Quero
me casar com um pastor
A
vida era confortável para a família Correia na pequena Monte Belo, em meados da década de 1940. O sul de Minas, região de plantadores de café, se desenvolvia com a construção da estação ferroviária na vizinha Juréia, um tremendo avanço para o escoamento da produção de café. Lá também estava situada a escola primária da região. Filha de um funcionário público e de uma dona de casa, Lurdinha é a sexta de um total de 10 filhos, e viveu em Monte Belo até os sete anos de idade, porém guarda poucas lembranças, já que a família foi forçada a se mudar para o interior do Paraná em busca de sustento. Após conhecer a mensagem adventista e decidir não mais trabalhar aos sábados, o pai dela foi demitido e seguiu os passos de um amigo, fazendeiro da região, que havia recentemente se mudado para Florinda, localidade vizinha a Assis, na divisa do Paraná com São Paulo. A cultura do café iniciava sua expansão na região que, beneficiada pela escassez do produto no mercado mundial, celebrou recordes de safra e exportação. Era a chance de recomeçar sendo fiel a Deus. A geada castigava o corpo da pequena Lurdinha, que precisava levantar às 4h da madrugada para trabalhar na colheita de café, junto com irmãos e o pai. A condição financeira da família havia despencado brutalmente, e agora nenhum dos filhos tinha acesso à escola. Lurdinha aprendeu a ler com a mãe, assim como os irmãos mais novos. Para o pai, estudar não era necessário, especialmente para as meninas. Por muito tempo, o quiabo plantado nas fazendas vizinhas era o único alimento que a família possuía. José Orlando, o filho mais velho, que havia cursado o primário em Minas, sonhava em prosseguir nos estudos e vibrava quando os pastores contavam sobre os colégios adventistas; mas não havia apoio e muito menos dinheiro para realizar o sonho. Decidido a mudar o rumo da própria vida, após o expediente na colheita ao lado do pai, seguia para a própria lavoura, de onde juntou o dinheiro que o ajudaria a seguir adiante. Um dia, pegou duas camisas e poucos pertences e fugiu de casa rumo ao internato adventista em Curitiba, prometendo a Lurdinha que a levaria para lá, quando ela completasse 15 anos. 21