Caderno tgi ii adriana boschini

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TGI.II

TGI.II Adriana Boschini

novembro 2013 ADRIANA| BOSCHINI NOVEMBRO | 2013

espaço espaço trocas convívio expressão possibilidade trocas convívio expressão possibilidade público público


Universidade de São Paulo Instituto de Arquitetura e Urbanismo Trabalho de Graduação Integrado II São Carlos - São Paulo novembro | 2013


Adriana Boschini


apresentação


Este trabalho é resultado de uma investigação, que teve início com a disciplina Introdução a TGI, sobre a relação das pessoas com os espaços públicos da cidade e a relação existente entre esses espaços, explorando o usuário como principal agente que participa, compõe, interfere e modifica o ambiente que ocupa.


O questionamento nasceu da análise da arquitetura cênica de Lina Bo Bardi, que cria espaços que não cumprem simplesmente um programa funcional, mas que revela o “paradigma programático e estético” de sua arquitetura como um todo. (SILVA, Mateus Bertone da. “Lina Bo Bardi: Arquitetura Cênica”, 2004) Nesse sentido, as questões de projeto levantadas se referem a essa relação usuário / espaço, tendo o usuário não mais como um mero observador da arquitetura, mas como agente participante desta. Não procuro, contudo, explorar um espaço interativo, no sentido de se reagir a informações pré-estabelecidas, com uma resposta muitas vezes esperada, mas um espaço de relação, onde o usuário tenha um papel de protagonista, estabelecendo ele próprio as relações que lhe forem convenientes. Assim, a investigação se da no sentido de evidenciar um espaço que necessite do suporte e relação com o usuário para se constituir como espaço arquitetônico de fato, aberto a modificações espontâneas de cada sujeito que se aproxime e deseje se relacionar. Entendendo ainda o espaço público como lugar da comunicação, do encontro, concentração e expressão das pessoas – independente de grupo, classe social, posicionamento político, etc. – o espaço que se pretende projetar deve ser um atrativo a essas pessoas distintas, e permitir que elas se expressem livremente, deve ser um espaço que ofereça inúmeras possibilidades.

Objeto síntese apresentado na disciplina Introdução à TGI novembro | 2012



universo projetual


Para constituir o universo projetual que serviu de base para este trabalho, procurei por projetos de espaços que apresentam essa dinâmica de convívio, troca de experiências e expressão popular que quero explorar. Os projetos quer mais chamaram atenção para este ponto foram o MASP, de Lina Bo Bardi, em São Paulo, e o Centro de Convivência Cultural de Campinas, do arquiteto Fábio Penteado. A análise da dinâmica desses espaços, além do entendimento de como sua construção possibilita essa dinâmica, foi necessária para que pudesse encontrar uma área para uma intervenção que correspondesse aos questionamentos até então levantados. Alguns aspectos referentes à qualidade dos espaços públicos listados por urbanistas dinamarqueses no livro “New City Lifes”, e que deu origem a uma exposição em São Paulo chamada “Cidade para as pessoas”, auxiliaram nessa leitura. Outros projetos também foram importantes para o desenvolvimento do trabalho, são eles a Praça Roosevelt, em São Paulo, que por estar rodeada de bares e teatros, é intensamente utilizada, o dia todo por distintos grupos, possibilitando trocas de informações e estimulando o convívio entre diferentes pessoas; e os playgrounds de Aldo Van Eyck em Amsterdã, que utilizando dos espaços residuais da cidade cria espaços que possibilitam múltiplas atividades e fácil utilização pela população, fomentando a interação entra as pessoas, tendo em vista sempre espaços onde pudessem acontecer intervenções não previsíveis.


MASP O vão livre do MASP, uma exigência do projeto para o local, possibilitou que Lina criasse um ambiente de encontro da população em meio ao grande trânsito de pessoas na Avenida Paulista, sendo um ponto de encontro na cidade, utilizado como lugar de espera por aqueles que vão ao museu ou como lugar de descanso pelos que trabalham no entorno.

“Procurei recriar um ‘ambiente’ no Trianon e gostaria que lá fosse o povo, ver exposições ao ar livre e discutir, escutar música, ver fitas. Até crianças, ir brincar no sol da manhã e da tarde.”


Centro de Convivência Centro cultural da cidade de Campinas que abriga auditórios, um teatro interno e um teatro de arena, é um ponto de convívio para a população da cidade. Nas palavras do próprio arquiteto: “Um espaço aberto para o encontro e o convívio, onde se pode ficar à vontade, vadiar, ler, descansar, namorar, assistir à espetáculos artísticos e esportivos, participar de manifestações públicas...”


local


Para o projeto de um espaço público com as características citadas anteriormente – encontro, concentração e expressão - o local deve ter atrativos para o usuário, ou seja, deve possuir um centro comercial bem desenvolvido, um espaço de lazer ou um ambiente cultural que convide as pessoas para aquela área. Esses lugares são encontrados onde o trânsito de pessoas é intenso, de moradores ou trabalhadores que utilizam os serviços oferecidos no local. Assim, o local escolhido deve apresentar essa dinâmica de concentração de pessoas, sendo esse “novo” espaço, um apoio às atividades que já ocorrem, ou um espaço de proposição de novas atividades pelas pessoas que ali transitem. Nesse sentido, as referências apresentadas no “Universo Projetual” deste trabalho embasam a escolha da área de projeto.




N


A área escolhida está localizada no centro da cidade de Campinas, ao lado da antiga estação ferroviária, hoje Estação Cultura, próxima ao Terminal Rodoviário, terminal central de ônibus urbano, Museu da Cidade, Teatro Municipal José de Castro Mendes e futura instalação da sede da Orquestra Sinfônica de Campinas. O terreno escolhido era ocupado anteriormente por uma parte do complexo da Fundição Mac Hardy, uma das primeiras indústrias da cidade de Campinas; mais tarde foi utilizado pela Cervejaria Antarctica e está abandonado desde 1989. Em 2006 toda a edificação que existia na quadra foi demolida e a área se encontra hoje murada e sem uso; de todo o complexo da Fundição resta apenas alguns poucos edifícios que se encontram em processo de tombamento pelo CONDEPACC.


contexto


Campinas foi fundada em 14 de julho de 1774, após o bairro existente na região, o Caminho dos Goiases, caminho que levava até as minas goianas em 1720, foi elevado a categoria de freguesia, a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato Grosso. Em 1779 se torna Vila de São Carlos, e em 1842 a Vila se torna Cidade de Campinas. Até este momento o açúcar era o principal produto cultivado da cidade. Em 1872, com a Inauguração da Via Férrea, vista como essencial para o progresso da cidade, houve um incentivo para a atividade comercial e avanço da agricultura, sendo fundamental para a definitiva substituição do açúcar pelo café nas décadas seguintes. O crescimento econômico e consequente desenvolvimento urbano da cidade nessa década é enorme, colocando Campinas numa posição privilegiada diante das outras cidades da região. A ferrovia inaugurou em Campinas uma nova era, pois interferiu diretamente na expansão da cidade, com o surgimento de novos comércios e depósitos entre o centro da cidade e a estação. Além disso, a estrada de ferro atraiu para a cidade novos estabelecimentos industriais, como as fundições Lidgerwood e Mac Hardy.



Planta de Campinas em 1878. Eixo interligando: 1.) Passeio Público; 2.) Jardim Carlos Gomes; 3.) Coliseu Taurino; 4.) Matriz; 5.) Teatro Municipal; e 6.) Estação Ferroviária. FONTE: TREVISAN, 2010. Vista atual da Estação ferroviária de Campinas. FONTE: arquivo pessoal, BOSCHINI, 2013.

Culturalmente a cidade oferecia para sua população um Teatro Municipal de arquitetura neoclássica (o Teatro São Carlos, demolido na década de 1920 dando lugar ao Teatro Carlos Gomes, também demolido anos mais tarde), além de um conjunto de salas de cinemas, clubes, largos, jardins e praças que possibilitavam a interação social. Um eixo de equipamentos podia ser notado onde hoje se localizam as ruas Irmã Serafina e Treze de Maio, composto pelo Passeio Público (atual Praça Fluminense – Centro de Convivência Cultural), a Praça Carlos Gomes, o Pavilhão Coliseu Taurino (demolido nas reformas urbanas da década de 1940 – tendo hoje no local o Clube Semanal de Cultura Artística), a Igreja Matriz, o Teatro Municipal logo atrás, e a Estação Ferroviária na sua extremidade. Esse eixo fazia parte do “Plano de Melhoramento Urbanos” elaborado por Prestes Maia no início do século XX.



A região da Estação se caracteriza por um intenso comércio de caráter popular e pela presença de dois importantes equipamentos de transporte da cidade, o Terminal Central – localizado no Viaduto Miguel Vicente Cury – e pela Rodoviária e Terminal Intermodal de Campinas, o que confere à região uma circulação intensa de pedestres vindos de diversas regiões da cidade. Em contraponto, logo atrás da Estação se encontra o primeiro bairro operário de Campinas, que surge junto com a construção da estação, a Vila Industrial, que até hoje mantém suas características iniciais com predominância residencial. A principal ligação entre essas duas áreas se da pelo túnel de pedestres que passa por baixo da linha férrea, construído em 1918 devido ao crescimento habitacional do bairro operário. A linha férrea funcionou até 2001, e em 2003 se tornou centro cultural, a Estação Cultura, abrigando diversos eventos da cidade, como shows, apresentações de teatro, entre outros. Diversos edifícios do complexo ferroviário e das antigas indústrias também passaram a abrigar um programa cultural, e a região se tornou um pólo de cultura na cidade de Campinas. O edifício da Fundição Lidgerwood abriga hoje o Museu da Cidade, e um dos barracões da ferroviária, o Barracão do Leme como é conhecido, localizado ao lado da saído do túnel de pedestres, será a nova sede da Orquestra Sinfônica Municipal. Nas proximidades, reforçando esse caráter cultural da região, se encontra também o Teatro Municipal José de Castro Mendes – na Vila Industrial, reformado recentemente – e um SESC, próximo à Rodoviária.












ações projetuais


Tendo em vista o crescimento dos espaços fechados de lazer, consumo e moradia, onde se nota uma atitude defensiva em relação ao diferente, é muito grande a importância de um espaço público na cidade que possibilite o encontros de distintos grupos e sua ocupação de modo livre. Assim, este projeto pretende a criação de um espaço público na cidade onde essas relações possam acontecer, por meio de uma arquitetura que convide o usuário para aquele espaço e ofereça atividades diversas. A intenção do projeto é criar uma área livre no entorno dos equipamentos culturais existentes na região da antiga Estação Ferroviária, gerando uma articulação entre esses espaços e possibilitando seu uso por diversos grupos. Este espaço deve permitir que os que passam, trabalham ou moram na região se apropriem de diversas maneiras e, principalmente, deve ser como um apoio aos equipamentos, sendo aproveitado pelos grupos que já utilizam os edifícios ao redor – a Estação Cultura, o Museu da Cidade e, futuramente, a Orquestra Sinfônica Municipal – podendo abrigar os programas de cada um destes equipamentos.


N


Parte da área de intervenção será o terreno da antiga Fundição Mac Hardy, faceada pela Avenida Andrade Neves, Rua General Osório, Túnel e Avenida Campos Sales, e Rua Lidgerwood. Este terreno, por causa da antiga construção, apresenta um desnível de 3 metros da Av. Andrade Neves até a Rua Lidgerwood. Além deste terreno, serão objetos de intervenção o trecho da Rua General Osório e da Rua Lidgerwood no qual o terreno se localiza, se estendendo pelo canteiro central entre a Lidgerwood e a Av. Lix da Cunha, até uma parte do terreno da Estação Cultura do outro lado da rua, caracterizando, assim, uma ligação física entre o equipamento e o espaço público.


leituras


Para propor um espaço desse tipo, antes foi feito uma análise da intensidade dos fluxos de pedestres e automóveis na área, e um levantamento das áreas livres existentes na região central da cidade de Campinas, atentando para suas características, usos e conformação, na tentativa de se compreender qual a qualidade desses espaços oferecidos na cidade e se existia algum tipo de ligação que configurasse um sistema de áreas livres. Uma característica importante levantada foi a ligação entre essas áreas livres do centro com grandes edifícios público (escolas, hospitais, igrejas, fórum).


N principais vias da regi達o central da cidade


N

intensidade dos fluxos de pedestres e veĂ­culos na ĂĄrea

N


A leitura das áreas verdes revelou um novo eixo, paralelo ao eixo do Plano de Prestes Maia, que conecta três importantes áreas já existentes e tem sua extremidade na área de projeto. Esse eixo se localiza na Rua General Osório e tem início no mesmo ponto do eixo de equipamentos existentes na Campinas da década de 1920/1930, o antigo Passeio Público, hoje Centro de Convivência Cultural, local que abriga um teatro, um teatro de arena e uma grande praça onde ocorrem feiras aos finais de semana, numa área predominantemente residencial; passa pela Praça Carlos Gomes, ao lado do Colégio Estadual Carlos Gomes (antiga Escola Normal), próximo ao Paço Municipal; e se estende pelo Largo do Rosário, onde foi erguida a primeira Igreja Matriz da cidade e hoje é ocupado pelo Palácio da Justiça; até chegar novamente à Estação Ferroviária. Esse eixo se localiza na Rua General Osório e tem início no mesmo ponto do eixo de equipamentos existentes na Campinas da década de 1920/1930, o antigo Passeio Público, hoje Centro de Convivência Cultural, local que abriga um teatro, um teatro de arena e uma grande praça onde ocorrem feiras aos finais de semana, numa área predominantemente residencial; passa pela Praça Carlos Gomes, ao lado do Colégio Estadual Carlos Gomes (antiga Escola Normal), próximo ao Paço Municipal; e se estende pelo Largo do Rosário, onde foi erguida a primeira Igreja Matriz da cidade e hoje é ocupado pelo Palácio da Justiça, até chegar novamente à Estação Ferroviária.


Planta de Campinas em 1878. Eixo interligando: 1. Passeio Público; 2. Jardim Carlos Gomes; 3. Coliseu Taurino; 4. Matriz; 5. Teatro Municipal; e 6. Estação Ferroviária; e Eixo interligando: 1. Centro de Convivência Cultural; 2.Jardim Carlos Gomes; 3. Largo do Rosário; e 4. Estação Ferroviária. FONTE: adaptação de TREVISAN, 2010.


N

mapeamento das รกreas verdes


N

edifícios públicos


N

eixo da Rua General Os贸rio




As imagens a seguir apresentam a dinâmica da Rua General Osório, que é muito distinta ao longo do percurso. Seu início se da numa área com concentração de residências em edifícios de padrão mais elevado, passa pela área central de comércio mais popular, bem diversificado, e poucas habitações, chegando, já bem estreita a área da Estação com grande concentração de comércio popular e serviços.














estudos


A proposta, de uma área livre nessa região, além de articular os equipamentos culturais existentes ali, faz parte de um eixo importante e deve ser um ponto de referência na cidade. Um espaço desse tipo deve ser um ponto que permita que a cidade e a arquitetura de seu entorno, seja observada. Para tanto, foram feitos estudos dos fluxos internos à área de projeto e ensaios volumétricos com maquetes.


caminhos primários

caminhos secundários

fluxos internos

principal ligação


N



Os estudos feitos sobre a área de projeto prevêem poucos elementos verticais, que possam eventualmente impedir uma determinada vista da cidade. O programa pensado para os edifícios foram no sentido de auxiliar a movimentação da praça, como atrativos, e complementar o programa cultural já existentes na região (museu e centro cultural).


estudos volumĂŠtricos





proposta


A partir das reflexões e estudos apresentados até aqui, surge uma proposta de intervenção nessa área: uma área livre composta por dois blocos de edifícios, um de comércio e outro de equipamentos públicos, ligados por uma marquise, configurando um sistema de espaços pensados para o encontro, lazer e livre expressão da população.


O programa proposto para a ocupação desse espaço é composto por um café e uma livraria, localizados próximos à Av. Andrade Neves, local de maior movimento e que já conta com um comércio diversificado; e uma Midiateca, Auditório e Espaço de Exposições, alocados próximos à Estação Cultura, complementando, assim, o programa cultural oferecido na região.


.26 63

8 0.9 13

0,00

3,00

6,00

3,00

.09 65

N

implantação escala 1:1500


0,00

0,00

0,00

café livraria auditório administração depósito

N

espaço de exposições e foyer sanitários circulação

planta pav. térreo

escala 1:1000


0,00

3,00 3,00 3,00

3,00

3,20

midiateca

3,50

N

planta pav. superior

escala 1:1500


7.15

0,00

cozinha e dep贸sito

13.55

N

16.65

0,00

9,00

0,00

N 2.90

dep贸sito

7.20

planta livraria e caf茅

escala 1:150


RODUCED BY AN AUTODESK STUDENT PRODUCT

24.39

16.29

7.90

espaรงo para leitura

PRODUCED BY AN AUTOD

espaรงo para uso de computadores

espaรงo para audio

N

14.68

3,00

acervo

planta midiateca

escala 1:200


0.60

2.80

4.70

24.74

0,00

2.80

-2,98

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1.50

7.90

4.97

-2,30

17.71 0,00

0,00

N planta sanitários escala 1:100

planta auditório e administração

escala 1:200



vista da Rua General Os贸rio



entrada da livraria e cafĂŠ, pela Av. Andrade Neves





vistas midiateca








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