Quero um marido
missionário
N
a zona rural de Andradas, no sul de Minas Gerais, o cultivo do café era a única fonte de sustento para muitas famílias. Quem não possuía terra, poderia trabalhar em um acordo chamado “à meia”, onde o lucro da colheita é dividido entre fazendeiro e arrendatário. Enquanto o marido estava na roça, a mãe de Sirlei Teixeira Malaquias cuidava da casa e completava a renda fazendo doces para vender e lavando roupa para fora. Os filhos foram nascendo e completando uma prole de quatro. A escola mais próxima ficava a 2 km de distância mas, assim como as outras da região, só tinha turmas até a quarta série. Quando necessitava ajudar o marido na colheita, a mãe levava as crianças pequenas para serem cuidadas, mas, quando alcançavam nove ou dez anos, os filhos já eram mão-de-obra importante e necessária. Neste contexto, Sirlei e os irmãos cresceram, sem muitos sonhos. Não havia outros padrões para se inspirar ou comparar, e a vida ideal parecia ser aquela mesmo. Alegria mesmo acontecia quando iam para a igreja com a mãe, e participavam das atividades infantis com muita música. A igreja ficava em outra comunidade e a cada vez que iam para lá, acontecia uma briga em casa. O pai era totalmente contrário ao envolvimento com crentes, mas a mãe e as crianças gostavam muito, além de saberem que avós e tios maternos também gostavam dos cultos. Mas, a oposição do pai venceu e, aos poucos, todos foram deixando de ir aos cultos. Aos 11 anos de Sirlei, quando se mudaram para uma fazenda maior, as crianças começaram a ter vontade de morar na zona urbana. O trabalho no campo era pesado, eles já não tinham escola para ir; porém o sustento da família era tirado da terra, e assim os anos foram se passando. Aos 16 anos, o sonho de Sirlei foi realizado quando a família toda se mudou para a cidade. Os sonhos agora eram outros. Ela queria estudar, ter uma profissão e havia escola para seguir estes passos. Mas, o impedimento desta vez vinha da mãe que, há anos lutando contra uma depressão, tinha medo de que os filhos fossem para a escola, e assim, nenhum deles realmente foi. 43