de criadores local, oficializado em março deste ano e contando já com cerca de 50 associados. “O Crioulo é muito utilizado no trabalho de campo, mas temos criadores que usam exemplares da raça nas mais diversas modalidades equestres, como o Freio de Ouro, Paletada, Marcha de Resistência e Laço”, explica Muça Esquírio El Hatal, presidente do Núcleo de Criadores de Cavalos Crioulos de Lavras do Sul, ressaltando que o município é uma fonte de bons laçadores e também de animais com características para este tipo de prova. Apaixonado por cavalos desde a infância, Hatal deu início a sua criação em 1999, na Cabanha 3 Estrelas, e já teve o prazer
ter um cavalo no Freio de Ouro 2007, Herói do La-Bella, comprado quando ainda era um potro. “É um animal de muita função, pois é filho de um Freio de Ouro e de Prata em Esteio e ainda Freio de Prata na FICCC”, acrescenta o dirigente, referindo-se ao garanhão LS Balaqueiro, criado por um dos mais destacados criatórios lavrenses, a Cabanha São Crispim.
Muça Esquírio El Hatal
Mauro Ferreira, da Cabanha Macanudo, onde hoje reproduz Pergaminho AA, Grande Campeão e Melhor Exemplar da Expointer e o cavalo mais jovem da raça a ingressar no Registro de Mérito da ABCCC, lembra que nos últimos anos muitas cabanhas importantes mudaram-se para o município em função da qualidade de seus campos. “O Núcleo irá possibilitar o surgimento de novos criatórios, além de incentivar o incremento da produção das cabanhas já existentes”, projeta o selecionador, citando que a criação da entidade só foi possível graças ao apoio do Sindicato Rural, uma vez que é utilizada toda a sua infra-estrutura para a realização das atividades da raça.
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Equinos
Para o leiloeiro Marcelo Silva, que há cerca de quatro anos transferiu a Cabanha Don Marcelino de Taquara para a vila do Ibaré, no segundo distrito de Lavras, a formalização do núcleo local irá aglutinar ainda mais os criadores, já que mantém reuniões mensais para discutir questões de interesse da raça. “Uma mudança importante já observada é o estabelecimento de uma programação anual com atividades que antes eram esporádicas e agora integram o calendário oficial do Sindicato Rural e da ABCCC”, destaca, lembrando que o cavalo Crioulo tem um potencial de crescimento muito grande. “Devido a sua rusticidade, longevidade e versatilidade, é o cavalo perfeito para a topografia da região, pois os campos são muito dobrados”, emenda Silva.
Fotos: Felipe Ulbrich
Marcelo Silva
Entre as atividades já realizadas desde março, o presidente do NCCC destaca a resenha coletiva que ocorreu em maio, com a participação de oito criadores, e o leilão de coberturas realizado em junho, que movimentou R$ 65 mil. Hatal destaca que durante a Expo Lavras 2010 a raça Crioula têm agendada uma extensa programação, que contempla uma nova resenha coletiva, concentração de machos, exposição morfológica, crioulaço, paleteada e dois remates, um deles provido pelo próprio Núcleo e outro particular, que faz sua estreia este ano no calendário do evento. “Um dos fundamentos do Núcleo é congregar pessoas de diferentes classes econômicas, agregando também suas famílias. Queremos promover uma integração entre todos”, completa o engenheiro agrônomo, ressaltando ainda a retomada da prova credenciadora ao Freio de Ouro no município, agendada para janeiro.
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doma E laço Um dos reflexos observados após a criação do Núcleo de Criadores de Cavalos Crioulos de Lavras do Sul é o aumento significativo no número de eventos da raça, fato que pode ser comprovado durante a Expo Lavras 2010, quando acontece a primeira edição do remate Doma e Laço, promovido pelas cabanhas Macanudo e Don Marcelino. “São 30 potros e potrancas xucros à venda, que estão habilitados a disputar um concurso de doma, agora no início de dezembro, e uma prova de Laço, durante a Expo Lavras 2011, com premiação de uma moto 125 cc em cada um dos eventos”, detalha Mauro Ferreira. “Nosso objetivo é explorar esse nicho de mercado, pois as provas de Laço são uma atividade muito importante na região. Assim, pretendemos oferecer para esta modalidade animais com a mes-
ma genética dos campeões da Macanudo e da Don Marcelino”, acrescenta Marcelo Silva, ressaltando que a Cabanha Macanudo vem, já há muitos anos, disputando os lugares mais altos do pódio da Expointer, tanto em provas funcionais como na morfologia, colocando o nome de Lavras do Sul em posição destacada no cenário do cavalo Crioulo brasileiro. Já a Don Marcelino, vem se destacando no Freio de Ouro, prova em que garantiu o ouro em 2003 e desde 1998 coloca todos os anos animais de sua criação entre os finalistas. Em 2010, a cabanha obteve uma quarta colocação com Embeleco Esperame, de sua propriedade, e teve a satisfação de ver outra fêmea de seu afixo finalizar a prova em nono lugar, PO Ucrânia, apresentada pela Cabanha Cola Crioula.
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Extensão Rural
Rede de Referência impulsiona a pecuária de corte A partir dos excelentes resultados obtidos em sua Unidade de Referência, Lavras dá continuidade ao processo de difusão de novas tecnologias atendendo outros oito estabelecimentos rurais
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O Diagnóstico de Sistemas de Produção da Bovinocultura de Corte, realizado em 2005 pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Serviço Nacional de Aprendizagem (Senar) e Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), revelou o que já se sabia, mas ainda não havia sido adequadamente quantificado: uma pecuária muito distante do que o potencial do meio poderia proporcionar. Os principais pontos identificados como determinantes daquela situação foram o desconhecimento de técnicas elementares, como o ajuste da carga animal, o diferimento de potreiros, a adubação adequada das pastagens, além de deficiências na gestão dos recursos disponíveis e uma grande dissociação entre os atores. “Em outras palavras, o pecuarista mostrou-se um indivíduo isolado em seu próprio negócio. Em decorrência desde conjunto de fatos os resultados econômicos eram, se não negativos, incompatíveis com o capital imobilizado. Por outro lado, verificou-se um baixo nível de endividamento, o que ensejaria ações baseadas, sobretudo, na gestão de processos, que poderiam rapidamente reverter a situação”, explica Carlos Nabinger, professor adjunto do departamento de plantas forrageiras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e membro do Conselho Técnico do Projeto Redes de Referência, idealizado logo após a divulgação do estudo.
Fotos: Alexandre Teixeira
Segundo ele, nesta nova condição do ambiente de negócios – dinâmico e competitivo – conhecimento e tecnologia são fundamentais, e as redes, ao incorporarem princípios de gestão que estimulam a cooperação, facilitam o processo de inovação e fortalecem as empresas participantes, permitindo que estas possam continuar competindo em um ambiente mutável, resguardadas por inovações em produtos, serviços e processos. Assim, a ampliação e sedimentação da rede se deu a partir da instalação de Unidades de Referência, uma delas implantada em 2006 na Fazenda Sossego, em Lavras do Sul, que desde então vem atuando com irradiadora das tecnologias mais apropriadas ao desenvolvimento da pecuária de corte. “Desde o primeiro encontro com os proprietários dos estabelecimentos rurais a serem trabalhados como Unidades de Referência, tivemos a convicção de que se tratava de um trabalho árduo, mas, ao mesmo tempo, promissor e gratificante. Pois assim foram esses quatro anos de intervenção técnica, convívio social e, acima de tudo, realizações profissionais e conquista de amizades para longa data. Por várias ocasiões, tive a satisfação de sentir e escutar dos próprios produtores que a consultoria em gestão das
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Extensão Rural
tecnologias para o meio rural é capaz de aportar melhorias importantes na eficiência dos sistemas produtivos e em suas vidas”, destaca Davi Teixeira dos Santos, consultor técnico do Projeto Redes de Referência. O zootecnista espera que o propósito de difundir tecnologias para a pecuária de corte gaúcha, já iniciado com a realização de dias de campo e trabalhos junto aos grupos de produtores, alcance a massificação almejada durante a Fase II do projeto, iniciada há cerca de seis meses em Lavras do Sul e integrada por oito propriedades rurais. “Temos entusiasmo e disposição de prover à atividade pecuária nossa parcela de contribuição a seus interesses de crescimento produtivo e econômico com bases de sustentabilidade”, acrescenta o profissional, ressaltando que não são aplicadas receitas prontas, e sim feita uma adequação de ações à realidade
de cada sistema. “Mas com organização, com as rédeas na mão. Porque planejar o futuro, minimizar riscos, manejar pastos e a condição corporal dos animais, produzir carne e fechar as contas, é, sim, fazer a gestão do negócio”, completa Santos. De acordo com Nabinger, esta ação representa mais uma tentativa de fazer com que a pecuária de corte gaúcha volte a ocupar o lugar que lhe cabe na economia regional, nas relações sociais que representam nossa cultura de base e, sobretudo, cumprindo um papel fundamental na preservação do ambiente e da paisagem. “Afinal essa atividade ainda é baseada em grande parte, e assim deve continuar, no uso adequado desse formidável recurso com que a natureza nos brindou que são os campos nativos. E a pesquisa tem demonstrado exaustivamente que este
recurso pode produzir muito mais do que o que atualmente produz, e ainda melhorando seus serviços ambientais”, acrescenta. Segundo ele, os primeiros passos foram dados e os resultados estão aí para comprovar o acerto na decisão de implantar tal projeto. “Acreditamos firmemente que os resultados até agora obtidos podem se expandir de forma exponencial, desde que se acredite no homem do campo e haja mais apoio à iniciativas como essa, por parte dos órgãos governamentais. Temos gente capacitada para isso e temos produtores dispostos a continuar cumprindo seu papel de geradores de riqueza, mas também aceitando sua parte na responsabilidade ambiental e na produção de alimentos seguros e de qualidade diferenciada, como é a carne aqui produzida”, completa o engenheiro agrônomo.
Davi Teixeira dos Santos
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PionEira na imPlantação da fasE II Lavras do Sul foi pioneira na implantação da Fase II do projeto Redes de Referência, cujo objetivo é estender a grupos de produtores o serviço de consultoria realizado nas Unidades de Referência (Fase I). Desta forma, os consultores Davi Teixeira dos Santos e Alcides Pilau atuam diretamente com atividades em grupo e individuais nas propriedades envolvidas, onde inicialmente é feito um diagnóstico dos sistemas de produção buscando identificar os pontos fortes e aqueles a serem trabalhados em cada uma delas. Num segundo momento, eles levam ao grupo uma devolutiva contendo, além
dos diagnósticos, um encaminhamento para cada uma das propriedades ressaltando os desafios a serem superados pelo grupo. Após formatado e chancelado o plano de ação junto ao grupo, cabe aos consultores o acompanhamento e o monitoramento das ações de campo, tendo um constante alinhamento com os produtores e respeitando as suas decisões e objetivos de longo prazo. Um exemplo do bom trabalho que vem sendo feito é a parceria com o Cite 27, de Lavras do Sul, pioneiro no Estado nesta fase do projeto. “Há dois anos, assistimos uma reunião com visitação a campo na
Unidade de Referência Fazenda Sossego, a qual nos impressionou bastante pelos assuntos debatidos e pelo nível dos participantes. Percebemos que os temas preenchiam a necessidade de conhecimento que os produtores da região estavam sentindo. Em nossa reunião, os colegas citeanos reivindicaram uma aproximação ao Projeto Redes de Referência. Esse fato aconteceu e estamos sentindo que estes produtores estão muito satisfeitos e até mesmo entusiasmados com a integração”, ressalta o veterinário José Antônio Fabrício de Souza, presidente do Cite 27 e titular da Estância Camila, que integra a Fase II do projeto.
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bEnEfÍcios Para toda a rEgião Responsável, junto com os filhos Rodrigo e Guilherme, pela Fazenda Sossego, onde foi instalada a Unidade de Referência em Lavras do Sul, Francisco Abascal lembra que a propriedade passou por uma transformação após a entrada das novas tecnologias. Ele explica que o primeiro passo foi unificar o entoure das fêmeas - que era feito duas vezes ao ano - numa só temporada, sendo iniciados em seguida trabalhos de melhoramento e diferimento dos campos nativos, bem como o ajuste da lotação animal. “Com isso, aumentou significativamente nossa produtividade. Com o mesmo número de ventres, hoje produzimos cerca de 480 terneiros contra 300 antes do início do projeto”, destaca o produtor, revelando que a meta é chegar a 500 produtos/ano. “Foram aplicadas pesquisas que antes estavam restritas às universidades”, prossegue, lembrando que duas vezes ao ano a Fazenda Sossego abria suas portas para que produtores de todo o Estado pudessem conhecer as técnicas ali aplicadas e observar os seus resultados. “Chegamos a ter dias de campo com 300 pessoas”, acrescenta o pecuarista.
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Francisco Abascal
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Um dos estabelecimentos que já começa a colher os resultados dessa nova fase do Redes de Referência é a Estância São Jorge das Cordilheiras, que trabalha com ciclo completo visando a terminação de gado para o abate. “Estamos buscando subsídios para produzir melhor, para vender animais mais novos e com melhor acabamento”, explica Valério Antônio Teixeira de Souza, que trabalha ao lado dos pais e do irmão. Entre as práticas já adotadas ele cita o desmame na mangueira, que antes era feito direto no potreiro. “Com uma semana os terneiros aprendem a comer ração e desmamam mais rápido. A grande vantagem é que tanto o terneiro como a
Fotos: Kéke Barcellos (Ilustrativa) e Chaleco Lopes
Valério Antônio Teixeira de Souza
Abascal ressalta que as despesas geradas na Fase II do projeto são divididas entre os produtores envolvidos, o Senar/RS e o Sindicato Rural de Lavras, entidade da qual é presidente. Entre as atividades já realizadas nas propriedades participantes, ele cita a melhoria e o diferimento dos campos nativos. “Algumas práticas já são nítidas, como o melhoramento das pastagens, essenciais para o bom desenvolvimento da atividade pecuária. É um trabalho muito importante, que vem envolvendo também os mais jovens, cuja consequencia é melhorar a produção de todos os envolvidos e até mesmo de seus vizinhos, que acabam se espelhando em seus exemplos. Isso deverá gerar benefícios para toda a região”, completa o produtor.
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vaca se recuperam melhor”, relata Souza, que também já vem usando o azevém sobre o campo nativo, sem mexer a terra. O próximo passo, segundo ele, é usar adubação no campo, pois vê que isso vem dando certo em outras propriedades. O produtor se mostra satisfeito com os resultados obtidos até agora e muito otimista em relação ao futuro. “Antes nós só ouvíamos falar do trabalho dos técnicos que atuam no projeto, parecia tudo muito distante. Hoje, eles estão com a gente, mostrando formas diferentes de trabalhar. Agora, a tecnologia está bem perto de nós, só precisamos aplicá-la”, conclui Souza, cuja propriedade também integra o Cite 27.
Propriedades participantes da Fase II do Redes de Referência Fazenda Passo dos Carros – Eloí de Tarso Costa Estância Camila – José Antônio Fabrício de Souza Querência da Pedreira – Irmãos Paiva Severo Fazenda Invernada da Caneleira – José Ângelo Etchichurry Estância São Jorge das Cordilheiras – Jorge Henrique Bulcão e família Invernada das Lages – Telmo Ferreira Fazenda Mato Feio – Iara e Luiz Fernando de Souza Estância do Sobrado – Berenice Brasil de Souza e família
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PREFEITURA MUNICIPAL DE
LAVRAS DO SUL
Fotos: Alexandre Teixeira
Especial
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tecnologia é imprescindível Ação integrada pretende difundir o uso de equipamentos adaptados às pequenas propriedades, além de incentivar a prática do plantio direto como forma de melhor explorar a terra Uma ação que vem sendo desenvolvida em conjunto pelo Sindicato Rural, Emater, Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Secretaria da Agricultura de Lavras do Sul pretende oportunizar aos pequenos agropecuaristas do município o acesso à implementos agrícolas compatíveis com suas áreas, incentivando-os a utilizarem o plantio direto em suas propriedades visando um melhor aproveitamento de suas terras. Para mostrar que é possível utilizar tecnologia em pequenas áreas estão sendo implantadas lavouras demonstrativas de milho, sendo que duas áreas de um hectare cada foram plantadas em outubro e outras duas serão concluídas em dezembro. Além disso, durante a Expo Lavras 2010, no início de novembro, os produtores terão acesso a um ciclo de palestras e à demonstrações de tratores e implementos de pequeno porte, que estarão expostos no local inclusive com a possibilidade de compra financiada por agentes financeiros.
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Especial
“Esperamos que as pequenas propriedades evoluam e modifiquem seu sistema de plantio, hoje ainda baseado na lavração e gradeação da terra. Estamos tentando oferecer melhores condições de trabalho e renda, o objetivo é melhorar a vida do pequeno produtor”, explica o secretário da agricultura de Lavras, João Ari Copetti, lembrando que a prefeitura mantém uma patrulha agrícola que atende cerca de 300 produtores. “Como é muita gente para atender, muitas vezes o trabalho é executado na época errada, por isso nossa
João Ari Copetti
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expectativa é de que alguns já comprem equipamentos durante a exposição para que não dependam exclusivamente da patrulha agrícola para o preparo e plantio de suas lavouras”, prossegue o secretário, sugerindo que uma forma de viabilizar os negócios seria a compra em conjunto. De acordo com ele, atualmente estão disponíveis no mercado até mesmo implementos de tração animal, como pulverizadores e plantadeiras de uma e três linhas. Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, João Rui Dias Nunes, o maior entrave para mudar o grau de profissionalização dos pequenos produtores é a questão cultural. “Precisamos mudar nosso modo de plantar, estamos fazendo como nossos avós, não se admite mais isso, ainda estamos lavrando a terra e a produtividade é muito baixa”, observa o dirigente. “A agricultura e a pecuária
familiar são viáveis, mas é preciso mudar o sistema de produção, é preciso um mínimo de profissionalização para sobreviver na atividade”, acrescenta. Segundo ele, a exposição e a demonstração dos implementos durante a Expo Lavras é uma ação muito importante, pois mostra que existem opções para facilitar o trabalho dos pequenos produtores. Para tentar mudar a mentalidade dos agropecuaristas, ele vem utilizando o programa de rádio que mantém diariamente de segunda à sexta e ainda o programa semanal do próprio sindicato, além de contatos diretos e da distribuição de materiais explicativos, produzidos em conjunto com a Emater. “Queremos ajudar a produzir mais e melhor”, emenda Nunes, citando ações que já vem sendo feitas no sentido de diversificar a produção, como o troca-troca de sementes de milho. “Há
alguns anos a maioria não tinha nem horta, hoje já tem até pomares para consumo próprio. A diversificação aos poucos está entrando nas propriedades”, revela, lembrando ainda o repasse de alevinos como forma de incentivar a piscicultura. Informando que o sindicato conta atualmente com 1200 sócios, entre pecuaristas e agricultores familiares, assalariados e aposentados rurais, ele revela que a atividade principal dos associados é a pecuária, com a agricultura sendo exercida basicamente como atividade de subsistência. Nunes ressalta que o Sindicato dos Trabalhadores Rurais sempre manteve uma boa relação com o Sindicato Rural, sendo que houve uma aproximação ainda maior a partir dos últimos meses do ano passado. “Em 2009, pela primeira vez, tivemos um estande na Expo Lavras para mostrar os
produtos da agricultura familiar, mostra que repetiremos este ano novamente”, conclui o dirigente. Francisco Abascal, presidente do Sindicato Rural, destaca que durante a Expo Lavras 2010, além da exposição e demonstração dos equipamentos disponíveis para a pequenas propriedades, serão apresentados exemplos de produtores que vem obtendo bons resultados a partir do uso das tecnologias disponíveis. “Não se pode ficar lavrando a terra, trabalhando sem tecnologia e produzindo cada vez menos”, ressalta, acrescentando que com os equipamentos disponíveis podem ser melhoradas inclusive as pastagens, já que muitos dos pequenos agropecuaristas produzem terneiros para venda nas feiras do município. O dirigente lembra ainda que os dois sindicatos estão fornecendo as sementes
e os insumos necessários à implantação das lavouras demonstrativas e que vem buscando garantir linhas de financiamento junto às agências bancárias locais para que os interessados em adquirir algum implemento possam fazê-lo já durante a Expo Lavras. “Estamos plantando uma semente, pois é necessário mudar o perfil produtivo das pequenas propriedades. Nossa ideia é manter esta ação de difusão de tecnologia, aprimorando-a todos os anos”, conclui Abascal.
João Rui Dias Nunes
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Especial
sEmEando ProgrEsso De acordo com Gerson Herter, engenheiro agrônomo que vem dando assistência técnica ao projeto de difusão de tecnologia, o objetivo é levar prosperidade ao campo, já que está havendo um abandono das propriedades rurais, com os jovens sem estímulos para continuar na terra. “Queremos provar que a agricultura em pequena escala é viável. Estamos semeando progresso, pois com as pequenas plantadeiras disponíveis atualmente os produtores podem desenvolver várias culturas, como milho, feijão, soja, girassol, ervilha e sorgo forrageiro”, detalha.
Gerson Herter
Defensor do plantio direto, ele destaca que a cobertura de azevém e aveia fornece uma boa palhada, garantindo uma significativa economia de água. “As raízes mortas destas plantas permitem um aumento da permeabilidade do solo, proporcionando uma maior infiltração da água da chuva. Como a cultura do milho necessita de pelo menos 600 mm de chuva, com isso já estão garantidos pelo menos 200 mm de água”, explica Herter. Segundo ele, com um hectare de milho um produtor consegue alimentar 10 vacas de cria no inverno, o que ajudaria a minimizar perdas que podem chegar a 30 quilos por animal neste período devido a menor oferta de alimentos. Durante o plantio da primeira área demonstrativa, na metade de outubro, os técnicos agrícolas Márcio Borges e Igor Machado, que fazem estágio com o agrônomo, realizaram um teste para medir a velocidade de absorção da água pelo solo, sendo que no campo sem cobertura de azevém o líquido levou um tempo pelo menos cinco vezes maior para ser absorvido.
Paulo Cesar Vieira Brito
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O teste foi acompanhado pelos olhos atentos de Paulo Cesar Vieira Brito, que trabalha há sete anos na Fazenda Volta Grande, situada no Rincão dos Saraivas, onde ele tem o direito de explorar 15 hectares para seu consumo. “Além de milho e feijão, no inverno cultivo azevém para engordar alguns terneiros para vender na feira do município”, conta o produtor, mostrando-se otimista com a iniciativa que pretende transferir tecnologia aos pequenos produtores lavrenses como ele. “Acho uma boa ideia, espero que dê certo, pois isso vai melhorar nossa vida”, reforça Brito, revelando interesse em futuramente adquirir equipamentos semelhantes aos utilizados no plantio em sua área. Segundo ele, o projeto já vem despertando interesse na região, pois seus vizinhos já andaram fazendo sondagens sobre o seu funcionamento.
Na terra sem cobertura de azevĂŠm a ĂĄgua levou um tempo pelo menos cinco vezes maior para ser absorvida.
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Especial
Integração dos pequenos pecuaristas De acordo com o chefe do escritório municipal da Emater, Jorge Afonso Fabrício de Souza, para efeito de classificação, propriedades que trabalham com pecuária de corte em até 300 hectares enquadram-se em pecuária familiar. “É um expressivo contingente de produtores que aos poucos estão alcançando uma maior integração e o reconhecimento como categoria importante do setor primário da região. Programas de apoio também estão sendo organizados para oferecer assistência técnica e creditícia à categoria”, informa o engenheiro agrônomo. Segundo ele, os pecuaristas familiares, responsáveis por cerca de 30% do rebanho gaúcho, caracterizam-se pela excelente integração com o ambiente onde atuam, o qual conhecem muito bem e preservam, tal qual a totalidade dos produtores da região, ao longo de três
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séculos de exploração das potencialidades das pastagens naturais. “O que a pesquisa, a universidade e a extensão rural estão buscando é, respeitando este conhecimento acumulado, introduzir práticas de manejo de baixo custo, como adequação de lotação, pastoreio rotacionado e diferimento de pastagens, as quais objetivam a melhoria dos índices de produtividade e a eficiência na pecuária”, acrescenta Souza. O agrônomo explica que outra ferramenta usada pela extensão, tem sido o crédito rural, como o Pronaf - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, através do qual os produtores são orientados a adquirirem reprodutores e ventres com melhor genética, além de investimentos na sanidade e melhoria das condições alimentares dos rebanhos. Em sua opinião, o fortalecimento das organizações sindicais e das associações de produtores, a capacitação ofereci-
da e as oportunidades de participação efetiva em eventos de comercialização têm resultado no fortalecimento e maior integração dos pequenos produtores. “Um exemplo concreto desta integração é a participação cada vez maior nas feiras de terneiros e remates semanais, como também no evento idealizado para a Expo Lavras 2010, onde uma exposição e demonstração de equipamentos, além de um ciclo de palestras e depoimentos, traz à categoria alternativas de diversificação e modernização de suas atividades”, completa Souza.
Jorge Afonso Fabrício de Souza
Sentimento que mantém meus olhos no horizonte. Pela beleza. Pela espera. Força que me faz insistir. Seja sol. Seja água. Instinto que me tira o sossego. Sossego que me devolve a paz. Razão desprovida de razão. Porque dela se faz minha emoção. Fenômemo interno que me prende a terra. A quem dedico minha alma.
Minha homenagem ao meu pai. Do meu pai ao meu avô. Uma homenagem do Abascal e Borges Remates a todos aqueles que produzem por vocação.
Lavras do Sul • Fones: (55) 3282.1089/2199 - 41
Integração
aprendendo e ensinando Dias de campo organizados pelos Cites promovem intercâmbio de informações sobre diferentes sistemas de produção, vindo ao encontro de sua filosofia, que é a troca de experiências O Clube de Integração e Troca de Experiências de Lavras do Sul, em atividade há mais de 30 anos, é referência em todo o Rio Grande do Sul por sua organização e pelo empenho das 14 propriedades que o integram em aplicar e difundir tecnologias que visam produzir cada vez mais e melhor.
Durante o evento, os visitantes tiveram a oportunidade de conhecer o trabalho de produção de novilhos em campo nativo realizado na Estância do Sobrado e na Estância da Salamanca e ainda visitar o Parque de Exposições do Sindicato Rural, onde está instalado o melhor recinto de leilões do Estado, palco das reconhecidas feiras de terneiros realizadas em Lavras do Sul.
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Fotos: Chaleco Lopes
Para oportunizar o acesso ao conhecimento e às técnicas que vem dando certo entre seus associados, o Cite 27 promove uma série de dias de campo ao longo do ano, como o realizado no início de outubro, que contou com a presença de uma comitiva de pelo menos 40 pessoas pertencentes a outros Cites gaúchos, entre eles os de Butiá, São Jerônimo e Arroio dos Ratos.
“É uma grande alegria poder acompanhar esse trabalho realizado pelas duas estâncias. Quando se fala do Cite de Lavras, não podemos deixar de lembrar do nosso saudoso Jacques Fabrício de Souza, que para mim foi um dos maiores empreendedores e administradores rurais de todos os tempos”, ressalta João Luiz Carvalho Ferreira, engenheiro agrônomo da Emater e integrante do Cite 101, de São Jerônimo, elogiando a estrutura do Sindicato Rural para a realização dos remates. “Saímos enaltecidos de encontros como este, pois sempre que visitamos outras propriedades acabamos aprendendo diversas coisas. Hoje, pudemos comprovar que mesmo em campos dobrados pode-se obter alta produtividade”, destaca Ricardo Trois, integrante do Cite 21, de Butiá, destacando a qualidade do gado que viu na Estância do Sobrado. “Tenho certeza de que todos saíram engrandecidos com o que viram. Nas fazendas, pelas técnicas que aprenderam e no parque de exposições pelo capricho e empreendedorismo dos dirigentes da entidade sindical”, completa. Para o presidente do Cite 101, Erasmo Neto, a integração entre os Cites propiciada pelo dia de campo fortalece todos os grupos, pois ao mesmo tempo em que adquirem novos conhecimentos podem também repassar ensinamentos sobre técnicas que dominam. “Nos espelhamos muito no Cite 27, pela sua história e união, com isso o nosso grupo também está se unindo cada vez mais. Nossos citeanos fazem muitas compras nas feiras de terneiros de Lavras e estamos nos inspirando na experiência deles para fazer a nossa feira, que ocorre no Sindicato de São Jerônimo. Aprendemos muito aqui”, destaca o jovem dirigente, conduzido ao cargo recentemente.
João Luiz Carvalho Ferreira
Erasmo Neto
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Integração
união Em busca dE soluçÕEs Presidente do Cite 27, José Antônio Fabrício de Souza reforça que encontros deste tipo são altamente produtivos, pois, além da integração entre as pessoas, há um intercâmbio de informações sobre diferentes sistemas de produção, vindo ao encontro da filosofia citeana, que é trocar experiências. “É uma satisfação receber citeanos de outras regiões, pois sempre surgem novas amizades e se fortalecem as mais antigas”, observa, lembrando que o grupo de Lavras também já realizou visitas a produtores de outros municípios, como Dom Pedrito e Aceguá, tendo outras já programadas, sempre em busca de conhecimento sobre novas técnicas. “Nossos encontros mensais têm se transformado em verdadeiras reuniões de trabalho, onde debatemos as situações do momento, traçamos novos objetivos e buscamos alternativas para a atividade pecuária”, acrescenta o dirigente, reeleito em junho para um segundo mandato. Segundo ele, com as tecnologias já adotadas, os citeanos de Lavras conseguiram controlar em 100% o capim annoni, planta invasora que causa grandes transtornos às pastagens. Destacando a preocupação de todos em produzir respeitando o meio ambiente, Souza destaca ainda o ingresso em 2009 de dois novos citeanos, “que estão somando e qualificando ainda mais o grupo”.
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Entre eles está Yara Bento Pereira Suñé, responsável pela atividade pecuária das estâncias Querência, local de cria das fêmeas, e Santa Terezinha, onde é feita a recria e a terminação dos machos. “Ainda estou conhecendo as técnicas que vem sendo aplicadas em cada propriedade para ver o que posso levar para as minhas. Pretendo investir no melhoramento dos campos nativos, pois tenho observado resultados muito bons”, revela a engenheira agrônoma, que há um ano passou a fazer parte do clube. “O Cite é muito organizado, todos trabalham juntos em prol de um objetivo comum, que é valorizar a praça”, acrescenta, referindo-se ao remate de produção anual do grupo, onde estreou este ano comercializando 40 animais. Um problema apontado por ela no campo é a falta de renovação, com as novas gerações deixando de lado as atividades ligadas à terra, por isso destaca o trabalho que o grupo de Lavras vem fazendo nesse sentido. “Os produtores mais antigos estão abrindo espaço para os mais jovens, eles passam muita experiência e estão nos dando muita liberdade, querem que estejamos preparados para assumir as responsabilidades do Cite, para que o trabalho possa ter uma continuidade”, explica Yara, que já vem dando sua contribuição, através de ideias que podem melhorar ainda mais a atuação do clube local. “Acredito que devemos investir mais em marketing, acho que podemos nos profissionalizar um pouco mais, quem sabe até instituindo um trabalho de pós-venda, pois cada vez mais pessoas ligadas ao meio urbano vem entrando na pecuária e muitos deles nem sabem o que é um Cite”, sugere.
Yara Bento Pereira Suñé
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rEmatE com financiamEnto oficial Um destaque do Cite 27 é o seu remate anual de produção, cuja 20ª edição, realizada em maio deste ano, movimentou R$ 976,9 mil com venda de 1.172 animais. “Nosso leilão vem registrando crescimento em função da conscientização dos citeanos de que é necessário melhorar geneticamente seus rebanhos, ofertando lotes padronizados”, explica José Antônio Fabrício de Souza, lembrando que por ser oficializado pela Secretaria da Agricultura do RS o evento conta com garantia total dos agentes financeiros locais. “Colocamos à disposição da Federacite toda a infra-estrutura do Sindicato Rural e dos escritórios de leilões, além de nossa experiência em remates, para que ela possa realizar um leilão sob sua chancela oportunizando a venda de animais de citeanos de todo o Estado”, acrescenta o dirigente, lembrando que esta é ainda uma ideia embrionária, mas que pode tornar-se realidade no futuro. “Um dos gargalos de nossa produção é a comercialização e esse segmento hoje está organizado em Lavras”, emenda Fernando Adauto Loureiro de Souza, titular da Estância São Crispim, que também faz parte do Cite do município.
José Antônio Fabrício de Souza
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associativismo É a solução De acordo com Willy Santarosa, tesoureiro e coordenador regional da Federação dos Clubes de Integração e Troca de Experiências (Federacite), os Cites estão atravessando um período novo após a morte de seu principal líder, Getúlio Marcantonio, em março deste ano. “Tivemos bastante dificuldade em encontrar um sucessor, ele era muito carismático e ativo, de uma personalidade muito forte”, revela. Segundo ele, com a posse do novo presidente da Federacite, Carlos Simm, novas perspectivas estão surgindo. “Estamos montando um quadro novo, com estratégias novas. O convênio que fizemos com a Emater é um ponto fundamental para a reativação dos Cites, porque nos municípios onde existe uma Emater forte, com
funcionários dedicados, que entendem os problemas locais e chamem a responsabilidade para si, eles irão insistir para que os produtores participem das reuniões. Isso vai fazer com que os clubes que estejam mais acanhados voltem a ter uma nova perspectiva”, acrescenta Santarosa. Ele explica que já foram realizadas diversas reuniões entres os coordenadores regionais da Federacite e da Emater, sendo que um dos primeiros resultados foi a participação no dia de campo do Cite 27. “Esperamos que surjam outros eventos como este para que possamos dar continuidade a essa troca de experiências, que é fundamental”, prossegue, elogiando a atuação do Cite de Lavras do Sul. “Num sábado, dia de trabalho, todos
deixaram de lado suas atividades para receber gente que nem conhecem. Eles estão no caminho certo, são um referencial. A feira de terneiros de Lavras do Sul é referência no país inteiro e eles conseguiram isso graças ao associativismo, à união dos produtores rurais, porque trabalham em terras que não são as melhores, mas conseguiram imprimir a marca da sua feira”, completa Santarosa.
Willy Santarosa
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Recursos Hídricos
incentivo ao agronegócio Instalação de duas barragens nos limites do município elevará a área de arroz irrigado e deve propiciar ainda uma ampla diversificação de culturas Um projeto que prevê a construção de 14 barragens distribuídas em toda a Bacia do Rio Santa Maria promete afastar o fantasma do racionamento, garantindo o abastecimento de água na Metade Sul do Estado e reduzindo o risco de perdas nas lavouras com as secas. As duas primeiras, que já estão em construção nos arroios Taquarembó e Jaguari, devem trazer benefícios diretos à economia de Lavras do Sul, já que ambas estão situadas nos limites do município, a primeira na divisa com Dom Pedrito e a segunda na fronteira com São Gabriel. As obras da barragem do Arroio Taquarembó, que terá um volume acumulado de 155 milhões de metros cúbicos, foram iniciadas em agosto do ano passado e devem ser concluídas até o final de novembro, com seu funcionamento previsto para meados de 2011, enquanto que as do Arroio Jaguari,
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com volume acumulado de 152 milhões m³, estão um pouco atrasadas e devem ser finalizadas entre junho e julho do ano que vem. Os reservatórios abrangem, além de Lavras do Sul, os municípios de Dom Pedrito, Rosário do Sul, São Gabriel, Cacequi e Santana do Livramento.
De todos os municípios contemplados, Lavras é o que possui a posição mais privilegiada, pois tem a possibilidade de usar parte da água dos dois reservatórios De acordo com o secretário estadual da Irrigação e Usos Múltiplos da Água, Rogério Porto, ambas estão orçadas em R$ 140
milhões, com 70% desse valor incluído no Programa de Aceleração do Crescimento 1 (PAC), do governo federal, e o restante a ser financiado pelo governo do gaúcho. “A previsão, baseada na utilização dos recursos hídricos em várias culturas, como arroz, soja, milho e sorgo, além de horticultura, fruticultura e pecuária de corte e de leite, é que sejam gerados 20 mil empregos diretos e indiretos a partir do pleno funcionamento dos dois reservatórios”, adianta Porto. Segundo ele, somadas as áreas destinadas a todas as culturas e às pastagens, deverão ser beneficiados 120 mil hectares em toda a região. “Só na orizicultura poderão ser irrigados 35 mil hectares”, acrescenta o secretário, reforçando que a ideia é que os empreendimentos propiciem uma ampla diversificação de culturas em Lavras do Sul. “Após o funcionamento das barragens, haverá um aumento significativo na
Fotos: Alexandre Teixeira
Foto: Palácio Piratini
Secretário Extraordinário da Irrigação e usos Múltiplos da Água, Rogério Porto, durante vistoria das obras da Barragem do Arroio Jaguari, entre os municípios de Lavras do Sul e São Gabriel
área das lavouras de arroz irrigado”, assegura o prefeito de Lavras do Sul, Paulo Alcides Souza (PP), projetando ainda um incremento na fruticultura, ainda incipiente no município, e na pecuária, através da melhoria das pastagens com o uso da irrigação. “Também podem surgir empreendimentos na área do turismo e abre-se também a possibilidade de exploração da piscicultura”, acrescenta. Segundo ele, ainda não existe um estudo sobre percentuais, mas com certeza as barragens contribuirão para a elevação do Produto Interno Bruto (PIB) do município, que hoje é de R$ 114,6 milhões, 55,4% desse valor oriundo da atividade agropecuária. Conforme o presidente da Associação dos Usuários das Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Santa Maria (AUSM), Eldo Frantz Costa, apenas com a produ-
ção de arroz, a partir da operação das barragens de Taquarembó e Jaguari, com seu valor bruto, os investimentos a serem agregados para a produção, como a aquisição de tratores, colheitadeiras e implementos agrícolas, deverão incrementar a economia de todos os municípios. “Com a construção das barragens serão incorporados ao PIB da região, no primeiro ano de operação plena, um valor de R$ 560 milhões, e a partir do segundo ano, em que os investimentos já foram feitos, permanecendo a necessidade de custeio da atividade, o seu exercício e o valor da produção, no mínimo, R$ 190 milhões a cada ano agrícola”, destaca o dirigente, que preside a entidade desde setembro de 2009. “De todos os municípios contemplados, Lavras é o que possui a posição mais privilegiada, pois tem a possibilidade de
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Recursos Hídricos
usar parte da água dos dois reservatórios”, ressalta Costa, afirmando que isto certamente se refletirá no aumento da área plantada com arroz no segundo distrito de Lavras. “Ali já existe um pólo arrozeiro, mas com irrigação limitada. Com as barragens, vai ter água à vontade”, acrescenta. Segundo ele, o cadastro de usuários que pretendem utilizar as águas das barragens já conta com vários proprietários de terras em Lavras do Sul interessados em explorar também estabelecimentos de turismo e lazer, além de sistemas para o exercício da piscicultura. Com 140 associados, a AUSM foi criada em novembro de 2004, com a finalidade de organizar os usuários da água, no sentido de cumprir com os preceitos do Sistema de Gestão da Água definidos para a Bacia do Rio Santa Maria, representando-os em todas as instâncias, e, especialmente a partir da consecução das obras das barragens. No final de 2007, a entidade recebeu a função de operadora das infraestruturas resultantes das obras das barragens Taquarembó e Jaguari, juntamente com a Secretaria da Irrigação.
Eldo Frantz Costa
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Cultura
Entre notas, versos e rimas Tendo como temática principal o universo do homem do campo e suas vivências, compositores colocam o nome de Lavras do Sul em destaque no cenário dos festivais de música nativista Um dos lavrenses mais famosos é o ator e diretor Paulo José, no entanto, o município tem representantes nas mais diversas áreas culturais, com destaque para dois letristas que vem fazendo sucesso e arrebatando prêmios nos principais festivais de música nativista do Rio Grande do Sul nas últimas décadas.
Sua parceria com Luiz Carlos Borges, ao longo dos últimos 20 anos, resultou em dois discos autorais, Campeiros e Campeiros 2, além da música símbolo do cavalo Crioulo, raça selecionada por Ferreira na Cabanha Macanudo, em Lavras. “Essa canção me orgulha muito pelo engajamento que tenho dentro da raça e pela dificuldade em fazer a letra, pois contém muitos dados históricos, que são pouco poéticos. Foi difícil lincar a história com a poesia”, revela, ressaltando que sempre foi muito exigente em suas canções. “Me preocupo em fazer bons trabalhos, e só apresentá-los depois que estiverem bem amadurecidos”, emenda o compositor, que já foi gravado por grandes nomes, como Mercedes Sosa, Almir Sater e Antonio Tarragó Ros.
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Fotos: Alexandre Teixeira e Divulgação
Influenciado pelo pai, Antonio Augusto Ferreira, compositor, poeta e membro da Academia Rio-grandense de Letras, falecido há dois anos, Mauro Ferreira chegou a atuar como intérprete e instrumentista na década de 80, mesma época em que começou a frequentar os festivais de música nativista. “Já participei, como concorrente ou jurado, em praticamente todos os festivais e sou o único a vencer por quatros vezes a Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana”, destaca, explicando que hoje atua apenas como letrista.
Ente outros prêmios, constam ainda em seu currículo cinco vitórias na Festa da Barranca de São Borja, onde os concorrentes têm menos de 24 horas para compor e apresentar suas músicas, e o Troféu Negrinho do Pastoreio, no gênero Poesia Campeira, outorgado pela Associação Gaúcha dos Municípios. Segundo ele, uma das músicas mais marcantes de sua carreira é Morocha, escrita em parceria com o primo Roberto Ferreira e apresentada em 1984 na Coxilha Nativista de Cruz Alta, onde ficou em segundo lugar e foi considerada a mais popular. “No dia seguinte a sua apresentação, era notícia no Estado inteiro. Essa música fez um disco de festival vender quase 100 mil cópias”, recorda Ferreira. Outro expoente é Paulo Henrique Teixeira de Souza, que nasceu na capital gaúcha mas foi agraciado com o título de Cidadão Lavrense por divulgar a arte e a cultura local. Após formar-se em veterinária, em Santa Maria, há cerca de dez anos, Gujo Teixeira, como é conhecido, resolveu estabelecer-se em Lavras e dedicar-se à pecuária na propriedade da família, a Estância São Jorge das Cordilheiras, onde trabalha ao lado dos pais e do irmão, complementando sua renda com a música, a poesia e a arte em madeira. Foi em 1990 que ele passou a participar de festivais, tendo no ano seguinte a primeira música registrada no disco da Ramada da Canção Nativa de Encruzilhada do Sul. Aproximadamente 400 músicas suas já foram gravadas, cerca de 80 delas por Luiz Marenco, ao lado de quem venceu pelo menos seis festivais em 1997, com canções diferentes, sendo também de sua autoria a melhor música daquele ano: Quando o velho vem pras casas. “Tenho dois discos gravados com o Marenco,
João de Almeida Neto, Mauro Ferreira e Luiz Carlos Borges durante a Califórnia da Canção em 2003
Gujo Teixeira durante premiação da Sapecada da Canção Nativa 2007
sendo que ele ganhou o disco de ouro com um álbum ao vivo lançado em 2005, com 16 músicas minhas”, ressalta Teixeira, que já trabalhou com artistas como Jairo Lambari Fernandes, Pirisca Greco e Joca Martins e hoje mantém parceria com Luciano Maia. Ao todo, já foram mais de 30 os festivais que já venceu, além outros tantos onde foi premiado com a melhor letra, com destaque para a Califórnia da Canção, de Uruguaiana, o Musicanto, de Santa Rosa, e o Reponte da Canção,
de São Lourenço do Sul. “Já escrevo pensando na música de fundo para apresentar no festival”, revela Teixeira, que já lançou cinco CDs próprios, o último deles este ano, Gauchada, em comemoração aos 20 anos de atividade, com grandes nomes do nativismo interpretando seus versos. Além disso, o artista, que tem dois livros de poesias publicados, Madrugada dos Galos e Parece a Vida, também dedica-se à arte em madeira, reaproveitando tramas e tábuas de mangueiras para a produção de móveis e objetos de decoração.
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Mineração
rochas ornamentais na terra do ouro Já foram identificadas 12 reservas de granito, todas com cores diferentes, e outras quatro de mármore, com destaque para duas variedades de cor esverdeada, que só exitem em Lavras
“Pelos investimentos que estão sendo feitos, acreditamos que exista um potencial muito grande para a exploração tanto do ouro como de rochas ornamentais”, ressalta o prefeito de Lavras, Paulo Alcides Souza (PP), citando a instalação no município de empresas como a multinacional Amarillo Gold, que há cinco anos vem realizando pesquisas relacionadas aos recursos auríferos, e a Ibaré Mineral, que está concluindo as obras de uma indústria para a extração e comercialização de mármore e granito. “Os investimentos realizados no segundo distrito estão sendo possíveis
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Fotos: Alexandre Teixeira
Com a peculiaridade de ser o único município gaúcho com origem na extração do ouro, os solos de Lavras do Sul abrigam ainda outros metais preciosos, como zinco, manganês e prata, além de significativas jazidas de rochas ornamentais, como o granito e o mármore, que vem atraindo investidores nacionais e internacionais.
graças à eletrificação trifásica que está em fase final de implantação. Com isso, haverá um desenvolvimento muito grande da região”, acrescenta o prefeito, citando que os empreendimentos devem impulsionar ainda mais a economia lavrense, gerando novos empregos. Com experiência de mais de uma década em pesquisas voltadas à mineração de ouro e cobre em Lavras, o administrador de empresas Mauro Martini lembra que durante este trabalho foi encontrada uma jazida de mármore branco, oportunizando um novo mercado a ser explorado. Assim, surgiu a Ibaré Mineral, mantida por ele em sociedade com o empresário Percio Eduardo Klaus, que há dois anos iniciou os primeiros ensaios com o material encontrado, apresentando-os na Feira Internacional do Mármore e Granito, realizada em Vitória, no Espírito Santo, importante pólo brasileiro de rochas ornamentais. Segundo ele, já foram identificadas doze reservas de granito, todas com cores diferentes, e outras quatro de mármore, onde destacam-se duas variedades de cor esverdeada. “O mármore verde só existe em Lavras, não há ocorrência em nenhum outro lugar do mundo”, revela, referindo-se às rochas denominadas Ibaré Forrest Green e Ibaré Sea Green, que devem ser comercializados com preço inicial de US$ 1 mil o metro quadrado. “Além destes, o mármore batizado de Nero Martini só é encontrado na Itália e o granito branco só existe em outros dois locais do Brasil”, acrescenta. Mármore Ibaré Forrest Green
Mauro Martini
De acordo com Martini, a colocação dos produtos no mercado será feita em peças com dimensões de 40 x 40 cm, para uso em pisos, e ainda em chapas de 2 m x 3 m, sendo que cerca de 100 metros quadrados de granito marrom já foram colocados experimentalmente à venda em lojas. “Também estamos em negociações com construtoras para viabilizar o abastecimento do mercado interno e também o externo, principalmente os países da Europa e da Ásia. Martini informa ainda que até o final de novembro devem estar concluídos todos os trâmites referentes ao licenciamento ambiental, com o início das atividades da indústria previsto para janeiro. “Numa primeira etapa, teremos capacidade para produzir entre sete e oito mil metros quadrados/mês, empregando cerca de 40 pessoas”, explica, lembrando que até agora já foram investidos cerca de R$ 4,5 milhões no projeto. Posteriormente, serão investidos outros 15 milhões na modernização da planta industrial, com a capacidade de produção saltando para 20 mil metros quadrado/mês, empregando pelo menos 100 funcionários. “Nossa intenção é priorizar o aproveitamento de mão-de-obra local”, adianta o gerente da Ibaré Mineral. - 55
Entrevista
“A pecuária no Pampa sempre foi sustentável”
Confira suas considerações sobre a qualidade e a conservação dos campos de Lavras do Sul, bem como seu potencial para o desenvolvimento de uma pecuária sustentável e ao mesmo tempo competitiva e lucrativa.
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Foto: Fabrício Barreto/Divulgação Farsul
Engenheiro agrônomo e proprietário da Estância São Crispim, propriedade onde nunca entrou um arado, Fernando Adauto Loureiro de Souza recebeu durante a Expointer 2009 o troféu O Futuro da Terra na categoria Preservação Ambiental, distinção conferida em reconhecimento a sua atuação na implantação do Diagnóstico da Pecuária de Corte do Rio Grande do Sul, segmento da economia regional que tem defendido através do Conselho Regulador da Apropampa e à frente da Comissão de Pecuária de Corte da Farsul no que diz respeito à conservação do Bioma Pampa.
Existe uma idéia errada de que Lavras do Sul não possui bons campos, visto que quem chega ao município acaba tendo contato apenas com o entorno da cidade. Fale sobre as qualidades diferenciadas dos campos lavrenses e seu potencial para a exploração da pecuária.
Foto: Fabrício Barreto/Divulgação Farsul
Lavras tem vários tipos de solos e campos, e a maioria do município é de campos bons. Tanto é verdade que a maior parte do município integrou a Indicação Geográfica Pampa Gaúcho da Campanha Meridional, que na região demarcou as áreas de solos e campos de melhor qualidade para a produção pecuária. Integraram a IG os solos Cambaí, Seival e Bexigoso, no primeiro distrito, e no segundo o solo Ibaré e o Bexigoso, que representa a maior parte do distrito. Ficaram de fora os campos de solo Pinheiro Machado, arenosos, com afloramentos e vegetação arbustiva, visíveis no entorno da cidade e seus principais acessos. Também ficou fora, na “horqueta do Camaquã”, o solo Lavras, que, apesar de ser o mais fértil, é pedregoso e com muita vegetação arbustiva. A produção nos campos mais fracos, em muitos casos, é potencializada pela vizinhança com os campos bons e o município tem um enorme potencial na produção pecuária.
É possível desenvolver uma pecuária sustentável no Pampa gaúcho, como os pecuaristas de Lavras do Sul estão inseridos neste contexto? A pecuária no Pampa sempre foi sustentável, tanto é que o gado introduzido pelos colonizadores ficou ‘chimarrão’ e, por muitos anos, despercebido pelo homem. O desafio é fazer com que esta sustentabilidade seja competitiva e lucrativa. Temos pesquisas e explorações que evidenciam
esta condição, e o Projeto Redes de Referencia, há três anos no município, vem demonstrando esta realidade, com grande adesão por parte dos produtores lavrenses. Por iniciativa do Sindicato Rural, e apoio da Farsul, Senar e Sebrae, as consultorias foram ampliadas a diversos produtores, o que deverá melhorar o desempenho de nossa atividade.
Qual a situação atual do Bioma Pampa, ele esta bem preservado em Lavras? Apreendi com os biólogos a diferença entre preservar e conservar. Preservar é quando se separa e não se usa, aí teríamos que cercar e não usar os campos. Nossos campos estão bem conservados, usamos sem degradar, conservando a paisagem, a flora e a fauna, o que tecnicamente é o mais recomendável. A recomendação para a conservação do Pampa é a pecuária de corte, e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a partir das ações da Apropampa e da parceria com a Alianza Del Pastizal, encaminhou trabalho ao Ministério do Meio Ambiente em que sugere que a pecuária de corte sustentável no Pampa seja considerada “Reserva Legal”. É a única forma de manter a paisagem. Além do trabalho do Ibama, esta também foi a conclusão do simpósio O Futuro dos Campos, realizado no ano passado em Porto Alegre. A preservação ou a utilização de outras atividades, com certeza, mudaria a paisagem, com consequencias imprevisíveis. A pecuária no Pampa, além de manter nossa paisagem, é responsável pelo nascimento do gaúcho e de toda nossa cultura. Tenho muito orgulho de ser agrônomo há 41 anos e de nunca ter entrado um arado em nossa propriedade e de ser produtor no município mais conservado do Estado.
Lavras está inserida na área de abrangência da Apropampa. Qual a importância de um selo de indicação geográfica e como isso pode impulsionar ainda mais a pecuária do município? Quando se estabelece uma IG nunca se sabe quais serão as primeiras consequencias. A IG Vale dos Vinhedos conseguiu pouco em relação à valorização de seus vinhos, em compensação valorizou de forma imprevisível o turismo, as terras e os serviços. Apesar de termos assinado contrato com o Frigorífico Marfrig, durante a última Expointer, com a descontinuidade de nossa produção ainda não alcançamos valorização significativa da carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional, mas nos surpreendeu os ganhos nos aspectos ambientais. O reconhecimento de organizações internacionais (BirdLife, Alianza Del Pastizal e BID), de certa forma, despertou o Ibama, a Secretaria do Meio Ambiente do RS (Sema) e o próprio Ministério do Meio Ambiente para nossa realidade. Daqui para frente os ganhos vão depender muito de nossa mobilização e coordenação com os órgãos oficiais e integração com os demais agentes do setor. Penso que estamos preparados para esta nova etapa.
Qual é o percentual de campo nativo em Lavras do Sul? É uma das áreas mais significativas da região? Segundo o Ibama, que realiza via satélite este monitoramento, é o município que mais se distingue e se credencia a receber e a participar dos futuros projetos de conservação e melhoramento da produção pecuária. Não é por acaso que o V Encuentro de Ganaderos de Pastizales irá ocorrer aqui em novembro de 2011.
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Ministério do Meio Ambiente recursos 54°20'W internacionais para aplicação em um 807 ¬ « Santa projeto piloto no Pampa. Os recursos Margarida deverão financiar a fundo perdido 25%do Sul de projetos de pecuária sustentável. Aos moldes do PPR do Uruguai São (Projeto ProGabriel dução Responsável), deverá ser financiada assistência técnica, fertilização, aguadas, cercas, instalações e todo o necessário 156 ¬ « para melhorar a rentabilidade da propriedade. A Farsul e o Senar/RS, em parceria com o Ibama e diversas outras entidades, 630 ¬ « discutem a forma de implantação do projeto para melhor atender o produtor e atingir seus objetivos.
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de vias oficiais e necessitamos o enga54°40'W jamento de nossos agentes de Estado. O Bioma Pampa teve seu reconhecimento recentemente, em 2008, e é coisa de gaúcho, está apenas no Rio Grande do Sul. Apesar de termos apenas 17,5% do BioRosário ma, cobrimos 65% do território gaúcho. do Sul Para alcançar recursos, além da articulação com os órgãos oficiais é importante a parceria com os países que compartilham o Pampa: Argentina (54,5%), Uruguai (24%) e Paraguai (4%).
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Existe a possibilidade de obtenção de 55°0'W recursos internacionais para a preservação do Bioma Pampa? Em que estágio encontram-se as negociações e quais os órgãos envolvidos? De que forma estes recursos seriam empregados?
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Artigo
Pesquisa confirma o apelo, a origem e a preservação ambiental da carne do Pampa Gaúcho Rogério Jaworski dos Santos Engenheiro agrônomo, secretárioexecutivo da Apropampa e coordenador da Alianza del Pastizal no Brasil
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não fazem ideia do que significa a expresA Associação dos Produtores de Carne do são “Indicação Geográfica”. Pampa Gaúcho da Campanha Meridional – Apropampa, gestora da Indicação Indagados sobre qual a percepção em Geográfica, em parceria com a Save relação a uma carne com origem comBrasil, entidade fundadora da Alianza provada através de um selo de “origem e del Pastizal e representante da Birdlife procedência” do Pampa gaúcho, exclusiInternacional, realizou uma pesquisa vamente das raças Hereford e Angus, com em 250 restaurantes e 50 atacadistas rastreabilidade (código de barras com inscompradores de carne bovina de todo peção via internet), criados e alimentados País para avaliar a percepção acerca da com pastagens nativas (sem ração e sem importância da produção de carne com confinamento), 94% dos entrevistados o selo de Indicação Geográfica e da predisseram que estes quesitos são extremaservação ambiental. Nunca até hoje havia mente importantes sido realizada uma ou importantes, da pesquisa tão ampla A característica mesma forma que acerca da percepção garantia de procedência acham que a predos compradores de ficou em primeiro lugar, servação ambiental carne em relação a com 71%, seguido pelo também é extremagarantia de procemente importante ou dência da carne. selo de sustentabilidade importante e agrega ambiental, com 24%. valor ao produto. Questionados sobre o que representa Uma questão muito relevante identificada uma Indicação Geográfica, praticamente a na pesquisa é que 50% dos entrevistados metade (51,4%) dos entrevistados entense dispõe a pagar até 25% a mais por dem que a expressão refere-se a um deterum produto com as características acima minado local, uma determinada região, um espaço demarcado. Aproximadamente um citadas. Isto demonstra a importância dos projetos de Indicações Geográfiquinto (19,7%) deles também atrelaram cas no Brasil, ferramenta que só agora este significado à origem da carne, ou começa a ser descoberta pelos produseja, ao local onde o gado é criado e tores vinculados a algum território. Na abatido, enquanto 43% dos entrevistados
Europa, esta ferramenta já tem mais de um século e é cada vez mais valorizada, vide a Champagne, Vinhos de Bordeaux, Queijos Roquefort e Camembert, Presunto de Parma, entre outros. O Brasil possui oito Indicações Geográficas reconhecidas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI): Vale dos Vinhedos, Café do Cerrado Mineiro, Carne do Pampa Gaúcho, Cachaça de Paraty, Uvas de Mesa e Manga do Vale do São Francisco, Couro Acabado do Vale do Sinos, Vinhos e Espumantes de Pinto Bandeira e Arroz do Litoral Norte Gaúcho.
A Apropampa e seus parceiros ficaram extremamente satisfeitos com os resultados da pesquisa, que demonstrou que a carne bovina produzida de forma sustentável naquela região do Brasil, com um selo de Indicação Geográfica, é uma especialidade valorizada Brasil afora. Demonstra também que o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o esforço dos produtores em buscar a chancela da Indicação Geográfica no INPI começa a dar frutos, mostrando ao Brasil que a carne daquela região é uma especialidade.
Ao final da pesquisa, foi perguntado qual o quesito mais importante relacionado aos consumidores dos restaurantes, casas de carne e supermercados. A característica garantia de procedência ficou em primeiro lugar, com 71%, seguido pelo selo de sustentabilidade ambiental, com 24%.
Lavras do Sul possui uma grande parte de sua área dentro da delimitação da Indicação de Procedência, e todos os produtores de terneiros das raças Angus e Hereford do município estão aptos a fornecer seus produtos para os terminadores associados.
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Fotos: Kéke Barcellos
agEnda 2011 abril
novEmbro
23 — 9º Remate de Novilhos
04 a 08 — Expolavras 2011 08 — 28ª Feira de Primavera de Terneiros de Corte
maio
19 — Feira Alternativa de Terneiros, Terneiras e Vaquilhonas
07 — 31ª Feira de Outono de Terneiros de Corte 14 — 15º Remate Macanudo 21 — 21º Remate de Produção do Cite 27
dEzEmbro
28 — Feira Alternativa de Terneiros, Terneiras e Vaquilhonas
10 — Feira de Ovinos
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