Penny Jordan
O Despertar do Desejo
O Despertar do Desejo (Penny Jordan)
Título original: The Italian Duke's Wife Por Ordem Real - XX PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES D B.V./S.à.r.l. Copyright © 2006 by Penny Jordan Originalmente publicado em 2006 por Mills & Boon Modero Romance. Digitalização: Polyana Revisão: Edna Fiquer
Resumo: “ – Pagarei um milhão de libras para que você seja minha esposa por um ano. O casamento não será consumado...” O aristocrata italiano Lorenzo, duque de Montesavro, precisa de uma esposa e a turista inglesa Jodie Oliver parece ser a candidata ideal para esse casamento de conveniência. A vulnerabilidade de Jodie é extremamente atraente. Mas quando Lorenzo desperta na moça um desejo que ela nem imaginava sentir, ele começa a se arrepender de não ter consumado o casamento... 1
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O Despertar do Desejo
CAPÍTULO UM Não seja infantil, não se derreta em lágrimas, ordenou Jodie a si mesma, cerrando os dentes. Mesmo que estivesse escurecendo, mesmo morrendo de medo — daquele medo que se manifesta no estômago por ter talvez cometido um grande erro — não apenas por pegar a estrada errada no último vilarejo por onde passara há séculos, lhe parecia. Hoje poderia ser a noite em que ela e John passariam a lua-demel num romântico hotel — a primeira noite como marido e mulher... mas não ia chorar. Não agora. Na verdade, nunca mais por homem nenhum. Nunca mais. O amor estava, e continuaria, excluído de sua vida e de seu vocabulário. Ela assustou-se quando o pequenino carro de aluguel deslizou num buraco na estrada que subia em direção às montanhas quando deveria estar descendo em direção ao mar. O primo e a mulher, os únicos parentes próximos, desde a morte dos pais num acidente de carro, quando tinha 19 anos, tinham tentado dissuadi-la a vir para a Itália. — Mas está tudo pago. Além disso... Além disso queria sair do país, ficar longe nas próximas semanas enquanto o casamento de John com a nova noiva, Louise, que ocupara o lugar de Jodie no coração, na vida e no futuro dele, estava sendo organizado. Não que ela tivesse confessado esse motivo ao primo David e sua mulher, Andrea. Ela sabia que eles teriam tentado convencê-la a ficar em casa. Mas quando casa significava Cotswolds, uma minúscula cidadezinha onde todo mundo se conhecia e sabia que você tinha sido abandonada a menos de um mês da data do casamento porque ele havia se apaixonado por outra pessoa, ninguém com um pingo de orgulho poderia permanecer ali. E Jodie era orgulhosa como toda mulher. Ainda mais porque queria ser capaz de provar a todos — especialmente a John e a Louise — como se importava pouco com a traição de John. É claro que a maneira mais eficiente seria aparecer no casamento deles com outro homem — um homem que fosse mais bonito e mais rico que John, e que a adorasse. Ah, se... Só em sonhos, zombou mentalmente de si mesma. Não havia a menor chance de algo assim acontecer. — Você não pode ir sozinha para a Itália — protestou David, enquanto ele e Andrea trocavam olhares dissimulados. Ainda bem que estavam na Austrália, numa visita aos pais de Andrea. — Por que não? Afinal de contas, é assim que vou passar o resto da minha vida. — Jodie, ambos compreendemos como você está magoada e chocada — acrescentou Andrea gentilmente. — Não pense que David e eu não compartilhamos de sua dor, mas comportar-se dessa maneira não vai ajudá-la. — Eu vou me ajudar — respondeu teimosa. 2
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Tinha sido idéia de John passar a lua-de-mel explorando a maravilhosa costa amalfitana na Itália. Assustou-se quando o carro passou por outro buraco na estrada, em péssimo estado de manutenção, o que tornava cada vez mais desconfortável dirigir. A perna doía e começava a se arrepender por não ter passado a primeira noite mais perto de Nápoles. Onde estaria? Em nenhum lugar perto de onde devia estar, suspeitava. Tinha sido quase impossível seguir os letreiros para o pequeno vilarejo, pois não os encontrava no mapa. Se John estivesse a seu lado, nada disso estaria acontecendo. Mas John não estava com ela e nunca mais estaria. Não devia pensar no ex-noivo ou no fato de que ele tinha deixado de amá-la e se apaixonado por outra, ou que estava saindo com alguém enquanto ainda estavam juntos ou que todo mundo na cidade aparentemente sabia disso, menos ela. As amigas de Jodie não lhe contaram que Louise tinha deixado claro que queria e teria John assim que foram apresentados, logo após os pais terem se mudado para o local. E, tola, não percebera nada, achando simplesmente que Louise, como recém-chegada e forasteira estava louca para fazer amigos. Agora ela era a forasteira, pensou amargurada. Ela devia ter percebido como John soara artificial ao dizer-lhe que a amava "apesar de sua perna". Ela estremeceu quando a dor da lembrança intensificou-se. Nunca mais cometeria o tipo de erro que cometeu com John. A partir de agora, o coração ficaria impenetrável — sim, embora tivesse apenas 26 anos, passaria o resto da vida sozinha. O que tornava tudo pior era que John sempre parecera tão confiável, tão honesto, tão gentil. Ela tinha deixado que ele entrasse em sua vida e — o que era ainda mais doloroso reconhecer — em seus medos e sonhos. Não havia a menor chance de se arriscar a ser tratada assim por outro homem — num minuto juras de amor eterno, no outro... E quanto a John, ele merecia Louise, obviamente tinham sido feitos um para o outro já que os dois eram uns tratantes e mentirosos. Mas ela, covarde como era, não podia voltar para casa até que o casamento tivesse acontecido, até que toda a fofoca tivesse morrido e até que ela não tivesse que enfrentar os olhares de piedade ou ser objeto de cochichos. — Bem, vamos ver o lado positivo — disse Andrea descontraída, ao constatar que Jodie não abandonaria os planos. — Nunca se sabe! Você pode encontrar alguém na Itália e se apaixonar loucamente. Os homens italianos são tão sexy e sedutores... Homens italianos — ou qualquer tipo de homem — estavam fora de seu cardápio a partir de agora, disse a si mesma furiosa. Homens, casamento, amor — queria distância disso tudo. Zangada, apertou o acelerador. Não fazia idéia de onde essa pavorosa estrada esburacada a levava, mas não ia dar meia-volta. A partir de agora não haveria mais contornos em sua vida, não ia mais olhar para trás sentindo-se infeliz ou desesperada, não lamentaria o que poderia ter sido. Ia olhar para a frente. 3
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David e Andrea tinham sido maravilhosos com ela, oferecendo o quarto de hóspedes quando ela vendera o chalé para que pudesse dar entrada na casa que ela e John estavam comprado — o que não tinha sido, olhando em retrospecto, a coisa mais sensata a fazer — mas não podia morar com o primo e a mulher para sempre. Por sorte John tinha ao menos devolvido o dinheiro, mas o rompimento do noivado tinha lhe custado o emprego, já que ela trabalhava para o pai dele num negócio da família. John assumiria os negócios quando o pai se aposentasse. Então agora não tinha nem casa nem trabalho, e ia ser... Berrou quando a roda da frente bateu em algo duro, o impacto fazendo com que ela fosse jogada para a frente, contra o cinto de segurança. Quanto ainda teria que dirigir até encontrar alguma forma de vida? Tinha feito reserva num hotel e, segundo seus cálculos, já devia ter chegado ao destino. Aonde estava? A estrada subia tão íngreme... — Você, imagino, é a responsável por isso. Caterina, isso tem o seu toque manipulador, destruidor. — Lorenzo Niccolo d'Este, Duque de Montesavro, acusou a mulher do primo com desprezo atirando o testamento da avó na mesa que os separava. — Se sua avó levou meus sentimentos em conta quando fez o testamento, então isso foi porque... — Seus sentimentos! — Lorenzo interrompeu mordaz. — E que sentimentos são esses? Os mesmos que a fizeram levar meu primo à morte? — Ele não tentava disfarçar o desprezo que sentia por ela. Duas manchas vermelhas de raiva apareceram no rosto perfeitamente maquilado de Caterina. — Não causei a morte de Gino. Ele teve um ataque cardíaco. — Claro, graças ao seu comportamento. — Melhor tomar cuidado com suas acusações, Lorenzo, senão... — Você ousa me ameaçar? Você pode ter conseguido enganar minha avó, mas não a mim. Ele virou-lhe as costas e caminhou pelo piso de pedra do grande hall do Castillo, a fúria tornando-o tão perigoso quanto um animal selvagem enjaulado. — Admita — desafiou-a quando voltou-se para confrontá-la. — Você veio aqui deliberadamente, com a intenção de manipular e enganar uma senhora idosa à beira da morte para atingir seus objetivos. — Você sabe que não tenho a menor vontade de discutir com você, Lorenzo — protestou. — Tudo que quero... — Sei bem o que quer — lembrou-a Lorenzo, frio. — Você quer os privilégios, a 4
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posição e a fortuna que transformar-se em minha esposa lhe dariam... e, por essa razão, atormentou uma senhora idosa confusa que sabia estar morrendo forçando-a alterar o testamento. Se tivesse um pingo de compaixão, um... — Calou-se enojado. — Mas é claro que não tem, como eu já sabia. Seu desprezo furioso fez com que o sorriso desaparecesse dos lábios de Caterina e o corpo ficasse tenso e hostil ao abandonar qualquer pretensão de inocência. — Você pode me lançar quantas acusações quiser, Lorenzo, mas não pode provar nada — provocou-o. — Talvez não num tribunal, mas isso não altera a veracidade das acusações. O tabelião de minha avó me contou que quando ela o chamou para alterar o testamento, confidenciou-lhe o motivo de fazê-lo. Lorenzo viu o brilho de triunfo nos olhos de Caterina. — Admita, Lorenzo. Eu superei você. Se quiser o Castillo — e ambos sabemos que sim — então vai ter que se casar comigo. Não tem escolha. — Riu, jogan do a cabeça para trás, expondo o longo pescoço cor de oliva e Lorenzo teve o impulso selvagem de apertar-lhe o pescoço para que ela parasse de rir. Ele queria o Castillo. Muito. E estava determinado a tê-lo. E estava igualmente determinado a não ser obrigado a casar-se com Caterina. — Você disse à minha avô que eu a amava e queria que você fosse minha esposa. Contou que a sociedade condenaria um casamento repentino entre nós dois pelo fato de ter ficado recentemente viúva e de seu marido, Gino, ser meu primo. E você lhe contou que estava com medo de que, devastado pela paixão, eu me casasse com você de qualquer jeito o que me traria desgraça, não foi? — acusou-a. — Você sabia que minha avó era ingênua e desconhecia os hábitos modernos. Você a levou a acreditar que confiava a ela toda a preocupação em relação a mim. Contou que não sabia o que fazer ou como me proteger. Depois, a "ajudou" a encontrar uma solução mudando o testamento, para que no lugar de herdar o Castillo dela — como o testamento anterior previa — eu só o herdaria se me casasse seis semanas depois de sua morte. Como você lhe disse, todo mundo sabe como o Castillo é importante para mim. Depois, como se isso não bastasse, você premeditou persuadi-la a adicionar que se eu não me casasse nessas seis semanas, você herdaria o Castillo. Você a fez acreditar que ao providenciar essas alterações, estaria facilitando nosso casamento, porque eu podia dizer que estava atendendo as exigências do testamento e não seguindo os ditames de meu coração. — Você não pode provar nada disso. — Ela deu de ombros com desprezo. Lorenzo sabia que era verdade. — Como já lhe disse, nonna confidenciou os pensamentos ao tabelião — continuou ácido. — Infelizmente, quando ele conseguiu me alertar sobre o que estava acontecendo, já era tarde. 5
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— Tarde demais... para você. — Caterina deu um sorrisinho falso. — Então você admite... — E se eu admitir? Você não pode provar nada — repetiu Caterina. — E mesmo que pudesse, o que ganharia com isso? — Vou deixar bem claro para você, Caterina. Não importa o que minha avó deixou no testamento, você nunca vai ser minha mulher. Você é a última mulher no mundo para quem eu daria meu nome. Caterina riu. — Você não tem escolha. Lorenzo tinha a fama de ser um adversário cruel e perigoso. Era o tipo de homem que os outros homens respeitam e temem; o tipo de homem que as mulheres sonham excitadas em arrastar para a cama. Era também um soberbo macho, extremamente bonito e com uma combinação hormonal de macho predatório arrogante, uma sexualidade masculina muito perigosa que desfilava com tanta facilidade quanto uma pantera. Não era apenas um prêmio, mas talvez o mais cobiçado prêmio entre os solteiros mais ricos da Itália. Quando estava na faixa dos vinte, as colunas de fofocas tentavam descobrir que jovem bem nascida ele escolheria para duquesa. Com certeza não foi por falta de interesse das parceiras em compartilhar sua fortuna e título, bem como desfrutar do prazer sexual de conviver com um homem extremamente sensual que entrou na casa dos trinta sem assumir nenhum compromisso formal com as mulheres que o perseguiam. Lorenzo olhou para a mulher do falecido primo. Ele a desprezava e odiava. Mas, afinal, desprezava a maioria das mulheres. Sua experiência mostrava que todas queriam lhe dar o que quisesse por causa do que possuía, aquilo que era aparente: riqueza, título e um corpo bonito. O que ele realmente era não lhes interessava. Seus pensamentos, suas crenças, tudo que contribuía para formar o homem que Lorenzo d'Este era não chegava perto do que representava seu dinheiro e posição social. — Você não tem escolha, Lorenzo — repetiu baixinho. — Se quer o Castillo vai ter que se casar comigo. Lorenzo curvou a boca num desprezo sardônico. — Eu tenho que me casar, é verdade — concordou suave. — Mas não está escrito em nenhum lugar que tenho que me casar com você. Obviamente você não leu o testamento da minha avó com atenção. O rosto ficou pálido, os olhos estreitos traíam a confusão e incredulidade. — O que quer dizer? Claro que li. Fui eu que o ditei! Eu... — Repito, você não leu o testamento de minha avó com bastante atenção — disse Lorenzo. — Está vendo, está escrito que devo me casar seis semanas depois do falecimento dela se quiser herdar o Castillo. Não está especificado com quem devo me 6
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casar. Caterina encarou-o, incapaz de esconder a raiva que escondia os traços bonitos que a tornaram uma modelo famosa na juventude e no seu lugar deixava a feiúra de sua verdadeira natureza. — Não, isso não pode ser verdade. Você alterou, mudou... você e aquele tabelião desprezível. Você... Onde está isso? Deixe-me ver! Ela literalmente jogou-se em cima dele e Lorenzo pegou o testamento que jogara na mesa antes. Agarrando-o, ela leu, o rosto vermelho de raiva. — Você o mudou. Deu um jeito de... Ela queria que você se casasse comigo! — Estava quase histérica de fúria. — Não. — Lorenzo sacudiu a cabeça, o rosto impassível ao encará-la. — Nonna queria me dar o que acreditava que eu queria. E, com toda certeza, não é você. Quando Lorenzo ficou de pé debaixo da luz da tocha antiga, o movimento abrupto de sua cabeça refletiu-se e repetiu-se na sombra das chamas. O Castillo fora projetado mais como uma fortaleza do que uma casa, bem antes do Duque de Montesavro, na Renascença, tê-lo capturado dos inimigos e, em seguida, adornou as paredes de pedra com as riquezas artísticas do período. Ainda possuía uma aura sombria e proibida. Como Lorenzo. Sombras escuras marcavam a estrutura óssea escultural que herdara do príncipe guerreiro, o primeiro da linhagem, e a altura e a largura dos ombros enfati zava-lhe o corpo. A boca de lábios finos — "dura", como as mulheres costumavam dizer, enquanto imploravam pelo contato da dureza, tentando amaciá-la e transformála em desejo através dos lábios delas. Entretanto seus olhos eram o traço mais interessante. Curiosamente claros para um italiano, eram mais prata do que cinza e pareciam determinados a derrubar as defesas dos inimigos. O cabelo bem cortado era farto e escuro. O terno, feito a mão, caro. Mas afinal, ele não dependia da herança da falecida avó materna para transformar-se num homem abastado. Já era rico por conta própria. Alguns diziam, tola e teatralmente, que para que um homem conseguisse acumular tanto dinheiro tinha que haver alguma sujeira envolvida — algum truque ou o poder obscuro de certos poderes secretos. Mas Lorenzo não tinha tempo para tamanha estupidez. Fizera fortuna usando simplesmente a inteligência, fazendo os investimentos certos no tempo certo e, portanto, aumentando a respeitável soma que os pais tinham deixado numa fortuna que chegava a muitos, muitos milhões. Diferentemente de seu falecido primo, Gino, que tinha permitido que a insaciável esposa o arruinasse financeiramente. A insaciável viúva agora, lembrou-se Lorenzo raivoso. Não que Caterina alguma vez tivesse se comportado como uma viúva, muito menos como esposa. 7
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Pobre Gino que a amara tanto. Lorenzo colocou a mão na testa. Transpirava. Seria culpa? Afinal de contas foi alegando ser sua amiga que Caterina tinha inicialmente chamado a atenção de Gino. Lorenzo tinha 18 anos e Caterina 22 quando se conheceram, e ele foi facilmente seduzido por sua determinação. Entretanto não demorou muito para reconhecer que era uma interesseira. Não demorou muito, na verdade, para perceber o primeiro sinal de que ela esperava que ele pagasse pelos favores sexuais com presentes caros. Como resultado, ele terminou o flerte imediatamente. Ele estava na universidade quando ela entrou no coração e na vida do gentil primo Gino e, quando voltou a vê-la, ela já usava uma aliança de noivado enquanto o primo trazia aquela expressão de adoração. Ele tinha tentado avisar o primo quem ela era, mas Gino estava muito envolvido para ouvir e o acusara de estar enciumado. Que Lorenzo se lembrasse, foi a primeira vez que discutiram. Gino acusara Lorenzo de querer Caterina e ela, espertamente, o manipulou para mantê-los separados até depois do casamento dos dois. Mais tarde, Lorenzo e o primo fizeram as pazes, mas Gino nunca deixou de adorar a esposa, embora ela tivesse sido descaradamente infiel e tido uma extensa lista de amantes. — Aonde você vai? — perguntou Caterina quando Lorenzo girou nos calcanhares e afastou-se. Do outro lado da sala, Lorenzo a olhou. — Vou encontrar uma esposa, qualquer uma, contanto que não seja você. Você poderia ter pedido que me avisassem que minha avó estava moribunda, para que eu pudesse estar com ela, mas você preferiu não fazê-lo. E nós dois sabemos o porquê. — Você não pode se casar com outra pessoa. Não vou deixar. — Você não pode me impedir. Ela sacudiu a cabeça. — Você não vai encontrar outra esposa. Ou, pelo menos, não o tipo de esposa que gostaria de ter. Não em tão curto espaço de tempo. Você é muito orgulhoso para se casar com alguma mocinha sem projeção social. Além disso... — Fez uma pausa, depois, com olhar provocante, disse meiga: — Se for necessário, vou contar a todo mundo sobre o filho que você me obrigou a tirar. — O filho de seu amante — lembrou-a. — Não de Gino. Você mesma me contou. — Mas eu vou contar a todo mundo que era seu. Afinal, muitas pessoas sabem que Gino acreditava que você me amava. — Eu deveria ter dito a ele que a desprezava. — Ele não teria acreditado. Assim como não acreditaria que o filho não era dele. Como se sente, sabendo que é responsável por tirar a vida de uma criança, Lorenzo? Ele deu um passo na direção dela, um olhar de tamanha fúria que ela correu para 8
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a porta, abrindo-a e escapando. Lorenzo soltou um palavrão entre os dentes e voltou para a mesa onde deixara o testamento da avó. Tinha ficado louco de fúria quando o tabelião finalmente conseguira entrar em contato com ele para contar seus medos e como conseguira impedir que Caterina atingisse seu objetivo, removendo-lhe o nome do testamento. Assim, Lorenzo teria que se casar para herdar o castelo, sem especificar que teria que ser com Caterina. O tabelião, quase tão idoso quanto a avó, pedira desculpas a Lorenzo com medo de que tivesse agido mal, mas Lorenzo tranqüilizou-o. Sem a interferência do tabelião, Caterina o teria prendido, inteligentemente, numa armadilha. Ela estava certa quanto a um detalhe. Ele queria o Castillo. E pretendia consegui-lo. Entretanto, por ora, tinha que esquecer o castelo antes que fizesse alguma coisa de que pudesse arrepender-se depois, refletiu enquanto atravessava o pátio e respirava o ar puro, graças a Deus livre daquele perfume forte de Caterina.
CAPÍTULO DOIS Precisava desistir e fazer o retorno que tinha jurado não fazer, admitiu zangada consigo mesma. Não fazia idéia de onde estava e a luz da lua iluminava um terreno tão deserto que começava a se sentir irritada. De um lado um despenhadeiro, do outro um rochedo. À sua frente podia ver que a estreita estrada se alargava. Determinada, seguiu nessa direção e começou a manobrar o veículo para poder fazer a curva. De repente, ouviu um barulho alto e as rodas traseiras do carro começaram a girar, derrapando. Alarmada, colocou o carro em ponto morto e saltou. O alarme transformou-se em desespero ao constatar que uma das rodas traseiras estava presa num buraco fundo e o pneu parecia furado. E agora, o que fazer? Obviamente não podia dirigir esse carro. Voltou para o carro, massageando a perna que doía. Estava cansada, faminta e sentindo-se infeliz. Abriu a bolsa, pegou o celular e a carteira onde colocara a papelada da viagem e do aluguel do carro. Quando pegou o telefone, os olhos se arregalaram de desespero. O telefone estava ligado, mas sem sinal. Não só isso: ao tentar discar o número, o telefone fez um ruído e a luz do visor apagou. Devia ter ficado ligado e a bateria tinha descarregado. Como pôde ser tão estúpida? Precisava de ajuda, mas o que faria? Ficar ali e esperar que alguém passasse? Não tinha visto sinal de vida, quanto mais de algum carro, por quilômetros. Andar? Para onde? Caminhar centenas de quilômetros até a última cidade 9
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por onde tinha passado, ao que parecia horas atrás? A dor na perna estava piorando. Deveria subir as montanhas? Sentiu um leve arrepio. Não vira outro motorista durante todo o tempo em que esteve na estrada, mas alguém devia usá-la pois podia ver marcas de pneus. Olhou para cima, em direção às montanhas, e como se o desespero tivesse produzido um milagre, viu luzes distantes de outro carro vindo em sua direção. O alívio a deixou fraca. Lorenzo apertou o acelerador da Ferrari preta, colocando no possante carro toda a raiva. Dirigia a uma velocidade que exigia o máximo de sua habilidade, enquanto percorria a estrada sinuosa à sua frente. Caterina tinha sido muito esperta, manipulando sua avó daquele jeito. Se ele estivesse presente... mas não estava. Estava no exterior, visitando o cenário do último desastre mundial, ajudando a encontrar maneiras de aliviar a miséria daqueles que tinham sido atingidos. Trabalhava como voluntário junto ao governo, recolhendo fundos e providenciando ajuda administrativa e especialistas. Devido à gravidade dessa crise em particular, não conseguira voltar à Itália para o funeral da avó, embora tivesse conseguido encontrar tempo em sua atribulada agenda para ir à igreja e juntar suas preces à dos outros parentes em luto. Uma mulher gentil e nada sofisticada, que lhe contara que quando menina desejava ser freira e que morrera dormindo, placidamente. O Castillo fora herdado do primeiro marido que, como era costume nos círculos aristocráticos, era primo em segundo grau de seu segundo marido, o avô de Lorenzo. Ele sempre tinha sido o favorito dos dois netos. Passava as férias com a avó depois do divórcio dos pais e ficara com ela quando a mãe anunciou que se casaria com o amante — um homem que Lorenzo detestava. Nunca havia sido capaz de perdoar a mãe. Nem mesmo quando ela morreu. Seu pai já falecera. O comportamento da mãe tinha lhe aberto os olhos para o jeito enganador, interesseiro do sexo feminino e a determinação de colocar-se em primeiro lugar, sempre clamando uma santidade que não possuía. A mãe dele sempre insistira que a decisão de se divorciar do pai dele havia sido tomada para poupá-lo de crescer num lar infeliz. Mentira, é claro. Seus sentimentos tinham sido a última coisa com que ela se preocupara, ao se atirar nos braços do amante e abandonar marido e filho. A Ferrari reclamou devido às péssimas condições da estrada. Lorenzo ignorou as queixas e mudou de marcha, entrando numa curva fechada. Soltou um palavrão ao ver, bem à sua frente, um carro bloqueando a estrada e uma jovem parada ao lado. Jodie se assustou ao ouvir o barulho dos freios e tossiu por causa da poeira levantada pelos pneus da Ferrari quando ela freou, a apenas centímetros da lateral do carro alugado. Instintivamente, esticou-se, em vez de encostar-se no carro, no 10
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momento em que viu o outro carro. Que louco dirigia daquele jeito numa estrada como essa, e no escuro? — perguntou-se trêmula, segurando a porta do carro para apoiar-se quando o viu saltar do carro e vir na sua direção. — Disgraziata! — berrou, seguido de uma torrente de palavras em italiano. Mas não ia se deixar acovardar por causa dele — ou de qualquer outro homem — novamente. — Quando terminar... — interrompeu-o, a própria voz tão hostil quanto a dele. — Pra começar, não sou italiana. Sou inglesa. E... — Inglesa? — Parecia que nunca tinha ouvido a palavra antes. — O que está fazendo aqui? Por que está nessa estrada? É uma estrada particular e o único destino é o Castillo. — As perguntas lhe eram atiradas como se fossem facas afiadas. — Peguei o caminho errado — defendeu-se. — Estava tentando voltar, mas uma roda ficou presa e agora o pneu está furado. Era muito branca e magra. Os olhos enormes sobressaíam no triângulo do pequeno rosto exausto. O cabelo liso estava puxado para trás. Parecia ter uns 16 anos — uns 16 mau-nutridos anos, pensou Lorenzo, enquanto a examinava dos pés à cabeça com um olhar masculino experiente que desceu dos ombros caídos ao formato dos seios bem pequenos, à cintura e quadris estreitos até o surpreendente comprimento das pernas, comparado a um corpo tão miúdo. Estava usando salto alto ou eram realmente tão compridas quanto pareciam? — Quantos anos você tem? — perguntou. Quantos anos ela tinha? Mas por que queria saber? — 26 — respondeu, levantando o queixo enquanto o encarava, determinada a não se deixar intimidar; apesar do fato de estar ciente de que ele era tão maravilhoso que ela queria correr e se esconder antes que ele percebesse o quão pateticamente inferior como mulher ela era em comparação a ele como homem. Automaticamente a mão tocou a perna. Estava realmente doendo. 26! Lorenzo franziu o cenho quando olhou para as suas mãos. Nenhum anel. — Por que está aqui sozinha? Jodie começava a achar que já agüentara o suficiente. — Porque estou. Não que isso lhe diga respeito. — Pelo contrário, me diz respeito sim, já que você invadiu minha propriedade. A propriedade dele? É claro que era a terra dele; era tão pouco hospitaleira quanto ele. — E o que quer dizer com estar sozinha? Com certeza você tem um... um marido, um amante. Um homem, um companheiro. 11
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Jodie riu, amarga. Ele não sabia que tocava em seu ponto fraco. — Pensei que tivesse, mas, infelizmente para mim, ele decidiu se casar com outra. Isso — fez um gesto em direção à terra e ao carro — devia ser nossa lua-demel. Mas agora...— Sofria só em pronunciar as palavras, mas, estranhamente, sentia uma espécie de alívio ao demonstrar as emoções, em vez de ter que mantê-las trancadas, como tinha que agir em casa. — E agora? — desafiou-a Lorenzo. — Agora você está viajando sozinha e procurando alguém para substituí-lo em sua cama? Os resorts da costa são o melhor local para isso. Não as montanhas. Jodie prendeu a respiração, furiosa. — Como ousa dizer isso? Com certeza não estou procurando ninguém, muito menos para substituí-lo. Na verdade, essa é a última coisa que quero fazer. Nunca deixarei outro homem entrar na minha vida e me magoar. Nunca. A partir de agora pretendo viver sozinha. — Palavras corajosas, mas acreditava em cada uma delas! Lorenzo franziu o cenho ao perceber-lhe a determinação. — Você ainda o quer tanto assim? — Não! — disse agressivamente, sem parar para pensar por que ele estava perguntando algo tão pessoal, — Não o quero de jeito nenhum. — Então por que está ... fugindo? — Não estou fugindo! Apenas não quero estar lá para vê-lo casar-se com outra — acrescentou na defensiva, ao ver o jeito que ele a olhava. — Especialmente quando ela é tudo que não sou. Excitante, glamorosa, sexy... — Jodie levantou a mão para limpar as lágrimas que de repente encheram-lhe os olhos. Não fazia idéia do motivo de estar dizendo tudo isso a um estranho, admitindo para ele coisas que não admitira nem para si mesma. — É o homem que determina se uma mulher é ou não "sexy", como você coloca — Lorenzo decretou, sentindo-se estranhamente íntimo de Jodie. — Um amante experiente tem o poder de fazer com que um botão de flor se abra. Sentiu o estômago latejar ao compreender o significado da declaração incrivelmente arrogante. — Não que muitas jovens sejam botões fechados hoje em dia — acrescentou Lorenzo ironicamente, enquanto observava o rubor no rosto abatido de cansaço. — As mulheres modernas lutam pelo direito à própria sexualidade — respondeu Jodie vigorosamente. — Elas não... — Não me parece que você tenha sido muito eficiente ao lutar pela sua — disse Lorenzo zombeteiro. — Na verdade, se fosse emitir um julgamento a respeito, suspeitaria que sua experiência é extremamente limitada; caso contrário, não teria perdido seu homem para outra mulher. 12
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O machismo ao mesmo tempo surpreendeu-a e enfureceu-a. Mas foi forçada a admitir que não-existente seria a palavra mais apropriada para definir sua habilidade sexual. Segurou a exclamação de assombro, aliviada por ele não ter contribuído para sua humilhação fazendo-a admitir que ainda era virgem. Não por opção. Ela ficara tão ferida que temeram por sua vida. Passou meses no hospital, depois do acidente de carro no qual os pais faleceram. — Motivo pelo qual, supostamente, você confunde atração física com amor... uma palavra que vocês usaram tanto que hoje não vale nada — continuou Lorenzo de modo grosseiro. — Meu sexo? — Jodie aceitou o desafio, os olhos cor-de-ouro faiscando de indignação até se transformarem em âmbar escuro. — Isso, seu sexo! Você nega que as mulheres tornaram-se adúlteras, como acusavam, no passado, os homens de ser? Que a razão de se casarem está baseada no próprio egoísmo e necessidade que vêm antes das necessidades de qualquer outra pessoa, mesmo dos filhos? A amargura perceptível na voz chocou Jodie a tal ponto que se calou. Mas se recuperou e defendeu o sexo feminino: — Se essa é sua experiência com as mulheres, então talvez seja sua culpa. — Minha? Então você acredita que se uma criança é abandonada pela mãe a culpa é da criança? Típico das mulheres... o que apenas confirma o que acabei de dizer! — Não, não foi isso o que quis dizer — começou Jodie. Mas era tarde demais. Ele ignorava suas palavras e perguntava autoritário: — Qual seu nome? — Jodie. Jodie Oliver. E o seu? — perguntou com a mesma firmeza. Pela primeira vez, desde que ele tinha parado o carro, ela sentiu uma momentânea hesitação nele, antes de dizer friamente: — Lorenzo. — O Magnífico? — retrucou e depois ficou vermelha de vergonha quando ele a encarou. O Magnífico. Era assim que Gino o chamava para provocá-lo, alegando que não era de se estranhar que ele tivesse tanto sucesso com as mulheres, já que tinha o mesmo nome de um dos mais famosos governantes da família Mediei em Florença. — Você conhece a história dos Mediei? — Um pouco — disse indiferente, de súbito não querendo mais conversa com o estranho. Começava a se sentir muito cansada e fraca. — Escute, preciso en trar em contato com a locadora de automóveis, mas meu celular não está funcionando. Você poderia...? — Com certeza ia passar pela vila por onde ela tinha passado — não havia 13
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outro caminho. Se ele pudesse lhe dar uma carona, poderia encontrar um quarto para passar a noite e ligar para o pessoal da locadora. — Se eu poderia o quê? — perguntou. — Ajudar você? Claro. — Ela tinha começado a sentir alívio quando ele acrescentou suavemente: — Desde que você concorde em me ajudar. Na mesma hora sinais de aviso enviaram-lhe mensagens, causando-lhe tensão. — Ajudar você? — repetiu, cautelosa. — Sim. Preciso de uma esposa. Ele era louco. Completa e totalmente insano. Estava presa numa estrada deserta com um maluco. — Você... quer que eu ajude você a encontrar uma esposa? — conseguiu perguntar, como se essa fosse a proposta mais natural do mundo. A boca de Lorenzo estreitou-se, e ele lançou-lhe um olhar zombeteiro. — Não seja ridícula. Não quero que me ajude a encontrar uma esposa. Quero que você se torne minha esposa — disse frio. Ela estava sendo ridícula? — Você quer que eu seja sua esposa? — repetiu lentamente. — Desculpe, mas... — Você não quer se casar. Já sei... — interrompeu-a. — Mas esse não vai ser um casamento normal. Preciso de uma esposa nas próximas semanas. Tenho tão pouca vontade de ter uma esposa quanto você de ter um marido... embora por motivos distintos. Por isso, me parece que eu e você podíamos chegar a um acordo mútuo que nos beneficiasse. Eu consigo a esposa que preciso e você, depois que estivermos casados há um ano, consegue um divórcio e... que tal um milhão de libras? Jodie piscou e sacudiu a cabeça, achando que não tinha ouvido bem. ano?
— Você quer que eu concorde em me casar com você e fique com você por um
— Você vai ser paga pelo tempo... apenas pelo tempo e pelo papel de minha esposa que terá que desempenhar. Sua presença em minha cama não faz parte do acordo. — Você é louco. — Jodie foi direta. — Não sei nada sobre você e eu... — Você sabe que estou disposto a pagar um milhão de libras para que seja minha esposa. Quanto ao resto... — Ele sacudiu os ombros largos de forma arrogante e lhe disse seco: — Depois explico tudo que precisa saber. Tinha motivos para estar morrendo de medo. Mas, apesar do fato de estar na presença de um louco, por alguma razão a sensação mais forte que sentia não era medo mas estupefação. E uma certa sensação de que alguém lá em cima escutara seus desejos secretos e decidira dar uma mãozinha. Ali estava a oportunidade — o homem 14
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— por quem seu orgulho ansiava... Estava louca? Com certeza não podia estar pensando em aceitar essa proposta ridícula... — Se quer tanto uma esposa, com certeza deve haver alguém... — Muitos "alguéns" — interrompeu-a Lorenzo irônico. — Infelizmente, todas vão querer o que não quero dar... é incrível a facilidade com que as pessoas do seu sexo juram amor eterno quando dinheiro e posição social estão envolvidos. — Você quer dizer que é visado pelas alpinistas sociais? — Era óbvio, não apenas pelo carro e roupas, mas acima de tudo pelas maneiras, que ele era riquíssimo. — É por isso que quer se casar comigo? Porque um casamento falso as manteria afastadas? — Não exatamente. — Então por quê? — Foi uma condição imposta por minha falecida avó no testamento. Eu devo me casar um certo tempo após seu falecimento ou perder... algo que significa muito para mim. Jodie franziu a testa. — Mas por que cargas d'água fez isso? Quero dizer, ou ela queria que você herdasse o que quer que seja ou não. — A situação é mais complexa e envolve... outros detalhes. Vamos dizer que minha avó foi persuadida a fazer algo, achando ser para meu bem, por alguém com interesses escusos. Esperou que ele continuasse, mas ele estendeu a mão. — Me dê as chaves do carro e... Ela balançou a cabeça leve, mas decididamente. — Não. — Se ela não estivesse firmemente determinada a manter os homens afastados de sua vida, esse homem e sua inacreditável arrogância seriam o suficiente para não querer saber mais de homens, decidiu zangada. Mas, ao mesmo tempo, uma insidiosa tentação tinha começado a tomar forma em sua mente. E se ela concordasse, sob a condição que Lorenzo a acompanhasse ao casamento de John e Louise? A cidade inteira fora convidada, logo, dois convidados a mais não representariam um problema... e, admitia, uma parte de si ansiava por estar lá, mostrando ao mundo e aos recém-casados que ela não apenas pouco se importava com a traição deles, mas tinha um novo companheiro. Não tem um ditado que diz que "Viver bem é a melhor vingança"? E que melhor vingança para uma noiva abandonada do que aparecer com um homem muito mais bonito e adequado? Um homem, que, além de tudo, desejava desesperadamente casar-se com ela! Foi arrancada desse retorno mental triunfal à cena de sua humilhação pela voz 15
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arrogante de descrédito de Lorenzo. — Não? Era ridículo que ela considerasse fazer algo tão fora de propósito. Isso só confirmava o efeito que poucos minutos na companhia de um homem como Lorenzo causava. Não ia ouvir as exigências de seu orgulho, deixar que o orgulho e a consciência declarassem guerra entre si com uma troca indigna de acusações. Tentou manter a sensatez e disse a Lorenzo com firmeza: — Mesmo alguém tão... tão arrogante e acostumado a conseguir o que quer, como você parece ser, deve perceber que o que está sugerindo não é... — Um milhão não é o suficiente? É isso o que está tentando dizer? Ficou ruborizada. — O dinheiro não tem nada a ver com isso. — O olhar cínico que ele lhe deu fez com que ela explodisse de raiva. — Não estou à venda. Nem para John e certamente não para você. — John? Ele aproveitou sua confissão e agora a olhava como um enorme gato astuto devia olhar um rato que se divertia em atormentar. Mas ela não era um rato e não ia ser ameaçada ou atormentada por nenhum homem novamente. Levantou a cabeça e disse fria: — Meu ex-noivo. Ele também me ofereceu dinheiro, mas estava fazendo isso por culpa, pois não queria se casar comigo, e não como um suborno porque queria casar-se. Queria que eu rompesse o noivado para que ninguém o acusasse de me abandonar. Obviamente vocês dois compartilham da mesma lógica masculina. Como você, ele achou que podia comprar o que quisesse, independente do que eu pudesse sentir. — Apesar de sua tentativa de aparentar não se sentir afetada pelo que estava revelando, um misto de tristeza e cinismo turvaram-lhe os olhos. A boca retorceu-se ligeiramente ao acrescentar: — De certa forma, suponho que ele me fez um favor. Saber que ele me tinha em tão baixa conta que achava poder pagar para terminar o relacionamento me fez perceber que eu ficaria melhor sem ele. — Mas, apesar disso, você ainda o deseja. A afirmação, dita sem nenhuma emoção, fez com que seu coração acelerasse. — Não! — respondeu imediatamente. — Eu não o desejo. — Então porque fugiu, senão pelo medo do que ainda sente por ele? — Eu não fugi! Estou tirando férias e quando voltar... — O movimento involuntário de baixar os ombros, ao contemplar a idéia de voltar para casa, dizia mais do que ela percebia. Quando voltasse — o quê? Não tinha um emprego para voltar. Não agora. Nem casa — vendera o chalé, e mesmo que não o tivesse vendido, tinha dúvidas se gostaria de voltar a viver ali, com todas as lembranças de falsa felicidade. Mas, 16
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poderia voltar com a cabeça erguida e nos braços de um homem que ela podia afirmar, com toda certeza, iria se tornar seu marido, lembrou-se. E depois? Ele já tinha avisado que o casamento duraria um ano. Depois, sacudiria os ombros e diria, como tantas outras, que não tinha funcionado. Era muito menos vergonhoso do que ser tachada de rejeitada. — Num período de doze meses você pode voltar com um milhão de libras na conta bancária — ouviu Lorenzo dizer, como se lesse sua mente. Era tão tentador concordar. E ela teve raiva por ele tê-la colocado numa posição em que se sentia tentada. Não tinha prometido jamais voltar a ser manipulada por um homem? Rangendo os dentes, Jodie voltou atrás quanto à possibilidade de ceder. — Se você realmente quer uma esposa, então por que não tenta encontrar uma sem usar o dinheiro? Alguém que queira se casar com você por amor, ou por acreditar ter encontrado o homem que corresponde a seu amor, um homem que possa respeitar e confiar e... — Ela viu a maneira como ele a olhava e balançou a cabeça. — Ah, para que perder tempo? Homens como você e John são todos iguais. Ele apenas valoriza a mulher que possa exibir, o tipo de mulher que faça com que os outros homens o invejem e você só quer o tipo de mulher que possa comprar, para assim poder controlála, assim como o relacionamento de vocês. Bem, não sou esse tipo de mulher. E não, não vou me casar com você. Quando afastou-se dele, Lorenzo podia sentir a raiva percorrer-lhe. Ela o estava recusando? Essa... essa magricela, essa turista sem eira nem beira — uma mulher que tinha sido rejeitada publicamente pelo homem que tinha prometido se casar com ela... Será que não percebia o que ele lhe oferecia e a sorte que lhe caíra do céu? Casar com ele a transformaria instantaneamente de uma mulher rejeitada na esposa de alguém rico o suficiente para comprar o ex-noivo dela uma centena de milhares de vezes. Ela iria de pronto ser elevada a um patamar social com o qual a maioria das mulheres sonhava, seria cortejada pelos famosos e ricos e, se fosse inteligente o suficiente para capitalizar o que ele lhe daria quando o casamento terminasse, poderia encontrar um novo marido. Qualquer homem adoraria se casar com uma mulher que tivesse sido escolhida por um homem como ele. Tudo que tinha a fazer para transformar por completo sua vida era concordar em ser sua esposa. E, no entanto, em vez de reconhecer a boa sorte, ousava passar-lhe um sermão! Bem, não perdia nada. Não teria durado um dia, nem mesmo doze horas, depois que Caterina colocasse as garras nela e ele não era tolo de perder tempo com ela. Podia dirigir até a costa e encontrar uma dúzia de mulheres, em menos de uma hora, que agarrariam a oportunidade que ela tinha dispensado. — Ótimo! — Virou as costas e caminhou em direção à Ferrari. Ele a estava deixando ali? Não podia... não faria isso! Os olhos de Jodie se arregalaram de choque ao vê-lo afastar-se. 17
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— Não, espere! — gritou, correndo atrás dele, arfando de dor, a raiva dando lugar ao medo, atenuado apenas quando ele parou e se virou. — Preciso entrar em contato com a locadora e avisar o que aconteceu. — Não vão ficar contentes com o fato de você ter estragado o carro. Espero que tenha trazido bastante dinheiro — avisou-a com frieza. — Fiz seguro — protestou, mas sentiu um nó no estômago ao lembrar-se do primo avisando-a sobre os problemas que enfrentaria caso se envolvesse num acidente. — Duvido que isso vá beneficiá-la, especialmente quando eu informar as autoridades que você estava dirigindo numa estrada particular ou seja, colocou em risco a própria vida e a minha também. Vai precisar de um ótimo advogado, o que custará bem caro. — Mas isso não é verdade! — protestou. — Você nem estava aqui quando... A voz sumiu ao ver o olhar dele. — Você está tentando me assustar... e me chantagear! — ela o acusou. Ele deu de ombros e continuou a andar até o carro. Ela o olhou abrir a porta, enquanto as emoções se transformavam numa fúria impotente. Ele era o mais odioso, o mais detestável homem do mundo: arrogante, egoísta, a última espécie de homem com quem gostaria de se casar, não importa o motivo. Mas uma voz lógica e prática martelava que era tarde da noite e ela estava a quilômetros de distância de qualquer lugar, numa estrada particular, totalmente dependente da boa-vontade de um homem prestes a abandoná-la ali. Ele tinha ligado o motor e dava a partida. Foi tomada de pânico. Começou a correr em direção ao carro. Arfava de dor ao aproximar-se da porta do lado do motorista e bateu no vidro. Sem demonstrar nenhuma emoção, Lorenzo abriu a janela. — Está bem, aceito — disse, sem pensar. — Me caso com você. Ele a olhava tão impassível que achou que ele tinha mudado de idéia. O coração começou a bater acelerado, fazendo-a sentir-se ligeiramente enjoada. — Então concorda em se casar comigo? Jodie acenou que sim e soltou um suspiro de alívio quando ele abriu a porta do carona e disse bruscamente: — Me dê as chaves e espere aqui enquanto pego suas coisas. A noite estava quente, mas sentia calafrios devido à ansiedade e à exaustão. Os dedos tremeram ao contato da mão impessoal que ele estendeu para pegar as chaves do carro. Sentiu um arrepio indesejado no braço, o que a fez afastar-se. Ele tinha mãos compridas e elegantes, dedos finos e fortes — diferente de John que tinha as mãos meio gorduchas e dedos curtos. A consciência de que o roçar daquelas mãos no corpo de uma mulher proporcionaria um perigoso grau de prazer sensual assustou-a. 18
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Lorenzo franziu o cenho ao sair da Ferrari e abriu o porta-malas do carro alugado. A reação dela havia demonstrado uma inexperiência sexual que ele julgava não mais existir. Na verdade, a última vez que presenciara uma mulher adulta reagir assim ao toque casual de um homem tinha sido na derradeira visita à avó quando sentaram-se juntos para assistir um daqueles filmes antigos em preto-e-branco que ela adorava. Ele vivia num mundo povoado por pessoas sofisticadas, experientes, ricas e aristocráticas. Um mundo guiado pelo cinismo, ambição, inveja e interesses pessoais. O poder não passava de mão em mão através da bondade, como ele tivera oportunidade de aprender. Jodie Oliver não sobreviveria um mês nesse mundo. Afastou os pensamentos. Sua sobrevivência não lhe dizia respeito. Tinha outros assuntos, outro tipo de sobrevivência com que se preocupar e ela era simplesmente o instrumento a ser usado para conseguir seus objetivos. Se desejasse casar-se com ela de verdade... A testa ficou ainda mais franzida. Que tipo de pensamento era esse? Não tinha vontade de se casar com ninguém, muito menos com uma jovem magra e melancólica que trazia "coração partido" escrito na testa. Deu uma olhada na pequena mala que tirara do porta-malas e verificou o interior do carro. — Quanto tempo você disse que pretendia ficar longe de casa? — perguntou enquanto carregava suas coisas para a Ferrari. Jodie ficou ruborizada pois entendeu o motivo da pergunta. — Tenho o suficiente para atender minhas necessidades — disse na defensiva, acrescentado com dignidade: — E existem lavanderias, você sabe. — Não ia dizer a ele que escolhera aquela pequena maleta de rodinhas porque ela era leve e a última coisa que pretendia, ao fazer a mala, era levar todas as coisas bonitas que comprara para a lua-de-mel. Havia uma intimidade desconcertante em estar num carro desses com um homem que era tão másculo. O cheiro do couro fez com que ela se lembrasse de uma tarde em companhia de John, quando ele tinha ido comprar um carro novo. Tinham visitado lojas e mais lojas enquanto ele admirava os carros top de linha. Mas nenhum deles, não importa o quanto custasse, chegava nem perto do luxo desse, pensou, exalando o sutil perfume amadeirado da colônia masculina combinada com o cheiro sensual daquele homem. Quando finalmente terminou de absorver as mensagens com as quais seus sentidos a bombardeavam, Lorenzo tinha dado meia-volta. — Aonde estamos indo? — perguntou insegura. — Para o Castillo. O Castillo. Soava incrivelmente grande. Mas cinco minutos depois, quando ela viu os contornos acima da rocha, decidiu que a aparência era mais bárbara do que grande, como se fizesse parte de um outro período menos civilizado. Um período em que o 19
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homem podia pegar o que quisesse simplesmente porque assim havia decidido. Sem dúvida, um período perfeito para o homem sentado a seu lado, decidiu de mau-humor. Entraram no Castillo através de uma entrada em arco estreita, tão evocativa da Idade Média que Jodie teve que piscar para afastar as imagens de homens envergando cotas de malhas de ferro com armas e arautos anunciando a chegada deles. O pátio vazio estava iluminado por castiçais de metal lançando sombras que se moviam contra as paredes imponentes de pedra com suas janelas estreitas. — Que lugar extraordinário! — exclamou apreensiva. — O Castillo é uma relíquia de um tempo em que os homens construíam fortalezas no lugar de casas. Aviso que é tão pouco hospitaleiro dentro quanto fora. — Você mora aqui? — Não pôde evitar o horror na voz. — Não; minha avó morava. — Então onde...? — começou Jodie. Parou hesitante quando viu o jeito como ele apertava os lábios. Era óbvio que ele não gostava de tantas perguntas. Abriu a porta do carro e ela franziu o nariz diante do cheiro de algo queimando. — Tem algo pegando fogo. — É apenas a mistura de madeira e piche usada nos castiçais. Depois de um tempo você se acostuma — acrescentou. Depois de um tempo? Isso significava que ela ia morar ali? Sem eletricidade? Como se lesse sua mente, Lorenzo informou: — Minha avó preferia um estilo de vida à antiga. Felizmente, consegui persuadila a instalar um gerador de eletricidade. Quando se pensava num castelo italiano, vinha à mente algo saído de um conto de fadas, mas esse lugar não era nada disso. Ficava arrepiada só de olhar as paredes de granito. — Venha... Tanto tempo sentada deixara-lhe a perna enrijecida. Jodie sentiu o rubor no rosto ao ver que Lorenzo segurava a porta do carro, impaciente, para que ela saltasse. A dor aguda na perna, quando finalmente conseguiu sair, fez com que mordesse com força o lábio para evitar trair o que sentia. John odiava qualquer coisa que chamasse a atenção para sua enfermidade, insistindo para que sempre usasse jeans ou calças compridas e escondesse a finura e cicatrizes da perna. "Se você usar calças ninguém vai saber que tem algo errado com você", dissera mais de uma vez. Podia sentir a garganta fechando por causa das lágrimas. Queria tão desesperadamente ouvi-lo dizer que não se importava com o que vestisse, porque a amava tanto que cada parte de seu corpo era preciosa para ele... Mas, é claro, os homens não eram assim. Louíse tinha dito a mesma coisa quando explicou a Jodie 20
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porque John preferia ela. — O problema, queridinha, é que homens não gostam de deformações. Faz com que se sintam desconfortáveis. E mais, querem uma mulher que possam exibir... não uma pela qual tenham que se desculpar. — Você quer dizer que alguns homens são assim — corrigiu-a com tanta dignidade quanto possível. — A maioria dos homens — insistiu Louise, antes de acrescentar asperamente: — Afinal, quantos homens, além de John, quiseram ao menos sair com você? Pense nisso. E não vamos esquecer — acrescentou, para sublinhar sua superioridade — qualquer homem se preocupa com o que vai ter que enfrentar no futuro, tendo uma mulher com problemas de saúde, nem que seja do ponto de vista financeiro. — Não tenho problemas de saúde — objetou Jodie. — O hospital me deu alta... — Porque não podiam fazer mais nada. Você mesma me disse. Sua perna nunca vai voltar a ser como era. Você se cansa só de andar um pouco... Imagine que terrível seria para o pobre John se, digamos, em dez anos, você precisasse de uma cadeira de rodas? Como ele ia lidar com isso? Com os negócios prosperando, John precisa de alguém para somar, não para subtrair. Você não devia ser tão egoísta, Jodie. John e eu estamos tentando tornar a situação o menos dolorosa possível para você. O "John e eu" a fizera chegar ao limite. Jodie explodira e dissera à ex-amiga exatamente o que pensava dela e de John, terminando com: — Odiaria me comprometer com um homem tão superficial quanto ele. Honestamente, Louise, você me fez um grande favor. Se não fosse por você, poderia acabar me casando com John, sem saber o quanto ele é fraco e pouco confiável. Você obviamente não dá tanta importância a isso quanto eu. Mas eu tomaria cuidado se fosse você. Afinal, não vai ser sempre jovem e glamorosa, certo? E já que você mesma disse que a aparência é tão importante para John, vai ter que conviver com o fato de que um dia ele pode trocá-la por alguém mais jovem e mais bonita. Tremia da cabeça aos pés ao afastar-se de Louise. E quando John apareceu, menos de uma hora depois, acusando-a de ter aborrecido Louise, ela não sabia se devia rir ou chorar. Acabou rindo. De alguma forma pareceu ser a melhor opção. Foi então que saiu e comprou a mais curta minissaia que encontrou. O acidente não fora culpa dos pais e ela lutara muito tempo e com garra para superar os ferimentos. A partir de agora, decidira, ia mostrar as feridas com orgulho e nenhum homem voltaria a sugerir que cobrisse as pernas por causa delas. Entretanto, para ficar mais confortável na viagem, usava uns jeans velhos e desbotados que a faziam parecer totalmente deslocada ao lado de Lorenzo em seu terno magnificamente bem cortado, pensou, quando ele a conduziu através do pátio e dentro do hall cavernoso, com a mão apoiada firme no meio de suas costas.
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CAPÍTULO QUATRO O aposento em que entraram era mobiliado com várias peças numa madeira escura trabalhada. Um brasão tinha sido talhado acima da imensa lareira. O tapete parecia gasto e surrado e ela podia ver uma marca na mesa empoeirada no meio da sala onde algo tinha sido atirado com tamanha força que deixara um rastro. Uma porta no fundo da sala foi escancarada e surgiu uma mulher. Imediatamente Jodie esqueceu o ambiente e examinou-a. Alta e bem-cuidada, era o protótipo da italiana rica e elegante. O cabelo escuro estava puxado num coque para revelar os traços perfeitos do rosto. Olhos escuros fitavam Lorenzo com um triunfante deboche possessivo — o mesmo tipo de olhar de mulher predadora que Jodie vira nos de Louise quando olhou John. A mulher não a tinha visto pois estava na sombra. Quem era ela? Uma sensação de desconforto invadiu-a; a consciência de águas escuras e turvas que indicavam as perigosas correntes escondidas que podiam sugá-la para as profundezas geladas, se não fosse cuidadosa. Instintivamente sentiu que Louise e essa mulher eram idênticas e essa consciência foi o suficiente para despertar-lhe lembranças dolorosas. Olhou para Lorenzo. Ele parecia relaxado, mas podia sentir-lhe a tensão pelo aumentar da pressão dos dedos em suas costas. Havia algo no ar — mas o quê? Tantas perguntas destinadas a permanecer sem resposta, refletiu Jodie, enquanto via a boca fina e o delicado arfar das narinas. Um enorme diamante que chegava a cegar brilhou quando a mulher levantou uma das mãos para colocá-la no profundo decote do caro vestido preto, num gesto deliberado de sedução. Que homem poderia resistir se seguisse com o olhar o brilho escarlate das unhas compridas enquanto repousavam no vale entre os seios fartos e perfeitos? O vestido justo mostrava uma cintura tão fina que calculou que ela só podia estar usando uma cinta muito apertada, e os quadris em curvas arredondadas. Um par de longas, bronzeadas e bem torneadas pernas, e os pés tinham unhas pintadas de escarlate adornados com um par de sandálias de tiras de saltos tão altos e tão delicados como Jodie nunca tinha visto. Parecia alguém prestes a entrar no mais sofisticado e luxuoso ambiente do mundo, e não ali naquela fortaleza no meio do nada. Um olhar de triunfo iluminou o rosto da mulher italiana. Mas os olhos castanhos não tinham o menor calor e quando andou, falando rápido, a voz soou ríspida e ligeiramente desafinada. Jodie supusera que seria quente e musical. Tinha quase os alcançado quando Lorenzo levantou uma das mãos de forma autoritária e disse: — Em inglês, por favor, Caterina. Assim minha futura esposa vai conseguir entender. 22
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O efeito das palavras na mulher foi um cataclisma. Parou de se mover e virou-se para olhar Jodie, que foi empurrada para fora das sombras e parou ao lado de Lorenzo presa pelo pulso por mãos que pareciam garras. Um olhar furioso e incrédulo percorreu Jodie, seguido por uma explosão igualmente furiosa em italiano. — Por aqui — indicou Lorenzo a Jodie, ignorando a mulher. — Não! — A mulher se colocou na frente deles e disse em inglês: — Você não vai fazer isso comigo. Não pode. Quem é ela? — Acabei de dizer. Minha futura esposa. — Não. Não pode fazer isso. — A voz desafinada e metálica estava furiosa. — Não. Não! — Ela sacudia a cabeça de um lado a outro tão violentamente que Jodie ficou tonta, mas nem um simples fio do cabelo imaculadamente penteado escapou. — Não! — repetiu. — Você não vai fazer dessa coisinha sua duchessa, Lorenzo. Duquesa? — Você não pode falar assim da mulher que escolhi — ouviu Lorenzo dizer frio. Meu Deus, em que confusão tinha se metido? — De onde essa mulher surgiu? De que sarjeta... Imediatamente um olhar de repulsa endureceu a expressão de Lorenzo, mas Caterina ignorou-a, pegando-o pelo braço e insistindo: — Responda Lorenzo. Ou eu... — Ou você o quê, Caterina? — perguntou gentil, tirando-lhe a mão do braço. — Eu e Jodie nos conhecemos há alguns meses. Era minha intenção apresentá-la a minha avó, mas infelizmente ela faleceu. Entretanto, ao saber agora como desejava que eu me casasse, pretendo seguir os ditames de meu coração bem como cumprir os termos do testamento casando-me com Jodie o quanto antes. Jodie piscou incrédula ao ouvi-lo explicar a versão fictícia do "relacionamento" entre eles. — Mentira! Nada disso é verdade. Eu sei a verdade, e vou... — Você não sabe e não vai fazer nada — Lorenzo interrompeu-a. — E aviso de antemão que não ouse espalhar boatos ou rumores sobre minha futura esposa ou meu casamento. — Você não pode me ameaçar. — Caterina estava quase berrando. — Ela sabe por que você vai se casar com ela? Sabe que o desejo de sua avó no leito de morte era que se casasse comigo? Sabe que você...? — Silêncio! — ordenou Lorenzo grosseiro, lançando um olhar furioso e frio como uma espada pontiaguda contra o inimigo. — Não vou ficar quieta! — Virou-se e lançou um olhar hostil em direção a Jodie. 23
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— Ele contou que o único motivo de se casar com você é esse lugar? Por que a não ser que se case não poderá herdá-lo? Essa mulher devia ser, com certeza, a pessoa a quem ele tinha se referido antes, pensou Jodie. De alguma forma conseguiu evitar que a expressão traísse o que sentia — um legado, sem dúvida, de todas as consultas a hospitais e da determinação de não deixar que outros a vissem sentir dor ou ter pena dela. Estava Lorenzo preparado realmente para se casar com uma mulher que ele não conhecia apenas para herdar essa fortaleza satânica e caindo aos pedaços? — É impossível que ele queira se casar com uma mulher como você — disse Caterina venenosa. Ficou magoada. As palavras de Caterina eram tão semelhantes às que Louise tinha dito — assim como a beleza morena de Caterina era tão parecida com a de Louise. Elas deram origem a uma onda de orgulho raivoso dentro de Jodie que lhe queimava as veias. Deu um profundo suspiro. — Mas ele vai se casar comigo. Por poucos segundos, se sentiu tão perdida na euforia de dizer essas palavras que tanto desejara poder dizer a Louise que nada mais importava — muito menos o bom senso implorando que fosse mais cautelosa. Mesmo ao ouvir o furioso berro de Caterina e sentir o odor de álcool, não se deu conta do perigo e a mão de unhas vermelhas da mulher já estava levantada para esbofeteá-la quando Lorenzo soltou Jodie e segurou Caterina, forçando-a a afastar-se e gritando: — Basta! — Você não pode fazer isso comigo. Não vou permitir! — gritou Caterina para Lorenzo. A cabeça de Jodie doía e o corpo tremia diante da tentativa de Catarina de atacá-la fisicamente. — Você vai juntar suas coisas e deixar o Castillo imediatamente — ouviu Lorenzo ordenar. — Você não pode me obrigar. Tenho tanto direito de estar aqui quanto você. Lembre-se: até que você se case, o Castillo pertence a mim tanto quanto a você. Só quando você se casar, será seu. E você não vai... — Chega! A ordem ressoou como uma bofetada, fazendo com que até mesmo Jodie estremecesse ao ver Lorenzo sacudir a mulher com força antes de soltá-la. Ignorando Jodie, Caterina queixou-se: — Você me machucou. Amanhã vou estar com uma mancha... — Mudou para o italiano e disse algo baixinho e depois sorriu debochada. 24
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Jodie esperou impassível. Os instintos femininos, agora aguçados depois do reconhecimento tardio de todos aqueles olhares e palavras que presenciara entre John e Louise, nas semanas precedentes à admissão de que a traíam, tornaram-na imediatamente desconfiada de que o que Caterina tinha dito para Lorenzo tinha sido ao mesmo tempo íntimo e sexual. Por quê? Porque um dia o relacionamento entre eles havia sido íntimo e sexual? Havia sido... ou ainda era? Havia uma óbvia animosidade entre eles — animosidade e desprezo no que dizia respeito a Lorenzo — ou, pelo menos, parecia. — Ele está usando você. Sabe disso, não sabe? E quando conseguir o que quer vai descartá-la — disse venenosa. Em seguida, abruptamente como chegara, partiu, batendo a porta. Ignorando completamente o que tinha ocorrido, Lorenzo anunciou: — Por aqui. Vou levá-la até seus aposentos. A cena com Caterina a deixara mal e trêmula agora que tinha terminado, Jodie se deu conta. Tanto quanto se sentira após as revelações de Louise. Mas Lorenzo já estava a meio caminho da porta, onde Caterina desaparecera, e Jodie tinha que se apressar para alcançá-lo. Saíram num outro hall com uma imponente e elegante escadaria de mármore, totalmente inesperada. — Essa parte do Castillo foi remodelada durante a Renascença — explicou Lorenzo ao perceber sua surpresa. Na parte superior das escadas um largo corredor abria para dois lados. Lorenzo dirigiu-se à ala direita, iluminada suavemente com lâmpadas de parede em estilo antigo e abaixo um par de portas duplas ornadas. — Minha avó reformou essa parte do Castillo para meu uso depois do divórcio de meus pais — anunciou Lorenzo ao abrir as portas. — Gino sempre dizia... — Gino? — perguntou Jodie curiosa. — Meu primo, o falecido marido de Caterina. — Então ela é viúva? — Jodie não conseguiu deixar de perguntar. — É viúva sim. — E mora aqui? Um muxoxo cínico surgiu e desapareceu, sendo substituído por um olhar de amargura. — Ela tem um apartamento em Milão, mas mudou-se para cá quando minha avó ficou doente. — Franziu a testa e disse abruptamente: — Você faz muitas perguntas. Já é tarde e eu tenho o que fazer. Explicarei tudo que precisa saber amanhã. Apenas se lembre de que, para todos os efeitos, nosso relacionamento tem algum tempo assim como nossos planos; de casamento. — Caterina disse que sua avó queria que você se casasse com ela — não pôde 25
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deixar de comentar. A expressão ficou dura e Jodie começou a se arrepender. — Ela estava mentindo. Ela é quem deseja um casamento entre nós, porque cobiça meu título e meu dinheiro. Caterina é uma sanguessuga, uma parasita, uma mulher que provou estar disposta a vender-se para quem der mais. Jodie ficou curiosa, mas a expressão do rosto de Lorenzo demonstrava que o assunto estava encerrado. Cautelosamente, atravessou as portas que ele acabara de abrir e a curiosidade a respeito de Caterina foi afastada pela surpresa. O aposento no qual entrara era moderno e mobiliado simplesmente: paredes pintadas num tom marfim, um tapete em tom natural e dois grandes sofás de couro. — A forração original foi tirada desse aposento durante a guerra, quando o castelo foi ocupado. Nessa ocasião, o primeiro marido de minha avó foi morto. Jodie sentiu um arrepio de frio. — Onde... onde são os aposentos de Caterina? — Ela está hospedada nos aposentos principais, originalmente ocupados por minha avó. — E continuou, antes que Jodie fizesse outra pergunta: — Vou pedir que meu advogado venha amanhã para que possamos fazer um contrato e tomar as providências necessárias para nosso casamento. Jodie ficou tensa: — Estive pensando... — Caterina assustou você, não é isso? Está com medo dela? — Não! — Jodie negou vigorosamente. — Não tenho o menor medo dela. Lorenzo levantou uma sobrancelha escura como se não acreditasse. — Não é isso, mas se você está falando sério quanto ao casamento, então quero... — Sim? — disse convidativo. Era exatamente o que tinha pensado. Ela já estava calculando quanto poderia tirar dele. — Quer o quê? Dois milhões em vez de um? Jodie lançou-lhe um olhar irritado. — Não. Já disse que não quero seu dinheiro. — Mas quer alguma coisa... — Quero — concordou e soltou um suspiro profundo. — Quero que você vá comigo ao casamento de John e Louise. Ela prendeu a respiração esperando pela recusa, dizendo a si mesma que essa seria a desculpa para dizer que não continuaria com a farsa e os planos diabólicos que ele arquitetava. Mas, em vez de recusar, Lorenzo disse suave: 26
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— Então, você ainda o deseja... — Não, só desejo... — Ficou em silêncio e balançou a cabeça. — Não tenho que explicar nada a você. Essas são as condições para casar com você. Está em suas mãos aceitar ou não. — Por favor, fazei com que ele recuse... — Então está bem. Iremos ao casamento de seu ex-noivo, mas como marido e mulher. Jodie sentiu alívio. Alívio? Porque aceitava o fato de não mais ter que tomar decisões? Porque entregara o controle da vida ao arrogante estrangeiro? — Venha comigo... Cansada, Jodie seguiu-o através de outra porta que levava a um estúdio muito masculino e a uma antecâmara com duas portas. — Esse é meu quarto — informou-a Lorenzo, indicando uma porta — e esse é o quarto de hóspedes. Ele a olhava como se a testasse, como se esperasse que ela escolhesse. Determinada, caminhou em direção à porta do quarto de hóspedes e girou a maçaneta. Como os outros aposentos, era decorado e mobiliado num estilo moderno e despojado, mas só estava interessada na maravilhosa cama. A perna doía tanto que ela estava começava a andar com dificuldade. — Essas portas dão para o quarto de vestir e o banheiro — explicou Lorenzo. — Vou mandar trazer sua mala. Está com fome? Jodie balançou a cabeça. Já tinha superado isso. Tudo que queria era deitar para aplacar a dor na perna. Deu um passo à frente e a perna fraquejou. Lorenzo segurou-a, antes que caísse no chão, suspendendo-a tão bruscamente que ela gritou de dor. — Diablol O que foi? Alguma coisa errada? — Nada. Só minha perna — disse Jodie afastando-o e tentando manter-se de pé. Mas era tarde demais. A perna chegara ao limite e se recusava a sustentá-la. Podia ver o jeito que Lorenzo franzia a testa. Imediatamente, levantou a cabeça orgulhosa. — Tenho um problema na perna. Sofri um acidente. Às vezes, quando me canso em excesso... Se não quiser casar comigo por causa disso, então... — Foi isso que o homem com quem ia se casar disse? Que não queria você por isso? O rosto de Jodie ficou vermelho. Tinha falado demais — um erro que só podia atribuir ao cansaço e ao estresse das últimas experiências. — Não. — Mas isso era motivo de algum tipo de conflito entre vocês? — Ele não gostava do fato de eu ter uma perna... — Deu de ombros. — Mas isso é natural, não é? Homens gostam de mulheres lindas e... 27
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— Faz parte da natureza humana valorizar a beleza — disse Lorenzo. — Mas, algumas vezes, a beleza maior só vem através do sofrimento e da dor. Jodie olhou-o desconfiada. Estava muito cansada para analisar um comentário tão melancólico. Olhou a cama. Lorenzo seguiu-lhe o olhar. — Vou deixar você. Encontrará tudo que precisa no banheiro, mas, qualquer coisa, peça a Pietro quando ele trouxer a mala. Ele avisará Maria e ela providenciará o que precisa. — Pietro e Maria — repetiu os nomes. — Seus empregados? — Eles tomam conta do Castillo. Foram contratados por minha avó. Deveriam se aposentar, mas essa sempre foi a casa deles e seria uma crueldade mandá-los embora, dando a entender que não são mais úteis. Bem, depois de falar com meu advogado e cuidar dos preparativos para nosso casamento, me preocuparei em tornar esse lugar mais habitável. Eles iam morar ali? Havia tantas perguntas a serem feitas, mas agora estava exausta demais para se importar com qualquer coisa que não fosse dormir
CAPÍTULO CINCO Pelo menos a água do banho era quente e as toalhas que Maria tinha trazido, irrompendo no quarto numa torrente de italiano incompreensível enquanto inspecionava Jodie, eram deliciosamente macias e felpudas. Assim como o quarto, a decoração do banheiro era muito simples, mas não deixava dúvida quanto à qualidade e elegância da louça e do mármore que cobria o piso e as paredes. Enrolada numa toalha, Jodie foi descalça até o quarto e abriu a mala, procurando rapidamente uma camisola. Mas quando tirou as roupas, cuidadosamente arrumadas, congelou. A camisola estava lá, assim como uma das lingeries que comprara para a lua-de-mel: em tom floral, a tanga de seda abotoada com laços de cetim. Era tão linda que não resistira e a comprara num impulso, na hora do almoço, depois de outra noite passada com John que se recusava a fazer qualquer coisa além de suaves carícias. Não sabia, é claro, que o motivo de John não ter levado a intimidade até a conclusão lógica não tinha sido por amá-la muito, mas sim por amá-la pouco. Agora, graças a Louise, sabia que todo o tempo em que o desejava e admirava-lhe o controle, ele secretamente se afastara. O que diabos essas coisas estavam fazendo na mala? Encontrou a resposta em um bilhete de Andrea, enfiada entre as dobras da camisola. 28
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“Achei um desperdício não levar essas peças. Nunca se sabe... Pode encontrar alguém que as aprecie... e a você...” Jodie quase caiu na gargalhada. Andrea tinha adivinhado. Como futura noiva, devia ser capaz de encontrar uma utilidade para esses itens, mas sabia que Lorenzo a apreciaria e as roupas ainda menos do que John. Tirou a camisola e fechou a mala, colocando-a no chão antes de enroscar-se nos lençóis da imensa cama e apagar a luz. Devia pensar na situação em que se metera e encontrar uma solução para escapar dela, mas estava cansada demais. Lorenzo desligou o computador. Enviara e-mails a diversas pessoas para explicar seus planos — ao advogado, ou pelo menos aquilo que queria que ele soubesse; a um certo diplomata que ocupava uma posição de destaque para se casar com a noiva inglesa o mais rápido possível; e ao Cardeal, seu primo em segundo grau. Por sorte, já tinha em seu poder o passaporte de Jodie e enviou por fax todas as informações para os três homens. Instruíra o advogado a fazer um acordo nupcial, com a maior urgência, e também para providenciar para que a propriedade do Castillo fosse transferida para ele, de acordo com os termos do testamento da avó. Depois deixou os aposentos e desceu, atravessando os aposentos que não eram usados com sua mobília antiquada e cheiro de mofo até chegar à porta desejada. Sentia a tensão crescer, bem como a excitação; os sentidos já antecipando o prazer à sua espera. Ele se casaria com uma dúzia de mulheres inglesas pálidas e magricelas, se necessário, para satisfazer o desejo que o consumia há tanto tempo. A cãibra nos músculos da perna arrancou Jodie do sono profundo e fez com que soltasse um grito agudo de dor. Lorenzo a ouviu ao sair do banheiro, e se assustou quando o segundo grito ecoou. Segurando a toalha em torno dos quadris, seguiu em direção ao quarto de hóspede. Abriu a porta e acendeu a luz. Jodie estava deitada no centro da cama, tentando desesperadamente massagear a perna. Lorenzo reconheceu imediatamente o que acontecera. Ao chegar na cama, segurou-a pelos ombros, perguntando: — O que é? Cãibras? Jodie arfava de dor. — É. Na minha perna... A intensidade da dor deixara seu rosto cinza e Lorenzo podia ver as gotas de transpiração formando-se na testa. 29
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— Você costuma ter cãibras fortes assim com freqüência? Por que lhe perguntava isso? Estava com medo de ter que assumir responsabilidades mesmo que por apenas um ano? — Não, apenas quando me canso demasiado. Aí! — gritou quando os dedos fortes encontraram o exato ponto na perna onde a dor se concentrava. — Fique deitada, parada — instruiu-a Lorenzo. — Está tudo bem. — Quando ela olhou para ele desconfiada, ele acrescentou: — Sei o que estou fazendo. Jodie teria continuado a resistir se uma segunda contração não tivesse tomado conta dela, deixando-a sem energia para nada a não ser suportar a dor. Lorenzo soltou um palavrão e levantou-a, ignorando-lhe os protestos e virando-a de bruços. Agora, com as pernas expostas pela camiseta infantil ridícula que vestia, ele podia constatar que estava certo quanto ao comprimento das pernas. Também via que uma das pernas era ligeiramente mais fina do que a outra e que na parte interna do joelho havia cicatrizes. Com a cãibra continuando seu brutal assalto, Jodie não estava nem mesmo ciente de estar enfiando as unhas no braço de Lorenzo, na tentativa de não gritar. Isso foi o pior que se lembrava de ter feito. Lorenzo esperou o aperto afrouxar, desvencilhou-se e começou, rapidamente, a mover os longos dedos pressionando o nó nos músculos contraídos até que Jodie tivesse vontade de gritar de agonia. Tentou libertar a perna, mas depois o alívio surgiu e o músculo começou a relaxar. Um tênue estremecimento sacudiu o músculo. — Relaxe... — Lorenzo ainda massageava-lhe a perna, mas agora os movimentos firmes das mãos dirigiam-se para a parte superior da coxa e a tensão que tomou conta dela quando os dedos tocaram a barra da camisola era causada pela cãibra no estômago, não na perna. E não tinha nada a ver com excesso de cansaço. — A julgar pelas cicatrizes, você deve ter sido submetida a diversas operações... Jodie voltou a ficar tensa. Queria puxar a perna, mas tinha receio de se mover e levantar ainda mais a camisola. Tarde demais para pensar que podia ter colocado uma calcinha e não apenas a camisola. — Muitas... — disse resumidamente. — Quantas? Soltou um suspiro. — Isso faz diferença? Você não vai ter que cuidar de mim se eu acabar numa cadeira de rodas, vai? — Existe essa possibilidade? — Ele ainda massageava-lhe a perna, mas agora os dedos deslizaram pela cicatriz. Por alguma estranha razão, Jodie descobriu que estava louca para gritar. Ninguém tocara suas cicatrizes a não ser profissionalmente. Os 30
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longos meses no hospital tinham-na forçado a muitos exames, a médicos discutindo seu estado como se ela fosse um equipamento quebrado que tentavam consertar e botar em funcionamento. O que, é claro, para eles, era exatamente o que representava. Ficou grata por tudo o que tinham feito por ela — como poderia ser diferente? — mas ao mesmo tempo... Ao mesmo tempo o quê? Secretamente, ansiara por um toque mais pessoal, um toque reconfortante de alguém que não demonstrasse repulsa nem fizesse um drama sobre as cicatrizes. Mas nenhum toque a fizera sentir-se do jeito que o toque de Lorenzo a fazia sentir. — Não. Minha perna sempre será fraca, mas está curada — desabafou. Mordeu o lábio, sem querer se lembrar daqueles dias terríveis quando os médicos temiam ter que amputar-lhe a perna. — Obrigada. Já pode parar. A cãibra passou — disse, forçando-se a concentrar-se em alguma coisa. — qualquer coisa — que não fosse o toque suave dos dedos. Nenhum amante poderia... Nenhum amante? Estava ficando louca? Virou-se para encará-lo, consciente do calor da mão, ainda lhe queimando a coxa desnuda, os olhos esbugalhados ao se dar conta do que não vira antes: tudo que ele vestia era uma toalha, amarrada nos quadris, e o corpo era suficiente para fazer qualquer mulher babar. Mas, daqui para frente, não ia se permitir desejar nenhum homem e, certamente, não um homem desses. Seus instintos lhe diziam que ele era extremamente perigoso. Era um macho alfa autoritário, determinado a conseguir o que queria, não importa os meios usados, e nisso ela devia concentrar a atenção — não nos músculos da barriga trabalhada ou na masculinidade dos pêlos do corpo que desciam até a beira da toalha. Jodie encostou a língua nos lábios e prendeu a respiração. Lorenzo tirou a mão de sua coxa e ajeitou a toalha. Percebeu que Jodie focava o movimento das mãos com a respiração acelerada. — Se continuar olhando para mim assim — começou num tom sensual — vou achar... — O que quer dizer? — protestou, o rosto ardendo. — Você está me olhando como uma garota olhando um homem pela primeira vez — disse Lorenzo debochado. — O que me levar a me perguntar sobre o tipo de mulher que você é e que tipo de homem era seu ex-noivo para deixá-la assim. — Não estava olhando para você de jeito estranho — argumentou histérica. — Você está imaginando coisas. Nenhuma mulher moderna imagina como é o corpo de um homem. — Então você não se importaria se eu não estivesse usando isso? — sugeriu Lorenzo, os dedos descansando na toalha. 31
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Jodie deu de ombros como se não se importasse. — Não, por que ficaria? Todos os homens nus são iguais. — Seu ex-noivo era circuncidado? Jodie abriu a boca e fechou-a imediatamente, o rosto vermelho como um tomate, o coração aos pulos como se quisesse escapar-lhe do peito assim como ela queria escapar de seus pensamentos. Será que ele estava perguntando isso porque tinha adivinhado que ela simplesmente não sabia? Porque queria humilhá-la fazendo-a admitir como sua experiência sexual era limitada? — Por que quer saber? — Por que não responde? — Não estou questionando você sobre sua vida sexual. E se vamos nos casar... — Se? Não há "se" nessa história. Já entrei em contato com meu advogado. Ele vai estar aqui pela manhã. — Vai ser necessário um tempão para resolver as formalidades legais. — Não para nós. Assim que encontrarmos Alfredo, vamos para Florença. — Florença? — Tenho negócios para resolver e você vai comprar o vestido de noiva. — Um vestido de noiva? As sobrancelhas escuras se levantaram. — Presumo que não tenha trazido seu vestido de noiva quando fugiu... Jodie afastou o olhar. — Não, não trouxe. — O vestido de noiva ainda estava pendurado na loja onde tinha sido comprado e pago. Lorenzo a olhou impassível. — Há várias lojas de estilistas em Florença. Vai achar algo. Estilistas? Encontrar algo ia ser fácil, refletiu Jodie; pagar é que ia ser difícil, levando-se em conta seu orçamento apertado. Umedeceu os lábios com a ponta da língua. — E se...? E se eu tiver mudado de idéia? — Não vou deixar. — Não pode me impedir. O jeito com que a olhava trouxe-a à realidade: estava presa nessa fortaleza onde, sem dúvida, os ancestrais dele tinham mantido prisioneiros nas masmorras. — De que tem medo? — perguntou. 32
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— Não tenho medo de nada nem de ninguém — mentiu. — Então não há motivo para não se casar, certo? É um acordo do qual ambos vamos sair ganhando algo importante. Quando seu ex-noivo vai se casar? — No mês que vem. — Vamos estar casados até lá e você terá o prazer de me apresentar a ele como seu marido. Agora já é tarde e amanhã temos muito a fazer. — Por que não quer se casar com Caterina? Imediatamente fechou o rosto. — Isso não lhe diz respeito — respondeu agressivo. — Vou deixar você dormir. Com sorte, a cãibra não vai voltar. Em outras palavras: cuide de sua vida, refletiu Jodie enquanto o via se afastar.
CAPÍTULO SEIS O som da porta do quarto e o chocalhar de louça tiraram Jodie de um pesadelo em que era forçada a ver John caminhar pela nave da igreja em direção à noi va. Mas quando ele a alcançava não era John que estava se casando com outra mulher, mas Lorenzo. Estranhamente, em vez de se sentir aliviada, sentia ciúmes. — Buongiorno. — Maria cumprimentou-a sorridente ao descansar a bandeja, caminhando em seguida para abrir as pesadas cortinas e a janela. O sol e o calor invadiram o quarto. Jodie ficou com água na boca ao sentir o cheiro de café fresco e ver os pães e frutas. — Grazie, Maria. — agradeceu à empregada idosa com um sorriso acolhedor. Afastou as cobertas quando Maria deixou o quarto. Não havia notado que o quarto tinha uma sacada dando para um jardim fechado em estilo mourisco. Arcos recobertos por rosas cor-de-rosa e, do privilegiado ponto em que se encontrava, podia ver, bem no centro do jardim, um lago onde uma fonte ornada lançava jatos d'água para cima antes de cair na superfície, perturbando os gordos peixinhos dourados. Jodie serviu-se de uma xícara de café e voltou para a sacada. Ia se sentar em uma das duas cadeiras da mesinha de ferro, quando a porta foi aberta pela segunda vez. Achando que Maria tinha voltado, olhou com um sorriso que desapareceu ao ver que era Lorenzo. — Bene, já acordou. Alfredo ligou para avisar que está a caminho e chegará em uma hora. Acredito que tenha dormido bem e a cãibra não tenha voltado. 33
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— Não... quero dizer, sim... Dormi bem e não, a cãibra não voltou — mas o formigamento onde ele a tinha massageado a mantivera acordada por um bom tempo. Diferentemente dela, Lorenzo estava todo vestido, fazendo-a sentir-se agudamente consciente do tamanho de sua camisola. Não que ele a estivesse olhando. Olhava com desagrado algo no chão, perto da cama e da mala que não desfizera pois estava muito cansada na noite anterior. Agachou e pegou um corpete que tinha esquecido de guardar. Segurando-o entre os dedos, olhou-a interrogativamente. — O que é isso? — O que parece? — Parece algo que uma dançarina de cabaré poderia usar. — Faz... faz parte de meu enxoval — disse relutante. Certamente não queria que ele achasse ser algo trazido para usar nas férias. — Foi parar na minha mala... por engano. — Enxoval? Ia usar isso pensando em seduzir seu marido? O que ele era? Algum tipo de fetichista? Demorou alguns minutos até reagir. — É um corpete, só isso — disse furiosa. — Se quer dar a isso uma sórdida interpretação, problema seu. — Estava a um passo das lágrimas de humilhação quando lembrou-se da insegurança ao comprar o corpete, na esperança de que pudesse levar John a agir de forma mais impetuosa. — Está na moda. Algumas mulheres usam até para sair. — É, já vi. Exibem os seios como prostitutas para qualquer homem. Prostitutas? Por acaso estava sugerindo...? — Suponho que goste que suas mulheres se vistam — começou zangada, mas Lorenzo interrompeu-a. — Gosto de ver uma mulher vestida com algo que sugira a sexualidade em vez de exibi-la. Não com roupas que a façam parecer uma criança ou uma prostituta — disse deixando cair o corpete na cama. Uma criança? Por acaso estava se referindo à sua camisola? — Como está sua perna? — perguntou calmo, pegando uma xícara de café e andando até a sacada. De repente, o que parecia um lugar agradável, para usufruir do ar da manhã, tinha se tornado um espaço muito íntimo e diminuto. Teria deliberadamente se referido à sua perna agora porque imaginava o quanto ela tinha consciência de que seu defeito a tornava menos desejável como mulher? Se não tivesse jurado querer ficar longe do amor e dos homens para sempre, decidiu amargurada, com certeza Lorenzo 34
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conseguiria fazê-la tomar essa atitude. — Bem. Qualquer um pode ter cãibras, você sabe — disse na defensiva. — Mesmo alguém com duas pernas perfeitamente normais. — Você acha que as suas não são...? Há lugares no mundo onde pessoas, com freqüência crianças, sujeitas à injustiça de guerras que não compreendem, têm feridas, inclusive a perda de membros, que dariam tudo para ter um probleminha como o seu. Jodie ouviu-o furiosa. Como ousava passar-lhe um sermão? Logo ele que vivia uma vida privilegiada, totalmente afastada da realidade? — E o que você sabe sobre o sofrimento dos outros? — perguntou debochada. — Aposto que o mais próximo que esteve de testemunhar a destruição da guerra foi no jornal ou na televisão. Colocou a xícara na mesinha com um movimento zangado e tentou passar por ele para voltar ao quarto. Mas Lorenzo que voltara a olhar para o jardim, colocou-lhe a mão no braço para impedi-la. — Caterina está nos olhando do jardim — disse baixinho. — E daí? Botando a xícara de lado, virou-se e sussurrou: — E daí... Diminuiu a distância entre eles e ela não tinha como fugir. Os braços a envolveram, prendendo-a, o calor atravessando o tecido fino da camisola. As mãos seguraram-lhe as costas, curvando-a como se ela fosse totalmente flexível, dele para que fizesse o que bem lhe aprouvesse. Uma das mãos permaneceu em suas costas, puxando-a contra ele — colando-a, reconheceu tonta — enquanto a outra escorregoulhe pela nuca, os dedos enfiados na maciez dos cabelos, agarrando-os para que virasse a cabeça para trás e voltasse o rosto em direção ao dele. Tremendo da cabeça aos pés de raiva, o encarou. A cabeça dele bloqueou a luz do sol ao abaixá-la para que a boca se apossasse da sua. Jodie contraiu-se na defensiva, sem ousar se mover. Os lábios dele eram frios e duros. Podia sentir o cheiro de sabonete. Teimosa, recusou-se a retribuir o beijo. A ponta do dedo acariciou-lhe a parte de trás da orelha e a parte vulnerável do pescoço e um ligeiro tremor traiçoeiro galvanizou-lhe todo o corpo. Os lábios tocaram os seus, os olhos cinza brilhando, conscientes de terem feito seu corpo queimar, quando perguntou suave: — Você nem sabe beijar direito? E foi noiva! Abra a boca. Confrontada com a opção de ser tachada de uma mulher tão sexualmente inapta que não sabia nem beijar ou ceder a essa exigência arrogante, Jodie escolheu o orgulho feminino à raiva. Os lábios amoleceram e se afastaram. O brilho dourado de 35
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seu olhar mesclando-se ao prateado hipnótico dos olhos de Lorenzo como se fossem um imã atraindo-a para um destino do qual não podia escapar. Sua boca colou-se à dele e os braços envolveram-lhe o pescoço. Podia sentir o calor do sol nas costas, mas era o calor do toque de Lorenzo que fazia com que sua carne reagisse; a mão espalmada contra suas costas por cima da camisola enquanto ela ficava na ponta dos pés, colada nele, beijando-o numa intimidade sensual que normalmente a deixaria chocada. Podia sentir-lhe a mão agarrando-lhe a cintura e depois movendo-se para segurar-lhe os seios por baixo da camisola, a ponta do dedo roçando o mamilo subitamente duro, fazendo com que vibrassem como um arco manuseado por um experiente arqueiro. A outra mão massageava-lhe a base da espinha e depois desceu para acariciar a curva redonda de seu traseiro. A súbita investida sexual da língua contra a sua aproximou-a mais, a respiração escapando num suave ronronar de prazer. — O que é isso? — sussurrou Lorenzo. — Quer que eu acaricie e beije seus seios? Quer que eu coloque o bico do seu seio na boca e a leve ao auge do prazer? É isso que está pedindo com esse movimento de quadris? — Enquanto sussurrava, a mão de Lorenzo moveu-se para acariciar-lhe o sexo macio. Era isso que ela desejara por tanto tempo de John — desejo, intimidade, sensualidade — e usufruiu com todos seus sentidos, perdida num mundo particular de prazer erótico. Foi o som dos passos zangados contra o cascalho abaixo da sacada que a trouxe de volta à realidade, envergonhada diante da própria incoerência. — Você não tinha direito de agir assim — disse zangada. — Então por que não me impediu? — perguntou, displicente. Não o impedira porque estava gostando demais — percebeu sentindo-se culpada. — Você disse que não haveria... que não haveria intimidade entre nós — retorquiu, reagindo. — Isso não foi intimidade. Se quisesse intimidade, teria levado você para algum lugar onde ninguém nos visse e no momento, em vez de estar parada aqui, irritada comigo, estaria deitada por baixo de mim e as únicas palavras que pronunciaria seriam pedidos desesperados para que eu a possuísse. Como avisei, estava simplesmente demonstrando a Caterina que eu e você vamos nos casar. Ou está irritada por não estar deitada debaixo de mim, enquanto eu mostro a esse seu corpo virginal o que é sexo? — Eu não sou... — Não é virgem? É isso que vai me dizer? — Não. Ia dizer que não estou interessada em fazer sexo com você. — Então você é virgem? 36
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— E se for? É crime? — Por lei não. Mas contra a natureza é. Onde está o prazer de um livro fechado que nunca foi lido? Uma música que nunca foi cantada? Um cheiro que nunca encheu o ar com sua fragrância ou uma mulher que nunca gritou de prazer ao ser possuída? O silêncio foi subitamente interrompido pelo som de um carro chegando num pátio adjacente. — Deve ser Alfredo — disse Lorenzo, em tom profissional. — Venha até meu escritório assim que se vestir. Alfredo vai querer discutir toda a papelada necessária para nosso casamento. Ao vê-lo partir, Jodie pensou em dizer que mudara de idéia; acabar com aquela arrogância e arruinar-lhe o orgulho, como ele tinha feito com ela. Como podia ter reagido daquele jeito? Como pôde deixar cair a guarda a ponto de ter correspondido? Agora, obviamente, ele achava que poderia usar sua vulnerabilidade contra si mesma para que fizesse tudo que ele quisesse. Qualquer coisa. Cada uma das palavras que acabara de pronunciar, cada olhar tinham demonstrado que ele acreditava que ela lhe pertencia. Mas ela não era, e nunca ia ser. Ia deixar isso claro para ele. E se não conseguisse? O quanto queria realmente aparecer no casamento de John e Louise com o marido? O suficiente para correr o risco? Mais do que o suficiente, decidiu com renovada determinação enquanto pegava umas roupas limpas e caminhava para o chuveiro. Já que estava decidida, nada que Lorenzo dissesse ou fizesse iria alterar o fato de que simplesmente não queria um relacionamento íntimo — emocional ou físico — com outro homem. John tinha provado que não se pode confiar no sexo masculino e, se não podia confiar em John que dizia amá-la e querer se casar com ela, então certamente não ia se arriscar a confiar num homem como Lorenzo! Quinze minutos depois, de banho tomado e vestida, com o cabelo ainda úmido puxado para trás, Jodie hesitou do lado de fora da porta do estúdio-escritório que Lorenzo mostrara na noite anterior. Podia jurar que não tinha feito o menor barulho, mas, antes de levantar a mão para bater educadamente na porta, Lorenzo deve ter adivinhado sua presença porque abriu a porta e pegou-a pelo braço para conduzi-la à sala. Pegou-a pelo braço ou prendeu-a? Certamente, para qualquer um que olhasse, os dedos firmes em volta de seu punho pareceriam ao mesmo tempo protetores e possessivos... a pegada de um amante querendo estabelecer a exclusividade do relacionamento — mas, ela, é claro, sabia que não era isso. — Estava começando a me perguntar por que demorava tanto — disse. — Só demorei meia hora. — Me pareceu estarmos separados há séculos — disse carinhoso, dando-lhe uma 37
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olhada de tamanha sexualidade que ela não conseguiu evitar arregalar os olhos. Estava apavorada pelo impacto de descobrir que um olhar tinha o poder de despertar-lhe o desejo de tirar toda a roupa e explorar a maior intimidade possível. Ao mesmo tempo, ficava evidente que ele também queria proteger e manter o corpo e a mulher apenas para ele. Qual devia ser a sensação de ser verdadeiramente amada e desejada por um homem que olhasse desse jeito? Um homem que não tivesse medo ou vergonha de demonstrar os sentimentos? Mas Lorenzo não sentia nada por ela, lembrou-se, nem ela queria que ele sentisse. — Alfredo, deixe-me apresentá-la à minha futura esposa. O advogado tinha mais ou menos a mesma idade de Lorenzo, mas não era tão alto e atraente, pensou Jodie. Entretanto, tinha uns olhos castanhos muito bonitos e um sorriso afável. — Lorenzo estava me falando sobre você. Achei que estava exagerando, como é natural nos apaixonados, mas vejo que ele só estava fazendo justiça — cumprimentoua Alfredo afetuoso. O advogado de Lorenzo exagerava um pouco nos elogios. Jodie sabia, mas não pôde evitar retribuir o sorriso, sentindo-se logo à vontade. — Não estranho porque está tão ansioso para levá-la ao altar, Lorenzo — continuou Alfredo. — No seu lugar... — Mas você não está no meu lugar, está? — comentou Lorenzo com uma arrogância insuportável. Entretanto, o advogado não pareceu ofender-se. Riu e disse: — Não precisa ficar com ciúmes, meu amigo. Posso perceber que Jodie só tem olhos para você. — Enquanto Jodie ainda digeria essa mentira, continuou: — Estava perguntando a Lorenzo onde vocês se conheceram. Presumo que tenha sido no local daquele terrível terremoto. Sei que Lorenzo estava lá na função de conselheiro das autoridades governamentais encarregadas dos programas de ajuda. O que me faz lembrar, Lorenzo... como você me instruiu, já garanti a remessa de fundos para cobrir as despesas médicas com as crianças que farão parte do programa de recuperação. — Alfredo virou-se para Jodie e deu-lhe um sorriso charmoso: — Você já deve saber que seu futuro marido tem um coração de ouro e enfia a mão no bolso para ajudar os necessitados. Você o conheceu em alguma atividade beneficente? Jodie sentiu o rubor tomar conta do rosto ao se lembrar de suas acusações. E não podia nem mesmo se conceder a satisfação de acreditar que Lorenzo tivesse instruído o advogado a dizer o que acabara de dizer. Um olhar para a expressão irada de Lorenzo foi o bastante para deixar evidente que as revelações indiscretas de Alfredo não o tinham agradado. — Jodie não trabalha em nenhum programa de ajuda, Alfredo — interrompeu-o. — Encontrei-a a algum tempo, quando estive na Inglaterra, Tinha planejado trazê-la 38
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aqui para conhecer minha avó, mas infelizmente nonna morreu antes que eu pudesse fazê-lo... o que me traz ao assunto referente a Caterina, viúva de meu falecido primo. — Ela não pode pleitear o Castillo uma vez que você tenha respeitado os termos do testamento e se casado — garantiu Alfredo. — Nenhuma reivindicação quanto ao castelo, mas parece que Caterina julga ter direito a reivindicações quanto a mim — disse Lorenzo cínico. Alfredo franziu o cenho. — Mas isso é impossível. — Sem dúvida. Mas Caterina, como nós dois sabemos, é dada a exageros. Ridículo, chegou a sugerir que minha avó queria que eu me casasse com ela! Depois de acabar com o dinheiro de Gino e jogar o nome dele na sarjeta, parece que quer fazer o mesmo com o meu. — Ouvi uns boatos sobre ela — concordou Alfredo, desconfortável. — Não duvido. Não quero nenhum sobre meu casamento ou minha futura esposa, então talvez seja importante dizer algumas palavras nos ouvidos certos para avisar que ignorem qualquer coisa que Caterina possa vir a dizer... — sugeriu Lorenzo. — Uma idéia excelente — concordou Alfredo, enquanto Jodie escutava e digeria a forma sutil e letal com que Lorenzo desmontava a base de poder de Caterina. Quando se tratava de conseguir o que queria, Lorenzo era obviamente um oponente considerável. Um homem brutal, arrogante, perigoso — que, voluntariamente, dispensava tempo e dinheiro para ajudar as jovens vítimas de guerras e desastres distantes. Esse não era um único homem, mas dois homens diferentes sob a mesma pele — como Jano, o deus romano de dupla face, voltado para o início e para o fim, que deu origem ao mês de janeiro. Lorenzo era um enigma, o que o tornava um perigo tóxico. Mas não para ela. Nenhum homem voltaria a representar um perigo para ela. — Trouxe comigo todos os documentos que vão precisar assinar para preparar o casamento. O Cardeal foi de grande ajuda. Ele sugeriu a Igreja de Madonna, em Florença para a cerimônia e vai se ocupar dos proclamas para este domingo. Já que a lei estipula que devem ser lidos em dois domingos consecutivos, antes do casamento poder ser realizado, isso significa que vocês podem se casar daqui a duas semanas. Proclamas? Cerimônia religiosa? O casamento seria um negócio temporário, não precisava de celebração na igreja. Uma simples cerimônia civil bastava. Jodie deu um passo à frente, mas Lorenzo conseguiu interpor-se entre ela e Alfredo. Os dedos seguraram-lhe com determinação o punho e leu o aviso nos olhos dele quando levou a palma de sua mão até os lábios. — Você fez bem, Alfredo — disse em tom de aprovação, sem tirar o olhar dela. — Não acha, cara? Os lábios acariciam-lhe os nós dos dedos, um de cada vez, até que, indefesa, sentiu os dedos relaxarem, como se pedissem mais. 39
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— Também preparei os papéis necessários para que assinem o acordo financeiro. Tem um para você assinar, Jodie, renunciando a qualquer reivindicação financeira, no caso de divórcio, e o outro que você me pediu para redigir, Lorenzo, estabelecendo que, caso se separem após um período de um ano, pagará a Jodie um milhão de libras, mais um milhão de libras extra por cada ano que permanecerem casados. — Assinarei o documento renunciando a qualquer reivindicação futura, mas não o outro. — As palavras foram ditas sem pensar. Podia ver que Alfredo parecia ao mesmo tempo triste e ligeiramente embaraçado. — É claro que é desagradável para você discutir essas coisas agora, antes mesmo de se casarem, mas... — Não quero dinheiro. — Isso é algo que podemos discutir a sós depois — informou Lorenzo num tom de advertência, antes de sorrir para Alfredo e dizer: — Você tem um longo caminho até voltar para Roma; o quanto antes terminarmos com a papelada, melhor. — Por que uma cerimônia religiosa em vez de uma cerimônia civil? Alfredo partira há uma hora, mas o sistema de Jodie ainda produzia adrenalina a mil quando confrontou Lorenzo através da larga mesa de trabalho. — Por que não? É hábito em minha família e seria de se esperar... — Você devia ter me dito isso antes. Pensei que íamos ter apenas um casamento civil. Casar-se na igreja faria com que parecesse tão real... Lorenzo a olhava carrancudo. — Nosso casamento será real. Tem que ser "real", como você coloca, para que eu cumpra os termos do testamento. Mas não devemos consumá-lo. — Não, com certeza não — concordou Jodie veemente. — Estou começando a desejar nunca ter me envolvido nisso. — Tarde demais. Além do mais, vai ser bem remunerada. — Como já disse, não quero seu dinheiro. Tudo que quero de você é que compareça ao casamento de John e Louise. — Não poderia incluir essa cláusula no contrato de casamento. Do jeito que está, já pode dar margem a comentários e especulações sobre nosso relacionamento. Entretanto, você conta com Alfredo. Obviamente ele ficou com medo de ferir seus sentimentos ao mencionar os aspectos financeiros do casamento. — Você nunca poderia ferir meus sentimentos. Você não é importante o suficiente para mim, e eu pretendo me assegurar que nenhum homem o será daqui para a frente. — Você pretende morrer virgem? 40
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Ele estava debochando dela, sabia. — E se pretender? Há coisas mais importantes na vida do que sexo! — Como pode saber? Segundo você mesma admitiu, nunca experimentou... Jodie já tinha agüentado o suficiente. — Uma mulher não precisa de penetração para experimentar prazer sexual. Nem de um homem — disse com toda franqueza. — E essa a única forma com a qual se permitirá sentir prazer? Ou sozinha ou através de algum aparelho eletrônico que não pode... — Não! Não estava falando a meu respeito. Só quis dizer... Não vou ouvir mais nada. — Jodie ficou ruborizada e tapou as orelhas com as mãos. — Só estou chamando a atenção para o fato de você estar rejeitando algo sem tê-lo experimentado. — E você? Não está rejeitando o casamento? Pelo menos um casamento a sério... E nunca foi casado, foi? — Eu não me casei, mas já testemunhei o casamento de outros e vi como é destrutivo; como é usado para esconder mesquinharia e egoísmo e como as crianças têm que lidar com o fracasso dos pais. — Isso não é verdadeiro em todos os casamentos. Alguns não funcionam, é verdade, mas existem casamentos felizes. Meu primo e a mulher se amam profundamente, e meus pais foram felizes... — É mesmo? Então como esse maravilhoso gene, capaz de permitir que eles alcançassem esse raro estado de bênção, não foi transmitido a você? — Tudo reside na habilidade de escolher o parceiro certo. Percebi que não tenho essa habilidade e por isso não pretendo me apaixonar novamente. Mas isso não significa que não acredite no casamento ou que algumas pessoas — outras pessoas — tenham a capacidade de escolher o parceiro certo e assumir compromissos. — Só um tolo acredita que o amor sexual pode ser eterno — disse Lorenzo desafiante, como se esperasse que ela discordasse. Mas Jodie estava determinada a não se envolver em outras discussões relacionadas a sexo. Toda vez que o fazia, uma sensação estranha vinha à tona e pulsava de uma forma íntima que a impedia de se concentrar no que dizia. — Ah, por falar nisso — continuou Lorenzo — não pense que me convenceu com aquele ardiloso comentário sobre não querer um milhão de libras. O que tem em mente? Acha que se recusar agora vai estar, quando nos divorciarmos, numa situação privilegiada para pedir mais? Se for esse o caso, deixe-me avisá-la... Jodie já ouvira o suficiente. — Não, deixe que eu avise você que a única razão para me casar com você é 41
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poder mostrar a John que ele não é o único homem no mundo. Assim poderei voltar de cabeça erguida para casa, em vez de voltar como a coitadinha. E meu orgulho que me motiva, não o dinheiro. Não quero seu dinheiro! E muito menos sua... sua habilidade sexual... — Perfeito, porque não vou oferecê-la — disse Lorenzo. — Fico surpreso que nesses tempos modernos persista o mito de que homens adultos, sexualmente maduros, alimentem um desejo secreto pelo corpo intocado das virgens. Eu, pessoalmente, não posso pensar em nada menos excitante. Talvez por isso seu ex-noivo tenha trocado você por outra. Já pensou nisso? Se tinha pensado nisso? Durante semanas tinha passado noites e dias infindáveis sem pensar em outra coisa. Noites em que se deitava se perguntando como poderia se transformar de virgem em mulher experiente que poderia seduzi-lo e tirálo de Louise, como Louise havia feito. Mas isso tinha sido durante o inferno da rejeição e esses fogos, com sua compulsão perigosa e destrutiva de provar-se a si mesma como mulher, tinham esfriado. E certamente não iam ser reacendidos por um homem como Lorenzo — um homem que se comportava como se soubesse tudo a respeito da sensualidade das mulheres e da habilidade em excitá-la e aproveitar-se disso. A pulsação do corpo tornou-se intensa. Não apenas uma pulsação; o desejo se instalara.
CAPÍTULO SETE — Há outra coisa que quero dizer. Caterina parou na frente de Jodie, bloqueando-lhe a saída do bonito jardim que explorava. — Alfredo esteve aqui mais cedo. Por quê? — Você devia perguntar isso a Lorenzo e não a mim. — Jodie tentou afastar-se. — Ele não quer se casar com você. É a mim que deseja. Sempre me desejou e sempre desejará. Fui sua primeira mulher e serei a última. Mas, preferi me casar com o primo dele e Lorenzo quer me punir e demonstrar que não se importa comigo. Mas é mentira. Ainda me deseja e posso provar isso quando bem entender. Jodie queria rejeitar a informação sendo empurrada para ela, assim como as imagens chocantes que já se formavam em sua cabeça. A última coisa que queria era imaginar Lorenzo fazendo amor com Caterina. — Não sei o que lhe disse, mas o único motivo de estar se casando com você é porque sua teimosia e orgulho o fazem acreditar que tem que resistir aos próprios 42
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sentimentos em relação a mim para provar como é forte. A verdade é que Lorenzo tem medo do que sente por mim — declarou, acrescentando sarcástica: — Quando ele vai para a cama com você, é em mim que pensa, é a mim que imagina estar abraçando e é a mim que secretamente deseja estar abraçando. — Deu-lhe um olhar de desprezo — o mesmo tipo de olhar que Louise tinha dado. O coração pareceu perder o compasso e sentiu, como se fosse um eco, a dor e rejeição que se lembrava ter sentido e que lhe roubavam a autoconfiança duramente conquistada. — Você e Lorenzo podem ter sido amantes — começou corajosamente. — Podem? Não há "podem" nessa história. Nós fomos — interrompeu-a. — Ele me adorava, me idolatrava. Não conseguia resistir a mim. Sentiu um nó no estômago. Em sua cabeça podia ouvir Louise dizendo triunfante: — John não consegue resistir a mim. — Tivemos uma discussão... um mal-entendido. Lorenzo era jovem e temperamental. Não podia deixar que ele me tratasse daquele jeito então, para lhe dar uma lição, abandonei-o. Jodie podia imaginar como Lorenzo devia ter reagido àquele tratamento, orgulhoso como era. Mas, com certeza, o amor verdadeiro era mais forte que o orgulho. — Ele só vai se casar com você porque não sente nada por você. Lorenzo tem medo do que sente por mim e isso faz com que lute contra seu sentimento. Mas não vai lutar contra ele para sempre. Não pode. O desejo que sente por mim é forte demais. — Isso é ridículo — forçou-se a protestar. — Afinal, nada o impede de se casar com você. — A mãe dele é responsável por essa ridícula recusa em se casar comigo — insistiu Caterina zangada. — Por causa dela, ele teme declarar em público seu amor por mim. Por causa dela, ele tenta negá-lo, rejeitá-lo. Mas ainda posso fazê-lo me desejar. — A mãe dele não está morta? — Lorenzo nunca perdoou a mãe por trair o pai dele e deixá-los quando partiu com o amante. — Caterina deu de ombros com desdém. — Muito barulho por nada. Ele tinha sete anos e um pai rico o suficiente para poder providenciar todo o cuidado que precisava. Mas não, isso não era o bastante. Ele queria que a mãe voltasse... chegou a implorar. Gino me contou. Ele a adorava. Os dois fizeram isso: Lorenzo e o pai. Ela não podia cometer erros. Era uma santa para eles. Disse a Lorenzo, muitas vezes, que é loucura continuar a pensar no que aconteceu quando era criança. As mulheres abandonam os maridos e filhos a toda hora e Lorenzo vai deixar sua cama pela minha, se você for tola o suficiente para se casar com ele — avisou-a. — Vou me empenhar. E prometo que quando o fizer, ele não será capaz de resistir. Assim como John não tinha sido capaz de resistir a Louise. O que havia em mulheres como Louise e Caterina que tornava os homens tão vulneráveis e tão cegos a 43
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ponto de não perceberem como eram egoístas? Para uma mulher que dizia amar Lorenzo, não demonstrava muita simpatia por ele. Para um menino de sete anos, perder a mãe que amava tão intensamente quanto Caterina contara, Lorenzo devia ter sofrido efeitos psicológicos profundos. E se tivesse realmente amado Caterina, o casamento dela com o primo devia ter intensificado sua crença de que as mulheres não mereciam confiança e que eram amorais, superficiais e egoístas. O que estou fazendo? se perguntou Jodie. Não podia estar sentindo simpatia por Lorenzo. Enquanto via Caterina se afastar, agradeceu por não estar se casando com Lorenzo por amor. Jodie virou-se para admirar os muros do Castillo. Estava sozinha no jardim. Aparentemente, Caterina se cansara de dar conselhos sinistros. Não faria um casamento indesejado para possuir tal lugar, pensou, mas ela não era Lorenzo. Ser dono do lugar devia representar uma questão de orgulho de família. Ficou tensa ao ouvir passos, reconhecendo-os imediatamente como de Lorenzo. Uma potente mescla de perigo, excitação e desafio bombeava-lhe, de forma intoxicante, o corpo inteiro através das explosões aceleradas das batidas do coração. Era reconfortante comparar o que sentia agora com as emoções e sentimentos que sentira ao encontrar John pela primeira vez. As duas reações nada tinham em comum; portanto, o que sentia agora não era sinal de que se sentia atraída por Lorenzo. — Vi Caterina falando com você há pouco. Me conte o que ela disse. Era típico dele, é claro, que não apenas fizesse tal pedido, mas esperasse ser atendido — como se tivesse o direito de interrogá-la. Jodie foi clara: — Me disse que vocês eram amantes. — E o que mais? — perguntou. Sacudiu os ombros: — Que você faria qualquer coisa para ter a posse do Castillo — mas isso eu já sabia. E que sua mãe abandonou seu pai e você, quando pequenino — o que é claro eu não sabia. Agora ela obteve a reação que não havia obtido antes. Imediatamente a expressão de Lorenzo ficou dura. — Minha infância pertence ao passado e não tem nenhum influência no presente ou no futuro. Estava enganado, Era óbvio, pela reação dele, que a infância deixara feridas dolorosas abertas. — Como está sua perna? Percebi que você a esfregava mais cedo, quando Alfredo estava aqui. 44
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O que havia motivado o comentário? Preocupação em relação a ela? Ou uma tentativa deliberada de mudar de assunto? Jodie achava que sabia qual a resposta mais provável, mas isso não foi o suficiente para impedi-la de responder. — E um... hábito. Não, quer dizer... Minha perna está bem. — Estava se comportando como se ele lhe tivesse feito algum elogio inesperado, percebeu zangada. A rejeição de John devia ter afetado sua auto-estima, mas certamente não a tinha reduzido a um estado patético no qual se sentia grata a um homem por perguntar por sua saúde! Mas o comentário de Lorenzo a fizera lembrar-se de algo que precisava fazer. E agora é o momento certo, pensou, uma vez que o dia morria, o que significava que Lorenzo não poderia ver-lhe o rosto enrubescer. — Eu... eu lhe devo um pedido de desculpas — disse abruptamente. — Estava enganada ao sugerir que você não sabia nada sobre os horrores da guerra. — Está se desculpando por um erro de julgamento? Jodie olhou-o, naquele final da tarde tingido de azul-escuro, e descobriu que a curva da boca revelava a mesma descrença cínica que percebia-lhe na voz. — Estou. Mas se tivesse me contado sobre sua ajuda humanitária, eu não precisaria fazê-lo, certo? — Ah, foi o que pensei. Nunca conheci uma mulher que admitisse um erro. — Esse é o exagero mais ridículo que ouvi! — objetou imediatamente. — É o mesmo que dizer que... — Que você nunca mais vai confiar nos homens porque um homem a decepcionou... — sugeriu Lorenzo. — Não! Essa é uma decisão pessoal. Não quer dizer... e eu nunca disse... que não se pode confiar nos homens. Talvez devesse analisar mais detalhadamente o motivo de pensar desse jeito, no lugar de fazer acusações infundadas contra o meu sexo! — Isso foi um pedido de desculpas? — perguntou Lorenzo zombeteiro. Ela se sentiu tentada a dizer que mudara de idéia e que ele devia procurar outra para ajudá-lo a garantir seu castelo destruído. Mas a determinação de exibir um marido para substituir aquele que perdera, de forma tão humilhante, não a deixava tomar essa atitude. Suportaria qualquer coisa para poder gozar da doce satisfação de ver a expressão de John e de Louíse quando apresentasse "o marido". Não queria revanche ou dinheiro — essas aspirações negativas eram vazias e nada valiam — mas queria, de todo coração, experimentar a experiência de ver a cara de todos quando chegasse no casamento com Lorenzo. Com um marido bonito, multimilionário e com um título de nobreza, ninguém ia sentir pena dela ou olhar para sua perna quando achassem que ela não estava prestando atenção, ou cochichar sobre ela, explicando quem ela era e o que tinha 45
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acontecido. Sim, era superficial. Sim, era tolo. Sim, uma parte dela se envergonhava. Mas, mesmo assim, ia seguir adiante. E se acontecesse de ela chamar mais atenção que a noiva? Fantástico! Um leve arrepio ao constatar a própria força crescente passou-lhe pela pele. Há dois meses, se sentia tão por baixo que não podia nem supor esse tipo de sentimento. Quem sabia o que ela conseguiria depois do casamento ter terminado? Podia começar uma vida inteiramente nova, fazendo o que queria, sem ter que se preocupar em agradar mais homem nenhum. — O que você espera? Que ele se vire no altar, veja você e deixe a outra? — perguntou Lorenzo rudemente. — Como sabia que eu estava pensando em John? — Há um certo brilho em seus olhos quando pensa nele. — Bem, você está enganado — mentiu. — Não estava pensando nele. Pensava sobre o que vou fazer no futuro. Depois do acidente, não estava em condições de ir para a universidade ou receber um treinamento para fazer algo, mas agora nada me impede de fazê-lo. — Admirável! — disse Lorenzo, deixando claro que apreciava a declaração. — Agora, se não entrarmos logo, Maria vai sair para avisar que está na hora do jantar. Espero que goste de massa, porque é tudo que vai conseguir. Ela só faz comida caseira, mas pelo menos pode adicionar alguma carne em seus ossos. Talvez fosse magrinha demais — a dor emocional tem esse efeito sobre as pessoas — mas não havia necessidade de dizer isso, pensou Jodie enquanto se virava. — Tome cuidado. Tem um degrau... Mas era tarde demais e soltou um grito ao dar um passo em falso e tropeçar. Mãos poderosas a agarraram pela cintura e, como fizera antes, Lorenzo a pegou antes que tivesse atingido o chão, colocando-a de pé. Quando foi que seus instintos registraram a sutil mudança na forma como essas mãos a seguravam? O movimento que segurou-lhe o corpo e virou-o de forma impessoal aos dedos na cintura quando a segurou na busca pela feminilidade dessa curva? Ele a puxara realmente para perto? Ou tinha sido ela que se movera para perto? Nas sombras, era impossível ver o rosto dele ou avaliar qual das duas possibilidades promovera essa intimidade corpo-a-corpo, e ela esperou que fosse igualmente impossível para ele ler a expressão de seu rosto. Ele beijou-a apaixonadamente. Depois, sem uma palavra de desculpa ou explicação, soltou-a. Ela corria mais perigo de tropeçar do que antes, percebeu, pois as pernas tremiam.
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Jodie estava quase pegando no sono quando escutou o som da porta do quarto de Lorenzo abrir-se. Prendendo a respiração, concentrou-se, mas os passos firmes se afastaram, passando pelo seu quarto sem hesitação. Sentou-se e olhou o relógio. Já passava da meia-noite. Aonde estava indo? Encontrar-se com Caterina? E se fosse, não era de sua conta. E não havia motivo para ficar ali deitada sem pregar os olhos, checando o relógio a cada minuto, as orelhas sintonizadas no som dos passos, como uma amante enciumada.
CAPÍTULO OITO Florença! Como Lorenzo de Medici tinha amado essa cidade e demonstrado esse amor contratando os artistas mais talentosos da Renascença para embelezá-la e aumentar tanto sua glória quanto a da cidade! Jodie só conseguiu respirar normalmente ao sentar-se ao lado de Lorenzo na Ferrari, enquanto ele atravessava o trânsito frenético da cidade, absorvendo ao máximo as maravilhas a seu redor. Lorenzo saiu da estrada principal engarrafada, ladeada pelo rio Arno, e dirigiu a Ferrari por uma rua de construções elegantes do século XVII. — Meu apartamento fica no próximo quarteirão — informou casualmente, enquanto virava num beco e descia num estacionamento subterrâneo. Os olhos de Jodie, acostumados à rua ensolarada, se ajustaram à penumbra do estacionamento. Ele já tinha dito que morava em Florença, mas não tinha dissera ainda onde morariam depois do casamento. Se pudesse escolher, preferiria Florença, pensou ao deixarem o carro. Lorenzo a guiou em direção a uma porta, subiram um lance de escadas que os levou até um impressionante hall de entrada, no qual um igualmente impressionante brasão dominava a parede acima da porta principal. O mesmo brasão que vira na lareira do grande hall do Castillo. — Venha... o elevador é por aqui. Meu apartamento fica nos dois últimos andares. Escolhi esses apartamentos, quando remodelei o Palazzo, por causa da vista — embora minha avó costumasse se queixar pois queria que eu tivesse escolhido um apartamento no térreo. Não gostava de lugares fechados ou elevadores. — O Palazzo? Quer dizer que o prédio todo...? — Era originalmente a casa de minha família? Isso mesmo. O Palazzo foi construído pelo décimo duque, que tinha muitos negócios em Florença. Enquanto meu pai viveu, foi deixado de lado — assim como o Castillo. Quando o herdei tive que encarar duas escolhas: ou vendê-lo ou reformá-lo e descobrir uma forma fazê-lo se 47
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pagar. Convertê-lo num prédio de apartamentos me pareceu a opção mais sensata. Desse forma, podia manter o controle sobre as obras. — Então é aqui que vamos morar? — perguntou, ao sair do elevador e segui-lo por um hall elegante de mármore em direção a um par de portas de madeira. — Algumas vezes vamos morar em Florença sim, e é por isso... — Interrompeu o que estava prestes a dizer para destrancar as portas. Outro hall: um espaço vasto, retangular e pé direito alto. O teto era convexo no centro, pintado com cenas alegóricas da mitologia, enquanto as paredes eram cobertas de quadros. — Minha família foi, no passado, mecenas das artes. O décimo primeiro duque adorava entreter os visitantes ingleses que vinham a Florença nos séculos XVII e XVIII. Promovia festas no Palazzo e os salões da amante eram famosos. — Os salões da amante? — O duque era uma espécie de rebelde. Enquanto permanecia em Florença onde morava com a amante, a esposa e os filhos eram banidos para uma vila fora da cidade. Era um grande patrono da beleza em todas suas formas. Causou escândalo ao ter a amante retratada numa série de quadros, cada um numa diferente posição sexual pronta para recebê-lo. Corria o rumor de que, na verdade, para que o artista pudesse retratar fielmente os ângulos corretos do corpo, os esboços originais foram feitos enquanto ela e o duque faziam amor. Mas a figura do duque foi removida pela artista na pintura final, para que seu patrono pudesse visualizar o corpo da amante como se ela estivesse à sua espera. — Ah! A artista era uma mulher. Lorenzo deu de ombros. — Meu ancestral deve ter receado que para um artista homem um trabalho tão erótico estivesse além de seu controle. E corre o rumor que Cosimo persuadia a artista a abandonar o trabalho e unir-se a eles na busca do prazer sexual. Jodie não pôde se conter e olhou as paredes. Lorenzo comentou: — Não vai encontrá-las aqui; desapareceram há muito tempo — roubadas, dizem, por ordem de Napoleão. Ele ouvira falar delas e as queria. Se ainda existem, devem pertencer a algum colecionador particular. — Lorenzo voltou a dar de ombros. — O valor não estava na mão da artista que as pintou, mas em sua notoriedade. Olhou o relógio. — Quase 4h da tarde. Pedi que marcassem hora para você em um ateliê na Via Tornabuoni. A gerente compreende a situação e vai ajudá-la a escolher um guardaroupa adequado — incluindo um vestido de noiva. Não é muito longe daqui e... — Não! — Jodie viu o olhar altivo de Lorenzo. Obviamente não gostava de ter seus planos contestados. Azar. Não ia ser tratada feito uma boneca avoada que podia 48
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ser vestida por ele, com roupas caras, para satisfazer-lhe o modelo ideal de esposa. — Concordo que preciso comprar algo adequado para o casamento, mas sou perfeitamente capaz de fazer minhas próprias escolhas e pagar com meu dinheiro. Pense na quantidade de artefatos médicos que pode doar às crianças necessitadas em vez de gastar dinheiro com roupas para mim. — Seu ponto de vista é válido — concordou. — Mas a sociedade italiana, como qualquer outra, tem suas regras e obrigações. Se a minha esposa não se vestir como as outras, vão fazer comentários que podem levantar suspeitas quanto à validade de nosso casamento. Isso, por sua vez, poderia levar à contestação legal dos termos do testamento. Na verdade, não duvido que Caterina vá tentar tudo que estiver a seu alcance para isso. E, uma vez que a finalidade desse casamento é atender aos referidos termos, é necessário que ambos atendamos às expectativas da sociedade. Se você se sentir melhor, posso doar uma quantia igual à que você gastar com roupas. — Isso é suborno — respondeu, mas Lorenzo se afastou, deixando-a sem escolha a não ser segui-lo. Para sua surpresa, a galeria terminava numa secunda, também retangular e ainda mais comprida, contendo quadros e esculturas mais modernos. — Como meus ancestrais, substituo minha falta de habilidade artística apoiando aqueles que a possuem. — Lorenzo explicou. Mas Jodie não o escutava direito. Toda atenção estava voltada pra uma grande parede no meio da galeria onde se viam desenhos pouco elaborados, que pareciam feitos por crianças. — Ah, meus mais valiosos artistas. Jodie olhou-o insegura. — Parecem desenhos de crianças. — E é isso o que são. Esses desenhos foram feitos por crianças, vítimas de guerras, que perderam algumas vezes, não sempre, a mão principal. Foram feitos depois que receberam mãos mecânicas. Lágrimas brotaram dos olhos de Jodie. Piscando, disse: — Não me admira que os valorize tanto. Ele virou-se. — Vou apresentá-la a Assunta, minha governanta. Ela vai lhe mostrar o resto da casa enquanto faço umas ligações. Em outras palavras, estava entediado com sua companhia e queria livrar-se dela, pensou dez minutos depois, ao ser entregue aos cuidados de uma mulher de meia-idade de olhos espertos que a submeteu a uma análise detida e depois inclinou a cabeça. Num inglês excelente, disse calma: — Queira me acompanhar, por favor... 49
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Meia hora depois Jodie visitara todos os aposentos do apartamento, que ocupava não apenas um, mas dois andares do Palazzo e incluía um jardim na cobertura. Estava claro que Lorenzo preferia o design moderno ao antigo, mas tinha que admitir que as linhas da mobília complementavam os espaçosos aposentos com pédireito alto. Seu quarto, localizado em frente ao de Lorenzo, tinha sala de vestir e banheiro. Para alívio de Jodie, Assunta descontraiu-se e explicou ter trabalhado em Londres, num restaurante do primo do pai, e por isso aprendera inglês. Agora viúva, valorizava sua independência e acrescentou que até o momento estava satisfeita em trabalhar para Lorenzo. — Não vou interferir na maneira como você cuida da casa — assegurou-lhe, pegando a deixa. Não ia mesmo! Duvidava que Lorenzo fosse agradecer-lhe por ser a causa do pedido de demissão da governanta. — Minha prima Theresa é a governanta da vila, perto de Sienna. É um ótimo lugar para se criar bambini, com bastante espaço e ar fresco. Outra dica? pensou, enquanto tomava banho, lembrando-se da conversa. Bem, certamente não iria dar bambini a Lorenzo. O chuveiro continuou a molhar-lhe a pele com a ducha forte enquanto ficava parava e imagens de crianças pequenas de cabelos escuros apareciam. Ouviu uma batida na porta do banheiro e Lorenzo chamando: — Está na hora de sairmos. — Estou quase pronta — mentiu. Acreditando no que ela dissera, ele entrou no banheiro. Era possível ser pega numa situação tão desvantajosa, nua e pingando? pensou, as bochechas coradas, enquanto Lorenzo cruzava os braços e se apoiava na porta fechada. — Isso é quase pronta? — Não vou demorar a me enxugar e me vestir... — E levaria menos tempo ainda se ele não ficasse parado entre ela e a toalha felpuda no toalheiro do outro lado do banheiro. Por que não ia embora? Esperava que ela passasse por ele nua enquanto ele a submetia a uma análise detalhada, como fazia agora, estudando abertamente suas pernas? Não era seu hábito, mas virou-se de lado, tentando esconder a perna lesada, esquecendo-se dos seios e do triângulo de pêlos que lhe cobriam o sexo. — Quer dar uma olhada na minha perna? Sei que as cicatrizes não são bonitas, mas não se preocupe — posso cobri-las. Lorenzo levou um tempo movendo o olhar das pernas para o rosto, o coração quase explodindo. — Talvez devesse mandar pintá-la assim. Uma ninfa das águas, com pernas 50
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compridas o suficiente para fazer um homem imaginar como se sentiria ao tê-las enroscadas nele. Ou talvez deitada numa cama coberta de seda, com as pernas abertas, implorando pelo toque dos lábios do amante contra a carne macia. Essas são posições sexuais que exigem... Não! Não olhe para mim com esse olhar faminto de virgem nos olhos — disse sério. — Ou então vou ficar tentado a satisfazer essa fome. — Foi você quem entrou aqui. Não o convidei. — Mentirosa. Você me convida toda vez que me lança esses olhares virginais que traduzem a curiosidade sobre como será deitar-se com um homem. — Não é verdade — disse inflamada. — Se quisesse ter sexo com um homem, o que não quero, você seria o último homem que escolheria. Percebeu imediatamente que fora longe demais. Lorenzo era um macho tão arrogante que não havia chance de deixar que ela escapasse, depois desse desafio à sua masculinidade. Tarde demais. Ele caminhava em sua direção, ignorando tanto seu grito de protesto quanto o efeito que o corpo molhado causava nas roupas dele, ao arrancá-la do chuveiro e pegá-la no colo. — Me coloque no chão — pediu, mas Lorenzo não a escutou. Carregou-a em direção à cama, deitando-a na coberta de seda verde-claro e a manteve lá. Ajoelhou-se e perguntou suave: — Então, o que mais quer saber? Como é sentir a carícia de um homem aqui? — Ainda segurando-lhe o ombro com a mão esquerda, escorregou os dedos da mão direita por toda a extensão do corpo até o joelho e depois lentamente acariciou a parte interna das coxas. Indefesa, fechou os olhos quando a carne absorveu o toque e reagiu com uma série de arrepios sensuais que ricocheteavam sem parar. — Ah, então você gosta? E disso? — Os lábios cariciavam o ponto sensível atrás da orelha, transformando o desejo numa pulsação faminta. Jodie gemeu em protesto. Não tinha o direito de lazer isso com ela. Mas Lorenzo tinha obviamente interpretado mal seu gemido, porque murmurou: — Mais curiosidade? Muito bem, então vai ter a resposta. — A mão acariciou-lhe o corpo indo até o seio, segurando-o e depois esfregando o dedo no mamilo inchado até que tudo que ela pôde visualizar, em pensamento, foi a língua movendo-se em círculos no mamilo e lambendo-o ritmadamente. O desejo nunca representara problema para ela: não satisfazê-lo era o problema. Sempre imaginou que se sentiria assim, mas a imaginação não chegava perto da realidade, percebeu quando segurou os cabelos escuros e fartos de Lorenzo e empurrou-lhe a cabeça em direção ao mamilo. Na luz da tarde que enchia o quarto através das frestas da persiana, podia ver a ereção de Lorenzo e sentiu um doce triunfo diante da excitação dele. 51
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— Ainda curiosa? — A língua de Lorenzo lambeu o mamilo sensível. O corpo arqueou-se na direção dele pedindo mais. A palma mão dele foi parar entre suas pernas, cobrindo-lhe o sexo. Instintivamente, prendeu a respiração, desejando que ele separasse os lábios fechados de seu sexo e encontrasse o calor úmido que esperava ansiosamente por ele. Realidade, razão, responsabilidade foram esquecidas. Estava possuída por uma febre súbita que comandava todo seu sistema. Os dedos experientes atenderam o pedido silencioso, separando as partes macias e a acariciando lenta e demoradamente, fazendo-a gritar enquanto o corpo sacudia-se em resposta. — Agora você vê aonde sua curiosidade a levou — ouviu Lorenzo dizer. Mas não parou de lhe dar prazer. Pelo contrário, o toque se tornou mais forte, mais profundo até que a excitação transformou-se numa convulsão violenta e explodiu num intenso orgasmo. Permaneceu deitada, recusando-se a olhar Lorenzo. Sentia-se envergonhada e próxima às lágrimas. Não porque tinha tido um orgasmo — afinal não era a primeira vez... Mas daquele jeito? Com aquele homem? — Você não devia ter feito isso — finalmente conseguiu dizer. — Não — concordou Lorenzo. — Não devia. Jodie fechou os olhos. Ele se levantou. — Vou ligar para a loja e avisar que chegaremos atrasados. Por que tinha deixado isso acontecer? Por que não o impediu? A letargia pósorgasmo a dominava, enquanto tomava outro banho e se vestia o mais rápido possível, prometendo a si mesma que isso jamais voltaria a acontecer. Lorenzo era um homem — e italiano — provavelmente machista. E é claro que reagira assim para deixar claro quem mandava. Fora isso, não fazia idéia do motivo de ele ter agido assim. Lorenzo estava no estúdio. Olhava pela janela. Não era o tipo de homem que se permite ser levado pelas necessidades do corpo, então por que sucumbira agora? Ela era apenas uma mulher, só isso e nem era uma mulher sexualmente disponível. Não era sexualmente disponível, mas correspondia sexualmente... Lorenzo fechou os olhos e imediatamente reviu Jodie deitada nua na cama, entregando-se ao prazer... um prazer que ele lhe proporcionara. Imediatamente, ainda insatisfeito, sentiu a ereção. Não a podia desejar tanto assim. Querer a virgem que havia escolhido como esposa, por motivos puramente práticos, era uma complicação que não precisava no momento. Como tinha conseguido encontrar uma virgem, sexualmente curiosa e faminta, que o olhava convidativamente como Eva? Mas não tinha tempo para procurar outra substituta. No momento Caterina ainda estava chocada o suficiente para que ele ganhasse vantagem na guerra entre eles mas, uma vez recuperada do choque, voltaria às artimanhas e complôs sutis nos quais era mestra. Além disso, a essa altura toda 52
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Florença já conhecia a identidade da sua futura esposa. O que se veste para comprar roupas numa loja chique? pensou. Provavelmente não o que ela estava vestindo — o único jeans limpo e uma camiseta — mas não tinha jeito, só trouxera o essencial para a Itália. Finalmente conseguiu encontrar o caminho para o salão principal. Assim que entrou, ele a avisou: — O que aconteceu hoje não deve se repetir. Ele a olhava, falava com ela — quase lhe dava uma lição de moral! — como se ela fosse culpada, reconheceu indignada ao entrarem no elevador. — Você tem toda razão. Mas não fui eu quem provoquei. — Talvez não. Mas não me fez parar, fez? — O elevador chegou ao térreo. — Por que os homens sempre culpam as mulheres quando eles é que... — Começou exaltada até ser interrompida por Lorenzo. — Foi Eva quem ofereceu a maçã a Adão — lembrou-a, enquanto abria a porta do elevador para ela. — A eterna desculpa dos homens. A mulher me tentou... — Então você admite? — retorquiu, enquanto a guiava até a saída do prédio. — Não admito nada — respondeu zangada, piscando por causa da luz forte. — Vai levar menos tempo se formos a pé até a Via Tornabuoni. — Pegou-lhe o braço e assinalou o caminho que deviam seguir, ignorando-lhe a fúria. — Por aqui. Vamos cortar por esse beco que vai dar numa praça. Jodie esqueceu o aborrecimento e ficou sem respiração diante da beleza do lugar. Queria olhar tudo à sua volta, mas Lorenzo a apressava para a praça. Passaram por uma rua estreita, onde uma igreja antiga espremida entre os prédios, convidava os passantes com suas portas abertas. A Via Tornabuoni era uma avenida larga cheia de prédios imponentes e lojas ainda mais imponentes — tanto que Jodie se surpreendeu recuando ao chegar à loja. Um porteiro uniformizado abriu a porta. Uma jovem bem-cuidada, magra e penteada imaculadamente, parecendo mais um modelo do que uma vendedora surgiu, a atenção focada mais em Lorenzo do que em Jodie. É claro que não podia entender o que ele dizia, mas não havia como não compreender o impacto causado. Foram conduzidos ao fundo da loja numa área privada onde a Srta. Bem-cuidada desapareceu, sendo substituída por uma mulher ligeiramente mais velha e ainda mais deslumbrante, que se apresentou como a direttrice da loja. — Recebi seu recado e o passei ao maestro — informou em inglês. — O estilista selecionou vários vestidos e os enviou de Milão. — Deixava claro que deviam se sentir honrados, refletiu, mas tinha que admitir que era igualmente óbvio que a direttrice estava bastante impressionada com Lorenzo. 53
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Olhou Jodie e suspirou: — Bene, sua noiva não é alta, mas tem as medidas certas para nossas roupas. Se puder me acompanhar... — Tenho vários compromissos — desculpou-se Lorenzo. — Mas sei que posso deixar minha noiva em suas mãos. Venho buscá-la em duas horas. A direttrice ficou desapontada, mas resignou-se. Jodie, ao vê-lo sair disse a si mesma que era ridículo se sentir abandonada. Foi levada a uma sala particular, onde instalou-se numa cadeira dourada enquanto era apresentada a uma seleção de vestidos de noiva que, segundo explicou a direttrice, faziam parte da última coleção. Jodie não era uma viciada em moda, mas eles eram muito especiais. Foi forçada a admitir que corria o perigo de perder a cabeça. Mas, só podia levar um e ela selecionou um vestido que, na verdade, era um corpete ajustado com uma saia elegantemente franzida que vestiu muito bem. A direttrice aprovou: — Sim, esse é o vestido que escolheria para você. É bem simples, mas muito elegante; na verdade, um vestido de casamento para uma princesa. Calculamos seu número a partir da descrição do Duque. Tantas vezes um homem nos diz uma coisa e descobrimos... — Deu de ombros, resignada. — Mas felizmente o Duque estava certo. Meia hora depois, olhou-se no espelho. Uma jovem, quase uma estranha, a olhava. Jodie piscou e sentiu os olhos encherem-se de lágrimas emocionadas. Se seus pais a pudessem ver vestida assim. O vestido a fazia parecer mais alta, e realçava a cintura fina. Um casaquinho de renda com mangas 3/4 escondiam-lhe a pele. A cauda era tão comprida e pesada que ficou preocupada achando que não ia conseguir sustentá-la. — Está perfeito — a direttrice balançou a cabeça. — O maestro vai ficar tão satisfeito... Quanto às outras coisas de que precisa... Passou-se outra hora até que a direttrice finalmente se declarasse satisfeita. Jodie tinha um terno bem-modelado que podia ser usado à noite ou de dia, uma seleção de blusas para combinar, dois pares de calças incrivelmente bem-cortadas, um casaco de verão com uma saia combinando, dois bonitos vestidos, sapatos, bolsas e uma enorme quantidade de "itens-para-o-dia-a-dia" como a direttrice os chamou, da linha mais casual. A única maneira de suavizar a culpa diante de tamanho consumismo seria insistir para que Lorenzo mantivesse a promessa de doar o equivalente ao custo das roupas novas. Começava a se sentir cansada e ficou aliviada quando a porta abriu e Lorenzo entrou. 54
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— Tem tudo de que precisa? — perguntou. Jodie fez que sim. Agradecendo a direttrice, que prometeu mandar entregar as peças que precisavam de pequenos consertos no apartamento, na tarde seguinte, Lorenzo conduziu-a de volta à rua, agora escura. — Está com fome? — Muita — admitiu. — Tem um restaurante aqui perto onde servem uma comida típica simples, mas excelente. O restaurante estava localizado numa rua estreita, as mesas na calçada, poucas vazias. — Se me permite, posso recomendar algo... — ofereceu Lorenzo quando estavam sentados e o garçom tinha trazido os cardápios. — Por favor, mas nada muito pesado, senão não consigo dormir. — Muito bem. Então, para começar, que tal opinzimonio, que são legumes frescos com azeite? — Parece perfeito. — Depois, se não for muito pesado para você, pode tentar a lasagne ai forno. É a especialidade de Florença e diferente de todas as outras lasanhas que; provou — garantiu-lhe. Sorrindo, Jodie sacudiu a cabeça. — O que você vai pedir? — De entrada, o affettati misti, uma seleção de carnes frias, e como prato principal o Calamari in zimino, lula — explicou e Jodie fez uma careta. Famílias inteiras comiam juntas, notou, com um pingo de inveja. Sua família era David e Andrea e embora os dois se dessem bem, havia uma diferença de nove anos entre eles. David já estava casado quando seus pais morreram e os pais dele tinham voltado para o Canadá, país de origem da tia. — Providenciei para irmos ao banco amanhã de manhã — dizia Lorenzo. — E preciso assinar alguns documentos. Abri uma conta para você e o anel de noivado da família está no cofre, junto com outras jóias. O anel precisará ser limpo e possivelmente ajustado — embora, como você, minha mãe tivesse dedos muito finos. O primeiro prato chegou. Jodie descobriu que estava quase sem apetite. — Algo errado? — perguntou Lorenzo. — Não me agrada usar uma peça valiosa — disse com sinceridade. — Especialmente quando é uma relíquia de família. E se eu a perder? 55
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— Sou o chefe da família e você vai ser minha mulher. A tradição é que use o anel de noivado da família — disse com firmeza. — Não posso usar uma cópia? — insistiu. Lorenzo franziu a testa. — Se isso a incomoda tanto, vou pensar no assunto. Agora coma — ou Carlos vai achar que não gostou da comida e, para um florentino, isso seria um insulto. Na manhã seguinte, Lorenzo permitiu que Jodie apreciasse com mais calma a cidade, enquanto caminhavam até o banco. Usava uma das roupas novas: um traje que tinha apelidado de Roman Holiday, porque consistia numa calça Capri de linho estampado ferrugem e bege de cintura baixa, combinando com uma blusa lisa ferrugem. Sandálias de tiras e uma bolsinha completavam o modelo. Estava tão maravilhada que não percebia os olhares dos homens, mas Lorenzo percebia. As mulheres eram vulneráveis à admiração dos homens; isso lhes inflava o ego, como já sabia. Mas não se importava com o quanto outros homens achassem Jodie desejável pois não sentia nada por ela, nem ia se permitir sentir nada agora. — Por aqui. A instrução curta de Lorenzo lembrou Jodie o quanto detestava a arrogância dele. Não sentia nada, a não ser pena, pela pobre mulher que eventualmente viesse a ser sua esposa "de verdade". Nos dias de hoje, Florença era famosa pelas obras de arte, mas houve um tempo em que sua fama repousava na reputação dos banqueiros — dos quais a família Mediei fazia parte, lembrou-se Jodie quando entraram no banco frio e escuro, com aparência de catedral. As formalidades da abertura de uma conta bancária para ela foram imediatamente resolvidas, permitindo que eles fossem conduzidos pela escadaria de mármore a uma sala impressionante vigiada por dois guardas armados. Entregaram uma chave e os escoltaram a uma das várias saletas privadas, mobiliadas com uma mesa e várias cadeiras. Tiveram que esperar que o gerente e um dos guardas armados voltassem com uma caixa trancada, que foi colocada na frente de Lorenzo. Ele pegou a chave e colocou-a na fechadura. Só então foram deixados a sós. Apenas o som do ar condicionado quebrava o silêncio. Jodie literalmente prendia a respiração. Lorenzo levantou a tampa da caixa. Rapidamente Jodie afastou o olhar. Tinha sentimentos contraditórios sobre jóias antigas e valiosas. Para ela, sempre pareciam possuir uma história sombria — não só por causa da forma como tinham sido extraídas, mas também pelos atos de crueldade e mesquinharia das pessoas para possuí-las. Não era de admirar que dissessem que pedras de preços inestimáveis eram amaldiçoadas. 56
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Lorenzo olhou dentro do cofre. A última vez que a abrira tinha sido logo depois do falecimento da mãe. Teve o impulso de bater a tampa, pegá-la pela mão e sair para a luz e o calor do sol. Mas não podia agir assim. Era um Montesavro, o chefe da família e além do mais, que fantasma — se é que existiam — poderia ocultar-se nesse pedaço de metal? Os dedos fecharam-se em torno da familiar caixa de veludo que lhe lembrava a infância. — Aqui está — disse bruscamente, fechando o cofre e trancando-o antes de abrir a caixa do anel. — Diz a lenda que quando uma mulher pura coloca o anel, a pedra brilha com uma claridade particular. Minha mãe sempre culpava a pedra de estar embaçada — acrescentou cínico, enquanto Jodie olhava incrédula a imensa esmeralda retangular rodeada de diamantes cintilantes. — Não posso usar isso — protestou. — Ia morrer de medo de perdê-lo. Não ia me sentir segura a não ser que tivesse sempre um guarda armado comigo. Deve valer... — Sacudiu a cabeça e Lorenzo franziu o cenho, reconhecendo na voz dela, não excitação mas desgosto. Uma mulher que não ficava aborrecida por usar uma jóia cara? Esse tipo de mulher estava tão distante das que conhecera que não podia imaginar que ela existisse. — Vamos ver se serve em você, antes de discutirmos se vai ou não usá-lo — disse frio. A mão de Jodie tremeu quando Lorenzo segurou-lhe o pulso e deslizou o anel pelo seu dedo. Só o peso a fazia se sentir desconfortável. Jodie tentou retirá-lo. — Não, deixe! O tom peremptório da voz de Lorenzo chocou-a a ponto de paralisá-la. Lorenzo ficou apreensivo ao estudar o anel, levantando-lhe a mão para poder inspecioná-lo mais de perto. — O que está errado? — Olhe para ele e me diga o que vê. Relutante, obedeceu. — Não vejo nada — disse, confusa. Nem ele, reconheceu Lorenzo. O anel estava totalmente livre do vago embaçado que deixava a mãe tão insatisfeita. Um golpe de sorte? A diferença de reações químicas da pele de uma mulher para outra? Devia haver uma razão lógica para a limpidez da esmeralda quando usada por Jodie. Indiferente às emoções conflituosas que Lorenzo tentava reprimir, Jodie tirou o anel e devolveu-o. — Estou falando sério: não vou usá-lo. 57
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— Vamos ver. Certamente terá que usá-lo no domingo, quando formos à igreja para a leitura dos proclamas — informou-a Lorenzo. Ela conhecia alguém que ia morrer de inveja do seu anel de noivado, pensou meia hora depois, após terem deixado o banco. Esse alguém era Louise. Podia imaginar a reação dela se comparecesse ao casamento deles usando esse anel! Automaticamente, para se animar, tentou visualizar seu momento de triunfo — mas, de alguma forma, a enlevação desejada não estava lá. Mas esse era o único motivo de ter se metido nessa situação, permitindo que a intimidassem, manipulassem... e fizesse amor... com Lorenzo. Ou não?
CAPÍTULO NOVE Devia haver milhões de outras maneiras piores de passar os próximos doze meses do que explorar essa maravilhosa cidade, pensou Jodie feliz ao deixar, relutante, o Palácio Mediei e dirigir-se à Piazza Signoria. Tinha o dia só para ela já que Lorenzo anunciara mais cedo que tinha compromissos profissionais e só voltaria depois do almoço. Não que ela se importasse — nem um pingo. Apenas a visão de tantos casais passeando de mãos dadas a lembravam da ausência daquela presença dominadora e autoritária. Como poderia ser diferente? Estava determinada a não baixar a guarda emocional com nenhum homem e, mesmo que não fosse assim, seria uma idiota completa de se apaixonar por um homem como Lorenzo. Não, era apenas o sol de verão e o efeito da cidade que lhe davam essa tristeza. É claro que se Lorenzo estivesse com ela, seria capaz de contar detalhes da cidade melhor do que qualquer guia. Mas lembrou-se da tensão, mesmo quando discutiam os assuntos mais banais, que a deixava nervosa como se estivesse sempre com a adrenalina a mil, o corpo esperando... O quê? Que a tocasse novamente? Seus pensamentos a conduziam por caminhos perigosos... Tentou concentrar-se na praça, nas famosas esculturas, parando para checar o guia. Enquanto morasse ali, poderia tentar aprender italiano e tornar aquele ano algo útil para adicionar ao CV. Assim, ocuparia a cabeça, em vez de sentir o corpo assaltado pela excitação. Claro que Lorenzo seria um ótimo amante, pensou. Não precisava fazer amor com ele para saber! A cidade estava cheia de turistas e quando chegou ao Uffizi, tendo decidido deixar para explorar o Palazzo Vecchio em outra ocasião, começou a sentir cansaço e sede. Havia um bar na praça, perto do apartamento, e não demoraria para chegar lá. A pequena praça estava tão cheia que achou que não conseguiria uma mesa. Finalmente, encontrou uma e sentou-se com um suspiro de alívio. 58
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Meia hora depois, terminava a segunda xícara de café quando um italiano jovem e bonito aproximou-se da mesa. — Scusi, signorina — desculpou-se sorrindo sedutor. — Posso me sentar em sua mesa? O bar está cheio e... Ele era muito atraente e obviamente um especialista em reconhecer turistas solitárias, refletiu divertida ao retribuir o olhar. Do outro lado da praça, Lorenzo olhava o velho quadro descortinar-se à sua frente. Jovens florentinos tradicionalmente passavam os meses de verão flertando com turistas ingênuas. Isso era tão comum que era considerado um rito de passagem que começava com discretos flertes, nas ruas da cidade e terminava no quarto de hotel e outro nome na lista. E é claro que Jodie, com seu corpo feminino tão ansioso por recuperar o tempo perdido na adolescência, mesmo que não reconhecesse isso, sem dúvida cairia nas mãos desse jovem florentino como uma laranja madura. Lorenzo já podia ver como correspondia ao seu admirador, afastando ligeiramente a cabeça para olhá-lo, sem dúvida sorrir... Quantas vezes tinha visto a mãe dar aquele mesmo sorriso ao amante, quando, ainda pequeno, ela o usava para camuflar os primeiros encontros? Quando ele também tinha sorrido inocente para o homem com o qual ela planejava trair seu pai. Bem, não ia lhe dar a oportunidade de seguir o exemplo da mãe dele, não importa o quão profissional seu casamento fosse. Decidido, caminhou para o café. — Pode ficar com a mesa — disse gentilmente. — Eu já estava saindo. — Não... por que não fica e deixa que eu lhe convide para outra xícara de café? — sugeriu, inclinando-se e tocando-lhe o braço com a mão. Imediatamente Jodie levantou-se e deu um passo atrás, sacudindo a cabeça enquanto educadamente recusava o convite. — Não, obrigada. — Pôde perceber a surpresa nos olhos dele e teve que se controlar para não rir. Ele era muito bonito e, sem dúvida, costumava ser bem recebido e não recusado. Lorenzo estancou abruptamente ao ver a maneira como Jodie levantou-se da mesa e sacudiu a cabeça. A linguagem corporal deixava bem claro seus sentimentos e ele pôde ver pela postura do jovem que tinha consciência, assim como Lorenzo, de ter sido dispensado. Jodie levou a conta até o caixa e depois de pagá-la, começou a andar em direção ao apartamento de Lorenzo. Lorenzo ficou remoendo o pequeno incidente na cabeça, franzindo a testa. Tentou visualizar sua mãe ou Caterina fazendo o que Jodie tinha acabado de fazer, na mesma situação, sabendo que nenhuma das duas teria se afastado como ela fizera. Seria Jodie diferente? Seria ela aquela rara mulher que não era movida pelo ego e pela vaidade, que não precisava da constante atenção de novos admiradores? 59
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Ao passar pelo café, seu patrício já estava de olho em outra turista que, a julgar pela maneira como sorria, apreciava mais seu empenho do que Jodie havia feito. Tornara-se impossível entrar no apartamento sem parar na galeria das "crianças corajosas". Via sempre algo diferente nos quadros, Numa mesa baixinha, abaixo das pinturas, havia um álbum forrado de couro no qual Lorenzo anotara detalhes de cada criança cujo trabalho estava exposto na galeria. Estava lendo quando Lorenzo entrou. — Cansou de fazer turismo? — Meus pés se cansaram — admitiu. — Então resolvi voltar e ler um pouco. Comprei um monte de livros sobre Florença durante meu passeio. Alguns têm descrições em línguas diferentes, mas pensei que enquanto estiver aqui, gostaria de aprender italiano. — Uma vez que vamos ficar ora em Florença, ora no Castillo, talvez não fosse adequado se matricular num curso, se é nisso que estava pensando. Mas podíamos contratar um professor particular — propôs Lorenzo, acrescentando: — Já almoçou? Fez que não com a cabeça. — Parei para tomar um café na praça. — Fez uma pausa e torceu o nariz. — Não gostou? — O café estava ótimo, mas fui abordada por um desses paqueradores profissionais. É um dos inconvenientes de estar sozinha. — Algumas mulheres gostam da paquera. Jodie fechou o álbum e levantou-se. — Bem, eu não gostei. Lorenzo percebeu que estava sendo sincera. — Por que não pede a Assunta para preparar um almoço e servi-lo no jardim da cobertura? Pode ler seus guias para mim se quiser — em italiano. Jodie o olhava atônita e Lorenzo teve que admitir que estava tão surpreso quanto ela. Tinha pensado em passar a tarde trabalhando e não brincando de professor particular. Ela não queria estar ali e hesitou na porta da igreja onde os proclamas seriam lidos pela primeira vez. Embora percebesse sua relutância, Lorenzo deu um passo à frente e pegou-lhe o braço para não lhe deixar escolha. Teve que decidir o que vestir, optando por uma saia de linho branco e uma camiseta de mangas curtas marrom, sobre a qual enrolou um dos lindos xales de seda multicolorido que encontrou junto com as novas roupas, provavelmente uma lembrança da loja. Se necessário, poderia cobrir a cabeça com o xale. 60
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Ficou contente por ter optado por cores escuras ao ver Lorenzo vestido com um terno formal escuro, camisa branca e gravata. Incapaz de deixar de olhar para ele ansiosa, entrou num mundo totalmente desconhecido para ela. Reconheceu o quão arrogante ele se comportava. Se tirasse o terno e o vestisse com um traje de militar, ele poderia ser um príncipe Mediei da Renascença, pensou com um arrepio. A enorme esmeralda no dedo faiscava à luz do sol e alguém da pequena congregação, passando pela porta estreita, deu um suspiro — não sabia dizer se de surpresa ou choque, Embora ninguém falasse, era óbvio, pelos olhares trocados, que conheciam Lorenzo e Jodie sentia o peso da avaliação repousando nela bem como o do anel de noivado. As pessoas entravam no interior escuro da igreja e esgueiravam-se, ajoelhando imediatamente em oração e Jodie virou-se em direção ao banco mais próximo, mas Lorenzo sacudiu a cabeça e continuou andando. Os passos ecoavam no piso de pedra. No altar, o padre ajoelhou-se, a cabeça curvada em oração, enquanto a fumaça do incenso subia sob a luz que atravessava os vitrais. Tinham alcançado o primeiro banco e os olhos de Jodie esbugalharam ao reconhecer o brasão entalhado na madeira. Pouco à vontade, curvou a cabeça para rezar. Rezou por seus pais, por David e Andrea, por seus amigos e por todos aqueles que estavam em dificuldade e depois, para sua surpresa, pegou-se rezando para que Lorenzo pudesse fazer as pazes com seu passado. Embora soubesse o motivo de estarem na igreja, ainda não estava preparada para ouvir os proclamas — ou a emoção e tumulto sentidos. Imagens desconexas turvaram-lhe a visão: um dia ensolarado, os pais sorrindo para ela enquanto caminhavam juntos; o choque de tomar conhecimento da morte deles; os rostos infelizes da tia e do tio tentando explicar o que acontecera e que ela corria o risco de perder a perna; a primeira vez que conseguiu ficar de pé sozinha depois do acidente; a primeira vez que John a convidara para sair, encabulado, no pequeno escritório onde ela trabalhava para o pai dele; a primeira vez que ele a beijou e a decepção que sentiu por não ter ficado muito excitada. A pequena cerimônia da qual tomaram parte deveria enchê-la de orgulho. Deveria estar agora do lado de fora da igreja, sentindo-se feliz e não culpada. O padre sorriu afetuosamente, enquanto os congratulava, o que apenas aumentou o desconforto de Jodie. Ele era alto e surpreendentemente vigoroso, com um olhar penetrante. — Se quiser discutir qualquer assunto comigo, minha filha, estou à sua disposição — disse, num excelente inglês. — O testamento de minha avó fez com que mudássemos nossos planos de nos casarmos na Inglaterra e antecipássemos a data — informou-lhe Lorenzo, um pouco seco. — E estamos gratos pela cooperação. O padre inclinou a cabeça com gravidade e Lorenzo apoiou a mão nas costas de 61
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Jodie o que identificou como um gesto clássico de possessividade, conduzindo-a com firmeza. Podia sentir o calor da mão através da blusa. Um pensamento teimoso apareceu, como a fumaça de incenso subindo em direção à luz: se estivessem apaixonados, ela devia virar-se, olhá-lo e sorrir e a mão lhe acariciaria a pele, numa mútua promessa, ao retribuir o sorriso. Mas não estavam apaixonados e ela não tinha o menor desejo que estivessem! — Não queria casar na igreja — disse, quando voltavam para o Palazzo. — Me senti tão culpada quando o Padre Ignatius rezou por nós e pelo nosso casamento, sabendo que não è um casamento de verdade. — Você quer dizer que um casamento de verdade inclui vida sexual... — Não — negou, mas percebia pela expressão do rosto dele que não acreditava. — Casamento de verdade é muito mais do que simplesmente sexo — insistiu. — Mas sexo faz parte — e você, como nós dois sabemos, está perigosamente curiosa para experimentar ser possuída por ura homem. — Você insiste em repetir isso, mas não é verdade! — Seus lábios dizem uma coisa,mas seus olhos dizem outra. Ela podia ser virgem, mas mesmo assim reconhecia a tensão sexual crescente entre eles, decidiu trêmula. — Preciso voltar ao Castillo — disse Lorenzo subitamente. — Seria mais fácil deixá-la aqui em Florença, mas já que estamos noivos há pouco tempo, seria melhor se me acompanhasse. Quando será a próxima prova do vestido de noiva? — Quinta-feira. — Bene, até lá estaremos de volta. Jodie olhou o anel de esmeralda que acabara de tirar e guardar na caixa, antes de se preparar para dormir. Sabia que o apartamento tinha alarmes contra ladrões, mas mesmo assim não lhe agradava a idéia de manter aquele anel no quarto durante a noite e preferia que ele estivesse sob os cuidados de Lorenzo. Fechou a caixa, pegou-a e saiu do quarto. Hesitou um breve instante, antes de bater na porta do quarto de Lorenzo. Seu rápido "Si?" fez com que entrasse explicando: — Trouxe o anel para você. Queria que... — A voz desapareceu quando seu olhar repousou no torso dourado e liso revelado pela camisa desabotoada. — Você queria o quê? — perguntou, passando por ela para fechar a porta antes de tirar a camisa. A corrente dourada do relógio brilhou na lâmpada de cabeceira, o pêlo escuro do corpo, pura sexualidade masculina, hipnotizando-a. A boca ficou seca. Tocou os lábios com a língua, incapaz de responder, os 62
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sentidos tomados pela visão. Ele era tão arrogante, devastadora, magnificamente masculino. Se só de olhar aqueles ombros largos e aquele peito musculoso ficava assim, como ficaria se o visse totalmente nu? Soltou um suspiro profundo ao reconhecer o desejo tomando conta dela. — O anel — conseguiu pronunciar, estendendo a mão na qual estava a pequenina caixa. — Quero que fique com você. — Quer mesmo? Ou quer que eu fique com você, para satisfazer sua curiosidade e satisfazer você por tabela? Por baixo da raiva, um arrepio de excitação percorreu-a. Ele estava certo? Foi isso que inconscientemente viera buscar no quarto dele? Por que queria... esperava... Lorenzo percebeu-lhe os sentimentos. De alguma maneira, ela invadia-lhe os pensamentos, fazendo com que questionasse suas verdades — o que ele não queria questionar. Podia ser mais capaz de esconder o desejo do que ela, mas isso não significava que a superasse em controlá-lo. — Não vim aqui por esse motivo — protestou. — Só não queria ser responsável pelo anel. — Será que ele conseguia ouvir em sua voz, como ela, a própria dúvida quanto à motivação subconsciente? — Como também não quer ser responsável pela sua virgindade? — sugeriu Lorenzo. — Você está tomada por uma curiosidade virginal — admita! Ela está corroendo você, arde, mantendo-a acordada à noite, imaginando... desejando... — Não — suspirou, mas sabia que podia estar dizendo sim. — Não quero você — disse impetuosamente. — Não me quer, mas quer o que posso lhe dar: a experiência que o tempo internada no hospital lhe negou. Você quer saber como é tocar o corpo de um homem, ser possuída por um homem. Você pode negar tudo isso com isso — disse debochado, esfregando o dedo em seus lábios entreabertos — mas eu podia colar meus lábios nos seus e eles me diriam algo totalmente diferente. — Não! — repetiu, mas olhava indefesa dentro dos olhos dele, parada, imóvel quando ele se aproximou e lentamente percorreu-lhe os braços com as mãos, dos pulsos até os ombros. Tremeu, tamanho o prazer sensual e a expectativa. Ele a puxava para perto. Tão perto que o cheiro primitivo de macho engolfou-a. Colou os lábios no colarinho com um gemido e beijou, sofregamente, o pescoço, antes de passar a ponta da língua no pomo de Adão enquanto enfiava os dedos nos músculos dos ombros e colava-se nele. Era isso o que acontecia quando uma mulher era virgem? se perguntou Lorenzo, lutando para controlar a vontade alucinada de sentir-lhe a boca por toda parte. Essa necessidade selvagem — não pela possessão masculina, mas pelo direito de encontrar o próprio prazer da maneira que quisesse? E por que deveria impedi-la? Por que não 63
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deveria deixar que ela encontrasse o prazer onde e da forma que desejasse? Desceu o olhar e viu os mamilos eriçados, através da blusa de alças, e os instintos masculinos agitaram-se ferozmente. Segurou-lhe o rosto e tomou-lhe a boca, imprimindo à língua um ritmo lento enquanto abaixava a blusa com a mão livre até que os seios saltaram da roupa, mostrando sua cor creme e os mamilos marrons já inchados de excitação. Jodie nem ouviu quando emitiu um gemido de prazer ao sentir a carne nua de Lorenzo contra a sua. Estava perdida na própria volúpia. O pêlo sedoso roçava seus já sensíveis mamilos, a língua atrás da orelha a faziam esfregar-se nele, numa excitação descontrolada. Jodie podia ver a imagem no espelho e viu Lorenzo segurar-lhe o seio e descer a cabeça e acariciar-lhe o bico com movimentos eróticos da língua. Dessa vez quando curvou o corpo para entregar-se ao crescente prazer, ouviu o próprio grito de fêmea faminta. Mas o som do próprio desejo apenas aumentou a batida do sangue correndo em suas veias e espalhando um desejo carnal que lhe enfraqueceu os músculos e inundou-a numa auto-entrega. Quando Lorenzo segurou-a, passou os braços em torno dele e gemeu de prazer ao senti-lo sugar o bico do mamilo enquanto lhe tirava o resto da roupa. Quando a colocou na cama, ambos estavam nus e ele debruçava-se sobre ela, beijando devagar seu corpo faminto. Podia ver a força da ereção comprimir-lhe a barriga e ela ansiava tomá-lo entre as mãos e acariciá-lo. A sensação de Lorenzo contornando-lhe o umbigo com a ponta da língua enquanto a mão lentamente acariciava-lhe a parte interna da coxa diluía qualquer tentativa de externar algum tipo de resistência. Seu olhar enlevado estava fixo, despudorada e avidamente, na ereção. Lorenzo levantou a cabeça quando ela, hesitante, tomou-o na mão, os olhos abrindo-se ao deliciar-se com a textura e calor. Acariciou-o com fervorosa apreciação e aprovação. Lorenzo fechou os olhos e suspirou, incapaz de suportar o prazer do corpo deliciar-se com a exploração curiosa. Como se sentia poderosa ao tocar Lorenzo desse jeito e como se sentia fêmea, de um jeito que a conectava com a feminilidade universal. Era uma mulher despertando a excitação num homem, uma mulher que controlava e comandava, obtendo e proporcionando prazer. Seus dedos exploravam e acariciavam, os lábios entreabertos e a respiração exalavam um murmúrio de prazer ao sentir que Lorenzo não conseguia se controlar. Ele se sentia tão firme e, ao mesmo tempo, tão maleável. Um desejo suave tomou conta de Jodie e ela se sentiu tentada a inclinar a cabeça e... — Não! A rispidez da recusa de Lorenzo foi como um choque. Confusão e decepção escureceram-lhe os olhos ao encontrarem os dele e depois voltaram-se a fixar na 64
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rigidez pulsante. Lorenzo sabia que se deixasse não seria capaz de se controlar. Ela já o tinha excitado além de seus limites. Se a deixasse acariciá-lo tão intimamente, ia possuí-la. — Por que não? — protestou. — Não podemos ir até o fim. Jodie insistiu pois também estava muito excitada e o desejo insatisfeito chegava a doer. — Por que não? — Não tenho preservativos e não quero correr o risco de fazer um filho que não quero e que terei que sustentar — Não teria sido melhor pensar nisso antes? — Afastou-se dele, saiu da cama, pegou as roupas e vestiu-se apressada. Não ia deixá-lo perceber o quanto a rejeição a fazia recordar-se do passado ou o quanto ele a ferira. E não queria que ele soubesse o quão envergonhada e excitada estava. Como tinha sido tola acreditando que lhe controlava o desejo. Nesse relacionamento, não tinha controle sobre nada, decidiu amarga, enquanto praticamente corria, desesperada para chegar ao quarto.
CAPÍTULO DEZ Jodie ficou nervosa ao ouvir o som que esperava acordada. O ruído, agora familiar, da porta do quarto de Lorenzo sendo aberta devagarzinho. Em dois dias se casariam mas, em pelo menos quatro ocasiões, Jodie ouviu Lorenzo deixar o quarto, tarde da noite, para voltar mais ou menos uma hora depois. E Caterina ainda estava morando no Castillo, nos aposentos da falecida avó de Lorenzo. Se Caterina tivesse posto em prática a ameaça de ter Lorenzo de volta em sua cama, tinha o direito de saber. Mesmo sendo apenas uma esposa de fachada. Saindo da cama, pegou o roupão e calçou sapatos com sola de borracha. Estava decidida a pegar Lorenzo em flagrante. Ser uma esposa de fachada era uma coisa, mas ser a esposa indesejada de um homem com uma amante era outra bem diferente. E não tinha intenção de deixar que ele a colocasse nessa situação. Apressou-se até o topo das escadas e enquanto olhava ansiosa para baixo viu a sombra de Lorenzo mover-se sorrateiramente pelo corredor. Determinada, correu atrás dele, perguntando-se por que ele não tinha usado o corredor do andar de cima que levava aos aposentos de Caterina. 65
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Inúmeras passagens estreitas levavam a um hall que unia a parte antiga à nova, acrescentada no século XVII. Aonde ele tinha entrado? Havia uma luz nas escadas que conduziam ao andar inferior. Ofegando, nervosa, foi naquela direção. As escadas ficavam exatamente debaixo do apartamento de Caterina, então talvez... Deu um grito apavorado quando, da escuridão, uma mão segurou-lhe o pulso. — Que diabos está fazendo? — Lorenzo! Ele devia ter percebido que ela o seguia e esperou para surpreendê-la. — Queria saber onde estava indo. É a quarta vez! que escuto você deixar o quarto de madrugada — disse atrevida. — Você estava me espionando? O olhar inquisidor a fazia sentir-se extremamente desconfortável, mas não ia deixar que ele percebesse.; — Se vamos nos casar, tenho o direito de saber se você faz sexo com Caterina. — O quê? — Não me caso com você, se isso estiver acontecendo. Estou falando sério. — Você está dizendo que está bisbilhotando, me seguindo, por achar que ia me pegar na cama de Caterina? Colocado dessa forma, ele a fazia parecer uma psicopata, pensou culpada. Como poderia explicar que ao rejeitá-la, demonstrando a mesma falta de interesse sexual de John, havia não apenas aumentado sua insegurança, mas a fizera imaginar que, como John, Lorenzo satisfazia seus instintos sexuais com outra? — Não pode negar que você e ela já foram amantes. — Já. Mas isso faz quase vinte anos; eu era um garoto. — Ela diz que você ainda a deseja. — Ela pode pensar o que quiser, mas está enganada — disse com firmeza. Os dedos ainda seguravam-lhe o pulso. Súbito, ele soltou um palavrão e perguntou: — Quer saber aonde vou? Pois bem, venha comigo. Andava tão rápido pelo corredor estreito, parecido com um túnel, que Jodie quase precisou correr. O ar era úmido. Arrepiou-se e soltou uma exclamação chocada ao chegarem a uma pesada porta e ouvir Lorenzo dizer sem emoção: — O corredor aqui embaixo era conhecido como via eternal, porque levava às masmorras e salas de tortura. — Salas de tortura? — repetiu em tom de repulsa. Lorenzo apenas sacudiu os ombros, enquanto destrancava e abria a porta. — Eram consideradas essenciais na guerra. 66
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— Nos tempos medievais, talvez. Mas... — Não apenas nos tempos medievais — interrompeu Lorenzo, a voz e a expressão tão ameaçadoras que ela estremeceu. Atrás da porta, uma sala enorme e cavernosa com teto baixo e abobadado. Prateleiras de vinho vazias contra uma das paredes e uma goteira pingando. — Não se preocupe — disse, seguindo-lhe o olhar ansioso. — O teto é seguro e o frio no ar, apesar de desagradável, tem seus méritos. — Torturar mais os prisioneiros? — sugeriu Jodie, cortante. — O primeiro marido de minha avó ficou preso aqui. A surpreendente falta de emoção na voz de Lorenzo a chocou. — Ele era contra Mussolini e cometeu o erro de verbalizar isso. Foi aprisionado e torturado na própria casa. Minha avó nunca conseguiu superar o trauma. Voltou a casar-se, mas o coração ficou com ele. Muitas vezes me disse que se pudesse teria preferido retirar-se num convento e levar uma vida contemplativa, mas tinha prometido a ele que daria à casa um herdeiro. O casamento com meu avô foi arranjado pelo primeiro marido em seu leito de morte devido aos ferimentos infligidos pelos torturadores. Eles roubaram muitas obras de arte e esvaziaram a cave— acrescentou, acenando para as prateleiras vazias. — Mas não conseguiram pegar um tesouro. Olhou atônita a sala fria e vazia. — Aqui? — Não. Venha comigo. Conduziu-a por uma pequena porta que abria para outro lance de escadas. — Essas conduzem ao salão principal dos aposentos principais. — Os de Caterina? — perguntou insegura. — Ela dorme no quarto da minha avó, que faz parte dos aposentos principais — motivo pelo qual uso as escadas para chegar ao salão, em vez de usar as escadas do corredor principal. — No salão principal, escondida pelo tecido com que o primeiro marido de minha avó mandou forrar as paredes, está uma série de afrescos pintados por um discípulo de Leonardo. Embora, de acordo com minha avó, a lenda da família insista que foi o próprio Mestre quem os executou. Entraram num aposento grande e elegante, com as paredes cobertas de seda verde. O quarto estava negligenciado, empoeirado, mas reinava um suave cheiro de rosas. — O Duque tinha medo que os homens de Mussolini pudessem reivindicar o Castillo por causa das pinturas, então mandou cobri-las. Seu sonho era que um dia fossem totalmente restauradas. Nossa família é grande e alguns membros acham que o 67
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Castillo deveria ser vendido. Minha avó quis deixá-lo para mim porque sabia que eu realizaria a promessa que fez ao primeiro marido em seu leito de morte. — Então por que estipulou a condição do casamento? — Isso foi por conta da interferência de Caterina. Minha avó era uma senhora gentil que só pensava nos outros. Depois da morte de Gino, Caterina teve a chance de convencer nonna que nos amávamos em segredo e que eu queria me casar com ela. Ela é interesseira e o casamento com meu primo lhe deu status. Esperava subir ainda mais, armando uma cilada para que eu me casasse com ela. Só se interessa por dinheiro e posição social. Jodie ficou apreensiva. Seus instintos lhe diziam que ele falava a verdade e que Caterina mentira. — Caterina sabe como o castelo é importante para mim — continuou Lorenzo. — Gino havia contado sobre minha promessa à nossa avó. Felizmente, o tabelião de minha avó conseguiu esconder de Caterina o fato de ter omitido o nome dela da cópia assinada do testamento, então só consta que eu devo me casar, em vez de constar que devo me casar com Caterina. E se a situação já não fosse por si só complicada, ela tem encorajado um grupo russo a acreditar que vale a pena comprar o Castillo. Eles pretendem convertê-lo num hotel de luxo. — Mas por que você vem aqui à noite? — Porque não posso vir de dia, quando Caterina está aqui e porque tenho a necessidade de voltar ao passado, assegurar ao homem que deu a vida para preserválas que farei o possível para realizar seu sonho. — Deu de ombros. — Ao mesmo tempo, também tenho um sonho. Gostaria de ver o Castillo virar um centro de reabilitação para jovens vítimas da guerra — um lugar onde possam se recobrar física e emocionalmente. Quero que seja um centro para jovens artistas e artesãos bemdotados que trabalharão na restauração necessária e treinarão os jovens aprendizes para seguir seus passos. Quero banir do Castillo e das vidas das vítimas da guerra os lugares escuros e sombrios e, em seu lugar, enchê-los de luz e de alegria de viver. As reuniões que venho mantendo em Florença estão relacionadas a meus planos. Assim que nos casarmos e o castelo for legalmente meu, minha primeira tarefa será dar início à restauração das pinturas. Jodie precisou piscar os olhos sem cessar para afugentar as lágrimas tolas e a desconfiança que dera lugar à admiração. — Parece maravilhoso, uma empreitada realmente nobre. — Caterina não pensa assim. Ela preferia, sem sombra de dúvida, que o lugar fosse vendido e ela tivesse direito à minha parte para fazer o que bem entendesse. Levou meu primo à morte e mesmo que a amasse, jamais a perdoaria por isso. Jodie estremeceu. — Mas deve tê-la amado um dia... 68
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— Por quê? Por que fiz sexo com ela? — Lorenzo sacudiu a cabeça. — Tinha 18 anos e era comandado pelos desejos do meu corpo, só isso. — Como estava sendo comandado agora, desejando pegar Jodie e levá-la para a cama, para poder terminar o que começara na noite em que ela devolveu o anel para ele. Desde então, não passou uma única noite sem pensar nisso. Ela o tinha tocado de um jeito que nenhuma mulher tinha conseguido, sua figura invadia-lhe a mente e lhe roubava os pensamentos, enquanto o corpo pulsava. Zangado, lutou contra o desejo que tomava conta dele. Toda noiva fica nervosa — se consolava, enquanto o eficiente estilista, uma costureira e uma ajudante, irromperam em seu quarto. Quem poderia imaginar que um casamento discreto envolvesse tantos planejamentos estratégicos? Jodie suspeitava que era o vestido e não ela a causa da insistência do estilista em cuidar de todos os detalhes de sua aparência no dia do casamento — incluindo tratamentos num spa que arranjara para Jodie no dia anterior. Agora, massageada, depilada e maquilada, Jodie tentava imaginar como se sentiria se tudo fosse, real. Como ficaria diante da perspectiva de fazer os votos a um homem que amava e fosse correspondida? Mas é claro que isso nunca ia acontecer. Porque nunca amaria um homem, certo? Certo? repetiu insistente, quando a pergunta encontrou o silêncio como resposta. — Não, precisa apertar mais — ouviu o estilista instruindo a costureira. Mas o ar lhe faltava. O cabelo tinha sido arrumado numa mistura artística de fiapos soltos num coque e coberto com uma rede invisível com diamantes para completar o bordado de pérolas e diamantes do vestido. Um maquilador tinha passado o que lhe pareceu horas trabalhando no seu rosto, para fazer parecer que ela não usava nenhuma maquilagem, apenas um brilho suave, e uma sombra dourada-esverdeada nas pálpebras que fazia com que os olhos parecessem enormes e refletissem o brilho da esmeralda. Quando o estilista ficou satisfeito com a finura da cintura, Jodie teve medo de desmaiar pela impossibilidade de respirar. — Venha ver — insistiu o estilista, colocando-a em frente ao espelho de corpo inteiro. A imagem refletida não lhe era familiar. Olhos dourados enormes, envoltos por cílios negros curvos a olhavam e lábios rosados, mais carnudos que os seus, separaramse para mostrar dentes brancos como neve. O corpete do vestido revelava seios fartos e uma cintura finíssima, enquanto camadas de anáguas cobriam pernas que pareciam gigantescas, graças ao salto alto. — Bene — pronunciou o estilista. — Agora a saia. Só Deus sabe como poderia ter se vestido sozinha, refletiu Jodie meia hora depois, quando tanto a saia quanto a cauda tinham finalmente sido arrumadas e o véu e 69
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o corpete de renda haviam sido colocados para cobrir-lhe o cabelo e a pele. Bateram na porta e ela ouviu uma conversa sussurrada. Em seguida, o estilista lhe entregou as flores e disse apressado: — Está na hora...
CAPÍTULO ONZE Finalmente chegara ao fim: a cerimônia na igreja, os cumprimentos dos convidados, os amigos de Lorenzo, inclusive o advogado e a charmosa esposa e o almoço que Cario insistira em preparar. Um total de nove horas, durante as quais Jodie não tinha ousado comer ou beber, quanto mais sentar-se. Finalmente estavam a sós. Assunta havia preparado uma comida leve antes de ir à igreja assistir ao casamento. Estava tão exausta que mal conseguia manter-se em pé. O corpete tinha se transformado num instrumento de tortura, do qual ansiava se livrar. No hall do apartamento, dirigiu-se para a escadaria, segurando a saia comprida. — Está cansada? Mal podia balançar a cabeça. Cansaço não era o suficiente para descrever tamanha exaustão física e emocional. Exaustão emocional? Por que motivo exatamente? Sentiu vontade de dar um chute na voz interna indesejável. Afinal, sabia muito bem como se sentira parada ao lado de Lorenzo, enquanto o padre celebrava o casamento. A luz das janelas tinha iluminado seu rosto, mas as luzes internas, iluminando a compreensão da verdade que não queria reconhecer, haviam sido bem mais poderosas. Odiou o sentimento de fraude, de culpa e vergonha com que usavam votos que deveriam ser sagrados para atender aos próprios interesses. — Vou subir com você — ouviu Lorenzo dizer. Como um simples vestido podia pesar tanto? Ao atingir o topo das escadas o coração estava acelerado sentia-se tonta. Do lado de fora do quarto, Lorenzo tocou-lhe o ombro levemente e perguntou frio: — Você tem um minuto...? Tinham acabado de se casar e ele perguntava se ela linha um minuto, como se fossem apenas conhecidos. Mas não era isso exatamente o que eram? Sabia que ele esperava que ela atravessasse o corredor e o seguisse até o quarto. A perna doía. Entrou no quarto dele e ficou o mais próximo possível da porta, recusando-se a 70
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olhar a cama. Lorenzo andara até a cômoda onde pegou algo e agora vinha em sua direção. — Sabendo como se sente com relação à esmeralda, achei que ia preferir usar esse. Ah, e depois pode ficar com ele, se quiser. Em silêncio, pegou a pequenina caixa e a abriu. Dentro, um solitário de diamante. Calada, olhou-o. — Não poderia ficar com o anel. Deve ter sido muito caro. Lorenzo a olhava como se a recusa o desagradasse. — Como quiser. Não faz diferença. — Como nosso casamento — disse Jodie. — Eu realmente preferia não ter a cerimônia religiosa. Me fez sentir... — Calou-se e sacudiu a cabeça ao perceber a impossibilidade de fazer Lorenzo compreender como se sentia. Foi acometida de uma tonteira, seguida pela chocante constatação de que estava prestes a desmaiar. Instintivamente, tentou pegar o objeto sólido mais próximo, que por acaso era Lorenzo. Quando balançou em direção a ele, Lorenzo a pegou. — É o vestido — conseguiu dizer. — Está muito apertado... No minuto seguinte ele a virava, segurando-a com um dos braços enquanto examinava o abotoamento do corpete e perguntava: — Por que não disse nada? Como isso sai? — A saia e a cauda têm que sair antes do corpete — disse baixinho. — Estão presos nele. Antes que pudesse impedi-lo, ele desabotoava a roupa com brutalidade. Quando estavam todos soltos, a cauda e a saia deslizaram até o chão, deixando Jodie parada com suas meias de seda, salto alto, minúsculos shorts masculinos — e o insuportável corpete apertado. — Que deu em você para usar algo tão apertado? — Não foi minha idéia. Foi da estilista — admitiu — Ela insistiu que deviam estar bem apertados. — Como é preso? — É amarrado por dentro e depois preso com colchetes. — Só o esforço de falar a deixava enjoada diante da inabilidade de encher os pulmões de ar. — Não se mexa — disse Lorenzo, deixando-a no meio do quarto enquanto ia à cômoda e abria uma gaveta. Voltou segurando uma tesoura. — Não, você não pode... — Mas era tarde. Ele já cortava o tecido, ignorando-lhe os protestos. 71
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Quase gritou de alívio quando o corpete caiu. — Dio! É um milagre que não tenha ficado sem circulação — disse, em tom de crítica, ao ver as marcas vermelhas onde o corpete tinha lhe cortado a carne. — Por que não disse antes que a perna estava doendo? — Porque não está — mentiu. — Está sim. Vou fazer uma massagem. — Não precisa. Vou ficar bem agora que estou livre do corpete. — Dobrou os braços escondendo os seios, só então tomando consciência da nudez, mas ao mudar o peso de uma perna para a outra uma dor aguda atingiu-lhe a perna e emitiu um gemido. Lorenzo murmurou algo que não conseguiu entender e depois pegou-a no colo, ignorando seu débil protesto enquanto a levava para a cama. — Você é a mulher mais teimosa que já conheci — disse ao colocá-la na cama. — Agora deite-se e eu vou massagear sua perna. Ela quis recusar — mais por orgulho do que por qualquer outra coisa — mas a verdade é que a perna doía mesmo e a idéia de livrar-se da dor era tentadora demais para ser recusada. Silenciosamente deitou-se fechou os olhos. Tinha esquecido das meias e ficou tensa quando Lorenzo as tirou — tão profissionalmente como se ela fosse de plástico e não uma mulher de carne e osso, reconheceu debochada. Mas sua pele sabia que ele era um homem e a resposta aos movimentos firmes dos dedos massageando-lhe os músculos doloridos da coxa não; era nada profissional. Tinha deitado de bruços para esconder os seios nus e a expressão do rosto — não por vergonha, mas por medo do que poderiam revelar. Agora, ao sentir os mamilos enrijecendo quando os dedos apertavam a perna dolorida, estava contente pela decisão. A medida que os dedos afastaram a dor, começou a sentir uma pulsação que se tornou mais forte até que o desejo espalhava-se por cada nervo. Sentindo-se desconfortável, afastou-se e tentou sentar-se, com medo que Lorenzo adivinhasse o que ela experimentava. — Qual o problema? Está preocupada achando que posso tentar seduzi-la? — Debochava dela. — Claro que não. Por que pensaria isso? Afinal, já sei que você não me deseja. Tinha se virado e estava sentada. Mas não podia sair da cama porque Lorenzo estava de pé bem na sua frente. — E você quer que eu a deseje? — Não. — Mentirosa! — acusou-a. Ficou chocada quando ele a colocou de pé. — Mas, afinal, mentir é natural para as pessoas de seu sexo... 72
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É verdade, estava mentindo, admitiu. Porque não tinha outra alternativa, outro jeito de se proteger. Por que ele se comportava daquele jeito? Sabia, através do relato de Caterina, que as experiências com a mãe infiel o fizeram desprezar as mulheres e sentir a necessidade de se proteger, mas não havia motivo para puni-la. Assim como ela não podia rotular todos homens de traidores e mentirosos por causa de John. Engoliu em seco, incapaz de ignorar sua crítica voz interior. — Você está mentindo. Admita. — Admitir o quê? — desafiou-o. — Que eu quero você? Por quê? O que ganharia com isso? Você não me quer. Tudo que quer de mim é que eu lhe dê motivos para confirmar que todas as mulheres são iguais à sua mãe e Caterina. Bem, não são. Você quer que eu minta porque assim pode continuar a dizer que as mulheres são todas iguais. Porque tem medo de querer... — Chega! Jodie tentou protestar, mas não teve tempo. A boca já cobria a sua, as mãos machucando-lhe a pele macia dos braços ao puxá-la contra o peito com tanta força que sentia os botões da camisa pressionando-lhe a pele. — Não tenho medo de nada — sussurrou Lorenzo contra sua boca. — Muito menos de desejar você. E para prová-lo... Antes que pudesse escapar, beijou-a profundamente enquanto as mãos alisaramlhe o corpo até pegar-lhe os seios. Deveria fazê-lo parar. Mas o desejo era mais forte que a força de vontade. O momento de raiva entre eles desencadeara a paixão em Lorenzo que acendeu a sua. Ele segurou-lhe a cabeça, enfiando os dedos em seus cabelos e expondo a vulnerabilidade do pescoço ao sensual ataque de seus lábios. Arrepios de prazer sensual e ilícito começaram onde a boca acariciou-lhe a pele e terminaram no coração, levando-a a um lugar onde a realidade não existia e tudo que importava era deixar-se levar pelo desejo. Ele tinha lhe capturado o mamilo entre os dedos da mão livre e brincava com ele, a princípio de leve até que ambos ficaram intumescidos de excitação. A sensação erótica parecia enviar um milhão de choques, aumentando o prazer de tal maneira que se deixou dominar quando ele sugou-lhe o seio, enfraquecendo-lhe não só a força de vontade como os ossos focando toda sua concentração não nos alertas, mas no calor úmido entre as pernas que ansiava pelo toque de Lorenzo. Tinha verbalizado o que queria? Comunicado a ele, de alguma forma, pensou tonta, quando os dedos: soltaram seus cabelos e a mão acariciou-lhe o corpo, passando pelos quadris, as mãos apertando as curvas das nádegas e puxando-a contra o corpo para que sentisse como ele estava duro e excitado. Beijou-a com intimidade e acariciou-lhe o estômago. Depois passou os dedos pelo cós da calcinha, provocando-a com um toque audacioso que a fez colar-se ainda mais a ele até que ele correspondeu a 73
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seu desejo e enfiou a mão pela calcinha para apalpar-lhe o sexo. Completamente perdida, gemeu de prazer quando ele esfregou-lhe os dedos. A sensação do movimento lento dos dedos ao redor de sua feminilidade era, ao mesmo tempo, um prazer e um tormento quase insuportáveis. Queria que ele continuasse, mas o queria dentro dela, preenchendo-a, satisfazendo-lhe a ânsia que a consumia. Gritou quando ele puxou-lhe devagarzinho o clitóris e sua mão buscou-lhe a ereção, visível através das roupas que impediam, de forma frustrante, a total intimidade do toque. — Espere — ouviu-o dizer. Depois, ele a levantou, colocando-a de volta na cama antes de despi-la. Ela ficou deitada nos travesseiros, olhando-o faminta, desavergonhada, a respiração entrecortada, a mão no próprio sexo, não para protegêlo, mas para acalmá-lo. A nudez dele excitou-a. Não conseguia tirar os olhos do tamanho do membro que surgia ereto entre os pêlos. Passou-lhe pela cabeça que devia sentir um medo virginal e não esse delírio de excitação febril. Ele se debruçava sobre ela, retirandolhe as calcinhas, olhando-a enquanto o fazia. Excitação e choque a sufocaram quando ele enfiou um dedo em sua carne. Gulosa, suspendeu o corpo e o dedo percorreu-a novamente, acariciando-lhe a intumescência clamando por atenção. Em seguida, lenta, deliberadamente, enfiou-o. Jodie arfou e gemeu de prazer ao senti-lo abri-la, ainda a acariciando. O corpo cobria o seu e ele a beijava. Retribuiu o beijo com furor, parando apenas quando sentiu ter perdido os dedos-fornecedores-de-prazer. Afastou o olhar e o rosto ficou vermelho quando ele colocou-lhe os dedos nos lábios e disse: — Prove seu gosto em mim. — Hesitante, abriu a boca e deixou que ele os colocasse, fechando os olhos e obedecendo ao sussurro: — Chupe meus dedos. — Ela deliciou-se com o gosto do próprio prazer misturado ao da pele dele e sentiu o poder do afrodisíaco que ele lhe oferecia. Agora estava completamente perdida, escrava da própria sexualidade quando as mãos e a boca de Lorenzo acariciaram todas as partes de seu corpo: ombros, parte interna do braço, seios, barriga. Ela se contorcia e gemia, procurava-o com as mãos e a boca, saboreando o gosto intenso dele, sentindo o cheiro de macho e mergulhou no impacto erótico dos próprios sentidos. Curvou-se para passar a ponta da língua no sexo dele, mas Lorenzo não permitiu. A língua dele explorava-a, traçando um caminho sensual de frenesi na umidade de seu sexo, esfregando-lhe o clitóris, levando-a muito além da imaginação. Queria tanto ele. Tanto... Abruptamente, a realidade interrompeu a excitação e ficou tensa. Empurrou Lorenzo, mas o corpo reclamava por lhe ter sido negado o prazer. Lorenzo sentou-se desconcertado e fez menção de torná-la nos braços, mas ela resistiu e sacudiu a cabeça, dizendo violentamente: — Não! 74
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— O quê? O que está dizendo? Você me quer... se entregava... — insistiu. — Você quer provar que somos todas mentirosas e infiéis como sua mãe. É verdade, eu quero você — concordou trêmula. — Mas, acima de tudo, exijo respeito. Enquanto falava, desvencilhava-se do abraço e saiu da cama, pegando às pressas as roupas espalhadas, consciente de que Lorenzo a olhava, mas sem ousar encará-lo com receio de não resistir. Lorenzo deitou e fixou o teto. O desejo que sentia era apenas físico, só isso, E o sentimento, apenas raiva por Jodie ter ousado dizer o que dissera. Ela não significava nada para ele. Nada! O vazio que ela deixara na cama era uma bênção e não uma lástima. Assim como agradeceria o vazio que deixaria ao sair de sua vida, assegurou a si mesmo. O motivo pelo qual ficara tão excitado e encantado com sua doçura era simplesmente porque há muito não tinha uma mulher na cama. E isso era uma necessidade que podia satisfazer. Bastava um telefonema. E se não conseguisse falar com nenhuma das várias mulheres que conhecia e que ficariam satisfeitíssimas em receber um convite — sabia, embora não por experiência própria, que Florença, como qualquer outra cidade, tinha prostitutas caras, de alta classe, que sabiam como agradar um homem sem exigir nada além do pagamento. Mas por que pagar uma prostituta quando pensar em uma era o suficiente para esfriar-lhe o desejo sexual? Quando encontrou Caterina pela primeira vez, ela não fez segredo do fato que tivera vários amantes ricos, mesmo que depois tenha alegado não ser verdade e que ele tinha entendido mal. E a mãe dele, os presentes caros que recebera... um prêmio pela infidelidade, mesmo que tivessem sido só de um amante. O coração começou a bater raivoso. Ele se levantou da cama. Cinco minutos depois, debaixo do chuveiro, sentiu o batimento cardíaco voltar ao normal. O que o deixou furioso foi que Jodie, a quem tinha começado a considerar sensata e racional, começasse a fazer acusações ridículas e infundadas. Como ousara acusá-lo de ser tão emocionalmente instável que queria que ela se deitasse com ele apenas para reforçar a crença que o sexo feminino não merecia confiança? Tinha provado que confiava nela, falado sobre coisas tão caras a seu coração que nunca as revelara a mais ninguém. Será que realmente pensava que depois inventaria um motivo para desconfiar dela? Era absurdo: como se ele fosse uma criança em pânico tentando se proteger por medo de amar. Afinal, não tinha medo de se apaixonar por ela nem lutava desesperadamente contra isso, certo? Certo? Desligou o chuveiro e pegou uma toalha.
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CAPÍTULO DOZE Estavam casados há quase uma semana e durante esse período não mencionaram a noite do casamento. Lorenzo era educado, frio e indiferente quando estavam juntos e Jodie passava tanto tempo fazendo turismo que à noite caía dormindo exausta. Mas agora estavam de volta ao Castillo, a documentação final estava pronta e a propriedade fora transferida para Lorenzo. — Não esqueci que tenho que cumprir minha parte da barganha. Tomei as medidas necessárias para viajarmos no final da semana para o casamento de seu exnoivo. Fiz reserva no hotel Cotswolds, em Lower Slaughter. Conhece? — Conheço. — Se era o hotel que imaginava, era exclusivo e caro. — Achei que ia querer manter distância de sua casa. — Quero sim — concordou. Certamente não queria que ninguém soubesse que ela e o cara com quem acabara de se casar dormiam em quartos separados. Especialmente quando esfregaria seu estado de recém-casada-feliz no nariz de todos. Soltou um longo suspiro. — Estive pensando. Não sei se é uma boa idéia... seguir em frente com o que tinha planejado. — Mas esse foi o motivo de ter concordado em se casar comigo. — Eu sei. Estavam no hall e Lorenzo fechou a cara ao ver a pilha de malas e caixas jogadas no chão. — Discutimos isso depois — disse a Jodie quando a porta interna abriu. Caterina apareceu, declarando dramática: — Então, voltou para cantar vitória e me expulsar? Bem, chegou atrasado. Eu mesma decidi partir. Você acha que ganhou o jogo, Lorenzo. Na verdade, não ganhou nada além dessa ruína e uma esposa que não deseja. E tudo isso para quê? Para manter umas pinturas velhas e a promessa feita a uma velha — zombou. — Podíamos ter tanto juntos, mas agora é tarde demais. Ilya vem me buscar daqui a pouco. — Ilya? — Ele mesmo. Nos conhecemos quando ele mostrou interesse em comprar esse lugar. Tem sido um bom... amigo. E agora... —Fez cara de zangada e em seguida soltou uma gargalhada. — Ele é seu amante? — Por que responderia? Mas sim, somos amantes e vamos nos casar assim que o 76
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divórcio dele sair. Vai mandar um motorista e alguém para pegar minhas coisas. Virou-se e olhou para Jodie. — Cuidado para que Lorenzo não a use como me usou. E, se o fizer, cuide-se para não engravidar porque ele vai forçá-la a abortar como fez comigo. — Jodie se sentiu desfalecer. Olhou agitada em direção a Lorenzo, esperando que ele negasse as horríveis acusações de Caterina, mas ele simplesmente girou nos calcanhares e saiu. — Não é verdade. Não pode ser. Lorenzo jamais... — O quê? Já está apaixonada por ele? — debochou. — Sua tola. Você não significa nada para ele e nunca significará. E é verdade. Lorenzo me forçou a abortar. Se não acredita, pergunte a ele. Ele não vai poupá-la e mentir. Não Lorenzo. Seu orgulho não permitiria. — Começou a rir e passou por Jodie quando um carro entrou no pátio. Jodie não fazia idéia de quanto tempo ficara parada ali, sentada sozinha no jardim, tentando lidar com a turbulência das emoções. Não era verdade o que Caterina dissera, dizia a si mesma. Não estava apaixonada por Lorenzo. Mas o desejava. Desejo físico não era amor. Mas era uma manifestação de amor. Não podia amar um homem que não a amava e nem sabia o que era o amor. Mas e se o amasse? — Está escurecendo e se ficar do lado de fora muito mais tempo, corre o risco de sentir dor na perna. Não tinha ouvido Lorenzo chegar e, automaticamente, moveu-se para as sombras pois tinha medo do que ele pudesse ler a expressão de seu rosto. Retesou-se quando ele se sentou a seu lado. — Você está certo. Melhor entrar — disse sem emoção na voz. — Por que não quer ir à Inglaterra? — O quê? — Jodie olhou-o sem nada demonstrar. Tinha esquecido a conversa, devido ao nervosismo gerado pelos comentários de Caterina. — Tem que haver uma razão — insistiu Lorenzo. — Não sei se quero ir — admitiu relutante. — Na ocasião, parecia uma boa idéia e ... e chegou a fazer sentido. Mas agora... — Agora seu passado parecia tão distante e ela não se importava com o que John e Louise faziam ou pensavam, porque agora... Porque agora o quê? Não queria abrir espaço para esse medo que crescia dentro dela como uma erva daninha. Essa mudança radical se dava por estar se apaixonando por Lorenzo? Se apaixonando? Isso significava que estava no meio de um ato que podia ser interrompido, decidiu aliviada, agarrando-se a este pensamento desesperada. E iria interrompê-lo, decidiu. 77
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— Acho que devíamos ir. — Você acha? — Receava que se discutisse os motivos ele podia desconfiar que ela estava se apaixonando por ele. Não queria isso de jeito nenhum. — Acho. Isso vai ajudá-la a colocar um ponto final nessa história e então seguir sua vida. — Hummmmmm. Acho que está certo. — Eu sei que estou — afirmou Lorenzo. — Só gostaria... — De quê? De ter se casado com Caterina? — Não — negou enfático. — É... é verdade o que ela disse? Sobre o bebê? — sussurrou, incapaz de não fazer a pergunta que a consumia desde que Caterina fizera a acusação. — É — admitiu Lorenzo. Jodie estremeceu. — Seu próprio filho! — protestou enojada. — Como...? — Não! Não era meu filho. Mas isso não diminui minha culpa. Não pensei... Esse foi o problema. Eu não pensei; apenas assumi, com a arrogância e estupidez típicas da juventude, que... — Calou-se e Jodie sentiu a tensão vibrar. — Caterina e Gino estavam noivos há uns seis meses quando ela me confessou que estava saindo com outro cara. Nunca me perdoou por ter terminado nosso breve relacionamento e deve ter pensado que me deixaria com ciúmes. Me contou que ia ter o filho, mas tinha dito a Gino que a criança era dele. Fiquei zangado por causa do meu primo. Sabia que ele a amava profundamente. Tentei fazê-la mudar de idéia. Disse que devia contar a Gino a verdade ou então eu mesmo o faria. Queria que Gino soubesse o que ela era e — é verdade! — esperava que ele rompesse o noivado. Para seu próprio bem. Mas em vez de contar a verdade a Gino, ela interrompeu a gravidez e disse a Gino que tinha perdido o bebê. Ele ficou arrasado e propôs se casarem imediatamente. Ou seja, graças à minha interferência, uma vida perdeu-se e outra foi destruída. Jodie ficou com pena. — Não foi sua responsabilidade. — Foi sim. Se eu não tivesse interferido, ela teria o bebê. — E continuaria mentindo para seu primo. — Tentei bancar Deus e nenhum homem deve fazer isso. Tentei fazê-la mudar o comportamento porque não tinha sido capaz de mudar o de minha mãe. Ela deixou a mim e a meu pai para ficar com o amante. Caterina ficou com Gino, mas como minha mãe, sacrificou o filho para atender a seus propósitos. Foi como se eu tivesse matado meu próprio irmão. Ao ouvir a dor na voz dele, ocorreu-lhe que Caterina devia saber como ele reagiria e que a decisão dela havia sido motivada pelo desejo de infligir-lhe essa dor e 78
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culpa. — Nunca vou me perdoar. Nunca! — Foi Caterina quem tomou a decisão, não você — contra-argumentou. — Era o filho dela, o corpo dela. Você nem era o pai. — Se eu fosse o pai, jamais permitiria que ela o tirasse — disse. — Nem que eu tivesse que trancá-la por nove meses. — Ficou quieto por um momento, depois falou ainda mais baixo: — Uma vez minha mãe uma vez me disse que eu não fora desejado. Nem mesmo desejara se casar com meu pai. Sofreu uma enorme pressão familiar e decidiu que casando-se escaparia do controle severo dos pais. — A voz de Lorenzo estava gélida. — Tive tanta sorte em ter pais que se amavam e me amavam — comentou Jodie suave. Não podia imaginar como devia ser para uma criança pequena ouvir da mãe que não tinha sido desejado. — Ela era uma criança quando se casou. Tinha 17 anos e meu pai 24. Ele a amava intensamente. O amante era um piloto de corridas que conheceu através de uma amiga. Muito mais interessante que meu pai. Costumava me levar, quando se encontrava com ele. Eu não fazia idéia da verdade. Achava... Ele me mostrou o carro e... E você gostou dele, reconheceu aflita. Você gostou dele e depois se sentiu como se tivesse traído seu pai — assim como sua mãe tinha feito. — Eles acabaram fugindo e minha mãe morreu de septicemia na América do Sul, onde ele estava correndo. Meu pai nunca se recuperou da perda e eu jurei que nunca... — Confiaria em outra mulher... — concluiu. — Deixaria que minhas emoções me controlassem — corrigiu-a. — Nós realmente precisamos continuar casados por um ano? — perguntou. — Afinal, você já conseguiu o Castillo, Caterina foi embora... — Nosso acordo foi ficarmos casados por um ano — lembrou-a. — Qualquer mudança daria margem a fofocas e especulações e embora Caterina tenha partido, pode contestar o testamento se achar que pode ganhar o processo. Não quero isso. — Doze meses parece tanto tempo. — Não mais do que quando você concordou em ficar comigo por esse período. Mas então ela não sabia o que sabia agora. Não sabia que corria o risco de se apaixonar por ele, que cada dia ao lado dele, o perigo aumentava. Mas não podia contar-lhe isso. — O que vai acontecer com o Castillo agora? — perguntou, sabendo que não havia nada que pudesse explicar sua relutância em continuar com ele, sem desvendar seus sentimentos. — Estou providenciando para que vários especialistas venham aqui e inspecionem 79
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as pinturas para discutirmos a melhor maneira de restaurá-las. Também pretendo dar início a obras para converter o Castillo num centro de reabilitação e artístico. Já falei com vários restauradores de Florença e outros artesãos, mas nada disso lhe interessa. Jodie curvou a cabeça para que ele não visse como as palavras de descaso a magoaram. Mas é claro que ele não a via como parte do futuro que planejava. Por que o faria? Qual seu problema? O fato de sentir uma proximidade com Jodie que nunca experimentara com mais ninguém não significava nada. E certamente não significava que estava se apaixonando. Podia perceber que ficava tenso, como se tentasse bloquear os pensamentos e sentimentos; não apenas bloqueá-los, mas extingui-los por completo. Porque tinha medo de deixá-los existir? Durante séculos, por ignorância e preconceito, os homens buscaram controlar o que temiam destruindo-o. Estava fazendo o mesmo? Se sentia tanto medo do efeito que exercia sobre ele, então por que não aproveitava a chance de se ver livre dela? Porque não estava com medo nenhum. Por que teria? O que havia para temer? Jodie não significava nada para ele, e quando chegasse a hora de seguirem caminhos separados, seria capaz de fazê-lo sem o menor escrúpulo ou arrependimento.
CAPÍTULO TREZE O vôo de Florença num jato executivo, seguido de um de helicóptero do aeroporto de Heathrow até o hotel, tinha sido realizado com tamanha rapidez e luxo que Jodie se sentia protagonista de um filme. Foram conduzidos do helicóptero para a suíte com tamanha reverência que ela se divertiu e achou que Lorenzo parecia mais arrogante do que nunca. O deslumbrante hotel Cotswolds, do século XVII, era, originalmente, uma residência. Agora, de propriedade de um consórcio de empresários ricos que o compraram e remodelaram como se fosse um clube campestre para membros exclusivos, era voltado para os ricos e exigentes e o local favorito de festas dos famosos. O restaurante, com estrelas do Michelin, era fabuloso e seletivo quanto à clientela e o spa, o local favorito das celebridades. Diziam que um grupo de freqüentadores muito ricos instalara, nas dependências do hotel, um clube de jogo, no qual fortunas eram perdidas e ganhas. Do hall de entrada, com antiguidades e aparência de casa de campo, à decoração da suíte com vasos enfeitados com as mesmas flores do casamento às últimas edições de revistas de negócios italianas, respirava-se exclusividade e atenção aos mínimos detalhes. 80
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Definitivamente era um outro mundo, pensou, quando o mordomo exclusivo assegurou-lhe que suas roupas seriam retiradas das malas e estariam passadas em uma hora. — Providenciei um carro para que possa me familiarizar com o percurso até o local do casamento — comentou Lorenzo. — Os pais de John oferecem um open house hoje à noite. A cidade inteira foi convidada. — Nós vamos? Ela queria ir? De alguma forma o calor que tinha chamuscado seu orgulho e a feito desejar mostrar-se superior àqueles que a conheciam, exibindo um novo homem, tinha esfriado e se transformado em indiferença e ela se perguntava por que cargas d'água estava ali. John e Louise, a dor que lhe causaram, tinham perdido o poder sobre suas emoções. A vida que conhecera e vivera antes de encontrar Lorenzo parecia tão distante... Já estava fazendo novos amigos em Florença, desenvolvendo novos interesses, tinha uma visão mais abrangente da vida. Não podia se imaginar voltando para sua cidade de origem ao final do casamento com Lorenzo. Mas o que faria? Permaneceria em Florença? Não, isso seria muito penoso. Penoso? Por quê? Mas é claro que conhecia a resposta para essa pergunta. Já tinha suspeitas na noite em que ele contou a história sobre as pinturas escondidas do Castillo. E teve a certeza na noite em que se sentaram no jardim e ouviu-o contar sobre a infância, sobre seus sentimentos. — Não tenho mais certeza se essa é uma boa idéia — disse a Lorenzo, sentindose pouco à vontade. — Por que não? Porque está com medo do que pode descobrir sobre os próprios sentimentos? — Não! Não há nada a descobrir. Já sei como me sinto. — Como isso era verdadeiro! Ainda amava aquele homem idiota e cego que tinha sido estúpido a ponto de ter preferido outra mulher, pensou Lorenzo zangado. — Está com medo de ficar tão emocionada ao ver seu ex-noivo que não conseguirá se controlar e vai correr e implorar-lhe que a aceite de volta? — sugeriu de forma cruel. — Isso é ridículo — objetou. — Além do mais, sou uma mulher casada. — E é ingênua o suficiente paia acreditar que sua aliança de casamento formará uma barreira contra suas emoções? — Não preciso disso. Não sinto mais nada por John. Ele não significa nada para mim. É por isso que não quero ir. 81
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A voz demonstrava convicção e Lorenzo sentiu o coração bater com força, exigindo que fizesse a pergunta cuja resposta queria, tão desesperadamente, conhecer. Ignorando a reivindicação, ele puxou a manga do paletó, sem permitir que ela respondesse e disse seco: — Está quase na hora do almoço. Sugiro comermos algo e depois pegamos o carro para que eu possa me familiarizar com a estrada. A região de Cotswolds estava banhada pelo sol quente do verão, suas vilas cheias de ônibus de turistas. E, como fazia todo verão, Jodie se perguntou o que os pastores de ovelhas que, no passado, levavam seus animais ao mercado através dessas estradas tradicionais, pensariam se pudessem ser transportados aos tempos modernos. A pequena cidade de Lower Uffington, onde Jodie tinha crescido, ficava ligeiramente fora da rota normal de turismo, felizmente, e sentiu os músculos de estômago começarem a se contrair de nervoso, quando se sentou no banco do carona do Bentley alugado. Lorenzo percorria as vielas estreitas quando num declive Jodie deparou-se com as paredes de pedra familiares e passaram a placa que delimitava o início da cidade. A frente deles estava a bonita praça da cidade, com as tradicionais casas de comércio de lã alinhadas ao longo das ruas estreitas, além das quais a estrada começava a subir em direção às planícies de Cotswolds onde as ovelhas ainda pastavam, como costumava fazer a tantos séculos. O mercado de lã tinha trazido prosperidade à cidade e essa prosperidade ainda era evidente nas construções. Seu pequeno chalé não era visível. Ficava localizado numa viela estreita, o jardim à beira do pequeno rio que corria atrás da rua principal. Um golpe de dor e nostalgia atingiu-a, mas não foi tão forte quando temera. Conscientizou-se de que qualquer lugar podia ser seu lar, se partilhado com a pessoa que amasse. Uma pequena placa indicava uma passagem entre duas casas que conduziam ao pátio pertencente ao prédio do escritório do pai de John e Jodie exalou um profundo suspiro quando viu o carro de John estacionado na estrada perto. — O que foi? — perguntou Lorenzo. — Nada. E era verdade. A visão do carro de John, que logo após o término da relação a teria enchido de tristeza, agora não tinha o menor efeito sobre ela — além de um vago sentimento de alívio depois que ele foi deixado para trás. Não gostaria que John aparecesse e a visse. No final da cidade, cercada de verde, estava a igreja, pequena e baixa, suas janelas e vitrais iluminados pela luz do sol. Os preparativos já estavam sendo feitos para o casamento de amanhã, percebeu Jodie ao ver braçadas de flores brancas amarradas com fita branca ornamentando o portão em estilo antigo. 82
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A família de John, assim como a dela, vivia ali há muitas gerações. Os pais de John eram relativamente influentes e a fazenda em que moravam, com seus grandes jardins, ficava ligeiramente afastada da cidade. — Podemos parar? — perguntou. — Se quiser. — Ele entrou no pequeno estacionamento e parou o carro. Havia uma coisa que queria fazer, reconheceu Jodie. Uma visita pessoal que tinha necessidade de fazer. — Não precisa vir comigo — disse a Lorenzo ao abrir a porta do carro. — Não vou me demorar. — Também vou saltar. Preciso esticar as pernas — respondeu Lorenzo. Ela pode vê-lo franzir a testa quando se dirigiu à igreja. E a testa franziu ainda mais quando, no lugar de entrar pela porta principal, com sua decoração floral, ela preferiu desviar-se e abrir um portão bem menor que levava através de um verde imaculado e depois, atrás da igreja, ao cemitério. O lugar parecia vazio, mas mesmo se não estivesse e ela encontrasse alguém conhecido, não se deteria. Ela soube quando estava na igreja em Florença, fazendo os votos de fidelidade a Lorenzo, que isso era algo que queria fazer. Pegou o caminho estreito familiar que passava por entre os grandes mausoléus e lápides cobertos de hera, tão antigos que as letras estavam quase apagadas, e caminhou mais adiante pelo cemitério até chegar ao lugar que queria. Ali, sentou-se na grama debaixo num túmulo coberto de plantas, no qual uma pequena placa mostrava dois nomes. — Meus pais — disse simplesmente. Lágrimas encheram-lhe os olhos e a mão tremeu ligeiramente quando pegou, com cuidado, na bolsa uma caixinha na qual guardara as pétalas de seu buquê de casamento. Tirando-as, espalhou-as no túmulo dos pais. Quando virou-se para olhar Lorenzo sentiu um nó na garganta. A cabeça de Lorenzo estava reclinada e ele rezava. lábio.
— E tolo, eu sei, mas eu queria que eles soubessem... — Ela parou e mordeu o — Quer entrar na igreja? — perguntou Lorenzo. Jodie sacudiu a cabeça. — Não. Eles a estão arrumando para o casamento e não quero...
— Não quer o quê? Dar de cara com a amiga que lhe roubou o noivo? Achei que esse era o motivo de estarmos aqui. — John é um adulto. Ninguém o forçou a terminar o noivado comigo por causa de Louise. — A cabeça começou a doer. — Podemos voltar para o carro? 83
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Lorenzo deu de ombros. — Se é isso que quer... O que queria é que Lorenzo a amasse como ela descobrira que o amava. O que queria era voltar para Florença com ele, passar a vida com ele, construir um futuro com ele. — Estou ficando com dor de cabeça — foi o que respondeu. — Deve ser da ansiedade. O que exatamente está querendo hoje à noite, Jodie? Você. Estou querendo que olhe para mim e me ame. — Nada. Não estou querendo nada. — Não? Não quer, no íntimo, que John a veja e reconheça que é você que ele quer? — Isso não vai acontecer. — Mas você quer? — Não. Tinham voltado ao carro e estava tão absorta em rejeitar as insinuações de Lorenzo que não percebeu a mulher que olhava fixamente para ela até que uma voz familiar disse surpresa: — Jodie! Meu Deus! Pensei que ainda estivesse viajando. Lucy Hartley — cujo marido trabalhava para o pai... de John. De um jeito ou de outro, Jodie conseguiu forçar um sorriso. — É só uma visita relâmpago — explicou. — Queria mostrar a meu... meu marido... — Seu marido? Você se casou? Para alívio de Jodie, Lorenzo deu um passo à frente e estendeu a mão. Rapidamente fez as apresentações, vendo os olhos de Lucy ficarem arregalados. — Você vai à festa oferecida pelos pais de John hoje à noite? — perguntou. — Certamente — respondeu Lorenzo educadamente, antes que ela pudesse falar. — Se não for incomodar... Jodie me falou tanto da casa dela e dos amigos que estou ansioso por conhecê-los. — Claro. Tenho certeza de que Sheila e Bill ficarão absolutamente satisfeitos. — Lucy transbordava de alegria. — Vou dizer a eles que encontrei vocês. Aonde estão hospedados, caso alguém pergunte? Relutante, Jodie respondeu e viu os olhos se arregalarem um pouco mais ao reconhecer o nome do hotel exclusivo. — Uau! Você subiu na vida, Jodie! 84
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Jodie sentiu o rosto ficar vermelho. — Precisamos ir, mas voltaremos a nos ver à noite — disse Lorenzo gentil, rapidamente afastando-a antes que ela pudesse demonstrar o que sentia. — Essa mulher é tão esnobe! — queixou-se zangada, enquanto Lorenzo destrancava o carro e abria a porta para ela. — No momento em que mencionei o hotel ela estava grudando em nós como um carrapato. E isso porque ainda não sabe sobre seu título. Lorenzo fechou a porta e deu a volta para entrar no carro. Assim que ligou o motor, falou decidida: — Lorenzo, não quero ir. Quando disse que queria, não estava raciocinando direito. Não acho que devamos ir. — Agora não podemos deixar de ir — comentou calmo. — Estaremos sendo aguardados. Sabia que devia ficar agradecida a Lorenzo. Ele tinha reorganizado a agenda para acompanhá-la e ali estava ela, dizendo a ele que não queria estar ali. Lorenzo olhou para o perfil da jovem. Ele podia imaginar o efeito que encontrar o ex-noivo e a futura esposa lhe causava e o quanto isso a aborrecia. Então por que insistia em forçá-la? O que estava tentando provar que valesse a pena provar? Por que não pisava fundo no acelerador, ia para o hotel e a levava de volta à Itália antes que ela mudasse de idéia? Uma vez lá, ele teria quase um ano inteiro... Um ano inteiro para quê? Para persuadi-la a continuar casada com ele? Isso era o que queria, não era? E se fosse? Não queria dizer nada — a não ser que começava a achar que seria mais fácil continuar casado com ela do que se separar. O casamento dava à vida de um homem um certo objetivo e estabilidade. Só porque antes não tinha considerado a importância de um casamento arranjado à moda antiga, isso não significava que era tão inflexível que não pudesse reconhecer isso agora. Afinal, ele e Jodie estavam casados. Havia muito a ser discutido, do ponto de vista prático, para que permanecessem casados. Ele ainda seria capaz de manter as barreiras emocionais. Uma vez que estivesse seguro de que ela aceitava que aquele ex-noivo dela não estava mais disponível e fazia parte de seu passado, ele se sentia confiante de poderem desenvolver um relacionamento que funcionasse. E um relacionamento sexual? O corpo retesou-se traindo-o. Jodie, por sua vez, teria a proteção de um marido e uma vida de conforto. Podiam até ter filhos, se ela assim o desejasse. Ele franziu a testa quando esse pensamento magnânimo provocou uma reação em seu corpo, emoções que iam bem mais além do que qualquer simples sentido de reconhecimento da própria generosidade. 85
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Nunca tinha considerado antes a produção de crianças como parte essencial de seu plano de vida — tinha parentes masculinos em quantidade suficiente para produzir o próximo duque. Entretanto, tinha que considerar o futuro do Castillo e faz sentido ter os próprios herdeiros para deixar o Castillo. E Jodie não ia querer deixar os filhos. Ele freou bruscamente para evitar atingir um ciclista, negando mentalmente que essas conclusões não eram produto da emoção, mas sim baseadas na lógica. Ao chegar ao hotel, decidiu que não tomaria nenhuma decisão até hoje à noite, após ter analisado como Jodie reagia ao encontrar o ex-noivo. Se depois disso, e depois de pensamentos mais aprofundados estivesse convencido de que o casamento tinha futuro, ao voltarem à Itália ele lhe diria isso. Ela realmente queria nunca ter dito que queria fazer isso. Jodie estudava seu reflexo no espelho do quarto e passou a mão nervosa por cima de suas calças de crepe cor de creme, maravilhosamente bem-cortadas. — Pronta? Desanimada, sacudiu a cabeça quando Lorenzo entrou em seu quarto. Ele parecia exatamente o que era: um homem alto, moreno, incrivelmente elegante e ainda mais incrivelmente arrogante, extremamente masculino — o tipo de homem por quem qualquer mulher se sentiria atraída. O tipo de homem que qualquer mulher sabia que corria o risco de se tomar emocionalmente vulnerável se não tomasse cuidado. Que pena que ela não tinha sido adulta o suficiente para reconhecer isso logo no início... Ela percebeu o jeito que ele a olhava, mas se estivesse esperando por um elogio quanto à aparência ia ficar desapontada, percebeu logo. Quando deu os primeiros passos em direção à porta, ele a segurou. Por um segundo a cabeça foi tomada por imagens impossíveis e ainda mais implausíveis cenários: Lorenzo a tomando nos braços e recusando-se a deixá-la ir; Lorenzo insistindo que a queria manter ali naquele quarto e fazer amor com ela; Lorenzo dizendo apaixonadamente que a amava. Recusou-se a admitir o quanto queria que isso acontecesse de verdade, e tentou concentrar-se no que Lorenzo dizia. — Acho que devia usar isso hoje à noite. Ela olhou o anel de esmeralda. — Afinal, é nossa aliança de noivado — comentou — e o símbolo de nosso relacionamento. Sem uma palavra, estendeu a mão para pegar a aliança, mas ele sacudiu a cabeça devagar, pegou-lhe a mão e colocou ele mesmo o anel em seu dedo. Lágrimas escorreram de seus olhos. Lágrimas tolas que provaram para si mesma como tinha avaliado erroneamente a própria vulnerabilidade. Só uma mulher profundamente apaixonada podia se sentir daquele jeito. Não demoraram muito para chegar à casa dos pais de John. Um grande toldo 86
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tinha sido colocado no jardim e no terreno adjacente à casa, havia várias fileiras de carros estacionados. Foram cumprimentados no portão por um primo mais jovem de John, de smoking, que mostrou-se surpreso ao reconhecer Jodie, o que o deixou encabulado. — Acho que devemos tentar encontrar os pais de John primeiro — disse Jodie. — Isso me parece uma boa idéia — concordou Lorenzo. — O que você trouxe? — perguntou curiosa, ao ver que ele carregava uma caixa de presente pequena. — Chocolates caseiros para nossa anfitriã — informou, acrescentando: — Mandarei entregar uma dúzia de garrafas de vinho para o anfitrião. Jodie deu um olhar de reprovação e pegou a bolsa, de onde tirou uma caixa embrulhada exatamente igual. — Bingo! — disse a ele rindo, sorrindo de maneira natural pela primeira vez desde que tinham chegado à Inglaterra. — Jodie! Lucy contou que tinha visto você à tarde na cidade. O sorriso de Jodie desapareceu ao ver a mãe de John parada na frente dos dois. Instintivamente, aproximou-se de Lorenzo. Ao perceber o olhar com que a mãe de John os examinava, ergueu a cabeça e encarou-a. — Espero que não estejamos aqui de penetras — disse calmamente. — Posso apresentar meu marido a você, Sheila? — Seu marido? Lucy me contou, mas eu não... Meu Deus, que surpresa. — A mãe de John deu um sorrisinho histérico. — E nós aqui, preocupados, achando que você estava triste e com o coração partido. — Minha mulher não demorou a perceber que tivera um namorico sem importância ao encontrar amor verdadeiro. — O sorriso de Lorenzo podia ter diluído um pouco do veneno de suas palavras, mas mesmo assim, Jodie olhou-o com reprovação e não ficou surpresa ao verificar a frieza de seus olhos. — Bem, espero que vocês sejam muito felizes, senhor... — começou Sheila num tom de voz que demonstrava falsidade. — Lorenzo Niccolo d'Este, Duque de Montesavro — apresentou-se Lorenzo com uma segurança fria indiferente. — O senhor é duque? — perguntou Sheila, perdendo a voz. Lorenzo inclinou a cabeça concordando e disse calmamente: — Mas me chame de Lorenzo. 87
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De repente Jodie começava a achar a situação muito divertida. — E como está o vereador Higgings? — perguntou meiga, voltando-se para explicar a Lorenzo: — O pai de John é vereador municipal. A mãe de John tinha, ela notou, começado a ficar numa tonalidade rosa que em nada lhe favorecia. Engraçado como começou a se lembrar de todas as ocasiões nas quais os pais de John tinham deixado claro que a consideravam inferior a eles. E claro que estava se comportando muito mal, sabia, mas algumas vezes se comportar mal pode ser divertido! — Essa é uma das vantagens de ter me casado com você e não com John — murmurou para Lorenzo quando se afastaram para que Sheila cumprimentasse os convidados que chegavam. — Qual? — Não ter sogra — disse sucinta. A essa altura tinham começado a atrair bastante a atenção e as pessoas ao reconhecê-la disfarçavam, mas acabavam por se desviar para olhar mais de perto e com curiosidade. Lorenzo tinha segurado seu braço de maneira solícita — provavelmente com medo que ela tropeçasse nos saltos altos e terminasse caindo de cara no chão envergonhando a ambos, refletiu, equilibrando-se no piso desigual. — Jodie... Ela virou-se com um sorriso sincero ao ouvir a voz do médico local que demonstrava carinho e satisfação — Dr. Philips! Ele lhe deu um abraço entusiasmado e depois sorriu para ela. — Você está ótima! — Comida italiana, sol italiano... — E um marido italiano — cortou Lorenzo, fazendo o médico rir. — Não devia dizer isso — sussurrou o médico com uma careta — mas sempre achei um desperdício você ficar com John. Um cara legal, mas meio sem personalidade — e muito controlado pela mãe. — Pobre John. O senhor não está sendo muito gentil — protestou Jodie, mas acabou rindo. Jodie.
Lorenzo pegou duas taças de vinho servidas por um garçom e entregou uma a
Ela ainda não tinha visto nem Louise nem John, embora tivesse achado ter visto os pais de Louise. Sempre gostara da mãe de Louise, mas não tinha vontade de 88
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encontrá-la agora. Naturalmente, como mãe, ia apoiar a filha — não importa o que esta pudesse ter feito. E além disso, era forçada a admitir que se Louise e John se amavam, era mais do que certo ficarem juntos. Ela não mais se importava com o que lhe tinham feito porque sua própria vida e seus próprios sentimentos tinham mudado. Olhou para Lorenzo e se permitiu mergulhar numa fantasia na qual sugeria a ele que fossem embora e voltassem para o hotel. Ele concordaria com entusiasmo e daria um sorriso satisfeito antecipando os prazeres sensuais que os aguardavam. Ela exalou um suspiro quando abandonou esse improvável, mas delicioso sonho e voltou à realidade. — Sua perna? — perguntou erroneamente o motivo do suspiro.
Lorenzo
imediatamente,
interpretando
Ela devia mentir e fingir que a perna a incomodava para que pudessem ir embora? Mas antes que pudesse dizer alguma coisa o pastor e a esposa se aproximaram e Lorenzo envolveu-se numa discussão com eles sobre Florença. Tomou um gole de vinho e procurava onde colocar a taça quando ouviu Louise dizer num tom de voz irritado: — Quero dar uma palavrinha com você! Louise estava sozinha e não havia sinal de John, — Não pense que não percebi o que está planejando e o motivo de estar aqui — sussurrou a ex-amiga zangada. Jodie sentiu o rosto começar a queimar. Sentia-se culpada pois sabia do motivo original que a levara ali. Mas, talvez, houvesse uma chance de perdoar — de acabar com a inimizade entre elas... — Isso é a vida real, Jodie, não uma novela romântica — dizia Louise. — John não vai dar uma olhada em você, me atirar de lado e voltar correndo atirando-se a seus pés. — Ótimo. Porque, honestamente, não é o que quero — disse. — Louise, estou casada e eu... — Casada? Você? — Louise a olhou com enorme desprezo, — Você pode enganar todo mundo, mas não acredito nessa história nem por um segundo. Acho que você não se casou — com certeza não tem a aparência de casada — e acho que você contratou esse cara para se fazer passar por seu "marido". — Olhou zangada para Jodie. — Nenhum homem bonito como ele ia querer você com essa perna. Todo mundo está rindo de você. Você sabe disso, não sabe? Fingir que se casou com um duque. Como se isso fosse possível! E esse anel ridículo que está usando? acrescentou, retorcendo a boca. — É tão evidente que é falso — assim como você e seu casamento. Aposto que você ainda continua sendo aquela virgenzinha patética que era quando John lhe deu o fora. 89
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Agindo por instinto, desviou o olhar para Lorenzo, um pedido silencioso nos olhos. Ele retribuiu-lhe olhar. E em seguida caminhou na direção delas, respondendo à mensagem cifrada que lhe enviara. Foi tomada pelo alívio. Era tudo que precisava para não se atirar em seus braços e implorar-lhe que a levasse embora. Lorenzo sentiu a dor de Jodie como se fosse sua. Uma fúria e o desejo instintivo de protegê-la ferviam dentro dele. Tinha ouvido o que Louise dissera e não tinha precisado do pedido silencioso que Jodie lhe enviara, suplicando por sua ajuda, para ir a seu encontro. Queria arrancá-la daquele lugar, afastá-la dessas pessoas que não a apreciavam, do homem que não a tinha amado como merecia ser amada... como ele, em sua estupidez, tinha tentado se recusar a amá-la. Mas agora que o amor tomara conta dele e afastado todo o resto, todas as outras pessoas, nada, a não ser Jodie e sua felicidade importavam. Ele aproximou-se e segurou-lhe a mão, vendo quando o alívio brilhou em seus olhos. — Para sua informação — disse a Louise frio não fui contratado. Jodie e eu estamos casados e venero a beleza de seu corpo quase tanto quanto amo a doçura de sua natureza. E quanto à autenticidade tanto de meu título quanto do anel de noivado de família... — O olhar que lançou a Louise era tão devastador que Jodie ficou surpresa que não a tivesse reduzido a cinzas no ato. — Uma vez que você está noiva de um homem que, obviamente, não pode discernir o que é genuíno do que não é, imagino que seja de se esperar que você emita opiniões ignorantes e mal informadas — continuou no mesmo tom. — E quanto ao motivo de estarmos aqui... — Lorenzo agora aumentou a voz ligeiramente, quando uma multidão curiosa formou-se à volta. — Foi minha decisão. Quis ver onde Jodie tinha crescido, encontrar as pessoas com as quais convivera. E confesso que também queria conhecer o homem que foi idiota o suficiente para deixá-la. Jodie só queria desejar felicidades aos dois. Lorenzo ainda segurava-lhe a mão, percebeu, e a apertou com ainda mais firmeza enquanto movia-se protetor para perto dela. Automaticamente recostou-se nele, grata pela sensação do corpo dele absorvendo o mal-estar e o choque do seu corpo. — Que criatura patética você é! — disse Lorenzo a Louise numa voz bem baixa, inaudível para a maior parte das pessoas. — Você rouba o noivo da amiga e depois, por causa de sua fraqueza e superficialidade é obrigada a viver com medo de perdê-lo para ela. Louise, de vermelha ficou branca, quando as palavras cortantes de Lorenzo atingiram-na e de repente a mulher que Jodie sempre tinha achado uma beleza parecia feia. John tinha vindo correndo para o lado de Louise e olhava para as duas sem 90
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saber o que fazer. Quando a fitou, ficou evidente para Jodie que ele não era nada se comparado a Lorenzo, que não passava de um homem fraco. Se já não tivesse percebido que não amava, certamente o faria agora. — Podemos ir? — perguntou Lorenzo a Jodie. Ela simplesmente fez um sinal com a cabeça.
CAPÍTULO QUATORZE Dirigiram até o hotel em silêncio e Jodie ficou grata a Lorenzo por não dizer nada. Agora que estavam de volta à suíte ela se deu conta de como estava chocada e angustiada devido ao maldoso ataque de Louise. Tudo que desejava era a privacidade de seu quarto, para que pudesse colocar para fora as lágrimas. Para seu alívio, Lorenzo não fez nenhum comentário quando ela disse: — Minha cabeça está doendo. Eu... eu acho que vou dormir cedo. Despiu-se, tomou um banho, enxugando-se rapidamente antes de enfiar-se nos lençóis cheirosos, pensando que, por sorte, Louise não sabia que ela e Lorenzo dormiam em quartos separados. Ficou nervosa ao ouvir uma batida na porta do quarto e a voz de Lorenzo dizendo: — Pedi um jantar para você. Vou levá-lo. Era tarde demais para dizer que não queria. Ele já abria a porta e empurrava um carrinho pelo quarto. — É só uma salada e um bule de chá. Me lembrei que você disse que gostava de tomar chá quando estava com dor de cabeça. Ou a dor é no coração? — perguntou seco. Jodie mordeu o lábio e tentou sentar-se, ao mesmo tempo em que segurava a coberta da cama. Dando um suspiro profundo, disse com a voz embargada: — Lorenzo, ainda não lhe agradeci por... por me defender e dizer o que disse a Louise. — Você é minha esposa. Quando se trata de duvidar da validade de nosso casamento, naturalmente você conta com meu apoio. E naturalmente, não podia permitir que aquela mulher tola fizesse aquelas ridículas acusações sem dizer nada. Balançou a cabeça. — Nós dois sabemos que não foi sua idéia virmos aqui. 91
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— Não, foi sua, porque você queria encontrar seu ex-noivo. Você está melhor sem ele, sabe disso — disse friamente. —A impressão que tive dele, depois de conversar com algumas pessoas, é que ele é um jovem fraco e superficial, dominado pela mãe. — A família de Louise tem dinheiro e, suponho que, além das preocupações de Sheila sobre minha saúde, ela deve ter achado que Louise seria um melhor partido para John. Não que eu o queira; ele não significa mais nada para mim. Posso vê-lo como ele é e acho que dei sorte por não ter me casado com ele. Lorenzo franziu a testa. — Você fala de um jeito como se realmente pensasse assim. — E penso. Deixei de amá-lo antes de deixar a Inglaterra. Voltar apenas confirmou o que eu já sabia. — E de diversas maneiras, admitia, mas obviamente não podia dizer a Lorenzo que voltar e encontrar John tinha lhe mostrado como era forte o amor que sentia por ele, se comparado aos sentimentos que no passado achava sentir por John. Ainda tinha orgulho e esse orgulho estava ferido por causa das palavras de Louise. Ela mordeu o lábio inferior e disse tristonha: — Eu devia ter imaginado que as pessoas achariam que nosso casamento não era de verdade e que você não me quer. — Ela riu um pouco exageradamente. — Suponho que devo trazer escrito na testa "virgem rejeitada", por causa da minha perna e... — Que absurdo é esse? — perguntou Lorenzo, descansando a xícara de chá que preparava para ela e parando ao lado da cama. — Não é absurdo — insistiu arrasada. — John me rejeitou por causa da minha perna e por causa dela ainda sou virgem. Odeio saber que as pessoas têm pena de mim e... e ficam me olham por causa da minha perna — disse num ímpeto. — E eu só queria que... — Quê? — Que quando Louise me olhasse visse uma mulher de verdade. Lorenzo sentou-se na cama, perto dela. — Se é isso que realmente quer, pode ser conseguido facilmente — disse com voz rouca. — Porque definitivamente não compartilho da opinião do seu ex-noivo idiota e a desejo muito. Engoliu em seco e perguntou num sussurro, insegura: — Você... você... me deseja? — Claro. E mais do que isso, desejo prová-lo a você. Temos essa noite — disse Lorenzo. — E se você quiser, amanhã você pode testemunhar o desprezível casamento deles com todo o brilho de uma mulher cuja curiosidade sexual foi satisfeita — e cuja fome sexual foi saciada. 92
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Lorenzo estava propondo fazer amor com ela? Um pouco apreensiva, molhou os lábios com a ponta da língua. — Mas... mas antes você disse que não podíamos porque... — A gerência do hotel pensa em tudo... Quando pareceu intrigada, ele explicou: — Tem um pacote de camisinhas com os outros produtos de toalete que trouxeram. — Ah, entendi. — A decisão é sua — disse Lorenzo. A vontade da fazer sexo com ela não significava nada sério, Jodie sabia. Era sexo que lhe oferecia, só isso. Não o amor pelo qual ansiava, e certamente não o futuro e a permanência. Mas, ainda assim, queria o que ele lhe oferecia. Engoliu em seco e olhou para ele. — Então decido dizer que sim. Quando ele se levantou da cama e se afastou, ela imaginou um milhão de coisas terríveis, sentiu-se a mais infeliz das mulheres, mil vezes pior do que se sentira quando John havia se afastado dela. Mas, depois, viu que em vez de dirigir-se para a porta, Lorenzo tinha parado ao lado do carrinho. Pegou uma garrafa de champanhe do balde de gelo e a abriu para encher duas taças. Voltou para a cama com elas e ofereceu-lhe uma. — A hoje e ao que vai nos trazer. Que possa ser tudo o que você espera — desejou encostando a taça à sua. Apreensiva, tomou um gole do champanhe borbulhante e estremeceu quando Lorenzo tirou-lhe a taça da mão e a beijou. A boca tinha o gosto de champanhe e dele, e ela se agarrou a esse pensamento enquanto a ponta da língua acariciava seus lábios e depois os entreabriu. Ele a beijou até que não conseguiu pensar em mais nada, a não ser no prazer, na intimidade e no próprio desejo que pedia mais; até que ela aproximou-se ainda mais dele e passou-lhe os braços pelo pescoço, enquanto os lábios se abriam famintos; até estarem deitados na cama. As mãos acariciavam seu corpo nu enquanto removiam as barreiras indesejadas que os separavam. Os corpos nus colados, pele contra pele, ela e o homem que amava. Podia existir no mundo algo mais sensual ou mais excitante? Jodie se perguntou em delírio ao se permitir a luxúria de explorar a carne tépida que cobria os músculos de Lorenzo enquanto as mãos dele deslizavam sobre seu corpo e o acariciavam numa sensualidade propositadamente lenta. Ele beijou-lhe a base da garganta e depois o espaço entre seus seios, rodeando93
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lhe o umbigo com a boca enquanto ela estremecia de prazer e gemia baixinho. Só quando ele acariciou-lhe a perna deficiente ela ficou tensa e agitou-se, sacudindo-se ansiosa e tentando escapar. Mas Lorenzo se recusou a soltá-la, curvando a cabeça para beijar as cicatrizes que formavam um desenho de linhas cruzadas. — Não... — Era a primeira vez que falava, a voz aguda e bastante angustiada. Ignorando-a, Lorenzo disse suave: — A primeira vez que vi você, achei que tinha as mais longas pernas que eu já vira. Soube imediatamente que queria senti-las em volta de mim enquanto a possuía. — Não pode ter pensado isso — protestou. — Você estava tão zangado! Ela viu a boca curvar-se num sorriso divertido. — Você não sabia, virgenzinha, que um homem pode ficar zangado e excitado ao mesmo tempo? Sua ex-amiga é uma idiota. Nenhum homem que se preze poderia rejeitar você, Jodie. — Minha perna — protestou. Lorenzo beijou-lhe as cicatrizes pela segunda vez. — Sua perna é ainda mais linda porque carrega a prova de sua coragem. Lágrimas emocionadas encheram-lhe os olhos, mas antes que pudesse enxugálas, Lorenzo começou a procurar com a boca o caminho por suas coxas e outras emoções mais intensas tomaram conta dela. A mão cobriu-lhe o sexo. Devagarzinho ele começou a acariciá-lo até que ela começou a se curvar para que o toque a pressionasse ainda mais, seus dedos afundando-se na pele macia dos ombros fortes enquanto as pernas se abriram totalmente para ele e a língua juntou-se aos dedos numa erótica exploração de sua excitação. Ela gemeu de prazer quando sentiu-o penetrar sua umidade com um dedo, acariciando-a lentamente e depois mais vigorosamente. Imediatamente os músculos comprimiram-se em torno do dedo e o corpo pulsou com violência. Lorenzo se posicionou para que pudesse beijar-lhe os seios enquanto lentamente a acariciava intimamente, um outro dedo juntando-se ao primeiro, o prazer dos movimento dos dedos fazendo que com que ela gritasse uma, duas vezes quando Lorenzo atendeu a seu chamado apertando sensualmente o mamilo intumescido com os dentes. Seu corpo movia-se segundo seu próprio desejo, procurando um ritmo íntimo que vinha de dentro dela, acompanhado por um leve resmungo de frustração feminina. — Você me quer dentro de você? — perguntou Lorenzo com voz rouca. Jodie sacudiu a cabeça e enfiou os dedos na carne dele com ainda mais força quando ele a suspendeu, pegou um travesseiro e colocou-o debaixo de seus quadris. Enquanto isso sua frustração só aumentava. 94
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Não se sentia apreensiva, envergonhada, apenas sentia uma fome pedindo para ser saciada quando olhou, sem disfarçar, ele se colocar por cima dela, seus sentidos se deliciando diante da visão dele, tão vigoroso e forte. Lorenzo foi deslizando lentamente para dentro dela em vez de invadi-la e observava as expressões se alterarem no rosto de Jodie quando os músculos aceitaram e se adaptaram à potência dele, comprimindo-o. — Quer mais? — perguntou. Respirou fundo e disse com intensidade: — Quero. Quero você todo... Podia senti-lo preenchendo-a tão completamente que a sensação de tê-lo dentro dela fez com que perdesse a respiração e depois enfiasse-lhe as unhas nas costas enquanto ele se movia para dentro e para fora, com estocadas rítmicas que lhe tiraram o ar e a fizeram querer mais, cada vez mais, até que movendo-se com ele, perdeu todo o controle, quando seu corpo tornou-se dele para lhe dar prazer até que ela não conseguiu suportar o prazer. Sentiu a onda de orgasmo invadindo-a, mais intensa do que de costume e tão diferente do que conhecia por tê-lo dentro de seu corpo ... a conduzindo a um estado de prazer numa dimensão especial. Gritou o nome dele uma, duas vezes quando ele a preencheu com o orgasmo dele, agarrando-se a ele enquanto murmurava palavras de amor e prazer. Lorenzo olhou para a cama onde Jodie continuava dormindo e se perguntou como tinha sido possível ter a vida inteira mudado tão de repente. Ele a tinha olhado naquele jardim inglês, visto a dor e desespero em seus olhos e descoberto, de imediato, que a necessidade de protegê-la vinha do amor que sentia. Amor. Tinha estado presente desde o primeiro encontro, mas não o reconhecera porque não queria? Ou tinha surgido com a convivência? Isso importava? Jodie abriu os olhos. — Lorenzo. — Sorriu e depois corou. — Você está bem? Arrependida? Ela balançou a cabeça. — Nem um pouco. — Você não preferia que tivesse sido com John? — Não. Queria que fosse com você. — Hum. Bem, já que fui eu, precisamos conversar sobre o futuro. — Ele deu um profundo suspiro e afastou o olhar. — O que você acha de tornarmos nosso casamento permanente? 95
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Como ela não respondeu, ele virou-se, apreensivo, e se deparou com o rosto molhado de lágrimas. — Não posso aceitar — disse chorando. — Eu quero, mas não seria justo com você. Não quando... — Não quando o quê? — Não quando sei que amo você — admitiu. Lorenzo foi até a cama e sentou-se a seu lado. — Faria alguma diferença se eu admitisse que me apaixonei por você? — Só se fosse verdade — respondeu, séria. Ele tinha lhe segurado a mão, entrelaçado os dedos aos seus e agora levava as mãos aos lábios para beijar a palma de sua mão. O coração de Jodie batia agitado. Queria tanto acreditar nele, mas tinha medo. — Não usei camisinha — ele disse. Jodie engoliu em seco. — Quer dizer que esqueceu? — Não. Quero dizer que preferi não fazê-lo. Porque queria que nosso prazer não tivesse barreiras, que nossas carnes se tocassem e porque não posso imaginar nada mais maravilhoso do que a idéia de podermos ter feito um filho. — Você confia em mim o suficiente? — Claro e mais do que isso: confio em você o suficiente para admitir que a amo. Vi o jeito com que me olhou quando Louise lhe dizia coisas horríveis. Vi que você queria não apenas a minha ajuda, mas a minha presença. Ele inclinou-se, beijou-a carinhosamente e afastou-se. Soltou um murmúrio de protesto e aproximou-se, pressionando os lábios contra os dele. — Diga que me ama — sussurrou. — Me mostre. EPÍLOGO — Olhe o rostinho deles — sussurrou para Lorenzo enquanto, lado a lado, no pátio do Castillo, observavam as expressões das crianças que saltavam do ônibus adaptado para trazê-los do aeroporto. A primeira leva de jovens vítimas da guerra a chegar no Castillo,. dentro do programa que Lorenzo iniciara. Já fazia quase um ano que haviam voltado da Inglaterra, assumindo o compromisso em relação aos dois, ao casamento e à realização do sonho de Lorenzo. Nos aposentos principais, as pinturas restauradas exibiam cores ricas e vibrantes. Nos dormitórios recém-pintados e mobiliados, camas esperavam pelas 96
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crianças e terapeutas treinadas esperavam na nova ala que abrigava a piscina, as salas de tratamento e a academia. — O que você está fazendo é maravilhoso, Lorenzo — disse emocionada. — Você está dando tanto a tantas crianças, trazendo tanta alegria a suas vidas. — Não mais do que a que você trouxe à minha — disse, inclinando-se para beijála. Riu, feliz, quando o filhinho de três meses, no colo de Jodie, estendeu a mão para apertar-lhe o dedo.
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