Nยบ 6 - SETEMBRO 2014
En
tre vista
entrevista
A Pedagogia no ICBAS
- Rui Henrique - Anake Kijjoa
Índice
DIREÇÃO Direção da Associação de Estudantes do ICBAS EDIÇÃO João Nunes Madalena Cabral Ferreira Pedro Reis Pereira COLABORADORES Beatriz Neves Constança Carvalho Daniela Barroso Francisca Ribeiro Frederico Rajão Martins João Nunes Lisa Moutinho Teixeira Mariana Vieira Micael Costa Pedro Ribeirinho Soares Pedro von Hafe Leite Raquel Borges Rita Sarabando Teófilo Sales Tiago Pais Conceção gráfica Clássica Tiragem 200 exemplares
Crónica
5
António Lobo Antunes
6
E tu, conheces o Porto?
8
Lomografia e fotografia analógica
10
Nas entranhas do Porto Canal
12
A pedagogia no ICBAS
13
BioTouros
18
Sobre o internato médico
20
Emigração médica em Portugal
21
Medicina na periferia X edição
24
Revisão dos planos de estudo do mestrado integrado em medicina veterinária do ICBAS
25
CMA rumo a suL
26
A garraiada académica: que fim? (E para quando?)
27
E depois das fitas?
28
Ainda me lembro
29
Pensa por mim
30
Entrevista aos “memes do ICBAS”
31
Aquela página aleatória
33
Corino 6ª edição – setembro de 2014
Editorial Madalena Cabral Ferreira
emigração, sem esquecer o que é de mais importante numa faculdade: a Pedagogia, que deu o mote a esta edição da Corino, com a revisão do plano de estudos de Medicina Veterinária e as entrevistas aos Professores Anake Kijjoa e Rui Henrique. Sarah Oliveira
Editora da Revista Corino
Caros colegas, A edição desta Corino acabou por ser feita a várias mãos: pelo Pedro Reis Pereira, Coordenador da revista em 2013/14; pela Sarah Oliveira, Presidente da AEICBAS para o mandato 2014/15 e por mim, Madalena Cabral Ferreira, Coordenadora da revista neste ano letivo. Eis as mensagens que estes dois primeiros deixam:
Sarah Oliveira Presidente da Direção da AEICBAS
Caros colegas, É com muito prazer que a AEICBAS vos dá as boas vindas a esta casa, as Biomédicas, de que tanto nos orgulhamos e que daqui em diante será também a vossa. A Corino traz nesta edição artigos de relevo para quem ingressa no Ensino Superior, desde uma visita a alguns dos lugares emblemáticos da Invicta Cidade do Porto, a possibilidades de Voluntariado para Estudantes, é possível ver aqui um leque de oportunidades a não perder. Além disso, é possível conhecerem algumas das figuras mais emblemáticas do ICBAS, como os ilustres Biotouros e Memes do ICBAS, que primam pelo sentido humorístico. É com os olhos postos no futuro e desejo de mudança que também podem encontrar artigos sobre o internato médico e a possibilidade de
Pedro Reis Pereira Editor da Revista Corino
Na última edição da Corino em que participo enquanto editor, gostaria de recuperar uma citação incrível de Alfred North Whitehead, que li num livro extraordinário (1) que a professora Maria de Sousa publicou em abril deste ano: “The essence of freedom is the practibility of purpose.” (A essência da liberdade é a exequibilidade do propósito). Na busca pelo exercício do direito a ser livre está envolvido o problema do propósito ou propósitos. E, como diz Eric R. Kendel (2), é preciso escolher bem os propósitos a que decidimos dedicar-nos. Neste contexto, esta edição da Corino traz-nos referências estupendas, como a entrevista em que o Professor Anake Kijjoa partilha alguma da sua experiência de vida e a opinião do Professor Rui Henrique sobre a Pedagogia no ICBAS. Porque nós NÃO TEMOS falta de referências no ICBAS - e porque ter referências pode ajudar-nos a decidir bons propósitos. Pedro Reis Pereira Referências (1) De Sousa, Maria, “Meu Dito, Meu Escrito”, abril de 2014, Gradiva. (2) Prémio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2000. |
3
DIREÇÃO Direção da Associação de Estudantes do ICBAS EDIÇÃO João Nunes Madalena Cabral Ferreira Pedro Reis Pereira COLABORADORES Beatriz Neves Constança Carvalho Daniela Barroso Francisca Ribeiro Frederico Rajão Martins João Nunes Lisa Moutinho Teixeira Mariana Vieira Micael Costa Pedro Ribeirinho Soares Pedro von Hafe Leite Raquel Borges Rita Sarabando Teófilo Sales Tiago Pais Conceção gráfica Clássica Tiragem 200 exemplares
CORINO | 4 6ª edição - SETEMBRO 2014
Direção AEICBAS 2014/15
Direção AEICBAS 2013/14
Crónica No mundo universitário não faltam oportunidades de fazer voluntariado, saltam à vista nomes e nomes de associações criadas no seio das faculdades, fruto do empreendedorismo e de um sonho comum, ajudar o próximo. No entanto, em plena crise económica, surge a necessidade de cada um de nós criar um currículo invejável com experiências que vão muito para lá das licenciaturas e mestrados, de um modo não tanto altruísta. Desta necessidade de nos destacarmos surge uma geração de indivíduos que dedica o seu tempo, como voluntário, a adquirir competências e experiências que possam enriquecer currículos. O voluntariado começa a deixar de ser visto apenas como um ato de dedicação ao outro, para ser um meio alternativo de adquirir novas capacidades apelativas aos futuros empregadores, como capacidade de comunicação e interação em grupos. As pessoas apoiadas por este tipo de instituições são, de certo modo, mais vulneráveis, seja porque não
têm as mesmas condições socioeconómicas que o cidadão comum da classe média ou porque não se integram da mesma forma na sociedade. É essencial que nós, jovens, sejamos cidadãos ativos e ajudemos a minimizar estas diferenças tão comuns nos nossos dias. No entanto, alguém que “ajuda” estas pessoas com outros intuitos não será, de todo, a pessoa ideal para o fazer: o voluntariado exige empenho e concentração e, acima de tudo, exige empatia pela pessoa que está ali à nossa frente. Assim, entendo que o nosso papel é incentivar e apoiar estas iniciativas, mas aceitar que nem toda a gente tem o perfil certo para ser voluntário. É necessário refletir antes de integrar um grupo de ação social, de forma a perceber se a decisão está a ser tomada pelas razões certas. Beatriz Neves
|
5
António Lobo Antunes Romancista nascido a 1 de Setembro de 1942. Proveniente de uma família da grande burguesia portuguesa, licenciou‑se em Medicina, com especialização em Psiquiatria. Exerceu a profissão no Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa, dedicando‑se desde 1985 exclusivamente à escrita. A experiência em Angola na Guerra Colonial como tenente e médico do exército português durante vinte e sete meses (de 1971 a 1973) marcou fortemente os seus três primeiros romances: Memória de Elefante e Os Cus de Judas, em 1979 e o Conhecimento do Inferno, em 1980. António Lobo Antunes começou por utilizar o material psíquico que tinha marcado toda uma geração: os enredos das crises conjugais, as contradições revolucionárias de uma burguesia empolgada ou agredida pelo 25 de abril, os traumas profundos da Guerra do Ultramar e o regresso dos portugueses do Ultramar à Pátria primitiva. Escritaria 2012, Penafiel.
CORINO | 6 6ª edição - SETEMBRO 2014
Juro que não vou esquecer... “Nunca vou esquecer o olhar da rapariga que espera o tratamento de radioterapia. Sentada numa das cadeiras de plástico, o homem que a acompanha (o pai?) coloca‑lhe uma almofada na nuca para ela encostar a cabeça à parede e assim fica, magra, imóvel, calada, com os olhos a gritarem o que ninguém ouve. O homem tira o lenço do bolso, passa‑lho devagarinho na cara e os seus olhos gritam também: na sala onde tanta gente aguarda lá fora, algumas vindas de longe, de terras do Alentejo quase na fronteira, desembarcam pessoas de maca, um senhor idoso de fato completo, botão do colarinho abotoado, sem gravata, a mesma nódoa sempre na manga (a nódoa gri-
ta) caminhando devagarinho para o balcão numa dignidade de príncipe. É pobre, vê‑se que é pobre, não existe um único osso que não lhe fure a pele, entende‑se o sofrimento nos traços impassíveis e não grita com os olhos porque não tem olhos já, tem no lugar deles a mesma pele esverdeada que os ossos furam, a mão esquelética consegue puxar da algibeira o cartãozinho onde lhe marcam as sessões. Mulheres com lenços a cobrirem a ausência de cabelo, outras de perucas patéticas que não ligam com as feições nem aderem ao crânio, lhes flutuam em torno. E a imensa solidão de todos eles. À entrada do corredor, no espaço entre duas portas, uma africana de óculos chora sem ruído, metendo os polegares por baixo das lentes a secar as pálpebras. Chora sem ruído e sem um músculo que estremeça sequer, apagando‑se a si mesma
com o verniz estalado das unhas. Um sujeito de pé com um saco de plástico. Um outro a arrastar uma das pernas. A chuva incessante contra as janelas enormes. Plantas em vasos. Revistas que as pessoas não lêem. E eu, cheio de vergonha de ser eu, a pensar faltam‑me duas sessões, eles morrem e eu fico vivo, graças a Deus sofri de uma coisa sem importância, estou aqui para um tratamento preventivo, dizem‑me que me curei, fico vivo, daqui a pouco tudo isto não passou de um pesadelo, uma irrealidade, fico vivo, dentro de mim estas pessoas a doerem‑me tanto, fico vivo como, a rapariga de cabeça encostada à parede não vê ninguém, os outros (nós) somos transparentes para ela, toda no interior do seu tormento, o homem poisa‑lhe os dedos e ela não sente os dedos, fico vivo de que maneira, como, mudei tanto nestes últimos
meses, os meus companheiros dão‑me vontade de ajoelhar, não os mereço da mesma forma que eles não merecem isto, que estúpido perguntar ‑ Porquê ? que estúpido indignar‑me, zango‑me com Deus, comigo, com a vida que tive, como pude ser tão desatento, tão arrogante, tão parvo, como pude queixar ‑me, gostava de ter os joelhos enormes de modo que coubessem no meu colo em vez das cadeiras de plástico (não são de plástico, outra coisa qualquer, mais confortável, que não tenho tempo agora de pensar no que é) isto que escrevo sai de mim como um vómito, tão depressa que a esferográfica não acompanha, perco imensas palavras, frases inteiras, emoções que me fogem, isto que escrevo não chega aos calcanhares do senhor idoso de fato completo (aos quadradinhos, já gasto, já bom para deitar fora) botão de colarinho abotoado, sem gravata e no entanto a gravata está lá, a gravata está lá, o que interessa a nódoa da manga (a nódoa grita) o que interessa que caminhe devagar para o balcão mal podendo consigo, doem‑me os dedos da força que faço para escrever, não existe um único osso que não lhe fure a pele, entende‑se o sofrimento nos traços impassíveis e não grita com os olhos porque não tem olhos já, tem no lugar deles a mesma pele esverdeada que os ossos furam e me observa por instantes, diga ‑ António senhor, por favor diga ‑ António chamo‑me António, não tem importância nenhuma mas chamo‑me António e não posso fazer nada por si, não posso fazer nada por ninguém, chamo‑me António e não lhe chego aos calcanhares, sou mais pobre que você, falta‑me a sua força e coragem, pegue‑me antes você ao colo e garanta‑me que não morre, não pode morrer, no caso de você morrer eu no caso de você e da rapariga da almofada morrerem vou ter vergonha de estar vivo.” É possivel ouvir esta crónica, lida e interpretada pelo próprio autor, em: https://www.youtube.com/ watch?v=bpcarxaU6D0 Daniela Barroso |
7
CORINO | 8 6ª edição - SETEMBRO 2014
E tu, conheces o Porto?
Prisoneiros”, ladeado por grades que davam acesso às enxovias, outrora escuras e húmidas, onde viviam dezenas de homens. Hoje estas estão abertas ao público e servem como expositores de diversas coleções fotográficas, que vão mudando ao longo do ano. Subindo ao primeiro piso, veem‑se os salões coletivos de prisioneiros e a saleta das mulheres, mais cómodos e decorados que as enxovias. Por fim, no último piso, encontram‑se as prisões individuais e a enfermaria, onde hoje se podem ver os mais variados equipamentos fotográficos e a sua evolução histórica, sem esquecer as fantásticas máquinas de espionagem.
Nesta rúbrica, apresentamos dois locais pouco conhecidos da Cidade do Porto.
Há, certamente, muitas histórias a contar sobre a Cadeia da Relação, mas não é possível mencioná‑la sem recordar um dos escritores mais marcantes da Literatura Portuguesa, Camilo Castelo Branco. Juntamente com a sua amada, Ana Plácido, Camilo foi preso pelo crime de adultério, denunciado pelo marido de Ana. O escritor teve direito a uma cela individual, no 3º piso, chamada Sala de São João. Travou amizade com o popular salteador Zé do Telhado e continuou a escrever os seus romances, incluindo o mais famoso – Amor de Perdição. Camilo e Ana foram absolvidos, um ano mais tarde, pelo Juiz José Maria Teixeira de Queiroz, pai de Eça de Queiroz. Para quem gosta de entrar em edifícios antigos, conhecer a história desta cidade ou é, simplesmente,
CADEIA DA RELAÇÃO A escassos passos do ICBAS, o Centro Português de Fotografia situa‑se em frente ao Jardim João Chagas (conhecido por Jardim da Cordoaria), bem perto da Torre dos Clérigos. Este imponente edifício começou a ser construído em 1767 tornando‑se, quase 30 anos depois, no Tribunal e Cadeia da Relação. Este é um dos muitos sítios com entrada gratuita na cidade do Porto e ainda conserva a sua estrutura original. No rés‑do‑chão encontra‑se o “Pátio dos
apaixonado pela arte da fotografia, o Centro Português de Fotografia é um belo programa para uma tarde de passeio ou uma pausa prolongada de estudo. As exposições são renovadas com frequência e há sempre máquinas fotográficas, de exposição permanente, que escapam aos nossos olhos na primeira (ou segunda) visita.
está aberto desde 1980 e serve gelados produzidos na casa do modo tradicional italiano. Atingiu o auge da sua popularidade em meados dos anos 80 e agora é um espaço quase vazio com uma atmosfera saudosista: entrámos e é como se víssemos os casais de mãos dadas vestidos de modo vintage, como agora se chama, prontos a comer uma bola de gelado com sabor a vinho do Porto. O preço? Não superior à comum das gelatarias. Fica o atendimento e sabor como oferta.
LIVRARIA VIEIRA Quem fala de arte e cultura nesta cidade não pode não saber como a levar para casa. Resistindo desde o dia 24 de outubro de 1984, a Livraria Vieira fica na Praça Carlos Alberto, e funciona como livraria e alfarrabista. O cheiro do papel já com alguns anos vale a visita, já para não falar dos preços amigos do bolso. Os donos orgulham‑se de, ao longo destes anos, terem dinamizado no espaço inúmeras tertúlias literárias. Toda a mística do espaço é inebriante, como uma loja de brinquedos para gente grande.
Beatriz Neves e Mariana Vieira Comidadegrilo.blogspot.com
SINCELO Nem só de pão vive o Homem, mas também faz falta. Convido‑vos então a uma visita à Rua de Ceuta, onde vão encontrar uma placa lendo‑se Sincelo que é, para além do fenómeno meteorológico que resulta do congelamento de gotículas de nevoeiro, uma das mais emblemáticas gelatarias do porto. Este espaço |
9
Lomografia e Fotografia Analógica
CORINO | 10 6ª edição - SETEMBRO 2014
Desde há muito que a fotografia digital substituiu quase na totalidade o uso de máquinas analógicas. Muitos dos leitores provavelmente já nem se devem lembrar de que antigamente as fotografias, de uma forma quase mágica, saíam de pequenas cápsulas com película fotográfica dentro e, no entanto, a fotografia analógica está a renascer entre as camadas mais jovens. O meu primeiro contacto com a fotografia analógica aconteceu há cerca de 3 anos e foi, sem dúvida, um amor à primeira vista bastante intenso. Já tinha andado a brincar com uma máquina digital do meu pai, mas de fotografia, na verdade, nada sabia, por isso a lomografia pareceu‑me perfeita. Esta é, muito simplificadamente, a forma mais simples, descontraída e espontânea de fotografia analógica. Usando diversos tipos de filme, máquinas extremamente acessíveis e estranhas técnicas é possível criar fotografias coloridas que fogem à comum fotografia digital. É um tipo de fotografia onde, para registar momentos do quotidiano, devem quebrar‑se todas as 10 regras de ouro da lomografia.
Mais recentemente, deixei um pouco de lado a lomografia, passando a usar uma máquina analógica mais “compostinha”, completamente manual, em que tenho um controlo total sobre aquilo que estou a fotografar (que é exatamente o oposto da lomografia). E o resultado é, nada mais nada menos, aquilo que me faz querer colocar outro rolo na máquina e ir para a rua fotografar. Cores únicas, a espera, a surpresa e a ansiedade de revelar um rolo são as coisas que eu mais aprecio na fotografia analógica; é tudo mágico. Há quem me diga que a fotografia analógica é uma coisa do passado e que recorrendo a programas de edição de imagem se consegue fazer igual ou melhor mas, para mim, manipular fotografias é criar uma mentira. Será o objetivo da fotografia capturar a realidade ou criar cenários fictícios? O meu flickr: www.flickr.com/photos/paocomgeleia Teófilo Sales
|
11
Nas Entranhas do Porto Canal
CORINO | 12 6ª edição - SETEMBRO 2014
Um edifício azul de dois andares com um letreiro de néon vintage anuncia a chegada aos estúdios do Porto Canal. Na receção esperam os grupos que se preparam para atuar, depois de já terem passado pela caracterização. A nossa visita é acompanhada pelo Diretor de Conteúdos do FC Porto, Rui Cerqueira, que dispôs do seu tempo para nos dar a conhecer o funcionamento do canal nortenho. Depois de sairmos da entrada do edifício, fomos até ao espaço de redação e, após descer a escada, ao local de edição e os estúdios. Aqui, deparamo ‑nos com um espaço surpreendentemente pequeno quando comparado com a diversidade de programas que este canal emite, no qual tudo tem que estar perfeitamente organizado e coordenado para a troca de cenários, programas e apresentadores. Subimos, novamente, e desta vez deslocamo‑nos
à sala de edição de programas e à régie ‑ o Sistema Nervoso Central do canal. É aqui que todos os programas são colocados no ar, é feita a escolha das câmaras e são dadas as indicações aos apresentadores. Todas estas decisões são tomadas em meros segundos, não há tempo para falhas, nem forma de voltar atrás. O antigo teatro na Senhora da Hora é um pequeno espaço para a grande produção televisiva própria que nele se faz e a grande capacidade de adaptação dos profissionais permite que estejam preparados para se deslocarem do estúdio para vários locais no exterior e realizarem um trabalho de qualidade. A grande diversidade na grelha televisiva deste canal, desde os programas desportivos dedicados exclusivamente ao Futebol Clube do Porto (por exemplo, 45 Minutos à Porto e Portistas no Mundo) até aos programas de serviço público, como é o caso do Consultório (no qual, diariamente, um médico especialista alerta o público sobre as doenças que mais o podem afetar e responde a questões numa espécie de consulta em direto), mostram o interesse deste canal em captar a atenção de todos os espectadores e prestar‑lhes um serviço de grande qualidade. O Porto Canal transmite já há sete anos, diariamente, para Portugal e para o Mundo, à distância de um click na televisão ou em portocanal.sapo.pt João Nunes
A Pedagogia no ICBAS Professor Doutor
Rui Henrique Anatomo-patologista, médico, investigador e docente, Regente de Patologia e Anatomia
mente transposto para a “letra” dos planos de estudos. Parece‑me que é a realidade, mas tal conduziu a algumas situações que se tornaram difíceis de gerir sob o ponto de vista puramente académico. Contudo, talvez o fator mais disruptivo tenha sido o incremento do número de alunos que se verificou ao longo das últimas duas décadas, e que colocou uma enorme pressão sobre o ensino da Medicina, sobretudo nas suas disciplinas clínicas. Se lhe adicionarmos as modificações do perfil demográfico e da organização dos Sistemas de Saúde, então torna‑se mais que evidente a necessidade de realizar uma mudança aprofundada do plano de estudos, preparando os futuros médicos para uma realidade que será certamente diferente da atual. Apesar de todos os seus defeitos, o sistema até agora vigente foi funcionando (certamente de forma bem mais eficaz no passado mais longínquo do que no mais recente). Não me parece que os médicos formados pelo ICBAS (nos quais me incluo) sejam de qualidade inferior aos de outras escolas médicas que há mais tempo adotaram sistemas de ensino mais “modernos”.
Patológica
2) Mudaria alguma coisa, tem alguma sugestão? 1) Qual a sua opinião, na globalidade, acerca do atual plano de estudos do ICBAS? Re: Para compreender o atual plano de estudos do MIM do ICBAS, é necessário tomar em consideração o que foram os planos de estudo anteriores. Os mais antigos caracterizavam‑se por um grande peso específico das chamadas “disciplinas básicas” e por uma clivagem entre estas e as “disciplinas clínicas”, sendo que todas elas funcionavam com grande autonomia programática e avaliativa, não sendo muito aparente um esforço de sequência, continuidade e/ou complementaridade. Assim, competia a cada aluno realizar a integração dos vários conhecimentos que lhe eram transmitidos, da forma que entendesse mais conveniente e com a profundidade que considerasse adequada. Em contrapartida, o número reduzido de alunos permitia que houvesse oportunidade de realizar muitos trabalhos práticos, histórias clínicas e de acompanhar de perto os professores na sua atividade clínica, o que em grande medida acabava por suprir as limitações do sistema. No entanto, começaram a ser sentidos os problemas da falta de coordenação programática, o que conduziu às primeiras tentativas sérias de reforma curricular através da “modularização” das disciplinas clínicas. Embora este processo tenha sido implementado na prática, nunca foi real-
Re: Antes de mudar, é muito importante compreender porque se torna necessário fazê‑lo e em que sentido deve ser realizada a mudança. A Medicina sempre foi uma área muito dinâmica, e na atualidade, a velocidade a que é “gerado” novo conhecimento médico é absolutamente avassaladora. Mas nem todo esse conhecimento é igualmente relevante para a prática médica e o grande papel dos docentes deve ser o de selecionar o que é e será potencialmente relevante, permitindo a focalização dos alunos nos assuntos que de facto se revestem de importância para o seu futuro profissional. Atendendo à facilidade e ubiquidade de acesso a informação científica, não faltam as condições para que os alunos potencialmente interessados numa área particular possam satisfazer facilmente a sua curiosidade. Assim, as minhas sugestões, em termos gerais, vão no sentido de proporcionar bases sólidas do conhecimento médico atual e (tanto quanto possível prever) futuro, bem como preparar os futuros médicos para uma vida profissional que requer estudo permanente e a necessidade de integrar novas competências (aquilo que alguns designam de “aprender a aprender”). Se é fácil enunciar estes “princípios”, é muito difícil colocá‑los em prática. Isso requer, entre outras condições, docentes atentos à evolução do conhecimento médico e com grande capacidade de diálogo com os seus pares para a definição de conteúdos programáticos, métodos de |
13
ensino e de avaliação adaptados a esta nova realidade, contribuindo de forma efetiva para auxiliar os alunos na árdua tarefa de integrar e selecionar os conhecimentos que lhes são transmitidos, de forma a adquirirem as competências que são esperadas.
CORINO | 14 6ª edição - SETEMBRO 2014
3) No que toca à UC de Patologia, acha que os alunos chegam devidamente preparados? O que falta na formação inicial dos estudantes? Re: Não me parece que haja, formalmente, uma falta de preparação dos alunos que frequentam as UCs de Patologia I e II no 3º ano. Talvez o ponto mais relevante a analisar é se as UCs que, para mim, são propedêuticas da Patologia (e.g., Anatomia, Histologia, Fisiologia, Imunologia, Bioquímica…) se focalizam nos pontos que são realmente relevantes ou se o esforço de estudo dos alunos é disperso por questões acessórias e de importância discutível. Não tenho uma visão “utilitarista” do ensino superior universitário, mas julgo que já não há espaço para devaneios científicos desprovidos de impacto significativo no exercício da Medicina, por muito interessante que sejam para os que os lecionam e por muito relevante que seja o contributo dos próprios para a sua elucidação. Como docentes e investigadores, todos temos a tentação de falar da pequena parcela do conhecimento sobre a qual mais sabemos, mas tal não significa que isso sirva o propósito dos alunos. Assim, o nosso esforço tem que estar centrado no que os alunos necessitam de saber, e não em saberem o que nos dá prazer que eles saibam. Esta questão da integração longitudinal das UCs é de grande importância, e é mesmo um dos pontos‑chave para o sucesso da reforma curricular que está em discussão. Tenho feito essa tentativa na área da Patologia, pois sou também o responsável pelas UCs de Anatomia Patológica. É meu objetivo (o qual espero que seja sentido pelos alunos) que haja verdadeiramente continuidade entre estas UCs do 3º e 4º ano, evitando sobreposições e repetições, antes explorando a forma como o conhecimento dos princípios básicos da Patologia nos permite melhor compreender as manifestações clínicas de doença e a forma como as diagnosticamos. 4) Os estudantes criticam com frequência a sobrecarga de trabalho no 3° ano, e os métodos de avaliação do mesmo. Qual a sua opinião? Mudaria alguma coisa? Re: A sobrecarga é de tal forma evidente que negá‑la ou ignorá‑la constitui um preocupante afastamento da realidade. E é, certamente, ainda mais evidente para os
que foram alunos desta Casa e são atualmente docentes, como é o meu caso, pois a Semiologia Médica e a Semiologia Cirúrgica apenas eram lecionadas no 4º ano nessa época (qual??). Não querendo ser deselegante com nenhum Colega docente, parece‑me que há algum excesso de eventos avaliativos e uma extensão de conteúdos programáticos em algumas UCs. Pergunto‑me muitas vezes que seria dos alunos se todos nós exigíssemos o mesmo. Parece‑me que confundimos avaliação contínua com a existência de permanentes eventos avaliativos. Por outro lado, a avaliação não é a finalidade do ensino: é apenas um meio de aferir se os alunos atingiram os objetivos enunciados para uma dada UC e em que medida o fizeram. Talvez valha a pena deixar claro que os alunos já não medem a importância de uma UC pela extensão do seu programa nem pela superlativa dificuldade dos seus métodos de avaliação, refletida em elevadas taxas de reprovação (então como a avaliam?). Esse tipo de anacronismos tem que terminar, sob pena de estarmos a comprometer seriamente a qualidade do ensino médico que os nossos fundadores sonharam e tentaram concretizar. É impressionante como este tipo de “conservadorismo” nos afasta de forma tão gritante das nossas raízes como escola. 5) Fala‑se muito em novas provas de acesso à especialidade e internato médico. O que considera acerca do sistema atual e como acha que o ICBAS prepara os seus alunos? Re: O sistema tal como existe resulta de um misto de inércia e de interesse não explicitado na manutenção do status quo, por parte de muitos dos intervenientes neste processo. Acho que os resultados do sistema atual de estratificação de candidatos demonstram que os alunos do ICBAS se preparam de forma adequada para o mesmo. Contudo, não me parece adequado que um dos objectivos do ICBAS seja “preparar os alunos para a prova de acesso ao Internato”, pois tal assemelha‑se em demasia aos controversos processos de preparação de alunos do Ensino Secundário para o acesso ao Ensino Superior. Prefiro que o ICBAS tenha como objetivo fundamental formar médicos competentes, em Ciência e em Humanidade. Obviamente que, em consequência, nos devemos empenhar na evolução/ reforma do sistema atual, permitindo que o mesmo seja adequado ao perfil dos médicos que queremos formar. Não havendo soluções perfeitas, é também verdade que não vale a pena “inventar a roda”, quando a mesma já existe e funciona. Acho que é necessário olhar criticamente para a forma como outros países o fazem
e adaptar o melhor desses sistemas à nossa realidade. Pouparíamos muito em tempo, em experimentalismo estéril e em polémicas que só nos diminuem como profissionais aos olhos da Sociedade. 6) Conhece o novo plano de estudos proposto pela direcção do ICBAS? Se sim, o que acha que traz de novo? O que é que está bem e que outras sugestões daria? Re: Tal como os demais docentes do ICBAS, tomei conhecimento do novo plano de estudos quando da sua elaboração e discussão. Em tempo oportuno transmiti as minhas sugestões aos elementos da comissão responsável por este processo. No global, parece‑me que a estrutura vai ao encontro do que é pretendido, mas a verdadeira “prova de fogo” será a forma como se organizará e concretizará na prática. Se resultar apenas numa “dispersão” e/ou “antecipação” das fases de maior dificuldade do curso, tentando diluir os problemas identificados em vez de os resolver, então nada mudará substancialmente. Todos teremos que nos empenhar numa implementação bem sucedida do “espírito” da reforma e não apenas da sua “letra”. Não esqueçamos, contudo, que a reforma curricular será sempre um processo dinâmico e que
Entrevista com o Professor Doutor Anake Kijjoa, Regente de Química Biológica II
Como é que o Professor Anake veio parar ao ICBAS? O Professor Anake Kijjoa nasceu na Tailândia, na área metropolitana de Banguecoque. Apesar de sempre ter gostado muito de Letras e de Ciência Política, tirou o Curso de Farmácia, tendo sido depois foi convidado para trabalhar no Departamento de Farmacognosia da Faculdade de Farmácia da Universidade de Chulalongkorn, em Banguecoque. Na época em que acabou o curso (anos 70), a Tailândia enfrentava um grave problema social
requer uma atenção constante às mudanças que afetam a Sociedade na qual estamos integrados e às quais temos de forçosamente nos adaptar. 7) Finalmente, o Conselho Pedagógico (CP) deve tentar estar próximo dos alunos e agir de acordo com as suas necessidades. Considera que isto tem acontecido? Qual deve ser, na sua opinião, o papel do CP e o que acha que está a ser bem feito e o que poderia ser melhor? Re: Julgo que o Conselho Pedagógico tem cumprido eficazmente as suas funções “de rotina” e acho que isso é sentido e reconhecido pela vasta maioria dos elementos da nossa escola. Acho que agora terá um papel de grande relevância na apreciação e na execução da reforma curricular. No sentido em que o CP é um órgão plural na sua composição, tem a particular responsabilidade de ser um fórum de análise e discussão dos problemas que se forem colocando, apontando vias para a sua resolução e apoiando docentes e alunos no processo de adaptação à nova realidade. Estou certo que a experiência e a capacidade pedagógica e científica dos elementos que compõem o nosso CP serão uma mais‑valia para a adequada implementação do novo plano de estudos.
30 de abril de 2014, 16h15: o Professor Anake Kijjoa recebe‑me no seu gabinete, na qualidade de cola‑ borador da Corino. Tinha combinado falar com ele para conhecer o que pensa sobre a pedagogia no ICBAS, a Unidade Curricular de Química Biológica e para nos dar algumas ideias sobre como podemos ser universitários de excelência ‑ e acabamos por conversar também um pouco sobre o fascinante percurso pessoal do professor Anake.
relacionado com o consumo e dependência de drogas por parte dos jovens. Havia então boatos de que um monge budista fora da área de Banguecoque conseguia curar a dependência. Com o objetivo de investigar os materiais utilizados pelo monge para o tratamento e com a perspetiva de descobrir novas substâncias com propriedades terapêuticas importantes, o jovem Professor Anake partiu com duas colegas do seu laboratório para o local onde habitava o monge. O monge budista, que vivia longe da sociedade, tinha conhecimentos sobre plantas |
15
CORINO | 16 6ª edição - SETEMBRO 2014
medicinais e fazia a “desintoxicação”, provocando hipersudurese numa sauna, para além de administrar um chá de ervas e de obrigar os doentes a beber grandes quantidades de água todas as manhãs, induzindo o vómito; o Professor Anake acabou por ser influenciado a pensar que o tratamento se devia sobretudo à componente psicológica inerente a todo o processo. De qualquer modo, o Professor ressalva que foi nesta altura que se começou a interessar por descobrir medicamentos de origem natural. Mas o episódio foi preponderante, sobretudo por causa da oportunidade inédita que o Professor descobriu por acaso durante esta visita: no caminho para o templo onde o monge procedia a esse tratamento, o Professor encontrou, para além de uma equipa de reportagem da BBC, um diplomata da embaixada do Brasil na Tailândia, que soube da existência deste templo através daquela estação televisiva. Algum tempo mais tarde, este diplomata informou o Professor Anake da existência de bolsas do Governo Brasileiro para doutoramento em algumas Universidades do Brasil. O Professor foi para a cidade de São Paulo com 24 anos para obter o Doutoramento – sem saber nada sobre a cultura brasileira e sem saber falar português. Conta que na altura uma das coisas que pensou foi que nunca iria alguma vez conseguir juntar dinheiro para visitar o Brasil no futuro e que, por isso, tinha de aproveitar. Foi no Brasil que conheceu a Professora Madalena Pinto, docente da FFUP, que entretanto
tinha também conseguido uma bolsa para fazer o doutoramento, com quem viria a casar. Conta como conheceu o seu orientador de Doutoramento na Universidade de São Paulo, o Professor Otto Gottlieb (judeu nascido de mãe brasileira e de pai checo, que tinha ido para o Brasil quando os nazis tomaram Paris), da Universidade de S. Paulo, que muito influenciou o seu modo de trabalhar e de ver a Universidade; conta uma frase que o Professor Otto lhe disse e que o marcou: “Anake, você tem que vir para a Faculdade e o seu Professor tem que dizer bom dia para você – não é você dizer bom dia para ele!” O que significa isto? “Quanto o professor chega, você já tem que estar trabalhando! E quando ele chega, ele vai‑te dizer “bom dia”, ok?”, explica o Professor Anake que começou, desde então, religiosamente a chegar à Faculdade sempre meia hora mais cedo que o Professor Otto. E ainda hoje isto acontece! ‑ chega ao ICBAS todos os dias às 7h30 ‑ o que dificulta aos seus Estudantes a tarefa de fazer o mesmo. Na mesma conversa, o Professor Otto disse ainda o seguinte: “Anake, você vai ter que trabalhar o dobro: para além de ser aluno de Doutoramento, você é aluno estrangeiro, você não sabe português. Você vai ter que trabalhar muito para poder competir: se o seu colega for embora às 18h, você vai ter de ir embora só às 19h, se o seu colega for embora às 19h, você vai ter que ir embora só às 20h...”
O Professor Anake quando terminou o seu Curso, recebendo o diploma das mãos do Rei da Tailânda.
O Professor Anake recebe o Doutoramento Honoris Causa da Princessa Chulabhorn Madihol, pela Kasetsart University em Banguecoque em 2009.
Com o ex‑reitor da Universidade do Porto, José Marques dos Santos e a Princessa Chulabhorn Madihol, na “6th European Conference on Marine Natural Products”, organizada pelo Professor Anake no Porto
E o Professor Anake passou a tentar incluir isto na sua agenda. Hoje, décadas depois desta conversa, o Professor considera que este tipo de dicas foram e são muito importantes para si – ele ainda as usa, até porque toda a gente continua a aprender ao longo da vida. Depois do Brasil, o Professor veio para a Universidade do Porto, para a Faculdade de Ciências. Aqui, conheceu o Professor Nuno Grande, que descreve como sendo uma pessoa “vertical, muito elegante, inteligentíssimo; se tu falas com ele, ele levanta‑te o espírito, ele encoraja‑te – isso é de grande homem.” Foi a convite do Prof. José Magalhães Cardoso (seu colega do ICBAS naquela altura) que começou a dar aulas de Química Biológica no ICBAS, sendo hoje Professor Catedrático.
abolidas por não terem muita utilidade na vida clínica do médico – “para que é que é preciso por exemplo Histologia ou Biofísica também?” Como “Sem gramática não se pode falar português”, o Professor Anake acrescenta que a Química que nós aprendemos é muito pouca e simples, num programa concebido para ser adequado para os Estudantes de Medicina, Medicina Veterinária e Ciências do Meio Aquático, adaptada para estes cursos – é uma “pincelada” nesta área, “a Química que os Estudantes aprendem é a de moléculas envolvidas no metabolismo humano: macromoléculas, e as aulas duram apenas 10 semanas”. O Professor defende ainda que a Unidade Curricular de Química Biológica faz‑se muito facilmente, se as pessoas estudarem ao longo do semestre, orientanto‑se pelas suas aulas e se forem às aulas práticas (que o Professor disponibilizou no sigarra) e teórico‑práticas – em vez de estudarem “nas vésperas” dos exames, por “sebentas” e por resoluções de exercícios feitos por outros Estudantes as quais, muitas vezes, estão erradas. É também de enfatizar que há sistematicamente Estudantes com excelentes notas! “Queremos ficar com um curso de Medicina sem personalidade, igual ao das outras Faculdades?”, pergunta o nosso Professor, referindo‑se também à abertura de horizontes para investigação na área de Biomédicas que as ciências básicas no ICBAS proporcionam.
Algumas ideias sobre a Pedagogia e sobre a Química Biológica O Professor Anake considera que todos os cursos – desde a Engenharia aos cursos relacionados com a Saúde – têm que ter uma base forte. É verdade que, pelo menos no caso da Medicina, se se vir os planos dos outros cursos de em Portugal, nenhum deles tem uma base de Química tão forte como o do ICBAS; mas o Professor Anake conta que se formos ver os cursos de Medicina na Alemanha, por exemplo, observamos que os Ciclos Básicos têm uma componente marcada de Química, porque se considera que a Química é fundamental para compreender a Bioquímica e os processos fisiológicos – já para não falar de outras matérias que surgem na prática médica, como sejam assuntos relacionados com Farmacologia e Terapêutica. O Professor acrescenta que se o curso de Medicina só tiver componentes para abordagem de doentes na clínica, deveria ter menos que 6 anos e que outras Unidades Curriculares teriam que ser
É um facto: muita da notabilidade do ICBAS e dos cursos do ICBAS assenta nas Ciências Básicas. Quais serão os custos se escolhermos ficar sem Química, um tema que cada vez ganha mais importância em matérias de Ciências da Vida e da Saúde? Pedro Reis Pereira |
17
CORINO | 18 6ª edição - SETEMBRO 2014
Este é, possivelmente, o primeiro artigo escrito no mundo inteiro por 22 mãos, e ao mesmo tempo, o mais desinteressante. Começando pelo início: nós, BioTouros, somos um grupo de amigos e colegas de Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). O monstro surgiu a 1 de dezembro de 2011, por altura do XXI ENEM, na Zambujeira do Mar. O Magno Conselho Fundador contava com João Carlos Almeida (Jay), Joaquim Ferreira, Jorge Lourenço, Nuno Mendes, Pedro Lima, Pedro von Hafe e Tiago Ramos. No dia 25 de abril de 2012, num épico jantar, juntou‑se a nós mais um elemento, Gonçalo Ferreira. Mário Martins também obteve a sua entrada neste restrito grupo, por meados de 2012, devido à participação em diversas atividades biotaurinas. Nos idos finais de 2012 acrescentaram ‑se, no contexto de mais um ENEM, em Leiria, os mais recentes elementos dos BioTouros, Daniel Canelas, Hugo Mendes e Zé Ramos. Candidatámo‑nos por duas vezes à Direção da AEICBAS, participando sempre com a denominação de Lista B, revelando, desde logo, grande originalidade. Nas primeiras, em 2012, tivemos 25 votos, contra 161 votos da lista adversária. As eleições de 2013, nomeadamente a campanha feita na nossa página oficial no facebook, foi um dos pontos altos de apoio e reconhecimento por parte dos nossos colegas. Uma publicação em que aparecemos com o Professor Doutor Anake Kijjoa, depois de uma
reunião, teve cerca de dez vezes mais “gostos” do que qualquer publicação da lista opositora. No dia das eleições, 3 de junho de 2013, devido à colocação de urnas apenas nas novas instalações do ICBAS, os nossos principais potenciais eleitores não compareceram em massa. Apesar disso, obtivemos mais de 22% dos votos dos alunos do ICBAS, um aumento de 12% em relação ao ano transato. Mas o nosso objetivo com estas duas candidaturas foi plenamente alcançado. Fizemos chegar as eleições a mais gente, contribuímos para uma discussão de ideias, tentámos, com humor à mistura, perceber e fazer perceber o que o ICBAS precisa e quais são as necessidades dos Estudantes. Tentámos fazer‑nos representar em todas as atividades desenvolvidas na nossa faculdade, independemente do seu cariz, tentando transportar para elas um espírito de amizade, fraternidade e divertimento,
partilhando‑o com as outras escolas médicas. Duvidámos, modestamente, que haja alguém que tenha ido a um ENEM e não conheça os BioTouros. Para muitos, somos símbolo de irreverência ou incitadores de anarquia, mas o verdadeiro intuito deste grupo, conhecido por aqueles que progressivamente se foram familiarizando com o nosso âmago, é fortalecer o espírito de união pelo qual a comunidade de Biomédicas é famosa. Começámos por arranjar um nome para um quarto num ENEM, continuámos organizando vários jantares juntando mais gente do que muitos jantares das Comissões de Curso e acabámos a candidatarmo ‑nos à DAEICBAS. Sempre com o principal objectivo de mexer com o sistema, de trazer um bocado de Biomédicas às Biomédicas, de ser uma pedra no charco. A maior parte de nós despede‑se este ano desta Casa, sentindo que fazendo parte dos BioTouros conseguimos motivar alguns sorrisos a Biomédicas, que tantos sorrisos nos proporcionou e que vamos levar para a vida.
Agora para nós acabou, a última Queima das Fitas já passou, levámos o nosso símbolo em cada cartola da última vez que passamos na tribuna. Ficam as histórias, os bons momentos, os risos, as ressacas, as lágrimas, todas as emoções que ao longo deste tempo partilhámos juntos e que se irão perpetuar. Esperámos que de alguma forma tenhamos contribuído para que Biomédicas fosse um pouco melhor e agradecemos a todos aqueles que nos ajudaram a fazê‑lo. Aos amigos, namoradas, colegas, família, professores que participaram e toleraram as nossas brincadeiras. Só fez sentido porque vocês estavam lá. Obrigado! Mas sobretudo um “Muito Obrigado” a Biomédicas, que nos construiu. Pedro von Hafe Leite
|
19
CORINO | 20 6ª edição - SETEMBRO 2014
Sobre o Internato Médico Desde há já bastante tempo que vêm sendo discutidas diversas alterações ao regime de Internato Médico português. A incerteza perante o futuro que se coloca aos recém‑graduados em Medicina e a possibilidade de verem aprovadas alterações injustas e desadequadas à realidade do nosso país têm preocupado sobremaneira os estudantes. Essa preocupação atingiu novas e maiores proporções aquando da divulgação, a 30 de janeiro de 2014, de uma proposta de Decreto‑Lei para Alteração do Regime Jurídico do Internato Médico que consagrava uma série de mudanças há muito contestadas, quer pelos estudantes, quer pelos médicos, e que entre outras, recomendava a suspensão da Prova Nacional de Seriação (PNS) do presente ano, a cerca de 8 meses da sua realização. Perante a agitação e o pânico instalado, multiplicaram‑se por todo o país, nas semanas seguintes, Sessões de Esclarecimento, Assembleias e Reuniões Gerais das Associações de Estudantes, Secções Regionais da Ordem dos Médicos e Sindicatos. O nosso Instituto não foi exceção. Assim, no passado dia 18 de março de 2014, os estudantes do Mestrado Integrado em Medicina do ICBAS puderam assistir a uma Sessão de Esclarecimento intitulada “Que Futuro para a Medicina”, que contou com a presença de representantes da Ordem dos Médicos, Sindicatos Médicos, Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), dos Órgãos de Gestão do ICBAS e da AEICBAS, de forma a elucidar os presentes acerca dos mais recentes acontecimentos e com o objetivo de se encontrarem pontos de consenso entre os diversos parceiros envolvidos. Dois dias depois, no dia 20 de março, os estudantes reuniram‑se, então, em Assembleia Geral da AEICBAS para discutir e votar as posições que queriam ver levadas à 97ª Assembleia Geral da ANEM, a decorrer de 21 a 23 de março.
Em matérias como a definição de uma nota mínima para a PNS e a manutenção do Ano Comum, os estudantes pronunciaram‑se e decidiram que: •
• •
•
•
•
•
O currículo do atual 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina deve ser alvo de uma profunda reforma, de forma a torná‑lo verdadeiramente profissionalizante e mais homogéneo entre Escolas Médicas; O Ano Comum deverá ser mantido; A obtenção de Autonomia Profissional deverá ocorrer, tal como na atualidade, após 2 anos de formação pós‑graduada tutelada (Ano Comum e 1º ano de Internato de Especialidade), garantindo que todos os Médicos terão formação médica especializada e rejeitando a criação de “Médicos Indiferenciados”; A Média de Final de Curso, utilizada para efeitos de acesso às vagas do Ano Comum e desempate das classificações da PNS para acesso às vagas de Internato de Especialidade, deverá ser normalizada, usando o método Z‑Score, com vista a serem atenuadas as profundas assimetrias existentes entre as 8 Escolas Médicas Portuguesas; A Média de Final de Curso não deverá ser um fator de ponderação com a PNS para o acesso ao Internato de Especialidade; A PNS deve ser alvo de uma profunda reestruturação, de forma a tornar‑se mais de acordo à realidade portuguesa e aos conhecimentos esperados de um recém‑graduado em Medicina; A PNS não deverá, em circunstância alguma, ser alvo de uma Nota Mínima, mas continuar a manter o seu caráter de seriação, uma vez que a avaliação dos Estudantes deverá permanecer da responsabilidade das Escolas Médicas;
•
•
Os recém‑formados em Escolas Médicas Estrangeiras deverão ser sujeitos às mesmas condições de obtenção de Autonomia Profissional que os estudantes das Escolas Médicas Portuguesas; O numerus clausus para o Mestrado Integrado em Medicina em Portugal deverá ser reduzido, de forma a adaptar‑se, por um lado, às capacidades formativas das Escolas Médicas e, por outro, às necessidades do nosso país, sendo necessário um Planeamento Integrado da Formação Médica em Portugal.
Tomadas estas resoluções, a AEICBAS esteve presente, nesse fim‑de‑semana, na 97ª Assembleia Geral da ANEM em que, após profunda discussão entre os representantes dos Estudantes das 8 Escolas Médicas Portuguesas e das decisões tomadas em cada uma das suas Assembleias Gerais locais viu serem aprovadas, como posições nacionais, todas as posições assumidas pelos Estudantes do ICBAS, que passarão a ser defendidas oficial e publicamente pela ANEM no futuro.
Entretanto, nas semanas que se seguiram, a Admnistração Central do Sistema de Saúde veio esclarecer que a proposta de Decreto‑Lei não passa de um documento de trabalho sem caráter definitivo e que a recomendação de suspensão da PNS no presente ano se deveu a um lapso, sendo que esta se irá realizar como previsto. Mas a contestação não termina aqui. As negociações entre os diversos intervenientes continuam a decorrer e é certo que nos próximos meses existirão mais desenvolvimentos a carecer de nova reflexão e discussão. O futuro afigura‑se difícil, mas o consenso alargado que se verifica entre Estudantes de Medicina, Sindicatos e Ordem dos Médicos deixa antever que a defesa por um Sistema Nacional de Saúde justo e de qualidade “tem pernas para andar”. Da parte da DAEICBAS, encontramo‑nos disponíveis para qualquer esclarecimento e continuamos comprometidos na defesa e no combate pelos melhores interesses dos estudantes do ICBAS. Constança Carvalho
Emigração Médica em Portugal O Professor José Manuel Silva, Bastonário da Ordem dos Médicos, expressou recentemente, em entrevista a vários jornais, a sua preocupação relativa à emigração médica em grande escala e ao consequente declínio de qualidade dos serviços de Saúde. As questões da empregabilidade e remuneração médicas estão agora em cima da mesa, assim como a falta ou excesso de médicos no país em função da população. O número de profissionais de Saúde tem aumentado, incluindo enfermeiros, médicos, técnicos de saúde, farmacêuticos e dentistas (estes últimos duplicaram o seu número de 2000 a 2009). No que toca a médicos, a maior parte do país possui 2 médicos por cada 1 000 habitantes, encontrando‑se 10% da população sem médico de família. As variações
regionais, no entanto, são enormes: o distrito de Coimbra possui 8 médicos por 1 000 habitantes, assegurando assim a posição de região da Europa com mais clínicos em função da população. Apesar das variações, Portugal encontra‑se bem acima da média Europeia, fazendo‑se representar com 3 a 4 médicos, em média, por 1 000 habitantes, sendo o quarto país com mais médicos na Europa dos 27 e o quinto país do mundo desenvolvido com mais médicos, segundo dados da OCDE. E qual é a média europeia? Portugal não tem só bons indicadores no que toca a número de médicos: os indicadores de declínio da mortalidade infantil, esperança média de vida, entre outros, são excelentes a nível mundial. Os salários líquidos dos médicos em Portugal, são, no entanto, dos mais baixos da Europa. |
21
Citando... “Já algumas dezenas [de médicos abandonaram o país] e esta situação irá certamente acentuar‑se porque temos neste momento um excesso de alunos nas faculdades de Medicina, superior às necessidades do País. Este ano vamos, pela primeira vez, ter um défice de 200 vagas para a formação pós‑graduada relativamente ao número de candidatos. E essas duas centenas de jovens ou ficam em Portugal como médicos sem especialidade – e tentam no ano seguinte –, ou procuram outros países para tirarem a especialidade e até mesmo para o exercício profissional. E muitos dos milhares de jovens portugueses que foram tirar Medicina para o estrangeiro já estão a pensar não regressar, porque verificaram que não têm perspetivas de futuro no País.” Professor José Manuel Silva, Bastonário da Ordem dos Médicos, in Destak, 20‑2‑2013
“Sabemos que 93% dos enfermeiros que se formam saem ou pretendem sair. Vamos pagar no futuro a saída de mão de obra qualificada, porque vamos precisar dela.” Enfermeiro Germano Couto, Bastonário da Ordem dos Enfermeiros in Diário de Notícias, 15‑3‑2014
“Há muito tempo que os nossos farmacêuticos são apetecidos no mercado inglês, alemão, americano e no Canadá. Em Portugal, na indústria não há vagas, nos hospitais não há investimento em recursos humanos e nas análises clínicas e distribuição não há oportunidades” Dr. Paulo Duarte, presidente da Associação Nacional de Farmácias, in Diário de Notícias, 15‑3‑2014
CORINO | 22 6ª edição - SETEMBRO 2014
Os médicos têm sido a grande exceção no que toca a emprego garantido, um setor previligiado neste aspeto. Houve um grande investimento na formação de novos médicos por parte do nosso País nos últimos anos, prevendo‑se um excesso de 6091 especialistas em 2020, segundo um estudo conduzido pela doutora Paula Santana, da Universidade de Coimbra. A especialidade também deixará de estar garantida a todos: os numerus clausus das Universidades aumentaram de forma superior ao aumento de vagas na especialidade, sendo que o aumento de vagas nesta última poria em xeque a qualidade de
ensino. Esta não é uma situação inédita: já aconteceu no nosso País que os recém‑formados não tivessem garantia de especialidade, obtendo o título de “clínico geral”. Acrescentar que hoje em dia MGF é especialidade? Ainda assim, certas especialidades possuem atualmente um índice de reposição negativa: Estomatologia, Patologia Clínica, Saúde Pública e Medicina Geral e Familiar. A boa notícia para os Estudantes é que, de todas as especialidades, apenas seis têm menos de 50% de médicos com mais de 50 anos: de futuro, muitos clínicos vão reformar‑se. Como alternativas ao Sistema Nacional de Saúde, o
Num inquérito online realizado a alunos de Medicina do ICBAS, com uma amostra de 151 alunos, representando cerca de 15% da totalidade de alunos de Medicina desta faculdade, questionados acerca das suas intenções em emigrar, obtiveram‑se os seguintes resultados: 10,6% dos alunos responderam “Não quero nem penso emigrar” (coluna 1 no gráfico); 30,5% dos alunos responderam “Preferia não emigrar, mas tenho pensado no caso” (coluna 2 no gráfico); 37,7% dos alunos responderam “ Não tenho problemas em emigrar, embora prefira ficar em Portugal se tiver oportunidade para isso” (coluna 3 no gráfico); e 21,2% dos alunos responderam “Sim, quero emigrar” (coluna 4 no gráfico).
Dr. Miguel Guimarães, presidente da Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos, aponta o setor privado, que se pensa crescer nos próximos tempos. Também a investigação pode ser um caminho a seguir, assim como a colaboração com a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). Desde 2009, num contexto de crise económica, cortes salariais, aumento dos impostos e degradação das condições de trabalho (reduções orçamentais para a saúde), muitos médicos têm considerado saír do país. Países como o Reino Unido, Alemanha ou França possuem políticas de importação de médicos, ao invés de investirem na sua formação, mais dispendiosa. Estes países mostram‑se bastante atraentes para os nossos profissionais, oferecendo boas oportunidades de carreira e vida pessoal. Melhores perspetivas de futuro nestes países são
o grande fator que atrai os profissionais de Saúde. Para aqueles que não conseguirem vaga para a especialidade, fazer a especialidade lá fora apresenta ‑se como uma alternativa viável. Em 2013, a Ordem dos Médicos recebeu à volta de 1 100 pedidos de certidão necessária para trabalhar no estrangeiro, segundo o Dr. Miguel Guimarães. Várias empresas de recrutamento de profissionais de Saúde têm vindo a promover feiras de emprego em todo o País, nas quais informam os profissionais das oportunidades oferecidas por diversos países e facilitam a sua contratação. A MedPharmCareers é atualmente a maior feira de emprego médico na Europa, tendo contado com a sua décima quinta edição no fim‑de‑semana de 17 e 18 de maio, no Porto. Raquel Borges
Sobre Emigração • Emigração terá já levado um quinto dos trabalhadores qualificados de Portugal nos últimos anos • Mais de sete mil profissionais de Saúde saíram em dois anos do país • O salário médio dos médicos recrutados para o estrangeiro ronda os sete mil euros mensais, sendo que em casos excecionais, pode chegar aos 50 mil/mês • Em Portugal, o salário médico médio é de 2 010 euros por mês (valor líquido), no setor público • Nos países nórdicos oferecem cursos de línguas para o médico e cônjuge
|
23
CORINO | 24 6ª edição - SETEMBRO 2014
Medicina na Periferia X Edição A Medicina na Periferia é uma atividade de rastreio de fatores de risco para o desenvolvimento de diversas patologias e de Educação para a Saúde na comunidade. Um dos principais objetivos é o de complementar a formação curricular dos estudantes dos 3º ao 6º anos do Mestrado Integrado em Medicina, ao mesmo tempo que permite o contacto com diferentes realidades de prestação de cuidados de Saúde no nosso País. Esta atividade promove ainda a prática de conhecimentos adquiridos, o desenvolvimento das capacidades na interação médico‑doente e a intervenção na população geral no âmbito da Medicina Preventiva. Pretende ainda promover o convívio e a troca de conhecimentos e experiências entre os participantes. Nesta X edição participaram 49 Estudantes que estiveram espalhados pelas localidades de Baião,
São João da Pesqueira, Vimioso, Mesão Frio, Lousada, Freixo de Espada à Cinta e Arcos de Valdevez. Ficam aqui algumas opiniões dos participantes: “A Medicina na Periferia não é apenas uma atividade, é uma experiência que nos torna mais humanos.” “A Medicina na Periferia foi uma oportunidade de fazer prevenção primária e secundária em populações de regiões periféricas. Foi o corolário de um ensino médico concentrado em 3 dias”. “Pertencer à Comissão Organizadora e participar neste fim de semana é algo que aconselho a todos os alunos. É uma experiência única e muito enriquecedora”. Rita Sarabando Coordenadora do Departamento de Medicina 2013/14
Revisão dos Planos de Estudo do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária do ICBAS É do conhecimento de todos os estudantes que o ICBAS está a realizar uma revisão dos Planos de Estudos do MIMV há já algum tempo. Contudo, muitos não sabem em que ponto esta revisão se encontra e, deste modo, pretende‑se dar esta informação. Foi constituída, em abril de 2014, a Comissão de Acompanhamento do MIMV, constituída pela Professora Doutora Paula Proença (Diretora do Curso de MIMV) e, em sua substituição, o Professor Doutor Augusto Matos (Diretor Adjunto do Curso do MIMV), Professora Doutora Ana Patrícia Sousa (representante do corpo docente) e por Joana Pedro Oliveira e Micael Costa (representantes dos estudantes). Esta Comissão de Acompanhamento tem como objetivo o apoio transversal dos objetivos e conteúdos das Unidades Curriculares do MIMV. Neste momento, além desta ajuda transversal, tem como principal objetivo gerir todo o processo da Revisão Curricular do MIMV. Atualmente, já existe uma proposta de alteração avançada pela Direção do Curso. Contudo, não será divulgada enquanto não for realizada uma proposta construída pelos estudantes do MIMV. Esta proposta dos estudantes está a ser construída com a coordenação de Joana Pedro Oliveira e Micael Costa e com a colaboração do GTAPEVet (Grupo de Trabalho de Acompanhamento dos Planos de Estudos do MIMV da AEICBAS – grupo constituído por 3 representantes
por ano). Para isso, já foi divulgado um inquérito a todos os estudantes do MIMV e recém‑mestres do ICBAS, com o objetivo de reunir opiniões sobre todas as Unidades Curriculares existentes e sugestões de alteração. Pede‑se uma colaboração intensiva a todos os estudantes, de modo a consolidar e construir a melhor proposta para uma formação completa e integrada dos futuros profissionais médicos veterinários. Qualquer estudante que pretenda participar mais ativamente nesta proposta, será muito bem‑vindo, bastando para isso dirigir‑se aos representantes dos estudantes. Após construção da proposta dos estudantes, será discutida e reunida, juntamente com as restantes, na Comissão de Acompanhamento, construindo‑se uma proposta única. Esta será, então, publicamente divulgada para discussão entre Professores e estudantes, havendo sessões de discussão da mesma para audição de opiniões. Após esse período, será então construída uma proposta final que, após votação, será promulgada. Será implementada a partir do 1º ano, havendo um plano de implementação oficial. Trata‑se de um dos momentos mais importantes do MIMV do ICBAS com uma influência essencial na boa formação e prática do médico veterinário.
Micael Costa |
25
CMA Rumo a SUL Como é habitual, o Departamento de Ciências do Meio Aquático recheou‑se este ano de imensas atividades lúdico‑didáticas, sempre com um aroma “aquátil” de querer mais. A mega atividade, que merece destaque, foi designada como “CMA Rumo a Sul”, pois levou‑nos até à outra margem, Sagres, onde navegámos com golfinhos em mar aberto, nas profundezas do Oceano ou reteve‑nos apenas vidrados nos aquários do Oceanário. Deixou‑nos o aperto de recordar todas as peripécias que envolveram o mágico convívio, os barulhentos jantares, a piscina, a equitação, o grande sol e o apetite de voltar para o próximo ano.
Lisa Moutinho Teixeira 3º CMA
CORINO | 26 6ª edição - SETEMBRO 2014
Departamento CMA Próxima etapa? Será irónico, no último ano, não querer perceber o que significa? Há tantas outras coisas que nos envolvem, ou engolem! Ainda não interpretei bem esta realidade adjacente e nem sei se o espero fazer. Foram horas de uma aprendizagem repentina que foi ou não ficando, consoante a vontade ou o tempo disponível. Há tantos caminhos e, em simultâneo o “suposto” futuro, pintado de negro, que os tornam quase alternativas forçadas de alguma coisa excêntrica que acabará por chegar.
A situação financeira não é o melhor romance, mas tece algumas das opções: o seguir uma carreira num mato de lobos famintos sem tendência a engordar, ou especializarmo‑nos para um amanhã mais palpável. E entretanto, uns de nós sabem ou fingem, num consistente sorriso que, depois deste adeus, estranhamente, ao longo do fim, que vai custando, outros vão ficando com o que vai sobrando. Às vezes, questiono‑me se é isso que importa. Todo este frenesim de ter de saber o que se quer e ficar‑se confinado a uma rotina sacra de algo infundado? Há todo um conjunto de lacunas na resposta, mas a verdade é que importa seguir em frente e, ao nosso jeito, fazer o melhor com os dias que temos, de modo evolutivo e emblemático. Por isso, próxima etapa? ‘’Estou’’ aqui!
Tenho um projeto para fazer, e agora? Ok, supostamente devias ter começado a preparar o projecto logo no 1º ano, para a esta altura do campeonato não estares tão aflito, mas a verdade é que poucos ou nenhuns fazem isso e apenas começas a pensar no projcto no último ano da Licenciatura. Por isso, se estás agora a acabar o 2º ano de CMA e começas a pensar no que farás para o ano na cadeira de projeto, este texto é para ti. Quando chegares ao início do 3º ano, começa então a pensar neste assunto: idealiza algo que gostasses de fazer, uma área de interesse ou alguém com quem gostasses de trabalhar. Se já tiveres uma ideia fixa do que queres fazer, ótimo! Poucos são aqueles que a têm! Então, mãos à obra: vais ter de arranjar alguém que te oriente e aconselhe em relação ao que queres fazer. Se a ideia que tu tens não é viável, não desanimes, há sempre outras opções, mas certamente que fazer um projecto com tubarões na Bahamas não é a opção mais fácil, mas podes sempre adaptar isso e trabalhar com outras espécies de tubarões num aquário público, por exemplo. Caso encontres alguém interessado em trabalhar contigo, segue em frente! Por outro lado, se houver algum professor com quem gostasses de trabalhar, ganha coragem e fala com ele, vai com certeza ter todo o gosto em acolher‑te num dos seus trabalhos. A situação mais comum é estares completamente perdido e não saberes para que lado te hás de virar. Bem‑vindo ao clube! Neste caso, aconselho‑te a falar com o máximo de pessoas que conseguires, fazer muita pesquisa acerca de coisas que se podem fazer, ou então podes sempre aproveitar para fazer um estágio para teres alguma
Francisca Ribeiro 3º CMA
perceção do que gostas ou não de fazer, ou até, quem sabe, usá‑lo como projeto, fazendo o respetivo relatório. Se aparecer alguma oportunidade, agarra‑a! Passada esta etapa, quando começares a fazer o projeto propriamente dito tem muita atenção ao
tempo disponível. Planeia a altura em que queres apresentá‑lo e o que consegues fazer nessa altura. Não deixes a escrita do relatório para o final do ano e ainda mais importante do que isso: não comeces a fazer o projeto apenas no 2º período do 2º semestre, porque te garanto que se o fizeres, não vais conseguir terminar uma coisa em condições. Terminado o trabalho prático e escrito o relatório (depois de ter sido revisto pelo orientador) só resta apresentá‑lo! Nesse dia, basta ter muita calma e confiança, porque no final de contas foste tu que o fizeste, logo não há ninguém melhor do que tu para o defender. Quando esse dia chegar, só me resta desejar‑te boa sorte e dizer‑te que vás festejar logo a seguir! É o que vou fazer daqui a um tempo!
A Garraiada Académica: que fim? (E para quando?) Em 1988, aquando da redação daqueles que foram os primeiros (e únicos) estatutos aprovados pela Associação de Estudantes do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (AEICBAS), até aos dias de hoje, consagraram como objetivo, entre tantos outros, o de “promover a formação cívica” dos membros desta Associação de Estudantes, bem como o “enriquecimento individual e coletivo e a dignificação do ICBAS”. A Garraiada Académica é uma tradição cujo tempo nos ultrapassa: iniciada há tantos anos e perpetuada por tantos outros, é hoje uma prática trivial que encerra a semana da Queima das Fitas no Porto – mas não com menos contestação. Ao longo dos últimos anos, as Associações de Estudantes têm vindo a refletir, internamente, sobre qual o seu papel, que valores lhe estão subjacentes e qual o seu verdadeiro significado para a cultura enquanto ente modelador primordial de indivíduo – e que permite que, por definição, este atinja o seu auge, se expanda para além das fronteiras próprias e o faça voar além da existência. Mas será esta Garraiada Académica uma cultura verdadeira? Ou apenas
um culto desfeito de cultura e perpetuado por uma cegueira vazia de razão? A Direção da AEICBAS, cumprindo o seu papel de órgão impulsionador de uma atividade tendente à prossecução dos objetivos da AEICBAS, e vendo a discussão e dúvidas crescentes em torno desta Garraiada Académica, promoveu uma Assembleia Geral na qual devolveu a pergunta a quem, por direito, cabe decidir: é a AEICBAS a favor da realização desta prática? Na sequência desta Assembleia Geral, os estudantes presentes, por uma maioria avassaladora, mostraram‑se veemente contra a realização da Garraiada Académica – vincando, ainda, a sua vontade de que esta fosse já extinta este ano, levando, por isso, este assunto a discussão em sede própria, na Assembleia Geral seguinte da Federação Académica do Porto (FAP). No documento aprovado em Assembleia Geral da AEICBAS, esta considera que a Garraiada Académica “é uma prática que em nada dignifica o estudante, nesta atividade que vai contra os ideais de Ciência, tolerância, promoção da vida, abertura e progresso que são tão característicos da Universidade como instituição promotora de um |
27
CORINO | 28 6ª edição - SETEMBRO 2014
Ensino Superior.” Mais, a AEICBAS considera que a semana da Queima das Fitas deve ser de “celebração da vida Académica, e nunca da promoção da violência e maus tratos a animais para fins de entretenimento humano.” Os estudantes do ICBAS possuem uma responsabilidade maior no pensamento deste tipo de práticas. Pertencendo, nós, a uma Escola das Ciências da Vida, que tem como principal objetivo a defesa do bem ‑estar de todos os seres vivos, incluindo a defesa dos animais – como, aliás, se encontra explícito no ponto 2 do artigo 2º do código deontológico dos Médicos Veterinários. É de lembrar os princípios fundadores de Biomédicas – os da Ciência, da Cultura, da multidisciplinariedade e de um Ensino Superior que ambiciona a formação global dos estudantes e não apenas o saber livresco ‑ incluindo‑se, para isso, numa Sociedade crítica, participada, participativa, e por isso, não poderão, jamais, ser esquecidos. A Direção da AEICBAS não desistiu – nem desistirá – de defender a vontade e ambições dos seus estudantes. Assim, desde outubro de 2013, ao longo de mais de cinco momentos, alertou para a necessidade de
uma discussão abrangente e reflexão alargada, que permitisse uma análise consciente sobre esta prática – bem como da relação entre os órgãos praxísticos e a FAP – discussão esta oportunamente protelada. Assim, a 17 de fevereiro de 2013, aquando da terceira Assembleia Geral da FAP do mandato de 2014, a AEICBAS apresentou uma moção que pedia o fim da Garraiada Académica, a qual, após discussão ampla e após a maioria das Associações de Estudantes presentes revelar desconhecer qual a opinião dos seus representados, acabou por ser rejeitada – ironia, de facto, quando aqueles que diziam desconhecer a posição daqueles que representam, acabaram por, ainda assim, continuar esta prática.
E depois das Fitas?
respeito, apenas ao Orfeão Universitário do Porto (OUP) e ao Magnum Consilium Veteranorum (MCV). Desde aquele ano, pelo facto de a TAB ter participado no final de 2012 no Festival Internacional de Tunas Universitárias (FITU), evento organizado pelo OUP, a TAB viu‑se castigada por parte do MCV, decretando a proibição de participar nas edições seguintes do FITA – situação incólume e partilhada por várias outras Tunas da Academia portuense. Após o silêncio e inércia amotinadoras por parte da FAP, entidade que diz representar as Associações de Estudantes da Academia do Porto, a Associação de Estudantes do ICBAS (AEICBAS) apresentou, juntamente com a Associação de Estudantes da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, uma moção, aprovada em Assembleia Geral da FAP, que exigia que “nenhuma Tuna da Academia do Porto pudesse ser excluída do processo de audições para o FITA”, bem como a “publicação de quais os critérios utilizados na seleção destes grupos” – deliberação esta não cumprida por parte da Direção desta Federação e que questiona a credibilidade das Assembleias Gerais da FAP.
Foi a 25 de abril de 1974, há quarenta anos atrás, numa manhã de ontem, que Portugal saiu à rua, de cravo em punho, gritando sem voz, mas de renovada esperança: liberdade! Liberdade, esse suave calor que nos aquece, e que por vezes nos adormece, somente quando a memória se esquece daquilo que o dia já foi, trocando o momento por aquilo que é hoje. Viver abril não se esgota nem se esgotou num dia só ou numa manhã de chuva contida em quatro pares de décadas. Desde maio de 2013 que a Tuna Académica de Biomédicas (TAB) se vê proibida de participar no Festival Ibérico de Tunas Académicas (FITA), atividade organizada pela Federação Académica do Porto (FAP), por conflitos que lhe são alheios – os quais dizem
Faltou a coragem. Venceu o medo. Vendeu‑se a alma pelo alimento. E nós? Nós não nos curvaremos! Pedro Ribeirinho Soares Presidente da Direção da AEICBAS para o mandato 2013/14
Em jeito de protesto, as Tunas excluídas souberam unir‑se, organizando um Festival paralelo, dedicado aos finalistas, onde pudessem mostrar o que melhor se faz a nível cultural em cada uma daquelas faculdades. Nasceu o Cartolas, contando com a presença de vários grupos entre os quais a Tuna Académica de Biomédicas, enchendo o Teatro Sá da Bandeira acima da lotação máxima, num clima de verdadeira apoteose, solidariedade e Academismo. Depois das FITAs? Seguem‑se as (o) Cartolas!
“Volta à barriga da terra que em bora hora o pariu / agora ninguém mais cerra as portas que Abril abriu!” («As Portas que Abril Abriu», José Carlos Ary dos Santos, Julho de 1975) Pedro Ribeirinho Soares Presidente da Direção da AEICBAS para o mandato 2013/14
|
29
CORINO | 30 6ª edição - SETEMBRO 2014
PENSA POR MIM Há dias que nos baralham. Dias em que, pura e simplesmente não conseguimos processar o que nos dizem. Acordamos com aquela sensação estupefaciente de quem caiu de pára‑quedas num Mundo que desconhece, numa realidade que, para si mesmo, é virtual. Levantamo‑nos ao 3º toque do despertador (isto é, quando atendemos aos avisos do nosso fiel companheiro, nas suas versões pop, rap e telefone clássico), e fazemos aquela dança tribal (sem máscara, búzios ou didgeridoo) do embalo para o trabalho. Fazemos música com água tépida, toalhas de linho e escovas de dentes. Limamos arestas do nosso polígono, e fugimos em frente, e nunca para trás, não vá faltar a rede de segurança. E damos por nós sentados a uma mesa de batas brancas a discutir seres, que como nós, têm fragilidades, preocupações, ambições, e que am-
bicionam voltar às suas preocupações mundanas. E falamos com aquela curiosidade mórbida de querer saber os pormenores mais intrínsecos de alguém, que até há 1 hora atrás, não passava de um peixe num tanque de aquacultura, sobre o qual pairava uma rede lançada por um qualquer “iluminado” com mestrado em tratamento de humanos (e peixes, neste caso), e que, aleatoriamente, foi escolhido para ser o apresentador deste talk‑show. O Sr. Peixe (as senhoras são menos – não nos querem a auscultar debaixo de tecido mamário) apresenta‑se dispneico, ictérico, edemaciado, com tosse (seca ou produtiva), dor daqui e dacolá e que vai daqui prácolá, um sem número de alterações cognitivas, e desconectados de nós. Olhamos para as guelras, para a sua cor, para as barbatanas e a sua agilidade, para os olhos e o seu piscar, e com um orgulho enorme bradamos aos céus da enfermaria: é um Peixe! Mas o Peixe já o sabe, e estranha um pouco a brilhante conclusão. Os nossos mestres pensam mais uma vez: numerus clausus. E com um misto de desdém e pena e olham para nós com olhos de fundo baço, sem fulgor, esse perdido a admirar toda a imperfeição humana que busca, inutilmente, uma cura para aquilo que não pode ser alterado. E fugimos da decadência óbvia para a decadência subtil, que escondemos no nosso âmago, resguardada de olhares mais curiosos. E com a balança de Astreia, e muitos mais pratos, porque o bom e o mau não se medem com 2 pesos, somos equilibristas farsantes que se fascinam ao pressentir da sinceridade. Frederico Rajão Martins
Entrevista aos “Memes do ICBAS”
1) Porque resolveram criar esta página? Deus disse: façamos o homem à nossa imagem e semelhança para que possa dominar os animais da terra, da água e do ar e fazer memes. Como a comunidade de seres humanos do ICBAS já tinha dominado os animais com Medicina, Veterinária e CMA, da proposta do Todo-Poderoso só faltava mesmo fazer memes. Na verdade, fomos dotados, enquanto faculdade, de muitas características que podem despoletar o riso e o choro. Há que agradecer! 2) Quem faz os memes? Têm colaboradores regulares? Somos um grupo de quatro professoras anónimas do ICBAS, entre os 37 e os 60 anos, que tiveram esta
ideia no final do 2º semestre de 2013. Achamos que era nítido que os nossos queridos estudantes precisavam de descontrair e relaxar, gozar um pouco a vida... Começamos por brincar com a nossa própria disciplina, mas depois a brincadeira alastrou-se e olhem!, rapidamente os “Memes do ICBAS” tornaramse um sucesso. 3) Qual foi para vocês a melhor reação de alguém que tenha aparecido num meme? E a pior? O professor Jorge Neves dos Santos descobriu a página e requereu de imediato um meme seu. O professor tornou-se fã da página e seguidor habitual. Alunos da faculdade de Medicina do Porto descobriram um meme que insinuava que eles teriam melhores notas do que no ICBAS. Foi um problema. Gerou-se |
31
uma tal polémica que se referiram vezes de mais as primas uns dos outros e os seus atributos. A discussão acabou por morrer alguns dias mais tarde mas, verdade seja dita, nos memes continuamos curiosos acerca das referidas primas. 4) Como reagem os professores? Não podemos dizer com certeza: os que reagem acham piada e alinham na brincadeira, mas suspeitamos que os que não gostam não chegam a dizernos nada.
temos vindo a pôr em prática desde há anos iria por água abaixo. Quanto aos colaboradores, a maioria são professores e funcionários também. Temos colaboradores inclusive das mais altas instâncias da faculdade que são bastante regulares. Nós na verdade gostamos de brincar uns com os outros, picar, vá, e esta é uma forma simples, fácil e rápida de o fazer. Depois quando nos encontramos uns aos outros rimo-nos muito, muito e apontamos, e dizemos “És mesmo abstrúncio!”, mas tudo em segredo, claro. É muito divertido! Madalena Cabral Ferreira
5) Porque fazem questão de manter o anonimato, tal como a maioria dos colaboradores?
CORINO | 32 6ª edição - SETEMBRO 2014
Tememos que os alunos passem a gostar de nós enquanto professores... Todo o plano malévolo que
AQUELA PÁGINA ALEATÓRIA Esta é aquela página aleatória cujo tema é qualquer um. Aleatória, pois os assuntos aqui presentes ganharam o direito de o estar por puro acaso. Esta página é ou uma sorte ou um acidente. A primeira será com certeza destino. A segunda, azar.
Etiópia A Etiópia é um dos países mais antigos do mundo, sendo igualmente um dos locais geográficos em que o Homo sapiens mais tempo habita. Mas não apenas o Homo sapiens: Lucy, o famoso australopiteco, foi descoberto na região de Afar, Etiópia. Durante a pré ‑história, vários reinos foram estabelecidos nesta zona, sendo os mais importantes o reino D’mt e o reino de Aksum. Este último apresenta‑se como o povo de origem da rainha de Sabá, sendo um dos primeiros povos a adotar o Cristianismo. Este facto facilitou o crescimento da Igreja Ortodoxa Copta, de origem egípcia, desde o século IV. Os cristãos coptas desempenharam um papel importante na história etíope, pois educavam a população através de bíblias encadernadas com uma técnica própria (encadernação copta), que transportavam sempre consigo. As primeiras relações diplomáticas com um país europeu efetuaram‑se através de expedições portuguesas, em 1508. Previamente, a Etiópia teria mantido relações comerciais com o Império Romano.
Ilustração 2 ‑ Igreja de Lalibela, Etiópia
A Grande Fome da Eritreia que afetou o país de 1888 a 1892 reduziu a população em cerca de um terço. A Eritreia tornar‑se‑ia uma colónia italiana em 1890. Nos anos posteriores, ocorreram grandes convulsões contra a dinastia reinante, personificada no imperador Haile Selassie. Este é ainda hoje visto como a encarnação de Jah pela religião Rastafari,
Ilustração 1 ‑ Etiópia, terras altas
|
33
originária na Jamaica. Muitos rastafaris aprendem a língua amárica, oficial da Etiópia, pois é considerada por estes como a sua língua original. Entretanto, após a Guerra da Independência da Eritreia, a Etiópia viveu o regime ditatorial comunista do general Mengistu, que instalou sérios problemas no país. Este regime seria derrubado em 1991. A variação na altitude que ocorre neste país (de 4450m acima, a 155m abaixo do nível do mar) produz três zonas climáticas: a fria, a temperada e a quente. A capital, Adis Abeba, situa‑se na região fria.
Hieronymus Bosch
CORINO | 34 6ª edição - SETEMBRO 2014
Bosch foi um pintor holandês nascido em 1450 e falecido em 1516. É conhecido pelos seus quadros em tríptico que usam imagens e símbolos do fantástico para representar conceitos morais e religiosos, algo incomum na época. Pouco se sabe sobre a sua vida. A sua obra mais conhecida é o “Jardim das Delícias Terrenas”, que descreve a história do Mundo a partir da criação, apresentando o paraíso terrestre e o inferno nas asas laterais. A tábua central é o “Jardim das Delícias Terrenas” propriamente dito: representa um falso paraíso, no qual a Humanidade já sucumbiu em pleno ao pecado. O objetivo parece ser o de moralizar mediante ácidas críticas, que recordam a tradição medieval
Ilustração 3 ‑ Painel do Tríptico “O Jardim das Delícias Terrenas”
que se servia da deformação e da caricatura para revelar a malícia das suas personagens. A maior parte das obras de Bosch foram adquiridas por Filipe II de Espanha, estando hoje expostas no Museu do Prado em Madrid. Raquel Borges
Associação de Estudantes do Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar da Universidade do Porto Rua Jorge Viterbo Ferreira, 228 - Edifício A, Piso 4; 4050-313 PORTO Tel. 220 995 326 - Tlm. 963 339 528 - geral@aeicbasup.pt - www.aeicbasup.pt - Facebook/Aeicbasup