Revista Anexo 2018

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Edição Nº3 - Ano I - Dezembro de 2018

ENTREVISTA COM LUIZ CEARÁ: “Eu não gosto de fazer gracinha na televisão”

BEATRICE STOPA

Jornalista de marca

EMPREENDORISMO

O jornalismo vive um momento desafiador

ASSESSORES DE POLÍTICOS

A vida e o trabalho de quem foi para o outro lado

DUPLA JORNADA

O sucesso e o prazer fora das redações

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CARTA AO LEiTOR

C

aro (a) leitor (a), você tem em suas mãos mais um número da revista feita pelos alunos de jornalismo da PUC-Campinas. É por este motivo que fazemos questão de reforçar, com base em aprendizados vividos as razões pelas quais produzimos essas reportagens. Por definição, a área do jornalismo corresponde a coletar, investigar, analisar e transmitir periodicamente informações. Essencialmente o jornalismo é muito mais do que a técnica. É a capacidade de um indivíduo, na maioria das vezes sob as diretrizes de grandes veículos, de interpretar questões, escolhidas por uma série de fatores. Isto é, jornalismo também é escolher, e principalmente, construir uma narrativa sobre o mundo em que todos vivemos. Pensando nisso, criamos a Revista HÁnexo, com o objetivo de levantar questionamentos e dialogar sobre o jor-

nalismo que vem sendo praticado, no período em que vivemos. Esta revista também será útil para aqueles que sonham com a profissão, já que traz, de forma simples e didática questões sobre o dia-a-dia dos que escolhem viver esta apaixonante e complicada carreira. A profissão que escolhemos influência diretamente em toda a lógica político-social e cultural em que nossa sociedade é estruturada, por isso, para um jornalismo mais democrático, inclusivo e preciso, é de tanta relevância que discutamos. Esperamos que, para os que ficam e os que vão, não nos esqueçamos de nossas raízes. Pratiquemos sempre jornalismo com responsabilidade e motivações sociais, já que as pessoas são a verdadeira razão da existência desta profissão. Sem mais demora, aproveitem a leitura. Victória Cócolo, editora

CHARGE

Argumento Mariana Luiza Desenho Mariana Luiza

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EDiTORiAL

N

Fake News não são notícias

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ão existem notícias falsas pelo simples fato de que se forem falsas, então não são notícias. Sendo falsas é porque foram divulgadas por falsos jornalistas e os nomes mudam: chamam-se boatos, inverdades, mentiras. Notícias são textos produzidos por jornalistas que tem a obrigação de checar a veracidade de um fato, de uma declaração e até de uma imagem. E esses profissionais normalmente trabalham em meios de comunicação que possuem um nome a zelar. Eles não mentem. Não podem mentir. Pode-se sim criticar o jornalismo e o jornalista se o trabalho foi mal feito. Se não ouviu todos os lados envolvidos, se o texto mais confunde que explica, se deixou de revelar algum detalhe relevante, se a imagem estava ruim. Mas em tempo algum podemos esperar desses profissionais informações mentirosas. E se o fizerem a justiça está ai para que ele seja processado por injuria, calúnia ou difamação. Mas ouvimos e lemos muitas coisas sobre falsas ‘notícias’. Com o advento das redes sociais qualquer pessoa pode publicar textos mentirosos ou não, podem deturpar o fato, acrescentar detalhes sórdidos. Pessoas sempre fizeram isso, só que agora o alcance é maior, pode ser até global. E conve-

nhamos, a mentira é bem mais atraente que a realidade. Na letra da música ‘Verdadeira Embolada’, Chico Buarque ilustra bem o que acontece: “Na realidade pouca verdade tem no cordel da história. No meio da linha, quem escrevinha muda o que lhe convém”. O professor de jornalismo da PUC-Campinas, Marcel José Cheida – um dos entrevistados dessa revista – acredita que o texto sem compromisso com a verdade pode satisfazer e trazer conforto emocional ao leitor, pois atende ao que a pessoa gostaria que acontecesse, traz o que o leitor gostaria de acreditar. A ficção é sempre mais interessante, mais instigante, mais agradável, mais palatável que os fatos Boatos, mentiras e inverdades pululam nas redes sociais, na internet e nos aplicativos de mensagens. Nomes de comunicadores e jornalistas conhecidos são invocados para dar credibilidade. Os jornalistas não estão parados e sabem, que agora, mais que em outros tempos, o seu trabalho bem feito atinge uma importância extrema. A receita é até bem simples: contra muitas mentiras, ofereça muitas verdades – checadas, verificadas, comprovadas e provadas. É o que o leitor verá em todas as páginas dessa revista: notícias, verdades e nada mais. X


Foto: Ingrid Biasioli

Onde Esta ? A trajetória de uma jovem que usou sua ‘cara de pau’ para trabalhar com Moda

pág. 32

pág, 50

pág. 58 Nem só de jornalismo vive o comunicador! Histórias de quem faz duplas jornadas

Entrevista com Luiz Ceará traz os bastidores do jornalismo esportivo de ontem e de hoje

Foto: Arquivo Pessoal

Foto: Arquivo Pessoal

Recém-formados abrem suas próprias empresas de comunicação e driblam a crise

Jornalistas que optam por assessorar políticos em campanha continuam sendo jornalistas?

Foto: Leonardo Missio

pág. 20

pág. 40

NOSSA OPINIÃO ARTIGO: A intolerável intolerância - página 25 DEPOIMENTO: Eu, jornalista - página 56 FILME: No ritmo das redações - página 62 LIVRO: Histórias de muitos fins - página 64 HUMOR: Parece Piada - página 66 5


EXPEDiENTE CAMILA

BÁRBARA Tenho 21 anos, estagio na área de TV e entre os meus maiores interesses estão o jornalismo impresso e a paixão por fotos. Almejo seguir com jornalismo desde criança e a vontade de fazer da profissão uma maneira de prestar serviço a população é o que me estimula a continuar nessa louca carreira

Tenho 22 anos. Uso palavras como principal ferramenta para deixar tudo mais bonito, tenho sede do mundo, espero explorá-lo através da profissão e cruzar meu caminho com muita gente que merece ser ouvida.

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ERICKA Sou repórter na Rádio Brasil e já colaborei para a Revista RMC. Tenho interesse em política e em temas sociais. Gosto de dançar e apreciar as tardes acompanhada de boas conversas. Idealizadora do blog Escrita Franca; apaixonada pelos meus gatos.

Gosto de tudo relacionado a comunicação e as facilidades que ela proporciona. Adoro ler matérias de comportamento e empreendedorismo em revistas. Inclusive sonho em trabalhar em uma no futuro.

FERNANDA

BEATRIZ As vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento, vale a pena ter nascido. E amanhã? Típico pensamento nada a ver: sossega, o que vai acontecer acontecerá. Relaxa, baby, e flui.

GRAZIELE

ÉRICA Tenho 24 anos, trabalho como Assistente Administrativa. Gosto de me sentir livre, gosto de estar nas montanhas sentindo o vento no rosto junto ao um lindo pôr-do-sol, coisas simples me encantam. No jornalismo me interesso por histórias de vida e de superação.

Tenho 22 anos, trabalho com a criação de conteúdos para uma empresa de coaching. Quero seguir a carreira no jornalismo impresso, e trabalhar na produção de notícias envolvendo assuntos das editorias de cultura e cidades.

INGRID Sorocabana, 20 anos. Trabalho como Social Media Júnior na Prefeitura de Jundiaí, atuando também como editora, roteirista e produtora de vídeos. Tenho como objetivo a realização de uma pós-graduação em jornalismo literário, redes sociais e fotografia.


LEONARDO J.P. SALES

JÉSSICA Sou estagiária na Rede Século 21, no setor de mídias digitais. Gosto de ler e escrever textos com aquela pitada de afeto e amor, pois toda maneira de amor é válida.

Tenho 22 anos e trabalho na área que estudo, sou produtor de televisão e também locutor de programa de entretenimento. Sou um cara legal, gente boníssima para ser amigo.

J.P. NOBILE Nasci em Itapira, mas resido em Pedreira. Sou apaixonado por carros e meu sonho de criança era ser piloto de alguma categoria automobilística, mas minha mãe nunca deixou. Pretendo trabalhar com essa paixão antiga e ganhar dinheiro o suficiente para poder ter várias automóveis.

JULIO Nasci em Amparo, e faço estágio na RTV da Unicamp. Gosto de uma boa leitura, sempre acompanhado de um bom uísque. Apaixonado pelo automobilismo, criei o blog Papo Motor, em março de 2016, onde faço análises e avaliações sobre as novidades do mundo automobilístico.

Sou doente por futebol. Nessa revista atuei como pauteiro, fotógrafo e entrevistador: consegui entrevistar o jornalista Luiz Ceará e ajudei a matéria de jornalistas que se formam mas não trabalham na área.

LARISSA

JULIA Tenho 21 anos, e sou estagiária de assessoria de imprensa do Tribunal Regional do Trabalho. No jornalismo gostaria de trabalhar com a área de assessoria de imprensa mesmo, mas com foco para o meio cultural.

Tenho 22 anos e trabalho como Educadora Infantil na Prefeitura da cidade de Hortolândia; também colaboro com o site de notícias Jornalistas Livres. Penso que mídia livre é mídia independente!

MAHARA Sem dúvidas, o jornalismo é uma paixão. Escrever é transmitir ao outro uma informação é indescritível, é um sentimento de satisfação. Mahara é Jornalismo. Sem o Jornalismo, não sou nada!

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EXPEDiENTE

MARIANE

MARIANA Tenho 21 anos. Jornalista em formação, estagiária na área de comunicação corporativa da empresa líder do setor químico, a Rhodia Solvay Group. A área de trabalho desejada para seguir carreira como jornalista é a comunicação organizacional.

Fiz 21 anos, sou campineira e assim como muitos e muitos brasileiros: desempregada. Meu plano é seguir na área da reportagem em televisão e seguir batalhando para atingir o sucesso.

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PEDRO Tenho 26 anos e sou coproprietário da marca Orghaniq (uma loja on line de cosméticos naturais). Me considero um empreendedor pela razão, e serei um jornalista por paixão.

Completei 20 anos e sou estagiária no Laboratório de Imagem e Som da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Eu amo jornalismo e tecnologia!

PEDRO LUIS

MARIANA LUIZA Tenho 23 anos, quero ser jornalista e encontrar novas histórias nas ruas para fazer reportagens literárias, mas também quero ser policial militar, escritora e desenhista. Estou apenas perdida escrevendo algum texto qualquer em um de meus cadernos.

SILIANE

PAULA Tenho 21 anos e pretendo ser uma grande fotógrafa documentarista. Gosto de enxergar o mundo através das lentes e acreditar que uma imagem pode mudar o rumo de toda uma história.

Escutando música no quarto em uma quarta-feira de 2013 próximo dos vestibulares iniciarem, minha mãe entra no quarto, abaixa a música e tranca a porta, olha para mim e pergunta: O que você vai fazer na faculdade? Olho para a mesa e em cima dela estava um jornal, então disparo. Jornalismo.

TAYNARA Tenho 22 anos e trabalho como assistente de marketing. No Jornalismo desejo trabalhar na área de Moda ou de Gastronomia; se possível nas duas.


Tenho 21 anos, sou radio-escuta na emissora TVB-Record. Apaixonada pelo jornalismo policial e suas vertentes. Piracicabana morando Campinas; admiradora de futebol, chocolate e Deus.

Foto: Bruno Victor Doque da Silva

THAINÁ

REVISTA HÁNEXO É uma revista trimestral feita pelos alunos de jornalismo da PUC-Campinas no ano de 2018, que consta como prática para a disciplina Edição e Produção Editorial CONSELHO EDITOAL é formado pelos professores

Adauto Molck, Celso Bodstein, Ciça Toledo e Cyntia Andretta PROJETO GRÁFICO Adauto Molck EDITORES Adauto Marin Molck Beatriz Bigarello Victóira Cócolo

THIAGO Tenho 21 anos e me considero um nerd, sou viciado em vídeo-games e histórias de quadrinhos. Curso jornalismo pois desejo me tornar um repórter de e-sports, onde já realizo diversos trabalhos como free-lancer, e mergulhar de vez nesse universo que tanto amo e acompanho.

VICTORIA P.

VICTÓRIA C. Tenho 22 anos e sou estagiária do do portal de notícia G1 de Campinas e freelacer pela rede Jornalistas Livres. Sou uma pessoa sonhadora, que erra a grafia do próprio nome e faz jornalismo pelo poder de transformação social; mas tenho bom coração.

Sou estágiaria na área de Projetos da RTV - Unicamp, meio ituana, meio campineira. Almejo que bons momentos tenham marcas do tempo e que nós, seres humanos, aprendamos a aproveitá-los. Apaixonada por praia, revistas e tigela de pinhão.

VINICIUS Sou ex-atleta, apaixonado por futebol, sonho em trabalhar com análise tática e de desempenho do esporte como comentarista esportivo.

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SEM NEXO

Estudei para uma coisa e trabalho em outra Hoje 33% dos trabalhadores brasileiros com maior qualificação atuam em setores que nada têm a ver com seu curso

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Lucas Gabriel Carneiro Louzas, Analista de Marketing SEO formado em jornalismo pela PUC-Campinas


Roberto Brito de Carvalho, graduado em Ciências Econômicas, mestre em Ciências da Informação e professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas

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A Reportagem Pedro Luís Leonardo Míssio Thiago Esmeriz Edição Pedro Luís Fotos Pedro Luísw Thiago Esmeriz Paginação Thiago Esmeriz Pedro Luís

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penas 33% dos trabalhadores com nível superior no país estão ocupados em funções diretamente relacionadas ao seu diploma universitário. Considerando também aqueles que exercem funções ao menos relacionadas com a formação, este número sobe para 48%, o que significa que a maioria desses brasileiros com maior qualificação hoje atuam em setores que nada têm a ver com seu curso. Essa foi a conclusão que os pesquisadores Maurício Cortez Reis, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), e Danielle Carusi Machado, da UFF (Universidade Federal Fluminense) chegaram em seu trabalho de pesquisa “Uma análise dos rendimentos do trabalho entre indivíduos com ensino superior no Brasil”. Onde analisaram, a partir do Censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), uma série de características dos trabalhadores com nível superior, relacionando rendimento e ocupação com a área de formação. “Desde que eu entrei na faculdade de jornalismo e desde o segundo ano que comecei a estagiar trabalhei com produção de conteúdo para mídias sociais. Nunca tive a oportunidade de trabalhar na área do jornalismo mesmo, acabei escrevendo para um site de notícias onde eu cobria campeonato brasileiro e de surf. Além dessa experiência

não tive mais nada.” Essa declaração é de Lucas Gabriel Carneiro Louzas, Analista de Marketing formado em jornalismo pelo PUC-Campinas. Hoje além de trabalhar em uma área distinta da sua cursa uma pós-graduação em psicanálise clínica uma área muito diferente. “Se pudesse voltar no tempo eu escolheria psicologia, pois hoje eu estou fazendo uma pós-graduação que vem me encantando bastante. ” Para ele a ausência de vagas para jornalistas não é apenas um reflexo do momento em que o pais passa, mas também pela forma que outros profissionais da área acabam ingressando na mesma. “Eu acho que muito das vagas de jornalismo que a gente acaba encontrando tem muita haver com indicação e isso acaba dificultando um pouco para os jovens jornalistas entrarem no mercado de trabalho na questão de imprensa mesmo. ” Luiz Fernando Rezende, 51 anos, formado em jornalismo pela PUC-Campinas, trabalha na parte administrativa do Tribunal de Justiça de São Paulo, em Campinas. Já trabalhou como setorista na rádio educadora cobrindo os jogos da Ponte Preta e do Guarani. Os motivos que levaram Luiz a procurar um trabalho fora de sua área foi a questão monetária. “Quando eu comecei a trabalhar em rádio, eu trabalhava como setorista na Rádio Educadora onde meu pai era comentarista. Era um trabalho que eu tinha muito gosto em realizar, porém, o retorno finan-


ceiro sempre foi um problema. Quando apareceu a oportunidade de realizar um concurso público para trabalhar na SETEC (Serviços Técnicos Gerais) em Campinas, eu não pensei duas vezes. Fiz, passei e depois de seis meses fui chamado para trabalhar. Mesmo amando o futebol, eu tive que escolher a opção de trabalhar como funcionário público por conta do retorno financeiro”. DIFICULDADES___________ Para Rezende casos parecidos com o dele não é algo novo e o fator pelo qual culpa essa procura fora das áreas de atuação é a má remuneração dos jornalistas. “Creio que haja muitos casos parecidos por conta da opção financeira, pois mesmo o jornalista tendo uma profissão que exige o currículo ela é muito mal remunerada, ainda mais em Campinas e Região”. O Professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas Roberto Brito de Carvalho, graduado em Ciências Econômicas e mestre em Ciências da Informação, explica que as pessoas que irão ingressar em um curso superior não fazem uma preparação necessariamente para o mercado de trabalho, mas sim para a vida. “Na verdade, qualquer curso superior estabelece um modelo mental para que as pessoas possam ter capacidade de analisar e resolver problemas de forma analítica e com consciência”. E que profissionais se formarem em uma área e atu-

arem em outra acaba sendo algo comum. “É comum que profissionais se formarem em algumas áreas e que passem a trabalhar em outras, em função das competências constituídas no seu processo de formação que transcendem um olhar meramente com uma correlação de trabalho, então é comum que profissionais formados em alguns seguimentos possam trabalhar em outras”. Mas explica que devemos reconhecer a ausência de crescimento econômico nos últimos anos no Brasil, isso acaba por fazer com que jovens profissionais agarrem as oportunidades que aparecem e não as que eles almejam “A ausência de crescimento econômico nos últimos anos no Brasil, tem criado uma dificuldade sobretudo para os jovens profissionais ingressarem no mercado. Então a ausência de oportunidades de trabalho faz com que o profissional se agarre naquela oportunidade de trabalho que apareceu e não na que ele almeja. Taxa de desemprego elevadas entorno de 13%, criam dificuldades para o jovem recém-formado no mercado de trabalho”. As declarações do economista vão de encontro com as declarações de Louzas e Rezende também dos pesquisadores, hoje vivemos um momento em que estar empregado é algo para grande comemoração e que atuar fora de sua formação é algo comum e que pra ingressar no jornalismo uma indicação é X bem importante. 13


O repórter Luiz Felipe Leite da Rádio Brasil, acredita que com o avanço tecnológico é preciso uma reformulação nas redações 14


COM NEXO

O jornalista está

SEMPRE se adaptando

Reportagem Érica Nogueira e Mahara Macedo Edição Érica Nogueira Fotos e Paginação Mahara Macedo

Ao longo dos anos o jornalismo vem passando por mudanças em todos os seus segmentos, mas a internet tem mudado tudo: o modo de pautar, de fazer, de distribuir de divulgar e de pensar 15


A

s reformulações na profissão é algo frequente no mundo dos profissionais da imprensa. Com a expansão da internet e das tecnologias, se mostrou ainda mais forte. Fato é, que a essência do bom jornalismo continua a mesma: a boa e velha checagem e apuração bem feita dos fatos noticiosos. O jornal impresso vem perdendo espaço nos últimos anos, dando lugar ou jornalismo online. Muitos veículos de comunicação estão passando por essa reformulação na forma de trazer os fatos para os leitores. Segundo o site Poder 360, os principais jornais diários do Brasil registraram grandes perdas em suas tiragens impressas em 2017. A queda foi de aproximadamente 146.901 exemplares na circulação média diária em onze dos principais veículos nacionais. Entre os meios de que compõe o sistema de comunicação brasileira, o que mais vem sofrendo nos últimos anos é a plataforma impressa, pela diminuição de investimento de empresas e as tantas reestruturações no meio digital, deixando muitas redações reduzidas, junto com isso, deixando exposta uma crise de identidades nos jornais. O radiojornalismo também é outra plataforma que vem perdendo espaço, na radiodifusão a disputa é com as rádios de entretenimento para o público,

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Eu não concordo, por exemplo, eu faço a foto por necessidade, é legal, mas você tá tirando o emprego de outro profissional, eu não sou fotógrafo, nunca me formei em fotografia. O que sei aprendi na faculdade, mas nunca me aprofundei nisso Carlos Rodrigues


Foto: Arquivo Pessoal

ou seja, que a programação é composta por apresentação de música e pouco conteúdo jornalístico. Os veículos de comunicação estão se aperfeiçoando ou criando grandes plataformas online para suprir os problemas no seu “território de jornalismo original”. Como por exemplo os jornais impressos, que estão migrando para a web. A ideia é como de um jornal físico, você paga a assinatura para consumir as informações do jornal, como o Estadão e Folha de S. Paulo. Da mesma forma o radiojornalismo está migrando para a plataforma digital, trazendo a facilidade de acesso à programação do rádio. Exem-

plo disso é o grupo de rádio da CBN. Mas algumas mudanças como na Editora Abril, que decidiu transformar a revista Capricho que foi uma revista com tradição no meio adolescente, apenas em versão online, lançada em 1952, deixou de circular com conteúdo físico em meados de 2015. Essa medida impactou toda a redação, nessa época a editora anunciou a demissão de centenas de jornalistas. Mas é aí que vem outro assunto, o excesso de trabalho no jornalismo. Para muitos, a redução das redações dos jornais agravou o problema de deslocamento e acúmulos de funções para um só profissional. Aos olhos de muitos jornalistas, há 20 anos um jovem saia da faculdade sabendo que o mercado teria diversas funções, como trabalhar em uma rádio, impresso ou televisão. Hoje o aluno sai da faculdade sabendo que pode desempenhar várias funções. A profissão está diferentescom o avanço da tecnologia; os jornalistas ganharam a autonomia para investigar uma fonte sozinha, gravando sonoras com o celular sem o acompanhamento de um cinegrafista. Para o jornalista e Diretor de produção da Rádio Brasil, Felipe Zangari, a tecnologia é uma aliada do jornalista. Antes, os meios de comunicação eram consolidados, como a televisão, rádio e o jornal impresso. Com a chegada internet, surge o blog, uma plataforma que expandiu 17


Foto: Reprodução

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o espaço para escrever, sendo assim, podendo aumentando a difusão das notícias. Para ele, diferenciar o bom jornalista, é aquele que faz a apuração e vai para a rua, isso é o que diferencia dos que estão na internet para escrever sem nenhum intuito de informar de fato. “Colocar a tecnologia como vilã dessa história acho que é um pouco ingrato”. P a r a ele, ainda existe espaços que exigem uma demanda grande de profissionais como, por exemplo, no Canal Off, que precisa de uma grande equipe para a produção de reportagens especiais “depende da complexidade do produto que você vai levar pro ar”, disse Zangari. Pensamento contrário tem o repórter Carlos Rodrigues do jornal Correio Popular. Segundo ele, o aumento de funções para um profissional pode acarretar no desemprego de outros profissionais. Para Rodrigues, quando você assume mais de um trabalho, automaticamente, outra pessoa precisou deixar de exercer uma função no jornal. “Eu não concordo, faço a foto por necessidade, é legal, mas você tá tirando o emprego de outro profissional, eu não sou fotógrafo, nunca me formei em fotografia, só sei o

que aprendi na faculdade, mas nunca me aprofundei nisso. Hoje você tem um celular com uma câmera ótima, não vai fazer uma foto com a qualidade de uma câmera profissional mas dependendo do contexto ela te trás o que precisa”, disse o jornalista. A nova geração de ‘focas’, ou seja, os alunos recém-formados, contam com a possibilidade de entrevistar pessoas sem a necessidade de estar presente, a comunicação é realizada por meio de aplicativos e programas. Isso dimiui a qualidade, a veracidade e mina o jornalismo onde uma equipe de televisão era composta por várias profissionais que levavam consigo

DiCA DE As questões abordadas na reportagem são analisadas neste livro, que reúne evidências do mundo do trabalho dos jornalistas de São Paulo no desabrochar do século XXI.


LEiTURA

Foto: Divulgação

Foto: Reprodução

vários equipamentos. Hoje é necessário apenas um smartphone. Junto a tecnologia, vem o problemas das Fake News ou Notícias Falsas. Para Zangari, isso seria algo inevitável, pois são as manifestações de um ponto de vista de apenas uma pessoa que dissemina algo pela internet. Dando a cara de notícia para uma tendência que é de opinião. Muitos jornais passam pela crise de identidade, manter o jornalismo como foi ensinado, todas as notícias devem conter um lide é obrigatório. Para Zangari é uma oportunidade de inserção nova, de aprendizado novo e também é um negócio que fatalmente vai começar acontecer, o jornalista vai ter que se reinventar em certa medida. Para o repórter e jornalista Luiz Felipe Leite, também da Rádio Brasil, com esse avanço tecnológico é preciso uma

reformulação nas redações. “nenhuma empresa consegue manter o quadro de funcionários como era dez a vinte anos atrás isso ao mesmo tempo é interessante porque força a ser multitarefas”, disse. Com a explosão de notícias gratuitas nas redes sociais, cada vez mais é preciso se reinventar, se adaptar aos meios pelos quais os leitores se apegam para gerar conhecimento de informações, sendo assim é inevitável deixar a parte teórica de lado, mas não esquecendo fatores imutáveis como a credibilidade, a qualidade. Segundo Leite a faculdade é mais uma carga teórica, mas realmente o jornalismo você aprende trabalhando. “Como profissional vejo uma coisa boa você poder ocupar mais de uma função na sua carreira porque isso gera um aprendizado”, finaliza. X

Os jornais e revistas registraram grandes perdas em suas tiragens impressas em 2017

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Foto: Arquivo Pessoal / Pedro Hummel

Minha empresa

SOU EU Reportagem Ericka Araujo e Julio Moreira 20

Edição Graziele Amaral

Fotos Ericka Araujo

Paginação Graziele Amaral


Kelly Stein em seu trabalho de campo nos cafezais do interior paulista

O

Demissões em massa nas redações e falta de oportunidade para quem está no começo da carreira motiva recémformados a abrirem seu próprio negócio

MODOS

jornalismo brasileiro vive um momento desafiador. As redações estão cada vez mais enxutas, a crise financeira atingiu as redações e as fake news minam, desafinado a confiança dos leitores, ouvintes e telespectadores. A crise que os meios de comunicações estão passando se reflete na sua credibilidade perante a população. No relatório apresentado pela agência Reuters mostrou que em 36 países, incluindo o Brasil, somente 22% dos entrevistados pagariam para ter acesso a notícias. Como consequência da ausência de consumidores pagantes de notícias, as redações estão ficando mais enxutas. Segundo o ABI (Associação Brasileira de Imprensa) somente em 2016 foram mais de 1.200 demissões nas redações, número que, segundo a própria associação, jamais vai se recuperar. Os reflexos mais recentes destas demissões são a unificação das redações dos jornais O Globo e Extra no Rio de Janeiro e a greve de quatro meses dos jornalistas, por falta de pagamentos, da Rede Anhanguera de Comunicação (RAC), de Campinas. Porém é momento de crise surgem saídas criativas: muitos profissionais - ao perder o emprego, ou na falta de oportunidade de uma contratação - abriram empresas e começaram o próprio negócio. Segundo o indicador Serasa Experian de nascimento de empresas, no ano passado foram criadas quase dois milhões de empresas no Brasil. O número é recorde desde 2010 e 0,6% maior que o registrado em 2015. Segundo Carlos Roberto Oliveira, 21


consultor do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), abrir o próprio negócio está cada vez mais comum, principalmente na internet, mas ele também enfatiza que muitos não conseguem se manter por mais de um ano, pois falta planejamento. “Muitos simplesmente tem uma ideia, tem vontade ou, até mesmo, conhecimento na área. Mas só isso não adianta para manter uma empresa”, analisou Oliveira. Falta de conhecimento na área de finanças, planejamento e mercado são os principais deslizes de quem está começando comete. “A primeira coisa que a pessoa precisa antes de abrir qualquer projeto é ter capital. A grande maioria não tem, e acha que já terá lucro desde o princípio, o que não é verdade. Ele terá de sustentar seu projeto até que ele venha a se sustentar e, só depois, vem o lucro”, explicou Oliveira. Mesmo com a grande maioria das pessoas não tendo conhecimento para gerir e administrar o próprio negócio, Carlos Roberto Oliveira afirma que o alto número de novas empresas abertas não está em um setor específico. Essa onda empreendedora não deixou de fora os jornalistas, o que resultou em um aumento de páginas de jornalismo independente. Seja porque houve cortes nas redações e o profissional foi mandado embora ou, muitas vezes, por ser recém-formado e não ter experiência na área, se arriscar com alguma plataforma online de notícias sempre foi uma opção para jornalistas. Muitos já mantinham projetos particulares, e independentes, junto com seus empregos na grande mídia ou estando em assessoria. A paulinense Kelly Stein, formada em jornalismo na PUC-Campinas, se viu forçada a buscar novas formas para

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Quando estamos na faculdade aprendemos com vários professores a contar uma boa história, mas ninguém ensina a gente a vendê-las - Kelly Stein


Kelly Stein gravando seu podcast ganhar dinheiro e se manter em São Paulo logo que se formou. Conseguir um emprego numa grande redação, o que ela almejava, parecia sempre improvável. “Eu me formei com o sonho de trabalhar no Estadão, mas os caras não dão chance para uma pessoa sem portfólio e que vem com o sotaque do interior”, lembrou Kelly. Uma saída encontrada pela recém-formada foi começar a trabalhar como assessora de imprensa, uma área bem remunerada dentro da comunicação, o que garantiu “sobreviver” na capital.

“Nunca imaginei que trabalharia em assessoria, entrei na faculdade querendo cobrir guerras, aí pensei aonde eu vim para”, brincou Kelly. Além de bancar sua moradia, trabalhar como assessora contribuiu para seu crescimento profissional. Empregada em uma agência Kelly começou a trabalhar em um projeto para uma grande marca de café. “Era para montarmos um blog sobre café, e eu não queria fazer aquela coisa muito institucional. Queria que fosse notícia, e encarei o desafio”. E ela conseguiu manter o blog com notícias diárias, outro desafio que ela teve de superar: arrumar pautas sobre café para alimentar o blog todos os dias. A jornalista gosta de dizer que passa por ‘crises existenciais’, que, no final das contas, acaba forçando a se reinventar e buscar novas opções de trabalho e projetos para sua carreira. Foram essas ‘crises’ que a levaram a trabalhar em assessoria e a olhar as oportunidades de maneira diferente ao deixar a agência em que trabalhava. Com um olhar empreendedor, Kelly foi atrás de oferecer o que o mercado ainda carecia de uma mídia brasileira especializada em café, com linguagem simples e, o mais importante, em áudio. “Teve uma vez que eu estava em uma fazenda para fazer uma matéria sobre café encomendada por uma revista internacional. E enquanto esperava meu entrevistado, um trabalhador que estava na fila para receber o pagamento assinou o recibo com a digital”, relembrou Kelly. “Foi aí que eu pensei que tinha que fazer minhas matérias em podcast (áudio). Não podia ser escrito. Eu tinha que chegar até aqueles trabalhadores, e a escrita seria uma barreira”, completou. Surgia, então, o Coffea, o primeiro portal sobre café no Brasil. O portal, 23


que informa tanto o especialista sobre o assunto ou os leigos, conta com uma versão em inglês. “Meu sonho era trabalhar no Estadão, hoje eu pauto o caderno deles sobre gastronomia”, orgulhou-se. Mais estudos______________ Assim como Kelly, a maranhense Mayara Barreto ao terminar a faculdade em 2008, buscou um espaço no mercado de trabalho. Iniciou sua carreira como repórter, atuando posteriormente em assessoria de imprensa. Em 2012, deu o primeiro passo como empreendedora: abriu sua empresa. Com o objetivo de atuar no setor jurídico, produziu os próprios materiais de divulgação para comunicação. Porém, em menos de seis meses já estava sem dinheiro. A saída foi voltar a trabalhar em um emprego fixo, ainda na área de assessoria de imprensa. Mas não desistiu. “Alguns anos depois, com mais experiência do mercado de comunicação, em São Paulo, eu redefini o que eu queria fazer e como queria atuar, também coloquei na ponta do lápis alguns gastos necessários”, falou Mayara. A comunicadora buscou aprimorar seu conhecimento. Fez outra faculdade e uma pós-graduação, mudou a área, foi do Jurídico para o Ambiental. Unindo a paixão pela escrita e a experiência que adquiriu em assessoria, hoje, atua como prestadora de serviço de assessoria de comunicação empresarial. “Depois de alguns anos, mesmo com a crise econômica que

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assola o país, a empresa está passando por reformulações e recriações. Mas finalmente, hoje eu consigo viver graças às escolhas de empreender e à minha paixão pelo Jornalismo”, comemorou. Para o desenvolvimento do Coffea, Kelly Stein pondera como a assessoria de imprensa foi importante para aprender a se vender. O longo caminho traçado fez com que a jornalista aprendesse por meio das experiências. “Na faculdade treinamos muito como contar uma boa história, mas não aprendemos como devemos vender ela depois”. Kelly acredita que o curso de jornalismo, pelo menos na época em que fez faculdade, não a preparaou para pensar o próprio produto. “Eu tive que estudar depois de formada para conseguir entender como administrar. Tem um curso do Sebrae que salvou minha vida”. X

Da primeira vez abri uma empresa de comunicação e em menos de seis meses já estava sem dinheiro algum

- Mayara Barreto


ARTiGO

A intolerável intolerância O Brasil é o país da diversidade, mas está muito longe de ser o da tolerância. Sustenta-se muito bem o estereótipo da pluralidade brasileira mundo afora, afinal, aspectos como a religião, etnia e cultura, fizeram e fazem ainda hoje, parte do processo de colonização ocorrido no território ao longo dos anos. No entanto, as estatísticas da intolerância mostram números bastante expressivos. De acordo com um projeto do jornal mineiro O Tempo, o percentual de menções negativas referentes ao racismo, política, classe social, aparência, homofobia, deficiência, geração, misoginia e xenofobia estão acima de 84% nos temas pesquisados. Não cabe aqui falar sobre a herança dos discursos de ódio que permeiam a sociedade, mas sobre o mundo globalizado que intensifica esse movimento. Tratam-se de coisas sutis, como um comentário maldoso numa rede social, por exemplo. Não existe vacina que cure a ‘doença’ da intolerância, mas nunca foi tão necessário tratá-la. Da maneira que der, de forma mais intensa para uns e mais amena para outros; o jeito pouco importa. Seja da intolerância em aceitar partes nossas que precisam ser mudadas ou nas ofencças a um político dito corrupto, mas que tem à vida honesta. Essas chagas se multiplicam em ondas grandes e pequenas de ódio que permeiam o mundo. Se no Brasil, a comunidade LGBT é a população mais afetada por ela, no Oriente Médio, a chamam de intolerância religiosa. No final, independente da nomenclatura as vítimas morrem de qualquer maneira. Segundo o pensador, poeta e ensaísta italiano Giacomo Leopardi, “nenhuma qualidade humana é mais intolerável do que a intolerância”. Talvez ele esteja certo e o mecanismo de cura para essa ‘doença’ funcione da mesma maneira que um soro antiofídico para uma picada de cobra: nunca foi tão X necessário salvar a humanidade desse mal.

BEATRIZ As vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento, vale a pena ter nascido. E amanhã? Típico pensamento nada a ver: sossega, o que vai acontecer acontecerá. Relaxa, baby, e flui.

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HASHTAG

desafios do jornalismo

FAKE NEWS Reportagem João Paulo Nobile Paula Mariane Pedro Benvenuti Vinicius Barel Edição Paula Mariane Fotos Paula Mariane e Vinicius Barel

As mentiras e os boatos têm 70% mais chance de serem compartilhadas em redes sociais que as notícias verdadeiras - e os ‘robôs’ não são os maiores vilões dessa história

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A

s fake news têm 70% mais chance de serem compartilhadas que as notícias verdadeiras - e os ‘robôs’ não são os maiores vilões dessa história: ao contrário do que imaginamos, os bots até podem acelerar a propagação de notícias falsas e verdadeiras, mas eles não são os principais responsáveis pela disseminação descomedida de informações falsas. Os responsáveis por isso são as pessoas, como aponta o estudo realizado pelo Instituto Tecnológico de Massachussets (MIT, na sigla em inglês). A pesquisa The Spread of True and False News Online (A disseminação de notícias verdadeiras e falsas online, em tradução livre), divulgada pela Revista Science em março deste ano, investigou a difusão de aproximadamente 126 mil notícias publicadas no Twitter, no período de 2006 a 2017, baseando-se no trabalho de seis agências independentes de checagem de fatos. As notícias analisadas, por sua vez, foram compartilhadas por cerca de três milhões de pessoas em 4,5 milhões de vezes. A partir da análise, os pesquisadores constataram que as informações falsas eram compartilhadas nas redes sociais de modo mais rápido e com maior abrangência que as verdadeiras. Com um apelo mais emocional, o aparente ineditismo foi considerado um fator crucial para

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O acúmulo de tarefas têm sobrecarregado os jornalistas e prejudicado a averiguação das informações


Simone Palloni de Figueiredo, pesquisadora da Labjor e cordenadora do Nudecri Foto: Paula Mariane

fossem as mentiras e boatos disseminadas com mais profundidade. Sem compromisso com a verdade, as fake news aderem um caráter ficcional que satisfaz e traz conforto emocional ao leitor, pois atende àquilo que o indivíduo ou um grupo gostaria de acreditar, como explica Marcel José Cheida, docente da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas. “Com o surgimento das redes sociais, surge o conceito de pós-verdade, o qual implica na ideia de que as pessoas não se preocupam com os fatos e nem em entendê-los racionalmente, e sim em apenas expor o que elas desejam, gerando um conforto psicológico e emocional para elas”, afirma. “Como o desejo e a emoção as vezes afastam a reflexão crítica, é mais fácil para as pessoas receberem uma informação pela rede social e ao ver que essa informação, de certo modo, atende à uma expectativa emocional dela, ela compartilha e viraliza essa informação e adere a essa informação”, complementa Cheida. Não à toa, a palavra pós-verdade foi escolhida como a palavra do ano, em 2016, pelo Dicionário Oxford. Grandes eventos internacionais marcaram a disseminação das fake news, a exemplo das eleições estadunidenses de 2016, na qual Donald Trump foi eleito - como também a saída do Reino Unido da União Europeia, fenômeno que ficou conhecimento como Brexit. “A eleição de Trump se apoiou em produtores de fake news, com o

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intuito de enfraquecer o adversário, como também para disseminar as ideias que estavam na campanha. Isso foi ao encontro de um forte segmento eleitoral norte americano descontente com as instituições”, explica. “Hoje você encontra muitos cidadãos que são frustrados com o Estado e as instituições. Quando surge um personagem com esse discurso dirigido a atender a expectativa emocional das pessoas, ocorre uma série de disseminação de notícias improcedentes, mas que vão ao encontro das expectativas deste segmento eleitoral frustrado”, analisa Marcel Cheida. Nas redações jornalísticas o cenário é desafiador, com equipes cada vez menos especializadas e mais enxutas. Para Simone Pallone de Figueiredo, pesquisadora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e coordenadora do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade (Nudecri), o acúmulo de tarefas têm sobrecarregado os jornalistas e, consequentemente, prejudicado a averiguação das informações. “A empregabilidade no jornalismo está sendo discutida também. Para onde vão essas pessoas que estão se formando? Como deve ser a formação para esse mercado novo, que é super eletrônico, digital, rápido, focado em aplicativos, sem perder os princípios jornalísticos?”, questiona. Apesar do cenário desafiador, há iniciativas que estão surgindo para analisar e desen-

Sem compromisso com a verdade, as fake news aderem um caráter ficcional que satisfaz e traz conforto emocional ao leitor


Marcel Cheida, professor de jornalismo impresso e ética na PUC-Campinas Foto: Vinicius Barel

volver ferramentas para avaliar a credibilidade do jornalismo brasileiro, como o Projeto Credibilidade, desenvolvido por meio da parceria do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp). “O projeto tem como objetivo formar e ensinar as pessoas a lerem o jornal, que é uma das críticas que o professor Francisco Belda faz em relação ao modo como as pessoas identificam o que é um editorial, um artigo, o que é opinativo, o que é jornalístico”, explica Simone. Em dezembro do ano passado, o projeto lançou o Manual da Credibilidade, guia de boas práticas para veículos jornalísticos profissionais, criado com intuito de fornecer parâmetros para a prática do jornalismo de qualidade na internet no país. Em relação à eleição presidencial deste ano, Marcel Cheida acredita que as fake news irão atuar fortemente nas redes sociais. “Isso é muito perigoso pra sociedade, porque cria um esgarçamento social. Hoje as pessoas não acreditam mais nas instituições e nós precisamos ver como superar isso. A pessoa usará a ideia de autoridade discursiva: o meu discurso é o certo e você tem que se submeter a ele. A partir disso, não será aceito qualquer grupo que pense diferente e não haverá preocupação em entender o outro, negando assim qualquer tipo de negociação. Isso é muito perigoso, porque esse comportamento nega a própria X democracia”, conclui.

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MODOS

Serão os assessores de políticos,

JORNALISTA? Profissionais que trabalham com a comunicação pessoal dos políticos contam como é a vida de quem foi para ‘o lado obscuro da força’, a relação com o assessorado e com a imprensa, e como lidam com o volume de trabalho antes de durante as eleições

Reportagem Bárbara Gasparelo Julia Pereira Mariana Brassanini Taynara Derbona

Foto: Arquivo Pessoal

Fotos Bárbara Gasparelo Mariana Brassanini Edição Julia Pereira Taynara Derbona

Felipe Oliveira De Angelis, assessor da Maria do Rosário, em Brasília 32


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o meio do jornalismo ainda vivenciamos os debates e o grande preconceito existente com assessores de imprensa. Muitos, principalmente os jornalistas mais antigos fazem a separação de jornalismo e assessoria, alegando que o jornalismo tem de ser livre e o comunicador que faz esse trabalho se encaixaria em outra categoria. Em Portugal, quem realiza essa função perde os direitos como jornalista e não pode ser considerado exercendo a função de sua formação, mas no Brasil, são muitos que escolhem por essa função. Então como é visto o assessor de imprensa de uma figura política? Para essa resposta, conversamos com seis assessores que nos contaram como é o trabalho diariamente. Quem são eles_____________ Cauê Siciliano: É assessor do deputado federal Carlos Sampaio (PSDB). Se formou em jornalismo 2011 na PUC-Campinas, começou já no estágio a trabalhar com comunicação pública na Prefeitura de Campinas e ingressou no ramo mais a fundo em 2013. Felipe Oliveira De Angelis: É assessor da deputada federal Maria do Rosário (PT). Formado como jornalista pela PUCRS, especialista em comunicação pública (FGF) e mestre

em comunicação e jornalismo (Universidade de Coimbra). É assessor de comunicação de deputada federal. Luiz Carlos de Oliveira: Assessor da deputada federal Ana Perugini (PT). Formado em comunicação social com ênfase em jornalismo pela PUC- Campinas, e pós-graduado pela em análise de discurso. Trabalhou em TV, assessor de comunicação na Assembleia Legislativa e na Câmara dos deputados. Faz parte da assessoria do seu candidato desde 2011. Valéria de Oliveira Asbahr: Assessora do prefeito de Monte Mor, Thiago Assis (PMDB). Foi assessora de imprensa da prefeitura de 2010 há 2016. Hoje é chefe do setor de jornalismo de uma prefeitura da RMC, onde assessora o prefeito. Artur Araújo: Assessor do prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB). Formado pela PUC-RIO e Mestre em Ciências da Comunicação pela USP. Já trabalhou como editor de jornalismo em veículo impresso, assessor de imprensa na câmara dos deputados e diretor de comunicação da prefeitura, além de ter carreira docente na PUC-Campinas. João Lage: Assessor da deputada estadual Célia Leão (PSDB). Assessor da É formado pela PUC-Campinas, já trabalhou com jornal impresso, e atualmente está na Assembleia Legislativa de São Paulo.

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O trabalho________________

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Acompanhar o político intensamente colaborando com a construção de uma visão estratégica para a logística político eleitoral é o trabalho do assessor do político, mas há diferença nessa tarefa quando se assessora um político que está no governo, no cargo. Neste caso, o trabalho é mais privativo, no que se refere em preservar a imagem do assessorado, do grupo político em que ele pertence. Artur Araújo afirma que este tipo de assessor tem seu trabalho mais detalhado, o que reflete em maior engajamento, pois implica em lidar com imprensa, produzir material institucional, administrar conteúdos de redes sociais tanto como mediador ou como porta voz. Além disso, esse trabalho também consiste em construir estratégias, elaborar discurso para o candidato e produzir conteúdo de campanha. Cauê Siciliano reitera comentando sobre esse jornalismo institucional que é aplicado ao político, nessas funções estão a de escrever discurso, captar demandas, discussões de ideias e causas eleitorais. Entre essas lembra que é preciso estar sempre antenado e informado do que está acontecendo para saber posicionar o assessorado a respeito, além de levantar tópicos para o embasamento de discurso. Já as funções de assessoria estão presentes no levantamento de pautas, releases, follow up, respostas a mídia e organização de agenda, por

exemplo. Mas a função mais importante que acredita exercer hoje é nas mídias sociais. Sicilianoaponta que segundo pesquisa mais de 50% dos eleitores vão decidir o candidato através das redes sociais, onde também as críticas são frequentes o tempo inteiro. “Na mídia social é preciso reformular linguagem e englobar toda comunicação no entorno, responder a população, as críticas e se posicionar a respeito dos assuntos que estão sendo comentados”. Para o assessor João Lage “os assessores tem que saber cavar os espaços na mídia de maneira positiva para que o político fique bem para que mostre o seu trabalho, a população conheça e isso se repercute positivamente na vida parlamentar”, ele conta também que semanalmente faz a produção de boletins para poder divulgar o trabalho. “Isso traz reflexos futuros, é a partir deste material que o eleitor sabe que seu candidato faz um bom trabalho”, o que segundo Lage, se torna ainda mais importante, principalmente na situação política atual do país onde muitos candidatos enfrentam problemas com a justiça e a transparência das informações reafirma ao público a imagem ao qual o assessor gostaria de vender. Além de estreitar o relacionamento com o eleitor, as estratégias buscam ajuda no relacionamento entre mídia, assessor e assessorado, tal ação faz com que o assessor ganhe espaço e confiança dos veículos de comunicação, facilitando o contato


entre eles. “Nós temos que saber cavar os espaços na mídia de maneira positiva para que o político fique bem para que mostre o seu trabalho, a população conheça e isso se repercute positivamente na vida parlamentar”, afirma João Lage. Relacionamentos__________ O desafio hoje é em dia é driblar o sentimento de ódio popular, tendo que estruturar uma comunicação embasada em quebrar barreiras. As pessoas estão sempre com pé atrás com os candidatos, o objetivo que temos é de aproximar o candidato ao leitor, essa é a opinião do jornalista e assessor Siciliano, “Crise de imagem a gente lida todo dia, todo dia tem que desenvolver métodos, linguagens e mídia para uma comunicação com mensagem institucional, a defesa é o tempo inteiro”. Ele ainda aponta o desafio de ser assessor de político: temos 513 deputados, trabalhar para um é uma responsabilidade muito grande, o maior desafio é a generalização e o ódio ao político “Eu concordo com as pessoas, mas não vejo um caminho para o país que não seja na política”, complementa. Um dos pontos negativos mais apontados pelos assessores é a ligação no imaginário comum de assessores e profissionais da comunicação aos marqueteiros. A palavra assessor muitas vezes é confundida, e colocam no mesmo barco jornalista e aquele assessor braço direito do político, que muitas vezes é citado

Foto: Bárbara Gasparello

em envolvimento de corrupção nas denúncias da mídia, “a população vê na palavra assessor como aquele que faz as coisas que deputado não quer fazer”, observa Cauê Siciliano. “Você fica associado a quem você trabalha então tem gente que não gosta de mim, muda de calçada se me ver na rua porque entende que se você não é de tal partido, não é amigo”, comenta Artur Araújo. Ele completa dizendo que a imagem fica associada por muito tempo, então quem quer trabalhar nessa área deve se orgulhar do seu cliente. Além disso, aponta Lage , a imagem deve ser trabalhada em conjunto, o assessor também deve ter cuidado com o que as pessoas estão vendo a seu respeito, pois, atitudes tomadas por ele interferem na vida do assessorado. O trabalho do bom assessor vai além do cuidado com a imagem de seu assessorado. “Quando a pessoa vê o jornalista ele vê o deputado, o assessor é como se fosse o espelho do assessorado, então, a sua postura, o seu trabalho é visto de alguma maneira pela imprensa e por todos e é nisso que temos que trabalhar, para que quando vejam o assessor, vejam o político e o positivismo que existe no

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Foto: Arquivo Pessoal

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político”, afirma. Apesar de ser um jornalismo mal visto, como concorda Valéria Asbahr, hoje os jornalistas entendem mais a função do assessor. Para a maioria entrevistada, concordam que hoje os jornalistas estão mais receptivos e acostumados, até por precisar da figura do assessor para respostas e manter um relacionamento de troca. “Atualmente o que mais atrapalha são as opiniões dos jornais televisionados. Nós produzimos muito conteúdo e acabamos pautando dos jornais. Atualmente não sinto tanta resistência nem dificuldades de relacionamento entre os repórteres de redação e assessoria de imprensa”, diz, apesar de concordar que há sim um certo comprometimento da reputação, isso faz o cuidado ser redobrado com a moderação e ética. “Há bastante profissionalismo entre os colegas. Até porque não sabemos onde podemos estar amanhã. Minha imagem é construída a partir do meu trabalho. Se sou bom profissional, minha imagem é boa” comenta o assessor Luiz Carlos de Oliveira. Em geral, é concordado que essa relação é uma via de mão dupla, um precisa do outro, e isso não deixa mais a imagem profissional do assessor

ser comprometida “O assessor de imprensa nunca deixa de ser jornalista. Em Portugal a legislação obriga. No Brasil não”, aponta De Angelis. No trabalho de assessor de político, um ponto importante ressaltado é a representação do assessor ao candidato. “É importante nessa função procurar fazer o que se identifica, se você trabalha com um assessor que te representa e quando você acredita no que você faz é diferente. É trabalhar com a verdade que acredita”, comenta Cauê Siciliano, ele conta também que no caso dele trabalha como se estivesse em sua campanha, e quando não há esse elo entre assessor e candidato, o volume de trabalho aumenta muito mais, pela falta de naturalidade e de reconhecimento com o candidato. Para Araújo, a afinidade entre assessor e assessorado pode tornar a relação ainda mais próxima e o trabalho mais prazeroso. Além disso, há sempre que se buscar o equilíbrio e o bom senso, pois os atritos podem surgir na relação profissional, nem sempre o candidato segue as recomendações dadas pelo profissional de comunicação, atrapalhando no seu trabalho e influenciando na imagem e campanha. Sobre isso, Oliveira comenta: “tenho um amigo que diz sempre o seguinte - se você discorda muito do seu chefe (deputada), saia da assessoria, candidate-se, ganhe a eleição e faça o que quiser com o seu mandato. Exageros à parte, no meu caso trabalho em um gabinete de esquerda


onde as decisões são coletivas baseadas em planejamentos estratégicos dos quais toda a equipe participa. Então, não há muitas margens para discussões. É cumprir o que o planejamento definiu com a participação de todos (as). Se começar a ter muitas divergências, então chegou a hora de fazer outro planejamento”. Siciliano concorda que as divergências sempre vão acontecer, e para isso é preciso paciência, tolerância e profissionalismo. “O projeto é do comunicador, mas a decisão final será sempre do candidato”. Além disso, o reconhecimento do trabalho do comunicador pela ala política não é unanimidade, Cauê Siciliano diz que mais de 85% dos vereadores de Campinas não têm na equipe um profissional de comunicação, e conhece muitos deputados com anos de carreira que também não contam com alguém formado que ajude nessa área, sendo a comunicação vista por muitos como complementar, mas não essencial. Fake News_________________ Os desafios na assessoria política são enormes, com a implantação das redes sociais a comunicação de assessoria é mais usual e próxima ao eleitor, com isso, a disseminação de fake news englobando os candidatos é mais fácil de acontecer. Mentiras deslavadas são publicadas diariamente, principalmente em época de eleição, e trazem um grande volume de trabalho

para o assessor, trabalho esse que tem se multiplicado nas mídias sociais. A melhor maneira de lidar com essa situação, segundo a assessora Valéria Asbahr, é provar com links e prints a verdade. Vídeos com a fala do candidato ou do político eleito viraliza muito mais rápido que respostas por notas. Alguém precisa se responsabilizar para desmentir a fake news - esse é o trabalho do assessor. Luiz Carlos de Oliveira lida ignorando os trolls. “Checamos as notícias falsas, fazemos o possível para que o nosso coletivo não reverbere as fakes e orientamos os nossos parceiros para que não aja dessa forma, ou seja, replicando as fakes”. Sem dúvidas, o assessor que mais tem fluxo de trabalho e principalmente lida com fake news, é o De Angelis, que assessora a deputada Maria do Rosário, que talvez seja a maior vítima de notícias falsas da política brasileira. “Seus opositores fabricam mentiras diariamente e espalham pelas redes, para isso criamos uma espécie de bunker da resistência, composto por área jurídica para processar caluniadores, área da comunicação para desmentir e difundir a verdade e relacionamento com plataformas, e de apoiadores para ajudar na disseminação da mensagem e defender o mandato nas redes”, explica De Angelis.

Troll é um termo utilizado como gíria na internet, designando uma pessoa cujo comportamento ou comentário desestabiliza uma discussão. Na internet, o troll é aquele usuário que provoca e enfurece as outras pessoas envolvidas em uma discussão.

Crise de imagem___________ Outro momento que exige muita dedicação deste profis

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Foto: Mariana Brassanini

sional é a crise de imagem, em que por algum motivo, seja um comentário em entrevista ou coletiva de imprensa, o candidato acaba denegrindo sua imagem pública. É neste momento que o assessor se reúne com o grupo político e com o candidato para avaliar a crise e realizar pesquisas de qualidade para saber lidar com cada tipo de crise. Artur Araújo destaca ainda que deve haver uma avaliação do tamanho da repercussão do caso, pois, muitas vezes pode ser pequena e acabar despertando, por exemplo, um interesse das pessoas que nem sabiam de alguma repercussão. Há também, a questão de reerguer a imagem do cliente que não foi eleito. “A

derrota serve como reforço para a imagem do meu candidato, é um amadurecimento”, afirmou Araújo. Valéria Asbahr comenta que em cada situação de crise adota-se uma estratégia conforme o assunto. Há uma comissão de gerenciamento de crise que monitora as redes sociais, respondendo e mediando o conteúdo. Muitas vezes o candidato fica no ‘forninho’ por um tempo e logo se encaixa num cargo dentro do próprio poder político. Há sempre que enaltecer a imagem do derrotado. Ele precisa manter suas redes sociais ativas e opinar sobre os alguns assuntos, e o trabalho passa a ser focado nisso. O assessor Luiz Carlos de Oliveira complementa que as ações em tempo de crise requer profissionalismo e que a pesquisa de opinião é um excelente início. E, por último, intensificar a presença nas mídias. Para épocas de crise de imagem João Lage ressalta que a

Especializações voltadas para as eleições 38

As épocas de eleições estão chegando e o trabalho do comunicador nesses meses é procurado em massa por candidatos a vida pública para a campanha eleitoral. Pensando nisso, quatro professores se reuniram e formaram uma empresa com o intuito de formar profissionais para trabalho nessas áreas. A ideia, como conta Duilio Fabrini Júnior e Fabiano Ormaneze, surgiu pelas demandas trazidas pelo mercado de trabalho, onde era identificado por eles muitas falhas na formação dos profissionais que trabalham com a comunicação


melhor estratégia é o trabalho de defesa do assessorado, mostrando que ele é ficha limpa e que trabalha em prol do povo. “A principal coisa que nós temos que mostrar para o público não só em época de campanha, mas principalmente neste período é que, aquele político ao qual nós estamos dando aquela notícia, informação é ficha limpa, que não tem envolvimento com nada e que o trabalho dele vai se reverter em benefícios pro povo, porque o eleitor vota em um candidato esperando que ele vá fazer alguma coisa para melhorar a vida dele”. Isso faz com que caso o político esteja com problemas com sua imagem, tudo seja revertido e volta a ter a confiança da população que pode o eleger ou não.

Em época eleitoral um dos itens essenciais para uma campanha, mais do que nunca, é

um bom assessor de imprensa, um profissional que saiba enxergar as necessidades de cada candidato e passar para a população suas principais qualidades. As eleições são então, sem dúvida, o momento mais intenso da carreira do assessor político. Devido às campanhas de rua em que é necessária a assistência do assessor à imprensa o tempo todo, além da produção de jornal da campanha e conteúdo midiático. “É como se fosse a Copa do Mundo. Todo trabalho realizado ao longo do mandato é potencializado na campanha. O volume é imenso, devido à concorrência. Soma-se o curto período da campanha e a quantidade de informação que precisa ser trabalhada” comenta De Angelis. Artur Araújo concorda: “É um trabalho de sete dias da semana, 24 horas, porque o eleitor não para de perguntar e a campanha não pode parar” avaliou.

política. Eles montaram cursos para pessoas interessadas na temática, empresas e grupos. São três opções de curso que englobam o ativismo político: Comunicação em Rede Social que têm como objetivo ensinar sobre o uso, convergência, monitoramento, estratégias, campanhas digitais, e fake news; Comunicação e Política que aborda no seu conteúdo aulas sobre opinião pública, pesquisa eleitoral, propaganda e ativismo em rede, além do marketing eleitoral e Assessoria de comunicação sobre o jornalismo político e

campanha eleitoral, assessoria de comunicação e de imprensa em eleições e monitoramento de resultado. Todos voltados para quem trabalha ou pretende trabalhar com assessoria de comunicação para campanhas eleitorais, com foco nas ferramentas digitais e com conteúdo dos cursos são pensados para abordar a produção de conteúdo e impactos na opinião pública. Para os professores “O mais importante é saber usar as novas ferramentas para a obtenção de bons resultados e isso exige atualização frequente”. X

Eleição____________________

Prof. Duílio

Prof. Ormaneze

Fotos: Arquivos Pessoais

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ALÉM DO LiDE

Sempre na

MODA

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Com 27 anos a jornalista Beatrice Stopa possui vasta experiência no mundo fashion

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Beatrice Trochmann Stopa se destacou ainda quando estudante, conquistou seu lugar em conceituados veículos de moda do país, chamou atenção de grandes nomes da editoria e atualmente tem sua própria marca de roupa

C

Reportagem Camila Godoy Edição Camila Godoy Fotos Ingrid Biasioli Paginação Ingrid Biasioli

onsiderada uma digital engajer, isto é, alguém de influência capaz de engajar seguidores quantitativos fiéis nas redes sociais, a jornalista Beatrice Trochmann Stopa conta hoje com mais de 32 mil seguidores no Instagram. Na sua descrição do perfil: jornalismo, marketing, conteúdo e produção de moda e estilo de vida. Algumas das várias experiências na carreira que vivenciou ao longo dos seus 27 anos passando por trabalhos na Glamour, Schutz e Vogue. Também estão lá as informações da sua própria marca de roupas No Brand, além de um código de desconto no Booking, website de compras de pacotes de viagem, que disponibiliza para seus seguidores. Tipos de parcerias que só influenciadores com presença no mercado podem conquistar, prova de que a jornalista foi ca-

paz de transformar seu nome em sua marca pessoal. O que muitos encaram como sorte na vida, para Beatrice é muita dedicação e ‘sangue nos olhos’, como ela própria reforça. E isso não quer dizer que a sorte, o destino ou qualquer outra coisa não estivessem a favor dela, muito pelo contrário! Mas toda essa sorte seria apenas um mero detalhe, sem a ‘cara de pau’ que contou ter desde o primeiro momento, quando estudante de jornalismo ainda, entrou em contato de maneira despretensiosa com a diretora de redação de uma das revistas de moda mais famosas do país, a Glamour. O ano de 2009 da então estudante de Jornalismo do primeiro ano da Pontifícia Universidade Católica de Campinas foi marcado pela criação de seu primeiro blog, isso com 17 anos. Depois de um debate em sala de aula que tinha como tema posicionamento feminino nasceu o Salto Alto e Saia 43


Conectada: Beatrice é conhecida nas redes sociais por dicas de compra e estilo

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Justa, foi o projeto que seria responsável por uma reviravolta em sua vida, mesmo a caloura universitária não sabendo disso ainda. Tímida, a estudante escrevia para ela mesma e não tinha a intenção de divulgar seus conteúdos. Foi necessário o tempo e a curiosidade de terceiros, para que ela assumisse a identidade do blog. ¨As pessoas me falavam que viam meu blog e eu pensava: meu Deus que vergonha! Até que aos poucos fui dando a cara¨. Ao perceber que o negócio poderia se tornar rentável, Beatrice resolve investir fundo, o que acabou lhe rendendo parcerias na área da moda. Ainda na universidade, ela teve como um trabalho desenvolver uma revista para uma

das disciplinas. Era o mesmo mês que nascia a Glamour, revista de moda e comportamento onde ficou logo de cara encantada pela acessibilidade, linguagem leve e informativa. Gente como a gente, ela abriu o expediente da revista e começou a trocar e-mails com ninguém menos que Mônica Salgado (na época, diretora de redação da revista), apresentando seu trabalho e blog, além de compartilhar o seu desejo de visitar a redação e contribuir de alguma forma. A visita acabou não rolando, mas ela foi notada! Foi convidada, pela diretora, mais tarde, para fazer a cobertura do São Paulo Fashion Week, mas problemas de documentação na revista e na universidade a impediram de conseguir a


oportunidade. Vida que segue... Acabou fazendo um projeto fotográfico como Projeto Experimental (equivalente ao Trabalho de Conclusão de Curso) nada a ver com a área da moda. Mais tarde, venceu uma promoção da Glamour onde o melhor look ganharia um almoço com toda a equipe da revista. Foi assim que ela pôde se apresentar, dessa vez, pessoalmente. Em 2012 já formada, Beatrice voltou a conversar com Mônica Salgado, o que lhe rendeu alguns trabalhos como freelancer para o site da Glamour. Mas como tudo que é doce um dia acaba, passados alguns dias a jornalista voltou para Americana (cidade onde morava) para cobrir as férias de uma repórter no jornal O Liberal.

Até que voltou a ser convidada (oba!) para mais algumas experiências na Glamour, dessa vez para impresso. Passado algum tempo e novamente caída na realidade, a jornalista se encontrava agora dividida entre São Paulo, lugar com mais potencial a lhe render oportunidades e Americana, cidade onde tinha a segurança de amigos e família. Até o telefone e a caixa de e-mail sinalizarem novamente, dessa vez para uma vaga fixa de repórter de comportamento e celebridades na revista da qual naquela altura já estava tão familiarizada. Entrevista feita e dedos cruzados, ela não obteve nenhum retorno tão cedo. Resolveu então que iria em busca de um intercâmbio para a Espanha, e quando faltavam

Fora da zona de conforto: saiu de Americana para a caótica Sâo Paulo

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“Lembro de pensar que se não desse certo, ia ter que vender ‘brusinha’ na Paulista”

acertar apenas alguns detalhes sobre a acomodação, ela recebeu uma nova ligação. ¨Eu ja tinha acertado quase tudo quando me ligaram do RH dizendo que fui aprovada. Deixei a ideia de morar fora para trás e fui ser repórter da Glamour¨. Na revista, produziu conteúdo para impresso e digital além de se envolver na área de marketing, entrevistou nomes como Fernanda Lima e Thássia Neves para matérias de capas, foi convidada para desfilar no carnaval pela Pantene e concorreu ao prêmio de Jornalismo 2015 da Globo. Mas Bea queria voar mais alto. E voou. Depois de três anos e meio, chegou a hora de dizer adeus ao emprego dos sonhos que lhe rendeu reconhecimento, credibilidade, experiências únicas e um amplo network. Nada mal para uma garota do interior que se jogou em São Paulo sem conhecer ninguém, e agora possuía um número significante de seguidores nas redes sociais além de um mailing invejável. Partiu assim em busca de um novo desafio, se tornando a nova editora de conteúdo do digital da Schutz, a maior marca de sapatos femininos do país, a qual já se identificava muito. ¨Me tornei uma jornalista com total foco em varejo¨. Diferente das suas experiências passadas, Beatrice tinha em suas mãos a tarefa de liderar o novo momento digital da marca, coordenando uma nova plataforma para subir conteúdo e desenvolver a identidade

da Schutz, aprendendo sobre varejo digital, negócios, metas e números. Desse aprendizado que conseguiu extrair sobre ações de marketing e e-commerce, nasceu a No Brand, sua própria marca com peças fashionistas e acessíveis. O que antes havia começado com uma brincadeira, virou coisa séria. Beatrice investiu tudo que tinha na época: ¨Lembro de pensar que se não desse certo, ferrou. Ia ter que vender as ‘brusinha’ que eu mandei fazer na feirinha da Paulista¨, brinca. SUCESSO_________________ O número de peças planejadas para serem vendidas em seis meses se esgotaram em apenas vinte dias. Atrizes globais e apresentadoras como Grazi Massafera e Tata Werneck desfilavam vestidas com No Brand na telinha, era o sinal verde que Beatrice precisava para investir cada vez mais no novo projeto. Com pouco mais de um ano, a empresa que não possui assessoria e nem ninguém para vesti-la (Beatrice é a própria modelo da marca), lhe deu um bom feedback sobre a influência que construiu na área da moda através da sua carreira e seu nome. Paralelo a isso, Beatrice agora já se tornara uma jornalista híbrida com uma ampla bagagem profissional. Era hora de partir para um novo sonho, agora atuando como produtora executiva da revista Vogue. Lá ela era responsável por produ 47


zir ensaios fotográficos, além de escolher locações, modelos, fotógrafos e coordenar o orçamento. ¨Produzi todas as capas desde que entrei e trabalhei com a melhor equipe de moda do país, quiçá do mundo¨. E ela agora já estava em casa. Também pudera, tinha em blogueiras e em influenciadoras da área suas novas amigas e nos seus seguidores, admiradores engajados. Com mais de 30 mil seguidores no Instagram, foi assim que Beatrice trilhou (e continua trilhando!) um caminho de sucesso almejado por milhares de meninas. Contando com misto de ousadia e muito trabalho duro, ela tornou-se fonte de inspiração para muitas menias. Tudo isso, além de possuir um passaporte recheado de carimbos ao viajar para New

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York com a Levi’s (depois com a Schutz), México com a Nike e a convite do governo mexicano, Ibiza com Hard Rock Café, Ilhas Maurício com a rede One&Only, e Salvador com a Koleston. Recentemente se desligou da Vogue. ¨Eu brinco que foi como o governo Juscelino Kubitschek, 8 anos em 8 meses¨. Agora, ela pretende continuar com sua marca e se dedicar a projetos pessoais, como por exemplo, produção de conteúdo digital para marcas com uma visão estratégica de mercado. Quando o papo é sobre o futuro, Beatrice rebate:¨Daqui a

dez anos? Eu não sei nem o que vou almoçar amanhã¨, se diverte. A jornalista e mulher de negócios, agora com 27 anos, diz que se considera muito ‘do agora’, e que não se sente capaz de idealizar de onde quer estar no futuro, apesar de muito amX biciosa.


“Me tornei uma jornalista com total foco em varejo digital, negócios, metas e números”

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Luiz

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Ceará

Atualmente divide a vida profissional entre a Rede TV e um projeto pessoal no YouTube

DiÁLOGO

Jornalista esportivo há mais de 40 anos, já passou por quase todas as redes de televisão. Conhecido por não ter medo de dizer o que pensa, acumula quatro Copas do Mundo e cinco Olimpíadas no currículo. Nessa entrevista ele fala do atual momento da cobertura esportiva pelos jornais televisivos e impressos, além de comentar o futuro da profissão Entrevista, Texto e Fotos: Leonardo Louzada Missio 51


LEONARDO - Você acredita que misturar o entretenimento com o jornalismo esportivo é algo prejudicial a notícia? CEARÁ - É uma coisa muito pessoal, eu posso te falar que eu não gosto de fazer gracinha na televisão. Eu acho que tem que ser uma coisa séria que realmente tenha conteúdo, mas aí eu te pergunto? Uma coisa alegre não tem conteúdo? Você não pode tirar o sorriso de um jogador? Fazer o cara colocar uma peruca na cabeça ao vivo, é menos informação? Não é menos informação! Você não precisa só perguntar pro cara se ele ‘cata’ muito, se ele tá machucado, se ele vai jogar, se ele tá escalado, o que ele acha do time, o que ele acha do treinador. Você pode botar uma peruca na cabeça dele e fazer ele dar risada, isso também dá trabalho. Não é pra qualquer um tirar o outro lado do cara. Fazer ele virar a criança que tem dentro dele. É que alguns jornalistas não conseguem sorrir, eles não conseguem ir pra dentro do cara e fazer ele dar risada, fazer ele chorar. Eles querem simplesmente e tecnicamente falar sobre o assunto e eles têm o direito de fazer isso. Como outros também têm direito de fazer diferente. Então é um ponto de vista muito pessoal e que deve ir até um certo ponto, até a determinação da outra pessoa em fazer diferente. Quando você faz diferente, você também pode mostrar seu talento. Já fiz o Tite chorar, já fiz o Tite dar risada e nem por isso perdi o respeito por ele ou pela notícia. Quando foi campeão mundial 52

com o Corinthians, durante a volta olímpica, ele parou em um determinado momento e ergueu a taça para arquibancada, eu percebi isso. Ele tava levantando a taça pra mulher dele e pra família dele que tava ali, perguntei isso pra ele, a mulher dele tava sentado na frente dele e ele começou a chorar. Eu provoquei isso, queria provocar uma emoção diferente no cara que é técnico da seleção brasileira. E só por isso eu sou um palhaço? Não, eu fiz uma coisa que eu achava interessante pras pessoas de casa. Mas se precisar tirar uma risada de alguém eu vou tirar seriamente. Já ouvi jogador dizer que ficou feliz em sair do Guarani só por medo das suas críticas. Como o jornalista deve administrar isso? De muitas vezes precisar apontar o erro do outro. Faz parte do trabalho da gente, a crítica faz parte, como o elogio também faz. A análise pode ser uma análise mais dura, mas você precisa apontar os erros. Embora você não seja tecnicamente um cara especializado, mas os anos de trabalho e de vivência te dão autoridade para isso, eu tenho 40 anos de profissão então eu acho que tenho condições de analisar. Se eu peguei no pé do cara, não foi de graça, não foi pessoal. Quando eu não gosto de um cara, eu me lembro. Por exemplo, o atacante do Corinthians que foi prata da casa na Ponte Preta, o Roger. Eu critiquei muito ele. Fui cobrado pela família dele uma vez no banheiro de um restaurante, o irmão dele veio pra cima de


Já fiz o Tite chorar, já fiz o Tite dar risada e nem por isso perdi o respeito por ele ou pela notícia

mim, ‘pô cê tá falando do meu irmão!’ Eu sei que o Roger tem muita dificuldade pra cabecear, pra chutar, ele provou isso agora no Corinthians. Mas eu gosto dele e da história de vida dele. Mas ele tem dificuldade porque ele não fez uma base boa na Ponte Preta, ele era a estrela do time, então ela não se dedicou o quanto devia. Ele é inteligente, tem carisma, tem honestidade, fisicamente é excelente, tem talento já que foi atacante de muitos clubes, mas em nenhum ele foi ‘Jesus’, em nenhum ele foi ‘O Cara’. Tecnicamente ele tem problemas, o que não quer dizer que ele não é um cara legal, não quer dizer que eu não gosto dele. E se precisasse apontar um erro ou falha na sua carreira, na sua profissão. Qual seria? Eu não falo inglês, é um tremendo de um erro. Mas quando eu saí da EPTV e fui pra Globo, segui o conselho do Juarez Soares e errei porque ele também tava errado. Falei pra ele, “eu quero ser o número, vim aqui pra ser o cara, quero cobrir a Seleção Brasileira”. Ele falou “pô cê

tá bem determinado”. Respondi: “é só nisso que eu penso. Por isso vou começar a fazer inglês e começar a me aperfeiçoar”. Ele disse: “você vai fazer inglês por qual motivo? Nenhum brasileiro fala inglês na seleção”. Na época era um conselho maravilhoso que todo mundo se encanta, faz um efeito dentro de você muito grande. Eu cobri a Seleção Brasileira minha vida inteira. Isso fez de mim o cara que eu queria ser, mas ao mesmo tempo não aprendi inglês. Então sempre tive que me virar. Qual o momento mais memorável da sua carreira? Na final Copa do Mundo de 1994 eu e meu cinegrafista conseguimos uma credencial de fotógrafo, repórter não pode entrar no campo em Copa. Entrei na final e fiquei atrás do gol. O Tino Marcos da Globo ficou também. O Heli Coimbra da Bandeirantes também conseguiu a credencial, mas foi roubada no café da manhã. Eu não sei o que o cara fez com aquilo porque não era uma credencial para entrar no estádio, era pra entrar dentro do campo! Eu tava atrás do gol nos pênal

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Jornalista esportivo que não tem time de futebol? Vai trabalhar na IBM, na BOSCH, vai ser caixa de banco, pô!

tis. Foi um momento único, eu estava atrás do gol pô! Imagina o que é isso em termos de emoção. Eu quase tive infarto. Quando o Brasil foi campeão eu não conseguia falar, só chorar eu e o meu cinegrafista também! O jornalista esportivo pode torcer para algum time de futebol? O jornalista esportivo tem que ter time! O cara tem que ser torcedor! Precisa ter esse sangue! Essa loucura dentro dele, porque é disso que ele vai falar. Então ele precisa saber que emoção que é essa. Só quem torce pra time de futebol sabe. Eu sou flamenguista! E todo mundo sabe, mas ninguém acredita porque eu também sou Pontepretano. Quem nasce em Campinas sempre vai ter dois times. Não precisa esconder, você não pode é querer chegar no campo da Ponte e torcer pra Ponte Preta lá trabalhando. Aí é palhaçada! Você tem que ficar quieto e fazer seu trabalho! Evidente que vou torcer pro Brasil. Mas não vou fazer jogo do Flamengo, torcendo pro Flamengo. Você não pode deixar mis54

turar antena. Querer favorecer. Não dar informação porque é seu time. Isso não! Trabalho é trabalho! Torcida é torcida, coração, paixão é outra coisa. Os jornais esportivos trabalham cada vez mais com especulações, também era assim antes? Você concorda com esse tipo de cobertura? Sempre teve um pouco, mas era menor por conta do menor número de veículos de comunicação. Não tinha esse tipo que tem hoje. Por exemplo, essa última vez que fiquei lá na Granja Comary, tava sempre com o Casão e ele falou: ‘Pô a gente saia com os caras, bebia com os caras, fazia tudo, ia pra show e não tinha foto dos caras bebendo’. É diferente, a gente respeitava a particularidade. Hoje o Neymar dá um peido e o cara dá notícia do peido do Neymar. E pior, acha que é legal isso aí. Os sites e portais de hoje vivem disso, desses flagrantes. Só que os jogadores gostam mas não gostam. Eles gostam de colocar, mas não gostam que outros coloquem. Hoje em dia uma foto vale mais do que o texto, infelizmente. E isso é porque tem


muita gente trabalhando. Você ainda trabalha na TV, mas agora também tem um projeto pessoal YouTube. O futuro é a internet. O que acontece é que a gente gravava uma entrevista de 30 minutos e 5 minutos iam pro ar. E o resto do material? Jogava fora? Entrevistei o Romário por 40 minutos, entrou 10 minutos. Comecei a conversar com os caras e pedi para ter acesso a esse material pra guardar, que melhor lugar que o YouTube pra guardar isso? Meu filho me ajuda editando os vídeos. E nós temos patrocínio porque tudo é feito por fora, dinheiro precisa vir de algum lugar. Como o canal tava fazendo sucesso os caras da televisão me chamaram. Com isso surgiu a Resenha do Luiz Ceará, convidei o Felipe Jardini e o Juarez Soares para me ajudarem com esse projeto. Então a gente faz uma resenha, um bate papo com as pessoas. E é um negócio louco, tem 30, 40 mil pessoas assistindo. Isso é o futuro da comunicação, não vai ser televisão, não vai ser telejornal. Vai ser internet e eu tenho que entrar nisso. Eu tenho um canal de entrevista, tenho minhas mídias sociais, faço comentários no portal e trabalho na televisão. Então quando a televisão acabar pra mim e eu disser: “pô não quero mais trabalhar nessa merda”, aí eu vou ser o cara do canal do Youtube. Tô plantando essa plataforma na minha carreira. Eu tenho 67 anos, quando eu tiver com 77, ainda to trabalhando com o Youtube. A internet que vai ser o ‘negócio’. Daqui a 10 anos você

não vai assistir o Jornal Nacional como você assiste hoje. Se compararmos a cobertura esportiva do começo da sua carreira com agora. Mudou? Melhorou? Piorou? Mudou tudo né, eu acho que mudou tudo pra melhor. Eu gosto dessas coisas novas. Se o telespectador compreender que tem milhares de coisas a disposição dele, imagens e informações, ele vai escolher aquilo que interessa pra ele. Aí você dá opção pro cara assistir ao que ele quiser e ouvir o comentário de quem ele quiser. Ele não precisa assistir só o Globo Esporte ou o programa do Neto. Ele tem a informação que ele quiser, do ponto de vista que ele quiser. Vai ter gente falando do ponto de vista dele. Ele não precisa ficar brigando, “esse cara é chato”, “esse cara é vagabundo”. Você não precisa assistir o cara, vai assistir o que você gosta. E isso é importante, você não é obrigado a ver três coisas, tem milhares de coisas na televisão e milhares de coisas na internet. A cobertura da Folha é fodida, cobertura da ESPN é fodida, cobertura da Globo é fodida. Você vai encontrar um cara que faz a sua cabeça. Isso que eu acho importante. É muito melhor do que era antes. Antes você tinha três opções para ver, agora não, agora você vê o que quiser. Isso que é legal. É igual restaurante, quero comer carne de vaca, mas carne de vaca nelore. As coisas mudaram cara, se você não acompanhar isso você tá frito. Você tem que ser feliz hoje na informação, você não precisa ser triste. X 55


EU , JORNALiST Sou Jayme Martins, paulista de Pederneiras, 88 anos, recebi o Grande Prêmio de Jornalismo “Líbero Badaró” da ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e Revista Imprensa de 1989 pela cobertura dos acontecimentos da Praça da Paz Celestial. Fui para a China antes do golpe de 1964 e lá permaneci por mais de 20 anos como professor de Português, correspondente da mídia brasileira e ativo participante da Revolução Cultural, ao lado de Mao Tsetung. Iniciei minha carreira no jornalismo, minha grande paixão, com apenas 15 anos, no ano de 1945. Comecei como revisor e noticiarista do diário Correio de Marília e como repórter e locutor da PRI2 Rádio Clube de Marília, muito responsabilidade para um jovem garoto. Atuei por alguns anos numa série de veículos do Interior paulista, incluindo Marília, Tupã, Jaboticabal, Ribeirão Preto e Jundiaí, até que tive a grande oportunidade de surgir e desvendar 56

a grande mídia da Paulicéia. Fui repórter e locutor da rádio Nacional, mas também como repórter da TV Paulista, dos jornais Hoje, Notícias de Hoje, O Dia, como secretário e repórter da revista Fundamentos e da Revista Associação Brasileira de Escritores (ABDE). Ainda em São Paulo, entre 1959 e 1962, fui chefe de reportagem do Diário Última Hora, de onde saltei para a arena Internacional, indo parar por mais de vinte anos (1962-1979 e 1986-1989) em Pequim, onde atuei como repórter e redator da Rádio Internacional da China e como correspondente das rádios Guayba (de Porto Alegre) e Eldorado (São Paulo), dos jornais O Globo (Rio de Janeiro), O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, da Agência Estado (São Paulo). Em 1989 fui contemplado pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e pela Revista Imprensa com o Grande Prêmio de Jornalismo “Líbero Badaró”,

Foto: Arquivo Pessoal


TA Jayme Martins já foi diretor do programa Roda Viva da TV Cultura e acredita que ser jornalista ultrapassa as barreiras do conhecimento

pela cobertura que fiz, ao vivo, paraw a Rádio Eldorado sobre as manifestações de abril, maio e junho desse ano na praça da Paz Celestial de Pequim. De volta ao Brasil em 1980, passei a trabalhar na TV Cultura de São Paulo, até 1999 como diretor do Programa “Roda Viva”. Em paralelo com esse desempenho profissional, tive atuações esporádicas como assessor de imprensa do gabinete dos prefeitos paulistanos Lino de Matos e Wladimir de Toledo Piza, Presidente da primeira

Comissão Oficial do Carnaval de São Paulo, Coordenador de Planejamento e Secretário de Relações Internacionais da Prefeitura de Jundiaí, idealizador e coordenador da Campanha pela Despoluição do Rio Jundiaí. Tive uma trajetória extensa, que começou quando eu era muito jovem, e que prevalece até hoje no meu dia-a-dia. Ser jornalista é ultrapassar as barreiras do conhecimento, do diálogo e ter a curiosidade de X emergir os fatos. 57


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Dupla

ALÉM DO LiDE

JORNADA

Diversas pessoas têm o costume de fazer mais de um trabalho ou função, seja para ter renda extra, ou por gosto e puro prazer. Manter um único emprego já é uma grande tarefa, mas há quem consiga manter mais de uma ocupação ao mesmo tempo. Sabese também que a vida de um profissional de comunicação é bastante atribulada, correria para lá e para cá. Independente da função ou meio em que trabalha, esse profissional sempre terá muita coisa a fazer

Reportagem João Sales Mariana Massarão Siliane Nogueira

Fotos Todas as fotos são de arquivos pessoais

Edição João Sales

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JORNALISTA NA COZINHA Ele trabalha na Assessoria de Comunicação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) há 18 anos. Aos finais de semana é chef de cozinha, seja em eventos ou quando contratado para fazer um jantar para os amigos. Mauel Alves trabalha na universidade com três produtos. Um deles é um portal online que é alimentado com matérias diariamente. Outro é o Jornal da Unicamp. O terceiro produto é o núcleo de atendimento à imprensa externa à Unicamp. Nesse núcleo, Alves atende a jornalistas que ligam para ele diariamente, em busca de fontes para matérias, novidades sobre a universidade, esclarecimentos, dentre diversas outras possibilidades relacionadas ao ofício do jornalista. O trabalho como chef surgiu da paixão de cozinhar, que já carregava consigo antes do jornalismo, mas que só virou profissão depois que se estabeleceu na área comunicacional. “A cozinha, embora eu cozinhe antes de ser jornalista, ela veio profissionalmente depois e eu nunca quis abandonar o jornalismo para me dedicar exclusivamente à gastronomia”, ressaltou, ao mesmo tempo que mostrava uma publicação em sua conta no Instagram, sobre um pão de café que fizera em sua casa, que deixou seus seguidores ansiosos pela receita.

A JORNALISTA E O BAR

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O bar Tubaína está localizado na rua Haddock Lobo, número 74, em São Paulo. É um bar conhecido pelo ambiente retrô, pelos pratos diversifi-

cados e pelos drinks feitos à base do refrigerante de mesmo nome. Quem administra o bar é a peruana Verônica Goyzueta, quem no começo era apenas investidora e se tornou administradora do Tubaína quando pediu demissão da agência em que trabalhava. “Por problemas na sociedade acabei pedindo demissão da agência de notícias em que trabalhava para assumir o projeto, porque percebi que poderia ter prejuízo se não me dedicasse ao negócio. Foi uma decisão difícil ter que me dividir, e virar freelancer”. O bar Tubaína era apenas um projeto há dez anos. Quando surgiu foi pioneiro na valorização de pequenos produtores de refrigerantes brasileiros, que em sua maioria são do interior de São Paulo e sofrem com a concorrência desleal das grandes marcas no mercado. “Alguns deles chegam a ter mais de 100 anos de existência. São mais de 20 rótulos no cardápio. Descobrimos que o Brasil é um dos maiores produtores de refrigerantes do mundo”. PRODUTOR EM CENA Leonardo Cassano é jornalista e apresentador de cultura na rádio CBN, além de também atuar, é diretor e produtor teatral em sua companhia de teatro, a Arte & Manhas. Ele não se recorda exatamente de quando se iniciou no teatro, mas em meados de 2001, ainda restam algumas lembranças de um começod em uma escola. Aos poucos os palcos foram se tornando cada vez mais interessantes e então um ano depois entrou em um conservatório que oferecia um curso de


formação de atores. Após se formar no ramo teatral, foi em 2005 que Cassano começou sua carreira nesse meio e permaneceu dois anos. Não satisfeito, seu lado comunicacional começou a aflorar. Decidiu fazer jornalismo. Formou-se em 2010 na PUC-Campinas. “Sempre gostei muito daquele velho clichê de ler jornal impresso em casa. Até hoje meu programa favorito é assistir Globo News o dia inteiro”, ressaltou. Cassano se mantém ativo em ambas as profissões por amor, uma vez que se tivesse de escolher pelo dinheiro, teria optado por outros caminhos em outras carreiras. NA TV E NA INTERNET Renata Moretto começou no jornalismo por acaso. Segundo ela, foi no terceiro ano do colegial quando decidiu prestar vestibular para o curso, porém, só após a faculdade e a experiência no mercado de trabalho que a fez descobrir que era isso que ela queria seguir. Moretto está à frente do jornal da Rede Século 21 desde 2011. Ela se divide com outras funções: a de blogueira e a de proprietária de uma assessoria de comunicação. “A dupla jornada aconteceu naturalmente. A televisão é a minha prioridade, faço 9 horas diárias lá dentro e é minha fonte de renda principal. A assessoria surgiu quando minha sócia e eu percebemos que existia uma demanda do mercado para o serviço de assessoria, gerenciamento de mídias e produção de vídeos, e que as empresas em si não sabiam como lidar com isso, então por causa dessa brecha, enxergamos ali a oportu-

nidade para abrimos nossa empresa. O blog, surgiu como um hobbie”. ASSESSORA VOLUNTÁRIA Nem sempre a procura pelo segundo emprego é para renda extra. A assessora de comunicação Letícia Milaré, além de trabalhar com divulgação de press release; relacionamento com a imprensa; atualização de mailing; clipping e acompanhar seus clientes em feiras e eventos em uma agência, ela também colabora como voluntária para a área de comunicação da ONG Sonhar Acordado, de Campinas. Ela conta como exerce sua função na ONG, e os efeitos da dupla jornada em sua vida: “Para o Sonhar, eu contribuo com o gerenciamento de mídias sociais e desenvolvimento de artes. Eu atuo em horário comercial para a agência, então procuro cuidar das demandas do Sonhar Acordado após este horário. Mesmo não sendo remunerado ambos devem ser feitos da melhor forma possível”. TEXTO E IMAGEM Para o editor do jornal Metro, Carlos Giacomeli, os serviços de fotografias surgiram para tirar um pouco do estresse da profissão. Ele abriu a própria empresa pensando muito mais na própria satisfação do que no dinheiro em si. “Como os serviços de fotografia são esporádicos, não influenciam na minha rotina de forma a me sobrecarregar. Acabam sendo importantes pra eu poder mudar um pouco o foco e garantir uma segunda opção, caso algum dia eu precise. Nem é pelo dinheiro e sim por prazer”. X

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Foto: Divulgação

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FiLME

No ritmo das redações AAA Dois casos envolvendo o jornal The Washington Post no início dos anos 70 foram o pontapé inicial que resultaria em uma mudança profunda no fazer jornalismo. O filme de Steven Spielberg, The Post – A Guerra Secreta (2017), conta como tudo começou. Quando Ben Bradlee diretor - chefe de redação do jornal local, The Washington Post, recebe documentos secretos sobre o envolvimento do governo americano na guerra do Vietnã, cabe a Kay Graham, dona do jornal, a decisão de publicar ou não. Os documentos não só colocam em xeque o nome de quatro ex presidentes dos EUA, como também põe em risco o governo do presidente no poder, Nixon. Assim, os editores entram em um grande impasse: não publicar os documentos ou seguir o preceito fundamental do jornalismo na garantia da liberdade imprensa e correr o risco de perder o jornal. Contar uma história da qual todos conhecem o final não é uma tarefa fácil. Contudo para o diretor Steven Spielberg, o trabalho duro se torna mais simples com as belíssimas atuações de Meryl Streep e Tom Hanks nos papéis principais. A relação dos personagens é o grande trunfo do filme, pois apesar de não concordarem em nada, ambos admiram e respeitam o trabalho um do outro. Essa relação é tão bem construída que garantiu a atriz mais uma indicação ao Oscar pela atuação. Entretanto, não se engane, a produção não se sustenta apenas pelas atuações. O trabalho de Spielberg na construção da história não aparece apenas no cuidado com os fatos, como também na recriação de todo o universo jornalístico. A redação é representada em sua totalidade, desde as mesas caóticas dos jornalistas até as máquinas onde são impressos os jornais. Assim, como somos ambientados na rotina de produção, acompanhamos o fechamento e a repercussão dos fatos, o ritmo do filme ganha o mesmo ritmo das redações. Mais que os méritos técnicos da produção, The Post – Guerra Secreta consegue mostrar a importância da luta pela garantia da liberdade de imprensa. O filme ainda termina fazendo referência a um dos maiores escândalos políticos: o caso Watergate, revelado também pela equipe do The Washington Post, um ano depois da publicação sobre os documentos do pentágono. A referência nos lembra o grande clássico do jornalismo no cinema, Todos os Homens do Presidente de 1976, em mais demonstração do poder do trabalho jornalístico no meio social. X

LARISSA Tenho 22 anos e trabalho como Educadora Infantil na Prefeitura da cidade de Hortolândia; também colaboro com o site de notícias Jornalistas Livres. Penso que mídia livre é mídia independente!

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LiVRO

AAA Histórias de muitos fins

VICTÓRIA COCOLO Tenho 22 anos e sou estagiária do do portal de notícia G1 de Campinas e freelacer pela rede Jornalistas Livres. Sou uma pessoa sonhadora, que erra a grafia do próprio nome e faz jornalismo pelo poder de transformação social; mas tenho bom coração.

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O livro das vidas – Obituários do New York Times – como anuncia o título- trata-se de uma seleção de textos publicados na seção de obituários do jornal New York Times. Um dos cadernos mais lidos do conhecido jornal americano. Com ênfase em histórias de pessoas anônimas que realizaram grandes ou curiosos feitos, a destreza e a sensibilidade com que os obituários presentes na coletânea são construídos pode ser interpretado como uma aula de jornalismo literário, em meio a correria da rotina factual, vivenciada nas grandes redações. Algo quase impossível de imaginar dentro da realidade tão limitada, dos veículos de comunicação brasileiros. Para além de histórias ilustres, que beiram muitas vezes um tipo de jornada do herói, a coletânea quebra paradigmas ao abordar uma temática tão complexa quanto é a morte com a presença de elementos como humor e ironia, tudo de forma muito bem sintetizada. As “mini biografias”, como apelida a própria organizadora da obra, fazem parte daquela lista de textos divertidos e viciantes que servem para qualquer momento da vida e devem compor a lista “obrigatória” de leitura de todos os jornalistas que se prezem. Os detalhistas e descritivos posfácios dão tom humanizado e poético a vida daquelas pessoas que são retratadas, o que aproxima o leitor daquelas personagens, dando a sensação que será uma pena nunca ter a chance de conhecê-los. Por se relacionar de forma tão intrínseca com a morte, os obituários do New York Times acabam tendo tom reflexivo sobre a efemeridade da vida humana. Um outro destaque sobre a obra, está nos critérios de seleção de histórias, “no cardápio” temos o retrato de Barbara McClintock, no obituário de nome “apaixonada por genes”, conhecemos a história da ganhadora do prêmio Nobel de Medicina e ao mesmo tempo Anton Rosenberg, o “hipster exemplar, que morreu aos 71 anos, amigo de beatniks e que “nunca chegou a nada”. Entre os 57 textos que compõem o livro muitos merecem destaque. O contraste entre as trajetórias dos personagens, confirmam, mais uma vez, que mais importante que os grandes feitos é a maneira como os contamos e os jornalistas obtuaristas do New York Times sabem como contar uma história. X


Foto: Divulgação

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HUMOR

Parece Piada Quando estamos navegando na internet ou até mesmo lendo revistas e jornais, nos deparamos com algumas notícia que nos fazem pensar: - É sério que isso foi publicado? Para você que gosta de curiosidades ou saber de uma boa e diferente história para contar para os amigos, seguem-se três fatos que parecem piada, mas não são! Foi mal pelo atraso Você consegue imaginar a companhia que cuida do transporte público da sua cidade emitindo um pedido de desculpas oficial pelo atraso? Eu sei, eu sei parece loucura, porém no Japão isso aconteceu. Uma companhia ferroviária emitiu um pedido de desculpas oficial devido a partida antecipada do trem em 23 segundos, sim você leu certo: 23 segundos. Isso aconteceu porque o condutor fechou as portas antes do tempo. O trem deixou a plataforma na estação de Notogawa que se localiza no centro do Japão às 7h11m35s em vez de 7h12min no dia 11 de maio. Felizmente apenas um passageiro perdeu o trem. (UOL 15/05/2018) Seu sapato pelo meu copo Um bar na Bélgica começou uma “guerra” contra os ladrões de copos. O dono do estabelecimento pede os sapatos como garantia dos copos, num bar localizado na cidade de Gent. Quem entra no bar precisa deixar os sapatos na porta, e só quando pagam e logicamente quando o copo é devolvido o frequentador consegue resgatar seu pisante (os sapatos). (UOL 16/03/2018) The walk of the zueira Imagine, você dormindo tranquilamente em sua residência quando de repente, recebe uma mensagem no seu celular com o seguinte texto: “atividade extrema de zumbis”. Isso aconteceu com os moradores de Lake Worth, no sul da Flórida (EUA), que receberam essa mensagem nos seus celulares do sistema estadual de alerta de emergências. O alerta foi feito durante o corte de eletricidade que afetou a região nas primeiras horas de um domingo. Se fosse apenas isso estava tudo tranquilo, além de receberem essa mensagem de madrugada, esse incidente aconteceu em Terminus que é uma das cidades onde se passa a série sobre zumbis The Walking Dead.Através da página do Facebook um porta-voz municipal da cidade de Lake Worth escreveu “que Lake Worth atualmente não tem nenhuma atividade zumbi e se desculpar pela mensagem”. Que medo,heim? (Terra 23/05/2018) X 66

PEDRO LUIS Escutando música no quarto em uma quarta-feira de 2013 próximo dos vestibulares iniciarem, minha mãe entra no quarto, abaixa a música e tranca a porta, olha para mime pergunta: O que você vai fazer na faculdade? Olho para a mesa e em cima dela estava um jornal, então disparo. Jornalismo.


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