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Lucianny Carvalho

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Lu Rocha

Lu Rocha

Rio de Janeiro, RJ

@pequenoconceito_criativa

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Nascida em 16 de junho de 1974, funcionária pública, natural do Rio de Janeiro. A fotografia sempre esteve presente em suas memórias de infância. Herança emocional, especialmente paterna. Acredita que a criatividade e a arte conceitual são as vias para a compreensão dos afetos e para dar forma aos tumultos internos, parafraseando Nise da Silveira.

Meu nome é Lucianny Maria Carvalho, nascida no Rio de Janeiro, 47 anos, funcionária pública há 27 anos, sendo a Oficina “Retratos e Autorretratos Conceituais com Objetos Afetivos” a minha primeira experiência estruturada com a arte de fotografar, amadoramente.

O gosto pela fotografia, creio, advém da infância. Meu pai gostava de fotografar e tenho muitos registros desse período. No entanto, sempre gostei de ser fotografada, nunca me ocorrera até então fotografar.

É recente, posso assim dizer, o hábito de fazer registros de lugares, pessoas e momentos com um olhar conceitual. É recente, também, valer-me da fotografia, conjuntamente com outros elementos (música, literatura, poesia, manipulação de imagens), para expressar afetos e despertar sentidos, o que se dá intuitiva e espontaneamente. É recente, também, apropriar-me do termo “criativa”, uma vez que sempre acreditei não ser esta uma característica/ habilidade minha por uma limitada visão do termo, pautada na vivência escolar.

A fotografia hoje é a linguagem dessa “persona criativa”, que nasceu com a pandemia e busca ancorarse nesse e em outros segmentos da arte para não submergir.

No momento, encontro-me na dolorosa travessia do luto pelo falecimento do meu irmão, 38 anos, devido a complicações da Covid, ocorrido há 3 meses. Minha família por parte de mãe - que faleceu em 2012 - mora em Florianópolis. Meus pais se mudaram para a cidade quando meu irmão tinha 14 anos e a minha relação com a família sempre foi marcada pela distância. Não acompanhei a sua adolescência, não me dera conta de que o “menino” se transformara num homem. Um homem que se agigantou em meio à dor, que foi o esteio do pequeno núcleo familiar (pai, mãe e dois filhos) quando minha mãe cometeu suicídio devido à depressão associada ao mal de Parkinson.

Um homem que foi o elo para que esse núcleo não se perdesse, o menino que assumiu o “lugar” que se julgava caberia ao meu pai e a mim, de cuidado, de apoio, afinal era o caçula, meu menino. Um homem que frente à minha ruptura psíquica, em decorrência do trauma pelo suicídio da minha mãe, esteve presente à distância e tudo fez para que eu alcançasse êxito no meu tratamento.

Soube que havia contraído o vírus por ele, “estive com ele”, por via de mensagens no WhatsApp, todos os dias em que esteve internado. Não esteve em leito de UTI. O último laudo na noite anterior informara que as taxas inflamatórias estavam reduzidas, a saturação estava normal, o comprometimento do pulmão estava no patamar mínimo. Aguardávamos a alta, havia falado comigo pela manhã, quando no início da tarde recebi a notícia de que teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu.

Não percebera que, durante todo o período de espe-

Desfalecer Tarde Desfalecer Manhã

Desfalecer Noite

ra, angústia, não regava as plantas da pequena área verde do apartamento. Para além disso, as via desfalecer diariamente. Todos os dias eu as via “perdendo vida”, pensava no porquê de não as regar, de não “salvá-las”...

O mesmo ocorreu com os arranjos semanais de flores, sequer colocava nos vasos, não os retirava do “embrulho” em que eram entregues, deixava ali, e assistia desfalecerem. Há quatro meses não há vida quase, poucas resistiram. O verde já não aparece entre as folhas secas, mortas.

Chorara na análise relatando este fato quando foi proposto o trabalho de conclusão da oficina, chorara na análise porque não sabia o que registrar sendo eu uma fotógrafa amadora. Foi sugerido pela minha analista que construísse a narrativa a partir dessa minha percepção.

Foram três dias imersa para trazer com veracidade o que esse coração em luto sente. As plantas representavam que morrera uma parte de mim. Não há mais aquele que ainda trazia a leveza da minha mãe, a generosidade. Aquele que melhor reuniu as virtudes dos nossos pais não está mais aqui. E todos os dias, de manhã, o coração “acorda” e se dá conta de que é real, a dor grita e a vida convoca a seguir em frente. É preciso, ele assim desejaria, penso. E assim levanto e tento continuar a travessia para transmutar essa dor em doces lembranças, saudades.

Por fim, lembrei-me da echarpe da minha mãe, úni-

ca peça de vestuário que ficou comigo e que ficou intocada por todos esses anos. Era esse o objeto afetivo que deveria se unir às plantas e flores para retratar a dor pelas perdas que tive. Elas se encontraram no quarto retratado. Eu pude enxergar o meu rosto, em frente ao espelho, a sós. Desespero e dor.

A foto final representa a resiliência, comprei uma orquídea cuja flor havia morrido. O seu caule foi cortado para que possa crescer com mais facilidade até voltar a florir. Voltarei a florir junto com ela.

Não sou conhecedora de recursos de edição, mas optei pelo preto e branco na maior parte das fotos porque a meu ver espelham melhor os sentimentos presentes. Apenas um efeito de tempo busquei, trazendo filtro e máscara muito discretos. Em uma das fotos que fogem ao formato preto e branco, trouxe o sol e o vermelho, as manhãs são o momento em que a dor grita com mais intensidade.

A construção da narrativa foi um processo doloroso, mas de todo belo... e através dele diversas outras imagens desse momento de angústia por que passamos todos vieram. Pretendo seguir com os registros, metamorfoseando a dor a partir da aceitação de que ela está presente, a partir da aceitação de todos os meus afetos.

Grata pela experiência nunca vivenciada. Grata pela condução humanizada com que foi realizada a Oficina.

Lucianny

Erguia-se para uma nova manhã, docemente viva. Cada acontecimento vibrava em seu corpo como pequenas agulhas de cristal que se espedaçassem”

Clarice Lispector

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