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ESTANTE
CRIME E PERDÃO
PAI DE MISSIONÁRIO MORTO EM PALAU CONTA COMO SUA FAMÍLIA LIDOU COM ESSA PERDA IRREPARÁVEL
ADRIANA SERATTO E WENDEL LIMA
Tragédias gregas geralmente eram inspiradas na mitologia. Entretanto, a mitologia grega era baseada na tradição oral. Por essa razão, de acordo com a época, região ou gênero poético, os relatos míticos apresentavam diferentes versões. Sendo assim, a infidelidade ao mito era um privilégio do poeta. Ele podia recontar a narrativa de acordo com a própria vontade. Na vida real nós também podemos trabalhar nossas dores, angústias e medos da forma que desejarmos. Deus nos concedeu o privilégio do livre-arbítrio e nos deixou modelos de perdão, aceitação, renúncia e superação. Uma dessas tragédias modernas é a da família Paiva. O livro Tragédia no Paraíso (CPB, 2020, 112 p., R$ 20,60) conta uma história que tinha tudo para ter um final infeliz. A obra começa com o relato de um crime brutal, que tirou a vida de Ruimar (pai), Margareth (mãe) e Larisson (filho mais velho). Um homem alucinado que invadiu a casa deles em certa madrugada de dezembro de 2003 interrompeu os sonhos missionários dessa família de brasileiros que servia à Igreja Adventista num lugar paradisíaco e tranquilo: o arquipélago de Palau, no Sul do Pacífico.
LEITURA INDICADA PARA QUEM DESEJA SUPERAR ANGÚSTIAS, FRUSTRAÇÕES E CULTIVAR A DISPOSIÇÃO DE PERDOAR
Quem sobreviveu para contar essa história e reescrever o roteiro da própria trajetória foi Melissa, a filha mais nova, que na época tinha apenas 10 anos de idade. Com o apoio fundamental dos avós, especialmente dos paternos, ela superou a perda, voltou a estudar, casou-se com um pastor e hoje trabalha como enfermeira nos Estados Unidos. Ela também aprendeu a perdoar o assassino de sua família e conseguiu ficar frente a frente com ele 15 anos depois que tudo aconteceu.
O crime cometido há mais de 15 anos gerou na época grande comoção na Igreja Adventista e até repercussão na imprensa secular. Melissa e seus familiares já falaram sobre a superação dessa tragédia nas mídias denominacionais, por meio de artigos e entrevistas, mas no livro tudo isso ganha mais contexto e detalhes, na perspectiva do pastor Itamar de Paiva, autor da obra e pai do Ruimar.
O livro une acontecimentos da vida real ao propósito divino para o ser humano: perdoar a si mesmo e o próximo. Em apenas dez curtos capítulos, enriquecidos com cerca de 30 fotos, o leitor tem a oportunidade de refletir sobre as próprias emoções e perceber que há cura para os dramas existenciais, mesmo quando isso parece ser impossível. ]
ADRIANA SERATTO, graduada em Letras
TRECHOS
“Naquele momento, algo inesperado aconteceu. O chefe tribal da ilha correu até o microfone e, em nome de seu clã, nos dirigiu condolências e expressou sua vergonha. Então convidei o tio e a mãe do criminoso para irem à frente. Enquanto isso, o chefe da tribo explicou que a família do assassino, representada pela mãe e pelo tio, apesar de seus parcos recursos, havia vendido alguns pertences para doar 10 mil dólares americanos, a fim de ajudar nas futuras despesas da Melissa com educação. [...] Em nome de nossa família, agradeci muito aquele gesto de amor e sacrifício” (p. 35).