Não
entendo o que a Bíblia diz
P
ara ir à escola era necessário caminhar longas distâncias e atravessar um rio utilizando uma pinguela - uma espécie de ponte construída com madeiras ou tronco de árvores, sem corrimões de segurança. Para ir à feira, comprar mantimentos, também precisava fazer uma longa caminhada e submeter-se a horas de espera por um carro na estrada. Foi nestas condições que Geovania Borges e quatro irmãos cresceram no início da década de 1970, no interior da Bahia, em uma localidade chamada Fazenda Flecha. A mãe trabalhava na plantação de eucaliptos, enquanto os filhos ficavam em casa, algumas vezes acompanhados da avó materna. O pai havia abandonado a família. As condições financeiras da família eram difíceis, e muitas vezes encontrar a professora Mariazinha para a aula era sinal também de ter uma refeição. Ciente das condições dos alunos, ela preparava papa de leite (uma espécie de mingau feito com leite, farinha e açúcar) e servia para os alunos. Uma vez, sabendo da escassez de alimentos em casa e para garantirem estarem satisfeitos por mais tempo, as crianças comeram demais e tiveram uma tremenda dor de barriga. Outra situação que retrata a pobreza da família foi o fato da mãe cortar pneus velhos de carro para fazer chinelos para as crianças, evitando que precisassem caminhar sob o sol escaldante pisando no solo quente. A vida corria devagar por ali e, por volta das 18 horas, todos os dias, quando iniciava a Ave Maria (momento de oração realizado nas rádios em várias partes do Brasil), a avó de Geovania colocava os netos de joelhos para rezar. As casas ficavam distantes uma das outras, e, aos domingos, parte da pequena população local se encontrava em uma capela, construída no meio do pasto, para rezar. Através da avó, Geovania sentia despertar o interesse para as questões religiosas, ainda cedo. Aproximadamente aos seis anos, Geovania passou pelo ritual chamado Primeira Comunhão, “vestida de noiva, a coisa mais linda”. Para tentar ajudar a irmã e os sobrinhos, a tia de Geovania levou todos para morar na cidade de Catu, também na Bahia, onde ela residia e através de contatos havia conseguido um trabalho para a irmã, em um hotel. Poucos dias depois, a família já estava morando na quitinete alugada e as crianças matriculadas na escola. 17