Foto: Adriano Becker
Editorial Sede do V Encuentro de Ganaderos de Pastizales Naturales del Cono Sur de Sudamerica, Lavras do Sul é o município gaúcho com maior percentual de vegetação nativa do Rio Grande do Sul (87,3%), conforme levantamento realizado pelo Ibama. Além disso, pesou para sua escolha o fato dos pecuaristas locais, e de entidades como a Apropampa, partilharem a mesma filosofia da Alianza del Pastizal, promotora do evento, que é a de produzir com sustentabilidade aproveitando os campos nativos, trabalho este que já vem sendo feito há muito tempo pelos produtores lavrenses, que acreditam ser fundamental a preservação da fauna e da flora de seus campos, pois isso contribui para aumentar a produtividade e a competitividade da carne que produzem. A atividade pecuária iniciada há quase dois séculos pelos primeiros estancieiros que ali se estabeleceram, em antigas sesmarias, transformou o município em referência na produção de terneiros de corte, por isso voltamos no tempo para resgatar parte da história de cinco estâncias que contribuíram para o desenvolvimento da pecuária lavrense, hoje uma das mais destacadas de todo o Rio Grande do Sul, ação esta que terá continuidade na próxima edição, quando apresentaremos outras propriedades centenárias e particularidades que evidenciam a presença marcante dos jesuítas na região, principalmente nos campos do segundo distrito. Apresentamos também o projeto turístico A Rota do Ouro, que pretende levar turistas a caminhar pelas ruas da cidade e conhecer os prédios antigos que abrigaram engenhos e cidadãos que trabalharam com o mais nobre dos metais em Lavras do Sul, única cidade gaúcha que se originou de sua exploração. Registramos ainda a mobilização dos ovinocultores locais, que, a exemplo dos integrantes do Cite 27 e dos núcleos de criadores de terneiros de corte e de cavalos Crioulos, estão se organizando para buscar soluções e alternativas para a atividade, como a produção de carne ovina em escala industrial, não só para o município, mas para todo o Rio Grande do Sul.
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Foto: Alexandre Teixeira
Foto: Kéke Barcellos
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Certeza de bons negócios ............................................................................................................................6 Vocação para a pecuária ............................................................................................................................ 14 ERS 473: a solução para todos os problemas ................................................................................... 24 Por uma pecuária sustentável ................................................................................................................. 30 Pelos caminhos do ouro............................................................................................................................. 36 Guerra declarada ao capim-annoni ...................................................................................................... 42 Produzir cordeiro: um bom negócio ..................................................................................................... 46
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Genética de ponta na terra do ouro ..................................................................................................... 52 Cite 27, o melhor do ano ........................................................................................................................... 56 Homem do campo, das letras e da medicina .................................................................................... 60 Francisco Abascal é reeleito ..................................................................................................................... 64 Agenda 2012................................................................................................................................................... 66
Foto: Kéke Barcellos
A onda é produzir alimentos.................................................................................................................... 63
Foto: Kéke Barcellos
Revista Oficial do Sindicato Rural de Lavras do Sul Novembro de 2011
www.srlavrasdosul.com.br srural@farrapo.com.br Fone: (55) 3282.1256
EXPEDIENTE Diretor Executivo Henrique Borges Editor Jairo Nether
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Reportagem Felipe Severo e Jairo Nether Contato com a Redação redacao@futurars.com.br Projeto Gráfico Foto: Alexandre Teixeira
Adelino Bilhalva
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Fotografia Alexandre Teixeira, Kéke Barcellos e divulgação Produção
Porto Alegre/RS - (51) 3084 4717
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certeza de bons negócios
Fotos: Kéke Barcellos (Abertura) e Alexandre Teixeira
Quem procura gado de corte de qualidade, tanto para fins de seleção como para a produção de terneiros, é plenamente atendido em Lavras do Sul
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om constantes investimentos em genética, principalmente das raças Angus e Hereford, Lavras do Sul vem registrando uma padronização cada vez maior em seu rebanho bovino, fato que a consolida cada vez mais como importante polo comercial. No recinto de leilões do parque do Sindicato Rural, considerado um dos melhores e mais modernos do Rio Grande do Sul, ocorrem remates de gado geral em praticamente todos os finais de semana do ano, o que não acontece em nenhum outro município gaúcho. Isso sem contar as feiras de terneiros e vaquilhonas que ocorrem tradicionalmente no outono e na primavera, e que no ano passado movimentaram mais de R$ 4,5 milhões com a venda de nove mil exemplares em quatro eventos – além das duas feiras oficiais, ocorrem também duas feiras alternativas. Contabilizados os dados dos leilões deste ano, até 10 de setembro, o faturamento já ultrapassa os R$ 13 milhões,
dando indícios que deve ser facilmente superado o montante registrado em 2010, que foi de R$ 17,1 milhões, com a comercialização de 29.508 animais. Um bom indicativo disso é o resultado do remate de produção realizado em maio pelo Cite 27, que movimentou R$ 1,5 milhão e registrou um acréscimo superior a 50% em relação ao ano anterior. “Notou-se claramente a melhoria genética do gado, bem como a formação de lotes homogêneos, com um excelente estado corporal. Como de costume, houve cobertura total dos agentes financeiros do município, Banco do Brasil, Sicredi e Banrisul, com a presença de tradicionais e novos compradores da região. Foi considerado um dos melhores remates já realizados no recinto do Sindicato Rural”, comemora José Antônio Fabrício de Souza, o Zeca, presidente do Cite 27. Sócio da Clínica Veterinária, que realiza em torno de 35 leilões todos os anos, Luís Alberto Pires de Souza, mais conhe-
cido por Lafaiete, afirma que a pecuária vive um momento de ascensão, o que é comprovado pelo incremento das vendas. “Lavras é o único local onde há remates de gado geral todos os sábados, vendendo entre 300 e 400 reses semanalmente”, acrescenta o empresário, reforçando que o aumento dos prazos dos financiamentos vem estimulando a retomada das atividades pecuárias. Segundo ele, vem aumentando também a venda de reprodutores, principalmente das raças Angus, Hereford, Braford e Brangus, tendo em vista o melhoramento dos plantéis, o que também se reflete na venda de terneiros. “Quase não se vê mais lotes de animais brancos ou azebuados. Melhorou muito a produção, pois quem quer vender terneiro tem que produzir o que o mercado quer”, observa Lafaiete, explicando que a empresa inclusive orienta seus clientes a utilizarem as raças de origem européia para que obtenham melhores resultados.
Luís Alberto Pires de Souza
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Lafaiete destaca ainda que é crescente a cada ano tanto o número de compradores como de vendedores de outros municípios. “Entre 20 e 30% do gado comercializado é de fora”, revela, informando que o foco da Clínica Veterinária está no pequeno e no médio produtor, que são os que dão sustentabilidade ao negócio. “A parceria entre os escritórios de remates, bancos, Inspetoria Veterinária e Sindicato Rural, aliada à excelente estrutura do recinto de leilões e a segurança que a praça de Lavras transmite, garante bons negócios, pois o pagamento é certo”, assegura o médico veterinário, que tem como sócios no empreendimento, iniciado há 28 anos, João Souza e Martim Afonso de Souza. Alfredo Borges, leiloeiro da Abascal e Borges Remates, empresa que se reveza com a Clínica Veterinária nos remates de gado geral aos sábados, ressalta a excepcional valorização da produção primária em 2011, não só da bovinocultura de corte como também da equinoculutra e da ovinocultura, com elevação inclusive do preço da lã. “Acompanho as feiras de terneiros de Lavras há 20 anos e vejo pessoas que retornam todos os anos para comprar”, observa. Segundo ele, a consolidação de Lavras como importante polo vendedor de bovinos deve-se à garantia de pagamento oferecida ao vendedor e também à qualidade do gado ofertado, sempre muito bem apresentado. “Independente do escritório, o cliente recebe pelo que vendeu, sem contar que nossa comissão, que é de 4%, é a mais baixa do Estado. Os constantes investimentos feitos pelo Sindicato Rural em infra-estrutura contribuem também para o sucesso dos remates”, acrescenta Borges. Sob o comando do martelo desde o início da década de 90, ele começou a carreira atuando pela Clínica Veterinária, onde recebeu grande apoio do leiloeiro Aluizio Azevedo, a quem é grato até hoje pelo estímulo para continuar na atividade. Posteriormente, entrou como sócio da Abascal e Borges, onde está há 17 anos, hoje, porém, fora da sociedade, sendo apenas funcionário da empresa. “Tive sempre muito apoio das duas empresas”, reforça. Borges orgulha-se de ter presenciado o surgimento dos remates de gado geral em Lavras do Sul, entre o final da década de 60 e o início dos anos 70. “Lembro que num final de tarde, durante a exposição, reuniram-se alguns produtores, como
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Alfredo Borges
Aldrovando Borges, meu pai, Nilton Souza, Poti Teixeira, Vicente Teixeira e Luis Mário Macedo, entre outros, e decidiram organizar o primeiro remate”, detalha o leiloeiro, que diz não abandonar a profissão mesmo que ganhe na loteria. “Sou uma pessoa realizada. Leiloar é um dom que Deus me deu, gosto muito de fazer isso”, acrescenta Borges, que junto dos irmãos dedica-se também à pecuária nas estâncias Santa Leontina e Espinilho.
Alfredo Borges, na foto com um touro da estância do pai durante exposição realizada em Lavras em 1973, em matéria publicada na Revista Combate ao Crime em abril de 1974
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Presidente do Núcleo de Produtores de Terneiros de Corte (NPTC) de Lavras Sul, José Carlos Paiva Severo destaca que as feiras de terneiros realizadas no município há mais de 30 anos são caracterizadas pela qualidade dos animais desde sua primeira edição, com constante trabalho de melhoramento genético dos rebanhos. “É isso que garante vida longa às feiras”, observa. O dirigente lembra que através do Conselho Técnico da entidade, cuja função é examinar e selecionar os terneiros antes da venda, esse ano está sendo reativado o cadastro dos produtores com o intuito de agregar novos associados ao NPTC. “Queremos conversar com os produtores, aproximá-los ainda mais do núcleo. Além disso, estamos trabalhando no sentido de oferecer a eles palestras técnicas visando equiparar as formas de produção, pois produzir um terneiro de melhor qualidade é sinônimo de melhor remuneração”, ressalta Severo. Ele destaca ainda a solidificação de um novo nicho de mercado, o da compra de terneiros no outono, que são recriados em pastagens de azevém implantadas sobre as sobras da cultura da soja, para revenda na primavera, suprindo assim a carência de novilhos de sobreano registrada em algumas regiões. “Esse terneiro é vendido na primavera com cerca de 250 quilos, sendo rapidamente terminado em pastagens de inverno e abatido com no máximo dois anos, garantindo assim uma pecuária de ciclo rápido”, explica Severo. Para Jacques Brasil de Souza, ex-presidente do NPTC e produtor de terneiros na Estância do Sobrado, a compra e posterior revenda de animais nas feiras de Lavras é mais um indicativo de sua credibilidade. Um dos produtores que aposta neste sistema é Nemo Valério Teixeira de Souza, administrador da Estância da Guajuvira, de
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Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal
qualidadE dEsdE o início
Nemo Valério Teixeira de Souza
propriedade do seu pai, Nemo Fabrício de Souza, em Santa Margarida do Sul. Comercializando terneiros desde 1975, o forte de sua oferta sempre foi na primavera, justamente por causa da integração lavoura x pecuária, uma vez que compra terneiros em maio para recriar sobre o azevém cultivado após a colheita da soja. “Compro os animais no outono com cerca de 140 quilos e vendo em novembro com cerca de 250 quilos. Com mais seis ou sete meses de invernada estão prontos para o abate com cerca de 400 quilos”, detalha o produtor, que vende sua produção durante a feira de terneiros realizada em novembro, durante a ExpoLavras – este ano sua oferta é de 900 terneiros, 200 a mais do que o ofertado no ano passado. “Mas, é preciso ter lotes padronizados, uma vez que o comprador não se importa de pagar um pouco mais, pois sabe que tais animais terão mercado garantido no futuro”, alerta o produtor. Outro pecuarista que sempre prestigia as feiras de terneiros do município é Telmo Crispim Souza de Macedo, da Estância do Carmo, sediada no segundo distrito de Lavras, que adquire pelo menos 300 animais todos os anos para invernada e posterior venda à frigoríficos. “Meus pais sempre trabalharam com pecuária, apenas dou continuidade ao trabalho iniciado por eles”, explica o produtor, que compra os animais com cerca de oito meses e os entrega para o abate entre 24 e 36 meses. A opção de comprar em Lavras, segundo ele, é pela semelhança dos campos e sistema de criação dos vendedores com os de sua estância. “Além disso, é um gado mais resistente ao carrapato”, acrescenta Macedo, que também já trabalhou com gado de cria, mas que há 20 anos optou apenas por vender gado gordo.
Telmo Crispim Souza de Macedo
dEmanda por rEprodutorEs
Brangus tem apresentado liquidez nas vendas durante a ExpoLavras
Administrador do Condomínio Rural Weiler, empresa familiar localizada no segundo distrito de Lavras, Ricardo Weiler explica que na Fazenda Primavera é desenvolvida uma pecuária de corte sobre campo nativo baseada no princípio da sustentabilidade. Lá, ele mantém um rebanho Brangus controlado, desde 1983, com seleção voltada à venda de reprodutores, que são ofertados já há mais de uma década durante a ExpoLavras, em novembro - para a edição deste ano, reservou 50 ventres e 10 touros. “Tem havido liquidez nas vendas”, comemora o selecionador, que vende no município pela sua posição geográfica privilegiada e, é claro, pela crescente demanda observada na região. “Quem procura gado de corte de qualidade, tanto para fins de seleção como para a produção terneiros, é plenamente atendido em Lavras. É um gado extremamente adaptado à qualquer região do Estado, ou seja, certeza de bons negócios”, garante. Segundo ele, cresce a passos largos a utilização da raça Brangus não só Rio Grande do Sul como em todo o Brasil, principalmente pelo seu desempenho. “É uma raça altamente eficiente e de fácil adaptação aos mais diversos ambientes”, prossegue Weiler, que a utiliza também na produção de novilhos para programas de carne de qualidade, que costumam ter uma remuneração mais atrativa.
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Em reunião realizada em 10 de outubro, na sede do Sindicato Rural, com participação de dirigentes do sindicato, do Cite 27, do Núcleo de Produtores de Terneiros de Corte, do chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul, Alexandre Varella, e do pesquisador Sergio Gonzaga, foi definida a criação de um núcleo do Programa Boas Práticas Agropecuárias (BPA) em Bovinos de Corte em Lavras do Sul. O objetivo geral do programa, lançado em 2005 pela Embrapa, é aumentar a rentabilidade e a competitividade dos sistemas produtivos agropecuários por meio da indicação e incorporação, em tempo hábil, das tecnologias adequadas e da adequação a legislações ambientais e trabalhistas, de modo a garantir o acesso a mercados que valorizam alimentos seguros. As chamadas Boas Práticas Agropecuárias são um conjunto de normas e procedimentos que devem ser observados pelos produtores rurais para tornar os sistemas de produção mais rentáveis e eficientes, assegurando a oferta de alimentos seguros e produzidos de modo sustentável. Essas normas e procedimentos se referem aos 11 principais pontos de controle do sistema de produção da carne bovina que constituem a lista de verificação do Protocolo BPA: gestão da propriedade rural; função social do imóvel rural; responsabilidade social; gestão ambiental; instalações rurais; manejo pré-abate e bons tratos na produção animal; formação e manejo de pastagens; suplementação alimentar; identificação animal; controle sanitário e manejo produtivo. O pesquisador Sérgio Gonzaga, coordenador regional do Programa pela Embrapa Pecuária Sul, considera que a adoção das BPAs é uma segurança aos produtores, que devem se organizar em núcleos. “Sabemos das dificuldades no comércio internacional, e o Brasil não está longe de enfrentar barreiras impeditivas à venda de seus produtos, como a carne bovina”, observa. Ele acrescenta que, ao final do trabalho, além da emissão de certificação a propriedades, vislumbra-se a possibilidade de trabalhos de rastreabilidade e de identificação geográfica de produtos produzidos nessas propriedades.
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Foto: Breno Lobato/Divulgação Embrapa
qualiFicação ainda maior
Sergio Gonzaga
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Exploração aurífera estimulou a produção pecuária, que assumiu o papel de principal atividade da região quando os estrangeiros deixaram as minas
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eferência na produção de terneiros de corte, Lavras do Sul possui um dos maiores e melhores rebanhos bovinos do Rio Grande do Sul, fruto do trabalho iniciado há quase dois séculos pelos primeiros estancieiros que ali se estabeleceram em antigas sesmarias, muitos deles recém-chegados de guerras como a do Paraguai. Nestas terras, deixaram também marcas de um tempo áureo através de imponentes casas erguidas em estilo colonial português, com o charme de seus pátios internos, e de vistosas e resistentes mangueiras de pedra, construídas ainda na época da escravatura. Conforme Blau Fabrício de Souza, médico cardiologista, escritor e profun-
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do conhecedor dos temas ligados ao município onde também é pecuarista, os campos de Lavras faziam parte dos distantes limites de Rio Pardo, que variavam segundo as guerras e os tratados estabelecidos entre as cortes de Portugal e Espanha. Ele explica que Edilberto Teixeira divulgou mapa, quando da celebração do Tratado de Santo Ildefonso, de 1777, onde aparece que as terras do primeiro distrito pertenceriam a Portugal enquanto as do segundo pertenceriam à Espanha. “É natural que as sesmarias fossem doadas a militares, que assumiam o compromisso de defendê-las. Assim, os filhos de açorianos, cansados pelas colheitas de trigo frustradas, montaram
Fotos: Alexandre Teixeira
Vocação para a pecuária cavalos, fizeram guerras e passaram a ser estancieiros”, explica Souza, lembrando, porém, que também havia aventureiros paulistas ou de Laguna que se imiscuíam por terras ainda não delimitadas. “O Visconde do Serro Formoso, por exemplo, era descendente de açorianos, nascido em Rio Pardo. Os Souza tem origem semelhante e se estabeleceram em sesmaria legada por José Silveira Goulart, também descendente de açorianos”, prossegue o titular da Estância da Salamanca, observando que muitos sesmeiros nem chegaram a tomar posse de suas terras, já que o tempo era de guerras e de mortes. Os campos do segundo distrito, ao contrário dos do primeiro, prestam-
Tratado de Santo Ildefonso, de 1777, definiu à época que as terras do primeiro distrito pertenceriam a Portugal enquanto as do segundo pertenceriam à Espanha
-se também para lavouras de arroz, que iniciaram na segunda metade do século passado. Além dos habituais descendentes de açorianos, que foram recebendo sesmarias em troca de feitos militares, houve atração de italianos, franceses e outros, que chegaram ao Ibaré pelo Brasil ou através do Uruguai, muitas vezes para fugir aos enfrentamentos entre ‘blancos’ e ‘colorados’ naquele país. “Sempre houve gado, cavalos e ovelhas de excelente qualidade nos ótimos campos vizinhos ao Ponche Verde”, revela Souza. Nas imediações da atual cidade de Lavras do Sul houve a descoberta de ouro ainda antes da Guerra dos Farrapos, fato que alterou a história da região e deu
oportunidade ao surgimento da única cidade gaúcha que se originou em função da descoberta do mineral precioso. “O metal atraiu aventureiros que incluíram até o pintor e guerreiro R. Wendroth. Estrangeiros de várias nacionalidades se estabeleceram e casaram, muitas vezes com negras, dando origem a mulatos de olhos claros e cabelo avermelhado. Companhias inglesas e belgas exploraram as minas de ouro no final do século XIX e no início do século XX, exploração esta que estimulou as atividades da pecuária, que sempre foi presente e que assumiu o papel de atividade principal da região quando os estrangeiros deixaram as minas em função de crise internacional,
e não pela falta de ouro a ser explorado”, acrescenta Souza. Para ilustrar um pouco mais este passado de áureos tempos que deu origem a uma vocação nata para a produção de bovinos de corte, apresentamos a seguir cinco estâncias, que contribuíram – e continuam contribuindo – para o desenvolvimento da pecuária lavrense, hoje uma das mais destacadas de todo o Rio Grande. Dando seguimento à saga, na próxima edição apresentaremos outras propriedades centenárias, algumas com particularidades que evidenciam a presença marcante dos jesuítas na região, principalmente nos campos do segundo distrito.
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Estância do sErro Formoso
Marca da estância reproduzida no jardim interno da sede
Noemia Eudócia Umpierre
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Foi sede do coronel Francisco Pereira de Macedo, Barão e depois Visconde do Serro Formoso, cujos quatro filhos homens foram para a Guerra do Paraguai juntamente com cinquenta escravos e cavalhada. Antes dos títulos nobiliárquicos chamava-se Estância de São Francisco das Chagas, sendo que, de acordo com Noemia Eudócia Umpierre, o atual nome - grafado à época com s - foi sugerido por Dom Pedro II, em visita à estância, devido ao lindo cerro que se desdobra à frente do casarão erguido em 1837. Noemia viveu no local entre os anos de 1980 e 1991, época em que foi casada com José Antônio Pires Porto de Macedo, tataraneto do Visconde, com quem teve um filho. Entre as particularidades do estabelecimento - que conta também com um mangueirão de pedras datado de 1856 -, destaque para uma orquestra formada por 50 escravos que executou o Hino Nacional brasileiro para Dom Pedro II. “O Visconde libertou seus escravos quatro anos antes da promulgação da lei que proibia a escravatura, mas todos optaram por permanecer trabalhando na estância, mesmo após a concessão da liberdade”, acrescenta Noemia. Totalmente reformada e conservada, a casa conserva ainda os móveis originais, entre eles uma enorme mesa de jantar composta por 24 cadeiras. “Todo o mobiliário foi trazido de Portugal até o Porto de Rio Grande de navio, e depois transportado até a estância numa carreta puxada por 38 juntas de bois, inclusive a caixa d’água com capacidade para 18 mil litros”, detalha Noemia. Segundo ela, no local também chegou a funcionar um hotel fazenda, em meados da década de 90, que recebeu inclusive um grupo de 16 pessoas vindas da Flórida, Estados Unidos.
Noemia diz ter sido muito bom o período vivido na Estância do Serro Formoso, onde envolvia-se com todas as rotinas diárias, até mesmo no trabalho com o gado, isso sem contar que adquiriu também muitos conhecimentos sobre sua história, repassados por ela aos diversos grupos de alunos de escolas e faculdades gaúchas que costumeiramente visitavam o local. Em 2000, a propriedade foi vendida para Nei Umpierre Alves. Após seu falecimento, o estabelecimento passou às mãos da esposa Vera Lucia de Macedo Alves, sendo administrado atualmente por Edgar, seu irmão, e Eduardo, seu filho, tendo ainda seu foco voltado à produção de gado de corte através da venda de novilhos. “Moramos em São Paulo, na capital, mas todos os meses vamos à estância, onde tanto eu como meu filho estamos aprendendo ainda sobre o trabalho com o gado, já que quem sempre cuidou disso foi meu marido”, conta Vera. Francisco Pereira de Macedo, Visconde do Serro Formoso, em quadro mantido na sede da estância
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Foto: Kéke Barcellos
Estância do Sobrado
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O local onde foi edificado o lindo sobrado que deu nome à estância pertenceu, inicialmente, a sesmaria de José Silveira Goulart, casado com Maurícia, com quem não teve filhos. Herdeira natural dos campos, casou e tornou a ficar viúva, novamente sem deixar herdeiros, até conhecer Hipólito José de Souza, com quem teve três filhos: Galvão, Hipólito José, o Zeca, e Floriana, cabendo ao segundo como herança as terras que ao longo dos anos foram sendo partilhadas pela família Souza, dando origem à novas e bem sucedidas estâncias. Zeca casou-se com Maria Barcellos, com quem teve 16 filhos, dos quais nove morreram ao nascer ou nos primeiros anos de vida. Ana Medora Brasil de Souza, que reside na Estância do Sobrado ao lado da mãe Berenice, conta que a bisavó estava sempre vestida de preto em função do luto constante. “Ainda conservamos uma caderneta onde ela anotava tudo, desde as rotinas da casa até a morte dos filhos”, conta a advogada e produtora rural. Dos sete filhos que sobreviveram, o mais moço era Chrispim Raimundo de Souza, que integrou a primeira turma de medicina da capital gaúcha e chegou a ser intendente em Lavras do Sul, cargo equivalente ao de prefeito atualmente. Após a morte do pai, este retorna de Porto Alegre, assume a administração da estância e casa-se com Anita, com quem teve seis filhos: Hélio, Marta, Magda, Vera, Rita e Nemo. Com a morte prematura da esposa, vitimada pela tuberculose, constitui novo matrimônio com Medora Macedo Fabrício, sua cunhada, com quem teve outros quatro filhos: Blau, Jacques, José Antônio, o Zeca, e Crispim, o Cris.
No início dos anos 90, junto com outros estabelecimentos rurais do município, a Estância do Sobrado participou de um projeto de turismo, pioneiro no Estado, recebendo hóspedes até mesmo do Japão, Estados Unidos, França e Alemanha. Com alguns hóspedes até desenvolveram fortes relações de amizade. “Nosso objetivo era que as pessoas se adaptassem às rotinas da estância. Então, acordavam cedo, faziam as refeições conosco e depois iam junto para o campo. A ideia era divulgar nossa cultura e nossa forma de viver”, recorda Ana Medora. “Mas, foi apenas uma área nova a ser explorada. Foi bom enquanto durou. Hoje, não temos mais interesse. O Sobrado tem tradição como produtor de terneiros. Atuamos com a pecuária de corte, esta sim sempre foi nossa atividade maior, da qual gostamos e nos orgulhamos”, completa.
Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal
De acordo com Ana Medora, com o falecimento do avô na década de 50, o estabelecimento passou a chamar-se Condomínio Medora Fabrício de Souza e filhos, até que, ao final dos anos 80, os quatro irmãos do segundo casamento dividiram os campos, cabendo a Blau e Jacques as terras onde hoje está o Sobrado, com Crispim e Zeca fundando a Estância do Continente, ambos os empreendimentos tendo como sócia também a matriarca da família: Medora. Já nos anos 90, Cris e Zeca decidem dividir sua parte, sendo que o primeiro fica com a Estância do Continente e o segundo funda a Estância da Camila. Posteriormente, por volta de 2003, foi partilhada também a parte dos outros dois irmãos ficando a Estância do Sobrado para Jacques e Blau criando a Estância da Salamanca. “Todas as partilhas foram feitas sempre de comum acordo”, destaca Ana Medora, lembrando que o pai, Jacques Fabrício de Souza, já administrava a propriedade desde os 17 anos através de uma procuração que lhe dava amplos poderes para isso. “Ele sempre teve um vínculo muito forte com o Sobrado, optou por não fazer faculdade, mas sim um curso técnico de contador para ajudar na administração da estância em que sempre morou e cuidou até sua morte, em novembro de 2005”, ressalta. Hoje, sob o comando de Berenice Brasil de Souza e dos filhos, a Estância do Sobrado é adminstrada por Jacques, responsável pela atividade pecuária direcionada à produção de terneiros, enquanto Ana Medora e a mãe – que ainda envolve-se com a produção artesanal de doces – cuidam da parte administrativa e da produção de carvão. Dilce, a outra irmã, que mora em Bagé, sempre que pode faz-se presente à estância junto com os filhos, mantendo vivos os laços familiares que se perpetuam através das gerações. Ana Medora explica que o primeiro andar da casa foi construído em 1852, com o segundo pavimento concluído em 1877, conservando até hoje os móveis originais, mantendo assim suas características iniciais. “O Sobrado é mais antigo que Lavras, elevada a categoria de vila em 1882 e a município em 1938”, observa a advogada.
Dilce, Jacques Berenice e Ana Medora
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Estância das cordilHEiras Foi construída para receber um dos filhos do Visconde do Serro Formoso, o major Francisco Pereira de Macedo Filho, que casou-se com Ana Medora Montojos logo após retornar da Guerra do Paraguai. Conforme Blau Souza, a estância foi herdada pela filha Rita Amália de Macedo, casada com Frederico Nemo Fabrício, porém uma crise econômica e doença fizeram com que fosse vendida para Valério Teixeira. José Donairo Teixeira, um dos filhos de Valério e atual proprietário, conta que em 1947 mudou-se para a casa de seis quartos construída em 1875 pela família Macedo. Hoje, após a morte prematura do filho que lhe ajudava e com a transferência do neto para a capital gaúcha, toca sozinho o empreendimento que tem como atividade principal a pecuária de corte focada no ciclo completo e na invernada de bois. Filho mais velho dentre os oito irmãos do segundo casamento de Valério – que teve outros oito filhos no primeiro matrimônio -, Donairo lembra que o pai chegou a ter 15 mil cabeças de gado, além de outros 15 mil ovinos; naquela época a área da estância era formada por aproximadamente 180 quadras de campo. De dois em dois anos, ele faz reformas na casa cuja sala serviu de altar para o matrimônio de Nemo Fabrício de Souza e Glaura Maria Teixeira - que comemoraram 60 anos de casados em setembro deste ano -, e da qual ainda traz consigo boas lembranças, como as das carreiras que os filhos promoviam no longo corredor interno da residência. “Busco manter tudo como meus pais deixaram, mantenho até as correspondências do meu pai em seu escritório”, conta Donairo. Além disso, o pecuarista mantém uma estante repleta de artefatos antigos dignos de figurar no acervo dos melhores museus, como facas belgas da marca Scholberg, esporas e pares de estribos de mais diversas épocas, como Império e República, com destaque para um par datado de 1835, ano em que iniciou-se a Revolução Farroupilha. “Tenho a mania de juntar tudo o que o gaúcho usou e não usa mais”, completa Donairo.
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José Donairo Teixeira
Estância do carmo Há duas estâncias com o mesmo nome no segundo distrito de Lavras do Sul. Segundo Blau Souza, apesar dos indícios de Duque de Caxias ter usado os campos de uma delas e imediações para recuperar a cavalhada na luta contra os farrapos, a outra é que se tornou rica quando foi de Manoel Leal de Macedo, o Maneco, que no início do século passado era cognominado “Bolão de Ouro”, tal sua prosperidade. “Em 1920, foi inaugurado um galpão modelo que ainda causa admiração em nossos dias. A estância contava com eletricidade e possuía câmara frigorífica”, prossegue Souza, recordando ainda que lá também se jogava críquete, esporte que utiliza bola e tacos, cuja origem remonta ao Sul da Inglaterra, durante o século XVI. Filha de Chrispim Raimundo de Souza, Magda Tereza Souza de Macedo não sabe precisar o ano em foi construída a sede da estância, mas conta que passou a habitar a residência da sogra Hermínia logo após o casamento, em 1945. “Depois de casada, nunca tive vontade de sair daqui”, conta
Magda, que chegou a morar na capital gaúcha, onde vive uma das filhas, mas retornou à casa onde criou os sete filhos e que lhe traz boas lembranças até hoje, como os dias em que passava às voltas do velho forno à lenha que ainda resiste às ações do tempo. “Quando ela amanhecia com um lenço na cabeça era dia de fazer pães, bolos e biscoitos, passava o dia inteiro fazendo isso”, recorda a filha Maria do Carmo Souza de Macedo, a Neneca, que retornou de Porto Alegre há seis anos para viver ao lado da mãe após o falecimento do pai, Paulo Leal de Macedo. Em 2000, a antiga casa foi abandonada como lar e substituída pela nova moradia, construída bem ao lado, onde antes ficava o galpão em que se encilhavam os cavalos. Distante 80 Km da cidade, a sede da estância tem sofrido com as intempéries e a explicação para não reformá-la deve-se ao fato de não se encontrar mão de obra qualificada na região para realizar a reforma, sem contar que esta tornaria-se muito cara. “Ou vendíamos os campos para fazer a refor-
ma ou fazíamos uma casa nova”, justifica Neneca, lembrando que a energia elétrica só chegou ao local no ano passado – até então as opções eram o lampião e as velas e, mais tarde, os painéis solares. Neta de dona Magda, a pedagoga Cláudia lembra também com saudades dos bons tempos vividos no casarão de sete quartos, onde nas férias do colégio, durante o verão, encontravam-se todos os primos. “O movimento era grande, juntavam-se 15 a 20 guris. Passávamos o dia no campo, a cavalo, e alguns nem jantavam à noite, pois caíam no sono antes”, recorda a jovem, que também trocou a vida agitada da capital gaúcha pela tranquilidade do campo e hoje é responsável junto com os pais pela atividade pecuária da propriedade. No local, existe também uma enorme mangueira de pedra, utilizada ainda hoje para reunir o gado, e um açude com uma ilha em formato de meia lua, também circundada de pedras, que representa a primeira marca utilizada para marcar o gado, ainda nos tempos do bisavô de Cláudia.
Cláudia, Magda e Neneca
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Especial
Fazenda São Domingos De acordo com Blau Souza, no local foi estabelecida guarda antes de 1830, quando começava a haver notícias sobre a exploração de ouro nas margens do arroio em que se desenvolvia o povoado de Santo Antônio das Lavras. Logo depois, firmou-se como estância, que teria sido iniciada por Joaquim Ferreira Pinto de Souza e seu filho Orlando de Castro Ferreira, nascido no Uruguai em 1840. Orlando, que iniciara como comerciante e explorador de ouro, casou com Maria José de Freitas. O casal teve apenas uma filha, chamada Hermínia, que veio a casar com o coronel Hipólito José de Souza. “Hipólito e Hermínia tiveram 14 filhos, sete homens e sete mulheres que encheram a bela casa da estância de São Domingos e também a casa assobradada que construíram na vila de Lavras. O coronel foi chefe político e intendente em Lavras, mas desenvolveu atividades industriais, sobretudo em Bagé. Foi um dos donos da Charqueada São Domingos e de muito campo, como sócio do seu Chiru Pereira”, detalha Souza. De acordo com ele, a estância desenvolveu uma pecuária de ponta, importou touros e ventres Shorthorn e Hereford, além de manter disputada cavalhada e um dos mais antigos rebanhos ovinos. “Pela localização estratégica e pelas posições políticas do dono, os campos da estância foram invadidos em diversas oportunidades durante as revoluções. Após a morte do coronel Hipólito, a estância passou ao filho mais novo, Miguel Ferreira de Souza, cujos descendentes mantêm a casa e as muitas mangueiras de pedra, construções arrojadas ainda do século XIX”, completa Souza. João Souza, neto de Hipólito, não sabe a data exata da construção da sede da São Domingos - hoje chamada de fazenda, e voltada ainda para a pecuária de ciclo comple-
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Beatriz Silveira de Souza
to -, mas calcula que esta tenha pelo menos 130 anos. “Nas férias de verão ficava lá direto, às vezes até três meses sem ir à cidade”, recorda. No local onde nasceu e se criou à luz de velas e lampiões, hoje vive a irmã Beatriz Silveira de Souza, que ali reside desde 1969, sempre fazendo reformas para manter as características originais da construção, apesar de não ter conseguido manter o mobiliário original. Dos tempos da infância na fazenda, Beatriz lembra de seu Bonifácio, negro velho que havia sido empregado de seus avós e que lhe ensinou a andar a cavalo. “Nos reuníamos sempre para ouvir suas histórias, ele sempre tinha algo para contar”, recorda a professora que nunca exerceu a profissão e trabalha há 22 anos na Clínica Veterinária.
Uma das mangueiras de pedra existentes na propriedade
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Transportes
Ers 473:
Fotos: Alexandre Teixeira
a solução para todos os problemas Muita gente escuta a história desta estrada desde que nasceu. Mas, agora, parece que a novela do asfalto Lavras/Bagé está perto do fim
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Foto: Felipe Severo
Q
ual lavrense nunca escutou a sentença “parece que o asfalto Lavras/Bagé agora vai sair”? Quem se criou ouvindo esta ladainha deve estar hoje na casa dos 25, 30 anos de idade, como este lavrense que vos escreve. E lá se encontra a estrada, incontáveis vezes patrolada, ainda sem pavimentação. Pois uma mobilização da comunidade de Lavras do Sul – cansada dos prejuízos que a estrada de chão oferece – junto ao governo do Estado, fez com que o governador Tarso Genro afirmasse, em audiência pública realizada em Bagé, em 1º de julho deste ano, que a estrada vai sair. É o que espera dona Deni Brito de Britto, aposentada de 77 anos que precisa fazer hemodiálise na Santa Casa de Caridade em Bagé três vezes por semana nos veículos da Prefeitura. Cética quando perguntada sobre a realização da obra, afirma: “Pra acreditar só vendo eles trabalhar”. Dona Deni é um dos tantos cidadãos lavrenses que sentem na pele a ausência da obra. Diz que sofre muito com as viagens na estrada de chão batido. E quando está para chover já se prepara para o martírio da jornada, visto que aumentam os buracos na via. “Os solavancos machucam muito os rins, dói demais”, diz dona Deni, que mal consegue se abaixar tamanha a dor renal. A Secretaria da Saúde de Lavras do Sul talvez seja uma das mais afetadas com a ausência de asfalto na ERS 473. Luzia Helena Mastroiano Gonçalves, enfermeira especializada em saúde da família e secretária da saúde do município enumera os prejuízos humanos e materiais: “Transtorno dos pacientes em estado grave; pacientes que chegam sujos, empoeirados; dificuldade técnica dos enfermeiros em cuidar dos pacientes durantes as viagens pelos buracos da estrada; a constante manutenção dos veículos depois de cada viagem”, relaciona Luzia. A secretária salienta que o acontecimento dessa obra é de vital importância para o conforto dos pacientes, diminuição da manutenção dos carros e economia de dinheiro público. Nas emergências os pacientes seriam atendidos mais rápidos, pois com a estrada pavimentada, o tempo estimado de viagem é de 50 minutos. Atualmente, em dias de chuvas, levam até duas horas. Como Lavras pertence à 7ª Coordenadoria da Saúde, situada em Bagé, precisa levar seus pacientes para lá. Luzia, há tempos, tenta fazer com que o município pertença à 4ª Coorde-
Deni Brito de Britto
nadoria da Saúde, em Santa Maria. Mas a cidade não aceita, visto que está lotada devido ao grande número de cidades vizinhas que já a integram. Os atendimentos especializados são todos realizados em Bagé, pois em Lavras há somente clínicos gerais. Nos dias em que a estrada se torna intrafegável, os motoristas precisam fazer outra rota. Vão até Caçapava do Sul para só depois irem a Bagé. Lavras e Bagé dis-
tam 81 km. Por esse trajeto, via Caçapava, a distância é de quase 200 km. Hoje, três pacientes necessitam ir toda terça, quinta e sábado a Bagé fazer hemodiálise – entre elas, dona Deni. Como uma das pacientes mora no meio do caminho, não podem ir por Caçapava, forçando-os a trafegar pela via em qualquer estado que se encontre. “Oito pessoas com câncer também vão fazer quimioterapia constantemente”,
afirma Luzia, lamentando que dois pacientes já morreram no caminho. O motorista da Prefeitura Paulo Rogério Lopes Saraiva, convive diariamente com o drama destas pessoas. Diz que muitas vezes a estrada o coloca numa sinuca: “Não sei se vou rápido para chegar e o paciente ser atendido o quanto antes, ou devagar por causa dos buracos pra não causar desconforto a eles”, justifica.
Luzia Helena Mastroiano Gonçalves
Paulo Rogério Lopes Saraiva
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Transportes
a situação dos uniVErsitÁrios Os acadêmicos de Lavras do Sul que vão de ônibus diariamente a Bagé estudar também são extremamente prejudicados pelo não acontecimento da pavimentação. A estudante de Direito e presidente da Associação dos Universitários Lavrenses (ASSUL), Manuela Costa Teixeira, diz que a estrada nas atuais condições em que se encontra deixa as mensalidades mais caras, visto que as linhas de transporte cobram mais: “A gente faz promoções para diminuir a mensalidade do ônibus, sendo que tem empresas que não querem fazer esta linha, pois deteriora os veículos”. Em dias que os alunos têm prova e a estrada está intransitável, nem os táxis da cidade querem levá-los a Bagé. “Às vezes não querem ir. Quando vão, cobram R$ 150. Sem contar que onera a ASSUL, pois é ela quem paga”, enfatiza Manuela. A presidente da ASSUL afirma ainda que os estudantes estão desacreditados, bem como a população, pois há muito tempo se fala nisso. “Antes, a ASSUL lotava um ônibus de 44 lugares. Hoje, conta somente com 25 universitários”, lamenta. “Com o asfalto a evasão seria minimizada, a mensalidade mais barata e chegaríamos mais rápido”, conclui Manuela.
Manuela Costa Teixeira
o quE diz o EXEcutiVo O atual prefeito de Lavras do Sul, Paulo Alcides Vidal de Souza, tem plena consciência da importância do asfaltamento da ERS 473. Disse que a mobilização da comunidade lavrense em Bagé foi um fator determinante para o compromisso do Governo do Estado com Lavras: “Na interiorização do governador Tarso Genro a comunidade foi em peso. Dentre todos os municípios da região que se fizeram presentes no evento, com certeza, Lavras do Sul foi o que teve maior representatividade”, afirma Souza. Como Bagé é a cidade polo da região, e tem sofrido com a saída de jovens para as regiões metropolitanas, as cidades vizinhas sofrem os efeitos colaterais e não se desenvolvem. Para Souza, estrada é sinônimo de desenvolvimento: “Com ela o frete do caminhão boiadeiro fica mais barato, o gado não se machuca no transporte e não perde peso e a população não precisa sair da cidade para comprar fora. Sem estrada o encarecimento dos produtos e mercadorias é natural, pois demoram para chegar até Lavras”, explica o prefeito. Ele acredita que o asfaltamento da BR 153 – que liga a BR 290 à Bagé – foi um erro do ex-presidente da República, Gen. Emílio Garrastazu Médici, pois não trouxe benefício algum à região. Quando perguntado se acredita realmente na concretização da obra, Souza credita sua confiança num forte aliado na busca dessa benfeitoria: “Dessa vez eu acredito por causa do Mainardi”, afirma, referindo-se ao atual Secretário Estadual da Agricultura, Luiz Fernando Mainardi. A obra, que vai acontecer em três etapas, começará por Bagé. “Lavras será a última por que a tendência é começar por um centro maior”, observa o prefeito. Mainardi, que foi prefeito de Bagé e sabe o ônus que a ausência da pavimentação dessa estrada traz à região, afirma que a posição do governador Tarso Genro se man-
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Paulo Alcides Vidal de Souza
Autom贸veis Motocicletas Pesados Im贸veis Servi莽os
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Transportes
Foto: Renê Oliveira
tém. “Estou acompanhando o processo e trabalhando para que a assinatura do contrato ocorra ainda em dezembro, possibilitando o início das obras já no começo de 2012”, reforça o secretário. A assessoria de comunicação do Departamento Autônomo de Estradas e Rodagens (Daer) respondeu o e-mail da reportagem sobre a real situação em que se encontra a obra. Em relação ao trecho que liga a BR-293, em Bagé, à Torquato Severo, que é a primeira parte da obra, e totaliza uma extensão de 22,7 quilômetros, a situação é a seguinte: “Há projeto final de engenharia para pavimentação do trecho. A obra havia sido licitada em 1997 e a empresa vencedora da licitação foi a Sultepa. No ano passado, para acelerar o início da obra, o Daer entrou em contato com a empresa e o orçamento da proposta vencedora foi atualizado”, respondeu a assessoria em e-mail com data de 11 de outubro. Sobre o trecho de Torquato Severo ao Tabuleiro, que seria a segunda parte da obra, e totaliza uma extensão de 24,3 quilômetros, o Daer afirma: “Há projeto final de engenharia para pavimentação do trecho. O Daer está elaborando processo
Foto: Divulgação
Luiz Fernando Mainardi
Luis Eduardo Colombo
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administrativo para encaminhar à Central de Compras do Estado (Cecom), que licitará a obra”. Em relação a terceira e última parte da pavimentação, que é o trecho que liga o Tabuleiro a Lavras do Sul, uma extensão de 21,7 quilômetros de asfalto, diz o seguinte: “O Daer está elaborando processo administrativo para encaminhar à Cecom, que licitará a obra de pavimentação do trecho”. O prefeito de Bagé, Luis Eduardo Colombo, o Dudu, está no aguardo do cronograma do governo para o início das obras: “O governo do Estado já tem previsão financeira. O asfalto vai dar mais dinâmica na economia, principalmente no setor agroalimentar, serviços e comércio. Uma pavimentação de acesso como essa é de fundamental importância, pois Lavras tem muita relação com Bagé, visto que muita gente vem estudar, trabalhar e comprar aqui”, afirma. Dudu acredita que a educação será um dos setores mais privilegiados com a realização da obra, visto que Bagé, hoje, possui três universidades e uma escola técnica: “Teremos o crescimento da Unipampa, da Urcamp, da Uergs e do Instituo Federal Sul-riograndense, que é o antigo Cefet”, prospecta.
o EquíVoco dE médici Sobre o equívoco de Médici, citado pelo prefeito de Lavras do Sul, o médico e escritor Blau Fabrício de Souza produziu um artigo onde conta alguns fatos curiosos acerca da via. Veja um excerto do texto Uma estrada, boa, para Bagé: “Assim, até o general Médici satisfez a amigos bageenses e construiu uma estrada que une Bagé à BR 290 de forma mais direta, aproximando um pouco mais sua cidade natal da capital do Estado. O fato de deixar de lado as cidades de Caçapava do Sul e Lavras do Sul, bem como seu traçado com múltiplas pontes em terreno acidentado, pouco ou nada significou. O prefeito Breno Bulcão e o Dr. Poty Medeiros, lavrenses e amigos de Médici, tiveram de rir amarelo quando o presidente perguntou-lhes se não seria mais fácil deslocar a cidadezinha para a beira da nova estrada ao invés de atender seus pedidos para alterar projeto já aprovado. O tempo passou, a ligação asfáltica ligando Lavras à Caçapava ganhou tradição e os vínculos com Bagé passaram a ser mais distantes para caçapavanos e lavrenses, para azar de Bagé como cidade polo, como centro regional.”
Um dos mais otimistas com a realização e engajados na realização da obra é o vice-prefeito de Lavras do Sul, Paulo César Moreira dos Santos. Ele organizou um abaixo-assinado virtual que já conta com mais de quatro mil assinaturas, e entregou outro com mais de três mil em mãos ao governador Tarso Genro, na interiorização em Bagé. Segundo Santos os recursos já estão liberados e a primeira etapa já está licitada. A empreiteira vencedora foi a Sultepa – como confirmou o Daer – que é conhecida da população, pois pavimentou a RST 011, que liga Lavras a Caçapava do Sul, entre outros trechos rodoviários importantes como a BR 101 (de Osório a Torres) e a BR 116 (de Porto Alegre a São Leopoldo). “A ERS 473 vai beneficiar o município em todos os segmentos: na saúde, já que 13 veículos circulam na estrada levando e trazendo enfermos, inclusive, para fazer hemodiálise; para escoa-
mento da produção agrícola; os jovens poderão ficar em Lavras; fortalecimento do turismo; idosos também irão permanecer, pois poderão se tratar em Bagé”, argumenta Santos, que sentenciou uma máxima que mostra o valor desta estrada para a cidade: “Nós vamos crescer 100 anos em 20”.
Paulo César Moreira dos Santos
EntEnda a obra O início da obra está prevista para janeiro de 2012, sendo que os recursos já estão liberados, conforme o vice-prefeito de Lavras. A previsão é de dois anos para a conclusão. A obra vai acontecer em três etapas, começando em Bagé: 1ª) Conta com o asfaltamento de Bagé (BR 293) até Torquato Severo (São Sebastião); 2ª) Vai de Torquato Severo até o trevo do Tabuleiro (Geraldo Budó); 3ª) Começa no Tabuleiro para ser concluída em Lavras do Sul. Segundo Santos, o governador Tarso Genro prometeu terminar a obra até o fim do seu mandato. São R$ 69 milhões em investimentos. Cada quilômetro pavimentado equivale a R$ 1 milhão investidos.
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Meio Ambiente
por uma pecuária sustentável
Foto: Kéke Barcellos
Selo Verde para a carne produzida em campo nativo surge como alternativa para estimular a preservação do bioma Pampa e agregar maior valor à produção
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rurais. “A carne produzida em pastagem natural é mais saudável, e os frigoríficos já estão pagando até 6% a mais por ela dada a sua elevada demanda”, revela. O engenheiro agrônomo cita ainda um levantamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que aponta Lavras como o município com maior percentual de vegetação nativa do Rio Grande do Sul (87,3%), o que comprova ser perfeitamente possível produzir de forma sustentável. “E a melhor forma de preservar o Pampa é com o gado, mantendo a paisagem natural”, emenda, citando que o encontro é uma forma de aproximar-se ainda mais dos órgãos públicos, como o Ministério do Meio Ambiente. “O resto do Brasil não conhece o Pampa, que é coisa do Rio Grande. Apesar de termos apenas 17,5% da área, cobrimos 65% do território gaúcho”, acrescenta Adauto, detalhando que o restante do bioma Pampa, que ocupa cerca de 100 milhões de hectares,
encontra-se distribuído pela Argentina (54 milhões de hectares), Uruguai (24 milhões) e Paraguai (4 milhões). Presidente da Associação dos Produtores de Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional (Apropampa), gestora da Indicação Geográfica para a carne produzida na região que abrange grande parte da área brasileira do bioma, José Carlos Paiva Severo lembra que a entidade partilha a mesma filosofia da Alianza del Pastizal de produzir com sustentabilidade, por isso vem trabalhando forte junto aos frigoríficos, principalmente o Marfrig, para colocar essa produção no mercado sob o selo Carne do Pampa Gaúcho, pois hoje acaba sendo incorporada por outros programas de carne de qualidade, mas já com remuneração diferenciada. “Nosso objetivo é produzir em ambiente natural visando uma pecuária mais produtiva e de forma sustentável ao longo dos anos”, observa o dirigente.
Foto: Chaleco Lopes
O
V Encuentro de Ganaderos de Pastizales Naturales del Cono Sur de Sudamerica pretende reunir em Lavras do Sul os pecuaristas que acreditam ser fundamental a preservação da fauna e da flora de seus campos, ação que contribui para aumentar a produtividade e a competitividade da carne que produzem. O evento, promovido pela Alianza del Pastizal, ocorre no final de outubro junto com o terceiro seminário O Pampa e o Gado, realizado desde 2009 pelo Sindicato Rural de Lavras, apoiador do encontro ao lado de entidades como a Apropampa e a BirdLife International. Conforme Fernando Adauto, produtor no município e membro da mesa diretora da Alianza del Pastizal, os pecuaristas podem usar práticas que melhoram a produtividade sem agredir o campo nativo, mas para isso é importante que tenham conhecimento das propostas, principalmente para obter melhores rendimentos financeiros através de suas atividades
Fernando Adauto
José Carlos Paiva Severo
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Foto: Adriano Becker
Meio Ambiente
Pássaros da espécie veste-amarela, espécie ameaçada de extinção que indica ambientes conservados, foram identificados em propriedades lavrenses
sElo VErdE
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Rogério Jaworski dos Santos
Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal
Rogério Jaworski dos Santos, da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil que representa a BirdLife Internacional -, recorda que a entidade realizou em 2009 uma pesquisa em 250 restaurantes e 50 atacadistas compradores de carne bovina de todo país para avaliar a percepção acerca da importância da produção de carne com selo de indicação geográfica ou de preservação ambiental. O resultado, segundo ele, apontou que há sim uma valorização para isso e que todos acham importante iniciativas como esta, sendo que uma parte considerável dos entrevistados mostrou-se disposta a pagar mais por um produto que tenha um desses selos, pois percebem que consumidor também valoriza este tipo de produto. “Por isso, acreditamos que identificar a carne que é produzida de maneira ambientalmente sustentável é uma alternativa para buscar a conservação dos campos e melhorar a renda do produtor”, ressalta o engenheiro agrônomo. O representante da Save Brasil lembra ainda que a Alianza del Pastizal tem uma forte ligação com a Apropampa desde antes do primeiro encontro de produtores de gado de corte em campo nativo, realizado em 2007 em Bagé, sendo que uma das formas de evolução dessa relação é o levantamento sobre os pássaros que habitam o bioma Pampa realizado na propriedade de alguns dos afiliados da Apropampa, onde foram identificadas espécies ameaçadas de extinção, como a noivinha-do-rabo-preto (Xolmis dominicanus) e o veste-amarela (Xanthopsar flavus), que indicam ambientes campestres conservados. “Uma de nossas linhas de ação é identificar os tipos de manejo que os produtores estão adotando para ver se são benéficos ou não para a conservação da avifauna. E temos visto que sim, que a pecuária bem conduzida, com ajuste de lotação animal, é produtiva e ajuda a conservar o ambiente, preserva inclusive espécies ameaçadas de extinção”, acrescenta Santos.
Anibal Parera
Fotos: Divulgação/Alianza del Pastizal
A outra linha de ação definida no primeiro encontro foi justamente a de criar um Selo Verde para a carne produzida de forma sustentável dentro de todo o bioma Pampa, que poderá ser veiculado junto ao selo Carne do Pampa Gaúcho ou figurar sozinho na carne produzida fora da região contemplada pela Indicação Geográfica. Para Anibal Parera, coordenador da Alianza del Pastizal, a criação de um selo único para os quatro países – Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai – é um grande desafio. “Até o momento nos ocupamos em montar uma base para o projeto. Estamos consolidando um protocolo técnico, definindo uma imagem para o selo, acertando os procedimentos e formando um conselho de certificação, com integrantes de cada país”, detalha. A estratégia para estimular a conservação dos campos nativos, segundo ele, é conquistar os produtores promovendo boas práticas e melhorias nos processos
Participantes do IV Encuentro de Ganaderos de Pastizales Naturales del Cono Sur de Sudamerica, no Uruguai
produtivos para um melhor emprego dos recursos naturais, agregando maior valor à produção. “A América do Sul é vista pelo mundo como uma das principais reservas de recursos naturais e o Pampa é reconhecido pela sua tradição e excelente produção de carne, possivelmente uma
das mais prestigiadas mundialmente, por isso é importante sua preservação”, completa Parera, reforçando que o principal resultado obtido até o momento é a aceitação da iniciativa por um número significativo de produtores, muitos deles já organizados.
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Fotos: Kéke Barcellos e Alexandre Teixeira
A força do Agronegócio
04 a 08 de novembro
Parque do Sindicato Rural de
Lavras do Sul
Infos: (55) 3282.1256 - www.srlavrasdosul.com.br
PREFEITURA MUNICIPAL DE
LAVRAS DO SUL
Turismo
pelos caminhos do ouro
Projeto turístico pretende resgatar por onde andou o mais nobre dos metais na única cidade gaúcha que se originou da exploração aurífera e explicar o porquê da antonomásia “Terra do Ouro”
T
da, que também é secretária de turismo do município. Para justificar a execução do projeto, ela cita em um dos excertos da dissertação o sociólogo francês Henri-Pierre Jeudy, que discursa justamente sobre a transformação do patrimônio em mercadoria, como uma forma de salvá-lo do descaso e da destruição. Fernanda é uma preocupada com a memória coletiva da cidade e com a preservação da arquitetura local. “Objetiva-se que a população detenha o conhecimento sobre este passado e torne este saber uma temática urbana a fim de produzir atrativos turísticos, que por sua vez agirão como escudo em defesa da preservação dos prédios das antigas usinas e antigos engenhos de ouro, que estão ruindo por falta de conheci-
mento, identidade e utilidade”, escreveu na introdução do seu trabalho. O projeto Rota do Ouro deverá ser aplicado no início de 2012 e levará os turistas a 10 pontos importantes da cidade para uma visitação externa, onde poderão conhecer a história dos prédios no contexto da mineração. Souvenirs temáticos serão distribuídos aos visitantes, que serão acompanhados por condutores turísticos preparados com mini-cursos oferecidos pela Prefeitura. Placas de identificação também serão colocadas nos prédios históricos para orientar os turistas. O trabalho é em parceria com a Agência Tchê Fronteira Turismo, de Bagé, responsável pela execução do projeto, que não tem fins lucrativos.
Fotos: Alexandre Teixeira
alvez todos os lavrenses saibam que Lavras do Sul nasceu do ouro. Mas poucos conhecem a fundo sua história. E é com o objetivo de resgatá-la que um projeto turístico pretende levar visitantes a caminhar pelas ruas da cidade e conhecer os prédios antigos que abrigaram engenhos e cidadãos que trabalharam com o metal. A base do projeto é a dissertação de mestrado da turismóloga Fernanda Ricalde Teixeira. A Rota do Ouro vai contar aos turistas sobre a cadeia de produção do ouro, da extração em pedra bruta até o beneficiamento. “O objetivo do projeto é resgatar a memória da mineração; recontar a história para gerações que não conhecem, pois houve 60 anos de esquecimento”, relata Fernan-
Fernanda Ricalde Teixeira
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brEVE HistÓrico Lavras do Sul se desenvolveu com a chegada de pesquisadores das Coroas Espanhola e Portuguesa em busca de novas fontes de riqueza, já que em Minas Gerais o minério estava por terminar. Em Lavras do Sul chegou gente de todas as nacionalidades. Alguns foram embora e outros permaneceram. E foi assim que nasceu a pequena cidade do Sudoeste da Campanha gaúcha, onde nasce o Rio Camaquã, fonte de toda a riqueza que aqui vieram buscar esses aventureiros. Prédios foram erguidos, engenhos foram montados às margens do rio, famílias foram povoando o lugar. Chegada a Era
a rota do ouro O ponto de encontro e partida é a Praça das Bandeiras, no centro da cidade. Mas os lugares começam a fazer parte da Rota do Ouro a partir da primeira parada. Veja os 10 pontos:
Vargas e o Nacionalismo, os estrangeiros tiveram que se retirar, deixando para trás alguns herdeiros, residências, maquinários e engenhos. Com a retirada dos exploradores e pesquisadores ficaram os garimpeiros, que logo em seguida abandonaram suas bateias e foram procurar outros trabalhos no campo, desenvolvendo a pecuária e a agricultura, perdendo-se a mineração. E por 60 anos o ouro foi apenas uma história que se ouvia. Os prédios tornaram-se abandonados pela falta de cuidado. Por existir um testemunho de prédios em ruínas sendo totalmente extintos é
que se propõe este trabalho de resgate da memória do ouro, usando o incentivo à preservação dos edifícios e o estímulo ao reconhecimento dessa memória como identidade social através da introdução de história local na rede pública de ensino fundamental municipal. O resultado disso é um roteiro urbano perpassando pelos antigos engenhos e casas que compõem a arquitetura industrial do ouro em Lavras do Sul. Para isso, a pesquisa direciona dez pontos de visitação, para que não fique muito longo o passeio, que será também um processo de patrimonialização do ouro, como parte do projeto de educação.
O primeiro ponto turístico é a Igreja Matriz Santo Antônio. Começou a ser erguida em 1914 e foi concluída em 1918. Conta a história oral que existem túneis subterrâneos que interligam a Igreja com algumas das principais casas dos engenheiros de minas, que transitavam com o ouro entre os imóveis, e outros ainda dizem que há um filão de ouro embaixo da Igreja, aguçando o imaginário popular sobre os tesouros escondidos e perdidos pela cidade.
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Turismo
Foto: Daniele Moreira
A casa geminada da família Souza é o segundo ponto. O empreendedor da mineração da última fase da mineração antes de 1950, João Ricardo de Souza, juntamente com seu pai, Serapião Freitas de Souza, construiu o Engenho do Paredão e a Usina São João. O imóvel localizado no centro da cidade é um testemunho do progresso que o engenho apresentou, com característica da arquitetura eclética, típica residência do movimento, com entradas laterais, muitos adornos e portões de ferro
Residência construída em 1906 por José Chiappetta, engenheiro de minas vindo da Sicília, Itália. Foi um dos mais bem sucedidos empresários do ouro em Lavras do Sul. Sua filha, Jurema Chiappetta, nascida em 1907, mora até hoje na residência. Professora aposentada, aos 103 anos conta histórias da época da mineração. É um dos poucos relatos vivos da cidade sobre esta época. Lembra-se dos garimpeiros fazendo fila no arroio Camaquã das Lavras para batear o ouro que escapava das máquinas que moíam pedras e de quando usavam mercúrio para separar as pepitas. A casa, que ocupa um quarteirão inteiro, tinha também um armazém de secos e molhados chamado Preço Fixo – onde hoje funciona a loja Maket. Ali, seu pai comprava ouro dos garimpeiros que o traziam enrolados em papéis de seda. Depois ia vender no Uruguai. Dona Jurema, que faz 104 anos em novembro, lembra-se ainda do ouro enchendo potes transparentes guardados dentro do cofre e das barras de ouro que pareciam chocolate.
Casa da família Torgo, construída em 1913. Pertenceu ao Dr. Peri Souza, mas é conhecida com a Casa dos Torgo, pois o General Torgo casou-se com uma das filhas do Dr. Peri, com quem teve duas filhas. Por muitos anos o imóvel permaneceu abandonado em ruínas. Hoje, o casarão pertence à Prefeitura e é uma escola de educação infantil.
Jurema Chiappetta
Eloí Leivas
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As ruínas da Company Mining Gold – ou Comando como é conhecido – foram erguidas em 1875. É uma típica construção da arquitetura industrial, com portas de ferro e já utilizando amianto. O prédio tinha dois andares: na parte térrea havia a área de armazenamento dos equipamentos e maquinários, material de pesquisa, oficinas de carpintaria e ferraria; no piso superior estava o alojamento dos funcionários. Eloí Leivas, serralheiro de 89 anos, trabalha até hoje no local onde funciona uma serralheria. É outro relato vivo dos tempos da mineração. Seu Leivas faz portões e grades de ferro. Chegou ao local em 1966 para montar a oficina que também já foi Centro de Tradições Gaúchas. Trabalhou na mina de mineração conhecida popularmente como Casa Branca, de propriedade de Pedro Mata. Aos 16 anos lidava na parte de serviços gerais. Depois, já com experiência, foi para o laboratório, lugar onde purificavam o ouro. Atualmente a parte onde ainda funciona a serralheria está comprometida devido ao cupim nas tesouras.
A barragem da Praia do Paredão – ` conhecida como Taipa – é o sexto ponto da Rota do Ouro. Construída em 1920 para captação da água para tratamento, é um dos principais atrativos turísticos da cidade, pois o curso d’água é do Arroio Camaquã das Lavras, ou seja, onde se fazia a lavra do ouro que deu origem à cidade.
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Turismo
O santuário de Santo Antônio é a oitava parada do projeto. A história mais aceita para que o santo se tornasse padroeiro da cidade é a de que um garimpeiro bateava ouro nas lavras do arroio Camaquã e encontrou uma pepita que lembrava o formato do santo. Assim, Santo Antônio tornou-se para os nativos da cidade símbolo de riqueza, fortuna e proteção.
Foto: Divulgação/Arquivo Pesso
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Foto: Divulgação/Arquivo Pesso
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Do Engenho do Paredão, sétimo ponto, resta apenas alguns elementos. Infelizmente, o maquinário e a construção foram destruídos e vendidos para o ferro-velho. Este é o ponto da Rota do Ouro que lembra o abandono do fim de um ciclo de sucesso, riqueza e aventura, para o início de um profundo esquecimento da história. O Engenho do Paredão funcionou de 1935 a 1947.
Fonte: Rota do Ouro: um estudo de resgate da memória da mineração aurífera em Lavras do Sul através de uma rota turística. Dissertação de Mestrado de Fernanda Ricalde Teixeira, orientada por Caryl Lopes, coordenador do Curso de Arquitetura da da UFSM.
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Foto: Divulgação/Arquivo Pesso al
A Itaoca – casa de pedra em tupi – e o Engenho Belga são a nona parada da Rota. Recebeu o nome de Engenho Belga quando na sociedade do espanhol Francisco Lopes e do francês Paulo Tallourd começou a fazer parte o belga Charles Renard. Foi o primeiro empreendimento multinacional de mineração em Lavras do Sul. A Cia. Belga funcionou apenas alguns anos e em 1909 foi vendida para a Brazilian Goldfields Limited, que adquiriu todos os bens da antiga companhia trinacional. Em 1938, o químico Pedro Mata comprou o engenho belga e às margens do Arroio Camaquã das Lavras construiu a casa de pedra. Segundo a memória oral, foi construída ao valor de seis toneladas de ouro extraídos pela Companhia Mineração de Ouro do Butiá Ltda. entre 1936 e 1938. Atualmente moram os descendentes de Edson Luiz de Souza Chiappetta – o seu Bidinho – como era conhecido, que também era um entusiasta da exploração do ouro. Irmão de Dona Jurema Chiappetta, comprou a Itaoca de Pedro Mata em torno em 1950, segundo conta seu neto Hugo Chiappetta. Era um pesquisador da terra, um estudioso empírico. Acompanhava o pessoal e realizava serviços mesmo sem ser geólogo. Na Casa Branca – região do Bloco do Butiá – funcionava uma mina, de onde extraíam material bruto e beneficiavam no engenho da Itaoca.
A última parada da Rota do Ouro é a Casa de Cultura da cidade. Guardiã da memória local traz no acervo as antigas bateias utilizadas pelos garimpeiros. Além de uma vasta coleção de fotografias antigas que mostram a construção da cidade e as atividades de mineração.
www.carnedopampagaucho.com.br
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Fotos: Kéke Barcellos
Manejo
Guerra declarada ao capim-annoni Citeanos lavrenses adotam rigoroso controle na tentativa de erradicar do município a espécie de baixa qualidade nutricional que assola os campos gaúchos 42 -
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ido como solução mágica em função de sua fantástica capacidade de proliferação e sobrevivência, com sementes amplamente comercializadas na década de 70, o capim-annoni (Eragrostis plana nees), originário do sudoeste africano, disseminou-se de tal forma que hoje é tratado como uma praga, proliferando-se rapidamente pelos campos gaúchos e inibindo a pastagem natural, especialmente na zona de criação de gado. De raiz profunda e ramificada, o capim fibroso rebrota a cada primavera, podendo permanecer no solo por até dez anos antes de brotar novamente. “É uma espécie exótica e de baixa qualidade que está tomando o lugar de boas espécies forrageiras, isso compromete o desempenho animal individual. Por isso, a primeira coisa a fazer é evitar que entre nos campos. O primeiro passo é ajustar a carga animal, ou seja, não trabalhar com campos apertados para permitir que as espécies nativas tenham mais condições de competir com ela”, ensina Carlos Nabinger, engenheiro agrônomo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Além disso, segundo ele, é preciso tomar muito cuidado com os locais onde há junção de animais, como as mangueiras, por exemplo. “Ali é que tem que ser feito o primeiro controle. E, no campo, à medida que for se vendo algum pé tem que tratar de arrancar, dissecar, fazer o que for possível, afinal esse é o nosso inimigo número um”, acrescenta Nabinger, revelando que estimativas apontam cerca de dois milhões de hectares já infestados pela planta invasora no Estado.
Erradicação como mEta Em Lavras do Sul a situação mantém-se ainda sob controle e muito disso deve-se à obstinação dos citeanos locais em erradicar de vez a planta invasora dos campos lavrenses. Entre eles, está Fernando Adauto Loureiro de Souza, que se orgulha de nunca ter deixado o annoni entrar em sua propriedade, a Estância São Crispim - sempre que via alguma planta isolada perto da estrada ou próximo às porteiras ia logo arrancando. Apesar da disseminação acentuada em todo o Estado, Adauto afirma que em Lavras há um percentual ainda pequeno de campos contaminados em função da preocupação permanente dos produtores. “Tenho grande satisfação por ver no município um grupo tão atuante como é o do Cite 27, onde todos fazem rigoroso controle da invasora em suas propriedades”, reforça o engenheiro agrônomo, também integrante do grupo. Além do baixo valor nutritivo, com ganho de peso inferior ao registrado em gado criado em campo nativo, por exemplo, ele cita que o annoni possui uma agressividade ainda maior dado o seu efeito alelopático, ou seja, nada mais nasce a sua volta, contribuindo para uma diminuição da diversidade, como as das gramíneas que se proliferam nos campos nativos, por exemplo. “Nada é melhor para nossa pecuária do que a vegetação nativa”, completa Adauto. Outro integrante do Cite 27 que está com o capim-annoni totalmente controlado em seus campos é Jozé Angelo Etchichury, mesmo com a intensa compra de gado para invernar, uma das causas de maior disseminação da planta, já que suas sementes são facilmente transportadas entre os cascos dos animais e até mesmo por meio de suas fezes. “À medida que vejo algum pé já vou arrancando, com a raiz, para evitar que se esparrame”, ensina o pecuarista, que procura também mexer o mínimo possível nas terras próximas à estrada, “pois se encontrar um espaço o capim avança”. Para Etchichury, que também é primeiro tesoureiro do Sindicato Rural de Lavras do Sul, é muito importante a troca de experiências possibilitada pela ação dos citeanos, pois acredita que aquilo que está sendo bem conduzido deve servir de modelo aos demais produtores. Integrada ao Cite 27 há apenas dois anos, Yara Bento Pereira Suñé conta que possui o annoni em determinadas partes da propriedade, principalmente nas estradas internas e arredores, e confessa que a situação começa a fugir de seu controle. “No início da infestação, mandava os funcionários arrancarem com facão. Atualmente, devido ao aumento considerável, tenho usado glifosato”, explica a engenheira agrônoma, responsável pela atividade pecuária das estâncias Querência e Santa Terezinha. Para ela é muito válido o trabalho realizado pelo Cite 27, como o dia de campo específico sobre o capim-annoni realizado no final de setembro na Pecuária Bulcão, onde os citeanos apresentaram relatos da situação em suas propriedades e trocaram experiências visando um controle mais efetivo onde se fizer necessário. “Temos integrantes com muita experiência e persistência em seus controles e no teste de novas técnicas. - 43
Manejo
Foto: Chaleco Lopes
Foto: Valério Antônio Teixeira de Souza
No entanto, todos concordam que existe uma grande carência de pesquisas sobre o controle do annoni e, ainda, que só o uso do glifosato não é mais suficiente para isso”, prossegue Yara, que pretende copiar o modelo usado pelos colegas Fernando Adauto e Bóris Delabary, que consiste na consorciação de espécies de verão e inverno o ano inteiro, além de épocas específicas de roçadas do capim.
Yara Bento Pereira Suñé
Integrantes do Cite 27 durante dia de campo sobre o capim-annoni
Em 2008, foi iniciada uma rede de estudos coordenada pela Embrapa Pecuária Sul, de Bagé, sobre estratégias para o controle da invasora capim-annoni nos campos sul-brasileiros, cuja segunda fase recém está iniciando e envolve pesquisadores de diversas universidades e centros de pesquisas. De acordo com Naylor Bastiani Perez, engenheiro agrônomo e pesquisador da entidade, um dos resultados deste trabalho é o equipamento batizado de Campo Limpo - patenteado pela Embrapa e licenciado para produção por uma empresa do interior gaúcho -, no mercado há um ano. “Trata-se de um aplicador de herbicida desenvolvido para realizar o controle seletivo de plantas indesejáveis em pastagens utilizando herbicida sistêmico não seletivo”, explica o pesquisador. Segundo ele, o princípio de aplicação da máquina se baseia na diferença de altura entre as plantas forrageiras, que são consumidas pelos animais e permanecem mais baixas, perto do solo, e as plantas rejeitadas ou menos consumidas, que permanecem mais altas e entram em contato com os aplicadores. “Sua utilização em pastagens invadidas por capim-annoni no Bioma Pampa tem permitido o controle significativo da invasora e a preservação das espécies forrageiras”, acrescenta Perez. Uma alternativa ao equipamento é a chamada “enxada química”, um aplicador manual de herbicida também desenvolvido pela Embrapa e confeccionado com tubulação de PVC, que pode inclusive ser construído em casa - um manual encontra-se disponível para download no site da entidade de pesquisa. Afora isso, Perez aponta uma terceira alternativa que também vem sendo estudada, 44 -
Foto: Breno Lobato/Divulgação Embrapa
pEsquisas apontam Formas dE controlE
Naylor Bastiani Perez
Foto: Breno Lobato/Divulgação Embrapa
a integração da pecuária com a silvicultura. “O sombreamento inibe o desenvolvimento do annoni, extinguindo-o até em alguns casos. Por ora, são estas as alternativas para o seu controle”, revela o pesquisador. De acordo com ele, porém, é preciso um trabalho mais abrangente, pois não adianta cuidar só da porteira para dentro. “Deve-se tomar bastante cuidado também com as partes externas da propriedade, como corredores e margens das rodovias. Sem contar, é claro, de tomar cuidados especiais com o gado que é comprado e com o trânsito de máquinas dentro da propriedade, que são grandes disseminadores da planta”, acrescenta Perez.
Detalhe do aplicador manual de herbicida seletivo desenvolvido pela Embrapa
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Ovinos
produzir cordeiro: um bom negócio C
om a desvalorização da lã por causa da proliferação das fibras sintéticas há alguns anos, a ovinocultura, consequentemente, perdeu espaço nos campos lavrenses. Com isso, os produtores precisavam de alternativas viáveis para seu rebanho. Atualmente, um novo segmento de mercado tem despertado a atenção deles: a produção de carne ovina em escala industrial. Lavras do Sul possui um rebanho ovino de 89 mil cabeças, segundo dados da Inspetoria Veterinária local. Acreditando neste potencial um grupo de criadores está se mobilizando para fundar um núcleo de produtores de ovinos. A ideia é produzir carne de cordeiro não só para o município, mas para todo o Rio Grande do Sul. Para Paulo Henrique Teixeira de Souza, o Gujo, que é um dos motivadores deste grupo de criadores, a fundação do Núcleo de Produtores de Ovinos de Lavras do Sul – em torno de 20 ovinocultores – ocorrerá concomitantemente à regularização do frigorífico local. “Não faz sentido um núcleo formado sem ter para quem vender os produtos. Vislumbramos um mercado otimista. Visamos agregar valor ao produto com cortes diferenciados, por exemplo, pois sabemos que a ovinocultura sempre será um mercado paralelo à criação de gado”, destaca Gujo, que também quer desmistificar que a carne de ovelha seja somente para o churrasco. Um dos produtores mais tradicionais e incentivador da ovinocultura de corte em Lavras do Sul é Rui Afonso Teixeira, que se mostra otimista com a perspectiva de mercado. “A demanda despertou o consumo mundial. Enquanto o quilo vivo do cordeiro oscila entre R$ 4 e R$ 5, o quilo da carcaça gira em torno de R$ 11. Sem falar que
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o quilo de um corte especial de cordeiro pronto para o consumidor, na gôndola do supermercado, varia de R$ 30 a R$ 40. Por isso, a ideia de vender o cordeiro industrializado”, explica. Atualmente Teixeira possui um rebanho em torno de dois mil ovinos da raça Texel na Fazenda Santa Jovita, o que gera uma safra de 500 a 550 cordeiros. Como precisa escoar a produção, também é um adepto da concretização do núcleo para explorar o potencial da ovinocultura. “Mas, para evoluirmos nesta cadeia, precisamos ter mais opções de abate, inclusive aqui no município, sempre primando pela qualificação dos mesmos, com uma planta organizada, moderna e dentro dos padrões exigidos pela vigilância sanitária”, observa o produtor. Teixeira diz que o animal é considerado cordeiro dos 120 dias até os 12 meses de idade, quando ainda não romperam os dois dentes. Gujo considera que deva existir uma margem mais estendida, para quem possui volumes menores. O produtor de ovinos mais inspirado com a nova proposta é Dilermando Teixeira de Barros. Com um rebanho de 300 matrizes Corriedale e Texel – garantindo 100% de nascimento – na Fazenda Meia Lua, Dilermando já trabalha no ramo. Abate e vende seus cordeiros em Santa Maria, mas projeta atender todo o Rio Grande do Sul e estados como Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro, de onde recebe pedidos frequentemente, sem poder atendê-los. Isto por que em Santa Maria o frigorífico também não possui regularização frente ao Cispoa, que é o órgão de fiscalização sanitária do RS. Dilermando sabe que o mercado está aquecido, pois há oportunidade para toda a cadeia, seja
Fotos: Kéke Barcellos e Alexandre Teixeira
Com o frigorífico local prestes a regularizar a situação frente ao Cispoa, criadores de ovinos de corte vislumbram um mercado promissor
Gujo Teixeira
Rui Afonso Teixeira
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como produtor, fornecedor ou na comercialização. “Nós produzimos o cordeiro, recriamos e abatemos em frigorífico, fornecendo cortes especiais. Cuidamos de cada detalhe desde o manejo das matrizes, com cães Border Collie, diminuindo o stress; alimentação das mães e dos cordeiros, vermifugação, questões sanitárias até o abate e a comercialização dos cortes”, ressalta. Para agregar valor ao produto Dilermando oferece cortes diferenciados como o carré francês, filé mignon, selinha, entrecot e pernil desossado. Assim, consegue vender por até R$ 40 peças que, na carcaça, custariam somente um quarto do preço. Assim como Gujo, para ele o principal objetivo é desmistificar que a carne de cordeiro serve apenas para churrasco, e trazer cada corte para a cozinha diária dos gaúchos. “Os cortes especiais são feitos de forma que a carne de cordeiro seja apreciada desde os pratos simples e churrascos, até pratos de alta gastronomia”, explica. Dono da marca Cordeiros da Meia-Lua Cortes Especiais, Dilermando – que trabalha com a filha Mariana e o genro Leandro – não vê a hora de poder abater em Lavras para levar o nome da cidade aos melhores restaurantes. “O Leonardo, proprietário do Frigorífico Costa, tem se esforçado para atender nossas expectativas e está tentando cumprir todas as exigências sanitárias e fiscais para que, em breve, possamos exportar nosso produto para outras cidades e outros Estados, gerando mais renda e emprego em Lavras e garantindo um produto legítimo e de qualidade”, completa o produtor.
o ponto X da quEstão
Foto: Divulgação
Para que esse segmento seja efetivado, os produtores de ovinos precisam que o Frigorífico Costa regularize sua situação frente à Coordenadoria de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Cispoa), que é o órgão da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio do Rio Grande do Sul responsável pela inspeção de produtos de origem animal que são comercializados dentro do Estado. Atualmente, o frigorífico possui apenas o Serviço de Inspeção Municipal (SIM), que só autoriza a comercialização dentro do município. Como a produção será em grande escala, faz-se necessário este credenciamento para que se venda carne também para outras cidades. Se depender dos proprietários do abatedouro, os criadores podem apostar no negócio. “Pela nova perspectiva de mercado estamos pleiteando junto ao Cispoa o restabelecimento do nosso registro. Não existe um prazo pré-determinado, todavia,
Objetivo dos produtores lavrenses é produzir carne ovina em escala industrial
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Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal
Ovinos
Dilermando Teixeira de Barros
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assim que a documentação for considerada apta para tal fim, esperamos contar com o restabelecimento do registro”, afirma Leonardo Krieger Remedi, advogado e sócio-proprietário do Frigorífico Costa. Em fase de aperfeiçoamento para cumprir as exigências de inspeção, Remedi diz ainda que a planta atual já possui condições de abater considerável parcela da produção da região. “Possuímos, inclusive, sala climatizada apta para a confecção dos cortes”, adianta. Natural de Santana de Livramento e de uma família criadora de ovinos, Remedi se diz mais um parceiro nesse nicho promissor. “Em meu modesto entendimento não vejo outra possibilidade de enfrentarmos este novo mercado de forma competitiva, senão através de parcerias, sendo, portanto, de fundamental importância a participação dos produtores”, acrescenta. Remedi chama a atenção para outro ponto de vital importância para o sucesso do empreendimento: a fiscalização ao abate clandestino. “Tudo aquilo que é realizado na clandestinidade, de alguma forma é prejudicial para quem trabalha de forma lícita. Todavia, no ramo frigorífico, a clandestinidade traz consequências graves, principalmente ao consumidor, pois irá consumir um produto sem as necessárias garantias sanitárias, trazendo riscos à sua saúde”, observa Remedi, alertando as autoridades sobre casos recorrentes no município.
Foto: Divulgação
Ovinos
Leonardo Krieger Remedi
artEsanato laVrEnsE é prEmiado na EXpointEr poderão ser vistas no desfile que será realizado no estande da agricultura familiar na Expolavras 2011. O programa de artesanato em lã ovina nasceu 1992 como uma alternativa de renda para
a agricultura familiar. Tem o apoio do Sindicato Rural, Casa da Estudante Dr. Pery de Souza e Prefeitura Municipal, e é coordenado pela extensionista rural Mariluce Chagas.
Foto: Divulgação
Durante o VI Salão Gaúcho de Artesanato em Lã e Pele Ovina, realizado na 34ª Expointer, em Esteio, um grupo de artesãs de Lavras do Sul obteve reconhecimento estadual. Suas peças foram premiadas em seis categorias. As artesãs, integrantes do Programa de Geração de Renda, coordenado pela Emater, competiram contra 154 peças de outros 20 municípios gaúchos e obtiveram o primeiro lugar nas modalidades Tecelagem Artesanal, Técnicas Livres com Feltro e Fiação Artesanal, além da segunda colocação nas categorias Técnicas Alternativas, Crochê Artesanal e Fiação Artesanal. O artesanato em lã ovina lavrense é reconhecido como original e autêntico. As artesãs selecionam, classificam, lavam a lã, fiam e tingem com corantes naturais, desenham e produzem peças como cachecóis, toucas e palas, que
Mariluce Chagas (em pé), coordenadora do programa de artesanato em lã ovina com modelos vestindo peças confeccionadas pelas artesãs lavrenses
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Equinos
Genética de ponta na terra do ouro
Fotos: Alexandre Teixeira
Além dos já tradicionais criatórios locais, Lavras vem recebendo importantes manadas de selecionadores que encontram no município condições ideais para criar seus animais
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A Gustavo Delabary
pós a conquista do Freio de Ouro 2004 por LS Balaqueiro, conduzido por Gustavo Delabary, Lavras do Sul voltou a figurar entre os melhores da prova máxima da raça Crioula em 2011 através do Freio de Bronze conquistado por RZ Revuelto Cristal da Carapuça, cujos primeiros filhos já pastejam nos campos do município. À frente do Núcleo de Criadores de Cavalos Crioulos de Lavras do Sul, Delabary destaca que um dos grandes feitos da entidade criada há pouco mais de dois anos foi trazer novamente ao município uma credenciadora ao Freio de Ouro, realizada em janeiro, com destaque para a qualidade das 11 fêmeas e dos 13 machos apresentados. “Dentre as éguas que correram a prova, quatro classificaram-se posteriormente à final do Freio. Dos 96 finalistas deste ano, pelo menos cinco eram de associados do núcleo”, observa o dirigente. Ele cita ainda outros resultados recentes obtidos por crioulistas lavrenses, como a segunda colocação de Carlos Loureiro de Souza e Guilherme Abascal no Campeonato de Paleteada Internacional da ABCCC, em 2011, durante o Bocal de Ouro, e o excelente desempenho de jovens promessas locais nas provas da Expointer 2011, entre eles Pedro Ferreira, da Cabanha Macanudo, de apenas 12 anos, sexto colocado na categoria Juvenil, e Onildo Nunes Jr., da Cabanha Don Marcelino, de 14 anos, quarto colocado na categoria Aspirante. Segundo Delabary, o número de associados praticamente dobrou desde a criação do núcleo de criadores, chegando a 60 atualmente. “Muitos são pequenos criadores, com origem no campo. Além disso, tivemos grandes manadas instalando-se no município, até mesmo pessoas de fora do Estado”, revela o criador, que está afastado das pistas desde 2009, mas prepara uma fêmea da Cabanha São Crispim para o ciclo 2012, filha de Balaqueiro. Entre os criadores que migraram seus rebanhos para o município está Vanderlei Maurer, que transferiu todos os animais da Cabanha VMB - antes sediada no bairro Lami, na periferia da capital gaúcha - após a aquisição de uma propriedade em Lavras. “A escolha do local foi estratégica, pois temos parceria com a Cabanha Cala Bassa, de Bagé, e a Estância Santa Lúcia, de São Gabriel. Assim, ficamos próximos dos dois parceiros”, explica o empresário do ramo de construção civil. Ele conta que iniciou os investimentos na raça Crioula há 10 anos com a aquisição de um cavalo visando apenas cavalgadas, Honesto Simpatia, que lhe despertou o gosto também para as provas. “Com ele, participamos de três Freios de Ouro, obtendo uma quinta e uma nona colocação, além de um décimo segundo lugar com Lindo Nene Cala Bassa”, ressalta Maurer, explicando
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Equinos
que ambos são os principais padreadores da cabanha que conta com 21 éguas em cria. A integração ao núcleo de criadores, segundo ele, foi muito tranquila e natural. “Todos nos deixaram muito à vontade, criando um ambiente digno da família crioulista. Lavras nos acolheu como se fossemos filhos desta terra”, ressalta o empresário, reforçando que o objetivo principal do criatório é a preparação e seleção de animais para provas funcionais.
bocal dE ouro E FrEio dE bronzE Vitélio Rigão é outro crioulista que transferiu seu plantel para Lavras do Sul, em 2006. Um ano antes deu início a sua cabanha pela necessidade de produzir animais funcionais para o serviço da fazenda que mantinha até então em Que-
vedos, onde plantava soja e criava gado. “Achei que era o momento de começar a registrar meus animais, já que estes possuem maior qualidade e valor agregado, assim fui comprando animais registrados. Com o tempo, fomos nos profissionali-
Conduzido por Daneil Teixeira, RZ Revuelto Cristal da Carapuça foi Bocal de Ouro e Freio de Bronze 2011
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zando até chegar a conquista do Bocal de Ouro e do Freio de Bronze”, recorda o bacharel em tecnologia em ciências equinas, citando os feitos do garanhão RZ Revuelto Cristal da Carapuça, mantido em sociedade com Luizantero Peixoto e filhos, da Fazenda Tarumã, de Júlio de Castilhos. De acordo com ele, as vitórias mais expressivas da cabanha até o momento significam o reconhecimento de um trabalho recente, mas de muita qualidade, centrado desde o início na preocupação em adquirir exemplares superiores para melhorar a genética do plantel e reproduzir animais de melhor qualidade, com função, resistência e morfologia. Segundo Rigão, RZ Revuelto Cristal da Carapuça comprovou esta preocupação e alavancou o desenvolvimento da cabanha, que hoje conta com um centro de monta em Santa Maria para atender
herdado suas características, tanto morfologicamente quanto em temperamento, pois são muito dóceis e de fácil manejo. Sem dúvida, os filhos de RZ Revuelto Cristal da Carapuça serão animais de excelência, tal qual o pai”, aposta Rigão, informando que o garanhão já está em preparo para o Freio de Ouro 2012, tendo conquistado o primeiro lugar na credenciadora realizada em Júlio de Castilhos no início de outubro.
Foto: Divulgação
a demanda por coberturas dos dois garanhões da Estância da Conquista – ou outro é Oigalê Tiquira, já premiado em diversas exposições morfológicas. Hoje, o plantel da Estância da Conquista - formado por 180 animais, dos quais 70 são éguas de cria – já conta com cinco filhos do Freio de Bronze 2011, que estão completando um ano, sendo que outros seis estão por nascer nesta primavera. “Sua progênie demonstra ter
Vitélio Rigão
criador, ginEtE E jurado 2011 - e ganhou ainda a prova Jurados em Pista. Além disso, orgulha-se de ter sido finalista do Campeonato Nacional de Paleteadas da ABCCC nos últimos quatro anos, registrando em 2010 a façanha de classificar sete duplas para a final, um recorde na história da competição. No Freio de Ouro, correu poucas provas, mas credenciou três éguas antes
de deixar as pistas para atuar como jurado. A estréia foi em 2009, em Bagé, ao lado de dois grandes jurados, Cássio Bonotto e Luis Alberto Bastos. De lá para cá foram 19 provas, dentre elas duas credenciadoras de inéditos e duas semifinais do Freio de Ouro, além de um salto da lista 3 para a lista 1 da ABCCC, o que lhe confere o direito de julgar qualquer prova da raça Crioula.
Foto: Kéke Barcellos
Estudante de medicina veterinária, Carlos Loureiro de Souza utiliza-se das provas funcionais para testar os cavalos da Cabanha Chimarrão, sediada em Lavras e iniciada por ele e pelos irmãos Eduardo e Marta, em 1999. Ele destaca Martin Fierro Chimarrão, um filho da égua RP 01 do criatório, exportado por R$ 100 mil para a Argentina, onde é um dos cavalos mais pontuados no ranking de paleteadas. Hoje, com oito éguas em cria, os irmãos dão continuidade ao afixo utilizado inicialmente pelo avô usando sobre elas CRT Guapo, Grande Campeão da Expointer e da FICCC, da Viragro Agropecuária, de Dom Pedrito, que os presenteou recentemente com uma cota de 10% de Viragro Rio Bravo, filho de Guapo e também Grande Campeão da Expointer, que será utilizado na manada em substituição ao pai. Com o chileno puro Agua de Los Campos y Maquena Guindo Santo, Caco Souza foi vice-campeão do Campeonato Nacional de Movimiento a La Rienda da ABCCC em 2010 – e finalista também em
Caco Souza (E) com o irmão Eduardo durante classificatória do Campeonato Nacional de Paleteada com éguas da manada da Cabanha Chimarrão
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Integração
cite 27, o melhor do ano Atuante grupo de produtores de Lavras do Sul foi eleito na Expointer 2011 o melhor Clube de Integração e Troca de Experiências do RS
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em 2011 durante a 34ª Expointer, em uma promoção da Federacite, entidade que congrega os Clubes de Integração e Troca de Experiências. Além dessa união declarada entre os integrantes, outros fatores contribuíram para a escolha. O sucesso da 21ª edição do Remate Anual de Produção dos Citeanos, realizado no Parque de Exposições do Sindicato Rural de Lavras do Sul, em 21 de maio deste ano, foi determinante. O melhoramento genético da produção e a padronização dos lotes também foram fundamentais para o êxito do evento.
Fotos: Alexandre Teixeira
ntre tantas frases que balizam os clubes de integração e troca de experiências do Rio Grande do Sul, uma em especial se aplica ao Cite 27: “As cercas devem dividir as propriedades, mas não os homens”. Com esta máxima como filosofia, o Cite 27, de Lavras do Sul, se tornou algo que vai além da troca de experiência, como explica a sigla. A política da convivência harmoniosa e o bom relacionamento entre os citeanos fez dele uma referência no Rio Grande do Sul, pois foi escolhido o Cite do ano
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O remate faturou R$ 1,5 milhão, aumentando em mais de 50% o faturamento em relação a 2010, quando obteve R$ 976 mil numa oferta de 1.172 reses. Esse ano foram ofertados 1.369 bovinos, entre ventres e novilhos, além de ovinos e cavalos Crioulos. O presidente do Cite 27, o médico veterinário e proprietário da Estância Camila, José Antônio Fabrício de Souza – doravante Zeca – explica o porquê do sucesso da entidade: “A ligação é muito forte entre os citeanos. Não há lugar para vaidades”. As parcerias com instituições como a Prefeitura Municipal, que acompanha a todas as reuniões, o Sindicato Rural, as agências bancárias, a Inspetoria Veterinária, o Núcleo de Produtores de Terneiros de Corte, o Núcleo de Criadores de Cavalos Crioulos e os escritórios de remate locais também são importantes para o bom resultado. “Estas são entidades que fazem parte do dia a dia
do Cite 27”, salienta Zeca. As ações do Cite 27 também trazem benefícios a produtores vizinhos, mesmo que não façam parte: “Nossa ideia é difundir ao máximo os sistemas produtivos e as tecnologias existentes, pois o acesso ao conhecimento é uma preocupação constante”, explica Zeca. Esse era um dos objetivos mais prementes na época de fundação, em 1977, quando havia uma estagnação tecnológica no período. Ele afirma também que todos os citeanos melhoraram a produtividade em suas fazendas e que qualquer produtor pode participar, seja ele grande ou pequeno. Também faz parte da política de prioridades do Cite a militância do grupo em combater o capim-annoni, corrigir o solo, adubar e manejar pastagens. Além de oferecer produtos que o mercado exige de forma sustentável, respeitando o meio ambiente e conservando o bioma Pampa.
José Antônio Fabrício de Souza
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Integração
cOntribuiçãO cOmprOvada O ex-presidente do Cite 27 e aposentado do Banco do Brasil, Jozé Angelo Etchichury, iniciou a atividade pecuária em 1992 quando foi residir em Lavras do Sul. “Em vista que se aproximava a aposentadoria, resolvi investir na atividade. Fui incentivado por amigos que fiz aqui, pois eram criadores”, explica Etchichury. Ainda inexperiente na nova atividade decidiu ingressar no Clube para iniciar o aprendizado: “Para mim, foi uma escola. Tudo o que aprendi, o manejo, as atividades, foi dentro do Cite 27”, relata. Atualmente sua produção na Invernada da Caneleira – uma área de 960 hectares – conta com cerca de 650 reses, entre gado de cria e engorde de vacas. Para o ex-presidente, o objetivo do Cite é trazer para a propriedade
o que vem dando certo. Para Etchichury não foi surpresa o Cite 27 ter sido eleito o melhor do ano: “É uma satisfação saber do prêmio na Expointer 2011, mas não foi surpresa. Pelo trabalho que vem sendo feito, pelo grupo qualificado e estruturado. Tínhamos esperança em ganhar, mas receber de fato a distinção foi uma satisfação para o grupo”. Dentro do fator humano da entidade, Etchichury enfatiza ainda a força dos laços de amizade que se criam: “É uma satisfação a convivência e a oportunidade de encontrar os amigos. O objetivo é o trabalho, mas o lazer é importante também”, afirma corroborando ao discurso do presidente Zeca.
Jozé Angelo Etchichury
O que diz a Federacite Fundado 17 de junho de 1977, o Cite 27 foi eleito o melhor do ano juntamente com o Cite 9, de Camaquã. Foi a segunda vez que o Cite 27 foi escolhido – a primeira foi em 1993. Atualmente, a entidade promove em torno de 10 encontros ao longo do ano e conta com cerca de 30 produtores. O presidente da Federacite, Carlos Roberto Simm, explica por que o Cite 27 obteve destaque durante a Expointer: “Chamou a atenção da Federacite a mobilização que o Cite 27 fez para prestigiar o concurso do Cite do Ano. Uma grande delegação uniformizada e bem identificada marcou presença desde cedo. Um vídeo muito bem editado mostrou de maneira clara e objetiva os trabalhos que vem sendo realizados em cada propriedade”. Para que uma entidade receba este mérito ela deve mostrar os fundamen58 -
tos do movimento citeano, que são: a integração e a troca de experiências; seguir os regulamentos do Estatuto da Federacite; mostrar evolução tecnológica e espírito associativista; e priorizar o crescimento do grupo e não do indivíduo. “O Cite 27 está perfeitamente integrado na comunidade e participa ativamente dos eventos da região. Tem apoio do executivo municipal e das entidades de classe. Ocupa um espaço de destaque na agropecuária. É inovador na organização de seus negócios e exemplo na utilização de remates para valorização de seus produtos”, conclui Simm. A diretoria do Cite 27 é composta atualmente por José Antônio Fabrício de Souza – presidente; Valério Teixeira de Souza – vice-presidente; Jaques Brasil de Souza – tesoureiro; e Valdo Marcelo Luchsinger Teixeira – secretário.
Carlos Roberto Simm
Por que o CITE 27 fez a diferença na Expointer 2011
Foto: Divulgação Cite 27
• R$ 1,5 milhão na 21ª edição do Remate Anual de Produção dos Citeanos; • Melhoramento genético, lotes padronizados no remate; • Desenvolvimento do meio rural e contribuição para o avanço do agronegócio. • Avanço no manejo do gado, do campo nativo e do meio ambiente em geral. • Ligação dos citeanos com entidades de pesquisa, como a Embrapa e universidades.
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Perfil
Homem do campo, das letras e da medicina Da infância de guri de campo, no Sobrado, aos estudos em Cleveland, nos Estados Unidos
B
Fotos: Divulgação/Arquivo Pessoal
lau Fabrício de Souza mora em Porto Alegre desde 1959, em um dos bairros mais nobres da Zona Sul. Nasceu na Estância do Sobrado, em Lavras do Sul, no inverno de 1940. Veio ao mundo pelas mãos de seu próprio pai, Chrispim Raymundo de Souza, que também era médico. Recebeu o batismo de “Blau” em homenagem ao personagem de Simões Lopes Neto, do livro Contos Gauchescos e Lendas do Sul. “Meu pai era um leitor de Simões Lopes Neto, num tempo em que ele era um desconhecido ou um autor municipal, como dizia Carlos
Blau Souza com a esposa Flora
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Reverbel. Embora eu me considere um conhecedor da filosofia campeira, estou longe de reunir as virtudes do outro Blau”, explica. Sua infância foi de guri de campo, com fantasias infantis imaginadas em personagens reais, como Alexandra, seu Cirilo, seu Caetano, Sia Sinhá, Sia Alaides e tio Gringo, empregados da estância na época. Bem como os brinquedos de gado de osso e cavalo de pau. “As lembranças são muito agradáveis, num mundo de muito amor em que minha mãe, Medora Fabricio de Souza, foi a figura central. Pai, irmãos Jacques, Zeca
e Cris, além dos seis irmãos mais velhos, nos períodos de férias escolares faziam do Sobrado uma terra de sonhos. Foram gente com uma existência real e com outra na imaginação da gurizada”, recorda. Aos 11 anos foi para o internato. Assim, toda essa atividade juvenil se concentraria nas férias de verão. Aos poucos, as campereadas de brinquedo foram substituídas pelas de verdade. E em dias de chuva, ou enquanto todos sesteavam, Blau realizava suas incursões no mundo dos livros. Momentos que o despertariam para a vida literária.
as palaVras na Vida dE blau Blau tem três livros publicados e está terminando uma quarta obra sobre os 200 anos de Bagé. Também trabalha em um livro que terá como cenário a Revolução de 1932, no Rio Grande do Sul, assunto examinado por ele quando ingressou no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, além de um livro de crônicas, praticamente pronto, e um romance postergado inúmeras vezes. Pretende concluir seus projetos aos poucos, assim que a medicina deixar. Também foi um dos organizadores da série Médicos (pr)escrevem, onde editou sete volumes em sete anos de atividades junto aos colegas Franklin Cunha, Fernando Neubarth e José Eduardo Degrazia. “O médico ouve histórias a vida inteira e se habitua a valorizar aspectos de realidade e de ficção. Muitas vezes não resiste a criar personagens até para superar doenças e situações de difícil controle real. Na verdade, o mundo está cheio de médicos que escrevem. E há muitos escritores em que o fato de serem médicos passa a ser encarado como uma peculiaridade a mais”, enfatiza. Blau ressalta que, no Rio Grande do Sul, a tradição de existirem bons médicos escritores é muito presente e histórica. O primeiro romance gaúcho – A Divina Pastora, de 1847 – é de autoria de um médico: o doutor José Antônio do Vale Caldre e Fião. A poética gauchesca busca se sustentar em três médicos: Ramiro Barcellos (Amaro Juvenal), Aureliano de Figueiredo Pinto e Balbino Marques da Rocha. Sem esquecer de nomes como Dyonélio Machado, Cyro Martins e Moacyr Scliar. “Pessoalmente, o hábito de escrever nasceu antes da decisão de ser médico, embora só tenha publicado textos quando já o era, ou quando já estudava medicina. Num conto chamado Tripa, Joaquim e outros tipos, eu falo de minha participação em jornalecos manuscritos e picarescos no tempo de internato e que visavam, entre outras coisas, inibir abusos sexuais por alguns tipos, mais velhos e mais fortes, que guardavam semelhanças com as figuras dos tais jornaizinhos”, revela Blau, que hoje é membro da Academia Sul-Brasileira de Letras. Sobre o êxodo, explica que deixar a Campanha pela cidade é antinatural, mas necessário. Considera as vivências da Campanha inspiradoras para seus escritos, mas diz que talvez seja mais inspiradora a saudade de lá. “Considero-me um afortunado por participar da cidade e do campo”, acrescenta Blau.
a dEcisão pEla mEdicina A decisão de estudar medicina foi influenciada pelo pai. Em 1957, quando o acompanhou à festa de comemoração aos 40 anos de formatura, foi à faculdade e retirou o programa de exame vestibular, sem avisá-lo. Ao saber, Chrispim vibrou com a decisão. No princípio pretendia ser médico no interior do Estado, mas surgiu a oportunidade de fazer formação em Cirurgia Cardiovascular em Cleveland, nos Estados Unidos. Lá iniciou estudos sobre o miocárdio. Depois, também fez concurso para médico legista e foi diretor do Instituto Médico Legal (IML) de Porto Alegre. Hoje, faz parte da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina. Blau acompanha e participa da evolução da medicina e disse que o século XX foi o século dos cirurgiões. Em sua opinião, as maiores conquistas médicas foram na área da química, como o desenvolvimento da pílula anticoncepcional para a mulher, da pílula de ereções para o homem e da pílula que controla a depressão e outros quadros de alterações psíquicas. - 61
Mineração Perfil
a militância dE um joVEm Além de médico, pecuarista e escritor, Blau também foi um militante da Campanha da Legalidade. Contou sua experiência em um texto chamado Meu irmão, o medo sobre idas e vindas do Movimento que completou 50 anos, em 2011. O clímax foi vivido na Praça da Matriz. Neste momento, descreveu a sensação de medo e a necessidade de vencê-lo: “Chegou a hora decisiva na Praça da Matriz, mais cheia de expectativa que de gente. E eu estava lá. Os olhos fixavam-se nas sacadas do Palácio Piratini, onde um Brizola
tresnoitado surgia de tempos em tempos. Ouvidos assustados adivinhavam barulhos. Gargantas secas, vazio no estômago, o coração disparando e ali estávamos a arrastar os bancos da praça na tentativa de armar barricadas. Não era conhecida a posição do exército e os boatos se multiplicavam. Firmava-se a sensação de estarmos vivendo momentos sem volta, históricos”, escreveu à época. Blau tinha razão, presenciou momentos verdadeiramente históricos. O golpe de Estado dos militares abriu um regime
de ditadura, intransigência democrática e perseguição no país, sem precedentes. Apoiou a posse de Jango mesmo sabendo que sua família poderia ser vítima da ação dos grupos dos onze. Sabia que havia uma subversão da ordem pelas forças armadas. Percebeu, também, que o próprio Jango perdia o controle da situação. Pois a opção pelo presidencialismo, com um presidente popular-esquerdista que perdera o controle da situação, tornava previsível a ruptura democrática. E foi o que aconteceu.
o produtor E pai dE Família O médico do coração considera-se pecuarista desde que nasceu. Ao ser perguntado sobre como um cardiologista produtor de carne vermelha – a inimiga número 1 dos cardíacos – lida com isso, esclarece: “Muito tranquilamente. Não concordo que a ingestão da melhor proteína do mundo seja prejudicada por causa da satanizada gordura”, afirma deixando bem claro que é um produtor de carne, não de gordura. Sobre os gostos particulares disse ser fã de livros de ficção e história. Que não assiste filmes por falta de tempo e que jogou futebol enquanto as articulações
permitiram. Hoje, migrou para o golfe. Ao mesmo tempo em que admira futebol e torce pelo time campeão do mundo em 2006, é também um apreciador de pinturas e esculturas. Gosta de viajar e conhece muitos países. Dias depois desta entrevista, tomou o rumo da Europa novamente. Mesmo assim, afirma nunca ter saído de Lavras do Sul. Sempre viveu intensamente os momentos exigidos pela medicina, sem se desprender do campo e ou deixar de lado o ofício de contador de histórias. Considera que a família, sobretudo o irmão Jacques, propiciaram o sucesso como pecuarista.
A rotina de Blau atualmente é de muito trabalho. Mora a 25 quilômetros do Hospital Conceição, onde exerce a profissão. Sai cedo para o serviço. Quando a cirurgia é às 7h, acorda antes das 5h da manhã. Hoje, mais auxilia novos médicos do que realiza cirurgias, mas faz questão de participar intensamente. Casado com a artista plástica Flora Regina Ferreira de Souza, é pai de Rodrigo, Denise e Diogo (administrador da Estância da Salamanca, antigo posto do Sobrado), e avô de Maria Eduarda e João Pedro, filhos de Rodrigo, Franklin e Francisco, filhos de Denise, e Pedro e Helena, filhos de Diogo.
Blau Souza com a neta Helena
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A onda é produzir alimentos R
ecebi com satisfação a tarefa de escrever um artigo para a Revista Lavras Rural. Ainda mais que coincide a realização da feira de terneiros de Lavras com minha presença, como jornalista enviado, na maior Feira de Alimentação do mundo, em Colônia, na Alemanha, de onde escrevo sob o burburinho desta fantástica babel de idiomas e de negociações de alimentos. O Brasil está na crista da onda, onda de produzir alimentos. É a bola positiva da vez, é muito bem tratado e visto com respeito pelos milhares de estrangeiros que visitam nossos estandes. Ficou para trás a triste pecha de país do carnaval, do futebol e das desigualdades brutais na área social e econômica. É verdade que esta última mazela ainda não está desfeita. Vai levar mais tempo, vamos depender de educação e formação de mão de obra capacitada para ser melhor remunerada. Mas estamos melhorando. E o que vai nos salvar é justamente a produção de alimentos. Somos vistos na Europa como celeiro de alimentos. Ninguém tem tantas terras férteis para plantar e para a pecuária como nós, quinto território do planeta. Não foi sem base que a financeira americana Goldmann Sachs previu há cinco anos que Brasil, China e Índia vão sustentar o planeta na metade do século, quando citou a sigla Bric, que inclui a Rússia, que não está bem.
Fotos: Divulgação
Artigo
Por Lasier Martins
E a Feira de Anuga está sendo um termômetro forte do que é o mundo dos alimentos. Temos carnes como ninguém, e de boa qualidade. Somos os maiores exportadores. O que está nos faltando é melhor marketing, e - segundo me disse o Antonio Camardelli, presidente da Abiec, comendo um churrasco de Angus ainda hoje no monumental estande da Feira de Anuga, reunindo 11 frigoríficos brasileiros - o que precisamos é padronizar nossa produção de carne bovina. Não convém a diversificação dispersiva de várias raças, o que nos faz perder mercado na Europa, melhores compradores. Nossa gente da região de Lavras deve saber bem o que nos convém, porque o produto já temos, e de grande qualidade. O mundo tem fome e temos espaço e solo para produzir. A teoria Maltusiana continua valendo: o mundo cresce geometricamente em população e cresce em progressão aritmética na produção de alimentos. Temos futuro. Portanto, nossa economia vem melhorando. Com mais organização e perseverança haveremos de melhorar a situação do produtor rural para que ele continue melhorando o Brasil. Afinal, tem sido a produção primária a salvação da lavoura nacional, nos permitindo vender commodities como nunca. Falta agregar.
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Gestão
Francisco abascal é reeleito Dirigente foi reconduzido ao cargo de presidente do Sindicato Rural para conduzir os rumos da entidade nos próximos três anos
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esponsável, junto com os filhos Rodrigo e Guilherme, pela Fazenda Sossego, onde se dedica a produção de terneiros de corte, touros das raças Brangus e Braford e cavalos Crioulos, Francisco de Assis Machado Abascal foi reeleito em 11 de outubro para presidir o Sindicato Rural de Lavras do Sul por mais um mandato, que se estende até 2014. Dentre as benfeitorias realizadas no parque de exposições da entidade, ele destaca a criação da sala Jacques Fabrício de Souza, espaço utilizado tanto para reuniões importantes como para confraternização com amigos durante eventos oficiais, a nova pista de provas para equinos e a complementação da pista de remates, com a instalação de um novo púlpito para o leiloeiro e ajustes nos locais de entrada e saída do gado, tornando mais ágeis os leilões. “O placar onde são apresentados os lances durante os remates, um diferencial em relação às demais pistas do interior gaúcho, agora ficou mais destacado”, acrescenta o dirigente, citando ainda a construção de cisternas para captar água da chuva, com capacidade para 140 mil litros, além da instalação de um minhocário e de uma compostagem, usados para a produção de adubo orgânico para uso nos jardins do parque. Abascal ressalta ainda a organização dos associados, com destaque para os integrantes do Cite 27 e dos núcleos de criadores de terneiros de corte e de cavalos Criou-
Francisco de Assis Machado Abascal
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los, bem como a dos ovinocultores, que, a exemplo dos demais, estão se agrupando para buscar soluções e alternativas de comercialização em conjunto. Além disso, cita a renovação dos integrantes da nova diretoria, composta também por integrantes mais jovens. “Nossa intenção é sempre dar espaço para as novas gerações, para que possam ir se preparando para assumirem responsabilidades maiores futuramente”, reforça. Entre os projetos para a gestão que se inicia ele cita a possível reestruturação das mangueiras, com moirões de ferro e de cordoalhas e melhor nivelamento do terreno, no intuito de que se evite o acúmulo de água. Já na parte técnica, o Sindicato está em tratativas de uma nova parceria, agora com a Embrapa Pecuária Sul, através da implantação e difusão do programa de Boas Práticas Agropecuárias. Também se pensa em melhorar a área de ajardinamento. Nesse segmento, Abascal diz que o Sindicato conta com a importante ajuda de Julieta Etgeton de Souza, esposa do associado Hélio José Saraiva de Souza, que foi um dos idealizadores do Parque do Sindicato Rural. Desde 2009, é Julieta quem orienta os funcionários do Sindicato no preparo e manutenção dos canteiros que se mantêm floridos o ano inteiro; tarefa que ela diz gostar muito, pois é oriunda de uma família que há décadas mantém apreço especial por flores. “Usamos mudas novas conforme a época do ano, como o amor-perfeito, no inverno, petúnia, cravina, alegria-de-jardim e tagete, no verão”, explica a farmacêutica bioquímica aposentada, que mora na Fazenda do Marco, juntamente com o marido.
dirEtoria 2011-2014 Presidente: Francisco de Assis Machado Abascal Vice-presidente: José Antônio Fabrício de Souza 1º Secretário: Jacques Brasil de Souza 2º Secretário: Jorge Afonso Fabrício de Souza 1º Tesoureiro: Jozé Angelo Etchichury 2º Tesoureiro: Telmo Raimundi Ferreira Suplentes Fernando Adauto Loureiro de Souza Gustavo Loureiro de Souza Delabary José Carlos Paiva Severo Ronaldo Barbosa Valdo Marcelo L. Teixeira Valério Antônio Teixeira de Souza
Julieta Etgeton de Souza
Conselho Fiscal João Rafael Machado Abascal Luis Alberto Pires de Souza Mauro Raimundi Ferreira Suplentes Bruno Abascal Teixeira Paulo Henrique Teixeira de Souza Paulo Roberto Almeida Pimentel
Delegado Representante Francisco de Assis Machado Abascal 1º Suplente: José Antônio Fabrício de Souza 2º Suplente: Yara Bento Pereira Suñe
Equipe de funcionários responsável pela manutenção do parque do Sindicato Rural
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Foto: Kéke Barcellos
Agenda
agEnda 2012 maio 05 - 32ª Feira de Outono de Terneiros de Corte 12 - 16º Remate Macanudo 19 - 22º Remate de Produção do Cite 27 26 - 16ª Feira Alternativa de Terneiros, Terneiras e Vaquilhonas
noVEmbro 02 a 06 - 68ª Feira de Agronegócio de Lavras do Sul – Expolavras 2012 06 - 29ª Feira de Primavera de Terneiros de Corte 17 - 15ª Feira Alternativa de Terneiros, Terneiras e Vaquilhonas
dEzEmbro 08 - 12ª Feira de Ovinos
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