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TURFEIRAS TURFEIRAS TURFEIRAS

Beatriz Dias e Mafalda Gaudêncio

As turfeiras são ambientes orgânicos onde a turfa, material vegetal parcialmente decomposto - geralmente musgos - é acumulada. Contribuem para a absorção global de carbono, funcionam como reservatórios de água e servem de ambiente para desenvolvimento de uma grande biodiversidade. O estudo deste composto pode levar a desenvolvimentos acerca de temas como: a dinâmica da matéria orgânica, a evolução das paisagens, assim como a abordagem no domínio das alterações climáticas.

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As turfeiras formam-se onde a água na superfície do solo é ácida e pobre em nutrientes. Em geral, a baixa fertilidade e o clima frio e húmido resultam num crescimento relativamente lento das plantas. A decomposição da biomassa é ainda mais lenta devido ao solo saturado de água, que resulta na acumulação da turfa.

Segundo Vidal (2018)

Reasgeogr Ficas

Em termos geográficos, as turfeiras ocupam cerca de 3% da superfície terrestre no nosso planeta, espalhadas por cerca de 180 países. No entanto, são muito comuns no interior dos Açores, devido ao seu clima ameno, mas também com bastante possibilidade de chuva.

Estas plantas tendem a desenvolver-se em zonas húmidas, em águas ácidas e pobres em nutrientes. Quando as características do solo não possibilitam uma drenagem eficaz, ocorre a acumulação da água e o solo fica encharcado, conduzindo à lenta decomposição da biomassa. Além disso, Vidal afirma que a falta de oxigénio é outra das condições que possibilita a abundância das turfeiras, já que esta vive através do consumo de carbono e não necessita do oxigénio para realizar as suas atividades metabólicas.

Import Ncia

De acordo com Blackford (2000), as turfeiras são importantes para os esforços globais de combate às alterações climáticas e para um desenvolvimento sustentável, sendo vitais na transição para uma sociedade com o mínimo uso de carbono, através da sua absorção. As turfeiras húmidas reduzem a temperatura ambiente nas áreas circundantes, fornecendo refúgio do calor extremo, sendo simultaneamente menos propensas a queimar durante incêndios florestais, aspetos estes que ajudam na preservação da qualidade do ar.

Franchi (2003), citando Ramos e Lima Filho (1982), constatou que a turfa seria a base que permitiria a produção, sob eventuais tratamentos, de “gases combustíveis”, “alcatrão”, fertilizantes, “ceras” e até “açúcares”.

Tal variabilidade de usos fez surgir um pico de interesse por parte de diversos campos profissionais científicos, como é o caso da engenharia energética e civil, da química e da biologia, entre outros.

Problem Tica

Blackford (2000) menciona que a forte exploração das turfeiras leva à sua danificação, anulando a sua capacidade de retenção de carbono, pelo que passam a desempenhar o papel oposto. As turfeiras danificadas tornam-se verdadeiras bombas de carbono, tendo a seu cargo mais de 5% das emissões globais de carbono.

Madgwick (2020) refere que os danos causados às turfeiras provocam uma perda de biodiversidade. Por exemplo, o declínio da população de orangotangos de Bornéu em 60% num prazo de 60 anos é amplamente atribuído à perda de habitat, os pântanos de turfas. A espécie está agora listada como “Criticamente em Perigo” pela Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN.

Solu Es

Segundo Madgwick (2020), parte da solução recai sobre a imposição de medidas que visem proteger o habitat natural de crescimento das turfeiras. Para tal, “todas as turfeiras não danificadas devem ser mantidas intactas”, ao mesmo tempo que se trabalha para voltar a humedecer, pelo menos, 100.000 quilómetros quadrados, de modo a evitar a produção de mais turfeiras danificadas.

É necessária uma tomada de posição dos governos, especialmente no que toca às grandes potências mundiais, sendo estas as responsáveis pelas maiores emissões de carbono.

As turfeiras são essenciais para prevenir e mitigar os efeitos das alterações climáticas, tornam possível a preservação da biodiversidade. Do mesmo modo, minimizam o risco de incêndios florestais e propiciam uma melhor qualidade do ar à nossa sociedade. Tais factos, acompanhados pelo trabalho de vários cientistas, credibilizam a utilização de programas de recuperação ambiental, em conjunto com a possível potencialização se tomadas medidas políticas.

Bibliografia

[1] Silva, A. C., Horák, I., P., Cortizas, A. M. & Racedo, J. R., D. R. (2009). Turfeiras da Serra do Espinhaço Meridional-MG: II-Influência da drenagem na composição elementar e substâncias húmicas. Revista Brasileira de Ciência do Solo, 33, 1399-1408

[2] Vidal-Torrado, A. & Campos, J.R., (2018). Turfeiras de Arga: Segredos da terra preta. Geoparque Litoral, 17, 498-511

[3] Blackford, J. (2000). Palaeoclimatic records from peat bogs. Trends in Ecology & Evolution, 15(5), 193-198.

[4] Franchi, J. G., Sígolo, J. B., & Lima, J. R. B. D. (2003). Turfa utilizada na recuperação ambiental de áreas mineradas: metodologia para avaliação laboratorial. Revista Brasileira de Geociências, 33(3), 255-262.

[5] Madgwick, J. (2020). Wetlands International, The ambitious climate and biodiversity action: real targets for ecological areas, 63, 145-157

Imagens de Marisa04 por Pixabay

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