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Um projeto pioneiro na América Latina: Torre de Controle de Aeródromo Digital em Santa Cruz

Um projeto pioneiro na América Latina:

Torre de Controle de Aeródromo Digital em Santa Cruz

A tecnologia digital permite um ganho de consciência situacional ao controlador de tráfego aéreo, contribuindo para uma melhor prestação do serviço de controle de aeródromo

Por Fernando Andrade CÔRTES – Major Aviador Comandante do DTCEA-SC

No dia 18 de outubro de 2019, mais uma vez o Brasil foi pioneiro, ao implantar a primeira torre de controle de aeródromo digital (TWR) no aeródromo de Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro.

Estabelecida pelo Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB), a primeira TWR Digital da América Latina é um marco para a história do controle do espaço aéreo brasileiro e solidifica a digitalização total do serviço ATC (controle de tráfego aéreo).

O conceito de torre digital consiste em visualizar, por meio de câmeras de alta definição, a área sob responsabilidade da torre de controle, onde a apresentação vi-

A primeira TWR Digital da América Latina é um marco para a história do controle do espaço aéreo brasileiro

sual dos 360 graus do aeródromo é disposta numa vista panorâmica única, composta por telas formando um painel contínuo. Dessa forma, o serviço de controle de aeródromo é prestado de forma digital, com a visualização da área manobras e do circuito de tráfego por meio de um conjunto de câmeras posicionadas próximas à pista.

Nessa torre digital é realizada a mesma atividade de controle prestada em uma torre convencional: autorização de pousos, decolagens, cruzamentos, taxiamento de aeronaves, informação de voo, mensagens meteorológicas e informações aeronáuticas disponíveis, além do acionamento de auxílios visuais terrestres, como Sistemas Indicador de Rampa de Aproximação de Precisão (PAPI), farol rotativo e balizamento do Aeródromo, contudo, o serviço de controle digital oferece melhores condições e recursos de visualização do tráfego na área de atuação, elevando a consciência situacional dos controladores durante a operação.

O sistema de visualização é composto por 16 câmeras fixas e três câmeras móveis com a tecnologia Pan Tilt Zoom (PTZ), que permite ao controlador aumentar a imagem em até 24 vezes, sem perder o foco. Esses equipamentos estão interligados a uma sala de controle, que contém 14 monitores de 55 polegadas de alta definição (4K),

que proporcionam uma visão 360 graus numa única vista panorâmica, comprimida em 240° de tela, assim, o controlador não precisa girar a cabeça para procurar o setor oeste ou leste, ele mantém o foco tanto na área de manobras (pista e taxiway), quanto a visão do circuito de tráfego.

Além da visão panorâmica, há, nessa sala de controle, três posições de controle, Torre, Solo e Radar de Aproximação de Precisão (PAR). Nas posições Torre e Solo estão instalados dois tablets de 32 polegadas, um com os Sistemas TATIC (do inglês Total Air Traffic Information Control) e ACAMS (do inglês Airport Control and Monitoring System) conjugados, que tratam das mensagens de plano de voo, fichas de progressão de voo eletrônicas, display com informações meteorológicas, status de monitoramento de auxílios à navegação terrestre, visualização de publicações e cartas aeronáuticas e dashboard dos auxílios visuais luminosos, como PAPI, farol rotativo e balizamento de pista.

Já o outro tablet, permite a interação do controlador com as PTZs e a tela panorâmica, Dentre os comandos temos o overlay, que são linhas que realçam na tela panorâmica as margens da pista, taxiways, intersecções, área de pouso dos helicópteros (quadrados) e barra de parada, etiquetas de identificação das aeronaves, conjugado com o Sistema Avançado de Gerenciamento de Informações de Tráfego Aéreo e Relatórios de Interesse Operacional (SAGITARIO); labels - marcação de qualquer movimento acima de 4 pixels na tela panorâmica; presets, que permitem que a câmera focalize posições estratégicas, como final das pistas em uso, circuito de tráfego, hotspot nas taxiways; tracking, que permite que a câmera acompanhe o movimento das aeronaves durante os pousos, decolagens e taxiamento. Dessa forma, o conceito de torre digital permite uma total interação entre homem e máquina num simples toque de um dedo, similar ao uso dos smartphones.

Na concepção do conceito de torre digital, em 2019, nem todas as facilidades foram instaladas de imediato na torre de Santa Cruz. No início, havia apenas duas PTZs (PTZ 1 e PTZ 2) instaladas, que cobriam totalmente a visão 360 graus, contudo a final da pista 23 necessitava ainda de uma visualização aproximada, para check farol dos F-5EM, por exemplo. Além disso, os tablets que permitem a interação das PTZs das posições Torre e Solo não poderiam ser manuseados de forma simultânea. A partir de outubro de 2021, houve a instalação da PTZ 3, próximo à cabeceira 23 do aeródromo de Santa Cruz (SBSC), permitindo maior precisão nas visualizações de pousos e decolagens dessa cabeceira, garantindo maior segurança na operação. Também houve a atualização dos tablets, tornando a interação das PTZs das posições Solo e Torre independentes e simultâneas, aumentando a eficiência dos serviços de controle de aeródromo. Essas atualizações foram passadas aos controladores e técnicos por meio de treinamentos ministrados

O serviço de controle digital oferece melhores condições e recursos de visualização do tráfego na área de atuação, elevando a consciência situacional dos controladores durante a operação

O conceito de torre digital permite uma total interação entre homem e máquina num simples toque de um dedo, similar ao uso dos smartphones

pela Comissão de Implantação do Sistema de Controle do Espaço Aéreo (CISCEA) e pela ATC Systems, garantindo a interface homem-máquina na operação, bem como melhor preparo dos técnicos das especialidades BET (Eletrônica) e SIN (Informática) nos casos de manutenção de todo o sistema.

As instalações, por sua vez, com 410 m², foram construídas em seis meses por meio de módulos pré-fabricados, tipo contêiner, o que reduziu os custos em 30% e o tempo de construção em 60% em relação à torre convencional, uma vez que a construção levou, em tempo recorde, aproximadamente seis meses. Por se tratar de prédio térreo, houve a facilidade de aprovação do projeto em obediência às normas vigentes, inclusive os dispositivos legais de impacto ambiental, sem mencionar o melhor conforto e ergonomia para os controladores.

O prédio consiste por diversos compartimentos, como recepção, alojamentos e banheiros masculinos e femininos, sala de descanso, copa, sala de briefing, sala de reunião, dos servidores e sala de controle, na qual estão instaladas o conjunto de hardware e software, que permitem o controle do aeródromo digital e as informações que neles trafegam, de forma segura e com integridade.

A implantação desse projeto pioneiro na América Latina, no aeródromo de Santa Cruz, lidera uma importância ímpar no serviço ATC, pois a partir desse novo conceito digital, a Força Aérea Brasileira e, acima de tudo, o Brasil mantêm a referência em termos de tecnologia, qualidade e segurança aos usuários do espaço aéreo brasileiro.

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