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Kika Antunes
from Objetos Afetivos
by Adri Vianna
Belo Horizonte, MG
@antuneskika
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Estudei Comunicação Social até meados de 1991, mas foi na aventura e imersão em um laboratório e em cursos livres que descobri a fotografia como expressão. Desenvolvi trabalhos essencialmente no âmbito das artes cênicas, espectáculos e fotografia documental.
ato ou fato? permanência ou fuga? perda ou abandono? mágoa ou culpa? procuro no instante aquele minuto, um sopro de medo e incerteza, a cena do dia, a hora em que o segundo se abriu e revi você, ou o que você seria, ou onde quer que esteja agora neste outro segundo do hoje. neste instante, neste fragmento de lembrança, olho a pele já envelhecida, a derme lacerada e pouco cuidada, uma cicatriz exposta, dolorida, revela medos e acende culpas... olho com carinho o que seria você. ficou pouco carinho pra mim... algo escapou, entre um sim e um não o medo preencheu os espaços, estavamos sós, com medo e desamparados, rompendo a vida. este romper é ao mesmo tempo, abrir a fenda de um segundo interminável e saltar a outro segundo irrepetível. agora espio o que restou. minhas maos vão e vem no peito. espiar é olhar secretamente, as escondidas... olho meu peito. expiar é purificar de uma falta cometida. expio o tempo. eu tão só. eu tão amor. liberta, complexa e sacrificada pelo ontem que não termina. eu despida. liberta. fecho os olhos e abro dentro de mim. no minuto expandido e desprotegido descubro, conheço e reconheço o medo, a culpa, o amor, a fragilidade, a incompreensão, o sacrifício, a solidão, a potência de estar onde se está, de ser quem se é, de entregar o que se tem... recolho sentimentos e costuro cada retalho, abro o espelho do perdão, do amor. os pedaços de mim , sombrios e doloridos começam a ser enfeitados de pérolas e vidrinhos, de escarlate e violeta, sou carne e céu. sempre fui. existe uma cama para o corpo que dói. deito, e por sobre meu corpo um tecido me cobre, é lindo. milhares de bordados em sua trama me enfeitam, me acolhem. observo um bordado especial, uma pequena janela amalgamada perto de onde o tecido toca o coraçao, ali uma fenda permanece, ela foi coberta por um delicado tule, suas bordas recobertas por contas azuis, dali uma luz potente emana . já posso descansar.
Kika Antunes
À duração de minha existência dou uma significação oculta que me ultrapassa”
Clarice Lispector