6
Aspectos da natureza brasileira
Conexão de conhecimentos Observação das massas de ar do Brasil Temperatura, pressão e umidade constituem os elementos do clima, sendo que cada um deles está sujeito a alterações a todo instante, em qualquer ponto da atmosfera terrestre onde eles sejam mensurados. Já a latitude, a altitude, a continentalidade, a maritimidade e os deslocamentos das massas de ar constituem os fatores climáticos. Na interação entre elementos e fatores do clima, a continentalidade, por exemplo, tende a diminuir a umidade da atmosfera, e o aumento da altitude tende a diminuir a temperatura. O Brasil é um país de vastas dimensões (é o quinto maior do mundo em extensão territorial), mas apresenta altitudes majoritariamente modestas em comparação a outros países. Apesar disso, suas planícies, planaltos e depressões periféricas resultam em variações geomorfológicas internas significativas. Além disso, aproximadamente 92% do território está dentro da zona intertropical, e apenas a porção mais meridional, cerca de 8%, encontra-se na zona temperada, resultando em expressiva variação latitudinal, mas pouca variação climática relacionada diretamente a esse elemento.
GAR1_CAP06_M001
60º O
EQUATORIAL PACÍFICA
0º
EQUATORIAL NORTE
credito
América Latina: circulação geral das massas de ar EQUATORIAL ATLÂNTICA
Equador
EQUATORIAL CONTINENTAL
Autoras: Trecho reescrito pelo Daniel. OCEANO ATLÂNTICA
io e Capricórn Trópico d
OCEANO PACÍFICO
POLAR PACÍFICA
TROPICAL CONTINENTAL
TROPICAL ATLÂNTICA
POLAR ATLÂNTICA
Fonte dos mapas: Cptec/Inpe. Disponível em: <http:// videoseducacionais.cptec.inpe.br>. Acesso em: 16 fev. 2016.
99
GAR1_CAP06_M003 Brasil: circulação das massas
GAR1_CAP06_M002 Brasil: circulação das massas
de ar no inverno Allmaps
Allmaps
de ar no verão 50° O
0°
Equador
50° O
0°
OCEANO ATLÂNTICO
Equador
OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO
OCEANO PACÍFICO Equatorial Atlântica
Trópico de Ca pricó r
Equatorial Atlântica nio
Equatorial Continental
Equatorial Continental
Tropical Atlântica
Tropical Atlântica
Tropical Continental
Tropical Continental
Polar Atlântica
Trópico de Ca pricó r
nio
Fonte dos mapas: Cptec/Inpe. Disponível em: <http://videoseducacionais.cptec.inpe.br>. Acesso em: 16 fev. 2016.
Desse modo, entre os fatores climáticos, a compreensão dos deslocamentos das massas de ar é muito importante para a apreensão dos climas do território nacional. As massas de ar são volumes da atmosfera que apresentam algumas propriedades em comum em virtude das áreas em que se originam, bem como das áreas onde tendem a se localizar. Existem massas de ar polares, equatoriais, tropicais, oceânicas e continentais. Todas elas se movem constantemente em razão da existência de zonas com diferentes níveis de pressão atmosférica. Observe a seguir três mapas onde estão apresentadas a origem e a circulação das massas de ar na América do Sul, bem como suas áreas de circulação no verão e no inverno no Brasil. Em dupla, respondam: a) Quais são as principais massas de ar que atuam no Brasil? b) Como se diferencia sua atuação no verão e no inverno? c) Como é o clima do lugar onde você mora? Tente identificar as massas de ar que se sucedem na sua região, bem como o comportamento do clima local no decorrer do ano.
100
CLIMA E TEMPO NO BRASIL
Organização Meteorológica Mundial (OMM)
O conceito de tempo atmosférico corresponde a uma situação passageira, ou seja, é o estado momentâneo da atmosfera em determinado local, caracterizado pelas condições de pressão, umidade, temperatura, vento, radiação solar e precipitação. Já o conceito de clima, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), corresponde ao estado médio da atmosfera caracterizado pela pressão, umidade, temperatura, vento, radiação solar e precipitação, em um período mínimo de trinta anos de observação. Analise a seguir as notícias e imagens sobre eventos climáticos extremos que ocorreram em duas diferentes regiões do Brasil.
A grande maioria das pessoas tende a se recordar apenas de eventos marcantes do tempo, sejam eles da semana anterior ou de meses atrás. Alguns eventos climáticos mais importantes podem ficar marcados na memória por anos, mas isso acontece principalmente porque causam impactos significativos em suas vidas ou por conta da divulgação massiva pelos veículos de comunicação. Desse modo, é compreensível a dificuldade que muitos têm para entender perfeitamente o clima de onde vivem, afinal, isso depende de uma análise aprofundada e do cruzamento de diferentes dados, todos eles coletados por vários anos. Esse grande período de coleta de dados é explicado pelo fato de, no decorrer do tempo cronológico, registrarmos variações no comportamento climático. É pela análise dos climas que podemos não apenas compreender o comportamento médio da atmosfera em dada região do Brasil, por exemplo, mas também definir alguns eventos mais extremos ou marcantes que fazem parte do comportamento climático de uma região, ou seja, que ocorrem com grande frequência ou regularidade.
SAIBA MAIS Baixa umidade do ar leva Distrito Federal a estado de emergência
A última vez que o Rio Grande do Sul havia testemunhado precipitação de neve tão generalizada havia sido numa sexta-feira, há doze anos. O dia 4 de setembro de 2006 entrou para a histórica climática do estado gaúcho pela mais abrangente precipitação de neve em território gaúcho desde 8 de julho de 1994. Há doze anos, contudo, a neve foi de maior intensidade. A MetSul Meteorologia pôde confirmar a ocorrência de neve em flocos ou na forma granular durante o dia 4 de setembro em mais de cinquenta cidades gaúchas, mas considera que o fenômeno tenha se produzido em um número ainda maior de localidades.
A baixa umidade do ar registrada no Distrito Federal no fim de semana levou a Defesa Civil a declarar estado de emergência na capital. O índice mínimo de 11% foi registrado no sábado (19) e ontem (20). […] A Defesa Civil do Distrito Federal recomenda cuidados especiais com crianças e idosos. Disponível em: <www.ebc.com.br/noticias/2015/09/ baixa-umidade-do-ar-leva-distrito-federal-estado-de-emergencia>. Acesso em: 8 mar. 2015. credito
Nevada de 2006: espetáculo do sul ao norte gaúcho
GAR1_CAP06_F001
credito
Disponível em: <www.metsul.com/secoes/visualiza.php?cod_ subsecao=32&cod_texto=247>. Acesso em: 8 mar. 2015.
GAR1_CAP06_F002
Legenda
Legenda
101
INFLUÊNCIAS NO CLIMA Além dos efeitos das massas de ar, os climas brasileiros são também influenciados pela altitude, especialmente nas regiões serranas do Sudeste e do Sul. Nessas áreas, as temperaturas médias são menores em razão das altitudes mais elevadas, como na serra do Mar, na serra da Mantiqueira e na serra do Espinhaço. Além disso, na serChuvas orográficas ra do Mar, por exemplo, é Precipitação recorrente comum a ocorrência de em áreas úmidas, chuvas orográficas, deplanálticas ou vido ao fato de a serra montanhosas, cujo elemento desencadeador funcionar como uma bardo fenômeno é a queda reira para as massas úmina pressão atmosférica. das vindas do oceano. As correntes marinhas também auxiliam para que as áreas litorâneas tenham maior umidade, pois – com exceção de algumas áreas no Sul e no Sudeste, por onde, eventualmente, passam algumas correntes frias, principalmente no inverno – a maioria das correntes que banham a nossa costa é de águas quentes. A vegetação não só é deEvapotranspiração terminada pelo clima como Processo conjunto de também o influencia exprestransição do estado sivamente por conta da somlíquido para o gasoso bra que causa no interior das da água contida nos áreas florestadas, da proteção solos, nas plantas, em oceanos, lagos que exerce nos solos e das tae represas. xas de evapotranspiração.
Um climograma é um tipo de gráfico formado pela superposição de um diagrama de colunas, que representa as quantidades mensais de chuva, e de uma curva, que mostra a evolução da temperatura média ao longo dos meses do ano. Os dados representados, portanto, correspondem às médias de pluviosidade e temperatura em determinada região. Para analisá-lo, devemos, observar os meses do ano em que ocorreram as maiores quantidades de precipitações, expressas nas colunas, e as médias de temperatura, expressas pela curva. Assim, no climograma correspondente a Poços de Caldas, observa-se que os meses mais chuvosos correspondem ao período entre novembro e março (maiores colunas), quando as temperaturas também são mais elevadas (observe a curva que, para esse período, apresenta temperaturas em torno de 22 ºC). O período mais seco corresponde aos meses de maio a setembro (menores colunas), quando as temperaturas também estão mais baixas (observe a curva: as temperaturas caem abaixo dos 18 ºC). A amplitude térmica anual está em torno de 4 ºC a 5 ºC. Para encontrá-la, basta subtrair a média do mês mais frio da média do mês mais quente.
COMO ANALISAR UM CLIMOGRAMA?
GAR1_CAP06_I002
102
ATIVIDADE Qual é o clima predominante em minha cidade? Organizem-se em grupos de quatro a cinco alunos. Em seguida, com a orientação de seu professor, pesquisem, em jornais dos dois últimos anos, as principais variações de temperaturas, as médias térmicas e os períodos de ocorrência e o índice total de chuvas de sua cidade e comparem-nos aos diversos climas existentes no Brasil. Depois, redijam um texto de até vinte linhas, explicando as principais características do tipo climático dominante em sua cidade, justificando a escolha do grupo.
PRECIPITAÇÃO mm
400
POÇOS DE CALDAS (MG) POÇOS DE CALDAS
TEMPERATURA o C
40
300
30
200
20
100
10
0
J
M M
J
S
N
0
Fonte: IBGE.
ATIVIDADE Aplique o que você aprendeu 1. Observe o climograma ao lado. Com base no exemplo do clima tropical de altitude, responda às questões a seguir. a) Qual é o período de maior precipitação? b) Quais são os meses de maiores temperaturas? c) Qual é o período mais seco? d) Quais são os meses mais frios? e) Qual é a amplitude térmica anual? f) Qual é a precipitação anual?
Autoras: fonte dos climogramas.
2. Observe o climograma ao lado e responda às questões a seguir. a) Qual é o período de maior precipitação? b) Quais são os meses de maiores temperaturas? c) Quais são os meses mais frios? d) Qual é a amplitude térmica anual?
PRECIPITAÇÃO mm
400
TEMPERATURA o C
JUAZEIRO (BA)
300
I003
40 30
200
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10
0
J M M J S N
0
Fonte PRECIPITAÇÃO mm
400
TEMPERATURA o C
BAGÉ (RS)
300
I004
40 30
200
20
100
10
0
J M M
J
S N
0
Fonte
103
crédito
Principais tipos climáticos brasileiro
Autoras: Os climogramas de Poços de Caldas, Juazeiro e Bagé já entraram na atividade anterior. Favor rever aqui ou lá. Trocar os nomes das cidades?
Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.
O MODELADO DO RELEVO BRASILEIRO Por relevo, consideramos as diversas formas ou irregularidades encontradas na superfície terrestre. O relevo brasileiro tem uma grande variedade de formas que, em geral, são classificadas em planaltos, planícies e depressões, tendo sido formadas pela atuação dos fatores endógenos, e modificadas pelos fatores exógenos. Os fatores endógenos são aqueles oriundos do interior do planeta, como vulcanismo e tectonismo, e 104
que determinam e também modificam as formas de relevo. Esses fatores endógenos, no Brasil, ocorreram predominantemente há milhares de anos. Não encontramos, atualmente, nenhum vulcão em atividade por exemplo. Já os fatores exógenos, como o intemperismo, são responsáveis, sobretudo, pela modificação das formas de relevo. Podemos afirmar que, na atualidade, esses processos predominam sobre os endógenos. O intemperismo corresponde à ação dos fenômenos climáticos ou naturais. Falamos em intemperismo físico quando a ação sobre as rochas é realizada prin-
Brasil: Relevo Segundo Jurandyr Ross 60°O
Mundimagem
70°O
50°O
40°O
5 13 0°
23
S
23
1
DEPRESSÕES
15
10°S
24
10 – Planalto da Borborema 11 – Planalto Sul-Rio-Grandense
28
2
14
23
10 20
19
4
25 17
9
16 8
26
28
18
7
3
9
Trópico de Capricór nio
21
OCEANO ATLÂNTICO
22 30°S
11 27 0
460 km 1 cm
BACIAS SEDIMENTARES 1 – Planalto da bacia Amazônica oriental 2 – Planaltos e chapadas da bacia do Parnaíba 3 – Planaltos e chapadas da bacia do Paraná
7 – Planaltos e serras do atlântico leste-sudeste 8 – Planaltos e serras de Goiás-Minas 9 – Planaltos e serras residuais do Alto Paraguai NÚCLEOS CRISTALINOS ARQUEADOS
28
1
6
20°S
L
28
12
12
CINTURÕES OROGÊNICOS
N O
12 – Depressão da Amazônia ocidental 13 – Depressão marginal norte-amazônica 14 – Depressão marginal sul-amazônica 15 – Depressão do Araguaia 16 – Depressão Cuiabana 17 – Depressão do Alto Paraguai-Guaporé 18 – Depressão do Miranda 19 – Depressão Sertaneja e do São Francisco 20 – Depressão do Tocantins 21 – Depressão periférica da borda leste da bacia do Paraná 22 – Depressão periférica Sul-Rio-Grandense PLANÍCIES
23 – Planície do rio Amazonas 24 – Planície do rio Araguaia 25 – Planície e Pantanal do rio Guaporé 26 – Planície e Pantanal Mato-Grossense 27 – Planície marinha das lagoas dos Patos e Mirim 28 – Planícies e tabuleiros litorâneos
INTRUSÕES E COBERTURAS RESIDUAIS DE PLATAFORMAS 4 – Planaltos e chapadas da bacia dos Parecis 5 – Planaltos residuais norte-amazônicos 6 – Planaltos residuais sul-amazônicos
Fonte: ROSS, J. (Org). Geografia do Brasil. 6. ed. São Paulo: Edusp, 2011. p. 44.
cipalmente pelo vento, por temperatura e por enxurradas, ou seja, é uma ação mecânica de remoção de minerais e fragmentos de rochas. E chamamos de intemperismo químico-biológico a ação da água e dos organismos, que modificam a própria textura das rochas que compõem determinada unidade de relevo.
Classificações do relevo brasileiro Desde o século XIX, existiram tentativas de classificar de modo geral o relevo brasileiro. No entanto, elas eram muito fragmentadas e os estudiosos não conseguiram estabelecer uma classificação ampla e geral. Foi apenas na primeira metade do século XX que alguns pesquisadores chegaram a uma classificação mais genérica e satisfatória das formas de relevo presentes no Brasil. Coube ao professor Aroldo de Azevedo a sistematização didática dessa classificação na década de 1940. No entanto, à medida que os estudos sobre as formas de relevo no Brasil prosseguiam, essa classificação ia aos poucos sendo considerada obsoleta. As-
sim, na década de 1960, o professor Aziz Ab’Sáber propôs uma nova classificação, subdividindo e detalhando melhor as formas do nosso relevo. Porém, à medida que os estudos sobre o relevo brasiAziz Ab’Sáber (1924-2012) Um dos mais importantes estudiosos da geomorfologia brasileira, foi professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Desenvolveu teorias fundamentais para o conhecimento dos aspectos da natureza do Brasil e protagonizou a difusão de uma consciência para a conservação ambiental no país. Aroldo de Azevedo (1910-1974) Geógrafo formado pela Universidade de São Paulo (USP) e professor de Geografia na mesma instituição, foi autor de dezenas de livros didáticos, marcando o ensino de várias gerações. Sua classificação do relevo brasileiro baseava-se na altimetria: planaltos (áreas com mais de 200 m de altitude) e planícies (áreas com até 200 m de altitude).
105
Jurandyr Ross Geógrafo formado pela USP é professor e chefe de departamento da FFLCH. Sua classificação do relevo brasileiro foi baseado no mapeamento do território por meio de radar. Em 1997 recebeu o prêmio Jabuti com o livro Geografia do Brasil, na categoria Didático de 1º e 2º graus.
leiro continuaram, também a classificação proposta por Ab’Sáber acabou por não refletir de modo adequado a diversidade de formas existentes no território nacional.
Após estudos desenvolvidos nas décadas de 1970 e 1980, coube ao professor Jurandyr Ross publicar uma nova sistematização do mapa do relevo brasileiro, na década de 1990. Tendo como base essa classificação, o relevo brasileiro apresenta três grandes tipos de unidades geomorfológicas: planaltos, depressões e planícies, divididas em diversas subunidades. Apesar da antiguidade de algumas áreas do território brasileiro (terrenos Pré-Cambrianos), a história do relevo nosso e sua cronologia são mais significativas a partir do Cretáceo (um dos períodos do Mesozoico).
Os planaltos brasileiros Planaltos são compartimentos que apresentam superfície bastante irregular e altitudes superiores a 300 m, onde processos erosivos predominam sobre processos sedimentares. De acordo com a classificação de Ross, o Brasil apresenta planaltos em bacias sedimentares, planaltos em intrusões e coberturas residuais de plataforma, planaltos em núcleos cristalinos arqueados e planaltos em cinturões orogênicos. A compartimentação atual [do território brasileiro] tem fortes ligações genéticas com o soerguimento da plataforma sul-americana, ao longo do Cenozoico (epirogênese pós-cretácea), e com os processos erosivos, muito marcantes nas bordas das bacias sedimentares, que ocorreram principalmente a partir do Terciário, estendendo-se até o Quaternário. ROSS, J. Os fundamentos da geografia da natureza. In: ROSS, J. (Org.). Geografia do Brasil. 6. ed. São Paulo: Edusp, 2011. p. 52.
Planaltos em bacias sedimentares Esses planaltos estão quase inteiramente ladeados por depressões. Também apresentam relevos com escarpas, caracterizados por frentes de cuestas, como na ilustração. São os planaltos da bacia Amazônica oriental e ocidental, os planaltos e chapadas da bacia do Parnaíba e os planaltos e chapadas da bacia do Paraná.
Relevo de cuesta em borda de bacia sedimentar soerguida Relevo de cuestas
Relevo de cuestas
Relevo de cuesta em borda de bacia sedimentar soerguida. Fonte:
Perfis de relevo O planalto da Amazônia oriental caracteriza-se pela presença de topos convexos ou planos e ocorrência de tabuleiros. Os limites norte e sul são bastante definidos, muitas vezes por escarpas.
106
Perfil norte-sul da região Amazônica B
Fonte: ROSS, J. (Org.). Geografia do Brasil. 6 ed. São Paulo: Edusp, 2011. p. 54.
Os Planaltos e Chapadas da bacia do Parnaíba ao sul são demarcados pela frente de cuesta de Ibiapaba, ou serra Grande do Piauí. Apresenta topos amplos e planos.
Perfil leste-oeste da região Nordeste D
Fonte: ROSS, (Org.). S. Geografia do Brasil. 6 ed. São Paulo: Edusp, 2011. p. 55.
Perfil leste-oeste das regiões Centro-Oeste e Sudeste
F
Fonte: ROSS, J. (Org.). Geografia do Brasil. 6. ed. São Paulo: Edusp, 2011. p. 63.
Os planaltos e chapadas da bacia do Paraná possuem terrenos sedimentares entremeados por rochas vulcânicas. É frequente a presença de extensas superfícies altas e planas entre 900 m e 1 000 m de altitude, como a chapadas, dos Guimarães e o planato do Taquari.
Planaltos em intrusões e coberturas residuais de plataforma Esses planaltos apresentam coberturas sedimentares e presença de serras e morros isolados associados a intrusões graníticas, derrames vulcânicos antigos e dobramentos do Pré-Cambriano. Como exemplo temos os planaltos residuais norte-amazônicos – onde se localiza o pico da Neblina – e os planaltos residuais sul-amazônicos, onde se encontram a chapada do Cachimbo e a serra dos Carajás, importante província mineralógica brasileira. Destaca-se também o planalto e a chapada dos Parecis, que se estende do leste do Mato Grosso até o sudeste de Rondônia, com presença de topos planos a arredondados.
Planaltos em núcleos cristalinos arqueados São representados pelo planalto da Borborema (PE) e pelo planalto Sul-Rio-Grandense (RS). São áreas muito antigas e trabalhadas por processos erosivos ao longo do Terciário.
107
No Brasil, ocorrem em faixas de orogenia antiga. Nesses planaltos, encontram-se inúmeras serras, bastante escarpadas e intensamente erodidas. De acordo com Ross (2011), as serras residuais do Alto Paraguai são constituídas de rochas sedimentares antigas, dobradas por processos orogenéticos e posteriormente trabalhadas por diversos ciclos erosivos, enquanto nos planaltos e serras do Atlântico leste-sudeste são encontradas escarpas acentuadas como as serras da Mantiqueira e do Mar, e fossas tectônicas, como o vale do Paraíba. Localiza-se nesse conjunto também a serra do Espinhaço, entre Minas Gerais e Bahia.
João Prudente/Pulsar Imagens
Planaltos em cinturões orogênicos
As depressões
Planalto da Borborema em Santa Luzia (PB), em 2011.
Fabio Colombini
Depressões são áreas rebaixadas. Dividem-se em absolutas (abaixo do nível do mar) e relativas (mais baixas que seu entorno). No Brasil, encontramos apenas depressões relativas. Em geral, foram geradas por processos erosivos muito intensos nas bordas das bacias sedimentares (com exceção da depressão Amazônica). Veja a seguir como as depressões estão divididas de acordo com Ross (2011). • Depressão da Amazônia ocidental: localizada no oeste da Amazônia. Apresenta terrenos em torno dos 200 m de altitude. É uma superfície extremamente aplainada, com leve processo de erosão fluvial que originou colinas baixas. • Depressões marginais Amazônicas: localizadas nas bordas norte e sul da bacia Amazônica. Foram aplainadas por processos erosivos muito antigos.
Chapa dos Veadeiros em Piumhi (MG), em 2012. credito
• Depressão do Araguaia: acompanha o vale do rio Araguaia, tendo na sua parte central a planície do mesmo rio, onde se encontra a ilha do Bananal, uma das maiores ilhas fluviais do mundo. • Depressão Cuiabana: localiza-se entre as serras residuais do Alto Paraguai e a borda da bacia do Paraná. • Depressões do Alto Paraguai e Guaporé: área contígua ao Pantanal, ao norte, coberta por sedimentos arenosos finos. • Depressão do Miranda: ao sul do Pantanal Mato-Grossense, drenada pela bacia do rio Miranda. Corresponde a uma superfície baixa e muito aplainada. • Depressão do Tocantins: acompanha o vale do rio de mesmo nome. Apresenta um relevo quase plano e fraco grau de erosão. 108
legenda
• Depressão Sertaneja e do São Francisco: extensa área rebaixada que acompanha o rio São Francisco. Apresenta inúmeros trechos com inselbergs. • Depressão da borda leste da bacia do Paraná: apresenta formas diversificadas em razão da influência tectônica e da variação das rochas que a compõem e dos diferentes graus de erosão a que foi submetida. • Depressão periférica central ou Sul-Rio-Grandense: localiza-se em áreas com sedimentos na borda da bacia sedimentar do Paraná, sendo drenada pelas bacias dos rios Jacuí (para leste) e Ibicuí (para oeste).
As planícies Planícies são áreas planas geradas pela deposição de sedimentos recentes de origem marinha, lacustre ou fluvial. De acordo com Ross (2011), dividem-se em: • Planície do rio Amazonas: ocupa uma área bem
ATIVIDADE
menor do que se pensava anos atrás. A área mais ampla dessa planície está na ilha de Marajó, embora acompanhe todo o rio Amazonas e os baixos cursos de seus afluentes. • Planície do rio Araguaia: situa-se principalmente no médio curso do rio, onde se encontra a ilha do Bananal. • Planície do rio Guaporé: caracteriza-se por também ser um pantanal, constituída por um terreno plano com altitude em torno de 200 m, que se une ao Pantanal Matogrossense. • Planície e Pantanal do rio Paraguai ou Mato ‑Grossense: área de deposição de sedimentos aluviais recentes, que avança em direção à Bolívia e ao Paraguai, com altitudes em torno de 100 m a 150 m, de grande importância ecológica. • Planícies das lagoas dos Patos e Mirim: geradas pela deposição de sedimentos marinhos e lacustres, situam-se no litoral do Rio Grande do Sul e avançam em direção ao território uruguaio.
Riscos ambientais do meu município
1a parte: estrutura geológica e relevo do meu município Para toda a turma: pesquisem três mapas gerais do Brasil: um mapa político, um mapa geológico e o mapa da classificação do relevo brasileiro organizado por Jurandyr Ross, todos na mesma escala. Em seguida, copiem em papel transparente o mapa político do Brasil, destacando a localização do seu município. Sobreponham então esse mapa ao geológico e destaquem, em cores, o tipo de estrutura geológica e as rochas principais na área ocupada por seu município. Depois, usando hachuras, sobreponham esse mapa ao da classificação do relevo brasileiro organizado por Jurandyr Ross e anotem o tipo de relevo que predomina onde se localiza seu município. É fundamental que os mapas tenham exatamente a mesma escala, senão haverá problemas sérios no momento da sobreposição.
2a parte: elaborando um mapa dos riscos ambientais A turma deve ser dividida em cinco grupos, cada um ficando responsável por uma pesquisa mais aprofundada sobre os seguintes temas: • o tipo de rochas e a estrutura geológica sobre a quais se assenta o município (grupo 1); • os recursos minerais e/ou energéticos disponíveis no município e em seu entorno e sua relação com a formação do relevo local (grupo 2); • as formas de relevo predominantes na atualidade e sua evolução (grupo 3); • o processo de ocupação do município, com destaque para a associação entre relevo, formas, evolução e localização de residências, empresas etc. (grupo 4); • áreas de maior risco ambiental, como deslizamentos, enchentes e inundações, arenização, desertificação etc. (grupo 5). • Ao final, apresentem seus trabalhos e mapas para a turma e, novamente, reúnam-se em um grande grupo para elaborar um mapa dos riscos ambientais do município.
109
crédito
Glossário ilustrado
GAR1_CAP06_I010 <COTAS QUE DEVEM ESTAR NA ILUSTRAÇÃO>
Fonte: Elaborado pelas autoras.
ECOSSISTEMAS E BIOMAS DO BRASIL Observe os mapas a seguir.
GAR1_CAP06_M006 Mundimagem
BIOMAS BRASILEIROS 50° O
0°
Equador
OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO e Trópico d
Capricórnio
Biomas Amazonas Caatinga Cerrado Mata Atlântica Pantanal Pampa
Fonte: Ministério do Meio Ambiente, 2012.
110
70° O
40° O
N O
L S
Equador
0°
23°27"S
Domínio Amazônico
Mundimagem
DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS DO BRASIL
Trópico de Capricórnio
Domínio da Caatinga Domínio do Cerrado
OCEANO
Domínio dos Mares de Morros
ATLÂNTICO
Domínio das Araucárias
30°S
Domínio das Pradarias
0
400 km
Área de transição
1 cm
Fonte: AB’SÁBER, A. N. Os domínios morfoclimáticos e províncias fitogeográficas do Brasil. Revista Orientação. São Paulo: IG-USP, 1970.
70° O
40° O
N O
L S
Equador
0°
Mundimagem
BRASIL: FORMAÇÕES VEGETAIS ORIGINAIS
Caatinga Campos de Roraima 23°27"S
Cerrado
Trópico de Capricórnio
Zonas de transição Floresta Amazônica
OCEANO
Floresta Atlântica
ATLÂNTICO
Mata caducifólia 30°S
Mata de pinheiros Campanha gaúcha Campos
0
400 km 1 cm
Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.
111
VEGETAÇÃO BRASILEIRA ATUAL Mundimagem
GAR1_CAP06_M009
50°O
Boa Vista RORAIMA 0°
AMAPÁ Macapá
Equador
Belém São Luís Manaus
Fortaleza
AMAZONAS
PARÁ
MARANHÃO
Teresina
CEARÁ
ACRE Rio Branco
RIO GRANDE DO NORTE Natal PARAÍBA
PIAUÍ
PERNAMBUCO
Porto Velho
Palmas
RONDÔNIA
TOCANTINS
João Pessoa Recife
Maceió ALAGOAS Aracaju SERGIPE
BAHIA
MATO GROSSO Salvador DF Cuiabá
Brasília
OCEANO PACÍFICO
OCEANO ATLÂNTICO
GOIÁS Goiânia MINAS GERAIS
MATO GROSSO DO SUL
Belo Horizonte
Campo Grande SÃO PAULO
São Paulo
PARANÁ
ESPÍRITO SANTO Vitória
RIO DE JANEIRO Rio de Janeiro
Trópico de
Capricórni o
Curitiba SANTA CATARINA Florianópolis RIO GRANDE DO SUL Porto Alegre
Regiões fitoecológicas ou tipos de vegetação Floresta ombrófila densa (floresta tropical pluvial) Floresta ombrófila aberta (Fasciações da Floresta ombrófila densa) Floresta ombrófila mista (floresta de araucária) Floresta estacional semidecidual (floresta tropical subcaducifólia) Floresta estacional decidual (floresta tropical caducifólia) Campinarama (Caatinga da Amazônia, Caatinga-gapó e Campina da Amazônia) Savana (Cerrado) Savana estépica (Caatinga do Sertão Árido, Campos de Roraima, Chaco Sul-Mato-Grossense e Parque do Espinilho da Barra do Rio Quaraí)
Savana estépica (Caatinga do Sertão Árido, Campos de Roraima, Chaco Sul-Mato-Grossense e Parque do Espinilho da Barra do Rio Quaraí) Estepe (Campos do Sul do Brasil) Áreas das formações pioneiras Vegetação com influências marinha, fluviomarinha e fluvial Áreas de tensão ecológica Contato entre tipos de vegetação Área antropizada Área antropizada
Fonte: IBGE. Atlas nacional do Brasil Milton Santos. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 88.:
ATIVIDADE Formações vegetais Com base na análise dos mapas, responda ao que se pede. a) Qual a diferença entre o mapa de biomas e o de domínios morfoclimáticos? b) Qual a diferença entre a representação geral das formações vegetaisoriginais e a da vegetação brasileira atual?
Biodiversidade global: número de espécies de plantas vasculares GAR1_CAP06_M010
Fonte: Biohere. Disponível em: <www.biohere.com/images/globbiod.JPG>. Acesso em: 17 dez. 2015.
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A interação entre os climas, o relevo e os solos resulta em diferentes tipos de fauna e flora. Em regiões quentes e úmidas, a biodiversidade é muito maior se compararmos às regiões frias e/ou secas. Fatores como luminosidade, solos e dinâmica das massas de ar são determinantes para a distribuição, a adaptação e o desenvolvimento diversificado da vegetação no planeta. Existem plantas que, para o seu desenvolvimento, necessitam de muita luminosidade; outras se desenvolvem melhor à sombra. Há plantas adaptadas a ambientes semiáridos, outras sobrevivem apenas em ambientes muito úmidos. O solo, além do clima, constitui um fator essencial ao desenvolvimento das formas de vida e gera a necessidade de adaptações. Solos ácidos, por exemplo, típicos de climas tropicais, levam à adaptação e ao desenvolvimento de espécies como as do Cerrado brasileiro, de aspecto tortuoso. Portanto, as variações climáticas de relevo (com destaque para as mudanças de altitude), do solo, da umidade e da luminosidade são fundamentais para o desenvolvimento da flora de determinado lugar. E a flora, por sua vez, é responsável pelo sustento da fauna. O Brasil pode ser considerado um país muito rico em biodiversidade, graças à variedade de suas paisagens. Por essa razão, ainda hoje inúmeras espécies têm sido registradas. Isso tudo está correlacionado às características climatobotânicas e de relevo pretéritas e atuais, assim como ao calor e à abundância de água em nosso território. A interação entre relevo, climas, solos, hidrografia, flora e fauna de determinado lugar e seu intercâmbio com as sociedades humanas corresponde ao conceito de domínios morfoclimáticos, segundo definição de Aziz Ab’Sáber. Além dos domínios principais, Ab’Sáber destacou as áreas ou faixas de transição, onde as características das paisagens não apresentam uma definição muito expressiva, geralmente agregando elementos das zonas vizinhas. Já os biomas são unidades biogeográficas com extensão ampla, constituídas de diversos ecossistemas com uma história evolutiva comum, e apresentando, assim, as mesmas adaptações a determinadas condições edáficas (do solo) e climatológicas. São exemplos de biomas as Savanas, as Florestas Tropicais, a Taiga, entre outros. Os ecossistemas são grupos menores que compõem o bioma, correspondendo ao espaço de convivências (meio ambiente), trocas, disputas e associações entre plantas, animais e microrganismos. A
formação dos ecossistemas e, consequentemente, dos biomas só foi possível pela sucessão de ambientes, ou sucessão ecológica. As diferenças entre ecossistemas, biomas e domínios morfoclimáticos podem ser associadas aos seguintes fatores: • Ao utilizar o conceito de ecossistema, podem-se empregar diversas escalas, desde uma simples bromélia, capaz de criar microssolos e microclimas entre suas folhas, onde vivem outras espécies, até vastas extensões, como a Floresta Tropical. O que importa, nesse caso, é a interação entre fatores bióticos e abióticos em diversas escalas. • Ao utilizar o termo bioma, em geral, a referência está centrada nos fatores bióticos do ambiente, especialmente flora e fauna. • Ao utilizar o conceito de domínios morfoclimáticos, a referência também corresponde à interação entre fatores bióticos e abióticos. Nesse caso, porém, utiliza-se a ideia de domínio para determinar uma vasta área onde predominam determinados aspectos gerais de solos, climas, vegetação, hidrografia, fauna e relevo. Sucessão de ambientes é um conceito derivado da Biologia e que afirma que os sistemas naturais tendem a evoluir de sistemas simples, com baixa biomassa, para sistemas complexos, com elevada biomassa. São autorregulados e seu equilíbrio dinâmico depende de sua diversidade biológica, complexidade de interações, reciclagem intensiva de nutrientes e fluxo de energia, entre outros.
ATIVIDADE Palestra de Aziz Ab’Saber Reproduzimos, a seguir, trechos da palestra de Aziz Ab’Sáber, em 2005, no Conselho de Economia, Geologia e Política da Federação do Comércio do Estado de São Paulo.
autoras: Este glossário estava numa imagem oculta no arquivo do original. Ela entra? Logo em seguida vem o Saiba mais sobre a mesma coisa. ver com André. Tem um saiba mais de Sucessão de ambientes
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SAIBA MAIS Sucessão de ambientes/sucessão ecológica
GAR1_CAP06_I011
Fonte: ROSS, J. (Org.). Geografia do Brasil. 6. ed. São Paulo: Edusp, 2011.
O conceito de sucessão está ligado à tendência da natureza em estabelecer novo desenvolvimento em uma determinada área, correspondente com o clima e as condições de solo locais. Se o desenvolvimento se inicia a partir de uma área que não tenha sido antes ocupada, como, por exemplo, uma rocha, ou uma exposição recente de areia, chamamos de sucessão primária. Se este desenvolvimento se processa numa área que já sofreu modificações, como uma área utilizada pela agricultura, ou que sofreu desmatamento, chamamos de sucessão secundária […]. Quando falamos em sucessão, estamos nos referindo a um processo que ocorre em etapas. Estas etapas se desenrolam desde a área totalmente desocupada, onde começam a se estabelecer as primeiras espécies vegetais, até a nova formação de uma floresta madura. As comunidades animais também participam intrinsecamente do processo […]. As referidas etapas se sucedem à medida que uma comunidade modifica o ambiente, preparando-o para que uma outra comunidade possa ali se estabelecer. Assim, a sucessão se faz por substituição de uma comunidade por outra, até atingir um nível onde muito mais espécies podem se expressar, no seu tamanho máximo, e onde a biodiversidade também é máxima. […] Para cada etapa da sucessão teremos uma condição de ambiente distinta. Para que as espécies, tanto vegetais como animais se restabeleçam em determinada etapa (continuando no processo, ou desaparecendo com sua progressão), elas dis-
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põem de uma série de estratégias de adaptação. Estas estratégias facilitam a sobrevivência e a reprodução dentro da sucessão de ambientes […]. REIS, A.; ZAMBONIM, R. M.; NAKAZONO, E. M. Recuperação de áreas florestais degradadas utilizando a sucessão e as interações planta-animal. Caderno 14: Série Recuperação. São Paulo: Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, 1999. p. 16-17. Disponível em: <www.rbma.org.br/rbma/pdf/Caderno_14.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2015.
Precisamos de projetos aureolares Um país com grande diversidade regional, com a rusticidade dos sertões nordestinos, [...] e com a imensidade da Amazônia brasileira, não pode ser pensado apenas em projetos pontuais ou lineares, mas em projetos aureolares, que envolvam uma área inteira e não uma linha ao longo de um rio ou de uma estrada. Quando se fala em planejamento, o primeiro conceito que nos vem à cabeça decorre de uma ideia intuitiva: vamos fazer a transposição de águas para além do Araripe, vamos abrir uma estrada para o Pacífico etc. Até aí não há plano, é ideia intuitiva. Divulgada a ideia, surgem as expectativas de grupos muito diferentes – empreiteiros, proprietários de áreas rurais –, ante a possibilidade de obter vantagens. O planejamento começa a se embolar com as expectativas, e via de regra a da população mais carente é que ele resolva os problemas da pobreza. Fico indignado com esse modo de tratar o planejamento, sabendo que certos planos vão favorecer mais alguns membros da sociedade do que outros. [...] Vou dizer alguma coisa sobre planejamento. Ele pressupõe metodologia e uma ideologia do social, pois não é feito para grupos pequenos. Além disso, a metodologia é difícil de ser entendida, porque cada tipo de ideia intuitiva que se queira transformar em planejamento precisa ter um método diferenciado. Quando eu era universitário, ouvia os engenheiros falarem em viabilidade técnica e econômica. [...] Por um lado, basta ter boas escolas politécnicas e instituições de pesquisas para garantir uma tecnologia avançada, observando o que acontece no âmbito internacional. Mas a segunda parte, a econômica, é curiosa. Viabilidade econômica para grupos, para as elites, para o corpo social total? Essa não era a preocupação. Hoje a questão toda é muito diferente. Tenho de pen-
sar na viabilidade técnica, científica e econômica em termos da economia total da população e na viabilidade social, ecológica e ambiental, sem o que o plano não vale nada. Então, quando um plano extravasa para o corpo social, ele é bom. Quando é dirigido apenas demagógica ou estrategicamente em termos políticos, ele é ruim. [...] Não fizeram nenhum mapa geomorfológico do Ceará e do Rio Grande do Norte para conhecer os espaços que poderão ser irrigados. Começa por aí minha crítica ao projeto da transposição das águas do São Francisco. [...] A maior dificuldade é quando o planejador usa um método geral e uma metodologia particular para cada tipo de projeto. [...] O problema do conhecimento é a interdisciplinaridade. Sempre que os cientistas e pesquisadores das universidades brasileiras se fixarem apenas na sua especialidade e não pensarem no Brasil, estarão sendo criminosos. A interdisciplinaridade exige para cada projeto pessoas competentes. É preciso ter um geógrafo com conhecimento sobre o mundo físico, ecológico e dos ecossistemas; bons agrônomos, [...]; economistas e sociólogos. Quem não entende de culturas populares e subculturas brasileiras não pode saber como um projeto vai ser recebido. [...] Qualquer projeto para esses lugares não precisa de uma pessoa autoritária como algumas que trabalham na transposição do São Francisco. [...] Acho que qualquer pessoa que esteja no topo da sociedade ou da política deveria pensar no nacional, no regional e no setorial. Foi o que disse ao presidente. Ele respondeu: “Escreva isso”. E ficou por isso mesmo. [...] Em 1956, chegaram geógrafos do mundo todo ao Rio de Janeiro, e tive de fazer três excursões com eles. [...] A terceira pelo sertão do Nordeste, com o professor Mário Lacerda de Melo. [...] Na região de Campina Grande e Soledade, começa o sertão, e no alto vale do rio Paraíba do Norte há uma cidadezinha chamada Cabaceiras, onde chove só 286 mm por ano. Os livros didáticos dizem que os desertos recebem por ano até 100 mm de chuva, e o nordeste seco vai de 300 a 700 mm. Queria conhecer a cidade que recebe menos precipitações do que o conjunto e fui até lá. O rio estava seco, entrei pelas ruas de Cabaceiras e encontrei algumas pessoas aproveitando a tarde sentadas em cadeiras na frente das casas. Cheguei e disse: “Aqui é o lugar onde chove me-
nos no Nordeste e eu queria saber quais os problemas que vocês enfrentam em função disso”. O promotor, ao lado do delegado, afirmou: “Este é o melhor clima do Nordeste”. E respondi: “Se não viesse aqui, não ia saber o que as pessoas pensam”. Ele prosseguiu: “Aqui chove todos os meses. Quando cessam as chuvas do oeste e do norte, vêm as do leste. Temos água o ano todo, embora o rio seque por seis meses porque na cabeceira é muito seco, apesar de chover 600 mm por lá”. Sem conhecer o mundo real, estamos fadados a dizer bobagens. [...] Voltando à excursão para o Nordeste de que participei com geógrafos franceses, belgas, alemães, um norte-americano, o mais famoso do grupo era Jean Dresch. 5 [...] Dresch disse: “Pelo que vejo, esta é a região semiárida mais povoada do mundo, e por isso vai apresentar os maiores problemas para as autoridades da Zona da Mata e do restante do Brasil. Há gente demais para condições espaciais de vida agrícola e de produção de alimentos”. 5 [...] Aprendi uma coisa: nós, de todas as classes sociais, temos de voltar a atenção para aqueles que não tiveram condição de ascender nas classes mais pobres. O meu lema, a minha ideologia é a seguinte: ninguém escolhe o tempo, o lugar geográfico, a classe socioeconômica e sociocultural para nascer; nasce onde o acaso favorecer. Portanto, na rusticidade dos sertões, à beira dos igarapés ou numa favela de São Paulo. AB’SÁBER, A. Precisamos de projetos aureolares. In: Problemas brasileiros. São Paulo: Sesc, n. 374, mar. 2006. Disponível em: <www.sescsp.org.br/online/artigo/3278_ PLANEJAMENTO+PARA+O+BRASIL#/tagcloud=lista>. Acesso em: 11 fev. 2016.
Após a leitura da palestra, responda às perguntas a seguir. 1. O que é planejamento para Ab’Sáber? 2. Como ele entende que o planejamento deve ser pensado e executado? 3. Quais as críticas que ele fez ao projeto de transposição do rio São Francisco? 4. O que ele percebeu em sua experiência na cidade de Cabaceiras, na Paraíba? 5. Pelo que ele discutiu com Jean Dresch, qual o principal problema do Sertão? 6. Você concorda com a opinião de Dresch? O problema é mesmo o excesso de pessoas? Como você resolveria essa questão? 115
Domínios morfoclimáticos Os domínios morfoclimáticos brasileiros são definidos com base nas características climáticas, botânicas, pedagógicas, hidrológicas e fitogeográficas de determinada região.
Domínio da Amazônia
crédito
O domínio amazônico caracteriza-se por apresentar terras baixas – depressões relativas e planícies , grande insolação e grande pluviosidade anual, o que define o seu clima e confere grande diversidade à paisagem vegetal.
Guerra, A.T. Dicionário geológicogeomorfológico. São Paulo: IBGE, 1978.
F006
legenda
A formação geológica da bacia Amazônica
crédito
Os estudos de Orville Derby, no século XIX, revelaram que as áreas mais baixas da Amazônia, onde atualmente corre o rio Amazonas, já foram leito de mar, antes da formação da cordilheira dos Andes, na porção ocidental da América do Sul. Leia os textos a seguir que tratam sobre esse assunto.
CAP5_T005
legenda
Texto I O vale do Amazonas, a princípio, apareceu como um largo canal entre duas ilhas, das quais uma constitui a base e o núcleo do planalto brasileiro, e a do planalto da Guiana. Essas ilhas aparecem no início da idade siluriana ou um pouco depois dela. Naquela época os Andes não existiam ainda. 116
Texto II No estudo da origem do baixo planalto e da planície Amazônica, observa-se que o soerguimento dos Andes, barrando a comunicação franca existente entre o Atlântico e o Pacífico levou à formação de um grande braço de mar. Este foi totalmente enchido, isto é, colmatado com aluviões carregadas, não só da Colmatar grande cadeia jovem que Trabalho de surgira na era Terciária, preenchimento de áreas mas também do material mais baixas pela ação dos dois grandes maciços natural e/ou do ser humano. velhos e desgastados. Um ao norte – o antigo planalto das Guianas e outro ao sul – o planalto Brasileiro.
Os textos nos mostram que a grande área envolvendo as terras baixas da Amazônia já recebeu sedimentos marinhos e, posteriormente, sedimentos do relevo do entorno. Isso explica por que o solo amazônico é profundo (latossolo), porém pobre em nutrientes. O solo mais profundo é constituído por deposição arenosa e o superficial por terra e húmus constituído pelos restos orgânicos da própria floresta.
O clima e a vegetação O clima equatorial caracteriza-se pelas temperaturas médias anuais muito elevadas e pela grande pluviosidade. A região amazônica se encontra em área de baixa latitude que recebe grande insolação o ano todo. A elevada temperatura, por sua vez, é a responsável pelas chuvas de convecção constantes na região. Na faixa equatorial de todo planeta, ocorrem os choques das massas de ar do hemisfério norte com as do hemisfério sul, fenômeno conhecido como – Convergência Intertropical (CIT), ou Doldrum. Esse fenômeno explica o fato de a região ser extremamente úmida, mesmo tendo a maior parte das suas terras distantes do litoral. A vegetação é uma consequência do clima e das condições do solo. A Floresta Amazônica possui as seguintes características: • perenifólia: mantêm-se com folhas o ano todo; Chuvas de convecção Chuva resultante do encontro entre duas massas de ar, uma quente e outra fria.
• higrófita: típica de ambiente úmido; • latifoliada: folhas largas, característica típica de lugares úmidos; • heterogênea: grande biodiversidade; • estratificada: apresenta plantas de diferentes alturas e ciclos biológicos, a exemplo das rasteiras, arbustivas e arbóreas. Além das características gerais, a floresta pode ser subdividida em: • Mata de igapó: solos permanentemente alagados, ácidos, árvores que podem alcançar metros de altura, epífitas e cipós. Uma espécie muito conhecida da mata de igapó é a vitória-régia, cuja folhas podem atingir um grande diâmetro. • Mata de várzea: ocorre nos terrenos sazonalmente alagados. • Mata de terra firme: ocorre nas áreas onde não há inundações sistemáticas. Cobre aproximadamente 90% da Amazônia e possui árvores de grande porte, a exemplo das castanheiras. As copas das árvores da Amazônia são muito altas e formam um dossel contínuo, impedindo a penetração dos raios solares, por isso seu interior é escuro.
O funcionamento autossustentado da Floresta Amazônica A Floresta Amazônica desenvolveu-se sobre um solo superficial muito frágil. A fertilidade do solo amazônico está restrita à camada superior, que possui húmus. Dessa forma, a medida que os restos orgânicos da floresta caem sobre o solo, ajudam a fertilizá-lo, mantendo um ciclo biológico que se autossustenta. As raízes das árvores e arbustos são compridas, mas não profundas. Elas se desenvolvem horizontalmente e se entrelaçam, o que ajuda a manter o equilíbrio de árvores tão altas. Quando a floresta é retirada, rompe-se o ciclo e, com as chuvas constantes, os processos de lixiviação aumentam exponencialmente. Por isso, em poucos anos, a fertilidade aparente dos solos dá lugar a depósitos de areia ou processos erosivos violentos, como as voçorocas. Os rios da Amazônia tem possuem regime pluvial, isto é, dependem da água das chuvas. O rio principal, o Amazonas, possui regime misto, pois a sua nascente está ligada, ao degelo da cordilheira dos Andes e, a maior parte do seu curso, depende das chuvas. Os rios, por correrem sobre as planícies e depressões, são lentos. Eles depositam sedimentos que desviam seus cursos, obrigando-os o rio a fazer curvas.
As curvas dos rios são conhecidas como meandros. Dessa forma, um rio que apresenta muitos meandros necessariamente corre em um terreno mais plano. Os rios de planície são ótimos canais de transporte, desde que não sejam muito rasos, o que pode encalhar a embarcação. Já para o uso hidrelétrico não são os mais eficientes, pois apresentam pouca força natural para movimentar as turbinas de geração.
Ações humanas As ações antrópicas na região se caracterizaram, inicialmente, pela coleta de drogas medicinais, nos séculos XVIII e XIX. Entre o final do século XIX e o início do século XX, a região teve ampla exploração do látex dos seringueiros para a produção de borracha natural, atividade que chegou ao fim por causa da concorrência asiática no setor. A partir da década de 1970, o processo de ocupação se intensificou em consequência do estímulo do governo militar à ocupação da região – “Integrar para não entregar” era o slogan da época. Foram feitas obras grandiosas, a exemplo da rodovia Transamazônica e da usina hidrelétrica de Balbina, que pouco colaboraram para o desenvolvimento econômico e social da região, porém causaram grandes impactos ambientais. Em período, mais recente a degradação pelo ser humano continua em virtude do desmatamento e das queimadas. A agropecuária se expande sobre as áreas de floresta e o desenvolvimento sustentável fica prejudicado. O garimpo ilegal contamina os rios com mercúrio e prejudica a saúde dos povos da floresta. As questões mais urgentes em termos de conservação e uso dos recursos naturais da Amazônia dizem respeito à perda em grande escala de funções críticas da Amazônia frente ao avanço do desmatamento ligado às políticas de desenvolvimento na região, tais como especulação de terra ao longo das estradas, crescimento das cidades, aumento dramático da pecuária bovina, exploração madeireira e agricultura familiar (mais recente a agricultura mecanizada), principalmente ligada ao cultivo de soja e algodão. (ALMEIDA, S.; FERREIRA, L. V.; VENTICINQUE, E. O desmatamento na Amazônia e a importância das áreas protegidas. In: Revista Estudos Avançados. São Paulo: IEA-USP, v. 19, n. 53, jan./abr. 2005).
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Sistema Aquífero Grande Amazônia (SAGA) Imagine uma quantidade de água subterrânea capaz de abastecer todo o planeta por 250 anos. Essa reserva existe, está localizada na parte brasileira da Amazônia e é praticamente subutilizada. Até dois anos atrás, o aquífero era conhecido como Alter do Chão. Em 2013, novos estudos feitos por pesquisadores da UFPA (Universidade Federal do Pará) apontaram para uma área maior e deram uma nova definição. “A gente avançou bastante e passamos a chamar de SAGA, o Sistema Aquífero Grande Amazônia. Fizemos um estudo e vimos que aquilo que era o Alter do Chão é muito maior do que sempre se considerou, e criamos um novo nome para que não ficasse essa confusão”, explicou o professor do Instituto de Geociência da UFPA, Francisco Matos. Segundo a pesquisa, o aquífero possui reservas hídricas estimadas preliminarmente em 162 520 km³ – sendo a maior que se tem conhecimento no planeta. […] 50° O
OCEANO ATLÂNTICO
0°
74.710
Equador
25.950
Solimões 600.000
37.900
Marajó 55.00
Amazonas 500.000
23.960 Acre 150.000
Área (km²) Reserva (km²)
Fonte: MADEIRO, C. Maior aquífero do mundo fica no Brasil e abasteceria o planeta por 250 anos. UOL Notícias, Cotidiano, 21 mar. 2015. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/03/21/maior-aquifero-do-mundo-fica-no-brasil-e-abasteceria-o-planeta-por-250-anos.htm>. Acesso em: 10 mar. 2015.
Domínio da Caatinga A Caatinga estende-se por todo o interior do Sertão nordestino, chegando até o norte de Minas Gerais. É marcada pelo clima semiárido, com chuvas irregulares. A vegetação da Caatinga caracteriza-se por apresentar arbustos espinhentos e árvores de pequeno porte, além dos cactos. As raízes das espécies da 118
Rogério Reis/Pulsar Imagens
SAIBA MAIS
Caatinga são superficiais para captar a pouca água das chuvas. São, portanto, xerófitas – espécies de locais secos. A substituição das folhas pelos espinhos é uma adaptação à irregularidade das chuvas como forma de evitar a perda de água.
Caatinga com formação rochosa nas cidades de Sertânia e Caruaru (PE), em 2013.
Apesar de ser tratada como uma formação relativamente homogênea, existem vários subtipos de Caatinga adaptados às diferenças pluviométricas no interior do Sertão nordestino. Por isso, seria um erro acreditar que a Caatinga é pobre em biodiversidade. Embora não apresente índices comparáveis à Mata Atlântica e à Floresta Amazônica, há uma considerável variedade de Caatinga, subdividida em cinco tipos: caatinga seca e agrupada, caatinga seca e esparsa, caatinga arbustiva, caatinga das serras e caatinga da Serra do Moxotó. Os solos são rasos (litossolo), ricos em sais minerais, porém muito pobres em matéria orgânica. O seu manejo inadequado pode levar à desertificação. Contudo, a despeito do senso comum que predominava, os investimentos comerciais na área de Caatinga vêm demonstrando que os seus solos são férteis e rentáveis. Um bom exemplo é a produção de frutas na região de Petrolina, considerada o “Pomar da Caatinga”, que se destaca pela grande pesquisa, uso de tecnologias modernas e produção voltada para a exportação. As imagens da mídia mostrando o solo rachado dessa região são, na verdade, leitos de rios intermitentes, lagos e açudes secos em que a argila ressecou e rachou. A maior parte do domínio da Caatinga apresenta solo arenoso e pedregoso exposto, ou seja, sem vegetação. O atual mapa do relevo brasileiro de Jurandyr Ross, baseado no Projeto RADAMBRASIL, corrigiu um
antigo erro a respeito dessa área. Ao contrário do que se supunha, na grande extensão do domínio da Caatinga predominam as depressões, não os planaltos.
SAIBA MAIS Caatinga é uma palavra de origem tupi que quer dizer “mata branca”, numa alusão à mata aparentemente seca.
ATIVIDADE A transposição do São Francisco em questão Reúnam-se em grupos de até cinco alunos. Sob a orientação do(a) professor(a), pesquisem reportagens em jornais, internet e revistas sobre a indústria da seca e a transposição do São Francisco. • Leiam as reportagens e simulem um júri em classe. • Para a organização do júri, metade da classe deverá pesquisar, nas reportagens coletadas, argumentos para defender a transposição do São Francisco; a outra metade deverá coletar informações para se opor ao projeto. • Lembrem-se: vocês devem discutir com base em argumentos, e o objetivo central da atividade é compreender mais a fundo a proposta e os envolvidos, assim como suas consequências econômicas, ecológicas, sociais e políticas. • Caso seja possível, seria interessante, ainda para a construção dos argumentos de vocês, realizar entrevistas com pessoas que se posicionem favorável e contrariamente à transposição, para, então, formularem suas opiniões.
Domínio dos Mares de Morros Esse domínio associa a região dos planaltos cristalinos dispostos na parte oriental do território brasileiro com a Floresta Tropical ou Mata Atlântica. A Mata Atlântica é fisionomicamente muito semelhante à Floresta Amazônica, apresentando espécies latifoliadas, perenifólias e higrófilas. Possui uma das maiores biodiversidades do Brasil, apesar da sua grande degradação desde os primórdios da nossa colonização. Essa biodiversidade está associada à umidade ma-
rítima que chega até os morros florestados na forma de chuvas orográficas, mas também pelo fato dela, originalmente, ocupar extensão norte-sul, desde o Nordeste até o Sul, se associando a diversos tipos climáticos como o tropical úmido do Nordeste, o tropical de altitude do sudeste e o subtropical do Sul. Originalmente, a Mata Atlântica recobria cerca de 1,1 milhão de km2 do Brasil. Atualmente restam cerca de 7% dessa cobertura, sendo que esse percentual aumentou em virtude da criação dos parques estaduais e das ações de reflorestamento nas encostas. Foi uma das formações vegetais mais devastadas do Brasil, iniciando a sua degradação no período colonial, com a extração do pau-brasil e, posteriormente, no Nordeste, cedendo lugar à monocultura da cana-de-açúcar em solos de massapé. A área de maior reentrância continental da Mata Atlântica ocorria no estado de São Paulo. Ali, as espécies encontravam o rico solo de terra roxa que propiciava o seu desenvolvimento pleno e que permitiu a sua interiorização até 600 km da costa. Também nessa área a ação antrópica resultou em grande desmatamento, tanto para a utilização da madeira como para a pecuária e monoculturas, como o café no vale do Paraíba, entre São Paulo e Rio de Janeiro.
SAIBA MAIS A queima de florestas, ainda comum nos dias de hoje, era a prática mais empregada na preparação da terra para o plantio. Em 1711, o jesuíta André Antonil estabeleceu regras para orientar o plantio da cana-de-açúcar: “roça-se, queima-se e alimpa-se, tirando-lhe tudo o que pode servir de embaraço”. Nesse caso, o “embaraço” era a própria Mata Atlântica, cujas árvores serviam também como lenha para alimentar fornalhas da indústria do açúcar. Fonte: WWF. Disponível em: <www.wwf.org.br/ natureza_brasileira/questoes_ambientais/biomas/bioma_mata_atl/bioma_mata_atl_curiosidades/>. Acesso em:12 fev. 2016.
O domínio morfoclimático tropical atlântico é também conhecido por “mares de morros”, por causa da característica do relevo tropical litorâneo, marcado pela presença de morros. Essas elevações geralmente tem um aspecto arredondado, resultante do forte intemperismo, ou desgaste erosivo, típico dos climas tropicais.
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Domínio das Araucárias
Meridional, nos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Atualmente, essas formações estão muito reduzidas devido às atividades econômicas ligadas às aplicações comerciais da madeira. O domínio das matas de araucária no sul do Brasil está ligado ao planalto leste do rio Paraná, em altitudes em geral superiores a 500 m, o que determina a existência do clima subtropical. As temperaturas inferiores ao restante do país são consequência também da entrada de massas polares com grande frequência no inverno. Embora o planalto leste do rio Paraná apresente diferentes formações de relevo e solo, o domínio das matas de araucária é também caracterizado pela presença de solos férteis, inclusive a terra roxa.
Fabio Colombini
As matas de Araucária são caracterizadas pela presença evidente da Araucaria angustifolia, também conhecida por pinheiro-do-paraná, a espécie de conífera típica dos planaltos dos três estados do sul do Brasil. Ela tem folhas aciculifoliadas (estreitas) e sementes conhecidas popularmente como pinhões, um alimento rico em proteínas consumido desde antes da chegada dos europeus ao continente americano.
Domínio dos Cerrados O Cerrado é fisionomicamente muito semelhante às savanas africanas. É o bioma que apresenta também a fauna de maior porte do Brasil. Essa vegetação já ocupou cerca de 22% do território nacional, abrangendo Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Distrito Federal e partes menores de São Paulo, Paraná, Maranhão, Piauí e pequenas manchas no Amazonas, Roraima, Paraná e Rondônia.
As araucárias têm um tronco retilíneo e alto, que pode ultrapassar 30 metros de altura. Elas possuem uma típica copa que, em idade adulta, assume a forma de um cálice. Apesar do domínio visual causado pela altura da copa do pinheiro-do-paraná, a Mata de Araucária inclui várias outras espécies de árvores em extratos inferiores, como a da canela, a imbuia, o cedro e muitas outras. Embora o domínio morfoclimático das Matas de Araucária seja marcado pelo aspecto florestal, ele também inclui extensas áreas de Campos, normalmente localizados em altitudes superiores a 800 m. É muito frequente a presença de bosques de Matas de Araucária entre esses Campos, geralmente ocorrendo em terrenos mais baixos e úmidos – os chamados capões – ou em fundos de vales. As áreas de Campos, assim como as Matas de Araucária, passaram por um longo processo de ocupação e dilapidação pela exploração econômica. Pouco resta dos originais Campos naturais, bem como das Matas Subtropicais do Brasil. A explicação para isso está na boa qualidade da madeira da araucária, além da ocupação histórica das áreas florestais desde o século XIX por imigrantes europeus, e da derrubada de matas – embora ilegal – ainda nos dias de hoje. A presença da Mata de Araucária, sem dúvida, é o elemento que mais se distingue na fitofisionomia do sul do país. Ela era encontrada ao longo do planalto 120
crédito
Araucária em Urubici (SC), em 2012.
F010
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A vegetação é composta de estratos arbóreos, arbustivos e herbáceos. As árvores e arbustos desenvolveram estruturas específicas para o período seco, como raízes profundas, folhas coriáceas (duras) e semideciduidade (perdem parte das folhas na estação seca). Já as gramíneas espalham-se, formando um tapete intrincado de raízes superficiais, prontas a absor-
ver a maior quantidade possível de água no período chuvoso e a realizar rapidamente seu ciclo vegetativo. O solo do Cerrado em geral é antigo, intemperizado, ácido, profundo e com alta concentração de hidróxidos de alumínio, ferro e manganês, que comprometem a absorção de nutrientes pela planta, inibindo o seu crescimento e causando o aspecto tortuoso dos caules das árvores. Não raramente, as árvores possuem têm de até 18 m de profundidade para alcançar o lençol freático e suprir a necessidade hídrica durante a estação seca. Logo, o aspecto da vegetação do Cerrado não é resultante dos índices pluviométricos, mas das características do solo. Outro aspecto característico da vegetação é a presença de palmeiras, principalmente do buriti, na região Centro-Oeste. Quanto ao clima, ele é tropical com precipitações anuais acima de 1 000 mm. Há no cerrado duas estações climáticas distintas: inverno seco, com pouca chuva (maio-setembro) e verão chuvoso, quando ocorre aproximadamente 90% da precipitação anual (outubro-março). O Cerrado é uma formação que comporta vários subtipos relacionados às condições de solos e à frequência das queimadas. Queimadas periódicas (de dez em dez anos, por exemplo), são responsáveis pela renovação de sua flora. Porém, caso sua frequência e intensidade aumentem muito, poderá ocorrer o empobrecimento da flora. Os cerrados e “cerradões” – presentes nas áreas mais férteis – conformam a paisagem típica da região Centro-Oeste do Brasil, onde ainda se encontram os últimos vestígios dos chapadões recobertos por matas e florestas de galeria ao longo dos rios. O domínio do Cerrado ocupa maciços planálticos de estrutura complexa, envolvendo tanto formações sedimentares como cristalinas. Do ponto de vista do relevo, destacam-se três unidades geomorfológico-estruturais de grande extensão: o setor norte dos planaltos sedimentares (e/ou basálticos) da bacia do Paraná, com a ocorrência de cuestas, com altitudes entre 300 m e 1 100 m; os planaltos elevados de rochas antigas do centro de Goiás e Distrito Federal e os planaltos sedimentares da bacia do Urucuia, situados a noroeste de Minas Gerais e a oeste da Bahia. Esses planaltos são ladeados pelas depressões periféricas bem demarcadas do médio vale do rio São Francisco e pela depressão periférica do Paraná. Nos últimos anos, o Brasil vivenciou uma forte expansão de suas fronteiras agrícolas, fato que gerou grandes transformações nas áreas de Cerrado. A pes-
quisa agropecuária e o investimento financeiro transformaram o Centro-Oeste, eliminando a vegetação natural e dando lugar a milhões de hectares de novas áreas agrícolas. Desse modo, hoje podemos afirmar que o domínio do Cerrado já foi intensamente transformado.
Domínio das Pradarias Os Campos são característicos da metade sul do Rio Grande do Sul. Esse domínio, também conhecido por Campanha Gaúcha, é marcado basicamente por formações herbáceas (arbustos ou gramíneas que medem de 10 a 50 cm de altura), formando um tapete que recobre um relevo de ondulações geralmente suaves (as chamadas coxilhas). Nas áreas mais próximas da fronteira com a Argentina, a Campanha Gaúcha assume a conformação do Pampa do país vizinho, caracterizada por um relevo muito plano. Outros aspectos dos Campos sulinos são os extensos banhados localizados ao longo de lagos e lagunas na região costeira, bem como a quase ausência de árvores. A falta de árvores nesse domínio não é explicada pelo clima, afinal a pluviosidade não é baixa. É a pobreza do solo que explica a existência dessas Pradarias. O clima da região é subtropical úmido e o regime de chuvas é constante, podendo ocorrer geadas nos meses mais frios. As Pradarias do Rio Grande do Sul começaram a ser ocupadas a partir do século XVI, através das atividades agropecuárias, que tanto as caracterizam até hoje. Um sério problema que tem afetado esse domínio é a expansão de areais em áreas de camada fértil muito estreita. Esse problema ocorre devido ao manejo inadequado dos solos no sudoeste do Rio Grande do Sul. Segundo a classificação de Jurandyr Ross, o domínio das Pradarias no Brasil está localizado entre a extremidade sul dos planaltos da bacia do Paraná e a depressão periférica Sul-Rio-Grandense.
Domínios morfoclimáticos – Faixas de transição Uma grande extensão de terras brasileiras não está enquadrada em nenhum dos seis domínios; estas são justamente as áreas de transição. Essas áreas podem apresentar características próprias, como no caso do Pantanal, ou características de mais de um domínio morfoclimático. Entre as áreas de transição, podemos destacar a Mata dos Cocais, o Pantanal Mato-Grossense e as formações litorâneas. 121
Mata dos Cocais
O ecossistema do Pantanal é extremamente dependente das cheias dos rios que o drena, principalmente o Paraguai e seus afluentes. Os índices pluviométricos são razoavelmente elevados, oscilando entre 1 200 a 1 500 mm por ano. Por que ocorrem então essas imensas inundações? Porque o sistema de drenagem da região é muito lento. Como o Pantanal é uma imensa bacia quaternária, as cheias dos rios demoram aproximadamente seis meses para percorrer das nascentes à foz. Assim, a região permanece parcialmente alagada boa parte do ano. Essas cheias são responsáveis ainda pela fertilidade dos solos locais, pois carregam consigo nutrientes que são depositados durante as cheias, permitindo a fertilização. A expressão mais correta para esta vasta região (aproximadamente 200 000 km2) é “pantanais”, tal sua diversidade: florestas, cerrados, campinas. É considerado um verdadeiro paraíso da fauna e da ictiofauna (peixes).
Sofia Colombini
Localiza-se na parte sul e centro-leste do estado do Maranhão, centro-norte do Piauí e uma pequena parte do Ceará, de Goiás e do Mato Grosso. A flora é constituída por vegetação uniforme de palmeiras e coqueiros (babaçu, carnaúba e buriti). Tanto o baba-
Mata dos Cocais em Campo Maior (PI), em 2012.
Formações litorâneas
çu como a carnaúba são espécies que propiciam um grande aproveitamento econômico, pois delas são utilizadas fibras vegetais e produzidos óleos com várias aplicações. A extração do coco do babaçu é uma atividade que emprega milhares de pessoas nas Matas dos Cocais.
São chamadas de formações litorâneas mangues, dunas e restingas presentes ao longo do litoral brasileiro. A vegetação das dunas tem um aspecto rasteiro e raízes superficiais, que são muito importantes para a fixação dessas rochas em constante movimento pela ação dos ventos. O ambiente é muito desfavorável ao desenvolvimento da vegetação: há excesso de sal e falta de matéria orgânica. Como a areia não retém água, as poucas espécies que ocupam as dunas precisam desenvolver estruturas de armazenamento ou captação de água das chuvas, menos salinas. Como exemplo de vegetação de dunas de ação fixadora podemos citar a salsa-da-praia.
Pantanal Mato-Grossense
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Corresponde a uma extensa área de Cerrados e formações inundáveis localizada nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. É tratado como formação complexa em razão de sua grande variedade de espécies. É possível encontrar áreas de matas, rios, florestas e vastos campos que são periodicamente inundáveis.
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As restingas, são cordões arenosos que avançam em direção ao continente (como a restinga da Marambaia, no Rio de Janeiro). As restingas apresentam vegetação arbustiva, de pequeno porte, formando um denso emaranhado. É possível encontrar nas restingas desde cactáceas até plantas espinhentas e bromélias. Podemos considerar as restingas como um esforço de colonização de terras por plantas pioneiras e resistentes a um ambiente mais hostil. crédito
Os bosques de manguezal variam segundo a latitude, o meio físico, a hidrografia e a atmosfera, garantindo a variedade botânica e zoológica. São cerca de 60 tipos de árvores diferentes e outras 20 associações oferecendo suporte a mais de 200 espécies animais em todo o mundo. Os mangues ocupavam no Brasil uma área de aproximadamente 25. 000 km2, distribuídos ao longo do litoral (desde o Amapá até Santa Catarina). São conhecidos no Brasil três tipos de mangue: o branco (mais expressivo), o vermelho e o siriúba (mais comum nos litorais do Norte e Nordeste). Por causa da à expansão urbana, da poluição dos rios e oceanos e do desconhecimento desse ecossistema, ele vem sendo progressivamente degradado. crédito
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Os mangues ocorrem em litorais lodosos nos contornos de baías, estuários calmos de rios e outras regiões de águas pouco movimentadas. É uma formação composta principalmente de árvores de raízes aéreas, habituadas a um solo pobre em oxigênio, salino e pouco consolidado.
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QUESTÕES DE VESTIBULARES E DO ENEM 1. (Fuvest-SP, 2015)
2. (UFU-MG, 2015)
A luz aumentou e espalhou-se na campina. Só aí principiou a viagem. Fabiano atentou na mulher e nos filhos, apanhou a espingarda e o saco dos mantimentos, ordenou a marcha com uma interjeição áspera. Afastaram-se rápidos, como se alguém os tangesse, e as alpercatas de Fabiano iam quase tocando os calcanhares dos meninos. A lembrança da cachorra Baleia picava-o, intolerável. Não podia livrar-se dela. Os mandacarus e os alastrados vestiam a campina, espinho, só espinho. E Baleia aperreava-o. Precisava fugir daquela vegetação inimiga. Graciliano Ramos. Vidas secas.
a) Além da presença de espinhos, cite outras duas características da vegetação do bioma em que se passa a história narrada na obra Vidas secas.
b) Considerando a data de publicação da primeira edição do romance Vidas secas (1938) e a região em que se passa seu enredo, caracterize os problemas sociais sugeridos pelo texto.
O território brasileiro […] comporta um mostruário bastante completo das principais paisagens e ecologias do Mundo Tropical. […] Até o momento foram reconhecidos seis grandes domínios paisagísticos e macroecológicos em nosso país. AB’SÁBER, Aziz N. Os domínios da natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. p. 10.
Com relação aos domínios paisagísticos e macroecológicos do Brasil referenciados no texto, é correto afirmar que, na região: a) dos mares de morro, o relevo é formado por planaltos e maior altitude, o clima é do tipo subtropical e a vegetação é do tipo mista, com predomínio da floresta subtropical. b) da Amazônia, o relevo é formado por planícies e planaltos, o clima é do tipo quente e úmido, com chuvas abundantes e concentradas em alguns meses do ano, e a vegetação é densa.
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c) das Araucárias, o relevo é formado por planaltos e chapadas, o clima é bem definido, com chuvas bem distribuídas o ano todo, e a vegetação típica e remanescente é composta por árvores de médio porte.
As veredas têm um papel fundamental no equilíbrio hidrológico dos cursos de água no ambiente do Cerrado, pois a) colaboram para a formação de vegetação xerófila.
d) da caatinga, o relevo é formado por depressões e planaltos, o clima é do tipo semiárido, com chuvas concentradas em alguns meses do ano, e predomínio da vegetação espinhosa.
b) formam os leques aluviais nas planícies das bacias. c) fornecem sumidouro para as águas de recarga da bacia. d) contribuem para o aprofundamento dos talvegues à jusante.
3. (Unicamp-SP, 2015) As restingas podem ser definidas como depósitos arenosos produzidos por processos de dinâmica costeira atual (fortes correntes de deriva litorânea, podendo interagir com correntes de maré e fluxos fluviais), formando feições alongadas, paralelas ou transversais à linha da costa. Podem apresentar retrabalhamentos locais associados a processos eólicos e fluviais. Quando estáveis, as restingas dão forma às “planícies de restinga”, com desenvolvimento de vegetação herbácea e arbustiva e até arbórea. As restingas são áreas sujeitas a processos erosivos desencadeados, entre outros fatores, pela dinâmica da circulação costeira, pela elevação do nível relativo do mar e pela urbanização.
e) constituem um sistema represador da água na chapada.
5. (UFRGS-RS, 2015) Observe a charge a seguir.
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SOUZA, Célia Regina G. et al. Restinga: conceitos e emprego do termo no Brasil e implicações na legislação ambiental. São Paulo: Instituto Geológico, 2008. Adaptado.
É correto afirmar que as restingas existentes ao longo da faixa litorânea brasileira são áreas a) pouco sobrecarregadas dos ecossistemas costeiros, devido ao modo como ocorreu a ocupação humana, com o processo de urbanização. b) onde a cobertura vegetal ocorre em mosaicos, encontrando-se em praias, cordões arenosos, dunas, depressões, serras e planaltos, sem apresentar diferenças fisionômicas importantes. c) suscetíveis à erosão costeira causada, entre outros fatores, por amplas zonas de transporte de sedimentos, elevação do nível relativo do mar e urbanização acelerada. d) onde o solo arenoso não apresenta dificuldade para a retenção de água e o acesso a nutrientes necessários ao desenvolvimento da cobertura vegetal herbácea em praias e dunas.
4. (Enem, 2015) Algumas regiões do Brasil passam por uma crise de água por causa da seca. Mas, uma região de Minas Gerais está enfrentando a falta de água no campo tanto em tempo de chuva como na seca. As veredas estão secando no norte e no noroeste mineiro. Ano após ano, elas vêm perdendo a capacidade de ser a caixa-d’água do grande sertão de Minas. VIEIRA. C. Degradação do solo causa perda de fontes de água de famílias de MG. Disponível em: <http://g1.globo.com>. Acesso em: 1 nov. 2014.
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Disponível em: <http://ronairocha.blogspot.com.br/2006/04>. Acesso em: 25 ago. 2014.
A crítica referida na charge deve-se a) à ampliação da atividade pastoril no Norte do Brasil e à silvicultura de eucalipto no Sul, que acarreta a degradação dos biomas. b) às queimadas no Noroeste do país e à recuperação da vegetação original para uso farmacêutico. c) à biopirataria e ao plantio de pinus nas áreas desmatadas para utilização comercial. d) ao agronegócio que se expande no Norte e ao reflorestamento de áreas de Mata Atlântica para uso na indústria de cosméticos. e) à expansão do cultivo de grãos no Norte do país e ao reflorestamento com araucária nas áreas de campo no Sul para uso na indústria moveleira. 6. (Enem, 2013) Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua. Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas. Ao passo que a outra o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças, e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado; árvore sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados,
apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante… CUNHA, E. Os sertões. Disponível em: <http://pt.scribd.com>. Acesso em: 2 jun. 2012.
Os elementos da paisagem descritos no texto correspondem a aspectos biogeográficos presentes na a) composição de vegetação xerófila. b) formação de florestas latifoliadas. c) transição para mata de grande porte. d) adaptação à elevada salinidade. e) homogeneização da cobertura perenifólia. 7. (UEPB, 2012) Nas regiões mais pobres do planeta, existe uma grande lacuna a ser preenchida quanto ao desenvolvimento econômico e social nas áreas suscetíveis ou em processo de desertificação. No Brasil, entre as áreas mais afetadas estão os pampas gaúchos, o cerrado do Tocantins, o norte de Mato Grosso e o Polígono das Secas no Nordeste, onde 10% das terras na área sofrem processo de desertificação grave. Com base nas informações do texto e em seus conhecimentos, escreva F ou V, conforme sejam falsas ou verdadeiras para as proposições que tratam da temática mencionada. ( ) O processo de desertificação no sertão nordestino é resultante das características edafoclimáticas da região. ( ) A desertificação é resultante da inadequação dos sistemas produtivos, do manejo da terra de forma desordenada que provoca a degradação dos solos, da vegetação e da biodiversidade. ( ) As queimadas são práticas que aceleram o processo de desertificação. ( ) A desertificação é um problema social e ambiental, que torna a terra improdutiva, afetando a produção agrícola, a pobreza no campo e o processo de emigração para os centros urbanos da população que não consegue mais sobreviver na área. ( ) A desertificação também é acelerada por ações humanas, como a criação extensiva de gado e o desmatamento. Assinale a sequência correta das assertivas. a) FFVVV. b) FVFVV. c) VVFFV. d) FVVVV. e) VFFFV.
A NOTÍCIA EM DIVERSAS ÓTICAS O mundo como fábula, como perversidade e como possibilidade XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXX Analise a seguir dois textos sobre o tema do agronegócio. O primeiro, com dados sobre o agronegócio brasileiro, pode ser caracterizado pelo viés do “mundo como fábula”, e o segundo, que aborda uma questão sobre o bioma Cerrado, pelo viés do “mundo como perversidade”. Após a análise dessas informações, redija uma proposta com alternativas viáveis para a agricultura brasileira.
A fábula: Agronegócio tem saldo comercial de US$ 6,29 bilhões em setembro
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O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento divulgou hoje (13) que o agronegócio brasileiro teve saldo comercial de US$ 6,29 bilhões em setembro, resultado de vendas externas equivalentes a US$ 7,24 bilhões, ante compras de apenas US$ 954,93 milhões. De acordo com a Secretaria de Relações Internacionais do ministério, a participação dos produtos do agronegócio no total das exportações brasileiras aumentou de 42,3%, em setembro de 2014, para 44,8% no mês passado. A balança de setembro mostra que, pela primeira vez no ano, os cereais, farinhas e preparações ultrapassaram os embarques de café e do complexo sucroalcooleiro e ficaram entre os principais produtos no ranking brasileiro de exportações. As vendas externas caíram 12,7% em relação ao mesmo mês de 2014, por causa da diminuição das cotações internacionais dos principais produtos agropecuários exportados pelo Brasil. Mas as importações tiveram queda percentual ainda maior: de 33,1%. […] Disponível em: <www.ebc.com.br/noticias/economia/2015/10/agronegocio-tem-saldo-comercial-de-us-629-bilhoes-em-setembro>. Acesso em: 26 nov. 2015.
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A perversidade: Desmatamento de áreas próximas a nascentes agrava crise crédito
hídrica
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A falta de chuva não é a única responsável pela crise hídrica no Brasil. A retirada da cobertura vegetal do solo, agravada por atividades como agronegócio e mineração, contribui para reduzir ainda mais a disponibilidade de água nas torneiras. No Cerrado, onde estão as nascentes das principais bacias hidrográficas da América do Sul, incluindo a do rio São Francisco, que quase desapareceu com a seca, a situação é alarmante. A área devastada no segundo maior bioma brasileiro chega a 1,5 milhão de metros quadrados – em torno de 75%. Com isso, a água da chuva deixa de ser absorvida pela vegetação e não chega aos aquíferos. Pesquisadores do Instituto do Trópico Subúmido (ITS), ligado à Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), estimam que, a cada ano, pelo menos 10 pequenos córregos desaparecem na região. O cenário de devastação e falta de água é resul126
tado de ações danosas iniciadas séculos atrás. O pesquisador Altair Sales Barbosa, diretor do ITS, explica que o processo de degradação do solo vem ocorrendo desde a conquista do Centro-Oeste, com a construção e a urbanização de Belo Horizonte, Goiânia e Brasília. A situação se agravou a partir de 1970, quando multinacionais chegaram à região para explorar o agronegócio, destruindo praticamente toda a vegetação nativa. “Uma vez que se retirou a cobertura vegetal, as plantas substitutas (soja, cana-de-açúcar, algodão e outras monoculturas) não são capazes de exercer a função ecológica das originais, porque suas raízes são subsuperficiais”, informa Barbosa. Os cursos d’água, portanto, diminuem de nível até desaparecerem por completo. […] Disponível em: <www.correiobraziliense.com.br/app/ noticia/ciencia-e-saude/2015/03/09/interna_ciencia_saude,474509/desmatamento-de-areas-proximas-a-nascentes-agrava-crise-hidrica.shtml>. Acesso em: 26 nov. 2015.