Ainda que
eu não seja curada
A
os seis anos de idade, Maria das Graças Barboza Ferraz, a mais velha de quatro irmãos, perdeu a mãe, Carlotina Barboza durante o parto dos irmãos gêmeos. Era final da década de 1940, e não havia fácil acesso a médicos, comunicação ou transporte, e a mortalidade materna era bastante grande. Logo o pai, Evaristo Barboza, casou-se com alguém que o ajudaria no cuidado dos filhos, porém, especialmente depois do nascimento do primeiro filho do casal, a madrasta começou a maltratar as crianças. Maria das Graças teve uma história que começou cheia de percalços, logo cedo. Os Barboza eram uma família pobre e, aos 10 anos, Maria das Graças já começou a trabalhar como doméstica, sem ao menos ter estatura, força ou coordenação motora para desempenhar todas as atividades. Não era assalariada, recebia apenas comida. Aos 15, começou a receber dinheiro pelo seu trabalho, mas tudo era integralmente utilizado para o sustento da família. Quando uma irmã se casou e mudou para o Rio de Janeiro, e em seguida engravidou, Maria das Graças também teve a oportunidade de deixar Santo Antônio do Grama, em Minas Gerais, em busca de melhores oportunidades. Primeiro ajudou a irmã durante o resguardo, depois foi trabalhar em uma casa de família, onde permaneceu por nove anos. O primeiro sapato havia sido adquirido somente aos 16 anos, e já adulta ela nunca tinha ido para a escola. Quando soube da possibilidade de estudar o supletivo à noite, só teve a permissão dos patrões porque combinou de finalizar as atividades domésticas do jantar após voltar das aulas. Por muito tempo, as empregadas domésticas que residiam com as famílias empregadoras não tiveram direitos trabalhistas regulamentados e a carga horária era muito grande.
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