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A cidade de São Paulo não preservou seu maior patrimônio - o Rio Tietê

Fátima Valéria de Carvalho

O objetivo desse documento foi conhecer melhor a história do rio Tietê e de sua interação com a cidade de São Paulo. Quais os prejuízos causados ao rio, desde a fundação da cidade até os dias de hoje, devido ao processo descontrolado crescimento populacional e a urbanização desorganizada, a fim de entender, como se tornou tão difícil despoluir o rio, e porque, a cidade passou a ser tão difícil de se viver e com tantos problemas crônicos.

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Para a elaboração desse documento foi realizada uma pesquisa quase arqueológica, através de consultas em livros, reportagens, artigos, fotos e mapas.

No tópico mais preocupante, referente as enchentes e alagamentos, foram pesquisados sites, trabalhos e relatórios especializados.

1. Introdução

A cidade de São Paulo tem reconhecida como data oficial de sua fundação 25 de janeiro de 1554, quando foi realizada a primeira missa no local onde seria fundado pelos jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, o “Colégio São Paulo de Piratininga”, dando origem ao povoado que se formou ao seu redor. O lugar escolhido foi estratégico, numa elevação entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú, garantindo proteção contra ataques e ampla visibilidade dos caminhos que levavam até lá. Atualmente, o local é conhecido como Pátio do Colégio e mantém parte da colina histórica preservada. Na época as cheias causavam alguns inconvenientes, como bloquear caminhos mais curtos para certas localidades, mas a população era de apenas 80 habitantes. No entanto, tal situação começou a mudar, lentamente, a partir de 1867, com a construção da Estrada de Ferro Santos Jundiaí (estrada de ferro São Paulo Railway).

Imagem da Fundação de São Paulo Acervo do Museu do Ipiranga. https://br.pinterest.com/pin/616359898997046125/visual-search/

2. A cidade cresceu a qualquer preço

A construção da estrada de ferro São Paulo Railway em 1867, foi indubitavelmente um marco fundamental para aceleração do processo de desenvolvimento e destaque da cidade de São Paulo, tanto no cenário econômico quanto político do país. A partir de então, a cidade de São Paulo passou a se beneficiar das riquezas da economia cafeeira, devido sua posição estratégica, entre as lavouras de café do oeste paulista e o porto de Santos. (2)

A ferrovia foi traçada a partir do eixo condutor do vale do rio Tamanduateí, que era indiscutivelmente o melhor trajeto indicado de ligação do planalto ao litoral.

No entanto, a cidade não estava preparada para absorver tal boom populacional nem tão pouco as novas demandas dessa população.

A expansão de São Paulo se deu sem o devido planejamento territorial e transcorreu de forma desorganizada e segregadora.

Crescimento Demográfico

Segundo Eurípedes Simões de Paula1, a Capital Paulista expandiu-se, de forma, crescente e ininterrupta, entre 1870-80, que, “se pode falar numa segunda fundação de São Paulo”.

O crescimento demográfico da cidade de São Paulo foi vertiginoso, em particular no decênio 1890 a 1900, com taxa de crescimento de 14% a.a., quando a cidade atingiu em 1900 a marca de 239.820 habitantes.

Ano

1872

1890

1900

1920

1940

1950

1960

1970

1980

1991

2000 Município de São Paulo População Taxa de Crescimento (1) 31385

64.934 4

239.820 14

579.033

1.326.261

2.198.096

3.781.446 5

4

5

6

5.924.615 5

8.493.226

9.646.185

10.434.252 4

1

1

2010 11.253.503

Fonte: IBGE, Censos Demográficos (1) Taxa de Crescimento Geométrico Anual 1

Ocupação desordenada

O boom populacional gerou uma crescente corrrida por novos espaços a serem ocupados.

Desta forma pudemos assistir, na prática, um dos paradigmas de Lacoste2, “uma das expressões do exercício do poder é o domínio do espaço geográfico”. Entretanto a apropriação do território se dá de várias maneiras, uma destas é a de basear o seu ordenamento na segregação e no controle dos recursos existentes, como, por exemplo, o gerenciamento das águas e de sua captação.

A criação de novos espaços territoriais se deu baseada na estratégia de domar rios, retificar seus leitos e apropriar-se de suas várzeas, sepultando-os em galerias sob avenidas de fundo de vale. Assim foi a estratégia adotada, pelos poderes público e econômico, de dominação imposta aos corpos d’água da cidade de São Paulo há mais de um século.

Sendo assim, as águas que atravessam a cidade de São Paulo, seus córregos e rios, foram foco de grande intervenção social. A associação entre construção de avenidas e canalização dos rios e córregos completa o novo modelo de circulação: os rios se confinam em canais ou galerias subterrâneas, e sobre seus antigos leitos se implantam avenidas de fundo de vale. A avenida do Estado (sobre o Tamanduateí), as marginais (ao lado do Tietê e Pinheiros), Av Aricanduva ( junto ao córrego de mesmo nome), e Av. Eng. Caetano Alvez (junto o córrego Mandaqui ) são exemplos dessa estratégia.

É durante a gestão do prefeito Prestes Maia3 que esse conceito começa a ser implantado: são obras suas a construção da avenida 9 de Julho sobre o córrego canalizado do Saracura, a avenida Itororó (futura 23 de Maio) sobre o córrego do mesmo nome e a retificação do Tietê, encurtando-o em 20 quilômetros e destinando suas margens para a construção das marginais e para a ocupação urbana de sua várzea. (3 p. 33-34)

Assim então foi delineada a mancha urbana, resultado da ocupação descontrolada e desorganizada que tinha como mote, atender a explosão demográfica, a especulação imobiliária e o anseio de segregação por parte das elites locais.

Os bairros burgueses logo surgiram, assim como regiões predominantemente Industriais e comerciais e a população mais pobre foi relegada a periferia distante, normalmente, em terras baixas, junto aos córregos e rios, normalmente alagadiças.

No início da ocupação, antigas chácaras ao redor do núcleo histórico da cidade foram loteadas, fazendo com que a área urbana se expandisse continuamente. (4)

As riquezas acumuladas com a cafeicultura contribuíram para imprimir inúmeras transformações na fisionomia da cidade de São Paulo e, consequentemente, no cotidiano de seus moradores. Nos bairros novos começam a surgir os palacetes e mansões, projetados por arquitetos como Ramos de Azevedo e Victor Dubugrás. Em 1895, uma lei autoriza o calçamento geral da cidade, a paralelepípedo e a macadame. Também por essa época, é inaugurada a iluminação pública por meio de gás e a primeira linha de bondes a tração animal.

Enquanto o centro da cidade se torna alvo de reformas e regulações urbanísticas ao ser apropriado pelas novas elites dominantes, a cidade se expande à oeste, além do Anhangabaú, ocupando outras regiões colinosas, onde surgem bairros aristocráticos como Campos Elíseos (1879), Higienópolis (1890).

Em 1891 aconteceu a inauguração da Avenida Paulista, projetada pelo engenheiro Joaquim Eugênio de Lima. Sua grandeza, na época, já apontava para sua vocação de futuro símbolo da cidade. Possuía três vias separadas por fileiras de magnólias e plátanos e era ladeada por imensos lotes onde foram sendo erguidos os

palacetes que a caracterizaram até por volta de 1970. Já apedregulhada em 1894, foi beneficiada em 1903 com a colocação de macadame em seu leito, sendo a primeira via pública asfaltada e arborizada de São Paulo.

Em 1899 a colônia inglesa inaugurou, na Avenida Paulista o Colégio Anglo-Brasileiro, cujas instalações foram, a partir de 1918, ocupadas pelo Colégio São Luiz. Em 1906 foi construído, no início da Avenida, um sanatório pelas irmãs da Ordem de Santa Catarina, mais tarde transformado no atual Hospital Santa Catarina. Data da mesma época a sede do Instituto Pasteur. (4) A influência europeia contribuiu também para a criação de áreas verdes. Foi destinado um quarteirão na Avenida Paulista para a criação do Parque Villon, atualmente Parque Trianon.

Por outro lado, em função da presença da ferrovia, a cidade se expande para além do Tamanduateí, como os bairros do Brás, Moóca, Pari e Belenzinho, assim como, os bairros de Campos Elíseos, Higienópolis, Santa Cecília e Consolação que ficam além do Anhangabaú. Em direção ao rio Tietê, também condicionados pela presença da ferrovia, desenvolvem-se os bairros do Bom Retiro e da Luz. Ao mesmo tempo, a expansão também se verifica nas porções superiores do interflúvio Anhangabaú-Tamanduateí, bairros como a Liberdade, Bela Vista e Glória. (2)

Na década de 20 a elite paulistana era muito segregadora e coube a ela a seleção das melhores áreas para morar.

Como é do conhecimento geral, no Brasil não existe a cultura de preservação de suas áreas mais antigas, por sinal , bem diferente do que acontece em outros países, onde os centros históricos são preservados.

Curiosamente, uma das áreas preferida pela elite cafeeira na década de 20 era o bairro conhecido como Campos Elíseos, mais especificamente a região definida pelas seguintes Alamedas: Alameda Nothmann, Alameda Glete, Alameda Cleveland, Alameda Dino Bueno e Alameda Barão de Piracicaba. Quem conhecesse a região sabe da depredação da mesma nos ultimos anos. Ironicamente essa área é ocupada atualmente pela CRACOLÂNDIA. Aos poucos, nas duas primeiras décadas do século XX, surgiram novos povoados, mas sempre guardando distância segura do rio. As primeiras ocupações da margem direita do rio Tietê procuraram as colinas, por serem mais seguras. Foi assim que que surgiram, ainda na época colonial, Santana e Freguesia do Ó.

Vila Maria foi a única exceção que resultou, em 1917, de um do loteamento irresponsável de um antigo sítio em plena várzea. A aquisição dos terrenos por compradores de baixa renda causou anos de sofrimento aos mesmos.

Mapa da região da CRACOLÂNDIA

O primeiro aeroporto de São Paulo, o campo de Marte, foi inaugurado em 1920, também construído na várzea rio Tietê, devido a disponibilidade de áreas amplas e planas, e por conta disso, teve ao longo dos anos, frequentes problemas operacionais devido as enchentes. (3)

Nas áreas periféricas, muitas vezes a ocupação se deu de forma irregular, que caracteriza um estilo de gestão ou ainda, uma cultura política, baseada na “ideologia da outorga”. A clandestinidade transforma-se em extralegalidade, “dependente da intermediação do Estado, no caso da municipalidade, para ser reconhecida e assim, ganhar o estatuto legal”, necessário para ser contemplada pelo atendimento de serviços públicos. (2)

À medida que a cidade de São Paulo começa a se expandir, avançando sobre áreas de topografia irregular, cuja ocupação demandava obras dispendiosas como viadutos; as áreas de várzeas, apesar de periodicamente encharcadas, passaram a atrair a atenção, tornando-se uma opção lucrativa à especulação imobiliária.

Através de um discurso de “saneamento” e combate às enchentes, a cidade foi criando novos terrenos através do aterro de várzeas e retificações dos rios.

Assim em tão se deu a lógica de criação de novos espaços territoriais, baseada na estratégia de domar rios, retificar seus leitos e apropriar-se de suas várzeas, sepultando-os em galerias sob avenidas de fundo de vale. Essa então foi a estratégia adotada, pelos poderes público e econômico, de dominação imposta aos corpos d’água da cidade de São Paulo há mais de um século.

Aos poucos assistimos ocupação das várzeas que, regulam o regime natural de extravasamento dos rios e sua drenagem, por

meio do leito maior ou planície de inundação. Aqui cabe lembrar que a malha hídrica de São Paulo é muito ampla e extensa. (2)

Interesses Escusos nas Obras de Canalização dos Rios

A canalização sempre foi um empreendimento onde podiam tirar proveito, tanto o poder público, dono de grande parte dos terrenos nas várzeas, como a iniciativa privada.

Sempre existiram interesses outros por trás do desejo de retificar o rio. Um projeto de 1883 do engenheiro Eusébio Stevaux enfatizava a importância de sanear as várzeas e a transformá-las em terrenos férteis e produtivos, assim como, solução para as constantes enchentes. A proposta de Stevaux revela também uma visão do potencial econômico das margens do rio, um olhar que ganharia força pelas décadas seguintes. Stevaux tinha em mente propriedades agrícolas. Algumas décadas depois, o foco seriam as indústrias.

A geógrafa Odete Seabra , em sua tese de doutorado, apresentada na Universidade de São Paulo em 1987 e hoje um estudo clássico sobre a ocupação das várzeas dos rios Tietê e Pinheiros, descreve que “O processo de retificação dos rios e, consequentemente, o saneamento das várzeas são, também, um processo de produção de terra urbana, do qual muito bem souberam se aperceber os sujeitos sociais nele envolvidos”. (3) (7)

Os primeiros planos foram divergentes

Problemas antigos e recorrentes, como transbordamento e inundações, falta de comunicação entre áreas do município, assim como novos como, a degradação do rio e das várzeas por efeito da exploração predatória de areia e argila, do crescimento demográfico e da industrialização, levaram o prefeito Firmiano Pinto a criar em 1923, uma Comissão de Melhoramento do rio Tietê e entregou seu comando à maior autoridade brasileira em saneamento, o engenheiro sanitarista Francisco Saturnino Rodrigues de Brito.

Os estudos da Comissão Melhoramentos do Rio Tietê estabeleceram que a retificação encurtaria o trajeto do rio em cerca de 20 quilômetros, caindo dos sinuosos 46 quilômetros para cerca de 25 Km. O ganho de área seria imenso: cerca de 25 milhões de metros quadrados de superfície. Além de avenidas marginais, a proposta de Saturnino previa também a formação de dois lagos, para a contenção de eventuais excedentes de águas, uma ilha na altura da Ponte Grande (hoje Ponte das Bandeiras) e a destinação de 30% do território das várzeas a parques. Com isso, segundo seu relatório, ainda restaria um saldo de 17 milhões de metros quadrados para construções, o equivalente a 200 Estádios do Morumbi. (3)

Em seu relatório publicado no ano de 1926, Saturnino de Brito previa a preservação das áreas alagadas, as chamadas “coroas”, como recurso natural para ajudar na contenção das enchentes e servir de referência dentro da paisagem do parque fluvial urbano por ele imaginado para São Paulo. O seu projeto visualizava um grande parque linear metropolitano que seria a faixa do leito maior, preservado como várzea ao longo do rio para as grandes vazões na época das cheias. No mesmo relatório Saturnino destacou “a necessidade de preservação dos rios Tietê, Pinheiros e Guarapiranga como indispensáveis ao abastecimento de água não só na Capital como de grande parte do interior do estado”. Previa, ainda, a construção de um emissário na Serra do Mar para o tratamento do esgoto em lagoas litorâneas. (5) (5) Retificação e Decadência – DAEE

Em 1926 houve troca de prefeito. Saiu Firmiano Pinto e com ele Saturnino Rodrigues de Brito. Assumiu a prefeitura Pires do Rio que nomeou o engenheiro e professor da Politécnica João Florence de Ulhôa Cintra para dirigir a Comissão do Tietê. O projeto de Saturnino de Brito foi descartado pela nova administração que preferiu implantar o “Plano de Avenidas”, elaborado pelo engenheiro, mais tarde prefeito de São Paulo, Francisco Prestes Maia coordenador da Comissão de Melhoramentos do Rio Tietê. Essa comissão cuidou ainda do aproveitamento da várzea, projetando a construção de duas extensas avenidas marginais e de 20 pontes de concreto armado, permitindo, com isso, sua ocupação por loteamentos e logradouros públicos. (3)

O sistema de vias radiais do Plano de Avenidas seria composto pelas principais avenidas da cidade e precisaria ser executado com urgência em vista da concretização do plano como um todo. Sua concepção é fruto da especialização na utilização do solo urbano e sua execução enfatizaria a prioridade ao Centro em detrimento da periferia. As vias começavam no anel de irradiação, exceto pelo “sistema Y”, formado pelas Avenidas 9 de Julho, 23 de Maio e Prestes Maia - passagens de tráfego rápido, as quais cruzavam o Centro, afastadas do anel. O ribeirão Anhangabaú é formado pela confluência de três cursos d’água: Córrego do Saracura (sob a Avenida 9 de Julho), Ribeirão do Itororó (sob a Avenida 23 de Maio) e Córrego Bexiga. O local da confluência, a atual Praça da Bandeira, era, tradicionalmente, um grande charco. Da praça, segue canalizado sob o Vale do Anhangabaú e deságua no Rio Tamanduateí, na altura do Mercado Municipal.

Prestes Maia planejou os primeiros “rodoanéis” da cidade, começando com um menor ao redor dos centros velho e novo e que compreendia as avenidas São Luiz, Maria Paula, Mercúrio e Senador Queiroz e o viaduto Jacareí. Depois, outro maior incluiria as avenidas marginais dos rios Tietê, Pinheiros e Tamanduateí. Além dos anéis perimetrais, avenidas radiais se projetariam em direção aos extremos da cidade, auxiliando na expansão da cidade, ocupação populacional e negócios imobiliários. Para oeste, a avenida São João foi estendida em direção à Lapa. No sentido oposto, surgia a Radial Leste. Em direção ao ABC, uma avenida ao longo do Tamanduateí. Para o sul, duas avenidas. Primeiro, a Nove de Julho, surgida nos anos 40. A segunda só sairia do papel na década de 1960, a 23 de Maio. A opção escolhida foi intensificar a velocidade de vazão das águas, aumentando a declividade com a retificação do rio; e, depois, aterrar o máximo possível o antigo leito maior (as várzeas), a fim de, posteriormente, lotear e vender áreas públicas. O Tietê foi, assim, progressivamente sufocado pelo suposto “progresso” com a ocupação de suas várzeas, ocupação territorial, demográfica e industrial, sem controle. Os loteamentos se sucederam sem respeitar uma lógica ordenadora da cidade, mas levando-se em consideração apenas os interesses econômicos. (5)

Na implantação do Plano de Avenidas predominou o aspecto viário sobre o aspecto sanitário. O plano de Prestes Maia, se poderia denominar como um urbanismo perverso, pois um dos princípios do urbanismo moderno, era a incorporação das várzeas ao espaço das cidades, ocupando-as com parques, áreas verdes e lagos, tal como foi previsto no projeto de Saturnino de Brito.

O Plano de Avenidas foi pernicioso para a qualidade do meio ambiente urbano de São Paulo, pois não se trata de simples condenação da construção das vias, mas de afirmar a existência de propostas, como o projeto de Saturnino de Brito, que concebia uma incorporação menos nociva dos rios à cidade. A própria dinâmica natural do ritmo das cheias e a convivência da cidade com as várzeas revelava ser prudente manter distância ou aproximar-se com referendada cautela do espaço das águas. (7)

A ideia do Plano de Avenidas era construir avenidas paralelas ao canal do rio (as marginais), como fossem rodovias urbanas.

O Plano de Avenidas de Prestes Maia, deixou como herança a prática da retificação, canalização e construção de avenidas em fundo de vale ou sobre o leito dos rios que predomina até hoje, com todos os efeitos negativos conhecidos, sendo as inundações o mais destruidor deles. (6)

Figura 1 - Plano de Avenidas elaborado por Francisco Prestes Maia

Figura 2 - Projeto de retificação e canalização do rio Tietê, elaborado por Francisco Saturnino Rodrigues de Brito

A Light e as águas do TIETÊ

Com o crescimento e expansão da cidade de São Paulo, havia naquele momento a necessidade do governo realizar rapidamente uma série de melhoramentos, para atender as demandas da população.

Os principais fatores, que no início da década de 20, induziram a modificação no regime hidráulico do rio Tietê, foram: • Controle de cheias; • Aumentar a oferta de energia elétrica;

E assim o sistema foi sendo alterado e construído um sistema totalmente artificial para atender as demandas da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP).

A história da formação da metrópole paulistana se sobrepoe a história de apropriação dos recursos hídricos da bacia hidrográfica do Alto Tietê, pelos setores de forte poder economico, como por exemplo, geração de energia elétrica e especulação imobiliária.

O aumento do fornecimento de energia elétrica para atender a demanda era uma das prioridades na época e a realização de uma série de intervenções na bacia hidrográfica do Alto Tietê foram executadas, tais como a construção de: barragens, reservatórios e estações de recalque, que causam problemas até hoje.

Porém a implantação de um sistema totalmente artificial, requer permanentes e vultosos recursos para seu gerenciamento e manutenção, que sempre desperta algum questionamento por parte da sociedade.

Entre os anos de 1924 e 1925, uma forte estiagem reduziu drasticamente a capacidade de vazão dos rios. Em oito meses de 1924 as chuvas não chegaram a 60% da média para o período e nos 2 primeiros meses de 1925, em plena estação chuvosa, não chegaram a 45%. A usina de Santa de Parnaíba quase entrou em colapso. Para piorar São Paulo era palco de um rápido crescimento industrial e, consequentemente, precisava aumentar a oferta de eletricidade. A situação vivida em 1924 provocou a redução de, aproximadamente, 30% do fornecimento de energia elétrica. Ainda nesse ano foram instaladas mais duas unidades na Usina Paula Souza, elevando sua capacidade.

Foto1 - Usina Paula Souza ( no bairro do Tatuapé – SP)

Enquanto isso a Light construía às pressas (7 meses) uma nova hidrelétrica no Tietê, a Usina Hidrelétrica de Rasgão, entre Pirapora e Cabreúva, que entrou em operação em 1925, mas sabiam que a medida seria paliativa.

Na época iniciou a busca por uma solução defetiva e desde 1923 o engenheiro Asa White Kenney Billings buscava a implementação do Projeto da Serra. (3)

Projeto SERRA

O engenheiro Asa White Kenney Billings estudava a implantação do “Projeto da Serra”, que visava a geração de energia elétrica aproveitando o desnível da Serra do Mar. Assim, em 1926, entrava em operação a primeira unidade geradora da Usina de Cubatão, hoje chamada de Henry Borden. Em 1927 foi adquirida, ainda em fase de construção, a Usina de Porto Góes, inaugurada em 1928, com capacidade de 11 MW.

As obras de retificação do rio Pinheiros demorariam décadas. Dessas obras resultaria o ganho, para efeito de urbanização, de uma área total de 32 milhões m² de terrenos alagadiços. Como a Light nunca dormiu no ponto, tratou de assegurar-se o direito de desapropriar as áreas de várzea e ela própria de revendê-las. Sempre lembrando que a maior parte das tratativas do Projeto Serra se deu no mandato do amigo íntimo Carlos de Campos no governo do Estado. Nas áreas recuperadas ao Pinheiros surgiu bairros destinados a clientela rica para maior glória do polvo canadense e reforço de seu caixa. (3) - Livro: A Capital da Vertigem. Uma história de São Paulo de 1900 a1954; pg. 299

A partir da década de 1930, para o aumento da capacidade de geração da Usina Henry Borden, foram realizadas as obras de retificação e reversão do rio Pinheiros, a formação do reservatório Billings, a construção das usinas elevatórias de Pedreira e de Traição e da barragem reguladora Billings-Pedras. Na confluência dos rios Pinheiros e Tietê foi construída a Estrutura de Retiro com a finalidade de separar as águas dos rios em caso de cheias. Figuras 3 e 4

Figura 3 - Perfil do sistema da concessão do Projeto Serra

Foto 2 – Fotos das estruturas do Projeto Serra

Estrutura do Retiro

Usina da Elevatória Traição

Usina da Elevatória Pedreira

Barragem Reguladora Billings-Pedras

Usina Henry Borden

Sistema Hidráulico da EMAE

A configuração hidrográfica após a implantação do Projeto Serra fez com que o movimento dos rios fosse controlado por diques, barragens, reservatórios, usinas elevatórias e canais, de tal forma que seu fluxo e vazão natural passasse a ser controladas por estas estruturas.

Assim sendo, o Tietê se transformou afluente do Pinheiros, o qual, passou se movimentar em marcha a ré em direção às próprias nascentes. Tornando os caudalosos Tietê e Pinheiros, ao fim da louca corrida, em afluentes do modesto rio das Pedras.

Até o rio Tietê, pelo mesmo processo, e sempre que necessário, poderia ter o curso invertido entre a usina de Rasgão, em Pirapora do Bom Jesus até a confluência com o Pinheiros, de modo a fornecer um caudal ainda mais robusto a infiltrar-se no Pinheiros adentro para alimentar a nova represa Billings.

O rio Pinheiros foi segmentado em dois canais (inferior e superior) de tal forma que suas águas apenas se movimentam em função das estruturas e regras operacionais. Por força das condições hidrológicas artificialmente impostas ao canal do Pinheiros, a ocorrência do fenômeno natural de autodepuração foi prejudicada de forma definitiva. Figura-3 O sistema hidráulico e de controle de cheias, operado pela EMAE na RMSP é constituído das seguintes operações: • Antecipação da abertura total das comportas da Barragem Edgard de Souza, dando escoamento natural às águas do Tietê; • Separação das bacias dos rios Pinheiros e Tietê por meio do fechamento da Estrutura de Retiro.

Figura 4 - SISTEMA HIDRAÚLICO DA EMAE

Enchentes e Alagamentos Insolúveis

Um problema que parece ser insolúvel em São Paulo, são as enchentes e alagamentos.

A origem de tal problema é apontado por urbanistas, em parte na tradição de tampar ou enterrar rios e córregos. “Rio bom é rio enterrado é um modo de pensar muito presente até hoje”, lembra José Bueno7.“

Até a década de 1960, no lugar das oito pistas da 23 de maio, uma das avenidas mais movimentadas de São Paulo, corria o rio Itororó. Hoje aterrado, ele segue até o Anhangabaú, onde encontra o rio Saracura, que se transformou na avenida Nove de Julho.

Apenas na época das chuvas, quando o volume de água por vezes chega à superfície submergindo os carros, o rio é lembrado que ainda está lá. Não é pelo fato de encaixotar , aterrar e enterrar os rios que ele estará morto, na verdade ele não mais ficará à vista, mas suas nascentes continuaram a alimentar seus rios, como uma mãe amamenta seus bebês, com toda a água da chuva que cai na respectiva bacia hidrográfica.

As enchentes, que periodicamente ocorrem em São Paulo, deveriam levar a população a indagações sobre o modelo de ocupação urbana e o seu papel no favorecimento do processo, mas, pelo contrário, muitas vezes elas foram utilizadas para justificar investimentos e promover mais especulação imobiliária.

Um dos momentos mais emblemáticos deste processo, foi o das enchentes de 1929, amplamente divulgada na mídia da época. No mês de fevereiro de 1929, ocorreram chuvas intensas sobre São Paulo, aparentemente nada que fuja aos padrões esperados para o mês de fevereiro. Porém, a certeza da magnitude do fenômeno só seria possível de ser apurada se tivéssemos disponíveis registros pluviográficos efetuados nas proximidades da bacia do reservatório da Guarapiranga. Os dados disponíveis, que se referem ao posto meteorológico da Estação da Luz, indicam volumes de chuvas consideráveis, mas relativamente comuns para o período do ano. Ao todo, entre os dias seis e treze de fevereiro, choveram 246,4 mm na Luz. Porém, estes dados servem apenas como referência, pois devido à variabilidade das precipitações no regime de verão, as chuvas sobre a Guarapiranga podem ter sido muito mais intensas.

Entretanto a cidade sofreu uma inundação inusitada, pois, no dia 14 de fevereiro, a Companhia Light & Power abriu as comportas das represas controladas por ela (Billings e Guarapiranga), que haviam acumulado nos seus reservatórios as descargas pluviais ocorridas entre os dias seis e treze de fevereiro, e fechou as comportas da barragem de S. Parnaíba (Edgar de Sousa). Assim, houve uma elevação do nível dos rios da Bacia do Alto Tietê, inundando grande parte da cidade, particularmente a várzea do Rio Pinheiros.

Na verdade, essa foi a estratégia adotada pela Companhia Light & Power, para potencializar a inundação do dia 14 de fevereiro, alegando ser necessário a abertura das comportas das barragens Billings e Guarapiranga, em nome da segurança estrutural delas. Contudo nunca deveriam ter fechado as comportas de Edgar de Sousa inundando a cidade de São Paulo, tornando a em um grande lago e cujas águas demorariam sete dias para abaixar.

Foto 1 - Vista da praça do Correio, avenida São João e o Vale do Anhangabaú - Enchente de 1929

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/36591815702903810/

Na verdade, muitas dúvidas e questionamentos ficaram com relação a operação adotada pela Light: • Porque abrir as comportas da Guarapiranga e Billings apenas no dia 14/02/29 ? • Não poderia ser feita outra operação de descarregar a Billings através do rio das Pedras e encaminhando o excesso de água para Baixada Santista ? • Qual a real estratégia da light ao fechar as comportas da barragem de S. Parnaíba (Edgar de Sousa) ?

Depois de tanta pesquisa nada encontrei além da ganância da Light em potencializar a área inundável da várzea do Rio Pinheiros.

Foto 2 - Vista aérea da Marginal Tietê

https://www.noticiasaominuto.com.br/brasil/520553/marginal-tiete-sera-recapeada-ate-junho

Na execução da canalização do rio Tietê a várzea não foi mantida, e o rio sofreu com a instalação de empresas ao longo de suas margens, aumentando assim o nível de impermeabilização do leito maior.

Enfim, não podemos afirmar que o projeto de Saturnino de Brito, por si só, resolveria definitivamente o problema das enchentes nas marginais do rio Tetê.

Na sua concepção, a construção de parque fluvial urbano que ocuparia a faixa do leito maior, a formação de dois lagos e uma ilha na altura da Ponte Grande (hoje Ponte das Bandeiras), integrando com 30% do território das várzeas destinado a parques, haveria grande amortecimento das cheias o que evitaria bastantes as enchentes nas marginais.

Na verdade, o rio Tietê não foi dominado pela cidade de São Paulo, pelo contrário, foi a cidade que se tornou refém dos frequentes transbordamentos do rio nos períodos de chuvas intensas, causando transbordamento e enchentes, ocasionando o travamento da circulação nas marginais e reflexos no trânsito de quase toda a cidade.

As enchentes continuam se intensificando e com consequências cada maiores, deixando algumas vezes a cidade paralisada como foi o caso da chuva do dia 09 a 10/02/2020.

Veja os maiores registros de chuva feitos pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), que faz a medição no Mirante de Santana desde 1943.

Índice Pluviométrico

121,8 mm

114,0 mm

109,5 mm

103,3 mm

102,7 mm

102,0 mm Fonte: https://portal.inmet.gov.br/

Data

02/02/1983

10/02/2020

28/02/2011

08/02/2007

17/02/1988

21/02/2016

O Mirante de Santana, na Zona Norte de São Paulo, registrou 114 mm de chuva entre o fim da tarde de domingo (09/02/20) e 9h da segunda-feira (10/02/20). Essa é a segunda maior quantidade de chuva em 24 horas para o mês de fevereiro registrado em 37 anos, de acordo com o Inmet.

Esse volume de chuva só foi superado pelos 121,8 mm ocorridos em 2 de fevereiro de 1983. https://g1.globo.com/sp/ sao-paulo/noticia/2020/02/10/mirante-de-santana-na-zona-norte-de-sp-tem-2a-maior-quantidade-de-chuva-em-24-horas-para-o-mes-de-fevereiro.ghtml

A enchente provocada pela chuva de 10∕02∕2020, ocasionou um grande transbordamento e as águas invadiram o leito maior do rio, nas marginais do Tietê. As fotos de jornais de São Paulo, mostraram o caos em que ficou as marginais após a chuva, que resultou no travamento do trânsito de quase toda a cidade de São Paulo.

A seguir fotos que mostram as consequências da chuva 10 de fevereiro de 2020

Foto 3 - Vista aérea da Marginal do Tietê, altura da Ponte da Casa Verde, em São Paulo/SP, com forte trânsito e centenas de pontos de alagamento. Foto: Estadão Conteúdo

Foto - 4 Rio Tietê transbordou e invadiu a Marginal na altura da Ponte do Limão, na Zona Norte de São Paulo— Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo

Foto 5 – Alagamento na marginal Tietê na altura da Ponte das Bandeiras

grupohimaco@gmail.com

3. Rio Tietê

O rio Tietê é a principal artéria hídrica do Estado de São Paulo, atravessa todo o Estado exercendo importante papel na economia, com atividades de navegação, abastecimento de água, turismo e a presença de usinas hidrelétricas, como a de Pirapora do Bom Jesus e a Usina de Rasgão, ambas responsáveis pelo abastecimento elétrico da região Metropolitana de São Paulo e seu entorno.

Ele é um dos mais conhecidos rios da América Latina e do mundo, com enorme importância econômica para a região Sudeste do Brasil e principalmente para o Estado de São Paulo por ter uma grande capacidade de escoar as produções industriais e agrícolas, ainda pouco aproveitada.

Hidrografia do Tietê

A hidrografia do rio Tietê é destaque por se tratar do principal rio que atravessa a maior metrópole nacional, cruzando toda a região metropolitana de São Paulo (RMSP). Sua principal nascente está localizada a 1.030 metros do nível do mar, no município de Salesópolis (SP), no Parque Nascentes do Rio Tietê nas encostas da Serra do Mar e se localiza a 22 km do Oceano Atlântico e a 96 km da capital do Estado de São Paulo em uma área coberta pela Mata Atlântica.

Escoa de leste a oeste e percorre 1.100 quilômetros até atingir sua foz no Rio Paraná, na divisa com o Estada do Mato Grosso do Sul, sendo um dos principais afluentes dessa bacia hidrográfica.

Esse curso de água cruza 62 municípios paulistas e, por pertencer a uma das áreas mais densamente populosas e povoadas do país, sofre impactos ambientais todos os dias no decorrer do seu leito. A sua bacia compreende seis sub-bacias hidrográficas: Alto Tietê, onde está inserida a região metropolitana de São Paulo; Piracicaba; Sorocaba/Médio Tietê; Tietê/Jacaré; Tietê/Batalha e Baixo Tietê.

1 - Alto Tietê: área que abrange a nascente do rio; 2 -Sorocaba/Médio Tietê: compreende 34 municípios, dos quais 17 estão na sub-bacias do Médio Tietê; 3 - Piracicaba-Capivari-Jundiaí: inclui municípios paulistas e mineiros, mas a maioria (92,6%) é do estado de São Paulo; 4 - Tietê/Jacaré: abrange 34 municípios, localizando-se no centro do estado e passando por cidades como Araraquara, Bauru, Jaú, Lençóis Paulista e São Carlos; 5 - Tietê/Batalha: abrange áreas das cidades de Itápolis, Lins, Matão, Novo Horizonte e Taquaritinga; 6 - Baixo Tietê: abrange o noroeste do estado e vai até o final da bacia, que tem sua foz no rio Paraná.

FIGURA 5 – RIO TIETÊ E SUAS SUB-BACIAS

http://avfrankieco.com.br/

https://brasilescola.uol.com.br/brasil/rio-tiete.htm. Acesso em 17 de outubro de 2020

O Tietê de ontem

As fotos mostram a integração da população com o rio Tietê no início do século XIX. Nessa época o Tietê fazia parte da vida da cidade em total harmonia. (6)

Décadas depois, o cenário do principal rio da cidade, assim como de todos os outros, nos apresenta um péssimo aspecto de se ver e a sensação intolerável de viver em São Paulo. O esgoto predomina e o mau cheiro é insuportável. Após as chuvas, diversos tipos de resíduos aparecem boiando rio abaixo, e o contato com sua água é prejudicial à saúde.

Foto 6 – rio Tietê de ontem

Ao fundo a ponte das bandeiras

Fotos: https://www.google.com/search?q=o+tiet%C3%AA+antigo

Décadas depois, o cenário do principal rio da cidade, assim como de todos os outros, nos apresenta um péssimo aspecto de se ver e a sensação intolerável de viver em São Paulo. O esgoto predomina e o mau cheiro é insuportável. Após as chuvas, diversos tipos de resíduos aparecem boiando rio abaixo, e o contato com sua água é prejudicial à saúde.

A importância das embarcações e das pontes

As embarcações tinham o importante papel de criar a comunicabilidade entre a área central da cidade e os bairros além das margens, transportando passageiros e materiais, de uma margem à outra. No início do século XIX o número de pontes na cidade era reduzido. Existia no Rio Tietê a Ponte Grande de Sant’Anna, conhecida hoje como Ponte das Bandeiras.

Em 1922 a Fiscalização dos Rios e Várzeas, órgão da prefeitura, registrou a existência de 500 barcos matriculados na cidade, sendo 309 destinados ao transporte de materiais, 188 à recreação e 9 (duas balsas e sete botes) ao transporte de passageiros de uma margem à outra. Os barcos de transporte levavam basicamente material de construção (areia, pedregulho e argila) e inicialmente os próprios barqueiros também extraiam os materiais no leito dos rios e várzeas. Os depósitos de areia nas várzeas ficavam a uma profundidade entre 1 e 1,5 m; entremeadas à areia, surgiam camadas de argila e para extraí-las, faziam grandes buracos e essa extração provocava poluição no rio. AS olarias que utilizavam a argila para produzir tijolos e telhas, incialmente eram situadas nas margens dos rios.

Então em 1913 as olarias foram proibidas no município de São Paulo e transferidas para rio acima, além da Penha.

Em 1926 o total já era de 712, dos quais 443 destinados a transporte de materiais, sendo que um deles era equipado com

Tietê perto da ponte das bandeiras

Foto 7 - Balsa no rio Tietê atravessando com o Fordinho, na região de Osasco quando ainda era um bairro de São Paulo. (Década de 40)

máquina para extração de areia e cinco balsas para o transporte de passageiros. (3)

Nos bairros, as pessoas utilizavam pontes flutuantes, para atravessar de uma margem para outra, as quais, eram construídas sobre tambores de óleo vazios, que boiavam na água.

Foto 8 -

http:vilaanastacio.blogspot.com/

Foto 9 - A primeira ponte de Vila Guilherme sobre o rio Tietê foi construída em madeira em 1919, ligando o bairro do Pari e Canindé.

Quando criança cruzei várias vezes o rio Tietê, por meio de uma ponte flutuante, construída no bairro do Tatuapé, na altura da rua Tuiuti, onde morei durante toda minha infância.

Histórico da poluição do rio Tietê

A poluição do rio resultou da irresponsabilidade e negligência dos governantes, que não souberam lidar com crescimento exponencial da população e, tão pouco se preocuparam com a infraestrutura necessária para viabilizar a mudança de categoria de Vila para Cidade de São Paulo.

A maioria dos moradores da cidade sequer imaginam como é antiga a poluição do rio.

No século XVIII, a qualidade das águas já estava comprometida. Nesse período, as águas utilizadas pela maioria dos moradores eram bastante impuras, conforme se verifica nas observações abaixo transcritas.

Sabe-se que em 1773 estava danificada a bica do Acu, e a Câmara tomava medidas de limpeza e conserto do rego, a fim de que fossem escoadas águas e tijucos, sabendo-se que por detrás dessa fonte tinha morrido um cavalo. [...] Ela continuou porém recebendo ciscos e estercos, através da umidade dos quintais de alguns moradores de suas vizinhanças. Cheirava mal as suas águas e tinham sabor horrendo, dizia uma ata da Câmara. Não eram melhores porém as águas do Tamanduateí e do Anhangabaú, em que se servia a “maior parte dos povos”, escrevia-se no ano de 1787.

Quanto à higiene pública,já era nascida, mas ainda muito pueril. A prova desta afirmação é o fato de que o Anhangabaú, despencava do Tanque Municipal, atravessava o Matadouro Público, encravado nas baixadas do Humaitá, recebendo aí todo o sangue das rezes abatidas de modo que os moradores do Piques, do Acu e da rua da Consolação, por onde passavaaquele rio , assistiam diariamente, das duas horas da tarde em diante, um verdadeiro riacho de sangue.

Além do comprometimento da qualidade das águas que, certamente, implicou na redução de oferta para o consumo, observa-se também, a partir do século XVIII, um franco declínio na disponibilidade de água na cidade. Considerando-se que nos três primeiros séculos, a cidade apresentou um lento crescimento populacional, tal escassez de água poderia estar mais relacionada às mudanças físicas processadas em função do uso e ocupação do solo, sobretudo o desmatamento e a ocupação das várzeas. (3)

Foto 10 - Na foto de 1957, meu tio Zeca, meu primo Rui e eu .

RESUMO: Light (O Polvo Canadense e seus Tentáculos)

Essa história teve início em 1986, em Montreal, Canadá, onde se encontrava, a serviço do governo do estado, o jornalista, advogado e político Américo de Campos.

Américo era irmão de Bernardino de Campos, que naquele momento ocupava presidência do estado e tio de Carlos de Cam-

pos, filho de Bernardino. Carlos de Campos era genro do homem de negócios Antônio Augusto de Sousa, o comendador Sousa. E o comendador Sousa mostrava interesse em uma novidade da época, o bonde elétrico. De acordo com as histórias (oficiais e semioficiais), Américo de Campos encontrava-se no Canadá em outra missão e aproveitou a oportunidade para especular sobre a viabilidade de levar bondes elétricos para São Paulo. É possível que sua missão tenha sido exatamente essa.

Em Montreal entrou em contato com o capitão da Marinha Italiana Francesco Antônio Gualco. Em 1896 Gualco vem a São Paulo para estudar as condições locais.Aprovou o que viu e formou com o comendador Sousa uma sociedade, que em junho de 1897, obteve da Câmara Municipal concessão para explorar o serviço de transporte público. Desde 1872 São Paulo já era cruzada pelos trilhos dos bondes, mas com tração animal. No caso de São Paulo e em outras cidades brasileiras era utilizado burros diferentes de outros países que utilizavam cavalos.A linha de bonde existente cobria quase toda a cidade. Os carros eram puxados por parelhas e nos percursos mais longos eram trocados. Como a sociedade formada por Gualco e o comendador Sousa não poderia ir muito longe sem o amparo de alguém do ramo, um passo decisivo foi entrar em contato com William Mackenzei, um empresário canadense do setor de transporte público com participação em empresas do Canadá e outros países. William Mackenzei com o auxílio de seu filho advogado Alexandre Mackenzei, juntou um grupo de investidores, todos de Toronto, no Canadá, para viabilizar financeiramente o negócio. Nasceu assim, em 7 de abril de 1899, a The São Paulo Railway Light and Power Co. Ltda, com aval da rainha Vitória, documentada por uma Carta Patente, que em verdade funcionava como garantia de mercado para o capital incorporador.

Gualco e Souza obtiveram da Câmara Municipal no dia 20 de dezembro de 1898, concessão também para produção e distribuição de energia elétrica. Já no Brasil, operando sob regime de concessão de serviços públicos, concessões obtidas junto às Câmaras Municipais, a empresa instaurou um processo de compras e aquisições de outras empresas, que produziam eletricidade e de outros serviços urbanos. Contando, inclusive com empresários brasileiros que serviram de testa de ferro nessas transações. Em pouco tempo o transporte de bondes eletrificados mostrou não ser sua maior finalidade, muito embora, pelo menos formalmente, se tenha instalado em São Paulo com essa finalidade. Em dezembro de 1899 eles assinaram assinam a transferência de suas concessões, tanto para bondes elétricos como para geração e distribuição de energia, para Light.

A empresa nasce com força incontestável. Até então não se via nada por ela realizado. Em pouco tempo viraria um polvo ou “polvo canadense”, na língua dos seus difamadores. Foi a partir da aí que se mediu o tamanho e alcance de seus tentáculos, capazes de abraçar além do transporte público, também a produção e distribuição de energia elétrica, e de avançar rumo a outros setores, com veracidade e poder suficiente para atropelar quem se interpusesse no caminho. (3) Livro “A Capital da Vertigem. Uma história de São Paulo de 1900 a1954” deRoberto Pompeu de Toledo, pág. 41

A história e negociatas entre o governo de São Paulo e a Light espelha a promiscuidade entre o público e privado que predomina até os dias de hoje.

4. Considerações finais

Desde a administração Pires do Rio (1926-1930) várias decisões tomadas foram determinantes para definir a qualidade de vida na cidade de São Paulo e de seu entorno, sendo algumas um caminho sem volta.

A decisão mais prejudicial a cidade de São Paulo foi a implantação do Plano das Avenidas elaborado por Preste Maia em detrimento da execução do Projeto de retificação e canalização do rio Tietê elaborado pelo Engenheiro Saturnino de Brito.

Saturnino de Brito, em sua concepção,buscava a renaturalização do rio Tietê com uma concepção menos nociva do rio à cidade,prevendo a construção de um parque fluvial urbano que ocuparia a faixa do leito maior, a formação de dois lagos e uma ilha na altura da Ponte Grande (hoje Ponte das Bandeiras), integrando 30% do território das várzeas destinado a parques, para amortecimento das cheias, fato esse, que evitaria imensamente as enchentes nas marginais.

Ao longo da história fica evidente que os reais intereses eram, políticos, privados e economicos. No Plano das Avenidas as grandes obras se destacam, assim com, atender aos interesses do mercado imobiliário e da indústria automobilística.

Como foi dito anteriormente, a formação da metrópole paulistana se sobrepõe a história de apropriação dos recursos hídricos da bacia hidrográfica do Alto Tietê, pelos setores com forte poder economico, como por exemplo,geração de energia elétrica e especulação imobiliária.

A Light que conseguiu, de forma duvidosa, em dezembro de 1899 as concessões, para geração e distribuição de energia, nunca se preocupou com bem estar da população paulistana e tão pouco atuou com ações sociais, pelo contrário, sempre pensou na rentabilidade da empresa e ludibriar o governo.

Ao se implantar o Projeto Serra, um caminho sem volta foi traçado, a “priorização da geração de energia” , assim como, a promessa de resolver o problema das enchentes através do sistema hidraulico artificialmente criado para reversão das águas do Tietê para o Pinheiros, em situação de grandes chuvas , na chamada operação de cheias operada pela EMAEE.

O exemplo mais chocante foi a estratégia adotada pela Companhia Light & Power, em fevereiro 1929, durante enchente mais inusitada, ocorrida até então, em São Paulo, que deixou áreas da cidade debaixo da água por sete dias.

A suspeita é a de que os efeitos da forte chuva que atingiu São Paulo naquele fevereiro (1929) tenham sido potencializados por ações da então onipresente empresa Light.

As comportas das barragens Billings e Guarapiranga foram abertas, em nome da segurança estrutural das mesmas e foram fechadas as comportas de Edgar de Sousa, fazendo com isso que o nível dos rios Pinheiros e Tietê subissem e consequentemente inundando a cidade de São Paulo, tornando a um grande lago.

Pesquisa da professora da USP Odette Seabra indica que a Light abriu as comportas desuas represas para aumentar a área inundada pelos rios Pinheiros, Tietê e Tamanduateí. Sua investigação mostra que, por isso, os dias mais críticos na cidade foram sem chuva.

Isso posto restam as seguintes perguntas: • porque ainda temos em São Paulo enchentes semelhantes à de 1929, como a que ocorreu em fev. de 2020 ? • existe problemas com a operação de controle de cheias operada pela EMAE? • como podemos ter certeza da eficiência do sistema artificial criado quando da implantação do Projeto Serra ? • Estaria saturada a capacidade de transferência de água do Alto

Tietê para Baixada Santista em termos de vazão?

Essas incertezas são muito preocupantes, para a segurança da BHATno quesito enchentes, pois a segurança depende do perfeito funcionamento do sistema de reversão Tietê/Pinheiros.

Em pleno fev. 2020, mês típico de intensas chuvas, observamos nas fotos 3, 4 e 5 o resultado de uma chuva com índice pluviométrico de 114 mm, nada absurdo para época do ano. As Marginais ficaram submersas indicando que o rio Tietê foi buscar seu leito maior e, na foto 5 mais uma vez confirmamos o problema crônico da Ponte das Bandeiras onde os veículos submergem e ficam presos em uma armadilha.

Ainda assim, para remediar as enchentes não basta apenas a realização de obras, muito há de ser feito, principalmente na parte de limpeza e manutenção dos equipamentos de drenagem, como:

GAPs , bueiros, valas, valetas piscinões, a fim de melhorar a capacidade de escoamento das águas pluviais. O assoreamento de GAPs, córregos e rios também interferem de forma definitiva na deficiência do escoamento de águas pluviais.

Uma cidade complexacomo São Paulo exige um planejamento holístico com visão integrada entre projetos e planos de outros setores, como por exemplo, varrição de ruas, coleta eficiente de resíduos domésticos, eliminação de lançamentos clandestinos de esgoto nos equipamentos de drenagem, desassoreamento de córregos, rios e galerias.

Outro problema grave em São Paulo é a falta de um Plano Habitacional que reduza as ocupações em áreas de risco, como na margem de córregos e rios, assim como em encostas. Se faz necessário , construção de unidades habitacionais, para a população mais carente, com toda infraestrutura necessária, planejamento territorial do loca e regularização da área.

Acredito que seria muito importante tambéma criação de um Plano de Contingência de Trânsito, elaborado e implantado pela PMSP , com objeto de resolver os graves problemas de congestionamentos de trânsito ocasionados pelas enchentes e transbordamentosdos principais córregos e rios da cidade.

O Centro de Operação Emergencial Climática (CGE) tem imagens via satélite e seus próprios modelos matemáticos que fazem a previsão do tempo, tais como, temperaturas máxima e mínima, umidade do ar , probabilidade de chuva e dados das chuvas ocorridas por região.

A CETpoderia utilizar as informações geradas peloCGE , que permitiria a criação de um MAPA DA CIDADE indicando os pontos críticos e crônicos sujeitos a alagamentos, possibilitando, a CET fechamento e desvios, preventivamente, bem como caminhos alternativos de vias complicadas como por exemplo as Marginais Tietê e Pinheiros, Anhangabaú, Av. 23 de maio, Av. Tiradentes e outras vias conhecidamente problemáticas.

A CET teria informações que possibilitaria a criação de uma regra operacional para o trânsito para as épocas de chuvas intensas com objetivo de não travar a cidade de São Paulo, tais como mostram as Fotos 3,4 e 5 referentes a enchente em fevereiro de 2020.

Por fim,quando se constrói uma cidade em cima de leitos de rios, de aterros das várzeas, assim como avenidas em fundo de vales, enchentes e alagamentos são ocorrências que devem ser esperadas, assim como, se faz necessário apreender como conviver com esses problemas todo o período úmido de todos os anos.

5. Referências Bibliograficas

1. Fundação de São Paulo http://cidadedesaopaulo.com 2. A cidade de São Paulo e seus rios: uma história repleta de paradoxos Isabel Cristina Moroz-Caccia Gouveia

http://journals.openedition.org/confins/10884 ; DOI : 10.4000/confins.10884

3. A Capital da Vertigem. Uma história de São Paulo de 1900 a1954 Livro de Roberto Pompeu de Toledo 4. Histórico Demográfico do Município de São Paulo prefeitura.sp.gov.br ; http://smul.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/index.php http://sampacentro.terra.com.br 5. Retificação e Decadência – DAEE www.daee.sp.gov.br › id=796:retificacao-e-decadencia 6.São Paulo: A cidade que não coube nos planos Autor:Camilo Rocha.

Desenvolvido por Ibrahim Cesar© 2016 Nexo Jornal https://www.nexojornal.com.br/especial/2016/01/24/S%C3%A3o-Paulo-A-cidade-que-n%C3%A3o-coube-nos-planos 7.Dos surtos urbanísticos do final do século XIX ao uso das várzeas pelo Plano de Avenidas

Autor:Vanderli Custódio*

*Professora do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, área de Geografia Humana (lili@uninet.com.br). 8.A enchente de 1929 na cidade de São Paulo: memória, história e novas abordagens de pesquisa grupohimaco@gmail.com 9. A Percepção do caos urbano, as enchentes e as suas repercussões nas políticas públicas da Região Metropolitana de São Paulo http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S0104-12902006000300012 10. O RIO TIETÊ

Gustavo Henrique Mendonça _Professor de Geografia https://brasilescola.uol.com.br/brasil/rio-tiete.htm. Acesso em 17 de outubro de 2020

11. Histórico da EMAE

emae.com.br/conteudo.asp

1 Eurípedes Simões de Paula - Diretor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Humanas da USP e Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da USP

2 Ives Lacoste: geógrafo e autor do livro - “A Geografia - Isso Serve, em primeiro lugar, para fazer a Guerra” 3 Prestes Maia em 1938 foi nomeado prefeito da capital paulista pelo então interventor federal no estado Ademar de Barros. Permaneceu no cargo até 27 de outubro de 1945, dois dias antes da queda do Estado Novo. Como prefeito da capital paulista promoveu uma transformação profunda na estrutura da cidade realizando grandes obras. Retornou à vida pública em 1950 como candidato ao governo do Estado pela UDN, porém não saiu vitorioso. Nas eleições de 1954, voltou a concorrer ao governo paulista com apoio interpartidário articulado pelo governador Lucas Nogueira Garcez e, novamente, não conseguiu se eleger. Em 1957, foi indicado por Jânio Quadros à candidatura de prefeito da capital, embora as convenções partidárias tenham optado pelo candidato Ademar de Barros. Nas eleições para a prefeitura de São Paulo em 1961 saiu vitorioso com o apoio do governador do estado Carvalho Pinto. 4 Eusébio Stevaux engenheiro da Inspetoria Geral de Obras Públicas da prefeitura de São Paulo 5 SEABRA, Odette C.L (1987). Meandros dos Rios nos Meandros do Poder Tietê e Pinheiros: Valorização dos Rios e das Várzeas na Cidade de São Paulo.

Tese de Doutoramento em Geografia Humana apresentada à FFLCH – USP. 7 José Bueno arquiteto e urbanista criou ao lado do geógrafo Luiz de Campos Jr o projeto Rios e Ruas para identificar o mundo de águas que habita o subterrâneo de São Paulo 8 Arquivo da autora – FÁTIMA VALÉRIA DE CARVALHO 9 BHAT – BACIA HIDROGRÁFICA DO ALTO TIETÊ 10 GAPs – GALERIAS DE ÁGUAS PLUVIAIS 11 PMSP – PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO 12 CET – COMPANHIA DE ENGENHARIA DE TRÁFEGO

13 CGE - Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas da PMSP/PMSP

Iury Antônio Ribeiro Freire de Carvalho (1)

Bacharel em Engenharia Civil, pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Pesquisador voluntário em Iniciação Científica sobre o reaproveitamento de resíduos de construção civil, na construção de estruturas de infiltração.

Geraldo Tadeu Rezende da Silva (2)

Doutor em Engenharia de Recursos Hídricos e Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Análise da eficiência de uma trincheira de infiltração como técnica compensatória de drenagem urbana em trecho da Avenida Vilarinho, Belo Horizonte

Resumo

O avanço da urbanização nas cidades traz consigo diversas consequências, uma delas é a impermeabilização do solo, devido a construção de pavimentos, pátios e telhados. Com o solo impermeável a água das chuvas gera maiores vazões no escoamento superficial causando enchentes nas áreas urbanas. O uso de soluções compensatórias de drenagem urbana, visam armazenar e infiltrar as águas no solo, diminuindo o escoamento superficial, diferente das galerias e canalizações, que apenas transferem a inundação de um local para outro.

O objetivo deste trabalho é aplicar a técnica compensatória de trincheira de infiltração, para não mais escoar as águas para o mais longe possível e sim armazenar e infiltrar as águas das chuvas no solo. Para analisar a eficiência da trincheira de infiltração, foi escolhido um ponto estratégico na cidade de Belo Horizonte, a Avenida Vilarinho onde ocorrem frequentes inundações. Este estudo encontrou uma capacidade de redução do escoamento superficial em torno de 28% para cada trincheira de infiltração. Conclui-se, portanto, que a utilização das trincheiras deve estar associada a outras estratégias de controle de enchentes uma vez que sua eficiência reduz as taxas de escoamento superficial, mas num nível mediano.

PALAVRAS-CHAVE: enchentes; drenagem urbana; trincheiras de infiltração

1. Introdução

O tema central deste trabalho é a avaliação da aplicabilidade de trincheiras de infiltração para a drenagem urbana na Avenida Vilarinho em Belo Horizonte, zona de recorrentes inundações.

1.1 Enchentes urbanas

Com o desenvolvimento das cidades, o solo do ambiente urbano vai se tornando cada vez mais impermeável, devido a intensa impermeabilização gerada pelas edificações, pavimentos, pátios e telhados. Com uma menor capacidade de infiltração, o volume de água que escoava antes lentamente, passa a ganhar maiores vazões e é redirecionado por dutos e canais. A área urbanizada se torna então uma barreira que dificulta a infiltração das águas pluviais no solo, gerando assim um desequilíbrio hidrológico na bacia ou na microbacia ocupada (TUCCI, 2007).

Segundo CANHOLI (2005), as inundações são resultado de um crescimento acelerado da urbanização, onde houve falta de planejamento dos sistemas drenagem e sua insuficiência devido a grandes vazões de água das chuvas. O planejamento da ocupação urbana poderia assegurar grandes espaços verdes favoráveis à infiltração. Na ausência destas áreas naturais de infiltração, se torna necessário então medidas para correção e prevenção desses desastres que são tão comuns no cotidiano de centros urbanos.

De acordo com TUCCI (2007), devido à necessidade de rapidez na solução para as enchentes, houve uma tendência de controlar as enchentes aumentando a eficiência de escoamento, através de galerias e canalizações, transferindo a inundação de um trecho para outro da bacia.

TUCCI (2007) complementa que essa é uma solu-

ção que procura conduzir as águas pluviais da forma mais rápida possível para fora das áreas urbanas. Embora seja uma solução que amenize as enchentes, medidas desta natureza não atacam a causa do problema que é a baixa taxa de infiltração nas áreas urbanas. São, portanto, paliativas, embora essenciais numa perspectiva de integração de múltiplas ações.

Para o caso de Belo Horizonte, seu plano municipal de saneamento (PMSBH, 2019) aponta que esse tipo de solução acaba gerando novas ocorrências de inundações, repetidas a cada estação, e sempre de forma evolutiva, nas regiões de jusante das bacias hidrográficas da cidade. Além disso, é notório o estrangulamento do fluxo, devido ao aumento das vazões transferidas nos trechos de montante para a jusante da bacia, causando transbordamentos e alagamentos em muitas vias de trânsito da cidade.

A frequência de inundações nos córregos/ribeiros do Vilarinho, Ressaca, Pintos, Leitão e Pampulha, na cidade de Belo Horizonte, além de diversos outros pontos da cidade, mostram a insuficiência e vulnerabilidade do sistema de drenagem urbana de Belo Horizonte na atualidade.

Outro aspecto preocupante, é a atual crise econômica financeira do setor público que reduz a capacidade de investimento em sistemas estruturados em canalizações, que possuem altos investimentos de implantação e carecem também de gastos na sua operação, para que haja adequados funcionamento e longevidade da estrutura, além de custos com sua manutenção que dificultam ainda mais o problema. (PMSBH, 2019). Portanto, soluções baseadas em canalizações resultam, na maioria dos casos, em projetos onerosos, que minimizam a inundação apenas transferindo-a de um local o para o outro. Consequentemente, a solução definitiva deve objetivar reduzir as vazões e o escoamento superficial, aumentando a parcela de água pluvial infiltrada. Como resultado haverá necessidade de menos recursos para a implantação de canalizações e estruturas. Isso é possível através de técnicas que possam atenuar o escoamento superficial, aumentar a infiltração de água no solo e regularizar vazões. (BAPTISTA, 2011).

1.2 Soluções compensátorias de drenagem urbana

As técnicas compensatórias, ou medidas estruturais não-convencionais, recebem este nome por compensar os impactos da urbanização em toda bacia hidrográfica, proporcionando a diminuição do pico das vazões nas cheias, o reabastecimento do lençol freático e a preservação ambiental. Essas medidas buscam o controle do escoamento através de estruturas de detenção e estruturas de infiltração, ou a combinação de ambos, tendo como principais funcionalidades, regularizar o escoamento superficial, reduzir as vazões da rede de drenagem e compensar os efeitos de impermeabilização do solo (URBONAS; STAHRE, 1993).

Segundo o PMSBH (2019), atualmente o sistema de drenagem de Belo Horizonte apresenta resultados bastantes insatisfatórios, pois, a cidade continua padecendo com as inundações urbanas, seja por falta de manutenção, ou por não comportar as vazões atuais do sistema, devido a urbanização acelerada. A demanda por soluções compensatórias, ou não convencionais, é real e tem sido bastante requisitada pelo setor técnico da cidade, na busca por soluções deste tipo de problema. Somam-se a este cenário, a extraordinária intensificação nos índices de precipitação ocorridos na cidade, como, por exemplo, o excepcional volume de chuvas ocorrido no verão de 2020.

As soluções compensatórias de drenagem urbana têm a necessidade de tratar as águas pluviais de maneira que possa se evitar ao máximo os riscos que trazem as inundações, respeitando as restrições de projeto impostas, de maneira que atinja seu objetivo de fazer com que sejam mitigados os problemas de inundação. A utilização dessas técnicas, reduzem os efeitos da urbanização nesse sentido, levando em conta também, projetos urbanísticos e tratamento das águas pluviais (BAPTISTA, 2011).

Para este trabalho técnico, a medida estrutural não convencional proposta foi a trincheira de infiltração. Essa técnica consiste, basicamente, de uma longa e estreita escavação, preenchida, geralmente, por material granular graúdo (brita, pedra de mão ou seixos rolados), de maneira a permitir o armazenamento temporário de águas pluviais nos vazios deste material agregado, fazendo com que o volume de água retido infiltre através do fundo e/ou lados da estrutura (MIKKELSEN; JACOBSEN, 1993).

Segundo CAPUTO (2012), este sistema funciona como um tradicional reservatório de redução de cheias, proporcionando a diminuição das vazões de enchentes, por ocasionar armazenamento e infiltração das águas pluviais no solo, reduzindo o escoamento superficial. O autor complementa que o preenchimento da trincheira pode ser feito por diferentes materiais, como, por exemplo, garrafas PET.

BAPTISTA (2011) classifica a trincheira de infiltração como uma técnica compensatória capaz de “se adaptar facilmente às áreas livres devido ao seu formato alongado”, otimizando a ocupação do local escolhido para aplicação da técnica. Devido a colmatação, que ocorre primeiramente no fundo da estrutura, este efeito alongado permite maior absorção de água pelas paredes da trincheira, aumentando assim sua vida útil.

A colmatação, processo que interfere diretamente no funcionamento da trincheira de infiltração, consiste na obstrução dos poros do solo e do leito drenante construído, devido à presença de partículas sólidas na água infiltrada. No intuito de realizar o pré-tratamento da água, para reduzir o influxo de partículas finas no solo, é recomendado a utilização de mantas geotêxtis removíveis e laváveis (CAPUTO, 2012). BAPTISTA (2011) complementa que o emprego de uma faixa de grama, no topo da trincheira, é uma solução para reter os sólidos finos carreados pelas águas que escoam para o interior da estrutura.

2. Objetivo

O objetivo deste trabalho é avaliar a eficiência de um sistema de drenagem compensatório baseado numa trincheira de infiltração, na redução do escoamento superficial gerado por chuvas de risco emergencial, em trecho do córrego Vilarinho, na região metropolitana de Belo Horizonte.

3. Metodologia aplicada

Descreve-se a seguir, as etapas da metodologia aplicada.

3.1 Caracterização da área de estudo

Para o desenvolvimento do trabalho, primeiramente, foi realizado um levantamento das áreas da cidade de Belo Horizonte que sofrem com constantes enchentes. O município possui uma área territorial de 331,401 km2, cerca de 2.512.070 habitantes e se encontra localizado na região sudeste do Brasil, sendo a capital do Estado de Minas Gerais. Em seus limites administrativos são encontradas três principais bacias hidrográficas: Arrudas, Onça e Rio das Velhas.

O trecho escolhido para o estudo fica localizado na Avenida Vilarinho, entre a Rua dos Melões e a Rua das Madeiras onde ocorrem historicamente sucessivas inundações. Esta região fica localizada próximo a um shopping e estações de ônibus e metrô que são referências na cidade. Com as constantes inundações, revelam- se prejuízos aos moradores da região e cidadãos de Belo Horizonte que utilizam o transporte público no seu dia a dia para trabalho, estudos e comercio local que é bastante forte na região de Venda Nova. Já houve, inclusive, morte de pessoas que ficaram presas a veículos nas inundações que ocorreram neste ponto.

Figura 1: Alagamento no trecho escolhido (Jornal Estado de Minas, 2020)

Figura 2: Visão em planta da área escolhida (Google Maps, 2020)

Com base na Carta de Inundações de Belo Horizonte (2009), é possível observar a mancha de inundação devido as chuvas e os locais com mais chances de sofrerem enchentes. O córrego Vilarinho, responsável pelas inundações nesta avenida, é bastante afetado pelas grandes vazões e pelo volume de água uma vez que, ao longo de sua calha, possui a junção de outros córregos. Com o aumento das precipitações, o córrego não consegue drenar a água que chega até ele nos momentos de pico gerando, consequentemente, alagamentos em ruas e avenidas. Na figura 3, é possível observar, em azul, a mancha de inundação prevista para as enchentes nesta baixada.

Figura 4: Risco de inundação (Carta de inundações, 2009)

3.2 Local de implantação da trincheira de infiltração

Com auxílio da ferramenta AUTOCAD, foi possível reproduzir a área em estudo e, assim, definir os pontos de implantação das trincheiras de infiltração de acordo com suas limitações, de modo a simular cenários de maior desempenho.

Ao utilizar combinações de soluções dentro da mancha de inundação é esperado que o uso de trincheiras de infiltração amenize as enchentes na região e ao longo do trecho do córrego que atravessa esta região vulnerável. Porém, num cenário ideal, essa medida deve ser feita não só em um trecho, mas sim em vários pontos do córrego até que a mancha de inundação desapareça.

As dimensões das trincheiras foram estabelecidas como: Trincheira de Infiltração 01 (T.I 01) – 57 x 3 x 1,5; Trincheira 02 (T.I 02) – 30 x 3 x 3, sendo comprimento x largura x profundidade, respectivamente. O material de preenchimento possui porosidade de 0,40. A figura 5 apresenta a localização destas duas trincheiras.

Figura 5: Local de implantação das trincheiras de infiltração (Elaborado pelo Autor)

3.3 Parâmetros, critérios e equações 3.3.1 Período de retorno e duração da chuva de projeto (T e d)

Nos procedimentos técnicos para a elaboração de estudos e projetos de microdrenagem no Município de Belo Horizonte, compreendendo, para a drenagem urbana, a coleta, a condução e o lançamento final dos deflúvios superficiais, a Sudecap padronizou o período de retorno a ser adotado como de 10 anos e a duração da chuva de projeto igual a 10 minutos.

3.3.2 Coeficiente de escomento superficial (C)

A literatura fornece tabelas com valores do coeficiente em função do tipo de solo e do seu uso e ocupação (tipo, densidade, cobertura vegetal, dentre outros aspectos). O valor de C neste estudo foi considerado 0,90, coeficiente entre 0,70 e 0,95 indicado por BAPTISTA (2011), para vias asfaltadas e concretadas.

3.3.3 Condutividade hidráulica do solo (K)

SILVA (1995) determinou dois tipos de solos predominantes em Belo Horizonte, dividindo a cidade em duas regiões, cada uma com um determinado tipo de solo. A região de Venda Nova, em seus estudos, possui um solo Podzólico Vermelho Amarelo – com textura areno-argilosa e uma condutividade hidráulica média de 1,1x10^-6m/s.

Este valor apenas dá uma ideia da grandeza de condutividade hidráulica em função do tipo de solo. Para o real dimensionamento das estruturas de infiltração, é fundamental que seja realizado ensaios que permitam definir a real condutividade hidráulica do solo, não apenas pela taxa de infiltração da classificação do solo.

3.3.4 Equação de intensidade das chuvas (IT,d,j)

As intensidades deverão ser calculadas através da equação de chuvas intensas de GUIMARÃES e NAGHETTINI (1998), estabelecida com base nas relações intensidade – duração – frequência e de hietogramas típicos de distribuição temporal, para as precipitações históricas de Belo Horizonte e sua região metropolitana:

IT,d,j = 0,76542d^-0,7059 Panual^0,5360μ d,T equação (1)

Onde: IT,d,j = intensidade de precipitação para o período de retorno T, a duração d e no local j; d = duração da precipitação em h; Panual = refere-se a altura de precipitação anual na localidade j em mm = 1430mm; μ=é a quantis adimensionais de frequência, de validade regional, associados a duração (d) e ao período de retorno (T) = 1,428;

3.3.5 Vazão de projeto (Qp)

As vazões afluentes das estruturas de drenagem superficial podem ser calculadas pelo método racional (DNIT, 2006).

Qp = 0,00278 x C x I x A

equação (2)

Onde: Qp = Vazão de escoamento (m3/s); C= Coeficiente de escoamento superficial; I = Intensidade de precipitação para região em estudo (mm/h); A = Área da bacia (ha)

3.4 DIMENSIONAMENTO DA TRINCHEIRA DE INFILTRAÇÃO

Para o desenvolvimento deste trabalho, foi utilizado o método proposto por JONASSON (1984, apud MIKKELSEN E JACOBSEN) em 1993, intitulado método da chuva envelope (do acrônimo em inglês, rain-envelope method), por ser simples, de aplicação direta a partir dos dados de caracterização do local de implantação e da curva intensidade-duração-frequência (IDF).

3.4.1 Volume infiltrado na trincheira (Vperc)

A Lei de Darcy é usada para estimar a taxa de água percolada considerando o tempo de enchimento e esvaziamento da estrutura. Pode-se aproximar a taxa média de saída de água como média entre as vazões de saída para o enchimento e o esvaziamento da estrutura, resultando na seguinte expressão:

Vperc(t) = k . φ . (Aperc)/2 . 3600 . tp equação (3)

Onde: Vperc(t) = volume de água percolado no solo (m3); k = condutividade hidráulica saturada do solo (m/s); Aperc = Área total dos lados da estrutura de percolação (m2); tp = tempo de percolação (h); φ = gradiente hidráulico = 1,0;

3.4.2 Estimativa da redução no escomaneto superficial com o uso de trincheiras

A estimativa de redução do escoamento superficial é feita através do balanço hídrico entre o volume infiltrado, calculado no item 3.4.1, e o volume afluente, calculado com base na vazão de escoamento, calculada no item 3.3.5, multiplicado pelo tempo de precipitação de projeto, da seguinte forma:

Ve = Va - Vi

equação (4)

Onde: Ve = Volume escoado (m3); Va = Volume afluente (m3); Vi = Volume infiltrado (m3).

3.4.3 Cálculo da vazão de saída (Qs)

Para o cálculo da vazão de saída utiliza-se a equação 5

Qs = α . qas . S

equação (5)

Onde: Qs = Vazão de saída (m3); α = coeficiente de segurança = 1; qas = capacidade de absorção por unidade de superfície infiltrante, em m3/s/m2 (k); S = superfície de infiltração (m2);

3.4.4 Superfície de infiltração (s)

A superfície de infiltração é expressamente definida em função do tipo de obra e do seu funcionamento. Será adotada a hipótese que o fundo irá colmatar e que somente as paredes irão trabalhar como superfície para infiltração, conforme sugerido por Baptista (2011).

S = 2Lp

equação (6)

Onde: S = Superficie de infiltração (m2); L = extensão longitudinal da trincheira (m); p = profundidade da trincheira (m).

3.4.5 Vazão espeficífica de saída por unidade de área de contribuição (qs)

qs = Qs / Aa

equação (7)

Onde: qs = Vazão especifica de saída(m/s); Qs = Vazão de projeto(m3/s); Aa = Área de contribuição.(m2)

3.4.6 Volume máximo a armazenar e volume máximo da estrutura (Smax)

Nesta etapa, podemos descobrir se a estrutura de infiltração tem capacidade suficiente para armazenar as águas das chuvas que para ela são escoadas, analisando a relação entre o volume máximo a ser armazenado de águas afluentes à estrutura e a capacidade de armazenamento máximo da própria estrutura. O volume máximo a armazenar (Sreq) é obtido pelo produto da altura específica máxima (DHmax) e a área de contribuição. Já o volume máximo da estrutura é obtido através do produto entre a profundidade da trincheira (p), porosidade do material de preenchimento (n) e a largura da estrutura (l) e o comprimento (L).

Smax = nlpL

equação (8)

4. Resultados obtidos

As tabelas de 1 a 5 apresentam os resultados obtidos.

Tabela 1: Parâmetros básicos das trincheiras de infiltração

Parâmetros

Trincheira 01 Trincheira 02

Porosidade da brita (n) 0,40 0,40

Condutividade hidráulica do solo (m/s) 1,1x10^ -6 1,1x10^ -6

Coeficiente de escoamento (C)

Área de contribuição (ha)

Comprimento (m)

Largura (m)

Altura (m) 0,90 0,90

0,1729 0,1729

57 30

3

1,5 3

3

Superfície de infiltração (m²) 171 180

Tabela 2: Valores obtidos através do “rain envelope method”

TÉCNICA S Qs Aa qs DHmx Sreq Smax

(m²) (m³/s) (m²) (mm/h) (mm) (m³) (m³)

Trincheira 01 171 0,00018 1729 0,3750 57,3750 99,2014 102,6

Trincheira 02 180 0,00020 1729 0,4164 57,2508 98,9866 108

Tabela 3: Cálculo da altura específica máxima (Trincheira de infiltração 01)

d P Pef qs*d DHmx=Pef-qs*d

(min) (mm) (mm) (mm) (mm)

30 38 34,2 0,1875 34,0125

55 44 39,6 0,3438 39,2562

80 50 45 0,4999 44,5001

105 55 49,5 0,6563 48,8437

130 59,5 53,55 0,8125 52,7375

155 61,5 55,35 0,9688 54,3812

180 65 58,5 1,1250 57,3750

Tabela 4: Cálculo da altura específica máxima (Trincheira de infiltração 02)

d P Pef qs*d DHmx=Pef-qs*d

(min) (mm) (mm) (mm) (mm)

30 38 34,2 0,2082 33,9918

55 44 39,6 0,3817 39,2183

80 50 45 0,5552 44,4448

105 55 49,5 0,7287 48,7713

130 59,5 53,55 0,9022 52,6478

155 61,5 55,35 1,0757 54,2743 Tabela 5: Análise das vazões da bacia

BACIA Área total C I Qp Qs trincheira01

Qs trincheira02

(ha) (mm/h) (m³/s) (m³/s) (m³/s)

01 0,8021 0,90 190,14 0,3816 0,00018 0,00020

Tabela 6: Estimativa da redução do escoamento superficial por trincheira

Volume Afluente Volume infiltrado Volume total (infiltrado + armazenado) Volume escoado total Estimativa de redução

(m³) (m³) (m³) (m³)

Trincheira 01 0,3816 x 1000 = 381,6

Trincheira 02 0,0823 x 1000 = 381,6

1,1x10^-6x 85,5 x 3600 x 0,166 = 0,056

1,1x10^-6x 90 x 3600 x 0,166 = 0,059

0,056 + (57 x 1,5x3 x 0,40) = 102,66

0,059 + (30 x 3 x 3 x 0,40) = 108,059 381,6 - 102,66 = 278,94

381,6 - 108,06 = 273,54 27%

28,3%

5. Análise e discussão dos resultados

O dimensionamento das trincheiras simula precipitações com período de retorno de 10 anos, com duração de precipitação de 10 minutos, na Avenida Vilarinho, entre a Rua dos Melões e a Rua das Madeiras no município de Belo Horizonte. Foram considerados também outros critérios para dimensionamento como a colmatação total do fundo da estrutura e a redução pela metade da área de percolação.

Após o dimensionamento das trincheiras de infiltração, pelo método “rain envelope method”, é possível avaliar a eficiência das estruturas no local escolhido para a sua implantação. Através da tabela 2, observa-se que as trincheiras satisfazem as condições iniciais de projeto, pois o volume a ser armazenado é menor que a capacidade máxima das trincheiras.

Os resultados foram satisfatórios por apresentar reduções no escoamento superficial na ordem de 27% a 28,3%, como observado na tabela 6, adotando-se duas trincheiras na mesma microbacia. A opção por duas trincheiras com capacidade suficiente para armazenar os volumes da microbacia é justificado, pois, em épocas de chuvas intensas como as que ocorreram no verão de 2020, quando foram registrados na capital mineira 932,3mm de chuva, praticamente 66,5% do esperado para o ano inteiro, o volume a ser captado é muito significativo.

Devido à baixa condutividade hidráulica do solo, estas estruturas armazenam mais que infiltram água no solo, podendo, assim, serem chamadas de trincheiras de detenção. Como foram adotadas duas unidades, caso uma trincheira sature totalmente, ainda haverá uma outra com capacidade suficiente para suportar os volumes de água precipitada.

6. Conclusão

Este trabalho técnico apresentou um estudo de viabilidade para implantação de uma trincheira de infiltração na região de Venda Nova, Belo Horizonte, no intuito de reduzir o volume de água do escoamento superficial, reduzindo suas vazões através de armazenamento e infiltração da água das chuvas no solo. Foi utilizada uma sequência de dimensionamento com a aplicação dos parâmetros que podem ser utilizados para definir a viabilidade de uma trincheira de infiltração em qualquer local, através do “rain envelope method”.

Foi possível observar que, devido ao baixo coeficiente de permeabilidade do solo, as trincheiras de infiltração tiveram eficiência parcial na infiltração das águas, embora tenham sido capazes de suportar as vazões necessárias para seu devido funcionamento através do armazenamento. Portanto, esta solução representa uma ação aditiva a outras ações integradas que podem ser adotadas para a drenagem urbana como os jardins de biorretenção, os pavimentos permeáveis, os telhados verdes, os poços de infiltração, entre outros, que focam na redução do escoamento superficial gerado pelas chuvas intensas.

Em paralelo, buscando potencializar os resultados gerados, a aplicação dessas técnicas não deve ocorrer apenas em um ponto da bacia hidrográfica, mas sim ao longo de toda a mancha de inundação.

Ressalta-se que, para a adoção prática das trincheiras, é necessária a identificação da real condutividade hidráulica do solo que, nesta simulação, foi estimado. Recomenda-se também a realização de ensaios antes da implantação das trincheiras, confirmando os valores aqui obtidos.

Finalmente, em futuros estudos, pode-se avaliar a utilização de outros materiais drenantes para o preenchimento das trincheiras, como resíduos de pet, garrafas pet, pneus, resíduos de construção civil, entre outros o que pode contribuir para a promoção da sustentabilidade.

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