Entender e explicar a não tem
preço
Bíblia
E
ra preciso andar três horas a pé para chegar à escola mais próxima. O ano era 1985 no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, quando aos sete anos, a nona filha de uma família de 11 filhos, sonhava se tornar médica. Os irmãos foram abandonando os estudos um a um, mas Saturnina Costa Mendonça insistia em frequentar as aulas todos os dias. A vida da família era de muita pobreza. Enquanto os filhos e a mãe trabalhavam na lavoura de arroz, feijão, mandioca e amendoim para vender na cidade, o pai passava 10 meses distante deles, trabalhando no corte de cana no interior de São Paulo. Ele enviava dinheiro todos os meses para a família, e, mesmo assim, os gastos eram bastante controlados, e eles quase nunca iam a Turmalina, a cidade mais próxima. A vida se restringia à rotina simples da roça. A única novidade acontecia a cada ano, no mês de agosto, quando a comunidade próxima, chamada Peixe Cru, recebia a missa. Nos outros finais de semana do ano a fé era mantida nas novenas realizadas na vizinhança. Assim que aprendeu a ler, Saturnina se tornou curiosa pelas histórias da Bíblia. Quando o pai chegava dos longos períodos distante, o interesse era mais aguçado pelo pedido dele para que ela fizesse a leitura, especialmente do livro de Apocalipse, já que ele não sabia ler muito bem. Vendo o interesse da filha pelos estudos e sabendo que o terceiro ano primário seria o último ao qual ela teria acesso na zona rural, a mãe de Saturnina a enviou para a cidade, onde ela seria responsável por todo serviço doméstico em uma casa, em troca de poder estudar e morar. Era uma criança com responsabilidades de adultos, mas ela não reclamava. Quando Saturnina completou 15 anos, o irmão mais velho, que começava a se estabilizar em Santa Ernestina, interior de São Paulo, a convidou a ir morar com ele. A ideia era que ela preparasse marmitas para os trabalhadores da usina de cana e tivesse a oportunidade de continuar estudando.
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