casar e serei missionária
Não quero
A
os 10 anos Palmira Chagas - nascida em 1961 - tinha certeza de que queria ser missionária. Por isso, ela consumia livros e mais livros que retratavam as aventuras e desafios enfrentados por pessoas que dedicavam suas vidas para ajudar os outros e para pregar, principalmente, na África. Sempre que ia à igreja, mesmo bastante criança, ela ficava atenta aos sermões que falavam do papel de todos na missão, o que a deixava ainda mais confiante. Como sabia, através dos livros, que algumas profissões eram mais comuns no campo missionário, como enfermeiros, dentistas, médicos e professores, se esmerava nos estudos, porque entendia que precisava cursar uma destas faculdades. Quando expressou os desejos de ser missionária, a mãe alertou que ela deveria estudar bastante a Bíblia e já começar a dar estudos bíblicos e, por isso, os amigos do irmão foram seus primeiros alunos. Palmira também não desejava se casar, porque os padrões de mulher casada que lhe apresentavam eram totalmente opostos aos seus sonhos. Ser casada, para ela, era como ser alguém presa; já a missão trazia liberdade, descobrimentos e aventuras. Terminado o primeiro grau, os pais entenderam que já era o suficiente para uma menina, e que agora ela precisava apenas desenvolver habilidades como tocar um instrumento musical, saber fazer bolos, bordados e outros tipos de artesanato, para conseguir um bom casamento. Já o irmão mais velho, esse sim deveria estudar, para ter um bom trabalho e ser capaz de sustentar uma família. O pensamento dos pais de Palmira era também resultado de uma dificuldade social enfrentada por todas as famílias brasileiras naquela época. Como existiam poucas vagas, o ingresso no ensino médio em escola pública era difícil, e muitos pais pensavam que era desnecessário arcar com as despesas de uma escola particular para uma menina que iria se tornar “só” esposa e mãe. Vivendo na Pavuna, no Rio de Janeiro, Palmira conseguiu cursar contabilidade e os pais acharam que, finalmente, ela iria sossegar e arrumar um bom partido. Mas, estavam errados. Ela não esquecia do sonho e, já que tinha completado 18 anos, procurou se informar com pastores sobre o que deveria fazer para ir para a missão. 29