Tgi i caderno adriana boschini

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TGI.I

ADRIANA BOSCHINI

JUNHO | 2013

espaço trocas convívio expressão possibilidade público


Universidade de São Paulo Instituto de Arquitetura e Urbanismo Trabalho de Graduação Integrado I São Carlos - São Paulo junho | 2013


Adriana Boschini


APRESENTAÇÃO


Este trabalho é resultado de com a disciplina Introdução a com os espaços públicos da esses espaços, explorando o participa, compõe, interfere e

uma investigação, que teve início TGI, sobre a relação das pessoas cidade e a relação existente entre usuário como principal agente que modifica o ambiente que ocupa.


O questionamento nasceu da análise da arquitetura cênica de Lina Bo Bardi, que cria espaços que não cumprem simplesmente um programa funcional, mas que revela o “paradigma programático e estético” de sua arquitetura como um todo. (SILVA, Mateus Bertone da. “Lina Bo Bardi: Arquitetura Cênica”, 2004) Nesse sentido, as questões de projeto levantadas se referem a essa relação usuário / espaço, tendo o usuário não mais como um mero observador da arquitetura, mas como agente participante desta. Não procuro, contudo, explorar um espaço interativo, no sentido de se reagir a informações pré-estabelecidas, com uma resposta muitas vezes esperada, mas um espaço de relação, onde o usuário tenha um papel de protagonista, estabelecendo ele próprio as relações que lhe forem convenientes. Assim, a investigação se da no sentido de evidenciar um espaço que necessite do suporte e relação com o usuário para se constituir como espaço arquitetônico de fato, aberto a modificações espontâneas de cada sujeito que se aproxime e deseje se relacionar. Entendendo ainda o espaço público como lugar da comunicação, do encontro, concentração e expressão das pessoas – independente de grupo, classe social, posicionamento político, etc. – o espaço que se pretende projetar deve ser um atrativo a essas pessoas distintas, e permitir que elas se expressem livremente, deve ser um espaço que ofereça inúmeras possibilidades.

Objeto síntese apresentado na disciplina Introdução à TGI novembro | 2012



UNIVERSO PROJETUAL


As principais referências de espaços públicos utilizadas como base para o desenvolvimento deste trabalho foram os playgrounds de Aldo Van Eyck em Amsterdã, o MASP de Lina Bo Bardi em São Paulo, a Praça Roosevelt também em São Paulo, e o Centro de Convivência Cultural de Campinas, do arquiteto Fábio Penteado. A análise da dinâmica desses espaços, além do entendimento de como sua construção possibilita essa dinâmica, foi necessária para que pudesse encontrar uma área para uma intervenção que correspondesse aos questionamentos até então levantados. Alguns aspectos referentes à qualidade dos espaços públicos listados por urbanistas dinamarqueses no livro “New City Lifes”, e que deu origem a uma exposição em São Paulo chamada “Cidade para as pessoas”, auxiliaram nessa leitura.


Aldo Van Eyck

MASP

Utilização dos espaços residuais da cidade pra a criação de espaços que possibilitavam múltiplas atividades e fácil apropriação pela população, fomentando a interação entra as pessoas. Tendo como referência as casas construídas pelo povo Dogon na África, pensava em espaços onde pudessem acontecer intervenções não previsíveis.

O vão livre do MASP, uma exigência do projeto para o local, possibilitou que Lina criasse um ambiente de encontro da população em meio ao grande trânsito de pessoas na Avenida Paulista, sendo um ponto de encontro na cidade, utilizado como lugar de espera por aqueles que vão ao museu ou como lugar de descanso pelos que trabalham no entorno. “Procurei recriar um ‘ambiente’ no Trianon e gostaria que lá fosse o povo, ver exposições ao ar livre e discutir, escutar música, ver fitas. Até crianças, ir brincar no sol da manhã e da tarde.”


Praça Roosevelt

Centro de Convivência

A praça é rodeada por bares e teatros, o que confere à praça um uso intenso o dia todo por distintos grupos, possibilitando trocas de informações e estimulando o convívio entre diferentes pessoas.

Centro cultural da cidade de Campinas que abriga auditórios, um teatro interno e um teatro de arena, é um ponto de convívio para a população da cidade. Nas palavras do próprio arquiteto: “Um espaço aberto para o encontro e o convívio, onde se pode ficar à vontade, vadiar, ler, descansar, namorar, assistir à espetáculos artísticos e esportivos, participar de manifestações públicas...”


LOCAL


Para o projeto de um espaço público com as características citadas anteriormente – encontro, concentração e expressão - o local deve ter atrativos para o usuário, ou seja, deve possuir um centro comercial bem desenvolvido, um espaço de lazer ou um ambiente cultural que convide as pessoas para aquela área. Esses lugares são encontrados onde o trânsito de pessoas é intenso, de moradores ou trabalhadores que utilizam os serviços oferecidos no local. Assim, o local escolhido deve apresentar essa dinâmica de concentração de pessoas, sendo esse “novo” espaço, um apoio às atividades que já ocorrem, ou um espaço de proposição de novas atividades pelas pessoas que ali transitem. Nesse sentido, as referências apresentadas no “Universo Projetual” deste trabalho embasam a escolha da área de projeto. Os quatro projetos, guardadas suas proporções e histórias, apresentam a dinâmica procurada, no sentido de atrair um grande numero de pessoas e possibilitar atividades diversas.




A área escolhida está localizada no centro da cidade de Campinas, ao lado da antiga estação ferroviária, hoje Estação Cultura, próxima ao Terminal Rodoviário, terminal central de ônibus urbano, Museu da Cidade, Teatro Municipal José de Castro Mendes e futura instalação da sede da Orquestra Sinfônica de Campinas



CONTEXTO


Campinas foi fundada em 14 de julho de 1774, após o bairro existente na região, o Caminho dos Goiases, caminho que levava até as minas goianas em 1720, foi elevado a categoria de freguesia, a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Mato Grosso. Em 1779 se torna Vila de São Carlos, e em 1842 a Vila se torna Cidade de Campinas. Até este momento o açúcar era o principal produto cultivado da cidade. Em 1872, com a Inauguração da Via Férrea, vista como essencial para o progresso da cidade, houve um incentivo para a atividade comercial e avanço da agricultura, sendo fundamental para a definitiva substituição do açúcar pelo café nas décadas seguintes. O crescimento econômico e consequente desenvolvimento urbano da cidade nessa década é enorme, colocando Campinas numa posição privilegiada diante das outras cidades da região. A ferrovia inaugurou em Campinas uma nova era, pois interferiu diretamente na expansão da cidade, com o surgimento de novos comércios e depósitos entre o centro da cidade e a estação. Além disso, a estrada de ferro atraiu para a cidade novos estabelecimentos industriais, como as fundições Lidgerwood e Mac Hardy. Culturalmente a cidade oferecia para sua população um Teatro Municipal de arquitetura neoclássica (o Teatro São Carlos, demolido na década de 1920 dando lugar ao Teatro Carlos Gomes, também demolido anos mais tarde), além de um conjunto de salas de cinemas, clubes, largos, jardins e praças que possibilitavam a interação social. Um eixo de equipamentos podia ser notado onde hoje se localizam as ruas Irmã Serafina e Treze de Maio, composto pelo Passeio Público (atual Praça Fluminense – Centro de Convivência Cultural), a Praça Carlos Gomes, o Pavilhão Coliseu Taurino (demolido nas reformas urbanas da década de 1940 – tendo hoje no local o Clube Semanal de Cultura Artística), a Igreja Matriz, o Teatro Municipal logo atrás, e a Estação Ferroviária na sua extremidade.


Planta de Campinas em 1878. Eixo interligando: 1.) Passeio Público; 2.) Jardim Carlos Gomes; 3.) Coliseu Taurino; 4.) Matriz; 5.) Teatro Municipal; e 6.) Estação Ferroviária. FONTE: TREVISAN, 2010. Vista atual da Estação ferroviária de Campinas. FONTE: arquivo pessoal, BOSCHINI, 2013.



O LOCAL


A área escolhida para o desenvolvimento do projeto, localizada ao lado da Estação Ferroviária, era ocupada anteriormente por uma parte do complexo da Fundição Mac Hardy, uma das primeiras indústrias da cidade de Campinas; mais tarde foi utilizada pela Cervejaria Antarctica e está abandonada desde 1989. Em 2006 toda a edificação que existia na quadra foi demolida e a área se encontra hoje murada e sem uso; de todo o complexo da Fundição resta apenas alguns poucos edifícios que se encontram em processo de tombamento pelo CONDEPACC. A região da Estação se caracteriza por um intenso comércio de caráter popular e pela presença de dois importantes equipamentos de transporte da cidade, o Terminal Central – localizado no Viaduto Miguel Vicente Cury – e pela Rodoviária e Terminal Intermodal de Campinas, o que confere à região uma circulação intensa de pedestres vindos de diversas regiões da cidade. Em contraponto, logo atrás da Estação se encontra o primeiro bairro operário de Campinas, que surge junto com a construção da estação, a Vila Industrial, que até hoje mantém suas características iniciais com predominância residencial. A principal ligação entre essas duas áreas se da pelo túnel de pedestres que passa por baixo da linha férrea, construído em 1918 devido ao crescimento habitacional do bairro operário. A linha férrea funcionou até 2001, e em 2003 se tornou centro cultural, a Estação Cultura, abrigando diversos eventos da cidade, como shows, apresentações de teatro, entre outros. Diversos edifícios do complexo ferroviário e das antigas indústrias também passaram a abrigar um programa cultural, e a região se tornou um pólo de cultura na cidade de Campinas. O edifício da Fundição Lidgerwood abriga hoje o Museu da Cidade, e um dos barracões da ferroviária, o Barracão do Leme como é conhecido, localizado ao lado da saído do túnel de pedestres, será a nova sede da Orquestra Sinfônica Municipal. Nas proximidades, reforçando esse caráter cultural da região, se encontra também o Teatro Municipal José de Castro Mendes – na Vila Industrial, reformado recentemente – e um SESC, próximo à Rodoviária.



tĂşnel de pedestres centro

tĂşnel de pedestres

vila industrial

barracĂŁo do leme








AÇÕES PROJETUAIS


Tendo em vista o crescimento dos espaços fechados de lazer, consumo e moradia, onde se nota uma atitude defensiva em relação ao diferente, a importância de um espaço público na cidade que possibilite estes encontros de distintos grupos e que possibilite sua apropriação de modo livre é muito grande. Assim, este projeto pretende a criação de um espaço público na cidade onde essas relações possam acontecer, por meio de uma arquitetura que convide o usuário para aquele espaço e ofereça atividades diversas. A intenção do projeto é criar uma área livre no entorno dos equipamentos culturais existentes na região da antiga Estação Ferroviária, gerando uma articulação entre esses espaços possibilitando seu uso por diversos grupos. Este espaço deve permitir que os que passam, trabalham ou moram na região se apropriem de diversas maneiras e, principalmente, deve ser como um apoio aos equipamentos, sendo aproveitado pelos grupos que já utilizam os edifícios ao redor – a Estação Cultura, o Museu da Cidade e, futuramente, a Orquestra Sinfônica Municipal – podendo abrigar os programas de cada um destes equipamentos.


Parte da área de intervenção será o terreno da antiga Fundição Mac Hardy, faceada pela Avenida Andrade Neves, Rua General Osório, Túnel e Avenida Campos Sales, e Rua Lidgerwood. Este terreno, por causa da antiga construção, apresenta um desnível de 3 metros da Av. Andrade Neves até a Rua Lidgerwood. Além deste terreno, serão objetos de intervenção o trecho da Rua General Osório e da Rua Lidgerwood no qual o terreno se localiza, se estendendo pelo canteiro central entre a Lidgerwood e a Av. Lix da Cunha, até uma parte do terreno da Estação Cultura do outro lado da rua, caracterizando, assim, uma ligação física entre o equipamento e o espaço público.



principais vias da รกrea


intensidade dos fluxos de pedestres e veĂ­culos


Para propor um espaço desse tipo, antes foi feito um levantamento das áreas livres existentes na região central da cidade de Campinas, atentando para suas características, usos e conformação, na tentativa de se compreender qual a qualidade desses espaços oferecidos na cidade e se existia algum tipo de ligação que configurasse um sistema de áreas livres. Uma característica importante levantada foi a ligação entre essas áreas livres do centro com grandes edifícios público (escolas, hospitais, igrejas, fórum); outro ponto levantado foi a existência de um novo eixo na cidade que conecta três importantes áreas já existentes e que tem sua extremidade na área de projeto. Esse eixo se localiza na Rua General Osório e tem início no mesmo ponto do eixo de equipamentos existentes na Campinas da década de 1920/1930, o antigo Passeio Público, hoje Centro de Convivência Cultural, local que abriga um teatro, um teatro de arena e uma grande praça onde ocorrem feiras aos finais de semana, numa área predominantemente residencial; passa pela Praça Carlos Gomes, ao lado do Colégio Estadual Carlos Gomes (antiga Escola Normal), próximo ao Paço Municipal; e se estende pelo Largo do Rosário, onde foi erguida a primeira Igreja Matriz da cidade e hoje é ocupado pelo Palácio da Justiça, até chegar novamente à Estação Ferroviária. A dinâmica da rua é muito distinta ao longo do percurso, tem início numa área com uma concentração de residências em edifícios de padrão mais elevado, passa pela área central de comércio mais popular, bem diversificado, e poucas habitações, chegando, já bem estreita a área da Estação com grande concentração de comércio popular e serviços.


in铆cio da Rua General Os贸rio

fim da Rua General Os贸rio


mapeamento das รกreas verdes


edifícios públicos


eixo da Rua General Os贸rio



ÁREA LIVRE | COMÉRCIO DIVERSIFICADO | RUA LARGA

ÁREA LIVRE | HABITAÇÃO | POUCO COMÉRCIO


AVENIDA | SERVIÇOS | RUA ESTREITA | ÁREA LIVRE

ÁREA LIVRE | FÓRUM | COMÉRCIO ESPECÍFICO | RUA ESTREITA


LARGO DO ROSÁRIO

PRAÇA CARLOS GOMES

CENTRO DE CONVIVÊNCIA


corte da Rua General Osório

ÁREA DE INTERVENÇÃO

ESTREITAMENTO DA RUA


A proposta, portanto, de uma área livre nessa região, além de articular os equipamentos culturais existentes ali, faz parte de um eixo importante e deve ser um ponto de referência na cidade. Um espaço desse tipo deve ser um ponto que permita que a cidade e a arquitetura de seu entorno, que é o que define a área livre, seja observada. Para isso os estudos feitos sobre a área de projeto preveem poucos elementos verticais, que possam eventualmente impedir uma determinada vista da cidade. Patamares de alturas diferentes garantem a transposição do desnível no terreno da Mac Hardy, fazendo o percurso da Av. Andrade Neves até a Rua Lidgerwood onde está a Estação. Esses patamares são também estares distintos que permitem que atividades aconteçam simultaneamente, podendo ser apropriados por grupos diversos. Alguns estudos foram feitos nesse sentido, observando como a área se encontra hoje e como espero que este espaço a modifique. situação atual da área de intervenção vista da Av. Dr. Campos Sales



situação atual da área de intervenção

vista da Rua Lidgewood


vista da Av. Andrade Neves


vista da Av. Andrade Neves


estudos

vista da Av. Campos Sales


vista da Rua Lidgewood


estudos

vista da Rua General Os贸rio


proposta de implantação dos patamares


a diferença de nível entre os patamares cria uma sequência de ambiencias distintas ao longo do percurso

corte AA

corte BB

A

B

A

B


proposta de utilização de uma modulação para composição dos patamares. utilização de um módulo de 10 x 5 m, obtendo patamares de tamanhos variados

modulação em toda a área de intervenção

seleção dos m


módulos compositivos dos patamares

proposta final de composição da área


RUA GNERAL OSÓRIO

ESTAÇÃO CULTURA

MUSEU DA CIDADE

primeiro estudo volumétrico da proposta



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